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TEMAS TRANSVERSAIS E A ESTRATÉGIA DE PROJETOS TEMAS TRANSVERSAIS E A ESTRATÉGIA DE PROJETOS 1 1 SUMÁRIO TEMAS TRANSVERSAIS E A ESTRATÉGIA DE PROJETOS ............... 0 FACUMINAS ............................................................................................ 2 Introdução ................................................................................................ 3 Complexidade e escola ........................................................................ 5 Temas Transversais e formação ética ................................................. 7 O ensino transversal e a estratégia de projetos ................................. 11 Os temas transversais ........................................................................ 13 Ética ................................................................................................ 15 Pluralidade cultural ......................................................................... 16 Meio ambiente ................................................................................ 17 Saúde ............................................................................................. 18 Orientação sexual ........................................................................... 19 Temas locais .................................................................................. 20 Transversalidade e interdisciplinaridade ............................................ 21 Projetos .......................................................................................... 23 A elaboração do projeto ..................................................................... 24 Etapas de um projeto pedagógico ...................................................... 27 Planejamento .................................................................................. 28 Execução ........................................................................................ 29 Depuração-Melhorando a qualidade do projeto .............................. 30 Apresentação ................................................................................. 31 file:///F:/FACUMINAS/APOSTILA/EXTERNA/DOCÊNCIA%20DO%20ENSINO%20SUPERIOR%20E%20NEUROPSICOLOGIA/TEMAS%20TRANSVERSAIS%20E%20A%20ESTRATÉGIA%20DE%20PROJETOS.docx%23_Toc49084094 2 2 Avaliação ........................................................................................ 31 Por que utilizar a pedagogia de projetos? .......................................... 33 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 37 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 3 Introdução Muito já se ouviu falar sobre o termo “projeto” sempre acompanhado de outros termos: projeto politico pedagógico; projeto de leitura; projeto ambiental; projeto de trabalho, etc. Enfim, é comum no ambiente pedagógico ouvir falar de projetos em suas mais variadas formas. A Pedagogia de projetos é uma estratégia metodológica que pode ser inserida em todas as etapas do ensino, porém é necessário que os educadores entendam que existe uma forma especial para que ela seja posta em prática, pois é importante entender que há diferenças específicas entre os níveis de ensino, que devem ser observadas minuciosamente. Tendo por base as ideias de Horn e Barbosa (2008), vale destacar que: 4 4 Portanto, cabe ao educador planejar as atividades articulando as melhores formas de trabalho para que a aprendizagem aconteça de forma atrativa e dinâmica, sem esquecer o grau das competências que cada fase possui. Segundo Oliveira (2011), desenvolver atividades pedagógicas com as crianças por meio de projetos, é uma ação que possibilita múltiplas aprendizagens, pois existe uma variedade de estratégias para trabalhar o tema escolhido. A autora segue argumentando que, logo nos primeiros anos, a criança precisa ter “experiências com os objetos da cultura por meio de atividades como cantar, tocar instrumentos musicais, ouvir histórias, brincar com areia e água, modelar com argila, pintar, passear, construir com blocos, compor quebra- cabeças, observar animais e cuidar deles, realizar brincadeiras no pátio”. (OLIVEIRA, 2011.p. 238). Entretanto, todas essas atividades precisam ter significados, intencionalidade e não serem utilizadas apenas como entretenimento desprovido da parte pedagógica. O projeto é uma ferramenta que organiza, articula, e sua principal tarefa é desenvolver o processo de ensino aprendizagem de forma intencional, com objetivo traçados, trazendo significância para as crianças. 5 5 Complexidade e escola A Teoria da Complexidade, proposta por Morin (1990; 2002), é uma das bases que fundamenta a prática pedagógica aqui apresentada. O autor parte da crítica ao modelo paradigmático da Ciência Moderna, ao qual denomina pensamento simplificador. Segundo Morin (1990), o pensamento simplificador, na intenção de controlar a natureza, acaba por reduzir e tratar de maneira unidimensional a complexidade do real. Orientado pelos princípios de redução, disjunção e abstração, tende a fragmentar, simplificar e formalizar o real, compreendendo a natureza unicamente a partir do funcionamento de suas partes. Tal pensamento tem reflexos na estrutura e no currículo escolares, uma vez que o conhecimento é reduzido, simplificado e fragmentado em diferentes disciplinas, dificultando a compreensão por parte dos(as) alunos(as). Ao mesmo tempo, o conhecimento e as práticas escolares são formalizados, vistos sob a ótica da ordem e da certeza dos programas curriculares pré-determinados. 6 6 Para Morin (1990), a complexidade do real, dos objetos e fenômenos da natureza, pode ser melhor compreendida a partir de uma perspectiva multidimensional e que tenha em vista as incompletudes do conhecimento. Seria esse o pensamento complexo. Ao compreender o mundo real, a perspectiva de complexidade considera a ordem, a certeza e a regularidade tanto quanto a desordem, a incerteza e a não-regularidade. Trata-se de conhecer as partes sem desvinculá-las da existência de um todo e vice- versa, levando em conta as grandes quantidades de interações e unidades existentes entre as partes que constituem a realidade. Desse modo, as determinações e previsões dão lugar às indeterminações, às possibilidades e aos fenômenos aleatórios. Um trabalho pedagógico pautado nos princípios de complexidade (MORIN, 2002) deve abrir-se às incertezas do conhecimento, às inúmeras inter- relações possíveis, em um trabalho interdisciplinarque contemple os saberes e interesses dos(as) alunos(as). É nesse contexto que se insere a proposta de transversalidade articulada à estratégia de projetos, que veremos a seguir. 7 7 Temas Transversais e formação ética Entendemos que a escola, além de trabalhar os conhecimentos da humanidade, tem o papel de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos(as) possam participar ativamente e conviver de maneira democrática. Encontramos no trabalho de Araújo (2002, 2003) uma possibilidade de organização da escola que se faz coerente com tais ideias. De acordo com esse autor – que se fundamenta, entre outros, no trabalho de Puig (2000) – o objetivo da educação gira em torno de dois eixos: a instrução e a formação. A instrução refere-se à transmissão dos conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade – representados, na escola, pelos conteúdos disciplinares – e a formação volta-se para a ética e a cidadania, que pressupõe a construção de uma sociedade que garanta vida digna para todos os seres humanos, e compreende o desenvolvimento de aspectos que deem, a alunos(as), certas “[...] condições físicas, psíquicas, cognitivas e culturais necessárias para uma vida pessoal digna e saudável e para poderem exercer e participar efetivamente da vida política e pública da sociedade, de forma crítica e autônoma” (ARAÚJO, 2003, p.30). 8 8 Para que a escola atinja tais objetivos é necessário articular o ensino dos conteúdos escolares – o conhecimento histórico, social e cultural – a uma formação que prepare o sujeito para lidar com a diversidade, o conflito de ideias, os sentimentos e emoções presentes nas relações intra e interpessoais, além de garantir a possibilidade e a capacidade de indignação frente às injustiças da vida cotidiana. (ARAÚJO, 2002, p.39). Entretanto, para o autor, o papel que a escola vem em geral exercendo contempla apenas a instrução. Assim, as crianças vão à escola somente para aprender conteúdos como matemática, língua, história, artes e outros, de modo que esses conhecimentos escolarizados passam a ser vistos como um fim em si mesmos. Além disso, são trabalhados de modo distante da realidade e dos interesses da maioria dos(as) alunos(as), que não encontram significado para aquilo que aprendem. Para Araújo (2003), o estudo dos conhecimentos historicamente acumulados não é suficiente para, por si só, garantir a formação de cidadãos e cidadãs que se preocupem com o bem- estar individual e coletivo. Sem deixar 9 9 de reconhecer a importância das disciplinas, o autor acredita que encarar o ensino escolar sob a ótica apenas da instrução – colocando em segundo plano a formação ética – é desenvolver uma educação que pouco colabora com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária (ARAÚJO, 2003). É a partir dos eixos de instrução e formação que Araújo apresenta uma proposta de trabalho pedagógico pautada nos princípios da transversalidade e da estratégia de projetos. Para tratar de transversalidade, partimos do trabalho de Moreno (1998), a qual propõe a inserção de temas transversais na escola e, mais do que isso, defende uma mudança na forma de encarar as disciplinas. Segundo Moreno (1998), o ensino escolar frequentemente coloca os conteúdos curriculares apenas como finalidades em si mesmos, e, assim, a escola deixa de cumprir o objetivo de desenvolver, nos alunos e alunas, a capacidade de compreender o mundo que os rodeia. Estudados como fim em si mesmos, os conteúdos transformam- se, para muitos alunos e alunas “(...) em algo absolutamente carente de interesse ou totalmente incompreensível.” (MORENO, 1998, p.38). Assim, “(...) as aprendizagens escolares são vividas por alunos e alunas como algo gratuito, cuja única finalidade consiste em passar nos exames.” (idem, p.45). Esta mentalidade deve-se ao fato de que, para as crianças, é difícil entender a utilidade das aprendizagens apresentadas como algo que justifica a si mesmo. Diante dessa situação, a proposta é que nossas preocupações sociais mais intensas (como as questões ambientais, de saúde, orientação sexual, por exemplo), transformem-se no que a autora denomina “temas transversais”, ou seja, o próprio eixo em torno do qual devem girar as disciplinas trabalhadas pela escola. 1 0 10 Assim, as preocupações sociais passam a ser “assunto de estudo nas escolas”. As matérias curriculares, por sua vez, servem de apoio para o estudo dos temas transversais, que pretendem transformar o aprendizado escolar no estudo de temáticas relevantes a alunos(as) e que possam contribuir para uma formação em valores. Essa é, portanto, a ideia da transversalidade: ao serem estruturados em torno dos temas transversais, os conhecimentos trabalhados na escola têm sua finalidade transformada; alunos(as) estabelecem uma relação diferente com tais conhecimentos, que passam a dar suporte para o estudo dos temas transversais e adquirem significado. Partindo do pressuposto de que aprender requer sempre um esforço do(a) estudante, Moreno afirma que “Nada desanima mais que realizar um trabalho que requer esforço sem que se saiba para que serve.” (MORENO, 1998, p.45). Dessa maneira, a autora defende a ideia de que, quando um determinado conhecimento se relaciona à curiosidade própria do ser humano ou é percebido como alguma coisa útil para sua vida, pode transformar-se em algo que será vivido com maior satisfação. É neste aspecto que a ideia de transversalidade propõe uma articulação entre o científico e o cotidiano, no sentido de aproximar as disciplinas trabalhadas na escola aos temas transversais – assuntos da realidade social vivida por alunos e alunas e que efetivamente contribuam para a formação ética. Dessa maneira, a partir do estudo de um tema transversal relativo à realidade social dos estudantes, disciplinas como matemática, língua, história, geografia passam a ter um valor importante para a aquisição dos objetivos almejados com o estudo do tema transversal. A intenção de Moreno é trazer a aprendizagem escolar para: 1 1 11 Diante do que foi exposto, os princípios da transversalidade pressupõem uma mudança metodológica, mas também epistemológica, pois propõem repensar o objetivo da escola, que deixa de se preocupar apenas com os conteúdos culturalmente herdados e passa a enfatizar também a formação de sujeitos preparados para viver em uma sociedade que possui necessidades muito particulares – como a paz, afetividade, uma vida saudável – as quais podem ser apreendidas pela escola a partir do estudo dos problemas sociais e do cotidiano das crianças que ali convivem. O ensino transversal e a estratégia de projetos 1 2 12 Tendo como referência a ideia de transversalidade (MORENO, 1998), Araújo (2003) propõe a estratégia de projetos como forma de colocar em prática tais princípios. Fundamentado na proposta teórico-metodológica abordada pelo autor, o trabalho com projetos – segundo a perspectiva de transversalidade – vem sendo desenvolvido em diferentes escolas e vem, igualmente, sendo foco de estudos e pesquisas na área de educação (PÁTARO, 2008). A partir do que propõe Araújo (2003), esse trabalho junto às crianças gira em torno de projetos que são desenvolvidos a partir de temáticas transversais. Desse modo, o foco dos projetos é sempre um tema que tenha como objetivo a formação ética, relacionada, por exemplo, aos direitos humanos, à afetividade, aos problemas sociais, à resolução de conflitos etc. Tal temática articula-se aos conteúdos escolares, os quais são estudados no intuito de auxiliar alunos(as)na compreensão das questões abordadas. A articulação entre a transversalidade e a estratégia de projetos pauta-se em um trabalho interdisciplinar, na qual os conhecimentos são vistos como uma rede de relações, em um percurso não linear, permeado por incertezas. Isso confere à prática desenvolvida uma coerência com os princípios de complexidade expostos anteriormente e fundamentados no trabalho de Morin (1990, 2002). Para a construção de um projeto, na perspectiva aqui apresentada, a temática a ser desenvolvida é inicialmente proposta pelo(a) docente e discutida com os alunos(as) para que, em seguida, as crianças levantem questões que representem suas dúvidas, curiosidades e interesses a respeito do tema a ser abordado. Esta é uma forma de possibilitar que os estudos se iniciem a partir do cotidiano e dos interesses manifestados pelos estudantes e, ao mesmo tempo, garantir a natureza ética das temáticas abordadas – visto que o tema é selecionado pelo(a) professor(a). 1 3 13 Em seguida, a partir da temática transversal definida pelo(a) docente e contando com a participação de alunos(as), as disciplinas escolares que vão sendo contempladas ao longo do projeto passam a oferecer suporte na busca por respostas às questões levantadas pelo grupo. O planejamento dos conteúdos disciplinares a serem ensinados e aprendidos – assim como as estratégias metodológicas das aulas – são elaborados pelo(a) docente, levando em conta o currículo referente à idade/série. Os estudos são registrados coletiva e individualmente pelos estudantes, com o auxílio do(a) professor(a), evidenciando a autoria dos(as) alunos(as) no que diz respeito ao projeto desenvolvido e aos conhecimentos construídos. Ao longo do projeto, as questões das crianças vão sendo respondidas e a temática transversal vai sendo relacionada, simultaneamente, com as vivências dos estudantes e com os conteúdos escolares. Os temas transversais 1 4 14 A educação para a cidadania requer, portanto, que questões sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e a reflexão dos alunos. A inclusão de questões sociais no currículo escolar não é uma preocupação inédita. Essas temáticas já têm sido discutidas e incorporadas às áreas ligadas às Ciências Sociais e Ciências Naturais, chegando mesmo, em algumas propostas, a constituir novas áreas, como no caso dos temas Meio Ambiente e Saúde. Os Parâmetros Curriculares Nacionais incorporam essa tendência e a incluem no currículo de forma a compor um conjunto articulado e aberto a novos temas, buscando um tratamento didático que contemple sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas convencionais. O currículo ganha em flexibilidade e abertura, uma vez que os temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as diferentes realidades locais e regionais e outros temas podem ser incluídos. O conjunto de temas aqui proposto (Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde e Orientação Sexual) recebeu o título geral de Temas Transversais, indicando a metodologia proposta para sua inclusão no currículo e seu tratamento didático. Esse trabalho requer uma reflexão ética como eixo norteador, por envolver posicionamentos e concepções a respeito de suas causas e efeitos, de sua dimensão histórica e política. A ética é um dos temas mais trabalhados do pensamento filosófico contemporâneo, mas é também um tema presente no cotidiano de cada um, que faz parte do vocabulário conhecido por quase todos. A reflexão ética traz à luz a discussão sobre a liberdade de escolha. A ética interroga sobre a legitimidade de práticas e valores consagrados pela 1 5 15 tradição e pelo costume. Abrange tanto a crítica das relações entre os grupos, dos grupos nas instituições e perante elas, quanto a dimensão das ações pessoais. Trata-se portanto de discutir o sentido ético da convivência humana nas suas relações com várias dimensões da vida social: o ambiente, a cultura, a sexualidade e a saúde. Ética A Ética diz respeito às reflexões sobre as condutas humanas. A pergunta ética por excelência é: Como agir perante os outros? . Verifica-se que tal pergunta é ampla, complexa e sua resposta implica tomadas de posição valorativas. A questão central das preocupações éticas é a da justiça entendida como inspirada pelos valores de igualdade e equidade. Na escola, o tema Ética encontra- se, em primeiro lugar, nas próprias relações entre os agentes que constituem essa instituição: alunos, professores, funcionários e pais. Em segundo lugar, o tema Ética encontra-se nas disciplinas do currículo, uma vez que, sabe-se, o conhecimento não é neutro, nem impermeável a valores de todo tipo. Finalmente, encontra-se nos demais Temas Transversais, já que, de uma forma ou de outra, tratam de valores e normas. Em suma, a reflexão sobre as diversas faces das condutas humanas deve fazer parte dos objetivos maiores da escola comprometida com a formação para a cidadania. Partindo dessa perspectiva, o tema Ética traz a proposta de que a escola realize um trabalho que possibilite o desenvolvimento da autonomia moral, condição para a reflexão ética. Para isso foram eleitos como eixos do trabalho quatro blocos de conteúdo: Respeito Mútuo, Justiça, Diálogo e 1 6 16 Solidariedade, valores referenciados no princípio da dignidade do ser humano, um dos fundamentos da Constituição brasileira. Pluralidade cultural Para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem. A sociedade brasileira é formada não só por diferentes etnias, como por imigrantes de diferentes países. Além disso, as migrações colocam em contato grupos diferenciados. Sabe-se que as regiões brasileiras têm características culturais bastante diversas e a convivência entre grupos diferenciados nos planos social e cultural muitas vezes é marcada pelo preconceito e pela discriminação. O grande desafio da escola é investir na superação da discriminação e dar a conhecer a riqueza representada pela diversidade etnocultural que compõe o patrimônio 1 7 17 sociocultural brasileiro, valorizando a trajetória particular dos grupos que compõem a sociedade. Nesse sentido, a escola deve ser local de diálogo, de aprender a conviver, vivenciando a própria cultura e respeitando as diferentes formas de expressão cultural. Meio ambiente A vida cresceu e se desenvolveu na Terra como uma trama, uma grande rede de seres interligados, interdependentes. Essa rede entrelaça de modo intenso e envolve conjuntos de seres vivos e elementos físicos. Para cada ser vivo que habita o planeta existe um espaço ao seu redor com todos os outros elementos e seres vivos que com ele interagem, por meio de relações de troca de energia: esse conjunto de elementos, seres e relações constitui o seu meio ambiente. Explicado dessa forma, pode parecer que, ao se tratar de meio ambiente, se está falando somente de aspectos físicos e biológicos. 1 8 18 Ao contrário, o ser humano faz parte do meio ambiente e as relações que são estabelecidas relações sociais, econômicas e culturais também fazem parte desse meio e, portanto, são objetos da área ambiental. Ao longo da história, o homem transformou-se pela modificação do meio ambiente, criou cultura, estabeleceu elações econômicas, modos de comunicação com a natureza e com os outros. Mas é preciso refletir sobre como devem ser essas relações socioeconômicas e ambientais, para se tomar decisões adequadas a cada passo, na direção das metas desejadaspor todos: o crescimento cultural, a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental. Saúde O nível de saúde das pessoas reflete a maneira como vivem, numa interação dinâmica entre potencialidades individuais e condições de vida. Não se pode compreender ou transformar a situação de um indivíduo ou de uma comunidade sem levar em conta que ela é produzida nas relações com o meio físico, social e cultural. Falar de saúde implica levar em conta, por exemplo, a qualidade do ar que se respira, o consumismo desenfreado e a miséria, a degradação social e a desnutrição, formas de inserção das diferentes parcelas da população no mundo do trabalho, estilos de vida pessoal. Atitudes favoráveis ou desfavoráveis à saúde são construídas desde a infância pela identificação com valores observados em modelos externos ou grupos de referência. A escola cumpre papel destacado na formação dos cidadãos para uma vida saudável, na medida em que o grau de escolaridade em si tem associação comprovada com o nível de saúde dos indivíduos e grupos populacionais. Mas a explicitação da educação para a Saúde como tema do 1 9 19 currículo eleva a escola ao papel de formadora de protagonistas e não pacientes capazes de valorizar a saúde, discernir e participar de decisões relativas à saúde individual e coletiva. Portanto, a formação do aluno para o exercício da cidadania compreende a motivação e a capacitação para o autocuidado, assim como a compreensão da saúde como direito e responsabilidade pessoal e social. Orientação sexual A Orientação Sexual na escola deve ser entendida como um processo de intervenção pedagógica que tem como objetivo transmitir informações e problematizar questões relacionadas à sexualidade, incluindo posturas, crenças, tabus e valores a ela associados. Tal intervenção ocorre em âmbito coletivo, diferenciando-se de um trabalho individual, de cunho psicoterapêutico e enfocando as dimensões sociológica, psicológica e fisiológica da sexualidade. Diferencia-se também da educação realizada pela família, pois possibilita a discussão de diferentes pontos de vista associados à sexualidade, sem a imposição de determinados valores sobre outros. O trabalho de Orientação Sexual visa propiciar aos jovens a possibilidade do exercício de sua sexualidade de forma responsável e prazerosa. Seu desenvolvimento deve oferecer critérios para o discernimento de comportamentos ligados à sexualidade que demandam privacidade e intimidade, assim como reconhecimento das manifestações de sexualidade passíveis de serem expressas na escola. Propõem-se três eixos fundamentais para nortear a intervenção do professor: Corpo Humano, Relações de Gênero e Prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS. 2 0 20 A abordagem do corpo como matriz da sexualidade tem como objetivo propiciar aos alunos conhecimento e respeito ao próprio corpo e noções sobre os cuidados que necessitam dos serviços de saúde. A discussão sobre gênero propicia o questionamento de papéis rigidamente estabelecidos a homens e mulheres na sociedade, a valorização de cada um e a flexibilização desses papéis. O trabalho de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis/AIDS possibilita oferecer informações científicas e atualizadas sobre as formas de prevenção das doenças. Deve também combater a discriminação que atinge portadores do HIV e doentes de AIDS de forma a contribuir para a adoção de condutas preventivas por parte dos jovens. Temas locais O trabalho com temas sociais na escola, por tratar de conhecimentos diretamente vinculados à realidade, deve estar aberto à assimilação de mudanças apresentadas por essa realidade. As mudanças sociais e os problemas que surgem pedem uma atenção especial para se estar sempre interagindo com eles, sem ocultá-los. Assim, embora os temas tenham sido escolhidos em função das urgências que a sociedade brasileira apresenta, dadas as grandes dimensões do Brasil e as diversas realidades que o compõem, é inevitável que determinadas questões ganhem importância maior em uma região. Sob a denominação de Temas Locais, os Parâmetros Curriculares Nacionais pretendem contemplar os temas de interesse específico de uma determinada realidade a serem definidos no âmbito do Estado, da cidade e/ou 2 1 21 da escola. Uma vez reconhecida a urgência social de um problema local, este poderá receber o mesmo tratamento dado aos outros Temas Transversais. Tomando-se como exemplo o caso do trânsito, vê-se que, embora esse seja um problema que atinge uma parcela significativa da população, é um tema que ganha significação principalmente nos grandes centros urbanos, onde o trânsito tem sido fonte de intrincadas questões de natureza extremamente diversa. Pense-se, por exemplo, no direito ao transporte associado à qualidade de vida e à qualidade do meio ambiente; ou o desrespeito às regras de trânsito e a segurança de motoristas e pedestres (o trânsito brasileiro é um dos que, no mundo, causa maior número de mortes). Assim, visto de forma ampla, o tema trânsito remete à reflexão sobre as características de modos de vida e relações sociais. Transversalidade e interdisciplinaridade 2 2 22 A proposta de transversalidade pode acarretar algumas discussões do ponto de vista conceitual, como, por exemplo, a da sua relação com a concepção de interdisciplinaridade, bastante difundida no campo da pedagogia. Essa discussão é pertinente e cabe analisar como estão sendo consideradas nos Parâmetros Curriculares Nacionais as diferenças entre os dois conceitos, bem como suas implicações mútuas. Ambas transversalidade e interdisciplinaridade se fundamentam na crítica de uma concepção de conhecimento que toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer isento e distanciado. Ambas apontam a complexidade do real e a necessidade de se considerar a teia de relações entre os seus diferentes e contraditórios aspectos. Mas diferem uma da outra, uma vez que a interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito principalmente à dimensão da didática. A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de conhecimento produzida por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas. A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender na realidade e da realidade de conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade). Na prática pedagógica, interdisciplinaridade e transversalidade alimentam-se mutuamente, pois o tratamento das questões trazidas pelos Temas Transversais expõe as inter-relações entre os objetos de conhecimento, 2 3 23 de forma que não é possível fazer um trabalho pautado na transversalidade tomando-se uma perspectiva disciplinar rígida. A transversalidade promove uma compreensão abrangente dos diferentes objetos de conhecimento, bem como a percepção da implicação do sujeito de conhecimento na sua produção, supe rando a dicotomia entre ambos. Por essa mesma via, a transversalidade abre espaço para a inclusão de saberes extra-escolares, possibilitando a referência a sistemas de significado construídos na realidade dos alunos. Os Temas Transversais, portanto, dão sentido social a procedimentose conceitos próprios das áreas convencionais, superando assim o aprender apenas pela necessidade escolar. Projetos A organização dos conteúdos em torno de projetos, como forma de desenvolver atividades de ensino e aprendizagem, favorece a compreensão da multiplicidade de aspectos que compõem a realidade, uma vez que permite a articulação de contribuições de diversos campos de conhecimento. Esse tipo de organização permite que se dê relevância às questões dos Temas Transversais, pois os projetos podem se desenvolver em torno deles e ser direcionados para metas objetivas ou para a produção de algo específico (como um jornal, por exemplo). Professor e alunos compartilham os objetivos do trabalho e os conteúdos são organizados em torno de uma ou mais questões. Uma vez definido o aspecto específico de um tema, os alunos têm a possibilidade de aplicar os conhecimentos que já possuem sobre o assunto; buscar novas informações e utilizar os conhecimentos e os recursos oferecidos pelas diversas áreas para dar um sentido amplo à questão. 2 4 24 Para isso é importante que o professor planeje uma série de atividades organizadas e direcionadas para a meta preestabelecida, de forma que, ao realizá-las, os alunos tomem, coletivamente, decisões sobre o desenvolvimento do trabalho (no caso de um jornal, por exemplo, os assuntos que deverá conter, como se organizarão para produzir as matérias, o que cada matéria deverá abordar, etc.), assim como conheçam e discutam a produção uns dos outros. Ao final do projeto, seu resultado pode ser exposto na forma de alguma atividade de atuação no meio, isto é, de uso no âmbito coletivo daquilo que foi produzido (seja no interior da classe, no âmbito da escola ou fora dela). Assim, os alunos sabem claramente o que e por que estão fazendo, aprendem também a formular questões e a transformar os conhecimentos em instrumento de ação. Para conduzir esse processo é necessário que o professor tenha clareza dos objetivos que quer alcançar e formule claramente as etapas do trabalho. A organização das etapas do projeto deverá ser previamente planejada de forma a comportar as atividades que se pretende realizar dentro do tempo e do espaço que se dispõe. Além disso, devem ser incluídas no planejamento saídas da escola para trabalho prático, para contato com instituições e organizações. Deve-se ter em conta que essa forma de organização dos conteúdos não representa um aumento de carga horária ou uma atividade extra. A elaboração do projeto Um fator importante ao se trabalhar com projetos é a escolha da temática. Existem escolas que, no início do planejamento anual já definem todos os projetos que serão trabalhados durante o ano letivo. Porém, se formos partir do pressuposto que “o projeto é um sonho coletivo”, (NOGUEIRA, 2008), o 2 5 25 professor deveria aguardar o inicio das aulas, conhecer sua turma de alunos e, juntamente com eles, descobrir seus desejos, interesses e necessidades. A temática deve nascer de uma parceria entre professor e alunos, em uma ação coletiva e não ocorrer de modo vertical, partindo da coordenação, direção ou professores para aplicação com os alunos. Muitas escolas dispõem de temas pré- definidos na semana de planejamento, obrigando os alunos a executarem as ações, ou seja, mais uma tarefa direcionada, sem nenhuma participação efetiva. Sobre essa prática, Nogueira (2008), enfatiza: Com isso não se quer dizer que é necessário tirar a participação do coordenador pedagógico ou do professor na escolha do tema. Esses profissionais podem e devem colaborar, pois são parte fundamental do processo pedagógico; porém, o aluno deve estar no centro do processo, mediado pelos profissionais. Na Pedagogia de Projetos todos devem estar envolvidos na escolha do tema, no desenvolvimento das atividades, em pesquisas necessárias ao entendimento do tema, tudo para que o objetivo seja alcançado, agindo de maneira coletiva, pois o projeto tem que ser vivido literalmente e não existir apenas no papel. Para se alcançar um bom resultado, precisa estar relacionado intrinsecamente com a prática. 2 6 26 Segundo Nogueira (2008) ao se observar uma turma, pode-se compreender atitudes de indisciplina existentes na sala, atividades das quais os alunos gostam e, a partir daí, o educador pode sondar qual o melhor tema para ser trabalhado como projeto, de acordo com o que as crianças vivenciam no dia a dia, questões de higiene, alimentação, leituras, obras de arte e outros temas que fazem parte da sua rotina e que servirão de incentivo para se escolher um tema para o projeto, ao invés de se procurar temas externos, que não pertencem ao contexto da sala. O educador, ao trabalhar com projetos, estará resolvendo questões presentes diariamente na convivência com os seus alunos, o que pode ser confirmado em Nogueira (2008, p. 40), quando afirma que: 2 7 27 Sendo assim, docentes e discentes podem escolher o melhor tema para aplicar a Pedagogia de Projetos, pois é a partir do interesse e necessidade dos alunos que nascerá o trabalho. Após a escolha do tema, os dois principais atores do processo – professor e aluno – iniciam as atividades, com papéis diferentes, dividindo as tarefas a serem cumpridas durante o período em que o projeto será trabalhado. Etapas de um projeto pedagógico A Pedagogia de Projetos é uma temática que vem despertando o interesse e a pesquisa de vários autores. Em seu livro Projetos Pedagógicos na educação infantil, Barbosa e Horn (2008) norteiam sete etapas a serem seguidas para se estruturar e organizar um bom Projeto Pedagógico: “a definição do 2 8 28 problema; o planejamento do trabalho; a coleta, a organização e o registro das informações; a avaliação e comunicação” (p.33) Já em seu livro Pedagogia dos projetos, etapas, papéis e atores, Nilbo Nogueira (2008) caracteriza as cinco etapas que devem ser observadas para organizar um projeto pedagógico, sendo elas: Planejamento; Execução; Depuração; Avaliação e Apresentação. Por afinidade intelectual, para esta pesquisa foram adotados os preceitos desse autor: Planejamento Ratificando a necessidade de se ter um Planejamento inicial para que a Pedagogia de Projetos realmente atinja seus objetivos, outros autores também convalidam e reafirmam essa etapa inicial. Para Libâneo (1991), o planejamento é fator primordial nas ações do professor. É nesse momento que ele organiza suas práticas, e assim faz uma ligação entre os conteúdos e o contexto social no qual está inserido. A ação de planejar faz parte da vida humana sendo que, a cada momento, as pessoas são levadas a planejar, fugindo do improviso, buscando decisões pensadas e organizadas (KENSKI,1995). Assim, a primeira etapa de um projeto é o planejamento, uma vez que não há como executar uma tarefa eficiente sem planejar, se mostrando essa uma fase fundamental. Cabe ao professor a tarefa de construir esse planejamento, pois sua formação lhe permite fazê-lo. É o educador que irá provocar o desencadeamento das ações, perguntando: O que fazer? Como fazer? Quem vai ajudar? Incentivados pelo professor, os alunos planejam e se sentirão motivados à ação: 2 9 29 Portanto, o planejamento das ações é essencial para o bom andamento do projeto, pois todas as estratégias e as finalidades do trabalho deverão ficar claras para que inicie o processo de execução com mais segurança. A aprendizagem terá foco e todos os envolvidos saberão quais são as suas responsabilidades. Para Nogueira (2008), quando o aluno planeja em conjunto com o professor, está desenvolvendosua autonomia em estipular os caminhos que o projeto irá percorrer, também enfatizando que não é uma ação acabada e engessada. O Projeto poderá sofrer algumas mudanças no decorrer das ações, o que também é positivo porque desenvolve conceitos de flexibilidade e maleabilidade. Assim, quando a etapa do planejamento estiver concluída, com todos os desejos e necessidades explanados pelos atores, é possível seguir para a próxima etapa, que é a execução. Execução Para Nogueira (2008), essa é a etapa em que o aluno irá pôr em prática tudo que foi planejado, saindo da passividade; é na prática que as relações com 3 0 30 os colegas acontecem, trocando informações e saberes. É nesse contexto que tudo o que foi sonhado começa a ganhar vida. Com isso, os alunos poderão desenvolver as atividades, focando em tudo que precisa ser feito para que o projeto de fato venha a ganhar corpo, estrutura e fundamento, sem jamais se desprezar as habilidades demonstradas pelos alunos. Depuração-Melhorando a qualidade do projeto A terceira etapa chama-se Depuração, que significa um incremento ou melhora na qualidade do projeto. É nesse momento que os atores se reúnem, fazem uma primeira avaliação e expõem o que precisa ser acrescentado, modificado ou retirado para que o projeto fique ainda melhor. Verifica-se também se todos os participantes estão envolvidos, se estão gostando, se está sendo proveitoso, o que não deu certo, as mudanças necessárias. É um “ajuste de trajetória” para que o projeto chegue ao final de modo satisfatório. 3 1 31 Apresentação Segundo Nogueira (2008), a quarta é a mais importante de todas as etapas, que é a apresentação. Nessa fase, o aluno já pesquisou, já colheu dados, resolveu problemas e já possui uma bagagem de informações que lhe acrescentou inúmeros conhecimentos. Contudo, alguém precisa apreciar essa aprendizagem: os pais, os outros alunos, convidados, etc. Não vale a pena guardar todas as aprendizagens dentro do armário da sala, já que o saber pode ser compartilhado com os demais sujeitos que fazem parte da comunidade escolar, levantando o ego dos alunos que se esforçaram e se dedicaram para produzir o projeto. Assim como o professor aprendeu dando aula, o aluno também irá consolidar seus conhecimentos compartilhando o que aprendeu com outras pessoas que irão apreciar seu trabalho. Nessa fase, o professor tem a incumbência de planejar a apresentação, escolhendo o público que irá participar: professores, pais, alunos, comunidade. Avaliação Etapa final do projeto, é essencial, porém tem sido muitas vezes negligenciada por parte dos professores que atuam com esta estratégia metodológica. “Avaliar um projeto é ter em mente que tínhamos objetivos traçados inicialmente e agora devemos verificar se eles foram atingidos.” (NOGUEIRA, 2008, p.70). A avalição é o momento de discursão, em que o 3 2 32 educador fará primeiramente a sua alta análise, expondo o que gostou, o que poderia ser melhor e pedindo, posteriormente aos alunos que também avaliem o projeto e se auto avaliarem, refletindo sobre sua participação no processo. É necessário que o educador ouça seus alunos, saiba do que gostaram, o que o trabalho acrescentou à sua vida, o que trouxe de aprendizagem. Freire (2015), sobre o tema, comenta: Pode ser que no primeiro momento haja uma restrição de respostas com medo de diminuir o trabalho ou a participação dos colegas, mas com a mediação do professor e a confiança dos alunos de que essa etapa não é punitiva, mas visa a instrumentalizá-los ainda mais para novos projetos, a conversa pode ganhar direção e todos poderão declarar sua opinião. Afinal de contas, um dos objetivos do Projeto Político Pedagógico da escola é que ela deve formar cidadãos críticos, que questionem e criticidade se ensina com atitudes. (NOGUEIRA, 2008) Após a avaliação, o professor retoma o planejamento e observa se todos os objetivos listados no início do projeto foram alcançados. 3 3 33 Por que utilizar a pedagogia de projetos? Por que trabalhar com projetos? Se não houver motivos, não há porque executar projetos. O projeto é carregado de intencionalidade e necessita ter vários objetivos. Contudo é imprescindível entender quais são as vantagens de se trabalhar com essa metodologia, tais como o fato de os alunos avançarem rumo ao conhecimento, elaborando pesquisas, se informando dos assuntos propostos de maneira aguçada, descobrindo algo novo e adquirindo conhecimentos, o que fará com que tenham a possibilidade de questionar, tendo por base o saber adquirido mediante as propostas desenvolvidas. Nesse sentido é importante considerar as ideias de Barbosa e Horn (2008,p. 34) que dizem: 3 4 34 A primeira vantagem é que o educador irá tirar o aluno da passividade. Há uma ligação com a prática, em vez de somente aulas teóricas fixas no conteúdo dos livros didáticos. Com a pedagogia de projetos, o professor tem a oportunidade de inserir os seus alunos com o problema a ser trabalhado, interagindo com o objeto de aprendizagem e, nessa prática, fazer ocorrer uma interação em que um aluno aprende com o outro, compartilhando a linguagem, os saberes, as dificuldades e dúvidas que certamente surgirão. Outra vantagem da utilização dessa metodologia está na hipótese do aluno ser capaz de resolver problemas, desenvolvendo habilidades e competências; ou seja, em última instância, construindo seu próprio conhecimento. (SILVA, 2011). Um erro comum é pensar que a Pedagogia de Projetos exclui o conteúdo planejado para determinada turma/ano/série. Isso não ocorre. Os projetos apenas têm a função de organizar os conteúdos em práticas pedagógicas, deixando a aprendizagem mais prazerosa, já que os alunos explorarão temas que lhes são caros, participando da construção do seu conhecimento a partir de atividades que lhe fazem sentido, tornando mais fácil a absorção dos conhecimentos. Nesse contexto, Fonte ( 2011) ensina: 3 5 35 De acordo com essa abordagem, as aulas - que antes eram desmotivadas, com teorias passivas, vazias e desmotivadoras - passam a ter um significado mais amplo para os alunos, pois eles foram provocados a irem em busca dos conhecimentos, interagindo com os colegas, observando as informações dos livros, acrescentando novos saberes de maneira prática e envolvente. Outra vantagem que a Pedagogia de Projetos pode proporcionar aos educadores e alunos é a possibilidade de integrar as disciplinas do currículo ao assunto que está sendo trabalhado, o que implica em um leque de conhecimentos a ser abordado, desenvolvendo múltiplas aprendizagens. Fonte (2011, p. 33), dá sua contribuição sobre tal assunto quando afirma: “Na execução dos projetos, fica explícita a possibilidade de mobilizar diferentes áreas do conhecimento para atingir os objetivos traçados e resolver os problemas que surgem. A interdisciplinaridade ocorre naturalmente, gerada por uma necessidade real” (idem). A Pedagogia de Projetos trouxe uma nova roupagem para as práticas pedagógicas, com inúmeras vantagens para o processo de ensino e aprendizagem e se constitui, em última instância, em uma alternativa educacional motivadora, moderna e muito eficaz. 3 6 36 Portanto, a Pedagogia de Projetos é uma ferramenta importante para o avanço das práticas pedagógicas. Suas vantagens proporcionam um ensino dinâmico, satisfatório, em que professor e aluno são duplamente beneficiados. 3 7 37 REFERÊNCIAS ARAÚJO, U. F.A construção de escolas democráticas. São Paulo: Moderna, 2002. ARAÚJO, U. F. A. Temas transversais e a estratégia de projetos. São Paulo: Moderna, 2003. BARBOSA, Maria Carmem Silveira e HORN, M. das Graças. Projetos Pedagógicos na Educação Infantil. -Porto Alegre : Artmed,2008. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. 146p. FONTE, Paty. Projetos Pedagógicos Dinâmicos. A paixão de educar e o desafio de inovar. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa.51ªedição, Rio de Janeiro. Paz e Terra, 2015. GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 1993. KENSKI, Vani Moreira. Avaliação da aprendizagem. 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