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1.INTRODUÇÃO: 1.1 Noção de usufruto O presente trabalho, tem como objectivo analisar e salientar questões referentes a cadeira de Direitos Reais, que é uma disciplina essencialmente técnica, é uma categoria de Direito Civil que nos acompanha em nossas vidas, efectivando-se na existência de uma coisa determinada, corpórea, móvel e imóvel, onde abordaremos concretamente as matérias referentes ao usufruto. Podemos definir o usufruto, como sendo um direito real que se encontra no ordenamento jurídico Angolano, que consiste na capacidade, direito atribuído a alguém de poder usar, usufruir temporariamente e plenamente do bem de outrem, onde um terceiro (usufrutuário), tenha o poder de usar, gozar e usufruir dos frutos e utilidades do bem alheio sem que se altere as substâncias a luz do artigo 1439ª do código civil. 2. Características do Usufruto De acordo ao artigo 1439º do código civil, o usufruto caracteriza-se pelo seguinte: a) Por ser um direito que atribui o gozo pleno de uma coisa - gozo da coisa é pleno no sentido de que compreende qualquer utilidade e retirar dela, seja usando-a ou apropriando-se dos seus frutos, seja permitindo a terceiro esse gozo; b) Por ser um direito temporário – o usufrutuário tem a possibilidade de servir-se da coisa e receber os respectivos frutos, sejam eles naturais ou civis, podendo trespassar o usufruto ou onerá-lo, segundo o artigo tem limites máximos de duração, que não podem ultrapassar a vida do seu titular, ou no caso de pessoa colectiva a duração de 30 anos. Em consequência a morte do titular ou o decurso do prazo extinguem o usufruto. Artigos 1444º,1443º e 1476ª nº 1 al. a) do código civil; c) Por encontrar-se limitado pela proibição de alteração da forma ou substância da coisa - usufrutuário beneficia assim da generalidade dos poderes de gozo que a coisa seja susceptível de proporcionar, não sendo o seu gozo circunscrito a determinadas faculdades, ao contrário do que acontece em outros direitos reais menores, artigo 1439 coadjuvado com o 1446º do código civil. A proibição de lateral a forma ou substância da coisa não existe no caso do usufruto de coisas consumíveis (artigo1451º do código civil). Esta constitui, porém, uma modalidade especial do usufruto. d) Por ser um direito não exclusivo - uma vez que incide em coisa ou direito alheio concorrendo por isso necessariamente com outro direito, normalmente a propriedade. Por esse motivo, embora atribua o gozo pleno de uma coisa, o usufruto não constitui um direito pleno sobre uma coisa, mas antes limitado, em virtude de concorrer necessariamente com outro direito 3. Modalidades do Usufruto A lei menciona no artigo 1441º, o que denomina usufruto simultâneo e usufruto sucessivo. O usufruto simultâneo, é uma forma de comunhão do usufruto (co-usufruto) e, como tal, encontra-se sujeito ao regime jurídico da comunhão de direitos reais, que é o da compropriedade, com as necessárias adaptações, (artigo 1404º do c.c). O usufruto sucessivo, designa um usufruto constituído a favor de várias pessoas, em ordem disposta no título constitutivo, cada uma delas vai sendo investida no direito de usufruto, logo que o usufruto do anterior usufrutuário se extinga. Não há, nesses casos, co-usufruto entre pessoas designadas no título constitutivo, dentro da ordem aí estipulada. Ambos, apenas se constituem se todas pessoas existirem ao tempo em que o primeiro usufruto se torne eficaz. Havendo co-usufruto, a morte do co-usufrutuário não reverte a favor do proprietário, acrescendo o usufruto do falecido ao co-usufrutuário ou usufrutuários que tiverem sobrevivido. É o que dispõe o artigo 1442º do c.c, que ressalva, porém, disposição em contrário. 4. Objecto do Usufruto De acordo com o artigo 1439º do código civil, o usufruto pode ter como objeto uma coisa corpórea, móvel ou imóvel, bem como um direito. A lei regula especialmente usufrutos sobre diversas coisas como árvores e arbustos, matas e árvores de corte, plantas de viveiro e universalidades de animais, (artigos 1453º, 1455º, 1456º e 1462º, todos do código civil. Em relação aos direitos, a lei prevê usufrutos sobre créditos, artigo 1463º do C.C, títulos de créditos, artigo 1465º do C.C e participações sociais artigos 1467º do C.C 4.1Objecto do usufruto enquanto coisa Relativamente ao objecto enquanto coisa, o usufruto pode ter como objecto quer bens imóveis como móveis , relativamente aos bens móveis , o usufruto pode incidir sobre as mais diversas categorias, como sejam, consumíveis , art. 1451, deterioráveis , art. 1452, fungíveis; universalidades, ainda que com algumas diferenças de regime decorrente da sua intrínseca natureza como prevê o art. 1462. 4.2.Objecto do usufruto enquanto direito Relativamente ao objecto enquanto direito importa em primeiro lugar saber se o legislador limita o campo de aplicação do usufruto aos direitos em função da sua natureza jurídica. A resposta que o código nos da e ade que o legislador atribui uma grande amplitude a natureza dos direitos sobre os quais incide o usufruto. Com base no disposto no artigo 1463 e ss constata-se que o usufruto tanto pode incidir sobre direitos reais como nos direitos de crédito. Entre os direitos que se afiguram mais comuns como objecto de usufruto, destacam-se o usufruto sobre participações sociais, art 1467; usufruto sobre direitos de autor, art. 14666; usufruto sobre créditos, art. 1464 e 1465; e o usufruto sobre rendas vitalícias, art. 1463. É importante ressaltar que i dependentemente da natureza do bem que o usufruto tenha como seu objecto, existe sempre um aspecto comum, o de ele ser sempre alheio. Essa característica afere uma feição própria ao instituto, já que o usufruto sobre uma coisa coexiste sempre com a propriedade. É assim que se compreende que o usufruto sobre coisas consumíveis a propriedade dessa coisa não se transmite para o usufrutuário, como estipula o nº 2 do art. 1451. Deste modo, ao lado do usufruto subsiste um direito de propriedade – nua propriedade ou propriedade de raiz, desprovido de alguns dos seus mais significativos poderes, nomeadamente o ius utendi uma vez que o gozo da coisa passa a caber ao usufrutuário. Porem, não é só o ius utendi que é retirado ao proprietário, com o usufruto, e a existência simultânea dos dois direitos, o proprietário vê-se igualmente limitado quanto ao seu ius abutendi, isto é, relativamente ao direito de disposição da coisa. O proprietário pode dispor do seu direito limitado, mas não da coisa em si mesmo. Neste último particular assiste-se a uma limitação equivalente para o usufrutuário. Só ambos conjuntamente podem dispor da coisa. 5. Poderes de Uso e Fruição e disposição da Coisa O poder de usar a coisa tem grande amplitude e é indeterminado, sendo praticamente equiparado ao poder de uso do proprietário, se distingue apenas pela limitação relativa, ao respeito pela forma e substância da coisa, e supletivamente pelo seu destino económico, o usufrutuário tem poder de extinguir o seu direito através da renúncia. Artigos 1446º, 1476º e 1439º do C.C. Essas limitações, não correspondem, porém, a obrigações específicas do usufrutuário, mas antes a limites ao seu poder de uso, pelo que se o usufrutuário os infringir, viola o direito do proprietário, sendo responsável nos termos da responsabilidade civil, artigo 483º do código civil, de acordo com o critério da diligência do bom pai da família, artigo1446º e 1487 n° 2 do C.C O poder de fruição da coisa, empreende a faculdade de perceber os frutos da mesma, nos termos amplos em que o conceito de fruto é reconhecido pelo direito, art. 212º do código civil. Em consequência desse poder, o usufrutuário adquire a propriedade dos frutos a partir do momento em que eles são separados da coisa-mãe, podendo exercer desde esse momento todos os poderes que competem ao proprietário. O poder de fruição da coisa pelo usufrutuário abrange tanto sua fruição natural como sua função civil. Relativamentea função natural da coisa, deve referir-se que, enquanto permanecem ligados a coisa e os frutos naturais da coisa pertencem ao proprietário, tendo o usufrutuário apenas o seu usufruto. No poder de fruição que compete ao usufrutuário compreendem-se dois elementos: a faculdade de perceber os frutos e a aquisição automática da sua propriedade, a partir do momento em que ocorre a sua separação, ocorra esta por acção do usufrutuário ou por causas naturais. Normalmente, no entanto, a aquisição da propriedade dos frutos apenas deve ocorrer no momento da colheita. O usufrutuário tem igualmente o poder de fruição civil da coisa. Esta corresponde a um rendimento de substituição, na medida em que a fruição civil da coisa pelo usufrutuário implica necessariamente alguma substituição, no gozo da coisa que é dada a outrem em troca de determinada contrapartida, como no caso de constituição sobre ela de uma locação. No poder de disposição, usufrutuário tem poderes de disposição do seu direito. O primeiro poder reconduz-se ao trespasse do seu direito, artigo 1444 n° 1 do C.C. O usufrutuário pode assim proceder a alienação do seu direito a outrem, seja a título oneroso ou gratuito. O usufrutuário tem ainda a possibilidade de onerar o seu direito artigo 1444º n° 1 C.C, por exemplo, através da constituição sobre ele de direitos reais de gozo menores, como o uso e habitação ou as servidões prediais, artigo1460º n° 1. C.C. Todos esses encargos do próprio usufruto, extinguindo-se em resultado da sua extinção. 5.1Limites aos direitos do usufruto (Regime Geral) Vimos antes que o legislador atribui uma grande latitude ao conteúdo do direito de usufruto, regulamentando-o apenas subjectivamente e deixando nas mãos dos contraentes a composição do conteúdo do título. Porem, isso não significa que os exercícios das faculdades que estão reconhecidas ao usufrutuário não estejam sujeitos a certos limites. Esses limites decorrem do preceito legal que fixa o âmbito das faculdades que integram o conteúdo do direito. Em conformidade com o art. 1446 deve actuar como um bom pai de família e respeitar o direito Economico da coisa usufruída. A primeira limitação- entendida como cláusula geral: impõe ao usufrutuário a observação das regras próprias de um a pessoa de normal diligência, no uso, fruição e administração da coisa. Por outo lado, o respeito do destino económico da coisa refere-se tanto à sua aplicação corrente, de acordo com a sua própria natureza, como à que lhe vinha a ser dada antes pelo seu proprietário. Assim, não pode ser o usufrutuário de um automóvel de uso familiar, vir a usá-lo em provas de competição de automobilismo susceptíveis à partida de proporcionar um desgaste maior ao automóvel e até de pôr em risco a sua durabilidade. Com o mesmo espírito, não pode o usufrutuário de um pomar de laranjeiras, arrancar todas as árvores de fruto e plantar no terreno um eucaliptal. O próprio legislador fixa a aplicação destas regras. Assim, sem prejuízo de o usufrutuário ter a faculdade de fazer na coisa usufruída benfeitorias úteis e voluptua rias, a lei impõe-lhe os limites decorrentes da manutenção da forma e da substância da coisa, assim como os limites da preservação do seu destino económico, limites que cobrem na perfeição os exemplos antes expostos, como estipula o nº 1 do art.º. 1450º. 5.2.Limites aos direitos do usufrutuário (Regime Especial) Além destes limites gerais, existem limites especiais, decorrente da particularidade da natureza das coisas sobre as quais incidem os respectivos usufrutos. Por economia de tempo vamos referir aquelas que consideram mais importantes, a saber: a) as coisas consumíveis; b) as coisas deterioráveis; c) as árvores; d) as minas; e) as pedreiras e f) as universalidades de animais. Vejamos pois por essa ordem as especialidades dos regimes relativos a cada uma dessas coisas. A) Coisas consumíveis: o usufruto de coisas consumíveis está regulado no art. 1451. O regime aí disposto releva as características das coisas consumíveis cuja natureza conforme estipula o art.º. 208º C.C, importa pelo seu uso a sua destruição ou alienação, o que coloca claramente em causa o respectivo. O regime disposto no art.º. 1451º estipula que a propriedade de coisas consumíveis dadas em usufruto não se transfere para o usufrutuário, sem que isso o prive das faculdades de uso e fruição inerente ao aproveitamento da sua utilidade económica. Decorre daqui o risco da perda fortuita da coisa usufruída e passe a ficar a cargo do proprietário de raiz e não do usufrutuário. Outra particularidade do regime especial resulta do facto de que a obrigação de restituir a coisa usufruída não pode ser cumprida em espécie, relativamente as coisas efectivamente usadas ou alienadas pelo usufrutuário. B) Coisas deterioráveis: o usufruto de coisas deterioráveis está regulado no art. 1552º. O regime consagrado salienta sobretudo a limitação do uso diligente e segundo o seu fim económico. Bem se compreende a essência deste regime especial, uma vez que é da natureza dessas coisas perderem progressivamente qualidades pelo seu uso, ainda que esse uso se reconheça ser um uso diligente e adequado ao fim, ou ainda, pelo simples decurso do tempo. O usufrutuário só fica dispensado de restituir a coisa deteriorável usufruída, se provar ter ele perdido todo seu valor em `` uso legitimo´´ (nº 2 do art.º. 1452). Havendo deterioração resultante da culpa do usufrutuário ou de uso impróprio, o usufrutuário responde pelas inerentes deteriorações (nº1 do art.º. 1452º). C) As árvores e arbustos: esses estão regulados no art.º 1453º C.C. As diversas particularidades constantes desse regime decorrem da sua inerente utilidade económica e igualmente das circunstâncias susceptíveis de interferir com seu período de vida. Tendo em conta o seu período de vida, a lei faz uma importante distinção, consoante o perecimento das árvores e arbustos seja natural ou seja acidental. No caso de perecimento de árvores e arbustos ser natural, o usufrutuário pode aproveitar-se das árvores e arbustos que forem frutíferas, o usufrutuário é obrigado a plantar tantos pés quantos os que pereceram naturalmente, ou substituir essa cultura por outra igualmente útil para o proprietário se for impossível, ou prejudicial a renovação de plantas do mesmo género (nº 2 do art.º. 1453º). No segundo caso, isto é, no caso das árvores e arbustos perecerem acidentalmente, as árvores ou arbustos pertencerem ao proprietário (nº1 do art..º. 1453º) Ao usufrutuário é apenas lícito aplicar essas árvores ou arbustos nas reparações a seu cargo, ou exigir do proprietário a sua restituição e desocupação do terreno respectivamente (nº2 do art.º. 1544º). D) As minas: Os limites especiais relativos ao usufruto sobre minas estão regulados no art. 1457º. A limitação que aqui está em causa é a que decorre da preservação da substância da coisa pelo usufrutuário. E) As pedreiras: o regime do usufruto que recai sobre as pedreiras está consagrado no art. 1458º. À semelhança do que ocorre com as minas, o regime do usufruto das pedreiras pretende salvaguardar a substância da coisa usufruída. A primeira referencia nesse sentido é a de que o usufrutuário do respectivo solo ter a faculdade de prosseguir com a exploração das já existentes, mas não poder abrir pedreiras novas, a menos que o proprietário consinta nisso. F) As universalidades de animais: A concluir o estudo dos limites especiais do usufruto cumpre referir o regime das universalidades de animais. O regime consagrado nos artigos 1462º, 206º e 212º C.C. As características das coisas e quanto à noção de frutos dessas universalidades estabelece que salvaguarda da substância das coisas faz-se pelo decurso à fungibilidade dos elementos das universalidades. Neste contexto, e segundo o espírito do nº3 do art. 212º, até onde a substituição dos animais em fala se puder dar à custa das crias da universalidade, essa mesma substituição deve ser imposta ao usufrutuário. É com este mesmo espírito que se compreende que o legislador,de forma coerente tenha reproduzido esse mesmo regime no nº 1 e nº 2 do art. 1462º. 5.3. Obrigações do Usufrutuário ( ARTº 1468 C.C) O usufruto tem determinadas obrigações que se integram no seu direito real, tendo consequentemente natureza propter rem[footnoteRef:1]. De acordo com o artigo 1468º do C.C, as obrigações do usufrutuário reconduzem-se as seguintes: [1: O termo ´´ propter rem´´ significa, obrigações oriundas do exercício de um direito real sobre uma coisa] a) Antes de tomar conta dos bens, relaciona-los com citação ou assistência do proprietário, declarando o estado deles, bem como o valor dos móveis se houver. Obrigação de inventariar os bens objecto de usufruto, enumerar e escrever as coisas móveis e imóveis objecto de usufruto, sendo instrumental em relação a definição do âmbito do seu direito de usufruto, bem como do objecto a restituição após a sua extinção. Deve ser assistido pelo proprietário de raiz ou com cotação deste para evitar divergências entre os dois, a lei não refere quais as consequências da omissão deste dever por parte do usufrutuário. O usufrutuário não pode legalmente tomar conta dos bens, ou seja, exercer as faculdades correspondentes ao usufruto e se o fizer, responde perante o proprietário de raiz; b) Na mesma altura, prestar caução, se está lhe for exigida (, art.º. 1468º al. b), salvo se dela estiver dispensado ( artº.1469º), a não prestação de caução tem as consequências previstas no artigo 1470º n°1, as quais parecem executar as consequências gerais de não prestação de caução do artigo 625º. Assim, incluindo o usufruto sobre bens imóveis, o proprietário pode exigir que os mesmos sejam arrendados ou postos em administração, ficando o usufrutuário sem a faculdade de os usar, e limitando-se a sua fruição a receber as rendas ou quantias pagas pela administração. Tratando-se de bens móveis, o proprietário pode exigir que os mesmos lhe sejam entregues ou vendidos, o que tem como consequência não se permitir ao usufrutuário o uso da coisa, seja ela ou não deteriorável (artº. 1452º), é muito menos o seu consumo, caso se trate de coisa consumível (artº. 1451º), o proprietário deve, no entanto, entregar ao usufrutuário o valor da fruição da coisa ou rendimentos do produto da venda; c) Tolerar as obras e melhoramentos que o proprietário queira realizar na coisa, artigo 1471º do C.C. d) Suportar as reparações ordinárias indispensáveis para a conservação da coisa, bem como as despesas de administração, artigo 1472º do C.C. e) Avisar ao proprietário da necessidade de realizar reparações extraordinárias, salvo se essa necessidade resultar de má administração do usufrutuário, a qual seria o mesmo a suportar tal encargo, artigo 1473º do C.C f) Pagar os impostos e outros encargos anuais que incidam sobre o rendimento dos bens usufruídos, artigo 1474º do C.C, dado que é o usufrutuário que aufere, durante o período de duração do usufruto, os rendimentos daquele bem; g) Avisar o proprietário de qualquer facto terceiro de que tenha notícia, sempre que ele possa lesar os direitos do proprietário, artigo 1475º do C.C dever específico de custódia da propriedade de raiz em relação ao usufrutuário. 6.PROCESSO EVOLUTIVO DO USUFRUTO Nessa secção vamos proceder ao estudo dos aspectos específicos do direito do usufruto e que que mostram desvios relevantes relativamente ao regime geral das vicissitudes dos direitos reais. Iremos a esse propósito estudar o regime de aquisição, transmissão e de certas particularidades do regime de extinção. Aquisição O art.º. 1440º fixa quais os diversos factos aquisitivos do usufruto. Entre os factos enumerados, assume particular relevância pela sua raridade, a disposição da lei. Esta forma de aquisição de usufruto no direito comparado, fazendo alusão ao direito português que está na origem do actual C.C angolano, perdeu grande parte da sua relevância com reforma introduzida pelo código civil de 1977. Entre nós, mantendo-se em vigor o código civil de 1966, continuam a contar-se dois casos importantes do usufruto legal, a saber; o dos pais, relativamente aos bens dos filhos menores, no exercício do poder paternal (art.º. 1893º C.C); e o do cônjuge sobrevivo, quando concorra à sucessão do seu cônjuge conjuntamente com irmãos (ou seus descendentes) do falecido (art.º. 2146 C.C) As outras formas de aquisição enunciadas no art.1440º são comuns aos demais direitos reais: o contrato, testamento, ou usucapião. Transmissão A transmissão do usufruto está regulada no art. 1444º C.C regime aí consagrado constitui uma das excepções ao principio da transmissibilidade dos direitos reais como já antes tivemos oportunidade de estudar. A transmissão do usufruto por acto entre vivo está expressamente prevista nesse preceito legal. Contudo, o carácter pessoal do instituto justifica que essa forma de transmissão seja restringida pelo título constitutivo, conforme estipula o nº 1 do art.1444º, valendo o mesmo para a sua oneração. A transmissão pode ser feita a título temporário ou definitivo, como dispõe nº 1do art. 1444º. O carácter pessoal do direito de usufruto está igualmente reflectido noutra particularidade do seu regime de transmissão. Deste modo, nos termos do nº2 do art. 1444º o usufrutuário transmitente responde pelos danos que a coisa sofrer por culpa do adquirente que o substituir. Concedendo o código a admissibilidade da transmissão do usufruto, bem se compreende que na mesma linha do legislador tenha igualmente reconhecido ao usufrutuário o direito de onerar o seu direito, nos exactos e precisos limites mesmos, como obviamente não poderia deixar de ser. O código atribui ao usufrutuário, para além desses direitos, todos eles devidamente consagrados como já vimos, poderes correspondentes aos do proprietário na constituição de servidões; de salvaguardando o importante aspecto de lhe permitir, no entanto, criar encargos sobre a coisa que excedam a duração do usufruto, como estipula o nº1 do artº. 1460 C.C. Extinção O artigo 1476º. Estipula as causas de extinção do usufruto. Para além dos casos de não uso e de perda total da coisa usufruída, o usufruto extingue-se ainda por caducidade, por confusão, al. a) e b) do nº1 do artº. 1476º. E por renúncia do usufrutuário, al. e) do nº1 do artº. 1476º. e nº2 modalidades semelhantes às que regem o regime de extinção dos direitos em geral e por isso já antes devidamente estudadas, pelo que par lá se remete o seu estudo. a) Não uso : o não uso ocorre quando o usufrutuário deixa de exercer o seu direito por um certo período de tempo, que a lei expressamente fixa em 20 anos, nos termos da al. c) do nº. 1 do referido art. 1476º. Nesta conformidade resulta deste regime que a situação de não uso atribuída pelo legislador deve ser entendida no sentido objectivo, não se atendendo a qualquer intenção do usufrutuário, contrariamente ao que sucede na renuncia, que implica a intenção de o titular se dirimir do direito. Importa a este propósito fazer uma importante distinção entre não uso e mau uso da coisa usufruída por parte do usufrutuário. O mau uso, ao contrário do que sucede com o não uso, só por si, não determina a extinção do usufruto como prevê a primeira parte do artigo 1482º., sem prejuízo, obviamente, do direito de indemnização que compreensivelmente possa assistir ao proprietário para se ressarcir dos prejuízos sofridos. Porem, quando o mau uso se torna reiterado, de tal ordem que afecta consideravelmente os interesses do proprietário, este passa a dispor de duas opções alternativas para pôr termo ao abuso do usufrutuário, conforme consagra a segunda parte do artº. 1482º. Uma opção consiste em exigir da entrega da coisa usufruída. Nesse caso, o proprietário passa a deter a administração da coisa, cabendo-lhe pagar ao usufrutuário o produto liquido apurado. A outra opção, traduz-se em o proprietário puder requerer a adopção das providências que estão previstas para o caso de, na constituição do usufruto, não ser prestada a caução devida, conforme estipulao artº. 1470º. E que varia em função da natureza dos bens que constitui o objecto do usufruto. Perda total do bem usufruída: A perda da coisa assume particularidade especificas no usufruto que justifica uma referencia particular a esta causa de extinção que é comum à generalidades dos direitos reais. Vejamos quais essas particularidades. A primeira está regulada no nº1 e nº2 do artigo 1478ºC.C.[footnoteRef:2] A morte do usufrutuário ou o decurso de tempo ( art..º. 1476 nº1 al. a). A morte é uma verdadeira causa natural de extinção que constitui uma manifestação do carácter pessoal do usufruto constituído é absolutamente lógico que uma vez falecido o usufrutuário, se extinga esse seu direito. [2: O regime aí consagrado determina que a perda parcial da coisa não prejudica a manutenção do usufruto, o qual subsiste sobre a parte restante, como prevê o nº1 do referido preceito.] Por outro lado, no que diz respeito à causa decurso de tempo, tratando-se de um usufruto constituído por tempo determinado, por exemplo, 20 anos, o decurso desse prazo, ou seja, 20 anos, acarreta necessariamente o termo do usufruto. A morte do usufrutuário é sem qualquer duvida a causa natural de extinção 7. CONCLUSÃO Em gesto de conclusão, o direito de usufruto enquadra-se no âmbito dos direitos reais menor, pelo facto de que esses não abrangem o pleno gozo dos poderes atribuídos ao proprietário, nos termos do artigo 1305º C.C concedendo ao titular do mesmo, apenas o ius utendi e o ius fruendi. [footnoteRef:3]Porém, o usufrutuário pode dispor do seu direito, nos termos do art.1444º n° 1 e 1460º n°1 respectivamente do C.C. A lei, nos termos do artigo 1446º do C.C, trata do conteúdo do usufruto. O usufruto, diferente de muitos dos direito reais, incidem não só às coisas mas também aos Direitos. O usufruto pode ser vitalício ou temporário. [3: Fraga, Carlos, Direitos Reais cit., pp.305] 8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS VIEIRA, José Alberto Coelho. Direitos Reais de Angola, 3ª Edição, 2019. LEITÃO, Luís Manuel Teles De Menezes. Direitos Reais, 2009. FRAGA, Carlos, Direitos Reais, Livraria Almedina, Coimbra, Março 1971 CÓDIGO CIVIL ANGOLANO, Luanda, 2009, 1ºedição . 9. AGRADECIMENTOS De maneira lacônica agradecemos a Deus o Pai-Todo-Poderoso, pela saúde com que me tem dado, no sentido de participar activamente neste processo de obtenção do conhecimento académico e não só, ao Digníssimo Docente pela oportunidade de realização de tal trabalho e também agradecemos a todos que têm ajudado indirecta ou directamente. Índice 1.INTRODUÇÃO: 1 1.1 Noção de usufruto 1 2. Características do Usufruto 2 3. Modalidades do Usufruto 3 4. Objecto do Usufruto 3 4.2.Objecto do usufruto enquanto direito 4 5. Poderes de Uso e Fruição e disposição da Coisa 5 5.1Limites aos direitos do usufruto (Regime Geral) 6 5.2.Limites aos direitos do usufrutuário (Regime Especial) 7 5.3. Obrigações do Usufrutuário ( ARTº 1468 C.C) 9 6.PROCESSO EVOLUTIVO DO USUFRUTO 10 7. CONCLUSÃO 13 8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS 14 9. AGRADECIMENTOS 15 16