Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Introdução à Criminologia e a 
Segurança Pública 
Criminologia: introdução 
A criminologia é o conjunto de conhecimentos a respeito do crime, da 
criminalidade e suas causas, da vítima, do controle social do ato criminoso, 
bem como da personalidade do criminoso e da maneira de ressocializá-lo. 
Etimologicamente o termo deriva do latim crimino ("crime") e 
do grego logos ("tratado" ou "estudo"), seria portanto o "estudo do crime". 
É uma ciência empírica, por basear-se na experiência da observação, nos fatos 
e na prática, mais do que em opiniões e argumentos, e também interdisciplinar, 
por ser formada pelo diálogo de uma série de ciências e disciplinas, tais como 
a biologia, a psicopatologia, a sociologia, política, a antropologia, o direito, 
a criminalística, a filosofia e outros. 
A palavra "Criminologia" foi empregada pela primeira vez por Paul Topinard em 
1883, e aplicada internacionalmente pelo italiano Raffaele Garofalo em 1885, 
em sua obra Criminologia. 
 
Escolas 
 
Quando surgiu, a criminologia tratava de explicar a origem da delinquência 
(crime), utilizando o método das ciências naturais, a etiologia, ou seja, buscava 
a causa do delito. Pensou-se que erradicando a causa se eliminaria o efeito, 
como se fosse suficiente fechar as maternidades para o controle de natalidade. 
A criminologia é dividida em escola clássica (Beccaria, século XVIII), escola 
positiva (Lombroso, século XIX) e escola sociológica (final do século XIX). 
Academicamente a Criminologia começa com a publicação da obra de Cesare 
Lombroso chamada L'Uomo Delinquente ("O Homem Delinquente", em 
tradução livre), em 1876. Sua tese principal era a do delinquente nato. Com 
isto, Lombroso pretendia identificar o criminoso por intermédio de sua 
aparência física (orelha, tamanho da cabeça, ossos, cor da pele, olhos) e 
inclusive, de procedência espacial (asiáticos, indígenas, etc.) o que se 
comprovou completamente equivocado. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Raffaele_Garofalo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cesare_Lombroso
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cesare_Lombroso
Porém, até os dias atuais o sistema penal vive o dilema de selecionar os 
suspeitos especialmente pelos seus estigmas. Em 2004, Carlos Roberto Bacila 
fez uma releitura histórica do crime, apresentando a tese dos estigmas como 
metarregras, na qual realizou um amplo estudo sobre os preconceitos de todas 
as naturezas (racial, mulher, pobreza, religião, física etc.) e as influências deles 
no sistema penal. 
Já existiram várias tendências causais na criminologia. Baseado em Rousseau, 
a criminologia deveria procurar a causa do delito na sociedade; baseado em 
Lombroso, para erradicar o delito deveríamos encontrar a eventual causa no 
próprio delinquente e não no meio. Enquanto um extremo que procura todas as 
causas de toda criminalidade na sociedade, o outro, organicista, investigava 
o arquétipo do criminoso nato (um delinquente com determinados 
traços morfológicos, influência do Darwinismo). (Veja Rousseau, Personalidade 
Criminosa) 
Isoladamente, tanto as tendências sociológicas, quanto as orgânicas 
fracassaram. Hoje em dia fala-se no elemento bio-psico-social. Volta a tomar 
força os estudos de endocrinologia, que associam a agressividade do 
delinquente à testosterona (hormônio masculino), os estudos de genética ao 
tentar identificar no genoma humano um possível conjunto de "genes da 
criminalidade" (fator biológico ou endógeno), e ainda há os que atribuem a 
criminalidade meramente ao ambiente (fator mesológico), como fruto de 
transtornos como a violência familiar, a falta de oportunidades, etc. 
Lombroso é considerado o marco da Escola Positivista, em termos filosóficos 
encontramos Augusto Comte. Esta escola italiana critica os da Escola Clássica, 
como Beccaria e Bentham, no que diz respeito à utilização de uma metodologia 
lógico-dedutiva, metafísica, onde não existia a observação empírica dos fatos. 
As características principais desta escola mostram-se em três pontos: 
Empirismo (cientificidade, observação e experimentação dos factos. Negação 
aos pensamentos dedutivos e abstractos); O Criminoso como objecto de 
estudo (importância do estudo do criminoso como autor do crime. A 
delinquência é vista como um mero sintoma dos instintos criminogéneos do 
sujeito. Deve-se procurar trabalhar com estes instintos por forma a evitar o 
crime); Determinismo. 
Ele aborda o delinquente através de um caráter plurifatorial, para ele o 
indivíduo é compelido a delinquir por causas externas, as quais não consegue 
controlar, assim, as penas teriam o objetivo de proteção da sociedade e de 
[reeducação] do delinquente. 
Como em outras ciências, também em criminologia se tem tentado eliminar o 
conceito de "causa", substituindo-o pela ideia de "fator". Isso implica o 
reconhecimento de não apenas uma causa mas, sobretudo, de fatores que 
possam desencadear o efeito criminoso (fatores biológicos, psíquicos, 
sociais...). Uma das funções principais da criminologia é estabelecer uma 
relação estreita entre três disciplinas consideradas fundamentais: a 
psicopatologia, o direito penal e a ciência político-criminal. 
Outra atribuição da criminologia é, por exemplo, elaborar uma série 
de teorias e hipóteses sobre as razões para o aumento de um 
determinado delito. Os criminólogos se encarregam de dar esse tipo de 
informação a quem elabora a política criminal, os quais, por sua vez, 
idealizarão soluções, proporão leis, etc. Esta última etapa se faz através do 
direito penal. Posteriormente, outra vez mais o criminólogo avaliará o impacto 
produzido por essa nova lei na criminalidade. 
Interessam ao criminólogo as causas e os motivos para o fato delituoso. 
Normalmente ele procura fazer um diagnóstico do crime e uma tipologia do 
criminoso, assim como uma classificação do delito cometido. Essas causas e 
motivos abrangem desde avaliação do entorno prévio ao crime, os 
antecedentes vivenciais e emocionais do delinquente, até a motivação que leva 
o agressor a praticar pragmática o crime. 
 
Cientificidade da criminologia 
 
A criminologia é ciência moderna, sendo um modo específico e qualificado de 
conhecimento e uma sistematização do saber de várias disciplinas. A partir da 
experimentação desse saber multidisciplinar surgem teorias (um corpo de 
conceitos sistematizados que permitem conhecer um dado domínio 
da realidade). 
Enquanto ciência, a criminologia possui objeto próprio e um 
rigor metodológico que inclui a necessidade de experimentação, a possibilidade 
de refutação de suas teorias e a consciência da transitoriedade de 
seus postulados. Ainda que interdisciplinar é também ciência autônoma, não se 
confundindo com nenhuma das áreas que contribuem para a sua formação e 
sem deixar considerar o jogo dialético da realidade social como um todo. 
Objeto da criminologia é o crime, o criminoso (que é o sujeito que se envolve 
numa situação criminógena de onde deriva o crime), os mecanismos de 
controle social (formais e informais) que atuam sobre o crime; e, a vítima (que 
às vezes pode ter inclusive certa culpa no evento). 
A relevância da criminologia reside no fato de que não existe sociedade sem 
crime. Ela contribui para o crescimento do conhecimento científico com uma 
abordagem adequada do fenômeno criminal. O fato de ser ciência não significa 
que ela esteja alheia a sua função na sociedade. Muito pelo contrário, ela filia-
se ao princípio de justiça social. 
Os estudos em criminologia têm como finalidade, entre outros aspectos, 
determinar a etiologia do crime, fazer uma análise da personalidade e conduta 
do criminoso para que se possa puni-lo de forma justa (que é uma 
preocupação da criminologia e não do Direito Penal), identificar as causas 
determinantes do fenômeno criminógeno, auxiliar na prevenção da 
criminalidade; e permitir a ressocialização do delinquente. 
Os estudos em criminologia se dividem em dois ramos que nãosão 
independentes, mas sim interdependentes. Temos de um lado a Criminologia 
Clínica (bioantropológica) - esta utiliza-se do método individual, (particular, 
análise de casos, biológico, experimental), que envolve a indução. De outro 
lado vemos a Criminologia Geral (sociológica), esta utiliza-se do método 
estatístico (de grupo, estatístico, sociológico, histórico) que enfatiza o 
procedimento de dedução. 
 
Criminologia e ciências afins 
 
A interdisciplinaridade é uma perspectiva de abordagem científica envolvendo 
diversos continentes do saber. Ela é uma visão importante para qualquer 
ciência social. Em seus estudos, a criminologia se engaja em diálogo tanto com 
disciplinas das Ciências Sociais ou humanas quanto das Ciências Físicas ou 
naturais. 
Entre as áreas de estudo mais próximas da Criminologia temos: 
 Direito penal: o principal ponto de contato da criminologia com o Direito 
Penal está no fato de que este delimita o campo de estudo da criminologia, 
na medida em que tipifica(define juridicamente) a conduta delituosa; O 
direito penal é sancional por excelência; Ele caracteriza os delitos e, 
através de normas rígidas, prescreve penas que objetivam levar os 
indivíduos a evitar essas condutas. 
 Direito Processual Penal: a Criminologia fornece os elementos 
necessários para que se estipule o adequado tratamento do réu no âmbito 
jurisdicional. Também indica qual a personalidade e o contexto social do 
acusado e do crime, auxiliando os juristas para que a sentença seja mais 
justa. A criminologia oferece os critérios valorativos da conduta criminosa. 
Ela pesquisa a eficácia das normas do Direito Penal, bem como estuda e 
desenvolve métodos de prevenção e ressocialização do criminoso. 
 Direito Penitenciário: os dados criminológicos são importantes no Direito 
Penitenciário para permitir o correto e eficaz tratamento e ressocialização 
do apenado. A criminologia ajuda a tornar a pena mais humana, buscando 
o objetivo de punir sem castigar. 
 Psicologia Criminal: é ciência que demonstra a dimensão individual do ato 
criminoso; estuda a personalidade do criminoso, orientando a Criminologia. 
 Psiquiatria Criminal: é ramo do saber que identifica as diversas patologias 
que afetam o criminoso e envolve o estudo da sanidade mental. 
 Antropologia criminal: abrange o fenômeno criminológico em sua 
dimensão holística, ou seja, biopsicosocial. É o Estudo do homem na sua 
história, em sua totalidade (homem como fator presente no todo); 
 Sociologia Criminal: demonstra que a personalidade criminosa é 
resultante de influências psicológicas e do meio social; 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia_criminal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hol%C3%ADstica
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Biopsicosocial&action=edit&redlink=1
 Ciências Biológicas: fornecem os elementos naturais e orgânicos que 
influenciam ou determinam a conduta do criminoso; 
 Vitimologia: estuda a vítima e sua relação com o crime e o criminoso 
(estuda a proteção e tratamento da vítima, bem como sua possível 
influência para a ocorrência do crime); 
 Criminalística: é o ramo do conhecimento que cuida da dinâmica de um 
crime. Estuda os fatores técnicos de como o crime aconteceu. Há um setor 
especializado da polícia destinado a essa área. 
 Ciências Econômicas: estuda o crime a partir do instrumental 
analítico racionalista. O crime é visto como um mercado e sua oferta é 
determinada por fatores como o ganho esperado da atividade criminosa, 
probabilidade de sucesso e intensidade da punição em caso de falha. 
 
Criminologia. 
Um breve histórico das escolas: clássica, positiva, crítica, moderna alemã 
e a influência da escola positiva na formação do Código Penal de 1940 
INTRODUÇÃO 
O professor Nestor Sampaio explica que não existe uniformidade na doutrina 
quanto ao surgimento da criminologia segundo padrões científicos, porque há 
diversos critérios e informes diferentes que procuram situá-la no tempo e no 
espaço. No plano contemporâneo, a criminologia decorreu de longa evolução, 
marcada, muitas vezes, por atritos teóricos irreconciliáveis, conhecidos por 
“disputas de escolas”. O próprio Cesare Lombroso não se dizia criminólogo e 
sustentava ser adepto da escola antropológica italiana. É bem verdade que a 
criminologia como ciência autônoma existe há pouco tempo, mas também é 
indiscutível que ela ostenta um grande passado, uma enorme fase pré-
científica. 
Para que se possa delimitar esse período pré-científico, é importante definir o 
momento em que a criminologia alcançou status de ciência autônoma. Muitos 
doutrinadores afirmam que o fundador da criminologia moderna foi Cesare 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitimologia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Criminal%C3%ADstica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncias_Econ%C3%B4micas
Lombroso , com a publicação, em 1876, de seu livro "O homem delinquente". 
Para outros, foi o antropólogo francês Paul Topinard quem, em 1879, teria 
empregado pela primeira vez a palavra “criminologia”, e há os que defendem a 
tese de que foi Rafael Garófalo quem, em 1885, usou o termo como nome de 
um livro científico. 
Ainda existem importantes opiniões segundo as quais a Escola Clássica, com 
Francesco Carrara (Programa de direito criminal, 1859), traçou os primeiros 
aspectos do pensamento criminológico. Não se pode perder de vista, no 
entanto, que o pensamento da Escola Clássica somente despontou na 
segunda metade do século XIX e que sofreu uma forte influência das ideias 
liberais e humanistas de Cesare Bonesana , o Marquês de Beccaria, com a 
edição de sua obra genial, intitulada Dos delitos e das penas, em 1764. Por 
derradeiro, releva frisar que, numa perspectiva não biológica, o belga Adolphe 
Quetelet9 , integrante da Escola Cartográfica, ao publicar seu Ensaio de Física 
Social (1835), seria um expoente da criminologia inicial, projetando análises 
estatísticas relevantes sobre criminalidade, incluindo os primeiros estudos 
sobre “cifras negras de criminalidade” (percentual de delitos não comunicados 
formalmente à Polícia e que não integram dados estatísticos oficiais). Nessa 
discussão quase estéril acerca de quem é o criador da moderna criminologia, 
uma coisa é imperiosa: houve forte influência do Iluminismo, tanto nos 
clássicos quanto nos positivistas, conforme veremos. 
ESCOLA CLASSICA VERSUS ESCOLA POSITIVA 
A partir do século XIX, o conceito de crime e os fatores que desencadeiam uma 
conduta criminosa foram sendo estudados com mais ênfase, tanto pela ciência 
médica, assim como pelos filósofos e juristas da época. Diante disso, partindo 
dessa interação, surge a Criminologia, que nesse momento se ocupou de 
estudar as causas do crime, e o deliquente. Conforme leciona o professor 
Nestor Sampaio , a etapa pré-científica da criminologia ganha destaque com os 
postulados da Escola Clássica, muito embora antes dela já houvesse estudos 
acerca da criminalidade. Nessa etapa pré-científica havia dois enfoques muito 
nítidos: de um lado, os clássicos, influenciados pelo Iluminismo, com seus 
métodos dedutivos e de lógica formal, e, de outro lado, os empíricos, que 
investigavam a gênese delitiva por meio de técnicas fracionadas, tais como as 
empregadas pelos fisionomistas, antropólogos, biólogos etc., os quais 
substituíram a lógica formal e a dedução pelo método indutivo experimental 
(empirismo). Essa divisão existente entre o que se convencionou chamar de 
clássicos e positivistas, quer com o caráter pré-científico, quer com o apoio da 
cientificidade, ensejou aquilo que se entendeu por “luta de escolas”. 
No século XIX surgiram inúmeras correntes de pensamento estruturadas de 
forma sistemática, segundo determinados princípios fundamentais. Essas 
correntes, que se convencionou chamar de Escolas Penais, foram definidas 
como o corpo orgânico de concepções contrapostas sobre a legitimidade do 
direito de punir, sobre a natureza dodelito e sobre o fim das sanções. 
ESCOLA CLÁSSICA 
Segundo o professor Cezar Roberto Bitencourt, não houve uma Escola 
Clássica propriamente, entendida como um corpo de doutrina comum, 
relativamente ao direito de punir e aos problemas fundamentais apresentados 
pelo crime e pela sanção penal. Com efeito, é praticamente impossível reunir 
os diversos juristas, representantes dessa corrente, que pudessem apresentar 
um conteúdo homogêneo. Na verdade, a denominação Escola Clássica não 
surgiu, como era de esperar, da identificação de uma linha de pensamento 
comum entre os adeptos do positivismo jurídico, mas foi dada, com conotação 
pejorativa, por aqueles positivistas que negaram o caráter científico das 
valorações jurídicas do delito. Os postulados consagrados pelo Iluminismo, 
que, de certa forma, foram sintetizados na célebre obra de Cesare de Beccaria, 
Dos Delitos e das Penas (1764), serviram de fundamento básico para a nova 
doutrina, que representou um grande avanço na humanização das Ciências 
Penais. A crueldade que comandava as sanções criminais em meados do 
século XVIII exigia uma verdadeira revolução no sistema punitivo então 
reinante. A partir da segunda metade desse século, os filósofos, moralistas e 
juristas, dedicam suas obras a censurar abertamente a legislação penal 
vigente, defendendo as liberdades do indivíduo e enaltecendo os princípios da 
dignidade do homem. 
Os clássicos partiram de duas teorias distintas, como ensina o professor Nestor 
Sampaio Penteado Filho, in verbis: 
Os Clássicos partiram de duas teorias distintas: o jusnaturalismo (direito natural, de Grócio), 
que decorria da natureza eterna e imutável do ser humano, e o contratualismo (contrato social 
ou utilitarismo, de Rousseau), em que o Estado surge a partir de um grande pacto entre os 
homens, no qual estes cedem parcela de sua liberdade e direitos em prol da segurança 
coletiva. 
Diante das teorias supracitadas, a vida em sociedade, tanto de forma natural 
ou convencionada, só é possível após se criar um rol de regramentos, ou 
melhor dizendo, normas sociais, das quais a inobservância resultara em uma 
reprimenda por parte do Estado. Diante da existência da norma, que de 
maneira expressa (tipo penal) tipifica as condutas antijurídicas, cabe ao 
individuo participante da sociedade a observância ou não da lei, como 
preleciona Alfonso Serrano Maíllo, senão vejamos: 
Quando alguém encara a possibilidade de cometer um delito, efetua um cálculo racional dos 
benefícios esperados (prazer) e os confronta com os prejuízos (dor) que acredita vão derivar 
da prática do delito; se os benefícios são superiores aos prejuízos, tenderá a cometer a 
conduta delitiva. 
Por fim, Serrano defende a ideia de que as ações humanas devem ser julgadas 
conforme tragam mais ou menos prazer ao indivíduo e contribuam ou não para 
maior satisfação do grupo social. 
ESCOLA POSITIVA 
Segundo Bitencourt, “Durante o predomínio do pensamento positivista no 
campo da filosofia, no fim do século XIX, surge a Escola Positiva, coincidindo 
com o nascimento dos estudos biológicos e sociológicos”. Sampaio explica que 
a chamada Escola Positiva tem sua origem no século XIX na Europa, 
influenciada no campo das ideias pelos princípios desenvolvidos pelos 
fisiocratas e iluministas no século anterior. No entanto, é importante lembrar 
que, antes da expressão “italiana” do positivismo - Lombroso, Ferri e Garófalo -
, já se delineava um cunho científico aos estudos criminológicos, com a 
publicação, em 1827, na França, dos primeiros dados estatísticos sobre a 
criminalidade. Tal publicação chamou a atenção de um importante 
pesquisador, o belga Adolphe Quetelet – já mencionado na introdução deste 
artigo, que ficou fascinado com a sistematização de dados sobre delitos e 
delinquentes, justamente em função disso, em 1835, Quetelet publicou a obra 
Física Social. 
A corrente positivista pretendeu aplicar ao Direito os mesmos métodos de 
observação e investigação que se utilizavam em outras disciplinas (Biologia, 
Antropologia, etc.). No entanto, logo se constatou que essa metodologia era 
inaplicável em algo tão circunstancial como a norma jurídica. Essa constatação 
levou os positivistas a concluírem que a atividade jurídica não era científica e, 
em consequência, proporem que a consideração jurídica do delito fosse 
substituída por uma sociologia ou antropologia do delinquente, chegando, 
assim, ao verdadeiro nascimento da Criminologia, independente da dogmática 
jurídica. 
Ademais, os principais fatores que explicam o surgimento da Escola Positiva 
são os seguintes: a ineficácia das concepções clássicas relativamente à 
diminuição da criminalidade; o descrédito das doutrinas espiritualistas e 
metafísicas e a difusão da filosofia positivista; a aplicação dos métodos de 
observação ao estudo do homem, especialmente em relação ao aspecto 
psíquico; os novos estudos estatísticos realizados pelas ciências sociais 
(Quetelet) permitiram a comprovação de certa regularidade e uniformidade nos 
fenômenos sociais, incluída a criminalidade. Por fim, as novas ideologias 
políticas que pretendiam que o Estado assumisse uma função positiva na 
realização dos fins sociais, mas, ao mesmo tempo, entendiam que o Estado 
tinha ido longe demais na proteção dos direitos individuais, sacrificando os 
direitos coletivos. 
Desse modo, pode-se afirmar que a Escola Positiva teve três fases: 
antropológica (Lombroso), sociológica (Ferri) e jurídica (Garófalo), das quais 
iremos discorrer mais adiante. 
CESAR LOMBROSO (1835-1909) 
Segundo Bintecourt: “Lombroso — com inegável influência de Comte25 e 
Darwin26 — foi o fundador da Escola Positivista Biológica, destacando-se, 
sobretudo, seu conceito sobre o criminoso atávico”. 
Cesar Lombroso publicou em 1876 o livro “o homem delinquente”, que deu 
início a um período científico de estudos criminológicos. Na verdade Lombroso 
não criou uma teoria moderna, mas sistematizou uma série de conhecimentos 
esparsos e os reuniu de forma articulada e inteligível. Considerado o pai da 
“Antropologia Criminal”, Lombroso retirou algumas ideias dos fisionomistas 
para traçar um perfil dos criminosos. 
Lombroso examinava com intensa profundidade as características fisionômicas 
e as comparou com os dados estatísticos de criminalidade. Nesse sentido, 
dados como estrutura torácica, estatura, peso, tipo de cabelo, comprimento de 
mãos e pernas foram analisados com detalhes. Lombroso também buscou 
informes em dezenas de parâmetros frenológicos , decorrentes de exames de 
crânios, traçando um viés científico para a teoria do criminoso nato. 
Em seus últimos estudos, Lombroso reconhecia que o crime pode ser 
consequência de vários fatores, que podem ser convergentes ou 
independentes. Todos esses fatores, como ocorre com qualquer fenômeno 
humano, devem ser considerados, não atribuindo à conduta criminosa uma 
única causa. Essa evolução no seu pensamento permitiu-lhe ampliar sua 
tipologia de delinquentes: a) nato; b) por paixão; c) louco; d) de ocasião; e) 
epilético. 
Muitas foram as críticas feitas a Lombroso, justamente pelo fato de que 
milhares de pessoas sofriam de epilepsia e jamais praticaram qualquer crime. 
Os fenótipos descritos por Lombroso em seus experimentos estavam 
relacionados diretamente com a população que vivia à margem da sociedade 
na época, porquanto, os experimentos e pesquisas realizados em sua maioria 
em manicômios e prisões, vejam o que diz o professor Nestor Sampaio: 
Registre-se, por oportuno, que suas pesquisas foram feitas na maioria em 
manicômios e prisões, concluindo que o criminoso é um ser atávico, um ser 
que regride ao primitivismo, um verdadeiro selvagem (ser bestial), que nasce 
criminoso, cuja degeneração é causada pela epilepsia, que ataca seus centros 
nervosos. Estavam fixadas as premissas básicas de sua teoria: atavismo, 
degeneração epilética e delinquente nato, cujascaracterísticas seriam: fronte 
fugidia, crânio assimétrico, cara larga e chata, grandes maçãs no rosto, lábios 
finos, canhotismo (na maioria dos casos), barba rala, olhar errante ou duro 
etc.32 
Como já tido anteriormente, inúmeras foram as criticas à teoria do “criminoso 
nato” de Lombroso. Então, em socorro do mestre, surgiu o pensamento 
sociológico de Ferri. 
RAFAEL GAROFALO (1851-1934) 
Segundo Heleno Fragoso “Garofalo foi o jurista da primeira fase da Escola 
Positiva, cuja obra fundamental foi sua Criminologia, publicada em 1885”. 33 
Como ocorre com todos os demais autores positivistas, Garofalo deixa 
transparecer em sua obra a influência do darwinismo e das ideias de Herbert 
Spencer34. Conseguiu, na verdade, dar uma sistematização jurídica à Escola 
Positiva, estabelecendo, basicamente, os seguintes princípios: a) a 
periculosidade como fundamento da responsabilidade do delinquente; b) a 
prevenção especial como fim da pena, que, aliás, é uma característica comum 
da corrente positivista; c) fundamentou o direito de punir sobre a teoria da 
Defesa Social, deixando, por isso, em segundo plano os objetivos 
reabilitadores; d) formulou uma definição sociológica do crime natural, uma vez 
que pretendia superar a noção jurídica. 35 
Ressalta Sampaio que o jurista Rafael Garofalo, teorizou que o crime estava no 
homem e que se revelava como degeneração deste; criou o conceito de 
temibilidade ou periculosidade, que seria o propulsor do delinquente e a porção 
de maldade que deve se temer em face deste; fixou, por derradeiro, a 
necessidade de conceber outra forma de intervenção penal – a medida de 
segurança. Seu grande trabalho foi conceber a noção de delito natural 
(violação dos sentimentos altruísticos de piedade e probidade). Classificou os 
criminosos em natos (instintivos), fortuitos (de ocasião) ou pelo defeito moral 
especial (assassinos, violentos, ímprobos e cínicos), propugnando pela pena 
de morte aos primeiros. 36 
Bitencourt explica que a posição de Garofalo era a da defesa social como 
principal justificativa para a pena de morte para os criminosos natos, já que 
estes não se adequariam de nenhuma forma às normas que regulam a vida em 
sociedade, vejamos: 
As contribuições de Garofalo, na verdade, não foram tão expressivas como as 
de Lombroso e Ferri e refletiam um certo ceticismo quanto à readaptação do 
homem criminoso. Esse ceticismo de Garofalo justificava suas posições 
radicais em favor da pena de morte. Partindo das ideias de Darwin, aplicando a 
seleção natural ao processo social (darwinismo social), sugere a necessidade 
de aplicação da pena de morte aos delinquentes que não tivessem absoluta 
capacidade de adaptação, que seria o caso dos “criminosos natos”. Sua 
preocupação fundamental não era a correção (recuperação), mas a 
incapacitação do delinquente (prevenção especial, sem objetivo 
ressocializador), pois sempre enfatizou a necessidade de eliminação do 
criminoso. Enfim, insistiu na necessidade de individualizar o castigo, fato que 
permitiu aproximar-se das ideias correcionalistas. A ênfase que dava à defesa 
social talvez justifique seu desinteresse pela ressocialização do delinquente. 
ENRICO FERRI (1856-1929) 
Ferri consolidou o nascimento definitivo da Sociologia Criminal. Na 
investigação que apresentou na Universidade de Bolonha (1877) — seu 
primeiro trabalho importante — sustentou a teoria sobre a inexistência do livre-
arbítrio, considerando que a pena não se impunha pela capacidade de 
autodeterminação da pessoa, mas pelo fato de ser um membro da sociedade. 
De certa forma, Ferri adota, como Lombroso, a concepção de Romagnosi 
sobre a Defesa Social, através da intimidação geral. Por essa tese de Ferri, 
passava-se da responsabilidade moral para a responsabilidade social. Mais 
adiante, quando publica a terceira edição de sua Sociologia Criminal, adere às 
ideias de Garofalo sobre prevenção especial e à contribuição de Lombroso ao 
estudo antropológico, criando o conteúdo da doutrina que se consubstanciou 
nos princípios fundamentais da Escola Positiva. 
O sociólogo criminalista Enrico Ferri adotou a concepção da defesa social do 
grande mestre Romagnosi39, assim como os demais precursores da escola 
positivista italiana, no entanto, divergia de Lombroso, no que diz respeito à 
impossibilidade de ressocialização de um “criminoso nato”, afirmando que só 
poderiam ser considerados incorrigíveis apenas os criminosos habituais, 
admitindo que até mesmo entre estes, seria possível a eventual correção de 
uma minoria. Vejamos o que diz Bintecourt: 
Apesar de seguir a orientação de Lombroso e Garofalo, deixando em segundo plano o objetivo 
ressocializador (correcionalistas), priorizando a Defesa Social, Ferri assumiu uma postura 
diferente em relação à recuperação do criminoso. Contrariando a doutrina de Lombroso e 
Garofalo, Ferri entendia que a maioria dos delinquentes era readaptável. Considerava 
incorrigíveis apenas os criminosos habituais, admitindo, assim mesmo, a eventual correção de 
uma pequena minoria dentro desse grupo.40 
Apesar do predomínio na Escola Positiva da ideia de Defesa Social, não deixou 
de marcar o início da preocupação com a ressocialização do criminoso. Para 
Ranieri a finalidade reeducativa da pena define-se claramente a partir da 
Escola Positiva.41 
Os principais aspectos da Escola Positiva são: a) o Direito Penal é um produto 
social, obra humana; b) a responsabilidade social deriva do determinismo (vida 
em sociedade); c) o delito é um fenômeno natural e social (fatores individuais, 
físicos e sociais); d) a pena é um meio de defesa social, com função 
preventiva; e) o método é o indutivo ou experimental; e f) os objetos de estudo 
do Direito Penal são o crime, o delinquente, a pena e o processo. 42 
Por fim, cabe ressaltar que, a Escola Positiva teve enorme repercussão, 
destacando-se como algumas de suas contribuições: a) a descoberta de novos 
fatos e a realização de experiências ampliaram o conteúdo do direito; b) o 
nascimento de uma nova ciência causal-explicativa: a criminologia; c) a 
preocupação com o delinquente e com a vítima; d) uma melhor individualização 
das penas (legal, judicial e executiva); e) o conceito de periculosidade; f) o 
desenvolvimento de institutos como a medida de segurança, a suspensão 
condicional da pena e o livramento condicional; e g) o tratamento tutelar ou 
assistencial do menor. 43 
TERZA SCUOLA ITALIANA 
O professor Bintecourt explica que a Escola Clássica e a Escola Positiva foram 
as duas únicas escolas que possuíam posições extremas e filosoficamente 
bem definidas. 
Posteriormente, surgiram outras correntes que procuravam uma conciliação 
dos postulados das duas predecessoras. Nessas novas escolas intermediárias 
reuniram-se alguns penalistas orientados por novas ideias, mas que evitavam 
romper completamente com as orientações das escolas anteriores, 
especialmente os primeiros ecléticos. Enfim, essas novas correntes 
representaram a evolução dos estudos das ciências penais, mas sempre com 
uma certa prudência, como recomenda a boa doutrina e o pioneirismo de 
novas ideias.44 
Nestor Sampaio na mesma linha de pensamento, explica em seu Manual de 
Criminologia: 
As Escolas Clássica e Positiva foram as únicas correntes do pensamento criminal que, em sua 
época, assumiram posições extremadas e bem diferentes filosoficamente. Depois delas 
apareceram outras correntes que procuraram conciliar seus preceitos. Dentre essas teorias 
ecléticas ou intermediárias, reuniram-se penalistas orientados por novas ideias, mas sem 
romper definitivamente com as orientações clássicas ou positivistas.45 
A primeira dessas correntes ecléticas surgiu com a Terza Scuola italiana, 
também conhecida como escola crítica, a partir do famoso artigo publicado por 
Manuel Carnevale, Una Terza Scuola di Diritto Penale in Italia, em 1891. 
Integrou também essa nova escola, que marcouo início do positivismo crítico, 
Bernardino Alimena (Naturalismo Critico e Diritto Penale) e João Impallomeni 
(Istituzioni di Diritto Penale).46 
A Terza Scuola acolhe o princípio da responsabilidade moral e a consequente 
distinção entre imputáveis e inimputáveis, mas não aceita que a 
responsabilidade moral fundamente-se no livre-arbítrio, substituindo-o pelo 
determinismo psicológico: o homem é determinado pelo motivo mais forte, 
sendo imputável quem tiver capacidade de se deixar levar pelos motivos. A 
quem não tiver tal capacidade deverá ser aplicada medida de segurança e não 
pena. Enfim, para Impallomeni, a imputabilidade resulta da intimidabilidade e, 
para Alimena, resulta da dirigibilidade dos atos do homem. O crime, para esta 
escola, é concebido como um fenômeno social e individual, condicionado, 
porém, pelos fatores apontados por Ferri. O fim da pena é a defesa social, 
embora sem perder seu caráter aflitivo, e é de natureza absolutamente distinta 
da medida de segurança.47 
ESCOLA MODERNA ALEMÃ 
O mestre vienense Franz Von Liszt contribuiu com anais notável das correntes 
ecléticas, que ficou conhecida como Escola Moderna Alemã, a qual 
representou um movimento semelhante ao positivismo crítico da Terza Scuola 
italiana, de conteúdo igualmente eclético. Esse movimento, também conhecido 
como escola de política criminal ou escola sociológica alemã, contou ainda com 
a contribuição decisiva do belga Adolphe Prins e do holandês Von Hammel, 
que, com Von Liszt, criaram, em 1888, a União Internacional de Direito Penal, 
que perdurou até a Primeira Guerra Mundial. O trabalho dessa organização foi 
retomado em 1924, por sua sucessora, a Associação Internacional de Direito 
Penal, a maior entidade internacional de Direito Penal atualmente em atividade, 
destinada a promover, por meio de congressos e seminários, estudos 
científicos sobre temas de interesse das ciências penais. 48 
Von Liszt (1851-1919) foi discípulo de grandes mestres, dentre os quais os 
mais destacados foram Adolf Merkel e Rudolf Von Ihering49, recebendo grande 
influência deste último, inclusive quanto à ideia de fim do Direito, que motivou 
toda a orientação do sistema que Liszt viria a construir. Von Liszt, além de 
jurista, foi também grande político austríaco, tendo liderado, na sua juventude, 
o Partido Nacional-Alemão da juventude acadêmica austríaca. Nunca perdeu o 
interesse pela política, que na verdade determinou sua postura jurídico-
científica, levando-o a conceber o Direito Penal como política criminal. 
Catedrático austríaco, posteriormente catedrático alemão, especialmente em 
Marburg (1882), concluiu sua cátedra na Universidade de Berlim, quando se 
aposentou em 1916, vindo a falecer em 1919. Autor de inúmeras obras 
jurídicas, publicou o seu extraordinário Tratado do Direito Penal alemão, em 
1881, que teve vinte e duas edições, consagrando-se como o grande 
dogmático e sistematizador do Direito Penal alemão. Von Liszt encarregou-se, 
digamos assim, da segunda versão do positivismo jurídico, dividindo a 
utilização de um método descritivo/classificatório que excluía o filosófico e os 
juízos de valor, mas se diferenciava ao apresentar ligações à consideração da 
realidade empírica não jurídica: o positivismo de Von Liszt foi um positivismo 
jurídico com matizes naturalísticas.50 
Em 1882, Von Liszt ofereceu ao mundo jurídico o seu famoso Programa de 
Marburgo — A ideia do fim no Direito Penal, verdadeiro marco na reforma do 
Direito Penal moderno, trazendo profundas mudanças de política criminal, 
fazendo verdadeira revolução nos conceitos do Direito Penal positivo até então 
vigentes. Como grande dogmático que se revelou, sistematizou o Direito Penal, 
dando-lhe uma complexa e completa estrutura, admitindo a fusão com outras 
disciplinas, como a criminologia e a política criminal. Por isso é possível afirmar 
que a moderna teoria do delito nasce com Von Liszt. 51 
Inicialmente, Von Liszt não admitia o livre-arbítrio, que substituía pela 
normalidade que deveria conduzir o indivíduo, e deixou em segundo plano a 
finalidade retributiva da pena, priorizando a prevenção especial. Von Liszt 
incluiu na sua ampla concepção de ciências penais a Criminologia e a 
Penologia (esta expressão criada por ele): a Criminologia, para ele, teria a 
missão de explicar as causas do delito, enquanto a Penologia estudaria as 
causas e os efeitos da pena. Embora conhecedor das teorias de Lombroso, 
Ferri e Garofalo, com os quais não concordava, com seu Programa de 
Marburgo passou a defender a prevenção especial, ganhando grande 
repercussão internacional. 52 A moderna escola de Von Liszt logo entraria em 
choque com os seguidores da escola clássica, que tinha seu principal 
representante na Alemanha, Karl Binding (1841-1920), o mais autêntico 
seguidor das teorias de Kant e Hegel.53 
Os juristas Fernando Capez e Edilson Mogenout Bonfim lecionam que acerca 
dessa temática, destaca-se a importância das lições formuladas pela Escola 
moderna alemã cujo maior expoente fora Franz Von Liszt. Esse movimento, 
também conhecido como escola de política criminal ou escola sociológica 
alemã, contou ainda com a contribuição decisiva do belga Adolphe Prins e do 
holandês Von Hammel, que, com Von Liszt, criaram, em 1888, a União 
Internacional de Direito Penal. A referida Escola “era deliberadamente eclética 
e visava ao estudo do “direito penal total”, ou seja, à confluência das ciências 
contributivas que formariam a “enciclopédia penal” (Jimenez de Asúi). O crime 
era estudado não somente do ponto de vista jurídico, mas antropológico e 
sociológico”. 54 
Enfim, as principais características da moderna escola alemã podem ser 
sintetizadas nas seguintes: a) adoção método lógico-abstrato e indutivo-
experimental — o primeiro para o Direito Penal e o segundo para as demais 
ciências criminais. Prega a necessidade de distinguir o Direito Penal das 
demais ciências criminais, tais como Criminologia, Sociologia, Antropologia 
etc.; b ) distinção entre imputáveis e inimputáveis — o fundamento dessa 
distinção, contudo, não é o livre arbítrio, mas a normalidade de determinação 
do indivíduo. Para o imputável a resposta penal é a pena, e para o perigoso, a 
medida de segurança, consagrando o chamado duplo-binário; c) o crime é 
concebido como fenômeno humanosocial e fato jurídico — embora considere o 
crime um fato jurídico, não desconhece que, ao mesmo tempo, é um fenômeno 
humano e social, constituindo uma realidade fenomênica; d) função finalística 
da pena — a sanção retributiva dos clássicos é substituída pela pena 
finalística, devendo ajustar-se à própria natureza do delinquente. Mesmo sem 
perder o caráter retributivo, prioriza a finalidade preventiva, particularmente a 
prevenção especial; e) eliminação ou substituição das penas privativas de 
liberdade de curta duração — representa o início da busca incessante de 
alternativas às penas privativas de liberdade de curta duração, começando 
efetivamente a desenvolver uma verdadeira política criminal liberal.55 
CRISE DO PENSAMENTO POSITIVISTA 
Após o estudo das diferentes correntes do positivismo, é fácil constatar os 
motivos do seu declínio. O principal deles consiste na visão formalista e causal 
explicativa do Direito Penal, proporcionada pela pretensão de fundamentar e 
legitimar o sistema penal a partir do método indutivo. Como vimos, o 
positivismo pretendeu aplicar ao Direito os mesmos métodos de observação e 
investigação que eram utilizados nas disciplinas experimentais (física, biologia, 
antropologia, etc.). 56 Logo se percebeu, no entanto, que essa metodologia era 
inaplicável em algo tão circunstancial como a norma jurídica. Essa constatação 
levou os positivistas a concluírem, apressadamente, que a atividade não era 
científica e, em consequência, proporem que a consideração do delito fosse 
por uma sociologia ou antropologia do delinquente, chegando,dessa forma, ao 
nascimento da Criminologia, independentemente da dogmática jurídica. 57 
Com efeito, a preocupação com a produção de um conhecimento estritamente 
científico conduziu os juristas dessa época a uma disputa acerca do autêntico 
conteúdo da Ciência do Direito Penal. Como vimos nas epígrafes anteriores, 
houve uma grande polêmica em torno das duas grandes vertentes que 
abrangem a Ciência Penal: a criminológica e a jurídico-dogmática. A vertente 
criminológica, voltada para a explicação do delito como fenômeno social, 
biológico e psicológico, não era capaz de resolver questões estritamente 
jurídicas, como a diferença entre tentativa e preparação do delito, em que 
casos a imprudência é punível, os limites das causas de justificação, etc. 58 
A vertente jurídico-dogmática, por sua vez, ao considerar que a Ciência do 
Direito Penal tem por objeto somente o direito positivo e, como missão, a 
análise e sistematização das leis e normas para a construção jurídica através 
do método indutivo, não foi capaz de determinar o conteúdo material das 
normas penais, nem de compreender o fenômeno delitivo como uma realidade 
social, permanecendo em um insustentável formalismo. Há um claro 
entendimento, na atualidade, de que a Ciência do Direito Penal abrange tanto a 
Criminologia como a Dogmática, e que os conhecimentos produzidos por esses 
ramos se inter-relacionam na configuração da Política Criminal mais adequada 
para a persecução de crimes. Essa diferenciação permitiu o avanço da 
construção jurídico-dogmática a partir dos estudos de Von Liszt e Binding, mas 
sem os equívocos do método positivista. 59 
INFLUÊNCIA DA ESCOLA POSITIVA NO CÓDIGO PENAL DE 1940 
A leitura do Código mostra a cada passo a decisiva e palpável influência da 
Escola Positiva, na Exposição de Motivos está consignado que nele "os 
postulados clássicos fazem causa comum com os princípios da Escola 
Positiva". 60 A política de transação ou conciliação, a que se refere à 
Exposição de Motivos, permitiu que os traços de inspiração positivista, dessem 
um aspecto novo e sadio à fisionomia geral do Código. Donnedieu de Vabres, 
em arguta crítica, diz que o Código Penal de 1940 foi guiado por um prudente 
oportunismo, acessível às sugestões da ciência nova, mas firmemente 
agarrado, segundo a tradição, ao valor cominatório e intimidativo da pena. 61O 
Código Penal foi elaborado por uma comissão de seis membros, dos quais 
Roberto Lyra era o único positivista, todavia, podemos dizer que se trata de 
código de feitio eclético, onde se conciliam o positivismo de Lyra e o 
classicismo politicamente autoritário de Hungria. Os princípios da escola 
positiva forneceram ao Código Penal brasileiro à tônica individualizadora, o 
talhe subjetivista, o porte defensista, com os avanços da responsabilidade 
legal, através, principalmente, da periculosidade, com as flexões do arbítrio 
judicial sobre os traslados biossociológicos. 62 
A influência da Escola Positiva manifesta-se nitidamente no critério diretivo 
estabelecido pelo artigo 59, no tocante a consideração da personalidade do 
criminoso. A Exposição de Motivos do Código Penal de 1940 deixa bem 
ressaltado que o réu terá de ser apreciado através de todos os fatores, 
endógeno e exógeno de sua individualidade moral e da maior ou menor 
intensidade de sua “mens rea” (aspecto subjetivo da responsabilidade). 63 
O Código Penal ressalta a consideração do crime em função do seu autor, 
assim, a referida legislação adotou, de forma explícita, o exame da 
personalidade do delinquente para o reconhecimento da periculosidade.64 
Ressaltamos a inegável influência do positivismo nos dados pertinentes aos 
motivos determinantes do crime. Para a Escola Positiva, o motivo era a pedra 
de toque da periculosidade criminal, com efeito, o motivo fútil e o motivo torpe 
representam significativos sintomas de periculosidade individual, conforme 
acentua a Exposição de Motivos, “adquire culminante relevo o motivo, o 
“porque” do crime, sendo que na “aplicação da pena, os motivos do crime 
figuram como um dos critérios centrais de orientação”. Outrossim, o motivo de 
relevante valor moral ou social, inspira-se no artigo 22, 2.0, do Projeto Ferri.65 
A Escola Positiva começou a desacreditar da chamada pena dosimétrica, pena 
medida e contada com ridículos requintes de pretensa exatidão matemática, 
em correspondência quase que exclusiva com a gravidade objetiva do fato", 
assim, generalizou-se a tendência de considerar a pessoa do delinquente, em 
seus aspectos físico, antropológico e moral, para efetiva individualização da 
pena, essa foi a diretriz preferida pelo legislador penal de 1940.66 
O Código satisfez a exigência da Escola Positiva, ao estabelecer a 
circunstância atenuante do erro de direito escusável (artigo 20 do Código 
Penal). Assim como a atenuante constante na alínea “e”, inciso III, do artigo 65 
do Código Penal. 
Influência decisiva encontramos na disciplina das circunstâncias do crime, dois 
critérios fundamentais guiam o legislador, ao disciplinar as circunstâncias do 
delito: o objetivo e o subjetivo. O critério objetivo tem em mira o elemento 
político do crime, ou seja, o alarma social por ele causado, é o critério preferido 
pelas legislações inspiradas, pela Escola Clássica. Para o critério subjetivo, o 
singular valor das circunstâncias do delito resulta da periculosidade revelada 
pelo criminoso, é o critério preconizado pela Escola Positiva e cristalizado no 
Projeto Ferri. 67 
Não escapou também a disciplina da reincidência ao influxo da escola de Ferri, 
além de Ferri, sustentavam a perpetuidade da reincidência, Garofalo, Carelli, 
Niceforo, dentre outros. Por este critério a reincidência prolonga-se no tempo, 
nada a desfigurando ou esmaecendo. O Código Penal de 1940, seguindo o 
critério da perpetuidade da reincidência, salientando a exposição ministerial de 
motivos, à relevância da sentença condenatória estrangeira, para o efeito de 
reconhecimento da reincidência.68 
As medidas de segurança não foram introduzidas diretamente pela Escola 
Positiva, foram uma resultante do desenvolvimento das concepções positivistas 
sobre a prevenção dos delitos, tais concepções positivistas de defesa social 
foram consagradas pelo Estatuto Penal de 1940, acolhendo a fórmula das 
medidas de segurança destinadas a proteger a sociedade contra a 
periculosidade criminal. É a periculosidade, diretriz fundamental da Escola 
Positiva, seu conceito surge pela primeira vez na “temibilità” de Garofalo, 
definiu-a este como "a perversidade constante e ativa do delinquente e a 
quantidade do mal previsto que se deve temer por parte do mesmo 
delinquente".69 
O Código Penal de 1940 constrói seu sistema dentro do dualismo culpabilidade 
e periculosidade criminal, pena e medida de segurança. Entretanto, como 
observa Roberto Lyra, "a periculosidade, inclusive presumida, condiciona não 
só a medida de segurança, como a aplicação da pena, e governa os 
instrumentos de política criminal". 70 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
As escolas penais foram correntes filosófico-jurídicas que buscaram firmar 
teses sobre o crime e a figura do deliquente. A Escola Clássica, de inspiração 
Iluminista, visou propiciar ao homem uma defesa contra o arbítrio do Estado. A 
Escola Positivista encarou o crime sob a ótica sociológica e o criminoso tornou-
se alvo de investigações biopsicológicas com fundamentos que não resistem a 
uma análise mais minuciosa e negam o livre-arbítrio, base da responsabilidade 
inalienável que cabe ao homem por seus atos. Ressaltamos que a Escola 
Positiva, não obstante a contestação de seus representantes foi um reflexo no 
campo penal, do pensamento positivista de Comte, Darwin e Spencer. A 
Escola Crítica (também denominada de Politica Criminal) e a Escola Moderna 
Alemã buscaram a moderação como meio para avançar nos estudos do crime 
e do criminoso, levando em conta as duas correntesanteriores. 
O Papel da Criminologia na Definição do Delito 
Contextualizar o momento durante o qual esta sendo feita a análise do 
fenômeno delitivo é o primeiro e fundamental passo em direção à sua 
conceituação. A compreensão do crime como fato social engloba a visão de 
que tanto o delito, quanto o delinquente são produtos da sociedade. 
Mais do que isso, conforme será visto no presente trabalho, o delito como 
fato social é responsável pela construção de um ciclo, qual seja: a 
socieda- de elenca as condutas que entende como desviantes; escolhe, 
dessa for- ma, aqueles que serão vistos como delinquentes; e a prática 
das referidas condutas tipificadas se voltará contra a própria 
comunidade responsável pela criação de todas estas figuras 
envolvidas. 
A sociedade dos dias de hoje é tida como uma sociedade de riscos, e 
não é à toa. A criminalidade produz uma sensação de medo que atinge 
o individual e o coletivo de uma comunidade. Com isso, não apenas os 
indivíduos vivem suas vidas com uma constante sensação de 
insegurança, mas – principalmente – a ideia de sociedade de riscos é 
responsável pela adoção de diversas atitudes por meio do poder 
estatal. 
De forma a tentar controlar a arbitrariedade do poder responsável pela 
implementação das referidas medidas, a criminologia se dispõe a en- 
tender o fenômeno delitivo e tudo o que se relaciona a ele. Assim, a partir da 
construção de um conceito do que seja crime pelos criminólogos, estará essa 
ciência auxiliando a política criminal na importante e complicada tarefa de 
elencar as medidas penais necessárias para cada sociedade em seu tempo. 
Em constante contato com a dogmática penal e com a política crimi- nal, a 
criminologia se faz cada vez mais necessária para uma real compre- 
ensão acerca do fenômeno delitivo. A utilização de seu método cientifico 
e de sua observação empírica dos fatos levará a resultados 
considerados válidos e extremamente eficientes no combate aos altos 
índices de crimi- nalidade, visando a controlá-los – tendo em vista a utopia 
na pretensão de extinguir por completo a prática delitiva em uma 
sociedade. 
 
NATUREZA DA CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA 
 
O ponto de partida reside na compreensão do que seja crimino- logia, 
bem como na análise da sua natureza como ciência. Ciência, de 
acordo com uma das definições do dicionário MICHAELIS, é um ramo 
de conhecimento sistematizado como campo de estudo ou observação e 
classificação de fatos atinentes a determinado grupo de fenômenos, e for- 
mulação das leis que os regem. Entender a criminologia como uma ciência 
é o primeiro passo em direção à sua definição como ciência penal, 
capaz de construir uma definição satisfatória do delito. 
 
De acordo com o valioso ensinamento do professor SÉRGIO SALO- MÃO 
SHECAIRA, “qualquer observação conceitual sobre a criminologia esbarra 
nas diferentes perspectivas existentes nas ciências humanas”. Dessa 
forma, é preciso ter em mente que a definição que se apresente acerca da 
criminologia será intimamente relacionada com a ótica sob a qual ela está 
sendo observada. Ao mesmo tempo, deve haver uma ideia comum acerca 
das ciências criminológicas, a partir da qual positivistas, críticos e radicais 
construirão seus próprios conceitos. 
 
Descobertas cientificas invariavelmente trazem consigo marcas de seus 
tempos e locais de realização. Logo, uma discussão acerca da crimi- 
nologia implica na realização de uma breve análise histórica. A história da 
criminologia, cujo aparecimento remonta há cerca de um século, é a his- 
tória de uma época de continua sucessão, alternância ou confluência de 
métodos e técnicas de investigação – isto é, uma época em que surgiram 
diversas escolas criminológicas, as quais identificavam seus problemas 
com as concretas questões e métodos que selecionaram. 
 
A partir dos anos 30 do século XX, a criminologia contemporânea se propôs a 
enfrentar o problema da criminalidade e da resposta penal que a esta era 
constituída. Para tanto, pretendia individualizar as causas e os sinais 
antropológicos da referida criminalidade, de forma a observar os indivíduos 
que eram assinalados dentro de instituições como o cárcere e os 
manicômios judiciários. 
 
O conceito jurídico de delito não é o objeto do discurso autônomo da 
criminologia, e sim o homem delinquente. Este, por sua vez, é conside- rado 
um indivíduo diferente e, como tal, clinicamente observável. Em ou- tras 
palavras, a criminologia surgiu com a função de tentar compreender os 
fatores que determinam o comportamento criminoso de forma a com- batê-
los por meio de práticas que tendem a modificar o delinquente. 
 
Dessa forma, a criminologia trata da criminalidade como algo que é produto 
da sociedade. Mais do que isso, o crime vem a atingir a própria sociedade 
da qual é fruto. Trata-se de um ciclo que se repete a toda e qualquer época 
em todas as comunidades de que se tem noticia. Valen- do-se do 
conhecimento acerca dessa inevitável relação entre o delito e o 
corpo social, os criminólogos buscam entender a fundo como ela pode ser 
controlada, ou mesmo interrompida. 
 
Neste momento, vale apresentar um viés da criminologia, denomi- nado 
criminologia da reação social. Segundo esse posicionamento, a audi- 
ência social atua mediante três diferentes processos de criminalização.6 
Estuda-se, em primeiro lugar, a maneira com a qual a reação social se 
manifesta ao criminalizar condutas antes lícitas, mediante a criação de 
normas penais. Em segundo lugar, de que forma esta reação se torna 
uma variável que interfere na criminalidade de indivíduos. E, em terceiro 
lugar, como esta mesma reação contribui para a criminalização do 
comporta- mento desviante e para a consequente perpetuação do papel 
delitivo. 
 
Com relação a esse tema, vale lembrar o ceticismo de alguns auto- res 
com os dados utilizados pela ciência criminológica. Entre eles, desta- 
ca-se a opinião de NILS CHRISTIE, para quem o crime é produto de 
pro- cessos culturais, sociais e mentais. Segundo o autor, condutas 
passíveis de criminalização são como recursos naturais ilimitados, 
estando o crime em permanente oferta. 
 
A partir desse raciocínio, a conclusão do autor confirma a ideia de ciclo 
da criminalidade anteriormente referida. Segundo afirma, a socieda- de 
dos dias de hoje foi construída de forma com que o interesse de muitos 
permita a facilidade em definir condutas indesejáveis como crime (em vez 
de simplesmente taxá-las como más, insanas ou excêntricas). 
Concomi- tantemente, nessa mesma sociedade é permanentemente 
encorajada a prática de condutas indesejáveis, enquanto são reduzidas 
as possibilida- des de controle informal da criminalidade. 
 
Nesse sentido, BARATTA ressalta o critério utilizado para que se 
realize a distinção entre um comportamento dito conforme a lei e o com- 
portamento desviado. Para o autor, tal diferenciação irá depender muito 
mais da definição legal – a qual elenca quais são os comportamentos 
cri- minosos e quais são os comportamentos lícitos – do que de uma 
atitude interior intrinsecamente boa ou má, isto é, valorada positiva ou 
negativa- mente pelos indivíduos. Isso confirma a ideia apresentada no 
parágrafo anterior: não há meio-termo entre condutas tipicas e atipicas; 
não há va- loração de práticas como meramente positivas ou negativas. 
 
A principal atividade da criminologia é estudar as causas do deli- to. 
Existem diversas teorias criminológicas que tentam explicá-lo, motivo pelo 
qual existem autores que ousam afirmar que essa função está em crise, ou 
mesmo que teria sido abandonada. No entanto, na análise do fe- nômeno 
delitivo sob uma perspectiva social, parece pouco provável (além de 
demasiadamente pessimista) que se tenha deixado de lado a busca pelas 
razões que o ocasionam. 
 
A criminologia igualmente se interessa em tentar formular possíveis respostas 
preventivas para o delito,de forma a controlá-lo. Com relação a esse ponto, 
insta ressaltar que a esfera que se ocupa do estudo e da im- plementação de 
medidas para prevenção e controle do delito é a Política Criminal. Não se 
trata de uma parte da criminologia, e sim de uma ciência autônoma que 
conta com o auxílio das teorias criminológicas e dos fatos empíricos bem 
conhecidos sobre o crime, para que possa emitir a decisão final sobre se 
determinada medida deverá ser adotada. 
 
Interessante constatar que as referidas atividades da criminologia são 
complementadas uma pela outra. Isto porque, conforme leciona SER- RANO 
MAÍLLO10, “será dificil melhorar a prevenção e o controle do delito se antes 
não conhecermos algo sobre suas causas”. Portanto, não é possí- vel tratar 
da atividade criminológica de forma fragmentada, pois o estudo do fenômeno 
delitivo é algo que demanda uma unidade de atenção volta- da à observação 
dos fatos que a ele dizem respeito. 
 
O estudo cientifico do delito abarca também a análise de quantos delitos 
são cometidos em determinada localização durante certo período de tempo, 
bem como quais são as tendências das taxas de criminalidade ao longo do 
tempo. Por fim, com relação à atividade da criminologia, esta se ocupa de 
entender por que as leis são elaboradas – mais especifica- mente, as leis 
penais. 
 
A natureza da criminologia como ciência tem fundamento em di- versas 
razões. Em primeiro lugar, não se pode afirmar que a criminologia seja 
meramente uma disciplina. KARL RAIMUND POPPER explica o motivo pelo 
qual se pode realizar tal conclusão. 
 
O filósofo afirma que disciplinas nada mais são do que aglomerados 
de teorias e de técnicas de prova, que tendem a solucionar os problemas. 
Estes, por sua vez, são encontrados sempre que se realize uma 
investiga- ção. Problemas surgem dentro de uma teoria, a 
qual, por sua vez, é uma dentre as muitas teorias que 
constituem uma disciplina. 
 
CERETTI conclui que as disciplinas se apresentam como um con- 
junto desordenado de distintas teorias, as quais se encontram em conflito 
entre si e não podem ser consideradas como unitárias. Ao contrário, as 
teorias cientificas podem ser corretamente interpretadas em sua globali- 
dade ou totalidade, justamente por serem sempre formais. 
 
Não sendo mera disciplina, a criminologia se enquadra na categoria de 
ciência. Além dos seus métodos de análise – os quais em breve serão 
explicados –, o estudo do fenômeno delitivo passa também pela conside- 
ração do papel dos determinantes fortuitos. Isso porque os antecedentes 
que produzem o delito não consistem apenas naquilo que os indivíduos 
fazem, mas também naquilo que é feito a eles por outros. 
 
Em outras palavras, o azar pode funcionar na cadeia delitiva como uma 
força impulsora ou de forma a conspirar contra. Com isso, o delinquen- te 
deve estar sempre consciente do papel daquilo que há de acidental em 
suas condutas. Naturalmente, tais antecedentes não são de forma alguma a 
única causa da prática do crime, mas complicações acidentais serão de funda- 
mental importância para o destino da carreira criminal de um indivíduo. 
 
O azar em muitas formas segue regendo o agir humano, e isso deve 
sempre ser levado em consideração nos estudos criminológicos. No 
entanto, por óbvio, o estudo do delito pela criminologia não poderia se 
pautar apenas na consideração dos desenvolvimentos acidentais ocorri- 
dos ao longo da vida do delinquente. É preciso realizar uma análise 
con- creta acerca das razões das referidas práticas, bem como das 
possíveis respostas mais adequadas a estas. 
 
A criminologia aspira a aplicar o método cientifico no estudo do 
delito16, motivo pelo qual se pode afirmar ter natureza de ciência. 
Como ciência, visa a descrever e explicar a realidade, atribuindo, para 
tanto, de- cisiva importância à análise empírica: observação dos fatos, 
experimenta- ção e experiência real. 
 
Ainda, conforme já fora anteriormente mencionado, a resposta al- cançada 
pela criminologia dependerá da ótica pela qual se optará. Dessa forma, para 
a criminologia, é imprescindível o estudo das diversas teorias que tratam de 
explicar o fenômeno criminoso. AUGUSTO THOMPSON cor- robora com 
essa afirmativa, ao lecionar: 
Praticamente, cada criminólogo que se preza adota posição pessoal 
no que concerne ao ponto. O fato indiscutivel é ine- xistir a mais 
longínqua ou remota esperança de consenso a respeito da 
questão. 
 
Diante disso, a criminologia inevitavelmente irá se converter em um campo 
formado pelos encontros e desencontros de todas as teorias a ela 
relacionadas. Cada uma dessas seguirá seus próprios critérios, estabele- 
cendo suas próprias premissas e axiomas. A compreensão de tais teorias 
permite obter respostas às perguntas formuladas com relação ao delito, 
auxiliando a definição da criminologia como ciência. 
O método empírico a que se fez referência, utilizado para o estudo do crime, 
também é objeto de críticas. A fundamental delas diz respeito ao fato de 
que o sucesso desta técnica depende diretamente da neutrali- dade e do 
desinteresse por parte do sujeito que realiza a análise em ques- tão. O 
conhecimento obtido somente poderá ser sistematizado a partir da pureza 
dos dados recolhidos. Então, constrói-se a seguinte questão: como seria 
possível a imparcialidade desse sujeito se ele mesmo é também par- te do 
objeto investigado? 
Apontada a referida crítica, é preciso ressaltar que ela corresponde à opinião 
minoritária dos estudiosos. Majoritariamente, entende-se que a criminologia 
tem natureza de ciência, utilizando-se, portanto, do método cientifico de 
estudo. Por certo, é preciso que se conte com o maior rigor de 
imparcialidade possível, tendo sempre em mente que a imparcialidade 
completa do investigador é uma utopia. 
O filósofo Popper é novamente citado na obra de Serrano Maíllo, para 
explicar que será cientifica toda hipótese que puder ser negada me 
diante fatos observáveis. Diante disso, tem-se que o método cientifico 
empregado pela criminologia aspira à construção de teorias, das quais 
deverão derivar hipóteses que serão, por fim, submetidas à refutação. 
A tarefa para quem trabalha com criminologia é, definitivamente, 
descobrir a maior quantidade possível de erros nas teorias para encontrar 
sempre uma teoria melhor. Uma vez que supera com êxito os critérios 
de refutação, levadas em consideração as demais qualidades já 
elencadas, resta clara a natureza da criminologia como ciência. Sendo 
uma ciência voltada ao estudo do crime, serão os avanços 
criminológicos de grande utilidade para a construção de um conceito 
de delito. 
Mais do que uma ciência, a criminologia é ciência autônoma e inde- 
pendente, não sendo parte integrante da esfera do direito penal ou mes- 
mo da política criminal. Para que realizem de forma plena seus 
estudos, busca ser, na medida do possível, livre de valorações por 
parte de qual- quer dos criminólogos envolvidos em sua pesquisa. Dessa 
forma, procura essta ciência alcançar maior pureza nas informações 
colhidas, bem como objetividade, realismo e constante progresso. 
 
CRIMINOLOGIA E DOGMÁTICA JURÍDICO-PENAL 
Neste momento, urge fazer a seguinte ressalva: também o direito penal 
estuda o crime, o criminoso e, em sua essência, a criminalidade. Da 
mesma forma, a política criminal não prescinde de indagar quanto ao 
estudo desses três objetos. Diante dessa constatação, é possível que 
surja o seguinte questionamento: seriam, então, a mesma coisa a 
criminologia,o direito penal e a política criminal? 
 
Parece evidente que não, embora não pareça justificável apartá- las 
radicalmente em nome da autonomia cientifica. Dentre as inúmeras 
diferenças que possuem entre si tais esferas de estudo do fenômeno cri- 
minal, SHECAIRA optou por apontar uma em especial: 
“... a criminologia, além de requerer consideráveis esforços, exige 
profundos conhecimentos psicológicose sociológicos, por ser uma 
disciplina que trabalha com métodos diferentes daqueles 
normalmente utilizados na esfera jurídico-penal”. 
 
 
Apesar das diferenças, existem pontos de semelhança entre estas três 
distintas esferas que tornam imprescindível o exame do direito penal e da 
política criminal para que se realize o estudo da criminologia. Isso porque 
tais disciplinas encontram-se intimamente relacionadas, depen- dendo 
mutuamente umas das outras para se fazerem compreender, uma vez que 
“não existe problema jurídico-dogmático que não requeira um 
conhecimento de suas bases criminológicas”. 
 
O objeto do presente trabalho é a criminologia, e, embora guarde inevitável 
relação com o direito penal e com a política criminal, não serão essas duas 
disciplinas analisadas com especial atenção neste estudo. A criminologia, 
de acordo com a clássica concepção de Sutherland, é o “con- junto de 
conhecimentos sobre o delito como fenômeno social. Inclui em seu âmbito 
os processos de elaboração das leis, de infração das leis e de reação à 
infração das leis.” 
 
A tendência no sentido da integração entre a dogmática penal e discipli- nas 
antropológicas e sociológicas – como é o caso da criminologia – fará com que 
sejam obtidos melhores resultados nos estudos da referida ciência. Espe- 
cificamente com relação à formulação de um conceito de delito, este será mais 
completo quanto maior a ciência se utilizar do auxílio das demais disciplinas. 
 
Importante ressaltar que isso não significa que o direito penal ou a política 
criminal sejam meramente auxiliares da criminologia. Assim como o inverso 
não é verdadeiro, é preciso ter em mente que se está diante de três esferas 
autônomas e independentes umas das outras, que contam com seus 
respectivos resultados e conceitos para alcançarem suas pró- prias 
realizações, distintamente. 
 
Por meio dessa integração entre a ciência da criminologia e as dis- ciplinas 
penais, a criminologia enriquece seu campo de estudo, de forma a obter 
resultados mais completos para seus questionamentos. Desta for- ma, com 
relação ao estudo do delinquente, a criminologia irá buscar nos 
sujeitos selecionados pelo sistema penal todas as variáveis (excluindo-
se o processo de criminalização por si só) que possam vir a explicar sua 
diver- sidade com relação aos demais sujeitos, ditos “normais”. 
 
Ainda sobre o estudo do delinquente, foi necessário que a crimi- 
nologia partisse de definições prévias e, de certa forma, até óbvias. Em 
primeiro lugar, “criminoso é um homem, e homem é algo concreto, real, 
fático, existente no mundo”. Entendendo-se o crime como um mal – 
assim como a doença é um mal no corpo do paciente de um médico – 
analogicamente se pode investigar os fatores relacionados ao delito por 
meio do corpo dos seus portadores: os delinquentes. Resta mostrada a 
importância da supramencionada colaboração das disciplinas penais 
para os estudos criminológicos. 
 
Do mesmo modo, a criminologia liberal contemporânea toma por 
empréstimo do direito penal suas definições do que venha a ser compor- 
tamento criminoso, estudando tal comportamento como se fosse uma 
qualidade criminal objetiva. Partindo dessa premissa, este viés da crimi- 
nologia realiza a análise das normas e valores transgredidos pelos 
indiví- duos, ou desviados por estes. 
Sendo a ordem legal uma construção incontestável, não pode ela ser 
deixada de lado na análise do crime e de seus fatores pela criminolo- 
gia. A proposta da ciência deve ser uma análise não valorada – na 
medida do possível – de tudo aquilo que envolve a prática de uma 
conduta tipica. Para tanto, naturalmente não poderá abster-se do estudo 
da lei positiva, a qual é objeto e ferramenta também de outras 
disciplinas. 
 
Para que seja realizada a distinção entre as diferentes esferas pe- nais, 
é preciso ter em mente qual é a finalidade do estudo de cada uma de- las. 
Nem sempre esta tarefa será de pacífico entendimento. Não somente 
porque são muitos os posicionamentos acerca dos fins a serem 
alcançados pelas ciências penais, como também pelo simples fato de 
que já se tem como saber que em muitos casos tais fins não mais 
lograrão sucesso. 
 
É o que ocorre com a política criminal, e mesmo com o próprio direito penal. 
Se for considerado como objetivo de tais disciplinas uma ide- ologia de 
tratamento ressocializador, com vistas à reabilitação do delin- quente, 
parece óbvio concluir que tal finalidade já se encontra fracassada em nosso 
país. Com a criminologia, não é diferente: para que se analise a integração 
desta ciência com as supramencionadas disciplinas – em especial, com a 
dogmática jurídico-penal – é preciso partir da compreensão da finalidade 
dos estudos criminológicos. 
 
Conforme já fora anteriormente explicitado, a finalidade da crimi- nologia é 
o recolhimento de dados que lhe permitam conhecer o delito como 
fenômeno social. O direito penal, por sua vez, também possui suas 
finalidades próprias e específicas do seu campo de saber, que fazem com 
que seja um campo conexo com a criminologia, enquanto ambos possuem 
autonomia e independência. 
 
Independentemente da teoria acerca do direito penal que se esteja adotando, 
insta salientar que este ramo do Direito é, em boa parte, vol- tado a 
funcionar como instrumento de controle das classes privilegiadas sobre as 
menos favorecidas. Diante desta informação, tem-se que teo- rias 
relativas, absolutas ou agnósticas resultarão nesta afirmativa de que o 
Direito não é mais visto como um instrumento relativamente pacífico. Ao 
contrário, corresponde a um conflito real e constante entre interesses 
diversos de classes distintas. 
 
Dessa forma, “o trabalho fundamental da Criminologia deve ser o estudo 
do próprio Direito e de sua produção” (grifo do autor). Por meio da análise 
das especificidades acerca da dogmática jurídico-penal e mes- mo do direito 
penal como um todo, será possível que a criminologia alcance os resultados 
para seus estudos acerca do delito e do delinquente. As informações 
obtidas com o auxílio das demais disciplinas serão acrescidas dos resultados 
conquistados pelo método empírico dos criminólogos, en- riquecendo a 
ambos os campos do conhecimento. 
 
A comunicação entre os diversos estudiosos da lei penal importa 
também para fins de discordarem uns dos outros. Tido por muitos como 
o princípio de maior importância de todo o ordenamento jurídico – e, 
portanto, do direito penal –, a ideia de igualdade é convenientemente 
refutada por uma teoria da criminologia: a teoria do etiquetamento ou da 
reação social (labelling approach). 
De acordo com essa teoria, é errôneo o enunciado do princípio da 
igualdade, segundo o qual o direito penal é igual para todos. Isso porque 
o desvio e a criminalidade são qualidades atribuídas a determinados sujei- 
tos, selecionados formal ou informalmente. Dessa forma, afirmam os crimi- 
nólogos que o fenômeno da criminalidade não pode ser estudado sem que se 
leve em consideração tais processos de seleção dos indivíduos desviados. 
 
Da mesma forma, também as finalidades das distintas esferas do saber 
criminal são questionadas entre si. O princípio do fim e da preven- ção 
afirma que a pena não tem unicamente o objetivo de retribuir a prá- tica 
do delito, mas também visa a preveni-lo. No entanto, essa ideia é 
questionada pela criminologia. 
 
A ciência se utiliza dos resultados de inúmeras pesquisas sobre a 
efetividade do direito penal e de suas consequências jurídicas. A partir des- 
sa análise, conclui ser uma ilusão o fim preventivo e retributivo do direito 
penal, a que faz referência o supramencionado princípio. A criminologia se 
justifica negando qualquer possibilidade de ser a ressocialização do delin- 
quente uma função efetiva do cárcere, sendo impossível considerá-la como 
um fim que possa ser alcançado pela pena de privação da liberdade. 
 
Esses foramalguns dos exemplos elencados para demonstrar que o 
confronto entre as ideias da criminologia e da dogmática jurídico-penal 
nem sempre é algo negativo. Pelo contrário, na maioria das vezes será 
algo construtivo para uma maior eficácia das medidas que serão adotadas 
– pelo campo da política criminal – para que se vise a solucionar ao 
máxi- mo o problema da criminalidade. 
 
Além do estudo da lei penal positiva e das medidas aplicáveis a cada 
sociedade de modo a enfrentar a prática delitiva – objetos do saber do 
direito penal e da política criminal –, é imprescindível que se faça uso 
dos resultados obtidos pela criminologia. Um valor importante dessa ci- 
ência em face de outras reside em seu conhecimento acerca do 
sistema penal. Dessa forma, um estudo do delito e das formas de 
controlá-lo precisa contar com uma análise acerca da definição dos 
problemas sociais e da ampliação destes na esfera jurídico-penal. 
 
A integração entre o saber da dogmática jurídico-penal e a ciên- cia 
criminológica tem relevância também no que diz respeito ao auxílio na 
evolução de tais esferas de conhecimento. Naturalmente, existe quem pense 
que a dogmática encontra-se estagnada, ancorada, sem qualquer 
possibilidade de evolução. Para os teóricos do Direito que se filiam a essa 
opinião, a justificativa residiria no fato de que o Direito haveria al- cançado 
sua perfeição. 
 
Por óbvio, não é o que ocorre. No atual contexto da sociedade brasilei- ra, o 
ordenamento jurídico-penal ainda necessita de melhorias teóricas e práti- cas. O 
direito penal já atingiu um limite muito além do que outrora se esperou desse ramo 
do Direito, e, com o auxílio dos demais campos do saber – em especial, a 
criminologia – possui ainda muitas possibilidades de evolução. 
 
Hoje em dia, é majoritário o entendimento de que o Direito deve sempre se 
dispor a evoluir, não podendo o penalista se acomodar aos limites da 
interpretação da lei positiva. Deve ocupar-se de todo o direi- to vigente, 
tentando buscar a verdade do contexto jurídico em que está inserido, de 
forma a alcançar uma segurança jurídica cada vez maior.39 O jurista deve 
dispor do auxílio das diversas ciências penais, vez que não pode se 
conformar em realizar uma valoração do direito positivo. 
 
Conforme já fora ressaltado anteriormente, não pode haver qual- quer tipo 
de confusão entre o direito penal e a criminologia. Trata-se de duas esferas 
de conhecimento acerca das ciências penais que possuem pontos de 
convergência e pontos extremamente distintos. Logo, é preciso esclarecer 
que não apenas são a dogmática e a criminologia autônomas e 
independentes entre si, como são disciplinas diversas uma da outra em 
muitos aspectos. 
 
O principal diferenciador entre a dogmática jurídico-penal e a cri- minologia 
é o objeto de cada uma delas. O passar dos anos e a evolução da história são 
responsáveis por mudanças ocorridas nos objetos de investiga- ção de cada 
uma das referidas disciplinas. Ressalte-se, mais uma vez, que ja- mais se pode 
deixar de ter em mente o papel do contexto histórico e social para a 
compreensão do estudo do fenômeno delitivo como fato social. 
 
Dessa forma, conforme leciona ALESSANDRO BARATTA, acerca do 
objeto das referidas esferas de conhecimento: 
“Hoje em dia o objeto de interesse da criminologia moderna se 
deslocou para a investigação das instâncias oficiais e dos 
mecanismos oficiais e não oficiais que constituem a realidade total do 
sistema penal. Pois bem. A dogmática penal é também parte desse 
sistema, é um elemento do mesmo. (...) No caso da dogmática, a 
legislação penal é seu objeto fundamental.” 
Existe, portanto, um nível distinto de abstração e de autonomia de am- bas as 
disciplinas com relação ao seu objeto. As semelhanças, porém, permi- tem 
que tais objetos se auxiliem e se complementem, enriquecendo os resul- 
tados obtidos por uma das disciplinas por meio dos alcançados pela outra. 
Importante ressaltar que tanto a dogmática, quanto a criminologia, 
também são alicerces para o eficaz funcionamento da política criminal. É 
certo que ainda não se pode contar com um conceito claro e definido do 
que seja política criminal, ou mesmo do que possa ser inserido em seu 
conteúdo de estudo. 
 
Entretanto, é possível apreciar como as concepções mais amplas 
acerca da política criminal tratam-na de forma mais além daquilo que 
meramente consta nos códigos penais. Entende-se que a política criminal 
deve alcançar até mesmo uma análise do que trata o processo penal e 
a execução das penas. 
 
Resta clara a existência e inegável importância da integração mútua entre 
dogmática jurídico-penal e a ciência da criminologia. Conservando- se a 
autonomia cientifica de cada uma, tal integração deve ser incentiva- da, 
de forma a que ambas as disciplinas colaborem para a formação de um 
entendimento global acerca da delinquência e dos demais problemas da 
sociedade atual, acompanhando suas constantes transformações. 
 
O PROBLEMA DA DEFINIÇÃO DE DELITO 
O ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema bipartido para 
definição de infração penal. A partir do Código Criminal do Império, as 
terminologias crime e delito são tratadas como sinônimos. Tais expres- 
sões se diferenciam da outra espécie de infração penal existente no or- 
denamento pátrio – as contravenções – uma vez que estas últimas são 
infrações de menor gravidade. 
Ainda de acordo com a atual legislação penal brasileira, a Lei de 
Introdução ao Código Penal traz a definição legal do que seja crime ou 
delito, diferenciando-o da contravenção penal. Em seu artigo 1º, lê-se: 
 
Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de re- clusão ou 
de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente 
com a pena de multa; contravenção, a infra- ção penal a que a lei comina, 
isoladamente, pena de prisão sim- ples ou de multa, ou ambas, alternativa 
ou cumulativamente. 
Em outras palavras, no que tange à definição legal de delito, o Brasil 
historicamente optou pela adoção do chamado critério dicotômico. No 
entanto, uma análise mais aprofundada acerca do fenômeno delitivo não 
deve se contentar apenas com o que ensina a lei positiva. Dotada de tal 
conhecimento, a criminologia deve partir para a construção de um concei- to 
cientifico do que seja crime. 
 
A sociedade atual é caracterizada por ser uma sociedade de riscos. Em 
outras palavras, uma sociedade que já não se orienta por ideais posi- tivos 
e solidários, e sim por sentimentos negativos e por medos compar- tilhados. 
Diante disso, torna-se imprescindível uma busca pela justiça por meio de 
ações estatais, o que propicie a propagação de uma sensação de segurança 
entre os indivíduos. 
 
Em uma sociedade de riscos, é cada vez mais visível a admissão dos 
problemas por parte da população. A produção de toda forma de so- 
frimento e opressão pode ser observada e confirmada até mesmo por 
aqueles que negavam tais fatos. Com isso, o Direito deve ajustar-se às 
necessidades de seu povo, se forma a atingir a finalidade a que se propõe a 
atividade estatal, qual seja, atender às demandas sociais. 
 
A forma mais eficaz para que sejam implementadas medidas com este 
cunho assecuratório da população é a construção de uma premis- sa que 
deverá servir de ponto de partida em tal empreitada: a completa 
compreensão de tudo que envolva a criminalidade. Por meio de uma defi- 
nição do que seja o crime, será possível tratá-lo como fato social e, a partir de 
então, realizar um estudo sobre suas causas e as possíveis respostas que 
lhes deverão ser aplicadas. 
 
A definição sociológica de criminalidade partirá, portanto, daqui- lo que 
a lei penal positiva define como delito. Junto a isso, englobará também 
a análise da maneira pela qual os membros de uma sociedade definem 
certa conduta como criminosa. A explicação de tudo que en- volve o 
delito e sua natureza dependerá de comoele é definido em seu 
momento de observação. 
 
Nesse sentido, SERRANO MAÍLLO relembra que a “autonomia e in- 
dependência da Criminologia se justificam, entre outras razões, porque 
estuda cientificamente o delito a partir de um determinado ponto de 
vista”. Significa dizer que deverá ser enquadrado no conceito de delito 
também o exame da reação social diante do comportamento que é enten- 
dido como desviante. 
 
Essa reação social será observada levando-se sempre em considera- ção 
o contexto – histórico e cultural – no qual aquele ato é definido social- 
mente como delitivo. Isso porque a sociedade não representa meramente 
uma soma de indivíduos: “o sistema formado pela sua associação 
repre- senta uma realidade específica que tem suas próprias 
características”. Terá relevância, portanto, o fato criminoso, apenas 
quando este atingir a consciência coletiva de determinada sociedade. 
O papel da criminologia na definição de delito é demasiadamente 
importante diante desta atual condição da sociedade. Sendo uma ci- 
ência empírica e disciplinar, conforme fora explicado anteriormente, a 
criminologia visa a apresentar uma informação válida e confiável sobre 
tudo o que diz respeito ao seu objeto: o delito. Dessa forma, apresen- 
tará resultados que explicarão o surgimento, a dinâmica e as variáveis 
do crime, encarado pelos criminólogos tanto como fato social, quanto 
como problema individual de todos. 
 
A criminalidade é inerente à existência de qualquer sociedade. É 
utópica a tentativa de visualizar uma comunidade na qual não haja o co- 
metimento de qualquer fato considerado como criminoso pela sua popu- 
lação. Igualmente absurdo tentar imaginar a hipótese de todos os crimes 
serem solucionados, pois, para tanto, seria preciso que todos os crimes 
fossem conhecidos – e, portanto, se estaria abrindo mão de toda a priva- 
cidade dos indivíduos que vivem em um grupo. 
 
A premissa da inevitabilidade da ocorrência de crimes correspon- de ao 
princípio da normalidade do delito. Trata-se, portanto, da ideia de que em 
todas as sociedades haverá a prática de condutas entendidas como 
desviadas – e, assim, tipificadas como crimes. A investigação em- pírica 
realizada pela criminologia deparou-se com comportamentos que podem 
ser abertamente qualificados como delitos em todos os grupos humanos 
que foram por ela estudados. 
 
Uma vez firmado o referido raciocínio, as medidas implementadas pela 
política criminal, valendo-se dos conhecimentos adquiridos pelos es- tudos 
da dogmática jurídico-penal e da criminologia, não tem o condão de 
eliminar por completo os índices de criminalidade do local onde serão 
aplicadas. Uma vez que tal objetivo é inatingível, é preciso agir de forma a 
normalizar tais cifras. SHECAIRA sintetiza tal premissa, ao lecionar que “O 
anormal não é a existência do delito, senão um súbito incremento ou 
decréscimo dos números médios ou das taxas de criminalidade”. 
 
Neste momento, um adendo precisa ser feito. Parte importante da doutrina 
penal brasileira é manifestamente contrária à utilização da ter- minologia 
“criminalidade” para que se faça referência aos números relati- vos a práticas 
delitivas. O Professor NILO BATISTA é categórico ao afirmar que a ideia de 
criminalidade na verdade não existe. 
 
A justificativa para tanto, nos valiosos ensinamentos do Professor, reside no 
fato de que qualquer taxa de criminalidade é falha. Isso porque, em primeiro 
lugar, deve-se sempre ter em mente a existência das chama- das cifras 
negras – ou seja, existem delitos que são cometidos sem que se tenha 
conhecimento, resultando, portanto, em uma inexatidão das re- feridas taxas 
de criminalidade. Em segundo lugar, porque tais índices são levantados por 
pessoas, resultando sempre falhos em razão da inevitável possibilidade de 
falha humana. 
 
Feita a ressalva, insta salientar que o presente trabalho tem ciência da falibilidade 
do que se entende por criminalidade. O termo é empregado para que se faça 
entender a ideia acerca do índice de práticas delitivas ocorridas em 
determinado local, sem que se tenha a pretensão de alcançar exatidão. 
 
A definição do que seja delito representa não apenas um problema para 
a criminologia, mas sim talvez o maior de seus problemas. Ao mes mo 
tempo, as consequências de se alcançar uma conclusão a respeito da 
referida conceituação são de fundamental importância para a realização 
dos estudos criminológicos e para as consequentes conclusões obtidas 
pela dogmática jurídico-penal e pela política criminal (para futura decisão 
acerca das medidas a serem implementadas). 
 
SERRANO MAÍLLO apresenta as concepções de delito de acordo com 
uma ótica legal ou uma ótica natural. Segundo o autor, a concepção 
legal de delito refere-se à ideia de que o limite do objeto de estudo da cri- 
minologia é o Código Penal e as leis penais especiais. A concepção 
natural, por sua vez, propõe a definição de crime como todo ato de força 
fisica ou fraude que é realizado pelo indivíduo em busca de beneficio 
próprio. 
Ambos os entendimentos mencionados acima são objeto de críticas.56 A 
concepção legal de delito é refutada principalmente pelo argumento de 
que cada disciplina deveria definir ela mesma seu objeto de estudo. Além 
disso, alega-se que as leis penais são demasiadamente vagas e 
imprecisas, além de serem facilmente mutáveis, bem como que tais leis 
podem ser me- ramente representativas dos interesses dos grupos sociais 
dominantes. 
 
A concepção natural de delito partiu da correta premissa de defen- der a 
necessidade de que a ciência da criminologia defina por si mesma seu 
próprio objeto de estudo. No entanto, também fora alvo de sérias crí- 
ticas, referentes ao fato de contar com conceitos excessivamente impre- 
cisos para a compreensão do crime. Refutou-se também o fato de que tal 
concepção abrange mais condutas do que aquelas que realmente impor- 
tam para o objeto da referida ciência, além do fato de que, de acordo com 
tal percepção, um crime não poderia ser cometido em beneficio alheio. 
 
Partindo da compreensão da criminologia como ciência autônoma e 
independente de qualquer outra disciplina de estudo do fenômeno delitivo, 
resta clara a necessidade de uma definição criminológica do fato criminoso. 
Pois, por mais que conte com o auxílio de esferas do conhecimento como 
o Direito penal e a política criminal, o estudo das leis positivas e das medi- 
das penais aplicadas deve servir somente de base para a ciência, que dev 
dotando-se dos seus métodos de estudo e de seus próprios resultados 
obtidos – construir seu próprio conceito acerca do fato criminoso. 
 
Dessa forma, dotando-se dos referidos suportes e tendo sempre em 
mente o contexto histórico, cultural e social no qual se está inserido,a 
criminologia construiu sua definição de delito, a qual é limitada à função 
etiológica (causal) própria da sua maneira de explicar. Trata-se do seguinte 
enunciado: “delito é toda infração de normas sociais consagradas nas leis pe- 
nais que tende a ser perseguida oficialmente no caso de ser descoberta”. 
 
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA 
Conceito 
CRIMINOLOGIA é o conjunto de conhecimentos que estudam as causas 
(fatores determinantes) da criminalidade, bem como a personalidade, a 
conduta do delinquente e a maneira de ressocializá-lo1. 
Histórico 
As idéias da Criminologia são antigas e remontam desde a antiguidade, 
senão vejamos: 
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote1sym#sdfootnote1sym
Sócrates certa vez professou: “ se devia ensinar aos indivíduos que se 
tornavam criminosos como não reincidirem no crime dando a eles a instrução 
e a formação de caráter de que precisavam”.2 
Platão disse:”...a falta de educação dos cidadãos e má organização do 
Estado são causas geradoras do crime”3 
Em 1875, a criminologia, que não tinha ainda tal nomenclatura, nasce com omédico psiquiatra Cesare Lombroso, que estudou o vínculo “das 
características físicas do indivíduo com o delito4”. O estudioso é considerado 
o genitor da Criminologia.. 
Para o médico italiano, o indivíduo nasceria com predisposição para a prática 
de infrações penais, sendo que tal predisposição é delineada pelas suas 
características físicas. 
Enrico Ferri, aluno de Lombroso, passa a sustentar que “ o criminoso nato 
carecia de certos fatores físico ambientais para desenvolver sua 
potencialidade criminal5”. 
Em 1894, Rafael Garofalo, utiliza pela primeira vez o termo Criminologia. O 
estudioso definiu delito como “Ofensa aos sentimentos altruístas 
fundamentais de piedade e probidade, na medida média em que os possua 
um determinado grupo social6”. 
Frederico Oliveira nos ensina que a fase eclética da Criminologia ou de 
Política Criminal nasce em 1905, com “a criação de institutos de Criminologia 
e de gabinetes penitenciários de Antropologia e ainda a formação de 
organismos internacionais que permitem a reunião dos mais famosos 
tratadistas para discutir, em congressos, seus pontos de vista7.” Ainda 
citando o festejado autor:” A diferença entre Criminologia e Política Criminal 
repousa no fato de que esta é ramo do Direito Penal e não estuda o 
delinquente, eis que tal estudo é objeto da Criminologia.” Para finalizar: a 
Criminologia estuda os fatores da criminalidade e o delinquente, procurando a 
maneira de readaptá-lo, enquanto a Política Criminal é ramo do Direito Penal 
e como tal busca a aplicação, pelo Estado, das medidas necessárias à 
repressão e prevenção da criminalidade.8 
Objeto da Criminologia 
Segundo o Prof. Frederico Oliveira os objetos da criminologia são o: 
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote2sym#sdfootnote2sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote3sym#sdfootnote3sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote4sym#sdfootnote4sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote5sym#sdfootnote5sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote6sym#sdfootnote6sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote7sym#sdfootnote7sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote8sym#sdfootnote8sym
“a) estudo dos fatores individuais (personalidade) e sociais (ambiente) 
básicos da criminalidade mediante investigação empírica. (Hurwitz). 
b) estudo dos fatores básicos e do fenômeno natural da luta contra o crime: 
tratamento e profilaxia”.9 
Métodos 
O festeja autor Frederico de Oliveira explana de maneira formidável os 
métodos empregados pela Criminologia: 
“No que concerne ao método da Criminologia cabe considerar, objetivamente, 
que a Criminologia, como ciência nova, constrói seus métodos das ciências 
naturais ou sociais (...) Os métodos de análise utilizados pela Criminologia 
são: a) relativamente aos fatores sociais, os da sociologia; 
b) no concernente aos fatores individuais, os da Psicologia Social, do Exame 
Médico, do Exame Psiquiátrico e do Exame Psicológico.(...) 
Os métodos de síntese compreenderiam o estudo das constelações de 
fatores criminais, a verificação das hipóteses formuladas como resultado 
desse estudo, a pesquisa do comportamentos pós-pena e o emprego das 
tábuas de prognóstico”10. 
Finalidade da Criminologia 
É de se ressaltar que a a finalidade da criminologia se confunde com seu 
conceito. 
O nobre colega Marcelo Sales França no trabalho “Personalidades 
psicopáticas e delinquentes: semelhanças e dessemelhanças “nos ensina: 
“De forma direta e precisa, Roberto Lyra diz que a Criminologia deve atentar 
para a orientação tanto da Política Criminal – prevenindo diretamente os 
delitos mais relevantes para a sociedade – como da Política Social – 
prevenindo genérica e indiretamente os delitos, ou mesmo ações e omissões 
atípicas, e intervindo quando de suas manifestações e efeitos na sociedade. 
Um pouco mais exigente, participante da denominada Criminologia Crítica, 
Orlando Soares enfatiza que a verdadeira Criminologia deve, mais do que ter 
consciência das condições criminológicas atuais, aplicar concretamente os 
seus trabalhos a fim de mudar o grave panorama criminal que vivenciamos, 
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote9sym#sdfootnote9sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote10sym#sdfootnote10sym
uma vez que a Criminologia Tradicional não fez outra coisa senão endossar, 
legitimar e manter o status quo.11” 
Criminologia e outras disciplinas 
Sociologia Criminal 
Surge com Enrico Ferri, seu criador e para o estudioso três seriam as causas 
dos crimes: a) biológicas (genética);b) físicas (as condições climáticas) e c) 
sociais. 
Sempre nos valendo dos ensinamentos do mestre Frederico de Oliveira, o 
autor conceitua a sociologia criminal como sendo “a ciência que cogita do 
fenômeno social da criminalidade.12” 
Professor Frederico ainda leciona dizendo que a “Sociologia criminal torna o 
crime como um fato natural da vida em sociedade (...)” .13 
“Hoje a Sociologia Criminal estuda o crime como fenômeno social, mas se 
sabe que é impossível a separação dos fatores exógenos daqueles de ordem 
individual”14 
Psicologia Criminal 
A Psicologia Criminal propõe-se desvendar o caráter e as tendências do 
criminoso, indicando os rumos necessários à avaliação de sua periculosidade 
e estudando a incidência do fenomenologia psíquica da Criminalidade15. 
Psiquiatria Criminal 
A função da Psiquiatria Criminal centraliza-se na terapia uma vez que a 
profilaxia é mais cabível à Psicologia16. 
Biologia Criminal 
A presente foi fundada por Cesare Lombroso. Também chamada de 
Antropologia Criminal, segundo Guaracy Moreira Filho, “é a ciência que 
estuda o homem delinquente, a sua constituição física, as causas que o 
levam a cometer crime”. 
“Hoje a Antropologia Criminal é o estudo integral da personalidade do 
delinquente, onde não só os fatores endógenos do delito, mas também os 
coeficientes sociais que condicionaram ou provocaram a ação criminosa 
devem ser focalizados e equacionados”17. 
A reação social à criminalidade e a prevenção do delito 
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote11sym#sdfootnote11sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote12sym#sdfootnote12sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote13sym#sdfootnote13sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote14sym#sdfootnote14sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote15sym#sdfootnote15sym
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote16sym#sdfootnote16sym
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote17sym#sdfootnote17sym
Acompanhado de Antônio García-Pablos de Molina, meu mestre Luiz Flávio 
Gomes nos ensina que: 
“A resposta tradicional ao problema da prevenção do delito é concretizada em 
dois modelos muito semelhantes: o clássico e o neoclássico. Coincidem 
ambos em supor que o meio adequado para prevenir o delito deve ter 
natureza "penal" (a ameaça do castigo); que o mecanismo dissuasório ou 
contramotivador expressa fielmente a essência da prevenção; e que o único 
destinatário dos programas dirigidos a tal fim é o infrator potencial. Prevenção 
equivale a dissuasão medianteo efeito inibitório da pena. As discrepâncias 
não são acentuadas. O modelo clássico polariza em torno da pena, do seu 
rigor ou severidade a suposta eficácia preventiva do mecanismo intimidatório. 
Compartilha, ademais, uma imagem estandardizada e quase linear do 
processo de motivação e deliberação. O denominado modelo neoclássico, por 
sua vez, no que pertine à efetividade do impacto dissuasório ou 
contramotivador, confia mais no funcionamento do sistema legal, tal como ele 
é percebido pelo infrator potencial, que na severidade abstrata das penas. O 
centro de atenção se desloca, portanto, da lei ao sistema legal, daspenas que 
o ordenamento contempla à sua efetividade e tudo isso a partir da concreta e 
singular percepção do autor, cujo processo motivacional se torna mais 
complexo.(...) 
a) O modelo clássico 
De acordo com uma opinião muito generalizada, o Direito Penal simboliza a 
resposta primária e natural (por excelência) ao delito, a mais eficaz. A referida 
eficácia, ademais, depende fundamentalmente da capacidade dissuasória do 
castigo, isto é, da sua gravidade. Prevenção, dissuasão e intimidação, 
conforme tais idéias, são termos correlatos: o incremento da delinqüência 
explica-se pela debilidade da ameaça penal; o rigor da pena se traduz, 
necessariamente, no correlativo descenso da criminalidade. Pena e delito 
constituem os dois elementos de uma equação linear. Muitas políticas 
criminais do nosso tempo (leia-se: políticas penais), de fato, identificam-se 
com este modelo falacioso e simplificador que manipula o medo do delito, e 
que trata de ocultar o fracasso da política preventiva (na realidade, 
repressiva) apelando em vão às "iras" da lei. 
O modelo tradicional de prevenção não convence de modo algum, por muitas 
razões. Antes de tudo, a suposta excelência do Direito Penal como 
instrumento preventivo - diante de outras possíveis estratégias - parece mais 
produto de prejuízos ou pretextos defensistas que de uma serena análise 
científica da realidade. Pois a capacidade preventiva de um determinado meio 
não depende de sua natureza (penal ou não penal), senão dos efeitos que ele 
produz. Convém recordar, a propósito, que a intervenção penal possui 
elevadíssimos custos sociais. E que sua suposta efetividade está longe de ser 
exemplar. A pena, na verdade, não dissuade: atemoriza, intimida. E reflete 
mais a impotência, o fracasso, a ausência de soluções que a convicção e 
energia imprescindíveis para abordar os problemas sociais. Nenhuma política 
criminal realista pode prescindir da pena; porém, tampouco cabe denegrir a 
política de prevenção, convertendo-a em mera política penal. Que um rigor 
desmedido, longe de reforçar os mecanismos inibitórios e de prevenir o delito, 
tem paradoxalmente efeitos criminógenos, é algo, de outro lado, sobre o que 
existe evidência empírica. Mais dureza, mais Direito Penal, não significa 
necessariamente menos crime. Do mesmo modo que o incremento da 
criminalidade não pode ser explicado como conseqüência exclusiva da 
debilidade das penas ou do fracasso do controle social. 
Não faltava razão, portanto, a Beccaria quando sustentava já em 1764 que o 
decisivo não é a gravidade das penas, senão a rapidez (imediatidade) com 
que são aplicadas; não o rigor ou a severidade do castigo, senão sua certeza 
ou infalibilidade: que todos saibam e comprovem - incluindo o infrator 
potencial, dizia o autor - que o cometimento do delito implica inevitavelmente 
a pronta imposição do castigo. Que a pena não é um risco futuro e incerto, 
senão um mal próximo e certo, inexorável. Pois se as leis nascem para ser 
cumpridas, temos que concordar com o ilustre milanês que só a efetiva 
aplicação da pena confirma a seriedade de sua cominação legal. Que a pena 
que realmente intimida é a que se executa: e que se executa prontamente, de 
forma implacável, e ainda caberia acrescentar a que é percebida pela 
sociedade como justa e merecida18. 
b) O modelo neoclássico 
Para a denominada escola neoclássica (ou moderno classicismo), o efeito 
dissuasório preventivo aparece associado mais ao funcionamento 
https://sergiobautzer.jusbrasil.com.br/noticias/539204488/nocoes-de-criminologia#sdfootnote18sym#sdfootnote18sym
(efetividade) do sistema legal que ao rigor nominal da pena. Seus teóricos, de 
fato, atribuem a criminalidade ao fracasso ou fragilidade daquele, isto é, a 
seus baixos rendimentos. Melhorar a infra-estrutura e a dotação orçamentária 
do sistema legal seria a mais adequada e eficaz estratégia para prevenir a 
criminalidade: mais e melhores policiais, mais e melhores juízes, mais e 
melhores prisões. Deste modo, os "custos" do delito se "encarecem" para o 
infrator, que desistirá de seus planos criminais ao comprovar a efetividade de 
um sistema em perfeito estado de funcionamento. A sociedade, concluem os 
partidários deste enfoque neoclássico, tem o crime que quer ter, pois sempre 
poderia melhorar os resultados da luta preventiva contra ele, incrementando 
progressivamente o rendimento do sistema legal, aperfeiçoando a sua 
estrutura material e dotação orçamentária, invertendo mais e mais recursos 
em suas necessidades (humanas e materiais); assim se poderia sempre 
esperar e conseguir, de forma sucessiva e ilimitada, mais êxitos e melhores 
resultados. 
Mas este modelo de prevenção tampouco é convincente. 
Para a prevenção do crime, a efetividade do sistema legal é, sem dúvida, 
relevante, sobretudo a curto prazo e com relação a certos setores da 
delinqüência (p. ex. ocasional). Porém, não cabe esperar muito dele. Porque 
o sistema legal deixa intactas as "causas" do crime e atua tarde demais (do 
ponto de vista etiológico), quando o conflito se manifesta (...). Sua capacidade 
preventiva (prevenção primária), em conseqüência, tem alguns limites 
estruturais insuperáveis. A médio ou longo prazo não resolve por si mesmo o 
problema criminal, cuja dinâmica deriva de outras razões. 
 
Em segundo lugar, e contrariamente ao que com freqüência se supõe, já não 
parece razoável atribuir os movimentos da criminalidade (o incremento ou o 
descenso de seus índices) à efetividade maior ou menor do sistema legal. 
Tampouco a fragilidade deste, sem mais, determina um ascenso correlativo 
da criminalidade (da criminalidade "real", naturalmente, não da "oficial" ou da 
"registrada"), nem uma melhora sensível de seu rendimento reduz na mesma 
proporção os índices de criminalidade. Não existe tal correlação, porque o 
problema é muito mais complexo e obriga a ponderar outras muitas variáveis. 
Pela mesma razão, melhorar progressiva e indefinidamente os resultados da 
prevenção do delito por meio do sistema legal, potencializando o rendimento 
e a efetividade dele, é uma pretensão pouco realista, condenada ao fracasso 
a médio prazo. 
De uma parte, porque não falta razão, provavelmente, àqueles que invertem a 
suposta relação de causa e efeito, afirmando que não é o fracasso do sistema 
legal (causa) que produz o incremento da delinqüência (efeito), senão este 
último (aumento da criminalidade) que ocasiona a fragilidade e o fracasso do 
sistema legal. De outra parte, porque não podemos confundir a criminalidade 
"real" e a "registrada", supondo erroneamente que os números desta última 
constituem um indicador seguro da eficácia preventiva do sistema legal. Mais 
e melhores policiais, mais e melhores juízes, mais e melhores prisões, dizia a 
propósito um autor, significam mais infratores na prisão, mais condenados, 
porém não necessariamente menos delitos. Uma substancial melhora da 
efetividade do sistema legal incrementa, desde logo, o volume do crime 
registrado, se apuram mais crimes e se reduz a distância entre os números 
"oficiais" e os "reais" (cifra negra). Porém, nem por isso se evita mais crime, 
nem se produz ou gera menos delito em idêntica proporção: só se detecta 
mais crime. 
 
(...) É péssima a política criminal que esquece que aschaves de uma 
prevenção eficaz do delito residem não no fortalecimento do controle social 
"formal", senão numa melhor sincronização do controle social "formal" e do 
"informal", e na implicação ou compromisso ativo da comunidade. 
 
É imprescindível distinguir a "política criminal" da "política penal", se não se 
quer privar de conteúdo e autonomia o próprio conceito de "prevenção", que 
reclama uma certa política criminal (de base etiológica, positiva, assistencial, 
social e comunitária), não fórmulas repressivas ou intimidatórias, meramente 
sintomatológicas, policiais, que não cuidam das raízes do problema criminal e 
prescindem de toda análise científica do mesmo”(Grifei). 
 
As duas grandes etapas da criminologia 
 
A) ETAPA PRÉ-CIENTÍFICA 
A.1) FILÓSOFOS E PENSADORES – Aqui podemos citar Montesquieu, 
Voltaire, Rousseau e Marquês de Beccaria. 
A.2) FISIONOMISTAS – Vem de fisionomia. Os fisionomistas preocupam-se 
com o estudo da aparência externa do indivíduo, ressaltando a inter-relação 
entre o somático (corpo) e o psíquico. Como métodos de estudo, eles 
visitavam presos e realizavam necrópsias (exame do cadáver) 
A.3) FRENÓLOGOS – Os frenólogos estudavam o caráter das pessoas pela 
observação não apenas dos traços fisionômicos, mas também da 
configuração do crânio. 
A.4) PSIQUIATRAS – Felipe Pinel é o pai da psiquiatria moderna. Deu base 
para posteriores estudos relacionando a loucura com o cometimento do crime. 
Depois dos estudos promovidos pelo médico, iniciou-se uma nova concepção 
psiquiátrica: a loucura moral (indivíduo que apresenta nível de conhecimento, 
mas com psicopatologia grave). 
B) CIENTÍFICA 
B1) ANTROPOLOGIA CRIMINAL – Fundada por Cesare Lombroso, com o 
lançamento do livro “O homem delinquente”. Nele, Lombroso diz: “O estudo 
antropológico do homem criminoso deve necessariamente basear-se nas 
suas características anatômicas”. 
Baer (médico das cadeias de Berlim), verificou por meio de inúmeras 
investigações, que os ocupantes das cadeias não distinguem da população 
não-criminosa por qualquer sinal particular, e, assim o criminoso nato não 
existe como variedade morfológica da espécie. 
A Criminologia moderna embora não consagre a teoria do criminoso nato, 
admite a hipótese da tendência para a prática de infrações. Reconhecendo 
que o homem pode nascer com uma inclinação para a violência. 
B.2) SOCIOLOGIA CRIMINAL – Como já foi dito, Enrico Ferri é o criador da 
Sociologia Criminal. Classifica o criminoso em: 1) nato, 2) louco, 3) ocasional, 
4) habitual e 5) passional. 
Rafael Garofalo cria o termo Criminologia. Classifica o criminoso em 1) 
assassino, 2) violento ou energético, 3) ladrões ou neurastênicos, 4) cínicos. 
Enquanto na Antropologia Criminal os fatores orgânicos eram os causadores 
da criminalidade; na Sociologia Criminal, os fatores ambientais eram 
efetivamente os mais importantes ocasionadores do delito. 
B.3) POLÍTICA CRIMINAL – A característica primordial deste período é ter 
estabelecido uma espécie de trégua entre aqueles filiados às teorias 
lombrosianas e aqueles crentes na influência exclusiva dos fatores sociais no 
cometimento do crime. A pessoa com predisposição para a prática de 
infrações poderá se tornar um criminoso, desde que esteja colocada em um 
ambiente apto para que tal fato ocorra, por conta da influência do ambiente 
em que vive. 
As concepções de prevenção primária, secundária e terciária estão abaixo: 
Para a prevenção primária deve-se dar especial relevo para aspectos como,a 
educação, a habitação, o trabalho, a inserção do homem no meio social, 
aqualidade de vida, sendo estes elementos essenciais que contribuem para a 
prevenção do crime, operando sempre a longo e médio prazo, com a 
especialidade de que se dirige a todos os cidadãos e não somente à pessoa 
do delinquente. O campo de atuação se dá em estratégias voltadas para a 
economia, o social e o cultural, para que os cidadãos tenham melhor 
qualidade de vida e consequentemente capacidade social para superar os 
conflitos cotidianos de forma produtiva. Enfim, a melhor qualidade de vida é 
proporcionalmente influente sobre a delinquência. Fala-se em prevenção 
secundária a atuação onde os conflitos criminais podem se manifestar ou 
exteriorizar. É a atuação de curto e médio prazo seletivamente sobre grupos 
ou subgrupos concretos, que apresentam maiores riscos de eclosão de 
problemas criminais. Basta lembrar-se da política legislativa penal e de ações 
policiais em determinadas localidades, assim como políticas de ordenação 
urbana com escopo de se evitar a criminalidade. Por fim, a prevenção 
terciária se dá sobre um sujeito já identificado como delinquente, 
naturalmente o condenado, recluso, tendo por objetivo evitar que ele reincida 
novamente em práticas criminosas e que se ressocialize para sua volta ao 
meio social. 
O Estado Democrático de Direito e a prevenção da infração penal 
Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes, na obra Criminologia, 
5.ed.rev. e atual.- São Paulo: Revista dos Tribinais, 2007, ensinam: 
 
“O crime não é um tumor nem uma epidemia, senão um doloroso "problema" 
interpessoal e comunitário. Uma realidade próxima, cotidiana, quase 
doméstica: um problema "da" comunidade, que nasce "na" comunidade e que 
deve ser resolvido "pela" comunidade. Um "problema social", em suma, com 
tudo que tal caracterização implica em função de seu diagnóstico e 
tratamento. 
 
A Criminologia "clássica" contemplou o delito como enfrentamento formal, 
simbólico e direto entre dois rivais - o Estado e o infrator -, que lutam entre si 
solitariamente, como lutam o bem e o mal, a luz e as trevas; é uma luta, um 
duelo, como se vê, sem outro final imaginável que a incondicionada 
submissão do vencido à força vitoriosa do Direito. Dentro deste modelo 
criminológico, a pretensão punitiva do Estado, isto é, o castigo do infrator, 
polariza e esgota a resposta ao fato delitivo, prevalecendo a face patológica 
sobre seu profundo significado problemático e conflitual. A reparação do dano 
causado à vítima (a uma vítima que é desconsiderada, "neutralizada" pelo 
próprio sistema) não interessa, não constitui nem se apresenta como 
exigência social; tampouco preocupa a efetiva "ressocialização" do infrator 
(pobre pretexto defensista, mito inútil ou piedoso eufemismo, por desgraça, 
quando tão sublimes objetivos fazem abstração da dimensão comunitária do 
conflito criminal e da resposta solidária que ele reclama). Nem sequer se 
pode falar dentro deste modelo criminológico e político-criminal de 
"prevenção" do delito (estricto sensu), de prevenção "social", senão de 
"dissuasão penal". 
 
A moderna Criminologia, pelo contrário, é partidária de uma imagem mais 
complexa do acontecimento delitivo, de acordo com o papel ativo e dinâmico 
que atribui aos seus protagonistas (delinqüente, vítima, comunidade) e com a 
relevância acentuada dos muitos diversos fatores que convergem e 
interatuam no "cenário" criminal. Destaca o lado humano e conflitivo do delito, 
sua aflitividade, os elevados "custos" pessoais e sociais deste doloroso 
problema, cuja aparência patológica, epidêmica, de modo algum mediatiza a 
serena análise de sua etiologia, de sua gênese e dinâmica (diagnóstico), nem 
o imprescindível debate político-criminal sobre as técnicas de intervenção e 
de seu controle. 
 
Neste modelo teórico, o castigo do infrator não esgota as expectativas que o 
fato delitivo desencadeia. Ressocializar o delinqüente, reparar o dano e 
prevenir o crime são objetivos de primeira magnitude. Sem dúvida, este é o 
enfoque cientificamente mais satisfatório e o mais adequado às exigências de 
um Estado "social" e democrático de Direito. 
 
A Criminologia no Brasil 
É nas últimas décadas do século XIX que começa a recepção da criminologia 
no país. Diversos historiadores do direito penal18 consideram João Vieira de 
Araújo (1844- 1922), professorda Faculdade de Direito do Recife, o primeiro 
autor a se mostrar informado a respeito das novas teorias criminais, ao 
comentar as idéias de Lombroso em suas aulas na Faculdade do Recife e 
também em textos sobre a legislação criminal do Império. 
E, de fato, em seu livro Ensaio de Direito Penal ou Repetições Escritas sobre o 
Código Criminal do Império do Brasil, publicado em 1884, João Vieira de Araújo 
já aponta para a necessidade de analisar a legislação nacional de um ponto de 
vista filosófico mais "moderno", que no campo do direito criminal seria 
representado sobretudo pela obra de Lombroso: 
"O direito criminal dentre todos os outros direitos é justamente o que está sujeito 
às mais constantes e rápidas mudanças em seu conceito. Basta ler a obra do 
grande professor italiano Cesare Lombroso – LUomo Delinquente – e ter uma 
ligeira notícia da importância dos estudos realizados na antropologia em diversos 
países adiantados da Europa para avaliar ou prever que progressos estupendos 
estão reservados no futuro às instituições criminais." (Araújo, 1884:v). 
João Vieira de Araújo se dedicará a divulgar as idéias da antropologia criminal 
de Lombroso não apenas entre seus alunos do Recife, mas também para um 
público especializado mais amplo, ao publicar artigos em revistas jurídicas do 
Rio de Janeiro. Muitos dos futuros propagandistas da criminologia no Brasil, 
como o jurista Francisco José Viveiros de Castro, reconhecerão João Vieira de 
Araújo como o legítimo pioneiro da Escola Positiva de direito penal no país (cf. 
Viveiros de Castro, 1894:14). 
Outros autores, no entanto, como Silvio Romero (1951:55), atribuem a Tobias 
Barreto esse mérito. E, realmente, no mesmo ano de 1884, quando João Vieira 
de Araújo publica seus trabalhos acerca da legislação criminal do Império, 
Tobias Barreto, em seu livro Menores e Loucos, faz referências ao LUomo 
Delinquente, ao discutir a necessidade de diferenciação das diversas 
categorias de irresponsáveis no campo penal. A avaliação de Tobias Barreto 
sobre essa obra não é, no entanto, totalmente elogiosa, pois, se, por um lado, 
admite que o trabalho de Lombroso "pertence ao pequeno número dos livros 
revolucionários", e que este estava muito familiarizado com a ciência 
germânica e com a língua alemã (Barreto, 1926:67-68) – o que para o jurista 
sergipano era condição quase suficiente para garantir o interesse em relação a 
um autor –, por outro, não deixa de censurar os exageros naturalistas da 
abordagem da questão criminal feita por Lombroso. 
De qualquer modo, após essa recepção pioneira no Recife, inúmeros outros 
juristas, ao longo da Primeira República, passam a divulgar as novas 
abordagens "científicas" acerca do crime e do criminoso: Clóvis Beviláqua, 
José Higino, Paulo Egídio de Oliveira Carvalho, Raimundo Pontes de Miranda, 
Viveiros de Castro, Aurelino Leal, Cândido Mota, Moniz Sodré de Aragão, 
Evaristo de Moraes, José Tavares Bastos, Esmeraldino Bandeira, Lemos Brito, 
entre outros, publicam artigos e livros em que são discutidos os principais 
conceitos e autores da criminologia e da Escola Positiva de direito penal. 
Alguns se tornam entusiastas das novas teorias penais, outros censuram o 
exagero de certas colocações consideradas radicais, mas a grande maioria 
toma as novas discussões no campo da criminologia como temas obrigatórios 
de debate no interior do direito penal. 
Se não é possível apontar com absoluta precisão quem foi efetivamente o 
pioneiro nos estudos da criminologia no Brasil, é interessante ressaltar que 
tanto a reivindicação do pioneirismo no novo campo quanto a busca de 
reconhecimento internacional cedo se colocaram como importantes elementos 
de legitimação e distinção entre os pensadores que começavam a trabalhar 
com as novas teorias. Viveiros de Castro, por exemplo, chama para si o mérito 
de ter apresentado o primeiro livro de divulgação das novas idéias no Brasil 
(Viveiros de Castro, 1894:14), ao passo que Cândido Mota, na apresentação 
da reedição de seu livro Classificação dos Criminosos (Mota, 1925), cita, entre 
os muitos elogios feitos ao seu trabalho no Brasil e no exterior, a suposta 
aprovação do próprio Lombroso – maior glória possível para os discípulos das 
novas teorias criminológicas. 
Provavelmente, o fato de a antropologia criminal ter ganho impulso na América 
Latina no momento em que entrava em decadência no continente europeu 
deve ter facilitado o reconhecimento internacional dos autores que, no Brasil, 
se fizeram discípulos das novas teorias, pois, se Lombroso e seus seguidores 
já não encontravam a mesma receptividade para suas idéias no cenário 
europeu, podiam encontrar na América Latina e, especificamente, no Brasil 
grande número de entusiastas dispostos a divulgar as principais idéias do pai 
da antropologia criminal e de seus correligionários. 
Se essa disputa em torno do pioneirismo e do reconhecimento internacional na 
incorporação dos conhecimentos da antropologia criminal ao saber jurídico no 
Brasil é compreensível no âmbito da construção de uma nova tradição 
intelectual, é certo também que os juristas brasileiros se mostram efetivamente 
atualizados e sintonizados com as discussões que então ocorriam no exterior. 
Tanto é assim que os comentários de João Vieira de Araújo e Tobias Barreto 
são publicados antes do primeiro congresso de antropologia criminal em 1885, 
que foi o marco a partir do qual as idéias de Lombroso ganham efetivamente 
repercussão internacional. Os juristas nacionais, que posteriormente se 
destacam na discussão das teorias da antropologia criminal, acompanham de 
perto o debate europeu em torno das novas teorias penais, conhecendo 
inclusive as principais críticas a Lombroso e seus discípulos. Portanto, se os 
juristas valorizam a Escola Antropológica não é por falta de informação a 
respeito do que ocorria na Europa, mas sim por acreditarem que se tratava do 
que de melhor se produzia na época no campo da compreensão científica do 
crime. 
Desse modo, mesmo conhecendo as críticas mais significativas apresentadas 
na Europa contra a antropologia criminal, os simpatizantes no Brasil não 
deixam de reafirmar a importância fundamental dos conceitos dessa escola. 
Nesse sentido, por exemplo, o magistrado A. J. Macedo Soares, ao defender 
as novas idéias penais em 1888, nas páginas da revista O Direito, editada no 
Rio de Janeiro, admite que mesmo na Itália as idéias de Lombroso e seus 
correligionários não conseguiam sensibilizar a maioria dos profissionais do 
direito e nem mesmo influenciar a proposta do novo Código Penal italiano. Mas 
isso, ainda segundo esse autor, longe de desestimular a divulgação da 
antropologia criminal em terras nacionais, mostrava, pelo contrário, que o Brasil 
estava na mesma situação que os demais países europeus, podendo assim se 
situar na vanguarda da realização dessa autêntica revolução que começava a 
despontar no campo do direito: 
"[...] o que é notável é que, na própria Itália, a Escola de Lombroso e Ferri não 
tenha recrutado prosélitos entre os legisladores, professores e estadistas, isto é, 
entre aqueles que mais podiam contribuir para a introdução das idéias novas na 
economia das leis pátrias.[...] Não vemos, porém, que de nenhum desses fatos se 
possa concluir contra a verdade dos ensinos da escola antropo-jurídica. A única 
conclusão a tirar é que os estadistas e professores italianos estão quase no 
mesmo caso dos professores e estadistas brasileiros. Para uns, como para outros, 
esses estudos estão por fazer, são novos e como toda a novidade que abala 
desde os alicerces um sistema inteiro, incutem receio e provocam resistências." 
(Macedo Soares, 1888:499). 
Ou seja, não era por mera imitação que o Brasil deveria seguir as novas 
concepções da antropologia criminal, mas sim por se tratar do que havia de 
mais avançado no mundo em termos de doutrinas penais, segundo os 
defensores da criminologia.Outros autores, mesmo diante das críticas específicas feitas aos trabalhos de 
Lombroso na Europa, ou apenas as desconsideram ou, então, se esforçam por 
refutá-las. Viveiros de Castro, por exemplo, cita em seu trabalho a contestação 
de Tarde à idéia do "tipo criminoso" quase que apenas a título de ilustração 
(Viveiros de Castro, 1894:97-115). Paulo Egídio de Oliveira Carvalho, por sua 
vez, discute extensivamente os conceitos de Durkheim acerca do crime, mas 
indica a impropriedade de suas objeções à antropologia criminal (Carvalho, 
1900:111-139). Já Aragão defende enfaticamente Lombroso e a teoria do 
criminoso nato da "tempestade que se desencadeou contra as afirmações 
audaciosas das suas teorias, que vinham abalar tão fundamente os alicerces 
da ciência oficial" (Aragão, 1928:25). Logo, se esses e outros juristas defendem 
as idéias da antropologia criminal, fazem-no tendo consciência das principais 
objeções presentes no debate europeu. 
Parece difícil, desse modo, caracterizar a presença da antropologia criminal e 
da sociologia criminal no Brasil apenas como mais um caso de importação 
equivocada de idéias19. Longe de se apresentarem somente como "idéias fora 
do lugar", ou como simples modismo da época, as novas teorias criminológicas 
parecem responder às urgências históricas que se colocavam para certos 
setores da elite jurídica nacional. Não se pode negar, entretanto, que o estilo 
dos autores brasileiros, ao incorporarem as novas teorias, é bastante eclético 
e, na maioria das vezes, pouco original em termos teóricos. 
O ecletismo manifesta-se na tendência a apagar as diferenças entre as 
diversas correntes de pensamento voltadas para o problema criminal, tal como 
se definiam na Europa, justapondo autores e teorias rivais. A própria 
terminologia utilizada é, na maioria das vezes, vaga: antropologia criminal, 
criminologia e sociologia criminal20 são termos freqüentemente usados como 
sinônimos que indicariam uma única disciplina. Mas mesmo esse ecletismo não 
é totalmente estranho ao desenvolvimento da criminologia na Europa. 
Especialmente os intelectuais ligados à antropologia criminal, Lombroso à 
frente, não podem ser classificados como autores por demais rigorosos na 
construção de seus conceitos. E é seguindo as orientações de Lombroso que a 
maioria dos autores nacionais pensa a sociologia criminal quase que como um 
prolongamento da antropologia criminal, de tal maneira que os aspectos sociais 
aparecem como causas entre outras capazes de explicar a fraqueza moral dos 
criminosos. Assim, a forte cisão presente no debate europeu entre a 
antropologia criminal de Lombroso, Ferri e Garofalo e a sociologia criminal de 
Tarde e Durkheim, no Brasil, dilui-se em benefício das concepções da Escola 
Antropológica, com todos os autores aparentando pertencer ao campo único da 
criminologia. Para exemplificar essa freqüente indiferenciação, basta 
mencionar como autores que, ainda no final do Império, defendem a 
necessidade de incorporação da antropologia criminal pelo pensamento jurídico 
nacional sustentam que esta se dê sobretudo mediante a criação da cadeira de 
sociologia nas faculdades de direito (ver Macedo Soares, 1888; Araújo, 1889b). 
Os trabalhos desenvolvidos são, igualmente, pouco originais teoricamente, 
constituindo-se em geral no recenseamento das principais idéias criminológicas 
em voga. Mas nem por isso os autores perdem totalmente de vista os 
problemas práticos que se apresentam em face da realidade nacional. Pelo 
contrário, é como se as questões mais imediatas precisassem ser vistas pela 
grade conceitual fornecida pelas teorias importadas. Assim, as questões 
jurídico-penais locais adquiriam novos contornos e possibilidades, ao mesmo 
tempo que o debate intelectual nacional se equiparava ao que de mais 
avançado existia no mundo. 
Como resultado da recepção eclética e conciliadora das teorias criminológicas 
européias pelos juristas brasileiros, o crime e o criminoso passam a ser 
pensados como problemas complexos demais para serem observados de um 
ponto de vista único. Tanto os aspectos biológicos quanto o meio social devem 
ser assim estudados pelas disciplinas criminológicas. Nessa direção, Clóvis 
Beviláqua argumenta que, mesmo sendo simpatizante da Escola Sociológica, 
não deixa de admitir a presença de causas biológicas na origem do crime: 
"Estou convencido de que há um pathos criminogêneo, um morbus que impele ao 
delito, qualquer que seja a sua natureza, e contra o qual a pena se revelará 
impotente na maioria dos casos; mas essa anomalia é menos comum do que se 
poderia supor; estou igualmente convencido. O que mais ordinariamente se 
depara na vida, é a combinação de certas condições fisio-psíquicas apropriadas à 
perpetração do malefício, com certas outras condições sociais que fecundam esse 
germe individual, se é que muitas vezes não o fazem produzir-se." (1896:17). 
O que Beviláqua censura na Escola Antropológica é o exagero daqueles que 
interpretam de maneira exclusivamente biológica as causas do crime, 
subestimando os aspectos propriamente sociais igualmente presentes. Situado 
no extremo oposto da discussão, Antonio Moniz Sodré de Aragão, em seu livro 
As Três Escolas Penais, publicado originalmente em 1907, no qual critica as 
abordagens sociológicas do crime (inclusive a de Beviláqua), não deixa de 
admitir que as causas sociais estão igualmente presentes, embora sejam 
secundárias em relação às causas biológicas individuais21. 
Os estudiosos do tema no Brasil distribuem-se, desse modo, entre as Escolas 
Antropológica ou Sociológica, especialmente pelo acento maior ou menor que 
atribuem aos fatores biológicos ou socioculturais na etiologia do crime, mas 
não discordam que a compreensão do crime e do criminoso requer a presença 
simultânea das duas abordagens. Sob essa tênue linha divisória, do lado da 
antropologia criminal perfilamse nomes como João Vieira de Araújo, Viveiros 
de Castro, Cândido Mota, Antonio Moniz Sodré de Aragão. Mais propensos a 
atribuir importância decisiva aos fatores sociais e culturais na etiologia do 
crime, alinham-se, Clóvis Beviláqua e Paulo Egídio de Oliveira Carvalho, entre 
outros. 
De todo modo, é evidente a forte presença de Lombroso na maioria dos 
trabalhos, indicando a subordinação, como já afirmei, no Brasil, das 
abordagens sociológicas do crime àquela da antropologia criminal. Mesmo 
aqueles que não se empolgam com os exageros deterministas da Escola 
Antropológica não deixam de render homenagem a Lombroso e seus 
discípulos. Este é o caso, já citado, de Tobias Barreto que, embora tenha 
lançado muitas críticas aos exageros de LUomo Delinquente, não deixa de 
considerá-lo um livro revolucionário. Mais do que a concordância em torno da 
contribuição de Lombroso, o principal ponto de convergência do discurso da 
criminologia no Brasil, ou da Nova Escola Penal como passa a ser chamada 
com mais propriedade pelos autores nacionais, é a idéia de que o objeto das 
ações jurídica e penal deve ser não o crime, mas o criminoso, considerado 
como um indivíduo anormal. Assim, com a emergência do discurso da Nova 
Escola Penal no interior dos debates jurídicos nacionais, o que temos é a 
presença de um discurso normalizador no interior do saber jurídico22. Por isso, 
diferentes expressões – criminologia, Nova Escola Penal, antropologia criminal, 
Escola Antropológica, sociologia criminal, Escola Positiva de Direito Penal – 
são utilizadas pelos autores brasileiros praticamente como sinônimos de uma 
nova concepção do direito penal que deve ser aplicada na reforma das 
instituições jurídico-penais nacionais. 
Não há, portanto, diferenças substanciais entre aqueles que passam a 
defender as novas teorias penais no Brasil, quer do ponto de vista 
antropológico quer do sociológico. A crítica às concepções jurídicas da Escola 
Clássica, a defesa dos novos fundamentos do direito de punir e a necessidadede reforma das leis e instituições penais são pontos de convergência entre os 
diversos autores, a despeito das divergências pontuais que possam existir. 
Não surpreende o fato de ter sido a Faculdade de Direito do Recife a porta de 
entrada das idéias criminológicas no Brasil, pois, como já tive oportunidade de 
mencionar, o ambiente intelectual nessa faculdade era, desde a década de 
1870, bastante permeável à introdução de teorias cientificistas, importadas 
sobretudo da Europa. O ambiente filosófico mais crítico que vai então sendo 
formado acaba por apontar para a necessidade de renovação dos estudos 
jurídicos e, na época, sem dúvida a antropologia criminal aparecia como o 
triunfo, por excelência, das concepções cientificistas no campo do direito penal. 
Assim, a renovação dos estudos jurídicos, estimulada pelo ambiente intelectual 
do Recife, teria de passar inevitavelmente pela discussão dessas teorias e, 
efetivamente, os três professores que então se destacam na renovação da 
ciência do direito – José Higino, Tobias Barreto e João Vieira de Araújo (cf. 
Barros, 1959:148) – acabam por abordar, em diferentes momentos de seus 
trabalhos, os debates em torno da antropologia criminal. Essa recepção 
pioneira marcou significativamente os estudos posteriores acerca do direito 
penal na faculdade. Nesse sentido, Schwarcz (1993), por exemplo, ao analisar 
a Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife, a partir de 1891, 
mostra como a antropologia criminal ganha importância nessa publicação, 
servindo como instrumento de afirmação do direito enquanto prática científica e 
justificando a ação missionária dos legisladores em vista dos problemas da 
nação (idem:156-157). Além disso, dissertações e monografias sobre o tema 
foram produzidas por professores e alunos da faculdade23. 
Mas, se como afirma Schwarcz em relação à produção jurídica nacional, se do 
Recife vinham as teorias e os novos modelos de explicação, enquanto de São 
Paulo partiam as práticas políticas convertidas em leis e medidas (idem:184), 
as teorias da criminologia corriam o risco de permanecer isoladas nos debates 
teóricos dos juristas do Recife, sem surtir efeitos concretos mais significativos. 
Mas isso não aconteceu, e rapidamente as idéias da antropologia chegaram 
aos debates jurídicos realizados no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na então 
capital do Império, um dos principais responsáveis por essa divulgação é o 
próprio João Vieira de Araújo. 
A despeito das querelas anteriormente citadas acerca de quem foi o pioneiro 
na recepção da antropologia criminal no país, é certo que a divulgação dos 
novos conhecimentos, inclusive para além do Recife, coube muito mais a João 
Vieira de Araújo, mesmo porque ele se mostrou bem mais entusiasmado com a 
antropologia criminal, ao contrário de Tobias Barreto, que foi mais reticente na 
defesa das idéias de Lombroso. Clóvis Beviláqua define o perfil de João Vieira 
de Araújo como jurista da seguinte maneira: 
"João Vieira pertenceu ao grupo de estudiosos, a que se deu o nome de Escola do 
Recife, na sua fase jurídica, ou, antes, aos que lhe prepararam, a princípio, o 
advento, e, depois, se deixaram arrastar pelo movimento. Adotara os princípios da 
doutrina evolucionista de Spencer, Ardigó e outros mestres italianos. 
Especializando-se no Direito criminal, seguiu a orientação da Escola de Lombroso, 
Ferri e Garofalo; entretanto nem foi jamais um sectário intransigente, nem se 
restringiu a cultivar o Direito criminal." (1896:67). 
Pela citação de Beviláqua, já é possível perceber que a antropologia criminal, 
tal como se apresenta na trajetória de João Vieira de Araújo, aparece no 
interior do movimento de especialização da onda cientificista, própria da Escola 
do Recife. Como disse, é o espírito crítico e polêmico do movimento cientificista 
que estimula a renovação dos estudos jurídicos mediante a importação, entre 
outras teorias, da antropologia criminal, que adquire, desde o início, um claro 
significado reformador. 
Mesmo não sendo, no dizer de Beviláqua, um defensor radical das novas 
teorias penais, Vieira de Araújo fortaleceu ainda mais sua reputação como 
jurista ao divulgar as idéias da antropologia criminal no Brasil. Ele se 
correspondia diretamente com o próprio Lombroso, o que facilitou o 
reconhecimento de seus trabalhos na Itália (cf. Castiglione, 1962:276). 
Provavelmente inspirado pelo espírito militante de Lombroso e seus 
seguidores, João Vieira de Araújo se propôs a divulgar as noções da Nova 
Escola para além do Recife. Assim, nas páginas de O Direito, revista 
especializada em legislação, doutrina e jurisprudência e publicada na cidade do 
Rio de Janeiro, João Vieira de Araújo apresentou vários artigos, nos quais 
defendia as teorias da Escola Antropológica. No primeiro deles, intitulado "A 
Nova Escola de Direito Criminal", comenta os trabalhos de Lombroso, Ferri e 
Garofalo, explicitando que a Nova Escola "tem por objeto o homem criminoso e 
sua atividade anormal e como fim a diminuição dos crimes que assoberbam as 
sociedades atuais no esplendor de toda sua civilização" (Araújo, 1888:487). 
No ano seguinte, ele divulga as idéias da Escola Positiva em dois artigos, "O 
Direito e o Processo Criminal Positivo" e "Antropologia Criminal". No primeiro, 
afirma que Lombroso e outros autores, como Spencer, Darwin e Hackel, 
haviam mudado a face não apenas das doutrinas jurídicas, mas de todo o 
processo penal. Nesse sentido, Araújo defende idéias que posteriormente 
serão bastante divulgadas pelos adeptos nacionais dos novos conhecimentos, 
tais como as de que o essencial é combater os crimes ocasionados por uma 
constituição orgânica e psíquica defeituosa, e de que o júri deve ser totalmente 
abolido perante os crimes comuns: 
"Há um outro ponto cardeal em que a Nova Escola não pode transigir. O júri é uma 
instituição mais política do que judiciária e pois ela pode ser conservada para 
julgar crimes políticos. Mas entregar ao júri assassinos, ladrões, estupradores, 
falsários, enfim o julgamento dos crimes comuns é sancionar a impunidade e a 
impossibilidade de praticar qualquer sistema racional de repressão social que se 
funde nos ensinamentos da ciência e no conhecimento exato da natureza real do 
delinqüente." (Araújo, 1889b:330). 
O júri será, sem dúvida, o principal alvo de críticas da esmagadora maioria dos 
juristas da Nova Escola24. 
No segundo artigo, João Vieira de Araújo esclarece que os estudos anatômicos 
que haviam celebrizado Lombroso eram, na verdade, apenas um apêndice da 
nova ciência do crime, que consistiria muito mais em uma grande "síntese de 
conhecimentos obtidos pelos processos científicos da observação e da 
experiência no estudo do homem criminoso considerado por todos os seus 
caracteres somáticos e psíquicos" (1889a:178). Percebe-se, desse modo, que 
João Vieira de Araújo entendeu claramente o ambicioso projeto do pai da 
antropologia criminal. 
Em outro texto publicado na mesma revista, já em 1894, intitulado "Sociologia, 
Filosofia, Ciência e Direito", João Vieira de Araújo vê com satisfação que o 
direito penal, mesmo no Brasil, passa a ser influenciado, cada vez mais, pelos 
estudos científicos modernos sobre a criminalidade, consolidando-se, assim, a 
tendência, aberta pela antropologia criminal e por ele pioneiramente divulgada 
no país, para aplicação dos métodos positivos também aos estudos jurídicos. 
O otimismo manifesto por João Vieira de Araújo nesses artigos, publicados 
sobretudo nos derradeiros anos do Império, não era descabido, uma vez que, 
nas mesmas páginas de O Direito, outros juristas o acompanham na defesa 
das novas teorias penais, como Macedo Soares e Melo Franco, mostrando 
assim que as idéias da antropologia criminal já ganhavam importância no 
centro político do país. Vai ficando claro nos artigos que a incorporação da 
Nova Escola Penal pelo pensamento jurídico nacional é, segundo seusdefensores, uma imposição tanto da evolução do pensamento moderno, quanto 
das condições políticas e sociais nacionais. O jurista Melo Franco (1889:337) 
lamentava, no entanto, que no Brasil as reformas só se impunham quando já 
se estava, como naquele momento, diante da iminência de uma revolução 
social. A revolução social não ocorreu, mas veio a Proclamação da República 
e, com ela, novas esperanças de reformas legais e institucionais, que 
animaram ainda mais os juristas adeptos da criminologia, presentes, cada vez 
em maior número, nas duas principais metrópoles do país, Rio de Janeiro e 
São Paulo. 
Tratar Desigualmente os Desiguais 
No Brasil, a Proclamação da República foi saudada com grande entusiasmo 
por muitos juristas, que viam na consolidação do novo regime a possibilidade 
de reforma das instituições jurídico-penais, segundo os ideais da Escola 
Criminológica Italiana que ainda dominava o debate no interior do direito penal 
na Europa. Embora o otimismo inicial tenha dado lugar a uma certa decepção, 
uma vez que o Código Penal de 1890 ficou muito aquém do que se esperava, 
por se organizar como um código ainda alicerçado nos ideais da Escola 
Clássica, a percepção dos juristas reformadores – de que as transformações 
sociais e políticas pelas quais o Brasil passou da segunda metade do século 
XIX ao início do XX colocavam a necessidade de novas formas de exercício do 
poder de punir – mantém-se ao longo de toda a Primeira República. A 
substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre, o acelerado processo de 
urbanização no Rio de Janeiro e em São Paulo e os ideais de igualdade 
política e social associados à constituição da República estabeleceram novas 
urgências históricas para as elites políticas e intelectuais no período, e para os 
juristas reformadores em particular. Sobretudo, o ideal das elites republicanas 
de construir uma sociedade organizada em torno do modelo jurídico-político 
contratual defronta-se com uma população que aparece aos olhos dessa 
mesma elite ou excessivamente insubmissa, como no Rio de Janeiro da época 
da Revolta da Vacina (cf. Sevcenko, 1984), ou por demais "multifacetada e 
disforme", como em São Paulo (cf. Adorno, 1990). Assim, o antigo medo das 
elites diante dos escravos será substituído pela grande inquietação em face da 
presença da pobreza urbana nas principais metrópoles do país. 
A criminologia, como conhecimento voltado para a compreensão do homem 
criminoso e para o estabelecimento de uma política "científica" de combate à 
criminalidade, será vista como um instrumento essencial para a viabilização 
dos mecanismos de controle social necessários à contenção da criminalidade 
local. Mas, com a Proclamação da República, os desafios colocados para as 
elites republicanas não irão limitar-se ao estabelecimento de novas formas de 
controle social, mas incluirão especialmente o problema ainda maior de como 
consolidar os ideais de igualdade política e social do novo regime ante as 
particularidades históricas e sociais da situação nacional. É com relação a esse 
problema que os desdobramentos das idéias da criminologia parecem ter sido 
mais interessantes. 
As elites republicanas, desde o princípio, manifestam grande desconfiança 
diante da possibilidade de a maior parte da população contribuir positivamente 
para a construção da nova ordem política e social. O novo regime republicano, 
longe de permitir uma real expansão da participação política, irá se caracterizar 
pelo seu aspecto não democrático, pela restrição da participação popular na 
vida política (cf. Carvalho, 1987; 1990). 
A mesma desconfiança em relação ao que chamaríamos atualmente de 
"expansão da cidadania" estará presente entres os juristas reformadores 
adeptos da criminologia. Para os criminologistas, a igualdade jurídica não 
poderia ser aplicada aqui tendo em vista as particularidades históricas, raciais e 
sociais do país. Os ideais de igualdade não poderiam afirmar-se em face das 
desigualdades percebidas como constitutivas da sociedade brasileira. Essa 
desconfiança em relação à igualdade jurídica transparece tanto nos muitos 
debates acerca da responsabilidade penal como nas diversas propostas de 
reformulação ou substituição do Código de 1890 que atravessam toda a 
Primeira República (cf. Brito, 1930). 
Contudo, quem desenvolveu de modo mais coerente a crítica ao ideal da 
igualdade jurídica, baseando-se igualmente nos ensinamentos da antropologia 
criminal, foi o médico Nina Rodrigues. Um dos mais importantes adeptos de 
Lombroso no Brasil, Rodrigues – em seu ensaio As Raças Humanas e a 
Responsabilidade Penal no Brasil, publicado pela primeira vez em 1894 – 
expõe as principais conseqüências, no campo jurídico-penal, que poderiam ser 
deduzidas da aplicação rigorosa das idéias da antropologia criminal à realidade 
nacional. Se as características raciais locais influíam na gênese dos crimes e 
na evolução específica da criminalidade no país, conseqüentemente toda a 
legislação penal deveria adaptar-se às condições nacionais, sobretudo no que 
diz respeito à diversidade racial da população. Daí sua crítica inequívoca ao 
Código Liberal de 1890, que pretendeu aplicar um mesmo conjunto de regras a 
uma população amplamente diferenciada: 
"Posso iludir-me, mas estou profundamente convencido de que a adoção de um 
código único para toda a república foi um erro grave que atentou grandemente 
contra os princípios mais elementares da fisiologia humana. 
Pela acentuada diferença da sua climatologia, pela conformação e aspecto 
físico do país, pela diversidade étnica da sua população, já tão pronunciada e 
que ameaça mais acentuar-se ainda, o Brasil deve ser dividido, para os efeitos 
da legislação penal, pelo menos nas suas quatro grandes divisões regionais, 
que, como demonstrei no capítulo quarto, são tão natural e profundamente 
distintas." (Rodrigues, 1938:225-226). 
Ou seja, se o país apresentava uma grande diversidade climática, física e 
étnica, como seria possível estabelecer uma legislação penal que abstraísse 
toda essa diversidade? Assim, para o médico maranhense, se as análises 
científicas da antropologia criminal demonstravam plenamente a desigualdade 
física, biológica e social da nação, somente as ilusões metafísicas da Escola 
Clássica poderiam ter levado, como efetivamente ocorreu no Código de 1890, o 
legislador a estabelecer uma igualdade jurídica genérica diante de uma 
realidade tão desigual. Segundo Nina Rodrigues, o legislador pátrio 
simplesmente abstraiu todas as desigualdades biológicas e sociais que 
marcavam de maneira inconteste, aos olhos da ciência, a população brasileira, 
ao cometer o grande erro de tratar igualmente indivíduos desiguais, o que, 
ainda segundo o autor, só poderia criar conflitos no interior do organismo 
social. 
Os juristas adeptos da criminologia se, por um lado, concordavam no geral com 
as idéias acerca da responsabilidade penal expressas por Nina Rodrigues, por 
outro, não podiam levar tão longe os argumentos da Escola Positiva, pois isto 
poderia colocar em risco o próprio monopólio dos profissionais da lei no campo 
da justiça. O que parece singularizar a atuação desses juristas reformadores é 
que eles buscaram conciliar teórica e praticamente as doutrinas e os 
dispositivos legais propostos pelas Escolas Positiva e Clássica. Mesmo sem a 
tão desejada substituição do Código Penal de 1890, eles buscaram realizar 
reformas jurídicas e institucionais que forçassem os limites aos quais o 
liberalismo havia circunscrito o papel do Estado no país, pois, nas disputas 
entre os adeptos da Escola Clássica e da Escola Positiva de direito penal, 
estavam fundamentalmente em jogo concepções diferentes acerca do papel do 
Estado ante a sociedade: 
Os clássicos, portadores de uma concepção liberal, viam o indivíduo como 
possuidor de uma vontade ou consciência livre e soberana. Os 'positivistas' de 
vários matizesrepresentavam o indivíduo como produto ou reflexo, de um meio 
genético e social singulares. [...] Ligadas evidentemente a essas duas 
representações sociais do indivíduo, duas representações modelares do Estado e 
seu papel na sociedade. De um lado, um Estado guardião de rebanhos, 
mantenedor, liberal; de outro, um Estado intervencionista e tutelar, para o qual não 
poderia haver mais nenhuma barreira sagrada à sua atuação em prol do bem 
comum." (Fry e Carrara, 1986:50). 
Os juristas adeptos da Escola Positiva, ao longo de toda a Primeira República, 
irão propor, e por vezes realizar, reformas legais e institucionais que buscarão 
ampliar o papel da intervenção estatal. Mulheres, menores e loucos, ou seja, 
aqueles que não se enquadravam plenamente na nova ordem contratual e que 
necessitariam de um tratamento jurídico diferenciado, serão alvos constantes 
das preocupações dos criminologistas25. A discussão em torno da legislação 
da menoridade, que culminará na elaboração do Código de Menores de 
192726, e a criação de estabelecimentos como o Instituto Disciplinar27 e a 
Penitenciária do Estado28 em São Paulo serão algumas das reformas legais e 
institucionais concretizadas ao longo da Primeira República e que foram 
influenciadas, em grande medida, pelas idéias originalmente desenvolvidas por 
Lombroso e seus seguidores. Também nos tribunais, as concepções acerca do 
criminoso nato e seus desdobramentos se fizeram presentes durante muito 
tempo no Brasil29. Portanto, a incorporação das idéias da antropologia criminal 
ao debate jurídico local não deixou de produzir efeitos concretos e duradouros, 
tanto no plano dos saberes como no das práticas penais. 
Em todas essas discussões e ações, o grande desafio consistia em "tratar 
desigualmente os desiguais" e não em estender a igualdade de tratamento 
jurídicopenal para o conjunto da população. A introdução da criminologia no 
país representava a possibilidade simultânea de compreender as 
transformações pelas quais passava a sociedade, de implementar estratégias 
específicas de controle social e de estabelecer formas diferenciadas de 
tratamento jurídico-penal para determinados segmentos da população. Como 
um saber normalizador, capaz de identificar, qualificar e hierarquizar os fatores 
naturais, sociais e individuais envolvidos na gênese do crime e na evolução da 
criminalidade, a criminologia poderia transpor as dificuldades que as doutrinas 
clássicas de direito penal, baseadas na igualdade ao menos formal dos 
indivíduos, não conseguiam enfrentar, ao estabelecer ainda os dispositivos 
jurídico-penais condizentes com as condições tipicamente nacionais. 
Se, por um lado, os juristas adeptos da criminologia não puderam reformar 
totalmente a justiça criminal segundo os preceitos cientificistas de Lombroso e 
de seus seguidores, por outro, conseguiram ao menos influenciar reformas 
legais e institucionais ao longo da Primeira República. E, mesmo nas décadas 
seguintes, as idéias discriminatórias da antropologia criminal de Lombroso e de 
seus discípulos continuaram a "operar como um contraponto semiclandestino 
ao valor formal da igualdade perante a lei" (Fry, 2000:213). Portanto, o estudo 
dessa e de outras correntes cientificistas – que tiveram grande presença no 
debate intelectual brasileiro sobretudo na segunda metade do século XIX e na 
primeira metade do século XX –, além de esclarecer um momento importante 
de nossa história intelectual, pode contribuir igualmente para repensarmos as 
práticas discriminatórias ainda presentes no campo jurídico-penal em nosso 
país. 
	Criminologia: introdução
	Criminologia.
	Um breve histórico das escolas: clássica, positiva, crítica, moderna alemã e a influência da escola positiva na formação do Código Penal de 1940
	INTRODUÇÃO
	ESCOLA CLASSICA VERSUS ESCOLA POSITIVA
	ESCOLA CLÁSSICA
	Os clássicos partiram de duas teorias distintas, como ensina o professor Nestor Sampaio Penteado Filho, in verbis:
	Os Clássicos partiram de duas teorias distintas: o jusnaturalismo (direito natural, de Grócio), que decorria da natureza eterna e imutável do ser humano, e o contratualismo (contrato social ou utilitarismo, de Rousseau), em que o Estado surge a partir...
	Diante das teorias supracitadas, a vida em sociedade, tanto de forma natural ou convencionada, só é possível após se criar um rol de regramentos, ou melhor dizendo, normas sociais, das quais a inobservância resultara em uma reprimenda por parte do Est...
	Quando alguém encara a possibilidade de cometer um delito, efetua um cálculo racional dos benefícios esperados (prazer) e os confronta com os prejuízos (dor) que acredita vão derivar da prática do delito; se os benefícios são superiores aos prejuízos,...
	Por fim, Serrano defende a ideia de que as ações humanas devem ser julgadas conforme tragam mais ou menos prazer ao indivíduo e contribuam ou não para maior satisfação do grupo social.
	ESCOLA POSITIVA
	CESAR LOMBROSO (1835-1909)
	RAFAEL GAROFALO (1851-1934)
	ENRICO FERRI (1856-1929)
	TERZA SCUOLA ITALIANA
	ESCOLA MODERNA ALEMÃ
	CRISE DO PENSAMENTO POSITIVISTA
	INFLUÊNCIA DA ESCOLA POSITIVA NO CÓDIGO PENAL DE 1940
	CONSIDERAÇÕES FINAIS
	NATUREZA DA CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA
	CRIMINOLOGIA E DOGMÁTICA JURÍDICO-PENAL
	O PROBLEMA DA DEFINIÇÃO DE DELITO

Mais conteúdos dessa disciplina