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Página 1 de 29 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL VICE-PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª. REGIÃO. Ref. Processo nº. 0818202-49.2017.4.05.8300 VALESKA DUTRA FERREIRA, já qualificada nos autos do processo em epígrafe, vem, por intermédio do seu procurador ao final firmado, com fundamento no art. 1.042 do CPC, interpor AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL em face da decisão que inadmitiu o Recurso Especial interposto pela agravante contra o acórdão que deu provimento ao recurso de apelação manejado pela União Federal (decisão de ID 4050000.34543371), fazendo-o de acordo com as razões que passa a aduzir nas linhas adiante. Requer seja a parte recorrida intimada para apresentar contrarrazões (art. 1.042, §3º) e, em seguida, que o presente recurso seja admitido e remetido ao Colendo Superior Tribunal de Justiça, onde se espera seja conhecido e provido. Pede deferimento. Recife, 25 de novembro de 2022. Rodrigo de Figueiredo Tavares de Araújo OAB/PE - 25.921 Sérgio Ludmer OAB/PE - 21.485 (e-STJ Fl.577) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 2 de 29 EXMOS. SRS. MINISTROS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ RAZÕES DE AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL PROCESSO DE ORIGEM: APELAÇÃO Nº. 0818202-49.2017.4.05.8300 TRIBUNAL DE ORIGEM: TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO – TRF5 Colenda Turma, I – DA TEMPESTIVIDADE E DO PREQUESTIONAMENTO. De proêmio, a Agravante salienta a tempestividade do Apelo Especial em referência. A intimação do Acórdão recorrido ocorreu em 03.11.2022 (quinta-feira), pois o expediente de intimação foi aberto em 31.10.2022 (segunda-feira), dia em que não houve expediente no âmbito do TRF5 por força do Ato 433/2021 da Presidência (Documento em anexo), sucedido pelos feriados dos dias 01 e 02 de novembro, previstos no art. 62, inciso IV, da Lei nº. 5.010/1966. Assim, a contagem do prazo teve início no dia 04.11.2022 (sexta-feira), de modo que a data final para interposição do presente recurso será o dia 25.11.2022, tendo em conta o feriado nacional do dia 15 de novembro. II – BREVE RESUMO DA DEMANDA. Cuidam os autos, na origem, de Ação de Reversão de Aposentadoria com Pedido Cautelar de Urgência ajuizada pela ora recorrente em face da União, a fim de ver garantido seu direito ao retorno às suas atividades laborais na Polícia Rodoviária Federal, uma vez que não mais subsistem os motivos que levaram à sua aposentadoria precoce. Tendo sido comprovada sua aptidão para retorno ao trabalho, a recorrente apresentou laudo médico que atestou reversão do quadro depressivo e declarou-a apta ao trabalho sem restrições. (e-STJ Fl.578) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 3 de 29 Após trâmite regular do processo, diante perícia médica judicial para avaliação do quadro clínico e constatada total aptidão da servidora para exercer qualquer atividade laboral, em 09 de outubro de 2018, o juízo de primeiro grau proferiu sentença declaratória (id. 4058300.7878109) ordenando que a Administração procedesse à reversão da aposentadoria com o retorno da apelada ao trabalho no mesmo cargo e função que exercia antes da aposentadoria, com percepção de proventos inerentes ao servidor da ativa. Irresignada, a União interpôs recurso de Apelação com o intuito de modificar sentença sob o argumento de que: i) a recorrida pretenderia receber o valor integral, como aposentada, correspondente à remuneração de um servidor da ativa; ii) ainda na esfera administrativa, Junta Médica teria concluído, em 10 de outubro de 2017, pela subsistência do quadro médico que motivara a aposentação. Por fim, em caso de condenação da União, requer a incidência dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança uma única vez até o efetivo pagamento. Surpreendentemente, em sessão virtual – da qual não é possibilitado aos advogados acompanharem os debates, nem tampouco participar do julgamento – a Egrégia 3ª Turma do TRF5 deu provimento à apelação da União, reformando a sentença de piso, para concluir pela improcedência do pedido autoral, em acórdão assim sumariado: “ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL. REVERSÃO DE APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. IMPOSSIBILIDADE. ART. 25 DA LEI Nº 8.112/90. LAUDO TÉCNICO. JUNTA MÉDICA OFICIAL. CONCLUSÃO PELA MANUTENÇÃO DOS MOTIVOS ENSEJADORES DA APOSENTADORIA. AUTORA DIAGNOSTICADA COM DEPRESSÃO (CID 10 F-32). FREQUENTES AFASTAMENTOS PARA TRATAMENTO DA DOENÇA DURANTE 9 (NOVE) ANOS CONSECUTIVOS NO EXERCÍCIO DO CARGO. 1.430 (MIL QUATROCENTOS E TRINTA) DIAS DE LICENÇA PARA TRATAMENTO DA PRÓPRIA SAÚDE NO PERÍODO DE 15/05/2006 A 07/04/2015. LAUDOS MÉDICOS RECENTES (ELABORADOS EM 2017 E 2018) INDICANDO A REMISSÃO TOTAL DOS SINTOMAS E APTIDÃO DA AUTORA. APRECIAÇÃO DAS PROVAS. LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO. MELHORA QUE DEPENDEU DO AFASTAMENTO DAS ATIVIDADES DO CARGO. SINTOMATOLOGIA RELACIONADA AO EXERCÍCIO DAS ATIVIDADES DE POLICIAL FEDERAL. TENTATIVAS DE READAPTAÇÃO PARA SERVIÇOS INTERNOS QUE NÃO SURTIRAM EFEITO POSITIVO. APOSENTAÇÃO. MANUTENÇÃO. PRESERVAÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO E DO BEM ESTAR DA SERVIDORA. ATENDIMENTO. ACERTADA DECISÃO DA ADMINISTRATIVA. INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE OU DESARRAZOABILIDADE. APELAÇÃO PROVIDA. IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS. 1. Apelação desafiada pela União Federal em face da sentença que julgou procedentes os pedidos iniciais para determinar que a Administração proceda à reversão da Aposentadoria por Invalidez da Autora, com retorno ao trabalho no mesmo cargo e função que exercia antes da aposentadoria, com percepção de proventos inerentes ao servidor da ativa. (e-STJ Fl.579) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 4 de 29 2. A questão cinge-se em se averiguar a Autora preenche os requisitos legais para necessários o deferimento da reversão de sua aposentadoria, possibilitando-a a reassunção ao cargo de Policial Rodoviário Federal, do qual foi afastada em razão de ter sido aposentada por invalidez com fundamento no art. 40, I, da CF, e 182, I, da Lei nº 8.112/90. 3. A jurisprudência pátria adotou o princípio do livre convencimento motivado segundo o qual o Juiz pode fazer uso de outros meios para formar sua convicção, sendo certo que o Magistrado não se encontra adstrito ao Laudo Pericial quando da apreciação e valoração das alegações e das provas existentes nos autos, podendo, inclusive, decidir contrário a ele quando houver nos autos outros elementos que assim o convençam. Nesse sentido: STJ - AgInt no REsp 1.309.793/RJ, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado em 28/03/2017, DJe 07/04/2017. 4. No caso, a questão a ser ilidida é de ordem eminentemente fática, pois gira em torno de se saber se a Autora está apta a reassumir ao cargo após ter sido diagnosticada com transtornos mentais (Depressão CID-10-F32). 5. Quanto ao fundamento jurídico do pedido de reversão, a literalidade da norma aplicável ao caso não exige maiores esforços interpretativos, como se observa do teor do art. 25 da lei nº 8.112, verbis: "Reversão é o retorno à atividade de servidor aposentado: I - por invalidez, quando junta médica oficial declarar insubsistentes os motivos da aposentadoria". 6. Vê-se que o direito do servidor à reversão se sujeita a Laudo Técnico exarado por Junta Médica Oficial declarando insubsistentes os motivos da aposentadoria. 7. Da análise dos autos, infere-se que a autora foi submetida em 10/10/2017 à exame por Junta Médica Oficial da FUNASA, a qual concluiu que a servidora "mantém a condição de invalidez, devendo ser mantida a aposentadoria" (Id. 4058300.4435873). 8. Com vistas a ilidir a conclusão da Junta Médica Oficial, a Autora acosta aos autos o Laudo Médico assinado em 07/06/2017 pela Médica PsiquiatraDra. Keila Albuquerque, que atesta que acompanhou a Autora no tratamento da doença identificada pela sigla CID 10.F32 no período de 12/02/2016 a 05/06/2017, e que "durante todo o período a autora esteve bem e em remissão dos sintomas" e sem uso de medicamentos relacionados à doença há seis meses estando "apta para realizar qualquer tipo de atividades profissional sem restrições" (Id. 4058300.4435865). 9. Já o Laudo Psiquiátrico produzido em Juízo, elaborado pelo Médico Dr. José Brasileiro Dourado Júnior, no mesmo sentido, concluiu que "o periciando não apresenta ao exame no momento psiquiátrico está há mais de dois anos sem sintomatologia ativa. Portanto, a periciada tem aptidão para o exercício de atividade laboral em qualquer área que desejar" (Id. 4058300.6127455). 10. Não obstante a taxatividade dos Laudos que concluíram pela aptidão da Autora para o exercício "de qualquer atividade", não se pode olvidar que o quadro de transtornos comportamentais da servidora se reporta aos idos do ano de 2006, tendo persistido até o momento do exame Pericial que concluiu pela necessidade do seu afastamento definitivo em 10/03/2015, o que foi reiterado por novo Laudo Psiquiátrico elaborado pela Junta Médica Oficial em 10/10/2017, por ocasião da análise do requerimento de reversão. 11. Dos esclarecimentos trazidos pela médica Dra. Rosanna Câmara de Sá, integrante dos quadros de médicos da FUNASA, que foi responsável pela avaliação de saúde da Autora (Id. 4058300.6382503), dessume-se que: "a) no período de 15/05/2006 a 07/04/2015, a pericianda totalizou 1.430 dias de licença médica para tratamento da própria saúde, estando excluídos desse número, outros 120 dias referentes à licença maternidade em 2008, distribuídos da seguinte forma: - Ano de 2006 = 033 - Ano de 2007 = 051 - Ano de 2008 = 040 - Ano de 2009 = 001 - Ano de 2010 = 236 - Ano de 2011 = 311 - Ano de 2012 = 248 - Ano de 2013 = 220 - Ano de 2014 = 200 - Ano de 2015 = 090; b) quase a totalidade das licenças médicas tinha diagnóstico relacionado a Transtornos Mentais e Comportamentais de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10: F00-F99); c) em várias oportunidades contamos na formação da JMO-FUNASA-PE com, pelo menos, com um médico psiquiatra participando da perícia da autora, quais seja, doutora Keila Albuquerque CRM-PE 13.026 e Dr. Ricardo Vianna de Barros CRM-PE 7.028; d) foram sugeridas junto ao órgão e origem outras medidas, como por ex., mudança de setor no (e-STJ Fl.580) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 5 de 29 ambiente de trabalho (readaptação funcional), numa tentativa de adequação às necessidades da autora, sugestões essas acatadas pelo órgão, que trouxe a então servidora, do então trabalho ostensivo externo para o setor de trabalho interno, visando o bem estar da mesma; e) após constatarmos que as medidas não resultaram no resultado esperado, vez que foram necessárias novas licenças pelos mesmos motivos anteriores e de acordo com as normas contidas no Manual de Perícia Oficial, concluímos pela sugestão de aposentadoria por invalidez decorrente de doença não especificada em lei, sugestão essa acatada pelo órgão e origem da então servidora" 12. O que se pode concluir dos dados elencados nos autos é que o Parecer da Junta Médica Oficial foi acertado, porquanto visou a um só tempo a preservar o interesse público e também o interesse e bem-estar da própria Autora, que durante 9 (nove) anos consecutivos de desempenho da função de Policial Federal (2006 a 2015; a Autora tomou posse em 2005), teve que se afastar para tratamento de saúde por períodos cada vez mais longos, chegando a 311 dias no ano de 2011, 248 dias em 2012, 220 dias em 2013, por exemplo, vindo a obter progresso nos tratamentos tão somente após o seu afastamento definitivo das funções de Policial Rodoviário Federal, o que ocorreu em 16/01/2016. 13. Destaque-se que a aposentadoria foi utilizada como a última opção, pois a Autora foi remanejada, por orientação da Junta Médica, da função de Policial ostensiva para os trabalhos burocráticos e administrativos (internos), o que, conforme as informações contidas nos autos, não surtiu efeito positivo, antes, agravou os sintomas, como se denota dos afastamentos mais longos nos últimos anos antes da inativação. 14. É possível se concluir que os sintomas psiquiátricos da Autora estão (estavam) diretamente ligados ao exercício das atribuições do cargo de Policial Rodoviário Federal, ainda que desempenhado no âmbito administrativo. Isso porque só depois de decorrido um ano de sua aposentadoria (início de 2017), é que a paciente pode cessar com os medicamentos (Valdoxan) e apenas em 05/06/2017 é que a mesma pode receber alta dos tratamentos, conforme o Laudo Psiquiátrico de Identificador nº 4058300.4913151. 15. O mesmo raciocínio de que a melhora na sintomatologia se deve ao afastamento das funções do cargo vale para explicar o resultado do Laudo Psiquiátrico forense realizado em 20/08/2018 que constatou a remissão completa dos sintomas, mas isso somente após a Autora já estar afastada das funções há 2 (dois) anos e meses. 16. não se vislumbra qualquer mácula de ilegalidade ou desarrazoabilidade na decisão administrativa que denegou o pedido de reversão formulado pela Autora, tampouco ,há elementos nos autos capaz de colocar em xeque o acerto da decisão da Junta Médica Oficial da FUNASA que concluiu pela permanência dos motivos que ensejaram a aposentadoria por invalidez da Demandante, devendo ser acolhida a insurgência recursal para reformar a sentença e julgar improcedentes os pedidos autorais. 17. Apelação provida. Inversão do ônus da sucumbência. Diante da inexistência de proveito econômico e do baixo valor da causa, os honorários advocatícios são fixados em R$ 1.000.00 (mil reais), com base no art. 85, § 8º, do CPC.” Em face da existência de omissões e contradições que maculavam as premissas que levaram a Egrégia Turma do TRF5 à conclusão de acolhimento do apelo, a recorrente opôs reiterados embargos de declaração para que se atingisse a plenitude da prestação jurisdicional e fossem coligidas de forma escorreita as provas dos autos. Contudo, mesmo reiteradamente provocada, a Egrégia Terceira Turma do TRF5 rejeitou os aclaratórios ao argumento de que não haveria omissão, contradição ou obscuridade em seu julgado. (e-STJ Fl.581) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 6 de 29 Esgotadas as instâncias ordinárias, a recorrente não viu outra alternativa senão a de recorrer ao Colendo Superior Tribunal de Justiça por meio do Recurso Especial, de modo a que sejam corrigidos os equívocos perpetrados pelo acórdão impugnado e, assim, conferida a correta interpretação aos dispositivos de lei federal vulnerados pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região, a saber: o art. 1.022, inciso II, do CPC; art. 9º e 10 do CPC; art. 371 e 479 do CPC; e art. 25, inciso I, da Lei nº. 8.112/1990. Em juízo primevo de admissibilidade, a Vice-Presidência do TRF5 entendeu pela inadmissibilidade do REsp. De partida, asseverou que não teria restado evidenciada a ofensa ao art. 1.022 do CPC, na medida em que a Corte Local teria se manifestado de maneira clara e fundamentada acerca dos pontos principais da controvérsia. Quanto aos demais pontos da insurgência, aplicou o obstáculo da Súmula 07/STJ, entendendo que o conhecimento do recurso demandaria reexame fático-probatório. Com a devida vênia aos fundamentos declinados pelo Magistrado assistente da Vice-Presidência do TRF5, é flagrante o cabimento do Especial, merecendo ser conhecido e provido o presente agravo, a fim de reformar a decisão vergastada, admitindo o conhecimento, por esse Colendo STJ, das razões de insurgência lançadas por Valeska Dutra Ferreira em seu Recurso Especial. III – DAS RAZÕES DEREFORMA DA DECISÃO AGRAVADA. III.1. DA PATENTE DEMONSTRAÇÃO DE OFENSA AO ART. 1.022 DO CPC. A decisão agravada, de maneira equivocada, compreendeu inexistir, no caso, violação ao art. 1.022 do CPC/2015 no julgamento proferido pelo Egrégio Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Nos exatos termos do que asseverou a decisão de inadmissibilidade do REsp: Primeiramente, quanto à alegação relativa à ofensa ao art. 1.022 do CPC, não assiste razão à recorrente. Segundo iterativos julgados do STJ: "Não há violação do 535 do CPC/73 (art. 1022 do CPC/2015) quando o Tribunal a quo se manifesta clara (e-STJ Fl.582) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 7 de 29 e fundamentadamente acerca dos pontos indispensáveis para o desate da controvérsia apreciando-a fundamentadamente (art. 165 do CPC/73), apontando as razões de seu convencimento, ainda que de forma contrária aos interesses da parte, como verificado na hipótese. (AgInt no AREsp 1298583/SP, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, julgado em 23/10/2018, DJe 29/10/2018). Não obstante as considerações do Eminente Desembargador, perceba-se que a decisão agravada se utiliza de simples alegativa genérica para sugerir que a matéria tempestivamente suscitada pela Agravante em sede de embargos de declaração teria sido suficientemente debatida e apreciada pela Corte Regional. Em nenhum momento a decisão de inadmissibilidade demonstra que não existiriam as omissões alegadas pela Agravante, nem evidencia em que medida as razões de decidir do acórdão seriam suficientes para solucionar a controvérsia. Em verdade, a Recorrente suscitou omissões precisas e bem expostas que poderiam, caso tivessem sido apreciadas pelo TRF5, conduziriam o Tribunal a conclusões diversas daquelas declinadas no Acórdão recorrido. Em hipóteses semelhantes, estando evidenciado que a apreciação das teses poderia conduzir o julgamento a conclusões diversas, o STJ tem se posicionado firmemente pela necessidade de conhecimento (e provimento!) de recurso especial em virtude de ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015 (antigo art. 535 do CPC/1973). A título ilustrativo, colham-se os seguintes julgados: “PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. DANOS MORAIS. VERBA INDENIZATÓRIA. PARCELAMENTO. POSSIBILIDADE. OMISSÃO CONFIGURADA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC RECONHECIDA. 1. Apesar de provocada pela via dos embargos de declaração, a Corte de origem não emitiu efetiva carga decisória sobre a questão atinente à alegada impossibilidade de pagamento parcelado de indenização por danos morais decorrentes de ação estatal. 2. Caracterizado o vício da omissão, impõe-se o reconhecimento de ofensa ao art. 535 do CPC, com anulação do acórdão proferido no julgamento dos embargos de declaração, determinando-se o retorno dos autos à origem, com o escopo de que seja sanada a eiva apontada, restando prejudicada a análise dos demais tópicos. 3. Recurso especial provido” (REsp 902.863/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, DJ 28.05.2008); “ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL - INSTALAÇÃO DE PONTO DE ENERGIA ELÉTRICA - SERVIDÃO ADMINISTRATIVA DE LINHAS DE TRANSMISSÃO DE ALTA TENSÃO - OMISSÃO DO ACÓRDÃO: ART. 535 DO CPC. 1. É omisso o julgado que deixa de analisar questões oportunamente suscitadas e que, em tese, podem levar o julgamento a um resultado diverso do ocorrido, impedindo o acesso às instâncias extraordinárias. (e-STJ Fl.583) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 8 de 29 2.Questão federal ventilada no voto vencido que não supre o requisito do prequestionamento. Súmula 320/STJ. 3. Violação ao art. 535 do CPC. Necessidade de rejulgamento dos embargos declaratórios, para fins de complementação da prestação jurisdicional. Prejudicada a análise das demais questões trazidas no especial. 4. Recurso especial provido” (REsp 992.799/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon, SEGUNDA TURMA, DJ 16.04.08). Sendo assim, vejamos mais uma vez os pontos tempestivamente suscitados pela Recorrente que não foram objeto de análise pelo TRF5, ou que foram apreciados de maneira vaga pela Corte de origem, restando configurada a inegável ofensa ao art. 1.022 do Código de Processo Civil. A) DA OMISSÃO QUANTO A NÃO APRECIAÇÃO DA VIOLAÇÃO AO CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA, DA DECISÃO NÃO SURPRESA PREVISTO NOS ARTIGOS 9 E 10 DO CPC/15, SUSCITADO NOS PRIMEIROS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (4050000.23358666). DEBATE SOBRE ASPECTOS TÉCNICOS QUE JAMAIS HAVIAM SIDO SEQUER SUSCITADOS NOS AUTOS. A corte de origem negou provimento aos Embargos de Declaração manejados na origem sob o fundamento de que “o acórdão impugnado enfrentou todas as questões devolvidas à análise”, mantendo inalterado o provimento da Apelação da União. Contudo, data maxima venia, foi omisso o julgamento ao deixar de apreciar a nulidade suscitada pela embargante, ante a abordagem sobre questões nunca debatida nos autos, como por exemplo as causas da doença que acometera a jurisdicionada e as razões que, no seu ponto de vista, teriam contribuído para a melhora clínica apresentada, sendo imperioso que, de forma explícita, seja enfrentado. O fato é que a discussão trazida no processo (da petição inicial até aqui), se restringe à verificação da subsistência (ou não) do quadro clínico que motivara a aposentadoria, por invalidez, da ora Agravante. Conforme suscitado nos embargos de declaração, o julgamento do TRF5 insistiu em reforçar as razões de decidir pautado em premissas que foram inauguradas pelo acórdão que julgou provida a Apelação, ou seja, sem apreciar a nulidade suscitada. (e-STJ Fl.584) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 9 de 29 Conforme antedito, discorreu – repita-se, sem qualquer prova técnica que a embasasse – que a causa da doença seria o próprio exercício laboral da recorrente, afirmando que a aposentadoria por invalidez seria medida necessária, pois o seu afastamento do trabalho teria sido a causa da sua melhora clínica. Veja-se: “(...) A Turma Julgadora, com base nas provas dos autos, e lastreado no princípio do livre convencimento motivado, associou a persistência da moléstia ao exercício das atribuições do cargo de Policial Rodoviário Federal, ainda que desempenhado no âmbito administrativo. Isso porque só depois de decorrido 1 (um) ano de sua aposentadoria (início de 2017), é que a Paciente pode cessar com os medicamentos (Valdoxan) e apenas em 05/06/2017 é que a mesma pode receber alta, conforme o Laudo Psiquiátrico de Identificador nº 4058300.4913151. Foi perfilhado, frise-se, o raciocínio de que a melhora na sintomatologia se deveu ao afastamento das funções do cargo de forma a explicar o resultado do Laudo Psiquiátrico Forense realizado em 20/08/2018, que constatou a remissão completa dos sintomas, mas isso após a Autora já estar afastada das funções há 2 (dois) anos e meses. (...)” (grifou-se) SOUBESSE A ORA AGRAVANTE QUE SERIAM CONTROVERTIDAS AS CAUSAS DO SEU ADOECIMENTO, bem como os elementos que contribuíram para a insubsistência do quadro depressivo que outrora apresentara, TERIA DISCORRIDO SOBRE ISTO NA EXORDIAL, TERIA PRODUZIDO PROVA A RESPEITO E, SOBRETUDO, TERIA INDAGADO AO PERITO JUDICIAL ESTES ASPECTOS, a fim de que fossem elucidados à luz de fundamentos médicos consistentes e objetivos. Assim, tivessem sido apreciados os embargos de declaração na origem, o Egrégio TRF5 teria concluído pela nulidade do julgamento que se pronunciou sobre aspecto até então não debatido nos autos, sem possibilitar à parte prejudicada se manifestar previamente, conforme dispõe os artigos 9 e 10 do CPC/15, e como assevera a nossa melhor doutrina. Eis a lição de Fredie Didier Jr: “É muito importante observar que a regra impõe a audiência da parte para que a decisão seja proferidacontra ela. Se a decisão for favorável à parte, não há necessidade de ela ser ouvida. É por isso que se permitem o indeferimento da petição inicial (art. 330, CPC) e a improcedência liminar do pedido (art. 332, CPC), ambas as decisões favoráveis ao réu, proferidas sem que ele ao menos tenha sido citado. É em razão disso, também, que o relator somente precisa ouvir o recorrido se for dar provimento ao recurso (art. 932, V, CPC); não há necessidade de ouvi-lo se negar provimento ou não admitir o recurso. Também é por isso que o órgão julgador somente ouvirá o embargado, se o acolhimento dos embargos de declaração implicar modificação da decisão embargada; se a decisão permanecer (e-STJ Fl.585) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 10 de 29 inalterada, mesmo com o acolhimento dos embargos, não há razão para ouvir antes o embargado (art. 1.023, § 2°, CPC).”1 (grifou-se) Esse, inclusive, é o entendimento consolidado no C. STJ. Veja-se: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO NCPC. FAMÍLIA. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. PERÍODO DE CONVIVÊNCIA. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO COM BASE EM DECISÃO SURPRESA. OFENSA AO ART. 10 DA NCPC CONFIGURADA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (...) 2. Sentença de parcial procedência mantida pelo acórdão recorrido, definindo até o termo inicial da união estável, que repercutiu na esfera patrimonial dos litigantes, com amparo em fundamentação sobre a qual não se deu oportunidade de manifestação às partes, padece de nulidade e deve ser ineficaz em relação a elas, em virtude da vedação da chamada "decisão surpresa". 3. O princípio da cooperação e também o da "não surpresa" previstos no art. 10 do NCPC - que são desdobramentos do devido processo legal -, permitem e possibilitam que os sujeitos processuais possam influir concretamente na formação do provimento jurisdicional, garantindo um processo mais justo e isonômico, motivo pelo qual não se pode admitir que a sentença se valha de fatos trazidos pelo Ministério Público local não conhecidos por elas e não submetidos ao contraditório, impondo-lhes notório prejuízo. 4. Recurso especial provido.”2 (grifou-se) “RECURSO ESPECIAL. REIVINDICATÓRIA. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU ERRO MATERIAL. NÃO OCORRÊNCIA. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. NÃO SURPRESA. VEDAÇÃO. NECESSIDADE DE MANIFESTAÇÃO PRÉVIA. CONTRADITÓRIO. INTERAÇÃO. COOPERAÇÃO. (...) 6. O art. 10 do CPC/2015 estabelece que o juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Precedente. 7. Recurso especial conhecido e provido.”3 (grifou-se) Posto isso, fica claro que a Recorrente cuidou de apontar evidente omissão à Corte Regional, opondo tempestivamente os embargos de declaração, de modo que o TRF5 violou o art. 1.022, inciso II, do CPC, ao deixar de apreciar a omissão que certamente teria conduzido o julgamento para conclusão diversa, qual seja, pelo desprovimento do apelo da União Federal e manutenção da sentença de piso. Sendo assim, outro desfecho não há senão o conhecimento e provimento do presente Agravo, para que seja conhecido o apelo nobre, o qual haverá de ser julgado totalmente provido, no sentido de o Colendo Superior Tribunal de Justiça declarar nulo o 1 DIDIER JR. Fredie. Curso de direito processual civil. Vol. I, Salvador: Juspodivm, 2016, p. 85-86 2 STJ - REsp 1824337/CE, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/12/2019, DJe 13/12/2019. 3 STJ - REsp 1787934/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/02/2019, DJe 22/02/2019. (e-STJ Fl.586) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 11 de 29 Acórdão recorrido e, via de consequência, determinar que o órgão julgador a quo proceda a novo julgamento dos Embargos de Declaração, pronunciando-se expressamente acerca das omissões suscitadas. B) DA OMISSÃO QUANTO AO CARÁTER INCONTROVERSO DA CONCLUSÃO DA PROVA TÉCNICA PRODUZIDA EM JUÍZO. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 371 E 479, DO CPC. Nos aclaratórios opostos perante o TRF5, a Recorrente ainda evidenciou a omissão do julgamento acerca do caráter incontroverso da prova técnica produzida em juízo, que não dava margem a conclusão diversa daquela expressa na perícia que apontou a total aptidão da servidora para o serviço. Conforme demonstrado, durante o curso do processo no 1º grau, foi designada perícia médica que foi realizada respondendo quesitos do Magistrado a quo, bem como dos assistentes das partes, em que O DOUTO PERITO JUDICIAL CONCLUIU, em 20/08/2018, PELA APTIDÃO IRRESTRITA DA SERVIDORA PARA O DESEMPENHO DE QUALQUER ATIVIDADE LABORAL. Deixou o Acórdão de observar que, instada a se manifestar, a União, através da assistente técnica da FUNASA, afirmou que nada tinha a contestar sobre o laudo psiquiátrico forense. Veja-se: “(...) 3. Com relação ao Laudo Psiquiátrico Forense emitido pelo psiquiatra forense Dr. José Brasileiro Dourado Júnior CREMEPE-18.912 na cidade de Porto Alegre-RS em 20/08/2018, nada temos a contestar” (grifou-se) Nesse contexto, deixou o acórdão vergastado de observar que TODAS AS MANIFESTAÇÕES TÉCNICAS DO PROCESSO CONVERGEM PARA O ENTENDIMENTO DE QUE A SRA. VALESKA DUTRA FERREIRA SE ENCONTRA APTA PARA O EXERCÍCIO DE QUALQUER ATIVIDADE LABORAL, posto que a própria assistente técnica da União afirmou que nada tinha a contestar sobre as conclusões do perito judicial. O acórdão também foi omisso ao deixar de constatar que as conclusões técnicas são tão fidedignas ao caso concreto que, em razão da tutela antecipada da (e-STJ Fl.587) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 12 de 29 Sentença, a recorrente retomou as suas atividades laborais desde 24/01/2.019, por mais de 2 (dois) anos, sem qualquer reincidência da doença que outrora a acometeu. Pelo contrário, LABOROU NESSE PERÍODO SEM SE AUSENTAR UM ÚNICO DIA E COM AVALIAÇÕES DE DESEMPENHO POSITIVAS, o que demonstra, de forma nítida, a sua aptidão ao desempenho de suas funções, o que, por si só, já seria argumento suficiente para afastar a malfadada declaração de sua precoce morte profissional no serviço público. No caso, o acórdão do TRF5 sobrepesou parte da manifestação da assistente técnica da União de maneira desproporcional e sem atentar-se, data maxima venia, que não há qualquer documento que comprove a veracidade das informações sobre as faltas da servidora, extraindo conclusões que não decorrem da prova dos autos. Veja-se no trecho destacado do acórdão: “Dos esclarecimentos trazidos pela Médica Dra. Rosanna Câmara de Sá, integrante dos Quadros de Médicos da FUNASA, Ente que foi responsável pela avaliação de saúde da Autora, foram destacados os seguintes trechos, verbis: (Id. 4058300.6382503): "a) no período de 15/05/2006 a 07/04/2015, a pericianda totalizou 1.430 dias de licença médica para tratamento da própria saúde, estando excluídos desse número, outros 120 dias referentes à licença maternidade em 2008, distribuídos da seguinte forma: - Ano de 2006 = 033 - Ano de 2007 = 051 - Ano de 2008 = 040 - Ano de 2009 = 001 - Ano de 2010 = 236 - Ano de 2011 = 311 - Ano de 2012 = 248 - Ano de 2013 = 220 - Ano de 2014 = 200 - Ano de 2015 = 090 b) quase a totalidade das licenças médicas tinha diagnóstico relacionado a Transtornos Mentais e Comportamentais de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10: F00-F99); c) em várias oportunidades contamos na formação da JMO-FUNASA-PE com, pelo menos, com um médico psiquiatra participando da perícia da autora, quais seja, doutora Keila Albuquerque CRM-PE 13.026 e Dr. Ricardo Vianna de Barros CRM-PE 7.028; d) foram sugeridas junto aoórgão e origem outras medidas, como por ex., mudança de setor no ambiente de trabalho (readaptação funcional), numa tentativa de adequação às necessidades da autora, sugestões essas acatadas pelo órgão, que trouxe a então servidora, do então trabalho ostensivo externo para o setor de trabalho interno, visando o bem estar da mesma; e) após constatarmos que as medidas não resultaram no resultado esperado, uma vez que foram necessárias novas licenças pelos mesmos motivos anteriores e de acordo com as normas contidas no Manual de Perícia Oficial, concluímos pela sugestão de aposentadoria por invalidez decorrente de doença não especificada em lei, sugestão essa acatada pelo órgão e origem da então servidora".” (e-STJ Fl.588) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 13 de 29 Em seus embargos de declaração, a Recorrente apontou que nenhuma das afirmações trazidas no trecho supra possuem comprovação documental acostado aos autos que demonstrem a veracidade dos fatos narrados, e foram valorados em detrimento ao Laudo Médico forense, bem como ao histórico recente da servidora no retorno às suas atividades em virtude da tutela antecipada concedida. Com isso, demonstrou a flagrante omissão do julgamento do TRF5 acerca dos fundamentos que levaram os Douto Julgadores a afastar as provas produzidas por expert, que se revestiu de caráter incontroverso, posto que a posição final da médica assistente técnica da União foi no sentido de que nada tinha a contestar a respeito do Laudo Forense. Portanto, caso tivesse observado a prova técnica dos autos, conforme requerido nos embargos de declaração tempestivamente opostos, não haveria outro desfecho senão o improvimento da Apelação da União, face ao pronunciamento médico consistente e imparcial do perito judicial que concluiu pela sua aptidão, e – repita-se – não foi contestado pela sua médica assistente técnica. Como se sabe, o art. 371 do CPC/2015 determina que o convencimento judicial está adstrito à prova constante dos autos, não sendo possível o provimento judicial em dissonância com os elementos probatórios do processo, de modo que o convencimento do magistrado não pode se afastar da prova constante dos autos: Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento. Ainda que assim não o fosse, é possível constatar que os Doutos Julgadores deixaram de observar, data venia, que o requisito para a reversão da aposentadoria por invalidez, consiste, única e exclusivamente, em não mais subsistir os motivos da aposentadoria (que no caso sub examine é a remissão do quadro de depressão – o que efetivamente ocorreu). Nesse trilhar, o acórdão foi omisso quanto à demonstração, nos autos, tanto pela médica psiquiátrica que acompanhou o tratamento da Recorrente entre 16/01/2016 até 07/06/2017 (Dra. Keila Albuquerque), quanto pelo Psiquiatra forense em seu laudo produzido (e-STJ Fl.589) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 14 de 29 em 20/08/218 (Dr. José Brasileiro Dourado), que a Agravante estava totalmente apta para desempenhar as funções. Portanto, o acórdão deixou de observar que a análise das causas ou consequências da doença que acometeu a servidora não era ponto crucial para o desfecho da demanda, tendo em vista que o acórdão passou largo da verificação de que requisito legal para a reversão da aposentadoria é apenas a remissão da doença. Assim, tivesse a Egrégia Turma do TRF5 apreciado as omissões expostas nos aclaratórios, teria caminhado para conclusão diversa, que inevitavelmente ensejaria o não provimento do apelo da União e a manutenção da sentença que deferira a reversão da aposentadoria por invalidez da servidora. Sendo assim, outro desfecho não há senão o conhecimento e provimento do presente Agravo, para que seja conhecido o apelo nobre, o qual haverá de ser julgado totalmente provido, no sentido de o Colendo Superior Tribunal de Justiça declarar nulo o Acórdão recorrido e, via de consequência, determinar que o órgão julgador a quo proceda a novo julgamento dos Embargos de Declaração, pronunciando-se expressamente acerca das omissões suscitadas. III.2. DA PRETENSÃO RECURSAL UNICAMENTE DIRECIONADA A AFASTAR AS VIOLAÇÕES À LEGISLAÇÃO FEDERAL. DESNECESSIDADE DE REVOLVER OS FATOS E PROVAS PARA CONHECER DO RECURSO. NÃO INCIDÊNCIA DA SÚMULAS 07/STJ. Quanto às alegações de mérito do recurso especial, a decisão agravada aplica o enunciado da Súmulas 07/STJ, afirmando que “o exame do tema suscitado na peça recursal implica reexame probatório, o que é vedado em sede de Recurso Especial”. Analisando as razões do Especial, contudo, percebe-se que o conhecimento da insurgência não enseja o revolvimento dos fatos e das provas, nem tampouco provoca os Tribunais Superiores a se debruçarem circunstâncias fáticas da demanda. Provoca, tão só, (e-STJ Fl.590) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 15 de 29 essa Corte Superior a conferir a correta qualificação jurídica aos fatos já reconhecidos e apreciados pelas instâncias inferiores. Em hipóteses como a presente, não há que se falar em aplicação da Súmula 07/STJ, na medida em que o Especial não pretende revolver os fatos dos autos - vez que incontroversos os elementos concretos sobre os quais se baseia o Especial -, mas apenas provocar essa Corte a se manifestar quanto à qualificação jurídica dos fatos sobre os quais se baseou o acórdão vergastado. Em seus comentários aos enunciados do STJ e do STF, Roberto Rosas esclarece que o impedimento de valoração de provas não pode servir de obstáculo à apreciação de recursos em que se pretende apenas analisar a qualificação jurídica conferida aos fatos. Eis o que ensina o renomado autor: “A Súmula 279 do STF serviu de escudo ao exame do recurso extraordinário, muitas vezes com evidente injustiça, ou demasia, donde o surgimento de distinções necessárias como a valoração jurídica da prova, ou a qualificação jurídica da prova. Vejamos um exemplo, ao acaso: se a prova diz que um bem foi entregue a outra pessoa, para usá-lo sem nenhum pagamento (aluguel), e fica obrigado a devolvê- lo, essa prova diz, juridicamente, tratar-se de um comodato. Ora, nessa hipótese, não se reexamina a prova, ou a revê, apenas tira-se do seu exame a qualificação jurídica.” (In Direito Sumular. São Paulo: Malheiros, 2006, página 345) No mesmo sentido, o eminente professor Athos Gusmão Carneiro, citando nossa melhor doutrina e jurisprudência, ensina: “Todavia, como está em voto lapidar o Min. Franciulli Netto (2ª Turma do STJ, REsp. nº 171.219, AC. 12.03.2002, RSTJ – 159/230), existem hipóteses em que a seleção da situação jurídica atinge uma tal profundidade que, ao final, de sua análise, também se realizou a apreciação jurídica. E refere o magistério de Barbosa Moreira: ‘quando se passa de semelhante averiguação à qualificação jurídica do fato apurado, mediante o respectivo enquadramento de determinando conceito legal, já se enfrenta questão de direito. Basta ver que, para afirmar ou para negar a ocorrência de tal ou qual figura jurídica, necessariamente se interpreta a lei. Interpretação é o procedimento pelo qual se determinam o sentido e o alcance da regra de direito, a sua compreensão e sua extensão. Dizer que ela abrange ou não abrange certo acontecimento é, portanto, interpretá-la. Admitir a abrangência quando o fato não se encaixa na moldura conceptual é aplicar erroneamente a norma, como seria aplicá-la erroneamente não admitir a abrangência quando o fato se encaixasse na moldura conceptual. Em ambos os casos, viola-se a lei, tanto ao aplicá-lo à hipótese não contida em seu âmbito de incidência, quanto deixar de aplicá-laà hipótese nele contida’ (Temas de Direito Processual – Segunda Série, Saraiva, 1980, p.235)4.” 4 CARNEIRO, Athos Gusmão. Recurso Especial, agravos e agravo interno: exposição didática. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 36) (e-STJ Fl.591) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 16 de 29 De igual modo, a jurisprudência do STJ há muito se pacificou de modo a compreender que o julgamento acerca da aplicação do direito conferido aos fatos não vai de encontro à Súmula 07/STJ. Esse foi o entendimento firmado pela Corte Especial no julgamento do AgRg nos ERESP 134108/DF, relatado pelo Ministro Eduardo Ribeiro. Eis a ementa do julgado: “Recurso especial. Não ofende o princípio da Súmula 7 emprestar-se, no julgamento do especial, significado diverso aos fatos estabelecidos pelo acórdão recorrido. Inviável é ter como ocorridos fatos cuja existência o acórdão negou ou negar fatos que se tiveram como verificados” (AgRg nos ERESP 134108 / DF ; Rel Ministro EDUARDO RIBEIRO, CORTE ESPECIAL, in DJ 16.08.1999, p. 36) Partindo desse entendimento, diversos são os precedentes das Turmas desse Tribunal Superior, que vêm reiterando o entendimento consagrado pela Corte Especial. Seguem alguns exemplos: “TRIBUTÁRIO. ISS. USINA HIDRELÉTRICA. INSTALAÇÃO DE TURBINA. CONSTRUÇÃO CIVIL. INCIDÊNCIA. 1. Hipótese em que se discute a incidência do ISS sobre a montagem de turbinas em usina hidrelétrica que estava sendo construída no território do recorrido. 2. Inexiste controvérsia quanto aos fatos, o que afasta a aplicação da Súmula 7/STJ. 3. Tampouco se questiona a cobrança de ISS sobre os serviços de construção civil e o recolhimento ao Município em que está localizada a obra. 4. O cerne da lide está na qualificação jurídica dos serviços de montagem de turbinas e seu enquadramento no conceito de construção civil para fins de incidência do ISS. A empresa argumenta que não exerce essa atividade (construção civil). 5. Não há falar em usina hidrelétrica sem turbinas. Assim, é notório que a instalação desses equipamentos integra necessariamente a construção da usina. 6. O STJ tem jurisprudência no sentido de que a instalação de equipamentos de ar condicionado central é equiparada a serviço de construção civil, para a cobrança do ISS. 7. Se a instalação de ar-condicionado central, que é equipamento não essencial, configura serviço de construção civil, com muito mais razão a montagem de turbinas em usina hidrelétrica. 8. Recurso Especial não provido.” (RESP 200700999534, HERMAN BENJAMIN, STJ - SEGUNDA TURMA, 31/08/2009) “AGRAVO REGIMENTAL. QUALIFICAÇÃO JURÍDICA DAS PROVAS. SÚMULA 7. INAPLICABILIDADE. CONTRATO. DESCUMPRIMENTO. DANO MORAL. INADMISSÍVEL. - É possível, em recurso especial, a valoração jurídica dos fatos constantes do acórdão recorrido para a correta aplicação do direito ao caso. - Não cabe dano moral em caso de mero descumprimento contratual.” (AGRESP 200501035046, HUMBERTO GOMES DE BARROS, STJ - TERCEIRA TURMA, 12/12/2007) “PROCESSUAL CIVIL – ACÓRDÃO RECORRIDO COM FUNDAMENTO EXCLUSIVAMENTE INFRACONSTITUCIONAL – JUNTADA DA CERTIDÃO COMPROBATÓRIA DA INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO CONTRA A DECISÃO QUE INADMITIU RECURSO EXTRAORDINÁRIO – DESNECESSIDADE – CONTRATO ADMINISTRATIVO – QUALIFICAÇÃO JURÍDICA DOS FATOS – NÃO INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ – DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO-CONFIGURADA. 1. Assiste razão à recorrente, ao sustentar que não se é de exigir, in casu, a juntada de certidão comprobatória da interposição de agravo de instrumento contra decisão que inadmitiu o recurso extraordinário, uma vez que o v. acórdão recorrido não (e-STJ Fl.592) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 17 de 29 abriga fundamento constitucional. 2. No tocante à pretendida violação dos artigos 159 e 1059 do Código Civil de 1916, é evidente que merece ser conhecido o recurso, pois tanto a questão do cabimento de lucros cessantes quanto o pretendido pagamento pelo acréscimo de obras realizadas podem ser apreciados por esta Corte através da qualificação jurídica dos fatos, que difere da mera análise fática-probatória. Não-aplicação da Súmula 7 do STJ. (...) Agravo regimental provido, para conhecer parcialmente do recurso especial, tão-somente pela alínea "a", e dar-lhe provimento.” (AGA 200500793863, HUMBERTO MARTINS, STJ - SEGUNDA TURMA, 27/08/2007) Ainda, com absoluta pertinência, Tereza Arruda Alvim, expõe a dificuldade em se traçar os limites da distinção entre fato e direito com rigor necessário à delimitação do cabimento recursal. “Rigorosamente seria impossível fazê-la, pelo menos no plano ontológico, já que o fenômeno direito ocorre, de fato, no momento da incidência da norma no mundo real, no universo empírico. As decisões judiciais são proferidas depois do que se pode ver como um movimento pendular, que se dá entre o mundo dos fatos e o das normas, até que o aplicador da lei consiga enxergar com clareza a subsunção qualificando os fatos e determinando-lhes as consequências do plano normativo” (Aspectos Polêmicos e Atuais do Recurso Especial e do Recurso extraordinário, RT, 1997, PP. 448-449).” Ora, não se pode deixar permanecer uma leitura legalista do verbete sumular em questão a pretexto de uma interpretação literal da parte em que se lê “simples reexame de prova”, restando absolutamente permitido atribuir-se significado diverso aos fatos estabelecidos no acórdão recorrido. Ademais, os problemas de interpretação da norma também podem colocar- se como problemas de interpretação dos fatos, ou seja, problemas na subsunção em si. Há violação à ordem jurídica tanto ao se aplicar o direito de modo equivocado quanto ao se conceber erroneamente um fato sobre o qual incidia a lei correta. Tanto num quanto noutro caso, há aplicação incorreta da lei. Identificando-se o fato de modo impreciso, fatalmente se aplicará a lei também de modo impreciso, pois se aplicará a lei errada, ou seja, a lei inaplicável à situação. Nesse sentido, Cândido Rangel Dinarmarco afirma que diferentemente do exame e do reexame da prova é a valoração jurídica das fontes e meios de prova produzidos nos autos. Já não se trata de exercer o poder de livre convencimento para captar as radiações informativas emanadas das fontes, mas de atribuir a cada uma destas e aos meios de prova o valor em que alguns casos a lei estabelece. (Dinamarco, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil, 2003). (e-STJ Fl.593) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 18 de 29 Nesse diapasão, a valoração da prova envolve questão de direito e, assim, a matéria se insere no âmbito do recurso especial. Discussão sobre o critério legal de valoração traduz, inquestionavelmente, matéria de direito federal. Assim, é viável o recurso especial caso a errônea interpretação ou capitulação dos fatos penetre na órbita da qualificação jurídica dos fatos, tendo em vista constituir questão de direito, permitindo a análise pelo STJ do mérito do recurso especial. No caso em apreço, são inequívocos os fatos que permeiam as alegações de ofensa aos arts. 9º e 10 do CPC/2015; aos arts. 371 e 479 do CPC c/c art. 25, inciso I, da Lei 8.112/1990, e ao art. 186, I, da Lei 8.112/1990. Inicialmente, não é necessário adentrar nos fatos para perceber que o julgamento recorrido inovou nas razões de decidir sem possibilitar à Recorrente manifestar- se sobre fundamentos que, até então, sequer haviam sido entabulados no processo. Ademais, não requer incursão nos fatos, bastando apreciar elementos incontroversos no caso, a apreciação da alegada ofensa à Lei 8.112/1990, posto que o acórdão recorrido estipulou requisitos diversos da Lei para a promoção da reversão da aposentadoria por invalidez, bem como conferiu força probatória a opinativo técnico elaborado unilateralmente, ignorandoa perícia judicial. O acórdão recorrido feriu, pois, norma federal, sendo desnecessário reverem- se provas para chegar a essa conclusão, como se demonstrou fartamente nas razões do recurso especial da Agravante. Ao que se vê, em nenhuma hipótese se convida o STJ a inovar nos fatos e adentrar no acervo probatório dos autos, de modo que merece ser reformada a decisão agravada para afastar a incidência das Súmula 07/STJ no caso em apreço. (e-STJ Fl.594) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 19 de 29 Neste contexto, para que não restem dúvidas, convém mais uma vez repisar os fundamentos do Recurso Especial quanto às alegações de mérito. A) VIOLAÇÃO AOS ARTS. 9º E 10 DO CPC/2015. DA INOBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO E DO PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO À DECISÃO SURPRESA. NULIDADE DO ACÓRDÃO. Como corolário do princípio do contraditório, o Código de Processo Civil de 2015 estabeleceu expressamente a obrigatoriedade de que a parte contrária seja ouvida previamente antes de qualquer decisão que lhe venha a ser desfavorável. É o que determina o art. 9º do CPC/2015: Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I - à tutela provisória de urgência; II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III ; III - à decisão prevista no art. 701 . Logo em seguida, o Código de Ritos traz a vedação à chamada decisão surpresa, ao impedir que o juiz decida, em qualquer grau de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar. É o que estabelece o art. 10 do CPC vigente: Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. No caso em apreço, olvidando-se das regras claramente consignadas nos dispositivos acima, o acórdão vergastado sobreveio, para total surpresa da então Apelada, advogando tese que jamais fora debatida nos autos, defendendo conclusões técnicas que em nenhum momento foram sequer articuladas nos pronunciamentos médicos constantes do processo. Com efeito, analisando os autos, é possível verificar que o embate travado no processo, até aqui, se restringia à verificação da subsistência (ou não) do quadro clínico que motivara a aposentadoria, por invalidez, da recorrente. (e-STJ Fl.595) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 20 de 29 Foi sobre isto que tratou a inicial, demonstrando que a doença outrora existente não mais subsistia. Também sobre isto versou a Contestação, defendendo que o exame clínico realizado administrativamente teria concluído o contrário. Por fim, sobre isto também tratou a perícia técnica, bem como os quesitos formulados pelas partes e os pronunciamentos dos assistentes técnicos - -que apenas analisaram, à luz dos conceitos médicos, a subsistência da doença outrora acometida pela Apelada. Aliás, sobre isto, vale ressaltar que sequer houve dissenso nos autos, pois o laudo do perito judicial concluiu pela total e irrestrita aptidão da Recorrente para qualquer espécie de trabalho, tendo a médica Assistente Técnica da União – Dra. Rosanna Camara de Sá – apresentado manifestação técnica asseverando que nada tinha a contestar (fato incontroverso constate do acórdão recorrido – vide id. 4050000.22718379). Inaugurado debate médico até então realizado nos autos, e sem fundamentos técnicos para discordar do inequívoco fato da insubsistência da doença, o acórdão recorrido entendeu por bem indicar quais seriam, na sua visão, as causas da doença que acometera a Recorrente, bem como as razões que, no seu ponto de vista, teriam contribuído para a melhora clínica apresentada. Neste contexto, o acórdão invoca como causa da doença o próprio exercício laboral, senão vejamos da seguinte passagem da Ementa: 14. É possível se concluir que os sintomas psiquiátricos da Autora estão (estavam) diretamente ligados ao exercício das atribuições do cargo de Policial Rodoviário Federal, ainda que desempenhado no âmbito administrativo. Isso porque só depois de decorrido um ano de sua aposentadoria (início de 2017), é que a paciente pode cessar com os medicamentos (Valdoxan) e apenas em 05/06/2017 é que a mesma pode receber alta dos tratamentos, conforme o Laudo Psiquiátrico de Identificador nº 4058300.4913151. Na mesma toada, afirma que a aposentadoria por invalidez da autora seria medida necessária, pois o seu afastamento do trabalho teria sido a causa da sua melhora clínica: 15. O mesmo raciocínio de que a melhora na sintomatologia se deve ao afastamento das funções do cargo vale para explicar o resultado do Laudo Psiquiátrico forense realizado em 20/08/2018 que constatou a remissão completa dos sintomas, mas isso somente após a Autora já estar afastada das funções há 2 (dois) anos e meses. (e-STJ Fl.596) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 21 de 29 Ao que se vê, o acórdão recorrido passou a tratar sobre as causas da doença e sobre as razões da melhora apresentada pela recorrente, sem que este tema tivesse sido, em nenhum momento discutido na demanda. Como não poderia deixar de ser, tratando-se de ação de reversão de aposentadoria, com fundamento no art. 25, inciso I, do Estatuto dos Servidores Públicos, todo o embate da demanda se ateve à insubsistência da doença que motivara a aposentadoria. Ora, sendo a sua aptidão para o trabalho neste momento o único ponto discutido na demanda, a Recorrente se ateve apenas a este aspecto ao longo de toda a demanda, inclusive da instrução probatória. Soubesse a então Recorrente que seriam controvertidas as causas do seu adoecimento, bem como os elementos que contribuíram para a insubsistência do quadro depressivo que outrora apresentara, teria discorrido sobre isto na exordial, teria produzido prova a respeito e, sobretudo, teria indagado ao perito judicial estes aspectos, a fim de que fossem elucidados à luz de fundamentos médicos consistentes e objetivos. Mas não é só. Se tivesse conhecimento deste novo tema a ser tratado nos autos, a Recorrente poderia ter trazido a conhecimento da Egrégia Turma que, por força da tutela antecipada na sentença, retomou as suas atividades laborais há cerca de 02 (dois) anos sem que isto tenha levado à reincidência da doença outrora acometida. E, além disso, teria noticiado que as suas avaliações de desempenho após a reversão da aposentadoria foram todas positivas, demonstrando, de forma inequívoca, que a Autora se encontra apta ao desempenho das funções, como bem atestou a perícia judicial, sendo do interesse particular da servidora e do interesse público que ela permaneça exercendo o trabalho para o qual foi aprovada em concurso público e pelo qual a União Federal lhe remunera. Neste contexto, viola as disposições expressas do CPC o acórdão vergastado ao adotar como razão de decidir matéria até então não debatida nos autos, sem possibilitar à parte prejudicada se manifestar previamente sobre o tema, conforme dispositivos legais adrede transcritos (arts. 9º e 10 do CPC/2015), e como assevera a nossa melhor doutrina. Nesse sentido, eis a lição de Fredie Didier Jr: (e-STJ Fl.597) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 22 de 29 É muito importante observar que a regra impõe a audiência da parte para que a decisão seja proferida contra ela. Se a decisão for favorável à parte, não há necessidade de ela ser ouvida. É por isso que se permitem o indeferimento da petição inicial (art. 330, CPC) e a improcedência liminar do pedido (art. 332, CPC), ambasas decisões favoráveis ao réu, proferidas sem que ele ao menos tenha sido citado. É em razão disso, também, que o relator somente precisa ouvir o recorrido se for dar provimento ao recurso (art. 932, V, CPC); não há necessidade de ouvi-lo se negar provimento ou não admitir o recurso. Também é por isso que o órgão julgador somente ouvirá o embargado, se o acolhimento dos embargos de declaração implicar modificação da decisão embargada; se a decisão permanecer inalterada, mesmo com o acolhimento dos embargos, não há razão para ouvir antes o embargado (art. 1.023, § 2°, CPC). (DIDIER JR. Fredie. Curso de direito processual civil. Vol. I, Salvador: Juspodivm, 2016, p. 85-86) No mesmo vértice, o Superior Tribunal de Justiça já assentou a sua jurisprudência no sentido de anular decisões proferidas sem a observância do contraditório prévio, prestigiando os princípios do contraditório, da cooperação e da não surpresa: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO NCPC. FAMÍLIA. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. PERÍODO DE CONVIVÊNCIA. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO COM BASE EM DECISÃO SURPRESA. OFENSA AO ART. 10 DA NCPC CONFIGURADA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Aplicabilidade das disposições do NCPC, no que se refere aos requisitos de admissibilidade do recurso especial ao caso concreto ante os termos do Enunciado Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/15 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade na forma do novo CPC. 2. Sentença de parcial procedência mantida pelo acórdão recorrido, definindo até o termo inicial da união estável, que repercutiu na esfera patrimonial dos litigantes, com amparo em fundamentação sobre a qual não se deu oportunidade de manifestação às partes, padece de nulidade e deve ser ineficaz em relação a elas, em virtude da vedação da chamada "decisão surpresa". 3. O princípio da cooperação e também o da "não surpresa" previstos no art. 10 do NCPC - que são desdobramentos do devido processo legal -, permitem e possibilitam que os sujeitos processuais possam influir concretamente na formação do provimento jurisdicional, garantindo um processo mais justo e isonômico, motivo pelo qual não se pode admitir que a sentença se valha de fatos trazidos pelo Ministério Público local não conhecidos por elas e não submetidos ao contraditório, impondo-lhes notório prejuízo. 4. Recurso especial provido.” (REsp 1824337/CE, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/12/2019, DJe 13/12/2019) “RECURSO ESPECIAL. REIVINDICATÓRIA. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU ERRO MATERIAL. NÃO OCORRÊNCIA. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. NÃO SURPRESA. VEDAÇÃO. NECESSIDADE DE MANIFESTAÇÃO PRÉVIA. CONTRADITÓRIO. INTERAÇÃO. COOPERAÇÃO. (...) 6. O art. 10 do CPC/2015 estabelece que o juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Precedente. 7. Recurso especial conhecido e provido.” (REsp 1787934/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/02/2019, DJe 22/02/2019) (e-STJ Fl.598) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 23 de 29 Nesse contexto, fica evidente que o acórdão recorrido violou os princípios da cooperação e da não surpresa previstos no CPC/2015 em seus arts. 9º e 10, pelo que se evidencia a necessidade do conhecimento e provimento do presente Agravo, para que seja conhecido o apelo nobre, o qual haverá de ser julgado totalmente provido, a fim de anular o acórdão recorrido, que inaugurou na demanda o debate sobre aspectos técnicos que jamais haviam sido sequer suscitados nos autos e utilizou destes aspectos como principais razões de decidir no momento em que deu provimento à apelação da União e indeferiu o pedido autoral de reversão da aposentadoria por invalidez. B) VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 371 E 479, DO CPC E AO ART. 25, INCISO I, DA LEI 8.112/1990. DA PROVA TÉCNICA UNÂNIME APONTANDO A APTIDÃO DA RECORRENTE PARA O EXERCÍCIO DAS SUAS FUNÇÕES. COMPROVAÇÃO DA APTIDÃO COMO ÚNICO REQUISITO DO DISPOSITIVO LEGAL PARA A REVERSÃO DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. Analisando o acórdão recorrido, verifica-se que o julgamento efetivamente reconhece que o regramento jurídico aplicável à espécie é o art. 25 da Lei Federal nº. 8.112/1990, que assim dispõe: Art. 25. Reversão é o retorno à atividade de servidor aposentado: I - por invalidez, quando junta médica oficial declarar insubsistentes os motivos da aposentadoria; II - no interesse da administração, desde que: a) tenha solicitado a reversão; b) a aposentadoria tenha sido voluntária; c) estável quando na atividade; d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos anteriores à solicitação; e) haja cargo vago. Contudo, a despeito da expressa previsão legal, que exige como único requisito da reversão a insubsistência dos motivos da aposentadoria, o acórdão do TRF5 decidiu indeferir o pedido autoral de retorno à ativa impondo-lhe condições não previstas na Lei. Analisando o acórdão, percebe-se que o julgamento do TRF5 firmou a premissa inequívoca no sentido de que a prova dos autos concluiu pela aptidão da servidora para o trabalho. Eis a ementa do acórdão: (e-STJ Fl.599) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 24 de 29 “10. Não obstante a taxatividade dos Laudos que concluíram pela aptidão da Autora para o exercício "de qualquer atividade", não se pode olvidar que o quadro de transtornos comportamentais da servidora se reporta aos idos do ano de 2006, tendo persistido até o momento do exame Pericial que concluiu pela necessidade do seu afastamento definitivo em 10/03/2015, o que foi reiterado por novo Laudo Psiquiátrico elaborado pela Junta Médica Oficial em 10/10/2017, por ocasião da análise do requerimento de reversão.” Contudo, a despeito dessa premissa que já atenderia ao requisito imposto pelo art. 25, inciso I, do Estatuto dos Servidores Públicos, o acórdão resolveu criar requisitos não previstos em Lei, imiscuindo-se nas supostas origens da enfermidade outrora acometida pela servidora, realizando suposições que não encontram nenhum respaldo no já transcrito dispositivo da Lei nº. 8.112/1990: 12. O que se pode concluir dos dados elencados nos autos é que o Parecer da Junta Médica Oficial foi acertado, porquanto visou a um só tempo a preservar o interesse público e também o interesse e bem-estar da própria Autora, que durante 9 (nove) anos consecutivos de desempenho da função de Policial Federal (2006 a 2015; a Autora tomou posse em 2005), teve que se afastar para tratamento de saúde por períodos cada vez mais longos, chegando a 311 dias no ano de 2011, 248 dias em 2012, 220 dias em 2013, por exemplo, vindo a obter progresso nos tratamentos tão somente após o seu afastamento definitivo das funções de Policial Rodoviário Federal, o que ocorreu em 16/01/2016. (...) 14. É possível se concluir que os sintomas psiquiátricos da Autora estão (estavam) diretamente ligados ao exercício das atribuições do cargo de Policial Rodoviário Federal, ainda que desempenhado no âmbito administrativo. Isso porque só depois de decorrido um ano de sua aposentadoria (início de 2017), é que a paciente pode cessar com os medicamentos (Valdoxan) e apenas em 05/06/2017 é que a mesma pode receber alta dos tratamentos, conforme o Laudo Psiquiátrico de Identificador nº 4058300.4913151. 15. O mesmo raciocínio de que a melhora na sintomatologia se deve ao afastamento das funções do cargo vale para explicar o resultado do Laudo Psiquiátrico forense realizado em 20/08/2018 que constatou a remissão completa dos sintomas, mas isso somente após a Autora já estar afastadadas funções há 2 (dois) anos e meses. O r. acórdão ignora, com todas as vênias, que as manifestações técnicas do processo convergem para o entendimento de que a Sra. Valeska Dutra Ferreira se encontra apta para o exercício de qualquer atividade laboral, posto que a própria assistente técnica da União afirmou que nada tinha a contestar sobre as conclusões do perito judicial. Inclusive o novo Código de Processo Civil traz, em seus artigos 371 e 479, que o livre convencimento do Douto Julgador está adstrito à prova constante nos autos, indicando os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo. Veja- se: (e-STJ Fl.600) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 25 de 29 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento. (grifou-se) Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art. 371, indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo perito. (grifou-se) As conclusões técnicas são tão fidedignas ao caso concreto que, em razão da tutela antecipada da Sentença, a Recorrente retomou as suas atividades laborais desde 24/01/2.019, por mais de 2 (dois) anos, sem qualquer reincidência da doença que outrora a acometeu. Ao contrário do que decidiu o acórdão do TRF5, a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça é uníssona ao afirmar que a insubsistência dos motivos da aposentadoria, caracterizada pela aptidão do servidor para o trabalho, é suficiente para a concessão do pedido de reversão da aposentadoria por invalidez, senão vejamos: “ADMINISTRATIVO. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 2/STJ. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. REVERSÃO. INSUBSISTÊNCIA DOS MOTIVOS GERADORES DA INCAPACIDADE LABORAL. POSSIBILIDADE. DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. TEORIA DA ACTIO NATA. 1. Não há óbices ao conhecimento dos recursos especiais submetidos a esta Corte Superior pelo Estado e pela Assembleia recorrente. 2. A aposentadoria por invalidez é de ordem temporária. 3. Verificada a insubsistência dos motivos geradores da incapacidade laboral, deve a Administração Pública proceder à reversão ao serviço público de servidor aposentado por invalidez. 4. "O servidor aposentado por invalidez poderá ser convocado a qualquer momento para reavaliação das condições que ensejaram a aposentadoria, procedendo-se à reversão, com o seu retorno à atividade, quando a junta médica oficial declarar insubsistentes os motivos da aposentadoria (...)" (MS 15.141/DF, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, CORTE ESPECIAL, DJe 24/05/2011), 5. A pretensão somente se inicia com a ciência da insubsistência dos motivos que ensejaram a aposentadoria, uma vez que, aqui, não se está diante de anulação ou revogação do ato originário concessivo. 6. "O curso do prazo prescricional do direito de reclamar inicia-se somente quando o titular do direito subjetivo violado passa a conhecer o fato e a extensão de suas conseqüências, conforme o princípio da 'actio nata'" (REsp 1257387/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, DJe 17/09/2013). 7. Embargos de declaração acolhidos como agravos regimentais, agravos regimentais não providos.” (EDcl no REsp n. 1.443.365/SC, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 10/5/2016, DJe de 16/5/2016.) “ADMINISTRATIVO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. CESSAÇÃO DOS MOTIVOS. REVERSÃO. POSSIBILIDADE. TRANSFORMAÇÃO. CARGOS BACEN. REGIME CELETISTA EM ESTATUTÁRIO. ENQUADRAMENTO DO SERVIDOR NO RJU. CABIMENTO. 1. Cuida-se, na origem, de Mandado de Segurança impetrado por Hélio de Andrade Carvalho, ex-funcionário do Bacen, aprovado no Concurso Público 6608215552, de (e-STJ Fl.601) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 26 de 29 21.8.1966, e aposentado por invalidez em 1976, visando retornar ao serviço público por meio de reversão de sua aposentadoria. 2. O Tribunal a quo consignou ter o recorrido passado por junta médica oficial, a qual atestou sua aptidão física para o trabalho. Assim, não pode o STJ rever tal entendimento com base na Súmula 7/STJ. 3. Na hipótese, por se tratar de aposentadoria por invalidez, no qual o afastamento do serviço se deu independentemente da vontade do servidor (por moléstia grave), e havendo expressa determinação legal de retorno às atividades normais (cessado o motivo da aposentadoria e após aprovação de junta médica), não há como concluir diversamente da natureza provisória desse afastamento. 4. Ocorrendo reversão do servidor aposentado por invalidez, esta se fará no mesmo cargo ou naquele resultante de sua transformação. In casu, o cargo que o recorrido ocupava, antes regido pela CLT, foi transformado, por determinação constitucional (art. 39 da CF), em estatutário com o advento da Lei 8.112/1990. É nessa nova situação funcional que o servidor deve ser enquadrado. 5. Recurso Especial não provido.” (REsp n. 1.253.093/DF, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 20/10/2011, DJe de 24/10/2011.) Nesse diapasão, a própria jurisprudência do Egrégio TRF5 se encaminha no mesmo sentido do requerimento autoral: “ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. REVERSÃO.APOSENTADORIA POR INVALI DEZ. ART. 25 DA LEI 8.112/90. LAUDO PERICIAL. CAPACIDADE LABORAL. POSSIBILIDADE. 1. Nos termos do art. 25, I, da Lei n. 8.112/90, o servidor público aposentado por invalidez, após a comprovação que não mais subsistem os motivos que ensejaram a aposentadoria, por junta médica oficial, pode retornar às suas atividades profissionais. 2. No presente caso, a perícia confirmou o diagnóstico de "Espondilite Anquilosante, esclarecendo que se trata de uma doença grave que ordinariamente provoca muita dor, embora esta não possa ser medida", e concluiu, ao final, "pela capacidade laboral do réu, desde que realizadas determinadas condições pela União." 3. Consoante destacou a sentença, "...não persiste a incapacidade permanente que levou à concessão do benefício de aposentadoria por invalidez ao ora réu, sendo possível a sua reversão, desde que atendidas pela União as condições de adaptação do ambiente de trabalho, bem com de fixação de carga horária que permita a continuidade do tratamento do servidor, conforme ficou ressaltado pela perita em seu laudo." 4. Apelação improvida. (AC 200980000042714 AC - Apelação Cível – 520395, Desembargador Federal Geraldo Apoliano, TRF5 – Terceira Turma, DJE - Data::26/03/2013 - Página::623) ADMINISTRATIVO. SERVIDOR DA UFC- UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. REVERSÃO. LAUDO PERICIAL. CAPACIDADE COMPROVADA. I - A Lei 8112/90 em seu artigo 25, I dispõe que a reversão da aposentadoria por invalidez do servidor ocorrerá quando junta médica oficial declarar inexistentes os motivos da aposentadoria. II - No caso dos autos, a perícia judicial concluiu pela capacidade do autor para voltar ao trabalho. III - Ressalte-se, ainda, que não deve prosperar a alegação de que a invalidez deve ser declarada por Junta Médica Oficial, vez que a perícia judicial supre referida exigência, além de ter sido respeitado o contraditório, ocasião em que a UFC não impugnou o conteúdo da perícia, limitando-se apenas a alegar a necessidade de junta médica. IV - Apelação e remessa oficial improvidas. (APELREEX 200881000045300 APELREEX - Apelação / Reexame Necessário – 19762. Desembargadora Federal Margarida Cantarelli, TRF5- Quarta Turma, DJE - Data::25/11/2011 - Página::155). (e-STJ Fl.602) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 27 de 29 Aliás, conforme se verificado do julgamento abaixo, até mesmo nos casos onde se constata a possibilidade de ocorrerem crises pontuais da doença,a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 5ª Região entendeu que o servidor deve ser reintegrado ao trabalho, pois a possibilidade de eventos episódicos de crise não descaracteriza a reversão da doença: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. REVERSÃO DE APOSENTADORIA. LAUDO PERICIAL. RISCO DE CRISES QUE NÃO AFASTA A CAPACIDADE PROFISSIONAL. 1. Conforme enuncia o art. 25, I, da Lei nº 8.112/90, é possível reversão da aposentadoria por invalidez quando a junta médica oficial declarar insubsistentes os motivos da aposentadoria, devendo o servidor retornar às suas atividades profissionais. 2. No caso dos autos, o laudo elaborado pelo perito judicial, a despeito de registrar a existência de capacidade laborativa, deixou consignada a possibilidade de haver novo episódio de incapacidade (o demandante é portador de transtorno afetivo bipolar), acaso sujeito o postulante "a fatores de estresse". A existência de eventuais episódios de crise, todavia, não justifica a permanência da aposentadoria por invalidez do suplicante. 3. Apelação desprovida. (AC 00039117820114058400, Desembargadora Federal Joana Carolina Lins Pereira, TRF5 - Terceira Turma, DJE - Data::05/12/2013 - Página::489.) Ao que se vê, o acórdão recorrido violou manifestamente o disposto no art. 25, inciso I, da Lei Federal nº. 8.112/1990 ao concluir pelo indeferimento da reversão da aposentadoria da servidora, mesmo diante da prova inequívoca da insubsistência da enfermidade e da sua aptidão para o trabalho, criando requisitos não previstos na Lei. Por todo exposto, requer-se, desde já, o conhecimento e provimento do presente Agravo, para que seja conhecido o apelo nobre, o qual haverá de ser julgado totalmente provido, com fulcro nas violações aos dispositivos acima destacados, para, reformando a decisão atacada e restabelecendo a higidez da legislação infraconstitucional, sejam aplicadas as normas cogentes previstas no art. 25, inciso I, da Lei Federal nº. 8.112/1990, determinando a reversão da aposentadoria por invalidez, ante ao caráter incontroverso da insubsistência dos seus motivos. C) VIOLAÇÃO AO ART. 186, I, DA LEI 8.112/1990. DA PERCEPÇÃO DE PROVENTOS INTEGRAIS PARA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ DECORRENTE DO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES. (e-STJ Fl.603) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 28 de 29 Na remota hipótese em ser mantido o acórdão recorrido em seu mérito - o que se cogita apenas por amor ao debate -, ainda assim mereceria reparos, permissa venia, conforme será abordado a seguir. Isso porque, conforme antedito, o v. acórdão do TRF da 5ª Região afirmou que "A Turma Julgadora, com base nas provas dos autos, e lastreado no princípio do livre convencimento motivado, associou a persistência da moléstia ao exercício das atribuições do cargo de Policial Rodoviário Federal, ainda que desempenhado no âmbito administrativo.". Não obstante a manutenção do provimento do Apelo da União, o aresto acaba por violar os ditames do art. 186, inciso I, da Lei n. 8.112/90, que garante ao servidor público aposentado por invalidez oriundo do desempenho das atividades do servidor, a saber: Art. 186. O servidor será aposentado: I - por invalidez permanente, sendo os proventos integrais quando decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei, e proporcionais nos demais casos; Nesse contexto, quando o acórdão recorrido estabeleceu a premissa e afirmou que a doença que ensejou a aposentadoria por invalidez da Recorrente teria sido em razão do exercício de suas atribuições do cargo de Policial Rodoviário Federal, deixou de determinar a percepção dos seus proventos de maneira integral. Portanto, ainda que, no mérito, seja mantido o acórdão recorrido, o que verdadeiramente não se acredita, ao se estabelecer que a enfermidade estaria (porque a Recorrente não mais está enferma) relacionada diretamente ao exercício do serviço público, caberia ao decisum impugnado conferir a integralidade dos proventos que percebia enquanto na ativa. Por todo exposto, requer-se o conhecimento e provimento do presente Agravo, para que seja conhecido o apelo nobre, o qual haverá de ser julgado totalmente provido para, na remota hipótese de ser mantido o mérito do acórdão recorrido, restabelecendo a higidez da legislação infraconstitucional, sejam aplicadas as normas (e-STJ Fl.604) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em Página 29 de 29 cogentes previstas no art. 186, I, da Lei Federal nº. 8.112/1990, ao menos, para determinar a percepção de proventos integrais à Recorrente. IV – REQUERIMENTOS. Por todo o exposto, a Agravante requer seja conhecido o presente recurso, intimada a agravada para oferecer contraminuta, e remetidos os autos ao Superior Tribunal de Justiça a fim de que: a) seja integralmente provido o presente Agravo em Recurso Especial, admitindo-se o processamento do Recurso Especial de ID 4050000.32966257 com amparo no permissivo do art. 105, inciso III, alínea “a” da Constituição Federal; b) sucessivamente, em razão do provimento do agravo, pugna seja apreciado o mérito do Recurso Especial, ao qual também requer o total provimento, na forma e pelos fundamentos esposados na peça recursal de ID 4050000.32966257. Pede deferimento. Recife, 25 de novembro de 2022. Rodrigo de Figueiredo Tavares de Araújo OAB/PE - 25.921 Sérgio Ludmer OAB/PE - 21.485 (e-STJ Fl.605) D oc um en to r ec eb id o el et ro ni ca m en te d a or ig em