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Estratégia MED Prof. Bruno Souza | Hanseníase 2DERMATOLOGIA APRESENTAÇÃO: @profbruno.souza Olá, estrategista! Chegamos ao mais importante livro digital da Dermatologia. Sem dúvida, a hanseníase é o tema preferido das questões da nossa especialidade. Aproximadamente 30% de todas as questões da dermatologia envolvem esse tema e, portanto, precisamos conhecê-lo a fundo. Observe no nosso gráfico que, dentre as dermatoses infecciosas, a hanseníase aparece em mais de 40% das questões. 10,1% 12,9% 43,7% Dermatoviroses Hanseníase Doenças por parasitas Dermatomicoses DISTRIBUIÇÃO DE QUESTÕES DE DERMATOSES INFECCIOSAS Piodermites 15,0% 18,3% PROF. BRUNO SOUZA @estrategiamed /estrategiamed Estratégia MED t.me/estrategiamed A hanseníase é uma doença complexa com uma importante interação entre o hospedeiro e a micobactéria. Precisamos dominar conceitos de imunologia para entender essa doença e nos aprofundarmos no tema. Existem questões de hanseníase que são cobradas na prova de clínica médica e outras são cobradas na parte de medicina preventiva, já que é um importante problema de saúde pública. Muita atenção que, em fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde divulgou uma portaria prevendo uma alteração no tratamento da doença a partir de setembro de 2020. Portanto, esteja atento quando estudar a parte de tratamento, pois é um tema quente que pode ser cobrado na sua prova!! Bons estudos! https://www.instagram.com/profbruno.souza/ https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw?sub_confirmation=1 https://t.me/estrategiamed Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 3 SUMÁRIO 1.0 HANSENÍASE 4 1.1. INTRODUÇÃO 4 1.2. EPIDEMIOLOGIA 6 1.3. IMUNOLOGIA DA HANSENÍASE 6 1.4. TESTE DE MITSUDA 9 1.5. TRANSMISSÃO E HISTÓRIA NATURAL 10 1.6. APRESENTAÇÃO CLÍNICA 11 1.6.1 HANSENÍASE INDETERMINADA 12 1.6.2 HANSENÍASE TUBERCULOIDE 13 1.6.3 HANSENÍASE VIRCHOWIANA 16 1.6.4 HANSENÍASE DIMORFA 20 1.7. CLASSIFICAÇÃO 22 1.8. ESTADOS REACIONAIS 25 1.8.1 REAÇÃO DO TIPO 1 25 1.8.2 REAÇÃO DO TIPO 2 27 1.8.3 FENÔMENO DE LÚCIO 31 1.9. EXAME DERMATONEUROLÓGICO 32 1.9.1 TESTE DA HISTAMINA E DA PILOCARPINA 33 1.9.2 AVALIAÇÃO DOS TRONCOS NERVOSOS 33 2.0. EXAMES COMPLEMENTARES 36 2.1 BACILOSCOPIA 36 2.2 TESTE SOROLÓGICO 37 3.0. DIAGNÓSTICO 38 4.0. TRATAMENTO 38 5.0. EFEITOS COLATERAIS DAS POLIQUIMIOTERAPIA 41 5.1. DAPSONA 41 5.2. CLOFAZIMINA 41 5.3. RIFAMPICINA 42 6.0. RECIDIVA 43 7.0. AVALIAÇÃO E CONDUTA DOS CONTATOS 45 8.0. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA 47 8.1. INDICADORES 48 8.1.1 INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS 49 8.1.2 INDICADORES OPERACIONAIS 52 9.0 LISTA DE QUESTÕES 55 10.0 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 56 11.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 56 Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 4 CAPÍTULO 1.1. INTRODUÇÃO A hanseníase é a mais antiga moléstia humana causada por uma micobactéria. Sua história remonta aos tempos bíblicos e, até os dias atuais, permanece como um importante problema de saúde pública. É uma doença infectocontagiosa crônica, cujo agente etiológico é o Mycobacterium leprae (M. leprae). A doença acomete principalmente o sistema nervoso periférico e a pele, mas também pode afetar outros órgãos. É uma doença de alta infectividade, porém baixa patogenicidade. Isso quer dizer que muitas pessoas que entram em contato com o bacilo serão infectadas, porém poucas irão, de fato, desenvolver a doença. Apresenta baixas taxas de mortalidade e letalidade, no entanto possui altas taxas de morbidade, já que frequentemente leva a deformidades permanentes se não for tratada precocemente! Vamos falar sobre o agente etiológico. Preste bastante atenção, pois há várias questões que abordam especificamente o M. leprae!! O Mycobacterium leprae é um bacilo álcool-ácido resistente, fracamente gram-positivo. É parasita intracelular obrigatório, predominante em macrófagos e na célula de Schwann. Na microscopia, podemos visualizar os bacilos isolados ou agrupados de forma compacta em “globias”, que estão apontadas pela seta na figura ao lado. Nas “globias”, os bacilos estão fortemente unidos por um material gelatinoso (gleia). É a única bactéria que apresenta essa característica. A cápsula dessa micobactéria apresenta um lipídio chamado glicolipídio fenólico (PGL-1) que possui importância clínica, como veremos mais adiante. O microrganismo multiplica-se preferencialmente em ambientes com temperaturas mais baixas e em um ritmo muito lento (cerca de 12 a 14 dias). Por isso, a hanseníase apresenta um tempo longo de incubação. Até hoje não é possível realizar cultivo in vitro da M. leprae. Contudo podemos cultivá-lo em tatus, a fim de realizar estudos. Admite- se que o homem seja o reservatório natural da M. leprae, no entanto já foi identificada em animais silvestres, como tatus e macacos. O PGL-1 é a chave para que o bacilo de Hansen consiga entrar no nervo periférico. Ele se liga à laminina alfa 2 da membrana basal da célula de Schwann e permite a entrada do bacilo! A partir daí, surge a possibilidade da hanseníase ser uma doença com dano neural. A PGL-1 é exclusiva do bacilo de Hansen, o que faz da M. leprae a única micobactérica com capacidade neurotrópica! 1.0 HANSENÍASE Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 5 De todas essas informações sobre o M. leprae, as que mais são cobradas em provas de Residência Médica estão listadas abaixo. Portanto, muita atenção! CAI NA PROVA (HOC - BA - 2016) Assinale a alternativa INCORRETA relacionada à hanseníase. A) Apresenta longo período de incubação. B) O Mycobacterium leprae é parasita intracelular obrigatório, residindo nos macrófagos. C) O Mycobacterium leprae é cultivado em meios especiais de cultura laboratoriais. D) O Mycobacterium leprae cresce seletivamente nas porções mais frias do corpo. COMENTÁRIO: Alternativa A - Correta. Segundo o Ministério da Saúde, o aparecimento da doença na pessoa infectada pelo bacilo e suas diferentes manifestações clínicas dependem, dentre outros fatores, da relação parasita/hospedeiro e pode ocorrer após um longo período de incubação, de 2 a 7 anos. Alternativa B - Correta. O M. leprae, ou bacilo de Hansen, é um parasita intracelular obrigatório, predominante em macrófagos, onde podem ser observados formando aglomerados ou globias. Como vimos, até hoje não é possível cultivar o M. leprae em laboratório. Alternativa D - Correta. A temperatura ideal para o crescimento do M. leprae é em torno de 27º C a 33º C, o que se correlaciona diretamente com a predileção do bacilo por áreas mais frias do corpo, onde ele se multiplica. Incorreta a alternativa C. M. leprae Bacilo álcool-ácido resistente Não é cultivado in vitro Parasita macrófagos e células de Schwann Intracelular obrigatório Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 6 1.2. EPIDEMIOLOGIA A hanseníase ainda é um grande problema de saúde pública internacional devido a sua magnitude e alto poder incapacitante. Só em 2016, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reportou 214.783 casos novos no mundo. No Brasil, foram 25.218 casos novos nesse mesmo ano. Isso torna o nosso País o segundo em número de novos casos registrados no mundo, ficando atrás apenas da Índia. Acomete mais pacientes do sexo masculino. Acredita- se que os homens se exponham mais aos bacilos e demorem mais a procurar o serviço de saúde, o que acarreta maior risco de desenvolver incapacidades permanentes. Essa doença está fortemente associada às condições econômicas e socioambientais desfavoráveis. Quanto pior a condição social, maior sua prevalência. Em um país desigual como o Brasil, essa característica fica muito evidente. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentam elevadas concentrações dos casos, enquantoas regiões Sul e Sudeste registram menos casos. Diante desse cenário, o Ministério da Saúde (MS) em conjunto com a OMS desenvolve estratégias para o controle da doença. Isso engloba a detecção precoce de casos, tratamento imediato com esquema de poliquimioterapia (PQT), o desenvolvimento de pesquisas básicas, bem como o enfrentamento do estigma, promovendo a mobilização e sensibilização junto à comunidade. Há um esforço especial na detecção de casos em pacientes com menos de 15 anos, pois sinalizam transmissão ativa, especialmente entre familiares! Todos esses esforços vêm fazendo com que haja uma redução na incidência e prevalência da hanseníase no Brasil, porém em um ritmo muito mais lento do que gostaríamos. 1.3. IMUNOLOGIA DA HANSENÍASE A hanseníase é uma doença cuja apresentação clínica e evolução dependem, diretamente, do sistema imunológico. É imprescindível que nós consigamos dominar alguns conceitos da imunidade para o adequado entendimento dessa doença. O primeiro ponto importante é termos em mente que o M. leprae é um bacilo intracelular obrigatório. O tipo de imunidade adequada, por regra, para combater esse tipo de infecção, é a imunidade celular (polo Th1). Nesse tipo de imunidade, os linfócitos T liberam citocinas que ativarão os macrófagos (histiócitos) para destruir os agentes intracelulares (nesse caso, o M. leprae). Esses macrófagos conseguem agrupar-se, formar os granulomas e impedir que a doença se dissemine. Com isso, conseguimos entender que, nos pacientes em que há predomínio da imunidade celular, haverá cura espontânea da doença, ou doença localizada! Por outro lado, a imunidade humoral (polo Th2), não é eficaz contra os agentes intracelulares. Nesse tipo de imunidade, há uma grande produção de anticorpos (hipergamaglobulinemia) e não há ativação dos histiócitos com capacidade de formar granulomas. Daí conseguimos entender que, nos pacientes em que há predomínio da imunidade humoral, haverá doença disseminada! Um dos anticorpos que os pacientes virchowianos produzem é o anti-PGL-1. Veremos a importância dessa informação mais adiante. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 7 Aprenda bem o conceito demonstrado nessa ilustração, ele é essencial!! Aplica-se a outras doenças infecciosas como leishmaniose e paracoccidioidomicose!! Claro que, na biologia, entre um polo e outro (imunidade celular e imunidade humoral) há um grande espectro de possibilidades! A maior parte dos pacientes apresenta um grau de imunidade entre a imunidade celular e a imunidade humoral. Assim como a imunologia, a hanseníase é uma doença espectral! De acordo com o tipo de imunidade predominante no paciente, a hanseníase se apresentará de uma forma diferente. Aqueles pacientes com intensa imunidade celular, terão o tipo chamado de hanseníase tuberculoide (TT). Por outro lado, aqueles com intensa imunidade humoral apresentarão a chamada hanseníase virchowiana (VV). Já os pacientes com uma imunidade entre um polo e outro serão os pacientes com hanseníase dimorfa (DD)! A hanseníase dimorfa ainda é dividida entre pacientes que apresentam um pouco mais de imunidade celular (dimorfo- tuberculoide ou DT) e pacientes com um pouco mais de imunidade humoral (dimorfo-virchowiano ou DV). A diferenciação de polo imunológico (celular ou humoral) depende, principalmente, de uma cascata de citocinas. A interleucina 12 (IL-12), IL-2 e TNF-alfa e interferon-gama estão relacionadas à imunidade celular. Ao passo que a interleucina 4 (IL-4) e interleucina 10 (IL-10) estão relacionadas à imunidade humoral. Infecção por M. leprae Formação de granulomas. Doença localizada Formação de anticorpos. Doença disseminada Th2 Imunidade humoral Th1 Imunidade celular Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 8 O que essa figura mostra é que o polo TT apresenta uma intensa imunidade celular, enquanto o polo VV apresenta uma intensa imunidade humoral. No meio do espectro, encontram-se os pacientes dimorfos (DT, DD e DV). Como a imunidade humoral não é capaz de conter o M. leprae, há uma grande quantidade de bacilos nos tecidos de pacientes em que há predomínio desse tipo de imunidade!!! Embora a hanseníase seja uma doença em que há grande influência do sistema imunológico, a infecção pelo HIV não altera a evolução natural da hanseníase nem sua apresentação clínica!!! Quando um paciente com AIDS inicia o tratamento e melhora sua imunidade, pode ocorrer a síndrome da reconstituição inflamatória imune (SRII). Nesses pacientes, os sinais clínicos de inflamação surgem geralmente associados com infecções oportunistas, quando a terapia antiviral ativa uma resposta imune durante a transição, no momento em que a carga viral diminui e a contagem de CD4+ aumenta. Nos pacientes com hanseníase, a SRII está relacionada principalmente com o desencadeamento de reação do tipo I (ver reações hansênicas mais à frente). Agora você consegue entender a figura abaixo, que é uma das mais temidas sobre a hanseníase! Se apreender essa figura em sua totalidade, você terá um excelente domínio do tema!! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 9 CAI NA PROVA (HCPA – RS - 2019) Na Lepra (ou Hanseníase), a resposta imune determina o quadro clínico e histopatológico. Dessa forma, é INCORRETO afirmar que: A) na Lepra Tuberculoide, os linfócitos T específicos para M. leprae são os determinantes da formação de granulomas que são a expressão histopatológica da fase tardia da hipersensibilidade imediata. B) considerando o perfil de citocinas determinantes de forma lepramotosa da doença, sintomas característicos de asma podem fazer parte das queixas dos pacientes. C) na forma tuberculoide, as lesões são características de hipersensibilidade tardia e consequentes à ativação de macrófagos por INF-gama e são mais restritas se comparadas à forma lepromatosa. D) do ponto de vista da imunopatologia, a administração de IL-12 poderia beneficiar doentes portadores da forma lepromatosa da doença. COMENTÁRIO: As perguntas de imunologia da hanseníase podem ser nesse nível! Você precisa estar preparado!! De fato, na lepra tuberculoide, os linfócitos T específicos para M. leprae são os determinantes da formação de granulomas. Porém esse processo caracteriza-se como uma forma de hipersensibilidade TARDIA, e não imediata. Como o examinador quer a resposta incorreta, esse é o nosso gabarito! Alternativa B - Correta. Como discutido anteriormente, o perfil de citocinas dos pacientes com hanseníase virchowiana é Th2. A asma é uma doença que também possui um perfil de citocinas Th2. Essa alternativa faz uma associação teórica. Não são esperados sintomas de asma em pacientes com hanseníase virchowiana. O que o autor quis com essa alternativa foi, simplesmente, fazer uma associação teórica entre duas patologias do polo Th2. Alternativa C - Correta. O IFN-gama é uma citocina importante do polo Th1. Como explicado anteriormente, a doença de pacientes tuberculoides é mais localizada do que a de pacientes virchowianos por essas características imunológicas. Alternativa D - Correta. Se pudéssemos administrar uma Il-12 aos pacientes virchowianos, poderíamos mudar uma resposta Th2 para Th1 já que a Il-12 é a principal interleucina associada ao polo Th1. Isso levaria a um melhor controle da doença em pacientes virchowianos. Incorreta a alternativa A. 1.4. TESTE DE MITSUDA Discutimos bastante sobre o tipo de imunidade que pode predominar em cada paciente. Mas como avaliar clinicamente essa imunidade? É possível realizar essa avaliação? A resposta é sim!! O teste de Mitsuda (ou teste da lepromina) existe justamente para avaliar se o paciente apresenta um predomínio de imunidade celular ou humoral!! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo| Dezembro 2021 10 Então, como devemos fazer essa interpretação? Uma pessoa que apresente o teste de Mitsuda com certeza tem o diagnóstico de hanseníase? É claro que NÃO! O teste de Mitsuda não possui valor diagnóstico, mas sim prognóstico! Ele apenas indica se a pessoa possui ou não uma imunidade celular efetiva contra o M. leprae. Agora, vamos pensar em outra pergunta. Em uma pessoa com teste de Mitsuda negativo, o diagnóstico de hanseníase está excluído? Também NÃO!! Por exemplo, em um paciente VV, que não possui imunidade celular contra o M. leprae, é esperado que apresente um teste de Mitsuda negativo!! Um teste de Mitsuda positivo não confirma o diagnóstico de hanseníase, da mesma forma que um teste negativo não afasta essa possibilidade! Esse teste indica “contato” com o bacilo e presença (ou não) de resposta celular a ele. 1.5. TRANSMISSÃO E HISTÓRIA NATURAL O primeiro conceito que precisamos ter em mente quando estamos tratando de transmissão da hanseníase é que apenas os doentes bacilíferos são transmissores! Não se preocupe, ainda discutiremos sobre baciloscopia e o que são pacientes bacilíferos mais adiante. Por enquanto, tenha a informação de que nem todos os pacientes com hanseníase transmitem a doença! A principal via de eliminação e de contágio do bacilo é a via aérea superior! De forma menos importante, áreas da pele e/ou mucosas erosadas também pode ser vias de eliminação do bacilo. A principal forma de contágio é inter-humana e o maior risco está em contato íntimo próximo com doente bacilífero. Em casas com muitos moradores, o risco de adquirir a doença é maior. Quando um indivíduo é infectado pelo bacilo de Hansen, na maior parte das vezes, apresentaria cura espontânea, pois, como vimos, a hanseníase é uma doença de baixa patogenicidade. Um menor número de casos, então, manifestará a forma inicial da doença, chamada de hanseníase indeterminada (MHI). A grande maioria dos pacientes com MHI (70%) ainda assim apresentará cura espontânea, pois o sistema imunológico é capaz de combater a micobactéria. Apenas os 30% restantes evoluirão com a moléstia e seguirão para algum dos polos da doença (TT, VV ou formas dimorfas). TESTE DE MITSUDA POSITIVO ≥ 5MM NEGATIVO < 5MM REAÇÃO DE FERNANDEZ – LEITURA APÓS 48H A 72H REAÇÃO DE MITSUDA – LEITURA APÓS 28 A 30 DIAS A técnica consiste na aplicação intradérmica de 0,1 ml do antígeno de Mitsuda (antígenos do M. leprae) na pele sã da face anterior do antebraço direito. Essa injeção de antígeno origina duas respostas: uma precoce e uma tardia. A reação precoce, ou reação de Fernandez, é caracterizada por eritema e induração no local da injeção de 48 a 72 horas após a aplicação. É uma reação cujo significado clínico não é certo ainda. Já a reação tardia de Mitsuda é analisada de 28 a 30 dias após a injeção do antígeno. A reação de Mitsuda é considerada positiva quando há formação de pápula ou nódulo maior ou igual a 5 mm e é considerada negativa quando é menor que 5 mm! Os pacientes com reação de Mitsuda positiva possuem uma boa imunidade celular contra o M. leprae! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 11 Figura 1 - Nesse esquema, mostramos a história natural da hanseníase. Tp = Tuberculoide polar; TTs = Tuberculoide subpolar; DT = Dimorfo-tuberculoide; DD = Dimorfodimorfo; DV = Dimorfo- virchowiano; VVs = Virchowiano subpolar; VVp = Virchowiano polar 1.6. APRESENTAÇÃO CLÍNICA A apresentação clínica da hanseníase é um dos assuntos mais cobrados nas provas, portanto esteja muito atento!!! Precisaremos muito dos conceitos de imunologia que discutimos no início deste capítulo. Desse modo, esteja com esse conteúdo bem sedimentado. Como falamos anteriormente, a hanseníase é uma doença que afeta, principalmente, o sistema nervoso periférico e a pele. Então, se você estiver diante de uma questão de residência e o examinador descrever um paciente com lesão de pele que apresenta alteração de sensibilidade, o diagnóstico é de hanseníase! A perda de sensibilidade nas lesões de hanseníase obedece a uma ordem muito bem estabelecida! Isso é frequentemente cobrado nas questões. A primeira sensibilidade a ser perdida é a térmica (paciente não sabe diferenciar quente do frio), posteriormente, há perda da sensibilidade dolorosa e, por último, há comprometimento da sensibilidade tátil. Para facilitar a memorização, aprenda em ordem alfabética! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 12 Ordem da perda de sensibilidade em uma lesão de hanseníase. Primeiro, o paciente não sente o Calor (sensibilidade térmica); depois, não sente mais Dor (sensibilidade dolorosa); e, por fim, não sente mais o Tato (sensibilidade tátil). Duas fotografias de crianças com hanseníase indeterminada, apresentando-se com máculas hipocrômicas localizadas na face. Figura retirada do Guia Prático Sobre a Hanseníase do Ministério da Saúde. 1.6.1 HANSENÍASE INDETERMINADA A hanseníase indeterminada (MHI) é a forma inicial da doença (vide história natural). O paciente apresenta-se com máculas ou áreas circunscritas, hipocrômicas, com distúrbio de sensibilidade, sudorese (hipohidrose) e vasomotor. Geralmente, apresenta bordas mal delimitadas e imprecisas. Pode haver alopecia (perdas dos pelos) na mancha. Nessa forma, não há espessamento neural! Essa é uma forma instável e inicial da doença. Como vimos anteriormente, esses pacientes podem apresentar cura espontânea ou evoluir para qualquer um dos polos da doença avançada! Algumas informações podem auxiliar a prever isso. Pacientes com MHI com poucas lesões e teste de Mitsuda positivo apresentam uma boa imunidade celular e, portanto, ou evoluirão com cura espontânea ou para o polo tuberculoide da doença. Ao passo que os pacientes com MHI com múltiplas lesões e teste de Mitsuda negativo evoluirão para o polo virchowiano. C D T ALOR OR ATO Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 13 Do ponto de vista histopatológico (biópsia de pele), encontramos apenas um infiltrado linfohistiocitário (linfócitos + histiócitos) ao redor dos vasos e dos nervos. De forma geral, não encontramos bacilos na baciloscopia, tampouco na biópsia de pele e, por isso, essa forma é considerada paucibacilar! Os diagnósticos diferenciais são de outras dermatoses que levam à hipocromia ou acromia como pitiríase versicolor, vitiligo, ptiriase alba, nevo acrômico, entre outras. O conceito, porém, é que somente a hanseníase causa distúrbio de sensibilidade! 1.6.2 HANSENÍASE TUBERCULOIDE Discutimos anteriormente que a hanseníase tuberculoide (TT) corresponde aos pacientes com polo de imunidade celular. Portanto, conseguimos saber que eles apresentarão doença localizada. Esses pacientes clinicamente apresentam-se com placas eritematosas ou acastanhadas, bem delimitadas, com contornos regulares ou irregulares, formando lesões anulares, circulares ou geográficas. As lesões podem apresentar um crescimento centrífugo cujo centro torna- se mais claro. De forma geral, são únicas ou em pequenas quantidades e distribuem-se de forma assimétrica. Em alguns casos, pequenos nervos espessados podem emergir das placas (lesão tuberculoide “em raquete”). Também pode haver alopecia nas placas desses pacientes. A alteração de sensibilidade nas lesões é bastante acentuada! Paciente com placa anular, infiltrada e bem delimitada na região pré-auricular esquerda. Nessas lesões de hanseníase tuberculoide há perda completa de sensibilidade. Figura retirada do Guia Prático Sobre a Hanseníase do Ministério da Saúde. Paciente com duas placas bem delimitadas, anulares, com bordas eritematosas e centro claro. Essa é a descrição clássica que estará nas questões sobre hanseníase tuberculoide! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 14 Placabem delimitada, anular, com borda eritematosa e regressão na parte central. Muito característica da hanseníase tuberculoide. A alteração de sensibilidade nas lesões de hanseníase é secundária à agressão do sistema imunológico do paciente ao nervo! Portanto, os pacientes com melhor imunidade celular apresentarão as maiores alterações de sensibilidade! Esses pacientes apresentam lesão nos troncos neurais, o que determina alterações não só sensitivas, mas também motoras e autonômicas. As lesões motoras levam a paresias ou paralisias, amiotrofias, retrações tendíneas e fixações articulares. O acometimento dos troncos nervosos é precoce, agressivo e assimétrico! Às vezes, o processo inflamatório dos nervos é tamanho que há formação de abscesso neural! Paciente com hanseníase tuberculoide evoluindo com abscesso do nervo mediano e atrofia dos músculos da mão. Figura retirada do Guia Prático Sobre a Hanseníase do Ministério da Saúde. Essas são as três lesões neurais com maior chance de serem cobradas em provas de Residência Médica! Atenção maior a essas lesões! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 15 Observe a tabela com os possíveis comprometimentos neurais da hanseníase. NERVO ACOMETIDO REPERCUSSÃO CLÍNICA Trigêmio Alteração de sensibilidade da face e córnea. Facial Alteração da mímica da face e lagoftalmo (fechamento incompleto da pálpebra). Ulnar Perda de sensibilidade de 4º e 5º quirodáctilos. Paresia e atrofia da musculatura interóssea da mão. Garra ulnar. Mediano Alteração de sensibilidade de 1º, 2º e 3º quirodáctilos da mão. Ulnar + Mediano Garra completa (“mão simiesca”). Radial “Mão caída”. Fibular comum “Pé caído”. Tibial Dedos em garra nos pés. Alteração de sensibilidade nos pés, sendo o principal responsável pela formação de úlceras plantares (mal perfurante plantar). Voltemos agora ao nosso “raciocínio imunológico”. Os pacientes com hanseníase tuberculoide são do polo da imunidade celular. Portanto, sabemos que há poucos bacilos nos tecidos desses pacientes. Com isso, podemos concluir que eles apresentam teste de Mitsuda positivo e baciloscopia negativa! Além disso, podemos deduzir que no histopatológico desses pacientes há a formação de granulomas envolvendo os filetes nervosos e também não encontramos bacilos! Com tudo isso, podemos dizer que esses pacientes também são paucibacilares! Os pacientes com imunidade celular recrutam macrófagos (histiócitos) que se agrupam e formam granulomas para conter a infecção de agentes intracelulares, você se lembra, não é? Qualquer dúvida retorne à imunologia da doença! É sua base! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 16 Pare e respire!! Olhe por um momento essa figura que resume a hanseníase tuberculoide e veja se você conseguiu compreender tudo!! 1.6.3 HANSENÍASE VIRCHOWIANA Já vimos que os pacientes com hanseníase virchowiana estão no polo da imunidade humoral (Th2). Sabemos, então, que esse tipo de imunidade não é capaz de conter o M. leprae e, portanto, há doença disseminada nesses pacientes! Isso reflete-se nas manifestações cutâneas e neurológicas. No início do quadro, há múltiplas manchas hipocrômicas de limites imprecisos e que, insidiosa e progressivamente, tornam- se eritematosas, ferruginosas e infiltradas. Com a evolução, há surgimento de lesões polimórficas com pápulas, placas, nódulos agrupados e/ou confluentes, distribuídos de forma simétrica por toda a pele. Esta vai tornando-se, lentamente, toda espessada e infiltrada. Geralmente, há pouca perda de sensibilidade nas lesões. Caracteristicamente, há infiltração da face e do pavilhão auricular. Também ocorre progressiva perda dos cílios e supercílios (madarose), no entanto, o cabelo do couro cabeludo é mantido. Damos o nome de “fáscies leonina” para o achado de infiltração da face e do pavilhão auricular, associado à madarose e conservação dos cabelos. Precisamos comentar sobre dois tipos especiais de hanseníase tuberculoide: a forma nodular da infância e a forma neural pura. A hanseníase nodular da infância caracteriza-se por pequenas pápulas ou nódulos castanhos ou eritemato-acastanhados localizados predominantemente na face de crianças entre 2 e 4 anos de idade. Esse quadro é típico de crianças que apresentam um contato próximo com algum doente bacilífero! Pode haver regressão espontânea, mas precisamos tratar esses pacientes. Já a forma neural pura é uma forma rara de hanseníase em que há espessamento e dano neural sem que haja lesão de pele!! O diagnóstico dessa condição é difícil, sendo necessária a avaliação especializada de um neurologista e, às vezes, biópsia do nervo! Hanseníase tuberculoide Testes de Mitsuda + Baciloscopia - Th1 Imunidade celular Doença Localizada Granulomas no histopatológico Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 17 Dois pacientes com hanseníase virchowiana. Esses pacientes apresentam a pele espessada e infiltrada. Observe que há pápulas e nódulos eritematosos e acastanhados na fotografia da esquerda. Ambos os pacientes apresentam madarose!! Essa característica é bem importante nos pacientes com hanseníase virchowiana. Figura retirada do Guia prático sobre a hanseníase do Ministério da Saúde. Paciente com hanseníase virchowiana. Note os múltiplos nódulos acastanhados, cor de ferrugem, distribuídos por todo tronco e membros superiores do paciente. A infiltração e o surgimento de nódulos nos pavilhões auriculares são muito característicos da hanseníase virchowiana! Fique ligado! O comprometimento dos troncos nervosos é difuso e simétrico. Podemos notar espessamento de vários troncos nervosos e, com a evolução da doença, o paciente apresenta anestesia “em luva” e “em bota”. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 18 Virchowiana – acometimento neural simétrico. Tuberculoide – acometimento neural assimétrico. Como o paciente virchowiano apresenta doença difusa, o comprometimento neural também é difuso. Dizemos, portanto, que o acometimento neural nesses pacientes é simétrico. Há, por exemplo, lesão dos nervos de ambas as pernas, ao passo que o paciente tuberculoide apresenta doença localizada. Por isso, o comprometimento neural é localizado e assimétrico, assim como ocorre na lesão de nervo apenas de uma perna. Outros locais, além da pele e do sistema nervoso periférico, podem ser comprometidos. Observe a tabela com essas alterações. É imprescindível perceber que a hanseníase virchowiana, ao contrário da forma tuberculoide, é uma doença sistêmica! LOCAL ACOMETIDO COMENTÁRIO Nariz A infiltração do nariz pelo M. leprae é precoce e causa rinite. Com a evolução, pode ocorrer ulceração, perfuração e desabamento do septo nasal. Laringe Pode haver infiltração da epiglote e cordas vocais. Raramente pode levar o paciente à afonia, dispneia e asfixia. Olhos Espessamento neural da córnea e do corpo ciliar. Linfonodos Pode haver linfonodomegalia cervical, axilar, supratroclear e inguinofemoral. Testículo A infiltração testicular do M. leprae pode levar à atrofia e consequente hipoandrogenismo (infertilidade e ginecomastia). Medula óssea Raramente infiltração do M. leprae na medula com baciloscopia medular positiva. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 19 Duas variantes da hanseníase virchowiana merecem destaque: a variedade histoide e a hanseníase de Lúcio. Na hanseníase histoide, o paciente apresenta múltiplas lesões nodulares pelo corpo que se assemelham a queloides. Já na hanseníase de Lúcio (também chamada de “lepra bonita”), o paciente apresenta infiltração difusa da pele, incluindo da face, sem a formação de nódulos. A pele adquire um aspecto brilhoso e, por isso, recebe o nome de “bonita”. Esse tipo de hanseníaseé a que caracteristicamente complica com o fenômeno de Lúcio que discutiremos mais adiante! Vamos raciocinar sobre os achados dos exames complementares do paciente com hanseníase virchowiana. Você já está cansado de saber que a hanseníase virchowiana representa os pacientes do polo da imunidade humoral. Portanto, esses pacientes apresentam uma grande carga de bacilos nos tecidos. De modo que apresentam teste de Mitsuda negativo e baciloscopia positiva! O histopatológico é marcado por uma grande infiltração de bacilos álcool-ácido resistentes (M. leprae)! Não há a formação de granulomas!! Estes são multibacilares além de serem os principais transmissores da doença! Comentamos sobre os anticorpos anti-PGL-1, você se lembra? Pois é, eles estão aumentados em pacientes com hanseníase virchowiana, pois, nesse polo, há intensa produção de anticorpos contra o M. leprae, que são incapazes de impedir a progressão do bacilo, mas servem como exame laboratorial para acompanhar a progressão do tratamento. À medida que o tratamento dos pacientes virchowianos é realizado, os títulos desses anticorpos vão caindo! Pacientes com hanseníase tuberculoide não apresentam esses anticorpos! Hanseníase Virchowiana Testes de Mitsuda - Baciloscopia + Th2 Imunidade humoral Doença disseminada Ausência de granulomas no histopatológico Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 20 1.6.4 HANSENÍASE DIMORFA Os pacientes com hanseníase dimorfa estão no meio do espectro. Essa forma da doença é instável e o paciente por ela acometido, em algum momento, pode migrar para o polo tuberculoide ou para o polo virchowiano. Há um grupo de pacientes que possui maior proximidade com a forma tuberculoide (dimorfo-tuberculoide ou DT), outro, com maior tendência à forma virchowiana (dirmorfa-virchowiana ou DV) e há, ainda, aqueles que estão, exatamente, no meio do espectro (dimorfo-dimorfo). Para cada forma, a apresentação clínica dos pacientes é um pouco diferente, por isso, vamos abordar cada uma separadamente. Em todas as formas pode haver grave comprometimento neurológico que leva a incapacidades permanentes. Como esses pacientes apresentam uma forma instável, são os principais causadores de reação hansênica (veja mais a seguir). Os pacientes DT apresentam lesões cutâneas semelhantes aos pacientes com hanseníase tuberculoide, porém as lesões são mais numerosas e há comprometimento de vários troncos nervosos. Esses pacientes, na maioria das vezes, apresentam baciloscopia negativa, teste de Mitsuda fracamente positivo e exame histopatológico que evidencia granulomas, esses, no entanto, são malformados. Paciente com hanseníase dimorfa tuberculoide. Essa lesão parece à de hanseníase tuberculoide, porém é grande. Observe que, na parte mais central do abdome, há ainda uma outra lesão. Já os pacientes DV apresentam múltiplas lesões cutâneas polimórficas (assemelhando-se aos virchowianos) que podem se espalhar por todo tegumento. Essas lesões são mal delimitidas e há pouca alteração de sensibilidade. Porém não há a típica infiltração cutânea difusa, como nos pacientes virchowianos. Também pode haver comprometimento de múltiplos troncos nervosos. Esses pacientes apresentam baciloscopia positiva, teste de Mitsuda negativo e é possível visualizar múltiplos bacilos no histopatológico da pele. Os pacientes DD estão exatamente no meio do espectro clínico e imunológico. A lesão cutânea é bastante característica e frequentemente aparece em provas de Residência Médica! Essas lesões são chamadas de “queijo-suiço”. Caracterizam-se por placas eritematosas, cujos limites externos são mal definidos, com eritema que se esmaece gradativamente e contrasta com a definição mais acentuada dos limites internos da borda da lesão cutânea. Pode-se encontrar um grau de anestesia no centro das lesões anelares e foveolares. Geralmente, apresentam baciloscopia positiva e teste de Mitsuda negativo! Paciente com hanseníase dimorfa-dimorfa. Esse paciente apresenta a típica lesão em “queijo-suíço”. A parte interna da lesão é bem nítida, porém a borda externa é mal delimitada! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 21 Mais uma etapa do nosso estudo está concluída! Agora já sabemos a manifestação clínica de todas as formas de hanseníase. Que tal uma questão para revisarmos? Assim, você respira e toma um café! CAI NA PROVA (HCPA – 2019 ) Assinale a assertiva incorreta sobre hanseníase. A) A forma indeterminada geralmente é a primeira manifestação da doença. B) Fáscies leonina é uma possível manifestação da forma virchowiana da doença. C) O comprometimento neural é pouco provável na forma tuberculoide. D) Lesões eritematosas com centro hipocrômico determinado aspecto anular ou foveolar são frequentes na forma dimorfa. E) O eritema nodoso hansênico é mais frequente nas formas multibacilares. Hanseníase Dimorfa Mitsuda + Baciloscopia - Lesão em “queijo suiço” Mitsuda - Baciloscopia + DV DT DD Mitsuda - Baciloscopia + Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 22 1.7. CLASSIFICAÇÃO Você já percebeu que a hanseníase é uma doença muito complexa. Por causa disso, há muito propõem-se classificações para tentar agrupar os pacientes com características semelhantes. Felizmente, após toda nossa discussão, já sabemos a classificação mais difícil, a de Ridley e Jopling! Observe a figura abaixo, com a qual você, certamente, já está familiarizado. CLASSIFICAÇÃO DE RIDLEY E JOPLING Legenda: TTP = Tuberculoide polar; TTs = Tuberculoide subpolar; DT = Dimorfo-tuberculoide; DD = Dimorfodimorfo; DV = Dimorfo-virchowiano; VVs = Virchowiano subpolar; VVp = Virchowiano polar. Na classificação de Ridley e Jopling, há formas estáveis e instáveis. As formas estáveis já sabemos que são os polos tuberculoide (TTp) e virchowiano (VVp). Já as formas instáveis são todas as demais formas (TTs, DT, DD, DV, VVS e VV)!!! A classificação de Madrid é mais simples. Considera os dois polos (tuberculoide e vichorwiano) além de considerar a forma indeterminada (inicial) e dimorfa como instáveis! COMENTÁRIO: Alternativa A - Correta. De fato, a forma indeterminada é a apresentação inicial da hanseníase. Alternativa B - Correta. A fáscies leonina é bem característica da forma virchowiana. Acabamos de discutir que o dano neural mais intenso e precoce é decorrente de uma boa imunidade celular. O comprometimento neural na forma tuberculoide é intenso e precoce! Alternativa D - Correta. A lesão foveolar ou em “queijo-suíço” marca a forma dimorfa. Alternativa E - Correta. Essa alternativa está correta. Não se preocupe com ela, pois iremos discutir mais adiante os estados reacionais!! Incorreta a alternativa C. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 23 Perceba que a classificação de Madrid é mais simples que a de Ridley e Jopling, pois não considera as formas DT e DV, apenas a DD. Para simplificar ainda mais e facilitar o tratamento, a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou a classificação operacional! Essa classificação leva em conta apenas o número de lesões cutâneas, independentemente da morfologia, dividindo os pacientes em paucibacilares e multibacilares. Os pacientes paucibacilares são aqueles com até cinco lesões cutâneas. Já os multibacilares, são aqueles com 6 ou mais lesões de pele. Caso um paciente que inicialmente foi considerado paucibacilar (até cinco lesões de pele) apresente baciloscopia positiva OU dois ou mais nervos espessados, é considerado automaticamente multibacilar!!!! CLASSIFICAÇÃO DA HANSENÍASE OPERACIONAL (OMS E MS) MADRID (1953) RIDLEY E JOPLING (1966) Paucibacilar (PB) – até cinco lesões cutâneas com baciloscopia negativa e no máximo um tronco nervoso espessado Indeterminada Indeterminada Tuberculoide Tuberculoide(TTp, TTs) e Dimorfa- tuberculoide (DT) Multibacilar (MB) – Mais de cinco lesões cutâneas Dimorfa Dimorfa-dimorfa (DD) e dimorfa- virchowiana (DV) Virchowiana Virchowiana (VVp, VVs) Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 24 CLASSIFICAÇÃO OPERACIONAL Forma multibacilar (à esquerda) - com múltiplas lesões cutâneas e baciloscopia positiva. Forma paucibacilar (à direita) - com até cinco lesões cutâneas e baciloscopia negativa. CLASSIFICAÇÃO OPERACIONAL DIVIDINDO OS PACIENTES EM PAUCIBACILARES E MULTIBACILARES Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 25 1.8. ESTADOS REACIONAIS Como discutimos até aqui, a hanseníase é uma doença bastante indolente. Porém o M. leprae é muito imunogênico e, portanto, possui grande capacidade de ativar o sistema imunológico do hospedeiro. As reações hansênicas (ou estados reacionais) são decorrentes de uma exacerbação aguda da imunidade celular (reação do tipo I) ou de acentuada formação de imunocomplexos (reação do tipo II). Os pacientes dimorfos são os que mais fazem estados reacionais! Nas reações hansênicas, os pacientes que evoluíam de forma lenta, agudamente apresentam uma exacerbação com componente inflamatório exuberante! Toda vez que uma questão de hanseníase relatar o desenvolvimento de um quadro agudo/subagudo (dias há semanas), esteja seguro de que será sobre estado reacional. Há alguns conceitos sobre estados reacionais que despencam nas provas de Residência Médica, então fique muito esperto. O primeiro é o de que as reações hansênicas podem ocorrer antes, durante ou depois do tratamento!! Por vezes, o paciente sequer possuía o diagnóstico de hanseníase e abre um quadro de reação hansênica. O segundo conceito é o de que o tratamento da hanseníase deve ser mantido mesmo em vigência de um estado reacional. Os pacientes que apresentam estado reacional antes do diagnóstico da hanseníase devem receber o tratamento para a reação junto com a poliquiomioterapia para tratamento da hanseníase. E aqueles pacientes que apresentam reação após o tratamento da hanseníase não precisam receber novamente a poliquimoterapia. 1.8.1 REAÇÃO DO TIPO 1 A reação do tipo 1 (também chamada de reação reversa) está associada à imunidade celular. Geralmente, está mais presente nos pacientes DT, DD e menos frequentemente nos DV. Os pacientes VV não fazem reação do tipo 1, pois não possuem imunidade celular! A característica clínica da reação do tipo 1 é que as lesões de hanseníase preexistentes tornam-se mais inflamadas, com eritema intenso, dolorosas, elevadas e as máculas tornam-se placas. Pode haver certa descamação e até ulceração em algumas lesões. Também há o surgimento de pequenas novas lesões semelhantes às lesões pré-existentes. Alguns pacientes cursam com edema dos pés e das mãos. Sintomas sistêmicos como febre, adinamia e mialgia estão AUSENTES! A principal complicação da reação do tipo 1 é a neurite! Esta tende a ser grave e acentuada, ocasionando paralisia súbita e perda de função. Os nervos tornam-se intumescidos, com dor à palpação do trajeto neural, além de haver exacerbação da sensibilidade no local inervado por aquele nervo. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 26 SINAIS DE NEURITE Intumescimento neural. Dor espontânea ou ao toque em graus variáveis. Exacerbação da sensibilidade local. Comprometimento sensitivo-motor e perda de função. Paralisia súbita. A principal causa de sequela neural permanente são os estados reacionais!! Isso é mais comum nas reações do tipo 1! O tratamento da reação do tipo 1 é realizado com prednisona 1 mg/kg/dia ou dexametasona. Para a dor neural, devemos utilizar antidepressivos tricíclicos associados à clorpromazina ou carbamazepina. O paciente deve ser reavaliado semanal ou quinzenalmente. Quando ocorrer melhora da função neural, iniciamos uma redução lenta e gradual da prednisona. CAI NA PROVA (SES MA – 2019) Paciente em poliquimioterapia (PQT) para hanseníase multibacilar apresenta, na 5ª dose supervisionada, piora das lesões pré-existentes e surgimento de lesões novas. O diagnóstico é: A) reação tipo 1. B) intolerância à Dapsona. C) eritema nodoso hansênico. D) resistência medicamentosa. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 27 COMENTÁRIO: Falou que um paciente com hanseníase apresentou um quadro agudo de piora de lesões pré-existentes e surgimento de algumas novas, é reação do tipo 1 - clássico!!! Observe, ainda, que o paciente não apresenta sintomas sistêmicos. A ausência de sintomas sistêmicos é a chave para diferenciar de reação do tipo 2. Mais adiante, vamos discutir os efeitos colaterais da Dapsona. Não se preocupe!! Alternativa B, C e D - Incorretas. Correta a alternativa A. 1.8.2 REAÇÃO DO TIPO 2 As reações do tipo 2 também são chamadas de eritema nodoso hansênico. Essas reações são decorrentes de depósitos de imunocomplexos. Ocorre somente em pacientes DV e VV, geralmente, ao redor do sexto mês de tratamento. Acredita-se que infecções, gestação, vacinação, estresse emocional e alguns fármacos estejam implicados no desencadeamento desse tipo de reação. É uma reação sistêmica e o paciente frequentemente abre o quadro com sintomas sistêmicos, queda do estado geral, febre e dores no corpo. O processo inflamatório envolve qualquer órgão em que o bacilo ou seus antígenos estejam presentes. Ao exame físico, o paciente pode apresentar hepatoesplenomegalia, neurite, orquite, artrite, irite e iridociclite. Do ponto de vista cutâneo, há o surgimento de múltiplas pápulas, placas e/ou nódulos eritematosos que são dolorosos ao toque e distribuem-se por todo o tegumento. As margens são mal definidas. Ao contrário do eritema nodoso, que costuma limitar-se à região pré-tibial, o eritema nodoso hansênico é difuso, ainda que por outras causas! As lesões podem tornar-se vesicobolhosas e até ulcerar. Alguns pacientes apresentam ulceração extensa da pele, o que torna o quadro grave! Laboratorialmente, podemos encontrar leucocitose com neutrofilia, aumento de provas inflamatórias (PCR e VHS), autoanticorpos (FAN), aumento de bilirrubinas e transaminases, além de hematúria e proteinúria. A droga de escolha para o tratamento do eritema nodoso hansênico é a talidomida 100 a 400 mg/dia de acordo com a gravidade do quadro. Devemos associar prednisona 1 mg/kg/dia quando há comprometimento neural, de outros órgãos internos (orquite, artrite ou irite) ou quando houver ulcerações cutâneas extensas. Por regra, o surto de eritema nodoso hansênico é mais curto que os de reação do tipo 1. Porém, alguns pacientes com eritema nodoso hansênico podem apresentar surtos reentrates. A talidomida é a droga de escolha para reação do tipo 2, porém é altamente teratogênica!! Quando o eritema nodoso hansênico ocorre em mulheres em idade fértil, só podemos prescrever talidomida após excluir a possibilidade de gravidez e se a paciente estiver em uso de pelo menos 2 métodos anticoncepcionais. Caso contrário, tratamos essas pacientes com prednisona! Outra opção para pacientes que não podem fazer uso da talidomida é a pentoxifilina!! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 28 A maior parte das questões de estados reacionais irá solicitar que você diferencie entre reação do tipo 1 e reação do tipo 2. O grande macete é saber que nas reações do tipo 1 há inflamação de lesões antigas, surgimento de algumas novas e intensa neurite. Enquanto nas reações do tipo 2, há sintomas sistêmicos e nódulos eritematosos difusos! Nódulos eritematosos dolorosos distribuídos pelo membro inferior de uma paciente com eritema nodoso hansênico Algumas vezes, as lesões do eritema nodoso hansênico podem ulcerar! Observe as múltiplas úlcerasque esse paciente apresenta. Lembre-se de que isso é uma indicação do uso de corticoides sistêmicos! Fotografia do mesmo paciente. Observe que as lesões ulceradas se estendem por todo o membro superior. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 29 REAÇÃO TIPO I (REAÇÃO REVERSA) REAÇÃO TIPO II (ERITEMA NODOSO HANSÊNICO) Imunidade celular Imunidade humoral Paucibacilares e tipos “instáveis” (DT, DD e DV). Multibacilares (DV e VV). Reagudização de lesões antigas e surgimento de algumas novas lesões. Piora dos sinais neurológicos. Edema de mãos e pés. Surgimento de nódulos eritematosos, dolorosos, difusamente pelo corpo. Tais nódulos podem ulcerar. Edema de mãos e pés. Espessamento neural, calor e neurite dolorosa. Acometimento neural possível, porém menos frequente. Ausência de sintomas sistêmicos. Sintomas sistêmicos presentes (febre, astenia, artralgia). Leucocitose presente. Ausência de acometimento de outros órgãos. Envolvimento de outros órgãos como olhos, rins, fígado e testículos. Prednisona é a droga de escolha. Talidomida é a droga de escolha. Agora você já tem completo domínio sobre essa figura da hanseníase. Porém, dessa vez, acrescentamos as reações hansênicas. Perceba que a reação do tipo I não ocorre em pacientes virchowianos (VV) e que o eritema nodoso hansênico (ENH) só ocorre com os pacientes VV e dimorfos-virchowianos (DV)! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 30 Antes de seguir, leia e reflita novamente sobre esses conceitos, que são os mais cobrados em relação aos estados reacionais. 1 – Podem acontecer antes, durante ou após o tratamento. 2 – São a principal causa de lesão neural e incapacidade permanente. 3 – Mais frequentes em pacientes multibacilares. 4 – Um estado reacional não contraindica o início do tratamento da hanseníase, bem como não devemos suspender o tratamento da doença se houver um quadro de reação hansênica! CAI NA PROVA (SMS SJP – PR 2015) A hanseníase é uma doença endêmica no Brasil, considerada uma doença espectral ou polar com variedade de apresentação clínica, que vai desde o polo tuberculoide (com imunidade celular preservada) ao polo lepromatoso ou virchowiano (imunidade celular não preservada) tendo entre os polos as formas chamadas borderlines ou dimorfas. Apresenta ainda os chamados estados reacionais, que compreendem diversos estados inflamatórios comuns, imunologicamente mediados, que causam uma considerável morbidade. Com relação aos estados reacionais na hanseníase, é correto afirmar: A) a reação tipo 1 ocorre na fase inicial da forma virchowiana ou lepromatosa pura. B) a reação tipo 2 ocorre exclusivamente em pacientes da forma virchowiana e dimorfa virchowianos. C) a reação tipo 1 ocorre em pacientes que não possuem nenhum grau de imunidade celular. D) a reação tipo 2 caracteriza-se pela exacerbação das lesões preexistentes e não aparecem lesões novas. E) a reação tipo 2 ocorre em 90% dos casos antes do início da poliquimioterapia. COMENTÁRIO: Perceba que se não compreendermos bem os conceitos imunológicos da hanseníase, teremos muita dificuldade em responder questões desse nível!! Alternativa A - Incorreta. Acabamos de ver que a reação do tipo 1 não ocorre em pacientes com a forma virchowiana pura, pois estes não têm imunidade celular! Perceba que foi justamente isso que explicamos agora!! Aproveite para ver novamente a figura! Alternativa C - Incorreta. Ela só ocorre em quem apresenta algum grau de imunidade celular. Alternativa D - Incorreta. A reação do tipo II é caracterizada pelo surgimento de várias lesões tipo eritema nodoso. Daí recebe o nome eritema nodoso hansênico. A definição dessa alternativa é da reação do tipo I. Alternativa E - Incorreta. As reações hansênicas podem ocorrer antes, durante ou depois do tratamento. Porém, a maioria ocorre durante o tratamento. Correta a alternativa B. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 31 1.8.3 FENÔMENO DE LÚCIO Alguns autores classificam o fenômeno de Lúcio como um terceiro tipo de reação hansênica. Esta difere-se das outras reações, pois quase sempre ocorre antes do tratamento e não é resultante de imunidade celular ou imunocomplexos. O fenômeno de Lúcio ocorre especialmente em pacientes com hanseníase de Lúcio ou “lepra bonita” (ainda está lembrado dessa variante de hanseníase virchowiana??) e é comum no México e na América Central. O fenômeno de Lúcio é decorrente de uma intensa quantidade de bacilos íntegros no endotélio vascular, acarretando uma vasculite leucocitoclástica e necrose das arteríolas! Percebam, então, que o fenômeno é principalmente vascular e leva à isquemia da pele! Clinicamente, há surgimento de lesões eritemato-purpúricas irregulares e poligonais que frequentemente evoluem com necrose. O maior acometimento ocorre nas extremidades (pés, pernas e mãos) e a necrose de áreas do nariz e do pavilhão auricular é bastante característica. Tais áreas de necrose evoluem com úlceras superficiais com contornos irregulares que, ao cicatrizar, deixam cicatriz atrófica. O comprometimento pode ser mais localizado ou, em casos mais graves, generalizado. Pode haver infecção bacteriana secundária, principalmente por Pseudomonas aeuriginosa. CAI NA PROVA (UFRJ – 2020) Mulher, 42 anos, com diagnóstico de hanseníase, apresenta lesões ulceradas em membros inferiores. Biópsia das lesões: necrose isquêmica de epiderme e derme superficial, proliferação endotelial e trombose de vasos profundos da derme. A complicação descrita e a forma de hanseníase associada são respectivamente: A) fenômeno de Lúcio/forma tuberculoide B) fenômeno de Lúcio/forma lepromatosa C) reação tipo 2/forma lepromatosa D) reação tipo 2/forma tuberculoide COMENTÁRIO: Essa é uma questão difícil!! Observe que a biópsia fala de necrose isquêmica da epiderme e da derme associada à trombose de vasos profundos. Nós só falamos de trombose de vasos e necrose no fenômeno de Lúcio!!! Lembre-se que o fenômeno de Lúcio ocorre em pacientes com a “lepra bonita”, um tipo específico de hanseníase lepromatosa! Fenômeno de Lúcio Ocorre antes do tratamento Vasculite leucocitoclástica e trombose vascular Necrose cutânea Apenas em virchowianos (lepra bonita) Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 32 1.9. EXAME DERMATONEUROLÓGICO Você já está cansado de saber que a hanseníase causa distúrbio de sensibilidade nas lesões de pele. Porém, como avaliar se há alteração de sensibilidade em uma lesão cutânea ou não? É essa pergunta que iremos responder agora. Figura demonstrando o teste de sensibilidade. Veja que há uma grande mácula hipocrômica, a área suspeita de hanseníase e, consequentemente, a área a ser testada. Na figura A, o examinador está tocando a mancha com a ponta da agulha, enquanto na figura B, com o fundo da agulha. Figura retirada do Guia prático sobre a hanseníase do Ministério da Saúde. Alternativas A, C e D - Incorretas. Correta a alternativa B. O histopatológico mostra uma grande quantidade de bacilos íntegros, vasculite leucocitoclástica e vasos trombosados. O tratamento é feito com início precoce da terapêutica específica para hanseníase (ver em tratamento), evitando-se, assim, a evolução fatal por septicemia em doentes debilitados. Primeiramente, lembre-se da ordem das perdas de sensibilidade que comentamos anteriormente: Calor (sensibilidade térmica), Dor (sensibilidade dolorosa) e Tato (sensibilidade tátil). Antes de iniciar a avaliação, devemos explicar ao paciente, ainda com os olhos abertos, todo o procedimento e qual lesão ou área será avaliada. Teste da sensibilidade térmica - é realizado tocando-se a pele com tubos de ensaio contendo água fria (em torno de 25º C) e quente (entre 37º C e 45º C). O paciente deve ser capaz de identificar qualo tubo de ensaio (quente ou frio) que está em contato com sua pele. Se houver distúrbio de sensibilidade, o paciente será incapaz de fazer essa diferenciação. Na falta de tubos de ensaio, o teste pode ser realizado utilizando um algodão embebido em éter para simular o tubo frio e um algodão sem éter para simular o tubo quente. Teste da sensibilidade dolorosa – a sensibilidade pode ser pesquisada utilizando-se uma agulha fina descartável e esterilizada. Tocamos, de forma irregular e aleatória, com o fundo e a ponta da agulha. O paciente deve ser capaz de identificar a dor causada pela ponta da agulha. Teste da sensibilidade tátil – essa sensibilidade é pesquisada mais comumente com um chumaço de algodão seco. Com os olhos fechados, pedimos para o paciente identificar a área que está sendo tocada com o algodão. Se houver hipoestesia, ele não conseguirá identificar. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 33 Se quisermos uma melhor acurácia em nossa avaliação sensitiva, podemos utilizar os monofilamentos de Semmes-Weistein. Há seis monofilamentos que exercem sobre a pele pesos equivalentes a 0,05 g (verde); 0,2 g (azul); 2 g (violeta); 4 g (vermelho escuro); 10 g (laranja) e 300 g (vermelho magenta). O filamento verde corresponde à sensibilidade tátil normal em qualquer área do corpo, com exceção da região plantar. O teste de sensibilidade é iniciado com o monofilamento verde sendo tocado na pele do paciente. À medida em que ele não for sentindo o toque, aumentamos gradativamente a espessura do monofilamento. 1.9.1 TESTE DA HISTAMINA E DA PILOCARPINA Antes que haja a instalação da diminuição da sensibilidade térmica, já é possível avaliar pequenas alterações nos ramúsculos nervosos da pele! Essa avaliação é possível graças ao teste da histamina e da pilocarpina. Elas também podem ser utilizadas quando temos dúvida na avaliação da sensibilidade ou quando estamos diante de uma criança que tem pouca capacidade de informar os achados. O teste da histamina é realizado aplicando-se uma gota de solução milesimal de cloridrato de histamina (1:1000) na pele normal e na área suspeita. Após, perfura-se com agulha, sem sangrar, através da gota. Um pequeno eritema surge após 20 segundos (primeira fase). Espera-se que dentro de 20 a 40 segundos surja um halo eritematoso maior, denominado eritema reflexo secundário (segunda fase). Após 1 a 3 minutos, surge uma pápula urticada no local da punctura (terceira fase). O surgimento das três fases é chamado de tríplice reação de Lewis e ocorre na pele normal. Na lesão de hanseníase, não há a segunda fase (eritema reflexo) e, portanto, dizemos que apresenta reação de Lewis incompleta! Na prova da pilocarpina, a pele a ser testada é pincelada com tintura de iodo. Depois, injeta-se uma pequena quantidade de pilocarpina a 0,5% ou 1%, por via intradérmica, e polvilha- se com amido a pele testada. Espera-se que na pele normal haja aparecimento de suor, o que fará com que o amido torne-se azul. Nas lesões de hanseníase haverá anidrose e o amido permanecerá branco! Como já comentamos, as lesões de hanseníase são hipohidróticas ou anidróticas (pouco ou nenhum suor, respectivamente). Essa comprovação é feita pelo teste da pilocarpina apresentado agora. Em algumas questões de Residência Médica, o examinador vai descrever que a lesão “não pega poeira” para alertá-lo que naquela área não há sudorese. Essa será uma dica para você reconhecer uma questão de hanseníase! 1.9.2 AVALIAÇÃO DOS TRONCOS NERVOSOS Devemos também realizar a avaliação dos troncos nervosos em busca de espessamento neural, possíveis sequelas neurológicas e de algum grau de incapacidade. Iniciamos com uma inspeção da face, observando simetrias palpebrais e de sobrancelha (avaliação do nervo facial). Depois, observamos se há espessamento visível ou palpável dos nervos do pescoço, braços, punhos, pernas e pés. Temos que palpar os nervos em busca de espessamento, endurecimento ou dor à palpação. Caso algum nervo seja considerado suspeito, devemos proceder o teste de sensibilidade na área específica Essa é uma boa hora para olhar novamente a tabela de acometimento neural que está no tópico Apresentação clínica. correspondente àquele nervo. Observe a figura dos nervos que devem ser avaliados em todo paciente com diagnóstico ou suspeita de hanseníase. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 34 Principais troncos nervosos que devem ser sempre avaliados. Espessamento neural visível do nervo fibular superficial na região anterolateral da perna, no terço inferior. Figura retirada do Guia Prático Sobre a Hanseníase do Ministério da Saúde. Espessamento neural visível do nervo auricular na região cervical. Figura retirada do Guia Prático Sobre a Hanseníase do Ministério da Saúde. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 35 Em quais momentos devemos realizar a avaliação neurológica?? 1 - No início do tratamento. 2 - A cada três meses, se não houver queixa específica. 3 - Sempre que houver alguma queixa neurológica. 4 - Durante os estados reacionais. 5 – No momento de alta do paciente! Assim, conseguimos observar como está sendo sua evolução neurológica. Além da avaliação sensitiva, também devemos avaliar o grau de força muscular em cada grupo muscular referente a um nervo específico. De acordo com as alterações sensitivas e/ou motoras encontradas, atribuímos o grau de incapacidade física do paciente. O grau de incapacidade física varia de 0 (força e sensibilidade dos olhos, mãos e/ou pés normais) até 2 (deficiências visíveis em olhos, mãos e/ ou pés). Pacientes com algum grau de incapacidade devem ser orientados criteriosamente sobre autocuidados como hidratação cutânea, autoinspeção diária e, se necessário, devem ser estimulados a usar proteção, especialmente nos olhos, nariz, mãos e pés. Pacientes com hanseníase que não apresentam comprometimento neural ou incapacidades devem também ser alertados para a possibilidade de ocorrência destas complicações, e orientados a observar-se diariamente, além de procurar a unidade de saúde ao notar qualquer alteração neurológica, tais como dor ou espessamento nos nervos. Fotografia de pacientes com hanseníase com deformidades permanentes. O diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais para que isso não ocorra. Precisamos fazer uma avaliação neural detalhada, a fim de detectar os pacientes com maior risco de evoluir com essas complicações e conseguir preveni-las!! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 36 CAPÍTULO 2.0. EXAMES COMPLEMENTARES 2.1 BACILOSCOPIA A baciloscopia é o exame complementar mais útil para o diagnóstico da hanseníase. Apresenta uma especificidade de 100%, ou seja, quando é positiva, o paciente realmente tem hanseníase! Porém, não se esqueça que uma baciloscopia negativa não exclui o diagnóstico da doença, pois alguns pacientes são paucibacilares! A baciloscopia não é obrigatória, mas deve ser realizada quando disponível! Primeiro é realizado um raspado dérmico, que deve ser coletado do lóbulo auricular direito, lóbulo auricular esquerdo, cotovelo direito e da lesão suspeita. Esse material é colocado numa lâmina e é corado pelo método Ziehl-Neelsen (utilizado para corar bacilos álcool-ácido resistentes, BAAR). O resultado é expresso pelo índice baciloscópico (IB) que varia de 0 (ausência de bacilos) até + 6. Lembra dessa imagem que mostramos quando conversamos cobre o M. leprae? É a que esperamos ver em uma baciloscopia de um paciente multibacilar! Os bacilos álcool-ácido resistentes, quando corados pelo Ziehl- Neelsen, ficam lilás! Vamos relembrar que as formas indeterminadas e tuberculoides são paucibacilares e apresentam baciloscopia negativa! Os pacientes virchowianos apresentamsempre baciloscopia positiva!! A maioria dos dimorfos apresentam baciloscopia positiva, porém os dimorfo-tuberculoides, geralmente, apresentam baciloscopia negativa!! É muito comum que se pergunte em prova sobre a obrigatoriedade da baciloscopia para o diagnóstico de hanseníase. Não se esqueça de que NÃO é obrigatória e um resultado negativo NÃO exclui o diagnóstico de hanseníase. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 37 CAI NA PROVA (SES MA – 2019) Assinale a opção que reúne formas clínicas consideradas hanseníase paucibacilares. A) Tuberculoide/Virchowiana. B) Bordeline/Indeterminada. C) Dimorfa/hanseníase nodular da infância. D) Virchowiana/Boderline. E) Indeterminada/hanseníase nodular da infância. COMENTÁRIO: Já comentamos sobre a hanseníase nodular da infância, você está lembrado?? Pois é, ela é uma forma especial de hanseníase tuberculoide que acomete principalmente na face de crianças!! Portanto é uma forma paucibacilar!! Alternativa A - Incorreta. A forma virchowiana é multibacilar. Alternativa B - Incorreta. A maior parte dos pacientes dimorfos (borderline é um sinônimo) são multibacilares. Alternativa C - Incorreta. Pelo mesmo motivo da alternativa C Alternativa D - Incorreta. Ambas as formas são multibacilares. As duas formas são paucibacilares!Correta a alternativa E. 2.2 TESTE SOROLÓGICO Vamos relembrar que os pacientes com imunidade humoral (virchowianos) produzem grande quantidade de anticorpos. Um desses anticorpos é produzido contra a PGL-1, um antígeno específico da parede do M. leprae. Portanto, a dosagem de anticorpo IgM anti PGL-1 é específica para o diagnóstico de hanseníase. Porém, esse anticorpo só está presente em pacientes virchowianos!! Por isso, um resultado negativo não exclui o diagnóstico da doença. Ele pode ser utilizado para monitorizar o tratamento instituído, pois a diminuição de anticorpos revela uma eficácia da terapêutica instituída. Ao passo que a manutenção dos mesmos níveis de anticorpos durante o tratamento pode indicar resistência às drogas. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 38 3.0. DIAGNÓSTICO CAPÍTULO De acordo com o Ministério da Saúde, o diagnóstico de hanseníase é firmado se um dos três pontos abaixo estiver presente. DEFINIÇÃO DE CASO DE HANSENÍASE 1. Lesão(ões) e/ou área(s) da pele com alteração da sensibilidade térmica e/ou dolorosa e/ou tátil 2. Espessamento de nervo periférico, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas 3. Presença de bacilos M. leprae, confirmada na baciloscopia de esfregaço intradérmico ou na biopsia de pele Perceba que a presença de qualquer um dos três pontos é suficiente!! Volto a insistir que a baciloscopia e a biópsia de pele não são obrigatórias para o diagnóstico de hanseníase, porém podem ser realizadas em dúvidas diagnósticas ou quando estiverem disponíveis com facilidade. CAPÍTULO 4.0. TRATAMENTO A hanseníase tem tratamento e cura! Até os dias atuais, muitas pessoas acreditam que não haja cura para essa doença. O tratamento da hanseníase é sempre feito com associação de medicamentos (poliquimioterapia, PQT). Quando um paciente com hanseníase multibacilar inicia o tratamento, deixa de transmitir a doença já com as primeiras doses! Portanto, não é necessário isolá-lo. Lembre-se de que os pacientes paucibacilares não transmitem a doença. Para definir qual o tratamento do nosso paciente, precisamos definir se ele é paucibacilar ou multibacilar. Para isso, utilizamos a classificação operacional da OMS. Só para relembrar, paucibacilares são aqueles com até cinco lesões de pele, baciloscopia negativa e no máximo um tronco nervoso espessado. Enquanto os multibacilares apresentam mais de cinco lesões, ou baciloscopia positiva, ou mais de um tronco nervoso espessado. As drogas padrão para o tratamento da hanseníase são rifampicina (única bactericida do esquema padrão), dapsona e clofazimina (ambas com ação bacteriostática). A PQT é bem tolerada com efeitos colaterais leves na maior parte das vezes. Em caso de intolerância ou impossibilidade absoluta do uso do esquema padrão da PQT, os pacientes deverão ser encaminhados para os Serviços de Referência, a fim de serem avaliados e introduzidos os esquemas substitutivos, que utilizam medicamentos de segunda linha, como a ofloxacina e a minociclina. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 39 Os medicamentos são fornecidos em cartelas individuais, que contêm a dose mensal supervisionada e as doses diárias autoadministradas, existindo as cartelas para PB e MB, adulto e infantil. Os pacientes paucibacilares são tratados com rifampicina e dapsona. Uma vez por mês recebem uma dose supervisionada de rifampicina 600 mg e dapsona 100 mg. Nos demais dias, o paciente toma dapsona 100 mg/dia. O tratamento completo é de seis cartelas, podendo ser tomadas em até 9 meses. Os pacientes paucibacilares que concluírem as seis cartelas em até 9 meses devem ser avaliados por médico, ser submetidos a uma avaliação dermatológica, neurológica simplificada e do grau de incapacidade física e receber alta por cura! Os pacientes multibacilares são tratados com rifampicina, dapsona e clofazimina. Uma vez por mês recebem uma dose supervisionada de rifampicina 600 mg, dapsona 100 mg e clofazimina 300 mg. Nos demais dias, o paciente toma dapsona 100 mg/dia e clofazimina 50 mg/dia. O tratamento completo é de doze cartelas, podendo ser tomadas em até 18 meses. Os pacientes multibacilares que concluírem as doze cartelas em até 18 meses devem ser avaliados por médico, submetidos a uma avaliação dermatológica, neurológica simplificada e do grau de incapacidade física e, se for o caso, receberem alta por cura! Há, no entanto, alguns pacientes com hanseníase multibacilar que após 12 cartelas ainda apresentam evidência de doença em atividade. Esses pacientes devem ser encaminhados para um centro de referência a fim de avaliar a necessidade de um segundo ciclo de mais 12 cartelas. Todos os pacientes com hanseníase são tratados com associação de medicamentos para evitar resistência medicamentosa do bacilo que ocorre com frequência quando apenas uma droga é administrada! Observe o diagrama abaixo para melhor memorizar o esquema terapêutico. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 40 Como está escrito em nossa figura, a gestação e o aleitamento materno não alteram o tratamento! Isso é frequentemente cobrado nas questões de Residência Médica!! Guarde essa informação. O Ministério da Saúde definiu que a partir de janeiro de 2021 TODOS os pacientes com hanseníase (paucibacilares e multibacilares) serão tratados com rifampicina, clofazimina e dapsona! O número de cartelas será mantido (6 para os pacibacilares e 12 para os multibacilares). Essa medida foi tomada principalmente para evitar que erros na classificação do paciente (pauci ou multi) interfiram na eficácia da terapêutica. Não sabemos como isso será abordado nas questões desse ano. Fique bastante atento a essa informação! Observe o esquema abaixo de como deverá ser feito o tratamento da hanseníase. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 41 Antigamente existia um esquema de dose única para o tratamento da hanseníase. Era exclusivo para paciente paucibacilar com uma única lesão e sem envolvimento de tronco nervoso. Realizava-se a administração em dose única de rifampicina, ofloxacina e minociclina. Esse esquema era conhecido como ROM (primeira letra de cada uma das drogas). Não é mais indicado que os pacientes sejam tratados dessa forma, mas você pode encontrar esse conceito em alguma questão mais antiga. CAPÍTULO 5.0. EFEITOS COLATERAIS DAS POLIQUIMIOTERAPIA 5.1. DAPSONA A Dapsona é a diaminodifenilsulfona,portanto pacientes alérgicos a sulfonas não devem receber essa medicação. A anemia hemolítica é o efeito colateral mais comum da dapsona. Por isso, precisamos monitorar nossos pacientes com hemograma e provas de hemólise. Pacientes que apresentam deficiência Glicose-6-Fostato Desidrogenase (G6PD) fazem crises graves de anemia hemolítica. Outro efeito colateral da dapsona é a metahemoglobinemia. O paciente com metahemoglobinemia pode apresentar, inicialmente, um quadro de cefaleia e posteriormente há surgimento de cianose de extremidades e dos lábios. Raramente há agranulocitose. Pode haver um quadro de “síndrome sulfona”. A síndrome sulfona pode ser enquadrada dentro do quadro de DRESS (drug reaction with eosinofilia and systemic symptoms). Desenvolve- se por volta de 4 semanas depois do início da medicação e caracteriza-se por um exantema morbiliforme associado à febre, linfonodomegalia generalizada, hepatoesplenomegalia, icterícia e eosinofilia no sangue periférico. 5.2. CLOFAZIMINA Os efeitos colaterais mais comuns da clofazimina são cutâneos. É muito comum a hiperpigmentação da pele associada a uma xerose ictiosiforme (com escamas grandes e poligonais). Nas pessoas de fototipo baixo, a pele pode adquirir uma cor avermelhada ou um tom acinzentado. As alterações de pele tendem a sumir lentamente após o término do tratamento. O trato gastrointestinal também pode ser afetado pela clofazimina, caso haja depósito de cristais da clofazimina na parede do intestino delgado. Isso leva à inflamação na porção terminal do intestino delgado, assim, o paciente cursa com dor abdominal e uma síndrome de obstrução intestinal completa ou parcial. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 42 5.3. RIFAMPICINA O efeito colateral mais grave da rifampicina é a síndrome pseudogripal. Inicia-se a partir da 2º a 4º dose supervisionada (ou seja, do segundo ao quarto mês de tratamento) e cursa com sintomas semelhantes aos da gripe: febre, calafrios, mialgia, cefaleia e astenia. O quadro pode evoluir com anemia hemolítica, eosinofilia, insuficiência renal por necrose tubular aguda e choque. O tratamento da síndrome pseudogripal é feito com a suspensão da droga, administração de anti-histamínico e antitérmico. Em casos graves, pode ser administrada a prednisona. A droga também pode ser responsável pelo aumento importante de transaminases e/ou bilirrubina com icterícia e, por isso, é necessário acompanhamento laboratorial. Os pacientes que apresentam aumento maior ou igual a duas vezes o valor de referência de transaminases devem suspender o tratamento com rifampicina e serem encaminhados para centros de referência. A síndrome pseudogripal da rifampicina geralmente ocorre a partir do segundo mês até o quarto mês de tratamento. Já a síndrome sulfona da dapsona é mais precoce e ocorre por volta da quarta SEMANA (1º mês) de tratamento! O uso da rifampicina diminui os níveis séricos de estrógeno e, com isso, reduz a eficácia de anticoncepcionais orais! As mulheres em idade fértil devem ser alertadas sobre esse problema! Veja a tabela resumida dos efeitos colaterais da poliquimioterapia. MEDICAÇÃO EFEITO COLATERAL Dapsona Anemia hemolítica, meta-hemoglobinemia, DRESS, agranulocitose. Clofazimina Coloração da pele cinza-azulada (melhora com a suspensão da droga). Pele com aspecto ictiosiforme. Dores abdominais, náuseas, vômitos, obstrução intestinal (relacionada com depósito de cristais do medicamento na parede do intestino delgado). Rifampicina Síndrome gripal (febre, coriza, dor no corpo, insuficiência respiratória e insuficiência renal). Reduz atividade de contraceptivos orais. Urina avermelhada. Rash acneiforme. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 43 CAI NA PROVA (SES GO – 2019) Leia o caso clínico a seguir. Homem de 56 anos iniciou tratamento para hanseníase com PQT-MB há 20 dias. Após o início do tratamento, começou a queixar-se de dispneia, cianose de lábios e de leito ungueal. O nome desta complicação e o medicamento responsável são, respectivamente, A) síndrome pseudogripal e rifampicina. B) hemólise e dapsona. C) metaemoglobinemia e dapsona. D) fotossensibilidade e clofazimina. COMENTÁRIO: Esse paciente recebe PQT-MB, logo, sabemos que ele usa rifampicina, dapsona e clofazimina. O paciente apresenta cianose de lábios e dos dedos além de dispneia. Esse quadro é bem característico de metaemoglobinemia!! Acabamos de ver que a dapsona é a medicação responsável por esse efeito colateral! Alternativas A, B e D - Incorretas. Correta a alternativa C. CAPÍTULO 6.0. RECIDIVA Alguns pacientes, após terem feito todo o esquema terapêutico de forma correta e terem sido curados, voltam a apresentar novos sinais e sintomas clínicos da doença infecciosa ativa. Esses são os casos de recidiva! Geralmente os casos de recidiva ocorrem após cinco anos da alta por cura. É muito importante que seja feita uma distinção correta entre recidiva e reação hansênica pós-tratamento. A reação hansênica geralmente apresenta-se até 3 anos após a alta por cura e caracteriza-se por quadros mais agudos. Essa definição é importante, pois os pacientes com recivida deverão ser retratados, enquanto os pacientes com reação hansênica, não! Os pacientes que fizeram uso incompleto ou irregular da PQT e que voltam a apresentar sintomas de hanseníase não devem ser incluídos como recidiva, mas sim como insuficiência terapêutica! Da mesma forma, os pacientes que foram erroneamente classificados e tratados como paucibacilar, quando, na verdade, eram multibacilar, devem ser classificados como insuficiência terapêutica! Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 44 O Ministério da Saúde possui critérios muito bem definidos para classificar um paciente com recidiva paucibacilar ou multibacilar. Veja só! PAUCIBACILAR - paciente que, após alta por cura e tratamento com seis doses de PQT-PB ou com outros esquemas substitutivos protocolados em portaria, apresentar novos nervos afetados, novas áreas com alterações de sensibilidade, novas lesões e/ou exacerbação de lesões anteriores e que NÃO RESPONDEM ao tratamento com corticosteroide nas doses recomendadas – por pelo menos 30 dias para lesões cutâneas de reação reversa (reação tipo 1) e por 90 dias para comprometimento neurológico (neurite) –, além de pacientes com surtos reacionais tardios, que em geral ocorrem cinco anos após a alta. MULTIBACILAR - paciente que, após alta por cura e tratamento com 12/24 doses de PQT-MB ou com outros esquemas substitutivos preconizados em portaria, apresentar novas lesões cutâneas e/ou evolução de lesões antigas, novas alterações neurológicas que NÃO RESPONDEM ao tratamento com talidomida e/ou corticosteroide nas doses e nos prazos recomendados; baciloscopia positiva (índice baciloscópico) igual ou maior que a do momento da cura, coletado nos mesmos sítios (se disponível, considerar a baciloscopia existente); pacientes com surtos reacionais tardios geralmente após cinco anos da alta, podendo ocorrer em período menor, além de, quando disponível, manutenção de altos níveis de ELISA anti-PGL1 e/ou com bacilos íntegros bem definidos no raspado dérmico e/ou biópsia de pele. Respire, meu(minha) amigo(a)!! Você não precisa decorar todos esses conceitos. Perceba que o principal é você excluir que se trata de uma reação hansênica!! Então, é preconizada uma prova terapêutica com prednisona (reação tipo I) ou talidomida (reação do tipo II). Caso o paciente não responda, provavelmente é um caso de recidiva! Observe a tabela abaixo, do próprio MS, comparando reação e recidiva. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 45 Percebeu que você não precisa decorar? Já entendeu? Você sabe que a hanseníase é uma doença lenta e insidiosa.Por isso, o quadro de recidiva será lento e insidioso já que é uma nova infecção! Ao passo que o quadro reacional é uma reação de hipersensibilidade a antígenos e, por isso, é agudo!! CARACTERÍSTICA REAÇÃO RECIVIDA Período de ocorrência Frequente durante a PQT e/ou menos frequente no período de dois a três anos após o término do tratamento. Em geral, período superior a cinco anos após término da PQT. Surgimento Súbito e inesperado. Lento e insidioso. Lesões antigas Algumas ou todas podem tornar-se eritematosas, brilhantes, intumescidas e infiltradas. Geralmente imperceptíveis. Lesões recentes Em geral, múltiplas. Poucas. Ulceração Pode ocorrer. Raramente ocorre. Regressão Presença de descamação. Ausência de descamação. Comprometimento neural Muitos nervos podem ser rapidamente envolvidos, ocorrendo dor e alterações sensitivo-motoras. Poucos nervos podem ser envolvidos com alterações sensitivo- motoras de evolução mais lenta. Resposta a medicamentos antirreacionais Excelente. Não pronunciada. CAPÍTULO 7.0. AVALIAÇÃO E CONDUTA DOS CONTATOS Como a hanseníase é uma doença infectocontagiosa, precisamos avaliar ativamente os contatos do paciente. Essa avaliação precisa ser feita em todos os casos, independentemente da forma clínica (paucibacilar ou multibacilar)! O objetivo é realizar diagnóstico precoce e quebrar a cadeia de transmissão da doença. Todas as pessoas que residem, ou tenham residido, convivam ou tenham convivido (contato domiciliar) com o paciente devem ser avaliados! Devemos incluir nessa avaliação pessoas, familiares ou não, que mantenham um convívio mais próximo! Os contatos sociais (vizinhos, colegas de trabalho e escola) que tiveram contato muito próximos e duradouros também devem ser investigados. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 46 Se algum caso for diagnosticado, deverá ser tratado normalmente. Todos os contatos domiciliares e sociais que não apresentem nenhum sinal da doença devem ser submetidos uma vez por ano a exame dermatoneurológico completo, por 5 anos!! Após esse período, recebem alta, mas com orientações sobre a possibilidade de surgirem sinais e sintomas de hanseníase no futuro. As diretrizes de hanseníase no MS traziam a informação de que todos os contatos próximos dos últimos 5 anos deveriam ser examinados. Por isso, muitos locais ainda examinam apenas os pacientes que conviveram nos últimos cinco anos. Porém, na diretriz de 2016 está escrito apenas que “todos os contatos que convivem ou conviveram” devem ser examinados e não há caracterização do tempo. Você perceberá que a maior parte das questões ainda fala de examinar os contatos do últimos cinco anos. Algumas pessoas que tiveram contato com um paciente com hanseníase, independentemente da forma clínica (paucibacilar ou multibacilar), terão indicação de serem vacinadas com a BCG. A vacina BCG não é específica da hanseníase, porém oferece algum grau de proteção. RECOMENDAÇÃO DE APLICAÇÃO DE VACINA BCG EM CONTATOS DE HANSENÍASE CICATRIZ VACINAL CONDUTA Ausência de cicatriz Uma dose Uma cicatriz de BCG Uma dose Duas cicatrizes de BCG Não prescrever Observação: contatos de hanseníase com menos de 1 ano de idade, já comprovadamente vacinados, não necessitam da aplicação de outra dose de BCG. CAI NA PROVA (AMS APUCARANA – PR - 2018) Em relação à Hanseníase, é correto afirmar que: A) considera-se caso novo a pessoa que nunca recebeu qualquer tratamento específico para a doença. B) são classificados como PB (paucibacilares) os pacientes que apresentam de cinco a dez lesões. C) são componentes da prevenção de incapacidade o autocuidado, o diagnóstico em qualquer fase da doença e o tratamento regular com PQT (poliquimioterapia). D) a vacinação com BCG-ID deverá ser aplicada somente nos contatos dos casos índice com classificação MB (multibacilar). E) o Teste de Mitsuda é método diagnóstico. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 47 COMENTÁRIO: Caso novo é um paciente que acaba de ser diagnosticado com hanseníase e ainda não recebeu nenhum tratamento. Alternativa B - Incorreta. Os pacientes são classificados como paucibacilares (até 5 lesões de pele) e multibacilares (mais de 5 lesões de pele). Lembre-se de que, se o paciente apresentar baciloscopia positiva e/ou 2 ou mais troncos nervosos acometidos, ele é automaticamente reclassificado como multibacilar, independentemente do número de lesões cutâneas. Alternativa C - Incorreta. O diagnóstico para prevenir incapacidades deve ser feito nas fases iniciais da doença. Nos casos diagnosticados já em fase avançada, pode haver incapacidades permanentes já instaladas. Alternativa D - Incorreta. Coloquei essa questão aqui para discutirmos, especificamente, essa alternativa! Algumas alternativas irão dizer que a BCG e o exame dos contatos só devem ser realizados quando diagnosticamos um caso multibacilar. Isso está INCORRETO! Independentemente da forma clínica (paucibacilar ou multibacilar), devemos investigar os contatos e aplicar a BCG naqueles com indicação clínica! Alternativa E - Incorreta. Com certeza você se lembra de que o teste de Mitsuda positivo não confirma um diagnóstico de hanseníase, assim como um teste negativo não exclui. Correta a alternativa A. Muitas alternativas de questões afirmam que todos os contatos devem ser vacinados, porém isso está incorreto!! Observe que nem todos os contatos deverão ser vacinados. CAPÍTULO 8.0. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA A hanseníase é doença de notificação compulsória em todo território nacional e de investigação obrigatória! Concluído o diagnóstico da enfermidade, o caso deve ser notificado através de uma ficha de notificação/investigação do Sistema de Informações de Agravo de Notificação (SINAN). Vamos aproveitar esse tópico de vigilância epidemiológica para sedimentar e revisar alguns conceitos que são cobrados com frequência nas provas. Esses conceitos já foram apresentados anteriormente, porém de forma separada. É importante que você tenha todas essas informações agrupadas e bem consolidadas. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 48 As atividades de controle da hanseníase visam a descoberta precoce de todos os casos de hanseníase existentes na comunidade, bem como seu tratamento. O objetivo dessas atividades é controlar a doença, reduzindo sua prevalência a menos de um caso em 10.000 habitantes, quebrando, assim, a cadeia epidemiológica da doença e a produção de novos casos. Para a detecção de casos novos, é necessário realizar detecção passiva e ativa. Detecção passiva: consiste no diagnóstico de hanseníase quando o paciente busca o serviço de saúde devido a sinais e/ou 8.1. INDICADORES Os indicadores são expressões matemáticas para quantificar determinado fenômeno. Eles são divididos em indicadores epidemiológicos e operacionais. sintomas dermatoneurológicos ou quando outra unidade de saúde encaminha um paciente com suspeita de hanseníase. Detecção ativa: consiste na busca sistemática de novos casos. Um grande exemplo é o exame dos contatos sobre o que conversamos anteriormente. Mas consiste, também, na avaliação dermatoneurológica de pacientes que buscam o serviço de saúde por outras queixas, exames em grupos específicos (presídios, escolas, quartéis, entre outros) e programas de educação populacional sobre sinais e sintomas da doença. Doença crônica e infecto-contagiosa Notificação compulsória e invetigação obrigatória Incubação de 3 a 5 anos Transmissão pelas vias aéreas superiores Alta infectividade; baixa patogenicidade Alta morbidade/ baixa mortalidade e letalidade Principal reservatório é o ser humano Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 49 8.1.1 INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS NOME DO INDICADOR CONSTRUÇÃO UTILIDADE PARÂMETROS Taxa deprevalência anual de hanseníase -por 10 mil habitantes Numerador: casos em curso de tratamento em determinado local em 31/12 do ano de avaliação. Denominador: população total no mesmo local de tratamento e ano de avaliação. Fator de multiplicação: 10 mil. Medir a magnitude da endemia. Hiperendêmico: ≥ 20,0 por 10 mil hab. Muito alto: 10,0 a 19,9 por 10 mil hab. Alto: 5,0 a 9,9 por 10 mil hab. Médio: 1,0 a 4,9 por 10 mil hab. Baixo: < 1,0 por 10 mil hab. Taxa de detecção anual de casos novos de hanseníase - por 100 mil habitantes Numerador: casos novos residentes em determinado local e diagnosticados no ano da avaliação. Denominador: população total residente, no mesmo local e período. Fator de multiplicação: 100 mil. Medir força de morbidade, magnitude e tendência da endemia. Hiperendêmico: > 40,0/100 mil hab. Muito alto: 20,00 a 39,99/100 mil hab. Alto: 10,00 a 19,99/100 mil hab. Médio: 2,00 a 9,99/100 mil hab. Baixo: < 2,00/100 mil hab. Dê uma lida rápida nessas tabelas de indicadores e, ao final, faremos alguns comentários além de discutirmos aqueles que já foram cobrados e têm maiores chances de serem abordados em prova outra vez! Indicadores epidemiológicos: medem a magnitude ou a transcendência do problema de saúde pública. Ou seja, medem a importância e o tamanho da doença no âmbito populacional. Indicadores operacionais: medem, tanto do ponto de vista qualitativo quanto quantitativo, a eficácia das ações de saúde. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 50 Taxa de detecção anual de casos novos de hanseníase na população de zero a 14 anos - por 100 mil habitantes Numerador: casos novos em menores de 15 anos de idade residentes em determinado local e diagnosticados no ano da avaliação. Denominador: população de zero a 14 anos de idade, no mesmo local e período. Fator de multiplicação: 100 mil. Medir força da transmissão recente da endemia e sua tendência. Hiperendêmico: ≥ 10,00 por 100 mil hab. Muito alto: 5,00 a 9,99 por 100 mil hab. Alto: 2,50 a 4,99 por 100 mil hab. Médio: 0,50 a 2,49 por 100 mil hab. Baixo: < 0,50 por 100 mil hab. Taxa de casos novos de hanseníase com grau 2 de incapacidade física no momento do diagnóstico - por 100 mil habitantes Numerador: casos novos com grau 2 de incapacidade física no diagnóstico, residentes em determinado local e detectados no ano da avaliação. Denominador: população residente no mesmo local e período. Fator de multiplicação: 100 mil. Avaliar as deformidades causadas pela hanseníase na população geral e compará-las com outras doenças incapacitantes. Utilizado em conjunto com a taxa de detecção para monitoramento da tendência de detecção oportuna dos casos novos de hanseníase. A tendência de redução da taxa de detecção, acompanhada da queda deste indicador, caracteriza redução da magnitude da endemia. Proporção de casos de hanseníase com grau 2 de incapacidade física no momento do diagnóstico - entre os casos novos detectados e avaliados no ano Numerador: casos novos com grau 2 de incapacidade física no diagnóstico, residentes em determinado local e detectados no ano da avaliação. Denominador: casos novos com grau de incapacidade física avaliado, residentes no mesmo local e período. Fator de multiplicação: 100. Avaliar a efetividade das atividades da detecção oportuna e/ou precoce de casos. Alto: ≥ 10%. Médio: 5% a 9,9%. Baixo: < 5%. NOME DO INDICADOR CONSTRUÇÃO UTILIDADE PARÂMETROS Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 51 Proporção de casos de hanseníase curados com grau 2 de incapacidade física entre os casos avaliados no momento da alta - por cura no ano Numerador: número de casos de hanseníase em residentes e curados com incapacidade física grau 2 no ano da avaliação. Denominador: total de casos de hanseníase residentes e que foram encerrados por cura com grau de incapacidade física avaliados no ano da avaliação. Fator de multiplicação: 100. Avaliar a transcendência da doença e subsidiar a programação de ações de prevenção e tratamento de incapacidades pós-alta. Alto: ≥ 10%. Médio: 5% a 9,9%. Baixo: < 5%. Proporção de casos de hanseníase segundo gênero - entre o total de casos novos Casos de hanseníase do sexo feminino/Total de casos novos. Fator de multiplicação: 100. Avaliar a capacidade dos serviços de assistir aos casos de hanseníase. Não especifica parâmetro. Proporção de casos segundo classificação operacional - entre o total de casos novos Casos de hanseníase multibacilares/Total e casos novos. Fator de multiplicação: 100. Avaliar os casos com risco de desenvolver complicações, e para o correto reabastecimento de PQT. Não especifica parâmetro. Taxa de detecção de casos novos segundo raça/ cor - entre população das respectivas raças/cor Numerador: casos de hanseníase Segundo raça/ cor. Denominador: população da respectiva raça/cor. Fator de multiplicação: 100 mil. Medir a magnitude da endemia segundo raça/cor. Não especifica parâmetro. NOME DO INDICADOR CONSTRUÇÃO UTILIDADE PARÂMETROS Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 52 8.1.2 INDICADORES OPERACIONAIS NOME DO INDICADOR CONSTRUÇÃO UTILIDADE PARÂMETROS Proporção de cura de hanseníase - entre os casos novos diagnosticados nos anos das coortes(2) (3) Numerador: casos novos de hanseníase em residentes de determinado local, diagnosticados nos anos das coortes e curados até 31/12 do ano da avaliação. Denominador: total e casos novos de hanseníase residentes no mesmo local e diagnosticados nos anos das coortes. Fator de multiplicação: 100. Avaliar a qualidade da atenção e do acompanhamento dos casos novos diagnosticados, até a finalização do tratamento. Bom: ≥ 90%. Regular: ≥ 75% a 89,9%. Precário: < 75%. Proporção de casos de hanseníase em abandono de tratamento - entre os casos novos diagnosticados nos anos das coortes Numerador: casos novos de hanseníase diagnosticados nos anos das coortes que abandonaram o tratamento até 31/12 do ano de avaliação. Denominador: total de casos novos diagnosticados nos anos das coortes. Fator de multiplicação: 100. Avaliar a qualidade da atenção e do acompanhamento dos casos novos diagnosticados até a finalização do tratamento. Bom: < 10%. Regular: 10% a 24,9%. Precário: ≥ 25%. Proporção de contatos examinados de casos novos de hanseníase - diagnosticados nos anos das coortes Numerador: nº de contatos dos casos novos de hanseníase examinados por local de residência atual e diagnosticados nos anos das coortes (PB diagnosticados no ano anterior ao ano da avaliação e MB diagnosticados dois anos antes do ano da avaliação). Denominador: total de contatos dos casos novos de hanseníase registrados por local de residência atual e diagnosticados nos anos das coortes (PB diagnosticados no ano anterior ao ano da avaliação e MB diagnosticados dois anos antes do ano da avaliação). Fator de multiplicação: 100. Mede a capacidade dos serviços em realizar a vigilância de contatos de casos novos de hanseníase, aumentando a detecção oportuna de casos novos. Interpretação: Bom: ≥ 90,0%. Regular: ≥ 75,0% a 89,9%. Precário: < 75,0%. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 53 Proporção de casos de recidiva - entre os casos notificados no ano Número de casos de recidiva de hanseníase notificados/total de casos notificados no ano x 100 mil. Identificar municípios notificantes de casos de recidiva para monitoramento de falência terapêutica. Não especifica parâmetro. Proporção de casos novos de hanseníase com grau de incapacidade física avaliado no diagnóstico Numerador: casos novos de hanseníasecom o grau de incapacidade física avaliado no diagnóstico, residentes em determinado local e detectados no ano da avaliação. Denominador: casos novos de hanseníase, residentes no mesmo local e diagnosticados no ano da avaliação. Fator de multiplicação: 100. Medir a qualidade do atendimento nos Serviços de Saúde. Bom: ≥ 90%. Regular: ≥ 75% a 89,9%. Precário: < 75%. Proporção de casos curados no ano com grau de incapacidade física avaliado - entre os casos novos de hanseníase no período das coortes Numerador: casos curados no ano com o grau de incapacidade física avaliado por ocasião da cura, residentes em determinado local. Denominador: total de casos curados no ano, residentes no mesmo local. Fator de multiplicação: 100. Medir a qualidade do atendimento nos Serviços de Saúde. Bom: ≥ 90%. Regular: ≥ 75% a 89,9%. Precário: < 75%. Os três índices que apresentam maior chance de serem cobrados são “Taxa de prevalência anual de hanseníase”, “Taxa de detecção anual de casos novos” e “Taxa de detecção anual de casos novos de hanseníase na população de zero a 14 anos”. Portanto, dê maior atenção a eles!! Entenda que o primeiro avalia a quantidade total de pacientes com hanseníase, enquanto o segundo e o terceiro avaliam, principalmente, a transmissão da doença! Observe a questão abaixo para praticar esse assunto!! NOME DO INDICADOR CONSTRUÇÃO UTILIDADE PARÂMETROS Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 54 CAI NA PROVA (UEPA - BELÉM - 2015) Em relação à vigilância epidemiológica da hanseníase, é correto afirmar que: A) o coeficiente de detecção em menores de 15 anos é usado para avaliar a transcendência da doença e subsidiar a programação de ações de prevenção e tratamento de incapacidades, após a alta por cura. B) define-se como caso de hanseníase o indivíduo que apresentar: lesão e/ou área da pele com diminuição ou alteração de sensibilidade; acometimento de nervo periférico, com espessamento associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; e baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico. C) a hanseníase é uma doença de notificação compulsória apenas na Amazônia Legal e de investigação obrigatória em todo o território nacional. D) o diagnóstico precoce e a instituição do tratamento específico adequado são essenciais para a prevenção das incapacidades físicas. E) o coeficiente anual de prevalência da hanseníase por 10.000 habitantes é usado para medir a força da transmissão recente da endemia e sua tendência. COMENTÁRIO: Alternativa A - Incorreta. O coeficiente de detecção em menores de 15 anos é usado para avaliar a força da transmissão recente da endemia e sua tendência. Casos de hanseníase em crianças mostram que há muitos pacientes bacilíferos transmitindo a doença. Alternativa B - Incorreta. Muita atenção com esse conceito! A definição de caso pela OMS é de: lesões de pele com alteração de sensibilidade; OU espessamento de nervo periférico; OU baciloscopia positiva para bacilo de hansen. Portanto, qualquer um desses três itens presentes já é definido como caso de hanseníase pela OMS. Como o examinador colocou “E” deu a entender que todos três critérios são necessários para o diagnóstico, e isso está incorreto! Alternativa C - Incorreta. A hanseníase é uma doença de notificação compulsória em todo território nacional! O tratamento precoce da hanseníase evita sequelas neurológicas e incapacidades físicas permanentes. Lembre-se de que hanseníase é uma doença que, se não tratada, pode levar a incapacidades físicas permanentes! Alternativa E - Incorreta. O Coeficiente anual de prevalência de hanseníase por 10.000 habitantes serve para medir a MAGNITUDE da endemia. Correta a alternativa D. Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 55 Baixe na Google Play Baixe na App Store Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou busque na sua loja de apps. Baixe o app Estratégia MED Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula! Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação. Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser. Resolva questões pelo computador Copie o link abaixo e cole no seu navegador para acessar o site Resolva questões pelo app Aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e acesse o app https://bit.ly/37fn07w https://bit.ly/37fn07w Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 56 CAPÍTULO 10.0 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 1. MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasília). Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da Hanseníase como problema de saúde pública: manual técnico-operacional, Brasília, 2016. Disponível em: http://www.credesh.ufu.br/node/1201. Acesso em: 30 set. 2020. ISBN 978-85-334-2348-0 2. MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasília). Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Guia prático sobre a hanseníase, Brasília, 2017. Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/novembro/22/Guia-Pratico-de- Hanseniase-WEB.pdf. Acesso em: 30 set. 2020. ISBN 978-85-334-2542-2 3. SITTAR, José Alexandre de Souza; PIRES, Mário Cezar. Dermatologia na prática Médica. São Paulo: Roca, 2007. ISBN 78-85-7241-695-5. 4. BELDA JUNIOR, Walter; DI CHIACCHIO, Nilton; CRIADO, Paulo (ed.). Tratado de dermatologia. São Paulo: Atheuneu, 2014. 5. PETERSEN VITELLO KALIL, Célia Luiza (org.). Dermatologia. Tradução: Adriana de Carvalho Corrêa. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 6. WOLFF, K.; GOLDSMITH, L.; KATZ, S.; GILCHREST, B.; PALLER, AS.; LEFFELL, D. Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine. 8th. ed. New York: McGraw-Hill, 2011. CAPÍTULO 11.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro aluno, chegamos ao fim do livro digital mais importante de dermatologia para as provas de Residência Médica! Esteja seguro de que os principais pontos relacionados à hanseníase estão dominados, principalmente imunologia, formas clínicas, estados reacionais e tratamento! Sem dúvida é isso que é mais cobrado nas provas. Em caso de dúvidas, não hesite em contatar-nos! Contatos: Fórum de dúvidas Instagram: @profbruno.souza Estratégia MED HanseníaseDERMATOLOGIA Prof. Bruno Souza| Curso Extensivo | Dezembro 2021 57 https://med.estrategiaeducacional.com.br/ 1.0 HANSENÍASE 1.1. INTRODUÇÃO 1.2. EPIDEMIOLOGIA 1.3. IMUNOLOGIA DA HANSENÍASE 1.4. TESTE DE MITSUDA 1.5. TRANSMISSÃO E HISTÓRIA NATURAL 1.6. APRESENTAÇÃO CLÍNICA 1.6.1 HANSENÍASE INDETERMINADA 1.6.2 HANSENÍASE TUBERCULOIDE 1.6.3 HANSENÍASE VIRCHOWIANA 1.6.4 HANSENÍASE DIMORFA 1.7. CLASSIFICAÇÃO 1.8. ESTADOS REACIONAIS 1.8.1 REAÇÃO DO TIPO 1 1.8.2 REAÇÃO DO TIPO 2 1.8.3 FENÔMENO DE LÚCIO 1.9. EXAME DERMATONEUROLÓGICO 1.9.1 TESTE DA HISTAMINA E DA PILOCARPINA 1.9.2 AVALIAÇÃO DOS TRONCOS NERVOSOS 2.0. EXAMES COMPLEMENTARES 2.1 BACILOSCOPIA 2.2 TESTE SOROLÓGICO 3.0. DIAGNÓSTICO 4.0. TRATAMENTO 5.0. EFEITOS COLATERAIS DAS POLIQUIMIOTERAPIA 5.1. DAPSONA 5.2. CLOFAZIMINA 5.3. RIFAMPICINA 6.0. RECIDIVA 7.0. AVALIAÇÃO E CONDUTA DOS CONTATOS 8.0. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA 8.1. INDICADORES 8.1.1 INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS 8.1.2 INDICADORES OPERACIONAIS 9.0 LISTA DE QUESTÕES 10.0 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 11.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS