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A1: UC – PROCESSOS PSICOPATOLOGICOS E CONTEPORANEIDADE CASO LEVANTADO DURANTE A CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SAÚDE MENTAL: A cada quatro anos, a Secretaria Municipal de Saúde, através da Diretoria de Saúde mental, fica responsável por organizar, programar e realizar a Conferência Municipal em Saúde Mental. Esta, vem para reafirmar os princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira, com base na Lei 10.216 de 2001, apontando para a necessidade do aprofundamento das reflexões sobre a reorientação do modelo assistencial em saúde mental, por meio da participação efetiva de usuários e familiares e de referência de saúde - Consultório na Rua – CnaR, quando se trata de população em situação de rua sem vínculo familiar, revertendo paulatinamente o quadro de internações em instituições totais. Este ano, o tema central é “A política de saúde mental como direito: pela defesa do cuidado em liberdade, rumo a avanços e garantia dos serviços da atenção psicossocial no SUS”. As diretrizes, serão trabalhadas em quatro eixos temáticos: 1 - Cuidado em liberdade como garantia de direito à cidadania; 2 - Gestão, financiamento, formação e participação social na garantia de serviços de saúde mental; 3 - Política de saúde mental e os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS): universalidade, integralidade e equidade; 4 - Impactos na saúde mental da população e os desafios para o cuidado psicossocial durante e pós-pandemia. Disponível em: < http://conselho.saude.gov.br/5cnsm >. Acesso em: 28 mar. 2022. No decorrer da conferência, após a divisão dos grupos de trabalho, onde as pessoas se reúnem para discutir. O grupo que ficou com o eixo 4, no processo de discussão, um dos temas abordados a “LOUCURA”. Profissionais de diversas áreas fizeram parte do grupo de trabalho, da enfermagem, medicina, psicologia, nutrição, dentre outros. A coordenadora do grupo de trabalho, iniciou dizendo: - Na sociedade racional, o louco foi isolado, posto à parte da humanidade, e perdeu o direito de ser ouvido. Mas a loucura já teve, inclusive, conotação positiva. Aos poucos, resgata-se um diálogo que parecia perdido. Várias obras filosóficas contribuíram para isso. O Enfermeiro do CAPS pede a palavra e fala: - Nos primórdios da História da humanidade, a loucura sempre foi um assunto em pauta. Na Filosofia Grega, por exemplo, a boa loucura é destacada por Platão na obra Fedro, não sendo considerada uma doença ou perdição, mas inspiração – um dom divino, que pode ser profético, poético, purificador, amoroso. Fruto do entusiasmo, a boa loucura busca a beleza ideal despertada pelas lembranças diante das coisas do mundo. A psicóloga responsável pela Rede de Atenção Psicossocial do estado, concorda com as palavras do enfermeiro e completa: - Visão diferente sobre a loucura é proposta pelo humanista Erasmo de Rotterdam. O filósofo da Renascença defende a ideia de que a loucura é o amor à vida em sua simplicidade. Essa forma de loucura não possui conotação divina, é humana, laica. Em seu livro Elogio da Loucura, publicado em Paris em 1509, expõe o retrato deste homem: “um homem qualquer, retirado da multidão dos homens loucos, que, conquanto louco, soubesse comandar os loucos e obedecer a eles e fazer-se amar por todos; e que fosse complacente com a esposa, bom para os filhos, alegre nos banquetes, sociável com todos com quem convive, e por fim, que não se considerasse alheio a tudo o que pertence à humanidade”. A diretora do ambulatório municipal de psicologia, pede para apresentar um caso que aconteceu lá na semana passada, onde a paciente tinha chegado por encaminhamento da UBS do bairro da Matriz: - “M.C.D, uma mulher com idade aproximada de 30 anos, chegou para a primeira entrevista com uma aparência aflita. Após ter se sentado disse que foi muito difícil vir ao consultório, pois tinha problemas respiratórios e uma inflamação considerável nas articulações das pernas e dos braços. Também se queixou de dores devido a infecções crônicas do aparelho urinário, advertindo que talvez fosse preciso sair a qualquer momento para ir ao banheiro. Apesar disso, estava muito contente, pois havia saído de casa e tinha a oportunidade de estar com alguém que poderia aliviar o seu sofrimento. Disse saber que passaria por uma entrevista inicial detalhada, porém, tinha algo para mostrar que ajudaria a ganhar tempo. Nesse momento, tirou da bolsa um maço de folhas entregando-as para a psicóloga, que há atendeu. Nas cinco primeiras páginas ela descreveu seus contatos com o sistema público de saúde, relatando suas dificuldades. Estavam registrados os períodos, as datas, os possíveis diagnósticos e os dias que ficou hospitalizada. Nas duas páginas seguintes constava uma lista de todos os medicamentos que havia tomado para diversas doenças. Ela acreditava ter uma grande quantidade de infecções que não haviam sido diagnosticadas com precisão. Disse que começou a ter esses problemas por ocasião de sua adolescência. Frequentemente costumava discutir seus sintomas e seus temores com os médicos e com os padres. Disse que cursou enfermagem depois do ensino médio e durante sua capacitação no hospital observou que sua condição física se deteriorava com rapidez, parecia adquirir as doenças que estava aprendendo. Devido a uma série de situações estressantes abandonou a escola de enfermagem. Logo após desenvolver uma inexplicável paralisia das pernas foi admitida em um hospital psiquiátrico e depois de um ano recuperou a capacidade de caminhar.” Um estudante do curso de psicologia da faculdade AGES de Jacobina, que faz parte do grupo de trabalho, pede a palavra: - Lembrei que nosso eixo de trabalho que é o 4 - Impactos na saúde mental da população e os desafios para o cuidado psicossocial durante e pós-pandemia, pede o levantamento de diretrizes. Conforme estamos conversamos, e agora com este exemplo do caso que aconteceu no ambulatório de psicologia, vocês, como profissionais o que poderiam me ajudar no meu processo de formação, falando sobre qual o diagnostico de M.C.D, bem como quais estratégias de intervenções que podemos utilizar dentro da nossa temática? AGORA É SUA VEZ! ENTENDA QUE VOCÊ FAZ PARTE DA EQUIPE TÉCNICA DO GRUPO TEMÁTICO CITADO NA HISTÓRIA! VAMOS AJUDAR O ESTUDANTE DE PSICOLOGIA? Em texto único e dissertativo você deverá argumentar sobre a história da loucura no Brasil e no mundo, a imagem da loucura e o que difere os seres humanos um dos outros, bem como descrever o conceito de saúde mental e o processo histórico da psicopatologia, como é vista e as formas de tratamento. Descrever o transtorno presente no caso (qual o possível psicodiagnostico de M.C.D), bem como quais estratégias de intervenções. Texto Resolução A história da loucura no Brasil foi de luta desde do início do descobrimento do país, ao longo dos séculos as conquistas e os combates afins de adquirir direitos foram se intensificando, e se desmitificando os antigos métodos manicomiais, esses que aprisionam, isolam, pessoas que são consideradas “loucas”, porém é preciso debater a loucura, militando pela luta antimanicomial, pois segundo BORGES (2017) ” é preciso conhecer o presente e, em história, nós o fazemos, sobretudo por meio do passado”, assim dialogando e conhecendo a história da loucura no Brasil é importante para manutenção da reforma psiquiátrica, assim como para implantação de novas políticas públicas. No brasil a o direito a saúde por muito tempo foi elitista e para poucos, e o agravamento é ainda maior quando nos referimos a saúde mental, por décadas os métodos adotados para tratar os tidos como “ loucos” os segregaram, isolaram e até mesmo matando as pessoas tidas como desviantes da norma que vigorava na sociedade da época, o Foucault (2000) tem uma análise muito pertinente, sobre a loucura “ A doença só tem realidade e valor de doença no interior de uma cultura que a reconhece como tal, loucura é muito mais histórica do que se acredita geralmente, mas muito mais jovem também”, as práticas tidas como patológicas são reforçadas e obedecemao cultura, uma norma e um período histórico para exercer controle. Outra coisa que contribui para um viés de controle a adotado na sociedade brasileira é um acontecimento dos mais tristes, que ocorreu na Serra da Mantiqueira em Minas Gerais no município de Barbacena a partir de 1903 se instalou o primeiro hospital psiquiátrico do Estado, as pessoas internadas sofriam de algum distúrbio mental, ou simplesmente apresentavam um comportamento desviante e inaceitável período, como mães solteiras, homossexuais que eram aprisionados, e passaram parte da sua vida sem nenhuma convivência com o mundo, submetidos a torturas, além da comercialização de corpos para universidades de medicina. Com o fim da ditadura militar e com democratização do país, as mudanças começaram a surgir , a reforma psiquiátrica e a partir do momento em que ocorreram modificações nas concepções de loucura, os ditos loucos passaram a ser vistos como cidadãos, com direito, foram criadas condições e foi instituindo novas práticas terapêuticas visando a inclusão do usuário em saúde mental na sociedade e na cultura, trazendo o retorno à vida social conseguido com milhares de ex-interno. A Reforma teve como marco o fechamento gradual de manicômios e hospícios. A lei n° 10.216 que dá direitos da pessoa portadora de transtorno mental se configura através do art. Art. 2o , seguindo alguns princípios, entre eles: I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária. Mesmo com a constante luta da Reforma Psiquiátrica, as práticas clínicas e as concepções acerca da loucura não conseguiram total mudança na sociedade contemporânea, pois ainda nota-se preconceitos, estigmas e um pensamento manicomial em certa parte da população, sendo que a sociedade exige dos ditos loucos uma posição da disciplina outrora oferecida violentamente pelas instituições manicomiais quando comportamentos eram taxados de subversivos as “normas” da sociedade, essa permanência de pensamento produz barreiras para a desconstrução social da loucura, conservando o modelo das clínicas e dos manicômios/hospitais psiquiátricos, e dificultando o reconhecimento do direito à cidadania daqueles taxados como “doidos” e que precisam de um tratamento mais humanizado, considerando a subjetividade do ser. Referências: FOUCAULT, Michel. Doença Mental e Psicologia. Rio de Janeiro: Tempo Universitário,2000 BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. Brasiliense, 2017.