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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA BÁSICA DISCENTES: JANECLEIDE EMANUELLE DE LIMA; JÚLIO CÉSAR; KAMILA JOYCE LUCAS PEIXOTO; LUCIELLY HEVELLY TRINDADE VASCONCELOS; THAUANA WUELLY FERREIRA CANDIDÍASE GENERALIDADES No grupo das infecções oportunistas, encontramos fungos capazes de causar mais frequentemente infecções em pacientes com quadro de imunossupressão, seja de caráter transitório, relacionada ao uso de corticosteróides e outras drogas imunossupressoras, ou permanente, com pode ser observada nas leucemias, linfomas, diabetes mellitus, AIDS/SIDA, dentre outras enfermidades que comprometem o sistema imune. Para o laboratório de Micologia, o isolamento desses microrganismos é uma tarefa árdua, na conjunção do binômio microrganismo/doença, visto que essa interpretação só pode ser feita com maior precisão pela cooperação clínico/micologista. Executando algumas espécies de leveduras, como a Candida albicans, que é um comensal do tubo digestivo, os fungos são fundamentalmente microrganismos do meio exterior. Dessa forma, os fungos classificam-se, na sua grande maioria, como microrganismos sapróbios, vivendo à custa da degradação de restos orgânicos. Esses microrganismos são encontrados no solo, sobretudo na superfície, onde existe maior aporte de resto orgânicos. Ademais, muitos desses fungos podem viver como seres comensais em outro indivíduos, sem, no entanto, causar danos evidentes. Assim, fungos que fazem parte da microbiota e alguns do meio externo, ao entrarem em contato com homens e animais, podem ou não produzir grande quantidade de doenças, desde as micoses superficiais benignas, como a piedra nigra, até infecções mais graves, muitas vezes mortais como as mucormicoses. A maioria dos fungos que se depositam sobre nossa pele e mucosa e os que são inalados não produzem nenhum dano, desde que as barreiras naturais de defesa do hospedeiro estejam íntegras, impedindo a instalação desses fungos com dano tecidual e, por conseguinte, doença. Porém, fatores intrínsecos e extrínsecos que modificam as defesas do hospedeiro, permitindo aos fungos, bem como a outros microrganismos, criar lesões em vários órgãos. A antibioticoterapia, que a cada dia se tem tornado mais eficaz no controle de infecções bacterianas, permite uma sobrevida maior de um grande número de pacientes e, por conseguinte, um terreno fértil para o desenvolvimento de infecções fúngicas. Dessa forma, em sua maioria, os fungos nada mais são que microrganismos oportunistas que exibem desde um poder infectante quase nulo, como o Sacccharomyces cerevisiae, até uma virulência bastante acentuada, como o Coccidioides immitis. CANDIDÍASE Em 1839, Langenbeck, pela primeira vez, observou a mais importante levedura patogênica ao homem, hoje conhecida como Candida albicans, em aftas bucais de um paciente com tifo, tendo considerado erradamente esse microrganismo o agente etiológico da doença. Em 1842, David Gruby definiu a candidíase oral e classificou esse microrganismo no gênero Sporotrichum. Alguns anos mais tarde, em 1853, Charles Robin denominou esse microrganismo de Oidium albicans, redenominado por Zopf, em 1890, de Monilia albicans, Somente em 1923, Berkhout transferiu essa espécie para o gênero Candida e criou a espécie Candida albicans. O termo candidíase é utilizado para denominar a constelação de doenças causadas pela Candida albicans. A candidíase é a mais frequente infecção fúngica oportunista. O habitat da Candida albicans e de outras espécies de Candida é bastante amplo, estando ligado, assim, à espécie humana e a todas as espécies de primatas até o momento investigadas. Isolar C. albicans na natureza é uma condição excepcional e geralmente está relacionada a uma contaminação, sobretudo com fezes humanas e de animais. No homem, a C. albicans tem como habitat a mucosa digestiva e, por contiguidade, a mucosa vaginal. O espectro das candidíases é bastante extenso, indo desde manifestações banais, como a colonização de mucosas, até quadros sistêmicos, com a invasão de vários órgãos. As mucosas mais frequente envolvidas, em quadros de candidíase, são as das boca, vagina e esôfago. As espécies mais comumente implicadas em quadros clínico são: C. albicans, C. tropicalis, C. parapsilosis, C. glabrata (antiga Torulopsis glabrata) e C. krusei. PATOGENIA O gênero Candida produz diversos fatores de virulência, dentre os quais se destacam proteinases e lipases, que contribuem para a invasão do hospedeiro; contudo, normalmente, o desenvolvimento das infecções é favorecido por uma combinação de fatores ligados ao hospedeiro e ao microrganismo, e não somente por um fator de virulência isolado. As infecções da pele e mucosas são principalmente devidas a mudanças na hidratação, no pH, nas concentrações de nutrientes, alterações na microbiota da pele e mucosa e etc. As candidíases sistêmicas estão habitualmente associadas a imunossupressão do hospedeiro. O poder patogênico das leveduras pode ser traduzido por algumas características : 1. somente as espécies capazes de crescer a 37°C são potencialmente patogênicas para o homem; 2. a formação de estruturas filamentosas, como hifas e pseudohifas com mais de 200μm de comprimento, próprias de alguma espécie de Candida , pode dificultar a fagocitose, principal forma de combate a este agente; 3. a produção de alguns metabólitos pelas espécies de Candida pode ser capaz de desencadear manifestações alérgicas imediatas ou tardia; 4. nas infecções graves, nas quais são encontradas grandes quantidades de leveduras, a inundação antigênica do microrganismo pode causar depressão da imunidade celular; 5. produção de enzimas como lipase e proteinase; 6. variação fenotípica e aderência. Dessa forma, a imunossupressão criada permite desenvolver a infecção e manter sua evolução de forma crônica. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS CANDIDÍASE CUTÂNEO-MUCOSA O grande grupo da candidíase cutâneo-mucosa inclui quadros clínicos nos quais se observam acometimentos de pele, unhas e mucosa orofaríngeas e genitais. Dessa forma, os quadros de candidíase cutâneo-mucosa podem ser subdivididos da seguinte forma: 1. candidíase intertriginosa; 2. onicomicose; 3. candidíase oral; 4. vulvovaginite; 5. balanopostite; e 6. candidíase cutâneo-mucosa crônica. CANDIDÍASE INTERGINOSA Resultam frequentemente da extensão de uma vulvovaginite ou de uma balanopostite, quando localizadas nas regiões interglúteas e genito-crurais. Entretanto, pode-se observar o início nas regiões onde ocorreram exsudação excessiva e maceração, assim como em pessoas obesas, alcoólatras e diabéticos. Nesses casos, as lesões são mais encontradas nas regiões inframamárias, axilares, inguinocrurais e nas pregas suprapúbicas. Clinicamente se apresentam por características eritematosas, úmidas, com bordas mal definidas e escamosas, formadas por vesículas que se rompem precocemente e que deixam um colarete decórnea desprendido, ainda pode se observar, placas secas, escamosas e, até mesmo, pústulas. Em crianças que ainda usam fraldas e que pertencem a família nas quais as medidas de higiene não são adequadas, pode-se observar uma variante desse quadro clínicos. Essas lesões têm origem geralmente como uma dermatite irritativa, posteriormente colonizada por espécie de Candida. As lesões clínicas geralmente são mais exuberantes, podendo-se observar, em alguns casos, grande quantidade de pústulas. Outra variação das lesões intertriginosas são as observadas nas regiões interdigitais palmares e plantares, a atividade ocupacional interfere nessa intensificação, na qual a água favorece a maceração, situação mais frequentemente observada no terceiro espaço interdigital, onde há menor mobilidade, nesse caso, observa-se uma fissura central, circundada por uma pele macerada, desprendida e esbranquiçada. O prurido pode ser discreto ou intenso. ONICOMICOSE, CANDIDÍASE ORAL e VULVOVAGINITES ONICOMICOSE Existem duas situações características: Onyxis e Perionyxis, desenvolvidas na região da pele que cerca as unhas, em pessoas com constante umidade nas mãos/unhas ou com candidíase oral. Casos acometidos nos dedos das mãos, e raramente, nos dedos dos pés. A Perionyxis é acometida uma tumefação inflamatória na base da unha, presença de pus, e normalmente associada a uma infecção bacteriana. Geralmente essa infecção pode se tornar crônica e vir acometer a matriz ungueal. A Onyxis geralmente varia da Perionyxis, na proximidade da unha, onde a queratina é mais mole, ou ainda nas bordas. A unha apresenta uma coloração castanho-alaranjada, marrom ou amarelo-esverdeado (esta última, geralmente, por infecção secundária por Pseudomonas aeruginosa), apresenta manchas na superfície ungular, se estendendo até a parte distal, devido a acumulação de resíduos córneos, e progressivamente apresenta relevos transversais e longitudinais. A Onyxis é crônica e pode destruir toda unha. CANDIDÍASE ORAL Há uma grande variedade de formas clínicas, desde os quadros mais leves aos mais graves e generalizados. Sendo assim, divididos em: pseudomembranosa, atrófica aguda, hiperplásica crônica, queilites angular e candidósica, e língua negra pilosa. Pseudomembranosa: é a mais comum ocorrida, por leveduras, na cavidade oral normalmente em recém-nascidos (popularmente conhecida por “sapinho”), por apresentar um baixo pH baixo, o que facilita a colonização na cavidade oral. Inicia com pequenos pontos esbranquiçados na mucosa, e depois rapidamente formam uma camada esbranquiçada aderida à mucosa das bochechas, ponta da língua e palato mole. Uma outra forma mais severa, se tornando generalizada, e dificulta a deglutição do recém-nascido, é quando a doença é transmitida pela mãe (candidíase vulvo varginal). A candidíase pseudomembranosa oral também pode ocorrer em pessoas com perda temporária ou permanente de imunidade, como: diabetes, idoso, alcoólatra, portadores de AIDS, hipovitaminoses, uso de drogas imunossupressoras, e etc. Atrófica aguda: lesão secundária de candidíase pseudomembranosa, apresentando um eritema visível no dorso da língua, ou em em outras regiões da boca, geralmente está associada a antibioticoterapia prévia. Hiperplásica crônica: surgem placas de cor branca, fortemente aderidas nas regiões da mucosa na cavidade oral (língua, bochechas e lábios). Em alguns casos, as lesões podem acometer uma degeneração de formar um carcinoma epidermóide. Queilites Angular e Candidósica: conhecida como “boqueira”, queilites angular tem como um de seus agentes a Candida sp. ou leveduras, associadas ou não a contaminação bacteriana. As lesões aparecem nos cantos das junções dos lábios, com uma camada cremosa que tende a ressecar formando crostas. Essas lesões doem, podem sangrar, ser uni ou bilaterais, e podem se estender à mucosa bucal. A Queilites Candidósica é secundária da pseudomembranosa ou da queilites angular, surgindo o aparecimento de inflamações nos lábios, e pode evoluir para formação de fissuras. Surgem mais em portadores de candidíase oral prévia e que tem o hábito de morder os lábios, e em pessoas com aparelhos ortodônticos mal ajustados. Língua Negra Pilosa: as leveduras podem ser seu agente etiológico, bem como também podem ser, em alguns casos, uma colonização em lesões prévias, e não ser esta doença. Os sintomas iniciais são boca seca, pinicadas e sensação de queimaduras, sucedendo o aparecimento de hipertrofia em regiões da papila lingual, ficando com coloração escurecida, devido o consumo da alimentação ou bebida de cor escura. Predisposição devido ao tabagismo, corticóides, dentifrícios, etc. VULVOVAGINITES Devido a proliferação exacerbada das leveduras da microbiota normal vaginal, ocorre a Candida sp., provocando uma vaginite acompanhada de irritação, corrimento vaginal infeccioso (60 a 70% dos casos são da espécie Candida albicans, nesse quadro, em outros casos são outras espécies de Candida), com uretrite e disúria, podendo haver infecção urinária. A candidíase vulvovaginal é uma das doenças fúngicas mais comuns no sistema reprodutor genital. Vários fatores são predisposições correspondentes ao seu surgimento, como: diabetes, gravidez, contraceptivos orais, terapia de reposição estrogênica, antibioticoterapia, e etc. O desconforto e irritação são sintomas temporários que normalmente acontece em maioria das mulheres. Em algumas outras que podem ter candidíase crônica, com sintomas mais severos e duradouros, pode provocar um importante distúrbio psicológico. BALANOPOSTITE Balanopostite é o nome dado a manifestação clínica genital masculina na região da glande ou do sulco balanoprepucial que pode apresentar-se inicialmente como um pruriginoso eritema no homem após ter relações com uma mulher portadora de candidíase vulvovaginal. Outra forma ainda mais grave também pode ser apresentada, através de vesículas ou pústulas, que ao romperem liberam secreções seromucóide de cor branca ou amarela. CANDIDÍASE CUTÂNEO-MUCOSA CRÔNICA Todos os quadros que acometem simultaneamente a pele, unhas e mucosa são caracterizados com sendo um quadro de candidíase cutâneo mucosa crônica. São quadros de resistência e difícil tratamento. Esse tipo de lesão tem predileção por extremidades distais dos membros e regiões periorificiais. É um tipo de lesão pouco frequente, geralmente aparece antes dos três anos de idade, como manifestação clínica se observam lesões em mucosas, como candidíase oral, com o decorrer do tempo de observa eritema na pele que pode chegar a evoluir. Lesões essas encontradas na face, extremidades com onyxis/perionyxis e no couro cabeludo. Esse tipo de lesão causada por candidíase cutâneo mucosa crônica pode se associar a outras infecções cutâneas ou sistêmicas seguidas de alteração imunológica ou endócrina. GRANULOMA CANDIDIÓSICO Chama-se de granuloma candidiósico a candidíase cutâneo mucosa grave, com lesões que se localizam na face, couro cabeludoe membros tendo aspecto granulomatoso que podem ser mutilantes ou fatais. TRATAMENTO A depender da gravidade da manifestação clínica da candidíase cutâneo mucosa crônica serão usadas drogas antifúngicas, como nistatina, anfotericina B, cetoconazol, itraconazol e fluconazol. Deve-se sempre lembrar de remover os os fatores predisponentes , nos recém nascidos, por exemplo deve-se remover as fraldas úmidas que desenvolvem lesão intertriginosa e se ter uma higiene rigorosa, utilizando medicação oral nesses casos. Aos pacientes com onyxis e perionyxis, o tratamento é do tipo tópico associado a medicação antibacteriana, em situações em que for observada infecção secundária, usa-se nistatina tópica. Os derivados imidazólicos, como cetoconazol são resultados entre dois a seis meses. Na candidíase oral, é recomendável utilizar a nistatina (1-2%) várias vezes ao dia na forma de bochechos antes de engoli-la. A candidíase vulvovaginal é tratada com imidazólicos tópicos ou sistêmicos. Esse tratamento deve ser associado ao da parceira. Na candidíase cutâneo mucosa, deve-se utilizar antifúngicos tópicos e sistêmicos associados a um conjunto de medidas para controle da infecção. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Em virtude de lesões úmidas a maioria do material biológico que chega nos laboratórios para essa demanda, é em swabs estéreis, alguns podem ser semeados de imediato. O material será processado em duas etapas. A primeira confecção de lâminas para observação micológica, e a segunda utiliza os meios convencionais para fungos. As Colônias no segundo caso crescem em temperatura ideal, levando no máximo 72 horas, no meio de Sabouraud se apresentam de textura glabrosa e com relevo convexo, pode apresentar variação de cerebriforme a rugosa, coloração varia do branco ao amarelo, ou até mesmo laranja. A identificação final é feita com os testes de assimilação e fermentação de carboidratos, formação de tubo germinativo. CANDIDÍASE SISTÊMICA OU VISCERAL É a manifestação clínica da candida sp. e de leveduras correlatas, caracterizadas por sintomatologia infecciosa localizada e que, em algum período de sua evolução disseminou-se a outro órgão exógeno com disseminação, como na infusão de líquidos contaminados. Sua manifestação clínicas são bastante variáveis e não-específicas. Dessa forma, podemos encontrar quadros com sintomatologia cardíaca, digestiva, respiratória, hepática, renal, ocular e até do sistema nervoso. Em todos esses casos podem ser observados fungemia transitória ou permanente, associada ou não a quadros de sepse. A incidência das candidemias aumentou muito, nos anos 90, atingindo 5 a 10 casos por 10.000 hospitalizados. Vários autores relatam que a Cândida albicans é a principal espécie implicada nas candidemias, sendo responsável por 50% dos casos. TRATAMENTO Quando mais graves requerem tratamento com antifúngicos por via sistêmica. A droga escolhida para tratamento, nesses casos, é a anfotericina B, associada ou não à flucitosina. Derivados azólicos tem sido utilizados com sucesso no tratamento das informações por leveduras. Mais uma vez devemos lembrar que a remoção de fatores predisponentes é condição fundamental para o êxito terapêutico. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico para infecções sistêmicas é igual conforme os outros métodos já descritos o que difere é o tipo de amostra coletada que deve ser de região do órgão ou da corrente sanguínea. Não recomenda-se o material retirado de corrente sanguínea devido ao baixa concentração de amostras encontradas. Em alguns outros materiais como urina e outros líquidos corpóreos recomenda-se a quantificação da população fúngica antes da identificação. CANDIDÍASE ALÉRGICAS As candidíases alérgicas caracterizam-se por quadros bastante diversos, desde lesões cutâneas vesiculosas até lesões eczematóides estéreis encontrados nos espaços entre os dedos ou em outras partes do corpo que desaparecem com o fim da infecção. Sendo também chamadas de candidites. TRATAMENTO O tratamento consiste em utilização de drogas antifúngicas como corticosteróides tópicos para o tratamento do foco primário quando este é aparente. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Resultados negativos da pesquisa direta por fungos indica candidíases alérgicas.