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1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 2 Sistema Urinário I 1. Introdução – O sistema urinário consiste em: ● 2 rins; ● 2 ureteres; ● 1 bexiga urinária; ● 1 uretra. – Após os rins filtrarem o plasma sanguíneo, eles devolvem a maior parte da água e dos solutos à corrente sanguínea. A água e solutos restantes constituem a urina. – A urina então passa pelos ureteres e é armazenada na bexiga urinária até ser eliminada do corpo pela uretra. – Assim, podemos dizer que as principais funções do sistema urinário são: a) Rins: i) Regulam o volume e a composição sanguínea; ii) Ajudam a regular a pressão arterial; iii) Ajudam a regular o pH e os níveis de glicose; iv) Produzem dois hormônios (calcitriol e eritropoetina); v) Excretam escórias metabólicas na urina. b) Ureteres: i) Transportam a urina dos rins para a bexiga urinária. c) Bexiga urinária: i) Armazena a urina e depois a expele pela uretra. d) Uretra: i) Elimina a urina do corpo. 2. Rins A) Funções dos Rins – Os rins desempenham a principal função do sistema urinário. As outras partes do sistema são basicamente vias de passagem e áreas de armazenamento. Assim, as funções dos rins incluem: a) Regulação da composição iônica do sangue: os rins ajudam a regular os níveis sanguíneos de vários íons. Os mais importantes são: i) Sódio → Na + ii) Potássio → K + iii) Cálcio → Ca +2 iv) Cloreto → Cl - v) Fosfato → HPO4 -2 b) Regulação do pH do sangue: os rins excretam uma quantidade variável de íon hidrogênio (H + ) para a urina e preservam os íons bicarbonato (HCO3 - ), que são um importante tampão do H + no sangue. Ambas as atividades ajudam a regular o pH sanguíneo. c) Regulação do volume de sangue: os rins ajustam o volume do sangue através da conservação ou eliminação de água na urina. i) O aumento do volume de sangue eleva a pressão arterial. ii) A diminuição do volume de sangue diminui a pressão arterial. d) Regulação da pressão arterial: os rins também auxiliam na regulação da pressão arterial através da secreção da enzima renina, que ativa o sistema renina-angiotensina-aldosterona. O aumento da renina resulta no aumento da pressão arterial. e) Manutenção da osmolaridade do sangue: ao regular separadamente a perda de água e a perda de solutos na urina, os rins mantêm uma osmolaridade do sangue relativamente constante, de aproximadamente 300 mOsm/L (miliosmóis por litro). f) Produção de hormônios: os rins produzem dois hormônios. i) Calcitriol: é a forma ativa da vitamina D. Ajuda a regular a homeostasia do cálcio. ii) Eritropoetina: estimula a produção de eritrócitos. g) Regulação do nível sanguíneo de glicose: da mesma forma que o fígado, os rins podem utilizar o aminoácido glutamina na gliconeogênese, a síntese de novas moléculas de glicose. Eles podem, assim, liberar glicose no sangue para ajudar a manter um nível normal de glicemia. 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 3 h) Excreção de escórias metabólicas e substâncias estranhas: por meio da formação de urina, os rins ajudam a excretar escórias metabólicas: substâncias que não têm função útil no corpo. i) Algumas escórias resultam de reações metabólicas no organismo. São exemplos: 1) Amônia e ureia → desaminação dos aminoácidos; 2) Bilirrubina → catabolismo da hemoglobina; 3) Creatinina → clivagem do fosfato de creatina nas fibras musculares; 4) Ácido úrico → catabolismo dos ácidos nucleicos. ii) Outras escórias são substâncias estranhas da dieta, como por exemplo fármacos e toxinas ambientais. B) Anatomia e Histologia dos Rins – Localizam-se logo acima da cintura, situados entre o peritônio e a parede posterior do abdome. Devido à sua posição posterior ao peritônio da cavidade abdominal, são considerados retroperitoneais. – Estão localizados entre os níveis das últimas vértebras torácicas e a terceira vértebra lombar (LIII), uma posição na qual estão parcialmente protegidos pelas costelas XI e XII. – O rim direito está ligeiramente mais baixo do que o esquerdo, pois o fígado ocupa um espaço considerável no lado direito superior ao rim. B.1) Anatomia Externa dos Rins – A margem medial côncava de cada rim está voltada para a coluna vertebral. Perto do centro da margem côncava está o hilo renal, através do qual o ureter emerge do rim, juntamente com os vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos. – Três camadas de tecido circundam cada rim. a) Cápsula fibrosa: é a mais profunda. É uma lâmina lisa e transparente de tecido conjuntivo denso não modelado, que é contínuo com o revestimento externo do ureter. i) Serve como uma barreira contra traumatismos; ii) Também ajuda a manter a forma do rim. b) Cápsula adiposa: é a intermediária. É uma massa de tecido adiposo que reveste a cápsula fibrosa. i) Também serve para proteger o rim de traumas; ii) Além disso, ela prende o rim firmemente na sua posição na cavidade abdominal. 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 4 c) Fáscia renal: é a mais superficial. É outra camada fina de tecido conjuntivo denso não modelado. i) Ela ancora o rim às estruturas vizinhas e à parede abdominal. ii) Na face anterior dos rins, ela se localiza profundamente ao peritônio. B.2) Anatomia Interna dos Rins – É formada por duas regiões distintas. a) Medula renal: é a região mais interna. Tem uma coloração castanha-avermelhada mais escura. Consiste em várias pirâmides renais com formato de cone. i) A base de cada pirâmide está voltada para o córtex renal. ii) O ápice de cada pirâmide, chamado de papila renal, está voltado para o hilo renal. b) Córtex renal: é a região mais superficial. Tem uma cor vermelha clara. É a área de textura fina que vai da cápsula fibrosa até às bases das pirâmides renais, e nos espaços entre elas. Se divide em: i) Zona cortical externa ii) Zona justamedular interna iii) Colunas renais → são as partes do córtex que se estendem entre as pirâmides renais. – Córtex renal + pirâmides renais da medula renal = parênquima → porção funcional do rim. É no interior do parênquima que estão situados os néfrons, que são as unidades funcionais dos rins. – O filtrado formado pelos néfrons é drenado para grandes ductos coletores, que se estendem através da papila renal das pirâmides. – Os ductos coletores drenam para estruturas em forma de taça chamadas de cálices renais maiores (cada rim tem 2 ou 3) e cálices renais menores (cada rim tem 8-18). – Um cálice renal menor recebe a urina dos ductores coletores de uma papila renal e a leva para um cálice renal maior. – Uma vez que o filtrado entra nos cálices, ele se torna urina, pois não pode mais ocorrer reabsorção. O motivo é que o epitélio simples dos néfrons e túbulos se torna epitélio de transição nos cálices. – Dos cálices renais maiores, a urina flui para uma grande cavidade única chamada de pelve renal. Em seguida, segue para fora pelo ureter até chegar na bexiga urinária. – O hilo renal se expande em uma cavidade no interior do rim chamada de seio renal, que contém parte da pelve renal, os cálices e os ramos dos vasos sanguíneos e nervos renais. O tecido adiposo ajuda a estabilizar a posição dessas estruturas no seio renal. B.3) Irrigação e Inervação dos Rins – Como os rins removem as escórias metabólicas do sangue, e regulam o seu volume e composição iônica, eles são abundantemente irrigados por vasos sanguíneos. – Os rins recebem de 20-25% do débito cardíaco de repouso através das artérias renais direita e esquerda. Em adultos, o fluxo sanguíneo renal (fluxo sanguíneo através de ambos os rins) é de aproximadamente 1200 mL/min. 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 5 – No rim, a artéria renal se divide em várias artérias segmentares. Elas irrigam diferentes segmentos do rim. – Cada artéria segmentar emite vários ramos que penetram no parênquima e passam ao longo das colunas renais entre os lobos renais como as artérias interlobares. – Lobo renal = uma pirâmide renal + um poucoda coluna renal em ambos os lados da pirâmide renal + córtex renal na base da pirâmide renal. – Nas bases das pirâmides renais, as artérias interlobares se arqueiam entre o córtex e a medula renais. Aqui, elas são chamadas de artérias arqueadas. – As artérias arqueadas se ramificam em artérias interlobulares, que irradiam para fora e entram no córtex renal. Aqui, emitem ramos chamados de arteríolas glomerulares aferentes. – Cada néfron recebe uma arteríola glomerular aferente, que se divide em um enovelado capilar chamado de glomérulo. Os glomérulos capilares se reúnem e formam uma arteríola glomerular eferente, que leva o sangue para fora do glomérulo. – Os capilares glomerulares são únicos entre os capilares no corpo, pois estão posicionados entre duas arteríolas, em vez de entre uma arteríola e uma vênula. – Como são redes capilares e também têm participação importante na formação de urina, os glomérulos são considerados parte tanto do sistema circulatório, quanto do sistema urinário. – As arteríolas eferentes se dividem e formam os capilares peritubulares, que circundam as partes tubulares do néfron no córtex renal. – Estendendo-se de alguns capilares glomerulares eferentes estão capilares longos, em forma de alça, chamados de arteríolas retas, que vão irrigar porções tubulares do néfron na medula renal. – Os capilares peritubulares, por fim, se unem e formam as veias interlobulares, que também recebem sangue das arteríolas retas. Em seguida, o sangue flui pelas veias arqueadas para as veias interlobares. – O sangue sai do rim por uma veia renal única que emerge do hilo renal e transporta o sangue venoso para a veia cava inferior. – Muitos nervos renais se originam no gânglio renal e passam pelo plexo renal para os rins, juntamente com as artérias renais. Os nervos renais integram a parte simpática da divisão autônoma do sistema nervoso. – A maior parte é formada por nervos vasomotores que regulam o fluxo sanguíneo renal, causando dilatação ou constrição das arteríolas renais. C) Néfron C.1) Partes do Néfron – Os néfrons são as unidades funcionais dos rins. Cada néfron é formado por duas partes. 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 6 a) Corpúsculo renal: nele, ocorre a filtração do plasma sanguíneo. O corpúsculo renal é composto por dois componentes: i) Glomérulo ii) Cápsula glomerular (cápsula de Bowman) → é uma estrutura epitelial de parede dupla que circunda os capilares glomerulares. 1) O plasma sanguíneo é filtrado na cápsula glomerular. 2) Então, o líquido filtrado passa para o túbulo renal. b) Túbulo renal: por ele, passa o líquido filtrado (filtrado glomerular). É formado por três partes principais. Em ordem de recebimento do líquido: i) Túbulo contorcido proximal (TCP) → parte do túbulo ligada à cápsula glomerular. ii) Alça de Henle 1) A primeira parte começa no ponto em que o TCP faz sua última curva descendente (ramo descendente da alça de Henle). 2) Em seguida, faz uma curva fechada e volta para o córtex renal, onde termina no TCD e é conhecido como ramo ascendente da alça de Henle. iii) Túbulo contorcido distal (TCD) → parte do túbulo mais distante da cápsula glomerular. – O corpúsculo renal e os TCPs e TCDs se localizam no córtex renal. Já a alça de Henle vai até a medula renal, faz uma curva fechada e volta para o córtex renal. – Os TCDs de vários néfrons drenam para um único ducto coletor. Os ductos coletores, então, se unem e convergem em grande ductos papilares, que drenam para os cálices renais menores. – Os ductos coletores e papilares vão desde o córtex renal ao longo da medula renal até chegarem na pelve renal. Assim, cada rim tem aproximadamente 1 milhão de néfrons, mas um número muito menor de ductos coletores e ainda menor de ductos papilares. – Cerca de 80-85% dos néfrons são néfrons corticais. Seus corpúsculos renais se localizam na parte externa do córtex renal. Eles apresentam alças de Henle curtas, que se encontram principalmente no córtex e penetrem somente na região externa da medula renal. ● As alças de Henle curtas são irrigadas por capilares peritubulares que emergem das arteríolas glomerulares eferentes. – Os outros 15-20% de néfrons são néfrons justamedulares. Seu corpúsculos renais encontram-se profundamente no córtex, próximo da medula renal, e têm alças de Henle longas, que vão até a região mais profunda da medula renal. ● As alças de Henle longas são irrigadas por capilares peritubulares e arteríolas retas que emergem das arteríolas glomerulares eferentes. ● Além disso, o ramo ascendente é formado por uma parte ascendente delgada, seguida por uma parte ascendente espessa. ● Os néfrons com alças longas possibilitam que os rins excretem uma urina muito diluída ou muito concentrada. C.2) Histologia do Néfron e do Ducto Coletor 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 7 – Uma camada única de células epiteliais forma toda a parede da cápsula glomerular, túbulos e ductos renais. – Porém, cada parte têm características histológicas distintas que refletem suas funções específicas. Vamos discuti-las na ordem do fluxo do líquido. a) Cápsula glomerular: consiste nas seguintes camadas: ● Camada visceral: é formada por células epiteliais pavimentosas simples modificadas chamadas de podócitos. ○ As muitas projeções em forma de pé destas células (pedicelos) envolvem a camada única de células endoteliais dos capilares glomerulares e formam a parade interna da cápsula. ● Camada parietal: consistem em um epitélio pavimentoso simples e forma a parede externa da cápsula. ○ O líquido filtrado pelos capilares glomerulares entra no espaço capsular, situado entre as duas camadas, que é o lúmen do tubo urinário. b) Túbulo renal e ducto coletor: ● TCP: as células são epiteliais cúbicas simples com uma borda em escova proeminente de microvilosidades em sua superfície apical. ○ Essas microvilosidades aumentam a área de superfície para a reabsorção e secreção. ● Parte descendente da alça de Henle e primeira porção da parte ascendente da alça de Henle (parte delgada): compostas por epitélio pavimentoso simples. ● Parte espessa ascendente da alça de Henle: composta por epitélio colunar cúbico simples a epitélio colunar baixo. – Em cada néfron, a parte final descendente da alça de Henle faz contato com a arteríola glomerular aferente que irriga o corpúsculo renal. Como as células colunares tubulares dessa região estão muito próximas uma da outra, são conhecidas como mácula densa. – Ao lado da mácula densa, a parede da arteríola glomerular aferente (e às vezes a arteríola glomerular eferente) contém fibras musculares lisas modificadas chamadas de células justaglomerulares (JG). – Células JG + mácula densa = aparelho justaglomerular (AJG). Ele ajuda a regular a pressão arterial no interior dos rins. – TCD: na última parte do TCD e até os túbulos coletores, encontramos dois tipos de células: ● Células principais: são a maior parte. Elas apresentam receptores tanto para o ADH (hormônio antidiurético) quanto para a aldosterona, dois hormônios que regulam suas funções. ● Células intercaladas: são a menor parte. Atuam na homeostasia do pH do sangue. – Os ductos coletores drenam para os grandes ductos papilares, que são revestidos por epitélio colunar simples. – O número de néfrons é constante desde o nascimento. Qualquer aumento do tamanho do rim se deve ao crescimento individual de néfrons. – Se os néfrons forem lesionados ou estiverem doentes, não se formam novos néfrons. Os sinais de disfunção renal geralmente não se tornam aparentes até que a função tenha diminuído para menos de 25% do normal, pois os néfrons funcionais restantes se adaptam para lidar com a carga maior do que a normal. – A remoção cirúrgica de um rim, por exemplo, estimula a hipertrofia do rim remanescente, que acaba conseguindo filtrar o sangue com 80% da velocidade de dois rins normais. D) Aspectos Geraisda Fisiologia Renal – Para produzir urina, os néfrons e os ductos coletores realizam três processos básicos: 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 8 1. Filtração glomerular: é a primeira etapa da produção de urina. Aqui, água e a maior parte dos solutos do plasma sanguíneo atravessam a parede dos capilares glomerulares, onde são filtrados e passam para o interior da cápsula glomerular e, em seguida, para o túbulo renal. 2. Reabsorção tubular: à medida em que o líquido filtrado flui pelos túbulos renais e ductos coletores, as células tubulares reabsorvem aproximadamente 99% da água filtrada e muitos solutos úteis. a. A água e os solutos retornam ao sangue que flui pelos capilares peritubulares e arteríolas retas. b. Reabsorção = retorno de substâncias para a corrente sanguínea. Absorção = entrada de novas substâncias no corpo (ex.: sistema digestório). 3. Secreção tubular: conforme o líquido filtrado flui pelos túbulos renais e ductos coletores, as células dos túbulos renais e dos ductos secretam outros materiais, como escórias metabólicas, fármacos e excesso de íons. a. Secreção tubular = remover uma substância do sangue. – Os solutos e o líquido que fluem para os cálices renais menores e maiores e para a pelve renal formam a urina e são excretados. A taxa de excreção urinária de qualquer soluto = taxa de filtração glomerular + taxa de secreção – taxa de reabsorção. – Por meio da filtração, reabsorção e secreção, os néfrons ajudam a manter a homeostasia do volume e da composição do sangue. E) Filtração Glomerular – O líquido que entra no espaço capsular é chamado de filtrado glomerular. A fração de plasma sanguíneo nas arteríolas glomerulares aferentes dos rins que se torna filtrado glomerular é a fração de filtração. Em média, o volume diário de filtrado glomerular em adultos é de 150 L nas mulheres e 180 L nos homens. – Mais de 99% do filtrado glomerular regressa à corrente sanguínea por meio da reabsorção tubular, de modo que apenas 1 a 2 L são excretados como urina. E.1) Membrana de Filtração – Os capilares glomerulares e os podócitos, que circundam completamente os capilares, formam uma barreira permeável, conhecida como membrana de filtração. – Essa configuração possibilita a filtração da água e pequenos solutos, mas impede a filtração da maior parte das proteínas plasmáticas, células sanguíneas e plaquetas. – As substâncias filtradas do sangue atravessam três barreiras de filtração: a) Célula endotelial glomerular: são bastante permeáveis, pois possuem grandes fenestrações, isto é, grandes poros. ● Elas possibilitam que todos os solutos do plasma sanguíneo saiam dos capilares glomerulares, mas impede a filtração de células sanguíneas e plaquetas. 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 9 ● Localizadas entre os capilares glomerulares e na fenda entre as arteríolas glomerulares aferentes e eferentes estão as células mesangiais, que são células contráteis que ajudam a regular a filtração glomerular. b) Lâmina basal: é uma camada de material acelular situada entre o endotélio e os podócitos. É formada por fibras colágenas minúsculas e proteoglicanos em uma matriz glicoproteica. ● As cargas negativas na matriz impedem a filtração das proteínas plasmáticas maiores carregadas negativamente. c) Fenda de filtração formada por um podócito: estendendo-se de cada podócito estão milhares de processos em formato de pé chamados de pedicelos. Eles envolvem os capilares glomerulares. ● Os espaços entre os pedicelos são as fendas de filtração. Uma fina membrana, a membrana da fenda, se estende através de cada fenda de filtração, possibilitando a passagem de moléculas de: ○ Água; ○ Glicose; ○ Vitaminas; ○ Aminoácidos; ○ Proteínas plasmáticas muito pequenas; ○ Amônia; ○ Ureia; ○ Íons. ● Menos de 1% da albumina, a proteína mais abundante no plasma, passa pela membrana da fenda, pois é um pouco grande demais para passar pelas fendas. – O princípio da filtração (utilizar pressão para forçar líquido e solutos através de uma membrana) é o mesmo tanto nos capilares glomerulares, quanto nos capilares sanguíneos de outras partes do corpo. – Entretanto, o volume de líquido filtrado pelo corpúsculo renal é muito maior do que em outros capilares sanguíneos do corpo, por três razões: ● Os glomérulos apresentam uma grande área de superfície para a filtração, porque são longos e extensos. ○ As células mesangiais regulam a quantidade de área de superfície disponível. ■ Quando as células mesangiais estão relaxadas, a área de superfície é máxima e a filtração glomerular é muito alta. ■ Quando estão contraídas, elas reduzem a área de superfície, diminuindo a filtração glomerular. ● A membrana de filtração é fina e porosa. ○ Além disso, os capilares glomerulares são cerca de 50 vezes mais permeáveis do que os capilares sanguíneos da maior parte dos outros tecidos, principalmente por causa de suas grandes fenestrações. ● A pressão sanguínea glomerular é alta. ○ Como a arteríola glomerular eferente tem um diâmetro menor do que o da arteríola glomerular aferente, a resistência à saída de sangue do glomérulo é alta. ○ Como consequência disso, a pressão sanguínea nos capilares glomerulares é consideravelmente mais elevada do que nos capilares sanguíneos em qualquer outro local do corpo. E.2) Pressão Efetiva de Filtração – A filtração glomerular depende de três pressões principais, sendo que uma promove a filtração e as outras duas se opõem à filtração. a) Pressão hidrostática glomerular do sangue (PHGS): é a pressão do sangue nos capilares glomerulares. Em geral, ela é de aproximadamente 55 mmHg. É ela que promove a filtração, forçando 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 10 a água e os solutos do plasma através da membrana de filtração. b) Pressão hidrostática capsular (PHC): é a pressão hidrostática exercida contra a membrana de filtração pelo líquido que já está no espaço capsular e no túbulo renal. A PHC se opõe à filtração, e representa uma pressão de retorno de aproximadamente 15 mmHg. c) Pressão coloidosmótica do sangue (PCOS): é decorrente da presença de proteínas, como a albumina, as globulinas, o fibrinogênio no plasma e no sangue. Ela também se opõe à filtração. A PCOS média nos capilares glomerulares é de 30 mmHg. – Nesse sentido, a pressão de filtração efetiva (PFE), isto é, a pressão total que promove a filtração é determinada da seguinte forma: PFE = PHGS – PHC – PCOS – Substituindo os valores, podemos calcular a PFE normal: PFE = 55 mmHg – 15 mmHg – 30 mmHg = 10 mmHg. E.3) Taxa de Filtração Glomerular – A quantidade de filtrado formado em todos os corpúsculos renais de ambos os rins a cada minuto determina a taxa de filtração glomerular (TFG). – Nos adultos, a TFG média nos homens é de 125 mL/min e nas mulheres é de 105 mL/min. – A homeostasia dos líquidos corporais exige que os rins mantenham uma TFG relativamente constante. ● Se a TFG for muito elevada, as substâncias necessárias podem passar muito rapidamente pelos túbulos renais, e terminar não sendo reabsorvidas, se perdendo na urina. ● Por outro lado, se a TFG for muito baixa, quase todo filtrado pode ser reabsorvido, e certas escórias metabólicas podem não ser adequadamente excretadas. – Além disso, a TFG está diretamente relacionada com as pressões que determinam a PFE. Qualquer mudança na PFE influencia a TFG. ● A perda importante de sangue, por exemplo, reduz a pressão arterial média, diminuindo assim a PHGS. ● A filtração cessa se a PHGS cair para 45 mmHg, porque as pressões de resistência (PHC e PCOS) somam 45 mmHg. ● Por outro lado, quando a pressão arterial sistêmica está acima do normal, a PFE e a TFG aumentam muito pouco. ● A TFG é quase constante quando a pressão arterial média está em algum ponto entre 80 e 180 mmHg. – Os mecanismos que regulam a TFG operam por dois modos principais: ● Ajustando o fluxo sanguíneo para dentro e parafora do glomérulo. ○ A TFG aumenta quando o fluxo sanguíneo nos capilares glomerulares aumenta. ● Alterando a área de superfície disponível para filtração capilar glomerular. ○ O controle coordenado do diâmetro das arteríolas glomerulares aferentes e eferentes regula o fluxo sanguíneo glomerular. – São três mecanismos que controlam a TFG. I) Autorregulação renal da TFG – Os rins por si sós ajudam a manter o fluxo sanguíneo renal e a TFG constantes, apesar das mudanças cotidianas normais na pressão arterial, como as que ocorrem durante o exercício. – Esse recurso é chamado de autorregulação renal, e é composto por dois mecanismos: a) Mecanismo miogênico: ocorre quando a distensão dispara a contração das células musculares lisas das paredes das arteríolas glomerulares aferentes. 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 11 ● À medida que a PA sobe, a TFG também aumenta, porque o fluxo sanguíneo renal aumenta. ● No entanto, a pressão sanguínea elevada distende as paredes das arteríolas glomerulares aferentes. ● Em resposta, as fibras de músculo liso da parede da arteríola glomerular aferente se contraem, o que reduz o lúmen da arteríola. ● O resultado disso é que o fluxo renal diminui, diminuindo assim a TFG para o nível anterior. ● Inversamente, quando a PA diminui, as células de músculo liso são menos distendidas e assim relaxam. ● As arteríolas glomerulares aferentes se dilatam, o fluxo sanguíneo renal aumenta e a TFG aumenta. b) Feedback tubuloglomerular: parte dos túbulos renais, a mácula densa, fornece o feedback ao glomérulo. ● Quando a TFG está acima do normal em decorrência de uma PA elevada, o líquido filtrado flui mais rapidamente ao longo dos túbulos renais. ● A consequência disso é que o túbulo contorcido proximal e a alça de Henle têm menos tempo para reabsorver Na+, Cl- e água. ● Acredita-se que as células da mácula densa detectam o aumento do aporte de Na+, Cl- e água e inibam a liberação de óxido nítrico (NO) das células do aparelho justaglomerular (AJG). ● Como resultado, menos sangue flui para os capilares glomerulares, e a TFG diminui. ● Quando a PA cai, fazendo com que a TFG seja menor do que o normal, ocorre a sequência de eventos oposta, mas em menor grau. ● O feedback tubuloglomerular é mais lento do que o mecanismo miogênico. II) Regulação Neural da TFG – Assim como a maior parte dos vasos sanguíneos do corpo, os vasos sanguíneos dos rins são inervados por fibras simpáticas do SNA que liberam norepinefrina. – A norepinefrina causa vasoconstrição pela ativação de receptores alfa-1, que são abundantes nas fibras musculares lisas das arteríolas glomerulares aferentes. – Em repouso, a estimulação simpática é moderamente baixa. As arteríolas glomerulares aferentes e eferentes estão dilatadas e a autorregulação renal do TFG prevalece. – Com estimulação simpática moderada, tanto as arteríolas glomerulares aferentes quando eferentes se contraem com a mesma intensidade. Assim, o fluxo sanguíneo para dentro e para fora do glomérulo é restrito na mesma medida, o que diminui apenas ligeiramente a TFG. – Com maior estimulação simpática, no entanto, como ocorre no exercício ou na hemorragia, a constrição das arteríolas glomerulares aferentes predomina. Como resultado, o fluxo sanguíneo para os vasos capilares glomerulares é muito reduzido e a TFG diminui. – Essa redução no fluxo sanguíneo tem duas consequências: ● Reduz o débito urinário, o que ajuda conservar o volume de sangue; ● Possibilita um maior fluxo sanguíneo para os outros tecidos do corpo. III) Regulação Hormonal da TFG – Dois hormônios contribuem para regular a TFG. a) Angiotensina II: reduz a TFG. É um vasoconstritor muito forte, que estreita as arteríolas glomerulares aferentes e eferentes, e assim reduz o fluxo sanguíneo renal, diminuindo a TFG. b) Peptídio natriurético atrial (PNA): aumenta a TFG. O PNA é secretado pelas células dos átrios cardíacos, em resposta à distensão dos átrios quando o volume sanguíneo aumenta. O PNA relaxa as células mesangiais glomerulares. Assim, aumenta a área de superfície disponível para filtração capilar. O TFG aumenta à medida que a área de superfície aumenta. 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 12 F) Reabsorção e Secreção Glomerular F.1) Princípios da Reabsorção e Secreção Tubular – As células epiteliais ao longo dos túbulos e ductos renais realizam a reabsorção, mas as células do TCP dão a maior contribuição. – Os solutos que são reabsorvidos por processos ativos e passivos incluem glicose, aminoácidos, ureia e íons como Na + , K + , Ca +2 , Cl - , HCO3 - , HPO4 -2 . – Uma vez que o líquido passa através do TCP, as células localizadas mais distalmente aperfeiçoam os processos de reabsorção para manter o equilíbrio da homeostasia de água e íons específicos. – A maior parte das proteínas e peptídios pequenos que passam através do filtro também é reabsorvida, geralmente via pinocitose. – A terceira função dos néfrons e ductos coletores é a secreção tubular, a transferência de materiais das células do sangue e do túbulo para o filtrado glomerular. Essas substâncias incluem íons H + , K +, NH4 + , creatinina e determinados fármacos, como a penicilina. – Dessa forma, a secreção tubular tem duas consequências importantes: ● A secreção de H + ajuda a controlar o pH sanguíneo; ● A secreção de outras substâncias ajuda a eliminá-las do corpo pela urina. I) Vias de Reabsorção – Uma substância que está sendo reabsorvida pode seguir uma de duas vias antes de entrar em um capilar peritubular: ● Pode mover-se entre células tubulares adjacentes ● Pode mover-se através de uma célula tubular individual. – Ao longo do túbulo renal, as células vizinhas mantêm-se unidas umas às outras através de zônulas de oclusão. A membrana apical das células está em contato com o líquido tubular, e a membrana basolateral está em contato com o líquido intersticial na base e lados da célula. – O líquido pode vazar entre as células através da reabsorção paracelular, um processo passivo (difusão). Mesmo as células epiteliais estando ligadas por junções oclusivas, estas junções entre as células dos túbulos renais proximais são permeáveis, e possibilitam a passagem de algumas substâncias para os capilares peritubulares. – Na reabsorção transcelular, por sua vez, uma substância passa do líquido presente no lúmen tubular através da membrana apical de uma célula do túbulo. Então, atravessa o seu citoplasma e sai para o líquido intersticial através da membrana basolateral. Isso se dá de forma ativa. II) Mecanismos de Transporte – Quando as células renais transportam os solutos para fora ou para dentro do líquido tubular, elas Marina Moraes Marina Moraes Marina Moraes Marina Moraes Marina Moraes Marina Moraes 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 13 movem substâncias específicas em apenas uma direção. – Diferentes tipos de proteínas transportadoras estão presentes nas membranas apical e basolateral. Além disso, as junções oclusivas formam uma barreira que impede a mistura das proteínas nos compartimentos das membranas apical e basolateral. – A reabsorção de Na + é especialmente importante em decorrência da grande quantidade de íons sódio que passa através dos filtros glomerulares. – As células que revestem os túbulos renais apresentam baixa concentração de Na + em seu citosol, em decorrência da ação das bombas de sódio-potássio. Estas bombas estão localizadas nas membranas basolaterais e ejetam Na + das células do túbulo renal. – A ausência dessas bombas na membrana apical garante que a reabsorção de Na + seja unidirecional. – O transporte de material através das membranas pode ser ativo ou passivo. É importante lembrar que no transporte ativo primário a energia resultante da hidrólise do ATP é usada para bombear uma substância através de uma membrana. A bomba de sódio-potássio é uma dessas bombas. – Já no transporteativo secundário, é a energia armazenada no gradiente eletroquímico de um íon, em vez da hidrólise de ATP, que impulsiona uma substância através de uma membrana. Nesse contexto, os simportadores são proteínas de membrana que movem duas ou mais substâncias no mesmo sentido através da membrana. Já os contratransportadores movem duas ou mais substâncias em sentidos opostos através da membrana. – Cada transportador tem um limite máximo de velocidade de atuação, chamado de transporte máximo (Tm). Ele é medido em mg/min. – A reabsorção do soluto impulsiona a reabsorção de água, porque toda a reabsorção de água ocorre por osmose. A água reabsorvida com solutos no líquido tubular é chamada de reabsorção de água obrigatória, porque a água é obrigada a seguir os solutos quando eles são reabsorvidos. Esse tipo de reabsorção ocorre no TCP e na parte descendente da alça de Henle, porque essas partes do néfron sempre são permeáveis à água. 90% da reabsorção da água filtrada pelos rins ocorre dessa maneira. – As reabsorção dos últimos 10% de água (um total de 10 a 20 L por dia) é chamada de reabsorção de água facultativa. É um tipo de reabsorção capaz de se adaptar a uma necessidade. Essa reabsorção é regulada pelo ADH e ocorre principalmente nos ductos coletores. – O líquido filtrado se torna líquido tubular quando entra no TCP. A composição do líquido tubular muda conforme ele passa ao longo do néfron e do ducto coletor, em razão da reabsorção e secreção. O líquido que flui dos ductos papilares para a pelve renal é a urina. F.2) Secreção e Reabsorção no TCP – A maior quantidade de reabsorção de soluto e água a partir do líquido filtrado ocorre nos TCPs. Além disso, os TCPs secretam uma quantidade variável de H + , íons amônia (NH4 + ) e ureia. – A maior parte da reabsorção de solutos no TCP envolve o Na + . O transporte de Na + ocorre via mecanismos utilizando simportadores e antiportadores no TCP. – Normalmente, a glicose, os aminoácidos, o ácido láctico, as vitaminas hidrossolúveis e outros nutrientes filtrados não são perdidos na urina. Em vez disso, são completamente reabsorvidos na primeira metade do TCP por vários tipos de simportadores Na + localizados na membrana apical. – O simportador Na + glicose, a título de exemplo, funciona da seguinte forma: ● Dois íons Na + e uma molécula de glicose se ligam à proteína simportadora, que os transporta do líquido tubular para dentro da célula do túbulo. ● As moléculas de glicose então saem através da membrana basolateral via difusão 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 14 facilitada e se difundem para os capilares peritubulares. – Outros simportadores Na + no TCP recuperam íons de fosfato, sulfato, todos os aminoácidos e o ácido láctico filtrados de forma semelhante. – Em outro processo de transporte ativo secundário, os contratansportadores Na + H + carregam o Na + filtrado a favor do seu gradiente de concentração para dentro de uma célula do TCP conforme o H + é movido do citosol para o lúmen, fazendo com que o Na + seja reabsorvido para o sangue e o H + seja secretado no líquido tubular. – As células do TCP produzem o H + necessário para manter os contratransportadores se deslocando da seguinte maneira: ● O CO2 se difunde do sangue peritubular ou líquido tubular ou é produzido por meio de reações metabólicas no interior das células. ● Da mesma forma que ocorre nas hemácias, a enzima anidrase carbônica (AC) catalisa a reação do dióxido de carbono com a água para formar o ácido carbônico (H2CO3), que se disassocia em H + e HCO3 - . ● A maior parte do HCO3 - do líquido filtrado é reabsorvida nos TCPs, salvaguardando assim o suprimento do corpo de um importante tampão. ● Depois que o H+ é secretado para o líquido no interior do lúmen do TCP, ele reage com o HCO3- filtrado para formar H2CO3, que se dissocia facilmente em CO2 e H2O. ● O CO2 então se difunde para dentro das células dos túbulos e se junta ao H2O para formar H2CO3, que se dissocia em H+e HCO3-. ● À medida que o nível de HCO3- no citosol sobe, ele sai via transportadores por difusão facilitada na membrana basolateral, e se difunde para o sangue com o Na+. ● Assim, para cada H+ secretado no líquido tubular do TCP, um HCO3- e um Na+ são reabsorvidos. 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 15 – A reabsorção de soluto nos TCPs promove a osmose de água. Cada soluto reabsorvido aumenta a osmolaridade, primeiramente no interior da célula do túbulo, em seguida no líquido intersticial, e por fim no sangue. – Assim, a água se move rapidamente do líquido tubular para os capilares peritubulares e restaura o equilíbrio osmótico. – As células que revestem o TCP e a parte descendente da alça de Henle são especialmente permeáveis à água, pois contêm muitas moléculas de aquaporina-1. Esta proteína integrante da membrana plasmática é um canal de água que aumenta muito a velocidade de movimento da água através das membranas apical e basolateral. – Conforme a água deixa o líquido tubular, as concentrações dos solutos filtrados restantes aumentam. Na segunda metade do TCP, os grandientes eletroquímicos para o Cl-, K+, Ca+2, Mg+2 e ureia promovem sua difusão passiva para os capilares peritubulares, pelas vias paracelular e transcelular. – Entre esses íons, o Cl- está em concentração mais elevada. A difusão do Cl- negativamente carregado para o líquido intersticial por meio da via paracelular torna o líquido intersticial mais negativo do que o líquido tubular. Essa negatividade promove a reabsorção paracelular passiva de cátions, como o K+, Ca+2 e Mg+2. – A amônia (NH3) é um produto residual tóxico derivado da desaminação de vários aminoácidos, uma reação que ocorre principalmente nos hepatócitos. Os hepatócitos convertem a maior parte dessa amônia em ureia, um composto menos tóxico. – Embora pequenas quantidades de ureia e amônia estejam presentes no suor, a maior parte da secreção desses produtos ocorre por meio da urina. A ureia e a amônia no sangue são filtrados no glomérulo e secretados pelas células do TCP para o líquido tubular. – As células do TCP podem produzir NH3 adicional pela desaminação do aminoácido glutamina, em um reação que produz igualmente HCO3-. A NH3 se liga rapidamente ao H+ e forma o íon amônio (NH4), que pode substituir o H+ a bordo dos contratransportadores Na+ H+ na membrana apical e ser secretado para o líquido tubular. – O HCO3 produzido nessa reação se move através da membrana basolateral e então se difunde para a corrente sanguínea, fornecendo tampões adicionais ao plasma sanguíneo. F.3) Reabsorção na Alça de Henle – Como todos os TCPs absorvem aproximadamente 65% da água filtrada, o líquido entra na parte seguinte do néfron, a alça de Henle, a uma velocidade de 40 a 45 mL/min. – A composição química do líquido tubular agora é muito diferente daquela do filtrado glomerular, porque a glicose, os aminoácidos e outros nutrientes não estão mais presentes. – Porém, a osmolaridade ainda é muito semelhante àquela do sangue, pois a reabsorção de água por osmose mantém o ritmo com a reabsorção de solutos ao longo do TCP. – Na alça de Henle, pela primeira vez, a reabsorção de água por osmose não é automaticamente acoplada à reabsorção de solutos filtrados, porque parte da alça é relativamente impermeável à agua. 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 16 – As membranas apicais das células da parte ascendente espessa da alça têm simportadores Na+ K+ 2Cl-. Eles recuperam simultaneamente um Na+, um K+ e dois Cl- do líquido do lúmen tubular. ● O Na+, que é trasnportado ativamente para o líquido intersticial na base e nas laterais da célula, se difunde para as arteríolas retas. ● O Cl- se move pelos canais de vazamento na membrana basolateral para o líquido intersticial e daí para as arteríolas retas. ● Como muitos canais de vazamento de K+ estão presentes na membrana apical, a maior parte do K+ se movea favor do gradiente de concentração e volta para o líquido tubular. ● Assim, a principal função dos simportadores Na+ K+ 2Cl- é a reabsorção de Na+ e Cl-. ● O movimento do K+ para o líquido tubular deixa o líquido intersticial e o sangue com cargas mais negativas em relação ao líquido na parte ascendente da alça. ● Essa negatividade relativa promove a reabsorção de cátion Na+, K+, Ca+2 e Mg+2 utilizando a via paracelular. – Embora cerca de 15% da água filtrada seja absorvida na parte descendente da alça, pouca ou nenhuma água é absorvida na parte ascendente. No segmento ascendente, as membranas apicais são praticamente impermeáveis à água. Assim, como os íons, mas não a água, são reabsorvidos, a osmolaridade do líquido tubular diminui progressivamente à medida que o líquido flui para o fim da parte ascendente. F.4) Reabsorção no Início do TCD – O líquido entra nos TCDs a uma velocidade de 25 mL/min, pois 80% da água filtrada foram reabsorvidos. – A reabsorção de Na+ e Cl- ocorre por meio de simportadores Na+ Cl- nas membranas apicais. – As bombas de sódio-potássio e os canais de vazamento de Cl- nas membranas basolaterais então possibilitam a reabsorção de Na+ e Cl- para os capilares peritubulares. – O início do TCD também é um local importante, no qual o hormônio paratireóideo (PTH) estimula a reabsorção de Ca+2. A quantidade de Ca+2 reabsorvido neste local varia de acordo com as necessidades do organismo. F.5) Reabsorção e Secreção no Final do TCD e no Ducto Coletor – No momento em que o líquido alcança o final do TCD, 90-95% dos solutos filtrados e água retornaram para a corrente sanguínea. – Existem dois tipos de células na parte final do TCD e ao longo do ducto coletor: ● Principais: reabsorvem Na+ e secretam K+. ● Intercaladas: reabsorvem K+ e HCO3- e secretam H+. – Na parte final do TCD e nos ductos coletores, a reabsorção de água e solutos e a secreção de soluto 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 17 variam de acordo com as necessidades do organismo. – Diferente dos segmentos prévios do néfron, aqui o Na+ atravessa a membrana apical das células principais via canais de saída de Na+, e não por meio de simportadores ou contratransportadores. – A concentração de Na+ no citosol permanece baixa, porque bombas de sódio-potássio transportam ativamente o Na+ através das membranas basolaterais. O Na+, então, se difunde passivamente para os capilares peritubulares dos espaços intersticiais em torno das células tubulares. – Normalmente, a reabsorção transcelular e paracelular no TCP e na alça de Henle retornam a maior parte do K+ filtrado para a corrente sanguínea. Para se ajustar à ingestão dietética variada de potássio e manter um nível estável de K+ nos líquidos do corpo, as células principais secretam uma quantidade variável de K+. – Como as bombas de sódio-potássio basolaterais trazem continuamente K+ para as células principais, a concentração intracelular de K+ permanece alta. Os canais de vazamento de K+ estão presentes nas membranas apical e basolateral. – Assim, um pouco do K+ se difunde a favor de seu gradiente de concentração no líquido tubular, onde a concentração de K+ é muito baixa. Esse mecanismo de secreção é a principal fonte de K+ secretado na urina. G) Regulação Homeostática da Reabsorção e da Secreção Tubular – Cinco hormônios afetam a extensão da reabsorção de Na+, Cl-, Ca+2 e água, bem como a secreção de K+ pelos túbulos renais. São eles: ● Angiotensina II ● Aldosterona ● Hormônio antidiurético (ADH) ● Peptídio natriurético atrial (PNA) ● Hormônio paratireóideo (PTH) G.1) Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona – Quando o volume e a PA diminuem, as paredes das arteríolas glomerulares aferentes são menos distendidas, e as células justaglomerulares secretam renina no sangue. – A estimulação simpática também estimula diretamente a liberação de renina pelas células justglomerulares. – Então, a renina retira a angiotensina I a partir do angiotensinogênio, que é sintetizado pelos hepatócitos. Ao retirar mais dois aminoácidos, a enzima conversora de angiotensina converte a angiotensina I em angiotensina II, que é a forma ativa do hormônio. – A angiotensina II afeta a fisiologia renal de três formas principais: 1) Diminui a TFG, causando vasoconstrição das arteríolas glomerulares aferentes; 2) Aumenta a absorção de Na+, Cl- e água no TCP, estimulando a atividade dos contratransportadores Na+ H+; 3) Estimula o córtex da glândula suprarrenal, que libera aldosterona. Esta, por sua vez, 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 18 estimula as células principais dos ductos coletores a reabsorver mais Na+ e Cl- e a secretar mais K+. A consequência osmótica de reabsorver mais Na+ e Cl- é que mais água é reabsorvida, provocando o aumento do volume sanguíneo e da pressão arterial. G.2) Hormônio Antidiurético (ADH) – Também chamado de vasopressina. É liberado pela neuro-hipófise. Ele é responsável por regular a absorção facultativa da água, aumentando a permeabilidade à água das células principais na parte final do TCD e no túbulo coletor. – Sem ADH, as membranas apicais das células principais têm uma permeabilidade muito baixa à água. Dentro dessas células, existem pequenas vesículas que contêm aquaporina-2. – O ADH estimula a inserção das vesículas contendo aquaporina-2 nas membranas apicais por exocitose. A consequência disso é que a permeabilidade à água da membrana apical da célula principal aumenta, permitindo que as moléculas de água adentrem a célula mais rapidamente. – Os rins podem produzir somente 400 a 500 mL de urina muito concentrada por dia quando a concentração do ADH é máxima, como nos casos de desidratação grave. – Quando os níveis de ADH diminuem, os canais de aquaporina-2 são removidos das membranas apicais através da endocitose. Os rins produzem uma grande quantidade de urina diluída quando o ADH é baixo. – Um sistema de feedback negativo envolvendo o ADH regula a reabsorção facultativa de água. ● Quando a pressão osmótica ou a osmolaridade do plasma e dos líquidos intersticiais aumenta (o que ocorre quando a concentração de água diminui) em apenas 1%, receptores no hipotálamo detectam a alteração. ● Impulsos nervoso estimulam a secreção de mais ADH para o sangue, e as células principais se tornam permeáveis à agua. ● Conforme a reabsorção facultativa aumenta, a osmolaridade diminui até o normal. ● Um outro estímulo forte para a secreção de ADH é a diminuição do volume de sangue, como ocorre na hemorragia ou na desidratação grave. ● Na ausência patológica de atividade do ADH (diabetes insípido), uma pessoa pode excretar até 20 L de urina muito diluída diariamente. G.3) Peptídio Natriurético Atrial (PNA) – Um grande aumento no volume de sangue promove a liberação de PNA pelo coração. Embora a importância deste hormônio na regulação da função tubular normal não esteja clara, ele pode inibir a reabsorção de Na+ e água pelo TCP e pelo ducto coletor. – O PNA também suprime a secreção de aldosterona e ADH. Esses efeitos aumentam a secreção de Na+ na urina (natriurese) e aumentam a produção da urina (diurese), o que diminui o volume sanguíneo e a pressão arterial. G.4) Paratormônio – Um nível mais baixo do que o normal de Ca+2 no sangue estimula as glândulas paratireoides a liberar paratormônio (PTH). O PTH, por sua vez, estimula as células do início dos TCDs a reabsorver mais Ca+2 para o sangue. – O PTH também inibe a reabsorção de fosfato pelos TCPs, promovendo a secreção de fosfato. 3. Transporte, Armazenamento e Eliminação de Urina – A partir dos ductos coletores, a urina flui para os cálices renais menores, que se unem e formam os cálices renais maiores, que por sua vez se unem e formam a pelve renal. A partir dela, a urina vai primeiro para os ureteres e depois para a bexiga urinária. A urina é então eliminada do corpo por uma única uretra. 1. Fisiologia III - Sistema UrinárioI 19 A) Ureteres – Os dois ureteres transportam a urina da pelve renal de seu respectivo rim para a bexiga urinária. – Contrações peristálticas das paredes musculares dos ureteres empurram a urina para a bexiga, mas a pressão hidrostática e a gravidade também contribuem. – Essas ondas peristálticas que vão da pelve renal à bexiga variam numa frequência de 1 a 5 por minuto, dependendo da velocidade em que a urina está sendo formada. – Assim como os rins, os ureteres são retroperitoneais. Na base da bexiga urinária, eles se curvam medialmente e atravessam obliquamente a parede da face posterior da bexiga urinária. – Embora não haja válvula anatômica na abertura de cada ureter na bexiga urinária, uma válvula fisiológica existe. À medida que a bexiga se enche de urina, a pressão em seu interior comprime as aberturas oblíquas para os ureteres, e impede o refluxo de urina. – Quando esta válvula fisiológica não está funcionando corretamente, é possível que microrganismos passem da bexiga urinária para os ureteres, infectando um ou ambos os rins. – Três camadas de tecido formam a parede dos ureteres: ● Túnica mucosa: é a mais profunda. Formada por epitélio de transição e uma lâmina própria de tecido conjuntivo areolar, com uma quantidade considerável de colágeno, fibras elásticas e tecido linfático. ○ O epitélio de transição é capaz de se distender. ○ O muco secretado pelas células caliciformes da túnica mucosa impede que as células entrem em contato com a urina. ● Túnica muscular: é a intermediária. Ao longo da maior parte do comprimento dos ureteres, essa túnica é formada por camadas longitudinais internas e por camadas circulares externas de fibras musculares lisas. ○ É o contrário do canal alimentar! ○ A túnica do terço distal do ureter também contém uma camada externa de fibras musculares longitudinais (longitudinal internamente, circular centralmente e longitudinal externamente). ○ O peristaltismo é a principal função da túnica muscular. ● Túnica adventícia: é a mais superficial. É uma camada de tecido conjuntivo areolar que contém vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos que suprem a túnica muscular e a túnica mucosa. B) Bexiga Urinária – É um órgão oco e distensível, situado na cavidade pélvica posteriormente à sínfise púbica. – Nos homens, é diretamente anterior ao reto. Nas mulheres, é anterior à vagina e inferior ao útero. – Pregas do peritônio mantêm a bexiga em sua posição. Sua capacidade média é de 700 a 800 mL, e é menor nas mulheres, pois o útero ocupa o espaço imediatamente superior à bexiga. B.1) Anatomia e Histologia da Bexiga 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 20 – No assoalho da bexiga encontra-se uma pequena área triangular chamada de trígono da bexiga. Os dois cantos posteriores do trígono contêm os dois óstios dos ureteres. – A abertura para a uretra, o óstio interno da uretra, encontra-se no canto anterior. – Três camadas formam a parede da bexiga. ● Túnica mucosa: é a mais profunda. É uma membrana mucosa composta por epitélio de transição e por uma lâmina própria semelhante à dos ureteres. ○ O epitélio de transição é que possibilita o estiramento. ○ Existem pregas de mucosa que possibilitam a expansão da bexiga. ● Túnica muscular: é a intermediária. Também é chamada de músculo detrusor da bexiga. ○ É formada por três camadas de fibras de músculo liso: ■ Longitudinal interna ■ Circular intermédia ■ Longitudinal externa ○ Em torno da abertura da uretra, as fibras circulares formam o músculo esfíncter interno da uretra. ○ Abaixo dele está o músculo esfíncter externo da uretra, composto por músculo esquelético proveniente do músculo transverso profundo do períneo. ● Túnica adventícia: é a mais superficial nas faces posterior e inferior da bexiga. É uma camada de tecido conjuntivo areolar que é contínua com a dos ureteres. – Sobre a face superior da bexiga urinária, está a túnica serosa, uma camada de peritônio visceral. B.2) Reflexo de Micção – A eliminação da urina da bexiga é chamada de micção. Ela ocorre por meio de uma combinação de contrações involuntárias e voluntárias. – Quando o volume de urina na bexiga excede 200 a 400 mL, a pressão intravesical aumenta consideravelmente. Receptores de estiramento em suas paredes transmitem os impulsos nervosos para a medula espinal. – Esses impulsos se propagam até o centro da micção, nos segmentos sacrais S2 e S3 e desencadeiam um reflexo espinal chamado reflexo de micção. Nesse arco reflexo, impulsos parassimpáticos do centro de micção provocam a contração do músculo detrusor da bexiga e o relaxamento do músculo esfíncter interno da uretra. – Ao mesmo tempo, o centro de micção inibe neurônios motores somáticos que inervam o músculo esquelético esfíncter externo da uretra. Com a contração da parede da bexiga urinária e o relaxamento dos esfíncteres, ocorre a micção. – O enchimento da bexiga provoca uma sensação de plenitude, que inicia um desejo consciente de urinar antes mesmo de o reflexo miccional efetivamente ocorrer. – Embora o esvaziamento da bexiga seja um reflexo, na primeira infância nós aprendemos a iniciá-lo e interrompê-lo de forma voluntária. Através desse controle, o córtex pode iniciar a micção ou retardá-la por um período de tempo limitado. C) Uretra – É um pequeno tubo que vai do óstio interno da uretra no assoalho da bexiga até o exterior do corpo. Nos homens e mulheres, a uretra é a parte terminal do sistema urinário e via de passagem para a descarga de urina do corpo. Nos homens, também libera o sêmen. – Nos homens, a uretra também se estende do óstio interno da uretra até o exterior, mas o seu comprimento e via de passagem são consideravelmente diferentes do que nas mulheres. – A uretra masculina primeiro atravessa a próstata. Em seguida, o músculo transverso profundo do períneo e finalmente o pênis. 1. Fisiologia III - Sistema Urinário I 21 – A uretra masculina, que também é formada por um túnica mucosa profunda e uma túnica muscular superficial é subdividida em três regiões anatômicas: ● Parte prostática → passa através da próstata ○ Epitélio é contínuo com o da bexiga urinária. É um epitélio de transição, que se torna epitélio colunar estratificado ou pseudoestratificado mais distalmente. ○ Túnica muscular é composta por fibras de músculo liso circulares superficiais à lâmina própria. Ajudam a formar o esfíncter interno da uretra. ○ Contém as aberturas: ■ Dos ductos que transportam secreções da próstata ■ Das glândulas seminais e do ducto deferente ● Parte membranácea → é a mais curta, atravessa o músculo transverso do períneo ○ A túnica mucosa contém epitélio colunar estratificado ou pseudoestratificado. ○ Túnica muscular é formada por fibras musculares esqueléticas provenientes do músculo transverso profundo do períneo, dispostas circularmente. Auxiliam a formar o esfíncter externo da uretra. ● Parte esponjosa → é a mais longa, atravessa o pênis. ○ O epitélio é composto por epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado. ○ Contém as aberturas: ■ Dos ductos das glândulas bulbouretrais → substância alcalina antes da ejaculação, que neutraliza acidez da uretra e muco lubrificante. – A lâmina própria da uretra masculina é composta por tecido conjuntivo areolar, com fibras elásticas e um plexo de veias. – Ao longo da uretra, mas especialmente na parte esponjosa, as aberturas dos ductos das glândulas uretrais liberam muco durante a excitação sexual e a ejaculação. – Nas mulheres, a uretra se encontra diretamente posterior à sínfise púbica. É dirigida obliquamente, inferiormente e anteriormente. – A abertura da uretra para o exterior, o óstio externo da uretra, está localizado entre o clitóris e a abertura vaginal. – A parede da uretra feminina é composta por uma túnica mucosa profunda e uma túnica muscular superficial. ● A túnica mucosa é uma membrana mucosa composta por epitélio e lâminaprópria. ● Perto da bexiga urinária, a túnica mucosa contém epitélio de transição, contínuo com o da bexiga. ● Perto do óstio externo da uretra, é composto por epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado. ● Entre essas áreas, a túnica contém epitélio colunar estratificado ou pseudoestratificado. ● A túnica muscular consiste em fibras musculares lisas dispostas circularmente e é contínua com a bexiga. __________________________________________________ Fontes: Tortora, Gerard, J. e Bryan Derrickson. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016.