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Governador Vice Governador Secretária da Educação Secretário Adjunto Secretário Executivo Assessora Institucional do Gabinete da Seduc Coordenadora da Educação Profissional – SEDUC Cid Ferreira Gomes Domingos Gomes de Aguiar Filho Maria Izolda Cela de Arruda Coelho Maurício Holanda Maia Antônio Idilvan de Lima Alencar Cristiane Carvalho Holanda Andréa Araújo Rocha Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 1 INICIAÇÃO A ALIMENTOS E BEBIDAS Olá, Iniciação a Alimentos e Bebidas, conhecido também com A&B, propõe-se a embasá-lo, aluno do curso técnico em hospedagem, para estudos mais aprofundados sobre técnicas de operacionalização e gestão em Alimentos e Bebidas. O Departamento de Alimentos e Bebidas na hotelaria assume, cada vez mais, papel de destaque na geração de receita de hotel, seja na produção (cozinha), no atendimento (sala/bar), em eventos, e/ou catering, entre outros. Então, sejam bem vindos ao maravilhoso mundo de Alimentos e bebidas. Bom estudos! ______________________________________________________________________ INTRODUÇÃO Alimentação e Turismo são dois elementos que caminham de mãos dadas. O alimento se torna essencial na prática turística, satisfazendo as necessidades biológicas quando podendo ser um atrativo turístico em si. A história humana tem uma relação bem próxima com a história da alimentação, sendo marcada pela troca de alimentos, pela troca de plantas e animais, ocasionados pelo contato de povos de diferentes regiões, além de outros aspectos. Dessa forma, junto da evolução humana, o papel da alimentação também foi mudando e ampliando-se. Inicialmente a comida servia simplesmente para a saciar a fome; depois passou a ter uma ligação com religiosidade, festejos, opulência e outros; e com o tempo ganhou um significado associado ao prazer e satisfação de fazê-lo. E é a união dessas duas últimas características que interessa ao estudo das relações entre turismo, hotelaria e alimentação. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 2 Foi a mudança do significado simbólico da alimentação, de apenas necessidade fisiológica para prazer, que permitiu o surgimento de expressões como “gastronomia” e culinária. Para entender o surgimento destes, se faz necessário saber a diferença entre ”fome” e “apetite”. Enquanto “fome” pode ser definida, de acordo com o dicionário Michaelis, como “Sensação causada pela necessidade de comer. [...]”, “apetite”, por sua vez, “Vontade ou desejo de comer [...]. Enquanto “fome” é uma carência biológica, “apetite” é fundamentalmente um estado mental, uma sensação que tem muito mais de psicológico do que de fisiológico. Não se pode afirmar, entretanto, o momento histórico em que essa diferenciação fica clara. Contudo, por volta da metade do século XIX, já era feita uma distinção, moderna por assim dizer, entre fome e apetite. Aqui precisa ficar claro que a atividade turística é sustentada por um tripé: transporte, alimentação e hospedagem. Portanto se torna essencial conheceremos a origem, a evolução histórica da alimentação, modalidades e tipos de serviços e a relação da alimentação e o Turismo com o intuito de entender essa conexão, proporcionando uma melhor compreensão do tamanho, e importância, do segmento para a atividade turística. PARTE I | FUNDAMENTOS 1 GASTRONOMIA 1.1 ORIGEM Etimologicamente falando, a palavra gastronomia vem do grego antigo “gastros”, que quer dizer estômago e “nomia” que quer dizer conhecimento. Podendo ser entendida como “conhecimento do estômago” ou, ainda, “leis do estômago”. É uma arte que engloba a culinária, a forma de preparar os alimentos, as bebidas que melhor combinam com cada alimento, a matéria prima que os profissionais utilizam para a elaboração dos pratos, os materiais necessários e, também, todos os conhecimentos culturais ligados a esta criação. A gastronomia está para a culinária, como a alta costura está para a moda. Gastronomia é, portanto, a arte de cozinhar e preparar as iguarias de modo a tirar-se delas o máximo de prazer. A arte de escolher e saborear os melhores pratos. “Os alimentos não são bons apenas para comer, mas também para se pensar”. Claude Levi-Strauss (Antropólogo francês contemporâneo) Deve-se combinar: TRADIÇÃO (Saberes do povo / Ligado a terra onde se vive / Exploração de recursos naturais / Estações) CRIAÇÃO (Invenções / Renovações / Experimentações) Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 3 1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA Cascudo (2004) cita que nenhuma atividade será tão constante na história humana quanto a alimentação e que a sociologia da alimentação resulta do próprio fundamento do ato social. O autor cita a arte pré-histórica por ser a responsável pelos registros do ato de juntar-se para se alimentar, a comensalidade, da época, onde aparece a caça, a pesca, o costume de se alimentar em grupo. O autor afirma que o alimento é representação do povo que o consome, e que este denota a maneira de viver, o temperamento, e principalmente, de nutrição numa “cerimônia indispensável de convívio humano”. “Você é aquilo que você come”. • Pré-história O homem pré-histórico era basicamente vegetariano até o advento das armas (arpões, lanças com pontas envenenadas, redes de pesca, arcos e flechas, machadinhas, clavas, entre outros), que permitiu que caçassem animais selvagens. Sua alimentação se dava pelas frutas e vegetais que colhiam e da caça. Não havia local ou hora específica para que isso acontecesse, o faziam quando havia fome ou houvesse o que comer. Seu cardápio era restrito, sendo assim repetitivo, e sempre comido cru. Eram nômades, mudavam-se constantemente à procura de alimentos, já que ainda não haviam aprendido o básico das artes agrárias (plantio e criação de animais). Portanto, sempre que as frutas, raízes e caças de determinada região acabavam, precisavam mudar-se para uma nova região. A cultura alimentar da carne acabou estimulando o surgimento do canibalismo (sempre que havia dificuldade em se achar a caça). O sal e as proteínas naturais da carne provocavam dependência natural no organismo e a ausência destes elementos fez com que os homens da época iniciassem rituais de canibalismo. • 1ª Revolução Alimentar – A dominação do fogo. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 4 Estima-se que cerca de 500 mil anos atrás o homem tenha descoberto as propriedades do fogo para assar seus alimentos. Fogo esse que era conseguido apenas de três maneiras: quando raios caiam em árvores, ou algo que pudesse gerar a chama; de erupções vulcânicas; e finalmente de forma espontânea – a partir da soma dos fatores temperaturas elevadas mais “combustível”, como folhas secas, galhos, entre outros. Perceberam que podiam controlar aquele fogo e transportá-lo de um lugar para outro, surgiram as fogueiras. Pinturas rupestres provam que o ato de reunir-se ao redor do fogo para assar o alimento transformou-se uma importante atividade de integração social, fator perceptível até os dias atuais. O fogo, além de garantir iluminação e segurança – os animais tinham medo dele,possibilitou o aumento do número e variedade de alimentos disponíveis para o homem primitivo. Além de ficarem mais saborosos assados, eles conservavam-se por mais tempo (cereais eram torrado sobre brasas em pedras e as carnes eram defumadas ou secas). Somente o Homo Erectus descobriu como fazer fogo (faíscas), inicialmente utilizando madeira e depois a partir da fricção de pedras. O fogo foi a primeira fonte de energia descoberta e utilizada pelo homem, além de conscientemente controlada. Não é exagero dizer que fazer o fogo e utilizá-lo de maneira produtiva foi fundamental para o homem iniciar seu caminho rumo a civilização. • 2ª Revolução Alimentar – Domesticação de animais e agricultura. Foi durante o Período Neolítico que o homem conseguiu domesticar animais e cultivar alguns cereais. Os principais grãos plantados na época eram o trigo, centeio, cevada, milho, batata, feijão, mandioca e arroz. A base da alimentação do homem moderno. O homem primitivo percebeu que poderia plantar esse alimentos do acaso, quando alguns grãos caiam no chão, da colheita, e com o tempo novas plantas brotavam no lugar que haviam caído. Passaram a estabelecer-se em acampamentos próximos aos cultivos. Com o tempo, acabaram desenvolvendo técnicas de plantio a partir da observação dos estágios da natureza (estações) e o ciclo de chuva. Vigiavam os cultivos, evitando que animais – pássaros ou roedores – e outros homens de tribos rivais, consumissem ou se apoderassem deles. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 5 Deu-se origem a sociedade rural, o campesinato, o homem toma posse da terra e deixa de ser nômade, o que acabava lhes garantindo maior segurança. Os animais eram mantidos em cativeiros até o abate, garantido carne fresca sempre. Apesar de imaginarmos que os primeiros animais a serem criados, com o intuito de alimentar-se, foram ovelhas, gado ou galinhas, na verdade foram as abelhas. Dada a posse da terra, desenvolvem moradias fixas, saindo do abrigo na natureza. Surgem, assim, as primeiras aldeias, novos princípios de hierarquia e organização, surge a divisão do trabalho. Enquanto os homens eram responsáveis pela proteção e sustento das famílias, a mulher ficou encarregada de criar os filhos e cuidar da habitação. • 3ª Revolução Alimentar – Tecnologia da cerâmica. O plantio e criação de animais – que garantia o alimento -, permitiu que os homens da antiguidade se dedicassem a outras atividades que não fossem necessariamente ligadas à sua sobrevivência. Iniciaram-se as primeiras manifestações artesanais: com a fabricação de tramas que acabaram levando a criação dos primeiros tecidos; objetos de cerâmica que possibilitavam o armazenamento, e melhor conservação dos alimentos; ferramentas mais aperfeiçoadas – como as de pedra polida – ou delicadas – agulhas e anzóis; construção de moradias que protegessem melhor do frio e dos perigos. A cerâmica, que é resistente ao fogo, passou a ser utilizado para cozer os alimentos (a grande revolução, em termos de alimentação, desse período), já que a partir disso, a mistura e combinação de diferentes ingredientes passou a ser experimentada. Foi o ponto de partida para o surgimento, florescimento e evolução da gastronomia como a conhecemos hoje. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 6 O alimento passa a ser preparado com antecedência e em diversas combinações e não mais apenas assado. Surgem as cocções – sopas, papas, pirões, mingaus e purês - e as bebidas fermentadas a partir de raízes e tubérculos. Também teve início a retirada de sal de pedras (percebeu-se que os animais lambiam essas pedras) e posteriormente, do mar. • 4ª Revolução Alimentar – Revolução verde. Com o crescimento populacional desenfreado, um dos maiores problemas da humanidade nos dias atuais é o da fome. Hoje, através da engenharia genética e química (a partir do século XX com os pesticidas), buscou-se produzir mais e melhores alimentos, nos mesmos espaços existentes, ou menores, ou seja, otimizar espaços de plantio e produção de alimento. A partir do século XXI, a engenharia genética começou a alterar o DNA dos alimentos a fim de obter culturas mais resistentes a determinadas pragas/climas/solos, aumentando sua produtividade além de acelerar seu crescimento. • Gastronomia na Idade Antiga (4.000 a.C a 430 d.C) No Egito, além dos grãos cultivados, começou-se a produção do pão, óleos e alimentos a base de leite. O pão ázimo, sem fermento, foi criado pelos hebreus quando saíram do território egípcio. Os egípcios eram conhecidos como os “panificadores” da idade antiga. Os escravos da antiguidade que eram cozinheiros tinham posição de destaque entre seus senhores. Na Grécia foi fundada a primeira escola de cozinha (século V a.C). O tratado de História Natural de Ariosto apresenta algumas receitas culinárias gregas que se estenderam pelo Oriente Médio. Em Vida de Prazer, Arquestratos, foi deixado um do legado da culinária grega. Qual o custo, para a sociedade, do investimento em tecnologias como as que alteram o DNA dos alimentos? Realmente não existem efeitos negativos, a médio e longo prazo, para quem os consome? Sugestão de documentário/atividade: Alimentos S/A (Food Inc.) Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 7 Doce com ácido; especiarias exóticas nos pratos; Omero (o escritor) falava de uma bebida preparada com vinho, farinha, queijo de cabra e maçã e para acompanhá-la, serviam-se cebolas. A pastelaria grega era à base de trigo, mel, azeite, pinhões, tâmaras, amêndoas e sementes de papoula. Os utensílios eram feitos, em sua maioria, de bronze e decorados com temas marítimos. Em Roma foi escrito o primeiro livro de receitas por Apícius, gourmet romano, que se tem conhecimento, De re coquinaria . Foi ele que inventou o costume de consumir os alimentos em pequenas quantidades, e em pratos decorados. As receitas romanas difundiram-se por quase toda a Europa, influenciando os hábitos alimentares, tornando-se um padrão bem parecido com o atual na gastronomia. Um dos métodos de cocção dos romanos era o de cozinhar a carne, a fim de amaciá-la, antes de assar. Utilizavam muito molho/salsa chamado garum. O garum era um líquido adquirido da maceração e fermentação de intestinos de peixes e crustáceos. Este molho forte e picante temperava quase todas as receitas da época. Os banquetes tiveram origem nas festanças gregas e romanas, que duravam dias, e já eram preparados por chefes de cozinha. Ainda em Roma, os ricos apreciavam a carne de porco (acompanhada de figos), carnes exóticas (papagaios, flamingos, pássaros silvestres, entre outros); enquanto que os pobres se alimentavam essencialmente de polenta com farinha de grão de bico. • Gastronomia na Idade Média (século V à século XV) Por tradição bíblica, o grande consumo de porco era estimulado, além disso, a economia agropecuária era medida em porcos. O animal (porco) tornou-se uma cultura religiosa e política, já que judeus e muçulmanos não comiam sua carne, que era considerada impura, inicia-se uma guerra de poder, pois a soberania católica, através dos eclesiásticos, recomendava o alto consumo do porco. A aristocracia (eclesiásticos, nobreza e exército) desprezavam os legumes, que era considerada comida de pobre. Praticamente só ingeriam carne (cabritos, cordeiros, bois, aves ecaças selvagens), o consumo médio de carnes era de 26kg por ano. Os pobres (camponeses, vassalos e servos), alimentavam-se de legumes, pães, pouquíssima Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 8 carne (que criavam). A caça era proibida pela nobreza e o consumo de carne era proibido em seus feudos, se ocorresse era considerado ultraje e poderiam pagar com a vida. O vinho era muito apreciado, foi aprimorado nos mosteiros (videiras nobres por conta da eucaristia), e consumido em tavernas e nas casas dos senhores feudais. A gula era considerada pecado bíblico. O prazer da comida era associado ao erotismo e a sensualidade, portanto, combatido. O peixe teve papel importante na mesa da Idade Média, era barato e popular e o clero incentivava o seu consumo nos dias santos. O salmão e a truta eram os peixes mais apreciados. Nessa época a China influenciou a Europa com suas pastas e massas (macarrão). • Gastronomia no Renascimento/ Idade Moderna (século XV à século XVIII) O garfo surgiu nesse período (século XV) na Itália; a batata era uma alternativa para o pão; iniciou-se o consumo de bebidas como chocolate, café e chá, bebidas essas adoçadas com açúcar de beterraba ou cana de açúcar. • Surgimento e história do restaurante Os restaurantes não poderiam ter surgido em outro lugar diferente que não Paris, considerada a capital mundial da gastronomia. Em 1765, com o início da Revolução Industrial, surgiu o primeiro restaurante, o Boulanger Débite des Restaurants Divins. A própria palavra restaurante, tem origem a partir de restaurant (bouillon restaurant caldo restaurador). Os bouillon restaurants eram caldos vendidos nas ruas para os trabalhadores das grandes fábricas, que tinham uma jornada de trabalho exaustiva, portanto viviam doentes, e não havia tempo para fazê-lo em suas residências, por isso o nome de caldo restaurador, pois tinha como objetivo restaurar a saúde dessas pessoas. Foi a partir disso que Boulanger, dono de uma espécie de botequim, afixou na frente de seu estabelecimento uma placa com os seguintes dizeres “Boulanger vende restaurants divinos”. Por seu tipo de estabelecimento, ele só podia vender caldos. Em 1786, se implanta o hábito da “mesa de hóspedes”, o que significava que os clientes poderiam passar a sentar-se à mesa do dono do estabelecimento para comer lá mesmo o prato comprado, em vez de levá-lo para casa. Durante a Revolução Francesa, que foi o estopim do crescimento dos restaurantes em Paris: 1º com a execução da aristocracia, ou sua fuga para evitar que isso ocorresse, os cozinheiros da burguesia, foram demitidos, e não tendo do que viver, começaram a montar pequenos restaurantes individuais ou Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 9 ligados a hospedarias; 2º com o fim das guildas, qualquer um passa a ter direito de montar um estabelecimento relacionado a alimentação. Restaurante era um termo associado mais a medicina que a alimentação propriamente dita, já que essencialmente vendiam apenas os caldos restauradores de saúde, não havia muitas opções. Como dito anteriormente, foi Boulanger que melhorou os serviços dos restaurantes que surgiam com mesas e mais opções de pratos. Devido ao seu sucesso, teve que mudar para um lugar maior, ampliou as opções de comidas e bebidas e passou a utilizar o menu. O O Boulanger Debite des Restaurant Divinsi ganhou fama e, com isso, restaurant acabou virando referência para denominar um estabelecimento de alimentação. Começaram a surgir cada vez mais restaurantes, já que o número de trabalhadores fabris crescia cada vez mais. Pratos mais baratos, sem sofisticação começaram a aparecer (intelectuais e pessoas sofisticadas, que não precisavam alimentar-se fora de suas residências, frequentavam esses restaurantes populares para “se misturar com o povo”). Vendo o sucesso de Boulanger, os outros donos de restaurantes viram a oportunidade de crescer e melhoraram seus serviços e pratos, atraindo camadas sociais mais altas. O luxo sempre foi um grande impulso da gastronomia francesa. Em meados de 1820, os restaurantes eram uma instituição cultural na França, e até o século XIX, praticamente ainda não existiam restaurantes em outros lugares do mundo. Menu “Pequenos pedaços” (menus morceaux – pequenos pedaços de carne utilizados para fazer os bouillons restaurants). Curiosidade! Na frança, com o crescimento dos restaurantes, houve a implementação de funcionários que tomavam os pedidos e os levavam até a cozinha. Ainda sem nome para a profissão, os clientes apenas de garoto (ou rapazes), que em Francês significa Garçon. O costume popularizou-se junto aos restaurantes pelo mundo e hoje, chamamos esse profissional de Garçom. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 10 Em 1870, surgiu o primeiro hotel vertical em paris e Auguste Scofieer, um dos mais renomados chefes franceses fazia parte do seu quadro de funcionários, dessa forma chamando a atenção da aristocracia. Com o sucesso, César Ritz leva Scofieer para trabalhar num hotel de Luxo em Londres, com o objetivo de servir culinária francesa, no Savoy Hotel. A partir daí iniciaram uma parceria que deu origem ao Grand Hotel em Roma e inúmeros hotéis Ritz pelo mundo. Os hotéis de luxo passaram a ser ponto de encontro dos ricos, multiplicando-se pela Europa e América. Assim, a gastronomia francesa crescia em prestígio, e sua fama de a “melhor comida do mundo” se mantém até hoje. 1.3 A IMPORTÂNCIA DOS SERVIÇOS DE A&B Quando pensamos em restaurantes, daqueles clássicos, a primeira coisa que tendemos a imaginar é um ambiente sofisticado com garçons de paletó e gravata borboleta, carinhosamente apelidados de pinguins. Acontece que a realidade mudou, devido a evolução e globalização, surgiu a necessidade de um novo modelo, onde a economia conduz e a praticidade se faz necessário. Os restaurantes agora são bastante complexos devido as suas segmentações, e os principais valores de hoje são a qualidade, diversidade, economia, praticidade, descontração, sofisticação e satisfação. Nada mais natural que os restaurantes também seguissem a tendência de mercado e passassem a dedicar-se a públicos específicos: se trata da segmentação de mercado nos restaurantes. A indústria da hospitalidade faz com que os empreendimentos foquem nas necessidades e expectativas de cada cliente, portanto, nada mais lógico que agrupá-los em nichos de mercado e melhor atendê-los. O segmento de Alimentos & Bebidas deixou de ser referência para fornecedores de alimentos e bebidas apenas, e passou a significar estabelecimentos que fornecem uma experiência, onde além de preparar, prestam um serviço, aos seus clientes. A relação entre os funcionários deve ser harmoniosa, para que seja criada uma atmosfera agradável para o cliente. A conduta dos funcionários, que tem contato direto com o Curiosidade! Nessa época, um hotel, para ser considerado de luxo, tinha que obrigatoriamente ter um restaurante que servisse comida francesa, e um chefe daquele país. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 11 cliente, influencia diretamente no funcionamento do estabelecimento e, consequentemente, na sua reputação.Os serviços de A&B exigem mudanças constantes, onde as novas tendências devem ser sempre levadas em consideração. Mas o maior segredo é saber conciliar a operação dos serviços com as necessidades dos seus clientes. * Existem muitos estabelecimentos que falharam em suas operações; * Mas também existem aqueles que definiram claramente a natureza e o tipo de mercado para sua operação; * Há, ainda, o “meio termo”. Na vida moderna, quanto maior o centro urbano mais pessoas precisarão alimentar-se fora de casa, então sempre haverá mercado para o surgimento de novos restaurantes. 1.4 MOTIVAÇÕES DOS CLIENTES A alimentação é uma necessidade básica, um direito humano e, simultaneamente, uma atividade cultural, permeada por crenças, tabus, distinções e cerimônias. Comer não representa apenas o fato de incorporar elementos nutritivos importantes para o nosso organismo, é antes de tudo um ato social e, como toda relação que se dá entre pessoas, traz convívio, diferenças e expressa o mundo da necessidade, da liberdade ou da dominação. Os padrões alimentares de um grupo sustentam a identidade coletiva, posição na hierarquia, na organização social, mas, também, determinados alimentos são centrais para a identidade individual. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 12 Basicamente, existem três motivações que levam os clientes a se alimentarem fora de suas residências: NECESSIDADE de se alimentar Fome PRAZER de se alimentar Lazer Exercício da VAIDADE Status • A necessidade de se alimentar (fome) A fome é um alerta do organismo que é necessário fazer a reposição de calorias, essenciais para a manutenção da vida, portanto, uma questão fisiológica. Almoçar fora de casa durante a semana é um hábito comum de quem trabalha ou estuda fora de casa, especialmente nas grandes cidades, onde não há tempo suficiente para ir até sua residência, almoçar e retornar. Fator crucial ---------------------------- É prática rotineira do consumidor, variar muito de estabelecimentos, já que enjoa-se muito rápido das opções indo diariamente nos mesmos equipamentos. Daí o crescimento da “comida por quilo”, o self-service, por conta do preço (paga-se pelo que consome apenas), a rapidez (a comida já está pronta, basta servir-se e pesá-la) e variedade, sanando assim, o problema com a rotina na alimentação. O público geralmente são as pessoas que não querem, ou não sabem cozinhar, não tem uma cozinha aparelhada e/ou não tem os ingredientes necessários, mas mesmo assim precisam comer. Preço Qualidade Variedade Preço Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 13 Aqui vale lembrar Pirâmide de Maslow, ou Escala da Hierarquia das Necessidades de Maslow, que é uma divisão hierárquica proposta por Abraham Maslow, em que as necessidades de nível mais baixo devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto. • A prazer de se alimentar (lazer) O cliente sai para comer por prazer, a fome pode até existir, mas não é necessariamente por ela. Vale salientar que para saciar a fome, uma porção de arroz e feijão cumpre esse papel, contudo, quando há o desejo de comer alguma coisa específica, não. O comensal procura um lugar agradável, divertimento e, enquanto obtém isso, quer saborear algo diferente e de qualidade. Os fatores essenciais na escolha são o ambiente, a música e os serviços. Ele tem o desejo de ter momentos agradáveis e descontraídos; comer o que não tem, ou não pode preparar, em casa; comidas diferentes, caprichadas, sofisticadas e/ou exóticas. Normalmente esse tipo de cliente não tem pressa para receber seus pedidos, já que também deseja aproveitar o espaço, as companhias e o momento. • O exercício da vaidade (status) Frequentar restaurantes também é um exercício de vaidade. É onde geralmente as pessoas socializam, exibem suas novas roupas, carros, acompanhantes, entre outros. “Ver e ser visto”. “Quem não é visto, não é lembrado”. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 14 Procuram locais bem frequentados, chiques, famosos, novidades e/ou caros. Querem comentar e serem comentados. O importante é fazer parte de algo que não é acessível a todos. Quaisquer que sejam as motivações do cliente, ele está em nosso estabelecimento e devemos corresponder todas as suas expectativas e necessidades com o objetivo de mantê-lo fiel e, assim, o restaurante funcionando. 1.5 DIVERSIDADE DA GASTRONOMIA Na prática, com o passar do tempo as pessoas foram se cansando da gastronomia francesa e buscavam novidades, apesar de continuarem frequentando os mesmos restaurantes franceses, estavam abertos a novidades e, surgiu então espaço para outras culturas culinárias se apresentarem. Na Europa, a culinária do mediterrâneo conseguiu algum espaço e na América a culinária Creole e Mexicana mostravam sua diversidade e riqueza. Eram apenas curiosidades, novidades não ameaçavam em nada a hegemonia da gastronomia francesa. Culinária Mediterrânea: Conforme o nome indica este tipo de cozinha é a que se pratica na Região Mediterrânea, compreendendo Países da Europa, Ásia e África. Apesar de não serem banhados pelo Mar Mediterrâneo, característica destes povos, Portugal, na Europa e a Jordânia, na Ásia, são considerados Países Mediterrâneos, quer pela sua proximidade geográfica, como pelas suas características climáticas e culturais. A base da dieta Mediterrânea, são o vinho tinto, o azeite e o pão. Os legumes, variados, encabeçam a lista que passa pela carne de porco e borrego, pelo peixe e marisco, ervas e especiarias, pelo leite e pelo queijo. Entre nós, enraizou-se a trilogia do tomate, cebola e alho. Culinária Creole: A Culinária Creole é a culinaria típica tanto da região da Louisiana, nos EUA, como da américa Central, com poucas diferenças entre si que tem como origem a culinária trazida pelos "creole" europeus (filhos que por não serem os primogênitos não tinham direito às terras da família). Possui muitos elementos da culinária francesa, mas que com o tempo absorveu elementos da cozinha alemã com os embutidos, africana com seus quiabos e afins e indígena com a caça e frutos dos pântanos. É uma culinária muito rica e diferente, tem muita mistura de doce e salgado. Culinária Mexicana: Muita da culinária mexicana atual tem origem em várias misturas de tradições, ingredientes e criatividade. A maior parte tem base nativa americana, com misturas indígenas e um toque espanhol. Por exemplo, a famosa quesadilla é uma tortilla com base em milho e queijo e com carne de vaca, galinha e/ou porco. A parte indígena disto e de muitas outros pratos tradicionais é o chili, ou seja as pimentas e pimentões. A disposição deste tipo de pratos é muito decorativa e colorida. Isto acontece porque a culinária mexicana é rica em vegetais verdes, brócolis, couve-flor e rabanete) e em carnes variadas. Os alimentos indígenas do México pré- colombiano incluem chocolate, milho, tomate e baunilha. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 15 Enquanto isso, no mesmo caminho das sopas de Boulanger, as pastas italianas popularizavam-se pela praticidade e baixo custo. A Itália sempre foi umpaís muito visitado e tem atrações turísticas inigualáveis, como Veneza e Roma, pra citar apenas alguns deles. Os visitantes conheciam a gastronomia e levavam, além das boas lembranças, algumas receitas na bagagem. Silenciosamente, a gastronomia Italiana se espalhou pelo ocidente e mesmo não ameaçando a consagrada culinária francesa, se instalou de forma definitiva, influenciando a cultura de todos os povos ocidentais. A constatação é simples, ou você conhece algum lugar que não tenha uma pizzaria, ou alguém que não goste de pizza? Fato semelhante ocorreu, mais recentemente, com o hambúrguer, hot dog, cheesecake, marshmallow, brownie e a coca cola, apesar de que não podemos dizer propriamente que houve uma evolução e expansão da gastronomia norte americana. Ao contrário, nesse cenário gastronômico os americanos se comportam como consumidores de culturas gastronômicas, fato facilmente observado pela enorme quantidade e variedade de restaurantes de culturas gastronômicas variadas que existem nos Estados Unidos e pela facilidade que se encontram tortillas, comida chinesa e Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 16 pizzas no dia a dia do americano. Apesar da hegemonia francesa, a verdade é que através dos séculos as várias correntes migratórias gastronômicas, levaram as diversas culturas gastronômicas a se influenciarem mutuamente e a se espalharem pelo mundo. Atualmente, no cenário globalizado, podemos encontrar diferentes representações dessas culturas gastronômicas, praticamente pelo mundo todo, apesar de que a maioria delas não consegue manter suas características totalmente inalteradas. 1.6 GASTRONOMIA NO BRASIL No Brasil a rica gastronomia é baseada, principalmente, por influência dos índios (primeiros ocupantes do território), dos portugueses (que colonizaram o território indígena) e dos africanos (trazidos pelos portugueses como escravos). Além desses elementos principais, ainda encontramos influências de imigrantes italianos, alemães, judeus e árabes. O pão (considerado pelos portugueses) dos índios era a mandioca e o costume de comer palmito foi muito bem aceito pelos portugueses. Da mandioca, os índios produziam a farinha, o beiju, e o pirão. A batata originária da região dos Andes, na América do Sul, despertou a atenção e a curiosidade dos primeiros exploradores europeus e até hoje faz mais sucesso lá do que no continente sul americano, a abóbora, milho, fava, amendoim, cará (tipo de tubérculo) também caíram no gosto português. Os índios brasileiros costumavam preparar um mingau de banana da terra e consumiam peixes cozidos e assados. Quando assados, não costumavam limpar o peixe (não retiravam escamas ou vísceras). Usavam para assar os alimentos um buraco na terra ou a brasa de um fogo numa espécie de grelha. As mulheres índias é quem fabricavam as panelas e utensílios de cozinha, como fornos e panelas de barro. Os indígenas preparavam bebidas fermentadas a partir da mandioca, aipim, batata doce e milho. Faziam “vinho” do caju, jenipapo, abacaxi, entre outras frutas. Os portugueses trouxeram para o Brasil: figo, laranja, limão, melão, uva, cenoura, pepino, espinafre, chicória, mostarda, coentro, manjericão, alho, gengibre, arroz e cana de açúcar (sendo estes dois últimos de origem asiática). Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 17 A interação da cozinha africana veio a colonização negra no Brasil. Os negros foram acostumados com os hábitos alimentares dos índios. Os negros criaram um pirão escaldado especial, era comido com pimenta malagueta. Foi chamado de pirão massapé. Da África vieram o quiabo, inhame, erva doce, melancia, banana e coco. Do leite de coco e o próprio de maneira ralada, faziam o cuscuz e da palmeira, produziam o dendê. Do milho, os negros criaram o angu (água e fubá). E também do milho, a mulher portuguesa criou a canjica e pudins. O ovo era muito apreciado pelos portugueses, que o preparava de diversas formas. O ovo foi acrescentado à pratos indígenas como mingaus, canjicas, papas e também em doces. Os doces/açúcares foram conhecidos pelos índios e negros através dos portugueses. Devido a fartura e boa propagação de certas frutas nasceram aqui a marmelada, a cajuada, a bananada, a goiabada, entre outros. Do cultivo da cana de açúcar, muito fácil de expandir-se em território brasileiro, fez-se a garapa e a cachaça. O arroz caiu no gosto de negros e brancos. À princípio era preparado com a consistência de um pirão, mais tarde, nas cozinhas de hotéis, passou a ser feito de maneira “solta”, de modo contemporâneo. O arroz ganhou várias produções culinárias, como o arroz doce, o arroz cuxá, o arroz de piqui e o arroz de carreteiro. Depois do Brasil Colônia a gastronomia brasileira se firmou recebendo influência de outros povos que para cá migraram no final do século XIX e começo do século XX, como os italianos, alemães, japoneses, árabes e judeus. A tendência atual da gastronomia é a mistura e contrastes, feitos de maneira artística e com formato bem comercial. Um exemplo disso são os fastfoods. Na contra mão, uma outra tendência que vem crescendo no Brasil, é a valorização da cultura tradicional regional, procurando resgatar, com maior fidelidade possível, receitas tradicionais antigas. • Curiosidades gastronômicas Curiosidade! Costuma-se contar que a feijoada nasceu nas senzalas, quando os escravos recebiam dos seus senhores os restos dos porcos carneados (orelha, pé, rabo, língua, entre outros) e o feijão preto (que não era consumido pela elite) cozia-se tudo junto e assim nascia um dos pratos mais famosos da culinária brasileira. Contudo, alguns estudiosos atestam que esta versão não passa de mito. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 18 Algumas das mais famosas receitas brasileiras tiveram origem da necessidade e escassez: Peixada nordestina: os pescadores voltavam famintos do mar, vendiam os peixes de maior valor comercial, os menores, que não eram comercializados, juntamente com as cabeças e vísceras dos outros, que eles limpavam com a venda, eram colocados pra ferver num caldeirão acrescidos de alguns legumes. Estava pronta a peixada. Ainda aproveitavam o caldo para misturarem farinha de mandioca e fazerem o pirão. Arroz de carreteiro: uma mistura de carne, com arroz e verduras, surgiu da necessidade que os caminhoneiros tinham de preparar uma refeição com pouquíssimos apetrechos (basta uma boca de fogo, uma panela e uma faca) e com simplicidade e rapidez, prepara-se o almoço. Feijão tropeiro: a partir das carnes assadas que restavam do churrasco do dia anterior, acrescidas de feijão e farinha, nasceu o prato. Em todas as culturas alimentares ocorre processo semelhante. Na gastronomia italiana existem verdadeiras pérolas surgidas no período pós guerra, onde a carne era extremamente escassa e os legumes passaram a ser o principal matéria prima. Impelidos pela necessidade, novos pratos foram surgindo e posteriormente ganhando notoriedade: o risoto é um bom exemplo. • Tabus na história da gastronomia • Na época do Brasil colônia, mulheres em período de ciclo menstrual eram impedidas de cozinhar, pois acreditava-se que “perdiam a mão”, os bolos queimavam de um lado, os ovos batidos desandavam, a canjica perdia o ponto. Também não podiam preparar assados. • As mulheres grávidaseram boas em bater bolo, pois a massa crescia, contudo, não podiam pô-las pra assar. Não podiam fazer linguiça, pois ela apodrecia, não podiam fazer sarrabulho ou panelada para não correrem o risco de abortar e não provavam da comida, pois não tinham paladar certo. • Os banquetes são tidos como grande encontro social. Tradições milenares acompanharam as práticas de banquetes como: comer ou beber junto significa aliar-se; Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 19 comer pão ou provar sal é irmanar-se; comer no mesmo prato é fraternidade; vinho derramado é alegria; farinha quando cai no chão significa fartura. • Crendices populares dizem que comer sal ao lado da pessoa que se pretende conhecer/ namorar. • Evitar 13 pessoas a mesa é um tabu que surgiu na Europa. Acredita-se que 13 pessoas à mesa traz a infelicidade e morte dos anfitriões, ou mesmo algum convidado. Morre o primeiro que se levantar da mesa e também o último. A explicação para esta crença está na Santa Ceia, Jesus e seus 12 apóstolos. Judas, o traidor, foi o primeiro a levantar-se da mesa e, mais tarde, depois de delatar Jesus, suicidou-se. • Ninguém deve terminar refeição em casa alheia sem agradecer. Alguns povos árabes emitem sonoros arrotos para expressar a satisfação com a refeição. • O hábito de palitar os dentes é tipicamente brasileiro, mas tem origem com o costume dos portugueses de confeccionarem palitos. Dom Pedro I só conversava após o jantar, palitando os dentes. • A sesta é um costume quase mundial. • Beber/brindar é um ato formal, indispensável nos protocolos sociais. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 20 PARTE II | OPERAÇÕES DE A&B 1. RESTAURANTES E SEGMENTAÇÕES Há vários tipos de empresas de restauração, como veremos a seguir: Restaurante Tradicional: - Um restaurante quase que imutável com o tempo. Decoração clássica e sóbria; - Costuma ser “à la carte” (a modalidade do serviço), com o serviço tradicional à inglesa direto; - Cardápio: sofisticado e variedade de pratos finos; - Mão de obra: especializada, maitre e garçons alinhados e uniformizados conforme tradição. restaurante² res.tau.ran.te² sm (fr restaurant) 1 Casa onde se servem refeições ao público, mediante pagamento. Restaurante Popular: - Fornece alimentos e bebidas a um preço baixo; - Limitação na qualidade do serviço e dos produtos; - Prato feito ou “comercial”. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 21 Restaurante Temático/ Típico: - Tanto a decoração como o cardápio segue um tema específico; - O tipo de serviço é variado, conforme o tema e a comida servida. Fast-Food: - É uma tendência atual de lanchonetes e coffee shops em redes mundiais; - Alimentos padronizados e pré- preparados. Serviço rápido e sem cerimônia (descontraído); - Um sanduíche do McDonald’s no Brasil é igual ao servido em Portugal; - Os funcionários têm comportamento Self-Service: - São buffets e restaurantes quase sempre com o sistema de comida por quilo; - O cliente se serve à vontade e quantas vezes quiser, pagando um preço único ou por quilo; - O cliente se serve com relativa rapidez, logo que chega, e paga só pelo que pôs no prato; - Preço variável; - Rapidez; - Modelo criado no Brasil. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 22 padronizado conforme o treinamento que recebem; - Geralmente os coffee shops funcionam 24h e são localizados em hotéis, flats e aeroportos. Cozinha Industrial - São os refeitórios de empresas, quartéis, indústrias e hospitais; - O consumo da comida será feito no próprio local da produção. Catering: - Cozinha industrial onde a comida será consumida em lugar distante; - Vendem refeições prontas, em especial para meios de transporte. Ex.: comida servida em aviões. Barracas de Praia - Estrutura típica para a praia com decoração rústica e ambiente descontraído; - Funcionários com uniformes leves: bermudas, boné ou camisetas com nome da barraca; - Pratos típicos e praianos. Vendem principalmente frutos do mar e bebidas refrescantes. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 23 Pizzarias -Podem ser sofisticadas ou populares. -Produto de venda: pizza. Geralmente são especializadas só em pizza ou massas em geral. BAR (Snack Bar/ BOITE/ Barzinho / Clube) - Voltado à diversão e entretenimento, geralmente com música. - O produto principal é a bebida. - A comida é secundária, geralmente petiscos ou tira- gosto. - O Restaurante-Bar, funciona a noite como bar e de dia como restaurante. A alimentação na Hotelaria O Departamento de A&B ocupa posição importante na hotelaria por três motivos principais: geralmente possui muitos funcionários ( de 20 a 50% do total), movimenta muitos recursos na estrutura e operacionalização e funciona como diferencial ou atrativo do hotel. Churrascaria - Podem ser sofisticadas ou populares. O produto principal são os diversos tipos de carne. - O serviço pode ser “à la carte“ ou rodízio (espeto corrido). Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 24 Os grandes hotéis, normalmente, mantinham uma cozinha clássica. Estes modelos devem-se a prosperidade e à exigência de qualidade nos serviços prestados pelo hotel. Nas décadas de 70 e 80, um novo modelo de restauração começou a ser incorporado pelos hotéis, com uma característica mais suave e menos formal do que a cozinha clássica. A chamada Nouvelle Cuisine passou a ser o estilo preferido pelos novos empreendimentos hoteleiros. Os hotéis tinham interesse em manter uma cozinha de categoria a fim de cativarem seus hóspedes com este diferencial, porém buscando as novas tendências e praticidade que a época necessitava. A ideia principal era de que os hóspedes usufruam ao máximo a cozinha do hotel, caso contrário não valerá a pena investir na área de A&B, podendo-se, como recurso, terceirizar este setor. 2. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DE ALIMENTOS E BEBIDAS As operações do Departamento de Alimentos e Bebidas (A&B) são divididas em dois grupos de atividades: COZINHA (produção) e SALA/BAR (atendimento). Enquanto a equipe da COZINHA cuida de toda a parte técnica da PRODUÇÃO dos alimentos, ocupando-se com as atividades como abastecimento, conservação, manipulação, preparação e finalização, sem esquecer da apresentação e da qualidade, a equipe de SALA/BAR cuida do ATENDIMENTO, ocupando-se em preparar o ambiente, receber os clientes e fazer todo o atendimento e serviço de bebidas e dos alimentos preparados pela equipe da cozinha, sem esquecer da cortesia e do bem- Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação ProfissionalHospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 25 estar dos clientes. Para entender melhor os dois grupos de atividades, vamos estudá-los separadamente e conhecer sua estruturação. Abaixo vemos a estrutura organizacional do ATENDIMENTO de um restaurante sofisticado. 2.1 – Brigada de SALA/BAR: A) Gerente de A&B (Food and Beverage Manager – F&B) - Organiza e planeja todos os setores; - Estuda os custos de produtos junto ao departamento de compras; - Faz planejamento, alterações e cancelamento de cardápios; - Promove treinamentos de todo seu pessoal; - Supervisiona o “bom Aadamento” dos serviços; - Mantêm contato direto com os hóspedes para a análise de necessidades, reclamações, etc.; Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 26 - Apresenta relatórios à Diretoria ou Gerência Geral; - Assegura as margens de lucro pretendidas de acordo com a política financeira do hotel; - Assegura a qualidade dos produtos e serviços em relação aos preços cobrados; - Seleciona e demite funcionários. B) Maitre d’Hotel (dependendo da estrutura pode existir 1º e 2º MAITRE): - Subordinado ao gerente de A&B; - É a pessoa que dirige o serviço do restaurante em parceria com seus subordinados; - Também é responsável pelos serviços de Banquete, Room Service e muitas vezes pelo Bar. - Deverá ser profundo conhecedor de técnicas e tarefas de A&B; - Deverá possuir uma certa cultura e diplomacia ao falar com os clientes. O bom Maitre aprende a “ler” os pensamentos do cliente; - Segue normas de etiqueta sem chegar ao esnobismo; - Observa atentamente os procedimentos e atitudes de seus subordinados, orientando-os constantemente. C) Garçom - É o responsável pelo serviço de mesas do restaurante, bem como pelo serviço de Banquetes, Coffee Breaks e Room Service. Curiosidade!! Quando os franceses estavam aqui no Brasil, eles iam comer em alguns lugares em que quem servia eram brasileiros. E quando os franceses iam chamar os garotos para tendê-los eles gritavam "Garçon! Garçon!" que significa na verdade "garoto" em francês. Por algum motivo os brasileiros enfrentaram isso como se fosse o nome da profissão de servir comida e bebida para as pessoas, então hoje em dia garçom é uma profissão, a profissão de servir comida e bebida em um restaurante. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 27 D) Commis: - Tem a função de ajudar o garçom; - Traz e recolhe travessas da/para a cozinha; - Serve o couvert; - Faz a limpeza, arrumação e reposição das mesas; - É o responsável pela arrumação do aparador. E) Sommelier: - Responsável pelo serviço de bebidas; - Deve possuir profundos conhecimentos de Enologia; - Deve conhecer a procedência, qualidade e caráter dos vinhos que recomenda; - Apresenta a carta de vinhos aos clientes e pode aconselhar a escolha, descrevendo detalhes; - Verifica e faz reposição de estoque de bebidas. ENOLOGIA Enologia é a ciência que estuda todos os aspectos relativos ao vinho, desde o plantio, escolha do solo, vindima, produção, envelhecimento, engarrafamento e venda. A enologia é uma ciência moderna que reúne o conhecimento científico sobre as diversas áreas para se estudar as questões relacionadas com o vinho. As disciplinas de base para a formação do enólogo incluem a entomologia, fisiologia, matemática, estatística, geologia, botânica, microbiologia, física, marketing, economia, climatologia, química, entre outras. Além das disciplinas voltadas para a prática da enologia como a vinificação, viticultura, marketing de vinhos, operações unitárias relacionadas a elaboração do vinhos, controle de qualidade e análise sensorial. Não confundir com viticultura, que estuda somente o cultivo da uva para o vinho e vinicultura, que concentra os aspectos culturais em torno do vinho. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 28 2.2 A brigada de Cozinha Organograma Básico (funcional) da cozinha. Brigada de Cozinha É o conjunto de pessoas, qualificadas ou não, que trabalham em uma cozinha. As brigadas clássicas eram compostas de profissionais especializados com atribuições e tarefas bem definidas seguindo a divisão clássica/tradicional das cozinhas francesas. GERENTE DE A&B CHEFE DE COZINHA EXECUTIVO COMMIS (Ajudante) STEWARD (Lavagem) COZINHEIRO Chefe de cozinha com funções administrativas. Organograma verticalizado. Poucos chefes, mais ajudantes. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 29 As cozinhas eram enormes e bem subdivididas. Hoje em dia, em função dos custos, a tendência é otimizar espaços, equipamentos e mão-de-obra. A) Chefe de Cozinha Executivo: é o responsável pela cozinha. Tem cuidado com o pessoal, o menu, a gestão, os equipamentos e a qualidade do alimento. B) Cozinheiro: ajuda o chefe a dirigir a cozinha e o substitui em sua ausência. Cuida da parte operacional da cozinha e deve ter conhecimento, práticos e teóricos, ou muito aproximados ao do Chefe Executivo. C) Commis (ajudante): limpa a área de trabalho, as máquinas da cozinha, as câmaras frigorificas, descasca e corta alimentos in natura e ajuda o cozinheiro na preparação. D) Steward (Lavador de pratos: responsável pela limpeza dos utensílios, panelas, equipamentos e também do ambiente). Organograma Funcional da Brigada de Cozinha (Hotel/ Restaurante de grande porte). CHEFE DE COZINHA Entremetier Commis Saucier Commis Rotisseur Commis Garde Manger Commis Patissier Commis Aboyer Commis Tournant Commis Boucher Commis Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 30 3.2.1 – Conhecimentos práticos e teóricos do CHEFE de cozinha - Verifica o consumo dos gêneros, controlando as existências e simultaneamente o seu aproveitamento; - Inspeciona as câmaras frigoríficas, geladeiras e depósitos de gêneros, de forma a controlar a conservação dos alimentos; - Tem excelente conhecimento de todos os produtos e seu uso, podendo fazer o cálculo diário do que necessita; - Deverá ter um controle perfeito das existências escolhendo os produtos mais indicados, tendo especial cuidado na variedade dos mesmos. Se tiver prato do dia, deve procurar introduzir alterações no mesmo, de forma a dar saída aos produtos mais indicados ou atrasados. Procurar dar um cunho nacional ou regional aos pratos que faz, para estes possa ser recomendados como característicos. Nos pratos especiais dar uma nota pessoal e original. Deve conhecer bem a cozinha nacional e internacional; - Faz os pedidos de compra dos gêneros tendo a seu encargo a verificação da qualidade e peso quando os recebe; - Sabe as quantidades médias de consumo por pessoa e organiza os pratos, segundo os tipos de clientes e as épocas; - Distribui os utensílios de trabalho, dando normas de sua arrumação e utilização, não deixando de apontar as regras para determinadosutensílios que requerem cuidados especiais, pois podem ser frágeis, tóxicos, tais como o cobre, aço, entre outros; - Distribui o serviço. Aqui deve ter grande sentindo de organização sobre o pessoal, sabendo distribuir os turnos em função das necessidades, pondo cada pessoa no seu luar e verificando a sua produção. - Supervisiona a arrumação, higiene e limpeza do ambiente de trabalho. Atividades do Chefe de Cozinha - Depois de distribuídos os serviços, o Chefe faz a sua supervisão. Este serviço, pode ser feito por um substituto, que deverá ter grandes qualidades de chefia, sentido de organização. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 31 - Deve o Chefe, ou quem o substitua, controlar a distribuição (saída) dos pratos. - Os pratos saem pelo balcão ou “boqueta”, ponto de serviço onde são atendidos os pedidos do salão. Nesse local pode existir um balcão aquecido. Cada pedido que chega a cozinha é colocado em ordem de chegada, exceto a pedido especial do garçom. Quando os pratos ficam prontos são encaminhados à “boqueta” acompanhados da comanda, para identificar a origem do pedido. Na saída, estes são verificados quanto a sua apresentação e decoração. - A cozinha não deve fornecer nenhum prato ou alimento sem uma comanda emitida por qualquer seção do estabelecimento, sob o risco de desvio ou consumo indevido. - No final das refeições as comandas são reunidas pelo Chefe, checadas e enviadas à CONTROLADORIA, a fim de serem contados e confrontados com as outras vias de outras seções que também serão remetidas. 2.2.2- Funções Específicas dos Cozinheiros ENTREMETIER: O termo entremetier é originário do francês entremets que significa “entre pratos”. Na culinária clássica, entre os assados principais servia-se pratos doces. Hoje o entremetier é responsável pelo “acompanhamento”, a guarnição do prato. Tarefas Operacionais: São as seguintes produções culinárias: sopas, guarnições, legumes, batatas assadas, soulté, produções culinárias simples a base de ovos, arroz e cereais. Tarefas Administrativas: Supervisionar e assistir os ajudantes durante o seu turno; determinar os produtos a serem requisitados; receber e controlar os produtos recebidos; estocar e conservar os alimentos; prepara a cozinha para o inicio da atividade (refere-se ao espaço designado para seu trabalho operativo, pode ser de fato uma pequena cozinha ou um balcão de serviço com os equipamentos e utensílios necessários); fecha o sérvio da cozinha. SAUCIER: Deriva da palavra sauce, que é molho em francês. Tarefas Operacionais: Responsável pelo preparo das seguintes produções culinárias: fundos e caldos básicos, molhos quentes que acompanham as carnes, aves e peixes. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 32 O saucier pode eventualmente substituir o entremetier e o sub-chefe (caso a brigada comporte). Tarefas Administrativas: Tomar o conhecimento do cardápio do dia, para fazer as produções adequadas; treinar e assistir o ajudante do seu turno; determinar os produtos a serem requisitados para a produção dos molhos; responsável pela abertura e fechamento da cozinha (refere-se ao espaço designado para seu trabalho operativo, pode ser de fato uma pequena cozinha ou um balcão de serviço com os equipamentos e utensílios necessários). ROTISSEUR: O termo substantivado vem do verbo rotir que significa assar. Tarefas Operacionais: É responsável pelos assados do forno, espeto ou grelha e também das produções culinárias a base de fritura (carnes, aves, peixes, caças). O rotisseur pode também preparar as refeições dos funcionários, é chamado neste caso de “cozinheiro familiar”. Tarefas Administrativas: supervisiona e assiste o ajudante de seu turno; toma conhecimento do cardápio do dia para articular suas produções; determinar os produtos a serem requisitados para a produção dos assados; estocar e conservar os alimentos; responsável pela abertura e fechamento da cozinha (refere-se ao espaço designado para o seu trabalho operativo, pode ser de fato uma pequena cozinha ou um balcão de serviço com os equipamentos e utensílios necessários) GARDE-MANGER: Garde-manger significa o armário que guarda-comida. O termo, no meio profissional, é usado tanto para os armários, para o espaço físico da cozinha e o próprio profissional. Tarefas Operacionais: É responsável pelas produções culinárias frias, charcutarias, saladas, molhos frios, bufês e peças moldadas no gelo ou manteiga com o auxílio de utensílio chamado “noisete”. PATISSIER: Significa confeiteiro. O chefe patissier tem tanta responsabilidade quanto o chefe de cozinha. A confeitaria é relativamente independente dos outros setores da cozinha. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 33 Tarefas Operacionais: Responsável pela padaria e confeitaria. Elabora fichas técnicas das suas produções culinárias; estar apto a treinar sua equipe; acompanhar as tendências; ser criativo; ter bom gosto; ter conhecimento da cozinha light. Tarefas Administrativas: Supervisionar e assistir seus ajudantes; determinar os produtos da confeitaria a serem requisitados; estocar e conservar os alimentos; responsável pela abertura e fechamento da cozinha onde acondiciona suas produções culinárias (refere-se ao espaço designado para seu trabalho operativo, pode ser de fato uma pequena cozinha ou um balcão de serviço com os equipamentos e utensílios necessários) e da câmara frigorífica. BOUCHER: Vem de “escudeiro”. Designa aquele que fica à frente. É uma figura pouco encontrada hoje em dia. Assistia a todos os cozinheiros experimentando os pratos para opinar sobre os temperos (condimentos em geral) e o estado de cozimento dos alimentos. Basicamente não era responsável por nenhuma produção culinária. ABOYER: É também uma figura desaparecida da cozinha moderna. “Cantava” os pedidos para as praças. Controla as saídas dos pedidos. Auxiliava no andamento dos pratos. Hoje em dia, quem incorporou essa posição foi o chefe de cozinha. Basicamente não era responsável por nenhuma produção culinária. TOURNANT: É um polivalente. Tarefas Operacionais: Faz produções culinárias da cozinha clássica nacional e internacional, bem como produções culinárias da cozinha moderna e produções menos elaboradas. Tarefas Administrativas: Substitui a todos os “colegas” cozinheiros. Elabora os cardápios junto ao chefe da cozinha. Curiosidade!! O Boucher era o responsável por experimentar as comidas dos reis, antes deles próprios, para evitar que o monarca fosse envenenado, por isso a palavra Boucher” deriva de escudeiro. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 34 3. ASPECTOS LEGAIS DA ATIVIDADE Este tipo de atividade é caracterizada por ser um estabelecimento comercial onde se preparam e servem refeições, sobremesas, sucos e refrigerantes. A produção de alimentos (comidas em geral) no próprio estabelecimento para serem servidos aos consumidores, não faz do RESTAURANTE uma indústria para fins da legislação ambiental. O que normalmente acontece nestes casos, é o Restaurante adquirir produtos industrializados de terceiros para revenda. desta forma, o Restaurante atua na produção quando comercializaprodutos de sua própria fabricação para venda aos consumidores, e como revendedor quando comercializa produtos industrializados ou não, adquiridos de terceiros. As cozinhas de restaurantes clássicos, são ambientes repletos de acessórios e pessoas trabalhando, com o objetivo de manter o empreendimento funcionando e os clientes sempre satisfeitos. Mas, nem sempre, é um espaço tranquilo e organizado. Você conhece a cozinha de algum restaurante da sua cidade? Na próxima vez que for a um, com seus pais ou amigos, tente conhecer a cozinha do restaurante. Sugestão de documentário/atividade: Ratatouille (Disney). Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 35 As formas de atuação neste ramo de atividade Se você pretende abrir um restaurante, saiba que você poderá atuar com um ou mais sócios, ou individualmente, sem sócio. A vantagem de você atuar individualmente como empresário, é que você terá toda autonomia para tomar as decisões relacionadas ao funcionamento da sua empresa sem ter que submetê-las à apreciação de um sócio. ocorre, porém, que a responsabilidade pelas obrigações assumidas pelo empresário é ilimitada. isto quer dizer que, caso a empresa não tenha recursos suficientes para honrar seus compromissos com os credores (fisco, empregados, fornecedores, bancos, etc.), o titular da empresa (no caso o empresário) responde com seus bens particulares para suprir o valor restante da dívida, mesmo que o empresário tenha agido com cautela e boa-fé na condução dos negócios de sua empresa. Por outro lado, se você preferir atuar com um ou mais sócios para explorar a atividade, vocês (os sócios), deverão constituir uma sociedade em que todos deverão contribuir com recursos suficientes para que possam constituir a empresa e dar início às atividades. Neste caso, a sociedade empresária poderá ser limitada. Aliás, este tipo de sociedade é a preferida pelas pequenas empresas, pois os sócios não respondem com seus bens pessoais caso a empresa não possua bens suficientes para honrar seus compromissos. entretanto, se os sócios tomarem decisões contrárias ao interesse da sociedade, ou que manifestadamente visem prejudicar interesses de terceiros, poderão responder com seus bens pessoais para cobrir os prejuízos causados. O novo código civil dispõe claramente que os sócios têm o dever de exercer suas funções com responsabilidade, assim como costumam empregar na administração de seus próprios negócios. Responsabilidade técnica A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por meio da resolução RDC Nº. 216 de 15/09/2004, determinou que todo estabelecimento de gêneros alimentícios deve ter um Responsável pelas atividades de manipulação de alimentos, o qual deverá ter Atenção!! Conselho Regional de Nutrição (CFN) - Os conselhos regionais de nutrição têm exigido que as empresas constituídas com atividades ligadas à nutrição e Alimentação, como é o caso dos restaurantes, deverão registrar-se no órgão. suas atividades só poderão ser desenvolvidas com a participação e responsabilidade técnica de nutricionista. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 36 comprovadamente participado de curso de capacitação no seguintes temas: - contaminantes Alimentares; - doenças transmitidas por alimentos; - manipulação higiênica dos Alimentos; - Boas práticas. o Responsável pelas atividades de manipulação de alimentos, terá autoridade e competência para implantação e manutenção das “Boas práticas de fabricação, manipulação - BPFM, controle de qualidade dos Alimentos” e do “ procedimento operacional padronizado - POP”, entre outras atividades. essa responsabilidade pela implantação e manutenção de Boas práticas de fabricação e manipulação – BPFM e dos POP, pode estar a cargo do proprietário do estabelecimento ou de um funcionário capacitado que trabalhe efetivamente no local, conheça e acompanhe inteiramente o processo de produção. Não há necessidade de se nomear este responsável pelas atividade de manipulação de alimentos no contrato social de sua empresa, basta somente indicá-lo junta ao centro de vigilância sanitária. Instalações Os Restaurantes deverão ser mantidos nas mais perfeitas condições de ordem e higiene, inclusive no que se refere ao pessoal e ao material. De acordo com a legislação paulista, especificamente a Portaria CVC-6/99 do centro de vigilância sanitária da secretaria de estado da saúde, ficam estabelecidas, entre outras coisas, as instalações mínimas necessárias para funcionamento de um restaurante, que são: I – Área independente para recebimento e armazenagem de mercadorias – tendo estrados e prateleiras com altura mínima de 25 cm do piso; II – Área independente para produção e manipulação de alimentos; III – Área independente para higiene e guarda de utensílios de preparação; IV – Sanitários para funcionários, separados por sexo; V – Vestiário separado por sexo, devendo possuir armários individuais e chuveiro; VI – Lavatórios exclusivos e em posição estratégica para que os funcionários façam a higienização das mãos; Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 37 VII – Sanitários para público (consumidores) separados por sexo; VIII – Todas as áreas e instalações deverão estar revestidas de material liso, impermeável, de cores claras, de fácil higienização (piso, paredes, forros e tetos, portas e Janelas); IX – Ambiente com iluminação uniforme, boa ventilação. Vigilância Sanitária A Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabelece regras específicas para empresas que produzem e ou manipulem alimentos, (resolução RDC Nº. 216, de 15/09/04, Portarias Nº. 1.428/MS; Nº. 326 – SVS/MS de 30/07/97 e CVS-6/99), destacamos: 1 - Controle de saúde dos funcionários: existem dois tipos de controle de saúde que devem ser realizados para os funcionários dos estabelecimentos que produzem e ou manipulam alimentos. a) O do ministério do trabalho através da nr-7, determina a realização do pcmso - programa de controle médico de saúde ocupacional, cujo objetivo é avaliar e prevenir as doenças adquiridas no exercício de cada profissão; b) O controle de saúde clínico exigido pela vigilância sanitária, que objetiva a saúde do trabalhador e a sua condição para estar apto para o trabalho, não podendo ser portador de doenças infecciosas ou parasitárias. 2 - Uso de água potável. controle de água para consumo – obrigatório a existência de reservatório de água; 3 - Controle integrado de vetores e pragas urbanas; 4 - Higiene pessoal e uniformização dos funcionários; 5 - Higiene operacional dos funcionários (hábitos); 6 - Higiene Ambiental (periodicidade de limpeza das instalações, utensílios, estoque e reservatório de água); Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 38 7 - Elaboração de manual de Boas práticas de produção, manipulação e de prestação de serviços na área de Alimentos; 8 - Implantar o procedimento operacional padronizado - POP, a ser adotado pelo estabelecimento. Código de Defesa do Consumidor As empresas que fornecem serviços e produtos no mercado de consumo devem observar as regras de proteção ao consumidor, estabelecidas pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).o CDC foi instituído pela Lei Nº. 8.078, em 11 de setembro de 1990, com o objetivo de regular a relação de consumo em todo o território brasileiro, na busca do reequilíbrio na relação entre consumidor e fornecedor, seja reforçando a posição do primeiro, seja limitando certas práticas abusivas impostas pelo segundo. É importante que você saiba que o CDC somente se aplica às operações comerciais em que estiver presente a relação de consumo, isto é, nos casos em que uma pessoa (física ou jurídica) adquire produtos ou serviços como destinatário final. melhor dizendo, é necessário que em uma negociação estejam presentes o fornecedor e o consumidor, e que o produto ou serviço adquirido satisfaça as necessidades próprias do consumidor, na condição de destinatário final. portanto, operações não caracterizadas como relação de consumo não estão sob a proteção do CDC, como ocorre, por exemplo, nas compras de mercadorias para serem revendidas por sua empresa. observe que nestas Atenção!! Há muitas legislações que regulamentam as empresas que produzem e/ou manipulam alimentos, que você deverá atender. não deixe de consultar a secretaria de estado da saúde do Ceará, o centro de vigilância sanitária e a Agência nacional de saúde. não economize esforços, colha todas as informações possíveis. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 39 operações, as mercadorias adquiridas se destinam à revenda e não ao consumo de sua empresa. tais negociações se regulam pelo Código Civil Brasileiro e legislações comerciais específicas, e não pelo CDC. A fim de cumprir as metas definidas pelo cdc, você deverá conhecer bem algumas regras que sua empresa deverá atender, tais como: forma adequada de oferta e exposição dos produtos destinados à venda, fornecimento de orçamento prévio dos serviços a serem prestados, cláusulas contratuais consideradas abusivas, responsabilidade dos defeitos ou vícios dos produtos e serviços, os prazos mínimos de garantia, cautelas ao fazer cobranças de dívidas. Os restaurantes por quilo devem manter suas balanças regularmente aferidas pelo INMETRO. para solicitar a verificação das balanças, você deve entrar em contato com o representante do instituto de pesos e medidas do estado do Ceará portanto, fique atento ao cdc. ele estabelece uma série de direitos e obrigações ao fornecedor e ao consumidor. o sebrae-sp dispõe de informativos e palestras que tratam do assunto, orientando-o na adoção de práticas preventivas que visam evitar que sua empresa tenha problemas com clientes. Outras legislações RDC 216 de 15/09/2004 Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Portaria CVS 06/99 de 10/03/99 (apenas para estado de São Paulo) Estabelece os Parâmetros e Critérios para o Controle Higiênico-Sanitário em Estabelecimentos ligados à área de alimentação. Portaria 1210 de 03/08/2006 (apenas para município de São Paulo) Regulamento Técnico de Boas Práticas, adequado às normas federais e estaduais (Revoga Portaria 2535/03 SMS.G.) Portaria nº 326, SVS/MS de 30 de julho de 1997 Aprova o Regulamento Técnico; “Condições Higiênicos-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos”. Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Hospedagem – Iniciação a Alimentos e Bebidas 40 Portaria nº 1.428/MS de 26 de novembro de 1993 “Regulamento Técnico para Inspeção Sanitária de Alimentos” Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001 Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária: http://www.anvisa.gov.br/ Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento http://www.agricultura.gov.br/ Imprensa Nacional (Diário Oficial da União) http://www.in.gov.br/ Inmetro http://www.inmetro.gov.br/ BIBLIOGRAFIA BARRETO, Ronaldo. Apostila de alimentos e bebidas. CEATEL (SENAC – SP) 1994. BARRETO, Ronaldo. Apostila breve histórico da gastronomia. CEATEL (SENAC – SP) 1994. CASTELLI, Geraldo. Adminstração Hoteleira. EDUCS, Caxias do Sul, 1999. JARDIM, jorge. Apostila de alimentos e bebidas. CEATEL (SENAC – SP) 1995. LIMA, Cláudia. Tachos e panelas: historiografia da alimentação brasileira. 2ª ed. Editora da Autora, Recife. 1999. SPANG, de Rececca L. A invenção do restaurante. Editora Record. Hino do Estado do Ceará Poesia de Thomaz Lopes Música de Alberto Nepomuceno Terra do sol, do amor, terra da luz! Soa o clarim que tua glória conta! Terra, o teu nome a fama aos céus remonta Em clarão que seduz! Nome que brilha esplêndido luzeiro Nos fulvos braços de ouro do cruzeiro! Mudem-se em flor as pedras dos caminhos! Chuvas de prata rolem das estrelas... E despertando, deslumbrada, ao vê-las Ressoa a voz dos ninhos... Há de florar nas rosas e nos cravos Rubros o sangue ardente dos escravos. Seja teu verbo a voz do coração, Verbo de paz e amor do Sul ao Norte! Ruja teu peito em luta contra a morte, Acordando a amplidão. Peito que deu alívio a quem sofria E foi o sol iluminando o dia! Tua jangada afoita enfune o pano! Vento feliz conduza a vela ousada! Que importa que no seu barco seja um nada Na vastidão do oceano, Se à proa vão heróis e marinheiros E vão no peito corações guerreiros? Se, nós te amamos, em aventuras e mágoas! Porque esse chão que embebe a água dos rios Há de florar em meses, nos estios E bosques, pelas águas! Selvas e rios, serras e florestas Brotem no solo em rumorosas festas! Abra-se ao vento o teu pendão natal Sobre as revoltas águas dos teus mares! E desfraldado diga aos céus e aos mares A vitória imortal! Que foi de sangue, em guerras leais e francas, E foi na paz da cor das hóstias brancas! Hino Nacional Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heróico o brado retumbante, E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da pátria nesse instante. Se o penhor dessa igualdade Conseguimos conquistar com braço forte, Em teu seio, ó liberdade, Desafia o nosso peito a própria morte! Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, um sonho intenso, um raio vívido De amor e de esperança à terra desce, Se em teu formoso céu, risonho e límpido, A imagem do Cruzeiro resplandece. Gigante pela própria natureza, És belo, és forte, impávido colosso, E o teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada,Brasil! Deitado eternamente em berço esplêndido, Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo! Do que a terra, mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; "Nossos bosques têm mais vida", "Nossa vida" no teu seio "mais amores." Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro dessa flâmula - "Paz no futuro e glória no passado." Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!