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Prévia do material em texto

A Menina que podia Voar
Vinícius Linné
Mirella Spinelli
Ilustrações
A Menina que podia Voar
Vinícius Linné
Mirella Spinelli
Ilustrações
Para uma Borboleta, 
uma Mariposa 
e um Mandarim
A Menina que podia Voar
Everson Paulo Fogolari
Cleonice Dariva Fogolari
Editores:
Fabiano Tadeu Grazioli
Coordenador Editorial
Vinícius Linné
Texto
Mirella Spinelli
Ilustração
Natasha Freitas Lise
Projeto Gráfico
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
Nome Sobrenome (inserir dados habituais)
© Todos os direitos reservados à Habilis Editora Ltda.
Rua Emílio Grando 187/401 | Centro
99700-000 | Erechim RS
Fone/Fax: 54 35225856
Site: http://www.habiliseditora.com.br
Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer
forma e por qualquer meio mecânico ou eletrônico,
inclusive através de fotocópias e de gravações,
sem a expressa permissão dos autores.
 Primeiro vos conto que quem cá conta este conto, de 
cá cacareja. E ainda por cima é chamada de Catarina. Eu 
teria todo prazer de apertar sua mão, se mãos eu tivesse. 
Não tenho. Tenho pés. E de galinha. Mas antes que você já 
duvide da história que segue, começo afirmando que toda 
ela é bem verdadeira. Que me caiam todas as penas e me 
cresça meio palmo do bico, se acaso eu cacareje mentiras. 
 Além do mais, você, por acaso, já ouviu galinha mentir?
 Não que nós, galinhas, sejamos muito honestas ou 
virtuosas. Para falar a verdade, somos é meio burras. Não 
poderíamos inventar uma história como esta, tão cheia de 
detalhes e significâncias. Se inventássemos, criaríamos no 
fim uma coisa e no começo bem outra.
 Esta é a história que contam as galinhas mais velhas às 
galinhas mais moças, de geração em geração, entre um ovo 
chocado e um bicho ciscado. Quando cacarejamos, para o 
caso de você não nos entender, estamos recontando este 
conto enquanto esperamos o dia passar. E como demoram 
os dias para quem é galinha...
7
9
 Pois era, então, uma vez, uma menina que podia voar.
 Dizem que tudo começou numa tarde como esta, de 
verão. Ali, naquela figueira bem alta, uma corda embalava 
um balanço. E a menina, tarde sim, tarde não, se embalava 
com o vento.
 O vento era, naquele tempo, muito amigo seu e lhe 
contava coisas das terras distantes, onde só ele podia ventar. 
Sussurrando, sempre prometia: “Um dia levo você comigo, 
menina. Um dia...”, mas o tal dia não vinha.
 Quando veio, não teve nada de tão especial. Ela estava 
até com o vestido manchado com suco de amora. Naquela 
tarde ela tentou ir com o balanço mais alto do que o vento 
que, menino ciumento, para não vê-la beijar o gramado ao 
cair, foi fazê-la voar.
 Dizem que, na época, somente um pardal que passava 
apressado a viu decolar para o azul avoado. Ver, mais 
ninguém viu, mas fato é que a menina voou, bem acima da 
copa da árvore, do galinheiro, e do rio.
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 Não teve medo a menina que podia voar, julgou foi muito natural. 
Não lhe disseram jamais que meninas não voam. Pensou ser só um 
reflexo atrasado. Tinha razão a professora que dissera outro dia na 
escola: “Tão lenta esta menina...”
 Aliás, a professora, que também tinha pés de galinha, mas não 
pena nem bico, sempre repetia que a menina era a mais lenta da sala. 
Sala que a professora se dava ao trabalho de dividir em três: na primeira 
fila, Maria Clara e Ana Blanca, só as duas eram consideradas aviões. 
Na segunda fileira, quatro crianças ocupavam o lugar dos carros. O 
restante era considerado carroça. E entre eles estava a nossa menina, 
sentada ao lado de João Japa.
 Não que houvesse na origem de João qualquer traço nipônico. 
O menino, míope de pai e estrábico de mãe, espremia ao máximo os 
olhinhos com o intuito de enxergar no quadro. Ainda assim, pouco 
via. O problema se resolveria com uns óculos, mas por mais que o 
pai espremesse o bolso, não sobrava sequer para uma lente, muito 
menos para duas. De tanto fazer olho comprido, espremendo daqui 
a apertando dali, João ficou com a fama de ser japonês. A própria 
professora ria do pobre menino. “Abre o olho, João Japa”. Completa 
maldade.
12 13
 Mas agora silêncio! A professora vai tomar a lição. E 
vai perguntar justamente para nossa menina:
 — Diga-me, carrocinha, se você tem um chocolate e 
precisa repartir entre você e mais dois amigos, cada um 
ficará com um...
 — ...um pedaço, professora.
 A menina respondeu orgulhosa, mal cabendo o 
contentamento dentro do peito.
 — Errado. Como sempre. Errado.
 — Não, professora, errado é não repartir. Minha avó 
sempre me ensinou.
 — Ah, menina tola! Estamos falando de frações, 
entendeu? Fra-ções. Se você tem um chocolate e quiser 
repartir entre três, cada um ficará com um terço, entendeu?
 Entender de entender mesmo, a menina não entendeu, 
mas balançou a cabeça para baixo e para cima.
 — Agora você, Maria Clara. E não me decepcione, 
lembre-se que você é um avião, e não uma carroça como 
aquela lá do fundo. Diga-me, lindinha, se tivermos três 
terços, nós teremos um...
 Antes nossa menina tivesse ficado calada, mas nem deu 
tempo de a Maria Clara responder e ela interveio orgulhosa 
por ter a resposta:
 — Um rosário, professora.
 Aquela tinha que estar certa. Afinal, já tinha respondido 
esta mesma questão para a catequista. Quando respondeu 
à irmã Maria da Glória, ela lembrava bem, ganhou até um 
carimbinho de Jesus com a pombinha no canto do caderno 
de oração.
 — Meu Deus, menina mais tonta não há! Para começar, 
sua resposta está errada e para terminar, não lembro de ter 
pedido que você respondesse. Maria Clara, tenha a bondade 
de nos dizer o que teremos com três terços.
 — É lógico, querida professora: a resposta é um inteiro.
14
 — Está vendo, sua carroça lenta, o que é inteligência? 
 — Perguntou a professora.
 — Eu estou. Quem não está vendo é o João. Sabe, profe, 
ele vê tudo embaralhado. Não seria melhor ele sentar lá na 
frente?
 — Mas você é lenta, né, menina? Será que não percebe 
que na frente sentam só os melhores? Acho até que você 
deveria ser lesma e não carroça.
16 17
 Foi assim que a pequena se convenceu de que era mesmo lenta, 
de modo que quando voou, numa tarde azul, não se assustou. Achou 
coisa certa que isso já havia acontecido para as outras meninas. Elas 
só não eram suas amigas o suficiente para contar.
 Tinha por certo que, nas tardes mais ensolaradas, se reuniam 
todas na casa grande de Maria Clara para voar no quintal e brincar 
de esconde-esconde nas nuvens. 
 Voar, portanto, para ela, demorou mais do que o natural, mais 
do que nas outras crianças. Será que podiam voar desde bebês? E os 
adultos, como é que ela nunca os vira voando? Perguntas que não 
tinha quem lhe respondesse. A mãe estava no céu, mas não foi voando 
que chegou lá, foi por um buraco que fizeram na terra.
 Como se pode da terra chegar ao céu? A menina não entendia, 
mas agora que voava, às vezes ia bem perto das nuvens, sentindo o 
cheiro doce que vinha delas, esperando avistar em algum cantinho a 
mãe que morreu. Não avistava nunca.
 Fato é que sair pelos ares virou parte de seu dia-a-dia. Sempre 
mais alto e sempre de dia. À noite, não é que vontade não tivesse, é 
que de medo tremia. Ah, queria tanto colher algumas estrelas... tão 
bonitas e pequeninas, como as flores mimosas, daquelas que enfeitam 
buquês . Mas bastava olhar para a lua e para o dragão que nela dormia 
e pronto: a vontade fugia junto com a coragem.
 Ah, mas enquanto o sol raiava, o quanto se divertia... 
 Por não ter qualquer amigo, brincava de esconde-esconde com 
os passarinhos, de pega-pega com as borboletas e de passa-anel com 
os bem-te-vis.
 Assim passaram-se muitos meses, nos quais ela foi bem 
feliz com sua imaginação e suas asas tão invisíveis quanto 
coloridas. E por falar em cores, conta-se então que um dia 
voou tão alto que chegou à fábrica de cores das nuvens do 
céu. Quantos matizes diferentes, quantas cores bonitas, 
meu Deus! Maravilhada, decidiu que no outro dia levaria 
consigo alguns potes com tampas de rosca, separou os 
vazios de cravo, canela e noz-moscada. Lá no tanque lavou 
bem paratirar o cheirinho e os guardou para o outro dia.
 Tinha tudo muito bem planejado e faria assim: pegaria 
das tintas mais bonitas um pouco, só um pouquinho, depois 
as traria à madrinha, exímia pintora, e pediria um retrato 
só seu.
 Olhando para o poente, pensou de repente de quais 
gostaria mais, rosa, vermelho, laranja, lilás. Já escolhia, 
aliás, quais cores pegar. A manhã foi bonita, mas a tarde 
foi sem igual. Como pegara por costume, correu um pouco 
para ganhar impulso. Quando julgou suficiente, ergueu os 
pés do chão e flutuou sobre o campo bem verde.
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 Cantou como os pássaros que aproveitavam a estação. Olhou 
tudo de cima, viu o chiqueiro, o galinheiro e o galpão. Sorriu feliz, 
porque ia chegando bem perto de onde as cores brotavam.
 Fascinada com o arco-íris, a menina encheu os potes com as 
nuances do céu. Depois, os rosqueou bem para que a tinta não lhe 
manchasse o vestido. Na volta, chegou ao chão com o poente caindo. 
Correu sem dar saltos (não queria subir na noite), foi direto para casa, 
onde se cansou de tanto olhar, cheirar, examinar e virar os potinhos 
com a tinta que pegara no céu.
 Na manhã do outro dia, logo cedinho, mal o galo cantou, a 
menina pôs-se de pé. Comeu tão depressa que até com soluço ficou, 
mas nem se importou. De potes em punho, foi correndo à madrinha, 
para pedir seu retrato. 23
 — Mas, menina, de onde você tirou tintas tão belas? — 
Era a voz da madrinha pintora, empolgada a perguntar.
 — Pois ora, do céu. E a senhora já viu cores tão bonitas 
em algum outro lugar?
 — Pois deixe de lorotas. Diga-me, anda, se as tirou do 
céu, como foi que você chegou lá?
 — Voando, e como mais se pode chegar?
 A madrinha franziu a testa. Não gostava de meninas 
mentirosas.
 — Onde é que já se viu pessoa chegar no céu?
 — E não é lá que está a minha mãe? Falando nisso, 
nunca a vi quando fui ao céu, nem vi os anjos sentados nas 
nuvens, tocando harpas douradas...
 — Bem, sim, os que Deus chama estão lá no céu, e 
também os anjos.
 — Então Deus me chamou! Ou eu sou uma anja...
 — Nem uma coisa, nem outra. De onde tira estas idéias? 
Deus só chama quem já morreu e você está bem viva, sinta 
só.
 Deu na menina um beliscão de leve, tão leve que entre a 
seriedade e a brincadeira a menina não sabia se chorava ou 
se sorria. Por dúvida, seu sorriso tinha lágrimas nos olhos.
 — Diga, menina, e não me tire a paciência do pé. Onde 
arrumou estas tintas? Não diga, meu Deus, que você as 
roubou.
 — Não, lógico que não, porque roubar é muito feio. Só 
peguei, afinal, há tanta no céu... E o céu é de todo mundo. 
Ou não é? Eu só voei, fui lá e peguei. Juro que é verdade, 
madrinha.
 — E onde já se viu pessoa voando no céu? Deixe de 
lorotas que eu já disse: mentir é muito feio.
 — Não minto não, madrinha.
 — E eu não acredito. Pois quem voa é só pássaro e bicho 
de asa!
24 25
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 — Como galinha?
 — Não! Galinha não voa!
 — Mas galinha tem asa...
 — Pois não voa!
 — E é por isso que pessoa voa? Porque não tem asa, 
mas voa, é pra equilibrar com a galinha, né?
 — Já lhe disse: PESSOA NÃO VOA!
 — Então eu sou galinha?
 — Pessoa não voa e galinha menos ainda! Não, não... 
quer dizer, pessoa voa menos que galinha... Essas frangas 
bem que tentam. Vez ou outra dão um salto desajeitado. 
Ah, mas deixe isso pra lá.
 — É verdade? Mas é verdade da verdadeira que pessoa 
não pode voar? E como é que eu voo então?
 — Pois você não voa, não pode, eu já disse! Se pensa 
que voa, faz aí pra eu ver.
28
 A menina abanou a cabeça para cima e para baixo. 
Podia voar, já fizera isso tantas vezes, em quase todas as 
tardes. 
 E ela correu, correu, correu e correu até se cansar, 
dando pulos e saltos sempre em busca de se erguer e 
nada de o corpo sair pelo ar. Os pezinhos subiam alguns 
centímetros para logo depois voltarem fazendo poeira na 
estrada. Alguns metros de corrida e perdeu seu chinelo de 
dedo cor-de-rosa. O chinelo ficou largado entre a poeira e 
as pedras do chão.
 Ela já quase nem pulava e aos poucos as lágrimas 
vertiam. Chorava, porque já não podia voar.
 Mas ela podia, sentia que podia, sabia que podia, já 
tinha voado tantas vezes... 
 Mas fato é que não voaria nenhuma mais.
30
 Depois disso, só quem voou foi o tempo e a menina que 
podia voar cresceu. Cresceu tanto que já é quase mulher. 
E ela passa seus dias na janela do sótão, perdida, com a 
cabeça mais no céu do que na Terra. Dizem até que está 
sempre no mundo da lua... Mas lá é que ela não vai. Tem 
medo ainda do tal dragão. Às vezes passa pela sala e vê na 
parede um retrato só seu. Um retrato já antigo, de quando 
ainda era menina, pintado com as tais tintas do céu, em 
uma aquarela que cada dia desbota mais.
 Quanto à madrinha, já é casada e virou até mãe. As 
filhas dela nunca voaram, nem um tiquinho sequer, nem 
em sonho, vejam só... 
 E foi assim que a menina que podia voar virou a mulher 
que podia chorar. Porque chorar, chorar sim, isso disseram 
que pessoa podia fazer.
 E é assim, meio molhada de choro, que termina a história da 
menina que podia voar. História esta que todas nós galinhas contamos 
às frangas e aos pintinhos mais novos, ovos após ovos. Só quem nunca 
a ouviu foi a pobre da galinha Zilá. Ela que, meio doida e meio surda, 
um dia desapareceu. Para nunca mais voltar.
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Mirella Spinelli , quando recorda-se da infância, lembra de estar 
sempre desenhando ou com um livro nas mãos. Em São João del-
Rei/MG, onde nasceu e cresceu, o tempo era dividido entre as 
brincadeiras na rua com os amigos e a emocionante descoberta 
dos clássicos da literatura. Ao poucos, foi tentando transportar o 
mundo fantástico da literatura para o mundo das imagens. Daí 
nasceu o grande interesse pela ilustração e pelas Artes Visuais. 
Anos depois, fez vestibular para a Faculdade de Belas Artes da 
UFMG, onde aprendeu a usar várias técnicas como forma de 
expressão. E passou a desenhar, para jornais, revistas e a ilustrar 
livros infantis e didáticos. 
Vinícius Linné, 24 anos, professor, poeta, escritor e sonhador 
cresceu em um mundo povoado por dragões, castelos e fadas. 
É apaixonado desde menino pelo poder das palavras e das 
histórias. Depois de muito voar por páginas coloridas repletas 
de imaginação decidiu também fazer voar meninas e meninos 
que gostassem de histórias tanto quanto ele.

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