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WBA1373_v1.0 Multipropriedade e loteamento Lei do distrato e seu impacto nas vendas de unidades autônomas e de lotes. Aspectos obrigacionais. Responsabilidade civil na incorporação imobiliária e no loteamento. Arbitragem e meios adequados para solucionar conflitos. Introdução, regime legal e responsabilidades Bloco 1 Assuero Rodrigues Neto Vamos refletir? Tente pensar a quantidade de negócios imobiliários realizados diariamente no contexto dos grande empreendimentos, seja nas incorporações ou nos loteamentos. Agora, pense a quantidade de inovações jurídicas concebidas para atender essa constante demanda e o impacto que esse ímpeto criativo pode gerar nas relações com os consumidores desses produtos imobiliários. Introdução São muito importantes as mudanças trazidas ao mercado imobiliário com a chegada da Lei n. 13.786/2018, chamada Lei dos Distratos. Impactou tanto as incorporações imobiliárias como os loteamentos. A regulamentação dos distratos deve trazer maior segurança jurídica às partes, com as regras, limitações e consequências de parte a parte. A lei prevê as penalidades e as consequências aplicáveis em caso de inadimplência de contratos, tanto em decorrência de infração contratual por parte do incorporador/loteador, quanto por parte do adquirente. Regime legal A Lei dos Distratos teve origem na Câmara dos Deputados, sob o projeto n. 1.220/2015 e foi objeto de diversas emendas no Senado Federal. Após aprovação pelo Congresso Nacional, o texto seguiu para sanção presidencial, resultando na Lei n. 13.786/2018, publicada em 28 de dezembro de 2018. Foram promovidas alterações nas Leis n. 4.591/64 (lei de incorporações imobiliárias) e n. 6.766/79 (lei de loteamentos). Responsabilidades Obrigações do incorporador: • Destaca-se a previsão cento e oitenta dias, desde que tal previsão esteja clara e em destaque, em caso de atraso na entrega do imóvel ao adquirente. • Após esse prazo, o adquirente poderá optar por desfazer o negócio, sendo reembolsado dos valores pagos até então. • A disposição com maior destaque na lei, no entanto, diz respeito às hipóteses de distrato por inadimplência/ desistência do adquirente: o direito de retenção dos valores pagos serão de 25 a 50%. Responsabilidades Minimizando os impactos para o adquirente de incorporações imobiliárias, a lei prevê uma hipótese em que não serão devidas as multas acima: se o adquirente transferir seu contrato para terceiros, com anuência do incorporador. Na hipótese de distrato por culpa do adquirente, além dos percentuais acima mencionados, serão também deduzidas, do valor a ser a este devolvido, as despesas de corretagem e, caso o distrato ocorra após a entrega do bem, as de fruição do imóvel. Assim ocorrendo, o valor a ser pago pelo adquirente pela fruição do imóvel está limitado a 0,5% do total do contrato, nas incorporações imobiliárias, e a 0,75%, em caso de loteamentos. Lei do distrato e seu impacto nas vendas de unidades autônomas e de lotes. Aspectos obrigacionais. Responsabilidade civil na incorporação imobiliária e no loteamento. Arbitragem e meios adequados para solucionar conflitos. Normas gerais e modificações pontuais Bloco 2 Assuero Rodrigues Neto Normas gerais A lei contém disposições sobre os contratos de compra e venda de imóveis com incorporadores e loteadores, passando a ser obrigado que neles conste quadro- resumo com informações sobre: • Preço total do imóvel. • Prazo. • Forma de pagamento. • Consequências de inadimplemento contratual. Normas gerais Um dos grandes desafios é avaliar se a lei seria aplicável apenas para contratos celebrados após sua vigência ou se apenas para contratos posteriores. A nova legislação altera regras de direito material, em especial os efeitos da resolução de contratos de compromisso de venda e compra de determinados imóveis. Disso decorre que, por regra, não alcança contratos pretéritos, nem pode retroagir os seus efeitos, sob pena de violar ato jurídico perfeito e, por consequência, direito adquirido. Normas gerais Não obstante, por se tratar de norma de retroatividade média, qual seja, se opera quando a nova lei, sem alcançar os atos ou fatos anteriores, atinge seus efeitos ainda não ocorridos (efeitos pendentes). Desse modo, embora a lei não alcance a data da assinatura do contrato, a rescisão ou mais tecnicamente, a resilição contratual é efeito pendente. Assim, existe fato superveniente que pode ser alcançado sem que a nova lei atinja o ato jurídico perfeito. Normas gerais A Lei dos Distratos, n. 13.786/2018, alterou a (A) Lei de Incorporações, n. 4.591/1964, e (B) a Lei de Loteamentos, n. 6.766/1979. As alterações podem ser assim divididas em: • Lei de Incorporações: o que deve constar no contrato (inclusão na lei do artigo 35-A); o famoso prazo da tolerância na entrega do imóvel que não era legal, mas que agora ficou (inclusão do artigo 43-A); e o que acontece se o contrato for desfeito/ quebra (inclusão do artigo 67-A). Modificações pontuais - incorporações • O artigo 35-A: a Lei, agora, manda que as incorporadoras tenham um quadro-resumo apontando as principais condições fechadas pelas partes, em contratos-padrão. Se faltar algum, as partes precisam aditar o contrato em até trinta dias, sob pena dessa falta dar ao adquirente uma justa causa para pedir a rescisão contratual (§ 1º do artigo 35-A). A intenção da lei foi proteger o consumidor adquirente, especialmente quanto ao prazo para entrega da obra; valor exato da corretagem e quem a receberá; e as consequências para o desfazimento do contrato, com destaque em negrito para as multas de cada uma das partes e como será seu pagamento. Lei do distrato e seu impacto nas vendas de unidades autônomas e de lotes. Aspectos obrigacionais. Responsabilidade civil na incorporação imobiliária e no loteamento. Arbitragem e meios adequados para solucionar conflitos. Modificações pontuais Bloco 3 Assuero Rodrigues Neto Modificações pontuais: incorporações • O artigo 43-A: o prazo de tolerância de atraso na obra, agora, está na lei. Ficou estabelecido que o atraso da obra em cento e oitenta dias, não tem multa, desde que essa regra esteja clara e destacada em contrato. Se esse prazo for ultrapassado, há duas possibilidades e penalidades diferentes (que não podem ser acumuladas): i) se o adquirente quiser dar fim ao contrato, recebe, em sessenta dias, tudo o que pagou, a multa e correção; ou ii) se adquirente quiser aguardar a obra acabar e não dar fim ao contrato, a incorporadora precisa pagar 1% ao mês sobre o valor efetivamente pago à incorporadora, no momento da entrega da unidade (em razão de sua não utilização). Modificações pontuais: incorporações • O artigo 67-A: versa sobre o desfazimento do contrato: a) Resilição: somente na hipótese do direito de arrependimento em até sete dias pelo CDC, desde que o contrato tenha sido firmado em stand de vendas ou fora da sede da incorporadora. Passados os sete dias, não se fala mais em resilição. • b) Resolução: se uma das partes atrasa sua obrigação, precisa constar prazo hábil para cumprir a obrigação atrasada (purgar a mora). Se não cumprir, a parte prejudicada pode pedir a resolução do contrato por inadimplemento da outra, com a consequente multa a favor da prejudicada. Modificações pontuais: loteamentos O artigo 26-A (o que deve constar no contrato): a cláusula penal não pode exceder a 10% do valor em aberto e somente pode ser exigida após o comprador atrasar o pagamento em três meses. Não há justificativa plausível para a grande diferença com a limitação das multas na incorporação imobiliária (25% sem PA - patrimônio de afetação - e 50% com PA). É preciso constar em quadro-resumo as consequências do desfazimento do contrato e suas penalidades, assim como o direito de arrependimento, nos mesmos moldes das regras da incorporação imobiliária, o prazo final da execução do projeto eo prazo final para o protocolo do pedido de emissão do TVO. Modificações pontuais: loteamentos O artigo 32-A (o que acontece se o contrato for desfeito): I - o que pode ser descontado do valor a devolver ao adquirente: a) se o comprador já recebeu o lote, a loteadora pode descontar 0,75% sobre o valor do contrato atualizado (a lei não o período, mas por analogia às recentes decisões jurisprudenciais é por mês: fruição); b) multa moratória (geralmente, limitada a 2%, pelo artigo 52, § 1º do CDC); c) IPTU e contribuições da associação (desde que obviamente o adquirente faça parte desta), além de tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão e; d) a comissão de corretagem, somente se esta estiver integrada ao preço do lote; II - a devolução ao comprador, após os descontos constantes do artigo 32-A, deve ser feita: a) se o loteamento estiver em obras, em até cento e oitenta dias do prazo para acabar as obras (em até doze parcelas); e b) se o loteamento estiver pronto, em até doze meses da rescisão do contrato (também em até doze parcelas). Modificações Pontuais – loteamentos A inclusão do § 2º do artigo 34 (leilão do lote após sessenta dias da mora). O § 2º que manda a loteadora promover o leilão nos termos da Lei da Alienação Fiduciária (n. 9.514/97): no prazo de sessenta dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial. O artigo 35 e a inclusão do § 3º (cancelamento do registro da promessa de lote e possibilidade de novo registro): a) distrato assinado pelas partes e a comprovação do pagamento da parcela única ou da primeira parcela do montante a ser restituído ao adquirente, ao titular do registro cancelado, ou mediante depósito em dinheiro à sua disposição no registro de imóveis; b) poderá ser dispensada se as partes convencionarem de modo diverso. Quiz O que acontece se o contrato feito com o loteador for desfeito pelo adquirente? Quiz - Resolução Os valores pagos serão restituídos ao adquirente, com os seguintes descontos: Se o comprador já recebeu o lote, a loteadora pode descontar 0,75% sobre o valor do contrato atualizado; cobrar multa moratória (geralmente, limitada a 2%, pelo artigo 52, § 1º do CDC); exigir o pagamento de IPTU e contribuições da associação (desde que obviamente o adquirente faça parte desta), além de tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão; e a comissão de corretagem, somente se esta estiver integrada ao preço do lote. A devolução ao comprador, após os descontos deve ser feita: a) se o loteamento estiver em obras, em até cento e oitenta dias do prazo para acabar as obras (em até doze parcelas); e b) se o loteamento estiver pronto, em até doze meses da rescisão do contrato (também em até doze parcelas). Lei do distrato e seu impacto nas vendas de unidades autônomas e de lotes. Aspectos obrigacionais. Responsabilidade civil na incorporação imobiliária e no loteamento. Arbitragem e meios adequados para solucionar conflitos. Teoria em Prática Bloco 4 Assuero Rodrigues Neto Reflita sobre a seguinte situação • Quais informações obrigatórias devem constar no quadro-resumo? • Quais as limitações legais das cláusulas penas no loteamento e na incorporação? Norte para a resolução • Devem, obrigatoriamente, constar do quadro resumo o preço total do imóvel; o prazo; a forma de pagamento; e as consequências de inadimplemento contratual. • Nos loteamentos, a cláusula penal não pode exceder a 10% do valor em aberto e somente pode ser exigida após o comprador atrasar o pagamento em três meses. Nas incorporações, as multas são de 25%, se não houver a instituição de patrimônio de afetação e de 50%, se houver. Lei do distrato e seu impacto nas vendas de unidades autônomas e de lotes. Aspectos obrigacionais. Responsabilidade civil na incorporação imobiliária e no loteamento. Arbitragem e meios adequados para solucionar conflitos. Dicas do(a) Professor(a) Bloco 5 Assuero Rodrigues Neto Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o login por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou periódicos científicos, todos acessíveis pela internet. Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve, portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na construção da sua carreira profissional. Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso! Leitura Fundamental Indicação de leitura 1 Este trabalho envolve análise completa sobre as modificações trazidas pela Lei dos Distratos. Referência: VITALE, O. Lei dos Distratos Lei n. 13.786/18. São Paulo: Ibradim, 2018. Indicação de leitura 2 Esta obra aborda, de maneira muito satisfatória, os pormenores do instituto. Referência: ARAÚJO, C. Condomínio indivisível. Direito de preferência. Escritura pública de compra e venda. Condômino preterido. Validade do negócio jurídico. Disponível em: http://online.sintese.com. Acesso em: 8 maio 2023. Dica do(a) Professor(a) Ante as pressões exercidas pelo mercado imobiliário, no sentido de novas soluções para os empreendimentos, é aconselhável não só o conhecimento sobre as modificações trazidas pela lei, como a jurisprudência que vem se posicionando sobre os variados temas. ARAÚJO, C. Condomínio indivisível. Direito de preferência. Escritura pública de compra e venda. Condômino preterido. Validade do negócio jurídico. Disponível em: http://online.sintese.com. Acesso em: 8 maio 2023. AZEVEDO, F. de O.; MELO, M. A. B. de (coord.). Direito imobiliário: escritos em homenagem ao professor Ricardo Pereira. São Paulo: Atlas, 2015. VITALE, O. Lei dos Distratos Lei n. 13.786/18. São Paulo: Ibradim, 2018. Referências Bons estudos!