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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE DA FAMÍLIA UNIDADE 2 A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial Tiago Rocha Pinto Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização 2 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial Aula 1: A proposição de um novo modelo assistencial Caro(a) aluno(a), A partir do que já foi discutido, você pôde reconhecer alguns dos principais marcos his- tóricos envolvidos na configuração da APS e dos preceitos que passaram a caracterizar e orientar esse nível assistencial no contexto do SUS. Com isso, esperamos ter lhe fornecido elementos que irão contribuir para que você compreenda as particularidades e como a Estratégia de Saúde da Família foi sendo adotada como modelo oficial do governo brasileiro para a ampliação do acesso e o aumento da cobertura dos principais agravos à saúde da população brasileira. Vamos seguir nossos estudos? Do programa à estratégia Desde a implantação do Programa de Saúde da Família (PSF), em 1994, até a sua transfor- mação em Estratégia na Política Nacional de Atenção Básica, em 2006, e reforçada na nova PNAB de 2017, um novo modo de atenção tem sido consolidado em grande parte dos muni- cípios brasileiros como forma de se reverter o antigo modelo curativo e hospitalocêntrico, além de levar a assistência a parcelas da população antes excluídas ou prejudicadas pelas dificuldades de acesso à saúde (BRASIL, 2001a, 2006, 2017). Faz-se necessário destacar que o Programa de Agentes Comunitários (PACS), existente desde o início da década de 1990, efetivamente instituído e regulamentado em 1997, quando se iniciou o processo de consolidação da descentralização de recursos no âmbito do SUS, já trazia em suas estratégias a reorientação da assistência ambulatorial e domi- ciliar, sendo compreendido como transitório para a Estratégia de Saúde da Família (ESF). O PACS, assim como a ESF, incorpora e reafirma em suas estratégias os princípios básicos do SUS, a saber: universalidade, descentralização, integralidade e participação na comuni- dade (BRASIL, 2001b). Nesse processo, é possível afirmar que num primeiro momento o PSF passou por uma fase de formulação e implantação ocupando uma posição marginal no contexto global da política de saúde, apresentando características de focalização. No momento posterior, começa a constituir uma proposta organizativa da APS, passando a ser considerado estratégico para a reorientação do modelo de atenção ainda predominante no SUS. Na ESF, a superação do paradigma biomédico tradicional se coloca como premissa fun- damental de estratégia ordenante de suas ações. Ou seja, requer mudanças nas práticas assistenciais historicamente calcadas no atendimento clínico e individual, centradas no médico e na medicação, focadas na doença, com orientações impositivas e descoladas da realidade dos indivíduos, em práticas curativas e no modelo queixa-conduta para ações que priorizem: prevenção, promoção e educação em saúde; atividades direcionadas a grupos prioritários; trabalho interprofissional e intersetorial; e sejam focadas no empoderamento 3 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial Esta Política Nacional de Atenção Básica tem na Saúde da Família sua estratégia prioritária para expansão e consolidação da Atenção Básica. Contudo reconhece outras estratégias de organização da Atenção Básica nos territórios, que devem seguir os princípios e diretrizes da Atenção Básica e do SUS, configurando um processo progressivo e singular que considera e inclui as especificidades locorregionais, ressaltando a dinamicidade do território e a existência de populações específicas, itinerantes e dispersas, que também são de responsabi- lidade da equipe enquanto estiverem no território, em consonância com a política de promoção da equidade em saúde. Esta Portaria, conforme normatização vigente no SUS, que define a organização em Redes de Atenção à Saúde (RAS) como estratégia para um cuidado integral e direcionado às neces- sidades de saúde da população, destaca a Atenção Básica como primeiro ponto de atenção e porta de entrada preferencial do sistema, que deve ordenar os fluxos e contrafluxos de pessoas , produtos e informações em todos os pontos de atenção à saúde. A construção de um novo modelo assistencial em saúde, no sentido dos valores propostos pelo SUS e que aparecem, em parte, no PSF, é um desafio. É essencial um modelo de organização dos serviços de saúde alicerçado em condições sociopolíticas, materiais e humanas, que viabilizem um trabalho de qualidade para quem o exerce e para quem recebe a assistência. Sem isso, corre-se o risco de fazer ruir a motivação e os créditos dados pelos profissionais de saúde e pela sociedade à referida proposta. Por isso, é de suma importância que as contradições e as dificuldades que permeiam a proposta não a levem a destruir-se, e, sim, a modificar-se no sentido da melhor qualificação de seus profissionais para o trabalho cotidiano (RIBEIRO; PIRES; BLANK, 2004). Acredita-se que o PSF tem possibilidades e estratégias para realizar a mudança no mo- delo assistencial, mas se verifica a necessidade de se flexibilizar as tarefas estabelecidas para o seu funcionamento, assim como de não conscientizar somente os profissionais de saúde e universidades para o aprimoramento de conhecimentos no que se refere a uma abordagem às famílias, ao trabalho em equipe, à assistência humanizada. É necessário também, conscientizar os gestores e a população da importância da sua participação no planejamento das ações, uma vez que é um trabalho de parceria PSF/ Família/ Comunidade (ROSA; LABATE, 2005), pois a expansão do PSF tem favorecido a equidade e a e no desenvolvimento da autonomia dos indivíduos e em relações horizontais e dialógicas que respeitem a singularidade e o saber da experiência. A seguir, vamos compreender melhor como a nova Política Nacional de Atenção Básica afirma a ESF como novo modelo assistencial. 4 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial Do funcionamento das unidades à composição das equipes de saúde da família Costa e Carbone (2009) destacam que as Unidades de Saúde da Família devem funcionar segundo algumas diretrizes operacionais e conceitos próprios. Desse modo, ilustram que cada unidade é responsável pelo cadastramento e acompanhamento da população vincu- lada (adscrita) a uma área (território de abrangência), podendo atuar com uma ou mais equipes a depender do número de famílias vinculadas. O PSF expandiu-se ao longo da década de 2000 por todo o país sob indução do Ministério da Saúde (MS) – por meio dos incentivos finan- ceiros do PAB variável, que prevê pagamentos adicionais por equipe em funcionamento –, atingindo, em 2011, mais de 90% dos municípios brasileiros, com 32 mil equipes, e cobertura populacional de 52% (cerca de 100 milhões de habitantes). Todavia, um olhar sobre as experiên- cias em curso demonstra grande diversidade haja vista as imensas disparidades inter e intrarregionais e as enormes desigualdades sociais que marcam a realidade brasileira (GIOVANELLA; MENDONÇA, 2012). Quer saber mais? Acesse este link. LIMA-COSTA, Maria Fernanda; TURCI, Maria Aparecida; MACINKO, James. Estratégia Saúde da Família em comparação a outras fontes de atenção: indicadores de uso e qualidade dos serviços de saúde em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 29, n. 7, p. 1370-1380, jul. 2013. universalidade da assistência – visto que as equipes têm sido implantadas, prioritariamente, em comunidades antes restritas quanto ao acesso aos serviços de saúde (ALVES, 2005). http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2013001100011&lng=en&nrm=iso5 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial Figura 1 - As Unidades de Saúde da Família são responsáveis pela população adscrita de um território de abrangência. No caso, temos um exemplo com bairros da cidade de Natal (RN). Segundo o Ministério da Saúde, no documento “Saúde da Família: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial” (BRASIL, 1998), bem como nos documentos da Política Nacional de Atenção Básica (2017), quanto aos objetivos da implantação da saúde da família e às orientações do processo de trabalho da Estratégia de Saúde da Família, destacam-se: A Equipe de Saúde da Família (eSF) é a estratégia prioritária de atenção à saúde e visa à reorganização da Atenção Básica no país, de acordo com os preceitos do SUS. É considerada como estratégia de expansão, qualificação e consolidação da Atenção Básica, por favorecer uma reorientação do proces- so de trabalho com maior potencial de ampliar a resolutividade e impactar na situação de saúde das pessoas e coletividades, além de propiciar uma importante relação custo-efetividade. O processo de trabalho, a combina- ção das jornadas de trabalho dos profissionais das equipes e os horários e dias de funcionamento devem ser organizados de modo que garantam amplamente acesso, o vínculo entre as pessoas e profissionais, a continui- dade, coordenação e longitudinalidade do cuidado. Deve estabelecer seu processo de trabalho a partir de problemas, demandas e necessidades de saúde de pessoas e grupos sociais em seus territórios, bem como a partir de dificuldades dos profissionais de todos os tipos de equipes que atuam na Atenção Básica em suas análises e manejos. Para tanto, faz-se necessário o compartilhamento de saberes, práticas intersetoriais e de gestão do cuidado em rede e a realização de educação permanente e gestão de coletivos nos territórios sob responsabilidade destas equipes. (BRASIL, 2017) 6 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial E como atribuições do profissional da AB, dentre outras, têm-se: praticar cuidado individual, familiar e dirigido a pessoas, famílias e grupos sociais, visando propor intervenções que possam influenciar os processos saúde-do- ença individual, das coletividades e da própria comunidade; realizar trabalhos interdisciplinares e em equipe, integrando áreas técnicas, profissionais de diferentes formações e até mesmo outros níveis de atenção, buscando incor- porar práticas de vigilância, clínica ampliada e matriciamento ao processo de trabalho cotidiano para essa integração (realização de consulta compartilhada - reservada aos profissionais de nível superior, construção de Projeto Terapêu- tico Singular, trabalho com grupos, entre outras estratégias, em consonância com as necessidades e demandas da população); promover a mobilização e a participação da comunidade, estimulando conselhos/colegiados, constituídos de gestores locais, profissionais de saúde e usuários, viabilizando o controle social na gestão da Unidade Básica de Saúde; (BRASIL, 2017) Em linhas gerais, cada equipe da ESF deve ser composta no mínimo por médico, preferencial- mente da especialidade medicina de família e comunidade, enfermeiro, preferencialmente especialista em saúde da família; auxiliar e/ou técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde (ACS). Podendo fazer parte da equipe o agente de combate às endemias (ACE) e os profissionais de saúde bucal: cirurgião-dentista, preferencialmente especialista em saúde da família, e auxiliar ou técnico em saúde bucal. O número de ACS por equipe deverá ser definido de acordo com base populacional, critérios demográficos, epidemiológicos e socio- econômicos, de acordo com definição local. Em áreas de grande dispersão territorial, áreas de risco e vulnerabilidade social, recomenda-se a cobertura de 100% da população com número máximo de 750 pessoas por ACS. Para equipe de Saúde da Família, há a obrigatorie- dade de carga horária de 40 (quarenta) horas semanais para todos os profissionais de saúde membros da ESF. Dessa forma, os profissionais da ESF poderão estar vinculados a apenas 1 (uma) equipe de Saúde da Família, no SCNES vigente. (BRASIL, 2017) A Portaria nº 648 de 28 de março de 2006, além de propor a alteração da denominação de Programa para Estratégia, traz a possibilidade de inserção do cirurgião dentista, de auxilia- res de consultório dentário ou de técnicos em higiene dental como integrantes dessa equipe multiprofissional, prevendo também a alocação de distintos profissionais da área da saúde, bem como o apoio de equipes matriciais de outros campos da saúde coletiva para fornecer suporte a essas equipes (BRASIL, 2006). 7 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial 7 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial Figura 2 - Equipe da Estratégia de Saúde da Família e seus profissionais. Entre as atribuições das equipes, seus profissionais devem estar capacitados para: identificar a realidade epidemiológica e sociodemográfica das famílias adscritas; reconhecer os proble- mas de saúde prevalentes e as situações de risco a que a população está exposta; planejar o enfrentamento dos determinantes do processo saúde-doença; atender a demanda pro- gramada ou espontânea; utilizar corretamente o sistema de referência e contrarreferência; promover educação em saúde e melhorar o autocuidado dos indivíduos e incentivar ações intersetoriais no enfrentamento dos problemas identificados. A Estratégia de Saúde da Família (ESF), portanto, apesar dos seus avanços, continua reforçando a necessidade de discussão e a elaboração da prática de cuidado de todos os profissionais. Muda- -se o modelo de atenção, referencia-se a população, organizam-se reuniões, gerencia-se com foco direcionado mais aos resultados do que aos procedimentos, e nem sempre isso modifica a prática de cuidado da forma mais pertinente às problemáticas da população (CUNHA, 2005). Como você pode observar, a ação na Atenção Básica, principal porta de entrada do siste- ma de saúde, inicia-se com o ato de acolher, escutar e oferecer resposta resolutiva para a maioria dos problemas de saúde da população, minorando danos e sofrimentos e respon- sabilizando-se pela efetividade do cuidado, ainda que este seja ofertado em outros pontos de atenção da rede, garantindo sua integralidade (BRASIL, 2012). Para isso, é necessário que o trabalho seja realizado em equipe, de forma que os saberes se somem e possam se concretizar em cuidados efetivos dirigidos a populações de territórios definidos, pelos quais essa equipe assume a responsabilidade sanitária. Nessa perspectiva, ainda são trazidas as características desejáveis para os profissionais que compõem as equipes de saúde da família, tais como: gosto pelo trabalho em equipe; sensi- bilidade para aspectos psicológicos e sociais; facilidade no trato com pessoas de diferentes faixas etárias; capacidade de organizar grupos e reuniões comunitárias; habilidades de pla- nejamento e gestão; resistência a frustrações, empatia, entre outras. Entre o rol de atribui- ções e competências que seriam comuns aos membros de toda equipe da ESF poderíamos 8 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial listar: responsabilizar-se pelas ações de vigilância sanitária e epidemiológica no nível de sua competência; promover ações de educação em saúde no âmbito comunitário; promover a qualidade de vida e do meio ambiente; discutir junto à equipe e à comunidade as relações existentes entre cidadania e saúde, além de participar do planejamento e da organização do trabalhoda unidade em conjunto com os demais profissionais da equipe. A par das atividades comuns a todos os profissionais envolvidos na AB e ESF, cada um deles tem função específica, que apresentaremos a seguir, conforme descritas na nova PNAB (BRASIL, 2017). Tal função não se basta em si mesma, e um aprofundamento é necessário para que cada um se reconheça, bem como a atividade do outro, e não se perca de vista o trabalho compartilhado (BRASIL, 2001b). • Ao enfermeiro cabe: I.- Realizar atenção à saúde aos indivíduos e famílias vinculadas às equipes e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações entre outras), em todos os ciclos de vida; II.- Realizar consulta de enfermagem, procedimentos, solicitar exames complementares, prescrever medicações conforme protocolos, diretrizes clínicas e terapêuticas, ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, observadas as disposições legais da profissão; III.- Realizar e/ou supervisionar acolhimento com escuta qualificada e classificação de risco, de acordo com protocolos estabelecidos; IV.- Realizar estratificação de risco e elaborar plano de cuidados para as pessoas que possuem condições crônicas no território, junto aos demais membros da equipe; V.- Realizar atividades em grupo e encaminhar, quando necessário, usuários a outros serviços, conforme fluxo estabelecido pela rede local; VI.- Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos técnicos/auxiliares de enfermagem, ACS e ACE em conjunto com os outros membros da equipe; VII.- Supervisionar as ações do técnico/auxiliar de enfermagem e ACS; VIII.- Implementar e manter atualizados rotinas, protocolos e fluxos relacionados a sua área de competência na UBS; e IX.- Exercer outras atribuições conforme legislação profissional, e que sejam de responsabilidade na sua área de atuação. • Ao Técnico e/ou Auxiliar de Enfermagem cabe: I.- Participar das atividades de atenção à saúde realizando procedimentos regulamentados no exercício de sua profissão na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações, entre outros); II.- Realizar procedimentos de enfermagem, como curativos, administração de medicamentos, vacinas, coleta de material para exames, lavagem, preparação e esterilização de materiais, entre outras atividades delegadas pelo enfermeiro, de acordo com sua área de atuação e regulamentação; e III.- Exercer outras atribuições que sejam de responsabilidade na sua área de atuação. 8 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial 9 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial • Ao médico cabe: I.- Realizar a atenção à saúde às pessoas e famílias sob sua responsabilidade; II.- Realizar consultas clínicas, pequenos procedimentos cirúrgicos, atividades em grupo na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações entre outros); em conformidade com protocolos, diretrizes clínicas e terapêuticas, bem como outras normativas técnicas estabelecidas pelos gestores (federal, estadual, municipal ou Distrito Federal), observadas as disposições legais da profissão; III.- Realizar estratificação de risco e elaborar plano de cuidados para as pessoas que possuem condições crônicas no território, junto aos demais membros da equipe; IV.- Encaminhar, quando necessário, usuários a outros pontos de atenção, respeitando fluxos locais, mantendo sob sua responsabilidade o acompanhamento do plano terapêutico prescrito; V.- Indicar a necessidade de internação hospitalar ou domiciliar, mantendo a responsabilização pelo acompanhamento da pessoa; VI.- Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS e ACE em conjunto com os outros membros da equipe; e VII.- Exercer outras atribuições que sejam de responsabilidade na sua área de atuação. • Ao cirurgião-dentista cabe: I.- Realizar a atenção em saúde bucal (promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, acompanhamento, reabilitação e manutenção da saúde) individual e coletiva a todas as famílias, a indivíduos e a grupos específicos, atividades em grupo na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações entre outros), de acordo com planejamento da equipe, com resolubilidade e em conformidade com protocolos, diretrizes clínicas e terapêuticas, bem como outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, observadas as disposições legais da profissão; II.- Realizar diagnóstico com a finalidade de obter o perfil epidemiológico para o planejamento e a programação em saúde bucal no território; III.- Realizar os procedimentos clínicos e cirúrgicos da AB em saúde bucal, incluindo atendimento das urgências, pequenas cirurgias ambulatoriais e procedimentos relacionados com as fases clínicas de moldagem, adaptação e acompanhamento de próteses dentárias (elementar, total e parcial removível); IV.- Coordenar e participar de ações coletivas voltadas à promoção da saúde e à prevenção de doenças bucais; V.- Acompanhar, apoiar e desenvolver atividades referentes à saúde com os demais membros da equipe, buscando aproximar saúde bucal e integrar ações de forma multidisciplinar; VI.- Realizar supervisão do técnico em saúde bucal (TSB) e auxiliar em saúde bucal (ASB); VII.- Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS e ACE em conjunto com os outros membros da equipe; VIII.Realizar estratificação de risco e elaborar plano de cuidados para as pessoas que possuem condições crônicas no território, junto aos demais membros da equipe; e IX.- Exercer outras atribuições que sejam de responsabilidade na sua área de atuação. • Ao Técnico em Saúde Bucal (TSB) cabe: I.- Realizar a atenção em saúde bucal individual e coletiva das famílias, indivíduos e a grupos específicos, atividades em grupo na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações entre outros), segundo programação e de acordo com suas 10 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial competências técnicas e legais; II.- Coordenar a manutenção e a conservação dos equipamentos odontológicos; III.- Acompanhar, apoiar e desenvolver atividades referentes à saúde bucal com os demais membros da equipe, buscando aproximar e integrar ações de saúde de forma multidisciplinar; IV.- Apoiar as atividades dos ASB e dos ACS nas ações de prevenção e promoção da saúde bucal; V.- Participar do treinamento e capacitação de auxiliar em saúde bucal e de agentes multiplicadores das ações de promoção à saúde; VI.- Participar das ações educativas atuando na promoção da saúde e na prevenção das doenças bucais; VII - Participar da realização de levantamentos e estudos epidemiológicos, exceto na categoria de examinador; VIII.- Realizar o acolhimento do paciente nos serviços de saúde bucal; IX.- Fazer remoção do biofilme, de acordo com a indicação técnica definida pelo cirurgião-dentista; X.- Realizar fotografias e tomadas de uso odontológico exclusivamente em consultórios ou clínicas odontológicas; XI.- Inserir e distribuir no preparo cavitário materiais odontológicos na restauração dentária direta, sendo vedado o uso de materiais e instrumentos não indicados pelo cirurgião-dentista; XII.- Auxiliar e instrumentar o cirurgião-dentista nas intervenções clínicas e procedimentos demandados pelo mesmo; XIII.- Realizar a remoção de sutura conforme indicação do Cirurgião Dentista; XIV.- Executar a organização, limpeza, assepsia, desinfecçãoe esterilização do instrumental, dos equipamentos odontológicos e do ambiente de trabalho; XV.- Proceder à limpeza e à antissepsia do campo operatório, antes e após atos cirúrgicos; XVI.- Aplicar medidas de biossegurança no armazenamento, manuseio e descarte de produtos e resíduos odontológicos; XVII.- Processar filme radiográfico; XVIII.- Selecionar moldeiras; XIX.- Preparar modelos em gesso; XX.- Manipular materiais de uso odontológico. XXI. Exercer outras atribuições que sejam de responsabilidade na sua área de atuação. • Ao Auxiliar em Saúde Bucal(ASB) cabe: I.- Realizar ações de promoção e prevenção em saúde bucal para as famílias, grupos e indivíduos, mediante planejamento local e protocolos de atenção à saúde; II.- Executar organização, limpeza, assepsia, desinfecção e esterilização do instrumental, dos equipamentos odontológicos e do ambiente de trabalho; III.- Auxiliar e instrumentar os profissionais nas intervenções clínicas IV - Realizar o acolhimento do paciente nos serviços de saúde bucal; V.- Acompanhar, apoiar e desenvolver atividades referentes à saúde bucal com os demais membros da equipe de Atenção Básica, buscando aproximar e integrar ações de saúde de forma multidisciplinar; VI.- Aplicar medidas de biossegurança no armazenamento, transporte, manuseio e descarte de produtos e resíduos odontológicos; VII.-Processar filme radiográfico; VIII.- Selecionar moldeiras; IX.- Preparar modelos em gesso; X.- Manipular materiais de uso odontológico realizando manutenção e conservação dos equipamentos; XI.- Participar da realização de levantamentos e estudos epidemiológicos, exceto na categoria de examinador; e XII. Exercer outras atribuições que sejam de responsabilidade na sua área de atuação. • Ao Agente Comunitário de Saúde (ACS) cabe: I- Trabalhar com adscrição de indivíduos e famílias em base geográfica definida e cadastrar todas as pessoas de sua área, mantendo os dados atualizados no sistema de informação da Atenção Básica vigente, utilizando-os de forma sistemática, com apoio da equipe, para a análise da situação de saúde, considerando as características sociais, econômicas, 11 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial culturais, demográficas e epidemiológicas do território, e priorizando as situações a serem acompanhadas no planejamento local; II - Utilizar instrumentos para a coleta de informações que apoiem no diagnóstico demográfico e sociocultural da comunidade; III - Registrar, para fins de planejamento e acompanhamento das ações de saúde, os dados de nascimentos, óbitos, doenças e outros agravos à saúde, garantido o sigilo ético; IV - Desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a população adscrita à UBS, considerando as características e as finalidades do trabalho de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou coletividades; V - Informar os usuários sobre as datas e horários de consultas e exames agendados; VI - Participar dos processos de regulação a partir da Atenção Básica para acompanhamento das necessidades dos usuários no que diz respeito a agendamentos ou desistências de consultas e exames solicitados; VII - Exercer outras atribuições que lhes sejam atribuídas por legislação específica da categoria, ou outra normativa instituída pelo gestor federal, municipal ou do Distrito Federal. Poderão ser consideradas, ainda, atividades do Agente Comunitário de Saúde, a serem realizadas em caráter excepcional, assistidas por profissional de saúde de nível superior, membro da equipe, após treinamento específico e fornecimento de equipamentos adequados, em sua base geográfica de atuação, encaminhando o paciente para a unidade de saúde de referência. I - aferir a pressão arterial, inclusive no domicílio, com o objetivo de promover saúde e prevenir doenças e agravos; II - realizar a medição da glicemia capilar, inclusive no domicílio, para o acompanhamento dos casos diagnosticados de diabetes mellitus e segundo projeto terapêutico prescrito pelas equipes que atuam na Atenção Básica; III- aferição da temperatura axilar, durante a visita domiciliar; IV - realizar técnicas limpas de curativo, que são realizadas com material limpo, água corrente ou soro fisiológico e cobertura estéril, com uso de coberturas passivas, que somente cobre a ferida; e V - orientação e apoio, em domicílio, para a correta administração da medicação do paciente em situação de vulnerabilidade. Importante ressaltar que os ACS só realizarão a execução dos procedimentos que requeiram capacidade técnica específica se detiverem a respectiva formação, respeitada autorização legal. • Ao Agente de Combate a Endemia (ACE) cabe: I – Executar ações de campo para pesquisa entomológica, malacológica ou coleta de reservatórios de doenças; II.- Realizar cadastramento e atualização da base de imóveis para planejamento e definição de estratégias de prevenção, intervenção e controle de doenças, incluindo, dentre outros, o recenseamento de animais e levantamento de índice amostral tecnicamente indicado; III. Executar ações de controle de doenças utilizando as medidas de controle químico, biológico, manejo ambiental e outras ações de manejo integrado de vetores; IV.- Realizar e manter atualizados os mapas, croquis e o reconhecimento geográfico de seu território; V.- Executar ações de campo em projetos que visem avaliar novas metodologias de intervenção para prevenção e controle de doenças; e VI.- Exercer outras atribuições que lhes sejam atribuídas por legislação específica da categoria, ou outra normativa instituída pelo gestor federal, municipal ou do Distrito Federal. 12 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial • O ACS e o ACE devem compor uma equipe de Atenção Básica (eAB) ou uma equipe de Saúde da Família (eSF) e serem coordenados por profissionais de saúde de nível superior realizado de forma compartilhada entre a Atenção Básica e a Vigilância em Saúde. Nas localidades em que não houver cobertura por equipe de Atenção Básica (eAB) ou equipe de Saúde da Família (eSF), o ACS deve se vincular à equipe da Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde (EACS). Já o ACE, nesses casos, deve ser vinculado à equipe de vigilância em saúde do município e sua supervisão técnica deve ser realizada por profissional com comprovada capacidade técnica, podendo estar vinculado à equipe de atenção básica, ou saúde da família, ou a outro serviço a ser definido pelo gestor local. Apesar dessas proposições, constata-se que muitos profissionais presenciam ainda hoje a hegemonia dos saberes e a separação dos fazeres. Da mesma forma, observa-se que as relações muitas vezes são conflituosas, acarretando a seus membros competitividade, conflitos e hostilidade, situações que podem ser superadas com a construção de um projeto comum em que seja definida a responsabilidade de cada membro, assim como a disposição em ouvir e considerar as experiências uns dos outros, sendo a comunicação a principal ferramenta para que esses conflitos sejam convertidos em crescimento para a equipe, em um trabalho multiprofissional e interdisciplinar que redunde na gestão do cuidado integral do usuário (BRASIL, 2012; FRANCISCHINI; MOURA; CHINELATTO, 2008). Quer saber mais? Acesse este link. OLIVEIRA, Maria Amélia de Campos; PEREIRA, Iara Cristina. Atributos essenciais da Atenção Primária e a Estratégia Saúde da Família. Rev. bras. enferm., Brasília, v. 66, n. spe, p. 158-164, sept. 2013. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672013000700020&lng=en&nrm=is 13 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial Aula 2: O papel da Atenção Primária à Saúde na composição e organização da saúde A partir das informações que já lhe foramapresentadas nesta Unidade, você poderá conti- nuar esse processo de construção do conhecimento identificando os princípios ordenadores da APS, assim como dos principais preceitos que balizam a prática assistencial nesse nível de atenção na composição das redes de cuidado à saúde. Vamos nessa? Princípios ordenadores da APS A APS tem sido historicamente associada a uma assistência de baixo custo, pois parece tra- tar-se de um serviço simples e quase sempre com poucos equipamentos, embora seja uma abordagem tecnológica específica de organizar a prática e, como tal, dotada de particular complexidade (SCHRAIBER; MENDES-GONÇALVES, 1996). Da mesma forma, é necessário reconhecer que na própria APS são exigidas habilidades e práticas de alta complexidade, uma vez que congrega conhecimentos de diversos campos, tais como antropologia, econo- mia, sociologia, comunicação social e a própria medicina (PINHEIRO, 2001). Se no hospital simbolicamente impera o medo da morte, na APS impera a vontade de viver. A tolerância dos usuários com os efeitos colaterais, os custos e as limitações impostas pelo trata- mento é muito menor. Por causa disso, aumenta muito a complexidade do projeto terapêutico, a ponto de ser necessárias negociações na própria conduta medicamentosa (CUNHA, 2005). Ainda segundo esse autor, é preciso reforçar que todo esse esforço de síntese de saberes não vinculados à biomedicina e a incorporação de críticas a ela não significam, de nenhu- ma maneira, abrir mão de recursos biomédicos. É preciso constatar que esse conhecimento, hegemônico na clínica de diversos profissionais e construído fundamentalmente na lógica da instituição hospitalar, é insuficiente, para não dizer danoso, quando utilizado de forma exclu- dente, principalmente na APS. Com isso, a medicalização deve ser entendida como uma força, entre tantas outras, na vida do sujeito atendido nesse nível e não como um fim em si mesma. Diante desse contexto, em 2017, o Ministério da Saúde aprovou a portaria GM n. 2.436, de 21 de setembro de 2017, que aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Esta nova PNAB refere-se à revisão da regulamentação de implantação e operacionalização vigentes, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, estabelecendo- -se as diretrizes para a organização do componente Atenção Básica na Rede de Atenção à Saúde – RAS. O documento caracterizou a Atenção Básica por um conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada, realiza- da com equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido, pela qual as equipes assumem responsabilidade sanitária (BRASIL, 2017). 14 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial Com base na nova portaria de 2017, a PNAB atualizou conceitos na política e introduziu elementos ligados ao papel desejado da APS na ordenação das Redes de Atenção. Nesse sentido, reafirmou diretrizes e destacou o papel de acolhedora, resolutiva e de coordenação do cui- dado do usuário nas demais Redes de Atenção, reafirmando também modelagens de equipes para as diferentes populações e realidades do Brasil, tal como as Equipes de Saúde da Família Fluviais (eSFF) e Equipe de Saúde da Família Ribeirinha (eSFR), alterando também algumas atribuições dos profissionais na Atenção Básica. Um dos destaques que merecem ser feitos, na nova PNAB (Brasil, 2017), é a consideração e a incorporação, no processo de referenciamento, das ferramentas de telessaúde articulado às decisões clínicas e aos processos de regulação do acesso. A utilização de protocolos de encaminhamento servem como ferramenta, ao mesmo tempo, de gestão e de cuidado, pois tanto orientam as decisões dos profissionais solicitantes quanto se constituem como refe- rência que modula a avaliação das solicitações pelos médicos reguladores. Figura 3 - Ponto de atenção da rede. Fonte: <https://unasus2.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/10189/mod_resource/content/1/un03/top03p05.html>. Acesso em: 18 jan. 2017. 15 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial Figura 4 A atenção primária aborda os problemas mais frequentes da comunidade, oferecendo ser- viços de prevenção, cura e reabilitação para maximizar a saúde e o bem-estar. Ela integra a atenção quando há mais de um problema de saúde e lida com o contexto em que a doen- ça se desenvolve. É a atenção que organiza e racionaliza o uso dos recursos tanto básicos quanto especializados. Nessa perspectiva, Leite et al. (2012, p. 115) acrescentam que: A APS deve considerar o sujeito em sua singularidade, complexidade, inte- gralidade e inserção sociocultural, e buscar a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento das doenças e a redução dos agravos que estejam comprometendo suas possibilidades de viver de modo saudável. De acordo com Starfield (2002), o correto entendimento do conceito de APS se dará pelo conhecimento de seus princípios essenciais: o primeiro contato; a longitudinalidade; a coordenação do cuidado; a integralidade, bem como seus atributos derivados: a orientação familiar, a orientação comunitária e a competência cultural. De modo geral, compreende-se por atenção de primeiro contato a acessibilidade e o uso do serviço a cada novo problema ou novo episódio de um problema de saúde. A longitudi- nalidade, por sua vez, caracteriza-se pela existência de uma fonte regular de atenção e seu uso ao longo do tempo que, alinhada à coordenação do cuidado, requer a capacidade de integrar as ações nos diferentes níveis de atenção à saúde. Por fim, pondera-se o princípio da integralidade como sendo o acesso a todos os tipos de serviços de atenção à saúde. Vamos esquematizar esses atributos na Figura 4 que está nesta Unidade no AVASUS. 16 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial Em suma, faz-se necessário reconhecer que a APS utiliza tecnologias de elevada complexi- dade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e relevância em seu território. É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e continuidade, da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. A Atenção Básica considera o sujeito em sua singulari- dade, na complexidade, na integralidade e na inserção sociocultural e busca a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento de doenças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam comprometer suas possibilidades de viver de modo saudável Redes de Atenção à Saúde Vamos trazer mais alguns pressupostos sobre Redes de Atenção à Saúde para você compreender a sua importância para o território de saúde. A exemplo do que ocorre em sistemas de saúde de vários países no mundo, o SUS ainda é um sistema fragmentado que dificulta o acesso, gera descontinuidade assistencial e compromete a integralidade da atenção ofertada, o que compromete a sua capacidade de responder adequadamente às exigências colocadas por esse quadro de necessidades de saúde. A fragmentação do SUS manifesta-se de diferentes formas, mas principalmente: como fragilida- de na articulação entre as instâncias gestoras do sistema e/ou entre essas e a gerência dos servi- ços; como desarticulação entre os serviços de saúde e/ou entre esses e os de apoio diagnóstico e terapêutico; e, como desarticulação entre as práticas clínicas desenvolvidaspor diferentes profissionais de um ou mais serviços, voltadas a um mesmo indivíduo ou grupo de indivíduos. O grande desafio parece, pois, estar na construção de um sistema integrado, que, respeitando a autonomia de gestão de cada município, consiga articular suas práticas em âmbito regional, visando garantir uma atenção de qualidade e a observância de boas práticas administrativas. Nessa perspectiva, a estruturação de redes de atenção à saúde, a exemplo do que vem sen- do tentando em vários países, visando à consolidação de sistemas de saúde integrados que favoreçam o acesso com continuidade assistencial, a integralidade da atenção e a utilização racional dos recursos existentes, apresenta-se como um caminho possível. Para fazer frente a essas e outras problemáticas, o Brasil tem colocado em pauta a propo- sição e a operacionalização de Redes de Atenção à Saúde (RAS). As RAS são compreendidas como arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecno- lógicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado à saúde (BRASIL, 2010). 17 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial As RAS caracterizam-se pela formação de relações horizontais entre os pontos de atenção com o centro de comunicação na Atenção Básica, pela centralidade nas necessidades em saúde da população, pela responsabilização na atenção contínua e integral, pelo cuidado multiprofissional, pelo compartilhamento de objetivos e compromissos com os resultados sanitários e econômicos (BRASIL, 2012). Figura 5 - Relações horizontais entre os pontos de atenção tendo o Território como ordenador na centralidade do cuidado. Esse conceito encontra-se expresso de forma bastante semelhante nos vários documentos oficiais que vêm orientando o processo de estruturação das Redes de Atenção à Saúde no Brasil. Em documento recentemente editado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), rede de atenção à saúde é considerada “[...] uma rede de organizações que presta, ou faz esforços para prestar, serviços de saúde equitativos e integrais a uma população definida, e que está disposta a prestar contas por seus resultados clínicos e econômicos e pelo estado de saúde da população a que serve” (OPAS, 2010 apud OPAS, 2011, p. 15). No SUS, a modelagem de redes regionais de atenção à saúde é favorecida atualmente pelo Pacto de Gestão (Brasil, 2006b) e se constitui em uma das estratégias para sua regionaliza- ção. Esse processo exige a cooperação solidária entre os municípios de determinada região de saúde e a qualificação da APS como instância organizadora do sistema e coordenadora do cuidado ofertado. 18 Atenção Primária à Saúde, Estratégia de Saúde da Família e Territorialização A Estratégia de Saúde da Família como novo modelo assistencial A quase unanimidade referente a esses conceitos é expressa também no entendimento que instituições e estudiosos têm tido sobre a importância da APS como organizadora das Redes Regionais de Atenção à Saúde (RRAS) e coordenadora do cuidado. Assim, no processo de reordenamento de sistemas na perspectiva de estruturação das RRAS, o fortalecimento da APS configura-se como a principal estratégia. O processo de estruturação de RRAS, a exemplo do que vem ocorrendo no SUS, exige inter- venções sistêmicas, nas unidades funcionais que as compõe e nas práticas profissionais que se desenvolvem nesse espaço. Nessa perspectiva, é necessário definir um conjunto de iniciativas direcionadas à qualificação, à organização e à integração de estruturas ou de processos em cada um desses âmbitos sempre considerando o protagonismo da APS. No que diz respeito à APS, cujas ações e atividades no SUS são de competência dos municípios, devem-se considerar as características e as adversidades da população de cada local e organizar-se, indepen- dentemente do modelo escolhido, respeitando as seguintes diretrizes: • territorialização com adscrição de clientela; • organização do trabalho com base no perfil epidemiológico da população adscrita; • acolhimento do usuário com garantia de atendimento à adequa- ção da infraestrutura física e tecnológica das unidades de saúde já existentes; • a construção de novas unidades onde houver necessidade; a implantação de mecanismos de valorização e programas de desen- volvimento de seus profissionais; o aperfeiçoamento do processo gerencial em todas as unidades básicas de saúde existentes; • a implantação de protocolos clínicos consensuados com as demais unidades componentes da RRAS e a incorporação permanente de dispositivos relacionados à gestão do cuidado em saúde, com vistas a favorecer a integração das práticas profissionais e a garantir a continuidade assistencial. Quer saber mais? Acesse aqui. PUCCINI, Paulo de Tarso et al. Concepção de profissionais de saúde sobre o papel das unidades básicas nas redes de atenção do SUS/ Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 11, p. 2941- 2952, nov. 2012. http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232012001100011&lng=en&nrm=iso