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Direito Internacional dos direitos humanos SST Zolotar, Márcia Direito internacional dos direitos humanos / Márcia Zolotar Local: 2020 nº de p. : 10 Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Direito internacional dos direitos humanos 3 Apresentação Atualmente as discussões sobre os refugiados e seus direitos são vistas de modo praticamente diário nos noticiários. O grande número de refugiados no mundo se deve a diversos fatos como as guerras, perseguições de minorias étnicas e religiosas, dentre muitos outros fatores. Os direitos dos refugiados não são um tema recente, visto que ao longo da história da humanidade basicamente as mesmas motivações que vemos hoje forçaram a fuga de populações de determinados territórios que habitavam. Vamos conhecer agora mais sobre a história dos direitos dos refugiados. Origem do direito dos refugiados na antiguidade O direito ao asilo era reconhecido desde os mais remotos tempos na Grécia, Egito e Roma. Iniciaremos nossa história pela Grécia. Lá o perseguido poderia achar um local inviolável, onde sua vida certamente seria protegida. Segundo Andrade (2001), uma vez que o perseguido tivesse, em mãos, o busto portável de uma divindade, estaria protegido. Muitos dos princípios hoje existentes no Direito Internacional dos Refugiados podiam ser encontrados, de alguma forma, na Antiguidade Clássica. [...] “As Suplicantes”, escrita por Ésquilo há quase 2.500 anos. Ela contém referências à existência de um procedimento determinado a se seguir no que respeita à solicitude de refúgio; à já mencionada inviolabilidade de asilo; à impossibilidade de se seguir, quando se está fugindo […]. (ANDRADE, 2001) O Egito, da mesma forma, estendia a proteção aos escravos fugitivos, aos soldados derrotados e aos acusados de crimes. Os templos de adoração eram os locais escolhidos para abrigar esses asilados. 4 Podemos observar uma diferença em relação ao tratamento oferecido por Roma. O asilo, nesse caso, acabou por sofrer uma influência jurídica e religiosa. Os romanos, diferentemente dos gregos e dos egípcios, não desejavam quaisquer prejuízos à tranquilidade e segurança públicas. Dessa forma, o asilo somente era concedido àqueles que fossem injustamente perseguidos pelo Poder Público ou por interesses particulares. A cristianização de Roma trouxe um grande impulso para o instituto do asilo. Constantino determinou que edificações católicas fossem transformadas em locais de asilo. Edificação Romana Fonte: Deduca (2020) Desenvolvimento do direito dos refugiados após a antiguidade Após a Antiguidade, dois momentos históricos na Europa tiveram um impacto profundo no aumento de asilados: (i) do século X ao XIII – a sociedade perseguidora fez com que milhares de judeus, leprosos e hereges fossem extintos, isolados ou exilados, e (ii) do século XIII ao século XV – com a expulsão dos judeus da Inglaterra, França, Espanha e Portugal. Esse movimento começou a refrear somente no século XVI com a decadência do poder eclesiástico e o início da Reforma Protestante. A reforma ensejou o surgimento de asilados de praticamente todos os países europeus, tendo sido Genebra, provavelmente, o maior centro de 5 protestantes franceses, ingleses e italianos perseguidos após a fuga de Calvo, da França, em 1541. A filosofia política universalista caminhava, então, pari passu com a ideia da liberdade de opção religiosa, a qual se impregnava do princípio da tolerância. (ANDRADE, 2001) Hugo Grotius teve um papel fundamental no desenvolvimento do instituto do asilo como conhecemos hoje. Ele entendia que os indivíduos expulsos de seus países tinham o direito de pedir asilo e adquirir residência permanente em outro lugar, submetendo-se ao governo e às respectivas leis. O asilo, segundo ele, decorria de uma lei natural e de uma obrigação do Estado. Também defendia que o asilo somente deveria ser concedido aos que sofressem perseguições políticas e religiosas, e não àqueles que cometessem crimes comuns. Hugo Grotius (1583-1645) foi um jurista holandês, considerado um dos fundadores do Direito Internacional. Foi também diplomata, poeta, dramaturgo e historiador. É o autor da obra “O Direito da Guerra e Paz”. Desenvolveu a doutrina da guerra justa. Curiosidade Esse entendimento, porém, não foi seguido, pois fugitivos de crimes comuns ainda recebiam asilo. Apenas a partir do século XIX, de forma gradual e crescente, os indivíduos condenados ou acusados de crimes passaram a ser entregues aos países onde esses crimes tinham sido cometidos. Outra importante mudança ocorrida no século XVII diz respeito à perda da competência da exclusividade da Igreja para a concessão de asilo. Tal fato se deu pela organização dos Estados soberanos e da própria sociedade civil. Passando para o campo do direito positivo, a Constituição Francesa de 1793 foi o 1º instrumento normativo a reconhecer o direito de asilo, conforme podemos constatar nos artigos abaixo: Art. 118 – O povo francês é amigo e aliado natural dos povos livres. Art. 119 – […] dá asilo aos estrangeiros asilados de sua pátria por causa da liberdade. Recusa-os aos tiranos. (FRANÇA, 1793, tradução nossa). 6 Até agora, referimo-nos única e exclusivamente à palavra “asilo”. Em nenhum momento utilizamos “refúgio” ou “refugiados”. Essa divisão começou a surgir a partir do século XIX, mais precisamente na América Latina. O instituto do asilo se subdividiu no referido continente em: (i) asilo territorial – quando o solicitante está no âmbito territorial do Estado ao qual solicita proteção; e (ii) asilo diplomático – quando o asilo é concedido em extensões do território do Estado solicitado. O asilo foi criado por meio dos Artigos 15-19 do Tratado de Direito Penal de Montevidéu de 1889. Além desse instrumento, podemos citar outros de igual importância em termos de concessão de asilo: • Convenção sobre Asilo Territorial. • Convenção sobre Asilo Político. Convenção sobre asilo diplomático O desenvolvimento do direito ao asilo na América Latina se deu, prioritariamente, devido à existência de regimes ditatoriais com a violação sistemática de direitos humanos e a instabilidade democrática da região. Por isso que se fala em um asilo político latino-americano, próprio dessa região. Além do asilo político, outra modalidade começou a surgir a partir do século XX o chamado refúgio. Esse instituto surgiu e se desenvolveu à luz da Liga das Nações. Tanto o instituto do refúgio quanto o do asilo visam à proteção da pessoa humana, em face da sua falta no território de origem ou de residência do solicitante, a fim de assegurar e garantir os requisitos mínimos de vida e de dignidade, residindo em tal fato a sua principal semelhança, traduzida por meio do caráter humanitário de ambos. (JUBILUT, 2007, p. 43). No panorama anterior à 1ª Guerra Mundial, não existiam elementos suficientes que justificassem a criação de um órgão ou um sistema normativo próprio para lidar com os refugiados. A simples concessão de asilo ou as normas de direito penal internacional eram satisfatórias para as questões existentes. Com o advento da 1ª Guerra, esse cenário mudou drasticamente. Nos anos que precedem e durante este conflito, grandes contingentes de refugiados dos impérios russo e otomano dirigiram-se à Europa central e à do Oeste, assim como para a Ásia. Após a Guerra dos Balcãs (1912- 7 1924), teve início a transferência involuntária de grupos de minorias étnicas naquela região: 250.000 búlgaros da Romênia, Sérvia e Grécia, 50.000 gregos da Bulgária e 1.200.000 da Turquia […]. (ANDRADE, 2011) Após o fim da 1ª Guerra, a questão dos refugiados alcançou uma importância única na Europa. Uma massa de indivíduos se encontrava sem proteção estatal em um cenário de caos econômico, político e social. Nesse momento, cobrou-se da Liga das Nações um papel mais eficiente na proteção aos refugiados. Criada após a Primeira Guerra Mundial, a Liga das Naçõestinha como finalidade promover a cooperação, paz e segurança internacional, condenando agressões externas contra a integridade territorial e a independência política dos seus membros. (PIOVESAN, 2015) A Liga das Nações, em um primeiro momento, recebeu um grande número de asilados provenientes da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Constatou-se, em pouco tempo, a necessidade de um órgão próprio para lidar com a questão dos refugiados. Em 1921, foi criado o Alto Comissariado para os Refugiados Russos. Foi o começo da proteção internacional dos refugiados. Esse comissariado tinha competência para tratar apenas de refugiados russos. Fridtjof Nansen foi cientista, explorador, diplomata e humanitário. Dirigiu a 1ª grande operação humanitária da Liga das Nações, que foi a repatriação de 450 mil prisioneiros de guerra. Atuou como 1º Alto Comissário para Refugiados da Liga das Nações de 1920 a 1930. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1922 pelo trabalho realizado na Rússia em 1921-1922 quando organizou um programa de ajuda para milhões de vítimas. Saiba mais Em 1936, foi criado o Alto Comissariado para os Refugiados Judeus, vindos principalmente da Alemanha e, em 1938, passou a receber judeus provenientes da Áustria. Os dois Comissariados possuíam data para término de atividades – final de 1938. A Noruega propôs a criação de um único órgão para tratar da questão dos refugiados. A Liga das Nações instituiu o Alto Comissariado da Liga das Nações para Refugiados. 8 Com o advento da 2ª Guerra Mundial, a incapacidade da Liga das Nações em lidar com a complexidade e o número de refugiados, bem como as questões decorrentes da guerra levaram a sua extinção em 1946. O mesmo ocorreu com o Alto Comissariado da Liga das Nações para os Refugiados. A Organização das Nações Unidas sucedeu a Liga das Nações em sua totalidade. Guerra Mundial Fonte: Deduca (2020) Ainda durante a existência do Alto Comissariado da Liga as Nações para os Refugiados, foi criado, em 1938, o Comitê Intergovernamental para os Refugiados, que atuava de forma complementar à referida instituição. Sua grande conquista foi a Conferência de Evian, em 1938, durante a qual se fez referência às causas da fuga dos refugiados e condicionou a concessão do refúgio à existência de uma dessas causas. Esse Comitê assumiu as funções do Alto Comissariado da Liga das Nações para Refugiados até sua extinção em 1947. A responsabilidade passou a ser da Comissão Preparatória da Organização Internacional para Refugiados vinculada ao Conselho Econômico e Social da ONU. Um dos objetivos dessa comissão era os preparativos para a criação da Organização Internacional para os Refugiados, que entrou em vigor 9 em 1948. Com término previsto para 30 de junho de 1950, encerrou suas atividades em 28 de fevereiro de 1952. Finalmente, após anos de preparação, foi criado o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR, em 1º de janeiro de 1950, tendo como objetivo principal o apoio e a proteção aos refugiados no mundo inteiro. Fechamento Como foi possível observar, o tema dos direitos dos refugiados não é recente, visto que os lamentáveis fatos que obrigam a fuga de populações de determinados territórios remonta a Antiguidade. Conhecer a origem histórica e o desenvolvimento desse debate favorece a compreensão do que se considera, na atualidade, como direito dos refugiados. No estudo desse tema, foi apresentado um breve histórico sobre o surgimento dos debates sobre os refugiados. Foram apresentados também os dados históricos de diversas intuições dos Estados nacionais e internacionais que passaram a ter um olhar atento aos refugiados, inclusive buscando meios de acolhê-los. 10 Referências __________. Breve reconstituição histórica da tradição que culminou na proteção internacional dos refugiados. in O Direito Internacional dos Refugiados: uma perspectiva brasileira. Coordenadores: Nádia de Araújo e Guilherme Assis de Almeida. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. FRANÇA. Constitución Francesa de 1793. ANDRADE, J. H. F. Breve reconstituição histórica da tradição que culminou na proteção internacional dos refugiados. In: ARAÚJO, N. & ALMEIDA, G. A. (coords.). O Direito Internacional dos refugiados: uma perspectiva brasileira. Rio de Janeiro: Renovar, 2001 JUBILUT, L. L. O Direito Internacional dos Refugiados e sua Aplicação no Ordenamento Jurídico Brasileiro. São Paulo: Método, 2007. PIOVESAN, F. Temas de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2013. Direitos Humanos e cidadania no Brasil SST Rascke, Karla Leandro Direitos Humanos e cidadania no Brasil / Karla Leandro Rascke Local: 2020 nº de p. : 11 Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Direitos Humanos e cidadania no Brasil 3 Apresentação Enquanto seres humanos, somos agentes sociais, culturais e políticos. Convivemos com outras pessoas e grupos em nossas relações no âmbito do privado e do público. Assim sendo, nossa formação em cidadania ajuda na construção de relações que pautem formas de bem viver, de estabelecer regras e normas de convívio social para uma sociedade mais humana, efetivamente justa e solidária. Vamos conhecer um pouco mais sobre a construção e conquista dos direitos humanos no Brasil. Quando se analisa criticamente a história brasileira, é possível concluir que ela foi marcada por diversas lutas e reivindicações de direitos, conheça um pouco mais dessa história. O caminho para os direitos humanos e a cidadania no brasil No Brasil, muitos são os processos que permitiram alcançarmos alguns direitos e cidadania, alguns não estendidos e efetivos para todos nos dias atuais. A Constituição de 1988 foi importante, junto ao processo de redemocratização no país, para a formação de uma proposta de direito e cidadania. Nossa vivência histórico democrática é muito recente. A democracia é: “fator de coesão que pode ser avaliado a partir da capacidade que um país tem de responder às expectativas de seus cidadãos em termos de seus direitos, de suas necessidades socioeconômicas e de seu desenvolvimento”. (BRASIL, 2013) Curiosidade 4 Serviços de saúde, moradia, educação, terra, água, alimentação e segurança pública, entre outros, compõem direitos que precisam ser efetivados para a população, bem como, é necessário que seja possível concretizar tais condições para que estes direitos possam ser implementados. Como bem aponta o Caderno de Educação em Direitos Humanos, elaborado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República em 2013, “a realização da pessoa não pode acontecer à margem da integração social e na ausência de uma sociedade que permita aos seus membros desenvolverem-se plenamente”. Em 1988, a “Constituição Cidadã”, como ficou conhecida a Constituição de 1988, institucionalizou os direitos humanos no país, sobressaindo a cidadania e a dignidade da pessoa humana como princípios fundamentais do Estado. De acordo com o Caderno de Educação em Direitos Humanos, lutar pelos direitos humanos significa batalhar, resistir e reivindicar melhores condições de vida, exigindo, portanto, moradia, trabalho, educação e saúde, acreditando num futuro melhor e mais igualitário. Pensemos na narrativa construída sobre a história de nosso país e vejamos como tem sido contada uma versão oficial da história e da memória desta terra chamada Brasil, observando como a exclusão da cidadania é invisibilizada nesta narrativa e impede, ainda hoje, que muitos brasileiros tenham acesso a direitos básicos como saúde, educação e moradia. Para conhecer mais sobre o assunto, acesse o vídeo produzido pela Associação Nacional de Direitos Humanos, material que apresenta reflexões importantes sobre o tema. https://www.youtube.com/ watch?v=9aIcaj3VSfQ. Saiba mais Visão tradicional da história brasileira No contexto do século XIX, a fundação do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB) possuía como um dos principais objetivos, a publicaçãoe o arquivamento de documentos relacionados à Geografia e História brasileira, e também, dos “grandes https://www.youtube.com/watch?v=9aIcaj3VSfQ https://www.youtube.com/watch?v=9aIcaj3VSfQ 5 nomes” da política, das artes, das letras, da magistratura, do magistério e das atividades produtivas do país. Este Instituto e suas sedes regionais, criadas logo em seguida, tinham como objetivo contar a história do nosso país. A questão central é que história seria contada e como seria contada? Durante muito tempo, fomos formados sobre uma histórica única de nosso país, que “nascia” com a vinda dos portugueses, na “descoberta” em 1500, engatinhava no Brasil Colônia, adolescente no Brasil Império e finalmente adulta quando chegamos à República. No entanto, esta história, que ainda hoje faz parte, de certo modo de nossas vidas e que muitos ainda acreditam, não permitia termos dimensão dos diferentes povos, culturas e projetos de vida desenvolvidos neste país. Início da história brasileira a partir da descoberta do Brasil Fonte: Plataforma Deduca (2020). Você deve estar se perguntando: mas o que isso tem de relação com direitos humanos e cidadania? Os chamados “grandes feitos” e a figura de “grandes heróis” da história do Brasil fazem parte de nossa memória escolar, reforçada em espaços distintos de educação para além dos muros da escola: nas famílias, nas igrejas, 6 nas rodas de conversa, no grupo de dança ou de futebol, nas mídias sociais e audiovisuais. Somos, a todo momento, bombardeados por este tipo de abordagem. O problema disso é que os únicos sujeitos ativos dessa história eram os vencedores, as elites, os governantes, os colonizadores. Os únicos portadores de direitos e cidadania eram estas figuras, homens livres, brancos, cristãos. Pobres, indígenas, africanos e seus descendentes não estavam no rol de sujeitos de direitos, logo, não eram cidadãos, e não poderiam alcançar os benefícios que a cidadania poderia oferecer. Educação pública e gratuita, saúde, alimentação digna, trabalho, moradia e tantos outros direitos não estavam na pauta do dia sobre o povo para as elites governantes. As chamadas “revoltas” existentes no Brasil Colônia e no Brasil Império, contra o regime escravista, contra a posse de terras e a matança de indígenas, contra formas alternativas de viver e compreender o mundo, foram todas sufocadas, abatidas, dizimando povos, ideias e sonhos. A nação foi construída sobre muito sangue derramado. Que direitos humanos eram estes? A quem os direitos serviam e para quê? Como a educação contribui ou não para a perpetuação de uma narrativa única e vencedora sobre o nosso país? Como nós educadores podemos questionar esta história e construir cidadãos críticos? Como formar educandos conscientes de seus direitos e deveres e de suas memórias? Repensando a história e a luta pelos direitos humanos e pela cidadania Os Estados-Nação, formações construídas ao longo do século XIX, deparam-se com a problemática da igualdade e da diferença, questões sobre as quais não haviam se preparado para discutir e resolver, mas que irrompem em forma de demandas e lutas sociais, simbólicas, materiais e culturais constantes. Na pauta estão as tensões e sob quais medidas estas serão resolvidas, se é que o serão. Neste sentido, as lutas constantes são por políticas públicas que deem conta da diversidade existente no Estado-Nação, ou seja, quando falamos de Brasil, podemos pensar na diversidade de povos e maneiras de viver existentes neste território assim nomeado; e quais os desafios em termos de extensão de direitos e cidadania e todos 7 estes grupos, dentro de suas lógicas de vida e formas de se relacionar uns com os outros. Diversidade cultural Fonte: Plataforma Deduca (2020). Os direitos que temos não nos foram conferidos pelas elites governantes ou grupos de poderes, mas conquistados por meio de lutas e demandas políticas, de vivência em sociedade. Não podemos confundir direitos com algum tipo de concessão, algo que vêm de algum governo ou dirigente. A construção de uma sociedade democrática é feita por meio de organização, participação, intervenção e mobilização da sociedade civil, que, em busca de melhores condições de vida, conquista direitos e cidadania. Trata-se de ação e uma conquista cotidiana. A luta por direitos históricos e a luta por direitos que assumiram peso político, na atualidade, não se excluem. Pelo contrário, são lutas que se acrescentam e que se enriquecem reciprocamente. Quando se quer que a tortura acabe, luta-se pela dignidade humana. Quando se pede que os deficientes sejam ouvidos, luta-se pela dignidade humana. Quando se deseja que o homossexual seja respeitado, luta-se pela dignidade humana. Quando se pleiteia pelos Direitos dos povos, luta-se pela dignidade humana. [...] A luta pela dignidade humana é uma luta única e solidária. Apenas assume aspectos particulares em face de situações específicas. (HERKENHOFF, 1996) Apesar das contradições sociais, das desigualdades econômicas e sociorraciais, o Brasil possui uma história de lutas no que se refere à defesa dos direitos humanos, 8 notadamente os direitos civis e políticos. A história de nosso país é marcada por embates e conflitos, nem sempre apresentados de forma a fazer ouvir a voz dos sujeitos que participam destes processos, mas isso não significa que grupos culturais e sociais fiquem aguardando a resolução de problemas e demandas sem se manifestar, sem protestar, sem lutar pelos seus direitos. A defesa em torno da noção de cidadania e direitos humanos foi incrementada a partir do golpe militar ocorrido em 1964, início do período ditatorial, quando muitas violações em termos de direitos humanos foram cometidas e chocaram o mundo ao serem expostas em diferentes suportes midiáticos e literários. Claro que a violação de direitos humanos já existia antes deste período da história de nosso país, mas a partir de então, e depois com as mobilizações de familiares pela busca de seus parentes desaparecidos políticos, fato recente na história do Brasil, a questão ganhou ainda mais destaque. Atenção Nas últimas décadas o Brasil tem ratificado inúmeros instrumentos globais e regionais de proteção dos direitos humanos, mas ainda passamos por um processo conflituoso, visto a situação de pobreza de parte da população do país, questão que vem sendo transformada por meio de programas sociais de combate à fome e de distribuição de renda. Diante dessa realidade, o direito de conquistar direitos é legítimo e só poderá ser realizado na medida em que as pessoas conheçam seus direitos e saibam exigir do Estado. Um vínculo jurídico é necessário para que tais direitos possam ser exigidos judicialmente. Para que possam ser efetivados, entretanto, é necessário algo mais: é necessário garantir o acesso ao espaço público. A efetivação dos Direitos Humanos passa, necessariamente, pela prática cotidiana em que a educação é um fato social essencial. A Constituição Federal de 1988 dá sentido diferente em relação à participação e ao controle social, uma vez que contempla, no plano jurídico, direitos que garantam aos cidadãos uma vida mais digna, baseada em princípios de igualdade de justiça social e de equidade. (BRASIL, 2013) 9 Na década de 1980, o país começou um processo longo de lutas pela redemocratização política e a pauta em torno dos direitos humanos tornou-se mais visível e intensa em vários setores da sociedade. Não à toa, neste período, temos a gestação da nova constituição, com participação ativa da população brasileira, dos movimentos sociais em pleno vigor pela luta democrática. Nos anos de 1990, tendo em cena compromissos já firmados em âmbito internacional, o “Governo Federal se envolveu diretamente no tema, colocando-se como um novo ator ao elaborar políticas públicas voltadas à Educação em Direitos Humanos”. (BRASIL, 2013) Reflita A partir de então, novas temáticas de demandas da sociedade civil organizada têmvindo à tona, pautando direitos sociais, culturais, econômicos, simbólicos e materiais. Como forma de sistematizar alguns pontos chaves em torno do debate sobre cidadania, analise o fluxograma a respeito de termos fundamentais quando tratamos deste assunto. A cidadania deve ser perpassada por temáticas como a dignidade da pessoa humana, a solidariedade, a democracia, os direitos humanos, a ecologia e a ética, como meio de atingirmos a plenitude de uma vida digna. 10 Fluxograma da Cidadania Fonte: Elaborado pela autora (2020). A cidadania é reforçada, demarcada e efetivada no dia a dia, através das relações que estabelecemos enquanto seres sociais, agentes da coisa pública, no meio ambiente onde vivemos. Assim, é necessário que a possibilitemos e exercitemos cotidianamente, em todas as esferas de nossa vida, permitindo a todo o corpo social poder atingi-la e dela usufruir com plenitude. Fechamento Neste estudo, aprendemos diferentes conceitos e noções envolvendo a temática dos direitos humanos, da cidadania e da importância destes debates na sociedade. É possível constatar como alguns discursos confundem ou amenizam fatos e lutas importantes e necessárias para a conquista e reconhecimento de direitos humanos e relacionados à cidadania. A partir disso é possível verificar que a história nacional deve ser pensada e analisada criticamente, como uma forma reconhecer o caminho histórico da conquista de direitos. É por essa análise que se constata que os direitos e a cidadania são conquistados e, se são conquistados, podem ser perdidos. Assim, a atenção à história é uma atenção também a nosso tempo e na constante reivindicação necessária à manutenção de direitos. 11 Referências BRASIL. Caderno de Educação em Direitos Humanos. Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=32131- educacao-dh-diretrizesnacionais-pdf&Itemid=30192> Acesso em: out. 2020. HERKENHOFF, J. B. Ética, educação e cidadania. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996. 152 p. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=32131-educacao-dh-diretrizesnacionais-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=32131-educacao-dh-diretrizesnacionais-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=32131-educacao-dh-diretrizesnacionais-pdf&Itemid=30192 CAPITALISMO E DESIGUALDADE SOCIAL SST SOUZA, Joana Darc Capitalismo e desigualdade social / Joana Darc Souza Ano: 2020 nº de p. 13 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 3 CCAPITALISMO E DESIGUALDADE SOCIAL Apresentação Neste momento, trataremos de um assunto relacionado ao Capitalismo e desigualdade social. Estudaremos sobre a formação da pobreza, contextualizando- a na história e seus principais indicativos para evidenciar que as pessoas possam estar em situação de pobreza. Também estudaremos sobre o capitalismo seus pressupostos e a condição para a formação do acúmulo que por sua vez gera a desigualdade social. E, por fim, iremos estudar a respeito das concepções sobre a pobreza contextualizando-as em um cenário de capitalismo concorrencial. Fique atento a todas as informações presentes aqui, e vamos juntos ao processo de conhecimento e aprendizagem a respeito da relevância desses assuntos para a compreensão de sociedade e das necessidades sociais e humanas, mormente das pessoas mais vulneráveis social e economicamente. Bons estudos. CONCEITO DE POBREZA X DESIGUALDADE SOCIAL = EXCLUSÃO SOCIAL A pobreza não pode ser caracterizada de forma única e universal, uma vez que ela faz referência à situação de desprovimento em que os indivíduos não obtêm um padrão mínimo de vida condizente com as referências socialmente estipuladas em um determinado contexto histórico. Assim, verificamos que existem famílias e indivíduos que sobrevivem com uma renda per capita abaixo da renda mínima, não conseguindo satisfazer suas necessidades básicas humanas. Conceituada nos países de primeiro mundo, a pobreza está associada: • ao baixo consumo; • à desnutrição; • às condições precárias de vida e baixa escolaridade. 4 O que acarreta, como resultado, exclusão social, cultural e política, definição organizada após a reconstrução do pós-guerra (ROCHA, 2006). A pobreza teve maior visibilidade com o fim do feudalismo, isso aconteceu para os grandes burgueses construírem as plantações de algodão para a fábrica têxtil e para a criação de ovelhas para a indústria de lã, fato que deixou as famílias desamparadas e obrigadas a se abrigarem ao redor das indústrias, em busca de meios e de condições de se manterem e manterem as famílias. Pobreza Fonte: Plataforma Deduca (2020) Essas famílias agora estavam sem terras e alimentos, dependendo da venda de sua mão de obra. Encontravam-se em situação de pobreza e eram vistas como um fato natural, um problema individual de caráter de ajustamento social, vivendo em uma sociedade dita perfeita e precisavam se adaptar a ela. Vivenciando essas condições precárias, a população se obrigava a trabalhar dentro das condições impostas pelos senhores burgueses donos dos minérios das grandes tecelagens: • Sem benefícios aos trabalhadores Sujeitos a longas jornadas de trabalhos, condições insalubres e sem seguros • Gestantes e idosos As mulheres durante a gravidez ou os trabalhadores em sua velhice não tinham nenhum benefício. • Pensão por morte Ao morrer no trabalho, os dependentes não recebiam pensão por morte, ficavam desamparados. 5 Por fim, precisamos ter o entendimento e compreensão de que a pobreza está associada a processos de exclusão social como: acesso nulo e/ou precário a bens e serviços, a escolarização básica, a oportunidades de cultura e lazer, a baixa comunicação, precariedade nos vínculos trabalhistas condições de moradia entre outros problemas sociais. Para saber mais sobre os conceitos de exclusão social e seus subtipos, deixamos aqui algumas informações para seu conhecimento e apreensão: Exclusão territorial: Se refere ao local em que a pessoa resida, isso geralmente ocorre quando a pessoa mora em um bairro muito distante dos grandes centros urbanos, e o território ao qual reside, tem aspectos de periferia. Exclusão Econômica: É determinada pela exclusão de pessoas que possuam rendas inferior, ou até mesmo quem sequer possui uma renda mínima. Saiba mais Contudo, esses problemas, podem ser minimizados quando o Estado passa a fomentar ações de políticas públicas sociais que visam a inclusão social com vistas a atender as pessoas na perspectiva da totalidade social objetivando o abarcamento das pessoas com vistas a superação dos efeitos dos processos de desigualdades sociais. Surgimento do sistema capitalista Entretanto, com a chegada do sistema capitalista, o cenário da sociedade até então passa a ser completamente alterado e, agora, além dos bens que eram produzidos de forma manufatureira, passam a ser industrializados e há uma necessidade de consumir aquilo que é produzido pelas indústrias. Porém, esse novo sistema alterou não só a forma de consumo, mas, também, a forma de produção e de vida. Com isso, em meio às muitas transformações ocorridas, surge uma sociedade com divisão diferente da divisão do sistema feudal. 6 Agora, a sociedade se dividia em duas classes: a burguesia e a classe trabalhadora, iniciando um processo de acumulação de capital pela classe dominante. A revolução industrial foi um movimento organizado pela classe operária na Inglaterra, que custou a vida de alguns trabalhadores, mas deu origem ao reconhecimento de uma nova classe social: a classe operária. Atenção Desse modo, o ser humano, ao longo da história, ao organizar-se em sociedade, estabeleceu formas diversas de produzir os bens necessários para sua existência e, em meio à ordem feudal, nascia um novo sistema social e econômico, o capitalismo. CapitalismoFonte: Plataforma Deduca (2020) Após a Revolução Industrial, o capitalismo se tornou o sistema predominante. Isso porque houve um momento de acumulação primitiva do capital, pois só por meio desta apropriação foi possível os burgueses derrubarem os senhores feudais e fazerem os servos de trabalhadores. Por outro lado, os industriais estimulavam os fazendeiros a investir na produção agrária, expulsando as famílias de suas terras, ficando em pequenos espaços. Como essas terras eram poucas e não tinham mais como plantar para sua subsistência, os camponeses saíam à procura trabalho para seu sustento e o de sua família. Assim, eram obrigados a trabalhar por longas jornadas e receber salários. Observamos que o desenvolvimento industrial acabou com a produção dos artesãos, uma vez que as fábricas produziam mais rapidamente e em grande escala. 7 Para maiores detalhes e aprofundamento no tema a respeito do sistema capitalista, deixamos aqui algumas sugestões de leitura: A primeira oferta se refere ao processo histórico que originou o capitalismo.Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/historiag/ origem-capitalismo.htm>. Acesso em: 19 set. 2020 Saiba mais Nesse cenário de grande migração do campo para as cidades em busca de uma forma para sobreviver, os camponeses começaram a se alojar nos centros urbanos (DIAS, 2005). Com a evasão dos agricultores para as cidades, houve uma grande degradação nos centros urbanos, e estes começaram a ser um espaço vulnerável de risco para a população, em função da contaminação das águas e do acúmulo de detritos humanos e das fábricas (DIAS, 2005). Nesse contexto, inúmeras doenças começaram a surgir, muita fome, entre outros problemas. Com isso, identificamos as primeiras expressões da questão social na nova sociedade, a sociedade capitalista. CONCEPÇÕES SOBRE A POBREZA NO CAPITALISMO CONCORRENCIAL O grande processo de desenvolvimento socioeconômico humano foi um marco para toda a humanidade, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. Mudança no trabalho Fonte: Plataforma Deduca (2020). 8 Entre os países latino-americanos, o Brasil foi o que teve maior crescimento após a Segunda Guerra, até os anos 1980. Essa década obteve o pior crescimento na América Latina de forma geral, ou seja, todos os países tiveram um crescimento baixo, porém continuavam crescendo. Com isso, houve um maior número de pessoas desempregadas, submetendo-se a subempregos para suprir suas necessidades, além de aumentar a marginalização de forma generalizada (ARBEX, 2009). A macroeconomia divulgada em 1936 foi criação de John Maynard Keynes, trazendo em seu conceito a teoria geral do emprego, propunha uma decomposição diferenciada dos fenômenos econômicos, a qual ficou denominada como economia monetária de produção. No entanto, o exercício econômico na situação e âmbito monetário de produção comprometeu uma sequência de características. Características do exercício econômico no âmbito monetário Características do âmbito monetário Indecisão Contratos nomeados em moedas Estima por liquidez Não imparcialidade da moeda Direção casual do investimento para a poupança Fonte: Elaborada pela autora (2020) No universo clássico, a economia é gerada operando pelas organizações de equilíbrio automático. Isso será possível com a existência de um mercado livre, permitindo que as forças desse mercado sejam alocadas com eficácia sobre os recursos, de modo a fazer o reajuste do produto ao nível do pleno emprego. Com a crise econômica dos anos de 1930, foi necessário criar força política Estatal e institucional capaz de regulamentar e manter o controle, pois essas ações o capitalismo por si só era incapacitado de fazer, surgindo, então, um novo padrão de acumulação capitalista. Com isso, a partir desta teoria keynesiana, surgiu o Welfarestate, buscando garantir alguns direitos sociais à classe trabalhadora. Esses direitos agora adquiridos contribuíram para o crescimento, ampliação e progresso econômico, sustentados pelos governos. Sendo assim, a economia internacional precisou se reformular. 9 Para saber, trataremos aqui dos conceitos de Welfare State e do conceito neoliberalismo, pois são conceitos cruciais para o entendimento da conjuntura da formação do sistema capitalista: • Welfare State - Estado de bem estar social (tradução de Welfare State)- Conjunto de beneficios sociais de alcance universal, promovido pelo Estado. tem por responsabili- dade ofertar condições mínimas de sobrevivência para a população e contribuir para uma melhor qualidade de vida. • Neoliberalismo - Política econômica em que orienta a di- minuição do Estado nas várias decisões, sobretudo nas áreas social e econômica; tendo como direcionamento para o campo social, políticas fragmentadas e por critério de elegibilidade, e na economia deixando o mercado ser livre e se autorregular sem interferência estatal. Atenção Sobre o sistema clássico, como explica Carvalho (2002, p. 27), “Keynes não concordava com a inadequação da base quantitativa, e com a insignificância prática ao se centralizar em posição de coerência de extenso prazo”. Assim, o autor apresenta uma visão diferente dos clássicos que viam a moeda como uma conveniência, e não como uma ação ativa. Seu pensamento foi tão forte que mudou este quadro. Por outro lado, surgem novos modelos de produção do trabalho realizado pelo homem como o sistema de produção fordista. O fordismo surgiu no Japão e em países da Eurásia, mas só após a II Guerra Mundial, nos Estados Unidos, que começou a ganhar forças. Para isso, Henry Ford organizou o trabalho implantando a linha de montagem, através de sua invenção patenteada da esteira em T. A invenção consistia em plataformas volantes que conduziam as peças de um departamento para outro na linha de produção, com a finalidade de atingir a economia de escala e a fabricação eficiente a baixo custo. Desse modo, o sistema buscava colocar toda a vida do trabalhador voltada para os interesses da empresa, sua vida pessoal, social e até seu lazer. Consequentemente, as transformações tecnológicas do século XX mudaram, mais uma vez, o mundo do trabalho e a produtividade do capitalismo, alterando, assim, a produção da riqueza social. 10 Automação Fonte: Plataforma Deduca (2020) Foi um período em que a automação, a robótica e a microeletrônica entraram no mundo das fábricas, desenvolvendo as relações de produção e trabalho, o que deu início a um modo de produção mais intenso, consolidado, tendencial e embrionário. Essas mudanças marcaram a vida dos operários e do setor de produção a ponto de ficarem conhecidas como a Segunda Revolução Industrial, desta vez nos Estados Unidos, visto que a nova difusão do modo taylorista/fordista de organização do trabalho requer do trabalhador um conhecimento especializado para executar as tarefas e operacionalizar as máquinas. Única função Nessa organização, cada um só podia executar uma única função para aumentar o sistema de produção. Produção em sequência O modelo seguia a administração científica da elaboração de Frederick WislowTaylor e foi iniciado pela produção em sequência de Henry Ford. Aumentar a produtividade Com isso o Taylorismo e/ou administração cientifica do trabalho nasceu com o proposito de aumentar a produtividade que estava em baixa, pois, mas fábricas no modelo antigo existia uma inconstância de tempo e de proveito no trabalho individual dos empregados 11 Uniformidade Nesse contexto, este modelo trouxe, uma organização do trabalho referente ao pessoal que exigia normas e procedimentos disciplinados, por meio da observação, da descrição e da medição dos operários. Contudo, os operários continuavam sem direito, ou seja, precisavam se adequar às novas normas a eles impostas sem direito de escolha, Dessa forma, o trabalhador vai sendo cada vez mais alienado de seu produto, sem o poder de decisão, sem ao menos poder entender esse processo no qualestá inserido. Por isso, o trabalhador sofre interferências em seus meios de relações sociais, adquirindo um adoecimento psicossocial, uma vez que suas relações sociais são bruscamente modificadas. O operário, então, assume a posição de máquina que opera outra máquina. Assim, os países que já tinham um capitalismo avançado pós- anos 1980, vivenciaram grandes transformações no mundo do trabalho, ou seja, sua maneira de inserção e suas estruturas de produção. Essas mudanças se estenderam para as representações sindicais e políticas. Nesse contexto, com a crise do sistema de produção, o taylorismo/fordismo passou por um reordenamento por parte do capital para organizar o sistema político de dominação, o qual buscou um novo modelo econômico, o Toyotismo. Então, com o objetivo de aumentar sua dominação sem a interferência do Estado, planejava-se o neoliberalismo, pela privatização do Estado, a desregulamentação dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo. Assim, houve mais uma vez a reestruturação da produção e do trabalho (ANTUNES, 2011). Com isso, verificamos que a delimitação do trabalho do pós fordismo demonstra a carência do sistema capitalista ao tentar controlar a classe operária e continuar produzindo para o acúmulo da mais-valia. Desse modo, observamos que as indústrias pós-fordistas se tornam grandemente competitivas e maleáveis, sendo preciso desenvolver, assim, uma espécie de iniciativa, atividade cognitiva, a inteligência de discurso lógico, bem como desenvolver a criatividade para dar respostas diretas aos funcionários. Por essa óptica, compreendemos que a maneira de contensão aderida no toyotismo busca atingir um espaço psicossocial do seu corpo funcional. Em termos gerais, pode-se analisar que esse sistema de produção é o fordismo/taylorismo com uma nova roupagem. 12 Fechamento Aprendemos a respeito do conceito de pobreza, seus fatores determinantes e a compreensão de como se constitui nas sociedades. Também estudamos sobre a desigualdade social e os diversos tipos de exclusão social. Estudamos a formação do sistema capitalista e a respeito de conceitos que tangenciam o capitalismo. Estudamos o conceito de Estado de Bem-estar social e conceitos a respeito do modelo Keynesiano. Por fim, podemos também ter acesso ao conhecimento sobre os diversos tipos de modelo de produção no sistema capitalista e seus atenuantes na vida dos trabalhadores e da sociedade de modo geral. 13 Referências ANTUNES, R. Adeus ao trabalho: ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 15. ed. São Paulo: Cortez, 2011. ARBEX, M. A. Economia política: Serviço Social. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. BRASÍLIA, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil. O longo caminho. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris. 10 dez. 1948. DIAS, R. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. ROCHA, S. Pobreza no Brasil: afinal de que se trata? 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006. MUDANÇAS NA QUESTÃO SOCIAL: A CRISE CONTEMPORÂNEA DO CAPITALISMO SST SOUZA, Joana Darc Mudanças na questão social: a crise contemporânea do capitalismo / Joana Darc Souza Ano: 2020 nº de p. 13 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 3 MUDANÇAS NA QUESTÃO SOCIAL: A CRISE CONTEMPORÂNEA DO CAPITALISMO Apresentação Neste momento, trataremos de um assunto relacionado a mudanças na questão social a crise contemporânea do capitalismo. Estudaremos sobre a formação do liberalismo e o seu conceito de livre mercado. Também estudaremos sobre os governos federais que se estabeleceram na década de 1990 com a abertura da economia do Brasil para o novo liberal (neoliberalismo), destacando os governos de Fernando Collor, seu sucessor Itamar Franco e, Fernando Henrique Cardoso – FHC com seus dois mandatos. Por fim, estudaremos sobre as legislações sociais que foram sancionadas nos anos de 1990, tendo como marco a consolidação da Constituição Federal de 1988 e destacando essas legislações no cenário de mínimos sociais provocados pelos ditames capitalistas. Fique atento a todas as informações presentes aqui, e vamos juntos ao processo de conhecimento e aprendizagem a respeito da relevância desses assuntos para a compreensão de sociedade e da importância de compreender a questão social e o contexto neoliberal em que a questão social se deflagra. Bons estudos. CONCEITO DE MERCADO LIVRE E O SISTEMA CAPITALISTA O desenvolvimento agora parte do ponto de quem dita as normas e as regras, é a filosofia do liberalismo clássico, em que toda a legalidade e autoridade são do mercado. Assim, surge um mercado livre e o capitalista tem a liberdade de mercado, sem que o Estado enquanto nação interfira nas decisões de mercado, de acordo com o seu monopólio e/ou categoria em que se insira no mercado. Diante desta nova realidade, verificamos que a política social exercida pelo Estado também sofre modificações. Isso porque viviam na transição, para uma “democracia” e uma política representativa (IAMAMOTO, 2013). 4 No entanto, conforme Schons (2008), foi o contrário do que estava acontecendo anteriormente, pois o mercado passava de regulado para autorregulável. Sendo assim, a época do liberalismo clássico do “laissez-faire” do mercado promoveu um novo modelo de economia mudando completamente a sociedade do século XVIII. Essa expressão é uma expressão francesa utilizada para referenciar o sistema econômico liberal, esse sistema capitalista teve seu início no final do século XIX e durou até o início do século XX. Laissez-faire: Sistema capitalista que teve início no final do século XIX e durou até o início do século XX. A expressão francesa simboliza o liberalismo econômico, em que o comércio funciona livremente. Curiosidade GOVERNOS BRASILEIROS DA DÉCADA DE 1990 E O NEOLIBERALISMO BRASILEIRO Em meados dos anos 1990 (1990 – 1992), com a posse do presidente alagoano Fernando Affonso Collor de Mello. O país vivenciava uma crise econômica política e social e, com esse governo, ela não se estabilizou, uma vez que houve muitas tentativas de estabilizar o mercado financeiro e econômico, porém fracassando em todas elas. Cabe destacar que foi no governo Collor que o país passa a adotar concretamente o neoliberalismo enquanto política econômica e monetária e que se tinha a ideia de que com essa política pudesse diminuir o tamanho do Estado, acirrar competições no mercado e com isso aquecer a economia, e ainda conseguir lucrar com as vendas das estatais já que para diminuir o Estado em termos de tamanho e responsabilidade, as privatizações eram um dos caminhos a percorrer. 5 O neoliberalismo refere-se à retomada de forma intensa do ideário liberal, o qual apregoa a liberdade dos mercados, as liberdades individuais, a auto-regulação dos mercados, ou seja, a não interferência do Estado na economia. O projeto neoliberal defende a retração da intervenção do Estado no campo social. Há a valorização da área econômica em detrimento da social. Atenção No entanto, ainda no final do ano de 1990, a imagem do presidente começava a ruir, isso porque começaram a ser divulgadas, nos principais jornais nacionais, denúncias de corrupções que envolviam o presidente, e foi formada uma Comissão parlamentar de inquérito - CPI, para investigar as denúncias. Nesse contexto, os jovens levantaram a bandeira brasileira e se fomentou um movimento popular que levou milhares de pessoas às ruas, pedindo moralização e ética na política. Esse movimento ficou conhecido como “caras-pintadas”. Diante disso, deu- se o “impeachment” e o presidente foi afastado, assumindo, assim, Itamar Franco. Neste período, como descreve Iamamoto (2013), retomava-seo neoconservadorismo profissional e a Assistência Social era coordenada pela primeira dama Rosane Collor, por meio da LBA (Legião Brasileira de Assistência). Com isso, visualizamos uma refilantropização do social, que vinha conduzida pela LBA desde o governo de Getúlio Vargas. Então, logo após, durante o governo Itamar, a inflação continuou subindo e o presidente passou sem deixar marcas significativas para o país. No entanto, o Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (FHC), elaborou um plano econômico, o Plano Real, o qual lhe proporcionou a vitória na eleição para presidente da república em 1994. Plano real Fonte: Plataforma Deduca (2020) 6 Durante estes dois governos anteriores, o neoliberalismo vinha lentamente entrando no país. Com a posse de FHC, houve um aceleramento na implementação do sistema neoliberal, o que transformou o mundo do trabalho no país. Outros marcos do governo FHC foram: • a descentralização dos serviços públicos, responsabilizando em maior pro- porção o Estado e os municípios; • a privatização das grandes estatais, quando em que vendeu várias empresas brasileiras, e/ou foram unidas a outras empresas. A partir das privatizações, a população passou a se movimentar pacificamente com o slogan “O Brasil está à venda”. Com isso, a política neoliberal de privatizações do setor público aumentou o patrimônio privado de muitas empresas do setor bancário, industrial e da construção civil. Quando O presidente Fernando Henrique Cardoso, assumiu a presidência da República, seu governo enquanto metas, tinha alguns objetivos para alcançar, e que foram alcançados ao longo dos seus dois mandatos, sobretudo o primeiro mandato, dentre esses objetivos um deles era o de fortalecer a nova moeda brasileira – Real e, consequentemente aprofundar as privatizações das empresas estatais. As mudanças ocorridas no mercado de trabalho refletem até os dias atuais no Brasil. O filme Real – o plano por trás da história apresenta como se deu todo o processo de estudo e implantação do plano real. Vale a pena assistir! Saiba mais Mudanças do mercado de trabalho Iniciou o trabalho terceirizado Diminuindo os processos de concursos públicos para carreiras nas empresas governamentais. Abertura de empresas de recursos humanos Para prestar serviços ao Estado nas grandes estatais. Precarização da mão de obra Postos de trabalhos antes ocupados por servidores públicos concursados e efetivos agora passam a ser ocupados por pessoas contratadas por uma empresa terceirizada pelo governo federal, estadual e/ou municipal. Fonte: Elaborada pela autora (2020) 7 Com base nas informações delineadas na tabela acima, podemos perceber que é retirada da classe trabalhadora a estabilidade de servidor público, os salários ficam mais baixos e, em muitos casos, trabalhadores celetistas são contratados temporariamente ou prestadores de serviços. Assim, na década de 1990, o terceiro setor começa a crescer, pois, com o novo modelo de sistema capitalista, o Estado torna mínimo o investimento no setor social, e com um agravante, visto que em países de capital tardio que adotam o neoliberalismo, é notório que as condições de vida dos mais pobres, sofrem seus reflexos. Contudo asseveramos que, as demandas das desigualdades apresentadas pelas expressões da questão social na vida dos trabalhadores e seus familiares não encontram espaço nos serviços públicos ofertados e a sociedade civil fica organizada por meio das associações, que são responsabilizadas a atender essas demandas. Para contribuir ainda mais com seu conhecimento sobre a assistência social deixamos como sugestão alguns textos com seus links de acesso. Artigo: Neoliberalismo: crise econômica, crise de representa-ti- vidade democrática e reforço de governamentalidade. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101 -33002019000100007>. Acesso em: 18 set. 2020. Artigo: A política social no período FHC e o sistema de proteção social. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex t&pid=S0103-20702003000200004>. Acesso em: 18 set. 2020. Saiba mais PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES SOCIAIS DO FINAL DOS ANOS 1980 A 1990 E CONTEXTO NEOLIBERAL CAPITALISTA Percebemos, então, que a Constituição de 1988, a lei do Sistema Único de Saúde (SUS), a lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e outras leis que foram criadas não eram suficientes para minimizar as desigualdades sociais vivenciadas nos anos 1990, o que fazia o sistema neoliberal crescer cada vez mais. 8 A Constituição Cidadã, que traz a garantia dos direitos sociais, tem dificuldades de se materializar em sua concretude devido as ações de políticas neoliberais. Contudo, houve mudanças em todas as políticas sociais no setor público e uma nova segmentação básica, em que os serviços públicos eram designados à população pobre e os serviços privados em todas as áreas sociais para a população de renda média e alta. Isto aconteceu principalmente nas áreas de saúde e educação. Surgindo, assim, uma “nova burguesia de serviços”, que explora principalmente as políticas sociais de saúde e de educação e a política neoliberal no país, além de abrir espaço a outro setor privado. Portanto, com a reforma previdenciária, uma política privada de previdência foi designada por meio do setor bancário. Desse modo, houve um crescimento da nova burguesia de serviços privados, os quais são um subproduto que foi retirado, por causa da redução dos gastos e da garantia dos direitos sociais constitucionais (BOITO JUNIOR, 1999). Artigo: Inflexões nas políticas sociais brasileiras nos anos 90: as transformações societárias e o impacto nas políticas sociais no Brasil Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/8273/8273_3. PDF>. Acesso em: 18 de set. de 2020 Saiba mais Outro fato que marca o país, até os dias atuais, é a política neoliberal que estimula a desregulamentação do mercado de trabalho, fomentando a negação dos direitos trabalhistas, pela contratação dos trabalhadores sem carteira assinada. A partir desta política neoliberal, a precarização da mão-de-obra aumentou em 53% e a violação de direitos da população trabalhadora em 1990 (IAMAMOTO, 2013). Então, têm início os contratos temporários, que reduzem as contribuições obrigatórias e suspendem os direitos trabalhistas. Neste contexto, o assistente social é um trabalhador assalariado, o qual tem a sua mão de obra também precarizada e as políticas públicas sociais fragilizadas. Isso porque teve menos investimentos para a execução dos programas, dos projetos, dos serviços e dos benefícios. 9 Esse cenário econômico e político vivenciado pelo país gera um problema estrutural, apresentando como consequências às expressões da questão social, vivenciada pelos trabalhadores, acarretando: • no aumento da violência, da fome e do uso de drogas; • no aumento no desemprego; • de pessoas nas cidades sem teto; e • pessoas na zona rural sem-terra para morar e trabalhar. Atenção A desigualdade social toma uma nova proporção, segundo Behring, 2000. Suas garantias foram podadas pelo novo sistema neoliberal, que deixou o Estado sem empresas e automaticamente com menos recursos financeiros para investir nas políticas públicas e sociais (BOSCHETTI,2009). O que acarretou uma nova configuração dos serviços ofertados dentro dessas políticas. Com o mínimo do Estado para o social, os serviços, os programas e os benefícios se tornam precarizados também, e apresentam um caráter descontinuado, não sendo mais permanentes. Então, o foco desses serviços é apenas para aquele público em situação de miserabilidade. Situações pontuais por um determinado período e para algumas situações específicas e com condições de traçar um perfil dos usuários que terão direito a receber os benefícios. Políticas sociais À medida que há um investimento contínuo para acelerar o crescimento dos lucros do capitalismo,é necessário que as políticas sociais também cresçam. Exploração da mão de obra Pois, cada vez mais, a exploração da mão de obra aumenta e o salário torna-se menor, não sendo suficiente para suprir as carências do trabalhador. 10 Assistências aos operários Desse modo, o Estado precisa ofertar assistências à classe operária, por meio dessas políticas. Simultaneamente, os problemas ou sequelas sociais, antes sob a responsabilidade do Estado, agora são vistos de forma diferente. A questão social se mostra com uma natureza privada das suas manifestações individuais, como se fosse uma situação redefinida, com uma face antes escondida. Atenção O Estado burguês, no capitalismo monopolista, converte as refrações da questão social em problemas sociais, pois veem agora os problemas coletivos como problemas individuais, tornando-os, assim, privados e não mais públicos. É claro que as estratégias de classe implantadas pelo Estado burguês no capitalismo monopolista englobam diferencialmente as vertentes públicas e privadas em relação às intervenções da questão social. Assim, segundo Netto (1996) relata, há contradição do Capitalismo Monopolista em relação às sequelas da questão social, pois, neste sistema, o Estado agia como um mediador entre o mercado e a classe operária, controlando a atuação do capitalismo monopolista e atendendo às demandas sociais causadas por ele. Para evitar um movimento social da classe subalterna em busca da garantia de seus direitos sociais, neste movimento de articulação, o Estado começou a delegar situações públicas como privadas, tendo a finalidade de não ser responsabilizado em sua totalidade pelas expressões da questão social geradas neste sistema. Ao analisar o processamento do desenvolvimento das economias nacionais da América Latina, nas suas relações com o mercado mundial, é necessário apontar se existem mudanças que indicam situação de erradicação da pobreza e, consequentemente, minimização da desigualdade social. Atenção 11 A aceitação do liberalismo e, em seguida, do neoliberalismo foi uma negação ao bem-estar social, iniciado em dois grandes países: Inglaterra, na Europa, e nos Estados Unidos, na América do Norte, nas décadas de 1980. Por meio de ações monetaristas, esses países em busca de equilíbrio orçamentário e fiscal, para combater a inflação simboliza uma nova modalidade do capitalismo (financeiro) em oposição as proposições de John Keynes e às ações de direitos sociais. Foi colocada em discussão a mudança de lugar do Estado em relação aos menos beneficiado se suas deficiências sociais revelam o abandono das políticas de proteção aos carentes, financiadas pelos impostos sobre os afortunados. Estado mínimo no investimento público NEOLIBERALISMO Menos Educação Menos Saúde Menos Assistência Social Menos Segurança Pública Menos Previdência Social Fonte: Elaborado pela autora (2020) Em resumo, o hiato visível entre a massa subalterna que vende sua força de trabalho para a classe que pode comprar é problema de cada sujeito, não da sociedade e/ou do Estado. O neoliberalismo monetarista é essencialmente antagônico ao estado do bem-estar social instalado pós-crise de 1929, pela proposta de Keynes. Um modelo criado com o monetarismo além das outras mudanças sofridas em todo o mundo, a exemplo das reformas nos sistemas de aposentadoria da classe trabalhadora. Contudo, percebemos que as consequências das mudanças neoliberais nas políticas foram indicadores do desemprego, que se assemelhou com a época da Grande Depressão, com o declínio acentuado do PIB mundial. 12 Para mais conhecimento e aprofundamento a respeito do tema trabalhado aqui, deixamos alguns textos como sugestão de leitura complementar: GASPAROTTO, G. P.; GROSSI, P. K.; VIEIRA, M.S. O ideário neoliberal: a submissão das políticas sociais aos interesses econômicos. Anais XI Seminário Internacional de Demandas Sociais e Políticas Públicas na Sociedade contemporânea e VII Mostra de trabalhos científicos. Mestrado e doutorado em Direito. UNISC. Disponível em: <http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/8153/2/ evento_006%20-%20Patr%C3%ADcia%20Krieger%20Grossi.pdf>. Acesso em: 18 de set. de 2020 Boa leitura! Saiba mais Fechamento Com os estudos apresentados, vimos uma correlação entre as mudanças ocorridas no país e no mundo após a década de 1980. Aprendemos sobre o conceito do neoliberalismo, bem como apresentamos os governos brasileiros que se consolidaram nos anos de 1990: governo Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique de Cardoso – FHC. Com destaque a alguns pontos que impactaram a história e o modo de vida da sociedade brasileira, no social, na política e na economia, observando a partir do marco divisor chamado neoliberalismo, que alargou a desigualdade social e trouxe à tona novas expressões da questão social, antes não vivenciadas pela população no país. 13 Referências BEHRING, E. R. Principais abordagens teóricas da política social e da cidadania. Capacitação em serviço social e política social. Módulo, v. 3, p. 21-40, 2000. BOITO, J. A. Política neoliberal e sindicalismo no Brasil. São Paulo: Xamã VM, 1999. BOSCHETTI, I. et. al (Orgs.). Política social no capitalismo. Tendências contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2009. BRASIL. LEI Nº 10.219, DE 11 DE ABRIL DE 2001. Cria o Programa Nacional de Renda Mínima vinculada à educação - “Bolsa Escola”, e dá outras providências, Brasília, DF, Abr. 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/LEIS/ LEIS_2001/L10219.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019. ______. LEI Nº 10.458, DE 14 DE MAIO DE 2002. Institui o Programa BolsaRenda para atendimento a agricultores familiares atingidos pelos efeitos da estiagem nos Municípios em estado de calamidade pública ou situação de emergência, e dá outras providências, Brasília, DF, mai. 2002. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10458.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019. ______. LEI Nº 10.836, DE 9 DE JANEIRO DE 2004. Cria o Programa Bolsa Família e dá outras providências, Brasília, DF, jan. 2004. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.836.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019. ______. LEI Nº 8.742, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências, Brasília, DF, DEZ. 1993. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L8742compilado.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019. ______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Política Nacional de Assistências Social/PNAS. Resolução CNAS nº 145, de 15 de outubro de 2004. Disponível em: <http://www.sesc.com.br/mesabrasil/doc/ Política-Nacional.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2019. IAMAMOTO, M. V. O Brasil das desigualdades:“questão social”, trabalho e relações sociais. Revista Ser Social, v. 15, n. 33, p. 326-342, 2013. NETTO, J. P. Capitalismo monopolista e serviço social. 8. ed. São Paulo: Cortez, 1996. SCHONS, C. H. A contribuição dos wikis como ferramentas de colaboração no suporte à gestão do conhecimento organizacional. Informação & Sociedade: Estudos, v. 18, n. 2, 2008. QUESTÃO SOCIAL NA ATUALIDADE SST SOUZA, J. D. Questão social na atualidade / Joana Darc Souza Ano: 2020 nº de p. 13 Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 3 QUESTÃO SOCIAL NA ATUALIDADE Apresentação Neste momento, trataremos de um assunto relacionado a Questão social na atualidade. Estudaremos sobre a questão social, buscando compreender seu conceito, como ela se forma e o quanto ela interfere na vida das pessoas, principalmente aquelas mais vulneráveis e/ou em situação de risco social e pessoal. Também estudaremos sobre o as ações dos governos em relação ao enfrentamento ou não da questão social, e, por fim, as ações mais recentes de combate a exclusão e pobreza na era do governo Lula. Fique atento a todas as informações presentes aqui, e vamos juntos ao processo de conhecimentoe aprendizagem a respeito da relevância desses assuntos para a compreensão de sociedade e da importância de compreender a questão social e suas expressões para a apreensão da realidade a partir de uma totalidade social em que os sujeitos mais vulneráveis vivenciam e dependem do atendimento de profissionais e intervenção do Estado para atender as necessidades sociais e humanas. Bons estudos. QUESTÃO SOCIAL NA ATUALIDADE: PERMANÊNCIAS E AS NOVAS AGENDAS SOCIAIS O desenvolvimento social marca, nos últimos anos, a expansão do capitalismo e o agravamento das expressões da questão social. A naturalização de algumas realidades sociais apresenta, também, conceitos sobre as novas agendas sociais do Estado. O enfretamento de questões ambientais sociais e econômicas para responder a nível mundial as desigualdades tem o objetivo de diminuir o analfabetismo, a degradação ao meio ambiente e a retirada de famílias da situação de extrema pobreza. 4 Diante da realidade do sistema capitalista, a acumulação de capital vem associada à produção da mais-valia, o crescimento econômico se controla por um aparelho o qual estabelece e ao mesmo tempo esconde uma relação de poder social. Este processo só é possível porque a acumulação do capital se vincula com a exploração da mão de obra, a qual acontece de forma estruturada (BOSCHETTI, 2009). Questões ambientais sociais e econômicas Fonte: Plataforma Deduca (2020) Para isso, abordaremos as estratégias do Estado para o enfrentamento das desigualdades sociais, pois é mediante as políticas públicas que são distribuídos e redistribuídos os bens e os serviços, como resposta à sociedade civil, sendo o estado o responsável na tomada de decisões. 5 A questão social na atualidade A contradição essencial do sistema capitalista é a contradição capital x trabalho. O capital só se sustenta na exploração do trabalho Sem está, não existe sistema capitalista de produção da vida social. Nesse sentido, é imprescindível reconhecer o papel do Estado nesse processo. Entretanto, os serviços ofertados não podem ser reduzidos às políticas estatais, pois, para sua elaboração e execução, há a participação de muitos atores, tanto na elaboração como na implementação e execução. Para compreender mais sobre a desigualdade social, assista o filme “Garapa”. Esse filme é um documentário e vai auxiliá- lo na compreensão da crise em tempo de luta e resistência, e compreenda que a desigualdade social é o grande problema, até para os países ricos do mundo. Acesse o link: <https://www. youtube.com/watch?v=0HUW_MICVVg>. Acesso em: 19 set. 2020. Saiba mais QUESTÃO SOCIAL E SUA CONSIDERAÇÃO A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 A questão social, após a Constituição Federal de 1988, passa a ser compreendida como responsabilidade do Estado. Vitória concedida depois de longas décadas sob a responsabilidade do indivíduo, conquistada através da reivindicação popular. Nessa perspectiva, para falar de direitos sociais, é preciso considerar as expressões da questão social, que cresceram no país como a miséria, a pobreza, os conflitos de classe, a exclusão social, entre outras situações que se tornaram palco da questão social no Brasil. De forma já explicitada, a questão social surge da relação capital- trabalho e teve sua visibilidade a partir da Revolução Industrial. Mas, no Brasil, foi vista como caso de intervenção do estado já no governo de Getúlio Vargas. 6 Governo de Getúlio Vargas Fonte: Flick (2020). Assim, a estratégia que o estado tem para intervir junto às expressões da questão social é por meio das políticas sociais, que nascem de reivindicações das classes trabalhadoras rurais e urbanas, classes que lutam por direitos na vivência da contradição capital X trabalho, pois não se apropriam das riquezas socialmente produzidas, visto que a produção é coletiva, mas a riqueza é privada, configurando a situação de miséria entre os trabalhadores (IAMAMOTO, 2013). Com isso, verificamos que a década de 1990 foi um período de muitos movimentos sociais, que sequenciou a criação de leis, decretos e organização das políticas sociais de educação, saúde, assistência social, habitação e previdência social, o que aconteceu mesmo com a entrada do neoliberalismo, mas ofertadas minimamente como investimento das políticas sociais. Desse modo, com a contextualização do neoliberalismo, o país vivenciou, na década de 1990, uma situação difícil com grande parte da população trabalhadora desempregada, somando um dos piores períodos vivenciados no país. No governo de FHC, as políticas sociais tiveram uma direção de repressão com o slogan de “combate à pobreza”. A Assistência Social como um direito Fonte: Plataforma Deduca (2020) 7 O país necessitava da resposta em nível mundial a fim de baixar os indicadores de pobreza. Com isso, logo após assumir a presidência da república, FHC tomou algumas providências. 1995 Em 1995, extinguiu a LBA e criou o Programa Comunidade Ativa, que era coordenado por sua esposa. 1996 Em seguida, em 1996, criou o Programa de Erradicação ao Trabalho Infantil. 1997 Em 1997, criou outro programa de transferência de renda, o Bolsa Escola, que foi direcionado à implementação em 1999 e se tornou lei em 2001 (Lei 10.219/2001). 2001 Em 2001, também foi implementado o programa de transferência de renda Bolsa Alimentação, no mesmo ano esse Programa foi unificado ao Bolsa Escola. Ainda foi criado o Bolsa Renda regulamentado pela Lei 10. 458/2002. Para contribuir ainda mais com seu conhecimento sobre a assistência social deixamos como sugestão alguns textos com seus links de acesso. <https://www.gesuas.com.br/blog/historia-da-assistencia-social/>. Acesso em: 19 set. 2020. Boa leitura! Saiba mais 8 AS AÇÕES DO GOVERNO LULA E A QUESTÃO SOCIAL Em janeiro de 2004, por meio da Lei 10.836, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou o Programa de transferência de Renda Bolsa Família, o qual unificou os 04 (quatro) programas anteriores e implantou definitivamente o Cadastro Único dos Programas sociais do Governo Federal. Até aqui, identificamos a criação de vários programas dentro da política de Assistência Social, sendo estruturada para atender à população em situação de pobreza e de extrema pobreza, política que foi desenhada dentro do tripé da seguridade social na Carta Magna de 1988, regulamentada pela lei Orgânica da Assistência Social – LOAS Lei 8.742/93. Além disso, em 2004, foi criada a Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004) e, em seguida, em 2005, foi implantado o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que foi estruturado conforme a estrutura do SUS, dividido em Proteções. Enquanto esses programas foram estruturados para o combate à pobreza, o Ministério da Educação também criava programas para erradicar o analfabetismo no país. Programas que se baseavam na oferta da educação para a primeira infância, promovendo a expansão das creches no país. Assim, muitos programas e políticas de atenção à saúde foram criados, como a organização das Unidades Básicas de Saúdes (UBS), as Políticas Nacionais de atenção à saúde da Mulher, de crianças e de adolescentes. Políticas para as mulheres, crianças e adolescentes Fonte: Pixabay (2020) 9 Contudo, essa assistência prestada por meio das políticas sociais no Brasil não foi suficiente para acabar e/ou reduzir as desigualdades sociais. Isso porque, conforme já mencionamos, essas políticas foram ofertadas de modo precarizado, pois não atendia mais necessidades com eficiência, eficácia e efetividade. Sendo assim, a consequências dessa baixa oferta assistencial foram: • o aumento no número de adolescentes envolvidos com a prática de atos in- fracionais; • muitas crianças sem acesso à escola por falta de vagas; • de famílias sem o atendimento em Unidade Básica de Saúde; • de famílias sem nenhum dos membros inserido no mercado de trabalho. Além disso, aumentou o uso de drogas entre crianças, adolescentes e adultose a quantidade de pessoas em situação de rua nas grandes cidades. Nessa perspectiva, as expressões da questão social na atualidade agravam-se gradativamente, ao mesmo passo que a economia cresce e as cidades crescem desordenadamente sem planejamento e sem estrutura para oferecer condições dignas de habitação a população. Descentralização: Transferência de poderes ou competências. Equidade: Justiça e igualdade. Curiosidade A partir desse contexto, a pobreza começou a preocupar a classe burguesa, que se sentiu ameaçada pela situação e passou a se mobilizar mundialmente. Então, como forma de diminuir a expansão dessa classe, a burguesia passou a combater a pobreza, elevando as condições econômicas dessa população, pelo Estado. Então, aconteceu o investimento nas políticas sociais e públicas, criando programas de geração de renda, políticas de profissionalização e emprego. Para tanto, Montaño (2012) apresenta a pobreza dividida em duas vertentes na visão da classe burguesa. Assim, a elite dominante afirma que essa adversidade é uma resistência de ordem moral-comportamental, colocada como uma forma errada de gastar seu salário, disposição ao ócio, aos vícios como o alcoolismo e a desocupação entre outros. 10 Dentro desse pensamento burguês, verificamos que eles defendem a “cultura da pobreza”, de modo a responsabilizar o sujeito pelos seus limites culturais e de oportunidades. Com isso, identificamos que não responsabilizam o sistema capitalista pelas formas de trabalho escravo e trabalho precarizado, entre outras características do neoliberalismo, visto que ainda, em pleno século XXI, observamos o trabalho escravo, a exemplo da China, onde o trabalho escravo é o mais visível no mundo (MONTAÑO, 2012). O grande lucro do burguês no neoliberalismo Fonte: Plataforma Deduca (2020) Nesse processo do sistema neoliberal, a classe operária possui os maiores prejuízos no mundo do trabalho e a questão social cresce cada vez mais. A seguir, veja dois exemplos dessas perdas: • Caixas eletrônicos nas agências bancárias: máquinas que possibilitam ao cliente do banco realizar seu autoatendimento sem precisar de um trabalhador do banco. Máquinas que substituem o cobrador nos ônibus: o usuário chega e faz a transação do pagamento, sem a necessidade de um trabalhador para Essa realidade causa um processo de desregulamentação nas relações de trabalho e na precarização do emprego, a partir do trabalho de tempo parcial, do trabalho temporário, do trabalho informal entre outros. Dessa forma, verificamos que essas são algumas questões da crise operária da atualidade, enquanto os impactos dessa crise na vida do trabalhador vêm reduzindo sua forma de consumo, devido ao menor poder aquisitivo que limita o acesso a objetos mercadorias e serviços para satisfazer suas necessidades. Atenção 11 Em continuidade com os projetos traçados pelo governo FHC, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuou o novo desenvolvimento com a finalidade de combate à fome. Assim, foram construídas agendas das reformas sociais para seu governo, por meio de encontros, seminários, fóruns e visitas aos Estados e Municípios, trabalhando com o tema “Brasil Sem Miséria”. Ex-presidente Lula Fonte: Plataforma Deduca (2020) Os ministros trabalharam no governo Lula, como toda sua equipe, dentro da reforma social e da redemocratização. Para isso, foi adotada a oposição ao regime autoritário, buscando o restabelecimento das liberdades civis, a partir da dívida social, sendo essa dívida considerada a precursora do empobrecimento de parte da população e multiplicadora das desigualdades na sociedade brasileira. Portanto, a agenda da reforma social teria que percorrer incorporada na tendência da descentralização, promovendo a participação dos usuários dos serviços junto às decisões, objetivando o fim do clientelismo, para, assim, alcançar maior equidade na prestação dos programas, dos benefícios e dos serviços sociais, fazendo a diferença na oferta e no atendimento à população (POLANYI, 2000). Outro ponto observado nessa reforma de agenda foi a carência de criar políticas emergenciais, com o objetivo de atender às classes sociais em situação de pobreza e extrema pobreza nas diversas regiões do país, uma vez que era necessário o atendimento em caráter de urgência a essa população até que o efeito planejado para que o desenvolvimento econômico começasse a dar resultados. Nesse contexto, observamos que desde 1988, quando a reforma da agenda social foi iniciada com a promulgação da Constituição Federal, o governo que melhor seguiu a agenda foi o do Presidente Lula. 12 Por conclusão, um dos pontos a destacar foi a mudança no modelo de proteção social, a partir da distribuição das responsabilidades para prover os bens e serviços às classes atendidas, em que foram expandidas as atribuições dos municípios, além das responsabilidades e das condições importas aos beneficiários dos serviços sociais, que precisam ser cumpridas para o ganho do benefício. Para maiores detalhes e aprofundamento no tema a respeito das ações da política de assistência social na era do governo Lula e Dilma, deixamos aqui algumas sugestões de leitura: Disponível em: <https://cress-mg.org.br/hotsites/Upload/Pics/ 51/514a6740-1dd0-41f4-816c-dab246355b89.pdf>. Acesso em: 19 set. 2020. Saiba mais Fechamento Estudamos que a desigualdade e a questão social são determinantes causadores do fenômeno da pobreza, que tem como principal característica a desigual distribuição de renda entre as classes sociais no sistema capitalista. Para tanto, vimos que a riqueza produzida coletivamente fica detida por uma pequena população que controla todo o sistema de bens e serviços de consumo. Nesse contexto, identificamos como essencial fazer a leitura da pobreza como um processo histórico e estrutural de construção das desigualdades sociais, vivenciadas ao longo das décadas pela sociedade. Essa visão sobre a desigualdade social é primordial para não olhar a classe subalterna com uma classe responsável pela sua condição de pobreza, individualizando e culpabilizando o sujeito pelo seu insucesso e pela situação de pobreza vivenciada por esses. Além disso, vimos a mudança na proteção social após a Constituição de 1988, com a nova agenda social, dando ênfase aos programas de transferência de renda ao longo dos anos e sendo consolidados de maneira a se tornar um mecanismo do sistema de proteção social. 13 Referências BOSCHETTI, I. et. al (Orgs.). Política social no capitalismo. Tendências contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2009. BRASIL. LEI Nº 10.219, DE 11 DE ABRIL DE 2001. Cria o Programa Nacional de Renda Mínima vinculada à educação - “Bolsa Escola”, e dá outras providências, Brasília, DF, Abr. 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/LEIS/ LEIS_2001/L10219.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019. _________. LEI Nº 10.458, DE 14 DE MAIO DE 2002. Institui o Programa Bolsa Renda para atendimento a agricultores familiares atingidos pelos efeitos da estiagem nos Municípios em estado de calamidade pública ou situação de emergência, e dá outras providências, Brasília, DF, mai. 2002. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10458.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019. _________. LEI Nº 10.836, DE 9 DE JANEIRO DE 2004. Cria o Programa Bolsa Família e dá outras providências, Brasília, DF, jan. 2004. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.836.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019. _________. LEI Nº 8.742, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1993. Dispõe sobre a organização da Assis-tência Social e dá outras providências, Brasília, DF, DEZ. 1993. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L8742compilado.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019. _________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Política Nacional de Assistências Social/PNAS. Resolução CNAS nº 145, de 15 de outubro de 2004. Disponível em: <http://www.sesc.com.br/mesabrasil/doc/Política- Nacional.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2019. IAMAMOTO, M. V. O Brasil das desigualdades:“questão social”, trabalho e relações sociais. Revista Ser Social, v. 15, n. 33, p. 326-342, 2013. MONTAÑO, C. Pobreza, “questão social” e seu enfrentamento. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 110, p. 270-287, abr./jun. 2012. POLANYI, K. A grande transformação: as origens de nossa época. Rio de Janeiro: Campus, 2000. Pobreza e exclusão social: do Estado de bem-estar social ao neoliberalismo SST SOUZA, Joana Darc Pobreza e exclusão social: do Estado de bem-estar social ao neoliberalismo / Joana Darc Souza Ano: 2020 nº de p. 12. Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 3 Pobreza e exclusão social: do Estado de bem-estar social ao neoliberalismo Apresentação Neste momento, trataremos de um assunto extremamente importante na área de humanas que é estudar a respeito da pobreza e da exclusão social contextualizando-a a partir do Estado bem-estar social ao neoliberalismo. Começamos a estudar sobre o Toyotismo na linha de produção e como esse modelo reflete vários campos da vida humana em sociedade. Na sequência iremos estudar a respeito da pobreza, também estudaremos os pressupostos da exclusão social ambas situações dentro de um cenário neoliberalista. Fique atento a todas as informações presentes aqui, e vamos juntos ao processo de conhecimento e aprendizagem a respeito desses importantes assuntos. Bons estudos. Pobreza e exclusão social no contexto do Estado de bem-estar social A disparidade entre a população que domina e a que é dominada, mostrando que quem domina apresenta um acúmulo de capital. Além da discriminação por parte da economia, que acontece quando os sujeitos que se diferem apenas por sexo, raça ou gênero recebem um salário diferente. Essa discriminação é fruto do preconceito de algumas pessoas sobre alguns grupos sociais que apresentam um comportamento social diferente do seu e/ou do seu grupo. Figura alusiva a discriminação salarial em virtude do sexo/gênero: Fonte: Plataforma Deduca (2020) 4 Nesse contexto, a desigualdade social e a concentração de renda e riqueza ficaram enormes, provocando, assim, um grande estado de vulnerabilidade social, levando as pessoas a um desequilíbrio e a uma dependência externa. Assim, as políticas sociais ficaram mais enfraquecidas neste período, uma vez que o Estado precisava levantar a economia voltando a atenção para o desenvolvimento econômico. Essa desigualdade social promove a exclusão social que atinge principalmente as classes sociais menos favorecidas socialmente e economicamente. E quando aludimos sobre exclusão social, aparece junto ao debate a inclusão social, embora sejam opostas uma à outra, estas expedem-se em colocações que podem ser contrárias. Há três componentes que formam a estrutura de onde nasce a exclusão social: Componentes da exclusão social Componentes da formação da exclusão social O fim do esgotamento de um modelo e de uma inteligibilidade – pautado na invenção do social enquanto construção dos sistemas de proteção social. A internacionalização das economias. A importância do Estado, bem como a acumulação dos problemas sociais que formam uma verdadeira sociedade paralela. Fonte: elaborada pela autora (2019) No Brasil a diferença entre os salários pagos às diferentes pessoas se instaurou. Sendo uma variação referente às funções desenvolvidas pelas pessoas, em que as maiores discriminações estão entre os brancos e os negros e homens e mulheres, bem como a variação da renda, em função da mão de obra especializada do trabalho. Com isso, destacamos o desenvolvimento econômico e o crescimento econômico de um país observando o Brasil. Como exemplo, é possível compreender as diferenças entre eficiência e equidade no que se refere à distribuição de renda. No país, é imprescindível abordar os temas crescimento e desenvolvimento econômico pois embora parecidos, são bem distintos em suas conjunturas (BOSCHETTI, 2009). Reflita 5 No que tange a mão de obra para o trabalho é exigida cada vez mais, a alta produtividade e assim, vários países conhecem o modelo Toyotista desenvolvido pelos japoneses e percebem que é um modo de produção que exige excelência da mão de obra do trabalhador e gera lucros altíssimos ao capitalista. Abaixo vamos conhecer um pouco mais a respeito de modo de produção Toyotista: Sucesso do Toyotismo Conforme Alves (2000), em decorrência do sucesso no mercado e junto com os operários que as fábricas japonesas vinham apresentando, muitos países que antes tinham suas indústrias dentro do modelo fordista/teylorista começaram a aderir ao modelo japonês/toyotismo, entre as décadas de 1970 e 1980, utilizando as técnicas de produção criadas pela Toyota. Racionalização do trabalho Como explica Alves (2000. p. 32), “consideramos o toyotismo o que pode ser tomado como a mais radical e interessante experiência de organização social da produção de mercadorias, sob a era da mundialização do capital”. Isso porque esse sistema é visto de forma a apresentar flexibilidades e muita potencialidade sob o manuseio da subjetividade humana e faz uma ligação com o segmento da racionalização do trabalho. Aumento da produtividade x bem-estar do operário O toyotismo apresenta uma facilidade porque traz uma inovação participativa que traduz a realidade do mundo capitalista, o aumento da produtividade, em que a ideologia de melhorar as relações humanas interpessoais não visa ao bem do trabalhador, mas, sim, um aumento da mais-valia, em decorrência do bem- estar do operário. Por esses motivos, foram criados programas de qualidade de relações humanas, as quais são aplicadas nas empresas até a atualidade. Todo o processo de desigualdade social que desencadeia em exclusão social historicamente começou a ser analisada e estudada na Europa quando se observou o grande número de pessoas sem-teto, o crescimento da pobreza urbana e das expressões da questão social, consequentes ao paradigma do desemprego. Assim, esta situação-problema é relacionada à revolução tecnológica, ao avanço da globalização que a sociedade vem vivenciando, a qual diminui a mão de obra e torna cada vez mais milhares de pessoas sem posto de trabalho (IAMAMOTO, 2013). 6 Naturalização da sociedade sobre a exclusão social Fonte: Plataforma Deduca (2020) Então, surge o Welfare State ou Estado de bem-estar social, primeiro na Europa, como resultado das lutas dos movimentos dos trabalhadores para a implantação de uma política de redistribuição de renda. Sua implantação, com o surgimento do capitalismo, também dependeu das relações e do momento político, econômico e social de casa país. Bem-estar social No Estado de bem-estar social, a perspectiva era de que se garantisse o acesso a um conjunto de serviços de acesso gratuito, como de educação, saúde, auxílio aos desempregados, por meio de uma renda mínima e recursos para os cuidados com os filhos. Conjunto de serviços Serviços que seriam implantados direta ou indiretamente pelo Estado, dependendo do poder de regulamentação, sendo os gastos sociais uma parte significativa da demanda decidida por mecanismos políticos. Controle político Assim, o Welfare State surge como um mecanismo de controle político das classes trabalhadoras pelas classes capitalistas: a intervenção no processo de barganha limita institucionalmente a capacidade de organização extraestatal dos trabalhadores. (BOSCHETTI, 2009). 7 Por conclusão, verificamos que as desigualdades sociais foram geradas no sistema capitalista para o bem-estar social da classe que acumula o capital, visto que grande parte da sociedade ocupa o lugar de exclusão social pelo não acesso aos bens e serviços necessários à sua sobrevivência. Pobreza e exclusão social no Brasil Veremos a pobreza e a exclusão social de forma específica no Brasil, buscando retratar as dificuldades vivenciadas pela população nopaís e seus enfrentamentos. A exclusão social está presente nos grandes centros urbanos brasileiros, sendo visualizada de várias formas. Está claro que é mais uma expressão da questão social que decorre da desigualdade social e do acesso aos direitos sociais: educação, saúde, alimentação, habitação, entre outros. Outra exclusão gritante da população que reside no campo é a falta de estrutura, para a implementação dos serviços de utilidade pública, a população fica à margem de muitos direitos sociais. Por exemplo, educação saúde e lazer. O agravante é que a exclusão não é relatada por muitos chefes de Estado, é como se fosse normal a falta de acesso desta população aos seus direitos sociais. As formas pelas quais as desigualdades aparecem dividem a sociedade em classes. Atualmente, existem três categorias de classes, em que cada uma apresenta um poder aquisitivo diferente: • classe alta: a que mais possui capital acumulado; • classe média: formada pelas pessoas e famílias que tra- balham e apresentam condições de manter seu sustento; • classe pobre: formada por pessoas em condições de sub- sistências precárias ou sub-humanas. Atenção Desse modo, fica claro que as desigualdades que foram potencializadas no início do capitalismo não acabaram, mas crescem cada vez mais e hoje é possível visualizar esta desigualdade de forma avassaladora entre as classes dos mais ricos e dos mais pobres, que frequentemente dependem das políticas sociais do setor público para 8 efetivação da garantia de seus direitos sociais, pois, ao contrário da classe rica, a classe pobre não consegue exercer sua cidadania sem a participação do Estado para acesso à educação, saúde, habitação, lazer, entre outros direitos sociais. Dignidade Fonte: Plataforma Deduca (2020) Com isso, devido a essa situação de desigualdade socioeconômica, a população que está em situação de vulnerabilidade, pobreza ou extrema pobreza fica à margem da sociedade, sendo vítima de uma exclusão social, uma vez que essa classe não participa das mesmas atividades do que a classe rica, ficando, assim, esquecida pela sociedade. Entretanto, a pobreza não é algo definitivo, ou seja, não é uniforme, é uma situação que está em constante mudança, variando em número e características das famílias que pertencem a esta classe. Pobreza e exclusão social no contexto do neoliberalismo Da mesma forma que em outros países, grandes obstáculos são encontrados quando se refere à garantia da igualdade, pois se convive em sociedades de contradições e diferenças econômicas e sociais, não sendo possível julgar que todas as pessoas encontrem-se em igual posição, de forma a ter um acesso aos seus direitos sociais de forma independente. Entretanto, o sistema capitalista tem como principal objetivo a acumulação da riqueza por parte de quem domina a classe trabalhadora. Por este motivo, uma parte da sociedade vive de forma inferior a outra parte, a classe dominante. Diante desta realidade, a Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 10 do mês de dezembro de 1948, realizou a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), que tem como núcleo central o reconhecimento da igualdade a 9 todos os membros da família humana, sendo esses direitos centrados na igualdade de liberdade, de justiça e da paz no mundo, isso porque foi identificado que há uma grande desigualdade social. A DUDH dispõe de 30 artigos, os quais trazem a essência à dignidade da pessoa humana. Você sabia que com a mudança do modo de produção nas fábricas, para o modelo Toyotista japonês, muitas pessoas ficaram desempregadas? Conforme Alves (2000), em decorrência do sucesso no mercado e junto com os operários que as fábricas japonesas vinham apresentando, muitos países que antes tinham suas indústrias dentro do modelo fordista/teylorista começaram a aderir ao modelo japonês/toyotismo, entre as décadas de 1970 e 1980 utilizando as técnicas de produção criadas pela Toyota. Outro processo que enfatiza a pobreza, desigualdade social e por conseguinte, contribui com a exclusão social é a falta de terra para plantar e morar. O conflito que é gerado entre os sem terra e os governos, é algo histórico no país e se agrava cada vez mais. É necessária a reforma agraria e que há décadas vem sendo requerida e o governo ainda não deu a devida atenção a essa situação, e cada vez mais a desigualdade social vem se acirrando em virtude dessa problemática. Saiba mais Da mesma forma, a Organização das Nações Unidas (ONU) se preocupou com os direitos para garantir uma igualdade humana. Os constituintes que elaboraram a Carta Magna brasileira também realizaram uma parte da Constituição voltada para os direitos sociais, os quais chamaram de direitos fundamentais. Igualdade Plataforma Deduca (2020) 10 Os artigos, que vão do 6º ao 11º, fazem referências aos direitos sociais de forma direta, porém parte do texto constitucional refere-se a direitos sociais, ou seja, o artigo 5º, muito conhecido da nossa Constituição, também faz referências a direitos sociais que precisam ser efetivados por meio das políticas públicas na vida de milhões de brasileiros, que convivem em situação de desigualdade social e não conseguem exercer sua cidadania de forma independente. Sendo assim, verificamos que a economia cada vez mais se globaliza e o capital continua acumulado nas mãos de poucos. Com isso, o sistema neoliberal prende o Estado que elabora suas políticas públicas de acordo com as necessidades do mercado, de forma que a acumulação do capital flexível trouxe situações que desfavorecem mais ainda a classe trabalhadora, pois são tirados direitos trabalhistas conquistados anteriormente, com o aumento da precarização da mão de obra, a partir dos contratos temporários e das prestações de serviços. Logo, esse novo modelo de acumulação trouxe uma nova forma de vida em sociedade, mudando, mais uma vez, a organização do trabalho a que os trabalhadores têm de se submeter como a única forma de sobreviver. Verificamos, assim, o contexto em que está sendo disseminado o trabalho irregular, precário e sem garantia, que afeta diretamente a vida social e pessoal dos operários. Acumulação do capital Plataforma Deduca (2020) Além disso, é necessário relatar que a política neoliberal destitui os direitos, uma vez que a política econômica se sobressai em conformidade à política social, com a proposição de restringir despesas. Desse modo, acontece o desmoronamento das políticas públicas universais, aumentando a seletividade por meio de programas especiais de combate, beneficiando o setor privado. 11 Beneficiando a minoria Plataforma Deduca (2020) Para finalizarmos, verificamos que o desenvolvimento econômico predomina sobre o desenvolvimento social dentro do capitalismo neoliberal, uma vez que o modelo visa o superlucro sem avaliar os impactos sociais que gera. Assim, não são tomadas medidas de prevenção contra a formação de expressões da questão social. Com isso, para que o capital seja acumulado, a desigualdade social cresce sem controle. Fechamento Estudamos a pobreza, um fenômeno que tem como determinante a desigualdade na distribuição de renda de modo histórico no sistema capitalista. Dessa forma, compreendemos que a pobreza é resultado de um processo histórico e estrutural de construção das desigualdades sociais que se agravou no capitalismo devido à apropriação privada das riquezas socialmente produzidas. Com isso, observamos que o conhecimento sobre as formas de exploração promove um entendimento sobre as desigualdades e a exclusão no sistema capitalista desde sua gênese, uma vez que o fim do feudalismo possibilitou o rompimento da visão de que o sujeito pobre é culpado pela situação vivenciada, e/ ou de quem “nasceu pobre, vai morrer pobre”, permitindo, então, o entendimento sobre a formação social, política e econômica da sociedade. Além disso, a partir da pobreza no capitalismo concorrencial, foi possível identificar o processode evolução do sistema capitalista após a Segunda Guerra Mundial até o modelo atual, que é o neoliberalismo. Desse modo, verificamos que a classe operária sofreu inúmeras mudanças em suas vidas e em suas famílias. Mudanças que promoveram maior riqueza à classe burguesa, enquanto a classe operária ficou mais pobre. 12 Referências ALVES, G. O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo, 2000. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. BRASÍLIA, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. BOSCHETTI, I. et. al. (Orgs). Política social no capitalismo: tendências contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2009. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris. 10 dez. 1948. IAMAMOTO, M. V. O Brasil das desigualdades: “questão social”, trabalho e relações sociais. SER Social, Brasília, v. 15, n. 33, p. 261-384, jul./dez. 2013.