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1 TRANSTORNOS DO HUMOR 2 TRANSTORNOS DO HUMOR DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES Segunda a Sexta das 09:00 as 18:00 ATENDIMENTO AO ALUNO editorafamart@famart.edu.br 3 Sumário Introdução .................................................................................................................. 4 Conceituação de Ansiedade ...................................................................................... 4 Classificação dos transtornos de ansiedade e de humor ........................................... 9 Classificação dos Transtornos de Ansiedade ............................................................. 9 Classificação dos Transtornos de Humor ................................................................. 11 Causas dos Transtornos do Humor .......................................................................... 14 Dimensões psicológicas ........................................................................................... 15 Dimensões socioculturais......................................................................................... 15 Diagnóstico .............................................................................................................. 16 TIPOS DE TRANSTORNOS DO HUMOR ............................................................... 18 Hipomania ................................................................................................................ 26 Transtorno Bipolar ................................................................................................... 26 Transtorno Ciclotímico ............................................................................................. 27 Referências .............................................................................................................. 29 4 Introdução Os Transtornos do Humor ou Afetivos são aqueles cujo sintoma principal é a alteração do humor ou do afeto, da energia (ânimo) e do jeito de sentir, pensar e se comportar. Acontecem com crises únicas ou se repetem, oscilando ao longo da vida. Podem ser episódios de depressão ou de mania (difere da “mania de fazer as coisas” ou “tique” – nome dado à fase de euforia do transtorno bipolar). Quando a alteração de humor é causada por outra doença ou por medicamentos, não é considerado como transtorno do humor e sim um sintoma secundário da doença estabelecida ou consequência do uso da medicação. https://www.ufba.br/ufba_em_pauta/hupes-mantem-ambulat%C3%B3rio-de- transtorno-de-humor-e-ansiedade Conceituação de Ansiedade A origem da palavra ansiedade é derivada do alemão, cuja raiz angh, significa estreitamento ou constrição, aperto. O radical Grego Anshein, significa: estrangular, sufocar, oprimir. No latim, seu sinônimo seria angustus, que expressa desconforto ou 5 angor que significa falta de ar, opressão ou ainda angere significando constrição, sufocação, pânico (Nardi, 2006). Para os gregos o termo depressão recebia o nome de melancolia, cunhado por Hipócrates (400 a.C.), sendo utilizado para descrever uma síndrome ou variações negativas de humor. Hipócrates, que deu início à busca de bases naturais para os transtornos mentais, ligou a melancolia ao acúmulo da denominada “bile negra” no organismo dos pacientes (de melános negro + cholé, bile). A depressão, desde essa época, caracterizava-se por tristeza profunda, o afastamento da realidade externa, sentimentos de culpa e tendência ao suicídio. Pensava-se que era preciso expulsar do organismo o humor daninho, e para isto utilizavam-se purgativos (Nardi, 2006). No século XIX, o estabelecimento do humor como uma função mental, a valorização dos sentimentos e emoções reforçadas pelo romantismo, o fracasso do modelo anátomo-clínico, que é a busca de correspondência entre lesões cerebrais e sinais e sintomas mentais e o nascimento da Psicopatologia, deram origem ao ímpeto classificatório dos transtornos mentais (Nardi, 2006). A segunda metade do século XX destacou-se quanto à prática psiquiátrica no que diz respeito ao diagnóstico e ao tratamento dos transtornos mentais. Este último recebeu uma ajuda fundamental, pois na década de 1950, houve a descoberta de duas classes de medicamentos antidepressivos (Nardi, 2005) A ansiedade é uma emoção cujos componentes são psicológicos e fisiológicos, fazendo parte do espectro normal das experiências humanas. É um sinal de alerta, permitindo ao indivíduo ficar atento a um perigo iminente e utilizar recursos necessários para lidar com esta ameaça. Ela permite ao indivíduo reunir os comportamentos eficientes para lidar da melhor maneira com uma determinada situação. Em outras palavras é um sentimento útil, nem sempre é a vilã da história. Foi ela que preservou nossa espécie até os dias atuais (Nardi, 1998). Segundo Nardi, “sem ansiedade estaríamos vulneráveis aos perigos e ao desconhecido, sendo algo que está presente no desenvolvimento normal, nas mudanças e nas experiências inéditas.” Certos graus de ansiedade podem ser considerados benéficos, preparando o indivíduo adequadamente para tarefas cotidianas. No início do século XX, esse 6 princípio foi proposto através da Lei de Yerkes-Dodson (1908), que diz o seguinte: existe um ponto ótimo de ansiedade necessário para a melhor execução de uma determinada atividade. A figura 2.1 ilustra graficamente que a relação entre ansiedade e desempenho toma a forma de uma curva em “U” invertido; ou seja, até um determinado ponto, o aumento da ansiedade tem a capacidade de aumentar o desempenho. Em contrapartida, aumentar ansiedade além de um determinado grau provoca a redução de desempenho. A Lei de Yerkes-Dodson sugere ainda que o ponto ótimo para a execução de uma determinada tarefa depende do seu grau de dificuldade. Assim, tarefas mais fáceis necessitam níveis maiores de ansiedade em relação a tarefas mais difíceis. Todavia, níveis exageradamente elevados de ansiedade sempre prejudicam a execução de uma tarefa, seja ela fácil ou difícil, caracterizando-se assim o seu aspecto patológico (Cristian, 2007; Yerkes e Dodson, 1908). Lei de Yerkes-Dodson Ansiedade Figura - Lei de Yerkes-Dodson (Cristian, 2007). Ponto ótimo da ansiedade para tarefas difíceis Ponto ótimo da ansiedade para tarefas médias Ponto ótimo da ansiedade para tarefas fáceis P e rf o rm a n ce 7 Segundo Nardi (1998) a ansiedade permite a um estudante que terá seus conhecimentos testados, estudar o suficiente para ter maior segurança e, conseqüentemente, menor ansiedade; ou, então, que um jovem se prepare demoradamente e com vários detalhes irrelevantes para um encontro amoroso. Após algum tempo, a preparação para o encontro com uma antiga namorada torna-se quase desnecessária, já que não há mais ansiedade (Nardi, 1998). Dessa maneira, a ansiedade parece ser, em determinados níveis, um fenômeno adaptativo, uma vez que ela tem a capacidade de aperfeiçoar ou potencializar recursos do indivíduo frente a exigências do meio. Nessa mesma linha de pensamento, Levenson (1999) define a ansiedade como uma emoção capaz de organizar comportamentos eficientes para atender às exigências dinâmicas do ambiente. A ansiedade é uma sensação difusa, desagradável, de apreensão, acompanhada por várias sensações físicas: mal-estar gástrico, dor precordial, palpitações, sudorese excessiva, cefaléia, etc. Os padrões individuais físicos de ansiedade variam amplamente. Alguns indivíduos apresentam como sintomas cardiovasculares, outros apenas sintomas gastrintestinais, e há aqueles que apresentam apenas um sintoma, como sudorese excessiva (Nardi, 1998). A ansiedade é considerada patológicaquando é desproporcional à situação que a desencadeia, ou quando não existe um objeto específico ao qual se direcione (Andrade e Gorestein, 1998). Entre os diversos transtornos emocionais conhecidos, o da ansiedade vem afetando e incapacitando inúmeros indivíduos em diferentes níveis. “Os transtornos de ansiedade estão entre os transtornos psiquiátricos mais freqüentes na população geral, com prevalências de 12,5% ao longo da vida e 7,6% no ano” (Andrade e Gorestein, 1998). Uma característica importante desse transtorno é a distorção da percepção da realidade, acarretando interpretações alteradas em situações diárias. 8 Essas interpretações alteradas ocorrem tanto nos níveis cognitivos (se expressando por meio de preocupações excessivas, sensação de fracasso iminente, confusão mental), como alterações comportamentais (agitação psicomotora, tremores musculares) e também sintomas fisiológicos (náusea, sudorese, palpitação) (Landeira, 1998). Tanto as escalas de Beck como as de Hamilton (estudadas no presente trabalho), utilizadas para quantificação dos sintomas apresentados por pacientes portadores de transtornos de humor e ansiedade, possuem questões que avaliam alterações cognitivas, comportamentais e fisiológicas. Assim como a ansiedade, o humor também tem uma função adaptativa para a sobrevivência humana. Quando o humor é normal, a capacidade de interpretar os estímulos externos e internos de maneira adequada está preservada, ou seja, o indivíduo é capaz de compreender de forma adequada se o ambiente lhe é favorável ou não, e também de modular suas respostas. Quando o ambiente é favorável, as pessoas de humor normal agirão de forma mais confiante e segura, da mesma forma que se retrairão quando o ambiente for hostil (Nardi, 2006). A tristeza é um sentimento normal e faz parte do espectro das emoções humanas. Ela se manifesta diante de uma à frustração, decepção, perda ou fracasso. A tristeza não compromete a capacidade de raciocinar, de desempenhar atividades normais ou de reagir de forma favorável a uma boa notícia. Normalmente, com o passar do tempo, a tristeza diminui, e retorna somente quando o episódio que a desencadeou é lembrado (Nardi, 2006). A depressão é uma doença com sintomas físicos e psíquicos bem claros, definidos e intensos, que ocorrem na ausência de um fator ambiental desencadeante, ou que é de desproporcional e anormalmente duradoura quando relacionada a um evento estressante ou entristecedor. Na depressão, mesmo eventos agradáveis, são percebidos como hostis. As pessoas acometidas por esta doença, não têm forças para buscar estímulos prazerosos e ao perceberem tal incapacidade, tornam-se irritáveis, aumentando a sensação de mal-estar (Nardi, 2006). 9 Classificação dos transtornos de ansiedade e de humor “Embora seja possível falar em doenças em grande parte das patologias cerebrais, a rigor não é adequado fazer o mesmo na maioria das condições mentais mórbidas” (Lent, 2008). Isto porque o mecanismo fisiológico que leva às doenças (fisiopatologia) destes transtornos, embora venha crescendo bastante, ainda é insuficiente. Daí a necessidade de criar outro termo para designar estas condições. Tanto o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 4ª edição, texto revisado (DSM-IV-TR, 2000), da Associação Americana de Psiquiatria quanto a Classificação Internacional de Doenças, 10ª edição (CID – 10), da Organização Mundial de Saúde, adotam “transtornos mentais” para descrever condições mentais mórbidas (Lent, 2008). Constam no DSM-IV-TR dez classificações dos transtornos de humor e quatorze classificações dos transtornos de ansiedade. Classificação dos Transtornos de Ansiedade Dentre os Transtornos de Ansiedade a seguir, os mais abordados no presente trabalho, assim como os relacionados com este, compreendem: Ataque de Pânico, Transtorno de Pânico com ou sem agorafobia, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Agorafobia sem história de Transtorno de pânico, Fobia Social, Fobia Específica, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno do Estresse Pós- Traumático (TEPT). A seguir é apresentada uma breve descrição destes exemplos de transtornos de ansiedade que foram referidos. Em um ataque de pânico, o indivíduo tem sintomas físicos como: desconforto no peito, vertigem, falta de ar, palpitação, dormência, sudorese, tremores entre outros e também experimenta uma sensação de morte iminente, pensa que está tendo um ataque cardíaco, “enlouquecendo”. Os ataques duram em média 10 minutos. Ele pode ser inesperado (não-provocado), situacionalmente limitado (provocado) ou situacionalmente predisposto. Segundo o DSM- IV- TR, o Transtorno de Pânico está subdivido em: 1) Transtorno de Pânico com agorafobia e 2) Transtorno de Pânico sem agorafobia. O diagnóstico de Transtorno de Pânico é feito, quando o indivíduo tem 10 ataques de pânico inesperados e recorrentes seguidos por um mês de ansiedade antecipatória persistente ou mudança de comportamento (esquiva). O quadro clínico da agorafobia consiste em medos múltiplos e comportamento de esquiva centralizado em três temas principais: medo de sair de casa, medo de ficar sozinho e medo de estar fora de casa em situações em que pode se sentir ameaçado. O paciente passa a ter pavor de ter um novo ataque, então nos intervalos entre as crises ele desenvolve um comportamento de esquiva fóbica com o intuito de se preservar do ataque seguinte. O TAG tem como característica principal uma ansiedade crônica e persistente e preocupação excessiva, presentes há pelo menos seis meses. Os sintomas dessa categoria diagnóstica dividiram-se em dois grupos: 1) expectativa e preocupação apreensivas e 2) sintomas físicos. Esses pacientes são constantemente preocupados com questões triviais, são medrosos e esperam sempre o pior. Tensão muscular, inquietação, insônia, dificuldade de concentração, irritabilidade, são sinais típicos do TAG. Na Agorafobia sem história de Transtorno de Pânico têm que existir os sintomas de agorafobia e o indivíduo não pode preencher os critérios diagnósticos de Transtorno de Pânico. O principal medo na Fobia Social é o de agir de maneira em que possa ser humilhado ou ficar embaraçado diante de outrem. Esses indivíduos temem e muitas vezes evitam situações sociais ou evitam realizar tarefas na frente dos outros. As fobias sociais típicas são: falar, comer ou escrever em público, usar banheiro público, comparecer a reuniões. Seu maior medo é o das pessoas perceberem sua ansiedade e por conta disso serem ridicularizados. Fobia Específica é definida como o medo persistente e irracional de um objeto, atividade ou situação específica que resulta em um desejo incontrolável de evitá-los (estímulo fóbico). Essa característica é observada em outros transtornos psiquiátricos, porém esse diagnóstico só é feito quando a fonte de sofrimento é o estímulo fóbico e não o resultado de outro transtorno mental. No que se refere ao TOC as características principais são obsessões e compulsões. Obsessões são idéias, pensamentos, impulsos ou imagens persistentes 11 que são vivenciados como intrusivos. O conteúdo da obsessão é estranho e não está dentro do seu próprio controle. Os temas mais comuns giram em torno de contaminação (por ex: ser contaminado em apertos de mão), dúvidas repetidas (por ex: imaginar se forem executados certos atos como machucar alguém em um acidente de trânsito), uma necessidade de organizar as coisas (por ex: intenso sofrimento quando os objetos estão desorganizados). O indivíduo com obsessões em geral tenta suprimi-los ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação (comportamento). As compulsões são comportamentos repetitivos (por ex: lavar as mãos) ou atos mentais (por ex: orar, contar) cujo objetivo é prevenir ou reduzir a ansiedade ou sofrimento. No TEPT tem queexistir antes do desenvolvimento do transtorno, o que lhe faz diferente dos outros transtornos do grupo, um fator de estresse ou trauma precipitante. Então o indivíduo é exposto a um extremo estressor traumático, envolvendo experiência pessoal direta de um evento real ou ameaçador que envolve morte, sério sofrimento ou outra ameaça à própria integridade física. O evento pode ser revivido de várias formas. Normalmente a pessoa tem recordações recorrentes e intrusivas do fato, podem ocorrer sonhos agonizantes trazendo um intenso sofrimento. Classificação dos Transtornos de Humor Em relação aos Transtornos de Humor, os diagnósticos abordados neste trabalho são: Transtorno de Depressão Maior (TDM) e Transtorno Bipolar, apesar de também estarem descritos o Transtorno Distímico e a Depressão Psicótica. O que caracteriza o TDM são a presença de anedonia (prazer) e tristeza assim como alteração do sono, do apetite, uma sensação de estar sendo punido, culpa. Compreende também sintomas físicos como falta de energia, cansaço podendo estar presentes dores musculares. Os sintomas têm que estar presente por duas semanas. O Transtorno Distímico apresenta semelhanças com o TDM no sentido de apresentarem os mesmos sintomas com exceção no que diz respeito ao número de sintomas presentes e o tempo mínimo de duração. Enquanto para o diagnóstico de TDM é necessária a presença de quatro sintomas persistentes durante duas semanas, 12 no Transtorno Distímico é preciso que existam apenas 2 sintomas num período de 2 anos. A Depressão Psicótica se refere ao episódio depressivo maior somado de sintomas psicóticos, como delírios e alucinações. O Transtorno Bipolar é caracterizado pela presença de sintomas depressivos e sintomas maníacos. A paciente alterna seu humor indo de um pólo ao outro. Além de apresentarem sintomas depressivos, como os descritos acima, apresentam também mania onde está presente o humor exaltado, sono diminuído, pressão para falar, pensamento muito acelerado (taquipsiquismo), ocasionando a perda da linha de raciocínio (fuga de idéias), agitação psicomotora entre outros. Neurobiologia da Ansiedade e da Depressão Neurobiologia da Ansiedade Toda emoção é uma experiência subjetiva acompanhada de manifestações fisiológicas detectáveis por métodos da neurociência. Esses correlatos fisiológicos, que são respostas do Sistema Nervoso Autônomo, podem ser detectáveis também por meio de manifestações comportamentais (respostas motoras), e, portanto observáveis e quantificáveis. Nos seres humanos, a experiência subjetiva é de difícil acesso dificultando a exata identificação destas manifestações (Lent, 2005). A expressão das emoções é inata e tem um valor de sobrevivência do indivíduo e da espécie e funciona como comunicação social, por isso ela foi mantida e passada de uma geração para outra. Os psicofisiologistas têm utilizado indicadores comportamentais e fisiológicos das emoções para estudar a sua base neurobiológica (Lent, 2005). Normalmente são utilizados animais normais e outros com alguma lesão no sistema nervoso, o animal é treinado a realizar tarefas sob condições ansiogênicas e então é registrado seu comportamento ou reações autonômicas. O medo, a ansiedade e o estresse são emoções negativas, pois provocam desprazer aumentando a freqüência cardíaca, a sudorese, empalidecimento entre 13 outras manifestações fisiológicas. Esses sintomas são comuns caso o indivíduo se sinta ameaçado por algum estímulo. Ele pode ser rápido e passageiro quando uma pessoa ao caminhar pela rua, repentinamente, ouve o som de uma buzina e tem uma reação de sobressalto levando um susto, essa sensação desaparece logo em seguida. Outras vezes o estímulo é realmente ameaçador, prolongando o medo. Quando isso acontece durante muito tempo, esse medo e estado de tensão tornam- se crônicos transformando essa emoção em um transtorno de ansiedade que pode gerar também problemas físicos como gastrite e úlcera (Lent, 2005). O termo ansiedade é geralmente reservado a um estado de tensão ou apreensão cujas causas não são necessariamente produtoras de medo, mas sim da expectativa de alguma coisa, nem sempre ruim, que acontecerá no futuro próximo (Lent, 2005). Na ansiedade e no estresse os ajustes fisiológicos extrapolam o âmbito do Sistema Nervoso Autônomo e atingem o sistema endócrino e imunitário (Lent, 2005). A ativação do Sistema Nervoso Simpático causa taquicardia, sudorese entre outros sintomas, mas também causa a estimulação da supra-renal, cujas células secretam adrenalina e noradrenalina. A liberação desses hormônios na corrente sanguínea torna os sintomas mais prolongados. Neurobiologia da Depressão Embora flutuações do humor ao longo do dia sejam normais, em alguns indivíduos elas podem se tornar excessivas em intensidade e/ou duração, caracterizando um transtorno do humor (Lent, 2008). As causas da depressão ainda não estão claras, mas existe um componente hereditário, e os familiares de primeiro grau apresentam um risco 1,5 a 3 vezes maior do que a população geral. Além disso, a exposição a estressores tem papel muito importante no desenvolvimento de quadros depressivos (Lent, 2008). O termo estresse é de difícil definição, mas pode ser entendido como uma ameaça ao equilíbrio dinâmico essencial à sobrevivência dos seres vivos. O pesquisador austríaco Hans Seyle (1907-1982) autor de um trabalho pioneiro em 14 Montreal, reconheceu que a exposição repetida a estímulos lesivos produzia uma reação corporal que incluía o aparecimento de úlceras pépticas, aumento das supra- renais e atrofia de tecidos linfáticos. Essa reação foi denominada originalmente “síndrome geral de adaptação” e, mais tarde, “estresse”. Existe o aumento significativo na incidência de eventos estressantes incontroláveis no trimestre que precede o início de quadro depressivo. Além disso, existem sugestões da presença, na depressão, de sensibilização crescente a estressores (Lent, 2008). Embora não esteja claro se a depressão está associada a uma redução na neurogênese, que é a capacidade que o sistema nervoso central tem de formar novos neurônios, ou se mudanças no volume hipocampal fazem parte da fisiopatologia da depressão. Estudos com animais têm mostrado que o estresse reduz a neurogênese nessas regiões e que diversas classes de antidepressivos aumentam a taxa de neurogênese no hipocampo. A hipótese resultante é que o estresse crônico reduz a neurogênese em um importante grupo de neurônios do cérebro, levando a um episódio depressivo em indivíduos geneticamente vulneráveis (Lent, 2008). A primeira medicação antidepressiva produzida foi a imipramina. Ela faz parte do grupo dos antidepressivos tricíclicos e tem a função de bloquear a recaptação de norepinefrina e serotonina (neurotransmissores) pelos terminais axônicos pré- sinápticos, melhorando os sintomas da depressão (Lent, 2008). Sinapses são estruturas altamente especializadas, que fazem a transmissão de um impulso nervoso de um neurônio para outro. Pouco se sabe sobre os mecanismos responsáveis pelas flutuações de humor nos transtornos bipolares. No entanto, a semelhança entre os sintomas maníacos e aqueles provocados por substâncias que facilitam a neurotransmissão dopaminérgica sugere o envolvimento desse neurotransmissor (Lent, 2008). Causas dos Transtornos do Humor Dimensões biológicas 15 As pesquisas demonstram que os achados relacionados a alterações em sistemas de neurotransmissão tornam-se pouco representativos se avaliados de forma isolada, entretanto, modelos genéticos, neuroanatômicos, neuroquímicos e de neuroimagem têm apresentado importantes referenciais teóricos e conceituais que permitem maior compreensão acerca do funcionamento de determinados mecanismos biológicos quanto a apresentação clínica, o curso e a resposta farmacológica.Dimensões psicológicas Os acontecimentos estressantes da vida, entre eles, o estresse e o trauma contribuem grandemente para o desencadeamento do transtorno de humor. É importante identificar os aspectos psicossociais que antecederam o quadro clinico como: o contexto, o sentido e o significado que o paciente atribui ao momento. Isso é importante, pois as situações estressantes, como a perda do emprego, não é aspecto suficiente para provocar sintomas depressivos. Barlow (2009) afirma que as pessoas ficam ansiosas e deprimidas quando decidem ou são obrigadas a fazer algo em que elas não têm controle. A depressão pode resultar da tendência de interpretar os acontecimentos cotidianos de forma negativa ou a generalização excessiva (por ex.: ficar reprovado por que tirou uma nota baixa, mesmo que as outras notas sejam boas ou ainda há tempo de recuperar as notas). Desta forma, a depressão pode estar associada a explicações e pensamentos negativos dos fatos da vida (MÁXIMO, 2010). Dimensões socioculturais Relações matrimoniais insatisfatórias ou rompimentos de laços afetivos podem frequentemente contribuir para o surgimento da depressão. As mulheres divorciadas apresentam quadro de depressão grave três vezes maior que as mulheres casadas. Por outro lado, a depressão pode contribuir para a separação matrimonial, pois a tendência é buscarmos ficar longe de alguém negativo, pessimista ou doente, pois as 16 emoções são contagiosas e o parceiro começa a sentir-se mal, precipitando discussões e por fim, a separação (BARLOW, 2009). Em todo o mundo, o Transtorno Bipolar é dividido igualmente entre homens e mulheres, entretanto a Depressão Maior é 70% mais frequente em mulheres devido estarem mais expostas a pobreza, discriminação, assédio sexual e moral, dupla jornada de trabalho e salários menores. Por outro lado, mulheres que trabalham fora, tem independência financeira, exercem papel de autoridade no trabalho e no lar apresentam os mesmos índices de depressão que os homens (BARLOW, 2009). Basear-se em explicações isoladas acerca dos Transtornos do Humor não justifica o surgimento da doença. É necessário perceber como se integram as dimensões biológicas, físicas e socioculturais para a compreensão das causas e o desencadeamento do transtorno de humor. Diagnóstico Os Transtornos do Humor, entretanto, violam o critério de normalidade, no que diz respeito à intensidade, a duração e a qualidade do estado emocional que nem sempre coincide com a situação vivenciada. (HOCKENBURY, 2003) O transtorno de humor segundo o DSM IV constitui-se do agrupamento daquilo que é chamado de transtornos depressivos, transtornos afetivos ou neuroses depressivas. 17 Os Transtornos do Humor segundo o DSM IV dividem-se em: Os transtornos severos podem ou não ser acompanhados de delírios, de alucinações e de alterações da consciência do eu. Além dessa característica semiológica, os Transtornos do Humor têm uma característica evolutiva importante: evoluem por fases, em cujos intervalos o paciente recupera toda a integridade psíquica anterior ao seu adoecimento. Os indivíduos que apresentam depressão ou mania sofrem de Transtornos do Humor unipolar, pois a alteração de humor fica apenas em um polo. É raro acontecer casos de mania unipolar e frequente os casos de depressão unipolar. Há aqueles que o humor varia entre a depressão e a mania, nesse caso são chamados de transtorno bipolar. E há ainda aqueles que mesmo com sintomas maníacos pode sentir-se deprimido ao mesmo tempo, a esses casos são chamados de disforia ou episódio misto. (SOLOMON, 2003) A depressão e a mania variam de pessoa para pessoa no que se refere a gravidade e frequência que os episódios se repetem e até nos sintomas manifestados. 18 Desta forma os sintomas característicos apresentados no DSM IV e no CID 10 servem como marcadores que nos auxiliam no diagnóstico, mas tomados isoladamente pode conduzir a equívocos. TIPOS DE TRANSTORNOS DO HUMOR Transtornos depressivos O risco para depressão resulta da influência de múltiplos genes, agindo junto com fatores ambientais e outros não genéticos, tais como: [...] história familiar de depressão ou suicídio, experiências traumáticas na infância, fraco suporte social, baixo nível socioeconômico, abuso de drogas (lícitas ou ilícitas), puerpério, residir em área urbana, ser portador de condição clínica grave/crônica (câncer, diabetes, cardiopatia, Alzheimer, HIV), e eventos de vida estressores (perda de um ente querido, desemprego). (CHIAVERINI, 2011). https://zenklub.com.br/blog/saude-bem-estar/transtornos-de-humor-conheca- os-principais-tipos/ O diagnóstico da depressão é clínico e baseado na história do paciente e nos sintomas apresentados. Os pacientes relatam redução das atividades, perda de iniciativa, tristeza, alterações do sono e apetite, alterações sexuais, falta de prazer, https://zenklub.com.br/blog/saude-bem-estar/transtornos-de-humor-conheca-os-principais-tipos/ https://zenklub.com.br/blog/saude-bem-estar/transtornos-de-humor-conheca-os-principais-tipos/ 19 rebaixamento da atenção e concentração, pensamento pode estar com curso lentificado, sem alteração da forma e com conteúdo depressivo de menos valia, de culpa e até de suicídio. A aparência pode ser descuidada, barba por fazer, cabelos em desalinho ou penteados parcialmente, pouco contato visual, cabeça baixa e lentidão psicomotora. Os subtipos podem apresentar predominância e gravidade variáveis de sintomas. Transtorno depressivo maior ou depressão Grave É um quadro que devemos ter muito cuidado em caracterizar, pois o atual modismo do diagnóstico de “depressão” leva muitas vezes a equívocos. Trata-se de diferenciar os quadros graves de depressão dos quadros moderados e leves. A diferença não é apenas a intensidade da depressão. O episódio depressivo grave pode ou não ser acompanhado de sintomas como delírios e, mais raramente, alucinações e alterações da consciência do eu. Quando o delírio está presente, costuma ter um conteúdo de autoacusação: o paciente sente desprezo por si mesmo, acusa-se de erros, pecados, ou mesmo crimes que teria cometido, acredita que será punido seja pela ruína financeira, pela morte, pela doença, pela condenação eterna, ou qualquer outro castigo terrível. (BARLOW, 2009). Sintomas comuns na Depressão Grave Sintomas emocionais • Sentimento de tristeza, desânimo, inutilidade, culpa, vazio ou insignificância; • Sentir-se emocionalmente distanciado dos outros; • Afastar-se das pessoas. • Sintomas Comportamentais 20 • Expressão facial de desalento; • Faz menos contato visual, olha para baixo; • Sorri com menos frequência; • Movimentos, fala e gestos lentos. • Choroso ou episódios espontâneos de choro; • Perda de interesse ou prazer em atividades usuais, incluindo sexo; • Auto exclusão de atividades sociais. Sintomas Cognitivos • Dificuldade para pensar, concentrar-se e lembrar-se; • Negativismo e pessimismo global; • Pensamentos suicidas ou preocupação com a morte. Sintomas físicos • Mudanças no apetite resultando em significativa perda ou ganho de peso; • Insônia, acordar muito cedo ou dormir demais; • Dores vagas, mas crônicas; • Diminuição do interesse sexual; • Perda de energia física ou mental; • Sentimentos gerais de ansiedade; • Inquietação e desassossego; O suicídio é um risco nos casos de depressão grave à medida que os pensamentos tornam-se totalmente pessimista em relação a si mesmo, ao mundo e ao futuro. O transtorno depressivo maior pode ser de episódio único ou recorrente, sendo este último caracterizado por dois ou mais episódios depressivos que se repetiram e foram separados por período de pelo menos 02 meses. As pessoas com esta doença geralmente têm familiares com histórico de depressão. Tiposde depressão melancólica: É caracterizada por uma lentificação geral e perda da capacidade de prazer ou de sentir emoções. Há um predomínio de insônia, 21 perda de apetite com eventual perda de peso, pensamento de culpa, ruína e pessimismo. A reversão do quadro pode levar semanas e o apoio psicoterápico é fundamental. Atípica: Sua principal característica é a hiperatividade emocional, excesso de sono e de apetite. Psicótica: Possui sintomas psicóticos como agravantes, quando há predomínio de delírios (com conteúdo coerente ou incoerente em relação ao humor). Mesmo com tratamento farmacológico a resposta é demorada e difícil. Sazonal: padrão de repetição de episódios depressivos, sempre na mesma época do ano, em especial em períodos frios ou chuvosos. Boa resposta terapêutica com fototerapia. Distimia: Se caracteriza por um humor persistentemente deprimido que dura cerca de 2 anos. Diferencia-se da depressão grave devido a menor intensidade dos sintomas. É uma depressão crônica de grau baixo (HOCKENBURY, 2003). Pode até não haver grande prejuízo na vida funcional, mas pode continuar por vários anos desencadeando episódios de depressão maior. Depressão em Populações específicas Depressão na infância e juventude É bastante complexo definir o quadro clínico da depressão entre as crianças e os adolescentes, devido às mudanças físicas e cognitivas que ocorrem nessa fase da vida. Entretanto crianças com depressão têm, com frequência, muitos problemas, como fracasso escolar, funcionamento psicossocial comprometido e transtornos psiquiátricos comórbidos, tais como transtornos de conduta, estados de ansiedade, problemas de aprendizagem, hiperatividade, anorexia nervosa e recusa a frequentar a escola (BAHLS, 2002; HARRINGTON, 2005; CALDERARO & CARVALHO, 2005) Por não ter, muitas vezes, consciência do perigo, a criança com depressão pode exibir comportamentos de risco como forma de chamar a atenção das pessoas para o seu sofrimento, por ter dificuldade de expressar o que sente. 22 É bastante comum que a criança depressiva se envolva em situações que tragam perigo à sua integridade física, inclusive tentativas de suicídio, no entanto, os meios escolhidos são menos eficazes e muitas vezes o gesto é identificado como sendo “coisa de criança”. Daí é necessário que os pais e profissionais da área da saúde estejam atentos que crianças também apresentam conflitos existenciais e que uma tentativa de suicídio não é “brincadeira de criança sadia. ” (CALDERARO & CARVALHO, 2005) Nos adolescentes o quadro da depressão é bastante preocupante e é mais frequente naqueles vindo de famílias com altas taxas de psicopatologia, podendo ter experimentado eventos vitais adversos. Normalmente, o primeiro episódio acontece entre 12 e 19 anos. Do ponto de vista clínico, os sintomas apresentados são muito similares aos dos adultos. (CALDERARO & CARVALHO, 2005) A baixa autoestima, a piora no desempenho escolar, a ideação e tentativa de suicídio (com altas taxas de letalidade – podendo chegar a 10% nos casos de depressão grave), bem como problemas graves de comportamento, uso abusivo de álcool e drogas tornam a depressão nessa fase da vida particularmente preocupante (BAHLS, 2007). Uma estrutura familiar adequada, uma relação materno-infantil saudável, num contexto social menos empobrecido, bem como o tratamento dos familiares com depressão é essencial para se prevenir o aparecimento do transtorno depressivo entre crianças e adolescentes (CALDERARO & CARVALHO, 2005). Transtorno depressivo na Gestação e Puerpério No que se refere à gestação, pode-se dizer que, mesmo quando desejada, ela é sempre fonte de stress. São considerados fatores de risco na etiologia da depressão na gravidez e no puerpério: pertencer a estratos econômicoeducacionais mais baixos, desemprego, ser mãe solteira e jovem, histórias familiar e pessoal de transtornos do humor, eventos de vida negativos, conflitos conjugais, falta de apoio social e ambivalência sobre a gestação. A depressão durante a gravidez estaria ainda associada ao tabagismo e ao abuso de drogas, sem relação de causa e efeito bem estabelecida (CHIAVERINI 2011). 23 Também se correlacionou pouco sono na gravidez com o desenvolvimento de quadro depressivo no período pós-parto. Portanto, investigar se a paciente está dormindo pouco e orientá-la no sentido de modificar tal situação, convocando a ajuda da família, se necessário, pode ser importante na prevenção de episódios depressivos. (CHIAVERINI 2011). Depressão em mulheres Vários estudos têm sido conduzidos com o intuito de se aferir os fatores explicativos para as diferenças observadas entre os sexos na depressão. Holmes (2001) apresenta algumas razões que explicariam a maior prevalência da depressão no sexo feminino. Como resultado dos seus papéis sociais, elas costumam se sentir mais livres para expressar seus sentimentos em geral, e, em particular, aqueles sentimentos negativos associados à depressão, o que facilita o diagnóstico; São frequentemente mais expostas aos tipos de situações que desencadeiam um processo depressivo: baixos níveis de escolaridade, baixa renda, doença atual e doença recente (depressão reativa); Existem diferenças fisiológicas e hormonais entre os sexos que as predispõe à depressão. O matrimônio parece também explicar algumas diferenças observadas entre homens e mulheres na depressão. Almeida-Filho (2004) mostrou que entre as mulheres solteiras a taxa de prevalência da depressão era menor, se comparada à taxa das mulheres casadas, divorciadas ou viúvas. Outro subtipo de depressão associado às mulheres é o Transtorno Disfórico Pré-menstrual, que envolve a depressão que precede a menstruação. Sintomas como humor depressivo, irritabilidade, ansiedade, interesse reduzido, entre outros, deve estar presente por alguns meses para que a mulher seja 24 diagnosticada com esse transtorno. Estima-se que 3% a 5% da população feminina sejam acometidas por esse tipo de depressão (MÁXIMO, 2011). Não se deve confundir o Transtorno Disfórico Pré-menstrual com a Síndrome Prémenstrual. A Síndrome Disfórica Pré-Menstrual é um padrão de sintomas muito mais extremo e sério, que demanda tratamento e cuidados médicos, sendo, portanto, um transtorno que traz prejuízos consideráveis à vida das mulheres (HOLMES, 2001; YONKERS & STEINER, 2001). Tipos de Tratamentos O tratamento da depressão pode se dar através de psicoterapia e/ou do uso de medicamentos antidepressivos. Existem vários tipos de psicoterapias que podem ser aplicadas para o tratamento da depressão (terapia cognitivo-comportamental, psicanálise, psicoterapia breve, etc.). ESTÁGIOS DA MANIA ESTÁGIO I ESTÁGIO II ESTÁGIO III HUMOR Lábil, eufórico, irritável se contrariado. Disforia e depressão, hostil e irado. Claramente disfórico, em pânico, desesperado. PENSAMENTO E COGNIÇÃO Expansivo, grandioso; Hiperconfiante; Pensamento acelerado, corrente ou tangencial; Preocupações religiosas e sexuais. Fuga de ideias, desorganização, ideias deliróides. Inocente, associações frouxas, bizarro, idiossincrásico, alucinações, desorientação ideias de referência ideias deliróides. COMPORTAMENTO Aceleração psicomotora, maior iniciativa de discurso, gastos, tabagismo e telefonemas excessivos. Hiperatividade, maior pressão do discurso, agressões físicas. Atividade frenética e bizarra. 25 O tratamento medicamentoso da depressão, por sua vez, visa proporcionar, na maioria dos casos (especialmente nos leves a moderados), uma recuperação inicial do indivíduo permitindo que ele perceba a necessidade de continuar o tratamento para a manutenção do seu bem-estar e/ ou para prevenir futuras recaídas (Nardi, 2006). Cerca de dois terços dos pacientesmelhoram com o auxílio de antidepressivos. Num prazo de duas semanas, normalmente, a medicação começa a surtir algum efeito, mas a duração mínima de um tratamento é de seis meses. O uso de antidepressivos resulta em uma melhora de 60% a 70% dos sintomas no prazo de um mês, ao passo que a taxa de placebo gira em torno de 30% (VIERIA, 2008). Episódio de mania Constata-se uma exaltação vital bastante característica. A pessoa fala sem parar, mal escutando o que lhe dizem, muda rapidamente de um assunto para o outro. A pessoa encontra extremo prazer em cada atividade sendo caracterizada por aspectos de grandiosidade e expansividade, com diminuição da necessidade de sono, que podem culminar em exaustão. Age como se fosse todo-poderoso – por exemplo, adquirindo bens muito acima de suas posses. Toda sua vida psíquica encontrase acelerada, o que se revela nos gestos, na mímica, na fala. A sexualidade e o apetite costumam achar-se tão exacerbados quanto estão inibidos na melancolia. Assim como a depressão, a mania pode ou não ser acompanhada de delírios, e, mais raramente, de alucinações. Os delírios, quando presentes, estão em sintonia com a elevação do humor, com temas de grandeza e poder. De modo geral dura uma semana, se tratado. Nos casos graves podem necessitar de internação (envolver-se em situações auto ou hetero destrutivas). A irritabilidade também pode se fazer SINONÍMIA Hipomania Mania franca Mania delirante (Psicose indiferenciada) 26 presente, em especial no período final. Quando não tratados podem durar até seis meses. (SELLARO, 2000). Hipomania A hipomania caracteriza-se como um estado semelhante à mania, porém mais leve; em geral, é breve. Há mudança no humor habitual do paciente para euforia ou irritabilidade, reconhecida por outros, além de hiperatividade, tagarelice, diminuição da necessidade de sono, aumento da sociabilidade, atividade física, iniciativa, atividades prazerosas, libido e sexo e impaciência. O prejuízo ao paciente não é tão intenso quanto o da mania. A hipomania não se apresenta com sintomas psicóticos, nem requer hospitalização. Transtorno Bipolar O Transtorno bipolar é caracterizado pela oscilação extrema do humor entre uma fase maníaca caracterizada por sintomas de hiperatividade física e mental ou fase hipomaníaca constituída por sintomas como depressão, inibição, lentidão para conceber e realizar ideias, ansiedade ou tristeza. Quando atendemos um paciente em mania ou depressão, é importante pesquisar se já apresentou antes o quadro oposto. Na maioria dos casos, o transtorno bipolar é um transtorno recorrente e comumente ocorre a cada 2 anos, quando há a suspensão da medicação. (HOCKENBURY, 2003) Somente de 10% a 13% dos casos de transtorno bipolar I progridem para o tipo II. O suicídio é uma consequência comum no transtorno bipolar e quase sempre na fase depressiva. As estimativas de tentativas de suicídio são de 17% para o tipo I e 24% para o tipo II. (Barlow, 2008). Os critérios para o Transtorno Bipolar tipo i apresentam os mesmos citados no episódio de mania. Mas a diferença está no fato que os indivíduos com transtorno bipolar I vivem episódios de mania completo. A idade média para o surgimento deste tipo de transtorno é a idade média de 18 anos. 27 No Transtorno Bipolar tipo ii os episódios depressivos se alternam com episódios hipomaníacos, em vez de episódios maníacos completos, sendo que normalmente começam por volta dos 22 anos. Transtorno Ciclotímico Caracteriza-se por ser uma versão mais leve do transtorno bipolar. É uma alteração crônica da elevação de humor e da depressão que não atinge a gravidade dos episódios maníacos ou depressivos maiores. Eles alternam entre um sintoma depressivo leve e episódio hipomaníaco. Em grande parte do tempo são consideradas mal-humoradas. Apesar de ser crônico e mais leve deve ser tratado a fim de evitar a evolução para um transtorno bipolar I ou II. (BARLOW, 2009) 28 https://br.pinterest.com/pin/756675174867688986/ 29 Referências ALMEIDA-FILHO, N. et al. 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