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Da recuperação judicial e da falência SST Santos, Jazam Da recuperação judicial e da falência / Jazam Santos Ano: 2020 nº de p.: Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 11 3 Da recuperação judicial e da falência Apresentação A Lei nº 11.101/05, que substituiu a Lei nº 7.661/45, trouxe maior segurança jurídica para as empresas que se encontram em dificuldades, pois a recuperação judicial acaba dando novos horizontes ao ordenamento do Direito Empresarial ao introduzir novos meios de as empresas se reerguerem diante de uma dificuldade. Mais que tudo, sua função primordial é a de disponibilizar os meios para que a empresa possa continuar existindo e em seguida continuar como agente produtor de riqueza. E é sobre isso que falaremos nesta unidade. Bons estudos! Disposições comuns da recuperação judicial e da falência A nova lei de falências apresenta disposições que são comuns tanto para a falência quanto para a recuperação judicial, que são os procedimentos que utilizam o judiciário para se estabelecerem. Os artigos que trazem a disposição comum na Lei nº 11.101/05 se encontram entre o art. 5º e o art. 46. Os assuntos que estão definidos como comuns à recuperação judicial e à falência são: as disposições gerais deste capítulo, da verificação e da habilitação de créditos, do administrador judicial e do Comitê de credores; e da Assembleia-geral de credores. 4 Recuperação judicial Fonte: Plataforma Deduca (2020). As disposições gerais comuns à recuperação judicial e à falência se referem ao que não pode ser exigido do devedor, como as obrigações a título gratuito; as doações, bem como as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência. Também está prevista suspensão do curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, nas quais os processos só não serão suspensos se a demanda ainda não for líquida, ou seja, se ainda estiver na fase de conhecimento sem ter iniciado a fase de execução. As ações ou execuções que serão suspensas se referem somente àquelas em que o falido ou o recuperando são devedores, ou seja, quando o falido/devedor figurar no polo passivo da demanda. Saiba mais Se o falido ou o recuperando for credor de algum valor e intentar com uma ação no judiciário para reaver o seu crédito, esse processo não terá seu curso suspenso por causa da recuperação judicial ou da falência. 5 Para que você tenha a compreensão do que propomos aqui, é preciso que acompanhe os conteúdos das unidades apresentadas. A Lei nº 11.101/2005 registra, ainda, que os créditos trabalhistas serão processados na justiça especializada, e o credor desses poderá solicitar ao administrador judicial a habilitação, exclusão ou modificação desse crédito. A Lei nº 11.101/2005 se apresenta de maneira estratégica ao dispor de maneira comum os assuntos que são correlatos à recuperação judicial e à falência, demonstrado ser uma lei mais moderna e de aplicação mais prática aos institutos. Curiosidade Há, também, a obrigação a ser cumprida por parte de outro juiz, que não seja o do juízo universal, ou por parte do devedor, no sentido de comunicar o juízo da falência ou da recuperação judicial que existem ações intentadas contra o devedor ou protestos em cartório contra essa empresa em crise. Por fim, registra que haverá suspensão das execuções de natureza fiscal, ressalvada a concessão de parcelamento de débito, nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica. Há a previsão de que o juízo universal da falência previne a jurisdição, ou seja, se for intentado qualquer outro pedido no mesmo sentido em juízo diferente, haverá deslocamento desse processo para o juízo universal. Recuperação judicial Confira, a seguir, os principais aspectos da recuperação judicial. 6 Habilitação de créditos A identificação dos credores é importante nos processos de recuperação judicial e da falência, pois é o momento em que se vai saber quem deverá receber e em qual ordem. Apesar de ser distinto para os dois procedimentos, a identificação dos créditos é comum a ambos, pois os dois processos têm caráter concursal, abrangem a universalidade de credores. As diferenças serão no começo de cada processo, pois nem sempre é o devedor que o inicia, podendo ser feito pelo(s) credor(es). Os procedimentos previstos na Lei nº 11.101/05 presa pela celeridade e economia processual, estabelecendo-se que boa parte do procedimento seja conduzido pelo administrador judicial. Ha uma distinção no momento de verificação dos créditos nos procedimentos. Na recuperação judicial, a verificação de créditos antecede a própria decisão de concessão do pedido, ocorrendo a partir do momento em que o juiz defere o processamento da recuperação judicial. Isso porque os credores poderão impugnar o pedido, e a identificação dos credores é fundamental para destacar quem fará parte do acordo e quem poderá se manifestar sobre o plano de recuperação judicial. Já na falência, o momento de verificação dos créditos é outro, pois o administrador judicial deverá realizar atos no sentido de fazer a arrecadação dos bens onde quer que eles se encontrem, providenciando sua busca e até intentando com ação judicial, se for o caso. Esse mesmo administrador judicial também fará a administração da massa, que compreende os atos tendentes à conservação e guarda dos bens. Haverá, então, a formação do quadro-geral de credores – é nesse procedimento que se dá a verificação de créditos, ocorrendo de forma apartada, ou seja, de forma paralela aos autos principais da falência. Aprofunde mais seus conhecimentos sobre recuperação judicial lendo este interessante artigo: https://monografias.brasilescola. uol.com.br/direito/a-recuperacao-judicial-como-mecanismo- efetivacao-princIpio-preservacao.htm. Saiba mais Ao final do procedimento de verificação de créditos, haverá a consolidação do quadro geral de credores, que é a relação completa dos credores submetidos aos processos de falência ou de recuperação judicial. Esse quadro geral de credores será assinado pelo administrador judicial e pelo juiz, no qual haverá menção da importância e da classificação de cada crédito. https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/a-recuperacao-judicial-como-mecanismo-efetivacao-princIpio-preservacao.htm https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/a-recuperacao-judicial-como-mecanismo-efetivacao-princIpio-preservacao.htm https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/a-recuperacao-judicial-como-mecanismo-efetivacao-princIpio-preservacao.htm 7 O quadro geral de credores, depois de formado, será juntado aos autos e, embora tente ser “definitivo”, poderá sofrer alterações até o final do processo de recuperação judicial ou de falência, pois essas alterações poderão ser na ordem de inclusão de créditos retardatários, exclusão de créditos que não deveriam constar no quadro. Tais modificações são importantes para se evitar injustiças ou fraudes nos processos. Depois de habilitados os créditos, os procedimentos seguirão seu rumo, nos moldes previstos na Lei nº 11.101/2005. Já em relação à recuperação extrajudicial, como é um procedimento que não envolve o judiciário, a Lei nº 11.101/05 dá mais liberdade ao devedor, que poderá negociar diretamente com cada classe de credor, podendo realizar a recuperação somente com uma classe ou com todas as classes. Determinando-se qual(is) classe(s) de credores se fará a recuperação extrajudicial, haverá, então, a apresentação do plano a esses credores, que já terão, portanto, a habilitação de seus créditos. O administrador judicial é uma peça importante na recuperação judicial, pois ele exerce a função de administrar o procedimento relativo à recuperação e pode ser tanto uma pessoa física quanto uma pessoa jurídica especializada. Caso seja uma pessoa jurídica especializada, é essencial que nomeie um responsável profissionalpara a condução do processo, no qual haverá a substituição autorizada pelo juiz do administrador da empresa. Atenção Depois que foi nomeado pelo juiz, o administrador judicial deverá assinar em cartório, no prazo de 48 horas, o termo de compromisso que lhe dá poderes de atuação. Caso ele não assi- ne o termo nesse prazo, o cargo de administrador judicial poderá ser assumido por outra pes- soa designada pelo juízo. O órgão que fiscaliza a atuação do administrador judicial é o próprio juízo e o comitê de credores, se este existir. 8 Assembleia geral dos credores (ACG) A assembleia geral de credores (AGC) é órgão facultativo dentro do direito concursal, tem formação colegiada e atua deliberando sobre os assuntos de sua competência. A assembleia é formada pelos credores, que possuem poder de decisão conforme seus interesses dentro do processo, e nela serão discutidas as principais questões relativas ao processo mediante reuniões. Instala-se a ACG com o objetivo de decidir sobre o assunto definido na sua convocação, no qual esse assunto será desenvolvido em seguida. Saiba mais A assembleia terá a presidência do administrador judicial, que escolherá um secretário que o auxiliará, e a escolha será feita dentre os credores presentes. É necessário observar o quórum mínimo de instalação para que a ACG seja válida, que, no caso, será: • em primeira convocação, com a presença de credores titulares de mais da metade do valor dos créditos de cada classe de credores (deve-se levar em consideração o valor total dos créditos e não a quantidade de credores); e • em segunda convocação, após cinco dias, após a primeira convocação, com qualquer número de credores. Os credores poderão ter representação por meio de mandatários ou representantes legais, contudo, o documento relativo a esta representação deverá ser entregue 24 horas antes da data prevista para realização da assembleia, e a entrega terá que ser feita ao administrador judicial. 9 Os sindicatos podem representar os credores trabalhistas, desde que não compareçam pessoalmente na assembleia. Estão impedidos de votar na assembleia geral de credores os credores retardatários, exceto os titulares de créditos trabalhistas, como também outros credores que a lei assim os define. Atenção Comitê de credores O comitê de credores é um órgão facultativo e permanente – uma vez constituído, terá atuação de forma permanente até o final do processo de recuperação judicial e falência. Os credores que representem a maioria dos créditos de cada classe poderão requerer ao juiz, independentemente de realização de AGC, a nomeação ou substituição de seus representantes e/ou suplentes. Os membros do comitê de credores deverão comparecer na sede do juízo, no prazo de 48 horas para assinar o termo de compromisso da função e assumir as responsabilidades a ela inerentes. Para saber como funciona na prática, leia a jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça sobre a AGC e o administrador judicial: https ://ww2.st j . jus .br/processo/rev ista/documento/ mediado/?componente=ATC&sequencial=28773644&num_ registro=201102352782&data=20130808&tipo=5&formato=PDF. Saiba mais https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=28773644&num_registro=201102352782&data=20130808&tipo=5&formato=PDF https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=28773644&num_registro=201102352782&data=20130808&tipo=5&formato=PDF https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=28773644&num_registro=201102352782&data=20130808&tipo=5&formato=PDF 10 O comitê possui as seguintes atribuições: preponderância na fiscalização, que irá fiscalizar as atividades do devedor e do administrador judicial, como também irá fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial; mas terá a atribuição de informar ao juiz a existência de qualquer irregularidade; também terá a atribuição de requerer a convocação da AGC, entre outras definidas pela Lei nº 11.101/2005. Caso o processo não tenha comitê de credores, as atribuições relativas a esse instituto serão exercidas pelo administrador judicial, quando for possível o seu exercício, e, sendo incompatível esse administrador judicial, as atribuições serão exercidas pelo Juízo; em qualquer hipótese, haverá a fiscalização do Ministério Público. Conclusão O instituto da recuperação judicial é a grande estrela da legislação adotada em 2005, pois sua correta aplicação reestrutura a empresa e, por consequência, sua sobrevivência. Trata-se, portanto de tema de extrema importância no Direito Empresarial, e a especialização dos profissionais que atuam nesta área é obrigatória. Isso porque a recuperação judicial acaba dando novos horizontes ao ordenamento do Direito Empresarial ao introduzir novos meios de as empresas se reerguerem diante de uma dificuldade. Mas que tudo, sua função primordial é a de disponibilizar os meios para que a empresa possa continuar existindo e, em seguida, continuar como agente produtor de riqueza. 11 Referências BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Diário Oficial da União, 9 fev. 2005.