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AULA 1 
MINDFULNESS LEADERSHIP 
Prof. Dino José De Almeida Camargo
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Neste estudo você vai entender o que é o Mindfulness, sua origem, seus 
significados e, em especial, como a adoção da prática de Mindfulness tem 
impactado positivamente o ambiente de trabalho, o desempenho, a produtividade, 
a liderança e o bem-estar das pessoas em empresas que se destacam por sua 
criatividade, alta performance e lucratividade. Vai compreender também o 
significado e a abrangência de Mindful Leadership, entendendo como praticá-la 
e se tornar um líder consciente. 
“Um líder consciente exerce uma presença ativa em sua função de 
liderança – cultivando foco, clareza, criatividade e compaixão a serviço dos 
outros” (Marturano, 2017). 
TEMA 1 – MINDFULNESS OU “CONSCIÊNCIA PLENA” 
1.1 Conceituando Mindfulness 
Mind, do inglês, pode significar “mente”, “atenção”, “consciência”, enquanto 
fulness significa “completo”, “pleno”. Desse modo, podemos traduzir Mindfulness 
como “Atenção Plena”, mente alerta ou, de maneira mais precisa “consciência 
plena”. 
Embora várias traduções brasileiras de obras estrangeiras sobre 
Mindfulness tenham trazido o termo traduzido como “Atenção Plena”, 
“Consciência Plena” parece ser o mais adequado e preciso, uma vez que não se 
trata de simplesmente focar a atenção, mas focá-la de maneira particular, 
intencional, tendo consciência desse foco da atenção. 
A origem desse conceito tem sua raiz na linhagem de meditação 
Vipassana, que tem mais de 2.500 anos; significa “enxergar as coisas como são”, 
com foco, clareza e sem distorções (de percepção ou julgamento). 
Se em várias outras linhagens de meditação o objetivo é esvaziar a mente 
de qualquer pensamento ou raciocínio ou ainda dirigir a atenção para um único 
objeto ou pensamento, em Vipassana a busca é pela plena consciência de todos 
os pensamentos e emoções que ocorrem, sem críticas, julgamentos ou 
reatividade. Assim também acontece nas estratégias de Mindfulness (incluindo 
vários tipos de práticas e técnicas, como Meditação de Mindfulness): o próprio 
nome (Atenção Plena ou consciência plena) sugere a utilização plena da 
 
 
3 
ferramenta da atenção, mantendo-nos conscientes do que pensamos, sentimos e 
fazemos em cada momento, sem divagações mentais, enquanto realizamos 
qualquer tarefa, atividade ou simplesmente observamos o que acontece em 
determinado momento (Tan, 2014). 
A Atenção Plena, ou Mindfulness, consiste em prestar atenção no que 
acontece no momento presente, na mente, no corpo e no ambiente à nossa volta 
sem julgamentos e com uma atitude de curiosidade, abertura e gentileza. 
É como se estivéssemos vivenciando a experiência pela primeira vez, com 
atenção, curiosidade e sem julgamentos ou conceitos preexistentes. É a chamada 
mente de principiante ou mente de cientista, que procura olhar toda e qualquer 
experiência com “olhos de aprendiz”, por um novo ângulo, enxergando novas 
possibilidades, novas perspectivas – e principalmente sem pré-julgamentos, para 
não influenciar ou distorcer uma percepção precisa e clara da experiência daquele 
momento (Tan, 2014). 
Com o Mindfulness consciência plena podemos aprender técnicas para 
permanecer ancorados no momento presente, com atenção focada no que 
estamos fazendo, e ao mesmo tempo conscientes do que acontece ao redor. A 
prática regular de auto-observação conduz ao autoconhecimento, que por sua vez 
nos proporciona a possibilidade de gerenciar melhor nossas emoções, impulsos, 
intuições e tomadas de decisão (autogerenciamento), seja na vida particular ou 
no trabalho. Isso traz impactos positivos à saúde (menos estresse, ansiedade e 
preocupações) e à forma de nos relacionar com nós mesmos (diálogos internos) 
e com os outros (empatia e habilidades sociais) (Tan, 2014). 
No campo da psicoterapêutica, o objetivo principal da Meditação de 
Mindfulness é ter um ótimo controle dos processos mentais, alcançando o bem-
estar e o desenvolvimento emocional, e ainda algumas habilidades, como clareza 
mental, serenidade e concentração (Walsh; Shapiro, 2006). 
Pode-se definir Mindfulness ou Atenção Plena também como a capacidade 
de prestar atenção no momento presente, a tudo que surge interna ou 
externamente, sem julgar ou desejar que as coisas sejam diferentes (Roemer; 
Orsillo, 2011). 
1.2 Mindfulness ou “consciência plena” 
Quando pensamos em meditação, técnica milenar que teve origem no 
budismo e no hinduísmo, é comum a associarmos com alguma religião. Ainda que 
 
 
4 
a meditação venha sendo utilizada milenarmente para o aprimoramento de 
qualidades espirituais, a Meditação de Mindfulness, no entanto, não está 
vinculada a qualquer religião. O objetivo da Meditação de Mindfulness é o 
aprimoramento da capacidade da atenção, criando as condições para o 
desenvolvimento de uma maior autoconsciência (pensamentos, sentimentos e 
emoções), conduzindo a uma melhoria da autorregulação ou do 
autogerenciamento (capacidade de reconhecer, analisar e gerenciar seus 
próprios pensamentos e emoções). A prática da Meditação de Mindfulness (e 
outras várias estratégias e práticas de Mindfulness) foi originalmente desenvolvida 
por Jon Kabat-Zinn, que elaborou programas de redução de estresse com base 
na meditação, incorporando-a à Medicina Comportamental (Psicoterapia), 
objeto recente de um grande número de estudos e pesquisas científicas. Kabat-
Zinn é também um dos pioneiros nas pesquisas científicas sobre Mindfulness e 
fundador e diretor da clínica de redução de estresse da Universidade de 
Massachusetts, na qual atua como professor da área de Medicina Preventiva e 
Comportamental (Kabat-Zinn, 2013). 
Kabat-Zinn (2013) define Mindfulness como “uma forma específica de 
Atenção Plena, focada no momento atual, de forma intencional, e sem 
julgamento”. Concentrar-se no momento atual significa estar em contato com o 
presente, não estar distraído com lembranças sobre o passado ou com 
pensamentos sobre o futuro, nem divagando sobre qualquer coisa que não seja 
exatamente o que acontece no momento aqui e agora. O termo intencional refere-
se ao fato de que o praticante “escolhe” estar com plena atenção e se dedica a 
alcançar esse objetivo. 
De acordo com Hülsheiger et al. (2013), o Mindfulness engloba quatro 
características principais: uma consciência receptiva e o registro de experiências 
internas (pensamentos, emoções, sentimentos, comportamentos) e de eventos 
externos; processamento das informações pré-conceitual – o praticante Mindful 
observa o que acontece de maneira pura, sem pré-conceitos ou julgamentos, e 
mesmo sem analisar, avaliar ou refletir sobre o que acontece; a experiência de 
Mindfulness tem foco no presente, no momento-a-momento, sem se deixar levar 
por divagações, ficar pensando no passado ou fantasiando sobre o futuro; 
Mindfulness é uma capacidade humana e natural que pode variar de indivíduo 
para indivíduo, de uma forma ou de outra, com maior ou menor intensidade 
(Kabat-Zinn, 2003). 
 
 
5 
1.3 Concentração: a capacidade de sustentar a atenção por um período 
prolongado 
Parece bem simples e até intuitivo: se colocarmos plena atenção em tudo 
o que experimentamos ou realizamos, seremos mais produtivos, eficazes e bem-
sucedidos, mas nem sempre isso é uma tarefa fácil. Nossas mentes estão 
constantemente agitadas e atraídas por múltiplas distrações, e quase sempre 
alternando entre o passado e o futuro. 
Estamos pensando no que aconteceu na última reunião, na conversa que 
tivemos ontem, em um acontecimento passado, ou estamos antecipando o futuro, 
imaginando como será a nossa apresentação, a conversa com o chefe, a reunião 
importante que teremos em alguns dias, ou divagando sobre outros assuntos 
diferentes do que estamos vivenciando no momento. Com isso, uma parcela 
enorme do nosso tempo e da nossa energia acaba sendo gasta no que já 
aconteceu (o passado – que não podemosmudar) ou no que ainda virá (o futuro 
– que via de regra nunca acontece exatamente como imaginamos em nossa “pré-
ocupação”). 
Estudos mostram que gastamos uma enorme fatia do nosso tempo 
divagando, mesmo quando supostamente estamos envolvidos com outras 
pessoas. Se estivéssemos sempre escolhendo divagar em nossas mentes, até 
que poderia ser bom. Mas perceba que isso acontece mesmo quando tentamos 
estar presentes! Se não bastasse, ainda temos a tendência natural de nos 
comportar como se estivéssemos em “piloto automático”. Diariamente fazemos 
inúmeras coisas “sem pensar”, de modo automático, repetitivo ou, ainda pior, 
reativo. Raras são as vezes em que, ao mesmo tempo que fazemos algo, 
mantemos plena consciência de nossos processos mentais e de como pensamos, 
sentimos, percebemos e interpretamos a nós mesmos e ao mundo ao nosso redor. 
É claro que em alguns momentos do dia podemos experimentar a sensação de 
estar 100% focados em determinada tarefa ou acontecimento, mas via de regra 
essa atenção é sustentada por poucos segundos. A capacidade de manter de 
maneira continuada nossa atenção no momento presente, sem distrações ou 
divagações, acaba sendo bastante limitada (Tan, 2014). 
 
 
 
 
6 
TEMA 2 – O AMBIENTE DE TRABALHO MODERNO E O ESTRESSE 
2.1 Trabalho, obrigações, tarefas e distrações 
Ainda que estejamos plenamente satisfeitos e gostemos bastante do nosso 
trabalho, para a grande maioria das pessoas o dia a dia se mostra 
demasiadamente carregado de obrigações e tarefas, sem tempo para nada, on-
line e conectado “24 horas”. Isso representa um enorme desafio para nos manter 
emocionalmente equilibrados, energizados, e ainda com foco e atenção para 
direcionar os nossos melhores esforços ao que realmente importa. As novas 
tecnologias e a gigantesca quantidade de informações e atualizações que temos 
que digerir diariamente somadas às responsabilidades crescentes e às distrações 
que se multiplicam têm tornado as pessoas mais estressadas e deprimidas por 
não conseguirem lidar com esses desafios da vida moderna. 
Oficialmente, o estresse não está classificado como uma doença pela 
Organização Mundial de Saúde (OMS); no entanto, em levantamento da própria 
organização realizado em 2018, estima-se que o estresse atinja cerca de 90% da 
população mundial, o que caracterizaria uma “epidemia global”. O estresse é 
entendido pela comunidade médica como um conjunto de sintomas emocionais e 
físicos que podem levar a outras patologias, inclusive ao burnout e à depressão 
(Tan, 2014). 
2.2 O estresse no passado e o estresse hoje 
É interessante lembrar que o estresse só é prejudicial quando é excessivo. 
O estresse sempre fez parte da vida do ser humano: o homem mais primitivo 
desempenhava um importante papel de alarme e defesa. Quando em situação de 
perigo, o estresse estimulava o organismo a produzir e liberar adrenalina e 
cortisol, importantes no fortalecimento dos músculos e na preparação do corpo 
para entrar em alerta e criar as condições necessárias para lutar ou fugir. 
Se por um lado nos dias atuais já não mais habitamos em cavernas ou 
árvores, nem estejamos mais sendo ameaçados diariamente por tigres-dente-de-
sabre, por outro lado as situações estressantes são por vezes ainda mais 
constantes e os processos fisiológicos do organismo humano permanecem 
funcionando praticamente da mesma forma como acontecia com nossos 
antepassados primitivos. Essa alta produção de cortisol – maior do que a 
 
 
7 
necessária – acaba ocasionando uma série de distúrbios ou patologias. Quando 
as situações de estresse são seguidas de situações de relaxamento, o organismo 
tende a voltar a seu equilíbrio natural. Ocorre que, atualmente, é mais comum 
experimentar muitas situações de estresse durante o dia e raras situações de 
relaxamento. Nós nos estressamos com tudo e com todos e relaxamos muito 
pouco. 
É interessante lembrar que “estresse” é um termo que denomina um 
conjunto de reações que um organismo desenvolve quando submetido a uma 
situação que exige esforço de adaptação, podendo ser percebido como uma 
ameaça ou como algo que exige mais do que seus recursos ou habilidades; como 
consequência, coloca-se em perigo o próprio bem-estar ou sobrevivência (França; 
Rodrigues, 2011). 
As atuais exigências pessoais e profissionais do mundo corporativo, a 
disputa de produtos, serviços e mercados, a competição entre colaboradores, a 
pressão por metas e resultados, a economia com baixo crescimento e o 
desemprego acabam gerando uma sobrecarga no trabalhador que, pressionado, 
convive com um alto nível de estresse. Em um estudo realizado no Brasil (Zille, 
2010) com 775 gerentes, em média 72% declararam conviver com altos níveis de 
estresse; nessa amostra, 28% estavam com níveis de estresse considerados 
intensos ou muito intensos, o que impacta diretamente a produtividade e o bem-
estar, chegando a impossibilitar o trabalhador de exercer plenamente sua 
atividade. Esse alto nível de estresse nas empresas muitas vezes é diagnosticado 
como síndrome de burnout, ou simplesmente burnout. 
Segundo Teodoro (2012), burnout é aquilo que deixou de funcionar em 
decorrência do esgotamento de sua energia. 
2.3 O ambiente Vuca 
Existe um acrônimo baseado nas teorias de liderança de Warren Bennis e 
Burt Nanus (1987), posteriormente utilizado no contexto militar da Guerra Fria: é 
o Vuca World, um território que está sendo tomado de assalto; seu ambiente 
apresenta-se carregado de volatilidade, incertezas, complexidade e ambiguidade 
(Volatility, Uncertain, Complex, Ambiguous). Esse acrônimo (Mundo Vuca) 
poderia ser utilizado também para descrever o nosso ambiente de trabalho nos 
dias de hoje? 
 
 
8 
Um estudo realizado por Gilbert e Killingsworth da Universidade de Harvard 
em 2010, por exemplo, relata que os executivos entrevistados estimavam que 
passavam em média 47% de seu tempo com divagações ou distrações (não 100% 
focados ou concentrados em suas tarefas), 70% dos líderes não se diziam 
capazes de prestar plena atenção durante todo o período das reuniões de trabalho 
e somente 2% deles mantinham uma prática dedicada ao autodesenvolvimento 
pessoal ou melhoria de sua produtividade. Ao tentar administrar todas as 
demandas que surgem a cada momento em nossas vidas, elas também se 
apresentam voláteis, incertas, ambíguas e complexas. 
Contudo, pode existir uma resposta a esses desafios: o caminho do 
autoconhecimento, do desenvolvimento da inteligência emocional, da empatia e 
da compaixão que emerge da prática do Mindfulness. 
TEMA 3 – O PILOTO AUTOMÁTICO E A MENTE REATIVA 
Uma estratégia para conseguir enfrentar as crescentes demandas diárias 
de nossas vidas pessoais e profissionais é aprimorar a autoconsciência, 
desenvolvendo a Inteligência Emocional. O primeiro passo é passarmos do 
“piloto automático” para o estado de “conscientes”. 
Muitas vezes temos a tendência de passar boa parte do dia como se 
estivéssemos em “piloto automático”, sem prestar muita atenção no que estamos 
fazendo naquele momento. O estudo conduzido por Gilbert e Killingsworth (2010) 
em Harvard, intitulado Uma mente divagante é uma mente infeliz, ilustra bem esse 
ponto: estima-se que gastemos cerca de 50% do nosso tempo pensando em algo 
diferente daquilo que estamos fazendo. O problema que surge do fato de ficarmos 
no piloto automático, e não plenamente conscientes do que estamos fazendo é: 
Como podemos ouvir as pessoas? De que maneira podemos aprender com o que 
está acontecendo? Como podemos avaliar com profundidade e discernimento se 
nossa mente está metade do tempo divagando entre o passado, o futuro ou outra 
distração? Como podemos ter produtividade se nossa mente passa 50% do tempo 
ocupada com pequenas e constantes distrações? 
O piloto automático pode ser reconhecido pelas seguintes características: 
a) a atenção está no passado ou no futuro; nossa atenção está voltadapara o 
presente ou no que acontece à nossa frente apenas de forma superficial; b) 
estamos distraídos; c) estamos sendo reativos ou julgando: em vez de nos 
esforçarmos para escutar com total presença, clareza e atenção, na maioria das 
 
 
9 
vezes já estamos completando a frase, imaginando o que a pessoa com quem 
conversamos vai dizer, ou o que vamos responder. Somos rapidamente 
apanhados em expectativas e julgamentos. Quando agimos assim, via de regra 
perdemos a conexão com quem estamos ou com o que estamos fazendo; d) 
agimos com base em padrões e premissas. Todos temos algumas formas-padrão 
de reagir, em vez de ouvirmos e considerarmos mais profundamente qual seria a 
melhor resposta. 
Felizmente, existe a possibilidade de responder de forma diferente. Steven 
Covey, autor de best-sellers de liderança, resume os ensinamentos de Victor 
Frankl (sobrevivente do holocausto, psicólogo e fundador da logoterapia) com 
uma citação: “Entre o estímulo e a resposta, há um espaço. Nesse espaço está a 
nossa liberdade e nosso poder de escolha. Em nossa resposta reside o nosso 
crescimento e a nossa felicidade” (Frankl, 2009). 
Por estímulo, entendem-se os inputs do nosso sistema sensorial e mental 
(sentimentos, pensamentos e emoções). 
Estar presente nos ajuda a entender que a liberdade de escolha reside 
entre o estímulo e a resposta. Devemos estar cientes do que está acontecendo, 
no momento em que está acontecendo, não nos desconectando e não entrando 
no piloto automático. No entanto, isso não acontece naturalmente: é necessária 
alguma prática. A prática de Mindfulness, portanto, tem uma definição muito 
simples: é simplesmente “estar presente”. 
TEMA 4 – O MINDFULNESS E A PESQUISA CIENTÍFICA 
Nos últimos 20 anos tem sido realizada uma grande quantidade de estudos 
e de experimentos científicos mostrando que a prática de Mindfulness conduz a 
uma mente saudável, à maior capacidade de foco, ao equilíbrio emocional e 
até mesmo à felicidade. Grande parte desses estudos tem se concentrado na 
neuroplasticidade, a descoberta da neurociência de que o que pensamos, 
fazemos repetidamente e prestamos atenção modifica a estrutura e a 
funcionalidade do nosso cérebro. O cérebro é “maleável”, mesmo em adultos. 
Podemos intencionalmente alterar a estrutura e a funcionalidade do nosso cérebro 
com treinamento (Goleman; Davidson, 2017). 
Muitas dessas pesquisas têm se concentrado na vinculação entre a prática 
da meditação Mindfulness e o bem-estar físico e psicológico. Os estudos revelam 
que a prática de Mindfulness está diretamente relacionada à vitalidade, à 
 
 
10 
satisfação com a vida, à qualidade dos relacionamentos interpessoais e também 
à redução de ansiedade, estresse e depressão. Muitos desses efeitos são obtidos 
pela prática da Atenção Plena, pois os indivíduos passam a perceber os eventos 
de maneira mais objetiva e com menos “paixão”, o que possibilita a regulação de 
emoções, pensamentos, sentimentos e reações fisiológicas de maneira mais 
efetiva (Kabat-Zinn, 2013). 
Outro estudo conduzido por Brewer et al. (2010) observou a Rede de Modo 
Funcionamento Padrão (Default Mode Network), uma rede do cérebro que está 
associada à divagação mental, ao pensamento autorreferencial e à ruminação. 
Ela recebeu esse nome porque os neurocientistas descobriram que parecia ser a 
rede que estava ativa por padrão quando as pessoas analisadas estavam 
sentadas em scanners cerebrais esperando a experiência começar: mente 
divagando e pensando em si mesmas ou sobre o que os outros estavam pensando 
delas. Os pesquisadores descobriram que a Rede de Funcionamento Padrão é 
menos ativa durante a meditação, sugerindo uma capacidade de abstrair-se da 
ruminação e da autopreocupação. Além disso, os meditadores experientes 
apresentaram maior conectividade entre essa rede e as regiões da Rede 
Executiva Central relacionadas com a gestão da atenção, sugerindo maior 
capacidade de monitorar e gerenciar a divagação mental e o pensamento 
autorreferencial. Nos meditadores com maior tempo de prática, esses perduravam 
também em períodos nos quais não estavam mais meditando. 
Outro estudo muito interessante sobre a Meditação Mindfulness foi 
realizado por dois pioneiros neurocientistas, Kabbat-Zinn e Davidson (2013). Esse 
foi o primeiro grande estudo científico do tema realizado no ambiente corporativo 
com funcionários de uma companhia de biotecnologia como voluntários. O estudo 
demonstrou que, após decorridas apenas oito semanas de prática meditativa, o 
nível de ansiedade dos voluntários diminuiu de maneira significativa. 
Adicionalmente, foram realizadas medições da atividade elétrica no cérebro dos 
voluntários e evidenciou-se um aumento de atividade significativo nas regiões 
associadas às emoções positivas. Ainda mais surpreendente foi o fato de que, ao 
final da pesquisa, os voluntários receberam doses de vírus da gripe: aqueles que 
faziam parte do grupo de praticantes desenvolveram maior concentração de 
anticorpos contra a doença, ou seja, decorridas apenas oitos semanas de prática 
de Atenção Plena, os voluntários mostravam-se mais felizes (medição cerebral de 
 
 
11 
ativação de áreas relacionadas a sentimentos positivos e sensação de bem-estar), 
e com um aumento considerável da imunidade (Tan, 2014). 
TEMA 5 – MINDFULNESS: MAIS DO QUE UMA TÉCNICA, UM ESTILO DE VIDA 
É preciso entender Mindfulness não apenas como uma forma de 
meditação, mas com uma série de estratégias e práticas (inclusive a meditação) 
que tem como base o desenvolvimento da autoconsciência utilizando atividades 
e práticas diárias que têm no treino da atenção seu ponto de partida. 
 A prática do Mindfulness acontece de duas maneiras que se 
complementam: por meio das práticas dedicadas e das práticas integradas. 
As práticas dedicadas são aquelas em que “dedicamos” um tempo 
exclusivo para a prática da Atenção Plena. Quando, por exemplo, praticamos 
meditação por 20 minutos, duas vezes ao dia, é como se fôssemos à academia 
(com um tempo dedicado para aquela atividade); contudo, em vez de 
praticarmos exercícios físicos, praticamos “exercícios mentais”, como “treino da 
atenção da respiração” ou “varredura corporal” (investigamos mentalmente todas 
as sensações e emoções que surgem no corpo) – essas são variações de 
Meditação Mindfulness. Já as práticas integradas ou “práticas momento a 
momento”, são aquelas que inserimos ao nosso dia a dia e praticamos usando a 
ferramenta da Atenção Plena de maneira intencional e sustentada, dirigida a tudo 
o que acontece no momento presente, sem julgamentos e com uma atitude de 
abertura, curiosidade e generosidade para com os outros e com nós mesmos. 
Como exemplo, temos a prática de fazer uma pausa e de meditar por 3 minutos, 
concentrando a atenção na respiração durante esse tempo, estabilizando a mente 
e ganhando maior equilíbrio e capacidade de foco; as consequências dessa 
prática são maior produtividade e bem-estar. Ainda existem práticas por meio das 
quais podemos “sentir/detectar” o momento em que uma forte emoção surge em 
nosso corpo ou em nossa mente, aprendendo a gerenciar a emoção para que 
tenhamos a melhor resposta possível a esse estímulo sem simplesmente ser 
reativos (Tan, 2014). 
Como vimos, a Meditação de Mindfulness tem suas raízes na milenar 
tradição oriental (budista), embora o Mindfulness não carregue quaisquer 
conotações de origem religiosa ou divina. A Meditação de Mindfulness foi 
“adaptada e sistematizada” para uma versão ocidental, trazendo os benefícios de 
uma mente estabilizada, estável e serena, sem dogmas ou religião. É praticada 
 
 
12 
hoje por milhares de pessoas no mundo inteiro e está presente nas corporações 
mais criativas e prósperas do planeta, como LinkedIn, Google, SAP, Ford, 3M, 
Microsoft, SalesForce e Nike, entre tantas outras (Tan, 2014). 
Podemos também conceituar Mindfulness ou Atenção Plena como umestado mental ou uma qualidade da mente que tem a capacidade de focar a 
atenção de maneira intencional e controlada para experienciar o momento 
presente com uma atitude de curiosidade, abertura e gentileza, sem julgamentos. 
Dirige-se a atenção a todos os fenômenos que se manifestam no corpo e na mente 
consciente, como pensamentos, divagações, fantasias, lembranças, sentimentos, 
sensações e emoções. A prática do Mindfulness enfatiza a capacidade de 
enxergar a realidade como ela é, suspendendo naquele determinado momento 
todo/a e qualquer julgamento, juízo de valor, interpretação, opinião, conceito ou 
comentário mental, conduzindo a uma maior clareza e consciência do que 
verdadeiramente estamos experienciando, sem julgamentos, apegos ou 
aversões. O Mindfulness, além de abranger uma série de práticas que levam a 
um maior conhecimento dos nossos processos mentais, é na verdade um estilo 
de vida, uma nova maneira de nos descondicionarmos do funcionamento padrão 
na nossa mente, quase sempre automática, julgadora e reativa (Tan, 2014). 
Tomando-se uma definição científica de Meditação, temos que “Meditação 
refere-se a um conjunto de práticas de treinamento mental que são desenhadas 
para familiarizar o praticante com tipos específicos de processos mentais” (Tan, 
2014). 
A palavra utilizada para designar Meditação em tibetano é gom, que 
significa “familiarizar-se” ou “habituar-se”. Já em Pali, língua que tem mais de 
2.500 anos, a palavra para meditação é bahvana, que pode ser traduzida como 
“cultivar”, usada também para designar o cultivo do solo. 
É interessante observar que, mesmo em sociedades milenares com forte 
tradição meditativa, a meditação não tinha qualquer conotação mágica, mística ou 
sobrenatural. Tratava-se de um conjunto de práticas voltadas a familiarizar-se, 
cultivar e tomar consciência de alguns tipos específicos de processos mentais 
(Tan, 2014). 
 
 
 
 
 
13 
FINALIZANDO 
Parabéns por ter chegado a esse ponto do nosso estudo. Nos próximos, 
vamos retomar alguns dos conteúdos vistos aqui e conectá-los à Liderança 
Consciente, ou Mindful Leadership. 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
BREWER et al. A experiência de meditação está associada com diferenças 
em conectividade e nas atividades da Rede de Modo Padrão (RMP ou DMN). 
2011. Disponível em: <http://www.pnas.org/content/108/50/20254.short>. Acesso 
em: 8 ago. 2019. 
DAVIDSON, R.; KABBAT-ZINN et al. Alterations in brain and imune function 
produced by Mindfulness meditation. Psychosomatic Medicine, v. 65, n. 4, p 
564-570, July 2003. 
FRANÇA, A. C. L.; RODRIGUES, A. L. Stress e trabalho: uma abordagem 
psicossomática. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011 
FRANKL, V. E. Em busca de sentido: um psicólogo na concentração. Petrópolis: 
Vozes, 2009. 
GOLEMAN, D.; DAVIDSON, R. A ciência da Meditação. Rio de Janeiro: 
Companhia das Letras, 2017. 
HÜLSHEIGER, U. R. et al. Benefits of Mindfulness at Work: The Role of 
Mindfulness in Emotion Regulation, Emotional Exhaustion, and Job Satisfaction. 
Journal of Applied Psychology, v. 98, n. 2, p.310-325, 2013. 
KABAT-ZINN, J. Full Catastrophe Living: Using the Wisdom of Your Body and 
Mind to Face Stress, Pain, and Illness. Bantam: Rev Upd edition, 2013. 720p. 
MARTURANO, J.; SILVA, E. F. e. Mindfulness na liderança: como criar espaço 
interior para liderar com excelência. 2017. 
KILLINGSWORTH, M. A.; GILBERTD, T. A Wandering Mind Is an Unhappy Mind. 
Science, v. 330, n. 932, November 2010. Harvard University, Cambridge, MA. 
Disponível em: 
<http://www.danielgilbert.com/KILLINGSWORTH%20&%20GILBERT%20(2010).
pdf>. Acesso em: 8 ago. 2019. 
ROEMER, L.; ORSILLO, S. M. The MINDFUL Way through Anxiety: Break Free 
from Chronic Worry and Reclaim Your Life. The Guilford Press. 1st. Ed. 2011. 
307p. 
TAN, C.-M. Busque dentro de você. Ribeirão Preto: Novo Conceito Editora, 
2014. 
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