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Brasília-DF. LegisLação ambientaL, Licenciamento ambientaL e gestão ambientaL Elaboração Silvia Barreira Zambuzi Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 PROTEÇÃO DAS ÁREAS – UM PROCESSO ANCESTRAL ............................................................... 9 CAPÍTULO 2 MUDANÇAS E AVANÇOS NA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA ........................................... 17 CAPÍTULO 3 OUTRAS LEIS AMBIENTAIS ........................................................................................................ 42 UNIDADE II LICENCIAMENTO AMBIENTAL ................................................................................................................ 46 CAPÍTULO 1 O BRASIL E O LICENCIAMENTO AMBIENTAL – HISTÓRICO ......................................................... 47 CAPÍTULO 2 ESTUDOS AMBIENTAIS E MATRIZ DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO ................................................... 65 UNIDADE III GESTÃO AMBIENTAL ............................................................................................................................. 90 CAPÍTULO 1 CONCEITOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ..................................................................... 90 CAPÍTULO 2 GESTÃO AMBIENTAL E AS ORGANIZAÇÕES ........................................................................... 102 CAPÍTULO 3 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – ISO 14000 ....................................................................... 108 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 128 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 130 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução A ação do homem sobre o meio ambiente ocorre desde o início de sua existência, com o uso dos recursos naturais como fonte de vida e sobrevivência. Ao longo das civilizações, os povos passaram a reconhecer os locais onde haviam características geográficas especiais e passaram a, naturalmente, protegê-las. Esses locais ora estavam associados a fatos históricos, ora a mitos e lendas, ou à proteção de fontes de água, plantas medicinais e madeira para aquecimento (DIEGUES; ARRUDA, 2001). Ao longo do processo evolutivo, a preocupação com as disputas e conquistas de territórios fizeram com que o uso dos recursos naturais passasse a ser intenso, não apenas para subsistência, mas também para a ganância de uso dos territórios. Neste contexto, começam a surgir normas para disciplinar a conduta humana sob um meio ambiente que já não consegue retomar, naturalmente, seu ciclo natural de renovação. As leis ambientais progrediram ao longo desse processo evolutivo, sendo distintas e específicas para cada país, local ou particularidade de ambiente, entretanto, muito ainda deve ser discutido e evoluído a este respeito, em todo o mundo. O Licenciamento Ambiental faz parte deste contexto, sendo uma normatização recente e repleta de imperfeições, por isso, deve ser analisada de forma crítica e profunda. Só assim é possível garantir a sustentabilidade nas ações antrópicas que, invariavelmente, precisam ocorrer, para que esse processo evolutivo de nossa espécie prossiga de forma harmoniosa com o planeta em que vivemos. Objetivos Os principais objetivos do tema de estudo são: » Descrever o processo evolutivo da legislação ambiental no mundo e no Brasil. » Apontar as principais leis ambientais brasileiras. » Analisar o processo de Licenciamento Ambiental no Brasil. » Descrever o conceito de sustentabilidade, sua evolução e os procedimentos e as ferramentas utilizadas atualmente para discutir o desenvolvimento sustentável. 8 9 UNIDADE ILEGISLAÇÃO AMBIENTAL Para compreender as leis ambientais atuais, é preciso acompanhar o processo evolutivo do tema ambiental na conjuntura histórica, tanto do Brasil quanto do mundo. A história da legislação ambiental brasileira acompanha, ora de forma alinhada, ora de forma anacrônica, os acontecimentos e as tendências mundiais sobre o tema, especialmente pensando nas consequências das ações do homem ao longo do processo de desenvolvimento econômico industrial e urbano. Por isso, não é possível descrever esses processos no Brasil e no mundo sem que haja uma sincronicidade, uma vez que, naturalmente, o processo evolutivo da discussão do tema é concomitante e precisa ser compreendido em seu todo. CAPÍTULO 1 Proteção das áreas – um processoancestral A relação homem e natureza, desde os primórdios da nossa espécie, tem sido conturbada. Ao longo do tempo, muitas civilizações pagaram um alto preço por não terem se atentado para a possibilidade de ocorrer o esgotamento dos recursos naturais. Um exemplo emblemático dessa relação são os Rapanui, civilização que habitava a Ilha de Páscoa até o Século XVII e que desapareceu após entrar em colapso, ao qual muitos atribuem ao esgotamento dos recursos naturais da ilha. A exploração de madeira excessiva – causando o desmatamento e o consequente esgotamento do solo – além do uso das águas, são uns dos elementos que podem ter feito com que várias civilizações tivessem um destino semelhante. O fato é que, da mesma forma, várias civilizações vieram a proteger locais que, de alguma forma, eram reconhecidos por estes povos antigos como locais associados a mitos e crenças, rituais, locais históricos marcantes etc. Posteriormente, passaram a proteger locais de abastecimento de água, que possuíam plantas medicinais etc., 10 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL sempre pensando na sua sobrevivência. Os povos da Antiguidade, por exemplo, já faziam referência à proteção ambiental. Platão, na Grécia Antiga, fazia referência à importância das florestas como defensoras do solo contra a erosão, e Cícero, em Roma, já atuava protegendo as florestas da Macedônia contra os inimigos. A famosa Lei das XII Tábuas (450 AC) já continha disposições para prevenir a devastação das florestas. O famoso explorador Marco Polo já citava os líderes mongóis como defensores das aves contra a caça no período de reprodução destas (FREITAS FILHO, 2016). Legislação ambiental Da mesma forma que ocorreu com as leis fundamentais gerais, as leis ambientais passaram por um processo de evolução histórica desde a Antiguidade, mas se consolidaram de forma mais tardia, somente com a formação dos Estados. Atualmente, o tema passou a ser uma preocupação mundial, a partir não só de leis, mas de tratados internacionais. Foi na década de 1960 que a preocupação com o meio ambiente veio mais à tona em todo o mundo, especialmente graças às pressões públicas coletivas, um reflexo das consequências do avanço industrial e exploratório dos recursos de forma desmedida. Neste período, surgem leis de diferentes países na busca de um regramento de atividades poluidoras das águas, ar e solo, sendo criados diversos órgãos internacionais especiais para o meio ambiente. Um exemplo disso é a Carta Europeia das Águas, escrita em 1968, estabelecendo o princípio de que as águas não conhecem fronteiras. Posteriormente, reconhece que não só as águas como a atmosfera também não conhecem fronteiras. Tais instrumentos deram início a uma onda ecológica em toda a Europa, motivando outros continentes a fazer o mesmo. Na África, no mesmo ano, surgiu a Convenção Africana para conservação da natureza e dos recursos naturais, substituindo a Convenção de Londres de 1933, firmada entre os países colonizadores. A Convenção da Organização da União Africana é tida como um modelo pelos princípios ali estabelecidos (criação de reservas, regulamentação da caça, da captura, da pesca e proteção especial de certas espécies: fauna e flora) não só no que tange às espécies, mas também a seu ‘”habitat”, como a responsabilidade dos Estados que tenham, em seu território, uma espécie rara (NAZO; MUKAI, 2001). Nas décadas seguinte, surgiu, das discussões sobre o meio ambiente, a necessidade de se discutir a relação deste ambiente com o homem. A Organização das Nações 11 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Unidas (ONU) tem um papel importante neste período, com Pactos Internacionais e Declarações de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e Direitos Civis e Políticos, trazendo a tônica de assegurar os direitos fundamentais do homem à vida, à saúde, ao trabalho, à educação, para ter condições mínimas de desenvolvimento considerando o meio em que vivem. Veremos mais adiante como a discussão acerca da temática do meio ambiente foi mais profunda da década de 1970 em diante, na Unidade III – Sustentabilidade. Legislação Ambiental no Brasil O modelo de desenvolvimento brasileiro foi baseado, desde o descobrimento pela coroa portuguesa, na exploração dos recursos naturais existentes nas extensas terras do território, os quais pareciam ilimitados. A legislação portuguesa possuía, até então, alguns ordenamentos de proteção à natureza em seus registros, como por exemplo, a proibição do furto de aves em 1326 e o corte deliberado de árvores frutíferas, por volta de 1393. Essas medidas foram reunidas nas chamadas Ordenações Afonsinas, que estavam em vigor na época do descobrimento do Brasil e introduzidas – aquelas que de fato atendiam aos interesses da Coroa portuguesa – na colônia (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009). As ordenações Manuelinas, editadas em 1521, também possuíam normas de caráter ambiental, como a caça de alguns tipos de animais com instrumentos entendidos como cruéis, e a proibição da comercialização de colmeias sem preservar as abelhas. O corte de algumas árvores frutíferas (com valor econômico alto) teria como punição a extradição do degradado para o Brasil. Durante o período em que o Brasil passou para o domínio espanhol, as Ordenações Filipinas indicaram uma preocupação maior com as águas, proibindo o despejo de materiais que pudessem matar os peixes em rios e lagos (NAZO; MUKAI, 2001). É importante lembrar que a abundância de recursos naturais do Brasil colônia – especialmente florestais – tinham grande importância estratégica para Portugal, em fase de plena expansão de navegação, que demandavam grandes quantidades de madeira para a construção das embarcações, enquanto estes recursos já apresentavam escassez no país europeu. À medida que a exploração florestal ao longo da costa foi tornando-se cada vez mais escassa, foi necessária a exploração das florestas mais interiores, com determinações 12 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL específicas para corte e comercialização da madeira, e o descumprimento destas resultavam em altas penas e multas. “Madeira de Lei” Essa expressão, que hoje usamos para identificar as madeiras resistentes e de valor comercial alto, como o mogno, cedro etc., surgiu no período colonial quando os portugueses a criaram para designar as madeiras que só podiam ser derrubadas se a Coroa portuguesa autorizasse, ou seja, o corte dependia de uma permissão por lei. Figura 1. Diversas são as representações da exploração do Pau-Brasil, primeira madeira considerada “de lei” do Brasil. Fonte: Costa (2017). O pau-brasil foi a primeira madeira classificada de lei, para impedir que esta fosse contrabandeada pelos espanhóis, franceses ou ingleses que aportavam na costa do nosso país (MUNDO ESTRANHO, 2011). A conservação das florestas ao longo da costa brasileira foi determinada em 1800, com a promulgação de uma Carta Régia, que incluía patrulhas para a fiscalização da atividade de exploração de madeira. Em 1802, surgiram as primeiras instruções que recomendavam o reflorestamento de partes da costa brasileira já muito devastada, especialmente no entorno das cidades que estavam em crescimento. Um marco significativo em todo o desenvolvimento das leis – ambientais ou não – foi a chegada da família real ao Brasil, em 1808. A criação do Jardim Botânico do Rio de 13 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Janeiro, em 1811, é um exemplo do período, ainda que sua função não possuía interesse de conservação, apenas o estudo da flora brasileira com interesses econômicos. (KENGEN, 2001 apud BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009). Ainda assim, a criação do Jardim Botânico foi um ato relevante para a evolução das discussões relativas à legislação ambiental no país, sendo considerado o primeiro passo para a regulamentação das áreas protegidas, até chegarmos no que hoje é o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, que veremos adiante. Em 1821, a primeira legislaçãosobre o uso da terra foi promulgada. Ela previa a manutenção de reservas florestais na sexta parte das áreas vendidas ou doadas, para preservar as madeiras existentes. Essa iniciativa é também precursora de leis atuais, como as chamadas Reservas Legais de propriedades rurais, previstas no Código Florestal Brasileiro, que veremos adiante. Com a extinção do monopólio imperial sobre o pau-brasil em 1831, aliado ao intenso crescimento da agricultura e ao estímulo à ocupação do território brasileiro, o período foi de pouca preocupação ambiental, com leis mais brandas, até a criação do primeiro Código Florestal, em 1934, já no Estado Novo. O destaque desse Código foi a classificação das florestas em protetoras, remanescentes, modelo e de rendimento. As florestas consideradas protetoras conservavam as águas, evitavam a erosão e abrigavam a fauna, além de proteger fronteiras do país. As florestas remanescentes eram destinadas à conservação, enquanto as florestas modelos eram plantadas (com espécies nativas ou exóticas). Por fim, as florestas de rendimento eram aquelas em que era permitida a exploração intensa de seus recursos. No mesmo ano, foi criado o Código de Caça e Pesca, que disciplinou o uso de equipamentos, tornou obrigatório o uso de licenças para caça e pesca e proibiu a caça de alguns animais úteis à agricultura. O Código das Águas (também criado em 1934) estabeleceu, pela primeira vez, regras para o uso particular das águas e geração de energia. O surgimento dessas leis, bem como da Constituição de 1934, embora com uma visão utilitarista dos recursos naturais, impulsionou o desenvolvimento do que é a legislação ambiental brasileira atualmente (HENDGES, 2016). A década de 1930 marcou também a criação do primeiro Parque Nacional do país, localizado em Itatiaia – RJ. (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009). Deste período até a década de 1960, foram criados mais de 14 Parques Nacionais. Em 1965, foi criado um novo Código Florestal, Lei no 4.771/1965, que substituiu o anterior de 1934 e trouxe as florestas como bem comum a toda a população. Além disso, definiu duas linhas políticas aos recursos florestais: uma de proteção, criando as Áreas de Preservação Permanente (APP), Reservas Legais e áreas de uso indireto, como 14 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL parques; outra linha, de conservação, por meio do uso racional e exploração de florestas nativas, uso múltiplo de áreas e “permitindo ao Estado uma interferência direta no uso das florestas particulares quando necessária à defesa de interesses coletivos” (HENDGES, 2016). Em 1967, foi criado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, o que depois se tornaria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, que falaremos adiante. A década de 1970 foi marcada, no Brasil e no mundo, pelo início das discussões ambientalistas, como uma reação ao choque do petróleo e do crescimento urbano e industrial sem controle. O Brasil estava em pleno “milagre econômico” e indiferente a este levante ambiental mundial. A criação dos Planos Nacionais de Desenvolvimento durante o período militar brasileiro foi desastrosa para o meio ambiente, sendo os incentivos dados ao governo para a exploração das terras do país os piores possíveis, causando a destruição em massa dos recursos naturais. Na Conferência de Estocolmo – que veremos mais detalhadamente adiante – em 1972, enquanto o mundo buscava formas de frear esse crescimento argumentando que o planeta não poderia reagir a essa velocidade de degradação, o Brasil defendeu o crescimento a qualquer custo, como forma de superar o subdesenvolvimento. Segundo Borges, Rezende e Pereira (2009), “A Delegação Brasileira na Conferência de Estocolmo declara que o país está aberto à poluição, porque o que precisa é dólares, desenvolvimento e empregos” (MEDINA, 2009). Apesar disso, ocorreram ações no país como um reflexo das novas discussões e preocupações ambientais do mundo. Em 1973, foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, para trabalhar em parceria com o IBDF. Em 1981, também como resultado dessa nova tendência, foi criada a Política Nacional de Meio Ambiente, Lei no 6.938/1981, o primeiro grande marco da legislação ambiental do país. O segundo grande marco foi a criação da Lei no 7.347/1985, de Ação Civil Pública, segundo a qual, enfim, os danos ao meio ambiente poderiam efetivamente chegar ao Poder Judiciário (GODOY; FACIO, 2013). A redemocratização do país trouxe uma nova Constituição em 1988, terceiro grande marco, que refletiu, de certa forma, nas influências de movimentos sociais e ambientais do mundo, para que fossem incluídos princípios relativos ao tema, especialmente baseados nos conceitos de desenvolvimento sustentável surgido no documento da ONU, intitulado Nosso Futuro Comum – Relatório Brundtland, criado em 1987. Como resultado, o artigo 225 da Constituição é totalmente dedicado ao meio ambiente, dispondo que “Todos têm direito ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (HENDGES, 2016). 15 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I O quarto importante marco da legislação ambiental ocorreu com a criação da Lei no 9.605/1998 – Lei de Crimes Ambientai –, que incluiu sanções penais às atividades prejudiciais ao meio ambiente. A constituição e seus dispositivos legais trouxeram consigo um conjunto de leis que consolidaram definitivamente a legislação ambiental brasileira como sendo uma das mais avançadas e completas do mundo. Embora não haja confluência entre as leis e o que de fato é praticado em grande parte dos setores – privados ou públicos –, devemos considerar os avanços significativos destas normatizações. É importante lembrar que, apesar de haver uma certa ordem cronológica nos fatos, a legislação ambiental é marcada ora por avanços, ora por retrocessos, uma vez que ela sempre está vinculada aos interesses dos governantes, ao grau de impacto das ações e às discussões sobre meio ambiente do respectivo período (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009). O autor Neder (2002) traçou, em um quadro, três dos principais momentos políticos/ legais do país e os comparou em relação à situação da questão ambiental no âmbito jurídico institucional. Esse quadro é uma síntese de muitos assuntos que vocês já viram até agora e que ainda verão nesse material, portanto, veja atentamente todo o processo histórico da questão ambiental do Brasil para entender onde estamos atualmente na questão. Quadro 1. Momentos históricos do Brasil e a questão ambiental. Período militar Assembleia Constituinte até 1998 1998-atual Percepção dos problemas ambientais » Problemas vistos como pontuais. » Poluição nas grandes cidades. » Necessidade de criação de Unidades de Conservação sem a presença humana. » A partir de Bruntdland, problemas são vistos como globais. » Desmatamento na Amazônia e perda da biodiversidade. » Visão socioambiental- homem inserido no meio ambiente. » Aquecimento global e perda de habitats. » Economia ambiental – valoração econômica dos recursos naturais. Cenário político- econômico-social » Governo autoritário, com pouca/ nenhuma participação popular. » Maioria da população sem acesso a bens de consumo. » Início do movimento ambientalista, ainda com visão romântica e separação homem-natureza. » Clube de Roma/ Conferência de Estocolmo. » Democratização, com maior participação popular. » Multiplicação de ONGs socioambientalistas. » Transição entre crise e estabilidade econômica. » Brundtland – Nosso Futuro Comum, surgimento do conceito de Desenvolvimento Sustentável e Rio-92. » Estabilidade e crescimento econômico. » Ascensão de grande parte da população e acesso a bens de consumo. » Grandes obras de infraestrutura. » Expansão do agronegócio e exploração de petróleoe energias limpas. » Kyoto, Rio + 10, Rio +20; Acordo de Paris. 16 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Principais legislações ligadas ao licenciamento ambiental » Política Nacional do Meio Ambiente e Res. CONAMA 01/1986. » Resolução CONAMA no 237/1997 e Lei de Crimes Ambientais. » Novo Código Florestal (2012), Lei Complementar 140. Dinâmica das instituições » Criação da SEMA, ligada ao ministério do Interior. » Criação do IBAMA, com a junção da SEMA, IBDF, SUDEPE e SUDHEVEA. » Criação do MMA posteriormente à criação do IBAMA. » Descentralização da gestão ambiental » Divisão do IBAMA, com a criação do ICMBio, ANA etc. Fonte: Adaptado de Neder (2002). Conforme podemos observar no quadro, nos três contextos históricos distintos, a questão ambiental tem um papel importante na transformação social, e vice-versa, uma vez que as tendências de novas ideologias e avanços sociais também refletiram no papel e na importância na qual o meio ambiente assume perante a sociedade. Cabe destacar, nessa evolução, o papel do componente humano nas relações com o meio ambiente. Se antes, até o período militar, o ser humano é visto como um elemento perturbador das condições ambientais e da preservação do ecossistema, essa visão vai mudando após a década de 1970, a partir das novas discussões sobre o desenvolvimento sustentável, no qual engloba o ser humano como elemento que o compõe, e, portanto, é responsável por ele – também para sua preservação. É importante lembrarmos o contexto no qual algumas das leis ambientais foram desenvolvidas – e vigentes até hoje – inclusive para notar que estas foram escritas sob outro viés de pensamento, trazendo o homem como agente de destruição e não um elemento de composição do meio ambiente, por exemplo. Outra questão importante que se alterou ao longo do processo histórico são as instituições públicas. Durante o período ditatorial, uma das principais características era a centralização do poder público, e isso também ocorria com as instituições de gestão ambiental. Esse processo mudou ao longo dos anos e a tendência atual é a descentralização dos serviços. Ainda que, atualmente, essa descentralização compromete grande parte dos serviços – e não somente os ligados à gestão ambiental – pela falta de estruturação das instituições municipais, por exemplo, essa tendência é global e, quando realizada de forma estruturada, com diálogo entre as estruturas das demais esferas do governo, é uma transformação positiva da gestão pública. 17 CAPÍTULO 2 Mudanças e avanços na Legislação Ambiental Brasileira Quando pensamos no Brasil, é possível entender porque não é tão simples assim a questão ambiental, pois, é um país quase com o tamanho de um continente, com a quinta maior nação do mundo, em um território que recobre cerca de 5,6% de toda a superfície terrestre do planeta, e possui grande quantidade de água doce (cerca de 12% das reservas globais), além de uma grande biodiversidade de animais e espécies vegetais em um local de relevo e clima favoráveis (LOPES, 2017). O país, conforme já dissemos anteriormente, criou muitas de suas leis ambientais de forma precursora, antes mesmo do auge das discussões mundiais sobre o tema. Isso permitiu, de certa forma, que tais leis fossem evoluindo ao longo dos anos, ora acolhendo temas antes não discutidos, ora adaptando-se às novas realidades existentes no país. Embora, muitas vezes, tais leis são consideradas falhas, injustas ou até mesmo excessivamente rigorosas, podemos afirmar que essa precocidade em desenvolver meios que assegurassem (mesmo que inicialmente por interesses econômicos) a conservação e regulassem o uso dos recursos naturais do país fizeram do Brasil um dos países considerados mais avançados em termos de leis ambientais propriamente ditas. Para compreender esses avanços e/ou mudanças nas principais leis, vamos descrever as leis básicas e suas mudanças principais. Código Florestal Assim como a Constituição Federal, a denominação Código Florestal era inédita quando foi promulgada, em 1934, por Getúlio Vargas, por meio do Decreto no 23.793/1934, com o objetivo de refletir as preocupações do período e de normatizar o uso das florestas, reconhecendo-as como de interesse social comum ao povo brasileiro. O Código Florestal surgiu no contexto do avanço industrial do país, que precisava se recuperar dos reflexos da crise mundial de 1929, quando houve a queda da bolsa de Nova Iorque. O Brasil, que tinha no café seu principal produto, precisava diversificar sua economia e passou a investir na indústria de base, como as metalúrgicas e as siderúrgicas, que necessitavam de investimentos em mineradoras e madeireiras para 18 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL o fornecimento de matérias-primas. Neste sentido, era necessário regulamentar a extração destes recursos para que não se esgotassem (SANTOS FILHO, 2015). Destaca-se entre as diretrizes deste Código que “Nenhum proprietário de terras cobertas de matas poderá abater mais de três quartas partes da vegetação existente [...]” (Decreto Federal no 23.793/1934, Art. 23). Além disso, definiu o conceito de florestas protetoras que, “apesar de similar ao conceito das áreas de preservação permanente (APP), não previa as distâncias a serem preservadas” (PRAES, 2012). Conforme dito anteriormente, as florestas foram, neste Código de 1934, classificadas em 4 tipos: protetoras, remanescentes, modelo e de rendimento (BRASIL, 1934). As florestas protetoras (art. 4o) seriam as que tinham como fins: » Conservar o regime das águas. » Evitar a erosão das terras pela ação dos agentes naturais. » Fixar dunas. » Auxiliar a defesa das fronteiras, de modo julgado necessário pelas autoridades militares. » Assegurar condições de salubridade pública. » Proteger sítios que por sua beleza mereçam ser conservados. » Asilar espécimes raras da fauna indígena. As chamadas floretas remanescentes (art.5o) seriam as de características: » Que formarem os parques nacionais, estaduais ou municipais. » Em que abundarem ou se cultivarem espécimes preciosas, cuja conservação se considerar necessária por motivo biológico ou estético. » Que o poder público reservar para pequenos parques ou bosques, de gozo público. As florestas tidas como modelo (art.6o) seriam as artificiais, ou seja, plantadas com vegetação nativa ou exótica, mas a lei não se atêm a muitos critérios ou descrições em relação ao procedimento de plantio ou bioma, ou qualquer outro detalhe necessário para o manejo adequado da floresta. As demais florestas, que não se enquadravam nestas categorias descritas, eram consideradas florestas de rendimento. 19 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Outro destaque relevante deste Código Florestal de 1934 foi a criação do Fundo Florestal (art. 98), o qual determinada que os recursos oriundos de contribuições das empresas, companhias, institutos ou doações de particulares interessados na conservação das florestas seria administrado pelo Ministério da Agricultura. Apesar de precursora, obviamente que essa lei apresentava limitações e falhas – como a questão da fiscalização pouco detalhada destas áreas a serem preservadas. Por isso, sofreu alterações ao longo das décadas seguintes até a década de 1960, quando o aumento das discussões e movimentos ambientalistas em todo mundo incidiram na criação de um novo Código Florestal. Assim, foi promulgada a Lei no 4.771/1965, refletindo à época a política intervencionista da ditadura militar sobre as propriedades rurais, com destaque para a criação das chamadas Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente (APP’s), e o proprietário rural deve, a partir disso, preservar tais áreas estando sujeito às sanções e à recomposição de tais áreas. Reserva legal A reserva legal (RL) é uma área dentro de cada propriedade com vegetação preservada, que pode ser explorada economicamente somente de forma sustentável, ou seja, com a conservação destaflora e também da fauna existente. O Código Florestal de 1965 definiu como limites para a Reserva Legal 50% da área da propriedade localizada na floresta Amazônica e 20% para as demais regiões do país, limitando o uso do solo e a exploração da vegetação natural existentes na propriedade. Posteriormente, com a Medida Provisória no 216/67 (art. 16o), estes limites foram aumentados para 80% de reserva legal para florestas da Amazônia, 35% para o Cerrado e 20% para as demais regiões do país. Área de Preservação Permanente (APP) Conforme o art 2o, eram consideradas Áreas de Preservação Permanente as florestas ou formas de vegetação situadas: a) ao longo dos rios ou de outro qualquer curso d’água, em faixa marginal cuja largura mínima será: 1 - de 5 (cinco) metros para os rios de menos de 10 (dez) metros de largura: 20 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 2 - igual à metade da largura dos cursos que meçam de 10 (dez) a 200 (duzentos) metros de distância entre as margens; 3 - de 100 (cem) metros para todos os cursos cuja largura seja superior a 200 (duzentos) metros. b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais; c) nas nascentes, mesmo nos chamados “olhos d’água”, seja qual for a sua situação topográfica; d) no topo de morros, montes, montanhas e serras; e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45o, equivalente a 100% na linha de maior declive; f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas; h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, nos campos naturais ou artificiais, as florestas nativas e as vegetações campestres. Figura 2. Limites definidos para APP’s no Código Florestal de 1965. Nascentes Até 10m 10m a 200m 200m ou mais Sem delimitação 5m Metade da largura do curso d’água 100m Fonte: Senado Federal (2012). 21 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Em 1986, a Lei no 7.511 alterou os limites de APP, com um significativo aumento destas: 1. de 30 (trinta) metros para os rios de menos de 10 (dez) metros de largura; 2. de 50 (cinquenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; 3. de 100 (cem) metros para os cursos d’água que meçam entre 50 (cinquenta) e 100 (cem) metros de largura; 4. de 150 (cento e cinquenta) metros para os cursos d’água que possuam entre 100 (cem) e 200 (duzentos) metros de largura; igual à distância entre as margens para os cursos d’água com largura superior a 200 (duzentos) metros (Brasil, 1986). Figura 3. Limites estabelecidos pela Lei no 7.511/1986 para as APP’s. As alterações dessa lei tornaram irregulares os imóveis que obedeciam aos limites antigos das APP’s. 600m ou mais 200m a 600m 150m Nascentes Até 10m 10m a 50m Raio de 50m 30m 50m 100m a 200m 50m a 100m 100m 500m Igual à distância entre as margens Fonte: Senado Federal (2012). As mudanças ocorridas em 1986, por meio desta lei, tinham influência significativa das novas discussões sobre o meio ambiente e o uso dos recursos naturais, cada vez mais latente em todo o mundo e não sendo diferente no Brasil. Em 1989, a Lei no 7.803 incluiu um parágrafo ao art. 2o do Código Florestal vigente que incluiu como APP também as áreas urbanas que se enquadrariam nas descrições da lei. 22 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Até então, só se referia às áreas rurais, quando tratava das APP’s, sempre observando os Planos Diretores Municipais e leis de uso do solo para definir os limites destas APP’s. Figura 4. A Lei no 7.803/1989 definiu a medição da APP a partir da margem dos cursos d’água na época das cheias. 600m ou mais 200m a 600m 100m Nascentes Até 10m 10m a 50m Raio de 50m 30m 50m a 200m 50m 500m 200m Fonte: Senado Federal (2012). O país, por deter grandes áreas de florestas e uma abundância de recursos como água e minerais, estava na mira dessas novas discussõest mundiais e, não à toa, foi sede da Conferência Rio-92, organizada pela ONU e considerada um marco para a evolução da temática ambiental e popularização do tema, especialmente para o Brasil. Apesar disso, a prática estava cada vez mais distante das teorias de preservação e os anos seguintes registraram um intenso aumento do desmatamento da Amazônia. Para tentar conter essas ações, o governo do período promoveu a modificação da Lei no 4.771/1965, por meio da Medida Provisória de no 2.166, sendo esta medida reeditada 67 vezes até o ano de 2001 (PRAES, 2012). Em 2000, a Medida Provisória no 1956 trouxe outra novidade para a classificação de APP’s. Em seu texto, havia a indicação de que não seria necessária a presença de mata nativa para ser considerada área de APP, incluindo no art.1o do Código Florestal o parágrafo: “Art. 1o; Parágrafo 2o. Para os efeitos deste Código, entende-se por: 23 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I II – área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2o e 3o desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”. Uma das principais ações para coibir esse desmatamento foi o surgimento da Lei de Crimes ambientais no 6.905/1998, que previa severas sanções para os desmatadores. Falaremos mais adiante sobre essa lei. Novo Código Florestal Brasileiro – Lei no 12.651/2012 Em 2009, iniciou-se a revisão do Código Florestal, por uma bancada de deputados composta, em grande parte, pelos chamados “ruralistas”, ou seja, deputados que possuíam alguma relação com terras – especialmente na Amazônia – sendo muitos donos de grandes propriedades e latifúndios, o que pautava o teor das discussões acerca da revisão do Código Florestal, gerando polêmicas especialmente com ambientalistas que alegavam que a revisão da lei favorecia a toda classe de grandes produtores rurais, pecuaristas e latifundiários. A comunidade científica, além dos ambientalistas, também criticou duramente as diversas modificações da lei, afirmando que as propostas seriam um retrocesso na preservação ambiental. Até que em abril de 2012 o texto final foi aprovado e foi publicada a Lei no 12.651/2012, após mais de 10 vetos e 30 modificações no texto proposto inicialmente. Algumas regulamentações foram dadas pelo Decreto no 7.830/2012. Mas quais as polêmicas em relação a essa lei? Vamos destacar as principais alterações da lei de 2012 em relação ao Código Florestal de 1965: » Permissão de uso nas APP’s: admite-se o plantio de culturas temporárias e sazonais de vazante de ciclo curto na faixa de terra exposta no período de vazante dos rios e lagos – desde que não haja novas supressões de vegetação nativa – para as pequenas propriedades exploradas por empreendedores familiares rurais, incluindo assentamentos e projetos de reforma agrária (art. 4o, § 5o). » Permissão para a prática de aquicultura e infraestrutura ligada a tal prática nas APP’s dos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais, desde que estejam regulares com os Planos de Bacia, não necessitem de novas 24 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL supressões de vegetação nativa, tenham regulamentado o licenciamento ambiental competente e estejam inscritos no CAR. » Permissão para incluir as APP’s no cálculo de Reserva Legal das propriedades, desde que a área esteja em recuperação ou conservada e incluída no CAR (art. 15), o que pode diminuir as áreas totais protegidas. » Possibilidade de realizar recomposição de Reserva Legal com espécies exóticas (art. 66), o que pode comprometer a biodiversidade natural do ambiente. » Compensação da Reserva Legal em outra área: permissão para instituir RL em regime de condomínio ou coletiva, entre diversas propriedades, respeitando o percentual previsto.Embora haja a obrigatoriedade desta compensação ser no mesmo bioma da RL original, pode-se perder a identidade ecológica e as características especificas do local que deveria ser recomposto. » Anistia de multas para alguns casos em que produtores/proprietários tenham desmatado áreas protegidas até 22 de junho de 2008, com a obrigação de recomposição parcial da área desmatada. Embora haja essa obrigação, os ambientalistas criticam essa alteração da lei por abrir brechas jurídicas e precedentes que incentivem o desmatamento. Afinal, por que a data de 22 de julho de 2008? Nessa data, foi publicado o Decreto no 6.514, que trata sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente. A lógica do Novo Código Florestal é de que, quem cometeu infrações até essa data, não poderá ser punido pois não havia leis competentes para tais sanções anteriormente. » Cota de Reserva Ambiental (CRA) é um mecanismo proposto pela nova lei para que seja criado um mercado de negociação de áreas excedentes de Reserva Legal de uma propriedade para que outro produtor que tenha reserva insuficiente a utilize, como um título, negociável, inclusive, na Bolsa de Valores. Entretanto, na prática, ainda não há iniciativas existentes dessa prática (ORENSTEIN, 2017). 25 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I » Possibilidade de redução da Reserva legal na Amazônia, pois embora a lei tenha mantido o valor de 80% de RL nesse bioma, este pode ser reduzido a até 50% caso haja autorização dos órgãos competentes. » As APP’s, que antes eram medidas a partir do leito maior dos rios, passaram a ser medidas a partir do leito regular, ou seja, pode haver uma diminuição do leito e, consequentemente, da APP deste. Resumindo as APP’s (REINIS, 2016): » Até 1965, não existiam as Áreas de Preservação Permanente, sendo que as áreas na beira dos cursos d’água com vegetação nativa podiam livremente ser suprimidas. » Entre a criação da Lei no 4.771/1965 até a Lei no 7.511/1986, os proprietários de terrenos em áreas rurais que tivessem áreas nativas no entorno dos rios e cursos d’água tinham a obrigação de preservá-los nos 5 metros do entorno da margem, mas isso só era obrigatório para áreas rurais. » A partir da criação desta lei, em 1986, os proprietários de terras em áreas rurais com vegetação nativa no entorno dos cursos d’água passaram a ser obrigados a preservar 30 metros da margem, enquanto nas áreas urbanas surgiu a restrição, de acordo com as leis de parcelamento de solo específicas. » Em 1989, a criação da Lei no 7.803 fez com que as leis municipais e seus Planos Diretores passassem a obedecer aos limites e princípios do Código Florestal. Ou seja, nas áreas urbanas, os limites de preservação para as margens no entorno de rios e cursos d’água também passaram para 30 metros. » Em 2000, com a Medida Provisória no 1956, passou a ser necessária a preservação de qualquer área no entorno dos cursos d’água, não necessariamente as áreas de vegetação nativa, mas qualquer área que se enquadre nesse entorno. » Com a criação do novo Código Florestal em 2012, excluíram-se os cursos d’água efêmeros das APP’s, bem como foi liberado às pequenas propriedades o plantio de culturas temporárias e sazonais de ciclo curto em áreas de vazantes (§ 5o), e a prática da aquicultura para 26 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL imóveis com até 15 módulos fiscais (§ 6o), desde que nada disso decorra à necessidade de supressão de vegetação, seja realizado o licenciamento ambiental (no caso da aquicultura) e a propriedade tenha Cadastro Ambiental Rural – CAR. Cadastro Ambiental Rural – CAR Uma das inovações consideradas positivas pela nova lei é a criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), para que – teoricamente – os órgãos ambientais conheçam a localização de cada imóvel rural e sua situação ambiental. O CAR é um sistema nacional virtual que reúne informações de todas as propriedades rurais, com nome do proprietário ou possuidor da terra, a planta georreferenciada do perímetro do imóvel, informações sobre a APP, Reservas Legais e/ou Áreas de Uso Restrito deste. Todas essas informações vão para o chamado Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SICAR), dentro do chamado Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (SINIMA). Esse cadastro é obrigatório conforme a lei, sendo critério determinante para possibilitar a aquisição de créditos agrícolas, por exemplo. O principal objetivo do CAR é compor uma base de dados para o controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento. Após a inscrição no CAR, os proprietários ou possuidores de imóveis rurais com passivos ambientais (especialmente ligados à supressão de vegetação nativa) ocorridos até 22 de julho de 2008 em áreas de APP, de Reserva Legal ou de Uso Restrito podem solicitar adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) do respectivo Estado. O PRA é mais uma das novidades do novo Código Florestal, para que os Estados orientem os produtores rurais na implementação de ações para a recomposição das áreas com passivos ambientais nas suas propriedades, seja em APP’s ou Reserva Legal. O PRA dará os procedimentos para recuperação, recomposição, regeneração ou compensação (este último para as RL’s suprimidas até a data). Passivos ambientais são as obrigações – voluntárias ou involuntárias – de preservação, recuperação e/ou proteção do meio ambiente pela qual empresas ou particulares são responsáveis. O Programa de Regularização Ambiental – PRA foi previsto em lei para agregar as ações para a regularização ambiental das propriedades, sendo sua adesão obrigatória para os inscritos no CAR. Para isso, o proprietário ou responsável pelo imóvel rural assina um Termo de Compromisso para recompor, manter ou recuperar as áreas 27 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I degradadas nas suas APP’s, Reservas Legais e Uso Restrito. A partir da assinatura do Termo de Compromisso, serão suspensas as sanções decorrentes das infrações relativas à supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de Áreas de Uso Restrito cometidas antes de 22 de julho de 2008, nas denominadas “áreas rurais consolidadas”, ou seja, com ocupação antrópica onde deveria haver área preservada conforme a lei. Essa medida é muito questionada pelos ambientalistas, pois é considerada uma anistia aos que devastaram áreas protegidas por lei até esta data. Neste sentido, as pequenas propriedades são favorecidas, uma vez que há na lei regras diferenciadas para as propriedades com até 4 módulos fiscais para a regularização da Reserva Legal. As discussões acerca do chamado Novo Código Florestal envolvem os chamados ruralistas, acadêmicos e ambientalistas que divergem de opinião sobre a revisão do texto original. Enquanto ruralistas afirmavam que o antigo Código Florestal impedia o desenvolvimento econômico da agropecuária, acadêmicos e ambientalistas concordavam em afirmar que não havia embasamento e estudos para as novas determinações do Código. O fato é que impossível conciliar interesses sociais, econômicos e ambientais em uma lei que promova, ao mesmo tempo, a conservação dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico da agropecuária. Para os chamados ruralistas, é necessário expandir as fronteiras agrícolas para o aumento da produção, o que era dificultado pelo Código Florestal anterior; para os acadêmicos, é importante desenvolver a agricultura, mas essas mudanças devem ser embasadas pela ciência; para os ambientalistas, as leis trazem facilitação para desmatar, o que provoca desequilíbrio ecológico, prejudicando inclusive a agricultura (PRAES, 2012). De fato, algumas pesquisas afirmam que as terras já existentes para a produção agropecuária poderiam ser suficientes para dobrar a produção, apenas com o melhoramento e desenvolvimento de tecnologias para tal (SPAROVEK et al., 2011 em PRAES, 2012). Embora houve consensona revisão do Código Florestal de 1965, os divergentes interesses dificultaram na reformulação do texto final do novo Código Florestal. Essas divergências prejudicam a busca por um real desenvolvimento sustentável do país. 28 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL É preciso fazer uma análise crítica sobre o tema e não estar somente de um lado, mas realizar uma reflexão do que podemos fazer para compatibilizar o desenvolvimento do setor agropecuário com a sustentabilidade ambiental. Esse é o desafio às próximas gerações. Para esclarecer melhor todos os itens do chamado Novo Código Florestal, o CI Florestas ilustrou as mudanças e os conceitos da lei. Acesse: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/index.html>. Lei das águas à Política Nacional de Recursos Hídricos O crescimento da população, aliado ao uso intenso de recursos hídricos em atividades como a agricultura e indústria – para suprir as necessidades desta população em crescimento –, fez com que as águas fossem utilizadas ao longo da história de forma deliberada, tanto para o abastecimento quanto para a diluição de efluentes, irrigação e produção industrial. Isso ocorreu em todo o mundo, em períodos distintos da evolução de cada região. O Brasil, por apresentar dimensões de um continente e uma grande abundância de recursos hídricos, precisou dar a devida importância para estes na construção de medidas com a finalidade de normatizar o uso destas. A primeira lei que buscou isso foi o “Código de Águas”, Decreto no 24.643, de 10 de julho de 1934, criada por Getúlio Vargas. O decreto fala dos tipos de água (públicas, comuns e particulares), das desapropriações caso sejam necessárias para o bem do aproveitamento da água, das concessões, autorizações e penalidades, bem como do uso para aproveitamento de energia hidráulica. Sobre as penalidades, o decreto prevê que quem poluísse as águas, ainda que as particulares, poderia ter responsabilidades criminais, além da recuperação das águas. No entanto, não dá maiores detalhes sobre quais responsabilidades seriam estas: Art. 109. A ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as águas que não consome, com prejuízo de terceiros. Art. 110. Os trabalhos para a salubridade das águas serão executados à custa dos infratores, que, além da responsabilidade criminal, se houver, responderão pelas perdas e danos que causarem e pelas multas que lhes forem impostas nos regulamentos administrativos. 29 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Art. 111. Se os interesses relevantes da agricultura ou da indústria o exigirem, e mediante expressa autorização administrativa, as águas poderão ser inquinadas, mas os agricultores ou industriais deverão providenciar para que as se purifiquem, por qualquer processo, ou sigam o seu esgoto natural (BRASIL, 1934). O Código das Águas foi a lei mais importante para normatizar o uso das águas até a Constituição Federal de 1988, quando foi extinto o domínio privado das águas, passando a ser de domínio público todo o tipo de água, desde a subterrânea até a superficial, as nascentes etc. Desde 1988, portanto, as águas podem ser consideradas (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009): » Domínio da União: rios e lagos que banhem mais de uma unidade federada, ou que sirvam de fronteira entre essas unidades, ou entre o território do Brasil e o país vizinho ou deste provenham ou que se estendam até ele. » Domínio dos estados, para suas águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, as decorrentes de obras da União. Em 1997 foi criada a Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH pela Lei no 9.433/1997, lei que objetivava modernizar as normas para o uso das águas numa perspectiva já voltada à sustentabilidade destes recursos a partir das discussões ambientais crescentes no período em todo o mundo. É possível verificar a influência destas novas perspectivas ambientais nos objetivos desta lei, em seu art. 2o, que diz “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos” (BRASIL, 1997). Enquanto o Decreto de 1934 prioriza o direito da propriedade das águas, a Lei que instituiu a PNRH reforça a supremacia do domínio público das águas sobre o privado, ou seja, para alguns aproveitamentos e explorações, o interessado precisa seguir os termos legais e solicitar autorizações específicas dos órgãos competentes (CAVALCANTI; CAVALCANTE, 2016). A lei busca organizar o planejamento e a gestão dos recursos hídricos com a criação de diversos instrumentos políticos para o setor: » Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH): o sistema tem como objetivo implementar a PNRH, coordenando a gestão das águas, controlando o uso, a preservação e a recuperação, bem como participar do processo de cobrança pelo uso dos recursos hídricos. 30 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Como partes integrantes do SINGREH, estão: » o Conselho Nacional de Recursos Hídricos; » a Agência Nacional de Águas; » os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; » os Comitês de Bacia Hidrográfica; » os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais que estejam relacionados à gestão dos recursos hídricos; » as Agências de Água. Podemos assim dizer que essa lei se sustenta por dois pilares prioritários: o planejamento e aproveitamento de uso e a participação de todos os setores usuários na tomada de decisões, visando uma gestão participativa e descentralizada, com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Em 2000, foi criada, pela Lei no 9.984/00, a Agência Nacional das Águas – ANA, com o objetivo de executar a PNRH. A ANA, enquanto autarquia (ou seja, com autonomia administrativa e financeira) é vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e foi criada para viabilizar condições técnicas para a efetivação da Lei das Águas (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009). A ANA segue, basicamente, quatro linhas de ações (ANA, 2017): » Regulação: regula o acesso e o uso das águas que são de domínio da União, os serviços de irrigação e adução, além de emitir e fiscalizar as outorgas para o uso de água e também fiscalizar a segurança das barragens. » Monitoramento: a ANA é o órgão responsável por acompanhar a situação dos níveis, vazões, quantidade de chuva, além de definir as regras para a operação dos reservatórios das Usinas Hidrelétricas em parceria com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a fim de regular o uso da água represada. » Aplicação de lei: é uma das atuações mais importantes da ANA, uma vez que auxilia na coordenação e implementação da PNRH, a partir do apoio a programas e projetos, articulando com os órgãos estaduais gestores dos recursos hídricos e os Comitês de Bacia Hidrográfica. 31 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I » Planejamento: participa da elaboração de estudos como os Planos de Bacias hidrográficas, Relatórios Técnicos, entre outros, em parceria com outros órgãos públicos ou instituições. Conheça mais sobre o que a ANA. Veja documentos produzidos e mapas dos recursos hídricos do Brasil no site: <http://www.ana.gov.br>. Outra ação legal significativa para normatizar o uso destes recursos hídricos foi a criação da Resolução CONAMA no 357, de 2005, que substituiu a Resolução no 20/1986. Esta classificou e enquadrou as águas, estabelecendo padrões de uso permitidos para cada uma destas e para o lançamento de efluentes em cada uma. O novo enquadramento surgiu da necessidade de se reformular a antiga classificação, a fim de melhorar as condições e os padrões de qualidade para atender as necessidades da população. As principais mudanças entre as duas Resoluções estão relacionadas aos valores de concentração máxima de alguns elementos e as condições para a emissão de efluentes, além das exigências de toxicidade. Estas exigências foram modernizadas e algumas tiveram valores mais restritivos.A Resolução de 2005 manteve a classificação para as águas doces, com as mesmas 5 classes (CONAMA, 2005): I - classe especial: águas destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção; b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e, c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. II - classe 1: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; b) à proteção das comunidades aquáticas; c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000; 32 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; e e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas. III - classe 2: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; b) à proteção das comunidades aquáticas; c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000; d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e e) à aquicultura e à atividade de pesca. IV - classe 3: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; c) à pesca amadora; d) à recreação de contato secundário; e e) à dessedentação de animais. V - classe 4: águas que podem ser destinadas: a) à navegação; e b) à harmonia paisagística. Porém, a nova Resolução aumenta o número de classificação das águas salinas e salobras, de duas para quatro categorias. Se compararmos com a resolução CONAMA no 20, a nova Conama no 357 estipula padrões mais exigentes que os de Classe 1 para cursos d’água utilizados em pesca ou cultivo de organismos de consumo intensivo industrial. 33 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Além disso, substitui o conceito de emissão de efluentes por limite de concentração pelo de fixação de carga poluidora máxima, ou seja, permite levar em conta a real capacidade do corpo d’água para receber a descarga diária de efluentes. Essa mudança ajuda a diferenciar as emissões para cada rio, curso d’água ou mar, dependendo da sua classificação. Se ele for especial, por exemplo, não admitirá nenhum tipo de emissão. Se for classe 1, terá uma exigência maior, que será reduzida progressivamente até chegar na última e mais poluída classificação: no caso de águas doces, classe 4, e de águas salinas e salobras, classe 3 (FURTADO, 2005). Cabe lembrar que, ainda em 2000, foi publicada a Resolução CONAMA no 274, sobre a balneabilidade das águas doces, salobras e salinas, classificando-as como próprias ou impróprias de acordo com os parâmetros estabelecidos. Cabe aos órgãos de controle ambiental competentes a aplicação da lei e a divulgação das condições de balneabilidade das praias, bem como da fiscalização. No Estado de São Paulo, por exemplo, quem faz essa análise e determina o parâmetro específico de uma praia, por exemplo, é a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB. Semanalmente, são coletadas amostras de água para determinar a qualidade para o uso recreativo. Nas praias de todo o litoral do Estado, são fixadas bandeiras que indicam a qualidade da água amostrada: verde indica uma praia apta ao banho, pois a qualidade da água está boa, conforme podemos ver na figura a seguir, enquanto a bandeira vermelha indica uma má qualidade das águas, consideradas impróprias para banho. Figura 5. Imagem da bandeira utilizada pela CETESB para indicar a qualidade das águas de uma determinada praia. Fonte: CETESB (2017). 34 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Em 2008, alguns parâmetros da Resolução no 357 foram alterados pela publicação da Resolução CONAMA no 397/2008. No mesmo ano, a Resolução CONAMA no 396/2008 estabeleceu parâmetros mais específicos de enquadramento para as águas subterrâneas. Outra Resolução importante foi a CONAMA no 430, em 13 de maio de 2011, que trata das condições, dos parâmetros, dos padrões e das diretrizes para a gestão do lançamento de efluentes em corpos d’agua receptores, alterando os conceitos sobre o assunto das resoluções anteriores. Essa Resolução manteve as classificações e os enquadramentos de corpos d’água anteriores, mas determinou que os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados diretamente nos corpos receptores após o tratamento conveniente, segundo as orientações legais. Além disso, as disposições dessa norma devem ser seguidas quando houver lançamento indireto de efluentes caso o órgão ambiental competente não possuir normas específicas sobre isso. Lei de crimes ambientais A Lei de crimes ambientais no 6.905/1998 surgiu para aprimorar as penalidades para quem estivesse em desacordo com as normas existentes para o meio ambiente, responsabilizando os infratores na esfera civil e também penal, além de contemplar itens sobre a recuperação dos danos causados. Foi a partir dessa lei que os delitos contra o meio ambiente passaram a ser crimes, não somente contravenções penais. A partir disso, as penas ficaram mais severas com o intuito de diminuir os delitos que só causavam, no máximo, algumas multas anteriormente à lei. Em 2008, a Lei de Crimes Ambientais foi regulamentada pelo Decreto no 6.514/2008, que exigia inclusive a averbação das áreas de Reserva Legal – já descritas anteriormente – sendo que o não cumprimento impediria o proprietário rural de ter alguns benefícios, como, por exemplo, receber do governo financiamentos rurais. Esse é o decreto que “anistia” os proprietários que desmataram áreas de RL, até 22 de julho de 2008, de sanções segundo o Novo Código Florestal Lei no 12.651/2012. O Decreto no 9.179, de 23 de outubro de 2017 foi publicado em consonância ao novo Código Florestal, alterando parte do decreto citado anteriormente, no que tange as infrações e conversões de multas. O Decreto instituiu, para isso, o Programa de Conversão de Multas Ambientais, ligado ao SISNAMA. Segundo o art. 140: 35 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I São considerados serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, as ações, as atividades e as obras incluídas em projetos com, no mínimo, um dos seguintes objetivos: I - recuperação: a) de áreas degradadas para conservação da biodiversidade e conservação e melhoria da qualidade do meio ambiente; b) de processos ecológicos essenciais; c) de vegetação nativa para proteção; e d) de áreas de recarga de aquíferos; II - proteção e manejo de espécies da flora nativa e da fauna silvestre; III - monitoramento da qualidade do meio ambiente e desenvolvimento de indicadores ambientais; IV - mitigação ou adaptação às mudanças do clima; V - manutenção de espaços públicos que tenham como objetivo a conservação, a proteção e a recuperação de espécies da flora nativa ou da fauna silvestre e de áreas verdes urbanas destinadas à proteção dos recursos hídricos; VI - educação ambiental; ou VII - promoção da regularização fundiária de unidades de conservação. § 1o Na hipótese de os serviços a serem executados demandarem recuperação da vegetação nativa em imóvel rural, as áreas beneficiadas com a prestação de serviço objeto da conversão deverão estar inscritas no Cadastro Ambiental Rural - CAR. § 2o O disposto no § 1o não se aplica aos assentamentos de reforma agrária, aos territórios indígenas e quilombolas e às unidades de conservação, ressalvadas as Áreas de Proteção Ambiental.” (NR)” (BRASIL, 2017). Política Nacional de Meio Ambiente A Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, é a lei que define os mecanismos e instrumentos de proteçãodo meio ambiente no país, e serviu para, de certa forma, unificar as leis 36 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ambientais estaduais, o que auxilia na sistematização, normatização e torna-as mais eficientes. A lei é anterior à Constituição Federal de 1988, embora dê efetividade ao artigo 225 desta, que afirma que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988). Entre os principais objetivos da PNMA estão a compatibilização entre o desenvolvimento econômico e social com a preservação do meio ambiente; a definição de áreas prioritárias de ação; o fomento ao desenvolvimento de pesquisas ligadas aos recursos naturais, além do estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e manejo dos recursos; a exigência na recuperação dos danos causados aos recursos naturais/ambientais é um ponto importante da lei, com a aplicação de multas e indenizações relativas aos danos causados (EBBESEN, 2016). Para viabilizar tais objetivos, a PNMA descreveu instrumentos (art 9o) que podem ser utilizados pela administração pública, de qualquer ente federativo. De tais instrumentos, é importante enfatizar alguns: » Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental no qual o CONAMA tem papel importante a partir do desenvolvimento das normas e Resoluções que padronizam a gestão de questões como a qualidade do ar, das águas, os ruídos etc. A Resolução CONAMA no 5, de 1989, por exemplo, criou o Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar (PRONAR), estabelecendo limites de poluentes no ar, enquanto a Resolução no 3/ 1990 definiu o conceito de poluentes. A Resolução no 1, de 1990, do CONAMA deu validade à NBR no 10.152 da ABNT, que avalia a intensidade dos ruídos em áreas habitadas. Da mesma forma, para as águas, o CONAMA instituiu uma série de Resoluções como a no 357/2005, que classifica as águas doces, salgadas e salinas, conforme já vimos anteriormente (RODRIGUES, 2014). » Zoneamento Ambiental o que viabilizou, por exemplo, a regulamentação do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) por meio do Decreto no 4.297, de 10 de julho de 2002, além do zoneamento industrial e urbano, entre outros. O ZEE estabelece padrões de proteção ambiental para assegurar a qualidade ambiental dos recursos e é de competência federal realizá-lo. O zoneamento é um importante 37 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I instrumento jurídico de ordenamento do uso do solo, e está previsto também na Constituição Federal de 1988, onde consta que cabe ao município promover esse ordenamento territorial (art. 30), especialmente com a elaboração dos chamados Planos Diretores. O zoneamento ambiental também consta no Estatuto das Cidades, lei no 10.257/2001 com o intuito de contribuir com a sustentabilidade dos municípios (RODRIGUES, 2014). » A Avaliação dos Impactos Ambientais, o Licenciamento e a revisão de atividades potencialmente poluidoras, normatizada anos mais tarde pela Resolução Conama no 1, de 23 de janeiro de 1986, que também veremos adiante. » A criação de Áreas de Proteção Ambiental, foi normatizado posteriormente com a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que veremos adiante. » A penalização para quem não cumprir as medidas para a preservação ambiental, entre outros instrumentos. Para viabilizar a efetivação de todos os instrumentos preconizados, por meio das ações de competência da União, dos Estados e dos Municípios, a PNMA, no art 6o, criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, estruturado por órgãos federais, estaduais e municipais para proteger e melhorar a qualidade ambiental. São membros do SISNAMA: » Conselho de Governo. » CONAMA, como principal órgão consultivo e deliberativo para propor as normas e os padrões para a qualidade ambiental. » Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. » O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – Instituto Chico Mendes, principais executores da política ambiental no país. » Órgãos e entidades estaduais, que são os responsáveis pela execução dos programas, projetos e pela fiscalização das atividades que podem provocar impactos ou degradações ambientais. 38 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL O CONAMA tem um papel de destaque na PNMA e no SISNAMA como um todo, uma vez que, conforme o art. 8o, além do estabelecimento de normas e padrões de qualidade ambiental, cabe a ele também: II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional (Redação dada pela Lei no 8.028, de 1990) (BRASIL, 1981). Isso torna o CONAMA um órgão fundamental no processo de licenciamento ambiental no país, uma vez que participa de perto de processos decisórios e de avaliações dos estudos solicitados para a obtenção de licenças ambientais por meio de empreendimentos. Falaremos mais sobre o assunto a seguir. Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC) – Lei no 9.985/2000 Embora o processo de criação de Unidades de Conservação no país já começasse a partir da década de 1930, com a criação do Parque Nacional de Itatiaia, em 1937, seguido dos Parques Nacionais do Iguaçu e Serra dos Órgãos, em 1939, estes ainda não tinham como objetivo principal a proteção da natureza como foco de criação. O Código Florestal de 1965 trouxe como conceituação legal a criação de Unidades de Conservação de uso indireto – Parques nacionais, estaduais, municipais e as Reservas Biológicas – que não permitiam o uso dos recursos, e de uso direto – Florestas nacionais e Parques de Caça – que permitiam a exploração dos recursos (DRUMMOND,1997). Em 1981, a Lei no 6.902 foi criada para instituir as estações ecológicas e as áreas de proteção ambiental, enquanto as Reservas extrativistas surgiram por meio de uma Portaria do INCRA, após pressão de ribeirinhos da região amazônica que necessitavam explorar a floresta como subsistência, sendo reconhecidas em 1990 por meio do Decreto no 98.897. Nesse período, surgiram diversas categorias de unidades de conservação em uma tentativa de, ao mesmo tempo, proteger as áreas naturais e seguir as tendências mundiais de mudanças no panorama da conservação ambiental, pressões internacionais e ampliação no interesse social sobre o assunto (BARROS, 2000). 39 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Diante disso, a Lei no 9.985 surgiu em 2000 para consolidar e regulamentar a criação de áreas de preservação e proteção da biodiversidade que eram citados desde o Código Florestal, na Política Nacional de Meio Ambiente e na Constituição Federal de 1988. É possível dizer que a criação do SNUC regulamentou o artigo 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009). O SNUC foi regulamentado pelo Decreto no 4.340, de 22 de agosto de 2002. As áreas de preservação anteriores ao SNUC foram reclassificadas e enquadradas em dois grupos: » Unidades de Proteção Integral: com o objetivo de preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto (com exceções). São compostas por cinco categorias de unidades de conservação: Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. Em muitas destas, nem a visitação pública é permitida, nem a permanência de moradores tradicionais e nenhum tipo de exploração da área, apenas a pesquisa medianteautorização dos órgãos competentes. » Unidades de Uso Sustentável: permite a exploração do ambiente de forma que se garanta a perenidade dos recursos naturais renováveis, mantendo a biodiversidade, de forma socialmente justa e economicamente viável. As Unidades de Uso Sustentável são as Áreas de Proteção Ambiental; Áreas de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural. É nessas UC’s que se concentram grande parte das populações – tradicionais ou não – que necessitam explorar as áreas naturais para a sobrevivência, como os caiçaras, ribeirinhos, quilombolas, entre outros. Embora o SNUC atue de forma importante para normatizar as Unidades de Conservação, há ainda entraves na classificação padronizada de áreas tão distintas e heterogêneas ao longo de um país tão extenso como o Brasil. Muitas áreas tidas como de proteção integral, por exemplo, possuem populações tradicionais que poderiam contribuir para ações de conservação, entretanto, sofrem com a pressão e a burocratização dos seus modos de vida, sendo impedidos de exercê-las. A polarização entre as visões conservacionistas e socioambientais das Unidades de Conservação impede que haja um debate que possa, de fato, enriquecer as ações de 40 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL preservação das áreas realmente importantes ao mesmo tempo que conserve tradições e meios de vida culturais. O artigo Ribeirinhos e caiçaras: a vida entre terra e água, escrito por Renato Azevedo Matias Silvano e Alpina Begossi (2017), retrata um pouco da vida destas populações tradicionais – muitas vezes marginalizadas – e também os conflitos de suas atividades e Unidades de Conservação. Acesse: <http://www.comciencia.br/ribeirinhos-e-caicaras-vida-entre-terra-e- agua/>. Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS – Lei no 12.305/2010 A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi uma das últimas grandes leis publicadas que está relacionada às problemática ambientais importantes, como a gestão dos resíduos no país, depois de décadas em tramitação. A lei foi regulamentada pelo Decreto no 7.404/2010. A primeira iniciativa de haver uma lei sobre o assunto, segundo Costa (2017), começou a tramitar em 1989, sobre a disposição final de resíduos de saúde, mas, somente em 2007, foi dado o seguimento para a criação do que é a atual lei. Nesse período, cerca de 100 projetos relacionados ao tema foram apensados e tramitaram na Câmara. A questão mais problemática da PNRS é a logística reversa, que prevê a responsabilidade de fabricantes e distribuidores na destinação correta dos resíduos, o que – obviamente – encontrou resistência do setor industrial, atrasando ainda mais a publicação da lei final (COSTA, 2017). E mesmo após a publicação da lei, as ações relativas à logística reversa ainda são pouco eficazes e são bem restritas a alguns setores e localizações geográficas. A lei também enfatizou a obrigatoriedade da elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) por parte do setor privado, uma exigência já de muitos processos de licenciamento ambiental. Embora publicada há alguns anos, a PNRS ainda precisa engrenar muitos conceitos e ações, entretanto, algumas iniciativas e exigências legais tendem a dar certo, embora a lei não tenha levado em consideração realidades distintas ao longo do país, como entre as grandes metrópoles e pequenas cidades, ou regiões industriais e agrícolas, por exemplo, dificuldades enfrentadas sempre em que há generalizações. 41 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Plano Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC – Lei no 12.187, de 29 de dezembro de 2009 A lei, que foi regulamentada pelo Decreto no 7.390, de 2010, foi uma inédita e importante iniciativa para a redução de emissão de CO2 e outras medidas que contribuem para a discussão, pautada nas tendências ambientais, desde a Conferência de Estocolmo na década de 1970 até a criação do Protocolo de Kyoto, em 1998 e as discussões atuais. A Lei trata do tema de forma coletiva, no qual se estabelece como obrigação de todos atuar na redução dos impactos sobre o clima, para o benefício desta e das futuras gerações. Embora de iniciativa precursora, a lei pouco põe em prática os conceitos estabelecidos para, de fato, essa redução de impactos. Mas é impossível negar a importância do início das discussões sobre as mudanças do clima, que certamente serão intensificadas nas próximas décadas. 42 CAPÍTULO 3 Outras leis ambientais Outras leis ambientais são importantes para a história do país no que tange à proteção ambiental. Entre as principais estão: » Lei no 7.735/1989 – cria o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama e integrou a gestão ambiental no Brasil por meio da fusão Secretaria de Meio Ambiente – SEMA, Superintendência da Borracha – SUDHEVEA, Superintendência da Pesca – SUDEPE e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF. » Lei no 7.797/1989 – cria o Fundo Nacional de Meio Ambiente com o objetivo de desenvolver projetos que incentivem o uso racional e sustentável dos recursos naturais, a manutenção, recuperação e melhoria da qualidade ambiental e da vida da população. » Decreto no 99.274/1990 – regulamenta a Política Nacional de Meio Ambiente – Lei no 6.938/1981 e dispõe sobre a criação de Estações ecológicas e Áreas de Proteção ambiental. » Lei no 8.490/1992 – cria o Ministério do Meio Ambiente. » Decreto no 1.141, de 19 de maio de 1994 – dispõe sobre a Comissão Intersetorial de Ações de Proteção do Meio Ambiente, Saúde e Atividades Produtivas para Comunidades Indígenas (FUNAI). » Medida Provisória no 1.511/1996 – primeira de uma série que definem e conceituam as Reservas Legais e as Áreas de Preservação Permanentes, fixando as primeiras em 80% na Amazônia Legal. » Lei no 9.433/1997 – Política Nacional de Recursos Hídricos: regulamenta o artigo 21, inciso XIX da Constituição Federal. Estabelece o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, estabelece que a água é um bem de domínio público, uso múltiplo e gestão descentralizada com participação dos usuários. » Decreto no 4.613/2003 – regulamenta o Conselho Nacional dos Recursos Hídricos, suas competências e composição. 43 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I » Lei no 9.795/1999 – Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA: inclui a educação ambiental inter, multi e transdisciplinar, em todos os níveis e modalidades formais do ensino e não formal como práticas educativas desenvolvidas pelas organizações da sociedade civil, empresas, sindicatos, organizações não governamentais, meios de comunicação e cidadãos para a sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais, sua organização e defesa do meio ambiente. » Decreto no 4.281/2002 – regulamenta a Política Nacional de Educação Ambiental, sua execução e gestão. » Lei no 9.666/2000 – dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização dos lançamentos de óleos e substâncias perigosas ou nocivas nas águas nacionais. A resolução Conama no 306/2002 estabelece os requisitos para as auditorias ambientais de avaliação dos sistemas de gestão e controle ambiental nos portos, plataformas e refinarias com objetivos de cumprimento da legislação e dos licenciamentos ambientais pelas indústrias petrolíferas, gás natural e derivados. » Lei no 11.326/2006 – estabelece os conceitos, princípios, instrumentos e as políticas públicas relacionadas à agricultura familiar e empreendimentos familiares rurais. » Lei no 11.516/2007 – cria o Instituto Chico Mendes – ICMBio como responsável pela gestão e fiscalização das Unidades de Conservação. » Lei no 11.445/2007 – Política Nacional de Saneamento Básico – PNSB: diretrizes nacionais para o saneamento básico englobando o abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza urbana e manejo dosresíduos sólidos. Estabelece os princípios fundamentais para a prestação de serviços públicos de saneamento, sua titularidade, planejamento e regulação. O Decreto no 7.217/2010 regulamenta a Política Nacional de Saneamento Básico e estabelece o Sistema Nacional de Informações em Saneamento – SINISA. » Decreto no 6.040/2007 – institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. » Decreto no 5.051/2004 – promulga a Convenção no 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT sobre Povos Indígenas e Tribais. 44 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Precisamos lembrar que o meio ambiente não contempla somente a natureza e seus recursos, como água, ar, solo, vegetação, animais etc. Nós, seres humanos, também estamos presentes em qualquer que seja o ecossistema existente, agindo sob ele de alguma forma, ainda que seja um local intocável, afinal, se um local é intocável é porque em algum momento nossa espécie conheceu esse local e determinou que este seria intocável por determinados motivos. Portanto, não há meio ambiente sem a participação do homem. E o meio ambiente equilibrado, buscado insistentemente por nós, depende deste equilíbrio entre as ações humanas e o ciclo natural do planeta. É o que chamamos de Desenvolvimento Sustentável, que será visto adiante. E, quando falamos desse equilíbrio, é possível pensar que algumas populações conseguem viver em maior equilíbrio do que outras com a natureza, por diversos fatores: culturais, ancestrais, históricos, geográficos etc. Podemos pensar nos povos e comunidades tradicionais como um símbolo dessa harmonia, afinal, são populações que dependem do meio ambiente para sobreviver. A Convenção no 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), embora não seja uma lei propriamente dita, é um documento que assegura os direitos e a inclusão social dos chamados Povos Indígenas e Tribais, onde estão incluídos os nômades, quilombolas, caiçaras, entre outros que forem considerados tradicionais. Essas populações, muitas vezes às margens da legislação convencional, estão amparadas por esse documento internacional para que seus direitos civis estejam garantidos. É um documento muito utilizado para balizar defesas de território, de atividades tradicionais e permanência em locais que se tornaram parques intocáveis ou são ameaçados pela especulação imobiliária. Figura 6. Indígenas são foco da Convenção no 169, da OIT. Fonte: Kristian Bengtson (2003). No Brasil, ela foi reconhecida por meio de Decreto no 5.051/2004. É um exemplo importante da integração mundial relacionado aos direitos sociais. E isso também reflete no equilíbrio ambiental. 45 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Para finalizar, é importante lembrar que a criação e o uso da Legislação Ambiental, ao longo do processo histórico, auxiliou no processo de mudança de visão da sociedade em relação a abundância dos recursos naturais, integrando-os também para uma visão mais mútua onde o ser humano faz parte desse meio. A curto prazo, a legislação ambiental tem sido – sempre que aplicada de forma correta – uma boa ferramenta de proteção ambiental e de conscientização, ainda que realizada de forma, digamos, “forçada”. Muitos afirmam que o Brasil possui uma das mais completas legislações ambientais do mundo. Entretanto, aplicá-las da maneira correta tem sido o desafio há décadas. Ao mesmo tempo que faltam investimentos para o setor de fiscalização, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, grandes desmatadores permanecem derrubando florestas. Segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), entre agosto de 2016 a julho de 2017 foi desmatada na Amazônia cerca de 2.834 km² (MACIEL, 2017). Da mesma forma, pouco tem sido feito para casos como o acidente ocorrido em Mariana-MG, com o rompimento da barragem de minérios, que se consagrou como um dos maiores acidentes ambientais do Brasil. A empresa responsável, apesar de ter recebido 68 multas num total de 552 milhões de reais, pagou apenas 1% deste valor, parcelado em 59 vezes, e recorre das demais multas (BEDINELLI, 2017). Esses exemplos fazem com que grande parte da sociedade pouco acredite na eficácia da legislação ambiental. De fato, embora com avanços significativos, ainda temos um longo caminho para tornar o processo, tanto preventivo quanto punitivo, justo e realmente eficiente. 46 UNIDADE IILICENCIAMENTO AMBIENTAL O desenvolvimento industrial, especialmente no início do Século XX, impediu que a questão ambiental fosse vista de forma prioritária, uma vez que a poluição e os impactos gerados por tais atividades eram pequenos em detrimento do avanço econômico mundial. Isso ocorreu especialmente até a década de 1960, quando as manifestações populares contra o desenvolvimento a qualquer custo e aos padrões de consumo fizeram surgir as primeiras conversas sobre o gerenciamento dos recursos naturais. Foi assim que, em 1968, o termo “meio ambiente” foi empregado pela primeira vez na reunião do chamado Clube de Roma, existente até então para auxiliar na reconstrução dos países no pós-guerra (MMA, 2009). As discussões acerca do assunto tornaram-se cada vez mais intensas, e os governos passaram a ser pressionados para a tomada de providências de fato efetivas para essa problemática. Isso, sem dúvida, impulsionou a criação do National Environmental Policy Act (NEPA), em 1969, nos Estados Unidos da América, institucionalizando, no ano seguinte, o processo de Avaliação de Impacto Ambiental – AIA como um instrumento da sua política ambiental, para se considerar os fatores ambientais em todo o processo de planejamento das ações públicas e privadas naquele momento (CARMO; SILVA, 2013). Esse instrumento legal surgiu seguindo princípios da política norte-americana, exigindo para os empreendimentos que tinham potencial geração de impacto ambiental uma série de análises de seus efeitos, das alternativas de ação para minimizar tais efeitos, e a definição do real comprometimento dos recursos naturais. Esse instrumento foi, posteriormente, adotado por países europeus, como França, Holanda, Grã-Bretanha e Alemanha. No Brasil, embora as discussões sobre o assunto já eram presentes na década de 1970, foi na década de 1980 que as iniciativas legais para a avaliação dos impactos ambientais começaram, também influenciadas pelas normas da NEPA, e por todo o processo em crescimento sobre o licenciamento no mundo. 47 CAPÍTULO 1 O Brasil e o licenciamento ambiental – histórico No Brasil, a industrialização e urbanização crescente a partir das décadas de 1950 e 1960 provocaram mudanças no arranjo econômico do país, especialmente após o início da Ditadura Militar e sua política expansionista exploratória. Ao mesmo tempo, influenciado pelas discussões mundiais sobre o meio ambiente, especialmente após a Conferência de Estocolmo em 1972, a sociedade em geral exigia ações e a criação de mecanismos que buscassem a preservação ambiental dos recursos em meio ao tal “desenvolvimento”. Foi nessa Conferência que foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que incentivou os países a criarem instituições responsáveis especialmente pela questão ambiental. No Brasil, foi criada a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), em 1973. No Brasil, foi verificado inicialmente no âmbito estadual as primeiras iniciativas de controle ambiental com a Lei no 898, de dezembro de 1975, que disciplinava o uso do solo para a proteção dos mananciais, cursos e reservatórios de água e a Lei no 997 de 31 de maio de 1976 relativa ao Controle da Poluição do Meio Ambiente no Estado de São Paulo. Paralelamente, algumas leis foram editadas para criar zoneamentos que separassem as zonas residenciais das industriais, especialmente da Região Metropolitana de São Paulo, a fim de compatibilizar o desenvolvimento industrial com a preservação ambiental. Neste mesmo sentido,buscando ações preventivas, a Lei no 6.803, de 2 de julho de 1980, foi criada para fixar diretrizes para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição, “na qual aparece a primeira menção formal à avaliação de impacto ambiental no Brasil” (MMA, 2009). A principal crítica relativa a tais leis de zoneamento e parcelamento do solo da época era a de que faltavam mecanismos de participação pública na tomada de decisão dos planos de uso do solo, que muitas vezes eram restritos à zona urbana, unicamente. Além disso, o controle ambiental se concentrava unicamente em atividades e empreendimentos particulares, enquanto as grandes obras de infraestrutura do governo – lembrando que nesse período ocorreriam muitas dessas obras – desenvolviam-se sem esse controle ambiental. Esta última problemática ia na contramão de iniciativas, por exemplo, do Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD e do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, que exigiam Estudos de Avaliação Ambiental para obras 48 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL nas quais participavam do financiamento aqui no Brasil, como nas Usinas Hidrelétricas de Sobradinho (BA), Tucuruí (PA) e no terminal Ponta da Madeira (MA), sendo estes estudos elaborados sob normas internacionais, pois até então o Brasil não possuía normas específicas sobre o assunto (MMA, 2009). Foi a partir da criação da Lei no 6.938/1981 que criou a política Nacional de Meio Ambiente – conforme já vimos anteriormente – que o licenciamento ambiental se tornou de âmbito federal (FLEXA, 2013). Em 1986, o CONAMA publicou a Resolução no 1, em que, pela primeira vez, foram estabelecidas normas para a exigência de apresentação de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para determinados tipos de atividades e empreendimentos, que dependeriam da autorização respectiva do órgão estadual competente e da SEMA (Secretaria do Meio Ambiente) para a obtenção de licença para operar. Nesse sentido, a Constituição Federal, promulgada dois anos depois, em 1988, inovou ao estabelecer em art. 225, § 1o, inciso IV a exigência de estudo prévio de impacto ambiental para a instalação de obras ou atividades potencialmente causadoras de impactos ambientais, exercendo assim o princípio da precaução (FLEXA, 2013). Foi somente em 1997 que o CONAMA publicou a principal e mais importante resolução sobre o Licenciamento Ambiental especificamente. A Resolução no 237/1997 foi criada com o objetivo de revisar e regular os procedimentos de licenciamento ambiental. O principal ponto polêmico da lei é, justamente, a questão das competências para a realização do processo de licenciamento, um ponto de conflito até hoje encontrado em muitos casos entre União, Estado e Município. Segundo a Resolução, cada ente da federação ficaria encarregado de determinados casos para o licenciamento. A figura a seguir indica cada ente e os casos nos quais se enquadrariam suas competências. Figura 7. Competências no processo de licenciamento. • Limítrofe com outro país ou em mais de um Estado; • No mar territorial ou plataforma continental; • ZEE; • Terras Indígenas, Unidades de Conservação ou áreas de domínio da União; • Empreendimentos nucleares e/ou militares. IBAMA • Em mais de um município; • Unidade de Conservação de domínio estadual; • Florestas e APP’s; • Quando for delegado pela União. ESTADOS e DF • Empreendimentos de impacto local; • Quando for delegado pelo Estado.MUNICÍPIOS Fonte: CONAMA (1997). 49 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II Sendo assim, as normas ambientais estaduais e municiais precisaram se adaptar às novas leis federais. O Estado de São Paulo, por exemplo, anteriormente não contemplava a Licença Prévia, adicionando-a posteriormente. A Lei Complementar no 140, publicada em 2011, tentou estabelecer de forma mais detalhada as competências legais para cada ente licenciador, com o intuito de tornar o processo mais ágil e com maior segurança jurídica para todos – empreendedor e órgão competente. Podemos verificar que, embora haja elementos evolutivos do processo em relação às competências de cada ente federativo, na prática, vemos que muitos estados e, especialmente, grande parte dos municípios não tem o suporte necessário para “arcar” com o licenciamento ambiental. A criação dessa nova lei em 2011, apesar de ter oficializado tais competências, não eliminou os conflitos institucionais destas, sobretudo no que envolve a fiscalização ambiental, geralmente vinculada ao licenciamento. Isso porque grande parte dos municípios, além da falta de estrutura para desenvolver os processos de licenciamento, tampouco possuem estrutura financeira e de pessoal para realizar uma fiscalização efetiva e funcional. E isso ocorre também em muitos dos estados brasileiros. Podemos estabelecer uma linha do tempo com os principais elementos que aprimoraram o Licenciamento Ambiental ao longo dos anos no Brasil, desde que surgiu a Avaliação de Impacto Ambiental como principal instrumento desse processo, conforme figura a seguir: Figura 8. Histórico do processo de Licenciamento Ambiental no Brasil. Lei Complementar 140 Divisão entre IBAMA e ICMBIO Res CONAMA 237 Política Nacional do Meio Ambiente Res CONAMA 01 Criação do IBAMA Fonte: Adaptado de Carmo e Silva (2013). 50 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Licenciamento Ambiental e os estudos ambientais Segundo a Resolução CONAMA no237/1997, o Licenciamento Ambiental é definido como procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e operação de empreendimento e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (art. 1o, inciso I). O Licenciamento Ambiental é um procedimento longo e complexo, por apresentar diversas etapas até a obtenção da licença ambiental. Uma dessas etapas é a Avaliação de Impacto Ambiental, no qual são exigidos estudos que descrevem as atividades que ocorrerão – na respectiva etapa de ação do projeto – e os aspectos ambientais envolvidos nessas atividades. O Licenciamento Ambiental serve para mostrar o que “não pode” ser feito e a forma correta de “como fazer”. Para que esse licenciamento ocorra, é preciso que haja um processo administrativo no qual o empreendedor solicita a obtenção de licença ambiental. Conforme a mesma Resolução (art. 1o, inciso II), a Licença Ambiental é uma ação administrativa dada pelo órgão ambiental que estabelece condições e medidas ambientais nas quais deverão ser obedecidas pelo empreendedor interessado em instalar e operar empreendimentos e atividades que podem, potencialmente, causar algum tipo de degradação ambiental. Para que esse licenciamento seja conduzido, foi definido um procedimento no qual são avaliados preventivamente os aspectos ambientais ligados ao projeto em si, mas não se restringindo ao exercício da atividade unicamente, e sim, nas etapas anteriores à efetiva atividade: no planejamento, na instalação e também na operação deste empreendimento e atividade. Para cada uma dessas atividades, há um tipo de licença diferenciada: Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação. » Licença Prévia (LP): ela é solicitada na fase preliminar do planejamento do empreendimento, quando há o projeto, mas ainda não há obras. É a licença que aprovará a localização efetiva e os aspectos construtivos do empreendimento, atestando sua viabilidade ambiental. Nessa fase, os 51 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II empreendimentos dialogam com diversas esferas do poder público para que haja anuência para a viabilidade do projeto. Segundo a Resolução CONAMA 237/1997 (Art. 18), essa licença deve ter o prazo máximo de 5 anos. » Licença de Instalação (LI): essa licença autoriza a instalação do empreendimento,ou seja, as obras de infraestrutura, conforme especificações requeridas na licença anterior por meio de planos e programas que colaborem com a qualidade ambiental dessas obras. O prazo dessa licença deverá ser de, no máximo, seis anos. » Licença de Operação (LO): autoriza efetivamente o início das atividades requeridas pelo empreendimento, após a verificação de cumprimento de todos os requisitos solicitados na licença anterior e as solicitações de controle e condicionantes obrigatórias para a obtenção desta última licença. O prazo dessa licença é de quatro até dez anos, devendo após o prazo estipulado ser renovada, após solicitação junto ao órgão ambiental competente. Os órgãos ambientais competentes podem, entretanto, definir outros tipos de licença, ou uma licença única, dependendo dos diferentes tipos de casos ou empreendimentos. Os prazos estabelecidos podem ser prorrogáveis, mas nunca ultrapassando seus prazos máximos citados. Se a empresa ou indústria já existe e não possui licença, ela poderá ser licenciada? Sim! Nos casos em que já há a operação do empreendimento, mesmo que sem as licenças, deverá ser encaminhado o caso ao órgão ambiental para encontrar a melhor maneira de regularizar o empreendimento. Normalmente, o órgão vai solicitar que o empreendedor solicite a LO diretamente, uma vez que não há razão para a obtenção de LP e LI. Ou seja, a LO, além do caráter preventivo, pode ter o caráter corretivo, a fim deste empreendedor evitar multas, por exemplo. Da mesma forma, caso o empreendimento possua todas as licenças e decida modificar ou ampliar a sua planta ou processo, é necessário informar o órgão ambiental, pois este pode vir a solicitar novos estudos que tratem especificamente destas alterações. 52 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Quais os tipos de empreendimento que precisam de Licença Ambiental? Todos os empreendimentos que podem ter atividades geradoras de algum impacto – seja ele no ar, na água e/ou também para a população, estão condicionadas a precisar de licença ambiental, independentemente do seu porte e da remessa de sua produção, por exemplo. Essa obrigatoriedade de licenciamento foi publicada de forma genérica na PNMA em 1981, e, também, na Resolução CONAMA no 1, em 1986. A Resolução CONAMA no 237/1997, em seu anexo I, publicou uma listagem dos tipos de empreendimento potencialmente sujeitos à necessidade de licença ambiental. Resumidamente, são estes: » Extração e tratamento de minerais. » Indústria de produtos minerais não metálicos – como cerâmica, cimento, gesso, amianto, vidro, entre outros. » Indústria metalúrgica – fabricação de aço, siderurgia, metais não ferrosos, metais preciosos, entre outros. » Indústria mecânica. » Indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações – como pilhas, baterias, aparelhos elétricos etc. » Indústria de material de transporte. » Indústria de madeira. » Indústria de papel e celulose. » Indústria de borracha. » Indústria de couros e peles. » Indústria química – desde processamento de petróleo, até óleos e ceras vegetais, minerais, solventes, fabricação de tintas e outros similares, produtos de limpeza, perfumaria e cosmética, entre outros. » Indústria de produtos de matéria plástica. » Indústria têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos. » Indústria de produtos alimentares e bebidas. 53 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II » Indústria de fumo, fabricação de cigarros/charutos/cigarrilhas e outras atividades de beneficiamento do fumo. » Indústrias diversas – produção de concreto, asfalto, galvanoplastia etc. » Obras civis – hidrovias, ferrovias, barragens, transposição. » Serviços de utilidade – produção e transmissão de energia, estações de tratamento de água, esgoto e resíduos, dragagem, recuperação de áreas degradadas ou contaminadas etc. » Transporte, terminais e depósitos. » Turismo. » Atividades agropecuárias. » Uso de recursos naturais – silvicultura, manejo de fauna e flora, exploração de madeira e outros subprodutos florestais etc. Para ter acesso à lista completa de empreendimentos sujeitos ao processo de licenciamento ambiental, recomendamos buscar a legislação competente – Resolução CONAMA no 237/1997 - ANEXO I. Apesar da listagem, nem todas as empresas e indústrias estão sujeitas ao licenciamento ambiental. Cabe ao órgão ambiental competente definir, em cada caso, quais procedimentos o empreendedor deve ter, considerando os seus riscos, porte e outras características especificas. Os empreendimentos que não respeitarem o processo de licenciamento ambiental, incluindo os casos de vencimento das licenças respectivas, estão sujeitos às sanções penais e administrativas por condutas lesivas ao meio ambiente, conforme a Lei de Crimes Ambientais no 9.605/1998. Procedimentos para o licenciamento ambiental O processo de licenciamento ambiental deverá seguir procedimentos que estão descritos em Lei, conforme a mesma Resolução CONAMA no 237/1997. Estes procedimentos, em geral, são comuns a todos os processos, sejam eles realizados pelo órgão federal, estadual ou municipal. Entretanto, podem ser mudados seus passos e regras de acordo com cada caso específico. A seguir, os principais passos para o licenciamento ambiental. 54 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL 1o passo: definição dos documentos/projetos/estudos ambientais necessários para dar início ao processo de licenciamento correspondente à licença requerida. 2o passo: elaboração e envio dos documentos solicitados ao órgão ambiental e requerimento da licença. 3o passo: análise dos documentos pelo órgão ambiental, com realização de vistorias, quando necessário. 4o passo: solicitação de esclarecimentos e complementações por parte do órgão ambiental ao empreendedor depois das análises dos documentos. Esses esclarecimentos podem ser solicitados diversas vezes até que as respostas sejam satisfatórias aos órgãos competentes. 5o passo: audiência pública com as partes interessadas. 6o passo: solicitação de esclarecimentos e complementações surgidos após a audiência pública. 7o passo: emissão de Parecer Técnico dos órgãos competentes. 8o passo: deferimento ou indeferimento do pedido de licença e publicação em órgão publicitário oficial. Audiências públicas – participe! A audiência pública é um instrumento legal – está na Constituição Federal (art. 58, § 2o, inciso II) e em leis específicas federais, estaduais e municipais – de participação popular no debate de temas como a elaboração de uma lei, política pública ou realização de um empreendimento gerador de impactos de qualquer tipo. Podem ser discutidos, além disso, os resultados, reflexos de políticas públicas já existentes, por exemplo. Essas Audiências Públicas podem ser de esfera Federal, Estadual ou Municipal. A população pode pedir a qualquer representante do poder Executivo, Legislativo ou Ministério público a realização de Audiências Públicas para debater questões polêmicas, por exemplo. Geralmente, as reuniões podem durar algumas horas, onde se apresenta um tema e a palavra é dada à população presente para a manifestação e o debate. A divulgação prévia da Audiência Pública é obrigatória e, preferencialmente, deve priorizar àqueles que estão diretamente afetados ou envolvidos com 55 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II o tema central. Por isso, é muito importante que o órgão público assegure a participação destas pessoas – escolhendo local e hora viável, por exemplo. E que o empreendedor divulgue antecipadamente a realização desta, geralmente utilizando formas de acesso à população das áreas de influência do empreendimento. É muito comum, por exemplo, o uso de carros de som em certos lugares para fazer essa divulgação, por ser uma forma de fácil entendimento e acesso à população. É comum também que meios de comunicação estejam presentes, pois a filmagem e/ou registro auxiliam na fiscalização eoficialização do evento. Os órgãos devem, obrigatoriamente, também deixar materiais sobre o assunto da Audiência para a consulta pública com antecedência, para que a população tenha conhecimento maior sobre o assunto. No caso de audiências públicas cujo tema é a aprovação de uma Licença Ambiental, por exemplo, costuma-se deixar disponível em locais estratégicos (as vezes incluindo a internet) os estudos ambientais realizados pelo empreendedor para a aprovação do órgão ambiental competente. Fonte: INSTITUTO POLIS, 2005. Disponível em: <http://www.polis.org.br/uploads/1042/1042. pdf>. Grupos se unem contra usina termoelétrica e protestam em audiência pública em Peruíbe, SP Uma audiência pública marcada para discutir a instalação de uma usina termoelétrica em Peruíbe, no litoral de São Paulo, foi cancelada nesta quinta-feira (17), depois que grupos protestaram contra o empreendimento. O representante do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Condema) não definiu nova data para o encontro. [...] Grupos que foram ao auditório levaram faixas e cartazes com dizeres contrários à instalação da usina. “Meu papel é mediar os trabalhos. Não posso e nem devo opinar. Estamos aqui para discutir justamente a usina”, explicou o representante do Condema. A Polícia Militar monitorou o protesto, que foi pacífico. Fonte: G1, 2017. <https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/grupos-se-unem-contra-usina- termoeletrica-e-protestam-em-audiencia-publica-em-peruibe-sp.ghtml>. http://www.polis.org.br/uploads/1042/1042.pdf http://www.polis.org.br/uploads/1042/1042.pdf https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/grupos-se-unem-contra-usina-termoeletrica-e-protestam-em-audiencia-publica-em-peruibe-sp.ghtml https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/grupos-se-unem-contra-usina-termoeletrica-e-protestam-em-audiencia-publica-em-peruibe-sp.ghtml 56 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL AIA, EIA e RIMA Muitas pessoas confundem as siglas existentes no processo de licenciamento ambiental e, por isso, convém esclarecer todas estas. O que discutimos até agora são etapas do processo de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), parte do processo de Licenciamento Ambiental. Entende-se por AIA o conjunto de procedimentos para avaliação sistemática das alterações potenciais provocadas no meio ambiente por um determinado empreendimento, para ser apresentado ao público e licenciado pelos órgãos públicos, com a garantia de que as medidas necessárias para tais alterações sejam realizadas. Trata-se, assim, de um instrumento tanto de planejamento quanto decisório. É importante salientar que, especialmente pelo Brasil se tratar de um país tão grande e tão rico em diversidade natural, muitos projetos são propostos para as mais diversas realidades, o que torna o processo de Avaliação Ambiental ainda mais complexo e lento. Além das diversas realidades ambientais, é imprescindível que se leve em consideração as diversidades culturais e sociais inseridas em cada ambiente geográfico, para que haja a melhor compatibilidade entre o desenvolvimento do empreendimento, o bem-estar da população e a qualidade ambiental. Dentro do processo de Licenciamento Ambiental, o órgão ambiental competente determinará quais serão os instrumentos de AIA, a partir das características do empreendimento e do local de implantação: dimensões, localização geográfica, grau de alteração no ambiente, tipo de operação, população envolvida, entre outras características e aspectos. Essa avaliação é feita por meio de Estudos Ambientais, nos quais devem levantar a existência de atividades ou ações que podem trazer riscos ambientais – sejam elas ligadas à fauna, à flora ou ao homem – indicando formas de impedir, minimizar ou compensar tais danos eventuais ao ambiente. Há uma série de estudos que podem ser solicitados pelo órgão ambiental, por meio do Termo de Referência (TR). O TR é desenvolvido pelo empreendedor a partir do Projeto Básico de um empreendimento e deverá ser aprovado – ou modificado – pelo órgão ambiental, que irá solicitar o estudo ambiental necessário que se enquadra dentro das demandas do tipo e dimensão do empreendimento. Alguns órgãos ambientais já possuem Termos de Referência prontos e padronizados para cada tipo de empreendimento, o qual fornece para o empreendedor diretamente no momento da requisição de licença. 57 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II O estudo mais conhecido é o chamado Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), que é mais comum em grandes empreendimentos ou empreendimentos causadores de impactos muito significativos. Mas além destes, há uma série de outros estudos que descreveremos a seguir. Estudo de Impacto Ambiental (EIA) O EIA é o instrumento mais completo de estudo relacionado à Avaliação de Impacto Ambiental. Tecnicamente, é um estudo complexo, multidisciplinar, a ser desenvolvido na fase preliminar da implantação de um empreendimento, ou seja, geralmente para a obtenção da Licença Prévia (LP). Ele deve apresentar, além da descrição completa do projeto e localização do empreendimento, diagnósticos ambientais das áreas de influência do empreendimento, com análises do meio físico, meio biótico e meio socioeconômico, além de um prognóstico e avaliação dos impactos potenciais, proposição de medidas para minimizar ou compensar estes impactos negativos, ou potencializar os impactos positivos existentes. É solicitado principalmente em licenciamentos de empreendimentos de grande escala ou de potencial significativo de degradação ambiental. O EIA, geralmente, possui uma “itemização” padrão de informações mínimas necessárias para serem levantadas. Esse passo a passo de como elaborar um EIA será indicado em capítulo adiante. Acesse a esse link para ver o Volume I de um EIA, indicando a dimensão desse tipo de estudo a partir de sua “itemização”. <http://www.iap.pr.gov.br/arquivos/File/EIA_RIMA/CAVERNOSO%20II/EIA_ RIMA_Atualizado_Vol_I_FINAL.pdf>. Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) O EIA sempre deve vir acompanhado do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), um documento simplificado e escrito em linguagem simples e compreensível que deverá apresentar os principais levantamentos e conclusões obtidos na elaboração do EIA. Além da linguagem simples, o RIMA deve conter ilustrações, mapas, gráficos e outros tipos de elementos visuais que facilitem o entendimento das pessoas “leigas” sobre o empreendimento, sobre o diagnóstico ambiental que foi realizado e os impactos ambientais levantados. http://www.iap.pr.gov.br/arquivos/File/EIA_RIMA/CAVERNOSO%20II/EIA_RIMA_Atualizado_Vol_I_FINAL.pdf http://www.iap.pr.gov.br/arquivos/File/EIA_RIMA/CAVERNOSO%20II/EIA_RIMA_Atualizado_Vol_I_FINAL.pdf 58 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL O RIMA deve ser disponibilizado ao público quando concluído, como parte do processo de licenciamento e preparação para as Audiências Púbicas, já citadas anteriormente, que discutem o projeto com todos os cidadãos e partes interessadas no processo. Veja um exemplo de RIMA referente à obtenção de Licença Prévia de um Porto no litoral de Santa Catarina: <http://portobrasilsul.com.br/wp-content/ uploads/2017/07/RIMA_PortoBrasilSul.pdf>. Relatório Ambiental Preliminar (RAP) Estudo técnico que deve ser apresentado na fase de obtenção de licença prévia dos empreendimentos potencialmente poluidores ou causadores de degradação ambiental. Pode ser solicitado em alguns Estados diretamente para a obtenção de licença ou como base para a exigência de EIA/RIMA, sendo o RAP menos complexo que este último. Da mesma forma que o EIA, o RAP é um estudo que deve ser realizado por equipe multidisciplinar com elementos que indiquem a viabilidade ambiental do empreendimento a ser licenciado. É importante que tenha um levantamento e análise prévios dos impactos resultantes da implantação do empreendimento. Estudo Ambiental Simplificado (EAS) Também é um estudo simplificado que pode ser solicitado peloórgão ambiental para analisar a viabilidade ambiental de um projeto, para a obtenção de LP. Dependerá do órgão ambiental competente e das características do empreendimento a solicitação deste estudo, ou RAP, e posterior solicitação de EIA/RIMA. Estudo de Viabilidade Ambiental – EVA O EVA é muito utilizado como um parecer técnico para apontar as melhores alternativas locacionais de um empreendimento, a ser realizado pelo empreendedor, para apontar se há impedimentos e/ou limitações em relação às questões econômicas, geográficas e ambientais de um projeto, permitindo assim dar diretrizes para o licenciamento ambiental deste. Este estudo precede o EIA/RIMA e os demais estudos similares, pois recomenda-se fazê-lo na fase de concepção do projeto, não sendo este necessariamente solicitado pelo órgão ambiental. http://portobrasilsul.com.br/wp-content/uploads/2017/07/RIMA_PortoBrasilSul.pdf http://portobrasilsul.com.br/wp-content/uploads/2017/07/RIMA_PortoBrasilSul.pdf 59 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) O EIV é um estudo relacionado ao planejamento urbano e ambiental relacionado ao empreendimento, a ser analisado pelo órgão ambiental competente em conformidade com a Lei Federal no 10.257/2001 referente ao Estatuto das Cidades quanto ao Uso e Ocupação do Solo. Normalmente, é solicitado pelos órgãos ambientais municiais para viabilizar a obtenção de licença de empreendimentos de pequeno porte, com levantamentos referentes à infraestrutura de abastecimento de água, esgoto, energia, geração de tráfego, relação com o adensamento populacional do entorno, influência na paisagem urbana, entre outros temas. Plano Básico Ambiental (PBA) O PBA é realizado numa etapa posterior aos estudos ambientais como o EIA/RIMA, pois apresenta o detalhamento dos planos e programas ambientais que devem ser obrigatoriamente propostos num EIA ou outro estudo similar. O PBA normalmente também aborda as condicionantes impostas pelo órgão ambiental para a obtenção de Licença. É um detalhamento maior das atividades de ação para mitigar/controlar/ compensar os danos ambientais, que deve ter todo o cronograma e descrição das atividades, além dos custos totais para estas serem realizadas. Plano de Controle Ambiental (PCA) Instrumento utilizado para indicar os projetos executivos de minimização de impactos já levantados para a Licença Prévia. Dessa forma, é um instrumento necessário posterior à elaboração de estudos como o EIA/RIMA ou outro equivalente, para a obtenção de Licença de Instalação (LI) do empreendimento, com as propostas efetivas e detalhadas de ações de controle, potencialização e mitigação ambiental. É um documento técnico, com informações específicas de cada um dos programas ou planos propostos no EIA/RIMA, incialmente previsto na Resolução CONAMA no 9/1990 para a concessão de LI de atividades de extração mineral, o PCA tem sido solicitado pelos órgãos ambientais para outros tipos de empreendimento. Relatório de Controle Ambiental (RCA) Nesse estudo, deve-se contemplar um diagnóstico e um levantamento dos passivos ambientais considerando todos os aspectos potencialmente poluidores. 60 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Ele é exigido geralmente quando há dispensa de apresentação de EIA/RIMA para a obtenção de Licença Prévia, ou seja, quando o empreendimento ou atividade não possuem grande capacidade de geração de impactos, por exemplo. Mas, possui um escopo e linha de estudo semelhante ao EIA/RIMA, porém, com uma exigência menor de detalhamento dos levantamentos para o diagnóstico ambiental. Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) O PRAD surgiu, inicialmente, para ser desenvolvido para atividades minerárias, entretanto, passou ao longo do processo evolutivo do licenciamento, a ser exigido para diversos tipos de empreendimentos. É um estudo que deverá ter informações que possam auxiliar na avaliação do grau de degradação e nas respectivas medidas para se recuperar uma área considerada degradada. Pode ser entendida como área degradada aquela que, após sofrer impactos ambientais, perdeu a capacidade de retomar seu estado original. Um PRAD, portanto, deve conter métodos, instruções e materiais necessários para que haja alguma forma de uso desse solo degradado de acordo com a capacidade de adaptação deste: pode ser a reabilitação ou recuperação. A reabilitação de uma área degradada propicia algum retorno da atividade produtiva desta área para uso futuro, “considerando as aptidões do local, a intenção de uso as condições do meio físico e biótico” (ABNT, 1999). A recuperação é a recomposição da área degrada para o estabelecimento da função original do ecossistema. Já a restauração visa a reposição exata das condições ecológicas da área degrada, condição mais difícil de ser atingida após uma área ser degradada. Grande parte dos PRAD’s tem como foco a recuperação de áreas a partir do plantio de espécies nativas, entretanto, este estudo deve ser também conduzido sob orientação do órgão ambiental após os estudos iniciais de obtenção de licença. Além do PRAD, há diversos tipos de Planos e Programas a serem propostos inicialmente dos estudos para a Licença Prévia, como no EIA/RIMA, e posteriormente no PBA, já explicado anteriormente. Sobre os planos e programas mais comuns vistos nos estudos ambientais para os empreendimentos obterem Licenças, falaremos mais adiante. 61 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II Há uma tendência do processo de licenciamento de descentralizar as competências de avaliação destes estudos e da concessão de licenças e, da mesma forma, também substituir grandes estudos por estudos menores e menos complexos. É uma tentativa de diminuir a burocracia na avaliação destes estudos, uma vez que o processo atual em todo o país é moroso e repleto de etapas que dificultam tanto a implantação de empreendimentos importantes quanto a fiscalização e análise da qualidade das ações de compensação, mitigação e controle ambiental existentes nesses processos licitatórios. Outro problema apontado por Carmo e Silva (2013) é a sobreposição de interesses políticos ante às conclusões contidas nos estudos ambientais, especialmente no que tange às compensações ambientais – financeiras – propostas. Além disso, há deficiência de infraestrutura e de corpo técnico especializado em grande parte dos órgãos ambientais competentes para conduzir os processos de AIA, em todo o país. Segundo Viana (2005), as principais limitações dos estudos ambientais como EIA/ RIMA são os diagnósticos extensos, os prognósticos precários e as limitações em relação à transdisciplinaridade, medidas ambientais ineficazes e monitoramento pós-licenciatório praticamente inexistente. Por isso, muitos estudos defendem que a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) seja um método mais eficaz do que a AIA. O que é a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE)? É um instrumento de planejamento para auxiliar na tomada de decisões nos processos de identificação e avaliação de impacto ambiental e seus efeitos, alinhando a avaliação de riscos com as melhores oportunidades e estratégias de ação associadas à melhoria da qualidade ambiental, minimizando os impactos negativos e potencializando os positivos no momento de decidir a implementação de uma política, plano ou programa a ser proposto. A AAE não foi introduzida ainda no ordenamento legal no Brasil, mas já é aplicada como uma referência mundial de instrumento de política ambiental e por premeditar a tomada de decisões ideais na identificação dos impactos e efeitos possíveis destes (MMA, 2002). Uma vantagem da AAE apontada por Viana (2005) é a flexibilidade com a qual é possível trabalhar, uma vez que desenvolve as decisões durante a elaboração dos planos e programas, e não somente na decisão final do processo, como é de praxe nos estudos de licenciamento. A ferramenta possibilita avaliar os impactos cumulativos e sinérgicos do processo de planejamento. Falaremos maisadiante sobre esses tipos de impacto. 62 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Em síntese, a figura a seguir mostra a relação entre os requisitos ambientais exigidos por lei e as fases de realização de um projeto. Figura 9. Processo de licenciamento ambiental. Viabilidade Desenvolvimento Instalação Operação Estudos de viabilidad e Projeto Projeto básico Projeto executivo Construçã o e montagem Funcionamento LI LO EIA-RIMA Outros estudos Aud. Pública Requisitos da LP Estudos Complementares Medidas Compensatórias PGR PAE Requisito s LI Controle/Monitorame nto Gerenciamento de Riscos Ações de emergência LP Fonte: Adaptado de Diniz (2006). É possível observar que os requisitos de EIA-RIMA e Análise de Risco devem ser satisfeitos para a concessão da Licença Prévia (LP), ou seja, devem ser realizados ainda na fase de projeto e estudos de viabilidade do empreendimento. Por sua vez, os requisitos de Plano de Gerenciamento de Risco (PGR) e Plano de Ação de Emergência (PAE), os quais falaremos mais adiante, devem ser elaborados para a posterior concessão da Licença de Operação (LO) e, portanto, devem ser realizados durante as fases de projeto executivo e construção/montagem. Órgãos de apoio ao Licenciamento Ambiental e outras autorizações necessárias É importante lembrarmos que não apenas dos órgãos ambientais é feita uma Licença Ambiental. Os empreendimentos possuem particularidades que precisam ser analisadas e autorizadas não apenas por estes órgãos, mas muitas vezes, por outros órgãos de competências específicas. Por isso, a interface entre órgãos é fundamental para compor uma Licença Ambiental consistente e realmente responsável. Vamos citar algumas dessas autorizações necessárias para compor o processo de licenciamento. » Manifestação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI): como órgão responsável pela demarcação e proteção das Terras Indígenas do país, o órgão também é responsável por analisar as interferências sobre tais territórios, conforme Estatuto do Índio (Lei no 6.001/1973). 63 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II Isso quer dizer que, se um empreendimento projetado estiver em área sobreposta – ou até mesmo num raio de proximidade – com Terras Indígenas, por exemplo, a FUNAI deverá participar desse processo licitatório, não apenas exigindo estudos específicos sobre o tema e dando o parecer sobre sua anuência (ou não) ao empreendimento, mas também tem o papel de exigir e monitorar programas específicos para que haja a melhor resolução para eventuais impactos que podem vir a ocorrer aos índios de uma determinada região (MMA, 2009). » Manifestação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN: o órgão deverá ser ouvido quando houver risco de interferência em área com sítios arqueológicos (conforme Lei no 3.924/1961) e de interesse histórico e cultural (conforme Lei no 25/1937). Em áreas de empreendimento onde há um eventual potencial de ocorrência de locais de interesse histórico, cultural ou arqueológico, é necessária a realização de uma pesquisa junto ao IPHAN. Se forem encontrados indícios arqueológicos, por exemplo, é necessário o resgate de peças e elementos, e o posterior envio a museus, tudo previamente à implantação do empreendimento, conforme a Portaria no 230/2002 que regulamenta esse procedimento alinhado ao licenciamento ambiental (MMA, 2009). Audiência discute EIA/RIMA da nova linha de transmissão [...] O Rio da Luz, onde já corta uma linha de transmissão da Eletrosul, terá agora a LT 525 kV, interligando as subestações de Blumenau e Curitiba-Leste, em São José dos Pinhais. Segundo informações, ela ficará entre as Sociedades Rio da Luz II (Centenário) e Vitória. O bairro é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artística Nacional (Iphan) que autorizou os estudos com a recomendação de que as torres e os cabos proporcionassem o menor impacto visual possível”. Veja a matéria completa em: <http://www.jdv.com.br/noticia/6949/audiencia- discute-eia-rima-da-nova-linha-de-transmissao>. » Manifestação da Fundação Cultural Palmares: a entidade, vinculada ao Ministério da Cultura, deverá ser consultada quando houver potencial http://www.jdv.com.br/noticia/6949/audiencia-discute-eia-rima-da-nova-linha-de-transmissao http://www.jdv.com.br/noticia/6949/audiencia-discute-eia-rima-da-nova-linha-de-transmissao 64 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL interferência de um empreendimento em áreas de preservação dos valores culturais negros, como em áreas de quilombos, por exemplo. » Autorização de Supressão de Vegetação (ASV): quando há necessidade de retirada de vegetação do local do empreendimento a ser realizado, é necessária essa autorização, conforme o Código Florestal. Devem ser encaminhadas ao IBAMA ou órgão estadual ambiental competente estudos detalhados da caracterização e quantificação dessa vegetação para obter a autorização. Dificilmente um empreendimento é implantado sem que haja algum tipo de supressão de vegetação, portanto, esse é um documento que geralmente acompanha todos os estudos ambientais e é imprescindível para a aprovação de uma licença. » Outorga de uso de recursos hídricos: essa autorização deve ser solicitada junto ao órgão gestor da bacia hidrográfica da região do empreendimento a ser licenciado. De acordo com a PNRH (Lei no 9.433/1997), estão sujeitos a outorga e pagamento os usos de recursos hídricos: › derivação ou captação de água para consumo final, inclusive abastecimento público ou insumo de processo produtivo; › extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo; › lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte e disposição final; › aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; › outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo d’água (MMA, 2009). » Autorizações de uso de recursos minerais: da mesma forma que os recursos hídricos, os recursos minerais também necessitam de autorização específica para ser utilizado, e o órgão responsável por gerir e conceder essa autorização é o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), além de realizar a fiscalização deste uso (MMA, 2009). 65 CAPÍTULO 2 Estudos ambientais e matriz de avaliação de impacto Conforme dissemos anteriormente, os estudos ambientais são aqueles que vão subsidiar o processo de Licenciamento Ambiental, de acordo com o que o órgão ambiental solicitar. Neste capítulo, vamos detalhar como deve ser elaborado um estudo ambiental, tendo como base os itens essenciais de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA), por ser o mais completo dos estudos. É fundamental reforçar que todo os estudos ambientais devem ser realizados por profissionais qualificados para tal, e de forma multidisciplinar (MMA, 2009). O órgão ambiental, quando há a solicitação de licença por parte do empreendedor, elabora um Termo de Referência (TR) que orienta a elaboração do estudo solicitado, seja ele um EIA/RIMA, PCA, PBA etc. Há casos em que o órgão solicita que o empreendedor elabore esse TR, apenas aprovando-o em seguida. O estudo deve, assim, ser elaborado obedecendo todas as solicitações contidas no TR. Basicamente, o esquema de elaboração de um estudo ambiental passa pelas seguintes etapas, conforme a figura a seguir: Figura 10. Esquema de etapas para elaboração de estudo ambiental. CARACTERIZAÇÃO ANÁLISE PROPOSIÇÕES PROJETO MEDIDA MITIGADO IMPACTOS AMBIENTAIS ÁREA DE INFLUÊNCIA PROGRAMA AMBIENTAL - Projeto - mplantação - Operação Caracterização Técnica Identificação e Avaliação Diagnóstico Ambiental - Meio Físico - Meio Biótico - Meio Socioeconômico - mplantação - Operação Fonte: Adaptado de MMA (2009). 66 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Passo a passo de um estudo ambiental Segundo a própriaResolução CONAMA no 1/1986, além de atender à legislação pertinente, um estudo de impacto ambiental deve obedecer a diretrizes gerais e atividades técnicas. Ou seja, um bom estudo ambiental precisa conter as informações necessárias para que o órgão ambiental possa avaliar de forma concisa todos os detalhes do empreendimento em questão. Para isso, há uma espécie de padronização das informações básicas que deverão conter tais estudos, seja ele um EIA – que deve ter maiores detalhes – ou outro estudo menos detalhado, como um RAP, por exemplo. Vejamos quais os itens fundamentais para uma boa elaboração de um estudo ambiental: » Identificação do empreendedor: é muito importante a identificação de quem está fazendo o estudo ambiental (geralmente elaborados por empresas do ramo de consultoria ambiental) e de quem está solicitando-o, ou seja, o empreendedor do projeto a ser licenciado. » Caracterização geral do empreendimento: todo o detalhamento do projeto, incluindo a parte de engenharia, construção e detalhes tecnológicos. » Justificativa do empreendimento: a explicação do porquê é importante licenciar esse empreendimento, quais os benefícios que este trará para a sociedade, para o local em si, para a economia etc. » Alternativas tecnológicas e locacionais: identificação do local escolhido para a implantação do empreendimento, apontando alternativas estudadas e as justificativas para a escolha do determinado local; da mesma forma, as justificativas para a escolha da tecnologia empregada para o funcionamento do empreendimento. Tais alternativas devem ser consideradas indicando os dados levantados em relação à quantidade e ao grau dos impactos levantados e outros indicadores para balizar a decisão pela escolha. Informações como volume de aterro, áreas a serem desapropriadas, população afetada, áreas a sofrerem intervenção, entre outros, são alguns indicadores geralmente utilizados. 67 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II Figura 11. Croqui de alternativas locacionais do Projeto Verde Atlântico Energia – Termelétrica. ALTERNATIVA 1 ALTERNATIVA 2 ALTERNATIVA 3 Fonte: Tetra Tech (2016). » Aspectos legais: uma breve descrição da legislação aplicada àquele determinado tipo de empreendimento, nos níveis federal, estadual e municipal, indicando tanto as leis ambientais quanto as relativas ao uso e ocupação do solo, áreas urbanizadas, entre outros específicos para cada empreendimento. » Áreas de influência: apresentar a definição das áreas de influência do empreendimento, ou seja, os limites geográficos que podem ser afetados por impactos diretos e/ou indiretos da implantação e operação do empreendimento. Normalmente, as áreas consideradas são: Área de Influência Indireta (AII) – área geográfica no qual os impactos e seus efeitos decorrentes do empreendimento ocorrerão de forma indireta e, portanto, serão menos significativos, menos sentidos que nas demais áreas de influência. Área de Influência Direta (AID) – área geográfica diretamente afetada pelos impactos do empreendimento, tanto os positivos quanto os negativos, que, por terem maior intensidade, deverão ser mitigados, compensados ou potencializados (no caso dos positivos, claro). Área Diretamente Afetada (ADA) – área necessária para a implantação do empreendimento, onde estão as suas estruturas, vias de acesso privativas, e demais áreas de uso privativo do empreendimento. Os impactos, obviamente, serão sentidos de forma direta e absoluta. 68 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Figura 12. Esquematização das áreas de influência. ADA AID AII Fonte: Adaptado de CETESB (2014). As áreas de influência podem ser definidas de diferentes formas, com diferentes limites geográficos, para os estudos de meio Físico, Biótico e Socioeconômico. Normalmente, nos estudos de meio Físico e Biótico, consideram-se limites geográficos naturais, como uma bacia hidrográfica, por exemplo, ainda que seus impactos sejam sentidos não somente na paisagem, mas também pelo homem. Nos estudos socioeconômicos, entretanto, estabelecer limites já feitos pelo homem, como os limites municipais, por exemplo, podem fazer mais sentido quando se tratam de impactos que podem influenciar a economia, ou a saúde, ou a educação, que necessitam de parâmetros nos quais os limites naturais não podem dar. A CETESB, órgão licenciador do Estado de São Paulo, disponibiliza um indicativo de Áreas de Influência já pré-determinadas para cada tipo de empreendimento: ferrovias, dutos, linhas de transmissão, entre outros. Para conhecer essa lista de empreendimentos e as sugestões de determinação de áreas de influência, acesse: <http://licenciamento.cetesb.sp.gov.br/cetesb/documentos/Manual- DD-217-14.pdf>. » Compatibilidade com Projetos e Programas Colocalizados: a Resolução Conama no 1/1986 também cita essa necessidade de se levantar e identificar, nos Estudos de Impacto Ambiental, todos os programas e projetos nas esferas federal, estadual e municipal, sejam públicos ou privados, que estejam propostos ou em implantação nas áreas de influência do empreendimento. Assim, será possível o órgão ambiental analisar, por exemplo, a eventual ocorrência de conflitos que podem existir entre os interesses do empreendimento e destes programas e projetos, buscando, caso haja conflitos, as melhores formas de solucioná-los. http://licenciamento.cetesb.sp.gov.br/cetesb/documentos/Manual-DD-217-14.pdf http://licenciamento.cetesb.sp.gov.br/cetesb/documentos/Manual-DD-217-14.pdf 69 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II Um exemplo clássico de conflitos relativos à projetos colocalizados é a implantação de Aterro Sanitário em área num raio de até 20 km de projetos de aeródromos ou aeroportos. Isso porque em 2011, o Ministério da Defesa elaborou um Plano Básico de Gerenciamento de Risco Aviário (PBGRA), que recomenda a não implantação de atividades com potencial atração de aves (como os aterros sanitários ou alguns cultivos agrícolas) num raio de 9 km de aeródromos e aeroportos, e num raio de até 20 km, que haja o comprometimento do empreendedor a utilizar técnicas para espantar tais aves dessa rota (CETESB, 2014). Nesse tipo de projeto, é necessário que haja autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) para a obtenção de licença, pois a possibilidade de que um Aterro Sanitário atraia aves pode ser um fator de alto risco para aeronaves nessa rota, podendo causar sérios acidentes, inclusive podendo provocar a queda de aeronaves. » Diagnóstico Ambiental: o diagnóstico ambiental é a base do estudo que vai nortear a avaliação dos impactos ambientais. Isso porque é nessa parte que o estudo vai apresentar todas as informações das três áreas de influência que podem ser passíveis de sofrer impactos decorrentes da implantação do empreendimento. Essas informações devem ser obtidas por meio de consultas a dados secundários, como teses, relatórios ou dados quantitativos de órgãos oficiais (como o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística – IBGE, muito utilizado nesse tipo de estudo), além de levantamentos de campo nas áreas de influência do empreendimento. Nessa parte do estudo, além de uma extensa descrição por textos, é importante o uso intenso de gráficos, mapas, fotos e ilustrações que tornam mais claras as informações obtidas. É importante saber que o nível de aprofundamento dos estudos pode – e deve – variar de acordo com as áreas de influência. Assim, para a AII, os estudos podem ser mais superficiais, com menor detalhamento; já para a AID, são importantes informações mais detalhadas, especialmente em relação àqueles aspectos que serão mais impactados (por exemplo, se os maiores impactos são para a fauna e flora, que haja um diagnóstico maior do meio biótico deste determinado empreendimento); para a ADA, pode haver um levantamento de campo para um maior detalhamento das informações do local onde será a implantação do empreendimento e quais os aspectosque sofrerão os maiores impactos. 70 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Os estudos geralmente são separados entre meio físico, meio biótico e meio socioeconômico, pois, além do entendimento distinto de cada aspecto, as áreas de Influência podem variar entre esses meios, conforme já falamos anteriormente. A fim de esclarecer melhor sobre quais assuntos abordar em cada um dos meios, vejamos o quadro a seguir: Quadro 2. Principais temáticas abordadas por meio de análise. M ei o Fí si co Clima. Qualidade do Ar. Ruído e vibração. Geologia e recursos minerais. Geomorfologia. Pedologia. Geotecnia e susceptibilidade a processos erosivos. Espeleologia. Recursos hídricos e qualidade das águas superficiais e subterrâneas. Áreas contaminadas. M ei o Bi ót ic o Fauna (terrestre e aquática, caso haja). Avifauna. Flora terrestre. Biota aquática. M ei o So ci oe co nô m ic o Uso e ocupação do solo. Zoneamento. Perfil demográfico e socioeconômico da população. Equipamentos e serviços públicos (saúde, educação etc.). Sistema viário e infraestrutura. Estrutura produtiva, economia e serviços. Patrimônio cultural, natural e arqueológico. Organização social. Populações tradicionais (indígenas, quilombolas e/ou caiçaras). Fonte: Adaptado de CETESB (2014). Após todo o diagnóstico ambiental, muitos estudos apresentam uma Análise Integrada de todos os principais aspectos levantados nos meios, dando uma caracterização destes resumidamente a fim de traçar um perfil das áreas de influência e os principais aspectos que vão orientar o próximo – e mais importante – item de um estudo ambiental. Identificação e avaliação dos impactos ambientais Sem dúvida, o estudo ambiental a ser elaborado, independentemente do tamanho a ser adotado, tem como premissa a importância da avaliação dos impactos potenciais de 71 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II um empreendimento. A identificação e avaliação destes impactos deve ser elaborada considerando as atividades das fases desde o planejamento, passando pela implantação e operação do empreendimento proposto. Os impactos devem ser descritos, quantificados e também qualificados, obedecendo metodologias – há várias metodologias propostas para isso – e identificando quais aspectos do projeto podem ser os causadores de tal impacto, e quais fatores ambientais serão impactados. Qual a diferença entre os aspectos e impactos ambientais? A ISO 14.001/2004, que é a norma que regulamenta a aplicação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA), define como aspecto ambiental um “elemento das atividades ou produtos ou serviços de uma organização que podem interagir com o meio ambiente”. A mesma norma trata de impacto ambiental como “qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte dos aspectos ambientais da organização” (ABNT, 2004). Sendo assim, podemos entender que o aspecto ambiental pode ser uma máquina, equipamento ou uma atividade a ser executada que pode ter algum efeito sobre o meio ambiente, alterando-o. Essa alteração, caso ocorra, se caracteriza como um impacto ambiental. O impacto ambiental, portanto, sempre vai acontecer a partir de um aspecto ambiental! A Resolução CONAMA no 1/1986, em seu artigo 1o, define impacto ambiental como: qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA, 1986). 72 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Assim, para facilitar a identificação dos impactos ambientais que podem ocorrer potencialmente, é fundamental levantar todos os aspectos do projeto, a fim de detalhar cada ação possível e, assim, identificar os impactos potenciais. O quadro a seguir mostra um exemplo de levantamento em que há a descrição de uma atividade, um aspecto e um impacto possível decorrente de um empreendimento hipotético de fabricação de cimento, por exemplo. Quadro 3. Levantamento de atividades, aspectos e impactos ambientais. Atividade Aspecto Ambiental Impacto Ambiental Lavagem de equipamentos. Consumo de água. Redução dos recursos hídricos. Lançamento de óleos na rede coletora. Alteração da qualidade das águas. Uso de embalagens. Descarte de resíduos sólidos. Alteração da qualidade do solo. Queima de combustível fóssil. Produção de emissões atmosféricas. Alteração da qualidade do ar. Transporte de caminhões. Aumento do tráfego. Aumento do risco de acidentes. Funcionamento de equipamentos. Aumento da emissão de ruídos. Aumento do incômodo à população. Fonte: Elaborado por Silvia Zambuzi (2017). Conforme podemos ver, esse é um pequeno exemplo de algumas atividades que podem ocorrer em um empreendimento hipotético. São atividades genéricas que ocorrem nos mais diversos tipos de empreendimento que necessitam de estudos ambientais para licenciamento e que apresentam potenciais impactos decorrentes dos aspectos possíveis de ocorrer de acordo com tais atividades. A quantidade de impactos de um empreendimento vai depender das dimensões deste, do tipo de atividade exercida e dos aspectos existentes. Estes impactos, geralmente, são definidos entre os que afetam o meio físico, o biótico e a população, ou seja, o meio socioeconômico, entretanto, muitos impactos potenciais afetam todos os meios estudados, o que muitas vezes tornam essa classificação entre meios algo difícil. Separá-los por meio facilita posteriormente na definição das formas de mitigá-lo, potencializá-lo ou compensá-lo, entretanto, não é algo necessariamente obrigatório, apesar de habitual. Após o levantamento de impactos, é necessário realizar a avaliação destes. Em relação a isso, a própria Resolução CONAMA no 1/1986, em seu art. 6o, II, afirma que o estudo ambiental deve realizar a análise dos impactos a partir da sua identificação, previsão de magnitude, discriminando-os como positivos ou negativos, diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes, reversibilidade e suas propriedades cumulativas e sinérgicas e a distribuição dos ônus e dos benefícios sociais de cada um, caso haja. 73 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II Falaremos sobre essas características a seguir. Metodologia de avaliação de impactos Há diversas metodologias utilizadas para a avaliação dos impactos ambientais. Como os primeiros trabalhos desenvolvidos neste sentido foram elaborados nos EUA, grande parte das metodologias vieram de lá, o que as tornam nem sempre compatíveis com a realidade do Brasil. Por isso, muitas destas metodologias precisaram – e precisam – ser adaptadas para a realidade local. Fica a critério da equipe técnica decidir qual é a metodologia ideal para cada caso, mas geralmente as linhas metodológicas organizam e apresentam de forma escrita e visual os impactos levantados. Vejamos algumas das linhas metodológicas existentes para a avaliação de impactos ambientais (OLIVEIRA; MOURA, 2009): » Metodologias Espontâneas (Ad Hoc): utilizada quando não há muitos dados, os impactos são identificados por meio do conhecimento técnico e de forma simples, subjetiva e pouco quantitativa, sendo sintetizados em tabelas ou matrizes. Embora facilmente compreensível, não detalham tanto os impactos e suas variáveis. » Metodologia de Listagem (Check-list): um dos métodos mais utilizados atualmente, com a listagem de impactos levantados a partir do diagnóstico dos meios estudados, categorizando-os em positivos, negativos e outras características. Existem, inclusive, listagens padronizadas para cada tipo de empreendimento (hidrelétrica, mineração etc.). » Matrizes de interações: basicamente de identificação dos impactos, foram criadas para suprir as necessidades que a metodologiade listagem não supria. Uma das mais conhecidas é chamada de Matriz de Leopold, que consistem em levantar as interações entre as ações e os fatores e fazer uma escala de 1 a 10 da magnitude e importância de cada impacto. Essa matriz é bastante criticada por não explicitar qual a base de cálculo das escalas de pontuação, sendo estas mais empíricas do que técnicas, além da não identificação da inter-relação entre os impactos, o que pode alterar sua avaliação de magnitude e importância. Apesar disso, muitas matrizes utilizadas hoje são inspiradas na de Leopold, com uma listagem planilhada por meio de linhas e colunas que facilitam a compreensão dos 74 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL resultados, tornando mais clara a valoração da magnitude e da importância de cada impacto. » Redes de Interações (Network): utilizando métodos gráficos para mostrar as relações entre as ações praticadas pelo empreendimento e os possíveis impactos consequentes – diretos e indiretos. É de fácil visualização e compreensão. » Metodologias quantitativas: associam valores às características qualitativas a partir de indicadores de qualidade ambiental que variam de 0 a 1. Cálculos são feitos entre a diferença do impacto com a realização do empreendimento e sem a realização deste é que avaliam a importância dos impactos. » Modelos de simulação: utilizam modelos matemáticos e programas computadorizados para avaliar os parâmetros ambientais e as relações de causa e efeito de determinadas ações. São métodos versáteis, pois podem processar variáveis qualitativas e quantitativas, incorporar informações de magnitude e importância e se adaptar a qualquer tipo de empreendimento, mas exigem profissionais técnicos experientes e equipamentos com programas para tal avaliação. » Mapas de superposição (Overlay Mapping): com a confecção de cartas e mapas temáticos para localizar, dimensionar e analisar os impactos, a partir de diversas transparências e layers que, sobrepostos, mostram a real dimensão do problema. É um método ideal para impactos especializados, como conflitos de áreas, indicativos de áreas agrícolas, Unidades de Conservação, zoneamento, ideais para mostrar vulnerabilidades de recursos ambientais, uso do solo etc. Há outras metodologias existentes, elaboradas a partir da realidade local, que podem, muitas vezes, sobrepor as metodologias já apontadas e formar novas metodologias. Quem vai determinar a melhor forma de avaliar os impactos é a equipe técnica responsável pelo estudo ambiental. Em geral, no Brasil, os impactos são classificados em atributos que determinam sua valoração. Os principais atributos são indicados no quadro a seguir: 75 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II Quadro 4. Principais parâmetros e atributos dos impactos a serem avaliados. Parâmetro Atributo Natureza Positivo / Negativo Incidência Direto / Indireto Abrangência Pontual / Local / Regional Ocorrência Certa / Provável Temporalidade Curto / Médio / Longo prazo Forma de ocorrência Permanente/ Temporário / Cíclica Reversibilidade Reversível / Irreversível Magnitude Baixa / Média / Alta Significância Muito / Pouco / Significativo Fonte: Adaptado por Silvia Zambuzi (2017). Alguns estudos avaliam a significância e/ou a magnitude a partir do cruzamento de outros atributos, como a reversibilidade e a abrangência, por exemplo, que são atributos importantes para conhecer a real dimensão de um impacto. Impactos cumulativos e sinérgicos A análise da cumulatividade e sinergia dos impactos do empreendimento objeto de estudo e de outros empreendimentos existentes na região é algo fundamental para visualizar, em longo prazo, quais os efeitos reais da implementação de um empreendimento. Isso porque os impactos, mesmo os pequenos, somam- se ou interagem com outros impactos existentes na mesma área de influência do empreendimento. A própria Resolução Conama no 1/1986 cita as propriedades cumulativas e sinérgicas dos impactos como algo a ser analisado, embora não explica ou conceitua que tipo de propriedades são essas, não orienta tal análise (SPATA, 2014). A Nota Técnica (NT) no 10/2012 (MMA e CGPEG/DILIC/IBAMA), que orienta metodologicamente os estudos para licenciamento ambiental de empreendimentos de exploração marítima de petróleo e gás, definiu os impactos cumulativos como aqueles que ocorrem quando há incidência espacial e/ou temporal de impactos incidentes sobre o mesmo fator ambiental, enquanto os sinérgicos ocorrem quando há uma potencialização nos efeitos de um ou mais impactos em decorrência de uma interação espacial ou temporal destes dois impactos (SPATA, 2014). A figura a seguir ilustra melhor como caracterizar e identificar cada um destes impactos: 76 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Figura 13. Impactos cumulativos e sinérgicos. Projeto Projeto Impacto A Impacto A IMPACTO A Projeto Projeto Impacto B Impacto A Interaçã Impacto C IMPACTOS SINÉRGICOS IMPACTOS CUMULATIVOS Fonte: Adaptado de Hyder (1999). Podemos pensar em um exemplo emblemático para compreender melhor os impactos cumulativos: um rio utilizado como manancial para o abastecimento de água possui, a montante deste abastecimento, alguns lançamentos industriais de efluentes, todos licenciados e de baixa significância. Entretanto, estas emissões, quando somadas, provocam uma alteração na qualidade da água (considerado um impacto cumulativo), aumentando o custo de tratamento, e esse valor é repassado aos usuários (também considerado um impacto cumulativo), além da ocorrência de perda da diversidade da fauna aquática, com peixes que não são mais encontrados nesse rio (também um impacto cumulativo destas emissões). Em relação aos impactos sinérgicos, o caso do maior desastre ambiental já ocorrido no Brasil, causado pela empresa Samarco na região do Vale do Rio Doce, pode nos ensinar muitas coisas. O mar de lama despejada com o rompimento da barragem de rejeitos da empresa pode ter diminuído a ocorrência de sapos na região, que se alimentam do mosquito transmissor da febre amarela e outras doenças. Com a falta de predadores, esses mosquitos podem ter se proliferado em excesso e, ao encontrar os macacos – que sofreram também com a diminuição de sua imunidade decorrente da falta de alimentos após o desastre 77 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II – transmitiram mais facilmente o vírus, auxiliando a proliferação da doença também em humanos. As pesquisas sobre o assunto estão sendo realizadas. Vale a pena estudar mais sobre o tema e sobre as longas consequências desse acidente. Acesse: <http:// www.ambientelegal.com.br/lama-da-samarco-e-o-surto-de-febre-amarela/>. Os impactos ambientais cumulativos e sinérgicos são citados, muitas vezes, apenas em frases sobre os impactos ambientais de empreendimentos, mas não são tratados dentro de um processo de identificação e avaliação, principalmente de forma quantitativa. Em alguns casos, tais impactos cumulativos e sinérgicos são utilizados como um critério de avaliação de impactos, não como impactos em si a serem avaliados. Ainda que apontados na legislação vigente, não há claramente uma abordagem metodológica padrão para analisar esses tipos de impacto. O fato é que os impactos cumulativos e sinérgicos deverão ser identificados a partir da capacidade de visualizá-los em longo prazo e sua interatividade na região do projeto, uma vez que, mesmo pequenos, quando interagem ou se somam a outros impactos, podem se tornar críticos. Quando pensamos em impactos cumulativos, é importante pensar que sua definição é simples. A emissão de fumaça de um único carro andando por uma via tem pouco impacto na qualidade do ar, mas uma maior quantidade de carros pode causar alterações na qualidade do ar. Isso pode ocorrer no tempo ou no espaço, portanto, o impacto cumulativo pode ser pensado sob essas duas óticas (FERREIRA, 2011). Segundo Dias (2001), por meio do Council on Environmental Quality (CEQ),órgão que regulamenta as agências e os estudos ambientais norte-americanos, estabeleceu-se princípios para a avaliação de impactos cumulativos, baseado em pesquisas e experiência dos profissionais. Segundo esses princípios, os impactos cumulativos: 1. São causados pela combinação de ações do passado e presente, além da significativa chance de acontecer no futuro. 2. Também estão incluídos os impactos diretos e indiretos, em locais de importância ecossistêmica, e para a comunidade humana. 3. Estes impactos devem ser analisados sob a ótica do recurso, ecossistema e área afetada. 4. É impossível analisar impactos da dimensão global. http://www.ambientelegal.com.br/lama-da-samarco-e-o-surto-de-febre-amarela/ http://www.ambientelegal.com.br/lama-da-samarco-e-o-surto-de-febre-amarela/ 78 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL 5. Impactos acumulados sobre um recurso, ecossistema ou comunidade humana dificilmente poderá ser delimitado por fronteiras políticas ou administrativas. 6. Estes podem ser resultado da acumulação de impactos similares ou da interação sinérgica de impactos distintos. 7. Tais impactos podem durar mais do que as ações que os causaram. 8. Cada recurso, comunidade ou ecossistema precisa ser analisado a partir de sua capacidade de acomodar impactos adicionais no tempo e no espaço. Os impactos cumulativos e sinérgicos também podem ser utilizados para a elaboração de planos e programas, análises de riscos e outros estudos que não necessariamente sejam de avaliação de impacto ambiental, embora levantá-los previamente à sua ocorrência é a melhor recomendação. Análise de risco Inicialmente, os trabalhos de EIA-RIMA não faziam menção aos riscos de acidente, caracterizando os impactos ambientais como aqueles que são decorrentes das alterações ambientais causadas durante a construção dos empreendimentos ou então das operações normais relativas à atividade. Recentemente, essa visão tem sido modificada, tendo aumentado na abordagem dos estudos de EIA-RIMA alguma forma de identificação dos perigos de acidentes e de avaliação dos riscos nos empreendimentos que lidam com substâncias perigosas ou que de alguma forma podem trazer riscos de acidentes maiores para as populações situadas na sua área de influência. Os estudos de análise de riscos passaram a ser incorporados nesse processo de licenciamento para determinados tipos de empreendimentos, em geral os que são considerados perigosos, para que a prevenção de acidentes seja também abordada nestes licenciamentos. A análise de risco consiste em analisar as possíveis consequências negativas de algumas forças da natureza (como raios, furacões etc.) ou atividades humanas. Ela é parte da chamada Gestão de Riscos, que atualmente todos os empreendimentos com potencial de risco devem ter implementado, composta também pelas ações de planejamento de ações em situações de emergência, caso esses riscos de fato ocorram. É aí que as informações levantadas nos estudos ambientais são fundamentais para 79 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II também balizar as ações caso alguns impactos possam vir a acontecer e causar danos para a empresa, população e entorno (MMA, 2009). Alguns órgãos de controle ambiental passaram a exigir das empresas potencialmente geradoras de riscos a apresentação de um Programa de Gerenciamento de Risco (PGR) como forma de controle e monitoramento dos riscos avaliados. Como requisito adicional, estes órgãos têm solicitado a realização de um Plano de Ação de Emergência, que tem que ser feito a partir dos resultados da análise de riscos. PGR e PAE, o que é isso? Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) Importante para prevenir a ocorrência de acidentes ambientais que possam colocar em risco tanto a integridade física dos trabalhadores quanto a segurança da população e o meio ambiente. Para a sua maior efetividade, o PGR deve ser estruturado contemplando todas as ações necessárias para a prevenção de acidentes ambientais, além da minimização de eventuais impactos caso ocorram situações anormais (CETESB, 2011). Plano de Ação de Emergência (PAE) A análise de risco, ação que deve ser realizada pelas organizações (obrigatoriamente, no caso do licenciamento ambiental) aponta um conjunto de eventos perigosos que requerem ações de contenção para o bloqueio desses eventos. Podemos, dessa forma, definir um PAE como um instrumento preventivo e de gestão operacional que indica a adoção de procedimentos lógicos, técnicos e administrativos para dar resposta rápida e eficiente às situações emergenciais. Fonte: ZAMBUZI, S. Elaboração e Gerenciamento de Planos de Riscos Ambientais. Editora Unyleya, 2017. Planos e programas ambientais O PRAD que vimos anteriormente é um Plano praticamente obrigatório em todos os processos de licenciamento atualmente. É considerado essencial para o andamento do processo, uma vez que norteia ações de compensação/restauração/recuperação das áreas degradadas. 80 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Ao longo do processo de licenciamento, no entanto, há uma série de programas e planos ambientais propostos como medidas mitigadoras, ou de controle, ou de compensação dos impactos potenciais, para serem executados nas mais diversas etapas de implementação do empreendimento, seja para a construção ou para a operação deste. Antes de prosseguir, é importante esclarecer o que significa cada uma dessas medidas a serem realizadas para cada impacto e, consequentemente, ilustrada nos Programas Ambientais propostos em seguida. Claro que o cenário ideal seria o da prevenção desses impactos, o que muitas vezes não é possível, pois estes impactos geralmente são decorrentes de atividades inerentes ao processo de instalação e operação de um empreendimento. Quando essa prevenção não é possível, deve haver outras medidas que, de alguma forma, mitiguem, recuperem ou, por fim, compensem este impacto. A mitigação de impactos visa reduzir estes a partir de estratégias como tecnologias e ações, equipamentos e dispositivos capazes de reduzir a magnitude destes impactos. Da mesma forma, as medidas de controle são importantes para que estes impactos sejam calculados e controlados para que não saiam do previsto. As medidas de recuperação, como o próprio PRAD, visam buscar formas de retornar a situação da forma que estava antes do impacto ocorrer. São ações mais específicas e pontuais, especialmente relacionadas à flora do local do empreendimento. A compensação ocorre quando o impacto não pode ser mitigado, controlado ou não há recuperação para a condição anterior. Essa compensação pode acontecer tanto por meio de ações, como o plantio de árvores para compensar o corte de outras, ou compensar a emissão de gás carbônico de um empreendimento, por exemplo, ou por meio de recursos financeiros, de acordo com as determinações do órgão ambiental competente do caso. A compensação é uma forma de ressarcir os danos causados ao meio ambiente por um empreendimento. Falaremos mais disso adiante. Embora sejam apontados nos estudos para a LP (como no EIA/RIMA e no RAP, por exemplo), é requisito essencial para a obtenção da LI a descrição detalhada dos Programas e Planos Ambientais, especialmente no PBA, que já descrevemos anteriormente como o conjunto destes programas e planos. Obviamente, os programas e planos são solicitados e desenvolvidos a partir das características específicas do empreendimento a ser licenciado. Mas há alguns 81 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II programas e planos que são quase obrigatórios no processo de licenciamento. Vamos apontar alguns exemplos: » Programa de Controle de Obras ou Plano Ambiental de Construção. » Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. » Programa de Monitoramento da Qualidade do Ar. » Programa de Monitoramento da Qualidade do Solo. » Programa de Monitoramento da Qualidade das águas. » Programa de Controle de Ruídos e Vibrações. » Programade Controle de Processos Erosivos. » Programa de Monitoramento e Resgate de Fauna. » Programa de Controle de Tráfego. » Plano de Gerenciamento de Riscos (PGR). » Plano de Atendimento a Emergências (PAE). » Plano de Prospecção e Resgate Arqueológico. Fundamental salientar que, além dos programas apontados que se referem aos potenciais impactos que interferem no meio físico – paisagem, solo, relevo etc. – e no meio biótico – fauna e flora – , também são de grande importância os programas voltados ao meio socioeconômico, especialmente aqueles que podem potencializar os impactos positivos que podem vir a ocorrer com a implementação de um empreendimento. Afinal, quando falamos de impactos, temos sempre a visão de que é algo ruim causado pela construção de algo que vai degradar e impactar uma região. Mas há sim os impactos positivos e estes geralmente são vinculados às ações voltadas ao meio socioeconômico. Como exemplo destes programas, temos: » Programa de Comunicação Social. » Programa de Educação Ambiental. » Programa de Saúde e Segurança das Obras. 82 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Em geral, os programas ou planos propostos exigem um monitoramento de suas atividades e podem ser interdependentes um do outro, só assim as medidas preconizadas podem ter um resultado satisfatório. Compensação ambiental Conforme falamos anteriormente, a compensação ambiental é um mecanismo utilizado quando não há formas de mitigar, controlar ou recuperar um ambiente ou situação diante de um impacto ocorrido. Sempre haverá impactos desse tipo, uma vez que, ao menos atividades como supressão de vegetação ocorrem em praticamente todos os empreendimentos, e esse é um tipo de situação que exige uma compensação, uma vez que não é possível o retorno daquele ambiente da forma que era após o impacto. A compensação é um mecanismo financeiro para compensar o efeito desses impactos que não são mitigáveis de alguma forma. A compensação quando tratada nos estudos ambientais adquirem um caráter preventivo, uma vez que o empreendimento ainda não está sendo implantado no momento do licenciamento e, portanto, o impacto ainda não ocorreu. Mas há situações em que a compensação é feita para recuperar danos e perdas ambientais já ocorridos, quando o empreendedor – e até pessoa física em alguns casos – recebe multa ou infração por esse dano. Um dos procedimentos exigidos pelos órgãos ambientais para reparar esse dano é a compensação ambiental, desde o pagamento da multa para serviços ambientais até o plantio de mudas de espécies nativas, por exemplo. Veja como se dá essa compensação no seu município, pois eles variam para cada órgão ambiental responsável. Segundo o SNUC (Lei no 9.985/2000), em seu art. 36, o empreendedor responsável por empreendimentos de significativo impacto ambiental, para a obtenção de Licença, deve apoiar a implantação e/ou manutenção de alguma Unidade de Conservação de Proteção Integral, sendo o valor estipulado de acordo com o valor final do projeto, não podendo “ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento” (BRASIL, 2000). 83 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II O empreendedor pode sugerir a UC na qual será destinada a sua compensação, entretanto, cabe ao órgão ambiental defini-la. Mas, há prioridades na aplicação de recurso, conforme o Decreto no 4.340/2002: I - regularização fundiária e demarcação das terras; II - elaboração, revisão ou implantação de plano de manejo; III - aquisição de bens e serviços necessários à implantação, gestão, monitoramento e proteção da unidade, compreendendo sua área de amortecimento; IV - desenvolvimento de estudos necessários à criação de nova unidade de conservação; e V - desenvolvimento de pesquisas necessárias para o manejo da unidade de conservação e área de amortecimento. Quando em UC’s de posse particular, a destinação deverá ser, sobretudo, à elaboração de Plano de Manejo, pesquisas e programas de educação ambiental. Em 2006 foi criado o Fundo Nacional de Compensação Ambiental, já previsto no SNUC, para administrar (IBAMA e Caixa Econômica Federal) todo o valor referente às compensações recebidos e investir na criação e manutenção das UC’s federais, estaduais e municipais. A Resolução CONAMA no 371/2006 estabeleceu diretrizes para o cálculo, cobrança, aplicação, aprovação e controle de gastos de recursos vindos da compensação ambiental. Em 2008, no entanto, o Supremo Tribunal Federal emitiu uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no 3.378, que questiona e torna inconstitucional a obrigatoriedade de aplicação de 0,5% do valor total do empreendimento em compensação ambiental, afirmando que esse valor para a compensação deveria ter por base o grau de impacto ambiental. Em 2009, foi promulgado o Decreto no 6.848, que institui cálculos para essa compensação ambiental (CA) a partir do grau do impacto (GI) com um valor de referência (VR) que é a soma dos investimentos para a implantação do empreendimento, a partir da fórmula: CA = VR x GI O grau de impacto é gerado por meio de outros cálculos que atingem valores de 0 a 0,5% gerados a partir das informações contidas nos estudos ambientais. 84 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL Acesse o Decreto e veja o cálculo de GI estabelecido por ele: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6848. htm>. Continuando o processo de elaboração dos estudos ambientais, após a indicação dos Planos e Programas Ambientais propostos, o estudo entra na sua fase final. Prognóstico ambiental Embora o prognóstico seja uma parte curta do estudo, é de fundamental importância, pois vai balizar a decisão final do órgão ambiental quanto a autorização de obtenção de licença ambiental ao empreendimento. Trata-se de um resumo da situação ambiental das áreas de influência com a implantação do empreendimento e sua operação, considerando a adoção dos programas ambientais propostos. Dessa forma, é um comparativo da situação ambiental de todas as áreas de influência em um cenário com e sem o empreendimento (CETESB, 2014). O que vai haver de mudanças e quais delas serão boas ou ruins com o empreendimento. O que muda? O que é melhor? O que piora neste ambiente? E o que ocorrerá caso não haja a implantação do empreendimento? Todas as respostas a essas perguntas podem estar no prognóstico ambiental e, por isso, é uma etapa importante dos estudos ambientais. Conclusões As conclusões do estudo devem sustentar os argumentos sobre a viabilidade ambiental do empreendimento, recomendando as ações necessárias para tal. Referências bibliográficas e equipe técnica É importante a listagem de toda a bibliografia usada nos dados secundários obtidos para o desenvolvimento do estudo ambiental. Em relação à Equipe Técnica, além de apresentar a equipe – que deve ser multidisciplinar – e sua formação acadêmica, indicando a responsabilidade dentro do estudo de cada um dos profissionais, é fundamental a apresentação de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) dos coordenadores do estudo. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6848.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6848.htm 85 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) A Resolução CONAMA no 1/1986, no seu artigo 9o, fala que o RIMA deve ser apresentado separadamente ao EIA. O RIMA, basicamente, é um documento resumido do EIA, mas que deve ser mais objetivo e de fácil compreensão, com linguagem acessível, ilustrações, gráficos, infográficos, mapas, fotos e outras formas de comunicação visual que facilitem o entendimento do público em geral de todas as fases do estudo e do projeto em questão, apontando as vantagens e desvantagens de implementação do empreendimento. Isso porqueo RIMA é um instrumento importante para que a população conheça melhor o empreendimento e se prepare para as audiências públicas, etapa posterior à entrega do estudo ambiental ao órgão competente. Já falamos sobre as audiências públicas nesse material, e da importância do RIMA para que estas audiências sejam, de fato, validadas pelo poder público, seja ele de esfera municipal, estadual ou federal. Veja o Relatório de Impacto Ambiental do Complexo Germano, da empresa Samarco, onde estava localizada a barragem de Fundão, que rompeu em 2015, e que foi considerado até hoje um dos maiores desastres ambiental ocorrido no país. <http://www.samarco.com/wp-content/uploads/2017/11/rima-samarco-2017.pdf>. Um bom estudo ambiental é determinante para que as premissas propostas sejam seguidas pelos empreendedores? E os órgãos ambientais, além de realizarem avaliações de estudos, estão aptos à acompanhá-los, monitorar as atividades, programas e planos propostos pelos empreendedores? O caso das hidrelétricas A Usina Hidrelétrica de Belo Monte e todo o seu projeto, desde o processo de idealização e licenciamento, foi alvo de muita polêmica e resistência, sobretudo para os ambientalistas e movimentos sociais. O projeto da hidrelétrica em território amazônico já era idealizado há muitas décadas, mas ganhou forças após a crise energética de 2001. O governo, então, voltou a investir em novas fontes de energia, sendo as usinas hidrelétricas a base da matriz energética do país, consideradas uma produção de energia limpa, embora os grandes barramentos representem grandes impactos, especialmente na região amazônica. Essa tendência de incentivar a construção de grandes hidrelétricas no Brasil vem desde a década de 1970, quando os investimentos governamentais enfocaram grandes usinas http://www.samarco.com/wp-content/uploads/2017/11/rima-samarco-2017.pdf 86 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL hidrelétricas, no momento do auge do Regime Militar e da expansão do consumo energético – fomentado pela urbanização e industrialização, especialmente nas áreas antes pouco habitadas do país, incentivado pelos próprios militares para a “ocupação do país” – quando foram construídas usinas como Paulo Afonso, Itaipu e Tucuruí. Tais usinas, todas de grande magnitude, foram construídas em um período anterior às exigências de realização de Estudos Ambientais para a elaboração de EIA/RIMA como um pré-requisito para a construção da obra. Assim, surgiram casos emblemáticos de conflitos e impactos ambientais relativos à construção dessas Usinas. Destaca-se como exemplos (ZAMBUZI, 2016): » Usina hidrelétrica de Balbina: construída em pleno território amazônico e só finalizada na década de 1980, a usina foi exemplo de descaso ambiental, uma vez que uma imensa área foi alagada e as árvores desmatadas não foram removidas corretamente, causando putrefação destas e consequentemente a produção de gases sulfúricos e metano, gases prejudiciais ao clima e também para a vida aquática, que praticamente foi eliminada nessa região. » Usina hidrelétrica de Turucuí: embora tenham sido elaborados estudos simultaneamente à sua construção, milhares de pessoas tiveram que sair às pressas de suas casas devido o alagamento rápido de seu imenso reservatório. » Usina hidrelétrica de Sobradinho: considerado na época um dos maiores do mundo, o reservatório desta usina inundou grande parte de sete municípios, com cerca de 70 mil pessoas retiradas das áreas a serem alagadas, e muitas áreas produtivas – que abasteciam toda a região – foram perdidas. A maior parte dessa população foi deslocada compulsoriamente pelo Estado e reassentada a vários quilômetros das margens originais do rio, em plena caatinga, em solos impróprios para o plantio, perdendo-se assim as melhores terras para cultivo da região, às margens dos rios (COSTA, 1990). O caso virou até música, que denunciava tamanho impacto socioambiental ocorrido. Nos últimos anos, os incentivos à construção de barragens na região Amazônica voltaram a ser o foco da política energética do país. Entretanto, há problemáticas socioambientais que fazem com que sejam questionados os reais benefícios para a região. Embora as usinas sejam consideradas menos impactantes por serem construídas com a tecnologia a fio d’água, possuem, muitas vezes, uma capacidade instalada de geração 87 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II de energia questionável, além de estarem numa região de grande biodiversidade ambiental e com populações tradicionais (indígenas, ribeirinhos, etc.). Além disso, a energia gerada é utilizada para o abastecimento da região centro-sul do país, o que aumenta os custos com a distribuição desta energia. Usinas a Fio d́ água Com reservatório de dimensão reduzida, uma vez que é aproveitada a força da correnteza dos rios sem precisar estocar grandes quantidades de água, esse tipo de usina fica condicionada ao regime do clima e dos rios, pois produz muita energia nos períodos chuvosos de cheia e pouca energia nos períodos de seca. Além disso, não há necessidade de grandes quedas d’água, podendo então ser construídas em áreas mais planas, como é o caso da região Amazônica, que não favorece grandes represamentos. A maior desvantagem desse tipo de usina é o baixo fator de capacidade delas (devido à oscilação no regime das águas) (ZAMBUZI, 2016). O exemplo mais emblemático atual de construção de usina hidrelétrica é a de Belo Monte, projeto idealizado desde o período militar junto com outros aproveitamentos hidrelétricos no rio Xingu. Embora os estudos de inventário hidrelétrico já indicavam o alto impacto em terras indígenas, eles foram aprovados em 1988, no mesmo ano em que foi promulgada a Constituição Federal que poderia inviabilizar essa aprovação, em função do reconhecimento da demarcação das terras indígenas (FAINGUELERNT, 2016). Nesse período, já se destacava como o maior impacto socioambiental a falta de consulta e participação dos principais atingidos pelos projetos de barragens – no caso de Belo Monte, os indígenas – que já se mobilizaram para protestar contra a Usina. Figura 14. Cena famosa da índia Tuíra (da etnia Kaiapó) ameaçando com um facão no rosto do então diretor da Eletronorte, empresa responsável pelo Inventário Hidrelétrico que incluía Belo Monte. Fonte: <https://racismoambiental.net.br/wp-content/uploads/2017/11/tuira.jpg>. Acesso em: 16/4/2019. https://racismoambiental.net.br/wp-content/uploads/2017/11/tuira.jpg 88 UNIDADE II │ LICENCIAMENTO AMBIENTAL O projeto foi retomado no fim da década de 1990 e os estudos ambientais foram realizados desde então. Em 2001, o Estudo de Impacto Ambiental foi suspenso pelo Ministério Público Federal (MPF). O EIA foi retomado, mas, em 2004, houve uma nova paralisação do processo de licenciamento, uma vez que foram apontadas várias falhas pelo MPF. Como foi considerada pelo governo como uma prioridade estratégica, o licenciamento prosseguiu no ano seguinte (FAINGUELERNT, 2016). Em 2006, novamente foi suspenso o processo de licenciamento, mais uma vez devido à alegação de que os povos indígenas afetados pelo empreendimento deveriam ser ouvidos. Após iniciar diálogo com os povos tradicionais da região, o processo foi seguido em 2007. Apenas em 2009 o EIA/RIMA foi entregue ao IBAMA, mesmo com considerações da FUNAI indicando falta de estudos sobre os povos indígenas – lembrando que, conforme já apontamos, é necessária a manifestação da FUNAI para a aprovação de EIA/RIMA. Foram solicitadas diversas audiências públicas – conforme já dissemos, é um elemento fundamental para o processo de licenciamento – que foram consideradas insuficientes por não assegurarem a participação da população atingida (FAINGUELERNT, 2016). Somente em 2010 foi concedida a Licença Prévia (LP) à hidrelétrica de Belo Monte, em meio a protestos que tomaram dimensão internacional de ambientalistas e estudiosos da causa socioambiental. O IBAMA apresentou cerca de 40 condicionantesque a empresa deveria esclarecer para dar o andamento no processo ambiental, grande parte destas condicionantes ligadas às populações atingidas, mas também ligadas à qualidade das águas, fauna, saneamento etc. Em 2011, no entanto, a despeito da legislação ambiental brasileira, o IBAMA concedeu uma espécie de “licença parcial” dando autorização para a supressão de vegetação da área do empreendimento. Conforme já apresentamos anteriormente, após a concessão da LP, a concessão da licença seguinte só deve ocorrer com o cumprimento das condicionantes apontadas pelo órgão ambiental. Ainda assim, em 2011 foi concedida a Licença de Instalação (LI) com ações que compuseram o Plano Básico Ambiental (PBA). As obras, no entanto, só começaram em 2013. A previsão de geração de 19 mil empregos para a construção da usina e seu reservatório (o que é considerado um impacto positivo) traz consigo inúmeros impactos negativos ligados ao aumento populacional e suas consequências, como pressão nos equipamentos de serviço público, aumento da violência, das doenças etc. Junto com o empreendimento, cerca de 90 mil pessoas foram para a região, atraídos pela possibilidade de haver oportunidades relacionadas às obras de construção da usina. 89 LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE II Em 2015, com parte das obras de implantação concluídas, a usina conseguiu a Licença de Operação (LO) sem mesmo ter sido atendidas todas as condicionantes para a obtenção desta. Desde 2017, essa licença vem sendo suspensa e liberada, especialmente devido aos problemas relativos às ações judiciais que questionam o descumprimento das condicionantes para a LO, especialmente as ligadas à infraestrutura dos reassentamentos das populações que antes habitavam a beira do rio Xingu. Mesmo em obras, a Usina funciona parcialmente (MADEIRO, 2017). 90 UNIDADE IIIGESTÃO AMBIENTAL O termo Gestão Ambiental por si só carrega uma porção de sentidos, significados e ações. Sim, é um tema extenso, mas que pode ter muita utilidade para as organizações que desejam ter melhorias ambientais e todas as demais melhorias que podem, consequentemente, acontecer com tais ações. CAPÍTULO 1 Conceitos e desenvolvimento sustentável Se voltarmos um pouco na nossa história da humanidade, o mundo já foi bem pouco habitado. Haviam menos de um milhão de pessoas habitando na Terra até o início da revolução agrícola, que ocorreu há mais de 10 mil anos. Com o crescimento dessa produção agrícola, o caráter migrador da espécie findou e o estabelecimento das populações nos territórios fez com que o fenômeno das cidades crescesse e, assim, as populações cresceram, com mais de cinco milhões de habitantes há cerca de 8 milhões de anos. Quando do início da era Cristã, a população mundial era de cerca de 170 milhões de pessoas (ALVES, 2017). Com baixa densidade demográfica e modos de vida baseados grande parte da agricultura, a Terra nesse período apresentava recursos naturais infindáveis. Além da população pequena, as atividades humanas ainda rudimentares não exigiam a utilização de grades quantidades de recurso. Destacamos o uso da água, recurso fundamental à sobrevivência humana, que neste período era essencial à agricultura e já era amplamente utilizada. Podemos dizer que os Arquedutos Romanos, de certa forma, foram umas das primeiras obras de engenharia que seriam uma alternativa de gestão ambiental, especificamente dos recursos hídricos locais. Os arquedutos, embora construídos em diversos locais, foram criados pelos romanos, quando, ainda nos últimos séculos antes de cristo, tiveram sua demanda por água aumentada pelo crescimento rápido da cidade. É importante dizer 91 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III que, historicamente, as cidades sempre foram construídas próximas às fontes de água para o abastecimento, mas não se imaginava que essa necessidade de água superaria a capacidade de fornecimento de água destas fontes. Assim, quando há o crescimento destas áreas urbanas, muitas vezes, há a necessidade de se buscar alternativas para o abastecimento de água. Utilizando a gravidade, os arquedutos são canais artificiais para transporte de água para locais mais baixos do que nas fontes, em formato de arcos que facilitavam a estrutura a aguentar o peso da água. A estrutura basicamente era de tijolos e cimento, que conduziam as águas até reservatórios que, posteriormente encaminhava as águas para as termas e fontes públicas, onde a população poderia pegá-la para uso, e também para as casas dos mais ricos e privilegiados, que tinham acesso fácil ao recurso (ALBUQUERQUE, 2017). A figura a seguir mostra o esquema de construção e distribuição das águas dos arquedutos, desde a captação até a distribuição de água à cidade. Figura 15. Esquema dos Arquedutos Romanos. FONTE Entrada Canos de inspeção Tanque de sedimentação Arqueduto coberto Tanque distribuição Cidade Particular Termas Público Fonte: Albuquerque (2017). Os arquedutos são obras de construção tão imponentes que eram pensadas também sua manutenção, por isso, eram construídas camadas de extensão. É importante destacar que, embora com uma capacidade muito grande de distribuição de água, os arquedutos faziam a gestão das águas de forma diferenciada para a população rica e para os mais pobres da cidade. Enquanto uma minoria rica de Roma recebia as águas em suas residências, a grande massa de população mais pobre só poderia ter acesso à água pelas fontes públicas da cidade e mediante uma taxa de uso. Isso mostra o quando a gestão dos recursos – historicamente – é desigual quando pensado socialmente (GASPARETTO JR, 2018). Há arquedutos construídos em todo o mundo, pois esta foi uma alternativa da engenharia de transporte e distribuição de água durante alguns séculos depois 92 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL de cristo, até a era moderna. No Brasil, por exemplo, temos os Arcos da Lapa, no município do Rio de Janeiro, que originalmente era conhecido como Arqueduto da Carioca, construído entre 1725 e 1744, para transportar água do rio Carioca até o Largo de mesmo nome, abastecendo a área central urbana da época. Inicialmente feito só com canos de ferro, posteriormente foi reformado com materiais bem firmes, como cal, cimento e óleo de baleia. Embora deixou de ser utilizado com o propósito inicial, os arcos da Lapa hoje são importante ponto turístico da cidade do Rio de Janeiro, sem que ao menos as pessoas saibam da real funcionalidade deste monumento. Figura 16. Arcos da Lapa atualmente. Fonte: Veja Rio (2015). Com o desenvolvimento de diversos setores, especialmente a ciência e a medicina ao longo da história, a população foi aumentando à medida que melhoraram as condições de sobrevivência e a possibilidade de se viver mais. Embora as taxas de natalidade e longevidade fossem bastante baixas e diversas pestes tenham assolado grande parte da população mundial, como a peste bubônica, a população ascendeu constantemente desde então. À época das grandes navegações e o do descobrimento do Brasil pelos portugueses, a população mundial era de cerca de 450 milhões de pessoas. Em 1800, com a Revolução Industrial foi atingida a marca de 1 bilhão de habitantes (ALVES, 2017). A Revolução Industrial trouxe consigo a utilização intensa de recursos energéticos, especialmente, como o carvão, além da eletricidade e de um novo uso para os recursos hídricos: as indústrias que surgiam. A extração mineral passou a ser uma constante da humanidade desde então e esse uso de todos os recursos passou a ser deliberado pela humanidade. 93 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III A humanidade demorou cerca de 200 mil anos para crescer para 1 milhão de habitantes no planeta. Mas, a partir da Revolução Industrial, esse crescimento passou a ser muito rápido: Em 1927, já éramos 2 bilhões de pessoas; em 1960, 3 bilhões; em 2011 atingimos a marca de 7 bilhões e há previsões de que em 2023 poderemos chegar a 8 bilhões! (ALVES,2017). Será que teremos recursos naturais suficientes para conseguir viver de forma harmônica no planeta até lá? Entender o crescimento demográfico da população mundial e como se deu o desenvolvimento científico, econômico e social desta população ao longo da história é fundamental para compreender porque hoje tratamos da Gestão Ambiental. O nosso desenvolvimento enquanto planeta foi se tornando cada vez menos sustentável ao longo da história, pois os recursos foram sendo extraídos e utilizados cada vez mais sem que houvesse a preocupação destes recursos serem finitos. Essa preocupação real com os efeitos dos impactos da utilização deliberada dos recursos ambientais em geral se deu somente a partir da década de 1950, motivada pela queda na qualidade de vida em algumas regiões. Na década de 1960, já se abordava a questão da utilização de pesticidas na agricultura, surgindo assim uma preocupação até então inédita na sociedade global. A famosa Conferência de Estocolmo, ocorrida em 1972 e organizada pela Organização das Nações Unidas – ONU, foi um marco na discussão sobre o tema (RUPPENTHAL, 2014). Nos anos 1980, a ONU retomou com força os debates sobre os problemas que envolviam as questões ambientais e promoveu uma Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Vejam, se durante muito tempo essas duas palavras – Meio Ambiente e Desenvolvimento – eram distantes ideologicamente, especialmente pelos ideais preservacionistas extremos que acreditavam que preservar o primeiro só poderia ocorrer sem o segundo. Neste momento da história, já eram colocadas sobrepostas essas duas ideias para o planeta. Como produto final deste evento, surgiu um extenso relatório conhecido como Relatório Brundtland, ou Nosso Futuro Comum, no qual era apresentado o termo Desenvolvimento Sustentável. Desenvolvimento sustentável Segundo Veiga (2008), somente em 1979, em um Simpósio das Nações Unidas sobre Meio Ambiente que o termo “desenvolvimento sustentável” foi utilizado pela 94 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL primeira vez. Naquele momento, os ambientalistas eram apontados como contrários ao desenvolvimento. Entretanto, estes afirmaram não serem contrários a esse desenvolvimento, somente desejaram que ele fosse sustentável. A expressão, claro, tornou-se popular a partir desse momento, sendo posteriormente muito utilizado no Relatório Brundtland, mais conhecido como “Nosso Futuro Comum”. Esse relatório é um marco no debate sobre a relação entre meio ambiente e desenvolvimento, uma vez que anteriormente só se discutia o quão o segundo era prejudicial ao primeiro. O relatório propõe que o chamado desenvolvimento sustentável é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades” (CMMAD, 1991). Isso significa possibilitar as pessoas para que atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico agora e também no futuro, fazendo para tal um uso razoável dos recursos naturais. Segundo Ruppenthal (2014), os principais conceitos do desenvolvimento sustentável são: » As necessidades essenciais dos pobres de todo o mundo devem ser a principal prioridade. » O entendimento das limitações tanto tecnológicas quanto da própria organização social existentes para com o meio ambiente, para o atendimento das necessidades do presente e do futuro. Além disso, é importante lembrar que o desenvolvimento sustentável depende também do aperfeiçoamento evolutivo de sistemas político, econômico, social, produtivo etc., que contribuam para que este desenvolvimento seja realizado de forma efetiva. Ruppenthal (2014) descreve tais sistemas e suas funções no desenvolvimento sustentável: » Sistema político: a partir da efetiva participação dos cidadãos no processo decisório para que haja atuação responsável destes. » Sistema econômico: para geração de excedentes e conhecimentos técnicos para formar base do desenvolvimento com o mínimo de degradação possível. » Sistema social: fundamental para a resolução de tensões possíveis com o desequilíbrio do desenvolvimento e as populações. 95 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III » Sistema produtivo: que se atente à preservação das bases dos recursos naturais com aproveitamento eficiente, com redução de geração de resíduos no processo produtivo etc. » Sistema tecnológico: para buscar constantemente novas soluções para a ecoeficiência tanto para processos produtivos quanto para os produtos. » Sistema administrativo: que faça autoavaliação para a melhoria contínua. » Sistema internacional: que estimule padrões para o desenvolvimento sustentável, o comércio e os processos. Só a interligação entre tais sistemas eficientes com medidas que envolvam poderes públicos, iniciativa privada e a sociedade é que formam de fato o tripé capaz de efetivar um desenvolvimento sustentável (RUPPENTHAL, 2014). A partir dessas iniciativas mundiais, a ideia de que os recursos naturais passam a ter um limite de utilização. Compatibilizar os limites mínimos que garantiriam o bem-estar da população mundial com os limites máximos que fariam perdurar a existência destes recursos para as próximas gerações seria o novo desafio da humanidade. Enquanto na década de 1980 as legislações de controle ambiental das indústrias eram o foco principal das políticas ambientais mundiais, nos anos 1990, há uma mudança, e a prevenção passou a ser destaque, aumentando o foco para os esforços científicos na redução da poluição com tecnologias mais limpas, otimização dos processos produtivos, reaproveitamento e descarte correto de materiais (RUPPENTHAL, 2014). Ainda que esses esforços há décadas sejam realizados, não parecem ser suficientes. A degradação dos recursos naturais renováveis e não renováveis se intensifica a cada dia e entramos na era dos anos 2000 com a poluição – especialmente nas grandes metrópoles – intensa, o consumo de energia e água maiores e a geração de resíduos em um patamar problemático em todo o mundo. E nada ainda foi feito a ponto de alterar significativamente essa realidade. Além disso, essas questões reforçam e potencializam alguns fenômenos ligados às mudanças climáticas. Gases como o monóxido de carbono e o metano, produzidos com o uso de alguns recursos naturais – como o petróleo – comprovadamente fazem o papel de potencializadores do aumento da temperatura global e dos consequentes fenômenos climáticos extremos ligados a isso. 96 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL Vamos falar mais um pouco sobre as mudanças climáticas, pois só assim podemos entender da importância de gerir os recursos ambientais como um todo. Sabemos que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC emite relatórios constantes relativos às alterações no clima mundial. Segundo relatório de 2014, o aumento da temperatura global irá afetar áreas como o Ártico, eventos de frio extremo serão mais raros e eventos de ondas de calor serão mais intensos (IPCC, 2014). Os níveis médios dos oceanos, com o derretimento das geleiras, tendem a subir e o aumento de temperatura das águas tende a alterar seu ecossistema, além da maior concentração de CO2 dissolvido nas águas poderá levar a uma acidificação dos oceanos e mortandade de corais e recifes. As precipitações não terão uma distribuição uniforme, tendo algumas regiões nas altas latitudes com maiores precipitações; nas médias latitudes e regiões subtropicais secas, a tendência é de maior seca, enquanto as regiões subtropicais úmidas (inclui o Sul do Brasil) a tendência é aumentar as precipitações, já os eventos extremos de precipitação serão mais comuns nas zonas tropicais (o restante do Brasil), porém, a tendência para a região Amazônica é de secas intensas (IPCC, 2014). Quase todo o nosso país está sujeito ao aumento na frequência de ondas de calor e de noites quentes especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Um aquecimento nas águas do Oceano Atlântico Sul pode levar aocorrência de eventos extremos, como furacões e grandes chuvas (IPCC, 2014). Nos últimos anos, você notou alguma diferença no seu dia a dia em relação a isso? Está mais utilizando sacolas plásticas? Está produzindo mais lixo? O clima está diferente? Analisando nosso histórico enquanto humanidade e nossa relação com o meio ambiente do planeta, nos cabe agora refletir sobre o que é a Gestão Ambiental. Utilizar de maneira racional os recursos naturais já era prática em algumas sociedades ao longo da história, e essas práticas foram evoluindo e tomando dimensões maiores à medida em que a problemática da escassez e degradação destes recursos entrava na realidade de cada sociedade. Podemos entender, então, que a gestão ambiental é uma consequência natural da evolução de pensamento da humanidade em relação à utilização dos recursos naturais de modo que esta seja realizada da forma mais consciente possível. 97 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III Neste sentido, fazem parte da gestão ambiental os conhecimentos e as técnicas para que isso ocorra, como a recuperação de áreas degradadas, técnicas de reflorestamento, métodos para a exploração sustentável de recursos naturais e os estudos de impacto e risco ambientais. O termo ganhou forças sobretudo no setor empresarial, abarcando desde o atendimento às normas e regulações criadas pelo setor público, até o atendimento às exigências dos consumidores e da sociedade como um todo. Sua prática permite desde a redução de custos, a partir da diminuição do desperdício de água, energia, de matérias-primas, até tornar-se um fator de competitividade, agregação de valor e conquista de novos mercados. Veremos isso de forma mais detalhada adiante. Gestão dos recursos ambientais Não é à toa que o desenvolvimento sustentável virou o mote das discussões globais na década de 1970. Cada vez mais se exigiu atenção – e empenho – para discutir as questões ambientais e, depois disso, ir além das discussões para aplicar na prática ações que remediassem os impactos ambientais, amenizassem os riscos e monitorassem tais ações realizadas. O uso abusivo dos recursos naturais não renováveis, como nossas reservas fósseis como o petróleo (podemos inclusive citar a crise do Petróleo na década de 1970, que teve viés econômico, porém, já indicava uma problemática ambiental), indicaram que estes recursos não seriam infinitos e baratos para sempre. Além da crise do petróleo, foi um período que as questões ambientais se tornaram ponto fundamental para repensar outras estratégias de uso dos recursos naturais, especialmente recursos hídricos e energéticos. Eficiência energética Devido à dificuldade da substituição dos combustíveis fósseis para a geração de energia, é preciso refletir sobre a melhoria da eficiência energética dos processos bem como mudar os hábitos tanto em nível de produção, consumo e distribuição desta. Assim, a Eficiência Energética pode ser entendida como um conjunto de práticas e políticas que visam a utilização menor de energia para realizar um trabalho antes já realizado ou também na substituição energética de uma fonte por outra considerada menos nobre, no qual gerará uma eficiência energética no sentido de prioridade de uso 98 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL de fontes mais econômicas ou menos competitivas. Ou seja, busca a diminuição dos custos da energia ou melhoria/aumento da demanda desta, sem alteração na quantia gerada ou na sua utilização. O tema teve foco a partir do Protocolo de Kyoto, juntamente com temáticas como as políticas de mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) e o desenvolvimento de Medidas de Eficiência Energética (MME), com o uso de equipamentos e hábitos que utilizam menos energia nos processos. Mas os MME’s precisam vencer barreiras no mercado, especialmente relacionadas à falta de informação, dificuldade de financiamentos, falta de treinamento e conscientização da importância do uso deste tipo de mecanismo/equipamento, o custo mais alto destes, entre outras dificuldades. Para se medir a eficiência energética, são utilizados indicadores, que podem ser diversificados diante da realidade encontrada nas organizações, nos diferentes países, entre outros. O setor industrial é o principal consumidor de energia do país, e este consumo é determinado pela atividade, a sua estrutura, o nível e volume de produção e pela sua eficiência energética. Neste setor, é possível adotar medidas para a redução de consumo de energia como: uso de motores eficientes, substituição de motores superdimensionados, substituição de linhas sobrecarregadas, redução dos picos de carga, fornecimento de sistemas adequados de proteção, fornos e caldeiras elétricas, melhoria na iluminação, cogeração, entre outras. Para auxiliar neste processo de melhoria da Eficiência Energética, foi desenvolvida internacionalmente a ISO 50001 fornece uma base para as organizações implementarem um sistema eficaz de gestão de energia para atingir um melhor desempenho energético e comprar produtos e serviços que também sejam energeticamente eficientes. Isso possibilita às organizações realizar uma abordagem sistemática a fim de atingir a melhoria contínua do desempenho e eficiência energéticos, além de conservação da energia. A ISO auxilia também em questões burocráticas como documentações e relatórios, além da prática de projetos e aquisição de energia para desde equipamentos até o uso pessoal. Por isso, sua implementação acaba levando à redução de gastos com energia, mas também à diminuição de emissões de gases de efeito estufa, o que dá o caráter também ambiental à prática de economia de energia. 99 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III Ela pode ser aplicada em todos os tipos de organizações, independentemente do porte e do tipo de energia utilizada, embora as menores organizações tenham maior dificuldade de implementação, devido a necessidade de investimentos e corpo técnico para auxiliar nisso. A facilidade é que a norma conversa com elementos comuns às demais normas como a ABNT NBR ISO 9001 (gestão da qualidade) e a ABNT NBR ISO 14001 (gestão ambiental), dando a ela compatibilidade para se integrar à tais normas. A figura a seguir mostra a Estrutura Geral da ISO 50001 e a gestão energética. Figura 17. Estrutura geral ISO 50001. Política Energética Planejamento Energético Implementação e operação Verificação Análise crítica pela direção Auditoria Interna de SGE Não conformidade, ações corretivas e preventivas Avaliação de requisitos legais/ outros Monitoração, medição e análises Melhoria Contínua Fonte: Adaptado de NBR ISO 50001:2011. Agora, quando falamos da melhoria da eficiência no meio doméstico, temos questões mais simples e de fácil entendimento, por estar relacionado aos nossos hábitos diários que devem ser sim repensados. É importante participarmos dessa melhoria na gestão dos recursos energéticos, desde a educação ambiental nas escolas iniciais até nas nossas casas. Iniciativas na eficiência energética podem ser aplicadas a nível doméstico em todas as situações em que se utiliza alguma forma de energia. O setor residencial tem elevado consumo de energia para finalidade térmica como nos chuveiros elétricos, ferro de passar roupas, máquinas de lavagem ou secagem, aquecedores de ambiente, secadores de cabelo, dentre outros. Utilizando-os de forma consciente, ou mesmo evitando-os, estamos participando efetivamente desse processo de conscientização, mudança de cultura de utilização de 100 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL recursos e melhorando o mundo que deixaremos para as nossas próximas gerações. Pense nisso! Gestão de recursos hídricos Quando falamos dos recursos hídricos, pensamos na abundância que, culturalmente, está implícito na realidade de muitas pessoas. No entanto, quando temos uma visão mais global, podemos entender que há, na realidade, uma desigual distribuição – natural ou não – dos recursos hídricos. E isso acontece na escala locale na escala global. O Brasil possui uma situação confortável, em termos globais, quanto aos seus recursos hídricos. A disponibilidade hídrica per capita, determinada a partir de valores totalizados para o País, indica uma situação satisfatória quando comparada aos valores de muitos países. Entretanto, apesar dessa aparente abundância, os recursos hídricos têm uma distribuição espacial desigual no território brasileiro. Na região Norte, onde está a bacia Amazônica, vivem menos de 7% da população total do país, e a disponibilidade dos recursos hídricos chega a 68,5%, enquanto que na região Sudeste, por exemplo, que concentra mais de 42,5% da população, estão disponíveis apenas 6% dos recursos hídricos. Ou seja, a água no país é irregularmente distribuída, em geral numa circunstância inversamente proporcional à concentração demográfica e, assim, à sua demanda. Por isso, é necessário – para que o seu uso seja ideal – o aproveitamento correto dos recursos hídricos, o que requer concepção, planejamento, projeto, construção e operação de meios para o domínio e a utilização dessas águas. As condições de acesso e uso dos recursos hídricos ocorrem mediante uma boa gestão. Essa gestão implica sobretudo em leis que podem, de certa forma, orientar e dar diretrizes para o uso destes recursos. Assim surgiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei no 9.433/1997) que estabelece um conjunto de cinco instrumentos principais de gestão: » Os planos de recursos hídricos, formulados em três níveis – para o país (Plano Nacional), para as Unidades da Federação (Planos Estaduais) e para as bacias hidrográficas. » Enquadramento dos corpos d’água em classes segundo os seus usos preponderantes, indicando objetivos de qualidade a serem alcançados quando da implantação dos planos de bacia. 101 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III » Outorga pelo direito de uso da água, como instrumento de regulação pública de uso, tornada compatível com os objetivos socialmente estabelecidos nos planos e respectivos enquadramentos. » A cobrança pelo direito de uso de recursos hídricos, o que denota o valor econômico que o recurso tem e que sua disponibilidade corresponde a um preço social. » Um sistema de informações sobre recursos hídricos, no qual estão reunidos e disponíveis alguns dados de oferta (disponibilidades), de demandas (cadastros de usuários) e sistemas de apoio à decisão. Quando falamos de gestão de águas urbanas, o recurso abrange algo ainda mais complexo. O crescimento das cidades e o desenvolvimento urbano exige uma implementação de infraestrutura de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, drenagem urbana, coleta e disposição dos resíduos e limpeza pública. Todos esses elementos estão relacionados à gestão dos recursos hídricos com base em uma gestão integrada. O aumento da poluição das águas, somado ao aumento da demanda de água nas áreas urbanas, implica em um desequilíbrio que, se não pensado de forma antecipada, poderá trazer um colapso de abastecimento desse recurso essencial à vida. Uma solução encontrada no meio urbano para evitar isso é o reuso de água, ou seja, esta, após ser descartada, poderá ser reutilizada para um outro uso mediante o tratamento adequado. Diversas tecnologias de tratamento permitem sua reutilização em todo o mundo para minorar o panorama de escassez. O reuso da água pode ser dividido entre: » Reuso potável: o efluente, após tratamento, pode ser diretamente reutilizado no sistema de água potável ou pode ser disposto na coleção de águas superficiais ou subterrâneas para diluição, purificação natural e subsequente captação, tratamento e finalmente utilizado como água potável. » Reuso não potável: pode ser destinado para fins agrícolas, industriais, recreacionais, domésticos, manutenção, aquicultura e recarga de aquíferos. No meio urbano, a gestão das águas deve ser incorporada às políticas públicas essenciais e prioritárias, como o Plano Diretor, fazendo com que os componentes de manancial, esgotamento sanitário, resíduos sólidos, drenagem urbana e inundações sejam vistos dentro de um mesmo conjunto de medidas estratégicas. 102 CAPÍTULO 2 Gestão ambiental e as organizações Quando pensamos na lógica relativa às empresas, independentemente do seu porte, nas indústrias e corporações, temos em comum um propósito óbvio: visar lucro. Sim, todas as empresas e indústrias buscam, em seus fins, o lucro de seu processo. E isso é normal, não há nada de errado nisso, pois só assim é que esta se manterá em um mercado tão competitivo. A grande questão que permeia este universo e que muitos ainda não acreditam é que não há incompatibilidade entre um empreendimento rentável e uma gestão ambiental adequada. Pelo contrário, essa iniciativa pode auxiliar no controle dos custos, com a redução efetiva de uso de alguns recursos que demandam investimentos, como: » Menor consumo de energia a partir da redução de desperdício. » Menor consumo de água a partir do uso racional e do reuso desta. » Diminuição do uso de matéria-prima, pela racionalização do uso. » Diminuição da geração de resíduos, seja pela adequação do uso dos insumos, seja pela conscientização dos funcionários da empresa. » Reutilização e reciclagem em várias partes do processo produtivo (algumas empresas inclusive conseguem vender seus resíduos para outras empresas que o utilizam de uma outra maneira). » Com todas essas ações, os empreendimentos acabam gastando menos com controles de poluição, por exemplo. Claro que o setor industrial – incluindo principalmente o setor agroindustrial nisso – é o setor cujos impactos ambientais são mais intensos e visíveis, uma vez que lidam diretamente com os recursos naturais e consomem altos volumes de água e de energia elétrica, emitindo fumaça e gerando efluentes e resíduos finais no seu processo. Entretanto, é interessante lembrar que qualquer atividade tem aspectos ambientais geradores de impacto. Cabe lembrar a importância do setor de comércio e de serviços, uma vez que são, além de consumidores, vendedores destes produtos produzidos pela indústria. Isso dá ao setor a importância de agir em termos de gestão ambiental, com iniciativas de logística reversa 103 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III de embalagens, reutilização, reciclagem e priorização de marcas ambientalmente mais responsáveis, por exemplo. Na última ponta do processo está o consumidor. E, sobre estes, as empresas precisam se lembrar de que, a partir da gestão ambiental correta, é possível não só elevar sua competitividade (pois podem diminuir seu preço final devido à economia no processo produtivo), mas podem conquistar novos consumidores e agregar valor à essa demonstração de responsabilidade ambiental para um consumidor cada vez mais consciente, que estão dispostos a até pagar mais caro por um produto feito com responsabilidade socioambiental. O que é importante ficar claro é que a Gestão ambiental em uma organização só é eficaz quando é sistêmico e, de certa forma, espontâneo e voluntário, ou seja, deve estar em todo o seu processo, desde a aquisição de material, passando pela estrutura da organização, produção e produto final junto com seu mercado consumidor. Deve também estar intrínseco aos seus colaboradores, para que compreendam que as iniciativas de gestão ambiental visam, sobretudo, não apenas benefícios ambientais, mas rendem frutos financeiros (com economia de matéria-prima, melhoria produtiva e no marketing, por exemplo), isso sem contarmos questões ligadas ao risco ambiental de não gerenciar adequadamente os aspectos ambientais da empresa (ou seja, acidentes, descumprimento das leis ambientais, perda de mercados, entre outros riscos). Para que essa gestão ocorra de forma satisfatória, é preciso uma política ambiental específica da organização, que inclua instrumentos como auditorias ambientais, mas também instrumentos adicionais como análise do ciclo de vida, certificações, rotulagem ambiental,avaliação de desempenho etc. Essas iniciativas, que partiram inicialmente das próprias organizações, vêm de encontro a uma legislação ambiental cada vez mais exigente em todo o mundo, que buscam medidas para estimular a proteção do meio ambiente por meio da gestão ambiental. Instrumentos de Gestão Ambiental Conforme citado anteriormente, os instrumentos de gestão ambiental são muito importantes para, dentro de uma organização, trazer os conceitos da gestão ambiental para a prática. Citaremos agora um pouco do que são esses instrumentos e do esquema de gestão ambiental dentro de uma organização. 104 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL A figura a seguir mostra a Gestão Ambiental e seus instrumentos de apoio. São ferramentas fundamentais e essenciais para que esta gestão aconteça corretamente dentro de uma organização. Figura 18. Instrumentos de Gestão Ambiental. GESTÃO AMBIENTAL SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL AUDITORIA AMBIENTAL ANÁLISE DO CICLO DE VIDA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS Fonte: Adaptado de Barbieri (2006). O Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é considerado o principal instrumento de gestão ambiental de uma organização; é onde podem estar concentrados os principais instrumentos, pois o sistema, como o nome diz, carrega consigo toda uma bagagem de ações e demais instrumentos que se complementam dentro da lógica desse sistema. A Avaliação de Impacto Ambiental é um procedimento que está contemplado na legislação brasileira para alguns tipos de organizações, que analisa os impactos de todo o processo da organização em relação ao ambiente e à sociedade. Já falamos anteriormente dessa Avaliação. A Auditoria é um processo que avalia a relação entre a atividade efetiva com as exigências legais e com os objetivos do SGA. É um instrumento comum em sistemas financeiros, por exemplo, que foi adaptado ao setor ambiental e, atualmente, é um instrumento muito comum e utilizado especialmente para empresas que buscam a certificação ambiental de fato. Devem envolver questionários, medições, análise de documentação e vistorias técnicas in loco das organizações para analisar todo o processo, desde a matéria-prima fornecida até o produto final. Nessa auditoria, podem ter produtos como relatórios com a descrição das não conformidades, as recomendações para ações de correção e avaliação das melhorias posteriores. 105 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III A Avaliação do Desempenho Ambiental (ADA) permite medir e melhorar os resultados da gestão ambiental, ainda que o SGI não esteja totalmente implementado. Ela utiliza indicadores – que devem considerar os aspectos relevantes ligados às atividades da organização – e suas interrelações que fornecem informações para comparar o desempenho ambiental. Deve-se avaliar de forma contínua o passado e o presente, o que traz benefícios inclusive de análise de produtividade, além do desempenho. A Norma 14031:2015 regulamenta a ADA, a partir do modelo PDCA – Planejar (Plan); Fazer (Do); Checar (Check); Agir (Act). O quadro a seguir especifica cada um destes. itens: Quadro 5. Exemplo de PDCA. P (Plan) - Planejar Identificação: Aumentar em 20% as vendas mensais em até 4 meses. Análise: Existem regiões que não foram exploradas pelos vendedores. Plano de ação: » Dividir regiões não exploradas. » Treinar a abordagem destes vendedores. » Fornecer material de divulgação. D (Do) – Fazer Execução: Colocar o plano de ação em prática (mediante treinamento e implantação das atividades propostas). C (Check) – Avaliar Verificação Ações eficazes e aumento de 20% a partir do segundo mês de ação, estabilizando o faturamento nos próximos meses. A (Action) – Corrigir Conclusão Não há necessidade de correções. Fonte: Ribeiro Junior (2018). A Análise do Ciclo de Vida (ACV) é uma avaliação dos aspectos ambientais e dos impactos potencialmente existentes de um produto, desde a retirada do recurso da natureza até a finalização do produto final da organização. É considerada uma das principais ferramentas da gestão ambiental e, em muitos países, é ligada às políticas públicas referentes à temática ambiental e indústrias, por exemplo. As normas 14040:2009 e 14044:2009 são orientadoras da aplicação desse instrumento e requer uma equipe multidisciplinar para a condução desse ACV. 106 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL A metodologia de ACV é regulamentada pelas normas ISO 14040 e 14044, enquanto a avaliação dos impactos sociais e dos custos do ciclo de vida (Life Cycle Costing) estão fundamentadas nos conceitos e princípios do Guia do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e da Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental (SETAC), respectivamente (EnCiclo, 2014). O vídeo do link a seguir ilustra bem como se dá a Avaliação do Ciclo de Vida de um produto: o iogurte, desde a produção das embalagens até o produto finalizado para o consumidor. Acesse: <https://www.youtube.com/ watch?v=SkHE2clxv0U>. A Educação Ambiental é um instrumento importante para que os colaboradores de todo o processo produtivo estejam integrados na mudança de cultura da gestão ambiental. É uma mudança de valores, comportamentos e ações que geram a responsabilidade em todos para serem, cada um, determinantes instrumentos da gestão ambiental de fato em suas vidas. Não se trata apenas da organização, mas a educação ambiental deve, enquanto política pública, trazer essa consciência de mudança ambiental a toda a sociedade. Outro instrumento de grande importância que vai além das determinantes para a Gestão ambiental é a Rotulagem Ambiental, que é um instrumento que faz com que a organização fale diretamente com o seu consumidor, trazendo informações ambientais importantes do processo, das embalagens e dos produtos que remetem às suas ações ambientalmente corretas. Essa relação estreita com o consumidor faz com que a rotulagem seja um importante agregador de valor ao produto em si, e pode trazer, com certificações e selos verdes, ainda mais valor a este. As normas ABNT NBR ISO 14020:2002 e ABNT NBR ISO 14024:2004 tratam da rotulagem ambiental. Muitas empresas que se aproveitaram desta tendência da rotulagem ambiental enquanto agregador de valor para com o consumidor, utilizam-se do marketing verde para se beneficiar, com o chamado Greenwashing, termo que significa “lavagem verde”, uma espécie de maquiagem utilizada por muitas empresas para transmitir aos consumidores uma postura socioambientalmente correta quando, na verdade, não há ações efetivas que realmente estejam relacionadas a uma postura socioambientalmente correta. O Greenwashing ocorre por meio de rotulagem do produto, embalagens, campanhas publicitárias visuais ou escritas e até mesmo em manuais técnicos que vendem uma falsa ideia do produto (SILVA; LOPES, 2014). https://www.youtube.com/watch?v=SkHE2clxv0U https://www.youtube.com/watch?v=SkHE2clxv0U 107 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III Alguns desses instrumentos fazem parte de políticas públicas, como a Avaliação de Impacto Ambiental; outros fazem parte – ou devem fazer – das políticas de gestão ambiental das organizações, independentemente do porte ou do tipo de atuação que ela possui. Alguns se referem especificamente a produtos – como a rotulagem e avaliação do ciclo de vida – e outros a todo o processo, como a auditoria e o chamado SGI (Sistema de Gestão Ambiental). Vamos especificar esses dois instrumentos de forma detalhada mais adiante. Embora apresentamos os principais, os instrumentos podem ser muito variados e ampliados, sendo interligados com instrumentos outros que já podem ser utilizados pelas organizações, como análises de valor, de falhas, manutenções, listas de verificação, ciclo PDCA, entre outros. 108 CAPÍTULO 3 Sistema de Gestão Ambiental – ISO 14000 Atualmente, as empresas e indústrias em geral estão buscando duas formas de expandir suas atividades: buscar melhor eficiênciaa partir de economias com gastos nos recursos naturais (água, luz, matéria-prima) e se diferenciar de alguma forma no mercado, seja pela diversidade e maior concorrência, seja por questões ideológicas e nichos de mercado específicos que podem ser explorados no mercado consumidor. Com isso, o chamado Sistema de Gestão Ambiental tem sido cada vez mais buscado por estas organizações. Um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) (Environmental Management System – EMS) pode ser definido então como um “conjunto de procedimentos que irão ajudar a organização a planejar, organizar, controlar e diminuir os impactos ambientais de suas atividades, produtos e/ou serviços” (NASCIMENTO, 2012). E essa diminuição de impactos ambientais implica em frutos e ações que vão muito além do meio ambiente. Podem, de fato, melhorar a eficiência produtiva e a imagem do produto final para com o consumidor. Quando pensamos na destinação final do lixo, ou no melhor uso de água para economizá-la, por exemplo, estamos organizando, de certa forma, um Sistema de Gestão Ambiental. Isso independe do tamanho da atuação, da organização etc. Isso quer dizer que, embora há uma ideia de que o SGA seja pensado para grandes empreendimentos, ele é possível de ser realizado individualmente, pelo pequeno produtor, até esses tais grandes empreendimentos. Isso porque o SGA é feito com base no planejamento. Planejar um SGA é organizar o processo independentemente do tamanho que o empreendimento tenha. A figura a seguir mostra um esquema de Gestão Ambiental que engloba tudo que basicamente pode ser realizado visando a melhoria ambiental. 109 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III Figura 19. Modelo de SGA. Sistema de Resíduos Sólidos Sistema de Gestão Ambiental Estudo de Aspectos e Impactos Ambientai Matriz Energética Sustentável Gestão de Recursos Hídricos Emissão Atmosférica e Crédito de Carbono GESTÃO AMBIENTAL Fonte: Adaptado de Dal Forno (2017). Um SGA pode ser implementado por empresas e indústrias privadas, empresas e organizações públicas, Organizações Não Governamentais (ONG’s), prefeituras etc. Basicamente, é um conjunto de medidas que visam sobretudo o cumprimento da legislação ambiental vigente e a melhoria contínua de todo o desempenho ambiental desta organização. Mas, para que isso ocorra, é preciso antes de mais nada que haja uma busca em cada parte da organização para que se faça um diagnóstico. Assim é possível o planejamento de ações, identificação de suas vulnerabilidades e potencialidades, ações efetivas para melhorar isso tudo e, posteriormente, o monitoramento destas ações. Um SGA, quando é eficaz, permite um melhor gerenciamento dos aspectos e impactos ambientais que podem ocorrer em todo o processo das organizações – desde a aquisição de matérias-primas até a venda ao produto final – e possibilita, após essa leitura clara, elucidas as melhores formas de mudar ações e a cultura para melhorias, incluindo melhorias financeiras, pois as ações ambientais interagem com a melhoria contínua dos processos e serviços prestados. O que é fundamental para se implementar um SGA é o comprometimento de todos os envolvidos na organização, não restringindo essas responsabilidades ambientais para setores ou pessoas exclusivas dentro da organização. 110 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL Histórico da família ISO 14000 Conforme já falamos anteriormente, foi a partir da década de 1970 que a consciência ambiental passou a ser incorporada no ideológico social, devido ao aumento das mudanças e dos impactos que as ações humanas causavam no planeta, impactos visíveis e que passaram a ser discutidos em alta escala por sociedade e entidades públicas, governos e também as organizações. Ações e produções passaram a ser questionadas e o setor secundário industrial, inicialmente, precisou se enquadrar e participar deste processo de mudança ideológica que, aos poucos, era implementado. Assim, ainda nessa década de 1970, há uma introdução progressiva de novos cargos ou funções dentro das organizações para fazer valer os serviços para o meio ambiente. As atividades focavam essencialmente na regularização ambiental, conforme as crescentes leis e regulamentações entrando em vigor sobre o assunto em todo o mundo. Nos anos 1980, a responsabilidade ambiental dentro das organizações já evoluiu para uma busca de ações preventivas de impactos ambientais, além de elaboração de políticas ambientais internas mais proativas, ou seja, buscando ações que iriam além das obrigatoriedades das leis (NASCIMENTO, 2012). Isso ocorreu tanto no setor privado quanto no setor público. Quando falamos da evolução do pensamento ambiental, até o início da década de 1990, a gestão ambiental era em grande parte tratada de forma pontual, grande parte como resultado de medidas e leis públicas. Nos mesmos anos 1990, no entanto, entraram em vigor diversas normas e regulamentos ligados à implementação dos sistemas de gestão ambiental, como as normas britânicas BS 7750 – Specification for Environment Management System e o também europeu EMAS – Eco-Management and Audit Scheme. Estas normas fizeram com que a ISO (International Organization for Standardization) que já tinha sucesso com a norma ISO 9000, estudasse a necessidade de criar uma norma internacional sobre a questão ambiental. Criou-se assim uma comissão estratégica para definir a norma, com representantes tanto da indústria quanto dos governos e as organizações ambientais de diversos países. A série de Normas ISO 14000 foi lançada internacionalmente em 1996, com o objetivo de criar o Sistema de Gestão Ambiental – SGA que auxilia as mais diversas organizações no cumprimento de compromissos com o meio ambiente, possibilitando a estas organizações o reconhecimento e a distinção entre quem apenas atende às leis ambientais e quem possui certificação. Isso pode transformar a organização e sua credibilidade em relação à toda a sociedade (RUPPENTHAL, 2014). A melhoria contínua é a chave do SGA, que deve estar alinhado com as políticas da organização. A figura a seguir mostra o ciclo ideal para a melhoria contínua. 111 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III Figura 20. Ciclo de melhoria contínua. Melhoria Continua Politica Ambiental PlanejamentoImplementação e operação Análise Crítica Fonte: Adaptado de Ruppenthal (2014). Tais normas da série ISO 14000 não se aplicam a um tipo específico de setor ou empresa, mas dá importantes orientações sobre os aspectos da gestão ambiental. A norma ISO 14001, que orienta sobre o SGA, foi adotada como norma na União Europeia em substituição às normas semelhantes anteriores como a BS 7750, já citada anteriormente como precursora da ISO 14000. A família ISO 14000 lida com métodos gerenciais, requerendo que as políticas públicas incluam elementos que cumpram as leis e as regulamentações vigentes, e que evitem a poluição. Mas não descrevem como isso tudo será implementado ou nível de desempenho exigido, focalizando nos processos para alcançar os resultados, não os próprios resultados em si. No Brasil, foi a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT que publica as normas da família ISO, dando legitimidade à norma e trazendo-a oficialmente à linha de normatizações oficiais. O que é a ABNT? A Associação Brasileira de Normas Técnicas é uma entidade sem fins lucrativos e de utilidade pública fundada em 1940. É o foro nacional de normalização do país e membro fundador da International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização – Isso), da Comisión Panamericana de Normas Técnicas (Comissão Pan-Americana de Normas Técnicas – Copant) e da Asociación Mercosur de Normalización (Associação Mercosul de Normalização – 112 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL AMN). Desde a sua fundação, é também membro da International Electrotechnical Commission (Comissão Eletrotécnica Internacional – IEC). A ABNT é responsável pela elaboração das Normas Brasileiras(ABNT NBR), elaboradas por seus Comitês Brasileiros (ABNT/CB), Organismos de Normalização Setorial (ABNT/ONS) e Comissões de Estudo Especiais (ABNT/CEE) Além disso, atua na avaliação da conformidade e dispõe de programas para certificação de produtos, sistemas e rotulagem ambiental. Esta atividade está fundamentada em guias e princípios técnicos internacionalmente aceitos e alicerçada em uma estrutura técnica e de auditores multidisciplinares, garantindo credibilidade, ética e reconhecimento dos serviços prestados. Veja mais em: <http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt>. Como é composta a série ISO 14000? A série ISO 14000 é composta por diversas normas que, de certa forma, conversam entre sim e se complementam. As normas serão descritas a seguir (DAL FORNO, 2017): » ISO 14001: trata dos principais requisitos que auxiliam as empresas a identificarem, controlarem e monitorarem os riscos ambientais por meio do Sistema de Gestão Ambiental. » ISO 14004: complementa a ISO 14001 com diretrizes adicionais para a implantação do Sistema de Gestão Ambiental. » ISO 14031: guia para Avaliação de Desempenho Ambiental. » ISO 14020: conjunto de normas que tratam dos selos ambientais. » ISO 14040: conjunto de normas para a condução das análises de ciclo de vida de produtos e serviços. » ISO 14064: contabilização e verificação de emissões de gases de efeito estufa para suportar projetos de redução de emissões. » ISO 14065: complementar a ISO 14064, especificando os requisitos para certificar ou reconhecer instituições que farão validação ou verificação desta norma ou outras especificações importantes. » ISO 14063: comunicação ambiental por parte das empresas. http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt 113 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III » ISO 14045: descreve os princípios, os requisitos e as orientações para a avaliação da ecoeficiência de sistemas de produto. » ISO 14051: Gestão ambiental – contabilidade dos custos de fluxos de material, para gerenciamento que busca maximizar a utilização de recursos, principalmente em manufatura e processos de distribuição. » ISO 14067: estabelece princípios, requisitos e orientações para a quantificação e comunicação da pegada de carbono de um produto (CFP), com base em Normas sobre avaliação de ciclo de vida (ISO 14040 e ISO 14044) para quantificação e sobre rótulos ambientais e declarações (ISO 14020, ISO 14024 e ISO 14025) para comunicação. » ISO 14069: guia para calcular os gases de efeito estufa – quantificação e elaboração de relatórios de emissões de gases de efeito estufa para as organizações. » ISO 14005: diretrizes para a implementação em fases de um Sistema de Gestão Ambiental, incluindo o uso de avaliação de desempenho ambiental, guia que facilita a adoção do SGA por pequenas e médias empresas. » ISO 14006: fornece diretrizes para ajudar as organizações a estabelecer, documentar, implementar, manter e melhorar continuamente sua gestão do ecodesign como parte de um sistema de gestão ambiental (SGA). » ISO 14033: diretrizes e exemplos para compilar e comunicar informações ambientais quantitativas. » ISO 14066: requisitos para empresas que farão a validação e a verificação de emissões de gases de efeito estufa. Essas normas são autônomas e podem ser implementadas isoladamente, no entanto, a norma ISO 14001 é a principal e norteadora das demais citadas e é a única que certifica ambientalmente uma organização. A norma ISO 14004 não é um guia para implementação da norma 14001, pois é mais genérica do que esta última, ou seja, tem requisitos mais abrangentes do que esta. É importante lembrar que os requisitos da Norma ISO 14001, para serem praticados, devem seguir a metodologia do ciclo PDCA (Plan- Do-Check-Act), que aliás podem ser aplicados em qualquer uma das demais normas da família. O ciclo PDCA que, inicialmente foi criado para a Gestão de Qualidade, pode ser totalmente adaptado 114 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL à gestão ambiental, tornando-se uma espécie de modelo padrão de gestão para implementar qualquer melhoria de modo sistemático e contínuo. A figura a seguir é uma grande síntese das normas da Família ISO 14000, as relações entre as normas e suas relações com o ciclo PDCA para a implementação da gestão Ambiental. Figura 21. Normas da família ISO14000 e suas correlações. PLAN DO CHECK ACTION Série ISO 14040 Análise do Ciclo de Vida ISO 14062 Design Descrição do desempenho ambiental dos Produtos. Priorização dos aspectos ambientais Integração dos aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento Melhoria do desempenho ambiental dos produtos. Série 14020 Selos e declarações ambientais Série 14063 Comunicações Ambientais Comunicação do desempenho ambiental Informações sobre aspectos ambientais dos Produtos. Comunicação do desempenho ambiental. Série 14030 Avaliação do desempenho ambiental Série 19011 Auditorias do sistema de gerenciamento ambiental Monitoração do desempenho ambiental Descrição do desempenho ambiental. Informações sobre o Desempenho do SGA PLAN DO CHECK ACTION IS O 1 40 01 e IS O 1 40 04 SG A Série ISO 14040 Análise do Ciclo de Vida ISO 14062 Design Priorização dos aspectos ambientais Integração dos aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento Série 14020 Selos e declarações ambientais Série 14063 Comunicações Ambientais Comunicação do desempenho ambiental Série 14030 Avaliação do desempenho ambiental Série 19011 Auditorias do sistema de gerenciamento ambiental Monitoramento do desempenho ambiental Fonte: Adaptado de Barbieri; Cajazeira (2005). O PDCA e as normas da família ISO 14001 O ciclo PDCA – Planejar, Agir, Verificar, Executar – parece ser uma metodologia bem empresarial e administrativa. Popularizada com a ISO 9001 que trata da Gestão de Qualidade, essa metodologia é importante para se compreender como se cria um sistema e se avalia os processos a fim de permitir verificar onde estão os pontos problemáticos, onde é importante intervir, agir, melhorar para que este sistema funcione da forma idealizada. Por isso, a metodologia é justamente um ciclo constante de análise, em continuidade. De certa forma, as normas da família ISO 14001 são feitas pensando em permitir que este SGA flua da maneira ideal. Fase de Planejamento (P) A nova versão da ISO 14001: 2015 trata dos aspectos ambientais de forma mais detalhada do que a versão anterior. Um exemplo é a Análise de Ciclo de Vida (ACV), 115 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III um instrumento da gestão ambiental aplicável a bens e serviços em todos os seus estágios, desde a origem dos recursos no meio ambiente, passando pelo seu beneficiamento, transporte, estocagem, até a disposição final dos resíduos, energia utilizada etc. A ACV está detalhada na norma ISO 14040. A Norma ISO/TR (Technical Reports) 14062 é utilizada para integrar a avaliação dos aspectos e impactos ambientais com o projeto e desenvolvimento de produtos (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2004). O quadro a seguir mostra todas as normas referentes à Análise de Ciclo de Vida que corroboram com o SGA. Quadro 6. Normas relacionadas à Análise de Ciclo de Vida (ACV). ISO 14040 ISO 14041 ISO 14042 ISOTR 14043 ISO TR 14048 ISO TR 14049 proporciona os elementos gerais e metodologias requeridas para uma ACV de produtos e serviços. Proporciona guia para determinar as metas e o escopo de um estudo de ACV e para o inventário de LCA. Proporciona um guia para a fase de avaliação de impacto de um estudo de ACV. Proporciona guia para interpretar os resultados de um estudo de ACV. Proporciona informação sobre o formato dos dados para suporte de uma ACV. Ilustra com exemplos como aplicar os guias ISO 14041 e ISO 14042. Fonte: Barbieri; Cajazeira (2004). Fase de Execução (D) Podemos citar as normas ligadas à comunicação, por exemplo, comoas que são relativas aos selos verdes e declarações ambientais. A norma ISO 14063 também pode estar relacionada, uma vez que pode apoiar a comunicação dos aspectos e impactos de uma organização. A norma ISO TR 14062, citada anteriormente, também pode ser utilizada nesta fase, para efeito do Controle Operacional da ISO 14001. O quadro a seguir indica as normas que podem se enquadrar na aplicação de ações referentes a esta etapa do ciclo PDCA de uma organização. Quadro 7. Normas que estão relacionadas com a aplicação de Selos verdes e Declarações Ambientais. ISO 14020 ISO 14021 ISO 14024 ISO TR 14025 Estabelece princípios gerais que servem como base para o desenvolvimento de guias e normas ISO para declarações ambientais. Selos do tipo II: Proporciona guia em terminologia, símbolos, testes e metodologias de verificação para organizações que queiram efetuar autodeclarações dos seus aspectos ambientais relativos aos seus produtos e serviços. Selos do tipo I: Estabelece princípios orientadores e procedimentos para selos ambientais concedidos por terceira parte (programas de certificação ambiental de produtos). Selo tipo III: Identifica e descreve elementos e itens a serem considerados quando for necessário executar uma declaração quantificada de produtos com base em dados decorrentes de uma ACV. Fonte: Barbieri; Cajazeira (2004). 116 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL Fase de verificação (C) Essa é uma importante etapa, onde ocorre a avaliação do desempenho ambiental e o acompanhamento dos indicadores ambientais relacionados aos compromissos firmados na política ambiental da organização para a melhoria continua. O desempenho ambiental é um processo permanente de se coletar e analisar os dados para verificar a situação atual das questões ambientais da organização. A norma ISO 14031 possui diretrizes para a seleção e utilização de indicadores que permitem avaliar esse desempenho; a Norma ISO 14032 é uma apresentação de exemplos sobre a aplicação destes indicadores. Os seguintes requisitos da nova ISO 14001 são plenamente correlacionados com as normas ISO 14031 e ISO TR 14032: a) monitoramento e medição (4.4.5); b) avaliação de conformidade legal (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2004). Fase de Ação (A) A série de normas da família ISO 14000 não possui guias ou relatórios técnicos correlacionados diretamente com essa fase, especialmente no que tange a aplicação de ações corretivas e a parte de prevenção da ISO 14001. ISO 14001 É importante dizer que essa norma é de especificações para a certificação do Sistema de Gestão Ambiental – SGA de uma organização e, por isso, ela tem um enfoque voltado a essa documentação para se obter certificação. Já a norma 14004, que trata das diretrizes gerais em princípios, sistemas e técnicas de suporte, pode ser usada para as organizações que queiram se orientar ou obter diretrizes mais abrangentes e genéricas do SGA. Novamente também é importante lembrar que a norma não dá requisitos ao desempenho ambiental e a garantia de resultados ambientais, mas sim ao estabelecimento do cumprimento das leis e regulamentações relativas ao tema, além do compromisso com a melhoria contínua. Cabe às organizações desenvolver seu desempenho ambiental e ter refletidos estes desempenhos em seus resultados. Outra questão importante é lembrar que a ISO 14001 não aborda temáticas ligadas à saúde e segurança do trabalho nem a gestão de qualidade dos processos e produtos, ações que possuem normas próprias e que podem ser implementadas utilizando um Sistema de Gestão Integrada (SGI), no qual falaremos posteriormente. 117 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III A figura a seguir mostra um modelo de SGA a ser feito por meio da ISO 14001, com seus principais fundamentos: Figura 22. Modelo de um sistema de gestão ambiental pela ISO 14001. Política Ambiental Planejamento • Aspectos Ambientais • Requisitos Legais • Objetivos e Metas • Programa de Gernciamento Ambiental Implementação e Operação • Estrutura e responsabilidades; • Treinamento, conscientização e competências; • Comunicação; • Documentação do SGA; • Controle operacional; • Controle de emergências e responsabilidades. Checagem e Ação Corretiva • Monitoramento e medição; • Não conformidades e ações corretivas; • Registros; • Auditoria do SGA. Revisão do Gerenciamento Melhoria Continua Fonte: Adaptado de IBAMAPR (1996). Só com a implementação deste modelo é que uma organização poderá alçar uma certificação em SGA. Além de implantar um SGA, a organização também deve (NASCIMENTO, 2012): » Cumprir a legislação ambiental referente a atividade exercida e a implantação/localização da organização. » Assumir o compromisso com a melhoria contínua do processo de SGA e seu desempenho ambiental. Para se obter a certificação, há uma sequência lógica que deverá ser seguida pela organização. Primeiramente, é necessário que esta organização tenha uma política ambiental estabelecida, para deixar claro os compromissos com os objetivos, as metas e os procedimentos a serem adotados pelos colaboradores para que seja implementado um SGA, além do controle documental e treinamento dos colaboradores para tais ações serem concretizadas. 118 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL Depois disso, deve ser realizado um diagnóstico ou uma pré-auditoria que identifique o que ainda não está conforme ou se há vulnerabilidades nos procedimentos que impeçam sua certificação, e prever correções para elas. Após essa avaliação inicial, a organização deve contratar uma empresa credenciada para dar a certificação. Esta empresa fará novamente uma pré-auditoria para analisar as não conformidades e, posteriormente, realiza uma auditoria oficial que comprovará se a organização está em conformidade com os padrões de qualidade exigidos pelas leis ambientais referentes e pelas políticas ambientais da própria organização para implementação de um SGA (NASCIMENTO, 2012). Revisões da ISO 14001 Conforme já citamos anteriormente, a Norma 14001 foi publicada inicialmente em 1996, quando da grande influência da norma britânica BS7750 desenvolvida em 1992 pelo BSI Group. Ainda em 1994, houve também a publicação da norma TS 9719 (Sistema de gestão ambiental – características gerais) que junto com a anterior forneceram um modelo para o desenvolvimento da série ISO 14000 em 1996, pela ISO (International Organization for Standardization). Em abril de 2005, a ISO 14001 teve a sua primeira revisão e, em 2015, ela foi novamente revisada, sendo a versão atual da norma. Com essa nova versão, as empresas que estavam certificadas pela norma anterior de 2005 deveriam se enquadrar até o fim de 2018, ou então perderiam suas certificações e devem passar por todo o processo novamente de certificação caso queiram se enquadrar novamente. A norma nesta nova versão adquiriu mais consistência no que tange suas cláusulas e documentos. De 4 cláusulas na versão anterior, agora a norma possui 10 cláusulas. O número de documentos e registros obrigatórios subiu de 12 para 16 nessa versão de 2015. Algumas coisas tiveram poucas mudanças com a revisão, como os itens que citam a política ambiental, liderança, competência, treinamento e conscientização, análise crítica pela direção, auditoria interna e ação corretiva. Alguns itens tiveram mudanças moderadas, como a parte da norma que trata da identificação e avaliação dos aspectos ambientais Mas a revisão atual trouxe novos requisitos que devem ser analisados a partir do zero pelas organizações que já possuem o certificado e precisam se adequar a estes novos itens, ou organizações que vão iniciar agora o processo de certificação: riscos e 119 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III oportunidades, contexto da organização, e partes interessadas são os novos requisitos que precisam ser atendidos pela organização. Itemização da ISO14001:2015 1. Introdução: A nova versão da norma de 2015, na sua introdução, fala que a adoção da norma não garante, de fato, resultadosambientais ideais, sendo a adoção da norma diferente para cada tipo de organização e seu contexto, ou seja, duas organizações diferentes, ainda que realizem atividades e processos semelhantes, podem ter requisitos legais e políticas ambientais diferentes para se obter o desempenho ambiental, ainda que ambas atendam aos requisitos da norma. A norma também não trata de outros tipos de gestão (financeira, energia, qualidade, saúde e segurança), mas a metodologia da abordagem desta norma poderá facilitar e preconizar ações para analisar e implementar outros sistemas de gestão. 2. Escopo: Trata dos resultados esperados pelo SGA, incluindo a melhoria do desempenho ambiental – que não estava explicito na versão anterior da norma. 3. Referências normativas. 4. Termos e definições: É um item fundamental para compreender toda a aplicação do SGA, uma vez que trata do que é entendido por cada um dos termos. Por exemplo, há definições de meio ambiente (3.2.1) como a circunvizinhança que opera uma organização, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações. Os Aspectos Ambientais (3.2.2) são tratados como os elementos das atividades, produtos ou serviços que interagem com o meio ambiente, podendo causar um impacto ambiental; este, é descrito como a modificação no meio ambiente, sendo adversa ou benéfica, total ou parcial, que seja resultante dos aspectos levantados em uma organização (item 3.2.4). Outra definição muito importante é a de Risco (item 3.2.10), que basicamente é definido como efeito da incerteza. Este efeito pode ser positivo ou negativo, e esta incerteza é considerado um estado de falta de informação ou conhecimento sobre um determinado evento, sua consequência ou probabilidade. 120 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL A proposta de ciclo de vida (item 3.3.3), que na edição anterior era apenas citada no anexo, nesta versão está mais abrangente, se referindo ao termo como “estágios consecutivos e encadeados de um sistema de produto (ou serviço), desde a aquisição da matéria-prima ou de sua geração, a partir de recursos naturais até a disposição final” (ABNT, 2015). Tais estágios estão relacionados desde a aquisição de matéria-prima até a disposição final deste, passando por todos os processos de projeto, produção, transporte, entrega, uso etc. A figura a seguir ilustra a perspectiva de ciclo de vida. Figura 23. Perspectiva de Ciclo de vida. Fonte: Adaptado de APCER (2016). Outro termo importante é o relacionado a Auditoria (3.4.1), um processo sistemático para obter evidências de auditoria (ou seja, registros fatuais) e avaliá-la para determinar como os critérios de auditoria (todas as determinações e requisitos a serem seguidos pela organização) serão atendidos. O item 3.4.5 aborda sobre a melhoria contínua, outro termo que é bastante utilizado na norma, referente a uma atividade recorrente para aumentar o desempenho ambiental relacionado ao uso do SGA. 5. Contexto da Organização: Este item se inicia com a análise do contexto da organização (4.1), que deve ser realizado desde o nível estratégico até o operacional, interna e externamente, sendo que o SGA deverá estar integrado a tudo isso. O item 4.2 trata das necessidades e expectativas das 121 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III partes interessadas, um item novo nessa versão da norma, no qual esta parte interessada pode ser as entidades afetadas ou preocupadas com o desempenho ambiental da organização, mas também as entidades que podem afetar uma decisão ou atividade da referida organização. O item ainda fala sobre o Sistema de gestão ambiental (4.4). 6. Liderança: É um novo item que introduz o conceito de liderança para a norma, enfatizando a importância da Alta Direção para a eficácia do SGA. O item sobre Política Ambiental (5.2) fala de uma forma mais abrangente sobre proteção ambiental, incluindo além da prevenção da poluição, o uso sustentável de recursos, a mitigação e, importante e contemporânea discussão, a adaptação às alterações climáticas e a proteção da biodiversidade dos ecossistemas importantes à organização. 7. Planejamento: Novo item que introduz o conceito de Riscos e Oportunidades, orientando como uma organização deve entender o planejamento do SGA e suas interligações. A nova versão também pede a determinação de situações potenciais de emergência no planejamento, o que na norma anterior era citado nas etapas de implementação e operação. O item ainda trata dos Aspectos Ambientais (6.1.2), devendo a organização definir tais aspectos das atividades, produtos e serviços, os impactos associados, considerando todo o ciclo de vida. Um adendo sobre o assunto: O Anexo A.6.1.2 da mesma norma ISO 14001:2015 trata mais detalhadamente sobre a metodologia sobre o levantamento dos aspectos e impactos ambientais. A norma cita que: As alterações para o meio ambiente, adversas ou benéficas, que resultem total ou parcialmente dos aspectos ambientais, são chamadas de impactos ambientais. O impacto ambiental pode ocorrer em escalas local, regional e global, e também pode ser direto, indireto ou cumulativo por natureza. A relação entre os aspectos ambientais e impactos ambientais é de causa e efeito (ABNT, 2015). A norma dá orientações neste Anexo referente ao que a organização deve considerar para determinar estes aspectos ambientais: emissões atmosféricas, lançamentos em água, terra, uso de matérias-primas e outros recursos naturais, uso e emissão de energia e a geração de rejeitos, bem como o uso do seu espaço (ABNT, 2015). 122 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL Cabe lembrar que esta análise de aspectos e impactos ambientais segue a lógica das análises utilizadas nos Estudos de impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), quando da necessidade jurídica exigida pelo órgão ambiental às organizações potencialmente causadoras de impacto para a sua construção em um determinado local. O item 6.1.2 Requisitos Legais e Outros requisitos trata dos requisitos que devem ser determinados pela organização. Não são mais exigidos procedimentos como na norma anterior, mas as informações devem ser mantidas documentadas. 8. Apoio: Neste item, Recursos (7.1), a norma fala que a organização deve determinar quais recursos são necessários para prover a implementação, manutenção e melhoria contínua do SGA. A norma anterior tratava de recursos “indispensáveis”, que foi alterado como “necessários”. O item aborda desde a competência das pessoas cujas tarefas têm impacto no desempenho ambiental (item 7.2), a conscientização destas pessoas (item 7.3) sobre a política ambiental e os aspectos ambientais significativos, bem como os impactos ambientais reais ou potenciais associados ao trabalho respectivo. O item 7.4 trata da Comunicação, que nesta versão está mais abrangente e requer uma comunicação mais ampla e não requer mais o procedimento e sim um processo. A empresa agora deve comunicar externamente as informações pertinentes do SGA, o que antes era opcional. O item 7.5 trata da Informação Documentada, importante item sobre o que a empresa deve documentar obrigatoriamente e opcionalmente. Não são mais obrigatórios os manuais e a descrição dos elementos do SGA, embora quem os faça convém documentá-los. 9. Operação: Requer que a organização planeje, execute e controle os processos internos – e os externos – necessários para a implementação do SGA e o cumprimento dos requisitos para tal, considerando a perspectiva do ciclo de vida, que exige um controle operacional mais abrangente, ou seja, envolvendo mais processos da organização, bem como um controle maior dos processos externos a serem contratados. 123 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III O item 8.2 trata da Preparação e resposta a emergências, onde reforça a identificação das situações de emergência ainda na fase de planejamento da organização, devendo esta ter respostas às situações de emergência. 10. Avaliação de desempenho:A norma nesta versão trata da necessidade de avaliar o desempenho ambiental e a eficácia do SGA, e registrar os resultados. E é a organização que deve determinar os critérios para avaliar este desempenho ambiental e definir os respetivos indicadores. Reforça a necessidade de comunicar, interna e externamente, as informações sobre o desempenho ambiental. O item 9.2 trata da Auditoria interna, orientando a organização ao dever desta de estabelecer, implementar e manter as auditorias internas, levando em consideração a importância ambiental dos processos, as mudanças que podem afetar a organização e os resultados das auditorias anteriormente executadas. 11. Melhoria: Nesta nova versão a melhoria contínua ganhou uma seção específica, tornando mais ampla a abordagem sobre o assunto. O item 10.2 Não conformidade e ação corretiva não exige mais procedimentos mas requer que a empresa determine a informação documentada que a empresa acredita ser importante para que sejam atendidos os requisitos. É um item determinante para o viés do pensamento baseado em risco, que promove esta norma a uma ferramenta preventiva, quando trata destas não conformidades e ações corretivas desde o planejamento da organização. Motivações para a implantação de um SGA Quando pensamos no porquê de uma organização se dispor a buscar a implantação de um SGA, pensamos no fato de que essa é uma iniciativa “voluntária”, ou seja, não há legislação que obrigue que uma empresa ou indústria tenha um SGA. Entretanto, embora voluntária, a iniciativa traz de fato vantagens reais a estas organizações, especialmente, em reflexo ao mercado global cada vez mais competitivo e integrado. Os principais fatores apontados para a decisão de implantar o SGA em uma organização são (GRAVINA, 2008): 124 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL » Benefícios financeiros, com a economia de matéria-prima, reúso, uso eficiente de energia e recursos naturais, eficiência na produção e marketing. » Além da economia, a empresa pode ter obtenção de lucros, quando pensamos nas “eco-inovações”, como a venda de resíduos do processo produtivo para outras finalidades em outras organizações. O Coque de Petróleo, por exemplo, foi descartado durante muito tempo e hoje é um produto residual valioso no mercado, comprado para a utilização em fornos de outras indústrias. » Melhoria do desempenho ambiental, que permite ver os problemas antecipadamente, dando a organização como um todo uma postura mais proativa no mercado. » Aumento de competitividade, com a possibilidade de conquista de novos mercados, aumento de credibilidade e segurança para investidores e para consumidores. » Facilidade em aplicar a legislação ambiental pertinente, questão obrigatória para a implementação de um SGA que traz facilidade no trato com as normas e melhora o relacionamento com os órgãos ambientais, reguladores e fiscalizadores. » Melhoria da imagem da organização frente ao mercado consumidor, conquistando assim novos consumidores, especialmente os mais exigentes, fidelizando-os e, com isso, atraindo maiores investimentos. » Facilitação para obtenção de créditos bancários e outros investimentos. A globalização torna os mercados mais acirrados, extensos e competitivos, e as organizações que não busquem inovações ligadas a melhoria do desempenho ambiental em geral perdem cada vez mais espaço. Os consumidores modernos buscam formas de ter um papel ativo na melhoria do planeta e, com isso, o consumo é visto como uma forma de ativismo, que vislumbra formas mais justas de produção, ligados ao uso dos recursos naturais de forma consciente, o respeito e a responsabilidade social. 125 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III Figura 24. Movimento do consumo consciente e seus principais questionamentos. POR QUÊ COMPRAR ? O que comprar? Como comprar? De quem comprar? Como Usar? Como descartar? Perguntas Do Consumo Consciente Fonte: <https://www.akatu.org.br/wp-content/themes/akatu/img/bg-2.png>. Acesso em: 16/4/2019. Críticas à Norma ISO 14001 Embora muito aplicada e eficaz para a Gestão Ambiental, a norma também possui algumas críticas que serão postas aqui para a reflexão. As principais destas críticas têm relação com a não eficiência na melhoria do desempenho energético e com a elitização da certificação que dificulta esta certificação nas menores organizações que possuem baixos recursos (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2004). A crítica em relação à real eficiência para a melhoria do meio ambiente, vem de encontro com o pensamento de que a norma em si não é um atestado de excelência ambiental como dá essa impressão, mas uma forma de gerenciamento técnico. Ela é limitada no momento em que busca, minimamente, o atendimento às leis ambientais e melhorias contínuas, o que não necessariamente pode resultar numa melhoria efetiva no desempenho ambiental de uma empresa. Resumindo, a norma não necessariamente contribui para resolver problemas ambientais, mas dá diretrizes para que isso aconteça. Entretanto, dados no Brasil comprovam que a “correlação entre uso da ISO 14.001 e desempenho ambiental aparentemente tem sido favorável” (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2004). Outra crítica, bem relevante por sinal, é a de que a norma tem um viés elitista, no que tange a sua certificação, embora no próprio texto ela cita que pode ser aplicada em qualquer organização. Mas, quando vemos na prática, esta exige um grau de ações e formalidades que nem sempre podem ser acessíveis à pequenas organizações, que não possuem recursos e mão de obra para serem dispendidos essencialmente para a busca de adequações e certificação em ISO 14001. Isso pode vir a afastar tais organizações menores, muitas vezes, do mercado consumidor, acentuando ainda mais a desigualdades entre as organizações. https://www.akatu.org.br/wp-content/themes/akatu/img/bg-2.png 126 UNIDADE III │ GESTÃO AMBIENTAL Apesar disso, é importante salientar que a norma é, sobretudo, referente a uma mudança cultural da organização e seus processos, e, portanto, pode ser aplicada em partes sem necessariamente se buscar certificação. Muitas vezes, a adoção de pequenas iniciativas poderá já trazer benefícios ambientais que perpassam esse setor, trazendo inclusive melhorias econômicas com a eficiência nos recursos energéticos, o que é o principal mote desta norma. Sistema de Gestão Integrada (SGI) Atualmente, é importante dentro de uma organização ter uma visão mais holística do ambiente, analisando todos os fatores que vão além das paredes de uma empresa para se conseguir obter vantagens competitivas em relação ao mercado atuante. Por isso, conforme já falamos anteriormente, o Sistema de Gestão Ambiental, quando realizado de forma integrada com outros sistemas de gestão, possibilita o gerenciamento de todos os processos e atividades da empresa a partir de normas técnicas aplicáveis. Assim o Sistema de Gestão Integrada – SGI, tornou-se mais do que uma política da organização, item determinante para esta conquistar o mercado nacional e internacional. Ao atuar com um sistema integrado de Gestão da Qualidade (ISO 9001), Gestão Ambiental (ISO 14001) e Gestão da Segurança e Saúde Ocupacional (OSHAS 18001), uma organização passa a conhecer e controlar grande parte das variáveis micro e macro ambientais que possui, além de ter condições de retroalimentar essas informações, tornando-se mais eficiente e competitiva do que seus concorrentes. O controle e monitoramento das atividades e uma gestão voltada para a redução e economia do consumo de recursos materiais e naturais, que promove ações para beneficiar a saúde ocupacional dos funcionários, gerando um ambiente mais produtivo e saudável, gera benefícios enormes para uma organização, como por exemplo: » melhoria da imagem da empresa junto ao mercado e aos clientes; » melhoria do desemprenho organizacional e aumento da produtividade; » redução dos custos operacionais e administrativos; » melhorias ambientaisque beneficiam a todos; » vantagens em relação aos concorrentes, entre outras. A necessidade de as empresas demonstrarem esse compromisso, por meio de certificações de acordo com normas técnicas, atualmente é um processo irreversível 127 GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE III para as organizações. A introdução das preocupações com a qualidade, que trata a ISO 9001 com a introdução da norma ISO 14001, e a preocupação com a certificação ambiental trouxeram a necessidade de se criar os Sistemas Integrados de Gestão. Mas esse sistema não seria completo sem a introdução das questões de preservação da saúde e segurança no trabalho (SST) dos trabalhadores e colaboradores envolvidos, vindo com a OHSAS 18001. Essa complementação passou a assegurar a qualidade total dos processos produtivos e competitividade das organizações (ALBUQUERQUE, 2016). “Concluo destacando a importância do entendimento deste tripé (pessoas x processos x tecnologia). Sempre que tiramos um dos apoios de um tripé o que acontece? Pois é… o que está em cima não se sustenta” (CASTRO, 2017). 128 Para (não) Finalizar Organizações sustentáveis? Conforme dissemos anteriormente, a preocupação com o meio ambiente só se deu em um âmbito global a partir da década de 1970; até então, só havia preocupações restritas ao cumprimento das leis e normas reguladoras. Apesar disso, quando pensamos no universo empresarial/industrial, podemos verificar que ainda faltam premissas sobre a questão ambiental nas teorias organizacionais, por exemplo. Muito se fala em desenvolver novas estratégias, produtos e atividades que trarão vantagens competitivas no mercado, mas pouco se faz um parâmetro destas com o desenvolvimento sustentável (NEDER LOPES, 2014). Diante disso, muitos questionam o que, de fato, tem sido feito pelas organizações sobre o assunto. Muitas têm se mobilizado em busca de certificações, além da busca pela legitimação ambiental por meio das licenças, elaboração de relatórios de responsabilidade etc. No entanto, muitos questionam a eficiência real destas medidas para o desenvolvimento sustentável. A certificação pela ISO 14001, que trata do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) das organizações, permite que esta tenha maior controle das suas operações em relação às suas práticas ambientais. No entanto, a aplicação dessa norma, depende da apropriação desta pelos colaboradores, fornecedores etc., além de não ser compulsória e ser uma iniciativa da organização, o que dificulta a sua continuidade ao longo do tempo (NEDER LOPES, 2017). Isso porque há uma tendência das corporações a reduzir suas responsabilidades na medida em que há falta de controle e exigência do Estado. Precisamos questionar até que ponto a implementação de um SGA é realizado pelo ideal de melhoria no desempenho ambiental visando contribuir com um planeta menos impactado pelas ações antrópicas, ou se essa é uma iniciativa apenas visando as vantagens mercadológicas de economia financeira, aumento de mercado e facilidades referentes ao acesso a investimentos, por exemplo. Lembrando que não há nada de errado em buscar essas vantagens, entretanto, se a cultura dentro de uma organização também não infiltrar legitimamente as intenções de melhoria do meio ambiente coletivo, é uma cultura que tende a desaparecer ou ter dificuldades de se manter na organização ao longo do tempo, das mudanças no processo ou no corpo de colaboradores, por exemplo. 129 PARA (NÃO) FINALIZAR O licenciamento ambiental exerce esse papel controlador do estado, de certa forma, na medida em que é uma exigência legal a regularização das empresas, conforme as leis já citadas anteriormente. Embora seja um processo positivo em sua gênese, é possível que muitas organizações utilizem desta ferramenta obrigatória para tentar “maquiar” os reais efeitos das atividades, potencializando seus impactos positivos e minimizando os impactos negativos, por exemplo. Com o alto custo dos processos de licenciamento, além da sua morosidade em ser resolvido, muitas vezes este se torna um procedimento mais político do que administrativo, em que há influências em jogo e interesses. Segundo Neder Lopes (2017), “seria pertinente então questionar se o licenciamento ambiental não configura como uma autorização para poluir”. Essa problemática potencializa a criação de instrumentos dentro do próprio mercado para a “legitimação ambiental” destas organizações, a fim de criar boas imagens e vantagens competitivas. Esse engajamento, claro, não é linear e espontâneo em todos os setores empresariais. Isso depende do tipo de negócio, público-alvo ou produto a ser produzido. Empresas que lidam diretamente com o mercado consumidor focam na sua comunicação e melhoria na imagem da organização como um todo; enquanto isso, as indústrias grandes e do setor secundário de transformação, por exemplo, buscam menos essa visibilidade e são atraídos pelas demais vantagens de melhoria financeira e além da adequação legal, a fim de se evitar multas e impedimentos de funcionamento. Em todos estes casos, no entanto, cabe a nós no papel de mercado consumidor analisar todo o processo que ocorre até que um produto chegue até nós. E sempre questionar: as ações realizadas realmente contribuem para o que entendemos como desenvolvimento sustentável? 130 Referências ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Conheça a ABNT. Portal. Disponível em: <http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt>. Acesso em: 23 de setembro de 2018. ______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13.030: elaboração e apresentação de projeto de reabilitação de áreas degradadas pela mineração. 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