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NUTRIÇÃO E ÉTICA AULA 6 Prof. Alisson David Silva 2 CONVERSA INICIAL Nesta etapa, vamos conhecer o Código de Ética e de Conduta do Nutricionista (CECN). O Conselho Federal de Nutricionistas (CFN, 2018a), atento à complexidade do contexto contemporâneo, às transformações na sociedade, à ampliação dos campos profissionais e aos avanços científicos, ao longo da sua atuação, realizou modificações importantes nesse documento, até chegar ao atual CECN. Esse processo teve início em 2014, sendo conduzido de forma coletiva pela Comissão Especial para a Construção do Novo Código de Ética, composta por profissionais indicados pelo Fórum dos Conselhos Regionais e pela Comissão de Ética do CFN. Essa construção descentralizada contou com a participação de comissões regionais, promovendo a representatividade das diferentes realidades profissionais. Foram realizados diversos eventos, incluindo seminários nacionais, eventos presenciais em Conselhos Regionais e processos de escuta on-line, visando envolver a categoria e a informar sobre o andamento dos trabalhos. A versão final do CECN reflete o contexto contemporâneo, com ênfase na autonomia e senso crítico do profissional. A participação efetiva da categoria foi fundamental para a construção do material. É relevante ressaltar que o CFN, desde 1981, quando o elaborou, é responsável por atualizar o CECN sempre que isso se mostra necessário. Esse documento é uma bússola para a atuação profissional na área, estabelecendo princípios fundamentais, direitos, deveres e condutas vedadas. O seu cumprimento protege a sociedade, valoriza a carreira e o trabalho do nutricionista (CFN, 2018a). Na graduação, é crucial conhecer o CECN para evitar processos disciplinares decorrentes de práticas inadequadas. O desrespeito ao código pode resultar em concorrência desleal, desvalorização profissional e riscos à saúde. A compreensão do CECN é essencial para prevenir tais situações, sendo abordado em aulas que detalham suas normas e as etapas de um processo disciplinar (CFN, 2018a). TEMA 1 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS O CECN encontra sua descrição na Resolução n. 599/2018 do CFN (2018a, 2018b), regulamentando as condutas e práticas profissionais relacionadas à habilitação técnica do nutricionista. Em outras palavras, trata-se 3 de um instrumento que respalda a garantia de direitos, delineia os deveres e estabelece os limites da atuação profissional. O acatamento dessas diretrizes configura um ato social em prol da saúde e da segurança alimentar e nutricional da população. Esse documento foi concebido com base em uma política de construção coletiva, contando com a participação ativa de nutricionistas, estudantes de nutrição, filósofos, advogados e outros profissionais. Em um dos momentos cruciais desse processo, a categoria foi convidada a identificar os valores essenciais para se atingir o perfil desejado de nutricionista, visando estruturar os princípios fundamentais do CECN, expressos em seus oito artigos que delineiam a orientação para a atuação do nutricionista (CFN, 2018a). O profissional, de acordo com o art. 1º do CECN, compromete-se a conhecer e guiar sua prática pelos princípios universais dos direitos humanos, da bioética, pela Constituição Federal e pelos preceitos éticos do código. A atuação do nutricionista, como estabelecido no art. 2º, deve ser guiada pela defesa do direito à saúde, do direito humano à alimentação adequada e da segurança alimentar e nutricional de indivíduos e coletividades. No art. 3º do CECN, ressalta-se a importância de que o nutricionista desempenhe suas atribuições respeitando a vida, a singularidade e a pluralidade dos indivíduos, considerando suas dimensões culturais, religiosas, de gênero, classe social, raça e etnia. Essa atuação deve ser dialógica, sem discriminação de qualquer natureza nas relações profissionais (CFN, 2018a). O comprometimento com o contínuo aprimoramento profissional é enfatizado no art. 4º do CECN. O nutricionista deve buscar qualificação técnico- científica para promover a saúde e a alimentação adequada e saudável de indivíduos e coletividades. No art. 5º, destaca-se que o nutricionista, no exercício pleno de suas atribuições, deve atuar nos cuidados relativos à alimentação e nutrição promovendo a saúde, prevenindo, diagnosticando e tratando agravos, como parte do atendimento integral ao indivíduo e à coletividade, utilizando todos os recursos que lhes forem disponíveis, com o alimento e a comunidade como suas referências (CFN, 2018a). O art. 6º ressalta que a atenção nutricional vai além do significado biológico da alimentação, considerando dimensões ambientais, culturais, econômicas, políticas, psicoafetivas, sociais e simbólicas. No art. 7º, destaca-se a importância da participação do nutricionista em espaços de diálogo e decisão, 4 seja em entidades da categoria, seja em instâncias de controle social ou outros fóruns, visando ao exercício da cidadania, ao compromisso com o desenvolvimento sustentável, à preservação da biodiversidade, à proteção à saúde e à valorização profissional. No art. 8º, conclui-se que o nutricionista deve exercer a profissão de forma crítica e proativa, com autonomia, liberdade, justiça, honestidade, imparcialidade e responsabilidade, ciente de seus direitos e deveres, sem contrariar os preceitos técnicos e éticos estabelecidos (CFN, 2018a). Por fim, os princípios do CECN orientam o nutricionista a agir em conformidade com valores éticos, promovendo saúde, respeitando a diversidade, aprimorando constantemente suas habilidades e participando ativamente na construção de um ambiente saudável e equitativo. Esses fundamentos reforçam o compromisso social do profissional e a importância de uma atuação crítica e proativa, alinhada aos princípios técnicos e éticos da profissão (CFN, 2018a). TEMA 2 – DIREITOS, DEVERES E VETOS Além dos princípios fundamentais delineados, o CECN, conforme estabelecido pelo CFN (2018a), abrange uma estrutura abrangente composta por dez capítulos, cada um dedicado a temas específicos. Cada capítulo, por sua vez, engloba uma série de direitos, deveres e vetos. O conhecimento aprofundado dessas normas não apenas capacita o nutricionista a exercer sua profissão com dignidade, mas também a atuar com respeito às diretrizes éticas estabelecidas. Nesse contexto, exploraremos detalhadamente os direitos, deveres e vetos que permeiam cada capítulo do CECN, proporcionando uma compreensão abrangente das responsabilidades éticas e profissionais associadas à prática nutricional. 2.1 Responsabilidades profissionais No capítulo do CECN pertinente a esse assunto, abordam-se minuciosamente as responsabilidades profissionais inerentes ao papel do nutricionista, delineando sete direitos, dez deveres e quatro vetos. No contexto dos direitos, merece destaque a prerrogativa de se recusar o exercício da profissão em ambientes onde as condições de trabalho não atendam aos 5 padrões de adequação, dignidade e justiça ou que possam acarretar prejuízos a indivíduos, coletividades ou ao próprio profissional. Além disso, ressalta-se o direito à prestação de serviços profissionais de forma gratuita, em prol de causas sociais e humanitárias (CFN, 2018a). Quanto aos deveres, enfatiza-se a obrigação de manter os indivíduos e a coletividade sob sua responsabilidade profissional, ou seus representantes legais, devidamente informados sobre os objetivos, procedimentos, benefícios e riscos, quando aplicável, de suas práticas profissionais. Destaca-se, também, a necessidade de preservar o sigilo, o respeito e a confidencialidade das informações durante o exercício da profissão (CFN, 2018a). No que tange aos vetos, é expressamente proibido ao nutricionista realizar atos prejudiciais, a indivíduos ou coletividadessob sua responsabilidade profissional, que possam ser caracterizados como imperícia, imprudência ou negligência. Essa proibição visa assegurar a integridade e o bem-estar dos envolvidos, reforçando a importância da atuação ética e responsável do profissional nutricionista. 2.2 Relações interpessoais O segundo capítulo aborda as complexas dinâmicas interpessoais presentes durante o exercício profissional dos nutricionistas, destacando suas relações com outros profissionais, pacientes, clientes, usuários, estudantes, empregados, representantes de entidades, entre outros indivíduos. Estruturado em quatro artigos, esse capítulo compreende um direito, um dever e dois vetos. O direito consagrado refere-se à possibilidade de denunciar, nas instâncias competentes, atos que configurem agressão, assédio, humilhação, discriminação, intimidação, perseguição ou exclusão, seja contra o próprio profissional nutricionista, seja contra qualquer outra pessoa. Essa prerrogativa visa assegurar um ambiente de trabalho e atendimento saudável, livre de condutas prejudiciais. Quanto ao dever estabelecido, destaca-se a necessidade de se utilizar o poder ou posição hierárquica de maneira justa e respeitosa, evitando atitudes opressoras e conflitos nas relações profissionais. Adicionalmente, o profissional é orientado a não fazer uso de sua posição em benefício próprio ou de terceiros, enfatizando a imparcialidade e a integridade que devem reger suas interações profissionais. 6 No que concerne aos vetos, ressalta-se a proibição de manifestar publicamente opiniões depreciativas ou difamatórias sobre a conduta ou atuação de nutricionistas ou de outros profissionais. Essa restrição visa preservar a integridade profissional, promovendo um ambiente de respeito e colaboração mútua entre os profissionais envolvidos. 2.3 Condutas e práticas profissionais O capítulo que trata do tema abarca as normas fundamentais que orientam as atividades do nutricionista, compreendendo um total de 22 artigos, subdivididos em 4 direitos, 9 deveres e 9 vetos. No âmbito dos direitos, destaca- se a prerrogativa de ele exercer suas atribuições profissionais sem interferências de pessoas não habilitadas para tais práticas, assegurando a autonomia e integridade do exercício profissional. No que tange aos deveres, engloba-se a obrigação de realizar, em consulta presencial, a avaliação e o diagnóstico nutricional de indivíduos sob sua responsabilidade profissional. Essa responsabilidade reforça a importância da atuação direta e personalizada do nutricionista na promoção da saúde e bem-estar de seus clientes. No contexto dos vetos, sobressai a proibição, ao nutricionista, de pleitear, de maneira desleal, para si ou para terceiros, emprego, cargo ou função que esteja sendo exercida por nutricionista ou por profissional de outra formação. Essa restrição visa preservar a ética profissional e evitar práticas concorrenciais desleais que possam comprometer a integridade do campo nutricional e de outras áreas profissionais. 2.4 Meios de informação e comunicação A abordagem, no segmento dos veículos de informação e comunicação, contempla as normativas referentes à divulgação das atividades profissionais do nutricionista em diversos meios de comunicação, como televisão, rádio, jornais, revistas, panfletos virtuais ou impressos, embalagens, mídias e redes sociais, aplicativos, palestras, eventos, entre outros, para os mesmos fins. Composto por seis artigos, esse conjunto normativo apresenta dois direitos, um dever e três vetos. Nesse contexto normativo, fica evidente que é um direito do nutricionista empregar os meios de comunicação e informação para promover e divulgar seu 7 trabalho, desde que haja em conformidade com os princípios do CECN (CFN, 2018a). Similarmente, é um dever, ao compartilhar informações sobre alimentação e nutrição em diversos meios de comunicação, que o nutricionista tenha como foco primordial a promoção da saúde e a educação alimentar e nutricional, de maneira crítica, contextualizada e respaldada por embasamento técnico-científico. Quanto ao veto, é expressamente proibido ao nutricionista, mesmo com autorização por escrito, divulgar imagens corporais atribuindo resultados a produtos, equipamentos, técnicas ou protocolos, pois esses podem não se aplicar de maneira uniforme a todos e apresentar riscos à saúde. Essa proibição visa garantir a integridade e a segurança na divulgação de informações relacionadas à nutrição. 2.5 Associação a produtos, marcas de produtos, serviços, empresas ou indústrias No quinto capítulo, o CECN aborda as diretrizes concernentes à associação, divulgação, indicação ou venda de produtos, marcas, serviços, empresas ou indústrias específicas, compreendendo sete artigos, dos quais um é um direito e seis são vetos (CFN, 2018a). O profissional nutricionista tem o direito de utilizar embalagens para atividades de orientação, educação alimentar e nutricional e formação profissional, desde que envolva mais de uma marca, empresa ou indústria do mesmo tipo de alimento, produto alimentício, suplemento nutricional e/ou fitoterápico e não configure conflito de interesses. Dentre os artigos de vetos, destaca-se o art. 60, que explicita a proibição de o profissional realizar a prescrição, indicação ou manifestação de preferência ou associação de imagem para divulgar marcas de produtos alimentícios, suplementos nutricionais, fitoterápicos, utensílios, equipamentos, serviços, laboratórios, farmácias, empresas ou indústrias vinculadas às atividades de alimentação e nutrição. Essa proibição visa evitar a direção das escolhas do paciente, preservando assim sua autonomia de escolha e tem o propósito de garantir a integridade e imparcialidade nas recomendações nutricionais, afastando qualquer influência que possa comprometer o interesse do paciente (CFN, 2018a). 8 2.6 Formação profissional O capítulo que trata da formação profissional do nutricionista estabelece normativas que regem as práticas e situações relacionadas a isso em todos os níveis de ensino, compreendendo 12 artigos, sendo 2 direitos, 7 deveres e 3 vetos (CFN, 2018a). Um direito relevante consagra a possibilidade de o profissional exercer a função de supervisor/preceptor de estágios, em seu local de trabalho. No que concerne a essa função, impõe-se como dever a estrita observância da legislação de estágio em vigor, garantindo assim a conformidade e legalidade nas atividades de supervisão/preceptoria. Em contrapartida, é expressamente vedado ao nutricionista, enquanto desempenha atividade docente, difamar, diminuir ou desvalorizar a profissão, áreas de atuação ou campos de conhecimentos diversos daqueles nos quais atua. Essa proibição visa promover um ambiente educacional respeitoso e imparcial, contribuindo para a integridade e reconhecimento da profissão nutricional e seus diferentes domínios de atuação. 2.7 Pesquisa Outro capítulo estabelece normativas que regem as atividades relacionadas a estudos e pesquisas teóricas, práticas ou científicas, compreendendo seis artigos, dos quais um direito, três deveres e dois vetos (CFN, 2018a). O nutricionista tem o direito de realizar estudos ou pesquisas, tanto dentro quanto fora de seu local de trabalho, com o objetivo de contribuir para o benefício da saúde de indivíduos ou coletividades, a qualificação de processos de trabalho e a produção de novos conhecimentos no campo de alimentação e nutrição. No âmbito dos deveres, destaca-se a responsabilidade do nutricionista em obter autorização do responsável quando utilizar informações não divulgadas publicamente, referenciando adequadamente a fonte. Quanto ao veto, é expressamente proibido ao profissional declarar autoria de produção científica, método de trabalho ou produto do qual não tenha participado efetivamente, visandoassegurar a integridade e a ética na autoria de trabalhos científicos no campo da nutrição. 9 2.8 Relação com as entidades da categoria Temos um capítulo de estabelecimento de diretrizes que regulam a interação dos nutricionistas com as entidades representativas da nutrição, como conselhos de classe, sindicatos e associações. Compostas por sete artigos, essas normativas abrangem três direitos, três deveres e um veto, delineando princípios éticos e responsáveis, para os profissionais, no âmbito de sua relação com tais entidades (CFN, 2018a). É crucial ressaltar que o nutricionista detém o direito de pleitear desagravo público junto ao Conselho Regional de Nutricionistas (CRN) caso seja ofendido no exercício ou em decorrência de sua profissão. No tocante aos deveres, é imperativo fortalecer e fomentar as entidades representativas da categoria, visando à proteção e valorização da profissão, respeitando, simultaneamente, o direito à liberdade de opinião. Por fim, é expressamente vetado ao nutricionista utilizar a posição ocupada em entidades da categoria para obter vantagens pessoais ou financeiras, direta ou indiretamente, por meio de terceiros. Além disso, é proibido valer-se dessa posição para expressar superioridade ou exercer poder que exceda sua atribuição, garantindo assim a integridade e imparcialidade no exercício das funções associativas. 2.9 Infrações e penalidades O capítulo 9º é composto por cinco artigos, em que se aborda o conceito de infração ético-disciplinar e as penalidades aplicáveis aos nutricionistas. Trabalharemos um capítulo específico somente sobre essa questão (CFN, 2018a). 2.10 Disposições gerais O último capítulo, composto por cinco artigos, detalha as opções para alterações no CECN (CFN, 2018a). Essas modificações podem ocorrer de três maneiras: por iniciativa própria; através de proposta de qualquer CRN, validada por pelo menos dois terços desses conselhos; ou mediante proposta formal de 20% dos nutricionistas com inscrição ativa. 10 TEMA 3 – IMPLICAÇÕES AO DESCUMPRIMENTO DO CÓDIGO DE ÉTICA DO NUTRICIONISTA A convivência em sociedade demanda que cada indivíduo esteja familiarizado e adira às normas sociais estabelecidas. Assim como precisamos compreender a legislação de trânsito para dirigir ou atravessar uma rua como pedestres, reconhecemos a importância de se respeitar tais regulamentos para preservar a vida, a sociedade e prevenir infrações. Esse mesmo princípio é aplicável aos nutricionistas. Para que esses profissionais desempenhem suas funções de maneira adequada, é imperativo que estejam cientes e cumpram as resoluções que regulamentam a profissão e o CECN (CFN, 2018a). Isso visa evitar a ocorrência de infrações disciplinares, assegurando uma prática profissional ética e responsável. Além de prejudicar diretamente os envolvidos, a violação do CECN compromete os princípios éticos da profissão e contribui para a sua desvalorização. Conforme estabelecido pela Resolução n. 321/2003 do CFN (2003), que institui o Código de Processamento Disciplinar para Nutricionistas e Técnicos da Área de Alimentação e Nutrição, a infração disciplinar é caracterizada pela transgressão a disposições legais, normativas reguladoras da conduta no exercício profissional e preceitos éticos vinculados à profissão. As implicações de uma infração ética incluem a imposição de penalidades disciplinares. E, em certos casos, essas consequências podem ultrapassar as decisões do CRN, alcançando o âmbito normativo legal, abrangendo responsabilidades civil ou penal. As penalidades disciplinares serão detalhadas posteriormente. É importante destacar que os nutricionistas têm a obrigação de conhecer o CECN, conforme estipulado no art. 15 do capítulo 1º, que estabelece que É dever do nutricionista ter ciência dos seus direitos e deveres, conhecer e manter-se atualizado quanto às legislações pertinentes ao exercício profissional, bem como às normativas e posicionamentos do Sistema CFN/CRN e demais entidades da categoria, assim como de outros órgãos reguladores no campo da alimentação e nutrição. (CFN, 2018a) 11 TEMA 4 – PROCESSO DISCIPLINAR O procedimento disciplinar envolvendo o nutricionista, sob responsabilidade dos Conselhos Federal e Regional de Nutricionistas, consiste em quatro etapas: instauração, instrução, julgamento e penalização. O processo segue as normativas estabelecidas pela Resolução n. 321/2003 do CFN (2018a). A seguir, será delineado o curso do processo disciplinar, desde a denúncia até a aplicação da penalização. 4.1 Primeira etapa: denúncia A notificação é submetida ao Conselho Federal ou Regional de Nutricionistas assumindo a forma de um documento oficial que deve conter os seguintes elementos: • Nome, assinatura e qualificação do denunciante • Nome, qualificação e endereço do denunciado • Descrição dos eventos que possam indicar uma infração disciplinar • Evidências documentais que confirmem os eventos descritos na notificação e outras informações pertinentes ao caso Conforme especificado pela Resolução CFN n. 321/2003, as denúncias podem ser classificadas em três categorias: funcional, particular ou ex officio: • Funcional: ocorre em decorrência de uma ação fiscalizatória de rotina, programada ou desencadeada por denúncia. • Particular: realizada por qualquer pessoa física ou jurídica por meio de documento. • Ex officio: efetuada por conselheiro efetivo, conselheiro suplente ou agente do CRN. A denúncia pode ser enviada ao CRN por diversos canais, como site, e- mail, pessoalmente, por carta, entre outros. Essa etapa implica uma análise minuciosa dos fatos e dos documentos comprobatórios anexados à denúncia. Após essa avaliação, o presidente do CRN pode decidir pela admissão ou não da denúncia, optando por diligência, negativa de admissibilidade ou instauração do processo disciplinar. É importante ressaltar que essa fase envolve a análise 12 dos fatos apresentados na denúncia, não fazendo parte do processo disciplinar propriamente dito. 4.2.2 Segunda etapa: instauração de processo disciplinar Após a primeira etapa, se inicia o processo disciplinar, sob a responsabilidade do presidente do CRN. Esse momento é acionado quando existem suspeitas de violações ao CECN (Brasil, 2018a). A subsequente ação envolve a transferência desse processo para a Comissão de Ética, que assume a responsabilidade pela instrução processual. 4.3 Terceira etapa: instrução do processo disciplinar A etapa de instrução do processo disciplinar é de responsabilidade da Comissão de Ética do CRN, visando fornecer fundamentação ao processo e assegurar plenitude de defesa e contraditório às partes envolvidas. Essa fase, uma das mais intricadas do processo disciplinar, compreende várias etapas: • Solicitação de defesa por escrito: o nutricionista sob representação deve apresentar, por escrito, esclarecimentos sobre os indícios de infração ao CECN (CFN, 2018a), com a possibilidade de incluir provas documentais e testemunhais. • Tomada de depoimentos: coleta de documentos de todas as partes, com depoimentos realizados separadamente, seguindo uma ordem específica. Se a Comissão de Ética ainda tiver dúvidas após esse estágio, pode-se realizar uma acareação, um procedimento que confronte partes ou testemunhas com declarações divergentes para obter novos depoimentos. • Relatório conclusivo: a Comissão de Ética elabora um relatório consolidando as informações cruciais obtidas durante a instrução do processo disciplinar. Esse relatório inclui uma conclusão, propondo ou o arquivamento do processo devido à ausência de infração disciplinar ou a continuação do processo, com a recomendação de uma penalidade apropriada. Após essa etapa, o relatório é encaminhado ao plenário do CRN. 13 4.4 Quarta etapa: julgamento do processo disciplinarEssa etapa está sob a responsabilidade do Plenário do CRN. O Plenário recebe o processo disciplinar, incluindo o relatório conclusivo da Comissão de Ética, e decide se aceita ou não o que ela concluiu. Se aceito o relatório, o processo disciplinar continua e o presidente designa um conselheiro efetivo como relator. O relator é encarregado de realizar uma análise detalhada do processo e preparar o relatório e o voto. Posteriormente, os envolvidos no processo (denunciante e denunciado) recebem notificação com pelo menos 15 dias de antecedência em relação à data, hora e local da sessão de julgamento. Durante essa sessão, o conselheiro relator lê o relatório e o voto, permitindo que as partes se manifestem. Isso marca o início da fase de discussão e esclarecimento. Ao encerrar essa etapa, o presidente conduz a votação e, após a sua conclusão, anuncia a decisão final do julgamento. Caso as partes não concordem com o resultado, têm o direito de recorrer ao CFN. 4.5 Quinta etapa: penalização A imposição de penalidades em um processo disciplinar é atribuição do CRN da área onde o profissional possui inscrição original. Os diversos tipos de penalidades que podem ser aplicadas ao nutricionista são detalhados a seguir. A Figura 1, a seguir, sintetiza as fases do processo disciplinar. Trataremos das penalidades na sequência. 14 Figura 1 – Etapas do procedimento disciplinar Crédito: Jefferson Schnaider. TEMA 5 – PENALIDADES Os diversos tipos de penalidades resultantes de um processo disciplinar contra o nutricionista são definidos por leis específicas, incluindo a Lei n. 6.583/1978 (Brasil, 1978), que estabelece os Conselhos Federal e Regionais de Nutricionistas; o Decreto n. 84.444/1980 (Brasil, 1980), que regula o funcionamento desses conselhos; e a Resolução n. 321/2003 do CFN (2003), que institui o Código de Processamento Disciplinar para o Nutricionista e o Técnico da Área de Alimentação e Nutrição, entre outras medidas. Segundo essas normativas, as penas disciplinares incluem: • Advertência • Repreensão • Multa equivalente a até dez vezes o valor da anuidade • Suspensão do exercício profissional por até três anos • Cancelamento da inscrição e proibição do exercício profissional A execução da pena leva em consideração os antecedentes profissionais do denunciante, seu grau de culpa, as circunstâncias atenuantes e agravantes, 15 bem como as consequências da infração, conforme preconizado pela legislação pertinente. A infração ético-disciplinar, definida nos art. 91 a 95 do CECN, refere-se a ações ou omissões que desobedeçam às disposições do Código (CFN, 2018a). A instância ético-disciplinar é autônoma, independente das instâncias administrativas e judiciais, considerando pareceres de outras instâncias oficiais. A apuração da infração, autoria e responsabilidade ocorre em um processo conduzido, conforme as normas legais e regulamentares, pelos Conselhos Federal e Regionais de Nutricionistas. As sanções, previstas na Lei n. 6.583/1978 e no Decreto n. 84.444/1980 (Brasil, 1978, 1980), são aplicadas de acordo com a gravidade do caso, respeitando a graduação estabelecida na lei e considerando antecedentes, grau de culpa, circunstâncias atenuantes e agravantes, além das consequências da infração. As penas de advertência, repreensão e multa são comunicadas pelo CRN em ofício reservado, a menos que haja reincidência, quando essas informações são registradas nos assentamentos do profissional punido. NA PRÁTICA Atualmente, é evidente que os nutricionistas estão mais engajados nas redes sociais. Contudo, em alguns casos, esses profissionais podem violar o CECN, seja por falta de conhecimento, seja por discordância em relação a ele. Portanto, analise, nas suas redes sociais, perfis desses profissionais e identifique as infrações mais comuns praticadas por eles, especificando quais artigos do CECN estão sendo infringidos (Brasil, 2018a). FINALIZANDO Nesta etapa, destacamos que o nutricionista deve embasar suas práticas no CECN, além de seguir outras resoluções estabelecidas pelo CFN. O CECN tem a finalidade de orientar o profissional em direção a uma conduta ética, crítica e competente. Ficou evidente que agir em desacordo com o CECN pode resultar na abertura de um processo disciplinar e na aplicação de penalidades (Brasil, 2018a). Considerando a constante evolução da ciência da nutrição, compreendemos que verdades atuais podem se transformar, no futuro. Da 16 mesma forma, nossa sociedade está em constante mutação, exigindo adaptações no modo de vida individual e coletivo. Dessa forma, é essencial que o CECN esteja alinhado com as transformações sociais, sendo atualizado de acordo com o cenário contemporâneo. O nutricionista, por sua vez, deve permanecer atento e participar ativamente das discussões relacionadas à sua profissão. 17 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto n. 84.444, de 30 de janeiro de 1980. Diário Oficial da União, Brasília, 31 jan. 1980. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/atos/decretos/1980/d84444.html>. Acesso em: 7 dez. 2023. _____. Lei n. 6.583, de 20 de outubro de 1978. Diário Oficial da União, Brasília, 24 out. 1978. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970- 1979/l6583.htm>. Acesso em: 7 dez. 2023. CFN – Conselho Federal de Nutricionistas. Código de Ética e de Conduta do Nutricionista. Brasília, 2018a. Disponível em: <http://www.cfn.org.br/wpcontent/uploads/2018/04/codigo-de-etica.pdf>. Acesso em: 7 dez. 2023. _____. Resolução n. 321, de 2 de dezembro de 2003. Diário Oficial da União, Brasília, 15 dez. 2003. Disponível em: <http://www.cfn.org.br/wpcontent/uploads/resolucoes/Res_321_2003.htm>. Acesso em: 7 dez. 2023. _____. Resolução n. 599, de 25 de fevereiro de 2018. Diário Oficial da União, Brasília, 4 abr. 2018b. Disponível em: <http://sisnormas.cfn.org.br:8081/viewPage.html?id=599>. Acesso em: 7 dez. 2023.