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Ciências do Ambiente Me. Gustavo Affonso Pisano Mateus Me. Renata Cristina de Souza Chatalov Esp. João Marcos Pardo C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; MATEUS, Gustavo Affonso Pisano; CHATALOV, Rena- ta Cristina de Souza; PARDO, João Marcos. Ciências do Ambiente. Gustavo Affonso Pisano Mateus; Rena- ta Cristina de Souza Chatalov e João Marcos Pardo. Maringá-Pr.: Unicesumar, 2019. Reimpresso em 2024. 240 p. “Graduação - EAD”. 1. Ciências. 2. Ambiente. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1984-1 CDD - 22 ed. 577 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Coordenador de Conteúdo Crislaine Rodrigues Galan e Fabio Augusto Gentilin. Designer Educacional Janaína de Souza Pontes e Yasminn Talyta Tavares Zagonel. Revisão Textual Érica Fernanda Ortega e Cíntia Prezoto Ferreira. Editoração Isabela Mezzaroba Belido. Ilustração Natália de Souza Scalassara Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Naldei e Thiago Surmani. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite; Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock. PALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Seja bem-vindo(a)! Estima-se que a vida na Terra existe há cerca de 3,5 bilhões de anos, no entanto, apenas há duzentos anos que a vida humana se tornou mais confortável devido aos grandes avanços na área tecnológica. Nesses duzentos anos, a população mundial aumentou significativamente, a sociedade tornou-se cada vez mais consumista e, com isso, houve um aumento no consumo de recursos naturais que estão tornando-se cada vez mais escassos. A história do homem no planeta é diferente se compararmos com osdemais animais, pois o homem se apropria da natureza para satisfazer suas neces- sidades, criando sistemas mais elaborados, embasados em tecnologias que nem sempre são sustentáveis, que podem ocorrer de forma tão acelerada que os sistemas naturais não conseguem repor tudo com a mesma agilidade em que são consumidos. Nosso planeta, a água, o ar e o solo estão deteriorando qualitativamente, colocando em evidência o prejuízo biológico de muitas espécies, das quais o homem está incluído. Como exemplos de degradação ambiental, podemos citar: as queimadas, o consumo de combustíveis fósseis, o desflorestamento, a poluição das águas, do ar, do solo, entre outros que, na maioria das vezes, têm origem antrópica. Dessa forma, quando estudamos as questões ambientais, nós estudamos temas muito importantes para a formação acadêmica, tanto que a inter- disciplinaridade é essencial para compreensão do tema e exige esforços de profissionais nas mais diversas áreas do conhecimento. Nesse sentido, procuramos contribuir na disciplina de Ciências do Ambiente. Diante desse contexto, trataremos dos nossos estudos de Ciências do Am- biente que foram divididos em nove unidades. Nas Unidades 1 e 2, estudaremos o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Veremos os conceitos de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, apresentando seu histórico, bem como as questões do meio ambiente no meio econômico com bens e serviços ambientais. Nas Unidades 3 e 4, estudaremos sobre o gerenciamento e tratamento de águas e efluentes. Abordaremos os conceitos de águas subterrâneas, as questões da qualidade da água e as formas de tratamento de efluentes. Nas Unidades 5 e 6, abordaremos a questão de resíduos sólidos, desde a geração, a coleta, o acondicionamento, o transporte, o tratamento e a destinação final. Na Unidade 7, analisaremos o controle e qualidade de emissões atmosféricas e conceituaremos a poluição atmosférica, bem como suas formas de controle. Finalmente, nas Unidades 8 e 9, estudaremos as questões da Política Am- biental no Brasil, apresentando as legislações ambientais vigentes e a im- plementação de Sistemas de Gestão Ambiental. Desejamos a você ótimos estudos! CURRÍCULO DOS PROFESSORES Esp. João Marcos Pardo Especialização em Educação à Distância pelo Instituto Eficaz (2017-2018). Graduação em Engenharia Civil pelo Centro de Ensino Superior de Maringá (2012-2016). Especialização em andamento em Gestão de Projetos e Docência no Ensino Superior pela Unicesumar. Atual- mente, é Professor Mediador I do Centro de Ensino Superior de Maringá. Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em gestão de resíduos sólidos na construção civil, projeto arquitetônico e licitação em obras públicas. Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/7568262155594348 Me. Gustavo Affonso Pisano Mateus Mestrado em Biotecnologia Ambiental pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Espe- cialização em Docência no Ensino Superior e Análise Ambiental pela Unicesumar e Graduação em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário de Maringá (Unicesumar). Possui experiência nas áreas de Fitossanidade, com ênfase em fungos fitopatogênicos e Tratamentos Alternativos de Água e Efluentes, em especial com os temas: processos de separação por membranas e coagulantes naturais. Atualmente, é aluno do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Ambiental da Universidade Estadual de Maringá em nível de Doutorado. Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/1379816809384173 Me. Renata Cristina de Souza Chatalov Possui Mestrado em Engenharia Urbana pela Universidade Estadual de Maringá – UEM, Es- pecialização em Gestão Ambiental pela Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM, Graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Universi- tário de Maringá (Unicesumar); Graduação em Tecnologia Ambiental pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Tem experiência em pesquisa na área de Sistema de Gestão de Qualidade e na Área Ambiental, com ênfase em Tecnologias Avançadas de Tratamento de Efluentes, Gestão e Tratamento de Resíduos Sólidos. Trabalha como Professora Formadora no curso de Gestão Ambiental, Gestão de Recursos Humanos, Gestão de Negócios Imobiliários, Segurança do Trabalho no EAD, no Centro Universitário Maringá (Unicesumar). Trabalhou como professora no curso de graduação em Administração na Faculdade Metropolitana de Maringá. Professora da disciplina de Indústria e Meio Ambiente na Pós-graduação em Gestão Ambiental na Faculdade Metropolitana de Maringá. Professora da pós-graduação EAD - Unicesumar. Currículo Lattes disponível em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv. do?id=K4400997J9 Meio Ambiente e Sustentabilidade 13 Dinâmicas Ambientais 43 Gerenciamento de Recursos Hídricos - Captação e Tratamento de Água 71 Gerenciamento de Recursos Hídricos – Tratamento de Águas Residuárias Resíduos Sólidos – Geração, Classificação, Coleta e Transporte 91 115 Resíduos Sólidos – Tratamento e Disposição Final 135 Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões A Política Ambiental no Brasil 193 Gestão Ambiental - Certificação e Auditoria Ambiental 215 157 53 Ciclo da água 142 Aterro sanitário Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Esp. João Marcos Pardo Me. Gustavo Affonso Pisano Mateus • Definir meio ambiente de acordo com as mudanças que o conceito sofre com o passar do tempo. • Entender como a ação humana interfere nos ambientes naturais. • Descrever como a questão do meio ambiente evoluiu junto aos meios de produção ao longo das revoluções industriais. • Definir desenvolvimento sustentável a partir de seu en- tendimento em âmbito internacional. • Definir sustentabilidade e sua relação com sistemas du- ráveis. O que é Meio Ambiente? Alterações de Origem Antrópica O que é Desenvolvimento Sustentável? De que se trata a Sustentabilidade? A Questão Ambiental nas Empresas Meio Ambiente e Sustentabilidade O Que é Meio Ambiente? Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo(a) à primeira uni- dade do livro de Ciências do Ambiente: “Meio Ambiente e Sustentabilidade”. Esta unidade tem como objetivo ajudar-te a compreender o contex- to histórico acerca das modificações ambientais de origem antrópica, ou seja, a capacidade e a ne- cessidade do homem em modificar o ambiente a sua volta. Mediante uma breve retrospectiva his- tórica, iremos discutir sobre alguns marcos his- tóricos que influenciaram os modelos sociais e que foram, em parte, responsáveis pelos processos produtivos como nós os conhecemos. Em seguida, iremos conhecer algumas espe- cificidades acerca dos conceitos de sustentabi- lidade e desenvolvimento sustentável e discutir os motivos pelos quais ambos conceitos são tão relevantes na atualidade e também em suas jor- nadas acadêmicas e profissionais. Iremos, ainda, conhecer algumas de suas aplicações em ambien- tes empresariais/coorporativos, representadas por algumas normas de certificação socioambiental. Sendo assim, convido você a uma leitura acerca dos conceitos apresentados. Bons estudos! 15UNIDADE 1 Inicialmente, realizaremos uma retrospectiva histó- rica para compreender e conhecer as definições de meio ambiente existentes, bem como a intensidade e origem das alterações e impactos ambientais. É fato que as definições atuais de meio ambien- te são resultado de uma série de estudos, reflexões e eventos históricos acerca desse tema, que foram fundamentais para a compreensão desse conceito em sua totalidade. As preocupações com o am- biente tomaram proporções internacionais em 1960, atingindo seu ápice na década seguinte, com o relatório e marco histórico intitulado: Os limites do crescimento (The limits to Growth), divulgado pelos intelectuais e empresários que faziam parte do Clube de Roma. Conforme Salheb et al. (2009), o relatóriobus- cava a limitação do desenvolvimento econômico baseado na extração de recursos naturais, porém, para os países em desenvolvimento, como o Brasil, as sugestões do relatório não foram convenientes, uma vez que limitava a exploração de recursos, “restringindo”, consequentemente, seu desenvol- vimento econômico. Uma das principais contribuições desse relató- rio consistiu no despertar da consciência ambien- tal coletiva, uma vez que, em sua conclusão, foram apresentados indícios de que, em uma projeção fictícia, caso fossem mantidos os níveis de indus- trialização, poluição e exploração de recursos, o limite de desenvolvimento do planeta seria atin- gido em até 100 anos. Entretanto, apesar das discussões e controvér- sias envolvendo o conceito de meio ambiente, este somente foi disposto em nosso país no art. 3º, I, As ciências do ambiente compreendem um campo acadêmico multidisciplinar que integra as ciências físicas e biológicas e sua ampla gama de recursos para a compreensão dos fenômenos ambientais existentes, visando o desenvolvimento de soluções para as problemáticas ambientais atuais. da Lei nº. 6.938/81, que discorre acerca da Política Nacional do Meio Ambiente, que definiu meio ambiente como: “ o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e bioló- gica, que permitem, abrigam e regem a vida em todas as suas formas (BRASIL, 1981). Entretanto, analisando esse conceito, é comum nos remetermos apenas a ambientes naturais, pai- sagens, ecossistemas e outros meios de obtenção de recursos naturais que sejam possíveis. Apesar de correto, o conceito apresentado de- veria ser mais abrangente, englobando ambien- tes “naturais” oriundos da intervenção antrópica, conforme postulado por Silva (2004, p. 20), o qual compreende que “ [...] a natureza, o artificial e o original, bem como os bens culturais correlatos, com- preendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arquitetônico. Logo, passamos a considerar as alterações estrutu- rais realizadas no meio ambiente como parte de sua composição. Contudo, a Constituição Federal de 5 de outubro de 1988 alterou o conceito até então utilizado, conforme pode ser observado na Tabela 1, passando a incluir uma vertente relacionada à prá- tica laboral, como reflexo ao advento dos direitos trabalhistas expressivos naquele período histórico. 16 Meio Ambiente e Sustentabilidade Tabela 1 - Tipos de Ambiente definido pela Constituição Federal de 1988 NATURAL ARTIFICIAL CULTURAL (PATRIMÔNIO) TRABALHO Fauna, Flora, Ecos- sistemas, Solo, Água e Atmosfera. Conjunto de edifi- cações particulares ou públicas, princi- palmente urbanas. Cultural, Artístico, Arqueoló- gico, Paisagístico, Manifesta- ções culturais e populares. Conjunto de condições existentes no local de trabalho relacionadas à qualidade de vida do tra- balhador. (Art. 225, § 1°, I e VII) (Art. 5°, XXIII, art. 21, XX e art.182) (Art. 225, § 1° e § 2º) (Art. 7°, XXXIII, e art. 200) Fonte: adaptada de Alencastro (2012). Podemos concluir que Meio Ambiente é o termo utilizado para designar quaisquer espaços físicos, naturais, artificiais, culturais e, até mesmo, de trabalho, que se relacionem com a vida no planeta Terra. Meio Ambiente não somente se refere a florestas, rios, lagos e outros ambientes naturais. Essa nova definição de meio ambiente, que apre- senta caráter amplo e generalista, leva-nos a uma reflexão sobre nosso próprio posicionamento en- quanto seres humanos e como “parte” constituinte do meio ambiente. Em um contexto histórico, a vertente teórica do homem enquanto centro do universo surgiu e foi evidenciada com o antropocentrismo – concepção criada em resposta ao posicionamento teocentrista da Idade Média. Na concepção antropocentrista, o homem passa a considerar a humanidade como ponto central do universo, pressupondo que o meio ambiente e as demais espécies existem para servir e satisfazer suas necessidades (PIRES et al., 2014). Essa vertente, em um contexto moderno, está inti- mamente associada à desvalorização e degradação do meio ambiente e das outras espécies, uma vez que, dentro de seu contexto e momento histórico, o antropocentrismo considera a natureza e todos os seus componentes subordinados à espécie humana. Assim, observa-se que a destruição intrínseca à presença humana no ambiente está atrelada a um comportamento patológico, prejudicial à so- brevivência humana e de outras formas de vida. Portanto, os impactos causados ao meio ambiente não serão solucionados apenas com o advento do cenário tecnológico, mas por uma ação conjunta de avanços no paradigma científico e mudanças comportamentais (PIRES et al., 2014). Nesse sentido, dentre as várias contribuições voltadas a essa perspectiva crítica, destacam-se os valores ambientais sugeridos pelo ecocentrismo, que se refere ao grau de conscientização, interesse, esforços e engajamento sobre os problemas am- bientais (DUNLAP, 2008). Nesse entendimento, caro(a) aluno(a), po- demos inferir que dependemos diretamente do meio ambiente, uma vez que tudo o que nos cerca é considerado parte fundamental e componente do meio ambiente. Assim, toda e qualquer forma do ambiente está diretamente relacionada com o bem-estar da população e com o desenvolvimen- to social, especialmente pelos recursos biológicos, químicos e físicos que o meio ambiente em sua totalidade proporciona para a manutenção da vida em nosso planeta. Logo, um colapso ambiental re- sultaria em sérias consequências para a saúde da população. Alguns exemplos de consequências das alterações antrópicas serão abordados ao longo deste material didático. 17UNIDADE 1 Cabe ressaltar que, dentre as espécies que habitam nosso planeta, os seres humanos (Homo sapiens sapiens) destacaram-se em função de sua ca- pacidade de transformação do am- biente. Tal fato não significa que as demais espécies, aqui presentes, não sejam providas de intelecto, porém, o ser humano, em uma perspectiva evolutiva, apresentou características e habilidades que favoreceram seu pleno desenvolvimento e sua capa- cidade de adaptação. 18 Meio Ambiente e Sustentabilidade Segundo Ninis e Bilibio (2012), a separação da condição animal do homem ocorreu em função de uma série de fatores, como o domínio do fogo, aquisição da linguagem, a formação de sociedades, o advento da agricultura, dentre outros. Entretan- to, independentemente da razão, ainda de acordo com os autores, o ser humano apresenta certas ca- racterísticas que os tornam únicos em um sistema natural, sendo elas: crenças, consciência da própria morte; razão; moral; domínio tecnológico apura- do; capacidade de aprendizagem; adaptabilidade; cultura e sociedade e, em especial, a capacidade de alteração ou modificação do meio em que vive. Seria de grande pretensão listar todos os fatos, acontecimentos e passos evolutivos que garanti- ram ou possibilitaram o sucesso do ser humano até os dias atuais, entretanto, minha intenção aqui é ressaltar que, independente do acontecimento ou passo evolutivo, a capacidade de análise do am- biente a sua volta, sua capacidade de modificá-lo e sua dinâmica com ele é que promoveu tal passo. Em face dessa capacidade, a dinâmica do ho- mem com o ambiente foi sendo constantemente alterada, os meios naturais que já possuíam dinâ- micas próprias, inerentes à influência do homem e caracterizadas, principalmente, pela presença Alterações de Origem Antrópica 19UNIDADE 1 de um fluxo de energia e matéria entre seus ele- mentos constituintes, passaram a ser substituídos por ambientes artificiais, voltados à produção em ampla escala de bens e serviços (CORTEZ; OR- TIGOZA, 2009). Findada uma explicação inicial e não extensiva sobre a capacidade do ser humano de alterar o meio ambiente, torna-se essencial discorrer sobre os impactos e modificações sobre uma perspecti- va ambiental.É fato que, historicamente, as ações antrópicas foram responsáveis por inúmeras mo- dificações ambientais e tais alterações apresenta- ram diversas vertentes positivas e negativas. Um exemplo notório dessa afirmação é representa- do pela Revolução Industrial – período no qual houve intensa e extensiva exploração de recursos naturais e, consequentemente, elevada geração de resíduos persistentes; em contrapartida, esse período proporcionou amplo desenvolvimento de novas tecnologias e vasto conhecimento so- bre processos produtivos, bens e serviços que influenciaram na melhoria da qualidade de vida da população no período; tal avanço tecnológico se estende até os dias atuais e são responsáveis, de certa forma, pelo modelo social e econômico como nós o conhecemos. Incontáveis estudos atuais apontam que as mo- dificações ambientais de origem antrópica vêm alterando, significativamente, os ecossistemas na- turais, consumindo recursos desenfreadamente e causando alterações aos meios naturais, tornando a associação desses fatores responsáveis pela dimi- nuição da qualidade de vida da população. Aliás, caro(a) aluno(a), arriscaria-me a inferir que gran- de parte da produção científica de nosso país, nas mais diversas áreas do conhecimento, são voltadas ao desenvolvimento de tecnologias e/ou técnicas relacionadas à diminuição de impactos, prevenção e recuperação ambiental. Tal afirmação nos remete à necessidade de dis- tinguir tais conceitos. Para Verazsto et al. (2008), existe certa dificuldade em estabelecer uma defi- nição concreta para o termo “tecnologia”, uma vez que, historicamente, diferentes interpretações ou considerações podem ser realizadas ou atreladas a esse conceito. Entretanto, tais autores postulam: “ [...] torna-se notório conhecer que as pa- lavras técnica e tecnologia tem origem co- mum na palavra grega techné que consistia muito mais em se alterar o mundo de forma prática do que compreendê-lo. [...] Na técni- ca, a questão principal é do como transfor- mar, como modificar. O significado original do termo techné tem sua origem a partir de uma das variáveis de um verbo que signifi- ca fabricar, produzir, construir, dar à luz, o verbo teuchô ou tictein, cujo sentido vem de Homero; e teuchos que significa ferramen- ta, instrumento. [...] A palavra tecnologia provém de uma junção do termo tecno, do grego techné, que é saber fazer, e logia, do grego logus, razão. Portanto, tecnologia é a razão do saber fazer [...]. Em outras palavras o estudo da técnica. O estudo da própria atividade de modificar, do transformar, do agir (VERAZSTO et al., 2008, p. 62). Logo, o desenvolvimento de técnicas e tecnologias para otimização de quaisquer processos produ- tivos, apesar de necessários para o atendimento das demandas populacionais cada vez mais cres- centes, tomaram vias contrárias ao equilíbrio e manutenção ambiental. Diversos autores indicam que a crise ambiental da modernidade é oriunda de um modelo societário pautado em metodolo- gias desenvolvimentistas e com visão exclusiva ao progresso científico e tecnológico, resultando, assim, em uma sociedade extremamente consu- mista e utilitarista que atrela a degradação am- biental apenas a uma mínima consequência de seus processos (LEFF, 2010). 20 Meio Ambiente e Sustentabilidade Ainda nessa linha de raciocínio, para Sampaio et al. (2013), o estabelecimento do sistema capitalista, no qual vivemos, consoli- da-se por meio da degradação ambiental e é baseado em teorias neoclássicas que buscam legitimar cientificamente a convicção de que o crescimento econômico e tecnológico é capaz de solucionar problemas de degradação ambiental com o passar do tempo. A teoria econômica que melhor embasa esse pensamento é a chamada Curva Ambiental de Kuznets, que estabelece uma relação direta entre a distribuição individual de renda e a degradação am- biental. Mediante informações referentes ao crescimento e distri- buição de renda dos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, o autor Kuznets formulou uma curva em “U invertido”, que, teoricamente, indica que a distribuição individual da renda tende a ser pior nos primeiros estágios do desenvolvimento econômico; entretanto, fa- tores, como alterações na composição da produção e do consumo, aumento do nível educacional e da conscientização relacionada às questões ambientais, bem como sistemas políticos mais abertos, em teoria, a partir de determinado ponto, resultam em tendências am- bientais favoráveis, proporcionando um crescimento da renda per capita, ou seja, melhor distribuição de renda e, consequentemente, um consumo mais racional dos recursos naturais. D eg ra da çã o A m bi en ta l Renda per capta em função da Educação Figura 1 - Curva de Kuznets Fonte: o autor. Em outras palavras, segun- do Carvalho e Almeida (2008), o conceito descreve a trajetória (em tempo) pela qual a poluição de um país seguirá como resul- tado do desenvolvimento eco- nômico. Quando o crescimento ocorre em um país extremamen- te pobre, a poluição inicialmente cresce drasticamente, especial- mente em função do aumento na produção que geram emis- sões dos mais variados poluentes e porque o país, dado sua pobre- za, coloca uma baixa prioridade sobre o controle da degradação ambiental. Logo, uma vez que o país atinge determinado grau de desenvolvimento, sua prioridade muda e volta-se para a proteção da qualidade ambiental. Em relação ao “compor- tamento” da curva, conforme Carvalho e Almeida (2008), vários fatores podem ser indi- cados como “responsáveis” por seu formato, dentre eles: 1. Favorecimento e aprecia- ção da qualidade ambien- tal, ou seja, mediante o aumento de renda, a po- pulação tende a requerer maior qualidade ambiental. 2. Alterações na composição da produção e do consumo. 3. Aumento dos níveis de educação ambiental e conscientização das con- sequências das atividades econômicas sobre o meio ambiente. 21UNIDADE 1 4. Desenvolvimento de sistemas políticos mais abertos. Dentre outros fatores, como aumento na rigidez da regulação ambiental impulsionada pelo au- mento da pressão social, melhorias tecnológicas e uma amplitude comercial também podem estar atrelados a esse fenômeno. Existem, ainda, autores que desacreditam ou descredibilizam a teoria Kuznets, especialmente em função de outras teorias ou hipóteses, como, por exemplo, a hipótese de poluição de portos. Esta gira em torno da relação entre o comércio, desenvolvimento e o meio ambiente e, basica- mente, segundo Feijó (2001) e Azevedo (2009), sugerem que a utilização de políticas ambientais aumenta os custos de produção, reduzindo a pos- sibilidade de especialização de alguns países na produção de bens que exigem atividades polui- doras. Em outras palavras, países com políticas ambientais menos rígidas apresentam vantagem comparativa aumentada em relação à produção de bens ambientalmente sensíveis (produzidos por indústrias “sujas” ou altamente poluidoras) (SIEBERT, 1977). Historicamente, e pautadas nos princípios des- sa hipótese, as indústrias consideradas poluidoras ou “sujas” deslocaram-se do norte para o sul, ou, em uma analogia plausível, dos países desenvol- vidos para os em desenvolvimento. Porém, evi- dências empíricas não sustentam essa hipótese, especialmente em relação à competitividade entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento e a vantagens comparativas (AZEVEDO, 2009). Dentre os fatores que “desqualificam” essa van- tagem competitiva/comparativa em termos de mercado econômico internacional, figuram não somente os custos de controle ambiental, mas também a estabilidade política, acesso ao merca- do, qualificação e especialização de mão de obra, custos com logística e transporte e incentivos fis- cais (ANDERSON, 1996). Independentemente do modelo teórico utilizado para a compreensão do desenvolvimento, é fato que deve haver uma harmonização entre o desenvolvimento/crescimento econômico e a exploração de recursosnaturais ou, em outras palavras, sustentabilidade! 22 Meio Ambiente e Sustentabilidade Em sua essência, o principal objetivo das ativida- des de uma empresa é o lucro. Essa problemática de todas as empresas traz com ela várias preocu- pações inerentes a qualquer processo produtivo há tempos longínquos, mas principalmente esta: Como gastar menos recursos e produzir mais, maximizando meus lucros? Após as duas Revoluções Industriais – a pri- meira, na metade do século XVIII, e a segunda a partir da metade final do século XX – a indústria existente sofreu drásticas modificações, princi- palmente relacionadas à organização do trabalho. A mecanização do trabalho com a evolução das máquinas trouxe uma nova realidade às empre- sas. Agora, é necessário preocupar-se com no- vas legislações relacionadas à saúde e segurança do trabalhador e normas de vigilância sanitária, além das limitações financeiras que começaram a existir, afinal, era preciso recursos financeiros para adquirir os meios de produção. Quem não conseguiu seguir o ritmo acelerado das transfor- mações, foi engolido pelo mercado e, basicamente, deixou de existir. A Questão Ambiental nas Empresas 23UNIDADE 1 Em termos de utilização de recursos, houve um crescimento e evolução exponencial. Trabalhos que, antes, eram realizados manualmente e que levavam muito tempo a serem concluídos e que, consequentemente, significam uma produção me- nor, agora, passam a ser realizados por maquiná- rios avançados em um tempo muito, muito menor. Se minha empresa passa a produzir mais, isso quer dizer que eu gasto mais recursos e gero mais resíduos ao final do meu processo produtivo. Então, o que antes limitava-se a apenas algumas centenas de quilos por semana, agora passa a ser toneladas de resíduos todos os dias. Você conse- gue, a partir daí, entender qual outra preocupação começa a surgir no contexto empresarial, além das mencionadas anteriormente? A questão do meio ambiente. Segundo Xavier et al. (2015), a necessidade do aumento da produção possibilitou o surgi- mento de diversos modelos de produção inicial- mente aplicados à indústria automobilística e que, posteriormente, foram adotados e adapta- dos por indústrias dos mais variados segmentos, revolucionando o pensamento administrativo e, em especial, o mundo industrial. Dentre eles, a teoria da administração científica de Frederick W. Taylor, que se baseia em métodos de ciência positiva, racional e metódica em relação aos pro- blemas administrativos, objetivando maximizar a produtividade. Taylor propôs métodos e sistemas racionais e disciplinados voltados ao operário, colocando-o sob comando da gerência. Segundo Matos e Pires (2006, p. 509): “ [...] promovendo a seleção rigorosa dos mais aptos para realizar as tarefas; a fragmentação e hierarquização do trabalho. Investiu nos estudos de tempos e movimentos para me- lhorar a eficiência do trabalhador e propôs que as atividades complexas fossem dividi- das em partes mais simples facilitando a ra- cionalização e padronização. Propõe incen- tivos salariais e prêmios pressupondo que as pessoas são motivadas exclusivamente por interesses salariais e materiais de onde surge o termo ‘homo economicus’ [...]. Outra corrente teórica relevante foi desenvolvida por Henry Ford, por volta de 1913, pautada nos mesmos princípios de Taylor, entretanto, com uma abordagem abrangente de organização da produ- ção, contemplando extensa mecanização, como o uso de máquinas e ferramentas especializadas em uma linha de montagem e formato de esteira rolante e crescente divisão do trabalho (LARAN- JEIRA, 1999). A título de comparação, antes de Ford surgir com o sistema de produção por esteiras, a fabrica- ção de um veículo Ford T levava, em média, 12,5 horas. Após a revolução na indústria trazida por meio da linha de montagem de Ford, em que cada trabalhador realizava uma função específica, esse tempo foi reduzido para, pasmem, 93 minutos (SZEZERBICKI; PILATTI; KOVALESKI, 2004). A partir do momento em que se aumenta o passivo ambiental gerado com os resíduos de- correntes dos meus processos produtivos, even- tualmente passa-se a ter problemas relacionados ao impacto das atividades, principalmente in- dustriais, no meio ambiente em que estou inse- rido, seja ele natural ou artificial. A população passa a ter problemas de saúde relacionados a potenciais agentes poluidores, aumenta-se o custo com limpeza pública, além de, é claro, os danos causados à fauna e flora nativas. Surgem políticas públicas (leia-se multas) que abordarão esses problemas. Logo, as indústrias não teriam mais que se adaptar aos modelos sugeridos pelos gestores, mas sim os gestores passaram a se adap- tar às necessidades dos processos e das empresas, buscando torná-las competitivas e, sobretudo, lucrativas (XAVIER et al., 2015). 24 Meio Ambiente e Sustentabilidade Em face dos desafios existentes, os profissionais desse segmento passaram a deparar-se não somente às necessidades de cada empresa, mas também com as preocupações com o meio ambiente, que con- sistem em alinhar as questões ambientais (legislações ambientais pertinentes), de forma a interferir minimamente nos lucros da empresa, buscando a sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável. Qual a diferença entre esses dois termos? A partir de agora, iremos, juntos, conhecer as mais diversas definições, variáveis e aplicações relacionadas a esse conceito. 25UNIDADE 1 Em 1987, surge o conceito de desenvolvimen- to sustentável como resultado das reflexões da Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desen- volvimento, patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU). O relatório publicado pela comissão ficou conhecido como o “Relatório de Brundtland”, em homenagem à coordenadora da comissão Gro Harlem Brundtland. O relatório in- titulado “Nosso futuro comum” ou “Our commom future” versava sobre a desigualdade econômica entre os países e apontava a pobreza como uma das grandes causas dos problemas ambientais; como solução, o relatório apontou detalhadamen- te as medidas, esforços e desafios que deveriam ser superados para que fosse possível alcançar o de- senvolvimento sustentável (XAVIER et al., 2015). Nesse instante é que foi introduzida a ideia de que o desenvolvimento econômico atual deve ocorrer sem comprometer as necessidades das gerações vindouras (SEIFFERT, 2009). Sendo considerado um marco inovador em raciocínio ambiental da época, o relatório discorreu sobre: O Que é Desenvolvimento Sustentável? 26 Meio Ambiente e Sustentabilidade “ [...] estratégias ambientais de longo prazo para obter um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000 e daí em diante; reco- mendar maneiras para que a preocupação com o meio ambiente se traduza em maior cooperação entre os países em desenvolvi- mento e entre países em estágios diferentes de desenvolvimento econômico e social e leve à consecução de objetivos comuns e in- terligados que considerem as inter-relações de pessoas, recursos, meio ambiente e desen- volvimento (DRUMMOND, [2019],on-line). Para alcançar esses objetivos, Souza Filho (2008) sugere que os países em desenvolvimento priori- zem políticas que fomentem: a reciclagem, o uso eficiente de energia, a conservação, a recuperação de áreas degradadas, a busca pela equidade, justi- ça, redistribuição e geração de riquezas. Ao seguir tais recomendações, o desenvolvimento alcan- çado será diferente do crescimento econômico, indo além da “riqueza” material, alcançando me- tas e reparando desigualdades passadas. Segundo Barbieri e Cajazeira (2009), o desenvolvimento sustentável se ampara nos pilares: Sustentabilidade social: que representa a equidade na distribuição dos bens e da renda para melhorar os direitos e condições da população, e reduzir as distâncias entre os padrões de vida das pessoas. Sustentabilidade econômica: representa a distribuição e gestão eficiente dos recursos pro- dutivos, bem como fluxo regular deinvestimentos público e privado. Sustentabilidade ecológica: busca pela dimi- nuição de carga de impactos ou pressão exercida sobre o planeta para evitar danos ao meio ambien- te, principalmente os causados pelos processos do crescimento econômico. Sustentabilidade espacial: que se refere ao equilíbrio do assentamento humano rural/urbano. Sustentabilidade cultural: diz respeito à pluralidade de soluções particulares específicas a cada ecossistema, cada cultura e cada local. Considerando essas vertentes estruturantes do desenvolvimento sustentável, será comum, ao longo de sua jornada acadêmica e profissio- nal, encontrar bibliografias que os apresentem divididos em três dimensões básicas, conforme a Figura 2, a seguir: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EC O N O M IC AM EN TE VI ÁV EL AM BI EN TA LM EN TE CO RR ET O SO CI A LM EN TE JU ST O Figura 2 - Pilares do Desenvolvimento Sustentável Fonte: o autor. 27UNIDADE 1 Em primeira instância, a sustentabilidade é um conceito antigo que vem sendo discutido e apri- morado por décadas, sendo alguns eventos, encon- tros, manifestos e a própria realidade social, econô- mica e ambiental responsáveis pela definição atual como a conhecemos. Segundo Almeida (1997), a noção de sustentabilidade deve ser tomada como ponto de partida para a compreensão e interpre- tação de processos sociais e econômicos e de suas relações com o equilíbrio dos ecossistemas. As discussões iniciais sobre sustentabilidade foram de responsabilidade do Clube de Roma, em 1968. Segundo Kruger (2001), o Clube de Roma correspondia a uma organização formada por cientistas, pedagogos, economistas, representan- tes da indústria e colaboradores reunidos com o objetivo de debater a crise da humanidade. Antes de surgirem as discussões acerca de sus- tentabilidade e sobre o desenvolvimento susten- tável, veio à tona o termo ecodesenvolvimento, idealizado por Ignach Sachs, por volta de 1970, que antecipou a formalização dos ideais promo- vidos pela sustentabilidade, porém, na época, o autor discutia o papel do homem no processo de desenvolvimento, como protagonista ou vítima (CACHON, 2007). De que se Trata a Sustentabilidade? 28 Meio Ambiente e Sustentabilidade Ainda, segundo Cachon (2007), o ecodesen- volvimento significa um desenvolvimento socioe- conômico equitativo e implica na escolha de um processo de desenvolvimento ou crescimento que também contemple a dimensão ambiental e reco- nheça sua importância; a problemática relaciona- da a esse conceito ocorreu em função da dicotomia entre os termos “crescimento” e “desenvolvimento”, uma vez que o crescimento ocorre em termos eco- nômicos, em determinado tempo, em dado espaço territorial; enquanto o desenvolvimento se dá em função da distribuição equitativa dos resultados do crescimento para a população. Logo, somente o crescimento não induz es- pontaneamente à equidade social e tampouco à eficiência alocativa de recursos naturais, seria necessária a coordenação pública, presença da sociedade civil em um processo cooperativo para alcançar o desenvolvimento equitativo que não degrade ambiente (MENEGETTI, 2004). Já a sustentabilidade, segundo a World Comission on Environment and Development, propõe estar diretamente ligada ao desenvolvimento econômi- co sem a agressão do meio ambiente, utilizando recursos de forma inteligente, garantindo, assim, o desenvolvimento sustentável (WCED, 1987). As mais diversas reflexões sobre desenvolvi- mento sustentável e sustentabilidade buscam, em geral, possibilitar a construção de processos eco- nômicos e sustentáveis dentro dos mais variados segmentos, como a agricultura sustentável, in- dústria sustentável, sociedade sustentável, dentre outros. Em uma analogia simples, Merico (2002) sugere que ser sustentável é tornar as “coisas” per- manentes ou duráveis. Portanto, caro(a) aluno(a), a transição de uma simples consciência susten- tável social para o desenvolvimento sustentável propriamente dito caracteriza-se como um pro- cesso bastante lento, que requer paciência, tempo e, sobretudo, participação ativa da sociedade na construção de projetos, leis e políticas públicas. Exato! A cidadania e a ética se fazem mais que relevantes quando se discute essas temáticas! Desde a revolução industrial, tais temas têm sido enfoque de eventos, conferências e debates, em especial por tratar-se de um desafio coletivo e de escala global. Tal afirmação se faz relevante, pois a coletividade, mencionada anteriormente, con- templa os mais variados “setores” da sociedade, em especial o coorporativo (XAVIER et al., 2015). Na Tabela 2, estão sumarizados diversos marcos histó- ricos relevantes para a definição desses conceitos: 29UNIDADE 1 Tabela 2 - Marcos históricos que contribuíram para o desenvolvimento dos conceitos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável MARCO HISTÓRICO ANO DESCRIÇÃO Clube de Roma 1968 Dentre outras funções citadas anteriormente, o clube de Roma possuía, por finalidade, discutir sobre temáticas ou complexo de problemas re- levantes para o período, como: a degradação ambiental; a crescente pobreza em meio a riqueza; o crescimento urbano descontrolado; a insegurança econômica, e outras questões monetárias. O clube de Roma ainda pregava pela visão sistêmica de compreensão global, em outras palavras, defendiam que era possível compreender o mundo com um sistema único. Conferência de Estocol- mo 1972 Essa conferência foi considerada um marco ambiental internacional contemporâneo, pois foi a primeira reunião mundial a tratar da temáti- ca em escala global. As temáticas lá debatidas continuam a influenciar a importantes discussões e, principalmente, a formulação de políticas ambientais por todo o mundo. A conferência produziu a “Declaração sobre o Meio Ambiente Humano”, que corresponde a uma declaração dos princípios e responsabilidades que deveriam nortear as decisões concernentes ao meio ambiente. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) 1972-1973 Criada como uma agência da ONU voltada para as temáticas ambientais e considerada uma “consequência” à conferência de Estocolmo, a agência atua apoiando instituições em seus processos de governança ambien- tal, estando relacionada a uma ampla gama de instituições dos setores governamentais, não governamentais, acadêmico e privado. A agência internacional avalia as condições e tendências ambientais globais; o de- senvolvimento de instrumentos ambientais nacionais e internacionais. Dentre seus objetivos, figuram o monitoramento do meio ambiente em escala global; alertar as nações sobre os problemas ambientais existen- tes; e a recomendação de medidas que auxiliem na qualidade de vida da população, buscando o não comprometimento dos recursos naturais e serviços ambientais para as futuras gerações. Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desen- volvimento (CNUMAD) 1992 Aprovada pela Assembleia das Nações Unidas, em 1989, a Cnumad é também conhecida como Rio-92. Dentre os efeitos mais efetivos da Rio- 92, destacam-se a criação da Convenção da Biodiversidade e das Mu- danças Climáticas (que posteriormente resultou no Protocolo de Kyoto), a Declaração do Rio e a Agenda 21. A Declaração do Rio relaciona meio ambiente e desenvolvimento, mediante uma boa gestão dos recursos naturais e sem comprometer o modelo econômico expansionista da épo- ca. Já a agenda 21 caracteriza-se como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis em diferentes localidades geográficas, a agenda concilia métodos de eficiência econômica, proteção ambiental e justiça social. Protocolo de Kyoto 1997 Também considerado um grande marco, o protocolo estabeleceu metas para a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa e propôs mecanismos adicionais de implementação para que esse objetivo fosse alcançado. Dentre os mecanismos propostos, encontrava-se o mecanis- mo de desenvolvimento limpo(MDL), que possibilitava a participação de países em desenvolvimento em cooperação com países desenvolvidos. O objetivo desse mecanismo consistia na redução das emissões mediante os investimentos em tecnologias eficientes, a substituição de fontes tra- dicionais de energia fósseis por renováveis, a racionalização do uso de energia, o reflorestamento, entre outros. 30 Meio Ambiente e Sustentabilidade A Cúpula Mundial so- bre Desen- volvimento Sustentável (CMDS) ou Rio+10 2002 O propósito dessa conferência foi obter um plano de ação factível. Dentre os desafios citados no documento, persistiam diversos problemas am- bientais globais. Entretanto, foram, pela primeira vez, mencionados os problemas relacionados à globalização, uma vez que os benefícios e os custos a ela atrelados estão distribuídos desigualmente. Foi apontado, também, o risco das condições extremas de pobreza gerar a desconfiança nos sistemas democráticos, resultando no surgimento de sistemas dita- toriais. Como medidas detalhadas, foram sugeridos aumentar a proteção da biodiversidade e o acesso à água potável, ao saneamento, ao abrigo, à energia, à saúde e à segurança alimentar, bem como priorizar o combate a diversas situações adversas: fome crônica, desnutrição, ocupação es- trangeira, conflitos armados, narcotráfico, crime organizado, corrupção, desastres naturais, tráfico ilícito de armas, tráfico de pessoas, terrorismo, xenofobia, doenças crônicas transmissíveis (aids, malária, tuberculose e outras), intolerância e incitação a ódios raciais, étnicos e religiosos. Para atingir os objetivos, o documento ressalta a importância de instituições multilaterais e internacionais mais efetivas, democráticas e responsáveis. Rio + 20 2012 Realizada no Rio de Janeiro, a conferência teve por objetivo renovar o comprometimento dos líderes mundiais com o desenvolvimento sus- tentável. O documento confeccionando após o evento foi intitulado “O Futuro que Nós Queremos”, e retrata as principais ameaças ao planeta, sendo alguns exemplos: a desertificação, o esgotamento dos recursos pesqueiros, contaminação, desmatamento, extinção de espécies e aque- cimento global. Fonte: adaptada de Kruger (2001); Alencastro (2012); Brasil (2004); Lopes (2002); Paschoaleto et al. (2014); CDMAALC (1991); Viana, Silva e Diniz. (2001). Torna-se interessante observar como se deu a tra- jetória histórica desses conceitos e como diversas dificuldades foram superadas. Lembrando que não foram apenas estes os eventos que influen- ciaram a temática ambiental em escala global como a conhecemos, inúmeros outros tiveram grande relevância, assim como inúmeros outros serão responsáveis por alterar o cenário atual das condições ambientais. Neste ponto de sua leitura, você deve estar se perguntando: afinal, o que di- ferencia a sustentabilidade do desenvolvimento sustentável? Iremos elucidar! Segundo Dovers e Handmer (1992), a sustentabilidade se caracteriza como a capacidade de um sistema, seja ele humano, natural ou misto, de adaptar-se à mudança interna ou externa por tempo indeterminado; já o desenvolvimento sustentável é uma via de melhoria e mudança intencional que responde às necessidades populacionais atuais. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/586 31UNIDADE 1 Na primeira visão, o desenvolvimento susten- tável trata do caminho para alcançar a sustenta- bilidade, sendo ela considerada o objetivo final a ser alcançado a longo prazo. Entretanto, é válido destacar que pautado em algumas das discussões ambientais da época, em 1994, Elkington criou o termo “Triple Bottom Line” ou Tripé da Sustentabilidade, definindo sustentabilidade como o equilíbrio dos pilares: ambiental, social e econômico, dando origem à famosa imagem da sustentabilidade amplamente utilizada no segmento empresarial. No contexto empresarial, espera-se que as empresas contribuam de forma progressiva com a sustentabilidade, sobretudo quando precisam de mercados estáveis; e, para tanto, elas devem possuir habilidades tecnológicas, financeiras e de gerenciamento, que possibilitem a transição rumo ao desenvolvimento sustentável (ELKINGTON, 2001). Temos aqui, caro(a) aluno(a), uma segunda visão, diferente da primeira: em que o desenvol- vimento sustentável é o objetivo a ser alcançado e a sustentabilidade é o processo para se atingir o desenvolvimento sustentável. Para fins didáticos, a menos que indiquemos o contrário, utilizaremos durante o livro a primeira definição de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Iremos explorar as ferramentas da sustentabilidade no contexto empresarial em um segundo momento. O relevante, aqui, é compreender que ambas as abordagens estão corretas e que o amplo in- teresse e busca por esses conceitos fez com que diversas abordagens ambientais surgissem nos mais variados segmentos, como economia, engenharia, ecologia, administração e outros, sendo as estratégias listadas a seguir, segundo Glavic e Lukman (2007), “derivadas” desses conceitos: Produção mais limpa Controle de poluição Ecoeficiência Gestão Ambiental Responsabilidade Social Ecologia Industrial Investimentos éticos Economia Verde Ecodesign Reúso Consumo sustentável Resíduos zero, e outros 32 Meio Ambiente e Sustentabilidade Todos esses conceitos citados serão muito relevantes e se farão presentes ao longo de sua carreira como futuro profissional desse segmento, seja como um desafio ou requisito de implementação ou como um objetivo a ser alcançado! As ferramentas de susten- tabilidade empresarial serão apresentadas nas próximas unidades. Os diferentes selos ambientais existentes possuem como fina- lidade informar aos consumidores que determinados produtos passaram por auditorias internas ou autorreguladoras e externas ou independentes de qualidade. Saiba mais sobre os diferentes selos de qualidade acessando: https://sustentarqui.com.br/uma- -breve-historia-sobre-os-selos-verdes/. Nesta unidade, inicialmente, foi apresentada uma breve introdução pautada em eventos históricos que discorreu sobre a capacidade do ser humano de alterar o ambiente a sua volta. Tal discussão teve, por finalidade, não apenas apresentar as características evolutivas que fizeram do homem o ser vivo capaz de modificar o ambiente em que vive de forma favorável ao seu desenvolvimento, mas também explicitar que tais alterações ambientais foram necessárias para separar o homem da condição animal e foram, ainda, responsáveis pela história como nós a conhecemos. Vimos como o advento da produção fomentada pela revolução industrial e as conquistas sociais influenciadas por esse período afetam positivamente nosso modelo social até os dias atuais. Finalmente, conceituamos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável e conhecemos alguns marcos históricos na definição desses termos que ressoam na realidade das empresas até hoje. Os conceitos aprendidos e as discussões apresentadas objetivam incitá-lo(a) a ter uma visão crítica acerca dos impactos ambientais decorrentes da ação humana e, dessa forma, buscar soluções pau- tadas na Engenharia que poderão sanar boa parte dos problemas encontrados na produção de bens e serviços atualmente. Na próxima unidade, abordaremos alguns conceitos relacio- nados a como o planeta Terra se comporta frente aos diferentes elementos químicos presentes em sua constituição atmosférica, terrestre e aquática, bem como a relação que esses elementos pos- suem com os demais seres vivos. Até já! 33 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. O termo “Meio Ambiente” sofre alterações de acordo com o contexto histórico e evolui com o passar do tempo, à medida que instituições e governos em nível internacional se reúnem para discutir as questões ambientais. É um erro pensar que “Meio Ambiente” inclui apenas a fauna e a flora locais, como as florestas, rios e lagos. Assim, descreva,em suas palavras, o que entendemos atualmente por “Meio Ambiente”. 2. A Curva Ambiental de Kuznets (CAK) tem a mesma forma do “U invertido”, mas é aplicada para a área ambiental. A CAK tem sido usada pelas pessoas que defendem o desenvolvimento econômico como uma prioridade em relação ao meio ambiente. A ideia básica é que o desenvolvimento só causa grandes pro- blemas ambientais em suas etapas iniciais. Porém, a partir de um certo ponto, o desenvolvimento econômico e o tecnológico levariam a uma menor degradação ambiental. Portanto, segundo o otimismo kuznetiano, altas doses de desenvol- vimento seriam úteis também para salvar a natureza (ALVES, 2012, on-line)1. A respeito da degradação ambiental sob a ótica capitalista, podemos afirmar que a degradação ambiental diminui à medida que: I) A população passa a exigir mais qualidade ambiental com o aumento de sua renda. II) Os hábitos de consumo e produção são alterados com a evolução das tec- nologias. III) Aumenta-se o nível de conscientização e educação ambiental da população. IV) Surgem sistemas políticos mais voltados às questões ambientais. Está correto o que se afirma em: a) II, apenas. b) I e III, apenas. c) I, II, III e IV. d) III e IV, apenas. e) II e III, apenas. 34 3. Foram concluídas, em agosto de 2015, as negociações que culminaram na ado- ção, em setembro, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), por ocasião da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Processo iniciado em 2013, seguindo mandato emanado da Conferência Rio+20, os ODS deverão orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos próximos quinze anos, sucedendo e atualizando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) (BRASIL, [2019], on-line)2. A questão do Desenvolvimento Sustentável ganha bastante relevância no con- texto empresarial atual e baseia-se nos seguintes pilares: I) Socialmente justo. II) Humanamente possível. III) Economicamente viável. IV) Politicamente correto. V) Ambientalmente correto. É correto o que se afirma em: a) I, somente. b) II e V, somente. c) II e IV, somente. d) I, II, III, IV e V. e) I, III e V, somente. 35 Introdução à Engenharia Ambiental: o desafio do desenvolvimento sustentável Autor: Benedito Braga, Ivanildo Hespanhol, João G. L. Conejo, José C. Mierzwa, Mario T. L. de Barros, Mailton Spencer, Monica Porto, Nelson Nucci, Nelsa Juliano e Sérgio Elger. Editora: Pearson Sinopse: escrito por um grupo de professores pioneiros no estudo e no ensino do tema, esse livro procura relacionar a engenharia com outras áreas do conhe- cimento, já que transmite a visão da engenharia em relação ao meio ambiente, além de apresentar a questão do conflito entre os aspectos socioeconômicos e os ambientais como um dos grandes desafios da engenharia no futuro. Essa nova edição leva em conta o dinamismo dos temas e dos próprios sistemas abordados, atualizando dados e conceitos e incluindo um novo capítulo sobre métodos de gestão corporativa para o meio ambiente e prevenção da poluição. Destinado aos cursos de engenharia, esse livro também atende às necessidades de profis- sionais de outras áreas interessados no presente e no futuro do meio ambiente. LIVRO Uma Verdade Inconveniente Ano: 2006 Sinopse: o cineasta Davis Guggenheim acompanha Al Gore, o ex-candidato à presidência dos EUA, no circuito de palestras para conscientizar o público sobre os perigos do aquecimento global, e pede uma ação imediata para conter seus efeitos destrutivos ao meio ambiente. FILME 36 ALENCASTRO, M. S. C. Empresas, ambiente e sociedade: introdução à gestão socioambiental corporativa. Curitiba: InterSaberes, 2012. ALMEIDA, J. A problemática do desenvolvimento sustentável. In: BECKER, F. D. (orgs). Desenvolvimento sustentável: necessidade e/ou possibilidade? Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1997. ANDERSON, K. Environmental standards and international trade. In: BRUNO, M.; PLESKIVIC, B. (ed.). Annual World Bank Conference on Development Economics. Washington: World Bank, 1996. AZEVEDO, P. R. Consumo sustentável: possibilidade de equilíbrio entre teoria neoclássica e psicologia econômica. 2009. 86 f. 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E. 41 42 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Classificar os seres vivos de acordo com sua complexidade e influência no planeta Terra. • Explicar como as dinâmicas ambientais influenciam o de- senvolvimento de todos os seres vivos. • Introduzir o conceito de ciclos biogeoquímicos e dos com- portamentos dos elementos no planeta. Hierarquia e Organização Ecológica Fatores Limitantes ao Desenvolvimento dos Seres Vivos Ciclos Biogeoquímicos Esp. João Marcos Pardo Me. Gustavo Affonso Pisano Mateus Dinâmicas Ambientais Hierarquia e Organização Ecológica Prezado(a) aluno(a), nesta segunda unidade, ire- mos explorar alguns conceitos relacionados à bio- logia e à ecologia conservacionista, a fim de conhe- cer e conceituar corretamente os diferentes níveis ou hierarquias de organização ecológica existentes. Iremos conhecer algumas das dinâmicas am- bientais naturais que serão apresentadas, a fim de elucidar suas finalidades e subsidiar a compreen- são das mais amplas dimensões que os impactos ambientais podem afetar, sendo estes relacionados à distribuição de recursos e/ou às alterações das condições ambientais favoráveis ao desenvolvi- mento dos indivíduos ou, ainda, relacionadas às alterações nos ciclos biogeoquímicos existentes e observados na biosfera terrestre. Ciclos biogeoquímicos envolvem os diversos ele- mentos presentes na atmosfera, solo e águas do pla- neta Terra. Cada um desses ciclos é importante para a sobrevivência dos diferentes tipos de organismos vivos. Sua utilização e reposição no meio ambiente, dentro de um período de tempo, é fundamental. A partir de agora, daremos atenção ao co- nhecimento de alguns conceitos básicos acerca das dinâmicas ambientais existentes. Torna-se importante conhecer as dinâmicas ambientais naturais para que seja possível compreender, efe- tivamente, a extensão dos impactos ambientais 45UNIDADE 2 causados pelas ações antrópicas e também pelos processos produ- tivos. Inicialmente, iremos relembrar acerca da hierarquia dos ní- veis ecológicos ou hierarquia dos níveis de organização ecológica. A hierarquia dos níveis ecológicos é representada pela seguinte cadeia inicial: Assim, temos uma breve re- tomada evolutiva da formação dos indivíduos e, com diferen- tes indivíduos, passamos à se- guinte cadeia: ORGANISMO POPULAÇÕES COMUNIDADES OU BIOCENOSE ECOSSISTEMAS BIOMAS BIOSFERA ÁTOMO MOLÉCULA ORGANELAS CELULARES CÉLULA TECIDO ÓRGÃOS SISTEMAS ORGANISMOS 46 Dinâmicas Ambientais Lembrando que cada subconjunto apresentado é menor do que o próximo, sendo a biosfera considerada o maior nível. A Figura 1 representa todo o sistema de hierarquização ecológico. Figura 1 - Sistema de Hierarquização Ecológico Fonte: adaptada de Quizlet (on-line)1. Conhecer esses níveis hierárquicos se torna relevante, pois nos auxilia a compreender a dimensão dos impactos causados e sua extensão biológica. Sendo assim, vamos às definições, com enfoque nos níveis superiores, iniciando nos organismos. 47UNIDADE 2 • Organismo: uma forma de vida indivi- dual e livre, composta pela associação de sistemas, órgãose tecidos que operam e realizam suas funções de forma conjunta para proporcionar as condições favoráveis à vida. Para a ecologia, trata-se de uma uni- dade fundamental de estudos. • Populações: populações podem ser de- finidas como grupos de indivíduos per- tencentes a uma mesma espécie presente e ocupante de uma determinada área por um período de tempo. Além disso, uma população apresenta como característica uma ampla probabilidade de realizar cru- zamento entre si, quando consideramos fatores, como localização geográfica e ou- tros fatores favoráveis. • Comunidades: consistem de populações que coexistem e habitam o mesmo am- biente; interagindo de forma organizada, é denominada comunidade, sendo cada indivíduo associado a seu respectivo nicho ecológico existente. • Ecossistemas: trata-se de um meio no qual os organismos interagem com o meio ambiente, realizando trocas de matéria e energia pelas vias existentes. Em outras palavras, é a interação dos seres bióticos (seres vivos) com os abióticos (solo, água, recursos minerais, dentre outros). • Biomas: segundo Colinvaux (1993), um bioma é composto por um conjunto de ecos- sistemas, em uma larga escala geográfica, no qual as plantas ou as formações vegetais se destacam como características, assim como suas especificidades climáticas. São exem- plos de biomas brasileiros: a Caatinga, o Cerrado, a floresta amazônica, a mata atlân- tica, o Pantanal, os pampas, dentre outros. • Biosfera: a biosfera se caracteriza como a junção das interações que ocorrem entre a atmosfera, hidrosfera e a litosfera. Sendo cada uma delas, segundo Rosa, Messias e Ambrozini (2003), correspondente às se- guintes porções: » Atmosfera: porção gasosa da Terra e seus componentes. » Hidrosfera: porção aquosa da Terra e seus componentes. » Litosfera: porção mineral da Terra e seus componentes. O conhecimento apropriado sobre esses conceitos nos faz refletir sobre a proporção dos impactos causados, não só em uma escala empresarial/ industrial, mas também como nossas atitudes cotidianas podem desencadear impactos mais amplos e significativos do que o imaginado. Para realizar um manejo adequado de uma atividade impactante, segundo Peroni e Hernandéz (2011), é essencial considerar todas as características e di- nâmicas das populações, comunidades e ecossis- temas envolvidos, especialmente quando as ações humanas podem favorecer o desenvolvimento de uma população, enquanto outras podem aumen- tar o número de mortes. 48 Dinâmicas Ambientais Quando pensamos em fatores limitantes ao de- senvolvimento dos seres vivos, somos imediata- mente direcionados aos recursos disponíveis. Cla- ro que existe uma relação entre disponibilidade de recursos e o desenvolvimento de uma população, assim como a retirada de recursos pode levar à extinção de determinada população. Segundo Santos (2006), a variação na densidade populacio- nal está relacionada aos fatores que influenciam nas taxas de natalidade, mortalidade, imigração e emigração. Como mencionado anteriormente, os fatores ecológicos podem ser classificados em bióticos e abióticos; porém, devemos levar em consideração que sua importância varia de acordo com o am- biente ou área estudada/impactada e de acordo com a pressão exercida sobre os recursos renová- veis e não renováveis. Para facilitar a compreensão, vamos conhecer um pouco mais sobre os fatores ecológicos que são limitantes ao crescimento dos seres vivos. Fatores Limitantes ao Desenvolvimento dos Seres Vivos 49UNIDADE 2 Conforme Lovato (1993), a intensidade da luz solar incidente afeta a fotossíntese dos vegetais, cresci- mento da parte aérea, distribuição da matéria seca e, consequentemente, o rendimento fotossintetizante, exercendo efeitos sobre outros fatores ambientais, principalmente a temperatura. Sobre ambientes aquáticos continentais e costeiros, o grau de intensidade luminosa está relacionado à atividade de algas flutuantes e sésseis e da diversidade de seres planctônicos. A intensidade da luz ainda serve como parâmetro indicativo da quantidade de partículas em suspensão (turbidez). Em relação aos animais, a luminosidade está diretamente relacionada a hábitos de repouso ou ativi- dade, uma vez que haverá atividade animal nos mais variados nichos ecológicos diurnos, noturnos e crepusculares. A variação desse fator se relaciona com a hibernação de mamíferos, o metabolismo de seres exotérmicos e com a migração em aves (SANTOS, 2006). O fator temperatura se destaca como um dos mais relevantes, pois afeta diretamente na distribuição de espécies animais e vegetais, influenciando todas as fases do ciclo vital dos seres vivos. Atualmente, existe grande discussão acerca dos efeitos que são observados e que serão observados no futuro, de- vido às mudanças climáticas geradas pela liberação excessivas de gases relacionados ao efeito estufa na atmosfera. Para os vegetais, a temperatura influi grandemente o rendimento de tubérculos, uma vez que afeta a fotossíntese e a respiração. A magnitude do seu efeito depende de quanto influencia no desenvolvi- mento da parte aérea, na distribuição da matéria seca produzida e, consequentemente, na qualidade de suporte do solo (LOVATO, 1993). No caso dos animais, para a temperatura ambiente, são definidas zonas de conforto térmico e de termo- neutralidade específicas para as diferentes espécies de animais (PORTUGAL; PIRES; DURAES, 2000). É fato que a umidade e o acesso à água são dois fatores primordiais para a distribuição da fauna e da flora global. Entretanto, a umidade é diretamente influenciada pela disponibilidade de recursos hídri- cos, pela temperatura e pela intensidade luminosa. Quando associado o fator temperatura, torna-se responsável pelo conforto térmico de animais e pelo fator determinante na respiração e transpiração vegetal. Na agricultura de precisão, por exemplo, a umidade do solo se torna um fator limitante e imprescindível, especialmente quando se tem por objetivo um manejo adequado do solo visando ao aumento na produção. Luz ou intensidade luminosa Temperatura Umidade 50 Dinâmicas Ambientais A salinidade e o potencial de hidrogênio iônico (pH) são fatores primordiais para a abundância dos seres vivos, especialmente em ambientes aquáticos continentais e costeiros. Com exceção de algumas bactérias que toleram condições ex- tremas, os demais seres vivos não toleram pHs extremamente ácidos (abaixo de 3) ou extrema- mente alcalinos (acima de 9). Esses parâmetros costumam sofrer alterações imediatas após o despejo de efluentes ou substân- cias sem o devido tratamento em corpos hídricos, A disponibilidade de recursos pode ser considerada o fator mais relevante para a sobrevivência e de- senvolvimento de espécies, especialmente quando associada à capacidade de adaptação ou tolerância às condições locais. Os organismos ou indivíduos podem tolerar alterações bruscas no ambiente por um curto período de tempo, ou seja, as condições para o desenvolvimento de cada espécie são sempre espécie-específicas. Entretanto, os indivíduos e suas atividades não irão esgotar os recursos disponíveis; via de regra, isso acontece sob condições de estresse populacional (quando, por alguma razão não natural, eles são forçados a consumir outra fonte de alimento ou quando há a introdução de uma espécie exótica no ambiente em questão) e quando o ser humano esgota esses recursos ou passa a utilizá-los de forma não racional. Um exemplo de estresse populacional pode ser competição intra e interespecífica, devido à diminuição de espaço ou território útil. Recursos alterando, drasticamente, as condições favoráveis ao desenvolvimento da fauna e da flora aquática e consequentes dos demais seres vivos que se uti- lizam da água disponível para sua sobrevivência/ atividades. Sobre os vegetais, esses parâmetros influenciam na absorção dos nutrientes pelas raízes, limitam o desenvolvimento de fungos benéficos às plantas nos ambientes aquáticos. No solo,também levam à limitação da produção vegetal, dificultando o desenvolvimento de culturas ou espécies vegetais. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/587 51UNIDADE 2 Neste tópico, caro(a) aluno(a), iremos conhecer as dinâmicas elementares existentes na biosfera, mencionadas logo no início desta unidade. Des- considerando os eventos catastróficos isolados e específicos que acontecem de maneira esporádica na história da humanidade, é possível afirmar, de forma grosseira, que nosso planeta é constituí- do por um sistema químico/biológico/geológico fechado, cujas reações responsáveis pela manu- tenção da vida aqui existente são influenciadas e regidas pela energia solar. Entretanto, historicamente, inúmeras altera- ções aconteceram na superfície terrestre, modi- ficando a biosfera e impulsionando o desenvol- vimento da vida como nós a conhecemos. Dentre essas alterações, podemos destacar a interação en- tre o oxigênio presente na atmosfera com a litos- fera e a hidrosfera, e o advento/desenvolvimento dos seres fotossintetizantes. Neste contexto, e em face dessas alterações, a complexidade das reações e interações bioquímicas, ou ciclos biogeoquími- cos, que acontecem na biosfera terrestre, passaram a ser diferentes, ao passo que pouquíssimas rea- ções do nosso planeta ocorrem sem influência direta ou indireta da biosfera. Ciclos Biogeoquímicos 52 Dinâmicas Ambientais Portanto, podemos definir ciclo biogeoquímico segundo Rosa, Messias e Ambrozini (2003, p. 9): “ [...] Os ciclos biogeoquímicos são processos que por diversos meios reciclam vários ele- mentos em diferentes formas químicas, do meio ambiente para os organismos e depois, fazem o processo contrário, ou seja, trazem esses elementos dos organismos para o ambiente. Desta forma a água, o carbono, o oxigênio, o nitrogênio, o fósforo, o cálcio e outros elementos, percorrem esses ciclos, unindo todos os componentes vivos e não vivos da Terra. No contexto anteriormente apresentado, um ci- clo biogeoquímico pode ser entendido como o movimento ou a ciclagem de elementos químicos específicos pela biosfera, que podem ou não sofrer influência antrópica. Ainda, em uma perspectiva histórica, as al- terações químicas e biológicas que acontecem na biosfera e que têm origem natural passaram a acontecer de forma “lenta”, sendo as alterações e reações que acontecem de forma acelerada fo- mentadas por uma pressão externa, destacando- -se, principalmente, a intervenção antrópica. Devemos compreender e reconhecer que as reações bioquímicas que ocorrem atualmente na superfície terrestre agora sofrem alguma influência direta ou indireta do homem e dos processos de- senvolvidos, sendo necessário que a humanidade passe a contribuir com soluções para as diferentes problemáticas ambientais existentes. Para tanto, inicialmente, torna-se necessário conceituar e compreender os diferentes ciclos biogeoquímicos que, devido sua relevância, irão nos orientar a uma compreensão sistemática da dinâmica na biosfera. O Ciclo da Água A água é de fundamental importância para a ma- nutenção da vida na Terra, portanto, discutir sua relevância, nas mais diversas dimensões, implica em discutir: a sobrevivência da espécie humana, o equi- líbrio e a conservação da biodiversidade e as relações de dependência dos seres vivos para com os ambien- tes naturais (LA CORTE BACCI; PATACA, 2008). Um ciclo biogeoquímico está intimamente relacionado aos diferentes processos biológicos, hidrológicos e geológicos, sendo estes referentes à disponibilização e redisponibilização de um ele- mento específico, no presente caso, a água. 53UNIDADE 2 O ciclo da água ganha destaque uma vez que é responsável pela maior movimentação de uma substância química pela superfície terrestre. No ciclo da água, inúmeros processos ocorrem para a re- disponibilização da água, que podem incluir os diferentes estados físicos dessa matéria: líquido, sólido e gasoso. Os processos envol- vidos no referido ciclo estão expressos no quadro a seguir. Quadro 1 - Fenômenos envolvidos no Ciclo da Água PROCESSO FENÔMENOS QUE OCORREM NO PROCESSO Liquefação Também chamado de condensação, marca a transição do estado gasoso para o estado líquido decorrente do resfriamento (arrefecimento). Por exemplo: o orvalho das plantas. Fusão Transição do estado sólido para o líquido, induzida por diferentes fontes de energia, sendo a principal a energia solar (em forma de calor). Esse processo ocorre quando a energia na forma de calor é su- perior ao ponto de fusão (0 ºC) da água em estado sólido. Solidificação Transição do estado líquido para o estado sólido mediante a temperaturas iguais ou inferiores a 0 ºC. Sublimação Transição do estado sólido para o estado gasoso, via aquecimento. Também denomina a mudança do estado gasoso para o estado sólido (ressubli- mação) por arrefecimento. Vaporização Transição do estado líquido para o gasoso, no qual o ponto de ebulição da água é alcançado em 100 ºC. Dentro desse processo, destacam-se a ebulição e a evaporação que relacionam-se à velocidade de aquecimento, sendo rápida ou lenta, respec- tivamente. Fonte: adaptado de Peruzzo e Canto (2003). Os diferentes processos desse ciclo em ambientes naturais podem ser observados no elemento de Realidade Aumentada a seguir. A água pode ser representada quimicamente pela molécula H2O, na qual os elementos hidrogênio e oxigênio se combinaram para dar origem ao elemento fundamental para a existência da vida. Ciclo da água 54 Dinâmicas Ambientais Apesar da redisponibilização desse recurso mediante um ciclo, sua utilização e disponi- bilidade deve ser considerada, uma vez que nosso planeta pos- sui dois terços de sua superfície cobertos por água (360mi km² de um total de 510mi km²) (GOMES; BARBIERI, 2004). Entretanto, cerca de 98% da água disponível é salgada, im- própria para consumo direto sem tratamento adequado, que apresenta alto custo, sendo so- mente os 2% restantes corres- pondentes à água doce; dessa porção (2%), valores superiores a 68,9% estão dispostos em ge- leiras, 29,9% em reservatórios subterrâneos de difícil acesso e apenas 1,2% está disponível em rios e lagos (SENRA, 2001). No que tange a sua utilização, segundo Garrido (2000, p. 58): “ [...] A água doce é um recurso material limitado e com múltiplas funções; portanto, com diferentes tipos de usos. Para o abas- tecimento humano, a água é matéria-prima; para a atividade industrial e de irrigação, a água pode ser insumo e matéria-pri- ma; para a navegação, a água é leito navegável; para atividades de recreação e lazer, a água é parte da beleza cênica; para as atividades de pesca, a água é o meio onde vivem as espécies; para o esgotamento de efluentes urbanos e industriais, a água é corpo diluidor e para a produção de energia é necessário ex- plorar os movimentos da água transformando energia cinética em elétrica. Ainda em relação às reservas de água, algumas estimativas de vo- lumes armazenados nos diferentes reservatórios estão dispostos na Tabela 1: Tabela 1 - Diferentes reservatórios de água e seus volumes estimados RESERVATÓRIO VOLUME ESTIMADO Oceanos 1.350.000.000 km³ Geleiras 33.000.000 km³ Águas subterrâneas 15.300.000 km³ Solos 121.800 km³ Atmosfera 13.000 km³ Fonte: adaptado de Aduan, Vilela e Reis Júnior (2004). A transição dentre os volumes presentes nos reservatórios citados também se faz relevante, sendo os principais reguladores desses fluxos os índices de precipitação e a vegetação. Nesse sentido, a preser- vação da vegetação (responsável pelo fenômeno evapotranspiração) e, sobretudo, a manutenção das extensões territoriais recobertas de vegetação nativa remanescente se faz de extrema importância. Além desse fator, a poluição atmosférica também é preocupante, visto que a qualidade atmosférica pode resultar em alterações na qualidade daságuas pluviais. Historicamente, a presença ou ausência desse recurso foi e será responsável pela tramitação histórica da humanidade, pelo desenvolvimento de costumes e hábitos sociais, pela determinação da ocupação de territórios, pela extinção de espécies e, por fim, pelo futuro de gerações. O planeta Terra não seria propício à vida caso não houvesse a disponibilidade desse recurso e, apesar de se caracterizar como um recurso abundante, sua ausência ou um déficit hídrico representaria uma limitação na produti- vidade primária do planeta (SAUTCHÚCK, 2004), impactando, também, em sistemas agronômicos (BERNARDO, 2002), pecuários e nos mais variados processos de beneficiamento. 55UNIDADE 2 Por fim, faz-se relevante considerar a utiliza- ção e a reutilização que se dá a esse recurso, aliás, caro(a) aluno(a), essa preocupação ganhou espa- ço considerável no cenário mundial nas últimas décadas “unificando” diversas áreas do conheci- mento, na busca/desenvolvimento de soluções interdisciplinares para a recuperação/tratamento e soluções de problemáticas voltadas a esse recur- so. Outras informações acerca das técnicas de tra- tamento de água serão exploradas nas próximas unidades deste livro. O Ciclo do Carbono O carbono é o elemento mais essencial para a vida na Terra, em específico, por ampla disponibilida- de e capacidade de associação/formação de até 4 ligações covalentes. Essa capacidade possibilitou, a esse elemento, constituir ou estar presente em uma ampla variedade de moléculas inorgânicas, orgânicas e compostos essenciais, como proteí- nas, lipídios, carboidratos e pigmentos (SOUZA et al., 2012). Além das moléculas, o carbono está presente na atmosfera terrestre em uma de suas associações mais simples, na forma CO2. O que se faz muito relevante em relação ao ciclo do carbono, é que ele está presente nos inú- meros processos naturais que realizam interações com a atmosfera, bem como nas interações dos processos do continente com os oceanos, ou seja, relacionam-se aos seres vivos quando os seres fo- tossintetizantes utilizam o CO2 atmosférico ou os carbonatos e bicarbonatos dissolvidos na água na síntese de compostos orgânicos que irão suprir suas necessidades (ROSA; MESSIAS; AMBRO- ZINI, 2003). Ainda segundo os autores, da mesma maneira, as bactérias que realizam a quimiossínte- se, produzem compostos essenciais, normalmente carboidratos, a partir do CO2 livre na atmosfera. Outros processos naturais que estão envolvi- dos na ciclagem/movimentação do carbono são a fotossíntese realizada pelos organismos planc- tônicos, a respiração celular realizada pelos seres vivos, o processo de decomposição da matéria e a dissolução oceânica; tal movimentação cícli- ca também pode ser definida como ciclo global do carbono (ADUAN; VILELA; REIS JÚNIOR, 2004). Portanto, aluno(a), é fato que a vida na biosfera só foi possível graças a presença e a atividade dos seres clorofilados. Tal fato evidencia a necessida- de de preservação desses organismos, uma vez que um déficit na produção primária implicaria, também, na dificuldade de manutenção dos níveis de CO2 atmosféricos e na ausência de um dos principais subprodutos da fotossíntese, o oxigênio. Segundo Aduan, Vilela, Reis Júnior (2004), ao contrário do que acontece com o ciclo da água, em que as atividades antrópicas influenciam no fluxo ou índices de ciclos já existentes, para o ciclo do carbono, a influência humana cria novos fluxos, antes desconhecidos, como exemplo, a queima de combustíveis fósseis, como o carvão mineral e o petróleo, responsáveis por um excessivo aporte de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Esse ex- cessivo aporte se faz preocupante, especialmente pelos efeitos negativos à manutenção da qualidade de vida na Terra, pois conforme Pacheco e Helene (1990, p. 215): 56 Dinâmicas Ambientais “ [...] as moléculas de nitrogênio, oxigênio e argônio que constituem quase a totalidade do ar são transparentes tanto às radiações infravermelhas como à radiação solar visível, tendo um poder de absorção praticamente nulo. Ao contrário, um certo número de mo- léculas presentes no ar que não representam mais que uma pequena parte dos compo- nentes da atmosfera, em maior proporção vapor d’água (H2O) e dióxido de carbono (CO2) e em menor proporção metano (CH4) e outros compostos, têm a propriedade de serem opacos aos raios infravermelhos do solo quando dissipados para o espaço e com isto aquecer as baixas camadas da atmosfera. Graças a este processo, a temperatura do ar que nos envolve é favorável às formas de vida existentes; este processo natural é chamado de “efeito estufa”, por analogia às instalações que protegem culturas vegetais frágeis do frio, onde meios de vidro que deixam passar a radiação solar visível impedem a fuga dos raios infravermelhos. Ao analisarmos de maneira isolada, o fluxo de energia em diferentes níveis tróficos, como no caso de uma cadeia alimentar, pode ser utilizado para exemplificar o fluxo de carbono em uma escala minimalista, conforme ilustrado no fluxo- grama da Figura 2. Figura 2 - Fluxo de Carbono Fonte: adaptada de Rosa, Messias e Ambrozini (2003). Estimativas globais sugerem que a poluição ambiental externa (outdoors) cause 1,15 mi- lhões de óbitos em todo o mundo (correspon- dendo a cerca de 2% do total de óbitos) e seja responsável por 8,75 milhões de anos vividos a menos ou com incapacidade; enquanto a po- luição no interior dos domicílios cause, aproxi- madamente, 2 milhões de óbitos prematuros e 41 milhões de anos vividos a menos ou com incapacidade. Fonte: adaptado Öberg et al. (2011). De forma generalista, o fluxograma apresentado ilustra a produção de compostos orgânicos pelos produtores, que são consumidos pelos herbívoros ou consumidores primários e, na sequência, por carnívoros de primeira ou segunda ordem, até atingirem os seres decompositores. A Figura 3 repre- senta o ciclo do carbono em uma perspectiva globalizada e complexa e que compreende a ciclagem do carbono orgânico e inorgânico. Nesse sentido, torna-se necessário enfatizar a presença de processos antrópicos, antes desconhecidos à biosfera terrestre e que, graças ao advento das modificações am- bientais humanas, passam a ser mais efetivas e impactantes na qualidade ambiental. A Figura 3 ilustra o ciclo do carbono de forma simplificada: 57UNIDADE 2 Em relação à quantidade de carbono existente em diferentes reservas, algumas estimativas estão ex- pressas no Quadro 2. Quadro 2 - Reservas de Carbono INFORMAÇÕES/FONTES QUANTIDADE Incremento de Carbono de ori- gem antrópica anual. 5,5 Pg, dos quais: 3,5 Pg permanecem na atmosfera e passam a contribuir efetivamente para o efeito estufa, sendo o restante dissolvido no oceano ou sequestrado pela atividade fotossintética, ficando retido como biomassa viva ou matéria orgânica do solo. Carbono presente na superfície terrestre. Cem quatrilhões ou 10²³ toneladas. Conteúdo fóssil disponível para captação humana. 4.000 Pg. Carbono dissolvido nos oceanos. 38.000 Pg. Carbono disponível no solo. 40.000 Pg. Carbono estocado na cobertura vegetal. 120 Pg, sendo 60 Pg redisponibilizado para a atmosfera em fun- ção da decomposição da matéria e 60 Pg redisponibilizado para a atmosfera pela respiração dos seres vivos. Respiração das Plantas Respiração das raízes Captação dos oceanosFósseis e Combusíveis fósseis Carbono orgânico Respiração dos Animais Fotossíntese Decomposição de organismos Organismos mortos e resíduos orgânicos Ciclo do CO2 Luz do Sol Emissão das fábricas Figura 3 - Ciclo do Carbono Fonte: adaptada de Ucar ([2019], on-line)2. 58 Dinâmicas Ambientais Quantidade de Carbono na forma de CO2 retirado da atmosfera pela fotossíntese. 560 Pg Fluxo de Carbono entre oceano e atmosfera anualmente 120 Pg, sendo 60 Pg redisponibilizado para a atmosfera em fun- ção da decomposição da matéria e 60 Pg redisponibilizado para a atmosfera pela respiração dos seres vivos. 1 Pg(peta grama) = 1 bilhão de toneladas. Fonte: adaptado de Schlesinger (1991); Aduan, Vilela e Reis Júnior (2004). O Ciclo do Nitrogênio Apesar da atmosfera da Terra ser composta por cerca de 76% de gás nitrogênio (ADUAN; VI- LELA; REIS JÚNIOR, 2004), esse gás não está disponível para a maioria das espécies vivas, pois o N2 é pouco reativo. A baixa disponibili- dade de nitrogênio como nutriente faz com que esse elemento tenha um importante papel nos processos de crescimento e reprodução de or- ganismos, especialmente vegetais, responsáveis pela produção primária terrestre ou marinha (UGUCIONE et al., 2002), além de ser um dos principais componentes das proteínas, das en- zimas e do DNA (Ácido desoxirribonucleico). Tal fato faz com que o ciclo biogeoquímico desse elemento ganhe enfoque, especialmente se considerarmos que, de todo o nitrogênio pre- sente na Terra, conforme Ugucione et al. (2002), uma quantidade inferior a 2% está disponível em associações com o Carbono, Hidrogênio e Oxigênio, componentes fundamentais da ma- téria orgânica. Essa escassez ou dificuldade de obtenção de nitrogênio, apesar de sua ampla disponibilidade em forma gasosa na atmosfera, pode ser atribuí- da à complexidade da ligação covalente apolar, portanto, o desafio dos seres vivos que necessi- tam desse macro nutriente, consiste em romper essa ligação covalente vias diferentes mecanismos (o que requer consumo energético) para, então, “utilizá-lo” em suas formas mais reativas: amônia (NH3), amônio (NH4) e nitrato (NHO3). As taxas de nitrogênio são direta e indireta- mente influenciadas por esses mecanismos, que podem atuar disponibilizando nitrogênio por diferentes formas, ao passo que também podem indisponibilizar esse elemento. Os diferentes mecanismos relacionados à disponibilização de nitrogênio estão expressos no Quadro 3. 59UNIDADE 2 Quadro 3 - Mecanismos, ações e descrições de diferentes processos de disponibilização e indisponibilização de nitrogênio MECANISMO AÇÃO DESCRIÇÃO/OBSERVAÇÕES Fixação Transformação de N2 em amônia (NH3) Disponibilização de amônia (NH3) A principal via de fixação natural ocorre pela ação de microrganismos (do gêne- ro Rhizobium), algas azuis (do gênero Anabaena e Nostoc) e fungos (algumas espécies) associados (em relação de mu- tualismo) a leguminosas. Existe a fixação física que ocorre em função de eventos atmosféricos (físicos), como descargas elétricas. Por fim, a fixação antrópica, como nos processos realizados em in- dústrias de fertilizantes. Decomposição Disponibilização de amônia (NH3) O processo de decomposição da matéria orgânica nitrogenada por microrganismos libera NH3 em conjunto com outros com- postos ao meio ambiente. Amonização NH3 + H2O NH4OH NH4 + + OH- Indisponibilização de amônia (NH3) Disponibilização de amônio (NH4 +) A associação da amônia livre no solo, proveniente da ação dos microrganismos com a água presente no solo, seguida de ionização, resulta no íon amônio (NH4+) e uma hidroxila. Os processos oxidativos sobre os íons amônio (NH4 +) resultam em nitritos (NO2 -) que ficam dis- poníveis no ambiente ou são novamente oxidados em nitratos (NO3 -). Nitrificação Conversão de íons amô- nio (NH4 +) em nitrito (NO2 -) e, posteriormente, nitrato (NO3 -) Ocorre pela ação de bactérias nitrificantes (Nitrosomas, Nitrosococus, Nitrobacter). O processo de Nitrificação pode ser dividido em duas etapas: Nitração e Nitrosação Nitração 2HNO2 + 2O2 2HNO3 + Energia Transformação da amônia em nitrito. Nitrosação 2NH3 + O2 2HNO2 + 2H2O + Energia Transformação do íon nitrito em íon ni- trato, que podem ser absorvidos e meta- bolizados pelas plantas. Denitrificação Transformação de amônia (NH3) em N2 Indisponibilização de amônia (NH3) Disponibilização de N2 Devolução de nitrogênio já metabolizado para a atmosfera na forma N2, normal- mente realizado por bactérias ditas des- nitrificantes (Pseudomonas desnitrificans), torna-se necessária para não saturar o solo com íons nitrogenados. A queima de matéria orgânica pelo fogo é responsável pela indisponibilização de nitrogênio. Amonificação Disponibilização de amônia (NH3) Degradação de produtos metabólicos, como ureia, ácido úrico, proteínas e ou- tros compostos por microrganismos de- compositores para formação de amônia. Fonte: adaptado de Hamilton (1976), Rosa, Messias e Ambrozini (2003); Aduan, Vilela e Reis Júnior (2004). 60 Dinâmicas Ambientais A Figura 4, a seguir, contém uma representação do ciclo global do nitrogênio, explicitando os diferentes mecanismos relacionados à disponibilização e indisponibilização de nitrogênio em um ambiente natural. Nitrogênio livre CICLO DO NITROGÊNIO N2 Fixação biológica do Nitrogênio N2 Fixação do Nitrogênio (relâmpago) NO2 NO escoamento fertilizadores bactéria de �xação do Nitrogênio NO2 NO3 NH4 bactérias desnitri�cantes bactérias nitri�cantes Figura 4 - Representação do Ciclo Global do Nitrogênio Como é possível observar, o ciclo do nitrogênio é extremamente complexo e conta com diversos mecanismos de ação para que esse elemento essencial à vida possa ser disponibilizado/rea- proveitado em outras formas. Vale destacar, conforme mencionado anterior- mente, que as ações antrópicas atuam sobre esse ciclo biogeoquímico, influenciando na disponi- bilidade de nitrogênio passível de utilização para os seres vivos que necessitam desse elemento. O despejo de efluentes sanitários e industriais, sem o devido tratamento, são uma das atividades an- trópicas mais impactantes relacionadas à alteração dos níveis de nitrogênio e fósforo no ambiente. 61UNIDADE 2 O Ciclo do Fósforo O fósforo (P) é um nutriente essencial com fontes finitas e não renováveis. Ainda assim, a exploração desse elemento, atualmente, é muito superior às taxas de reposição em seu ciclo natural, especial- mente se considerarmos que o ciclo desse elemen- to é muito lento. Portanto, a exploração desenfrea- da e a escassez das reservas de fósforo podem nos direcionar a um colapso, resultando em impactos econômicos, sociais e ambientais imensuráveis, pois, segundo Cordell (2008), as reservas de rocha fosfática conhecidas e exploráveis estejam extintas no período de 50 a 100 anos. A alteração da di- nâmica desse nutriente no meio ambiente ocorre, especialmente, em face da ocupação desordenada do solo, do desmatamento e do incremento das atividades industriais e agrícolas. Esse elemento se caracteriza como compo- nente essencial dos fosfolipídios, das coenzimas, dos ácidos nucleicos e dos elementos de transição energética (Adenosina Tri Fosfato = ATP) que são indispensáveis para o funcionamento e manu- tenção dos sistemas biológicos dos organismos vivos. Esse elemento também é utilizado como base para síntese de diversos produtos industria- lizados, como fertilizantes e detergentes (QUE- VEDO; PAGANINI, 2011). Os reservatórios atuais existentes de fósforo (litosfera) foram formados ao longo de eras geoló- gicas e diferente de outros ciclos. Em nenhum mo- mento, o ciclo desse elemento resulta na formação de gás para manutenção de reservas atmosféricas, sendo suas fontes naturais oriundas de processos erosivos da bacia de contribuição, da decomposi- ção dos organismos aquáticos e dos vegetais que compõem as matas ciliares, do assoreamento do corpo d’água, do intemperismo das rochas e da intensidade das trocas ocorridas entre o sedimento e a coluna d’água (QUEVEDO; PAGANINI, 2011). Para Aduan, Vilela e Reis Júnior (2004), a maior parte do fósforo presente nos ecossistemas é proveniente do intemperismo dos minerais, esse processo pode ser acelerado pela ação de substâncias provenientes das raízes de plantas associadas a microrganismos; entretanto, no ci- clo do fósforo, nenhuma ação biológica (como as observadas no ciclo do hidrogênio) pode aumentar significativamente a disponibilidade desse elemento em ambientes em que ele se en- contra em baixas quantidades. Em face da escassez desserecurso, os or- ganismos presentes na biota terrestre contam com um eficiente ciclo de fósforo a partir de suas formas orgânicas. O fósforo é liberado por meio de processos erosivos e intempéries, sendo esse elemento e suas formas fosfatadas (PO4 -3) limitantes em sistemas agronômicos. A Figura 5, a seguir, representa as etapas do ciclo natural e de influência antrópica do fósforo. O ciclo de influência, sobre influência an- trópica, representado na figura supracitada, explicita a utilização do fósforo na síntese de fertilizantes amplamente utilizados em sistemas agrícolas. Tal utilização, apesar de impactante e de estar associada à eutrofização, torna-se neces- sária, uma vez que os sistemas agrícolas que con- tam, somente, com o fósforo presente no solo, na produção de cultivares não conseguiria obter a eficiência necessária para atender a demanda populacional emergente. Ainda, os microrganismos exercem papel fundamental no ciclo biogeoquímico do fós- foro e na disponibilização desse elemento para as plantas, realizando a solubilização do fósforo inorgânico, a mineralização do fósforo orgânico e a associação entre plantas e fungos micorrízi- cos (PAUL; CLARK, 1996). 62 Dinâmicas Ambientais Por fim, é válido ressaltar que existem outros ele- mentos essenciais que também passam por ciclos biogeoquímicos, porém, os ciclos supracitados destacam-se por estarem diretamente relacio- nados e interligados a problemáticas ambientais atuais, coerentes e de interesse para os diferentes processos de produção. Nesta unidade, exploramos alguns conceitos voltados à ecologia, iniciando com a classifica- ção dos seres vivos em ordem hierárquica. Essa classificação nos proporcionou uma noção mais realista da amplitude de níveis hierárquicos que as ações antrópicas podem alcançar, sejam elas associadas à alteração das condições ambientais próximas ou à diminuição da capacidade de su- porte de ambientes específicos, ecossistemas e/ou biomas, uma vez que cada ser vivo tem impacto sobre o ambiente em que está inserido. Partimos, então, para os ciclos biogeoquímicos presentes no planeta Terra. Vimos que os elemen- tos que compõem o globo possuem especifici- dades com relação ao seu tempo de reposição no ambiente, de forma que possamos extrai-lo novamente. Sendo assim, precisamos sopesar o uso que fazemos de cada um desses recursos de modo a garantir sua disponibilidade no futuro. Encerramos as duas primeiras unidades com definições básicas, mas fundamentais para emba- sar nossas discussões sobre as questões ambientais que virão. Figura 5 - Ciclo do Fósforo Fonte: Cola da Web (2018, on-line)3. Intemperismo das rochas Assimiliação por células vegetais Fosfato no solo Perda por lixiviação Precipitação Fosfatos em solução Tecidos vegetais Tecidos animais e fezes Decomposição por fungos e bactérias Incorporação em rochas sedimentares; os seguimentos geológicos levam essas rochas para o ambiente da superfície terrestre. 63 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. A vida na superfície terrestre só foi possível em função da presença de determi- nados elementos dispersos nas mais variadas esferas componentes da biosfera. Cada uma dessas esferas comporta e é responsável pelas interações naturais e de origem antrópica que nela ocorrem. Em face do exposto, assinale a alternativa que contempla as três esferas componentes da biosfera: a) Litosfera, Biosfera e Atmosfera. b) Superfície terrestres, Litosfera e Atmosfera. c) Núcleo, Manto e Atmosfera. d) Litosfera, Hidrosfera e Atmosfera. e) Litosfera, Hidrosfera e Hemisfera. 2. Os diferentes ciclos biogeoquímicos apresentam especificidades relativas aos elementos em questão. Em relação aos elementos: Carbono, Fósforo e Nitro- gênio, avalie as assertivas: I) O carbono apresenta capacidade de formar até 4 ligações covalentes. II) As reservas de fósforo possuem capacidade de renovação extremamente ágil. III) O ciclo natural do fósforo passa pelas etapas: Rocha, Indústria e Sistema agrícola. IV) O processo que transforma amônia em nitrito é denominado nitrofilação. Assinale a alternativa correta: a) I, somente. b) III, somente. c) IV, somente. d) II, III e IV, somente. e) I, II, III e IV. 64 3. Os níveis de organização ecológica ou níveis de hierarquia ecológica classificam corretamente as diferentes organizações populacionais quanto às suas caracte- rísticas: densidade ocupacional, distribuição e espaço. Cientes de sua relevância, avalie as assertivas e classifique-as em Verdadeiras (V) ou Falsas (F): )( Uma população corresponde a um grupo de indivíduos pertencentes a uma mesma espécie presentes e ocupantes de uma determinada área por um período de tempo. )( Um ecossistema corresponde a meio, no qual os organismos interagem com o meio ambiente, realizando trocas de matéria e energia pelas vias existentes. )( A biosfera corresponde às populações que coexistem e habitam o mesmo ambiente, interagindo de forma organizada. )( Uma organela celular pode ser conceituada como partícula única ou unidade fundamental em função de sua característica de indivisibilidade por processos químicos. )( Um bioma é composto por um conjunto de ecossistemas em uma larga escala geográfica, no qual as plantas ou as formações vegetais se destacam como características, assim como suas especificidades climáticas. 4. A vida na superfície terrestre sempre foi regida por um conjunto de caracte- rísticas favoráveis ao seu pleno desenvolvimento. Dentre os motivos conside- rados favoráveis, figuram os ciclos biogeoquímicos, devido à sua relevância e amplitude. Considerando o exposto, assinale a alternativa que contém a correta definição de ciclos biogeoquímicos: a) Correspondem a grupos de indivíduos pertencentes a uma mesma espécie presentes e ocupantes de uma determinada área por um período de tempo. b) Correspondem à associação da superfície terrestre com a Litosfera e Atmosfera. c) São processos que, por diversos meios, reciclam vários elementos em diferen- tes formas químicas, do meio ambiente para os organismos e, depois, fazem o processo contrário, ou seja, trazem esses elementos dos organismos para o ambiente. d) São ferramentas de gestão que devem ser utilizadas visando alcançar a efeti- vidade socioambiental de uma organização. e) Compreendem uma partícula única ou unidade fundamental em função de sua característica de indivisibilidade por processos químicos. 65 5. Quando pensamos em fatores limitantes ao desenvolvimento dos seres vivos, somos imediatamente direcionados aos recursos disponíveis. Claro que existe uma relação entre disponibilidade de recursos e o desenvolvimento de uma po- pulação, assim como a retirada de recursos pode levar à extinção de determinada população. Neste contexto, cite os demais fatores que podem ser considerados limitantes ao desenvolvimento dos seres vivo. 66 Geoquímica – Uma Introdução Autor: Francis Albarede Editora: Oficina de Textos Sinopse: o livro explica, de forma didática, os fundamentos da geoquímica moderna, que atua desde a medição do tempo geológico, passando pela ori- gem dos magmas, pela evolução dos continentes, dos oceanos e do manto, até a compreensão das mudanças ambientais. Com exemplos e exercícios, a obra enfatiza os princípios gerais da geoquímica e traz informações essenciais para estudantes de ciências da Terra e ciências ambientais. São apresentados os princípios e os métodos da física e da química, utilizados em geoquímica, além de conceitos de isótopos, fracionamento e mistura, isótopos estáveis, biogeoquímica, geoquímica ambiental, conservação da massa, fracionamento elemental, geocronologia, traçadores radiogênicos, transporte de elementos e Sistemas geoquímicos. Pela abrangência e profundidade dos temas tratados e pela excelência do trabalho de tradução, esse livro certamente será bastante útil não apenas aos estudantes da disciplina, mas a todos os interessados nos conceitose aplicações da Geoquímica nas diversas áreas das ciências da Terra. LIVRO 67 ADUAN, R. E.; VILELA, M. F.; REIS JÚNIOR, F. B. Os grandes ciclos biogeoquímicos do Planeta. Documentos Embrapa, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Distrito Federal, v. 119, 2004. BERNARDO, S. Manual de irrigação. 6. ed. Viçosa: Imprensa universitária, 2002. COLINVAUX, P. Ecology 2. New York: John Wiley & Sons, Inc, 1993. CORDELL, D. The story of phosphorous: missing global governance of a critical resource. Suécia: Global Phosphorus Research Initiative, 2008. GARRIDO, R. Considerações sobre a formação de preços para a cobrança pelo uso da água no Brasil. In: THA- ME, A. C. M. (org.). A cobrança pelo uso da água. São Paulo: Igual, 2000. p. 57-91. GOMES, J. L.; BARBIERI, J. C. Gerenciamento de recursos hídricos no Brasil e no Estado de São Paulo: um novo modelo de política pública. Cad. EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 01-21, dez. 2004. HAMILTON, C. L. Química y Ecosfera: Temas de ecología química e industrial. Madrid: Selecciones de scientific american, 1976. LA CORTE BACCI, D.; PATACA, E. M. Educação para a água. Estud. av., São Paulo, v. 22, n. 63, p. 211-226, 2008. LOVATO, C. Influência do ambiente no desenvolvimento da planta de batata. Cienc. Rural, Santa Maria, v. 23, n. 1, p. 101-106, 1993. ÖBERG, M. et al. Second-hand smoke: Assessing the burder of disease at national and local levels. OMS. 2011. 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Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 8, p. 3539, 2011. 68 ROSA, R. S.; MESSIAS, R. A.; AMBROZINI, B. A importância da compreensão dos ciclos biogeoquímicos para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: USP. Instituto de Química de São Carlos, 2003. SANTOS, V. D. Introdução ao estudo da ecologia. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2006. SAUTCHÚCK, C. A. Formulação de diretrizes para implementação de programa de conservação de água em edificações. 308 f.Dissertação de Mestrado (Mestrado em Engenharia) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. SCHLESINGER, W. H. Biogeochemistry: An Analysis of Global Change. 25. ed. EUA: Elsevier, 1991. SENRA, J. B. Água, o desafio do terceiro milênio. In: VIANA, G.; SILVA, M.; DINIZ, N. (orgs.). O Desafio da Sustentabilidade - um debate socioambiental do Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001. SOUZA. M. F. et al. Ciclo do Carbono: Processos Biogeoquímicos, Físicos e Interações entre Compartimentos na Baía de Todos os Santos. Rev. Virtual Quim. v. 4, n. 5, p. 566-582, 2012. UGUCIONE, C. et al. Processos diurnos e noturnos de remoção de NO2 e NH3 atmosféricos na região de Ara- raquara-SP. Eclet. Quím. São Paulo, v. 27, n. spe, p. 103 -112, 2002. REFERÊNCIAS ON-LINE 1Em: https://quizlet.com/219486257/ecological-hierarchy-diagram/. Acesso em: 3 maio 2019. 2Em: https://eo.ucar.edu/kids/green/images/carboncycle.jpg. Acesso em: 3 maio 2019. 3Em: https://www.coladaweb.com/wp-content/uploads/2018/02/20180227-ciclo-fosforo.jpg. Acesso em: 3 maio 2019. 69 1. D. 2. A. 3. V, V, F, F, V. 4. C. 5. O segundo tópico da unidade trata dos fatores limitantes ao desenvolvimento dos seres vivos. Recursos disponíveis é um deles, mas não o único. Sabe-se que qualquer alteração em algum desses fatores pode afetar sistemas vivos inteiros. Esses fatores, como destacados no segundo tópico, são: pH e salinidade, umidade, temperatura, luz e recursos. 70 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Entender a relevância da água no planeta. • Visualizar a relação do homem com os recursos hídricos ao longo da história. • Relacionar os fatores que influenciam a escolha dos cor- pos hídricos para abastecimento. • Abordar os parâmetros e indicadores utilizados na capta- ção e tratamento de água de abastecimento. • Entender o funcionamento de uma ETA convencional. Papel da Água no Planeta Terra O Homem e a Utilização da Água Fundamentos de Tratamento e Qualidade da Água Estação de Tratamento de Água (ETA) Princípios de Captação da Água Esp. João Marcos Pardo Me. Gustavo Affonso Pisano Mateus Gerenciamento de Recursos Hídricos - Captação e Tratamento de Água Papel da Água no Planeta Terra Seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a), à terceira unidade do nosso material didático, intitulada gerenciamento de recursos hídricos - captação e tratamento de água. Esta unidade tem por obje- tivo apresentar algumas informações pertinentes sobre o tratamento de água. Serão apresentados, inicialmente, alguns prin- cípios básicos sobre a coleta, tratamento e distri- buição de água, que se fazem aqui relevantes em função da utilização desse recurso. Portanto, co- nhecer os inúmeros processos envolvidos em sua utilização, poderá auxiliar na busca por formas de reduzir o consumo ou, até mesmo, reutilizá-lo na própria indústria. Por fim, iremos conhecer as diferentes etapas de tratamentos que podem ser aplicadas para a água, considerando a necessidade identificadas antes do tratamento e também as legislações per- tinentes envolvidas. Sendo assim, caro(a) aluno(a), convido você a descobrir novas informações e curiosidades sobre esses assuntos tão relevantes. Vamos lá?! 73UNIDADE 3 Após uma breve introdução a alguns dos conceitos que se fazem relevantes sobre meio ambiente e de conhecermos um pouco acer- ca de sua dinâmica nas unidades anteriores, este material didático, em suas unidades seguintes, irá apresentar, efetivamente, as ações que devem ser realizadas no con- texto empresarial/industrial para que ocorra a redução dos impac- tos causados. Introduzindo, as- sim, as ferramentas, sejam elas de gestão, manejo ou de tratamento pertinentes e condizentes com as questões ambientais. É de nosso conhecimen- to que água é uma substância insípida, incolor e inodora, composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, que pode ser encontrada, de- pendendo das condições, em estado líquido, sólido ou gasoso. Sa- bemos que a água recobre, aproximadamente, 70% da superfície do planeta Terra e devido ao seu ciclo hidrológico, pode ser conside- rada um recurso renovável. Conforme Barros et al. (1995), a água pode ser classificada conforme sua utilização: • Elemento de composição da natureza: meio de navegação, relativa à regulação da umidade do ar e do clima na Terra, fon- te de geração energética e transporte de despejos sanitários e industriais (líquidos). • Ambiente para a vida aquática: habitat para organismos aquáticos. • Fator indispensável à vida terrestre: irrigação do solo, abas- tecimento público e industrial e dessedentação de animal. Ape- sar de facilmente associarmos a geração de resíduos a material sólido, com os líquidos (recursos hídricos) acontece o mesmo. A utilização que se faz desses recursos é que determina as carac- terísticas finais, nesse caso, das águas residuárias ou efluentes. O mesmo acontece para o atendimento das necessidades básicas humanas, como no caso do esgoto sanitário. Fica evidente, portanto, que a água é um recurso indispensávelà vida. Apesar disso, trata-se de um recurso muito mal utilizado. Historicamente, o homem viu, nos recursos hídricos, formas de fomentar seu desenvolvimento, além de atender suas necessidades voltadas à potabilidade. Os corpos hídricos ainda promovem desenvolvimento econômico desde a idade média, quando povoados eram formados em regiões próximas à orla marítima ou a planícies de rios, possibilitando o surgimento das primeiras rotas comerciais. Além do desenvol- vimento econômico, o homem, ao longo de sua evo- lução, concluiu que o consumo ou a proximidade de águas impróprias poderia resultar na transmissão de doenças (RESENDE; HELLER, 2002). Entretanto, por que devemos discutir sobre a água e o seu uso? Essa substância é indispensável para a manutenção da vida na Terra e para a sobre- vivência dos organismos, sendo, portanto, conside- rada um recurso primordial para a vida, logo, pode- mos estabelecer uma relação na qual a quantidade de água disponível em uma região é diretamente proporcional ao conjunto de seres vivos presentes nessa mesma região. Além disso, discutir acerca da utilização consciente dos recursos naturais dispo- níveis e da necessidade de um manejo/gestão ade- quados objetivam garantir o direito das gerações vindouras de acesso a um ambiente equilibrado. O Homem e a Utilização da Água 75UNIDADE 3 É fato que a dimensão ambiental, segundo San- tos e Miguel (2002), vem sendo incorporada aos diferentes processos produtivos das indústrias e à gestão empresarial, inclusive como ferramenta para redução de custos e aumentos de lucrativi- dade, por meio de diferentes medidas para mi- nimização, reuso e reciclo dos efluentes líquidos gerados pelos diversos processos industriais. Entretanto, apesar desse eminente despertar da consciência ambiental que se observa nas últimas décadas, algumas atividades antrópicas figuram como grandes consumidoras de elevado volume de água potável, uma vez que, lamentavelmente, torna-se quase utópico afirmar que exista algum processo produtivo ou de beneficiamento que não requer um grande volume de água em sua cadeia produtiva. Para Pena ([2019], on-line)1, conforme da- dos da Organização Mundial das Nações Uni- das para a Alimentação (FAO), a pecuária, e as atividades relacionadas a ela, consome cerca de 70% da água do mundo; em uma perspectiva nacional, esse número alcança 72% do volume consumido pelo nosso país, que se destaca nes- se setor da economia. Voltando à escala global, ainda segundo o autor, depois do setor agrícola, a atividade das indústrias são responsáveis por 22% do volume, seguido de 8% atribuído à uti- lização doméstica. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Podemos dizer que, no Brasil, há um esforço por parte das indústrias em diminuir o consumo de água nos processos produtivos. O panorama da utilização da água é positivo no setor, mas ainda há campo para melhoras. Na Tabela 1, apresenta- mos uma perspectiva do volume de água consu- mida nas indústrias brasileiras. Tabela 1 - Consumo de água nas indústrias do Brasil TIPO DE INDÚSTRIA CONSUMO Extração de minerais não metálicos 7,57 m³/t de pedra, areia ou argila Refinamento de petróleo 0,226 m³ por barril refinado Indústria têxtil 139 m³/t de tecido Couro (curtumes) 16,4 m³/t de couro Papel 33,25 m³/t de papel Usina de açúcar 5 m³/t de cana processada Laticínios 2 m³ por m³ de leite Cervejaria 3,9 m³ por m³ de cerveja Matadouros 1,2 m³/t de carne bovina Fonte: CNI (2013, on-line). https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/588 Visando a diminuição do uso de água na fabricação de seus refrigerantes, a Coca-Cola modificou sua postura e tecnologias. Veja como a empresa fez isso no vídeo disponível em: https:// youtu.be/svTkThQCeec. A meta à curto prazo é de que seja necessário 1 litro de água para produzir 1 litro de refrigerante. Apesar da vasta capacidade hídrica de nosso país, evidenciada pela gama de corpos hídricos, aquífe- ros, mananciais e rios flutuantes, dados do institu- to Trata Brasil (ROSA, 2016, on-line)2, indicaram que, em 2015, 35 milhões de brasileiros ainda so- friam com a falta de abastecimento de água. Con- tudo, como em um país cuja a extensão territorial é privilegiada com um grande potencial hídrico, a população, em sua totalidade, ainda não possui acesso a água de qualidade? As respostas para esse questionamento giram em torno da gestão desse recurso e das políticas que regulamentam o desenvolvimento de tecnologias e investimentos para assegurar o direito a água com elevado grau de potabilidade a todos. 77UNIDADE 3 Em um primeiro momento, podemos pensar que o abastecimento de água poderá ser interminável, mediante a quantidade de água que recobre a su- perfície terrestre, porém, se considerarmos que, dessa superfície, a maior parte da água é salgada e, portanto, não pode ser utilizada para a agricultura, processos industriais e consumo humano, esse panorama se inverte. Historicamente, a captação e obtenção de água doce, com qualidade aceitável para aten- dimento das necessidades humanas, sempre foi uma preocupação. Embora o conhecimen- to científico só tenha esclarecido/diferenciado padrões de qualidade da água mediante ao ad- vento da tecnologia, o homem, nos primórdios da história, já era capaz de distinguir a água de qualidade, sem cor, odor ou sabor, daquela que apresentava características opostas. O aporte pontual ou difuso de substâncias xe- nobióticas, organismos ou de matéria orgânica em excesso na água podem resultar em uma série de agravos ao meio ambiente, como, por exemplo, a poluição, contaminação e a eutrofização. Princípios de Captação da Água 78 Gerenciamento de Recursos Hídricos - Captação e Tratamento de Água Como reflexo da evolução do conhecimento acerca da salubridade ambiental, o abastecimento de água de fontes seguras e o despejo do esgoto passaram a ocorrer em localidades diferentes dos corpos hídricos (manancial próximo à cidade). Essa mudança teve como principal objetivo evitar doenças relacionadas a condições impróprias de saneamento, caracterizando um período histórico denominado higienista (TUCCI, 2008). Substâncias xenobióticas se referem a substân- cias químicas recalcitrantes estranhas ao corpo humano, aos organismos e ao meio ambiente. Referem-se a compostos sintéticos, sintetizados via técnicas de engenharia química ou genética, como, por exemplo, pela transformação de mi- crorganismos, como fungos e bactérias. Alguns exemplos são: fármacos, agentes saneantes ou tensoativos e defensivos agrícolas. Entretanto, qual fonte de água é utilizada para atender nossas necessidades atuais? Os ma- nanciais das águas urbanas são as fontes de água para abastecimento que visam atender as necessidades humanas, animais e industriais. Essas fontes podem ser superficiais (redes de rios da bacia hidrográfica da região) e subterrâ- neas (aquíferos), cuja disponibilidade de água, especialmente das fontes superficiais, podem variar conforme sazonalidade, uma vez que a disponibilidade hídrica depende da capacida- de do rio de regularizar-se ao longo do tempo (COSTA et al., 2012). Outro questionamento que se faz relevante consiste em: como determinar se um corpo hí- drico é apto para a captação de água? Além dos padrões de qualidade, a disponibilidade hídrica é mensurada mediante uma série de fatores ou condicionantes naturais, tais como: vazão, caracte- rísticas da precipitação, evapotranspiração (total, variabilidade temporal e espacial) e da superfície do solo, fatores considerados para uma distribui- ção estatística temporal. 79UNIDADE 3 A hidrologia e a mecânica de fluidos são áreas fundamentais para os estudos de preservação dos recursos. Com o intuito de de- mocratizar o acesso à informação nestes segmentos, a Agência Nacional de Água (ANA) disponibiliza, em seu endereço eletrônico, inúmeros materiais que podem ser consultados acercadessas temáticas. Confira! Disponível em: https://capacitacao.ead.unesp.br/conhecerh/ handle/ana/240. As fontes subterrâneas compõem a maior reserva de água doce do globo (MINAYO-GOMEZ, 2011). Tais reservas se dividem entre aquíferos confinados e não confinados, de acordo com a formação geológica, que fazem referência à pressão exercida sobre eles, ou seja, os confinados estão sobre influência de pressão superior à atmos- férica, ao passo que os não confinados não estão sobre pressão e podem ser repostos por fluxos naturais de escoamento (RIBEIRO, 2008). Ainda segundo o autor, normalmente, a água subterrânea é utilizada no abastecimento de cidades de pequeno e médio porte, pois depende da vazão de bombeamento que o aquífero permite retirar sem comprometer seu balanço de entrada e saída de água. A captação em aquíferos merece uma atenção especial em função do risco de contaminação por substâncias xenobióticas e recalcitrantes, que podem se infiltrar/percolar no lençol freático e contaminar reservas de água. Segundo Libânio (2010), as tecnologias envolvidas no tratamento de água têm por objetivo adequar os parâmetros da água bruta aos limites estabelecidos pela Portaria 2.914 do Ministério da Saúde, considerando os custos de implementação, manutenção e operação mais viáveis possíveis. Além disso, para o autor, a escolha da tecno- logia deve ser permeada por algumas premissas, sendo elas: a) As características da água bruta disponível para captação. b) Os custos envolvidos. c) Manuseio e confiabilidade dos equipamentos. d) Flexibilidade operacional. e) Localização geográfica e características da população. Em face de tais problemáticas e da necessidade de garantia de fornecimento de água de qualidade à população, o Ministério da Saúde elaborou a Por- taria 2.914, de 2011, que dispõe sobre os parâme- tros de qualidade da água potável, sendo alguns deles expressos na Tabela 2. Fundamentos de Tratamento e Qualidade da Água 81UNIDADE 3 Tabela 2 - Parâmetros de potabilidade estabelecidos pela Portaria 2.914/11 do Ministério da Saúde PARÂMETRO SIGNIFICADO VALOR MÁXIMO PERMITIDO (VMP) Presença de Coliformes Grupo de bactérias que são indica- dores de contaminação ambiental. Ausência em 100 mL Teor de Cloro Agente desinfetante, utilizado para eliminar microrganismos que pos- sam estar presentes nas águas e provocar doenças por via hídrica. 0,2 mg/L Turbidez É a medida da quantidade de par- tículas em suspensão (material in- solúvel) presentes na água e que impedem a passagem de luz. 5 UT (unidades de turbidez) ou NTU (Unidade nefelométrica de turbidez). pH Indica a natureza ácida ou básica da água. É monitorado durante as etapas de tratamento e na rede de distribuição, evitando os processos de corrosão nas canalizações. 6,0 a 9,5 Cor Parâmetro de aspecto estético de aceitação ou rejeição do produto. A cor indica a presença de substâncias dissolvidas ou finamente divididas, que conferem coloração específica à água. 15 Unidade Hazen (mg PtCo/L) Teor de Flúor Composto químico que é adiciona- do à água tratada para prevenção da proliferação de microrganismos indesejados. 1,5 mg/L Fonte: Brasil (2011, on-line). Cabe ressaltar que existem outros parâmetros relacionados à potabilidade, que são expressos pela portaria. Tal portaria ainda discorre acerca das responsabilidades de fiscalização e monitoramento nas esferas federal, estadual e municipal. Após o tratamento de água potável, a qualidade desta pode sofrer uma série de alterações após tratamento, fazendo com que a qualidade da água, destinada à po- pulação, seja diferente da qualidade da água que deixa a estação de tratamento. Tais alterações podem ser causadas por variações químicas e biológicas (DEININGER et al., 1992). Conforme Clark e Coyle (1989), dentre os possíveis fatores que influenciam tais mudanças, estão: a) Qualidade química e biológica da fonte hídrica. b) Eficácia do processo de tratamento, condições de armazenagem e sistema de distribuição. c) Idade, tipo, projeto e manutenção da rede. d) Qualidade da água tratada. Estação de tratamento de água é o conjunto de ins- talações e equipamentos destinados ao tratamen- to de água. Para que a água se torne adequada ao consumo, deve passar por um processo de trata- mento que utiliza elementos físicos e químicos. (Projeto Água para o Futuro) Após sua captação, a água é transportada até a ETA e, posteriormente, distribuída à população, por uma rede. Esse sistema implica elevados in- vestimentos, geralmente públicos, para garantir água em quantidade e qualidade adequada. Normalmente, os municípios adotam o mode- lo de ETA convencional, conforme proposto pela resolução CONAMA 357/2005 e pela NBR 12216 de 1992. O modelo de tratamento convencional ou de ciclo completo compreende as seguintes etapas: coagulação; floculação; decantação; fil- tração rápida descendente; ajustes finais - que en- volvem desinfecção - fluoretação, ajuste de pH, dentre outros processos necessários (Figura 1). Estação de Tratamento de Água (ETA) 83UNIDADE 3 Cada uma das etapas possui uma finalidade no pro- cesso de tratamento de água, sendo elas: • Coagulação: a adição de Sais de Alumínio, Cal e Cloro promove a coagulação de impu- rezas presentes na água, como: matéria orgâ- nica e sólidos dissolvidos ou em suspensão que alteram o pH com o intuito de aumentar a eficiência dos agentes coagulantes e atuam como agente saneante, respectivamente. • Floculação: a ação dos agentes coagulantes, da etapa anterior, provoca uma desestabili- zação das cargas superficiais das impurezas presentes; desta forma, ao serem submetidas ao processo de agitação intensa, as impurezas irão agregar-se, formando flocos de maior densidade que serão removidas na etapa se- guinte. • Decantação: os flocos formados irão de- cantar em função das forças gravitacionais, gerando uma separação do líquido menos denso das impurezas de maior peso e agre- gadas em função das etapas anteriores. • Filtração: o processo de filtração granular descendente é relevante para a remoção dos parâmetros: turbidez, cor aparente, sólidos totais e densidade de microrganismos, como algas e coliformes. • Cloração: o cloro e o flúor, adicionados nesta etapa, atuam visando a eliminação de micror- ganismos patogênicos associados a doenças transmitidas pela água, enquanto o Cal rea- liza o ajuste do pH em faixa condizente com as legislações estabelecidas. Entretanto, atualmente, métodos de tratamento de água vêm sendo repensados, em especial, em função da utilização dos sais de alumínio como agentes coa- gulantes. Quantidades de alumínio residual na água são mais aptas à absorção biológica, do que as oriun- das de outras fontes, o que pode resultar em deposi- ções de alumínio em vias neuroquímicas, causando efeitos adversos indesejáveis, dentre eles, destacam-se os efeitos desproporcionais sobre o mal de Alzheimer (REIBER; KUKULL; STANDISH-LEE, 1995). Assim, é importante reavaliar constantemente as metodologias empregadas no tratamento de água, com o objetivo de aumentar a eficiência e qualidade dos processos. Conforme abordamos na unidade anterior, o ci- clo de reposição da água é de suma importância para que tenhamos esse recurso disponível para utilização. O panorama da indústria brasileira no que tange aos processos produtivos que dependem da água é positivo, mas ainda há campo para melhora, princi- palmente quando falamos de agricultura e pecuária. Nossa reflexão deve ser relacionada a como diminuir o consumo desse bem tão precioso. Vimos, também, nesta unidade, os parâmetros básicos de qualidade da água conforme as nor- mas e legislações, a partir dos quais poderemos projetar e implementar uma estação de captação e tratamento de água, para, então, usá-la no abas- tecimento público. Estes são apenas alguns dos temas principais associados ao tratamento de água. Esgotar essa te- mática em apenas um material didático seria muita pretensão em função desua especificidade e da gama de assuntos relacionados que podem ser abordados. Discutir tantos assuntos voltados ao tratamento de água quando o objetivo é abordar o tratamento de efluentes é relevante, especialmente quando mui- tos dos princípios aqui apresentados também são válidos para o tratamento de efluentes, que serão tratados na próxima unidade. Coagulação Floculação Decantação Filtração Cloração Figura 1 – Etapas de uma ETA convencional Fonte: o autor. 84 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Os eventos e peculiaridades acerca do processo de tratamento de água são diversos e apresentam-se necessários, pois visam a garantia da qualidade da água enquanto produto final de um processo de tratamento. A Portaria 2914, de 2011, elaborada pelo Ministério da Saúde, dispõe sobre os parâmetros de quali- dade de água necessários para consumo humano, denominado de parâmetros de potabilidade. Em relação a esses parâmetros apresentados, associe as duas colunas, relacionando os parâmetros com a sua correta definição/finalidade: (1) Cloro. (2) Turbidez. (3) pH. (4) Cor aparente. )( Parâmetro relacionado à quantidade de partículas em suspensão (material insolúvel) presentes na água e que impedem a passagem de luz. )( Indica a natureza ácida ou básica da água. )( Parâmetro utilizado na eliminação de microrganismos que possam estar pre- sentes nas águas e que possam provocar doenças relacionadas a vias hídrica. )( Indica a presença de substâncias dissolvidas ou finamente divididas, que con- ferem coloração específica à água. Assinale a sequência correta: a) 2, 3, 1 e 4. b) 1, 2, 3 e 4. c) 2, 4, 1 e 3. d) 2, 3, 4 e 1. e) 3, 1, 4 e 3. 2. Uma ETA convencional, de acordo com a resolução CONAMA 357/2005 e a NBR 12216, de 1992, possui algumas etapas básicas para realizar o tratamento de água. São elas: Coagulação, Floculação, Decantação, Filtração e Cloração. Expli- que, com suas palavras, ao menos três dessas etapas. 85 3. A Portaria 2.914, do Ministério da Saúde, estabelece os parâmetros da água tratada utilizada para abastecimento. Naturalmente, os corpos hídricos e aquí- feros não apresentam características dentro desses parâmetros, cabendo ao responsável pela implantação da ETA analisar a viabilidade do empreendimento de acordo com alguns fatores. A escolha das tecnologias utilizadas numa ETA deve levar em conta: I) As características da água bruta disponível para captação. II) Os custos envolvidos. III) Manuseio e confiabilidade dos equipamentos. IV) Flexibilidade operacional. V) Hábitos de consumo da população. É correto o que se afirma em: a) I, II, III e IV. b) II, somente. c) III, somente. d) IV, somente. e) II, III e IV, somente. 86 Ilha das Flores Ano: 1989 Sinopse: esse filme retrata a sociedade atual, tendo como enfoque seus pro- blemas de ordem sociais, econômicas e culturais, na medida em que contrasta a força do apelo consumista, os desvios culturais retratados no desperdício e o preço da liberdade do homem, enquanto um ser individual e responsável pela própria sobrevivência. Por meio da demonstração do consumo e desperdício diários de materiais (lixo), o autor aborda toda a questão da evolução social de indivíduo, em todos os sentidos. Torna evidente todos os excessos decorrentes do poder exercido pelo dinheiro, numa sociedade onde a relação opressão e oprimido é alimentada pela falsa ideia de liberdade de uns, em contraposição à sobrevivência monitorada de outros. FILME 87 ABNT. NBR 12216: Projeto de estação de tratamento de água para abastecimento público. Rio de Janeiro, 1992. BARROS, R. T. V. et al. Saneamento. Belo Horizonte: Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, 1995. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html. Acesso em: 27 mar. 2019. BRASIL. Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Ministério do Meio Ambiente, 2005. Disponível em: http:// www2.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf. Acesso em: 27 mar. 2019. CLARK, R. M.; COYLE, J. A. Measuring and modeling variations in distributions systems water quality. 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Decantação: os flocos formados irão decantar em função das forças gravitacionais, gerando uma separa- ção do líquido menos denso das impurezas de maior peso e agregadas em função das etapas anteriores. Filtração: o processo de filtração granular descendente é relevante para a remoção dos parâmetros: tur- bidez, cor aparente, sólidos totais e densidade de microrganismos, como algas e coliformes. Cloração: o cloro e o flúor, adicionados nesta etapa, atuam visando a eliminação de microrganismos patogênicos associadosa doenças transmitidas pela água, enquanto o Cal realiza o ajuste do pH em faixa condizente com as legislações estabelecidas. 3. A. 90 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Definir as características de águas residuárias decorrentes da utilização doméstica. • Conhecer as características de águas residuárias decor- rentes da utilização industrial. • Explicar as primeiras fases de tratamento de esgoto em uma ETE. • Apresentar as fases finais de tratamento de esgoto em uma ETE, dando ênfase ao tratamento de lodo residual. Efluentes Sanitários ou Domésticos Efluentes Industriais ETE - Tratamento Secundário e Tratamento Terciário Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) - Pré-tratamento e Tratamento Primário Esp. João Marcos Pardo Me. Gustavo Affonso Pisano Mateus Gerenciamento de Recursos Hídricos – Tratamento de Águas Residuárias Efluentes Sanitários ou Domésticos Olá, caro(a) aluno(a)! Em nossa quarta unidade, continuaremos a abordagem de gerenciamento de recursos hídricos, mas tomaremos outro foco: o tratamento de águas residuárias, também conhe- cidas como efluentes. A água, como um recurso renovável, pode ser utilizada nos mais diversos processos, e o produto da utilização desse recurso precisa de tratamento e disposição final adequados para que não haja nenhum problema ambiental, sejam estes reali- zados mediante um serviço de terceirização ou, ainda, destinada a uma estação de tratamento de efluente própria da indústria. Iremos conhecer as características mais ge- neralistas dos efluentes sanitários e industriais. Os efluentes sanitários se fazem relevantes, pois, muitas vezes, você poderá deparar-se com es- tações de tratamento industriais que destinam seus efluentes sanitários no mesmo local que seus efluentes industriais, conferindo, assim, caracte- rísticas diferentes ao efluente final a ser tratado. Portanto, conhecer suas especificidades, assim como a legislação envolvida em seu despejo final, é muito importante. 93UNIDADE 4 Segundo a Resolução 430/2011 do Conama, efluente é o termo utilizado para caracterizar os des- pejos líquidos provenientes de diversas atividades ou processos, sejam domésticas, comerciais ou industriais, sendo uma composição, um reflexo de seu processo ou destinação. Na sequência, abordaremos as etapas de tratamen- to dos efluentes industriais e sanitários com base nas normas e legislações pertinentes. Finalmente, trataremos de algumas tendências no Brasil e ao redor do mundo no que se refere ao tratamento de efluentes, trabalho este que possibilita que até mesmo efluentes sanitários possam ser tratados e utilizados para abastecimento de água potável. Podemos começar? Segundo Von Sperling (2005), os efluentes do- mésticos são compostos de, aproximadamente, 99% de água, enquanto a fração restante corres- ponde a uma associação de sólidos orgânicos e inorgânicos, suspensos ou dissolvidos, nos quais são encontrados uma série de organismos e mi- crorganismos patogênicos, como vírus, bactérias, protozoários e helmintos. A associação desses compostos aos dejetos humanos faz com que esse tipo de efluente apresente características próprias, como odor característico e temperatura levemen- te elevada, devido à atividade microbiológica. O quadro a seguir apresenta as principais ca- racterísticas físico-químicas, comumente obser- vadas nos efluentes domésticos/sanitários: Quadro 1 - Características físico-químicas dos efluentes domésticos/sanitários PARÂMETRO DESCRIÇÃO Temperatura Normalmente, possuem temperatura superior à da água de abastecimento e está relacionada com a atividade dos microrganismos, solubilidade de gases, velocidade das reações químicas e viscosidade dos líquidos. Cor A coloração dos efluentes domésticos, normalmente, é cinza, cinza escuro ou preta, em função do material dissolvido. A cor desse tipo de efluente é diretamente influen- ciada pela decomposição da matéria orgânica. Odor O odor dos esgotos domésticos é desagradável em função dos gases sulfídricos liberados em função do processo de decomposição da matéria orgânica. Turbidez Influenciada pelos sólidos em suspensão, areia, argila, material orgânico e inorgânico e microrganismos, faz referência à dificuldade de difração da luz na água. Portanto, efluentes mais concentrados possuem maior turbidez. Sólidos totais Referem-se ao balanço de todos os sólidos presentes nos esgotos domésticos. Sólidos em suspensão Fração dos sólidos orgânicos e inorgânicos suspensos no esgoto, que possuem di- mensões específicas superiores, variando de > 0,45 a > 2,0 μm. Sólidos fixos Representam os componentes minerais, não incineráveis e inertes dos sólidos em suspensão. Sólidos voláteis Correspondem aos componentes orgânicos dos sólidos em suspensão. Sólidos Dissolvidos Fração dos sólidos orgânicos e inorgânicos suspensos no esgoto, que possuem di- mensões específicas inferiores, variando de < 0,45 a < 2,0 μm. Sólidos sedimentáveis Fração de sólidos orgânicos e inorgânicos que possuem peso molecular suficiente para sedimentar em um período de 1 hora. É analisado em cone Imhoff. 94 Gerenciamento de Recursos Hídricos – Tratamento de Águas Residuárias Matéria orgânica Refere-se aos compostos orgânicos, sendo os principais componentes: proteínas, carboidratos e lipídios. Para sua determinação, normalmente são analisadas as de- mandas químicas e bioquímicas de oxigênio ou via carbono orgânico total. Nitrogênio total Inclui as formas de nitrogênio orgânico, amônia, nitrito e nitrato. Componentes orgâni- cos da matéria orgânica, sua presença em efluentes está relacionada à decomposição. Fósforo É um nutriente essencial presente na composição de várias substâncias orgânicas e inorgânicas. Sua presença em esgoto doméstico está relacionada à decomposição dessas substâncias e a sua disponibilidade no meio é preocupante, pois esses nu- trientes são essenciais para o desenvolvimento de microrganismos, algas e plantas. pH Indica se a característica do esgoto é ácida ou básica. A variação nesse parâmetro pode influenciar a eficiência dos tratamentos para esse tipo de efluente. Valores ácidos de pH tornam o efluente corrosivo, ao passo que valores básicos aceleram a incrustação desses efluentes pela tubulação do sistema de esgotamento sanitário. Alcalinidade Representa a capacidade de um sistema aquoso de neutralizar ácidos sem que haja a perturbação de forma extrema das atividades biológicas que nele decorrem. Está relacionada à presença de carbonatos, bicarbonatos e hidroxilas, sódio e cálcio. Cloretos Provenientes da água de abastecimento e dos dejetos humanos. Óleos e Graxas Fração de matéria orgânica solúvel em hexano; no caso dos esgotos domésticos, estão relacionados aos óleos e gorduras utilizados no preparo ou na composição de alimentos. Presença de microrganismos A presença dos microrganismos neste tipo de efluente é predominantemente em função dos dejetos humanos. São comuns a esse tipo de efluente os coliformes fecais, sendo estes um grupo de bactérias comuns ao trato intestinal humano e de animais. Esse grupo compreende os gêneros Escherichia e, em menor grau, espécies de Klebsiella, Enterobacter e Citrobacter (WHO, 1993). Fonte: adaptado de Von Sperling (2005) e Who (1993). A legislação que dispõe especificamente sobre os padrões que devem ser atingidos para o lançamento de efluentes é a Resolução do CONAMA 430/2011. Essa legislação rege parâmetros, diretrizes e padrões para o despejo de efluentes domésticos/sanitários e industriais em corpos receptores. O artigo 21º dessa legislação preconiza que o lançamento direto de efluentes oriundos de sistemas de tratamento de esgotos sanitários deve atender os padrões expressos no quadro a seguir: Quadro 2 - Parâmetros físico-químicos e valores máximos permitidos para o lançamento de efluentes sanitários em corpos hídricos PARÂMETRO VALOR MÁXIMO PERMITIDO (VMP) ph Entre 5 e 9. Temperatura Inferior a 40 °C. Sólidos sedimentáveis Até1 mL/L (Teste em cone Inmhoff). Caso a disposição ocorra em lagos/lagoa, os sólidos sedimentáveis deverão ser ausentes. Óleos e Graxas Até 100 mg/L. Materiais flutuantes Ausentes. Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO5) Máximo de 120 mg/L, sendo que esse valor poderá ser ultrapassado no caso de efluente de sistema de tratamento, com eficiência de remoção mínima de 60% de DBO, ou mediante estudo de autodepuração do corpo hídrico que comprove atendimento às metas do enquadramento do corpo receptor. Fonte: Brasil (2011). 95UNIDADE 4 Lembrando que existem ressalvas para os efluentes sanitários, que recebem lixiviados de aterros sani- tários; neste caso, o órgão ambiental competente deverá indicar quais os parâmetros da Tabela I do art. 16, inciso II da Resolução 430/2011 do Co- nama que deverão ser atendidos e monitorados. Os cuidados específicos com esse tipo de efluente se dá em função dos possíveis impactos causados ao meio ambiente, além do aporte de matéria orgânica, que pode acelerar o processo de eutrofização. A presença de microrganismos patogênicos oriundos do trato digestivo dos se- res humanos torna-se a principal preocupação. A presença desses microrganismos faz com que esse tipo de efluente, na ausência de tratamento ade- quado, torne-se agente de transmissão de doenças relacionadas à falta de saneamento básico, como a cólera, disenterias, febres tifoides, leptospirose, amebíase, dentre outras. No Quadro 2, fomos apresentados ao pa- râmetro demanda bioquímica de oxigênio ou DBO; esse parâmetro determina, de forma in- direta, a quantidade (concentração) de matéria orgânica degradável pela ação microbiológica presente em um efluente. Ele indica a taxa de degradação do efluente em questão, estabele- cendo uma relação sobre a taxa de consumo de oxigênio em função do tempo. Em relação à demanda bioquímica de oxigênio, faz-se relevante apresentar a demanda química de oxigênio ou DQO. Esse parâmetro indicativo, assim como a DBO, avalia o consumo de oxigê- nio, só que, neste caso, a DQO avalia o consumo de oxigênio para a oxidação química da matéria orgânica, comumente analisada utilizando um agente oxidante forte, como o dicromato de po- tássio em uma alíquota da amostra com pH ácido. Esses dois parâmetros, quando comparados de forma conjunta, proporcionam informações sobre a biodegradabilidade do efluente e, conse- quentemente, auxilia na escolha do método mais adequado para o seu tratamento. Para estabelecer essa relação, utiliza-se o seguinte cálculo: sendo “r” a relação entre DQO/DBO; o resultado des- sa equação indica qual das frações envolvidas, a inerte ou a biodegradável do efluente, está elevada ou não. A Tabela 1 contém informações sobre a relação entre esses parâmetros que, segundo Von Sperling (2005), são imprescindíveis para a esco- lha do tratamento adequado. DBO trata-se da quantidade de oxigênio consumida pelos microrganismos aeróbios facultativos e/ou aeróbios presentes no efluente para que ocorra a degradação metabólica de toda a matéria biodegradável carbonácea presente. Fonte: adaptado de Brookman (1996) 96 Gerenciamento de Recursos Hídricos – Tratamento de Águas Residuárias Tabela 1 - Relação Demanda química de oxigênio/Demanda bioquímica de oxigênio em efluentes RELAÇÃO DQO/DBO INDICAÇÃO DE TRATAMENTO Baixa - < 2,5 A fração biodegradável do efluente é elevada, podendo ser indicado tratamento biológico. Intermediária - Entre 2,5 e 3,5 A fração biodegradável não é elevada, sendo necessário realizar alguns estudos de tratabilidade para verificar a viabilidade do tratamento biológico. Elevada - > 3,5 A fração inerte (não biodegradável) é elevada, possível indicação para tratamento físico-químico. Fonte: adaptada de Von Sperling (2005). Ainda sobre o Quadro 2, também foram apresentados valores máximos permitidos (VMP) para alguns parâmetros pautados em legislação, entretanto, como mensurar se o tratamento proposto está sendo efetivo e se está de acordo com os valores previstos em legislação? Por meio do cálculo de eficiência de remoção, representado pela fórmula: Em que: • E = eficiência de remoção (%). • Ce = Concentração na entrada. • Cs = Concentração na saída. Para tanto, utiliza-se o valor mensurado do parâmetro em questão antes do tratamento e o valor obtido após o tratamento aplicado. Algumas das técnicas de quantificação de alguns parâmetros físico-quí- micos que podem ser aplicadas, tanto para água como para efluentes, serão apresentados na leitura complementar desta unidade. Já os diferentes tipos de tratamento existentes serão explorados mais adiante nesta unidade. 97UNIDADE 4 Efluentes industriais são provenientes das ativida- des industriais diversas e, além de representarem um reflexo de sua utilização industrial (processos de beneficiamento), compreendem esgotos sani- tários, como dejetos humanos sólidos e líquidos; agentes saneantes, como produtos de limpeza; dentre outros tipos de resíduos. A fração de es- goto sanitário, gerado nas indústrias, pode ser tratada juntamente com os resíduos industriais ou de forma segregada. As características são variadas em efluentes industriais e estão relacionadas aos processos produtivos realizados, à matéria-prima e aos insumos utilizados durante o processo, à inten- sidade das operações realizadas ou, ainda, ao período de operação da indústria e ao consumo e reutilização de água. Efluentes Industriais 98 Gerenciamento de Recursos Hídricos – Tratamento de Águas Residuárias Alguns efluentes industriais podem apresentar características tóxicas, podendo causar efeitos danosos aos organismos que tiverem contato ou mesmo ao corpo receptor. Alguns ramos industriais ainda devem controlar as emissões em corpos receptores em função do potencial toxicológico, como indústrias químicas, petrolíferas, de galvanoplastia, dentre outras (DEZZOTI, 2008). Para saber se haverá a necessidade de realizar um tratamento prévio dos efluentes industriais e a fim de caracterizar a carga poluidora, bem como propor o tratamento mais adequado, é necessário ter um conhecimento de todo o processo para definir as condições de amostragem. Para Giordano (2004), conhecer as características da produção e todo o fluxograma do processo industrial é fundamental para lidar com os efluentes gerados. Ainda se destacam como fatores relevantes para as características dos efluentes os produtos de limpeza utilizados na indústria, a rotina de higienização dos equipamentos e instalações, horários de manutenção e número de funcionários por turno. Para a caracterização inicial do efluente (efluente bruto), devem ser considerados parâmetros rela- cionados à carga poluidora e que sejam relevantes para a compreensão das características do efluente, devendo ser consideradas a frequência de amostragem, a forma de coleta, o acondicionamento, o armazenamento, a sazonalidade produtiva e as condições climáticas. Alguns exemplos de efluentes industriais das mais variadas atividades e suas composições estão expressos no Quadro 3. Quadro 3 - Composição de alguns efluentes industriais ATIVIDADE COMPOSIÇÃO DO EFLUENTE Agropecuária intensiva Oriundos da bovinocultura e da suinocultura, estão relacionados à quantida- de de água utilizada nos processos, como limpeza de estabelecimentos ou equipamentos. Apresentam elevados índices de matéria orgânica, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, sódio, magnésio, ferro, zinco e cobre, dentre outros elementos incluídos na dieta (SILVA, 2007). Serviços de Saúde Podem ser classificados em duas categorias, uma relacionada aos usos ro- tineiros, de higiene e sanitários; enquanto a outra classificação refere-se a pesquisas e utilização de formulações química e de fármacos. Normalmente, possuem pH diferentes em relação aos esgotos sanitários comuns, devi- do à presença de excretas contaminadas, líquidos biológicos, resíduos de medicamentos, solventes, corantes, dentre outros (BOILLOT et al., 2008). O tratamento dos efluentesdos serviços de saúde estão sujeitos a exigências especiais previstas por legislação. Lixiviado (chorume) Em geral, em sua composição, encontram-se matéria orgânica dissolvida e solubilizada, produtos intermediários da digestão anaeróbia de microrganis- mos, substâncias químicas persistentes oriundas dos agrotóxicos ou demais xenobióticos (BASSANI, 2010). A concentração dos metais nos lixiviados está relacionada à composição dos materiais destinados aos aterros ou aos lixões. Indústria Têxtil Grandes consumidores de água e de corantes sintéticos, geradores de efluen- tes volumosos e complexos com elevada carga orgânica, aliada ao elevado teor de sais inorgânicos (KAMIDA et al., 2005). Fonte: adaptado de Silva (2007), Boillot et al. (2008), Bassani (2010) e Kamida et al. (2005). Quanto ao seu descarte, o artigo 16º, da Resolução Conama 430/2011, preconiza que os efluentes de qualquer fonte poluidora poderão ser lançados em corpos hídricos, desde que atendam os parâmetros do Quadro 4: 99UNIDADE 4 Quadro 4 - Parâmetros físico-químicos e valores máximo per- mitido de efluentes em corpos hídricos, segundo a resolução Conama PARÂMETRO VALOR MÁXIMO PERMITIDO (VMP) pH Entre 5 e 9 Temperatura Inferior a 40 °C Sólidos sedimentáveis Até 1 mL/L (Teste em cone Inmhoff), caso a disposição ocorra em lagos/lagoa, os só- lidos sedimentáveis deverão ser ausentes. Regime de lançamento Vazão máxima de até 1,5 da vazão média do agente polui- dor, podendo ser superior em casos permitidos por autorida- des competentes. Óleos e graxas Óleos Minerais até 20 mg/L e Óleos Vegetais e Gordura Ani- mal até 50 mg/L. Materiais flutuantes Ausentes DBO5 Remoção mínima de 60%, po- dendo ser alterado somente mediante a estudo de autode- puração. Fonte: Brasil (2011). Reparem que esses padrões são muito próximos aos padrões estabelecidos pela mesma resolução para o despejo de efluentes sanitários em corpos receptores. Entretanto, cabe destacar que, tanto para os efluentes industriais como para os do- mésticos, as legislações estaduais ou municipais podem apresentar variações em relação aos valo- res impostos pelo Conama, devendo ser atendida sempre aquela legislação que se apresentar mais restritiva. Ainda sobre a resolução 430/2011 do Conama, em um segundo momento, ainda no artigo 16, são apresentados os padrões de lançamento de efluentes em relação aos parâmetros inorgânicos e orgânicos, expresso na Tabela 2: 100 Gerenciamento de Recursos Hídricos – Tratamento de Águas Residuárias Tabela 2 - Padrões de lançamento de efluentes - parâmetros orgânicos e inorgânicos PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO PERMITIDO (VMP) Arsênio total 0,5 mg/L As Bário total 5,0 mg/L Ba Boro total (não se aplica a águas salinas) 5,0 mg/L B Cádmio total 0,2 mg/L Cd Chumbo total 0,5 mg/L Pb Cianeto total 1,0 mg/L CN Cianeto livre 0,2 mg/L CN Cobre dissolvido 1,0 mg/L Cu Cromo hexavalente 0,1 mg/L Cr+6 Cromo trivalente 1,0 mg/L Cr+3 Estanho total 4,0 mg/L Sn Ferro dissolvido 15,0 mg/L Fe Fluoreto total 10,0 mg/L F Manganês dissolvido 1,0 mg/L Mn Mercúrio total 0,01 mg/L Hg Níquel total 2,0 mg/L Ni Nitrogênio amoniacal total 20,0 mg/L N Prata total 0,1 mg/L Ag Selênio total 0,30 mg/L Se Sulfeto 1,0 mg/L S Zinco total 5,0 mg/L Zn PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO PERMITIDO (VMP) Benzeno 1,2 mg/L Clorofórmio 1,0 mg/L Dicloroeteno (somatório de 1,1 + 1,2cis + 1,2 trans) 1,0 mg/L Estireno 0,07 mg/L Etilbenzeno 0,84 mg/L Fenóis totais (substâncias que reagem com 4-ami- noantipirina) 0,5 mg/L C6H5OH Tetracloreto de carbono 1,0 mg/L Tricloroeteno 1,0 mg/L Tolueno 1,2 mg/L Xileno 1,6 mg/L Fonte: Brasil (2011). 101UNIDADE 4 Anteriormente, foi dito que os tratamentos de água e de efluentes possuem algumas caracterís- ticas em comum. Pois bem, nos próximos dois tópicos, destinados ao tratamento de efluentes, iremos, novamente, comentar sobre algumas dessas técnicas. O tratamento de efluentes des- tina-se à aplicação de técnicas e procedimentos necessários para adequar as águas residuárias à legislação pertinente. A eficiência do tratamento está associada ao nível/complexidade de trata- mentos aos quais os efluentes estão submetidos. As etapas do tratamento de efluentes podem ser classificadas em: • Tratamento Preliminar ou Pré-tratamento. • Tratamento Primário. • Tratamento Secundário. • Tratamento Terciário. Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) - Pré-Tratamento e Tratamento Primário 102 Gerenciamento de Recursos Hídricos – Tratamento de Águas Residuárias Cada uma dessas etapas é caracterizada por uma série de processos, especificados a seguir. Porém, inicial- mente, vamos apresentar uma planta modelo de uma estação de tratamento de efluentes. Lembrando que a estação de tratamento de uma indústria pode variar quando a produção não ficar localizada no mesmo espaço físico que a indústria, podendo ocorrer o armazenamento e transporte para posterior tratamento ou, ainda, a terceirização desse serviço para empresas especializadas. A Figura 1 esquematiza uma ETE industrial: ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO Clari�cadores primários Biorreatores de Oxigênio Clari�cadores secundários Desinfecção por UV Descarga no corpo hídrico Caixa de areia e remoção de lodo Lagoas digestoras Boilers Geradores E�uente Industrial Energia elétrica gerada e revertida para a indústria Nesse modelo de planta de estação de tratamento industrial ocorrem, basicamente, os mesmos pro- cessos descritos na estação de tratamento de água, porém com algumas variações. Note que, nesse mo- delo, ainda ocorre a captação dos gases gerados nos digestores e sua conversão em energia elétrica. Infe- lizmente, tal modelo ideal não se aplica com tanta frequência em nosso país, visto que a geração de efluentes de alta carga poluidora ocorre, em geral, em instalações improvisadas de pequeno a médio porte, muitas delas conduzidas por recicladores informais, sem licenciamento para seu funciona- mento e sem qualquer compromisso com a legisla- ção ambiental (BORDONALLI; MENDES, 2009). O que se observa, normalmente, são peque- nas estações de tratamento compostas por um sistema de gradeamento prévio ao espaço ou tanque destinado à equalização e correção de pH, seguido de um tanque de coagulação/flo- culação/sedimentação e uma única lagoa de estabilização biológica, onde ocorrerá a degra- dação biológica da carga poluidora. A realidade ambiental das indústrias, muitas vezes, é bem diferente do que a identidade transmitida por ela, fique atento(a)! Nesse sentido, vamos dar sequência à descri- ção das etapas do tratamento de efluentes. Figura 1 – ETE industrial 103UNIDADE 4 Tratamento Preliminar O Tratamento Preliminar tem por objetivo a remoção de sólidos e materiais que são des- cartados nas vias fluviais como, por exemplo, plástico, madeiras ou qualquer outro tipo de re- síduo sólido estranho à composição do efluente industrial. O princípio do aplicado na remoção desses materiais é física e pode ser realizado via gradeamento e/ou peneiramento. Ambas me- todologias consistem em barreiras físicas com grades ou peneiras com espessuras variadas que retém materiais inapropriados e que devem ser retirados manualmente (Figura 2). Nesta etapa do tratamento, ainda ocorre a se- paração de materiais flutuantes, como espumas com densidade menor que a da água nas chama- das caixas de gordura e também a equalização que visa minimizar o fluxo, impossibilitando o aporte excessivo no sistema de tratamento e, por fim, a correção do pH ou neutralização pela adição de ácido ou base ao volume armazenado, objetivando potencializar as etapas sequenciais. Figura 2 - Gradeamento para remoção de sólidos grosseiros numa ETE Tratamento Primário Após o tratamento preliminar, o efluente ainda apresenta grande parte de sólidos em suspensão e elevada carga de matéria orgânica que podem ser separados do efluente pelo processo de separação de sólido-líquido, baseado na diferença de densi-dade das substâncias presentes na água que sofrem influência da força gravitacional, denominada sedimentação/decantação. Essa etapa ocorre em decantadores ou sedimentadores (clarificadores) que são reservatórios circulares ou retangulares. O processo mais comum e mais utilizado é o de coagulação/floculação/sedimentação (Figura 3), especialmente pelos países em desenvolvimento; nesta etapa do tratamento primário, reagentes quí- micos coagulantes são adicionados e possibilitam a formação de flocos de carga positiva e com alto peso molecular. Desta forma, os flocos formados ficam sujeitos à ação gravitacional durante a sedi- mentação. Esse processo é comumente aplicado no tratamento de água e os coagulantes mais utilizados são os sais férricos e o policloreto de alumínio. Ou- tro tratamento primário que pode ser utilizado é a flotação, que consiste na injeção de ar comprimido na parte inferior do tanque, o que faz com que as impurezas sejam impulsionadas para a parte supe- rior do tanque após a coagulação, possibilitando a retirada mecânica por pás ou sistema automatizado. Figura 3 - Ensaio de Floculação Após a clarificação da água por meio do tratamen- to primário, ainda é necessário tratar os microrga- nismos presentes na água, bem como conferir a ela qualidades almejadas para sua distribuição. É esse o objetivo do Tratamento Secundário e Terciário. Tratamento Secundário O Tratamento Secundário possui como essência a atividade biológica, visando a remoção de matéria orgânica. Nesta etapa, em reservatórios destina- dos exclusivamente a esse tratamento, micror- ganismos, como bactérias e fungos, consomem/ degradam a matéria orgânica, gerando subprodu- tos não tóxicos, água e gás carbônico. Entretanto, para o sucesso desse tratamento, alguns fatores devem ser controlados para otimizar a ação dos microrganismos, como temperatura, pH e pre- sença ou ausência de oxigênio. Os tratamentos mais comuns são: lagoas de estabilização, reatores anaeróbios, formação de biofilmes e lodo ativado. ETE - Tratamento Secundário e Tratamento Terciário 105UNIDADE 4 Para esse processo, dependendo da aplicação, tratamentos preliminares são dispensados, pois os sólidos são necessários para o acúmulo e a manutenção do sistema biológico. Tratamentos secundários são constituídos por uma gama de metodologias que apresentam vantagens específicas relacionadas às aplicações e aos resultados desejados. Para auxiliar na comparação dos diversos tratamentos secun- dários existentes, o Quadro 5 expressa algumas informações. Quadro 5 - Tratamentos Secundários TRATAMENTO VANTAGENS DESVANTAGENS Lagoas Facultativas e Anaeróbias- Facultativas Remoção da demanda bioquí- mica de oxigênio. Fácil construção e Manutenção. Necessita de grandes extensões territoriais. Dificuldade em atender os padrões de lan- çamento. Proliferação de insetos. Sujeito à interferência climática. Lagoa Aerada Facultativa Fácil construção, operação e manutenção. Não requer tanta extensão de território. Eficiente na remoção da de- manda bioquímica de oxigênio. Elevado consumo energético. Necessidade de equipamento e maquinário. Baixa remoção de coliformes. Manutenção para remoção de lodo periódica. Tanque Séptico Resistência à variação de carga. Não requer extensão territorial elevada. Eficiente remoção da demanda bioquímica de oxigênio. Baixa eficiência aos nutrientes relacionados à eutrofização. Gera odores fortes e desagradáveis. Necessita de pós-tratamento. Reator UASB Baixos requisitos de área e energia. Eficiente para a remoção da de- manda bioquímica de oxigênio. Possibilita reuso do Biogás. Necessita de pós-tratamento. Baixa eficiência aos nutrientes relacionados à eutrofização. Lodos Ativados Baixos requisitos de área. Eficiente para remoção de fós- foro, nitrogênio e demanda bioquímica de oxigênio. Elevados consumos de energia para opera- ção. Problemática com ruídos. Pouca eficiência para remoção de coliformes. Fonte: adaptado de Andreoli, Von Sperling e Fernandes (2001). Em todos os tipos de tratamento secundário citados, é necessário fazer a gestão adequada do lodo gerado, sendo que o lodo resultante da atividade biológica, eventualmente e conforme a necessi- dade, deverá ser retirado da lagoa em que estiver sendo aplicado, preferencialmente quando sua atividade biológica for reduzida devido à intensa utilização. Antes de seu descarte, todo esse lodo residual deverá ser tratado antes de receber uma destinação final adequada. 106 Gerenciamento de Recursos Hídricos – Tratamento de Águas Residuárias Tratamento Terciário A adsorção consiste em um processo físico ou químico que in- duz aglomeração das substâncias de interesse em uma superfície, como exemplo é possível citar o carvão ativado, que apresenta sua superfície modificada para atrair substâncias específicas. A adsor- ção pode ser realizada utilizando resíduos da produção que sirvam como suporte ou superfície para a adesão de moléculas elaboradas/ específicas, como pesticidas, corantes, hormônios, dentre outras. Já os processos oxidativos avançados (POA) consistem em pro- cessos que visam a eliminação de substâncias mediante a quantidade de radicais hidroxilos (OH) disponíveis para oxidação da substância de interesse. Alguns exemplos de POA são a fotocatálise (Figura 4), ozonização e fotólise. Para acelerar esses processos, utilizam-se ra- dicais oxidantes e pouco seletivos, que podem ser obtidos por meio de diferentes combinações entre a radiação ultravioleta, peróxido de oxigênio, ozônio e fotocatalisadores. Fotocatálise Poluente orgânico lente TiO2 CO2 H20 CO2 H20Poluente orgânico Figura 4 - Fotocatálise Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. A última etapa do tratamento de efluentes consiste na última ten- tativa de adequar os parâmetros que ainda não se enquadraram nos valores estabelecidos pela legislação. Dentre as opções an- teriores, o tratamento terciário se torna o mais variável de acordo com a necessidade, logo, pode- mos relacionar essa etapa com a composição inicial do efluente e suas necessidades específicas. Alguns exemplos desse trata- mento são a desinfecção, adsor- ção em carvão ativado, processos oxidativos avançados, dentre outros processos que visam a re- moção de poluentes específicos, como o nitrogênio e o fósforo que aceleram o processo de eu- trofização em corpos hídricos. A desinfecção é realizada pela ação de agentes saneantes ou energia na forma de radiação ultraviole- ta, com o intuito de eliminar mi- crorganismos característicos do tratamento de esgotos e estranhos ao meio ambiente. Esses micror- ganismos, normalmente, estão atrelados a doenças de veiculação hídrica e serão abordadas em um encontro específico. https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/589 107UNIDADE 4 Outro tratamento terciário relevante é o trata- mento por meio de membranas filtrantes, que são capazes de realizar a separação de partículas só- lidas da água, por meio de pequenas membranas porosas ou semipermeáveis, planas ou tubulares. As membranas são capazes de remover moléculas e compostos iônicos dissolvidos, atuando como barreira seletiva, retendo determinadas substân- cias. A filtração por meio de membranas, atual- mente, tem sido objeto de grande atenção nos processos de tratamento de água potável. Dentre os motivos para tal atenção, destacam-se as legis- lações cada vez mais rígidas e a pressão social para melhoria do padrão de saúde. Dentre os diferentes tipos de membranas uti- lizadas no tratamento de água, destacam-se as membranas de microfiltração, ultrafiltração, na- nofiltração e a de osmose reversa. Tais membranas podem ser diferenciadas pelo diâmetro dos poros e resistência à pressão que promove a separação dos contaminantes. As membranas de osmose reversa são mais seletivas, e as de microfiltração são as menos seletivas. A deposição de material em suspensão sobre a superfície da membranaocasiona a formação da torta, podendo ocorrer o acúmulo da solução na região, contribuindo com a resistência devido à formação de um gel. Uma problemática relaciona- da ao uso de membranas no tratamento de efluen- tes está relacionada ao acúmulo de substâncias na superfície da membrana, ocasionando o fouling ou entupimento da membrana. Para solucionar tal problema, limpezas devem ser incorporadas ao sistema de operação como forma de prevenir o fouling (LAUTENSCHLAGER; DERREIRA FILHO; PEREIRA, 2009). Para László et al. (2009), a filtração por mem- branas é um método eficiente para redução de DQO, entretanto, amostras com elevado teor de matéria orgânica ocasionam o fouling da mem- brana e reduzem drasticamente o fluxo de per- meado. Tal fato dificulta a utilização de membra- nas em escala industrial. Porém, países desenvolvidos já vêm aplican- do com sucesso o tratamento com membranas em amostras com menor teor de sólidos e menor carga orgânica; as membranas filtrantes ainda são encontradas nas indústrias alimentícias como fer- ramenta para recuperação de insumos proteicos, demonstrando que essa tecnologia emergente apresenta tendências de adaptabilidade e, em um futuro próximo, poderão ser empregadas com sucesso no tratamento de efluentes (MATEUS et al., 2017a; MATEUS et al., 2017b). Ouça o Podcast da CBN – Cidadania e Sustentabilidade e entenda como Cingapura tem combatido a falta de água cada vez maior. Utilizando tecnologias de ponta, o país é capaz de, até mesmo, reciclar esgoto doméstico e potabilizá-lo. Disponível em: http://www.cbnmaringa.com.br/noticia/cingapura-possui-estrategias-hidricas-para- -combater-falta-de-agua. 108 Gerenciamento de Recursos Hídricos – Tratamento de Águas Residuárias Vale ressaltar que, dependendo do objetivo a ser alcançado, para o efluente a ser tratado, nem todas essas etapas precisam ser realiza- das, por exemplo, caso você busque apenas alcançar os padrões es- pecificados para o descarte de efluentes, normalmente, a associação de tratamentos preliminares, primário e secundário proporcionarão os resultados esperados; agora, caso você almeje a reutilização de água dentro da indústria, alguns cuidados devem ser tomados. A reutilização de água dentro da indústria tem recebido grande atenção nos últimos anos e se tornado foco de inúmeras pesquisas; entretanto, a maior realização que se faz de água dentro das indús- trias após o tratamento é a reutilização secundária, destinada a processos que não requerem elevada qualidade e que não prejudique a qualidade final do produto, como a irrigação, higiene de áreas de lazer, pátios e caminhões. Para que seja possível uma reutilização primária de água pela indústria, ou seja, como parte ou insumo no processo, a água deve atender elevados padrões de qualidade, incluindo do ponto de vista microbiológico, sendo os processos terciários de nanofiltração ou osmose reversa recomendados para tal ação. Nesta unidade, observamos inúmeras informações sobre os efluentes industriais e sanitários, desde limites para a disposição em corpo hídrico até a sua legislação específica e podemos com- preender que ambos os efluentes são um reflexo expresso de sua utilização, assim, aprendemos que um efluente nunca apresentará composição diferente daquela que está relacionada ao seu processo produtivo ou de beneficiamento. Podemos, por fim, conhecer os diferentes tipos de tratamento utilizados, sendo eles o tratamento preliminar, primário, secundário e terciário, este que se faz tão relevante para indústria, especialmente por ser a última etapa para adequar os efluentes aos padrões dese- jados e esperados para seu despejo, possibilitando, ainda, condições de reutilização do efluente tratado dentro da própria indústria. Sendo assim, conhecer todos os processos da indústria nunca foi tão importante, pois, desta forma, é possível conhecer a composi- ção do efluente final e buscar, dentre as alternativas de tratamento disponível/existentes, aquela que melhor se adequa à realidade financeira e operacional da indústria. 109 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Os processos oxidativos avançados têm obtido grande atenção em função do aumento da complexidade e dificuldade no tratamento de águas residuárias. Tal fato resultou na intensificação da busca por novas metodologias, visando a remediação desses re- jeitos. Em relação aos processos oxidativos avançados, assinale a alternativa correta. a) Os processos oxidativos avançados são componentes do tratamento primário. b) Possuem como principal objetivo a eliminação de sólidos dissolvidos e em suspensão. c) São exemplos de processos oxidativos avançados o gradeamento e a coagulação. d) Processos oxidativos avançados são componentes do tratamento preliminar. e) Visam eliminação de substâncias mediante a quantidade de radicais hidroxilos (OH) disponíveis para oxidação. 2. As técnicas de tratamento terciário são responsáveis pela remoção de substâncias específicas, como hormônios ou fármacos que não puderam ser removidas nas eta- pas anteriores de tratamento. Dentre as técnicas destinadas ao tratamento terciário, figuram a adsorção, os processos oxidativos avançados e a filtração por membranas. Dentre os processos citados, a filtração em membranas se destaca como uma técnica emergente que garante excelentes resultados para a recuperação de insumo, trata- mento de água e efluentes. Em face do exposto, discorra sobre o processo de filtração em membranas, abordando suas características e especificidades. 3. O tratamento secundário possui como essência a atividade biológica, visando a remo- ção de matéria orgânica. Nessa etapa, em reservatórios destinados exclusivamente a esse tratamento, microrganismos, como bactérias e fungos, consomem/degradam a matéria orgânica, gerando subprodutos não tóxicos, água e gás carbônico. Entre- tanto, para o sucesso desse tratamento, alguns fatores devem ser controlados para otimizar a ação dos microrganismos, como temperatura, pH e presença ou ausência de oxigênio. Entretanto, todo tratamento secundário resultará em um lodo residual da atividade microbiológica que deve receber uma atenção especial. Considerando o exposto, discorra brevemente sobre as medidas que devem ser tomadas em relação a esse novo resíduo. 110 Manual de Tratamento de Efluentes Industriais Autor: José Eduardo W. Cavalcanti Editora: Engenho Sinopse: esse manual visa proporcionar aos profissionais conhecer as nuances que envolvem o tratamento de efluentes industriais. Prioritariamente dirigido à indústria, é constituído por 18 capítulos, abordando temas especialmente se- lecionados em função das necessidades na condução do processo de controle de poluição no que tange a tratamento de efluentes e reuso de água. LIVRO 111 ANDREOLI, C. V.; VON SPERLING, M.; FERNANDES, F. Lodo de Esgotos: tratamento e disposição final. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFMG, 2001. BASSANI, F. Monitoramento do lixiviado do aterro controlado de Maringá, Paraná, e avaliação da tratabilidade com coagulantes naturais, radiação ultravioleta (UV) e ozônio. 2010. 127 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana) - UEM, Maringá, 2010. BOILLOT, C. et al. Daily physicochemical, microbiological and ecotoxicological floculations of a hospital effluent according technical and care activities. Science of the Total environment, n. 403, p. 113-129, 2008. BORDONALLI, A. C. O.; MENDES, C. G. N. Reuso de água em indústria de reciclagem de plástico tipo PEAD. Eng Sanit Ambient., v. 14, n. 2, p. 235-244, 2009. BRASIL. Resolução CONAMA nº 430/2011. Dispõe sobre condições e padrões de lançamento de efluentes e altera a Resolução 357, de 17 de Março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, 2011. BROOKMAN, S. K. E. Estimation of biochemical oxygen demand in slurry and effluents using ultra- -violet spectrophotometry. Water Research, [s.l.], v. 31, n. 2, p. 372-374, fev. 1997. ElsevierBV. http://dx.doi. org/10.1016/s0043-1354(96)00250-3. DEZZOTI, M. (coord.). Processos e técnicas para o controle ambiental de efluentes líquidos. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. GIORDANO, G. Tratamento e controle de efluentes industriais. Revista ABES. Rio de Janeiro, n. 76, v. 4, p. 81, 2004. KAMIDA, H. M. et al. Biodegradação de efluente têxtil por Pleurotus sajor-caju. Quím. Nova. São Paulo, v. 28, n. 4, p. 629-632, ago. 2005. LÁSZLÓ, Z. et al. Effect of preozonation on the filterability of model dairy waste water in nanofiltration. De- salination, v. 240, p. 170-177, 2009. LAUTENSCHLAGER, S. R.; FERREIRA FILHO, S. S.; PEREIRA, O. Modelação matemática e otimização ope- racional de processos de membrana de ultrafiltração. Revista Engenharia Sanitária Ambiental, v. 14, n. 2, p. 215-222, abr./jun. 2009. 112 MATEUS, G. A. P. et al. Evaluation of natural coagulant Moringa oleifera Lam. in the treatment of dairy was- tewater in different pH. Acta Hortic. v. 1158, p. 357-364, 2017a. MATEUS, G. A. P. et al. Coagulation/Flocculation with Moringa oleifera and Membrane Filtration for Dairy Wastewater Treatment. Water Air Soil Pollut. p. 228-342, 2017b. SILVA, E. M. Avaliação de um sistema piloto para tratamento de efluentes de sala de ordenha de bovi- nocultura. Campinas, 2007, 130 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) - Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 2007. VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3. ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental - UFMG, 2005. WHO. World Health Organization. Guidelines for drinking-water quality, 2 ed. Geneva: WHO, 1993. 113 1. E. 2. Dentre os diferentes tipos de membranas utilizadas no tratamento de água, destacam-se as membranas de microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração e a de osmose reversa. Tais membranas podem ser diferen- ciadas pelo diâmetro dos poros e resistência à pressão que promove a separação dos contaminantes. As membranas de osmose reversa são mais seletivas, e as de microfiltração são as menos seletivas. A depo- sição de material em suspensão sobre a superfície da membrana ocasiona a formação da torta, podendo ocorrer o acúmulo da solução na região, contribuindo com a resistência devido à formação de um gel. Uma problemática relacionada ao uso de membranas no tratamento de efluentes está relacionada ao acúmulo de substâncias na superfície da membrana, ocasionando o fouling ou entupimento da membrana. Para solucionar tal problema, limpezas devem ser incorporadas ao sistema de operação como forma de prevenir o fouling. A filtração por membranas é um método eficiente para redução de DQO, entretanto, amostras com elevado teor de matéria orgânica ocasionam o fouling da membrana e reduzem drasticamente o fluxo de permeado. Tal fato dificulta a utilização de membranas em escala industrial. 3. Em todos os tipos de tratamento secundário citados, é necessário fazer a gestão adequada do lodo gerado, sendo que o lodo resultante da atividade biológica, eventualmente e conforme a necessidade, deverá ser retirado da lagoa em que estiver sendo aplicado, preferencialmente quando sua atividade biológica for reduzida devido à intensa utilização. Antes de seu descarte, todo esse lodo residual deverá ser tratado antes de receber uma destinação final adequada. 114 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Apresentar os fatores influenciadores da geração de re- síduos sólidos. • Classificar os tipos de resíduos de acordo com normas e legislações vigentes. • Entender o papel da coleta e transporte na gestão ade- quada dos resíduos sólidos. De onde vêm os Resíduos Sólidos? Classificação dos Resíduos Sólidos Coleta e Transporte de Resíduos Sólidos Esp. João Marcos Pardo Me. Gustavo Affonso Pisano Mateus Me. Renata Cristina de Souza Chatalov Resíduos Sólidos – Geração, Classificação, Coleta e Transporte De onde vêm os Resíduos Sólidos? Caro(a) aluno(a), nesta unidade, abordaremos a questão dos resíduos sólidos gerados por quase todas as atividades humanas e compreendidos por uma grande diversidade de materiais, em que es- tão incluídos: orgânicos, papéis, plásticos, garrafas, lâmpadas, bagaço de cana, entulho de construção civil, pneus, pilhas, baterias, medicamentos ven- cidos, entre outros. Se não bastasse a grande variedade na com- posição dos resíduos sólidos, sua quantidade e qualidade mudaram no decorrer dos anos, acom- panhando as mudanças culturais, tecnológicas e comportamentais da sociedade, pois quanto mais a população e a economia crescem, mais quanti- dades de resíduos são geradas. Veremos, também, a definição de resíduos só- lidos, de acordo com a NBR ABNT 10.004/2004; a classificação dos resíduos sólidos, bem como a sua tipologia. Essa norma classifica os resíduos sólidos em: I - perigosos, II-A - não inertes e II-B - inertes, e é importante para se pensar na gestão de resíduos dentro de uma organização. Finalmente, estudaremos aspectos importantes e iniciais do gerenciamento de resíduos sólidos: a geração, a coleta, o acondicionamento, a coleta externa e o transporte. 117UNIDADE 5 A palavra lixo é derivada do latim lix, que signi- fica cinza. No dicionário, ela é definida como sujeira, imundície, coisa ou coisas inúteis, velhas, sem valor. De acordo com Rocha, Rosa e Cardoso (2009), lixo é considerado como sendo restos das atividades hu- manas consideradas, pelos geradores, como inúteis, descartáveis ou indesejáveis. Para Philippi Jr. e Aguiar (2005), os resíduos constituem os subprodutos da atividade humana com características específicas, definidas, geralmente, pelo processo que os gerou. Já os rejeitos são todos os resíduos que não têm apro- veitamento econômico por nenhum processo tecno- lógico disponível e acessível. A Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT), por meio da Norma Regulamentadora NBR 10.004/2004, define resíduos sólidos como sendo: “ [...] aqueles que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particu- laridades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e eco- nomicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (ABNT, 2004, p. 1). Os resíduos sólidos (Figura 1) são gerados por quase todas as atividades humanas, compreendem uma grande diversidade de materiais, nos quais incluem restos de alimentos, computadores, gar- rafas, plástico, papelão, bagaço de cana, lâmpadas queimadas, palha de milho, baterias, pilhas, lodos de estação de tratamento de esgoto (ETE), pneus, peças anatômicas, remédios vencidos, materiais radioativos, sucata de metal, produtos químicos perigosos, trapos velhos e outros. Figura 1 - Resíduos Sólidos Outros fatores que influenciam a geração dos re- síduos sólidos no meio urbano são: • Variações sazonais. • Condições climáticas. • Nível educacional. • Poder aquisitivo. • Área relativa de produção. • Sistematização na origem. • Número de habitantes do local. • Segregação na origem. • Leis e regulamentações específicas. • Tipo de equipamentos de coleta. • Hábitos e costumes da população. Naturalmente, a gestão adequada dos resíduos sólidos depende da análise de tais fatores com o fim de otimizar recursos. 118 Resíduos Sólidos – Geração, Classificação, Coleta e Transporte As classificações mais utilizadas dos resíduos só- lidos são quanto aos riscos potenciais de conta- minação do meio ambiente e quanto à natureza ou origem. Classificação quanto aos Riscos Potenciais de Contaminação do Meio Ambiente A ABNT NBR 10.004/2004 estabelece que a clas- sificação dos resíduos pode ser feita com base nos critérios de periculosidade. Podemos observar essa classificaçãona Figura 2. Classificação dos Resíduos Sólidos 119UNIDADE 5 Resíduos Sólidos Perigosos Não Perigosos Classe l Classe ll Classe ll A Classe ll B Não Inertes Inertes Figura 2 - Classificação dos Resíduos Sólidos de acordo com a NBR 10.004/2004 Fonte: adaptada de ABNT (2004). Resíduos Classe I – Perigosos: são provenientes, principalmente, de processos produtivos, em uni- dades industriais e fontes específicas. No entanto, podem estar presentes, também, em domicílios e comércios (ABNT, 2004). São resíduos ou mis- tura de resíduos que, por sua natureza (inflama- bilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade) e por suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, podem apresen- tar riscos à saúde pública, provocando ou acen- tuando aumento da mortalidade por incidências de doenças e dos riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de maneira inadequada (DERÍSIO, 2012). Como exemplos de resíduos classe I, temos: pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, compo- nentes eletrônicos de alta tecnologia (chips, fibra ótica, semicondutores, tubos de raios catódicos), embalagens de agrotóxicos, resíduos de tintas e solventes (BRASIL, 2006). Resíduos Classe II-A (Não Inertes): podem ter como propriedades a biodegradabilidade, a combustibilidade ou a solubilidade em água (ABNT, 2004). Como exemplos desses resíduos, temos: resíduos orgânicos, papéis, plásticos, po- das de árvores e outros. Resíduos da Classe II-B (Inertes): não apre- sentam nenhum de seus constituintes solubili- zados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade em água, com exceção dos aspectos cor, turbidez, dureza e sabor. Ocorrendo a impos- sibilidade do enquadramento dos resíduos, em pelo menos um dos critérios (tóxico, corrosivo, inflamável, reativo e patogênico), a mesma norma estabelece a necessidade de que amostras deles sejam submetidas a ensaios tecnológicos. Classificação quanto à Origem ou Natureza No que diz respeito em função de sua origem ou natureza, a classificação dos resíduos sólidos pode ser: domiciliar ou doméstico, comercial, pú- blico, serviços de saúde, agrícola, industrial e de construção civil. Os resíduos domiciliares são provenientes de atividades residenciais, como res- tos de alimentos, jornais, revistas, garrafas, emba- lagens, papel higiênico e uma variedade de outros itens. Os resíduos comerciais são originados a partir de atividades comerciais e de serviços, por exemplo, papel, plásticos, embalagens e outros. Os resíduos públicos são oriundos de limpeza pública urbana, logradouros públicos, feiras livres e outros. Como exemplos, podemos citar: terra, areia, folhas, galhadas e também aqueles descar- tados de forma inadequada pela população, como entulho, papéis, restos de alimentos e embalagens. Os resíduos de serviços de saúde são aqueles comuns e especiais, produzidos em serviços de saúde, tais como hospitais, laboratórios, farmácias, clínicas veterinárias etc. Podemos observar essa classificação de acordo com a RDC ANVISA nº 306/04 e a Resolução do CONAMA 358/05, no Quadro 1 a seguir: 120 Resíduos Sólidos – Geração, Classificação, Coleta e Transporte Quadro 1 - Classificação dos Resíduos de Serviços de Saúde CLASSE DEFINIÇÃO EXEMPLO A – Biológicos Resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas caracte- rísticas de maior virulência ou concentra- ção, podem apresentar risco de infecção. Culturas e estoques de microrga- nismos, bolsas contendo sangue, peças anatômicas e outros. B – Químicos Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pú- blica ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Resíduos de saneantes, desinfec- tantes, efluentes de processadores de imagem, reagentes para labora- tório e outros. C – Radioativos Quaisquer materiais resultantes de ativi- dades humanas que contenham radionu- clídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e para os quais a reutili- zação é imprópria ou não prevista. Materiais resultantes de laborató- rios de pesquisa e ensino na área de saúde, laboratórios de análises clínicas e serviços de medicina nuclear e radioterapia que conte- nham radionuclídeos em quanti- dade superior aos limites de elimi- nação. D – Comuns Resíduos que não apresentem risco bio- lógico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equipa- rados aos resíduos domiciliares. Papéis, plásticos, resíduos orgâni- cos, papelão e outros. E – Perfurocortantes Materiais perfurocortantes ou escarifi- cantes. Lâminas de barbear, agulhas, es- calpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas e outros. Fonte: adaptado de Conama (2005) e Anvisa (2004). O manejo dos resíduos de saúde é entendido como a ação de gerenciar os resíduos em seus aspec- tos dentro e fora do estabelecimento, desde a geração até a disposição final (DUARTE, 2010). O seu manuseio está regulamentado pela norma NBR 12.809/93 da ABNT e compreende os cuidados que se deve ter para segregar os resíduos na fonte e para lidar com os resíduos perigosos. Monteiro et al. (2001) afirma que o procedimento mais importante para manusear os resíduos dos serviços de saúde é a hora de separar, na própria origem, o lixo infectante dos resíduos comuns, uma vez que o primeiro representa apenas 10 a 15% do total de resíduos, e o lixo comum não necessita de muitos cuidados. Além disso, para manusear os resíduos infectantes, devem ser utilizados os seguintes equipamentos de proteção individual (EPI): avental plástico, luvas, bota ou sapato fechado, óculos e máscara. Os resí- duos de serviços de saúde devem ser acondicionados diretamente nos sacos plásticos regulamentados pela norma NBR 9.191/2000 da ABNT, sustentados por suportes metálicos, para que não haja contato direto dos funcionários com os resíduos, e os suportes são operados por pedais. No gerenciamento dos resíduos de saúde, devem estar previstos, além do manejo, a segregação, o tratamento, o acondicionamento, a identificação, coleta e transporte interno, o armazenamento tem- porário, a coleta externa e a disposição final (DUARTE, 2010). 121UNIDADE 5 • Os resíduos de portos, aeroportos e ter- minais rodoviários são gerados em termi- nais, dentro de navios, aviões e veículos de transporte. Resíduos de aeroportos e portos podem ser decorrentes do consumo dos pas- sageiros, e sua periculosidade está no risco de transmissão de doenças, que já foram erra- dicadas no país. A transmissão pode ocorrer, também, por meio de cargas que podem es- tar contaminadas, tais como animais, plantas e carnes (MONTEIRO et al., 2001). • Os resíduos agrícolas são compostos por embalagens de fertilizantes e defensivos agrí- colas, rações, resíduos de colheita e outros. Assim, o manuseio deles deve seguir as mes- mas rotinas e utilizar os mesmos recipientes empregados para resíduos classe I (Perigo- sos), no caso de embalagens de agrotóxicos. • Os resíduos industriais são aqueles gera- dos pelas atividades industriais, são muito variados e apresentam características di- versificadas, pois estas dependem do tipo de produto manufaturado. Portanto, devem ser estudados caso a caso e é imprescindível o conhecimento prévio do processo indus- trial para classificação do resíduo. Para isto, é adotada a NBR 10.004/04 da ABNT, para se classificarem os resíduos industriais: Classe I (Perigosos), Classe II-A (Não Inertes) e Classe II-B (Inertes), que abordamos no início deste tópico. No caso dos resíduos industriais, quando a sua origem é desconhecida, o trabalho para classificá- -lo se torna mais complexo. Nesse caso, a experiên- cia e o bom senso do técnico serão fundamentais. Muitas vezes, mesmo para resíduos com origem conhecida, torna-se impossível conseguir uma res- posta conclusiva e, para estes casos, será necessário analisarparâmetros indiretos ou realizar bioen- saios. A NBR 10.004/04 apresenta um fluxograma simples com etapas necessárias para classificação de um resíduo, que podemos visualizar na Figura 3. RESÍDUO O resíduo tem origem conhecida? Consta nos anexos A ou B? Tem catacterísticas de: In�amabilidade,corrosividade, reatividade,toxicidade ou patogenicidade? RESÍDUO PERIGOSO classe l Resíduo não perigoso classe ll Possui constituintes que são solubilizados em concentrações superiores ao anexo G? RESÍDUO NÃO-INERTE classe ll A RESÍDUO INERTE classe ll B SIM SIM SIM SIM NÃO NÃO NÃO NÃO Figura 3 - Fluxograma NBR 10.004/2004 Fonte: adaptada de Brasil (2004). 122 Resíduos Sólidos – Geração, Classificação, Coleta e Transporte A caracterização de um resíduo inicia-se du- rante o processo industrial que originou o resí- duo. É importante que se obtenha informações suficientes do processo que possa permitir a caracterização correta do resíduo, por exem- plo, revisando fluxogramas, balanços de mas- sa, localizando entradas e saídas. Além disso, é importante observar as características físicas do resíduo, volume produzido, bem como sua composição. Baseado nestas informações, po- de-se definir se o resíduo é ou não conhecido e verificar se ele é encontrado no Anexo A ou B da NBR 10.004 (ABNT, 2004). Caso seja encontrado o resíduo em uma des- sas listagens, ele é automaticamente classificado como perigoso (classe I). Se não for encontrado, Quadro 2 - Classificação dos Resíduos de Construção Civil CLASSE DEFINIÇÃO EXEMPLOS A Resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados. Tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento, argamassa, concreto. B Resíduos recicláveis para outras des- tinações. Plástico, papel, papelão, metais, vidros e ma- deiras. C Resíduos para os quais não foram de- senvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permi- tam a sua reciclagem/recuperação. Gesso. D Resíduos perigosos oriundos do pro- cesso de construção. Tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles conta- minados oriundos de demolições, reformas e repa- ros de clínicas radiológicas e instalações industriais. Fonte: adaptado de Conama (2002). Sobre a disposição dos resíduos de construção civil, a Resolução CONAMA n° 307/2002 afirma que eles não poderão ser dispostos em aterros de resíduos do- miciliares, em áreas de bota fora, em encostas, corpos d’água, lotes vazios e em áreas protegidas por Lei; mas, infelizmente, em grande parte dos municípios, esses resíduos são depositados clandestinamente em margens de rios ou terrenos baldios. A deposição irregular de entulho pode ocasionar proliferação de vetores de doenças, entupimento de galerias e bueiros, assoreamento de córregos e rios, contaminação de águas superficiais e poluição visual. Resíduos sólidos com características especiais, como os vistos anteriormente (saúde, agríco- las, construção civil, entre outros), possuem regulamentações específicas com relação à sua geração, classificação, coleta, transpor- te, tratamento e destinação final. Consultar as normas de cada um deles é essencial para realizar sua gestão adequada. é importante verificar informações sobre esse re- síduo, com o intuito de verificar se ele possui ou não características de inflamabilidade, corrosivi- dade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade. Caso não consiga verificar essas características, é recomendado que se faça coleta de amostras desse resíduo e encaminhe para um laboratório especializado, para que façam testes que permitam verificar essas especificações (SILVA, 2008). Os Resíduos da Construção Civil são com- postos por materiais de demolições, entulhos e solos de escavações, além disso, podem conter componentes tóxicos, tais como resíduos de tin- tas, solventes e peças de Amiantos. São classifi- cados de acordo com a Resolução do CONAMA 307/02, que podemos visualizar no Quadro 2. 123UNIDADE 5 Para Souto e Povinelli (2013), a coleta é o ponto- -chave no gerenciamento de resíduos sólidos, é a etapa em que os resíduos são recolhidos junto ao gerador e encaminhados para a destinação final. A coleta dos resíduos sólidos urbanos, feita pelo município ou empresa concessionária, recebe o nome de coleta regular. A coleta de outros tipos de resíduos recebe o nome de coleta especial. Quan- do existe uma segregação prévia de acordo com a composição ou na constituição dos resíduos, temos a coleta seletiva. A segregação na fonte permite-nos otimizar os sistemas de tratamento e disposição final dos resíduos. Quando se permite que um resíduo pe- rigoso seja misturado a resíduos não perigosos, o resultado é que a massa total de resíduo acaba sen- do classificada como perigosa, tratada e disposta como tal. Dessa maneira, nunca devemos misturar resíduos perigosos com resíduos comuns. Coleta e Transporte de Resíduos Sólidos 124 Resíduos Sólidos – Geração, Classificação, Coleta e Transporte Coleta Regular Geralmente, essa coleta é feita de porta em porta, com caminhões compactadores. Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) podem ser acondicionados em sacos plásticos (Figura 4), como é feita aqui no Brasil, ou contêineres. Figura 4 - Sacos plásticos para acondicionamento de resíduos Logística reversa é: o conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, Lei °12.305/10). Coleta Especial Existem vários tipos de resíduos que não devem ser misturados aos RSU, como: Resíduos de Ser- viços de Saúde (RSS) e Resíduos da Construção Civil (RCC). Para alguns resíduos, como é o caso dos RCC, pode ser aplicada a lo- gística reversa, que consiste no processo de retornar um mate- rial do consumidor ao fabricante. Outros exemplos de mate- riais que estão sujeitos à logís- tica reversa são os agrotóxicos, pilhas, baterias, lâmpadas fluo- rescentes e outros. Coleta Seletiva A coleta seletiva é muito impor- tante para o sucesso de inicia- tivas como a reciclagem, pois tende a aumentar a quantidade de matéria-prima disponível. Em um programa de coleta seletiva, o acondicionamento dos resíduos recicláveis pode ser feito de forma diferencia- da. A Resolução CONAMA n° 275/2001 estabelece um código de cores para os diferentes tipos de resíduos na coleta seletiva, de acordo com o Quadro 3. 125UNIDADE 5 Quadro 3 - Código de Cores para resíduos sólidos COR MATERIAL Azul Papel e papelão Vermelho Plástico Verde Vidro Amarelo Metal Preto Madeira Laranja Resíduos perigosos Branco Resíduos ambulatoriais e de saúde Roxo Resíduos radioativos Marrom Resíduos orgânicos Cinza Resíduo geral não reciclável, misturado ou contaminado, não passível de segregação Fonte: adaptado da Conama (2001). A coleta seletiva de lixo pode apresentar inúmeras vantagens, tais como: • Aumento da vida útil no aterro sanitário. • Redução no consumo de energia. • Redução dos gastos com limpeza urbana. • Diminuição na poluição da água e do solo. • Geração de empregos. • Renda para comercializa- ção dos recicláveis. Além disso, os resíduos recicláveis retornam ao ciclo de produção como matéria-prima, reduzindo o consumo de energia e de recur- sos naturais, e a matéria orgânica, após sua transformação em com- postos orgânicos, é reintroduzida no ciclo ecológico como condi- cionador de solos, rico em húmus (DUARTE, 2010). Transporte de Resíduos Sólidos Os resíduos, quando coletados, devem ser transportados até os pontos de destinação final, sejam eles as indústrias de reciclagem, centrais de tratamento ou aterros. Quando as distâncias e volumes são pequenos, o transporte pode ser feito pelos próprios veículos de coleta (Figura 5). Figura 5 - Caminhão de coleta de lixo automatizado 126 Resíduos Sólidos – Geração, Classificação, Coleta e Transporte Nesta unidade, abordamos a problemática dosresíduos só- lidos, bem como suas formas de gerenciamento. Vimos as- pectos pertinentes à geração, estudamos que a mudança de comportamento da população, a economia, a sazonalidade, há- bitos de consumo, mudanças tecnológicas e mudanças cul- turais influenciam diretamente na geração de resíduos, pois, à medida que há crescimento e mudança, consequentemente há um aumento na quantida- de de resíduos. Estudamos que uma das formas de minimizar a quantidade de resíduos sólidos é a redução na geração, coleta seletiva, reciclagem e outros programas para diminuir a quantidade de resíduos. Para melhor entendermos a gestão de resíduos, estudamos a classificação dos resíduos sólidos, de acordo com a NBR 14001/2004, como Classe I – pe- rigosos; Classe II-A não inertes; e classe II-B inertes. Além disso, vimos que os resíduos sólidos são classificados de acordo com sua origem em: domésticos, industriais, serviços de saúde, construção civil, radioativos, públicos, comerciais, agrícolas e outros. O processo que os ori- ginou é fundamental para seu manejo e gerenciamento. Bons estudos! 127 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Assinale a alternativa correta quanto à norma brasileira que define e classifica os resíduos sólidos: a) NBR 12.216/1992. b) NBR 10.004/2004. c) NBR 10.006/2004. d) NBR 10.007/2004. e) NBR 10.120/2007. 2. Os resíduos são constituídos por subprodutos da atividade humana com ca- racterísticas específicas, definidas, geralmente, pelo processo que os gerou. Sobre os fatores que influenciam a geração dos resíduos sólidos, analise as afirmativas a seguir. I) A urbanização, bem como o aumento populacional, acompanha a série de mudanças no estilo de vida e consumo da população e, consequentemente, aumentam a geração de resíduos. II) Os resíduos produzidos passaram a abrigar compostos sintéticos e prejudi- ciais aos ecossistemas e à saúde humana, decorrente das novas tecnologias incorporadas ao cotidiano. III) No Brasil, temos uma estimativa exata da quantidade de resíduos sólidos gerados por habitante/dia. IV) A maior parte dos resíduos sólidos gerados no Brasil é composta por resíduos hospitalares. É correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) II e III, apenas. d) I, II e III, apenas. e) II, III e IV, apenas. 128 3. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos trata-se do “conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, impor- tadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para mi- nimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos” (BRASIL, [2019]). Fonte: BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Logística Reversa. Disponível em: http:// www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-perigosos/logistica-reversa. Acesso em: 28 mar. 2019. Assim, os fabricantes e comerciantes precisam criar ferramentas ou instrumen- tos que permitam o retorno do produto ao início do ciclo produtivo, quando possível. Um dos instrumentos utilizados para fazer com que isso aconteça é: a) O ecodesign. b) A logística reversa. c) A gestão da cadeia de suprimentos. d) O gerenciamento da qualidade dos produtos. e) O gerenciamento dos canais de distribuição. 129 Engenharia Ambiental Autor: Maria do Carmo Calijuri; Davi Gasparini Fernandes Cunha Editora: Campus Sinopse: livro pioneiro na área, “Engenharia Ambiental: Conceitos, Tecnologia e Gestão” reúne material didático proveniente de diversos campos de conhe- cimento para oferecer uma boa base aos alunos de cursos de graduação em Engenharia Ambiental. O livro busca uma transição das engenharias “hard” para uma engenharia que leva explicitamente em conta a vida no planeta e repre- senta um acordar para a Engenharia Ambiental de maneira fluida, reforçando a responsabilidade da engenharia para com o meio ambiente. Dividido em cinco eixos temáticos, desde fundamentos até gestão ambiental, varrendo os ecos- sistemas, impactos ambientais e ações mitigadoras, o livro apresenta, de forma didática, os conceitos modernos, como os da microbiologia e as suas técnicas. São ressaltados os serviços proporcionados por diversos ecossistemas e as estratégias sustentáveis para os usos humanos. LIVRO 130 ABNT. NBR 8.419: Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Brasília, 1992. ABNT. NBR 9.191: Sacos plásticos para acondicionamento de lixo - Requisitos e métodos de ensaio. Brasília, 2000. ABNT. NBR 10.004: Resíduos sólidos – Classificação. Brasília, 2004. ABNT. NBR 12.809: Manuseio de resíduos de serviços de saúde - Procedimento. Brasília, 1993. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 306, de 07 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Ministério da Saúde, 2004. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2004/res0306_07_12_2004.html. Acesso em: 28 mar. 2019. BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Presidência da República, 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm. Acesso em: 28 mar. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de gerenciamento de resí- duos de serviços de saúde. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. CONAMA. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução nº 275, de 25 de abril de 2001. Estabelece o código de cores para os diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na identificação de coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a coleta seletiva. Diário Oficial da União, 2001. CONAMA. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução nº 307, de 5 de julho de 2002. Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Habitação. Diário Oficial da União, 2002. CONAMA. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução nº 358 de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos de serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, 2005. DERÍSIO, J. C. Introdução ao controle de poluição ambiental. 4. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2012. DUARTE, M. C. Avaliação do Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos do Município de Floresta/ PR. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2010. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2004/res0306_07_12_2004.html http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm 131 MONTEIRO, J. H. P. et al. Manual de Gerenciamento Integrado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2001. PHILIPPI JR., A.; AGUIAR, A. O. Resíduos sólidos: características e gerenciamento. In: PHILIPPI JR., A. Sanea- mento, Saúde e Ambiente. Fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri: Manole, 2005. ROCHA, J. C.; ROSA, A. H.; CARDOSO, A. A. Introdução à Química Ambiental. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. SILVA, F. R. Gestão de Resíduos Industriais. 2. ed. São Paulo: Via Spaipa, 2008. SOUTO, G. D. B.; POVINELLI, J. Resíduos Sólidos. In: CALIJURI, M. C.; CUNHA, D. G. F. (ed.). Engenharia Ambiental: Conceitos, Tecnologia e Gestão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 132 1. B. 2. A. 3. B. 133 134 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Descrever as técnicas utilizadas no tratamento de resíduos sólidos. • Abordar a importância da disposição final adequada de resíduos sólidos. • Indicar as principais tratativas relacionadas a resíduos perigosos. • Apresentar as principais tratativas relacionadas a resíduos Radioativos. Técnicas e Tratamentosde Resíduos Sólidos Disposição Final de Resíduos Sólidos Gestão de Resíduos Radioativos Gestão de Resíduos Perigosos Esp. João Marcos Pardo Me. Gustavo Affonso Pisano Mateus Me. Renata Cristina de Souza Chatalov Resíduos Sólidos – Trata- mento e Disposição Final Técnicas e Tratamentos de Resíduos Sólidos Olá, caro(a) aluno(a)! Nesta unidade, daremos sequência aos conteúdos relacionados aos resí- duos sólidos. Após termos uma visão geral dos fatores envolvidos na geração de resíduos, abordare- mos algumas técnicas de tratamento, tais como: compostagem, vermicompostagem, incineração, além do aproveitamento energético de resíduos sólidos. Além disso, trataremos de fatores-chave no gerenciamento de resíduos, sendo a coleta, o acondicionamento, a coleta externa, o transpor- te, o tratamento e disposição final adequada de resíduos sólidos. Apesar de a legislação brasileira proibir a exis- tência de lixões a céu aberto desde 2014, preci- samos enfrentar a realidade destes que são uma ofensa ao meio ambiente, uma forma totalmente inadequada de disposição final de resíduos. Ao mesmo tempo, daremos atenção aos aterros con- trolados e sanitários, definindo-os e os diferen- ciando. Veremos, também, as particularidades de aterros industriais. 137UNIDADE 6 Finalizaremos esta unidade abordando os cuidados necessários para gestão de resíduos perigosos e radioativos, que também estão presentes nas indústrias em geral. Quando pensamos em uma técnica de tratamento para resíduos sólidos, a alternativa a ser adotada deve abordar os aspectos: • Custo de implantação e operação. • Disponibilidade financeira dos agentes envolvidos. • Capacidade de atender às exigências legais. • Quantidade e capacitação técnica de recursos humanos. Para Calijuri e Cunha (2013), o fato de uma alternativa apresentar um custo alto em termos absolutos, como um incinerador, não é ra- zão suficiente para que seja descartada, pois talvez seja a mais barata e eficaz para tratar um determinado resíduo industrial ou de servi- ços de saúde quando comparadas a outras tecnologias existentes. Figura 1 - Pá carregadeira removendo húmus Compostagem Para Bidone e Povinelli (2010), a compostagem é um processo de tratamento biológico que transforma resíduos orgânicos em um material estabilizado, de- nominado húmus ou composto. Essa técnica pode ser utilizada para tratar a parcela orgânica dos resíduos sólidos urbanos. A compostagem pode ser feita pelo método convencional, em que os resíduos são dispostos em leiras de forma cônica ou prismática. Nesse processo, as leiras (pilhas) são removidas e umedecidas pe- riodicamente (por pás carrega- deiras ou escavadeiras) para se obter a aeração necessária no processo (Figura 1). Já no processo de leiras ae- radas, não há revolvimento por meio de pás ou escavadeiras. A aeração é obtida insuflando-se ar pela base da leira. Para Bidone e Povinelli (2010), isso acelera o processo de compostagem, mas exige um maior controle das condições da massa de resíduos. 138 Resíduos Sólidos – Tratamento e Disposição Final A compostagem ocorre em quatro fases, sendo (CALIJURI; CUNHA, 2013): 1. A primeira fase ocorre com a decomposi- ção da matéria orgânica pelas bactérias e fungos, gerando um excedente de calor, e isso faz com que a temperatura da leira de compostagem suba rapidamente e atinja a faixa ótima do processo (entre 55 ºC e 60 ºC). Caso seja deixado ao natural, a temperatura pode atingir 70 ºC e, assim, os microrganismos podem morrer; en- tão, é preciso introduzir um fator externo de controle, por isso, há a necessidade de fazer um revolvimento da leira de com- postagem e adição de umidade. 2. A segunda fase, com a temperatura ótima, a decomposição leva entre 60 a 90 dias (pelo método tradicional) e 30 dias (pelo método de leiras aeradas); a manutenção de temperaturas elevadas por um tempo suficientemente longo garante a elimina- ção dos patógenos (BIDONE; POVINEL- LI, 2010). 3. Após a fase mais ativa, a temperatura da leira começa a diminuir, retornando à temperatura ambiente, e esse processo dura de 3 a 5 dias. 4. Na quarta etapa, ocorre a fase de matura- ção ou cura do composto, com a formação de ácidos húmicos, que leva de 30 a 60 dias. A Figura 2 apresenta o composto final (húmus). Figura 2 - Composto ao término do processo de compostagem 139UNIDADE 6 Vermicompostagem De acordo com Calijuri e Cunha (2013), a ver- micompostagem é um processo complementar à compostagem, em que há a adição de minhocas, que dependem de determinadas condições para sobrevivência. Assim, o composto não pode ser encharcado, pois afogaria as minhocas, e também não pode ser ressecado. As leiras não podem ser tão profundas (pois há a necessidade de ar) e a temperatura deve estar entre 12 e 25 ºC. A Figura 3 apresenta um processo de vermi- compostagem. Figura 3 - Vermicompostagem Incineração A incineração consiste na combustão dos resíduos em temperaturas elevadas, acima de 800 ºC, com injeção de ar para garantir a queima completa (conversão total da matéria orgânica em CO2 e água). Praticamente toda matéria orgânica e umi- dade são eliminados (CALIJURI; CUNHA, 2013). Os resíduos são convertidos em cinzas e devem ser classificados com a NBR 10.004/2004 (ABNT, 2004) e encaminhados para destinação final cor- respondente. Na incineração, os gases gerados no processo devem ser tratados. Aproveitamento Energético Alguns resíduos podem ser utilizados para ob- tenção de energia. O reaproveitamento pode ser direto ou indireto. No reaproveitamento direto, os resíduos são usados diretamente como fonte de energia, podendo passar, antes, por alguns proces- sos simples de tratamento, como fragmentação ou moagem. No reaproveitamento indireto, os resíduos são convertidos por via química, ou biológica em outros materiais, os quais são empregados como fonte de energia (CALIJURI; CUNHA, 2013). 140 Resíduos Sólidos – Tratamento e Disposição Final Dentre as técnicas para disposição final de resí- duos sólidos, temos a forma inadequada, que são os lixões, e as formas apropriadas e recomendadas, que são os aterros sanitários e industriais. Veremos cada um deles, a seguir. Lixões Os lixões (Figura 4) apresentam-se como o meio mais barato e o pior, ambientalmente, para dis- posição final de resíduos sólidos, pois não impli- cam custos de tratamento e controle. Em outras palavras, é apenas a disposição do resíduo a céu aberto em terrenos baldios, que fica exposto sem nenhum tratamento, provocando intensa prolife- ração de moscas, baratas e ratos, vetores de doenças por meio de organismos patogênicos, poluindo o solo e os corpos d’água com o chorume – líquido que, além de exalar mau cheiro pelos gases produ- zidos, é um detrimento visual das cidades. Phili- ppi Jr. e Aguiar (2005) afirmam que os lixões são Disposição Final de Resíduos Sólidos 141UNIDADE 6 considerados locais ou formas de disposição final e de tratamento totalmente inadequados do ponto de vista social, sanitário e ecológico, pois, no conjunto, propiciam a proliferação de vetores e o aparecimen- to de doenças em animais e em seres humanos, além da poluição atmosférica e das contaminações do solo e dos recursos naturais. Além de todos os problemas ambientais que os resíduos podem causar ao meio ambiente, ou- tra questão deve ser levada em consideração, a questão social. É um aspecto social degradante, nos serviços de limpeza pública, os catadores de recicláveis misturados ao lixo, entre animais e má- quinas, em condições insalubres. Figura 4 - Lixão a céu aberto Aterros Controlados Para Rocha, Rosa e Cardoso (2009), a disposição final de resíduos sólidos, em aterros sanitários, é semelhante a dos lixões, cujos resíduos são coloca- dos direto no solo antes impermeabilizado. Diaria- mente, é feita uma cobertura com terra no resíduo depositado para minimizar os efeitos ambientais, como os dos lixões. O lixiviado (chorume), gerado da decomposição do resíduo,pode ser drenado de forma controlada, podendo ou não ser tratado. Dessa forma, podemos afirmar que o aterro con- trolado é uma fase intermediária entre lixão e aterro sanitário. Neste caso, após a cobertura dos resíduos, verifica-se que o impacto visual e o odor são muito menores se comparados ao lixão, graças à cobertura que é feita. Além disso, essa cobertura contribui para impedir a proliferação de insetos e outros animais que visitam o local em busca de alimentos. Aterros O aterro é uma forma de disposição de resíduos no solo, que, fundamentada em critérios de enge- nharia operacionais específicos, garante um confi- namento seguro em termos de poluição ambiental e proteção à saúde pública. Como vimos anterior- mente, são inúmeros os problemas oriundos da disposição final inadequada de resíduos sólidos, como odores, gases tóxicos, poluição da água, do solo e outros. Esses problemas são eliminados em um aterro pela adoção das seguintes medidas (SILVA, 2008): • Localização adequada. • Elaboração de projeto criterioso. • Implantação de infraestrutura de apoio. • Implantação de obras de controle de po- luição. • Regras operacionais específicas. 142 Resíduos Sólidos – Tratamento e Disposição Final Os aterros podem ser chamados de aterros sanitários, quando são projetados e implantados, especialmente, para disposição de resí- duos sólidos urbanos, ou aterros industriais, quando são projetados para disposição de resíduos sólidos industriais. Aterro Sanitário Os aterros sanitários consistem em um sistema de impermeabiliza- ção de base e laterais, normalmente um filme plástico de polietileno de alta densidade, com sistema de recobrimento diário do resíduo depositado e com cobertura final da área quando saturada. É defi- nido pela NBR 8.419/92 como sendo: “ [...] uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à saúde pública e à segurança, mi- nimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário. O projeto deve ser elaborado para a implantação de um aterro sanitário que deve contemplar todas as instalações fundamen- tais ao bom funcionamento e ao necessário controle sanitário e ambiental durante o período de operação e fechamento do aterro (ABNT, 1992, p. 1). Para o IBGE (2007), o aterro sanitário consiste em uma técnica de disposição do lixo fundamentada em critérios de engenharia e normas operacionais específicas, que permite a confinação segura em termos de controle da poluição ambiental e proteção à saúde pública (Figura 5). É uma forma adequada de disposição dos resí- duos no solo; logo, o aterro sanitário dispõe de impermeabilização de base, de sistemas de tratamento de chorume e de sistemas de dispersão dos gases gerados.Aterro sanitário 143UNIDADE 6 De acordo com Donha (2002), aterro sanitário é um método de disposição final do lixo sob o solo, sem que se crie, no meio ambiente, incômodos ou perigos à segurança e à saúde públicas, em que se utilizam princípios da engenharia para confinar o lixo à menor área possível, reduzindo-o ao me- nor volume verificável na prática e o cobrindo com uma camada de terra ao fim de cada dia de operação ou a menores intervalos. Os aterros sanitários são construídos seguin- do o que exige a legislação, ou seja, distante das cidades. Essa exigência legal a ser respeitada serve para distanciar os moradores dos diversos tipos de odores, da contaminação do solo e do lençol freático provenientes da degradação dos materiais orgânicos (PHILIPPI JR.; AGUIAR, 2005). O resíduo enterrado sofre decomposição anaeróbia, gerando o produto líquido, o chorume, grande quantidade de gases, o metano, além de dióxido de carbono e sulfeto de hidrogênio e amô- nia, que são responsáveis pelo odor característico desses locais (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009). O lixiviado, conhecido como chorume, é um líquido resultante do processo de putrefação de matérias orgânicas. Como característica, é visco- so, escuro, possui odor muito forte e desagradá- vel. Em função da grande quantidade de matéria orgânica presente no chorume, costuma atrair vetores e microrganismos que podem contribuir com a proliferação de doenças aos seres humanos (BRAGA et al., 2005). Quando não tratado, ele pode atingir lençóis freáticos, rios e córregos, levando a contamina- ção para esses recursos hídricos e interferindo na vida da fauna e da flora. Nessa situação, os peixes podem ser contaminados e, caso a água seja usada na irrigação agrícola, a contaminação pode chegar aos alimentos. A escolha de um local para a im- plantação de um aterro sanitário não é tão simples, pois, devido ao alto grau de urbanização das cida- des, a ocupação intensiva do solo pode restringir a disponibilidade de áreas próximas aos locais de geração de lixo e com as dimensões requeridas para se implantar um aterro sanitário que atenda às necessidades dos municípios (MONTEIRO et al., 2001). Também é preciso pensar no aspecto de vida útil do aterro, visto que é difícil encontrar novos locais para disposição de resíduos sólidos urbanos. Figura 5 - Aterro sanitário 144 Resíduos Sólidos – Tratamento e Disposição Final Existem diferenças entre lixões, aterros controlados e aterros industriais. Lixões causam poluição no solo, na água, pois não oferece nenhum tipo de tratamento aos resíduos; enquanto os aterros possuem critérios de engenharia para sua projeção e operação. Acesse o link a seguir e saiba mais sobre a diferença entre lixões, aterro controlado e aterro industrial: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/ diferenca-entre-lixao-aterro-controlado-aterro- sanitario.htm. Tratamento do Lixiviado O lixiviado pode conter matéria orgânica dissol- vida ou solubilizada, nutrientes, produtos inter- mediários da digestão anaeróbia dos resíduos, ácidos orgânicos voláteis e substâncias químicas provenientes do descarte de inseticidas e agrotóxi- cos, além de microrganismos patógenos. Também podem ter compostos xenobióticos, presentes em baixas concentrações, como: hidrocarbonetos aro- máticos, fenóis e compostos alifáticos clorados; metais, como boro, mercúrio, selênio e cobalto; e substâncias húmicas (CHRISTENSEN et al., 2001). Visto a recalcitrância desses efluentes, é preciso fazer um tratamento prévio de remoção da carga poluidora, e esses componentes são específicos. Dependendo das características, têm de ser empre- gadas técnicas acopladas de tratabilidade para que o efluente se adeque aos padrões de lançamento de efluentes determinados pela legislação vigente. Em aterro sanitário, o lixiviado é drenado para o tratamento, que pode ser uma lagoa de estabili- zação aeróbia ou anaeróbia, para, em seguida, ser lançado em um corpo receptor, desde que atenda à legislação ambiental vigente. Biogás Os gases gerados em aterro sanitário, se gerencia- dos de forma adequada, podem gerar energia para o próprio aterro ou serem vendidos para com- panhias elétricas. Esses gases são compostos por metano, dióxido de carbono e outros em quanti- dades em traços. Os gases presentes nos aterros de resíduos incluem o metano (CH4), dióxido de carbono (CO2), amônia (NH3), hidrogênio (H2), gás sulfídrico (H2S), nitrogênio (N2) e oxigênio (O2). O metano e o dióxido de carbono são os principais gases provenientes da decomposição anaeróbia dos compostos biodegradáveis dos re- síduos orgânicos (PHILIPPI JR.; AGUIAR, 2005). Diante disso, a captação e a utilização do gás pro- duzido em aterros é uma boa opção para a redução de gases do efeito estufa. Além disso, o metano pos- sui grande energia contida nos seus átomos, que faz com que o gás possa ser usado para a produção de energia elétrica por meio de sua combustão den- tro de motogeradores que movem turbinas (SILVA; CAMPOS, 2008).Projetos desse tipo são importantes, pois dife- rentes fontes de energia alternativa podem diversi- ficar ou incrementar a matriz energética atualmente existente, tais como a eólica, a solar, a biomassa e também a proveniente do biogás. Nesse sentido, as vantagens da transformação do lixo em energia são muitas, tais como: 145UNIDADE 6 • Diminuição do volume de resíduos em ater- ros sanitários e em lixões. • Menor produção de gases poluentes. • Menores riscos ao meio ambiente e à saúde pública. • Mais economia e geração de empregos. Aterros Industriais Os aterros industriais (Figura 6) podem ser classi- ficados nas classes I, II-A ou II-B, de acordo com a periculosidade dos resíduos a serem dispostos, isto é, aterros Classe I podem receber resíduos industriais; Classe II-A resíduos não inertes; enquanto aterro Classe II-B resíduos inertes. Essa classificação dos resíduos sólidos quanto à periculosidade foi abor- dada na unidade anterior. No Aterro Classe I, são destinados os resíduos considerados perigosos de alta periculosidade, como resíduos inflamáveis, cinzas de incineradores, tóxicos e outros. Esse tipo de aterro precisa ser operado com cobertura total, com o intuito de evitar a formação de percolado, devido à ocorrência de águas pluviais. Para isso, possui sistema de dupla impermeabilização com manta polietileno de alta densidade (PEAD), protegendo o solo e as águas subterrâneas. O aterro Classe I deve estar de acordo com o estabelecido pela NBR 10.157, que define as exigências quanto aos critérios de projeto, construção e operação de aterros industriais Classe I (SILVA, 2008). O Aterro Classe II-A compreende a destina- ção final de resíduos não perigosos e não inertes e tem as seguintes características: impermeabi- lização com argila e geomembrana de PEAD, sistema de drenagem e tratamento de efluentes líquidos e gasosos e completo programa de mo- nitoramento ambiental. O Aterro Classe II-B compreende a destinação fi- nal de resíduos inertes. Devido à característica inerte dos resíduos dispostos, esse tipo de aterro dispensa a impermeabilização do solo; no entanto, possui sis- tema de drenagem de águas pluviais e um programa de monitoramento ambiental. Figura 6 - Aterro industrial 146 Resíduos Sólidos – Tratamento e Disposição Final Uma substância perigosa é definida como qual- quer substância que: “ [...] em razão de sua quantidade, concen- tração, características físicas, químicas ou infecciosas, pode causar ou contribuir con- sideravelmente para um aumento na morta- lidade, provocar um aumento no número de casos de doenças graves irreversíveis ou in- capacitantes reversíveis, ou representar um risco substancial atual ou potencial à saúde humana e ao meio ambiente quando trata- da, armazenada, transportada, descartada ou gerenciada inadequada (VESILIND; MORGAN, 2011, p. 351). Resíduo perigoso é o nome dado ao material que, quando deve ser descartado, atende a um ou dois critérios, a saber: 1. Contém um ou mais dos critérios de po- luentes ou de substâncias químicas que foram listadas como perigosas. 2. O resíduo pode ser assim definido (por testes de laboratório) como tendo, pelo menos, uma das seguintes características: Gestão de Resíduos Perigosos 147UNIDADE 6 a) Inflamabilidade. b) Reatividade. c) Corrosividade. d) Toxicidade. Segundo Vesilind e Morgan (2011), materiais in- flamáveis são líquidos com ponto de fusão abaixo de 60 ºC ou materiais que são facilmente incen- diados e queimam de forma vigorosa e persisten- te. Materiais corrosivos são aqueles que, em uma solução aquosa, têm valores de pH fora da faixa de 2,0 a 12,5 ou qualquer líquido que mostre corro- sividade ao aço a uma taxa superior a 6,5 mm por ano. Resíduos reativos são classificados como ins- táveis e podem formar vapores tóxicos ou explodir. A maior dificuldade em definir resíduos perigosos vem do estabelecimento do que é ou não tóxico. Para Davis e Masten (2016), a escala de priori- dades na gestão de resíduos sólidos consiste em: 1. Priorizar a redução da quantidade de re- síduos perigosos gerados. 2. Estimular a criação de bolsas resíduos: os resíduos perigosos de uma indústria po- dem ser utilizados como matéria-prima de outra indústria. 3. Reciclar materiais, aproveitar o conteúdo energético ou outros recursos úteis con- tidos como resíduos perigosos. 4. Descontaminação e a neutralização de resíduos perigosos líquidos mediante tratamento químico e biológico. 5. Redução do volume com a desidratação de lodos. 6. Destruição de resíduos perigosos com- bustíveis em incineradores especiais, capazes de propiciar temperaturas de combustão elevadas e equipamentos com dispositivos de controle e monito- ramento de emissões atmosféricas ade- quadas. 7. Estabilizar lodos solidificados e de cin- zas, no sentido de reduzir os índices de lixiviação de metais. 8. Descarte de resíduos tratados remanes- centes em aterros especiais. Outro aspecto importante na gestão de resí- duos perigosos é a minimização na geração de resíduos, para isso, esse tipo de programa deve incluir: • O compromisso dos níveis hierárquicos mais altos da organização. • Os recursos financeiros. • Os recursos técnicos. • A organização, as metas e as estratégias adequadas. 148 Resíduos Sólidos – Tratamento e Disposição Final Os Resíduos Radioativos são definidos como qualquer material resultante de atividades huma- nas, que contém radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de isenção especificados nas Instruções Normativas da Comissão Nacional de Energia Nuclear – Norma CNEN-NE-6.02 –, Licenciamento de Instalações Radioativas e para o qual a reutilização é imprópria ou não prevista. Existem vários tipos de resíduos radioativos, tais como: a) Líquidos: apresentam-se como solvente aquoso e solvente orgânico. b) Gasosos: constituem-se de radionuclí- deos gasosos ou subprodutos de outros resíduos. c) Sólidos: constituem-se de lixo radioati- vo em geral, como frascos, ponteiras para pipeta, microplacas, luvas, papel toalha, membrana de nitrocelulose, géis radioa- tivos, animais e sangue. Gestão de Resíduos Radioativos 149UNIDADE 6 A separação desses resíduos deve ser feita no mes- mo local em que foram produzidos, levando em conta as seguintes características: se são sólidos, líquidos e gasosos, meia vida curta ou longa; se são ou não compatíveis; orgânicos ou inorgâni- cos; putrescíveis ou patogênicos; e outras carac- terísticas, como explosividade, combustibilidade, inflamabilidade, piroforicidade, corrosividade e toxicidade química (DUARTE, 2010). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Encerramos o assunto “Resíduos Sólidos” nesta unidade. Após estas duas unidades, certamente fica cla- ra a necessidade de gerenciar adequadamente os resíduos sólidos, uma vez que, dadas as suas ca- racterísticas, poderemos gerar danos ambientais permanentes na fauna e flora locais, bem como prejuízos à saúde humana. Diminuir a geração de resíduos, segregá-los adequadamente de acordo com suas classifi- cações e transportá-los em segurança até uma destinação final dentro dos parâmetros técnicos deve ser a régua de ação no gerenciamento dos resíduos sólidos. Esperamos que você tenha compreendido to- dos esses aspectos, desde a geração até a disposi- ção final, pois são fundamentais para sua gestão. Na próxima unidade, trataremos de outro tó- pico também interessante na gestão ambiental: Poluição Atmosférica. Até lá! https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/591 150 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Consiste em uma área licenciada por órgãos ambientais, que é destinada a re- ceber os resíduos sólidos urbanos, de forma planejada, em que os resíduos são compactados e cobertos por terra, formando diversas camadas. Essa técnica trata-se de: a) Lixões. b) Aterro sanitário. c) Aterro industrial. d) Compostagem. e) Reciclagem. 2. Aincineração é um processo de queima, na presença de excesso de oxigênio, em que os materiais à base de carbono são decompostos, desprendendo calor e gerando um resíduo de cinzas, gases e escória. Diante do exposto, leia as afirmativas a seguir: I) A incineração de resíduos sólidos é um tratamento eficaz para aumentar o seu volume, tornando o resíduo absolutamente inerte em pouco tempo, se realizada de forma adequada. II) Na incineração, ocorre a decomposição térmica via oxidação à alta tempera- tura da parcela orgânica dos resíduos, em que é transformada na fase gasosa e outra sólida, na qual é reduzido: o volume, o peso e as características de periculosidade dos resíduos. III) A incineração é um processo que, se não operado em condições adequadas, pode liberar gases nocivos à saúde humana. IV) A incineração é uma alternativa que resolveria integralmente todos os pro- blemas da destinação final de resíduos sólidos. 151 É correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) II e III, apenas. d) I, II e III, apenas. e) II, III e IV, apenas. 3. O aterro sanitário consiste em uma técnica de disposição do lixo fundamentada em critérios de engenharia e em normas operacionais específicas. Sobre o aterro sanitário, analise as afirmativas a seguir: I) O projeto de um aterro sanitário deve incluir todas as instalações fundamen- tais ao bom funcionamento e ao necessário controle sanitário e ambiental durante o período de operação e fechamento. II) O aterro sanitário é um método de disposição final do lixo sob o solo, que minimiza a geração de incômodos ou perigos à segurança e saúde públicas. III) Em um aterro são utilizadas técnicas da engenharia para confinar o lixo à menor área possível, reduzindo-o ao menor volume. IV) Aterro sanitário é indicado para disposição final de resíduos coletados apenas em pequenas comunidades. É correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) II e III, apenas. d) I, II e III, apenas. e) II, III e IV, apenas 152 Reaproveitamento de Energia A Politécnica da USP patenteou, em 2015, uma invenção que aproveita o aqueci- mento da geladeira para também aquecer a água de torneiras e chuveiros. A dis- posição final dos resíduos sólidos também pode gerar calor e, consequentemente, energia. Quais serão as próximas invenções utilizando-se do mesmo conceito? Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB Lixo Extraordinário Ano: 2010 Sinopse: Lixo Extraordinário” mostra a produção de obras de arte com material coletado no aterro do Jardim Gramacho. Ao longo da produção dessas obras, entre 2007 e 2008, transformações se produzem na vida e nas visões de mundo dos sete catadores participantes do projeto, entre eles, Tião Santos, presidente da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho. FILME https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/867 153 ABNT. NBR 8.419: Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Brasília, 1992. ABNT. NBR 10.004: Resíduos sólidos – Classificação. Brasília, 2004. ABNT. NBR 10.157: Aterro de resíduo perigoso – Critérios para projetos, construção e operação. Brasília, 1987. BIDONE, F. R. A.; POVINELLI, J. Conceitos básicos de resíduos sólidos. São Carlos: Escola de Engenharia de São Carlos, USP, 2010. BRAGA, B. et al. Introdução a Engenharia Ambiental. 2. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2005. CALIJURI, M. C.; CUNHA, D. G. F. Engenharia Ambiental. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. CHRISTENSEN, T. H. et al. Biochemistry of landfil leachate plumes. Applied Geochemistry, v. 16, p. 659-718, 2001. DAVIS, M. L.; MASTEN, S. J. Princípios de Engenharia Ambiental. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. DONHA, M. S. Conhecimento e participação da comunidade no sistema de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos: o caso de Marechal Cândido Rondon/ PR. 2002. 113 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Universidade Estadual de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. DUARTE, M. C. Avaliação do Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos do Município de Floresta/ PR. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2010. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB. Contagem Populacional. Rio de Janeiro, 2007. MONTEIRO, J. H. P. et al. Manual de Gerenciamento Integrado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2001. PHILIPPI JR., A.; AGUIAR, A. O. Resíduos sólidos: características e gerenciamento. In: PHILIPPI JR., A. Sa- neamento, Saúde e Ambiente: Fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri: Manole, 2005. ROCHA, J. C.; ROSA, A. H.; CARDOSO, A. A. Introdução à Química Ambiental. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. SILVA, F. R. Gestão de Resíduos Industriais. 2. ed. São Paulo: Via Spaipa, 2008. SILVA, T. N.; CAMPOS, L. M. Avaliação da produção e qualidade do gás de aterro para energia no aterro sanitário dos Bandeirantes – SP. Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 13, n. 1, jan./mar., 2008. VESILIND, P. A.; MORGAN, S. M. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Cengage Learning, 2011. 154 1. B. 2. C. 3. D. 155 156 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Definir poluição do ar, bem como apresentar quais as fontes de emissão. • Apresentar os principais métodos de controle de quali- dade do ar. • Estudar os padrões de qualidade do ar de acordo com as legislações pertinentes. • Conceituar poluição sonora, suas fontes e efeitos. • Apresentar metodologias para controle e redução de ruídos. Poluição do Ar e Fontes de Emissão Métodos de Controle Poluição Sonora Redução e Controle de RuídosPadrões de Qualidade Esp. João Marcos Pardo Me. Gustavo Affonso Pisano Mateus Me. Renata Cristina de Souza Chatalov Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões Poluição do Ar e Fontes de Emissão Caro(a) aluno(a), nesta unidade, abordaremos a questão da poluição atmosférica e da poluição sonora. Veremos que, ao tratarmos de poluição do ar, temos as fontes naturais e as fontes antrópicas. As fontes naturais são aquelas cuja origem está ligada diretamente à natureza, em que não há in- terferência humana, como o vulcanismo; as fontes antrópicas ou antropogênicas têm a origem rela- cionada a atividades humanas, como indústrias, automóveis e outras cujos impactos ambientais das atividades tornaram-se mais significativos quanto à poluição do ar. A maior parte dos problemas relacionados à poluição atmosférica está relacionada com a exploração e a utilização de energia em vários processos produtivos. Poluição atmosférica, chu- va ácida, destruição da camada de ozônio, efeito estufa, destruição da fauna e da flora são alguns exemplos que podemos citar causados por pro- cessos produtivos. 159UNIDADE 7 Podemos classificar os agentes poluidores do ar em dois grupos principais: os primários e os secundários. Os poluentes primários são os que saem diretamente da fonte emissora; enquanto os poluentes formados pela interação entre com- ponentes naturais e poluentes primários são cha- mados de secundários. Os principais poluentes atmosféricos são: monóxido de carbono, dióxido de enxofre, dióxido de carbono, chumbo, ozônio, clorofluorcarbonetos e materiais particulados. Também apresentaremos alguns métodos de con- trole da poluição do ar e dividimos em: controle de particulados e controle de poluentes. Em se- guida, estudaremos sobre os padrões de qualidade do ar, bem como as legislações aplicáveis. Além disso, abordaremos o conceito de polui- ção sonora, suas principais fontes e seus efeitos sobre a saúde humana, além de métodos de con- trole de ruídos. O ar que respiramos é essencial à vida. Dessa maneira, esperamos respirar um ar limpo; contu- do, em que consiste esse ar limpo? Ele é uma mis- tura de gases e, de acordo com Vesilind e Morgan (2011), é composto por: • 78,0% de nitrogênio. • 20,1% de oxigênio. • 0,9% de argônio. • 0,03% de dióxido decarbono. • 0,002% de neônio. • 0,0005% de hélio. No entanto, esse ar não é encontrado na natureza e nos serve como referência. Se isso é ar puro, en- tão, é importante definir como poluentes aqueles materiais (líquidos, gases ou sólidos) que, quando são adicionados ao ar puro, em uma concentração suficientemente alta, causarão efeitos adversos, como compostos de enxofre emitidos na atmos- fera, que reduzem o pH da chuva e resultam em acidez de rios e lagos, ocasionando danos. Para Derisio (2012), o uso básico do recurso na- tural ar é para manter a vida. Todos os usos devem estar sujeitos à manutenção da qualidade de ar que não degrada – aguda ou cronicamente – a saúde ou o bem-estar humano. Além disso, é preciso levar em consideração os aspectos estéticos e os impac- tos econômicos decorrentes da poluição do ar. O conceito de poluição atmosférica envolve uma série de atividades, fenômenos e substâncias que contribuem para o desequilíbrio e a deterio- ração da qualidade natural da atmosfera. A Lei nº 6.938/81, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), por meio do seu art. 3º, define poluição como a degradação da qualidade ambiental resultante de atividade que, direta ou indiretamente (BRASIL, 1981): • Prejudique a saúde, a segurança e o bem- -estar da população. • Crie condições adversas às atividades so- ciais e econômicas. • Afete, desfavoravelmente, a biota. • Afete as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente. A poluição atmosférica é abordada como um fenômeno decorrente devido, principalmente, à ação humana em vários aspectos, citando-se o rápido crescimento populacional, industrial e econômico, a concentração populacional e in- dustrial, bem como dos hábitos da população e as medidas adotadas para o controle da poluição (DALLAROSA, 2005, p. 5). 160 Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões A atmosfera apresenta, naturalmente, certa con- centração típica de compostos químicos em sua composição, o que, de uma forma geral, não afeta as condições normais de existência dos seres vivos e dos materiais. Assim, a poluição atmosférica con- siste na adição desses elementos capazes de atin- gir concentrações que são nocivas ao ambiente. Principais Poluentes do Ar Os principais poluentes atmosféricos podem ser classificados, de maneira genérica, em três gru- pos de substâncias: líquidas, sólidas e gasosas. No entanto, na prática, eles podem ser apresentados de forma combinada entre si, de tal maneira que conseguimos restringi-los em dois grupos: os ga- ses e os materiais particulados. Ao observarmos a origem dos poluentes, eles podem ser classifi- cados como primários ou secundários. Segundo Dallarosa (2005), são: • Poluentes primários: aqueles emitidos diretamente na atmosfera. Constituem essa classe: dióxido de enxofre (SO2), monóxi- do de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e hidrocarbonetos (HC). • Poluentes secundários: formados pela reação química entre poluentes primários ou destes com constituintes naturais da atmosfera. Como exemplos pertencentes dessa classe, podemos citar: ozônio (O3), peróxido de hidrogênio (H2O2), aldeídos (RCHO) e peroxiacetilnitrato (PAN). Materiais particulados O material particulado é uma mistura de partículas líquidas e sólidas em suspensão na atmosfera. Pode ser classificado como névoa, poeira, vapor, fumaça ou spray. Sua composição e o tamanho das partículas vão depender de sua fonte de emissão (SALDIVA; COELHO, 2013). As faixas de tamanho dos poluentes são apresen- tadas a seguir (VESILIND; MORGAN, 2011): • Poeira: são partículas relativamente gran- des, sendo definida como partículas sóli- das, que são: » Carregadas por gases de processo prove- nientes de materiais sendo manipulados ou processados, como carvão, cinzas e cimento. » Produtos diretos de um material básico, passando por operações mecânicas, como serragem de um trabalho com madeira. » Materiais carregados após a utilização em operações mecânicas, como a areia utili- zada no processo de jateamento. • Vapor: consiste em uma partícula sólida, fre- quentemente, um óxido metálico, formado pela condensação de vapores por sublimação, destilação, calcinação ou processos de reações químicas, como: óxidos de zinco e chumbo oriundos da condensação e oxidação de me- tal volatilizado em um processo a uma alta temperatura. São partículas bem pequenas, com diâmetros entre 0,03 a 0,3 µ. • Névoa: consiste em partículas líquidas formadas pela condensação de um vapor e uma reação química. Seu diâmetro varia de 0,5 a 3,0 µ. • Fumaça: partículas sólidas formadas pela combustão incompleta de metais carbo- 161UNIDADE 7 náceos. Embora hidrocarbonetos, ácidos orgânicos, óxidos de enxofre e óxidos de nitrogênio sejam também produzidos por processos de combustão, apenas as par- tículas sólidas resultantes da combustão incompleta de materiais carbonáceos são chamados de fumaça. Possuem diâmetros de 0,05 até, aproximadamente, 1 µ. • Sprays: consiste em partículas líquidas for- madas pela atomização de um líquido base e sedimentam sob o efeito da gravidade. Poluentes gasosos Os poluentes gasosos incluem substâncias que são gases a uma temperatura e pressão normais, assim como vapores de substâncias líquidas ou sólidas sob condições normais. Dentre esses poluentes, os que apresentam maior relevância são: monóxido de carbono, hidrocarbonetos, ácido sulfúrico, óxidos de nitrogênio, ozônio e outros. O Quadro 1 apresenta alguns poluentes gasosos presentes no ar. Quadro 1 - Poluentes gasosos presentes no ar NOME FÓRMULA PROPRIEDADES RELEVANTES SIGNIFICÂNCIA COMO POLUENTE DO AR Dióxido de enxofre SO2 Gás incolor, provoca asfixia intensa, forte odor, altamente solúvel em água, formando áci- do sulfurosos, H2SO3. Perigo para propriedade, saú- de e vegetação. Trióxido de enxofre SO3 Solúvel em água, formando o ácido sulfúrico - H2SO4. Altamente corrosivo. Ácido sulfídrico H2S Odor de ovo estragado em bai- xas concentrações, inodoro a altas concentrações. Altamente venenoso. Óxido nitroso N2O Gás incolor, utilizado como gás de transporte em produtos com aerossol. Relativamente inerte; não pro- duzido na combustão. Óxido nítrico NO Gás incolor. Produzido em combustão a altas temperaturas e pressão, oxida para NO2. Dióxido de nitrogênio NO2 Gás de cor marrom a alaran- jada. Principal componente na for- mação de névoa fotoquímica. Monóxido de carbono CO Incolor e inodoro. Produtos de combustões in- completas, venenoso. Dióxido de carbono CO2 Incolor e inodoro. Formado durante combustões completas; gás do efeito estu- fa. Ozônio O3 Altamente reativo. Perigo para vegetações e pro- priedades, produzido, princi- palmente, durante a formação de névoa fotoquímica. Hidrocarboneto CXHY ou HC Diversas. Emitido por automóveis e in- dústrias, formado na atmos- fera. Metano CH4 Combustível, inodoro. Gás do efeito estufa. Clorofluorcarbonetos CFC Não reativo, excelentes pro- priedades térmicas. Decompõe o ozônio na cama- da superior da atmosfera. Fonte: adaptado de Vesilind e Morgan (2011, p. 279). 162 Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões Fontes de Poluição Quando discutimos a origem da poluição atmosfé- rica, devemos distinguir os processos envolvidos na formação dos poluentes atmosféricos, que resultam de processos naturais ou processos antropogênicos. As fontes de poluição consistem em qualquer pro- cesso natural ou antropogênico que possa liberar ou emitir matéria ou energia para atmosfera, deixando-a contaminada ou poluída (DALLAROSA, 2005). As fontes naturais de poluentes consistem em emissões que ocorrem na natureza sem a interfe- rência humana, como a emissão de gases provocada por erupções vulcânicas (vulcanismo) (Figura 1), a decomposição de vegetais e animais, a ressuspensão de poeira do solo pela ação do vento, os aerossóis marinhos, a formação de ozônio devido a descargas elétricas na atmosfera, os incêndios naturaisem flo- restas e os pólens de plantas (DALLAROSA, 2005). As fontes antropogênicas (ou antrópicas) são aquelas que emitem poluentes a partir de ativida- des humanas, provenientes de transportes, ativi- dades industriais e fontes de descargas de resíduos sólidos. No que diz respeito a processos industriais que podem ocasionar a poluição do ar, podemos destacar a queima de combustível por meio de veículos a álcool, à gasolina ou a outro combustí- vel, combustão industrial e à geração de energia. Quadro 2 - Tipos de indústrias e tipos de poluentes TIPOLOGIA DA INDÚSTRIA NATUREZA DA ATIVIDADE TIPOS DE POLUENTES Indústria de minerais não metálicos: incluem indús- trias que fabricam produ- tos de material cerâmico e refratário, cimento, vidro, concreto, produtos de gesso e abrasivos. Os principais processos e opera- ções poluidores são constituídos pelas operações de redução de tamanho, pela manipulação e pelo transporte de matéria-pri- ma, por processos de desidra- tação, calcinação, oxidação da matéria orgânica e íon ferroso e formação de silicatos em estufas e fornos, por operações e acaba- mento, como de esmaltação. Poeiras: principalmente provenien- tes de operações de redução de tamanho; Fumaça e fumos: principalmente provenientes dos processos de combustão e de secagem e cozi- mento em fornos. Fontes Fixas ou Estacionárias As fontes fixas de poluição atmosféricas são aquelas que ocupam uma área relativamente limitada, que permitem uma análise direta na fonte. As fontes classificadas como fixas são referentes às atividades industriais de trans- formação, mineração e produção de energia por meio de usinas termelétricas (BRASIL, [2019]). Cada fonte industrial de poluição do ar apresenta problemas específicos de poluição, pois as emissões são decorrentes de caracte- rísticas inerentes do processo de produção, das quais podemos citar: matérias-primas e combustíveis, processos e operações adotados, produtos fabricados, eficiência do processo in- dustrial e medidas de controle utilizadas pela indústria. De acordo com Derisio (2012), as indústrias, normalmente, são classificadas em categorias (metalúrgicas, mecânicas, têxteis, bebidas, ali- mentícias, químicas e outras) por meio das quais se pode calcular o potencial de poluição atmosférica por categoria. O Quadro 2 apresen- ta os tipos de indústrias, bem como os tipos de poluentes emitidos por elas. 163UNIDADE 7 Indústrias metalúrgicas – fundições Fundições primárias, que se re- ferem àquelas que produzem o metal do minério, e as fundições secundárias, que incluem aque- las que recuperam o metal de sucatas e refugos e produzem ligas e lingotes. Fumos de óxidos metálicos, poeira e produtos de combustão da opera- ção de fusão, dependendo da volati- lidade e das impurezas dos metais, sucata ou minério. Dióxido de enxofre, dependendo do enxofre no minério, no carvão e no combustível utilizado. Indústrias metalúrgicas – produtos Envolvem indústrias que produ- zem peças forjadas, laminadas, trefiladas e extrudadas. Fumos metálicos, poeiras das fundi- ções, névoas e vapores de solventes provenientes da aplicação do reves- timento de proteção nos departa- mentos de acabamento. Indústria de madeira e mobiliário Indústrias de desdobramento, compensação e produção de chapas de madeira prensada, de fabricação de peças e estruturas de madeira aparelhada, fabrica- ção de artigos de tancara e de cortiça, fabricação de artigos di- versos de madeiras e produtos afins. Material particulado, gotícula de tinta, solventes e fumaça de equi- pamentos que queimam resíduos. Indústrias químicas e farmacêuticas Incluem uma variedade de pro- dutos: elementos químicos e produtos químicos inorgânicos e orgânicos, matérias plásticas básicas e fios artificiais, pólvora e explosivos, óleos brutos, essên- cias vegetais e matérias graxas animais, preparados para limpe- za e polimento, desinfetantes, inseticidas, germicidas, tintas, esmaltes, vernizes, sabões, velas, produtos farmacêuticos e outros. Fabricação do ácido nítrico: por meio do processo de oxidação da amônia, são emitidos cerca de 26 kg de óxidos de nitrogênio, ex- pressos em NO2, por tonelada de ácido produzida. Fabricação de ácido sulfúrico: por meio do processo de conta- to, estima-se uma emissão de 9 a 32 kg de SO2 e de 0,14 a 3,40 kg de névoas ácidas por tonelada de ácido produzida. Fabricação de ácido fosfórico: por meio do processo unido, esti- ma-se uma emissão de compostos de flúor de 9 a 27 kg por tonelada de P2O5 produzida. Indústria de produtos alimentares e bebidas Incluem beneficiamento, torre- fação e moagem de produtos alimentares, preparação de con- servas de frutas, legumes, espe- ciarias, pasteurização de leite e fabricação de laticínios, fabrica- ção e refino de açúcar, fabricação de balas, produtos de padaria e outros produtos. Diferentes poluentes e odores po- dem ocorrer nas fases do proces- samento dos produtos. Poeiras são emitidas das operações de benefi- ciamento e moagem. Indústrias de papel e papelão Fabricação de papel e papelão. Material particulado e substâncias odoríferas (mercaptanas e sulfeto de hidrogênio). Fonte: adaptado de Derisio (2012). 164 Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões Fontes móveis São constituídos por veículos automotores, trens, aviões, embarcações marinhas, denominadas de fontes móveis. Para Derisio (2012), os veículos são divididos em leves, que utilizam gasolina, álcool e gás natural, e pesados, que utilizam óleo diesel. Independentemente do tipo do veículo, ele produz gases, vapores e materiais particulados. Os prin- cipais gases tóxicos são o monóxido de carbono (CO), compostos orgânicos chamados de hidro- carbonetos (HC), óxidos de nitrogênio (NOx), aldeídos e material particulado, que é constituído por partículas de dimensões diminutas, da ordem milésimos de milímetros, identificados como fu- ligem ou poeira. Efeitos da Poluição Atmosférica Os efeitos da poluição atmosférica são caracteri- zados de acordo com a alteração das condições normais da atmosfera ou pelo aumento de proble- mas já existentes. Esses efeitos podem ser globais, locais ou regionais. No que diz respeito à escala global, podemos citar a alteração da acidez das águas da chuva (chuva ácida), aumento da temperatura do pla- neta e modificação da intensidade da radiação solar (DALLAROSA, 2005). De uma maneira geral, os efeitos causados pela poluição do ar são manifestados por danos à saú- de humana, às propriedades da atmosfera, à ve- getação, à economia, bem como danos materiais. Danos à saúde Poluentes atmosféricos podem causar um impacto negativo na saúde humana. De acordo com Deri- sio (2012), os efeitos da poluição atmosférica sobre o que pode provocar na saúde são: doenças agudas ou morte, doenças crônicas, encurtamento da vida ou dano ao crescimento, alteração de importantes funções fisiológicas, tais como ventilação do pul- mão, asma, bronquite, transporte de oxigênio pela hemoglobina, irritação sensorial, fadiga e outros. É importante salientar que, no decorrer dos anos, a poluição atmosférica provocou uma série de episódios agudos. O Quadro 3 apresenta alguns episódios ocasionados pela poluição do ar. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Em 5 de dezembro de 1952, um grande nevoeiro tomou conta da cidade de Londres: era o começo do desastre de poluição atmosférica mais letal da história britânica. Mais de 60 anos depois, uma equipe internacional de químicos descobriu por que a névoa era fatal. Saiba mais acessando o link: https://gizmodo.uol.com.br/formacao-nevoeiro-londres/. https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/592 165UNIDADE 7 Quadro 3 - Episódios provocados pela poluição do ar ANO LOCAL HISTÓRICO Nº DE MORTES 1930 Bélgica – Vale do Rio Meuse Região que tinha muitas indústrias, na qual ocorreu uma inversão de temperatura, pro- vocandocongestão das vias respiratórias es- pecialmente em crianças e pessoas idosas. 60 1948 Estados Unidos – Donnora Região de indústrias metalúrgicas onde ocorreu inversão de temperatura, provo- cando congestão das vias respiratórias. 17 1950 México – Poza Rica Compostos de enxofre emitidos por uma indústria provocaram a internação de 320 pessoas acometidas de problemas respira- tórios e nervosos, durante uma inversão de temperatura. 32 1952 Brasil – Bauru Doenças respiratórias agudas em 150 pes- soas, provocadas por alergia ao pó de se- mente de mamona, utilizada na fabricação de óleo. 9 1957 Inglaterra Smog (mistura de fumaça com neblina). 1000 1960 Inglaterra Smog 800 1962 Inglaterra Smog 700 Fonte: adaptado de Derisio (2012). Danos aos materiais A poluição atmosférica também pode causar da- nos aos materiais, tais como: a deposição sobre materiais, abrasão, remoção, ataques químicos diretos e indiretos e a corrosão eletroquímica. Danos às propriedades da atmosfera A falta de visibilidade é um dos principais problemas ocasionados pela poluição atmosférica. Para Deri- sio (2012), a visibilidade urbana pode ser afetada, principalmente, por fatores meteorológicos, a saber: • Altura de inversão e velocidade dos ventos. • Elevadas condições de umidade. A diminuição da visibilidade ocorre em função das partículas líquidas e sólidas que estão suspen- sas na atmosfera, que dispersam e absorvem a luz. Danos à vegetação As plantas podem ser afetadas por poluentes atmosféricos, tais como: necrose de tecidos de folhas, redução da penetração de luz (isso reduz a capacidade da fotossíntese), penetração de po- luentes pelos estômatos das plantas, redução da taxa de crescimento, aumento na suscetibilidade de doenças e interrupções do processo reprodu- tivo da planta (DALLAROSA, 2005). Danos à economia Para controlar e/ou remover a poluição atmosféri- ca, os efeitos adversos são extremamente onerosos para os habitantes de áreas urbanas industrializa- das (DERISIO, 2012). O custo é complexo, entre- tanto, podemos fazer certas estimativas. Vimos que as fontes de poluição do ar podem emi- tir poluentes gasosos ou partículas, monóxido de carbono, hidrocarbonetos, dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, que são exemplos de poluen- tes gasosos. Já como exemplos de emissões de par- tículas, temos: fumaça, emissões de poeira e outros. Segundo Marra Junior (2013), os poluentes existentes na atmosfera, lançados pelas fontes de emissão, são denominados poluentes primários, por exemplo: monóxido de carbono, dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio. Enquanto os po- luentes secundários são aqueles formados na at- mosfera como resultados de reações, tais como: hidrólise, oxidação e oxidação fotoquímica, como névoas ácidas e oxidantes fotoquímicos. No que diz respeito à gestão da qualidade do ar, as prin- cipais estratégias estão voltadas ao controle da origem dos poluentes primários, pois o meio mais eficaz de controlar os poluentes secundários é minimizar os poluentes primários. Quando ava- liamos os níveis de qualidade do ar em uma região, devemos saber algumas informações importantes, como conhecer a quantidade, bem como as carac- terísticas das emissões. Métodos de Controle 167UNIDADE 7 Dessa maneira, podemos dividir os métodos de controle da po- luição do ar em duas categorias: aquelas que realizam a remoção de material particulado em suspensão e aquelas que buscam a remoção de poluentes gasosos das correntes gasosas. Controle de Particulados Primeiramente, começaremos nossos estudos com o controle de métodos para remoção do material particulado suspenso, são eles: câmara gravitacional, ciclone, filtros de saco, precipitador eletros- tático e Lavador Venturi. Veremos com detalhes o funcionamento desses equipamentos a seguir. Câmara gravitacional É um modelo simples e um dos mais antigos para controle da polui- ção do ar, que consiste, basicamente, em uma câmara de expansão, na qual ocorre a redução da velocidade do gás até um ponto em que as partículas nele em suspensão são capturadas pela ação da gravidade (sedimentação) (MARRA JUNIOR, 2013). Quanto maior for a partícula, maior será a taxa de sedimentação. Em uma dada corrente gasosa, as partículas maiores sedimentam mais rápido do que as maiores. Ciclone Conhecidos como separadores centrífugos (Figura 1), os ciclones são bem utilizados no controle de particulados, em especial quando partículas relativamente grandes precisam ser coletadas (MARRA JUNIOR, 2013). Figura 1 - Modelo de um ciclone Apresentam baixo custo de insta- lação e manutenção, não possuem partes móveis, podem ser confec- cionados em vários materiais e ocupam espaço reduzido. Podem apresentar-se em muitas formas e tamanhos, mas o princípio básico da separação consiste na atuação da força centrífuga sobre as par- tículas. Para Vesilind e Morgan (2011), o esquema consiste no ar sujo que é forçado para dentro do cone, como em uma centrífuga. Os sólidos pesados migram para a parede do cilindro, onde reduzem a velocidade em função do atrito, deslizam pelo cone e saem pelo fundo. O ar limpo fica no meio do cilindro e sai pelo topo. 168 Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões Filtros de saco Também conhecidos como filtros de tecido, utili- zados para coletar a poeira, que deve ser retirada do saco periodicamente. Segundo Marra Junior (2013), em aplicações industriais, o meio material poroso é, geralmente, um tecido (pano), com que se confecciona uma estrutura de formato tubular, semelhante a uma manga de camisa. Precipitador eletrostático O material particulado é removido após ser ele- tricamente carregado por elétrons, passando de um eletrodo de alta tensão para outro e, então, migra para o eletrodo de coleta com carga positiva (VESILIND; MORGAN, 2011). Existem vários mecanismos pelos quais partículas sólidas ou lí- quidas podem adquirir cargas elétricas, e os mais comuns são: eletrificação por contato ou atrito (triboeletrificação) por indução, por corrente co- rona e por ionização (MARRA JUNIOR, 2013). Para Marra Junior (2013, p. 549): “ [...] uma corrente ou descarga corona é pro- duzida quando uma alta voltagem é aplicada entre dois eletrodos, sendo um deles, nor- malmente, um fio ou uma barra de diâmetro pequeno e outro, uma placa plana, gerando, assim, um campo elétrico não uniforme. Como resultado, o campo elétrico nas pro- ximidades do eletrodo fino é intensificado. Lavador Venturi Consiste em colocar em contato íntimo a corrente gasosa e um líquido atomizado, geralmente água. O termo “lavadores”, de certa forma, é utilizado para remover ou coletar materiais particulados (MARRA JUNIOR, 2013). Um dos lavadores que são bem utilizados em indústrias para tratamento de efluentes gasosos é o lavador tipo Venturi, um equipamento industrial que tem como principal objetivo limpar a corrente gasosa dos contaminan- tes antes de sua emissão externa, assim, trabalha com um aumento da velocidade da corrente de ar em sua garganta, a fim de aumentar sua eficiência na coleta (COSTA, 2002). O lavador Venturi é exigido em casos em que a eficiência precisa ultrapassar 90% para partículas finas. É composto por um duto transversal (circu- lar ou retangular), sendo distinto em três partes: seção convergente, a garganta e a seção divergente (ou difusor). Podemos observar o esquema do lavador Venturi, na Figura 2: Garganta Líquido Seção divergente Saída do ar limpo Gás “sujo” contaminado por particulados Seção convergente Figura 2 - Lavador Venturi e suas partes principais Fonte: adaptada de Marra Junior (2013). 169UNIDADE 7 O seu funcionamento ocorre da seguinte maneira: o líquido de lavagem é introduzido com pressão na “garganta” (vena contracta), por meio de bicos atomizadores, em que são geradas pequenas gotas. O gás sujo, contaminado por materiais particula- dos, atravessa essa região em alta velocidade, em torno de 30 m/s a 120 m/s (MARRA JUNIOR,2013), o que ajuda na dispersão das gotas de líqui- do e na captura do material particulado. Nesse equipamento, tem-se a necessidade de introduzir uma corrente gasosa (que é a que será tratada) e uma corrente líquida (corrente de tratamento). Podem ser empregadas no controle de emissão de partículas oriundas de indústrias químicas de produtos minerais, polpa e papel, alu- mínio, ferro e outros tipos de resíduos sólidos de origem tóxica, abrasiva, corrosiva e, até mesmo ex- plosiva (COSTA, 2002). Em aplicações industriais, há muitas vantagens, a saber (COSTA, 2002): • Alta eficiência na coleta de partículas finas e ultrafinas (respiráveis). • É compacto, exige pouco espaço físico nas indústrias. • Capacidade de trabalhar com particulados explosivos, inflamáveis, pegajosos e ade- rentes, pelo fato de operar como coletores úmidos. • Pode-se trabalhar com a limpeza simultâ- nea de gases tóxicos e particulados. • Reaproveitamento do efluente líquido ge- rado, por trabalhar em um sistema fechado. • Pode trabalhar no tratamento de gases a altas temperaturas e altas umidades. Costa (2002) também elenca algumas desvanta- gens na sua utilização, tais como: • Pode necessitar de um sistema de trata- mento de efluentes líquidos. • O material é coletado a úmido, dificultan- do a sua reutilização. • Mais suscetível a problemas de corrosão. • Perda de carga alta para altas eficiências de coleta. • Pode apresentar problemas de incrustação. Controle de Poluentes Gasosos Agora, estudaremos os métodos de controle de métodos para remoção de poluentes gasosos, como: condensador, absorvedor, incinerador e separador por membranas. Condensador Segundo Marra Junior (2013), a condensação consiste em um processo de conversão de um gás ou de um vapor líquido (ocorre a mudança de fase). Assim, os condensadores, normalmente, utilizam água ou ar para resfriar e condensar uma corrente gasosa ou um de seus componentes. São dispositivos que não atingem temperaturas muito baixas (aproximadamente 30 ºC), portanto, não têm muita eficiência de remoção da maioria dos gases, apenas em casos que o vapor se conden- se em altas temperaturas. A condensação pode ocorrer quando a pressão parcial do poluente na corrente (mistura) gasosa é igual à sua pressão de vapor como substância pura, na temperatura considerada. 170 Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões As condições nas quais um determinado gás pode se condensar dependerá de suas proprieda- des físicas e químicas, que podem ocorrer quando a pressão parcial do poluente na corrente (mis- tura) gasosa é igual à sua pressão de vapor como substância pura, na temperatura considerada. Em situações práticas, os condensadores operam com remoção de calor da corrente gasosa (abaixamen- to de temperatura). Os tipos mais comuns são: condensadores de contato (fluido resfriador ou fluido é colocado em contato direto com a corren- te gasosa), misturado com o gás e os de superfície (fluido do resfriador está confinado em um com- partimento distinto da corrente gasosa). Absorvedor Segundo Marra Junior (2013, p. 555): “ absorção envolve a remoção de poluentes ga- sosos (chamados de absorvados ou solutos) de uma corrente de processos pela dissolu- ção em um líquido (chamado de absorvente ou solvente). A condição necessária para a aplicação da absorção para o controle da poluição é a solubilidade dos poluentes no líquido. Em um processo de absorção, colo- camos em contato íntimo a corrente gasosa e o líquido, mais favorável é a condição para a absorção, pois, sendo este um processo de transferência de massa, a elevada área infer- facial líquido-gás colabora com o fenômeno. O mecanismo principal de transferência de massa é a difusão entre os constituintes das fases gasosa e líquida. Consequentemente, a taxa de absorção é determinada pelas taxas de difusão nas fases. O processo de transfe- rência de massa ocorre até que o equilíbrio seja atingido (equilíbrio de fases). Para utilizar a absorção em seu dimensionamento, é preciso conhecer as características do solvente, que precisa ter as seguintes características, a saber (VESILIND; MORGAN, 2011): • Alta solubilidade no gás. • Baixa volatilidade. • Baixa viscosidade e toxicidade. • Alta estabilidade química e baixo ponto de congelamento. • Baixo custo. Segundo Marra Junior (2013), temos configurações de equipamentos diferentes, sendo as mais utiliza- das as colunas de recheio ou empacotadas (packed beds) ou colunas de aspersão (spray towers). Adsorvedor De acordo com Vesilind e Morgan (2011), a adsorção é um método importante quando conseguimos colocar o poluente em contato com um adsorvente, como o carvão ativado. A quantidade de moléculas (ou massa) que um adsorvente é capaz de reter chamamos de ad- sorção, e é expressa pela razão entre a massa de adsorvato e a massa de adsorvente, como, por exemplo, g de adsorvato/ g de adsorvente (MARRA JUNIOR, 2013). Os adsorventes podem ter formas e tama- nhos diferentes, e seu processo, normalmen- te, se dá por meio de um sistema cíclico, no qual o adsorvente é submetido a uma etapa de adsorção, em que os componentes adsorvidos são removidos e o adsorvente é regenerado; esse tipo de operação chamamos de batelada cíclica. Além disso, temos configurações de equipamentos (recheio ou empacotadas) ou de leitos fixos. 171UNIDADE 7 Incinerador De acordo com Marra Junior (2013), a combustão é um processo químico que ocorre com a combi- nação do oxigênio com vários compostos quími- cos, que liberam calor. O processo de combustão (oxidação térmica) é mais frequente no controle de emissões de compostos orgânicos. Além disso, esse processo pode ser empre- gado quando for necessário anular de forma mais eficiente alguns poluentes, como é o caso de gases tóxicos ou perigosos. Os sistemas de combustão são relativamente caros, utilizam um sistema adicional para queima dos poluentes e, geralmente, possuem algum dispositivo para recuperação do calor gerado. Um processo ideal é aquele que a combustão é completa, ou seja, os produtos da reação são apenas H2O e CO2. Se outros produtos são gerados, como o CO ou óxidos de nitrogênio, a combustão é incompleta. Se a combustão é incompleta, pode gerar pro- blemas adicionais, resultando na formação de aldeídos ou ácidos orgânicos. A oxidação de compostos contendo enxofre ou halogênios produz compostos indesejáveis, como dióxido de enxofre, ácido clorídrico ou fosgênio (COCl2). Sendo assim, um processo de absorção deve ser utilizado para tratamento das emissões. Para que seja alcançada a combustão completa, devemos colocar em contato íntimo os poluentes, o combustível e o ar (oxigênio), proporcionando as seguintes condições: tempe- ratura elevada para ignição da mistura poluente/ combustível, mistura turbulenta dos reagentes e tempo de residência suficiente para a reação ocorrer (MARRA JUNIOR, 2013). Incineradores operam com temperaturas entre 600 e 650 ºC quando oxidam a maioria dos com- postos orgânicos, mas, em alguns casos, podem variar entre 1.800 e 2.200 ºC para poluentes mais perigosos. Podem ser utilizados gás natural ou propano como combustíveis para manutenção das temperaturas adequadas. A Figura 3 apresenta a forma simplificada de um incinerador. O oxigênio é necessário para a combustão ocor- rer e, para combustão completa de um composto, uma quantidade de oxigênio deve estar presente para a conversão de todo carbono a gás carbônico. Calor Gás “limpo” Recuperação de calorCombustível Ar Gás “sujo” Queimador Câmara de combustão Figura 3 - Esquema simplificado de um incinerador Fonte: adaptada de Marra Junior (2013). Separador de membranas Esse processo tem como característica a passa- gem da mistura gasosa por meio de uma mem- brana permeável, ocorrendo separação seletiva dos componentes (esse processo também pode ser utilizado no tratamento de efluentes líquidos, tratamento de águas). As membranas comerciaissão, normalmente, sintetizadas a partir de materiais polimétricos. O polipropileno, a poliamida e o poliacrilonitrilo (MARRA JUNIOR, 2013) são utilizados na fa- bricação de membranas. Também são utilizados materiais inorgânicos, como alumina e sílica. Na limpeza dos gases, as membranas são mais fre- quentemente utilizadas para o tratamento de cor- rentes gasosas que contém compostos orgânicos voláteis com concentrações acima de 1.000 ppm e vazões moderadas. No processo de incineração, se não houver oxi- gênio suficiente, a combustão será incompleta. Quando trabalhamos a incineração no trata- mento de gases, é preciso que haja a quantida- de de oxigênio adequada, se não, a combustão será incompleta. 173UNIDADE 7 Para conhecer os padrões de qualidade, é preciso conhecer alguns conceitos importantes, que, se- gundo Derisio (2012), são: • Meteorologia: ciência que estuda os fe- nômenos atmosféricos que se manifestam e ocorrem na natureza. É de suma impor- tância, pois esses fenômenos são funda- mentais em relação à poluição do ar. As condições meteorológicas possibilitam estabelecer uma forma de ligação entre a fonte de poluição e o receptor, tendo como referência o transporte e dispersão dos po- luentes. • Estabilidade atmosférica: relacionada com os movimentos ascendentes e descen- dentes de volumes de ar, depende da velo- cidade do vento, turbulência atmosférica, insolação, chuva, neve e outras condições climáticas. Padrões de Qualidade 174 Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões • Inversões térmicas: temos duas formas por radiação e subsidiência: » Por radiação: acontece quando o solo esfria por radiação durante a noite, isso impede a dispersão das emissões de poluentes na cidade, à noite. » Térmica: ocorre quando da existência do processo de afundamento e compres- são de massa de ar, quanto maior for a convergência em altitude, maior o movi- mento descendente, havendo maior grau de compressão da atmosfera, com isso há o aumento de temperatura. A inversão térmica é um fenômeno que dificulta a dispersão dos poluentes gerados nos centros urbanos. Ela é consequência do rápido aqueci- mento e resfriamento da superfície. Esse fenô- meno pode ocorrer naturalmente ou ser causado pela maneira como a cidade está estruturada. Qualidade do Ar Além das condições meteorológicas, a aná- lise da concentração de poluentes presentes na atmosfera é fundamental para um programa de controle da poluição do ar por parte da agência governamental responsável por esse controle. Se- gundo Derisio (2012), os propósitos em avaliar são inúmeros, a saber: • Ter conhecimento e fazer comparação da atual qualidade do ar na área de jurisdição. • Analisar tendências com o intuito de fixar padrões de qualidade do ar. • Ativar ações de emergência com o objeti- vo de evitar episódios agudos referentes à poluição atmosférica. • Prover dados para o planejamento de uso e ocupação do solo. • Estudar a viabilidade de modelos matemá- ticos utilizados na dispersão atmosférica. Indicadores de Qualidade Os indicadores de qualidade do ar são medidos pela quantificação de suas substâncias poluentes. Para Derisio (2012), a variedade de substâncias presentes na atmosfera é muito grande, o que torna difícil a tarefa de estabelecer uma classificação; no entanto, podemos dividir em duas categorias, a saber: • Poluentes primários: emitidos direta- mente pelas fontes de emissão. • Poluentes secundários: formados por meio da reação química entre poluentes primários e constituintes naturais da at- mosfera. Padrões de Qualidade do Ar Os principais objetivos da avaliação da qualidade por monitoramento são: • Avaliar a qualidade do ar com o intuito de proteger a saúde e o bem-estar das pessoas. • Fornecer dados para ativar ações de emer- gência durante períodos de estagnação at- mosférica (quando os níveis de poluentes na atmosfera possam representar risco à saúde pública). • Acompanhar as tendências e mudanças na qualidade do ar. Com o intuito de atender a esses objetivos, faz-se necessária a fixação de padrões de qualidade do ar, que, para Derisio (2012, p. 133): 175UNIDADE 7 “ [...] define legalmente um limite máximo para a concentração de um componente at- mosférico, que garanta a proteção da saúde e do bem-estar das pessoas. Os padrões de qualidade do ar são baseados em estudos científicos dos efeitos produzidos por po- luentes específicos e são fixados em níveis que possam propiciar uma margem de se- gurança adequada. Os padrões de qualidade do ar (PQAr) podem variar de acordo com a abordagem adotada para balancear riscos à saúde, viabilidade técnica, con- siderações econômicas e vários outros fatores po- líticos e sociais que, por sua vez, dependem, entre outras coisas, do nível de desenvolvimento e da capacidade nacional de gerenciar a qualidade do ar (BRASIL, 2017). Aqui no Brasil, os padrões de qualidade do ar foram estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 003/1990, sendo, de acordo com esta resolu- ção, divididos em padrões primários e secundá- rios, a saber: • São padrões primários de qualidade do ar: as concentrações de poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população. Podem ser entendidos como níveis máximos toleráveis de concentra- ção de poluentes atmosféricos, constituin- do-se em metas de curto e médio prazo (BRASIL, 1990c). • São padrões secundários de qualida- de do ar: as concentrações de poluentes atmosféricos abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem-estar da população, assim como o mínimo dano à fauna e à flora, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Podem ser entendidos como níveis desejados de concentração de poluentes, constituindo-se em meta de longo prazo (BRASIL, 1990c). PRONAR - Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar A Resolução CONAMA nº 003, de 1990, ins- tituiu o PRONAR como um dos instrumentos básicos da gestão ambiental para proteção da saúde e bem-estar das populações e melhoria da qualidade de vida, que tem por objetivo permitir o desenvolvimento econômico e social do país, de forma ambientalmente segura, pela limitação dos níveis de emissão de poluentes por fontes de poluição atmosférica, com vistas (BRASIL, 1990c): • À melhoria na qualidade do ar. • Ao atendimento aos padrões estabelecidos. • Ao não comprometimento da qualidade do ar em áreas consideradas não degra- dadas. A estratégia era limitar, em nível nacional, as emis- sões por tipologia de fontes e poluentes prioritários, reservando o uso dos padrões de qualidade do ar como ação complementar de controle, conceituan- do e propondo-se a estabelecer (BRASIL, 1990c): • Limites Máximos de Emissão: a quanti- dade de poluentes permissível de ser lan- çada por fontes poluidoras para a atmos- fera, que serão diferenciados em função da classificação de usos pretendidos para as diversas áreas e serão mais rígidos para as fontes novas de poluição - aqueles em- preendimentos que não tenham obtido a licença prévia do órgão ambiental na data da publicação da Resolução. • Adoção de Padrões Nacionais de Quali- dade do Ar: para uma avaliação permanen- te das ações de controle estabelecidas, são adotados padrões de qualidade do ar, como ação complementar e referencial aos limites máximos de emissão estabelecidos. Foram estabelecidos dois tipos de padrões de qua- lidade do ar: os primários e os secundários. 176 Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões • Prevenção de Deterioração Significati- va da Qualidade do Ar: para implemen- tar a política de não deterioração significa- tiva da qualidade do ar em todo o território nacional, previa que as áreas deveriam ser enquadradas de acordo com a seguinte classificação de usos pretendidos: » Classe I: áreas de preservação, lazer e turismo, tais como Parques Nacio- nais e Estaduais, Reservas e Estações Ecológicas, Estâncias Hidrominerais e Hidrotermais. Nessas áreas, deverá ser mantida a qualidadedo ar em nível o mais próximo possível do verificado sem a intervenção antropogênica. » Classe II: áreas onde o nível de deterio- ração da qualidade do ar seja limitado pelo padrão secundário de qualidade. » Classe III: áreas de desenvolvimento onde o nível de deterioração da qua- lidade do ar seja limitado pelo padrão primário de qualidade; por meio de Re- solução específica do CONAMA, serão definidas as áreas Classe I e Classe III, sendo as demais consideradas Classe II. • Monitoramento da Qualidade do Ar: com base na necessidade de conhecer e acompanhar os níveis de qualidade do ar, como forma de avaliação das ações de con- trole estabelecidas, estabeleceu a criação de uma Rede Nacional de Monitoramento da Qualidade do Ar, que deveria permitir o acompanhamento e a comparação com os respectivos padrões estabelecidos. • Gerenciamento do Licenciamento de Fontes de Poluição do Ar: estabeleceu um sistema de disciplinamento da ocu- pação do solo baseado no licenciamento prévio das fontes de poluição, por meio do qual o impacto de atividades poluido- ras deve ser analisado previamente, pre- venindo a deterioração descontrolada da qualidade do ar. • Inventário Nacional de Fontes e Poluen- tes do Ar: estabeleceu a criação, objetivan- do desenvolver metodologias que permitam o cadastramento e a estimativa das emissões, bem como o devido processamento dos da- dos referentes às fontes de poluição do ar. • Gestões Políticas: estabeleceu que o IBA- MA coordene gestões junto aos órgãos da Administração Pública Direta ou Indireta, Federais, Estaduais ou Municipais e Enti- dades Privadas, no intuito de se manter permanente canal de comunicação, vi- sando viabilizar a solução de aplicação de medidas de controle da poluição do ar nos diferentes setores da sociedade. • Desenvolvimento Nacional na Área de Poluição do Ar: promover junto aos ór- gãos ambientais meios de estruturação de recursos humanos e laboratoriais, a fim de se desenvolver programas regionais que viabilizarão o atendimento dos objetivos estabelecidos no PRONAR. • Ações de Curto, Médio e Longo Prazo: definiu metas de curto, médio e longo pra- zo para as ações, considerando: » Curto Prazo: definição dos limites de emissão para fontes poluidoras priori- tárias; definição dos padrões de quali- dade do ar; enquadramento das áreas na classificação de usos pretendidos; apoio à formulação dos Programas Es- taduais de Controle de Poluição do Ar; capacitação laboratorial e capacitação de recursos humanos. » Médio Prazo: definição dos demais li- mites de emissão para fontes poluido- ras; implementação da Rede Nacional de Monitoramento da Qualidade do Ar; criação do Inventário Nacional de 177UNIDADE 7 Fontes e Emissões; capacitação labora- torial (continuidade) e capacitação de recursos humanos (continuidade). » Longo Prazo: capacitação laboratorial (continuidade); capacitação de recursos humanos (continuidade) e avaliação e retroavaliação do PRONAR. Para que as ações de controle definidas pudessem ser concretizadas e como meio de instrumentali- zar tais medidas, foram estabelecidos alguns ins- trumentos de apoio e operacionalização: limites máximos de emissão; padrões de qualidade do ar; o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE); o Progra- ma Nacional de Controle da Poluição Industrial (PRONACOP); o Programa Nacional de Avalia- ção da Qualidade do Ar; o Programa Nacional de Inventário de Fontes Poluidoras do Ar e os Programas Estaduais de Controle da Poluição do Ar que, sob uma perspectiva conceitual, dá ao PRONAR uma ótica de gestão. PNQA - Plano Nacional de Qualidade do Ar No ano de 2009, o Ministério das Cidades, o Mi- nistério da Saúde e o Ministério do Meio Am- biente lançaram, em conjunto, o Plano Nacional de Qualidade do Ar. De acordo com o documento (BRASIL, 2009, p. 1): “ Ações de gestão são necessárias para pre- venir ou reduzir as emissões de poluentes e os efeitos da degradação do meio aéreo, o que já foi demonstrado ser compatível com o desenvolvimento econômico e social. A gestão da qualidade do ar envolve, portan- to, medidas mitigadoras que tenham como base a definição de limites permissíveis de concentração dos poluentes na atmosfera, a restrição de emissão dos mesmos, bem como um melhor desempenho na aplicação dos instrumentos de comando e controle, entre eles o licenciamento ambiental e o monitoramento. Os objetivos estratégicos do PNQA são (BRA- SIL, 2009): • Reduzir as concentrações de contaminan- tes na atmosfera de modo a assegurar a melhoria da qualidade ambiental e a pro- teção à saúde, compatibilizando o alcance de metas de qualidade do ar com desen- volvimento econômico. • Integrar políticas públicas e instrumentos que se complementam nas ações de plane- jamento territorial, setorial e de fomento e na aplicação de mecanismos de coman- do e controle necessários ao alcance de metas de qualidade do ar temporalmente definidas. • Contribuir para a diminuição da emissão de gases do efeito estufa. Observa-se que, apesar da abordagem mais mo- derna sobre o tema, ainda persiste a ênfase no comando e controle. Complementarmente à legis- lação federal vigente, os Estados também possuem uma série de instrumentos legais destinados a medidas de controle da poluição e prevenção da degradação da qualidade do ar. O som puro é descrito como ondas de pressão que se propagam em um meio (ar) (VESILIND; MORGAN, 2011) e nos permite comunicar, faz- -nos alertas ou previne em muitas circunstâncias. O som é qualquer vibração ou conjunto de vibra- ções ou ondas mecânicas que podem ser ouvidas. (Tuffi Messias Saliba) Essas ondas são transmitidas por meio de várias fontes (veículos, televisão, conversa entre pessoas, eletrodomésticos etc.) e produzem, no meio em que se propagam, uma variação de pressão no ar, no caso, pressão das ondas sonoras ou, simples- mente, pressão sonora. Dessa maneira, as fontes sonoras são os meios pelos quais as ondas de pressão são formadas no ar, podendo ser um equipamento em vibração, uma música, o chiado de uma chaleira etc. Para Vesilind e Morgan (2011), os ouvidos humanos saudáveis captam sons cuja frequência variam de, aproximadamente, 15 Hz a 20.000 Hz, uma Poluição Sonora 179UNIDADE 7 ampla faixa. Os sons de baixa frequência são graves, enquanto de alta frequência são mais agudos. De acordo com Rosa (2007), as ondas sonoras são as que pos- suem frequência de vibração entre 20 Hz e 20.000 Hz, sendo recebi- das e processadas por nosso sistema auditivo e originam-se a partir de vibrações do ar que são captadas pelo tímpano com frequência e amplitudes predefinidas. Pessoas jovens e saudáveis podem ouvir frequências muito altas, que geralmente incluem os sinais de portas automáticas. Com a idade, infelizmente, com os danos causados, a habilidade de detectar uma ampla faixa de frequências diminui. A amplitude (A) representa a intensidade do som que perce- bemos. A sua variação é proporcionalmente relativa à variação da pressão atmosférica causada pela onda (pressão sonora) represen- tada pela diferença de seus valores, máximo e médio, no tempo e num determinado ponto do espaço ou, também, ao longo do espaço num determinado instante de tempo (SALIBA, 2009). Frequência (f) é o número de oscilações (vibrações completas) por segundo de uma determinada onda, sendo que a unidade de medida da frequência no Sistema Internacional (SI) é o hertz (Hz), que corresponde à frequência de um som que executa vibração completa ou um ciclo por segundo. Para uma onda sonora em propagação, a frequência é o número de ondas que passam por um determinado referencial em um intervalo de tempo (SALIBA, 2009). Medição do Som O som é medido com um instrumento que converte a energia das ondas de pressão em um sinal elétrico. Um microfone capta as ondas de pressão, e um medidor lê o nível de pressão sonora, diretamente calibrado para decibéis. Os dados obtidos dessa forma,com um medidor de nível de pressão sonora, representam uma medição precisa do nível de energia do ar (VESILIND; MORGAN, 2011). Contudo, esse nível de pressão não é, necessariamente, o que os ouvidos humanos escutam, conforme já mencionado em tópi- co anterior – que o ouvido humano detecta frequências entre 20 e 20.000 Hz. A escala decibel (dB) usa o limiar da audição µPa como seu ponto de partida ou pressão de referência. Isso é definido como ser igual a 0dB. Cada vez que se multiplica por 10, a pressão sonora em Pa, adiciona-se 20 dB; assim, 200 µPa corresponde a 20 dB; 2.000 µPa corresponde a 40 dB e assim sucessivamente (DERISIO, 2012). 180 Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões Efeitos de Ruídos na Saúde Humana Os efeitos do ruído, no homem, podem ser físicos, psicológicos e sociais. O ruído prejudica a audição, interfere em comunicações, provoca fadiga, incômodo, aumenta produção de adrenalina, rea- ções musculares e outros (DERISIO, 2012). Os efeitos quanto à saúde e bem-estar do homem são: • Redução da capacidade auditiva. • Resposta vegetativa, quer seja involuntária quer seja cons- ciente. • Cardiovascular. • Incômodo. • Alterações fisiológicas (como perturbação ao sono, aumento de riscos de acidentes e outros). • Medo, ansiedade. Fontes de Ruído As fontes de ruído, para Derisio (2012), podem ser classificadas em es- tacionárias ou móveis, a saber: • Estacionárias: encontram-se fixas em certos locais, como indústrias, construções, casas noturnas e outros. • Móveis: movimentam de um lugar para outro, como exem- plos: veículos, aeronaves e trens. Definição de Poluição Sonora A poluição sonora é um dos grandes problemas ambientais dos centros urbanos. Para Saliba (2009), ela consiste na emissão de barulhos, ruídos e sons em limites perturbadores da comodidade auditiva. Todo ruído que causa incômodo pode ser considerado poluição sonora. A noção do que é barulho (ruído) pode variar de pessoa para pessoa, mas o organismo tem limites físicos para su- portá-lo. Barulho em excesso pode provocar surdez e desencadear outras doenças, como pressão alta e disfunções. 181UNIDADE 7 As técnicas de controle de ruídos podem ser reali- zadas na própria fonte, no percurso entre a fonte e o receptor, podem ser utilizadas isolada ou simul- taneamente e devem contemplar medidas, a saber (DERISIO, 2012): Substituição do equipamento por outro mais silencioso: • Redução ou minimização das forças envol- vidas, as quais podem compreender uma correta lubrificação, alinhamento, equilíbrio das partes móveis e ancoragem do equipa- mento em suportes antivibratórios; • Alteração de processos produtivos, com a substituição de equipamentos em períodos preestabelecidos, eliminação ou redução de atividades em períodos noturnos. Para Vesilind e Morgan (2011), podemos ter: • Proteção do receptor: medidas que en- volvem o uso de protetores auriculares ou outros tipos de proteção. • Redução nas fontes do ruído: mudanças em motores utilizados, trocas de equipamentos. • Controle do caminho dos ruídos: au- mento das paredes antirruídos ou barreiras ao longo das estradas. Redução e Controle de Ruídos 182 Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões Os problemas relativos aos níveis excessivos de ruí- dos estão incluídos entre os sujeitos ao controle da poluição ambiental, em que a normatização e o es- tabelecimento de padrões compatíveis com o meio ambiente equilibrado e necessário à sadia qualidade de vida são atribuídos ao CONAMA, segundo o que está disposto no inciso II, do artigo 6º, da Lei 6.938 (BRASIL, 1981). Vimos, anteriormente, que a identi- ficação entre som e ruído é feita por meio da utiliza- ção de unidades de medição do nível de ruído. Com isso, também são definidos os padrões de emissão aceitáveis e inaceitáveis, criando-se e permitindo-se a verificação do ponto limítrofe com o ruído. O nível de intensidade sonora é apresentado, geralmente, em decibéis (dB) e é apurada com a utilização de um aparelho chamado decibelí- metro. No que diz respeito ao ruído, é regulado pela Resolução do CONAMA 001/1990 (BRASIL, 1990a), a qual considera um problema os níveis excessivos de ruídos, bem como a deterioração da qualidade de vida causada pela poluição. Essa Resolução adota os padrões estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas e pela Norma Brasileira Regulamentar, NBR 10.151 (ABNT, 2000). A Resolução 001 do CONAMA (1990a, p. 1) determina que: “ I - A emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propa- ganda política obedecerá no interesse da saú- de, do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidos nesta Resolução. II - São prejudiciais à saúde e ao sossego pú- blico, para os fins do item anterior aos ruí- dos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela norma NBR 10.152 - Avalia- ção do Ruído em Áreas Habitadas visando ao conforto da comunidade, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. III - Na execução dos projetos de construção ou de reformas de edificações para ativida- des heterogêneas, o nível de som produzido por uma delas não poderá ultrapassar os níveis estabelecidos pela NBR 10.152 - Ava- liação do Ruído em Áreas Habitadas visando ao conforto da comunidade, da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. IV - A emissão de ruídos produzidos por veículos automotores e os produzidos no interior dos ambientes de trabalho, obedece- rão às normas expedidas, respectivamente, pelo Conselho Nacional de Trânsito - CON- TRAN e pelo órgão competente do Minis- tério do Trabalho. V - As entidades e órgãos públicos (federais, estaduais e municipais) competentes, no uso do respectivo poder de política, disporão, de acordo com o estabelecido nesta Resolução, sobre a emissão ou proibição da emissão de ruídos produzidos por quaisquer meios ou de qualquer espécie, considerando sempre os locais, os horários e a natureza das ativi- dades emissoras, com vistas a compatibilizar o exercício das atividades com a preservação da saúde e do sossego público. A NBR 10.151 (ABNT, 2000) dispõe sobre a avaliação do ruído em áreas habitadas, visan- do ao conforto da comunidade. Essa Norma fixa as condições exigíveis para a avaliação da aceitabilidade do ruído em comunidades, inde- pendentemente da existência de reclamações. Além da NBR 10.151, tem-se a NBR 10.152 (ABNT, 1987), que trata dos níveis de ruídos para conforto acústico, estabelecendo os limi- tes máximos em decibéis a serem adotados em determinados locais. Exemplificando, em um restaurante, o nível de ruído não deve ultra- passar os 50 decibéis estabelecidos pela NBR 10.152. Vale lembrar que a NBR 10.152 referente à acústica de edificações sofreu alterações no ano de 2017. 183UNIDADE 7 O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CO- NAMA), considerando que o crescimento de- mográfico descontrolado ocorrido nos centros urbanos acarreta uma concentração de diversos tipos de fontes de poluição sonora, sendo funda- mental o estabelecimento de normas, métodos e ações para controlar o ruído excessivo que pos- sa interferir na saúde e bem-estar da população, estabeleceu a Resolução 2 (BRASIL, 1990b), que veio a instituir o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora – Silêncio (12), com o seguinte objetivo (BRASIL, 1990b, p. 01): “ a) Promover cursos técnicos para capacitar pessoal e controlar os problemas de polui- ção sonora nos órgãos de meio ambiente estaduais e municipais em todo o país; b) Divulgar junto à população, através dos meios de comunicação disponíveis, maté- ria educativa e conscientizadora dos efeitos prejudiciais causados pelo excesso de ruído; c) Introduzir o tema “poluição sonora” nos cursos secundários da rede oficial e privada de ensino, através de um Programa de Edu- cação Nacional; d) Incentivar a fabricação e uso de máquinas, motores, equipamentos e dispositivoscom menor intensidade de ruído quando de sua utilização na indústria, veículos em geral, construção civil, utilidades domésticas etc. e) Incentivar a capacitação de recursos hu- manos e apoio técnico e logístico dentro da política civil e militar para receber de- núncias e tomar providências de combate à poluição sonora urbana em todo o Terri- tório Nacional; f) Estabelecer convênios, contratos e ati- vidades afins com órgãos e entidades que, direta ou indiretamente, possam contri- buir para o desenvolvimento do Programa SILÊNCIO. Em relação a níveis de ruído em ambientes inter- nos, a competência é exclusiva do âmbito federal, a cargo do Ministério do Trabalho. Estudamos, nesta unidade, as principais fon- tes de poluição atmosférica, além de classificar os poluentes em primários e secundários. Vimos que os materiais particulados consistem em uma mistura de partículas líquidas e sólidas que es- tão em suspensão na atmosfera e classificamos de acordo com seu tamanho em: poeira, vapor, névoa, fumaça e sprays. Enquanto poluentes ga- sosos, estão incluídas as substâncias que são gases a uma temperatura e pressão normais, e vapores de substâncias líquidas ou sólidas sob condições normais, por exemplo: monóxido de carbono, hidrocarbonetos, ácido sulfúrico, óxidos de ni- trogênio, ozônio e outros. A norma NBR 10.152 Acústica – Níveis de Pressão Sonora em Ambientes Internos a Edificações foi revisada desde 2014, pelo Comitê Brasileiro da Construção Civil (CB-002), da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Esse texto substituirá a NBR 10152 – Níveis de Ruído para Conforto Acústico, que está em vigor desde 1987. Saiba mais sobre as mudanças na NBR 10.152, acessando o link a seguir: http://techne.pini.com.br/2017/12/nbr-10152-de-acustica-em-edificacoes-e-publicada-apos-revisao/. 184 Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões Vimos que as fontes fixas de poluição do ar são aquelas que ocupam uma área relativamente limitada e que podem ser avaliadas diretamente na fonte, como indústrias, mineração e produ- ção de energia por meio de usinas termelétricas. Enquanto as fontes móveis são aquelas que não podem ser avaliadas diretamente na fonte, como veículos, aviões, trens e outros. Além disso, estu- damos que os efeitos da poluição do ar podem ser caracterizados de acordo com a alteração das condições normais da atmosfera ou por au- mento de problemas já existentes e que, de uma forma geral, os efeitos causados pela poluição do ar são manifestados por muitos danos à saúde humana, materiais, propriedades da atmosfera, vegetação e economia. Também vimos as formas de controlar as emissões atmosféricas e os aspectos legais, es- tudamos os indicadores de qualidade do ar, os padrões de qualidade do ar e os programas de prevenção da qualidade do ar. Definimos, por fim, poluição sonora como a emissão de baru- lhos, ruídos e sons em limites perturbadores da comodidade auditiva, as suas consequências para a saúde humana e algumas técnicas para o con- trole de ruídos, que podem ser feitas na própria fonte, percurso e receptor. Na próxima unidade, trataremos da evolução das leis ambientais no Brasil. Encontro você lá! 185 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. São chamados de poluentes originados diretamente na atmosfera. Estamos falando de: a) Poluentes primários. b) Poluentes secundários. c) Poluentes terciários. d) Poluição atmosférica. e) Poluição por atividades industriais. 2. Consiste em um tratamento para remoção de particulados, que também é de- nominado de separador centrífugo. Trata-se de: a) Câmara gravitacional. b) Ciclone. c) Filtros de saco. d) Precipitador eletrostático. e) Lavador Venturi. 3. Os padrões de qualidade do ar, aqui no Brasil, foram estabelecidos pela Reso- lução CONAMA nº 003/1990. Diante disso, as concentrações de poluentes, que sejam excedidas e que podem afetar a saúde da população, são chamadas de: a) Padrões primários. b) Padrões secundários. c) Padrões terciários. d) Monitoramento de qualidade do ar. e) Inventário Nacional de Fontes e Poluentes do Ar. 186 4. Consiste no número de vibrações completas por segundo de uma determinada onda. Trata-se de: a) Ondas sonoras. b) Amplitude. c) Frequência. d) Som. e) Pressão. 5. É a norma que dispõe sobre a avaliação do ruído em áreas habitadas, visando ao conforto da comunidade. Estamos falando de qual Norma? a) NBR 10.151. b) NBR 10.152. c) NBR 10.155. d) NBR 10.044. e) NBR 10.066. 187 Introdução à Engenharia Ambiental Autor: P. Aarne Vesilind e Susan M. Morgan Editora: Cengage Learning Sinopse: Introdução à Engenharia Ambiental traz discussões, principalmente, sobre dois temas: o balanço de materiais e a ética ambiental. A obra é dividida em três partes: a primeira parte oferece exemplos de questões complexas que circundam a identificação e a solução dos problemas ambientais. A segunda parte introduz os conceitos fundamentais do balanço de materiais e reações que ocorrem em reatores. Na terceira parte, esses princípios são aplicados à engenharia ambiental e à ciência. LIVRO 188 ABNT. NBR 10.151: Acústica - Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade - Procedimento. Rio de Janeiro, 2000. ABNT. NBR 10.152: Níveis de ruído para conforto acústico. Rio de Janeiro, 1987. BRASIL. Conama. Resolução nº 001, de 08 de junho de 1990. Dispõe sobre critérios de padrões de emissão de ruídos decorrentes de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda política. Diário Oficial da União, 1990a. BRASIL. Conama. Resolução nº 002, de 08 de junho de 1990. Dispõe sobre o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora. Diário Oficial da União, 1990b. BRASIL. Conama. Resolução nº 003, de 28 de junho de 1990. Dispõe sobre padrões de qualidade do ar, previstos no PRONAR. Diário Oficial da União, 1990c. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/ legiabre.cfm?codlegi=100. Acesso em: 1 abr. 2019. BRASIL. Fontes Fixas. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, [2019]. Disponível em: http://www.mma.gov. br/cidades-sustentaveis/qualidade-do-ar/fontes-fixas. Acesso em: 1 abr. 2019. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Presidência da Republica, 1981. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm. Acesso em: 1 abr. 2019. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Compromisso pela Qualidade do Ar e Saúde Ambiental. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80060/Compromisso%20 pela%20Qualidade%20do%20Ar%20e%20Saude%20Ambiental.pdf. Acesso em: 1 abr. 2019. BRASIL. Padrões de Qualidade do Ar. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2017. Disponível em: http:// www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/qualidade-do-ar/padroes-de-qualidade-do-ar. Acesso em: 1 abr. 2019. COSTA, M. A. M. Eficiência de coleta de partículas em lavadores Venturi. 2002. 220 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química) – Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2002. DALLAROSA, J. B. Estudo da formação e dispersão de Ozônio Troposférico em áreas de atividade de processamento de carvão aplicando modelos numéricos. Programa de Pós-graduação em Sensoriamento remoto (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. DERISIO, J. C. Introdução ao controle de poluição ambiental. 4. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2012. MARRA JUNIOR, W. D. Tratamento de efluentes gasosos. In: CALIJURI, M. C.; CUNHA, D. G. F. (coord.). Engenharia Ambiental. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm 189 ROSA, R. S. Ruído Urbano: Estudo de Caso da Cidade de Sapucaia do Sul - RS, 2007. Disponível em: http:// www.projetos.unijui.edu.br/petegc/wp-content/uploads/2010/03/TCC-Rodrigo-Silva-da-Rosa.pdf.Acesso em: 19 mar. 2018. SALDIVA, P. H. N.; COELHO, M. S. Z. S. Poluição Atmosférica e Saúde Humana. In: CALIJURI, M. C.; CUNHA, D. G. F. Engenharia Ambiental. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. SALIBA, T. M. Manual prático de higiene ocupacional e PPRA: avaliação e controle dos riscos ambientais, 2. ed. Belo Horizonte: Astec, 2009. VESILIND, P. A.; MORGAN, S. M. Introdução à Engenharia Ambiental. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. 190 1. A. 2. B. 3. A. 4. C. 5. A. 191 192 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Sintetizar os principais marcos da política ambiental no Brasil. • Detalhar a Política Nacional do Meio Ambiente e destacar sua relevância nas questões ambientais do país. • Detalhar a Política Nacional de Resíduos Sólidos e desta- car sua relevância na gestão de resíduos sólidos do país. • Definir Licenciamento Ambiental e classificar as licenças existentes. Marcos da Política Ambiental Brasileira Política Nacional do Meio Ambiente Licenciamento Ambiental Política Nacional de Resíduos Sólidos Esp. João Marcos Pardo Me. Gustavo Affonso Pisano Mateus Me. Renata Cristina de Souza Chatalov A Política Ambiental no Brasil Marcos da Política Ambiental Brasileira Caro(a) aluno(a), nesta unidade, vamos estudar a evolução das políticas ambientais no Brasil. Trata- remos de leis importantes que gestores precisam, que são aplicáveis a organizações e/ou indústrias. Definiremos o que é Legislação Ambiental e, em seguida, falaremos sobre os principais marcos da política ambiental brasileira, abrangendo as leis: código das águas, código florestal, Política Na- cional de Meio Ambiente (Lei 6.938/81), lei da política agrícola, lei das águas, lei de crimes am- bientais e Política Nacional de Resíduos Sólidos. Também vamos abordar uma questão impor- tante referente à legislação ambiental que deve ser cumprida pelas organizações: o licenciamento ambiental, definiremos a licença prévia, licença de instalação e licença de operação, cada uma com suas particularidades. Diferentes tipos de empreendimento apresen- tam diferentes requisitos para sua implantação e operação; assim, é necessário que você, enquanto profissional, possua um conhecimento básico acer- ca das legislações a que sua empresa está sujeita. Vamos lá? 195UNIDADE 8 As atitudes relacionadas com a gestão ambiental só começaram a manifestar-se por meio dos governos estaduais ao passo que os problemas iam surgindo, isto é, eram medidas isoladas de caráter remediador ou reparador. As resoluções iniciais, no que diz respeito à gestão ambiental, eram apenas corretivas e não preventivas; a partir da década de 70, tiveram início algumas medidas preventivas por meio de políticas governamentais. O Poder Público, no Brasil, começou a se preocupar com o meio ambiente na década de 30. Não que antes não houvesse nada a esse respeito, mas eram poucas iniciativas e não eram tão eficazes. Para Barbieri (2016), antes do século XX, o campo político e institucional brasileiro não se sensibilizava com os problemas ambientais, embora não faltassem problemas que os apontassem. A abundância de terras férteis, além de outros recursos naturais, enaltecida desde a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Por- tugal, tornou-se uma espécie de dogma que impedia enxergar a destruição que vinha ocorrendo desde o período da colonização. A degradação de uma área não era considerada um problema ambiental pela classe política. As denúncias sobre a má gestão e uso de recursos naturais não encontravam eco na esfera política dessa época. Somente quando o Brasil começa a dar passos firmes em direção à industrialização, inicia-se o esboço de uma política ambiental. Tomando como critério a eficácia da ação pública, e não apenas a geração de leis, pode-se apontar a década de 30 como início de uma política ambiental mais efetiva. A partir de agora, estudaremos os principais marcos da Política Ambiental Brasileira. Legislação Ambiental consiste em um conjunto de leis, normas, regras e padrões criados para proteger o meio ambiente, buscando planejar e controlar os impactos ambientais. (Marcelo Testa) Código das Águas – Decreto nº 24.643/1934 Norma legal que disciplina o aproveitamento industrial das águas e o aproveitamento e a exploração da energia elétrica, sendo dividida em duas partes. A primeira é reservada às águas em geral e ao seu domínio; já a segunda parte estabelece uma disciplina legal para geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Código Florestal – Decreto nº 23.793/1934 O Decreto n° 23.793/1934 es- tabeleceu o Código Florestal, que tratava de regras acerca de onde e de que forma a vegeta- ção nativa do território bra- sileiro poderia ser explorada. Determinava, também, as áreas que devem ser preservadas e quais regiões podem receber diferentes tipos de produção rural. O Código Florestal so- freu modificações importantes e, em 1965, tornou-se mais exi- gente. Teve sua última altera- ção em maio de 2012, por meio da Lei n° 12.521/2012. 196 A Política Ambiental no Brasil Política Agrícola – Lei nº 8.171/1991 Essa lei tem como principal objetivo proteger o meio ambiente; define que o poder público deve disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo, da água, da fauna e da flora. O Estado também deve realizar zoneamentos agroecológicos, buscando ordenar a ocupação de atividades produtivas, de- senvolver programas de educação ambiental e in- centivar a produção de mudas de espécies nativas. Lei dos Recursos Hídricos – Lei nº 9.433/1997 Também conhecida como a Lei dos Recursos Hídricos ou Lei das Águas, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH). Segundo a Lei das Águas, a Política Nacional de Recursos Hídricos tem seis funda- mentos. A água é considerada um bem de domí- nio público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico, sendo sua gestão baseada em usos múltiplos (abastecimento, energia, irrigação, indústria etc.) (BRASIL, 1997). O instrumento legal prevê que a gestão dos recursos hídricos deve proporcionar os usos múltiplos das águas, de forma descentralizada e participativa, contando com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. O consumo humano e de animais é prioritário em situações de escassez (BRASIL, 1997). Lei de Crimes Ambientais – Lei nº 9.605/98 Condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente passaram a ser punidas, de forma civil, administrativa e criminal. A lei não trata ape- nas de punições severas, pois incorpora métodos e possibilidades de não aplicação das penas, desde que o infrator recupere o dano ou, de outra forma, pague sua dívida à sociedade (BRASIL, 1998). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. O Código Florestal brasileiro institui as regras gerais acerca de onde e de que forma o território bra- sileiro pode ser explorado, ao determinar as áreas de vegetação nativa que devem ser preservadas e quais regiões são legalmente autorizadas a receber os diferentes tipos de produção rural. Você já ouviu falar no novo Código Florestal? Pesquise sobre ele para saber mais. https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/593 197UNIDADE 8 A Lei nº 6.938/1981 estabeleceu a Política Nacio- nal do Meio Ambiente (PNMA). A PNMA repre- sentou uma mudança importante no tratamento das questões ambientais, na medida em que pro- cura integrar as ações governamentais dentro de uma abordagem sistemática. Tem por objetivo a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar as condições de desenvol- vimento socioeconômico, os interesses da segu- rança nacional e a proteção da dignidade humana. O meio ambiente como um todo é considerado patrimônio público que deve ser protegido, tendo em vista o uso coletivo (BRASIL, 1981). Com essa Lei,foi instituído o Sistema Nacio- nal do Meio Ambiente (SISNAMA), responsável pela proteção e melhoria do meio ambiente e constituído por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Podemos observar os componentes do SISNAMA no Quadro 1. Política Nacional do Meio Ambiente 198 A Política Ambiental no Brasil Quadro 1 - Componentes do SISNAMA ÓRGÃO COMPONENTE Órgão superior Conselho de Governo que auxilia o presidente da República na formulação de políticas públicas. Órgão consultivo e deliberativo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), presidido pelo ministro do meio ambiente. Esse órgão analisa, delibera e propõe diretrizes e normas acerca da política ambiental. Órgão central Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA). Órgão responsável por planejamento, coordenação, supervisão e controle da Política Nacional do Meio Ambiente. Órgãos executores Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBA- MA) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Autarquias vinculadas ao Ministério do Meio Ambiente que executam e fiscalizam a política ambiental no âmbito federal. Órgãos seccionais Órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental. Órgãos locais Órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e pela fiscalização dessas atividades nas suas respectivas jurisdições. Fonte: adaptado de Brasil (1981). Ao se espelharem no SISNAMA, os estados criaram seus Sistemas Estaduais do Meio Ambiente para integrar as ações ambientais de diferentes entidades públicas nesse âmbito de abrangência. Outra ino- vação importante foi o conceito de responsabilidade objetiva do poluidor. O poluidor fica obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por suas atividades (BARBIERI, 2016). De acordo com Dias (2017), o princípio do poluidor-pagador é uma das principais normas do direito ambiental e um importante instrumento de políticas governamentais. O princípio torna a organiza- ção que contamina responsável pelo pagamento do prejuízo que causou, dessa maneira, os custos de tratamentos dos danos ou de recuperação de áreas poluídas não reincidem no governo. 199UNIDADE 8 O Art. 9º, da Lei nº 6.938/81, aborda os instru- mentos da Política Nacional do Meio Ambiente: “ I - o estabelecimento de padrões de quali- dade ambiental; II - o zoneamento ambiental; III - a avaliação de impactos ambientais; IV - o licenciamento e a revisão de ativida- des efetiva ou potencialmente poluidoras; V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI - a criação de espaços territoriais espe- cialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII - o Cadastro Técnico Federal de Ativi- dades e Instrumentos de Defesa Ambiental; IX - as penalidades disciplinares ou com- pensatórias ao não cumprimento das me- didas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anual- mente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando ine- xistentes; XII - o Cadastro Técnico Federal de ativi- dades potencialmente poluidoras e/ou uti- lizadoras dos recursos ambientais. XIII - instrumentos econômicos, como con- cessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros (BRASIL, 1981, p. 3). A Constituição Federal (CF) de 1988 estabelece que a construção, a instalação, a ampliação e o funcionamento de estabelecimentos e de ati- vidades utilizadoras dos recursos ambientais, considerados efetivos ou potencialmente po- luidores, dependeriam de prévio licenciamento por órgão estadual integrante do SISNAMA, sem prejuízo de outras licenças exigíveis (BRA- SIL, 1988). Assim, também se torna importante conhe- cermos o capítulo VI, do art. 225 da Constituição Federal de 1998, o qual afirma que: “ Todos têm direito ao meio ambiente ecolo- gicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à co- letividade o dever de defendê-lo e preser- vá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988). 200 A Política Ambiental no Brasil A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi um marco regulatório na área de Resíduos Sólidos. A PNRS faz a distinção entre resíduo (lixo que pode ser reaproveitado ou reciclado) e rejeito (o que não é passível de reaproveitamento), além de se referir a todo tipo de resíduo: doméstico, industrial, da construção civil, eletroeletrônico, lâmpadas de vapores mercuriais, agrosilvopastoril, da área de saúde e perigosos (BRASIL, 2010). A PNRS instituiu o princípio de responsabi- lidade compartilhada pelo ciclo de vida dos pro- dutos, incluiu a chamada logística reversa, que se refere ao conjunto de ações para facilitar o retorno dos resíduos aos seus geradores, a fim de que se- jam tratados ou reaproveitados em novos produ- tos e estabeleceu princípios para a elaboração dos Planos Nacional, Estadual, Regional e Municipal de Resíduos Sólidos. Ainda propiciou oportunida- des de cooperação entre o poder público federal, estadual e municipal, o setor produtivo e a socie- dade em geral (BRASIL, 2010). Política Nacional de Resíduos Sólidos 201UNIDADE 8 Dentre os principais instrumentos instituídos pela PNRS (BRA- SIL, 2010, p. 3), destacam-se: “ I - os planos de resíduos sólidos; II - os inventários e o sistema declaratório anual de resíduos sólidos; III - a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; IV - o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; V - o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária; VI - a cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o desenvolvimento de pesquisas de novos pro- dutos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e disposição final ambien- talmente adequada de rejeitos; VII - a pesquisa científica e tecnológica; VIII - a educação ambiental; IX - os incentivos fiscais, financeiros e creditícios; X - o Fundo Nacional do Meio Ambiente e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; XI - o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir); XII - o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Bá- sico (Sinisa); XIII - os conselhos de meio ambiente e, no que couber, os de saúde; XIV - os órgãos colegiados municipais destinados ao controle social dos serviços de resíduos sólidos urbanos; XV - o Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Peri- gosos; XVI - os acordos setoriais; XVII - no que couber, os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, entre eles: a) os padrões de qualidade am- biental. Os principais objetivos da PNRS são (BRASIL, 2010): • Não geração, redução, reutilização e tratamento de resíduos sólidos. • Destinação final am- bientalmente adequada dos rejeitos. • Diminuição do uso de recursos naturais, no processo de produção de novos produtos. • Intensificação de ações de educação ambiental. • Aumento da reciclagem no país. • Promoção da inclusão social. • Geração de emprego e renda para catadores de materiais recicláveis.202 A Política Ambiental no Brasil O licenciamento é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) que tem como objetivo agir preventivamente sobre a proteção do bem comum do povo – o meio ambiente – além de compatibilizar sua preservação com o desenvolvi- mento econômico-social, essencial para a sociedade (TCU, 2007). O Licenciamento Ambiental pode ser definido como: “ Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a lo- calização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utiliza- doras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras; ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (CONA- MA, 1997, p. 1). Licenciamento Ambiental 203UNIDADE 8 Dessa maneira, a Licença Ambiental pode ser en- tendida como: “ Ato administrativo pelo qual o órgão am- biental competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreen- dedor, pessoa física ou jurídica, para loca- lizar, instalar, ampliar e operar empreen- dimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar de- gradação ambiental (CONAMA, 1997, p. 1). De acordo com TCU (2007, p. 10), a licença ambiental é: “ [...] uma autorização emitida pelo órgão público competente, que é concedida ao empreendedor para que possa exercer seu direito à livre iniciativa, desde que sejam atendidas às precauções requeridas, com o intuito de resguardar o direito coletivo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. O licenciamento ambiental é composto por três tipos de licença: a licença prévia, a licença de ins- talação e a licença de operação. Cada uma das licenças refere-se a uma fase distinta do empreen- dimento e segue uma sequência lógica. Veremos, a seguir, os tipos de licenciamento am- biental: licença prévia, licença de instalação e li- cença de operação. Licença Prévia É a licença que precisa ser solicitada na fase preli- minar de planejamento da atividade, deve conter os requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, observa- dos os planos municipais, estaduais e federais de uso do solo (CONAMA, 1997). Seu objetivo é definir as condições a partir das quais o projeto se torne compatível com a preservação do meio que afetará. Consiste no compromisso que o em- preendedor assume de que irá seguir o projeto, de acordo com os requisitos determinados pelo órgão ambiental (TCU, 2007). É importante salientar que as atividades que são consideradas efetivas ou potencialmente cau- sadoras de significativa degradação ambiental, a concessão da licença prévia, irá depender da aprovação de estudo prévio de impacto ambiental e do respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA) (CONAMA, 1997). Além disso, esses instrumentos também são essenciais para a solicitação de financiamentos e obtenção de incentivos fiscais. A licença prévia tem extrema importância no atendimento ao princípio da prevenção (TCU, 2007). É importante compreendermos que essas licenças não dispensam o empreendedor da obtenção de outras autorizações ambientais específicas junto aos órgãos competentes, a depender da natureza do empreendimento e dos recursos ambientais envolvidos. Por exemplo, se temos uma indústria que for utilizar algum recurso hídrico em sua atividade, também é necessária a outorga de direito de uso do recurso hídrico, de acordo com os preceitos da Lei 9.433/97, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. 204 A Política Ambiental no Brasil Licença de Instalação A licença de instalação é a autorização para o início da implantação, de acordo com as especifi- cações constantes no projeto executivo aprovado. O início da instalação do empreendimento ou da atividade só deve acontecer depois da expedição da licença de instalação, em que são verificadas especificações constantes nos planos, progra- mas e projetos aprovados, bem como medidas de controle ambiental, de compensação e outras consideradas importantes na fase anterior (CO- NAMA, 1997). Ao conceder a licença de instalação, o órgão gestor de meio ambiente terá (TCU, 2007): • Autorizado o empreendedor a começar as obras. • Concordado com as especificações cons- tantes dos planos, programas e projetos ambientais, seus detalhamentos e respec- tivos cronogramas de implementação. • Verificado o atendimento das condicio- nantes determinadas na licença prévia. • Estabelecido medidas de controle ambien- tal, com vistas a garantir que a fase de im- plantação do empreendimento obedecerá aos padrões de qualidade ambiental esta- belecidos em lei ou regulamentos. Licença de Operação A licença de operação autoriza, após as verifica- ções necessárias, o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de contro- le da poluição, de acordo com o previsto na licença prévia e de instalação (CONAMA, 1997). A licença de operação é aquela que autorizará o início das operações do empreendimento ou da atividade objeto do projeto; sua expedição depende da ve- rificação e do cumprimento das etapas anteriores e tem três características básicas (TCU, 2007): 1. É concedida após a verificação, pelo ór- gão ambiental do efetivo cumprimento das condicionantes estabelecidas nas li- cenças anteriores (prévia e de instalação). 2. Contém as medidas de controle ambien- tal (padrões ambientais) que servirão de limite para o funcionamento do empreen- dimento ou da atividade. 3. Especifica as condicionantes determina- das para a operação do empreendimen- to, cujo cumprimento é obrigatório, sob pena de suspensão ou cancelamento da operação. Cada uma das licenças ambientais tem prazos de validade que estão apresentadas no Quadro 2. Quadro 2 - Prazos de validade das Licenças ambientais TIPO DE LICENÇA PRAZO MÁXIMO PRAZO MÍNIMO Licença Prévia 5 anos Prazo estabelecido pelo cronograma de planos, progra- mas e projetos relativos à atividade ou ao empreendi- mento. Esse prazo poderá ser prorrogado desde que não ultrapasse o prazo máximo da licença. Licença de Instalação 6 anos Licença de Operação 10 anos Mínimo de 4 anos ou o prazo considerado nos planos de controle ambiental. Prazos específicos para empreendi- mentos ou atividades sujeitos a encerramentos ou mo- dificações em prazos inferiores Fonte: Barbieri (2016, p. 267). 205UNIDADE 8 Além disso, é importante entendermos que nem toda a atividade ou empreendimento está sujeita ao licenciamento ambiental. Para saber qual ati- vidade deve passar por todo processo de licen- ciamento, a Resolução 237 (CONAMA, 1997), no seu anexo 1, apresenta as atividades sujeitas ao licenciamento. No entanto, caso você tenha dúvida de alguma atividade, deve ser feita uma consulta ao órgão ambiental competente, pois a lista do anexo 1 não se trata de uma lista exaustiva. São exemplos do anexo 1, da Resolução 237 de 1997, de atividades sujeitas ao licenciamento ambiental (CONAMA, 1997): • Extração e tratamento de minerais. • Indústria de produtos minerais não me- tálicos. • Indústria metalúrgica. • Indústria mecânica. • Indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações. • Indústria de material de transporte. • Indústria de madeira. • Indústria de papel e celulose. • Indústria de borracha. • Indústria de couros e peles. • Indústria química. • Indústria de produtos de matéria plástica. • Indústria têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos. • Indústria de produtos alimentares e bebidas. • Indústria de fumo. • Indústrias diversas. • Obras civis (rodovias, hidrovias, ferrovias, barragens e outros). • Serviços de utilidade (produção de ener- gia termoelétrica, transmissão de energia elétrica, estações de tratamento de água, in- terceptores, emissários,estação elevatória e tratamento de esgoto sanitário, tratamento e destinação de resíduos industriais (líqui- dos e sólidos) e outros). • Transporte, terminais e depósitos. • Turismo (complexos turísticos e de lazer, inclusive parques temáticos e autódromos). • Atividades diversas. • Atividades agropecuárias. • Uso de recursos naturais (silvicultura, ex- ploração econômica da madeira ou lenha e subprodutos florestais, atividade de ma- nejo de fauna exótica e criadouro de fauna silvestre e outros). A Resolução CONAMA nº 001/86 define que o Es- tudo de Impacto Ambiental (EIA) é o conjunto de estudos realizados por especialistas de diversas áreas, com dados técnicos detalhados. O acesso a ele é restrito, em respeito ao sigilo industrial. O relatório de impacto ambiental, RIMA, refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental (EIA). O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada à sua compreensão; as informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e des- vantagens do projeto, bem como todas as con- sequências ambientais de sua implementação. Nesta unidade, estudamos as principais legisla- ções ambientais que são aplicáveis às organizações cujo conhecimento é de suma importância para gestores. Empresas que utilizam recursos naturais em seus processos e geram resíduos, como efluen- tes, resíduos sólidos e emissões atmosféricas de- vem estar atentos à legislação ambiental, pois elas definem padrões máximos aceitáveis e também recomendações para as organizações. 206 A Política Ambiental no Brasil Podemos dizer que a política ambiental no Brasil, principal- mente sob a forma da Política Nacional do Meio Ambiente e da PNRS são exemplos em nível mundial no que se refere à ges- tão ambiental adequada. Se as leis são cumpridas, no entanto, isso é um outro assunto. Outro aspecto importante que também abordamos é o licenciamento ambiental a que empresas que estão no anexo 1, da Resolução 237/97 do CO- NAMA, tais como indústrias têxteis, de fumo, alimentícias e outras, estão sujeitas. É impor- tante que, enquanto profissio- nal da Engenharia e gestor de uma empresa, conheça-se os órgãos ambientais específicos para lidar com cada aspecto da implantação e operação de um empreendimento. Esperamos que, a partir des- ses conteúdos apresentados, você tenha uma base para agir de forma ética e cidadã no exercício de sua atividade, seja qual for. Na próxima e última unida- de, trataremos especificamen- te das ferramentas de Gestão Ambiental nas empresas. Cer- tamente, esses conteúdos soma- rão muito ao seu arcabouço de conhecimentos e competências. Até lá! 207 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é uma lei (Lei nº 12.305/10) que procura organizar a forma com que o país lida com o lixo e exigir dos setores públicos e priva- dos transparência no gerenciamento de seus resíduos. A PNRS foi um marco no setor por tratar de todos os resíduos sólidos e rejeitos, de forma compartilhada ao integrar poder público, iniciativa privada e cidadão (ECYCLE, [2019], on-line)1. A principal diferença entre resíduo sólido e rejeito é: a) Resíduo sólido trata-se de matéria-prima utilizada em residências e comércios, en- quanto rejeito está relacionado a atividades industriais e da construção civil. b) Resíduo sólido é tudo aquilo que pode ser reciclado ou reaproveitado de alguma maneira, e rejeitos são itens que não podem ser reaproveitados. c) Resíduo sólido é tudo aquilo encontrado em estado natural, e rejeito é decorrente da atividade humana. d) Tanto os resíduos sólidos quanto os rejeitos devem ser dispostos em aterro sanitário, com a diferença de que o último deve receber tratamento específico para emissão de gases poluentes. e) Os resíduos sólidos representam riscos à saúde humana e dos animais, enquanto rejeitos são inertes e não representam perigo ao homem. 208 2. A logística reversa é um “instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada” (BRASIL, [2019]). Dentre os vários conceitos introduzidos em nossa legislação ambiental pela Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS e que encontra na logística reversa uma solução, podemos destacar principalmente: a) O princípio do poluidor pagador. b) A separação entre resíduo e rejeito. c) A classificação dos resíduos sólidos em diferentes tipos. d) A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto. e) As sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. 3. O Licenciamento ambiental é uma exigência legal e uma ferramenta do poder público para o controle ambiental. E, em muitos casos, apresenta-se como um desafio para o setor empresarial. Trata-se do procedimento no qual o poder público, representado por órgãos ambientais, autoriza e acompanha a implan- tação e a operação de atividades, que utilizam recursos naturais ou que sejam consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras (FIRJAN, 2004). Sobre esse assunto, descreva os tipos de Licença Ambiental, destacando a di- ferença entre eles. 209 Política Nacional, Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos Autor: Jardim, Arnaldo - Yoshida, Consuelo - Machado Filho, José Valverde Editora: Manole Sinopse: a Coleção Ambiental, coordenada por Arlindo Philippi Jr., reúne resul- tados de estudos, pesquisas e experiências de professores, pesquisadores e profissionais com reconhecida e expressiva atuação na área ambiental, oriun- dos de conceituadas instituições de ensino e pesquisa, caracterizando-se pelo tratamento multi e interdisciplinar que essa área do conhecimento requer. As obras contribuem tanto para a disseminação do conhecimento em bases cienti- ficamente sólidas e conectadas às intervenções reais da sociedade quando para a ampliação das reflexões e dos debates sobre questões sociais, econômicas, políticas e ambientais, fundamentais para a formação, qualificação e capacitação de profissionais. Este livro, Política Nacional, Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos, busca retratar o processo de formulação da Lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, bem como trazer a lume seus principais conceitos e os contornos estabelecidos por seu decreto regulamentador. Considerando, sobretudo, um contexto no qual são lançadas as bases para um novo parâmetro de construção legislativa que contemplam a gestão ambiental, a participação e a organização social, o crescimento econômico e a articulação de políticas públicas calcadas no princípio do desenvolvimento sustentável. Ousadamente, talvez até pretensiosamente, essa obra pretende ser um referencial de formu- lação de políticas públicas que tenham a marca da perenidade, demonstrando que é possível superar vícios, ajustar as ousadias que as tornariam apenas uma utopia. Assim, torna-se indispensável não apenas aos especialistas da área do direito, mas também a profissionais, como engenheiros, arquitetos, administra- dores, economistas, sociólogos, biólogos, entre outros, além de todo o público interessado nessa questão ampla, atual e importante. LIVRO 210 BARBIERI, J. C. Gestão Ambiental Empresarial. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 2 abr. 2019. BRASIL. Decreto nº 23.793, de 23 de janeiro de 1934. Aprova o código florestal que com este baixa. Presidência da República, 1934. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d23793.htm.Acesso em: 2 abr. 2019. BRASIL. Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934. Decreta o Código das Águas. Presidência da República, 1934. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d24643compilado.htm. Acesso em: 2 abr. 2019. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Presidência da República, 1981. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm. Acesso em: 2 abr. 2019. BRASIL. Lei nº 8.171, de 17 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política agrícola. Presidência da República, 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8171.htm. Acesso em: 2 abr. 2019. BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Presidência da República, 1997. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=370. Acesso em: 2 abr. 2019. BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Presidência da República, 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm. Acesso em: 2 abr. 2019. BRASIL. Senir. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://sinir.gov.br/web/guest/logistica-reversa. Acesso em: 2 abr. 2019. http://sinir.gov.br/web/guest/logistica-reversa 211 BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Presidência da República, 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 2 abr. 2019. CONAMA. Resolução nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Ministério do Meio Ambiente, 1986. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em: 02 abr. 2019. CONAMA. Resolução nº 237, de 19 de dezembro de 1997. Ministério do Meio Ambiente, 1997. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html. Acesso em: 2 abr. 2019. DIAS, R. Gestão Ambiental. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. FIRJAN. Manual de Licenciamento ambiental: guia de procedimentos passo a passo. Rio de Janeiro: GMA, 2004. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/sqa_pnla/_arquivos/cart_sebrae.pdf. Acesso em: 2 abr. 2019. TCU. Cartilha de Licenciamento Ambiental. 2. ed. Brasília: TCU, 4ª Secretaria de Controle Externo, 2007. TESTA, M. (org.). Legislação ambiental e do trabalhador. São Paulo: Pearson, 2015. REFERÊNCIA ON-LINE 1Em: https://www.ecycle.com.br/component/content/article/67-dia-a-dia/3705-o-que-e-politica-nacional-de- residuos-solidos-pnrs-urbanos-descartes-danos-saude-meio-ambiente-qualidade-vida-reciclagem-consumo- instrumento-responsabilidade-produto-metas-lixoes.html. Acesso em: 2 abr. 2019. http://www.mma.gov.br/estruturas/sqa_pnla/_arquivos/cart_sebrae.pdf https://www.ecycle.com.br/component/content/article/67-dia-a-dia/3705-o-que-e-politica-nacional-de-residuos-solidos-pnrs-urbanos-descartes-danos-saude-meio-ambiente-qualidade-vida-reciclagem-consumo-instrumento-responsabilidade-produto-metas-lixoes.html https://www.ecycle.com.br/component/content/article/67-dia-a-dia/3705-o-que-e-politica-nacional-de-residuos-solidos-pnrs-urbanos-descartes-danos-saude-meio-ambiente-qualidade-vida-reciclagem-consumo-instrumento-responsabilidade-produto-metas-lixoes.html https://www.ecycle.com.br/component/content/article/67-dia-a-dia/3705-o-que-e-politica-nacional-de-residuos-solidos-pnrs-urbanos-descartes-danos-saude-meio-ambiente-qualidade-vida-reciclagem-consumo-instrumento-responsabilidade-produto-metas-lixoes.html 212 1. B. 2. D. 3. A licença prévia é a licença que precisa ser solicitada na fase preliminar de planejamento da atividade, deve conter os requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, observados os planos municipais, estaduais e federais de uso do solo (CONAMA, 1997). Seu objetivo é definir as con- dições a partir das quais o projeto se torne compatível com a preservação do meio que afetará. Consiste no compromisso que o empreendedor assume de que irá seguir o projeto, de acordo com os requisitos determinados pelo órgão ambiental (TCU, 2007). A licença de instalação é a autorização para o início da implantação, de acordo com as especificações constantes no projeto executivo aprovado. O início da instalação do empreendimento ou da atividade só deve acontecer depois da expedição da licença de instalação. A licença de operação autoriza, após as verificações necessárias, o início da atividade licenciada e o fun- cionamento de seus equipamentos de controle da poluição, de acordo com o previsto na licença prévia e de instalação (CONAMA, 1997). 213 214 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Esp. João Marcos Pardo Me. Gustavo Affonso Pisano Mateus Me. Renata Cristina de Souza Chatalov • Conceituar Gestão Ambiental Empresarial e suas diferen- tes abordagens. • Definir Auditoria Ambiental e conceituar as normas vigentes. • Conceituar P+L como ferramenta de Gestão Ambiental e apresentar os modelos TQM, Ecoeficiência e Ecodesign. A Gestão Ambiental de Empresas Auditoria Ambiental Produção Mais Limpa (P+L) e outros Modelos de Gestão Ambiental Gestão Ambiental - Certificação e Auditoria Ambiental A Gestão Ambiental de Empresas Olá, aluno(a)! Em nossa última unidade, vamos falar sobre a importância da gestão ambiental para as organizações. Trabalharemos com as abordagens da questão ambiental, sendo a primeira o controle da polui- ção, que consiste apenas em impedir os efeitos da poluição ocasionados por determinado proces- so produtivo. A segunda abordagem trata-se da prevenção da poluição, que envolve ações orga- nizacionais, buscando evitar, reduzir e modificar a geração da poluição. A terceira abordagem é a abordagem estratégica, na qual os problemas am- bientais são vistos como uma questão estratégica pela organização. Nesta unidade, definiremos auditoria ambien- tal, apresentando os diferentes tipos de auditorias ambientais e a auditoria ambiental mediante a norma ISO 19011:2012. Abordaremos, também, as vantagens competitivas que uma empresa am- bientalmente certificada obtém no mercado e, ao mesmo tempo, as dificuldades em se conseguir uma certificação. Finalizaremos falando sobre a produção mais limpa, seus aspectos, aplicações e importância para as organizações, bem como outros modelos de gestão ambiental. 217UNIDADE 9 Gestão Ambiental Agora que já estudamos as legislações ambientais pertinentes, co- nheceremos um pouco sobre a gestão ambiental e suas formas de gestão dentro de uma empresa. Segundo Campos (2001, p. 116), a gestão ambiental é definida como sendo: “ [...]a administração do uso dos recursos ambientais, por meio de ações ou medidas econômicas, investimentos e potenciais institucionais e jurídicos, com a finalidade de manter ou recu- perar a qualidade de recursos e desenvolvimento social. Dessa maneira, temos uma sociedade e empresas mais preocupadas e conscientes de suas responsabilidades frente à exploração dos re- cursos naturais, assim, surgiu a necessidade de uma gestão mais especializada, com uma visão estratégica no que diz respeito à exploração dos recursos de maneira mais racional. Dessa forma, podemos afirmar que a gestão ambiental iniciou a partir da necessidade de o homem organizar sua maneira de rela- cionar-se com o meio ambiente. De acordo com Valle (2002, p. 39), a gestão ambiental consiste em: “ [...] um conjunto de medidas e procedimentos definidos e adequadamente aplicados que visam reduzire controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente. Para Barbieri (2016, p. 18), a gestão ambiental: “ [...] compreende as diretrizes e as atividades administrativas realizadas por uma organização para alcançar efeitos positivos sobre o meio ambiente, ou seja, para reduzir, eliminar ou com- pensar os problemas ambientais decorrentes da sua atuação e evitar que outros ocorram no futuro. As ações para combater a poluição começaram a ser efetivadas somente a partir da Revolução Industrial. De acordo com Barbieri (2016), desde a Antiguidade diversas experiências já foram tenta- das, com o intuito de retirar o lixo urbano que se alastrava ruas e cidades, prejudicando o meio ambiente e a saúde dos habitantes. Na segunda metade do século XIX, começou também um in- tenso debate entre os membros da comunidade científica e ar- tística para delimitar as áreas do ambiente natural a serem protegidas e foram criados san- tuários onde a vida selvagem pudesse ser preservada. Assim, a questão ambiental era restrita a pequenos grupos de políticos e cientistas e foi se espalhando devido ao grau de deterioração que o meio am- biente estava sofrendo. Apre- sentamos alguns marcos das questões ambientais em âmbi- to mundial na Unidade 1 deste livro. Esses marcos indicam a crescente preocupação com o meio ambiente e exigiu das or- ganizações uma postura mais proativa nesse assunto. Abordagens da Gestão Ambiental Existem três diferentes aborda- gens de que as empresas podem se valer para lidarem com pro- blemas ambientais: de controle da poluição, de prevenção da poluição e estratégica. O Con- trole da poluição, para Barbie- ri (2016), é caracterizado por práticas administrativas e ope- racionais, que têm por intuito impedir os efeitos da poluição gerada por certo processo pro- dutivo. Aqui, as ações ambien- tais são resultantes de uma pos- tura reativa da organização. 218 Gestão Ambiental - Certificação e Auditoria Ambiental As soluções tecnológicas buscam controlar a po- luição gerada sem alterar seus processos produ- tivos, tendo dois tipos: tecnologia de remediação e controle no final do processo (end-of-pipe). A tecnologia de remediação procura resolver pro- blemas que já ocorreram, como tecnologia para remediação de um solo contaminado, enquan- to as tecnologias end-of-pipe (ou fim de tubo) procuram captar e tratar a poluição resultante de seus processos produtivos, como, por exemplo, uma chaminé ou uma planta de tratamento de efluentes (Figura 1). A prevenção da poluição envolve ações em- presariais que buscam atuar sobre os produtos e processos produtivos com o intuito de evitar, reduzir e modificar a geração da poluição, isso requer mudanças em processos produtivos, a fim de reduzir ou eliminar os rejeitos na fonte, isto é, antes que eles sejam produzidos e lançados ao ambiente. Suas prioridades são: reduzir na fonte, reciclagem (ou reuso), recuperação energética, Figura 1 - Planta de tratamento de efluentes tratamento e disposição final. Na abordagem es- tratégica, os problemas ambientais são tratados como uma das questões estratégicas da empresa, relacionadas com a busca de uma situação vanta- josa no futuro, tais como lucratividade, melhoria na imagem no mercado, entre outros. Para Bar- bieri (2016), a gestão ambiental traz os benefícios estratégicos: a) melhoria da imagem institucional; b) renovação do portfólio de produtos; c) aumento da produtividade; d) maior comprometimento dos funcioná- rios e melhores relações do trabalho; e) criatividade e abertura para novos desa- fios; f) melhores relações com autoridades pú- blicas, comunidade e grupos ambientais ativistas; g) acesso assegurado aos mercados externos; h) mais facilidade para cumprir os padrões ambientais (BARBIERI, 2016, p. 90). 219UNIDADE 9 O Quadro 1 resume as abordagens da gestão ambiental empresarial: Quadro 1 - Abordagens da gestão ambiental empresarial CARACTERÍSTICAS ABORDAGEM DO CONTROLE DA POLUIÇÃO ABORDAGEM DA POLUIÇÃO ABORDAGEM ESTRATÉGICA Preocupação Básica Cumprir legislação e respostas às pressões da comunidade. Uso eficiente dos insumos. Competitividade. Postura Reativa. Reativa e proativa. Reativa e proativa. Ações Típicas Corretivas; uso de tecno- logias de remediação e fim de tubo; aplicações de nor- mas de saúde e segurança do trabalho. Corretivas e preven- tivas; conservação e substituição de insumos; tecnologias limpas. Corretivas, preventi- vas e antecipatórias. Percepção dos Empresários Custo adicional. Redução do custo; aumento de produti- vidade. Vantagens competi- tivas. Envolvimento da alta administração Esporádico. Periódico. Permanente e siste- mático. Áreas envolvidas Áreas geradoras da poluição. Crescente envol- vimento de outras áreas, como pro- dução, compras, desenvolvimento de produto e marketing. Atividades ambientais disseminadas pela or- ganização; ampliação das ações ambientais para a cadeia de suprimentos. Fonte: Barbieri (2016, p. 86). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/594 Auditoria ambiental trata-se de uma atividade administrativa e documentada que compreende uma sistemática avaliação de como a organiza- ção se encontra em relação à questão ambiental, e visa facilitar a atuação e o controle da gestão ambiental da empresa. (Clauciana Schimidt Bueno de Moraes) Os critérios para realização de auditoria ambien- tal devem ser realizados com base na ISO NBR 14.001 e também na resolução do CONAMA 306/2002, que estabelecem os requisitos míni- mos e o termo de referência para realização de auditorias ambientais. Normas da Família ISO 14.000 Agora que vimos as formas de gestão ambiental, veremos como funciona a certificação e a auditoria ambiental, especialmente a partir da ISO 14.000. Auditoria Ambiental 221UNIDADE 9 O Quadro 2 apresenta as normas da família ISO 14.000: Quadro 2 - Família ISO 14.000 NORMA ISO DESCRIÇÃO 14.001 Sistema de Gestão Ambiental (SGA) – Requisitos com orientações para uso 14.004 Sistema de Gestão Ambiental - Diretrizes Gerais para a implementação 14.010 Guias para Auditoria Ambiental - Diretrizes Gerais 14.011 Diretrizes para Auditoria Ambiental e Procedimentos para Auditorias 14.012 Diretrizes para Auditoria Ambiental - Critérios de Qualificação 14.020 Rotulagem Ambiental - Princípios Básicos 14.021 Rotulagem Ambiental - Termos e Definições 14.022 Rotulagem Ambiental - Simbologia para Rótulos 14.023 Rotulagem Ambiental - Testes e Metodologias de Verificação 14.024 Rotulagem Ambiental - Guia para Certificação com Base em Análise Multicriterial 14.031 Avaliação da Performance Ambiental 14.032 Avaliação da Performance Ambiental dos Sistemas de Operações 14.040 Análise do Ciclo de Vida - Princípios Gerais 14.041 Análise do Ciclo de Vida - Inventário 14.042 Análise do Ciclo de Vida - Análise dos Impactos 14.043 Análise do Ciclo de Vida - Migração dos Impactos Fonte: ABNT (2015). A principal norma da família ISO 14.000 é a ISO 14.001, que estabelece os requisitos necessários para implementação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Ela tem por objetivo gerir a organização den- tro de um SGA certificável, estruturado e integrado à atividade geral de gestão, buscando apresentar requisitos que sejam aplicáveis a qualquer tipo e tamanho de organização (SEIFFERT, 2011). Segundo Barbieri (2016), de forma sucinta, o SGA proposto deve cumprir estes requisitos: • Política Ambiental. • Planejamento. • Implementação e Operação. • Verificação e Ação Corretiva. As normas ISO 14.000 são uma família de normas que procuram estabelecer ferramentas e sistemas para gestão ambiental de uma organização, buscam a padronização de algumas ferramentas-chave de análise, tais como a auditoria ambiental e a análise do ciclo de vida. 222 Gestão Ambiental - Certificação e Auditoria Ambiental No que diz respeito à PolíticaAmbiental, é pre- ciso que a alta administração defina sua política ambiental e assegure que ela (ABNT, 2015, p. 8): “ - seja apropriada à natureza, à escala e aos im- pactos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços; - inclua o comprometimento com a melhoria contínua e com a prevenção da poluição; - inclua o comprometimento com o atendi- mento à legislação, às normas ambientais apli- cáveis e aos demais requisitos da organização; - forneça estrutura para o estabelecimento e a revisão dos objetivos e das metas ambientais; - seja documentada, implementada, mantida e comunicada a todos os colaboradores; esteja disponível para o público. O Sistema de Gestão Ambiental (SGA) pode ser criado e implementado para alcançar diversos objetivos. A norma ISO 14.001 pode ser aplicada a qualquer organização que deseja (DIAS, 2017): • Estabelecer, implementar e aprimorar um SGA. • Assegurar sua conformidade com a Polí- tica Ambiental. • Demonstrar conformidade com essa norma ao fazer uma autodeclaração ou autoafirmação; buscar confirmação da sua conformidade por partes interessa- das na organização; buscar confirmação de sua autodeclaração por meio de uma organização externa; buscar certificação ou registro de seu SGA por uma organi- zação externa. A ISO 14.001 pode ser implementada e aplica- da por qualquer tipo de organização de todos os portes e segmentos. É uma norma aplicável para empresas que desejam: “ - Implantar, manter e aprimorar um sistema de gestão ambiental. - Assegurar-se do atendimento à sua política ambiental. - Demonstrar tal conformidade a terceiros. - Buscar certificação/registro de seu SGA por uma organização externa. - Realizar auto-avaliação e emitir declaração de conformidade à norma (ROBLES JR., 2003, p. 136). A primeira edição da ISO 14.001 foi no ano de 1996, a segunda edição em 2004, quando se bus- cou esclarecer a edição de 1996 e alinhá-la me- lhor com a norma ISO 9.001:2000. Com isso, al- gumas seções não modificadas em seu conteúdo foram reescritas para alinhar à ISO 14.001:2004 com o formato, os termos e a diagramação da ISO 9.001:2000 e para aumentar a compatibi- lidade entre as duas normas (SEIFFERT, 2011). ISO 14.001:2015 Após onze anos da publicação da última revisão da norma ISO 14.001 (em 2004), no segundo semestre de 2015, ocorreu o lançamento oficial da ISO 14.001:2015, que estabelece os requisitos para implementação e certificação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Essa nova versão teve várias modificações que ocorreram para adaptar a norma de acordo com a estrutura do Anexo SL, que tem por intuito criar uma estrutura padrão para todas as normas que orientam a implanta- ção e a certificação dos sistemas de gestão. 223UNIDADE 9 Dessa maneira, de acordo com a ABNT (2015), a nova estrutura da ISO 14.001, também propos- ta no anexo SL, é: • Introdução. • Escopo. • Referência normativa. • Termos e definições. • Contexto da organização. • Liderança. • Planejamento. • Apoio. • Operação. • Avaliação de desempe- nho. • Melhoria. Essa estrutura da nova versão é a mesma ISO 9.001 que aborda o Sistema de Gestão de Qua- lidade (SGQ). A estrutura que sustenta um SGA é baseada no ciclo PDCA (Plan-Do-Check- -Act). O ciclo PDCA fornece um processo interativo utili- zado pelas organizações para alcançar a melhoria contínua. Esse ciclo pode ser aplicado a um sistema de gestão ambiental e a cada um dos seus elemen- tos individuais (ABNT, 2015). A Estrutura de Alto Nível distribui as cláusulas em 10 seções (ou seja, em 10 itens), alinhadas com a abordagem PDCA (Figura 2), de modo a dar sequência lógica aos requisitos dos sistemas de gestão e propõe texto comum para requisitos muito estáveis dos sistemas de gestão, tais como a informação documentada, as ações corretivas, as auditorias internas, a revisão pela gestão, dentre outros. Assim, a nova versão da ISO 14.001 tem a estrutura apresentada no Quadro 3. Figura 2 - Modelo do Sistema de Gestão Ambiental Fonte: Carpinetti e Gerolamo (2016, p. 159). O prazo final para transição das empresas que têm a certificação ISO 14.001:2004 foi até o final de 2018. As empresas certificadas pela versão de 2004, da ISO 14.001, precisaram fazer a transição em 2018. A Figura 2 apresenta a estrutura da norma ISO 14.001:2015 inte- grada ao ciclo PDCA: 224 Gestão Ambiental - Certificação e Auditoria Ambiental Quadro 3 - Estrutura da Norma ISO 14.001:2015 0. Introdução 1. Escopo 2. Referências normativas 3. Termos e definições PLANEJAR 4. Contexto da organização 4.1 Entendendo a organização e seu contexto 4.2 Entendendo as necessidades e as expectativas de partes interessadas. 4.3 Determinando o escopo do sistema de gestão ambiental (SGA). 4.4 Sistema de Gestão Ambiental 5. Liderança 5.1 Liderança e comprometimento 5.2 Política ambiental 5.3 Papéis, responsabilidades e autoridades organizacionais 6. Planejamento 6.1 Ações para abordar riscos e oportunidades 6.1.1 Generalidades 6.1.2 Aspectos ambientais 6.1.3 Requisitos legais e outros requisitos 6.1.4 Planejamento das ações 6.2 Objetivos ambientais e planejamento para alcançá-los 6.2.1 Objetivos ambientais 6.2.2 Planejamento de ações para alcançar os objetivos ambientais 7. Apoio 7.1 Recursos 7.2 Competência 7.3 Conscientização 7.4 Comunicação 7.4.1 Generalidades 7.4.2 Comunicação interna 7.4.3 Comunicação externa 7.5 Informação documentada 7.5.1 Generalidades 7.5.2 Criando e atualizando 7.5.3 Controle de informação documentada 225UNIDADE 9 EXECUTAR 8. Operação 8.1 Planejamento e controle operacionais 8.2 Preparação e resposta a emergências AVALIAR 9. Avaliação de desempenho 9.1 Monitoramento, medição, análise e avaliação 9.1.1 Generalidades 9.1.2 Avaliação do atendimento aos requisitos legais e outros requisitos 9.2 Auditoria Interna 9.2.1 Generalidades 9.2.2 Programa de auditoria interna 9.3 Análise crítica pela direção AGIR 10. Melhoria 10.1 Generalidades 10.2 Não conformidade e ação corretiva 10.3 Melhoria contínua Fonte: adaptado de ABNT (2015). Tipos de Auditorias Ambientais A auditoria Sistema de Gestão Ambiental (SGA): é aquela auditoria realizada em orga- nizações que possuem ou estejam implemen- tando um SGA, de acordo com a ISO 14001. Ela é utilizada para determinar se as atividades de gestão ambiental da organização estão em conformidade com a documentação do sistema e se as práticas são implementadas de acordo com o planejamento ambiental e com a políti- ca ambiental da organização. Essas auditorias podem ser de quatro tipos, segundo Pugliesi e Moraes (2014): • Auditoria pré-certificação ou auditoria inicial: tem por objetivo ajustar o sistema antes da auditoria de certificação e não é obrigatória. • Auditoria de certificação: obrigatória em processos de certificação do SGA, o resultado é a recomendação, ou não, da certificação do sistema. Quanto aos tipos, as auditorias ambientais po- dem ser: de conformidade legal, due diligence, auditoria pós-acidente, auditoria de fornecedor e auditoria focada em questões específicas, que serão especificadas a seguir. A auditoria de conformidade legal tem por intuito verificar o cumprimento da legislação am- biental e correlata aplicável à organização. É pos- sível que incluam avaliações de diferentes origens, tais como: exigências legais atuais ou futuras, nor- mas e diretrizes dos setores industriais, políticas ambientais e normas internas, melhores práticas ambientais e outros (PUGLIESI; MORAES, 2014). A auditoria due diligence (devido cuidado) tem um caráter reativo, uma vez que as primeiras normas legais quase sempre eram do tipo coman- do e controle (BARBIEIRI, 2016). Seu principal intuito é evitar assumir responsabilidades por ris- cos ambientais em potencial ou por algum tipo de passivo ambiental (PUGLIESI; MORAES, 2014). 226 Gestão Ambiental - Certificação e Auditoria Ambiental • Auditoria de manutenção: é realizada, semestral ou anualmente, entre a auditoria decertificação e a recertificação. • Auditoria de recertificação: ocorre três anos após a auditoria de certificação para renovação do certificado, apresenta maior nível de exigência, pois busca a consolida- ção do SGA no período avaliado. A auditoria pós-acidente tem por objetivo verificar se os procedimentos para evitar emer- gências ou acidentes ambientais foram seguidos de acordo com normas e manuais apropriados (BARBIERI, 2016). A auditoria de fornecedor é utilizada em processos de seleção e avaliação de fornecedores. As auditorias focadas em questões ambien- tais, para Barbieri (2016), são específicas e utili- zadas para detectar problemas e oportunidades em áreas ou atividades, a saber: • Fontes de controle de poluição. • Uso de energia. • Pesquisas e desenvolvimento. • Uso, armazenagem, manuseio, transporte de produtos controlados. • Subprodutos e desperdícios. • Sítios contaminados. • Estações de tratamento de águas residuárias. • Reformas e manutenções de prédios e ins- talações. • Panes, acidentes e medidas de emergência. • Saúde ocupacional e segurança do trabalho. O Quadro 4 apresenta os tipos de auditorias ambientais, bem como exemplos: Quadro 4 - Tipos de auditorias ambientais TIPO DA AUDITORIA OBJETIVO PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE REFERÊNCIA Conformidade Legal Verificar o grau de conformi- dade com a legislação am- biental. Legislação ambiental, licenças e processos de licenciamento; termos de ajustamento. Due diligence Verificar a responsabilidade de uma empresa perante acionistas, credores, forne- cedores, clientes, governos e outras partes interessadas. Legislação ambiental, trabalhista, civil e ou- tras; contrato social; títulos de propriedade e certidões negativas. Pós-acidente Verificar as causas do aci- dente, identificar as res- ponsabilidades e avaliar os danos. Legislação ambiental e trabalhista; normas técnicas; plano de emergência; normas da organização; programas de treinamento. Fornecedor Avaliar o desempenho do fornecedor atual e também para seleção de novos for- necedores. Legislação ambiental; acordos voluntários subscritos; normas técnicas; normas da própria empresa; licenças, certificações e premiações. Questões específicas Verificar a ocorrência de pro- blemas ambientais específi- cos e localizados. Legislação ambiental; acordos voluntários subscritos; normas técnicas; especificações dos fabricantes. SGA Avaliar o SGA, seu grau de conformidade com os requi- sitos e a política da empresa. Normas que especificam SGA (ISO 14001), legislação aplicável, requisitos de partes inte- ressadas, informação documentada do SGA; critérios de auditoria do SGA. Fonte: Barbieri (2016, p. 171). 227UNIDADE 9 Auditoria Ambiental de Acordo com a NBR 19.011 A Norma Técnica 19.011 (ABNT, 2012) consis- te nas Diretrizes para Auditorias de Sistemas de Gestão. Essa norma tem como escopo fornecer as orientações acerca das auditorias de sistemas de gestão. Nela, estão incluídos os princípios de auditoria, a gestão de um programa de auditoria, a realização de auditorias de sistema de gestão, assim como orientação acerca da avaliação da competência de pessoas envolvidas no processo de auditoria, incluindo a pessoa que gerencia o programa, os auditores e a equipe de auditoria. A ISO 19.011:2012 não estabelece requisitos, entretanto, oferece as diretrizes a respeito da gestão de um programa de auditoria, do planejamento e da realização de uma auditoria de sistema de gestão, bem como da competência e da avaliação de um auditor e de uma equipe auditora (ABNT, 2012). Essa norma pode ser aplicável a qualquer tipo de organização que necessita realizar audito- rias internas e/ou externas de sistemas de gestão ou gerenciar um programa de auditoria. A ABNT (2012) define auditoria como sendo “ processo sistemático, documentado e inde- pendente para obter evidência de auditoria e avaliá-las, objetivamente, para determinar a extensão na qual os critérios da auditoria são atendidos (ABNT, 2012, p. 6). De acordo com a norma ABNT NBR ISO 19.011:2012, temos: • Evidência de auditoria: registros, apre- sentação de fatos ou outras informações pertinentes aos critérios de auditoria e verificáveis. • Critério de auditoria: conjunto de polí- ticas, procedimentos ou requisitos usados como uma referência na qual a evidência de auditoria é comparada. É importante entendermos que as auditorias in- ternas (também denominadas de primeira parte) podem ser feitas pela própria organização, com o objetivo de analisar como está o sistema de ges- tão ou com o intuito de obter informações para melhorá-lo. De acordo com a ABNT (2012), as auditorias internas podem formar a base para uma autodeclaração de conformidade da orga- nização. A norma também nos apresenta concei- tos de auditorias externas, em que estão incluídas auditorias de segunda e terceira parte. Auditorias de segunda parte são realizadas por partes que apresentam algum interesse na orga- nização, por exemplo clientes ou outras pessoas em seu nome. As auditorias de terceira parte são realizadas por organizações de auditoria indepen- dentes, tais como organismos de regulamentação ou organismos de certificação (ABNT, 2012). Existe, ainda, a auditoria combinada, que se forma quando dois ou mais sistemas de gestão de disciplinas diferentes, por exemplo, qualidade, meio ambiente, segurança e saúde ocupacional, são auditados juntos e quando duas ou mais or- ganizações de auditoria cooperam para auditar um único auditado, isso é chamado de auditoria conjunta (ABNT, 2012). Certificação A autodeclaração de conformidade é realizada por meio de avaliações que são conduzidas pela própria organização que criou o SGA ou por uma organi- zação externa em seu nome (BARBIERI, 2016). A certificação é o procedimento em que uma terceira parte garante por escrito que o SGA está em conformidade com os requisitos especificados; a terceira parte é a pessoa ou o organismo reconhecida como independente das partes envolvidas no que se refere a um dado assunto. O registro é o procedimento pelo qual 228 Gestão Ambiental - Certificação e Auditoria Ambiental um organismo indica as características perti- nentes de um produto, processo ou serviço, ou as características particulares de um organismo ou pessoa, em lista apropriada e disponível ao público (ABNT, 2015). O SGA pode ser certificado por organizações que estão relacionadas com ele em seu ambiente de negócio, por exemplo, bancos, clientes e outros agentes financeiros. Também é possível que a orga- nização cliente avalie o SGA dos seus fornecedores (DIAS, 2017). Barbieri (2016) analisa que, em situa- ções práticas, a preferência das organizações são cer- tificações de terceira parte por empresas acreditadas. O Organismo de Certificação Credenciado (OCC) tem que atender a critérios previamente estabelecidos em documentos normativos esta- belecidos pelo órgão governamental competente. Cada país tem esquemas próprios para acreditar e controlar as atividades de certificação de terceira parte, embora haja amplo esforço internacional para harmonizar critérios e procedimentos, tendo à frente a ISO, a International Electrotechnical Commision (IEC) e o International Accreditation Forum (IAF) (DIAS, 2017). A acreditação consiste no reconhecimento for- mal por parte do órgão governamental competente de um organismo, pessoa ou organização que aten- de aos requisitos previamente definidos por leis e regulamentos para realizar atividades específicas de modo confiável. Um desses requisitos é a indepen- dência dos organismos acreditados, o que impede que eles sejam contratados para auxiliar a organiza- ção em relação ao objeto da certificação, com vistas a facilitar a avaliação da conformidade (ONA, 2017, on-line)1. Os principais objetivos de certificar um SGA pela ISO 14.001 são (DIAS, 2017): • Uma organização que tem um SGA imple- mentado e certificado poderá equilibrar e integrar interesses econômicos e ambien-tais e alcançar vantagens competitivas sig- nificativas. • Contribuir para eliminar as barreiras técnicas. • Papel importante nos processos de pro- dução e distribuição, podendo facilitar o comércio internacional. • Aumentar a visibilidade no mercado na- cional e internacional. • Facilitar o acompanhamento da legislação e busca da conformidade legal. • Simplificar e uniformizar procedimentos administrativos e operacionais. • Consolidar a credibilidade junto a clientes, fornecedores e colaboradores. No que diz respeito às dificuldades que as orga- nizações têm para a certificação pela ISO 14.001, Barbieri (2016) apresenta as seguintes: • Alto custo que representa para micro e pe- quenas empresas. • Desprendimento de capital para a área am- biental. • Relacionamento com os órgãos ambientais. • Estruturação do setor ambiental na em- presa. Veja a reportagem do portal GoingGreen sobre Savona, na Itália. Essa cidade recebeu, recentemente, o selo LEED para cidades sustentáveis, tornando-se a terceira cidade no mundo a possuir essa certificação. Uma cidade inteira pode receber um selo de certificação ambiental? O que foi feito em termos de gestão ambiental para alcançar esse importante alvo? Disponível em: http://goinggreen.com. br/2018/05/24/leed-for-cities-savona-na-italia- conquista-certificacao/. 229UNIDADE 9 P+L Durante o ano de 1989, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) intro- duziu o conceito de produção mais limpa para definir a aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva e integral que envolve pro- cessos, produtos e serviços, de maneira que se previnam ou reduzam os riscos de curto ou lon- go prazo para o ser humano e o meio ambiente (DIAS, 2017). A produção mais limpa (P+L) adota os seguintes procedimentos: • Processos de produção: conservando as matérias-primas e energia, eliminando aquelas que são tóxicas, bem como redu- zindo a quantidade e a toxicidade de todas as emissões e resíduos. • Produtos: buscando reduzir os impactos ambientais negativos ao longo do ciclo de vida do produto, desde a extração da ma- téria-prima até a disposição final. • Serviços: incorporando as preocupações ambientais no projeto e fornecimento de serviços. Produção Mais Limpa (P+L) e Outros Modelos de Gestão Ambiental 230 Gestão Ambiental - Certificação e Auditoria Ambiental Além disso, podemos definir como sendo uma estratégia ambiental, de caráter preventivo, que é aplicada a processos, produtos e serviços empresariais, com o intuito de utilizar eficientemente os recursos e diminuir o impacto no meio ambiente (DIAS, 2017). Para o CNTL (1999), a produção mais limpa é uma aplicação contínua de uma estratégia ambiental, econômica e tecnológica, que está integrada aos processos e produtos, com o intuito de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, energia e água, por meio da não geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados. A Figura 3 apresenta os níveis de P+L. Redução na fonte Minimização de resíduos e emissões Reúso de resíduos e emissões Modi�cação do produto Modi�cação do processo Housekeeping (boas práticas) Ciclo biogênicos Nível 3Nível 2Nível 1 Reciclagem externa Substituição de materiais Materiais Estruturas Reciclagem interna Mudanças de tecnologia Figura 3 - P+L - Níveis de intervenção Fonte: adaptada de Barbieri (2016). Podemos observar, na Figura 4, que as alternativas do nível 1, que constituem a prioridade máxima, envolvem modificações em pro- cessos e produtos, com o intuito de reduzir emissões e resíduos na fonte, bem como para eliminar e reduzir sua toxicidade. Para Barbieri (2016), essas modificações ocorrem mediante revisões de suas espe- cificações para reduzir geração de resíduos, realizadas por meio de: • Boas práticas operacionais (housekeeping): procedimen- tos administrativos e operacionais usuais, como planeja- mento e programação da produção, gestão de estoques, organização do local de trabalho, limpeza, manu- tenção de equipamentos, providências para evitar acidentes nos desloca- mentos de materiais, coleta e separação de re- síduos, padronização de atividades, elaboração e atualização de manuais, fichas técnicas, treina- mento e outros. • Substituição de mate- riais: avaliação e seleção de materiais para redu- zir ou eliminar materiais perigosos nos processos produtivos ou na gera- ção de resíduos perigo- sos, por exemplo, subs- tituir solventes químicos por solventes à base de água, selecionar maté- rias-primas e materiais auxiliares que gerem menos resíduos. • Mudanças na tecnologia: inovações nos processos produtivos para redu- zir emissões e perdas, podendo ser inovações incrementais, como mu- danças nas especificações do processo ou no layout, ou radicais, como novos equipamentos, instala- ções e outros componen- tes do processo (BAR- BIERI, 2016, p. 100). 231UNIDADE 9 Emissões e ruídos que continuam sendo gerados nos processos de- vem ser reutilizados internamen- te, como apresentado no nível 2. Já no nível 3, quando não existe a possibilidade do resíduo ou da emissão ser utilizado na própria unidade produtiva que o gerou, pode ser feita a reciclagem exter- na, por meio de doações ou venda. Caso isso ainda não seja possível, podem ser tratados para serem assimilados no meio ambiente, como a compostagem (ciclos biogênicos) (BARBIERI, 2016). Administração da Qualidade Total (TQM) No ano de 1990, 21 empresas multinacionais formaram a Global Environmental Management Initiative (Gemi), que criou o con- ceito de Total Quality Environmental Management (TQEM), uma extensão dos conceitos da Administração da Qualidade Total (TQM). A Administração da Qualidade Total (TQM) tem como meta o defeito zero, e a Administração da Qualidade Ambiental Total tem como meta a poluição zero. Para alcançar seus objetivos ambientais, a TQEM utiliza ferramentas típicas da qualidade, como diagrama de causa e efeito, benchmarking, diagramas de fluxos de processos, gráfico de Pareto e ciclo PDCA (BARBIERI, 2016). Veja no Quadro 5. Quadro 5 - Ferramentas da qualidade FERRAMENTA DESCRIÇÃO Ciclo PDCA Do inglês plan, do, check, act, propõe a análise dos processos com vistas à sua melhoria. Diagrama de causa e efeito Sua representação é comparada a uma espinha de peixe, em que, na coluna do meio, sinalizada por uma seta, é representado o efeito ou a consequência, e, na parte lateral, acima e abaixo da seta, estão as causas que interferem no processo. Gráfico de Pareto Pode ser utilizado para classificar causas que atuam em um pro- cesso com maior ou menor intensidade ou, ainda, com diferentes níveis de importância. Lista de verificação (checklist) É um método pelo qual se faz a constatação de quantas vezes algo ocorre e mostra a frequência de sua ocorrência. Também é conhecida como folha de checagem. É uma das ferramentas mais simples e mais eficientes para analisar o desenvolvimento de ati- vidades ao longo de um processo. Gráficos de controle Buscam trabalhar com as variações de um processo e estão res- tritos a áreas determinadas do processo. Como regra geral, os gráficos de controle são instrumentos para separar causas alea- tórias das causas assinaláveis, verificam se o processo é estável, se o processo está sob controle e se permanecem assim e, ainda, permitem a análise das tendências do processo. Fonte: Carvalho e Paladini (2012, p. 358). Os custos de prevenção estão associados a ações para evitar problemas ambientais futuros. Os custos de avaliação consistem nas ações para verificar como a organização está em relação aos cumprimentos das normas legais. Os custos de falhas internas estão relacionados às ações para controle de impactos ambientais, já os custos de falhas externas relacionam-se às ações para controlar, reparar e mitigar impactos produzidos fora da empresa (DIAS, 2017). 232 Gestão Ambiental - Certificação e Auditoria Ambiental Ecoeficiência A ecoeficiência tem por intuito o usomais eficien- te de matérias-primas e energia, com o objetivo de reduzir os custos econômicos, os impactos ambientais e os riscos de acidente, melhorando a relação da organização com as partes interessa- das (DIAS, 2017). Assim, uma empresa torna-se ecoeficiente para Barbieri (2016) quando: • Reduz o consumo de materiais com bens e serviços. • Reduz o consumo de energia com bens e serviços. • Reduz a dispersão de substâncias tóxicas. • Intensifica a reciclagem de materiais. • Maximiza o uso sustentável dos recursos naturais. • Prolonga a durabilidade dos produtos. • Agrega valor aos bens e serviços. A ecoeficiência é baseada na ideia de que a redução de materiais e energia, ao longo do sistema pro- dutivo, aumenta a competitividade da empresa ao mesmo tempo que reduz as pressões sobre o meio ambiente (DIAS, 2017). A ecoeficiência está rela- cionada a três importantes objetivos (DIAS, 2017): • Redução do consumo de recursos. • Redução no impacto na natureza. • Aumento de produtividade ou do valor do produto. Os princípios para a definição e para a utilização dos indicadores de ecoeficiência estão apresen- tados a seguir: • Serem relevantes e significativos na prote- ção do meio ambiente e da saúde humana e/ou na melhoria da qualidade de vida. • Fornecerem informação aos tomadores de decisão, com o objetivo de melhorar o desempenho da organização. • Reconhecerem a diversidade inerente a cada negócio. • Apoiarem o benchmarking e monitorarem a evolução do desempenho. • Serem claramente definidos, mensuráveis, transparentes e verificáveis. • Serem compreensíveis e significativos para as várias partes interessadas. • Basearem-se em uma avaliação geral da atividade da empresa, dos produtos e dos serviços, concentrando-se, principalmen- te, nas áreas controladas diretamente pela gestão. • Levarem em consideração questões rele- vantes e significativas, relacionadas com as atividades da empresa, a montante (ex.: fornecedores) e a jusante (ex.: utilização do produto) (BARBIERI, 2016). A P+L e a Ecoeficiência são modelos de gestão que têm muitas semelhanças entre si. Contudo, a reciclagem interna e externa é muito valoriza- da pela ecoeficiência, diferentemente da P+L, na qual essa reciclagem é uma opção de segundo e terceiro nível. Projeto para o Meio Ambiente É um modelo de gestão focado na fase de con- cepção dos produtos e em seus respectivos pro- cessos de produção, distribuição e utilização, também denominado ecodesign, que busca in- tegrar um conjunto de atividades e disciplinas que, historicamente, sempre foi tratado separa- damente tanto em termos operacionais quan- to estratégicos, como saúde e segurança dos trabalhadores e consumidores, conservação de recursos, prevenção de acidentes e gestão de resíduos (DIAS, 2017). 233UNIDADE 9 Barbieri (2016) explica que o ecodesign baseia-se em inovações de produtos e processos que reduzam a poluição em todas as fases do ciclo de vida e exige a participação de todos os segmentos da empresa, bem como de fornecedores e outros membros do canal de distribuição, podendo, por isso, ser considerado um modelo de gestão, pois não se trata da realização de atividades isoladas nem episódicas. Para organizar as atividades diante de várias possibilidades de atuação em projeto, temos quatro estratégias (BARBIERI, 2016): • Projeto para desmaterialização: busca a redução da quan- tidade necessária de materiais para um produto, assim como a energia correspondente, considerando seu ciclo de vida. • Projeto para desintoxicação: busca reduzir ou eliminar a toxicidade, a periculosidade ou outras características preju- diciais ao produto. • Projeto para revalorização: busca recuperar, reciclar e reu- tilizar resíduos materiais e energia gerados em cada fase do ciclo de vida do produto. • Projeto para a renovação e a proteção do capital: busca garantir a segurança, a vitalidade, a integridade, a produti- vidade e a continuidade de recursos naturais, humanos e econômicos para manter o ciclo de vida do produto. Prezado(a) aluno(a), nesta última unidade, abordamos aspectos de gestão ambiental, que consiste na gestão de recursos naturais por parte das organizações e que qualquer empresa, de qualquer tamanho ou porte, pode implementar um sistema de gestão am- biental que, posteriormente, pode ser certificado por meio da ISO 14001, norma certificável e voluntária, que traz muitas vantagens competitivas para as organizações. Vimos que a ISO 14001 passou por atualização, no ano de 2015, e que sua estrutura está de acordo com o proposto no Anexo SL, cujo objetivo é facilitar a integração entre as normas e que um SGA segue os princípios do ciclo PDCA. Trabalhamos com a produção mais limpa, que busca adotar procedimentos em processos de produção, produtos e serviços, visando ao aproveitamento de recursos naturais e resíduos no processo produtivo. É uma ferramenta importante de gestão ambiental. Também trabalhamos com outras ferramentas importantes: administração da qualidade total, ecoeficiência e projeto para o meio ambiente. Assim, finalizamos nosso estudo sobre o processo de certificação e os tipos de auditoria ambiental. 234 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. A Política Ambiental pode ser considerada um conjunto de ações que é orde- nado e praticado por organizações ou governos com o intuito de preservar o meio ambiente. Sobre a política ambiental proposta pela ISO 14001, leia as afirmativas a seguir: I) A Política Ambiental deve ser implementada pelo setor de Compra e Vendas de uma organização. II) A Política Ambiental deve ser documentada. III) A Política Ambiental pode incluir aspectos, como inclusão de uso sustentável dos recursos naturais, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, prote- ção à biodiversidade e ecossistemas. IV) Uma vez implementada, não existe a necessidade de atualização da Política Ambiental. É correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) II e III, apenas. d) I, II e III, apenas. e) I, II e IV, apenas. 2. Existem certificações ambientais para todos os gostos. Escritórios, construções e mesmo cidades podem receber certificações por realizar mudanças em sua estrutura e processos produtivos. No entanto, as empresas no Brasil encontram algumas dificuldades para obter uma certificação ambiental. Entre as dificuldades para obter uma das certificações mais comuns, a ISO 14.001, podemos destacar: I) Custos de implementação altos para micro e pequenas empresas. II) Desprendimento de recursos para a área ambiental vista como gasto. III) Relacionamento com orgãos ambientais e sua burocracia. IV) IV - Dificuldades para estruturar a empresa para as mudanças visando sus- tentabilidade. 235 É correto o que se afirma em: a) I, II, III e IV. b) I, somente. c) II e IV, somente. d) I, III e IV, somente. e) III, somente.” 3. Na abordagem estratégica, os problemas ambientais são tratados como uma das questões estratégicas da empresa. Sobre os benefícios que uma organiza- ção tem, por meio dessa abordagem, assinale V para afirmativas verdadeiras e F para falsas: )( Melhoria da imagem da organização. )( Renovação dos produtos. )( Conquista de mercados externos. )( Crescimento da produtividade. Assinale a sequência correta: a) V, V, V, V. b) F, F, F, F. c) V, F, F, F. d) V, F, F, V. e) V, V, V, F. 236 Gestão Ambiental Empresarial - conceitos, modelos e instrumentos Autor: José Carlos Barbieri Editora: Saraiva Sinopse: a obra apresenta ampla discussão sobre os problemas ambientais: contempla o conceito de gestão ambiental e suas diferentes dimensões; discute as iniciativas de gestão ambiental global e regional com base no enfrentamento do aquecimento global, da destruição da camada de ozônio e da proteção à biodiversidade, nas experiências da União Europeia, Mercosul e Nafta e discu- te os principais instrumentos de política pública ambiental e as polêmicas em torno delesquanto à sua eficácia na resolução dos problemas ambientais e seus efeitos sobre a competitividade das empresas. Também apresenta diver- sos modelos de gestão ambiental, como Produção Mais Limpa, Ecoeficiência, Ecologia Industrial, entre outros. LIVRO 237 ABNT. NBR ISO 14.001: Diretrizes para auditorias de sistema de gestão de qualidade e/ou ambiental. Brasília, 2015. ABNT. NBR ISO 14.001:2015: Sistemas de Gestão Ambiental – Requisitos com Orientações para Uso. ABNT. 2015. Disponível em: http://abnt.org.br/PAGINAMPE/noticias/218-abnt-nbr-iso-14001-2015-sistemas-de-gest%- C3%A3o-ambiental-%E2%80%94-requisitos-com-orienta%C3%A7%C3%B5es-para-uso. Acesso em: 3 abr. 2019. ABNT. NBR ISO 19.011: Diretrizes para auditorias de sistema de gestão de qualidade e/ou ambiental. Brasília, 2012. BARBIERI, J. C. Gestão Ambiental Empresarial. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. CAMPOS, L. M. S. SGADA – Sistema de Gestão e Avaliação de Desempenho Ambiental: uma proposta de implementação. 2000. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. CARPINETTI, L. C. R.; GEROLAMO, M. C. Gestão da Qualidade: ISO 9001: 2015 - Requisitos e Integração com a ISO 14001:2015. São Paulo: Atlas, 2016. CARVALHO, M. M.; PALADINI, E. P. Gestão da Qualidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier: ABEPRO, 2012. CNTL. Manual: Metodologia de Implantação do Programa de Produção Mais Limpa. Porto Alegre, 1999. DIAS, R. Gestão Ambiental. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MORAES, C. S. B. Gestão Ambiental Empresarial: análise da contribuição dos indicadores ambientais. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2011, Porto Alegre. Anais […] Porto Alegre: CBESA/ABES, 2012. PUGLIESI, É.; MORAES, C. S. B. (org.). Auditoria e certificação ambiental. Curitiba: InterSaberes, 2014. ROBLES JR., A. Custos da qualidade: aspectos econômicos da gestão da qualidade e da gestão ambiental. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003. SEIFFERT, M. E. B. ISO 14001 - Sistemas de gestão ambiental: implantação objetiva e econômica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011. VALLE, C. E. Qualidade Ambiental - ISO 14000. São Paulo: SENAC, 2002. REFERÊNCIA ON-LINE 1Em: https://www.ona.org.br/Pagina/33/Acreditacao. Acesso em: 3 abr. 2019. 238 1. C. 2. A. 3. A. 239 CONCLUSÃO Chegamos ao final do livro Ciências do Ambiente. Compreendemos a importância desse assunto na atuação do Engenheiro a partir de conceitos e fundamentos da gestão ambiental. Para isso, a partir da Unidade 1, Meio Ambiente e Sustentabilidade, apresenta- mos as principais definições de meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Na Unidade 2, Dinâmicas Ambientais, descrevemos os processos que estão envolvidos nos ciclos biogeoquímicos e demonstramos a hierarquia ecológica, enfatizando a importância destes tópicos dentro das questões ambientais. Nas Unidades 3 e 4, trabalhamos temas importantes relacionados ao Gerencia- mento de Recursos Hídricos. Mostramos, a você, a importância da água para os seres vivos, além de apresentar os padrões de potabilidade para consumo humano, bem como os tratamentos existentes. Discorremos, também, sobre Tratamento de Efluentes e a questão de reuso de águas, uma alternativa razoável, visto a falta desse recurso em grandes centros. Ao longo das Unidades 5 e 6, onde tratamos dos Resíduos Sólidos, apresentamos todas as etapas de sua gestão: geração, classificação, coleta, transporte de resíduos, tratamentos e formas de destinação final de resíduos sólidos. Na Unidade 7, sobre Controle e Qualidade de Emissões Atmosféricas, desta- camos os principais poluentes atmosféricos, bem como suas fontes, métodos de controle de emissão e padrões de qualidade. Conceituamos a poluição sonora, bem como sua redução e o controle de ruídos. Finalizando com as Unidades 8 e 9, desenvolvemos os conhecimentos necessá- rios para aplicação das legislações ambientais e ferramentas de gestão nas empresas, bem como as formas de certificação e auditoria ambiental. Esperamos ter contribuído com sua formação e que você veja que realmente a questão ambiental está presente em todas as formações, em especial, na área de Engenharia. Um forte abraço. capa AVA_Ciências do Ambiente _30j0zll Meio Ambiente e Sustentabilidade Dinâmicas Ambientais Gerenciamento de Recursos Hídricos - Captação e Tratamento de Água Gerenciamento de Recursos Hídricos – Tratamento de Águas Residuárias Resíduos Sólidos – Geração, Classificação, Coleta e Transporte Resíduos Sólidos – Tratamento e Disposição Final Poluição Atmosférica – Controle e Qualidade das Emissões A Política Ambiental no Brasil Gestão Ambiental - Certificação E Auditoria Ambiental Ciclo da água Aterro sanitário _30j0zll _GoBack _30j0zll _GoBack _GoBack _3znysh7 _2et92p0 _tyjcwt _3dy6vkm _GoBack _30j0zll Button 17: Button 14: Botão 1: Button 16: