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Capítulo 8 TANATOLOGIA FORENSE E CRONOTANATOGNOSE A Tanatologia Forense é o estudo da morte, do cadáver e de suas repercussões nas esferas jurídica e social. Compreende o estudo da realidade e do tempo da morte, ressaltando-se que morte para fins jurídicos e científicos é a morte encefálica, cuja comprovação com certeza e segurança é imperiosa para que ocorra eventual doação de órgãos e tecidos para transplantes. O diagnóstico do tempo de morte se faz pela cronotanatognose (“crono” é tempo; “tanatos” é morte e “gnose” é conhecimento). Trata-se do estudo dos fenômenos cadavéricos que, contudo, apresenta expressiva variação inter e intrasubjetiva. Isso porque a morte não é um momento preciso e sim um processo, uma vez que a cessação das funções vitais ocorre de forma gradativa. Logo, o diagnóstico do tempo de morte não é um método absolutamente preciso e os sinais observados não se repetem, sempre, ao mesmo tempo e da mesma forma. Por isso, falamos em faixas e períodos aproximados em que os fenômenos cadavéricos surgem e sucedem-se. (MÉDICO LEGISTA – PC/MA – 2012 – FGV) A necropsia pode ser realizada conforme várias técnicas. Quanto à técnica de Ghon, assinale a afirmativa correta. (A) Ela se inicia pela abertura da cavidade tóracoabdominal. (B) O primeiro monobloco engloba todo o mediastino. Mobile User (C) O esôfago faz parte do primeiro monobloco, segundo esta técnica. (D) O segmento terminal do duodeno, o jejuno, o íleo e o cólon são os últimos a serem examinados. (E) Os testículos fazem parte do quarto monobloco. A, C, D e E: incorretas. Há 4 principais técnicas de necropsia: de Virchow (órgãos retirados individualmente e examinados posteriormente), de Ghon (evisceração por meio de monoblocos de órgãos relacionados funcional ou anatomicamente); de Letulle (conteúdo tóracoabdominal retirado em um único monobloco) e de Rokitanski (órgãos abertos e examinados “in situ” e depois retirados isoladamente). Na técnica de Ghon, inicia-se pela análise da cavidade encefálica. Já na cavidade tóracoabdominal, o primeiro monobloco engloba órgãos torácicos e cervicais, incluindo porção superior do esôfago. O segundo monobloco compõe sistema digestivo superior e órgãos anexos, como fígado, baço e pâncreas. O terceiro engloba o sistema urogenital, reto e suprarrenais. No quarto, está compreendida a maior parte dos intestinos. B: correta. O primeiro monobloco na técnica de Ghon é formado pelo conteúdo cervical e torácico, incluindo as estruturas mediastinais. A maior parte do esôfago está incluída no primeiro monobloco; contudo, o esôfago inferior consta do segundo. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA/AC – 2015 – FUNCAB) Acerca dos tipos de morte, assinale a assertiva CORRETA. (a) A morte violenta é aquela que tem como causa determinante a ação abrupta e intensa, física ou química, sobre o organismo, de causa interna. (b) A morte súbita é aquela imprevista, que sobrevém instantaneamente e Mobile User sem causa manifesta, atingindo pessoas em aparente estado de boa saúde. (c) A morte natural é a que resulta da alteração orgânica ou perturbação funcional provocada por agentes naturais, de causa externa. (d) A morte súbita é aquela imprevista, que sobrevém instantaneamente e sem causa manifesta, atingindo pessoas com estado de saúde delicado. (e) A causa médica da morte se divide em natural ou violenta. A: incorreta. A morte violenta não ocorre por causas internas, mas sim externas, sendo que a ação pode corresponder a diversas energias transferidas do meio para o corpo, como as de ordem mecânica, física, química, físico-química, biodinâmica e mista. Trata-se de situação em que se deve investigar a ocorrência de uma causa jurídica para a morte, como suicídio, homicídio/crime ou acidente. O diagnóstico da causa jurídica da morte é a principal razão da obrigatoriedade de uma necropsia forense ou médico-legal. Contudo, cabe ressaltar que não cabe ao médico legista estabelecer com certeza a causa jurídica de uma morte, pois isso é um critério de julgamento, sendo o laudo de necropsia apenas um dos elementos do corpo de delito. Cabe ao médico legista ver e reportar, de maneira objetiva, os elementos e lesões observados, de acordo com a máxima do visum et repertum; B: correta. Trata-se de conceito aceito na doutrina para a morte súbita. Hygino de Carvalho Hércules afirma que o conceito de morte súbita prende-se mais à inexistência de uma doença prévia que possa explicá-la do que propriamente à evolução temporal rápida, uma vez que tal critério temporal é relativo e difícil de ser estabelecido com precisão. Afirma o autor que morte súbita não é sinônimo de morte fulminante e, para ele, toda morte súbita deve ser considerada suspeita até que se prove o contrário e deve ser esclarecida por necropsia forense (HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal Texto e Atlas. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014, p.145); C: incorreta, pois a morte natural não resulta de agentes de causa externa, mas sim de antecedentes patológicos, doenças; D: incorreta. A morte súbita, conceitualmente, não é a que atinge pessoas com estado de saúde debilitado ou delicado, pela já citada tese de Hygino de Carvalho Hércules, autor cuja doutrina é muito utilizada pela banca examinadora FUNCAB; E: incorreta. O evento que causa a morte pode ser considerado Mobile User sob o ponto de vista médico (causa médica da morte: a doença ou alteração orgânica que ocasionou a morte) ou sob o ponto de vista jurídico, correspondendo às causas jurídicas de uma morte violenta ou por causa externa: homicídio/crime, suicídio ou acidente. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA POLÍCIA CIVIL MG – 2006) Assinale a afirmativa CORRETA. Não há indicação de necropsia médico-legal se a morte for decorrente de: (a) Homicídio (b) Doença epidêmica (c) Suicídio (d) Infanticídio (e) Acidente de trânsito B: correta. Mortes causadas por doenças epidêmicas são mortes por antecedentes patológicos, tidas como mortes naturais. Nesses casos, eventual necropsia a ser feita seria uma necropsia clínica, que apenas será realizada se houver autorização dos familiares do morto (cônjuge ou parentes até o 2º grau, inclusive), por meio de termo de consentimento livre e esclarecido. A necropsia clínica, portanto, não constitui exame cadavérico de realização obrigatória; A, C, D e E: incorretas. As necropsias forenses ou médico-legais são obrigatórias em casos de mortes violentas (por causas externas, devendo se avaliar a presença de uma causa jurídica para o óbito) ou mortes suspeitas, que são aquelas em que há possibilidade de não ter sido natural a sua causa. Logo, mortes por homicídio, suicídio ou acidente são hipóteses de Mobile User obrigatoriedade legal de realização de necropsia. O mesmo se diga quanto ao infanticídio, delito tipificado no Código Penal em que há necessária investigação criminal a ser desencadeada. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA – PC/ES – 2019 – AOCP) A necropsia médico-legal, realizada por médico-legista, é “a perícia das perícias”. Sobre a necropsia médico-legal, assinale a alternativa correta. (A) Deve ser realizada em toda morte ocorrida por causa natural. (B) O exame externo deve ser sumário e omisso. (C) É obrigatória em morte de pessoas falecidas por morte natural sem assistência médica. (D) Não existe justificativa para não realizar o exame interno das 3 cavidades: craniana, torácica e abdominal. (E) Tem como finalidade, dentre outras: identificar o cadáver, a cronotanatognose e determinar a causa médica da morte. A e C: incorretas. Não há obrigatoriedade de se realizar necropsia em mortes ocorridas por causa natural, por antecedentes patológicos. Se houve assistência médica, o médico assistente atestará o óbito, sem necessidade de exame cadavérico. Caso a morte natural tenha ocorrido sem assistência médica, o corpo será encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) para que a morte seja atestada. Não havendo SVO na localidade, qualquer médico do serviço público de saúde pode atestar o óbito e emitir a Declaração de Óbito. Mesmo emtais casos, não há obrigatoriedade de realização de necropsia. B: incorreta. O exame externo em qualquer Mobile User necropsia deve ser completo e detalhado, observando-se e descrevendo-se lesões externas, vestes, sinais descritivos para identificação do cadáver, dentre outros. D: incorreta. Embora preconize-se que o exame interno das três cavidades seja realizado, há casos em que a própria legislação o dispensa: nos casos de morte violenta, quando não houver infração penal que apurar ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para verificar alguma circunstância relevante, nos termos do parágrafo único do art. 162 do CPP. E: correta. As finalidades principais da necropsia forense são confirmar a morte, determinar a causa medico-biológica da morte, identificar o cadáver, determinar o tempo de morte, fornecer elementos e contribuir para a determinação judicial da causa jurídica da morte e satisfazer interesses de ordem civil, sanitária, estatística e demográfica. Gabarito “E” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/SP – 2018 – VUNESP) De modo geral, nos casos de morte de causa desconhecida, o cadáver deve ser encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) ou para o SVO (Serviço de Verificação de Óbitos), respectivamente, quando a morte for decorrente de: (a) causa externa ou morte suspeita – morte natural sem assistência médica. (b) homicídio – suicídio. (c) acidente de trânsito – suicídio. (d) causa natural sem assistência médica – acidente de trânsito. (e) suicídio – morte natural ou suspeita sem assistência médica. A: correta. O fluxo de encaminhamento de cadáveres para realização de Mobile User necropsia é simples e depende do tipo de morte, em uma primeira análise. Se a morte foi decorrente de causas externas, ou seja, em razão de transferência de energia do meio para o corpo, é tida por morte violenta. Também assim se considera quando há necessidade de se investigar eventual causa jurídica (homicídio, suicídio ou acidente) para essa morte. Já a morte suspeita é aquela em que há possibilidade de não ter sido natural a sua causa, sendo que os motivos da suspeição podem decorrer de circunstâncias do local, de características próprias do cadáver e até mesmo de informações dadas por familiares. Em casos de mortes violentas e suspeitas, a necropsia será obrigatoriamente realizada, devendo o corpo ser encaminhado para os serviços médico-legais (IML ou postos médico-legais). Já o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) é uma instituição com atribuição de análise de mortes naturais – por antecedentes patológicos – sem assistência médica, uma vez que, quando há assistência na morte natural, é o médico assistente o responsável pela emissão da declaração de óbito (DO). B, C, D e E: incorretas. Gabarito “A” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2018 – FUMARC) Custodiado pela Polícia, um suposto infrator queixa que se sente mal na viatura policial ao ser transferido do local do fato para a delegacia responsável. Ele relata ser “cardíaco” e que usa medicação para evitar infarto do miocárdio. Em seguida, fica em silêncio e imóvel. Os responsáveis constatam a realidade do óbito. A conduta CORRETA é: (a) Entrar em contato com alguma autoridade do Ministério Público ou do judiciário para tomada de decisão do caso. (b) Por não haver violência, procurar os meios para encaminhamento ao Serviço de Verificação de Óbito. (c) Procurar os meios e as formalidades para o encaminhamento ao IML. (d) Trata-se de morte natural; dar seguimento aos procedimentos para encaminhamento à funerária. Genival Veloso de França, doutrinador adotado pela banca examinadora FUMARC, é claro ao afirmar que toda morte sob custódia de autoridades judiciárias ou policiais deve ser considerada, a priori, como morte suspeita, estando sujeita à apreciação médico-legal (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 513). São exemplos: mortes de pessoas que encontram-se detidas em delegacias, penitenciárias, hospitais judiciários, adolescentes que estão cumprindo medidas socioeducativas ou pessoas em cumprimento de medidas de segurança, bem como durante a transferência de detidos para instituições de custódia ou hospitais. Logo, ainda que o custodiado apresentasse doença prévia e fizesse uso de medicamentos, a morte é considerada suspeita e o corpo deve ser encaminhado ao IML ou serviço médico-legal. Não há como se afirmar que a morte ocorrera de forma natural, tampouco que não houve violência. Ressalte-se, ainda, que a necropsia forense ou médico-legal dispensa autorização de familiares do morto, sendo obrigatória por disposição legal. Gabarito “C” (MÉDICO LEGISTA – POLÍCIA CIVIL SP – 2014) Jovem do sexo masculino, 30 anos, foi atropelado na via pública por um ônibus, sofrendo trauma cranioencefálico, com hematoma extradural. Foi socorrido, submetido à craniotomia, com drenagem do hematoma. Recuperou-se do coma, porém ficou internado por 2 meses, tendo broncopneumonia, sepse e veio a óbito. Neste caso, a declaração de óbito deverá ser emitida: (a) no SVO, pois o evento final foi de causa natural. (b) pelo plantonista do hospital no momento do óbito. (c) pelo neurocirurgião que operou o paciente. (d) pelo médico plantonista que deu o primeiro atendimento pós-acidente. (e) no IML, pelo nexo-causal entre o acidente e a causa do óbito. A, B, C e D: incorretas. E: correta. Para que se avalie de forma correta a atribuição da emissão da declaração de óbito (DO), deve-se atentar para o tipo de morte, se violenta (por causas externas), suspeita ou natural. Nas duas primeiras, o exame necroscópico é obrigatório e será realizado nos serviços médico-legais, por médicos legistas. Na hipótese, embora o desdobramento e evento final que levou à morte foi uma condição clínica infecciosa (pneumonia e sepse), há que se considerar o claro nexo causal existente entre o evento terminal e o acidente sofrido. O paciente apenas foi internado porque sofrera um acidente com formação de hematoma extradural e necessitou realizar cirurgia; durante a internação, desenvolveu complicação infecciosa que não teria ocorrido (e, em consequência, a morte também não) caso ele não tivesse sofrido o evento externo acidente. Trata-se de uma causa médica direta de morte, provocada por uma causa jurídica. Logo, a competência para emissão da declaração de óbito é do médico legista e o corpo deve ser encaminhado ao IML, se existente na localidade. Gabarito “E” Comentários adicionais: a Resolução 1.779 de 2005 do Conselho Federal de Medicina deve ser estudada no tocante à responsabilidade pela emissão da declaração de óbito. (MÉDICO LEGISTA/ES – 2013 – FUNCAB) Um indivíduo cardiopata crônico falece na própria residência. Foi chamado o médico assistente do paciente que diagnostica morte de causa natural, não suspeita, e atesta o óbito. Em relação à atitude do referido médico, assinale a afirmativa que melhor fundamenta a sua conduta, do ponto de vista médico-legal. (a) Se é de fato morte natural, não suspeita, e considerando que foi o próprio médico assistente do paciente quem atestou o óbito, nada há para se questionar. (b) O médico assistente do paciente, mesmo diagnosticando morte natural, não pode atestar o óbito do paciente, pois não há como afastar a possibilidade de morte violenta. Nesse caso, somente o perito legista poderia atestar o óbito. (c) Nesse caso, o cadáver deve ser encaminhado para um serviço de verificação de óbito ou a uma necropsia particular. (d) Se o paciente estivesse internado em um hospital, o atestado somente seria fornecido caso ele estivesse internado há mais de 24 horas. (e) Nesse caso, de acordo com art. 114 do Código de Ética Médica, o médico somente pode atestar o óbito após solicitar à autoridade policial um documento afastando a possibilidade de morte violenta. A: correta. O médico agiu corretamente; ele era o médico assistente do paciente, ainda que não o tenha assistido no exato momento da morte. Presume-se que conheciao quadro clínico do doente e, ao ser chamado, não constatou nenhum sinal de suspeição, entendeu que a morte era natural e emitiu a declaração de óbito (DO). A Resolução CFM 1.779/2005 determina que, em caso de morte natural com assistência médica (ressalte-se que tal assistência não precisa ser imediata, no exato momento do óbito), é o médico assistente o responsável por emitir a DO. Nesse caso, é feito um exame externo do corpo, buscando avaliar minuciosamente se há algum sinal externo de violência, e a família é indagada sobre as circunstâncias da morte. Se não há nada que levante suspeita no caso e o médico diagnostica que a morte ocorreu de forma natural, de acordo com o quadro clínico que ele conhecia de seu paciente, é ele quem emite a DO; B: incorreta. O corpo apenas deveria ser encaminhado ao IML se tivesse sinais de morte violenta ou suspeita, sendo essa aquela em que há indícios e possibilidade de não ter sido natural a sua causa; C: incorreta. O corpo vai ao SVO em hipóteses de morte natural sem assistência médica, não sendo este o caso. Também pode ser para lá encaminhado quando o médico assistente não consegue correlacionar o óbito ao quadro clínico que conhecia de seu paciente, de acordo com o disposto na Resolução CFM 1.779/2005. Ressalte-se que uma eventual necropsia clínica a ser realizada em casos de morte natural depende de autorização dos familiares do morto, já que apenas a necropsia forense ou médico-legal é obrigatória por lei, em casos de mortes violentas ou suspeitas; D: incorreta. Não há qualquer norma nesse sentido. A DO sempre deve ser fornecida, não podendo haver inumação (sepultamento) ou cremação sem esse importante documento; E: incorreta. Não há qualquer previsão de emissão de documento por autoridade policial acerca de mortes violentas e o art. 114 do CEM diz respeito à publicidade médica e nada tem a ver com a matéria. Gabarito “A” (ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2018 – FUMARC) Uma criança de 4 anos começa a vomitar na frente de pais e tios, dentre outros familiares e amigos, vindo a falecer por um alimento “entalado na garganta”. A conduta CORRETA é: (A) Comunicar diretamente à funerária para tramitação da inumação, sem entraves, pois já há grande sofrimento social e familiar. (B) Deve ser registrado um Boletim de Ocorrência antes de ir ao Serviço de Verificação de Óbito, por se tratar de um incidente social e familiar. (C) Por se tratar de acidente doméstico comum, trata-se de morte sem necessidade de investigações formais, não devendo o corpo ir ao Serviço de Verificação de Óbito. (D) Providenciar encaminhamento junto às autoridades para o IML. A, B e C: incorretas. Não se trata de caso de encaminhamento ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO), tampouco poderá ser inumado ou sepultado o corpo, antes da realização da necropsia forense; D: correta. Trata-se de assunto bastante cobrado em provas de Medicina Legal, que diz respeito ao encaminhamento do corpo após a morte, a depender do tipo de morte, se natural, suspeita ou violenta. No caso descrito, a criança morreu com “alimento entalado na garganta”. Trata-se, em verdade, de asfixia por sufocação direta, quando ocorre obstrução mecânica à passagem do ar em qualquer ponto da via aérea, desde os orifícios naturais (boca e narinas) até as vias inferiores (traqueia e brônquios). É uma morte por causa externa; morte violenta, ainda que acidental. Nesses casos, deve ser analisada a possível causa jurídica para essa morte (crime/homicídio, suicídio ou acidente). A necropsia forense é obrigatória por lei e deverá o corpo ser encaminhado ao IML, independentemente de qualquer autorização dos familiares. O SVO não tem atribuição para o caso descrito, pois a morte não foi por antecedentes patológicos ou “natural”. Para o SVO, são encaminhados os corpos de pessoas que tiveram morte natural, sem assistência médica. Gabarito “D” (ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2018 – FUMARC) Uma mulher comete tentativa de autoextermínio por ingestão de pesticidas. Por isso, ficou internada durante um mês antes do óbito, o qual se deu no próprio hospital onde fora atendida desde o início. O óbito se deu por infecção generalizada, decorrente de complicações da internação prolongada. Nesse caso, o corpo: (A) deverá ser encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbitos, pois a morte foi natural, ou seja, “infecção generalizada”. (B) está sob a posse do Poder Público, o qual tem esse direito em qualquer tempo, devendo ser necropsiado por peritos oficiais ou “ad hoc”. (C) pertence à família, a qual decidirá se irá inumar ou cremar. (D) se impõe à análise de autoridade do judiciário, para autorizar ou cancelar a necessidade de necrópsia tipo clínica. A: incorreta, por não se tratar de morte natural, uma vez que os eventos sequenciais biológicos (complicações da internação e infecção generalizada) ocorreram por desdobramento da causa básica externa, a ingestão de pesticidas. A morte é considerada, portanto, violenta e não natural; B: correta. O Estado/Poder Público tem ingerência sobre o corpo morto e pode determinar seu encaminhamento em casos específicos. É justamente o caso das mortes violentas ou suspeitas, em que a lei determina a obrigatoriedade de realização de necropsia. É de se ressaltar que a morte da mulher não foi natural ou por antecedentes patológicos. Em toda morte, o evento terminal que a explica diretamente sempre será biológico (uma infecção, uma hemorragia grave, uma hipóxia grave, etc.). Contudo, se esse evento final tem relação lógica causal e sequencial com uma causa básica externa, a morte é considerada violenta. A mulher apenas estava internada e desenvolveu complicações da internação prolongada (infecção) porque, previamente, ingeriu pesticidas em tentativa de autoextermínio. Há nexo causal entre os eventos, que são sequenciais. Logo, a causa básica de sua morte é o evento externo: a ingestão de pesticidas na tentativa de suicídio. Assim, o corpo deve ser obrigatoriamente necropsiado nos serviços médico- legais oficiais, como o IML. Perito oficial (perito médico legista concursado, servidor público efetivo) poderá necropsiar o corpo sozinho, mas não há vedação para que o faça em conjunto com outros peritos oficiais (no Direito, “quem pode o mais, pode o menos”). No caso de não haver perito oficial, deverão ser nomeados pela autoridade dois peritos “ad hoc”; C: incorreta. O corpo morto não “pertence à família” e, em casos de morte por causa externa, há obrigatoriedade de realização de necropsia forense ou médico- legal. A cremação em casos de mortes violentas (por causa externa) deve ser autorizada pela autoridade judiciária, nos termos do art. 77, § 2º, da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/1973); D: incorreta; não há necessidade de autorização judicial para realização de necropsias médico-legais, que são determinadas por lei em casos de mortes violentas e suspeitas. Ademais, o caso não consiste em necropsia clínica, aquela feita por médicos patologistas em mortes por antecedentes patológicos (doenças), por razões epidemiológicas, científicas, etc. Trata-se de caso em que houve causa básica externa; portanto, a necropsia a ser realizada é a forense ou médico-legal, nos serviços médico-legais (IML). Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA AMAPÁ – 2016 – FCC) A exumação pode ser realizada com diversos objetivos. Em relação à exumação no âmbito criminal: (a) em caso de dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se- á ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade. (b) as lesões encontradas nos cadáveres exumados não devem ser fotografadas, visto que a família deve ser preservada de possíveis imagens degradantes. (c) o Perito Médico Legista tem autonomia para realizar a exumação em qualquer hora do seu turno de trabalho, não sendo necessário agendamento prévio. (d) ela deve ser feita após o término da fase coliquativa da putrefação. (e) ela deve ser realizada em sigilo,não sendo autorizada presença dos familiares do de cujus. A: correta. O procedimento de exumação consiste no desenterramento do cadáver, não importa o local onde esteja sepultado. O procedimento é realizado habitualmente quando se suspeita, após o sepultamento, da ocorrência de uma causa jurídica para a morte, ou para dirimir dúvidas ou verificação de identidade. O Código de Processo Penal (CPP) dispõe sobre o procedimento de exumação, sendo que seu art. 166 determina expressamente que, “havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações”. Ainda, serão arrecadados e autenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver; B: incorreta. As fotografias estão previstas em lei e deve ser realizada a documentação fotográfica completa do procedimento, dispondo o art. 164 do CPP que “os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime”; C: incorreta. O dia e a hora da exumação devem ser previamente agendados, sendo que as formalidade legais implicam a presença da autoridade policial, dos peritos, do escrivão (para realização do auto de exumação e reconhecimento), do administrador do cemitério para indicar o local da sepultura e, sendo possível, de familiares do morto e testemunhas que estiveram presentes no momento da inumação; D: incorreta; A exumação pode ser feita a qualquer tempo ou fase processual e em qualquer fase da putrefação cadavérica; E: incorreta. Os familiares do morto, assim como testemunhas que estiveram presentes no momento do sepultamento, devem ser convidados para o procedimento de exumação. Gabarito “A” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2018 – FUMARC) Em relação à exumação, é CORRETO afirmar: (a) Em determinados casos, o exame histopatológico pode ser realizado. (b) O exame interno deve ser direcionado à região determinada e/ou suspeita do cadáver. (c) O médico-legista se incumbirá de providenciar para que se realize a diligência, mediante autorização expressa da família. (d) Os fenômenos putrefativos prejudicam as características das vestes, não devendo ser consideradas, a fim de se evitarem erros periciais grosseiros. A: correta. Em uma exumação, o exame histopatológico ou microscópico de órgãos e tecidos pode ser e é habitualmente realizado, assim como todos os recursos de pesquisas toxicológica e bacteriológica, fazendo parte do exame completo dos restos mortais desenterrados; B: incorreta. Depois de exumado o cadáver ou o que resta dele, procede-se ao exame com a mesma técnica do exame cadavérico e o exame interno deve ser completo, mesmo no que resta do corpo; C: incorreta. Não é necessária a autorização expressa da família, mas sim o convite para que eles participem do procedimento. A exumação é habitualmente realizada em caráter especial, por sérias e imperiosas razões, para atender aos reclamos da Justiça no esclarecimento de fatos duvidosos, de causa violenta da morte passada despercebida, para identificação, dentre outras possibilidades. D: incorreta; fenômenos putrefativos não prejudicam as características das vestes e elas não devem ser desconsideradas. Ao contrário, aconselha-se que sejam colhidos fragmentos das vestes do morto, da terra que se encontra sob o caixão e dos forros deste, especialmente se há alguma suspeita de envenenamento, pois a substância pode ter se esvaído junto com os líquidos da putrefação e pode ser identificada na terra ou nos tecidos adjacentes. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA – PC/ES – 2019 – AOCP) Em relação ao procedimento de exumação, assinale a alternativa correta. (A) As exumações administrativas em cemitério necessitam de ordem judicial. (B) É realizado exclusivamente quando há dúvida quanto à causa da morte. (C) A sepultura deve ser localizada por qualquer pessoa. (D) Os familiares não podem estar presentes. (E) Pode ser realizado quando há dúvidas quanto à identidade do cadáver. A: incorreta. As exumações administrativas – objetivando, por exemplo, transferência de restos mortais para outra urna, mudança ou desocupação de sepultura, remoção por questões sanitárias ou cremação quando o cadáver já estiver esqueletizado – não necessitam autorização judicial, podendo ser autorizada pela autoridade sanitária. B: incorreta. Exumações podem ter finalidades administrativas ou jurídicas; estas últimas podem ser realizadas com a finalidade de identificação dos restos mortais, realização de necropsia não feita em momento oportuno, dúvida quanto à real causa da morte e esclarecimento de qualquer outro interesse jurídico, como até mesmo em casos de investigação de paternidade. C: incorreta, já que o parágrafo único do art. 163 do CPP dispõe que o local da sepultura será indicado pelo administrador de cemitério público ou particular, sob pena de desobediência. D: incorreta. Os familiares do morto devem ser convidados e podem ou não estar presentes durante o procedimento de exumação. E: correta, já que a identificação do cadáver ou dos restos mortais é uma das finalidades jurídicas de uma exumação, quando há dúvidas sobre sua real identidade. Gabarito “E” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2018 – FUMARC) Em relação aos dispositivos legais sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento, é CORRETO afirmar: (a) A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante. (b) A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica não dependerá apenas da autorização do cônjuge ou parente, estando também vinculada aos sistemas de saúde pública e ao delegado de polícia. (c) No caso de morte sem assistência médica, de óbito em decorrência de causa mal definida ou de outras situações nas quais houver indicação de verificação da causa médica da morte, a remoção de tecidos, órgãos ou partes de cadáver para fins de transplante ou terapêutica somente poderá ser realizada após a autorização do delegado de polícia ou do Ministério Público. (d) O cadáver de pessoa não identificada não pode se prestar a qualquer doação para transplantes, exceto se autorizado pelo delegado de polícia, promotor ou juiz. A: correta. Trata-se da redação literal do art. 3º da Lei 9.434 de 1997 (Lei dos Transplantes). Os dois médicos que diagnosticam a morte encefálica não podem participar da equipe de remoção e transplante. Ressalte-se que, em outubro de 2017, foi publicado o Decreto 9.175 de 2017, que dispensou que um desses dois médicos fosse neurologista. O decreto atualmente em vigor prevê, em seu art. 17, § 3º, que “os médicos participantes do processo de diagnóstico da morte encefálica deverão estar especificamente capacitados e não poderão ser integrantes das equipes de retirada e transplante”; B: incorreta. O art. 4º da Lei dos Transplantes dispõe que “a retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive”; C: incorreta. O parágrafo único do art. 7º da Lei dos Transplantes dispõe que “no caso de morte sem assistência médica, de óbito em decorrência de causa mal definida ou de outras situações nas quais houver indicação de verificação da causa médica da morte, a remoção de tecidos, órgãos ou partes de cadáver para fins de transplante ou terapêutica somente poderá ser realizada após a autorização do patologista do serviço de verificaçãode óbito responsável pela investigação e citada em relatório de necropsia”. Não há previsão de autorização de delegado de polícia ou promotor; D: incorreta. O art. 6º da Lei dos Transplantes veda a remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoas não identificadas. Não há previsão legal de exceção desse dispositivo, tampouco de autorização por parte de autoridades policiais ou judiciárias. Gabarito “A” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/SP – 2012 – PC-SP) Para se realizar um transplante cardíaco, considera-se como sinal de morte do doador: (a) a parada dos movimentos cardiocirculatórios. (b) a parada cardiorrespiratória irreversível. (c) a parada cardíaca definitiva. (d) a lesão cerebral irreversível. (e) a suspensão irreversível da atividade encefálica. A, B, C e D: incorretas. As funções cardíacas, respiratórias e cerebrais já foram tidas como critérios para o diagnóstico de morte; em meados da década de 60 do século passado, as funções encefálicas passaram a ser consideradas como o critério mais fidedigno e seguro de morte; E: correta. A atual definição de morte tanto para fins científicos como para fins jurídicos é a morte encefálica, situação em que há parada irreversível da atividade encefálica e não meramente cerebral. Os critérios para tal diagnóstico fundamentam-se na Resolução CFM 2.173 de 2017 e baseiam-se na lesão irreversível de estruturas do encéfalo, ausência total de resposta cerebral com perda da consciência, abolição de reflexos cefálicos, ausência de resposta respiratória espontânea ao teste de apneia e diagnóstico conhecido da causa do coma. Para o diagnóstico da morte encefálica, são realizados exames clínicos e complementares, além do teste de apneia, em intervalos de tempo que variam de acordo com a idade do doador. Os critérios foram atualizados em 2017 e os novos intervalos de tempo para a realização das duas avaliações clínicas, por dois médicos diferentes não integrantes das equipes de remoção de órgãos e transplante, são: doador com 7 dias completos (recém-nascido a termo) a 2 meses de idade incompletos: 24 horas de intervalo; doador com 2 meses a 2 anos (24 meses) de idade incompletos: 12 horas de intervalo; doador acima de dois anos de idade, o intervalo mínimo será de uma hora entre os dois exames clínicos. Gabarito “E” (INVESTIGADOR DE POLÍCIA – PC/MG – 2014) Um homem de 25 anos morreu com um fígado preservado quanto à sua reserva de glicogênio, apurada pela docimásia hepática química. Diante dessa informação, pode-se concluir que a morte se deu de forma: (a) tardia. (b) agônica. (c) mediata. (d) instantânea. A questão aborda a perícia do tempo de sobrevivência, que auxilia na diferenciação das mortes súbita (imediata ou instantânea), mediata e agônica (tardia). A morte súbita é aquela que ocorre de forma abrupta, com efeitos imediatos e instantâneos. A morte mediata possibilita sobrevivência de algumas horas, proporcionando alguma forma de providência. A morte agônica ou tardia se arrasta por dias ou semanas após a instalação de sua causa básica. Há reações químicas e exames que auxiliam na análise desse tempo de sobrevivência e que também são importantes para se avaliar eventual comoriência – morte simultânea de dois ou mais indivíduos em um mesmo momento, não se podendo provar quem morreu primeiro – ou premoriência, que é a presença de condição probatória que permite determinar quem morreu primeiro, em um mesmo evento. As docimásias hepáticas e suprarrenais, conhecidas como “docimásias da agonia” (não confundir com as docimásias das provas de respiração usadas na análise do infanticídio), são provas que permitem tal avaliação. A docimásia hepática química baseia-se na pesquisa do glicogênio e da glicose no fígado e permite a conclusão de que se uma pessoa morreu com o fígado espoliado (ausência de glicose e glicogênio, que foram gastos no esforço dos dias), teve uma morte agônica. Se as reservas hepáticas estão normais, a morte foi instantânea. Há também outras docimásias agônicas, como a hepática histológica (observação ao microscópio por técnicas de coloração e identificação do glicogênio hepático) e as docimásias suprarrenais fisiológica, química de Cevidalli e histológica, que avaliam a presença de adrenalina ou epinefrina na glândula adrenal ou suprarrenal. Na morte agônica, a hipoxemia estimula diretamente a adrenal, provocando secreção de adrenalina. Contudo, deve-se saber que tais docimásias não têm valor absoluto, devendo ser considerados apenas testes de probabilidade. Gabarito “D” (DELEGADO DE POLÍCIA RS – 2018 – FUNDATEC) Em relação à estimativa do tempo de morte, também conhecida como cronotanatognose, analise as afirmações abaixo, assinalando V se verdadeiras e F se falsas. ( ) Existem vários parâmetros (fenômenos cadavéricos) utilizados para a Mobile User estimativa do tempo de morte. ( ) A estimativa do tempo de morte, considerando os avanços da Medicina Legal, é bastante precisa, não apresentando margem de erro (para mais ou para menos) maior do que uma hora. ( ) A estimativa do tempo de morte depende, além de outros fatores, de fatores externos ao cadáver. ( ) A estimativa do tempo de morte, apesar dos avanços da Medicina Legal, não é precisa. A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: (a) V-F-V-V (b) V-V-V-F (c) V-V-F-F (d) F-F-F-V (e) F-V-F-V A: correta. Para realização da estimativa do tempo de morte (cronotanatognose), há vários fenômenos cadavéricos utilizados: fenômenos abióticos imediatos, abióticos mediatos ou consecutivos e fenômenos transformativos destrutivos e transformativos conservadores. Contudo, apesar da existência de diversos dados e parâmetros para tal, bem como dos avanços da Medicina Legal, a estimativa não é precisa e mostra faixas temporais muito amplas e variáveis, uma vez que a morte não é um momento e sim um processo, sendo gradativa a cessação das funções vitais. Logo, há dificuldade de se determinar com precisão o exato momento da morte. As margens de erro existem e são amplas, havendo, ainda, variação intersubjetiva na estimativa temporal. Há situações em que as faixas temporais mostram margens de erros de dias ou semanas. Uma das explicações para essa ampla variabilidade é o fato de que caracteres externos ao cadáver, como fatores ambientais, interferem na estimativa Mobile User temporal. Dados como clima, temperatura ambiente, umidade, composição do solo e até mesmo o material utilizado na urna para sepultamento interferem na cronologia da putrefação e, em consequência, na estimativa cronológica da morte. Logo, a única assertiva errônea é a que menciona que a estimativa do tempo de morte é muito precisa e não apresenta margem de erro maior que uma hora. As demais estão corretas. Gabarito “A” (DELEGADO DE POLÍCIA/PR – 2013 – COPS-UEL) Leia a manchete a seguir: “Susto: homem é retirado vivo de dentro da geladeira do necrotério. Idoso foi dado como morto por médico após crise de asma.” Não é incomum que em alguns casos ocorram equívocos em relação ao atestado de óbito, como nessa notícia. O Art. 162 do Código de Processo Penal Brasileiro (CPPB) diz que “A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto (...)”. Quanto aos sinais de certeza de morte que autorizam o médico legista a iniciar a autópsia antes de seis horas, assinale a alternativa CORRETA. (a) Os sinais de morte se dividem em fenômenos abióticos e consecutivos. A presença de qualquer sinal abiótico já é compatível com a realidade de morte e autoriza o início da autópsia. (b) São considerados como sinais de certeza de morte aqueles chamados de abióticos consecutivos e que, quando presentes, autorizam a antecipação da autópsia. (c) O médico legista só está autorizado a realizar a autópsia antes de seis horas, caso já se encontrem sinais transformativos como a mancha verde abdominal ou rigidez cadavérica. Mobile User (d) Sãosinais de certeza de morte, autorizadores de antecipação de autópsia, a presença de abolição do tônus muscular, presença de midríase e perda de consciência. (e)É necessária a presença de todos os sinais abióticos consecutivos como rigidez cadavérica, desidratação cadavérica, esfriamento cadavérico e manchas de hipóstases para a realização da autópsia. A: incorreta. Os sinais de morte dividem-se em fenômenos abióticos (imediatos e consecutivos) e fenômenos transformativos. Os sinais abióticos imediatos estão compreendidos no período de incerteza de Tourdes e não fornecem certeza da ocorrência de morte, mas apenas a insinuam, não autorizando a realização da necropsia por sua mera presença; B: correta. A redação do art. 162 do Código de Processo Penal (CPP) remete ao denominado período de incerteza de Tourdes, quando o perito, sem tecnologia a seu dispor, poderá não ter certeza de que uma pessoa está mesmo morta, uma vez que a morte é um processo e não um momento e a cessação das funções vitais não ocorre de forma imediata, sendo um processo gradativo. Os autores em medicina legal afirmam não haver sinal absolutamente patognomônico de morte, antes do surgimento dos fenômenos transformativos, como a putrefação. Contudo, admite-se como verdadeira a afirmação de que os sinais abióticos consecutivos indicam a realidade da morte e autorizam a realização da necropsia, pois já são capazes de demonstrar a instalação dos fenômenos cadavéricos, de ordem química, física ou estrutural. Dessa forma, sinais abióticos imediatos (como perda da sensibilidade e da motilidade e parada da circulação e da respiração) não autorizam a realização da necropsia, pois apenas insinuam a ocorrência da morte e são meros sinais de probabilidade de morte e não de certeza; C: incorreta. A rigidez cadavérica não é um sinal transformativo, mas sim um fenômeno abiótico consecutivo ou mediato. Ademais, não há necessidade de início da putrefação para que se possa realizar uma necropsia; D: incorreta. A abolição do tônus muscular, midríase (dilatação das pupilas) e perda de consciência são sinais abióticos imediatos e não constituem sinais de certeza de morte. Tais sinais, isoladamente, não têm valor absoluto para o diagnóstico de certeza da realidade da morte; E: incorreta. Não é necessária a presença de todos os sinais consecutivos para que se realize a necropsia, sendo necessário, para Mobile User tal, a certeza da ocorrência da morte. Inclusive, alguns dos sinais sofrem forte influência de fatores ambientais e podem ter aparecimento mais tardio que os outros. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA/AC – 2015 – FUNCAB) A desidratação dos globos oculares, com a formação da mancha negra da esclerótica (Sinal de Sommer e Larcher) é considerado fenômeno: (a) abiótico imediato. (b) abiótico consecutivo. (c) abiótico destrutivo. (d) transformativo destrutivo. (e) transformativo conservador. A: incorreta. Fenômenos abióticos imediatos ocorrem devido à cessação das funções vitais. São eles: perda da consciência e da sensibilidade, abolição da motilidade e do tônus muscular, cessação da respiração, da circulação e da atividade encefálica. Não são considerados sinais de certeza de morte; B: correta. A mancha negra escleral ou sinal de Sommer e Larcher ocorre em razão da desidratação ou evaporação cadavérica, com dessecamento da esclera ou esclerótica e visualização do pigmento escuro da coroide (que fica internamente no olho) por transparência. Ocorre quando os olhos permanecem entreabertos após a morte e há maior perda de líquidos na parte em contato com o ar atmosférico. São fenômenos abióticos consecutivos ou mediatos, mais tardios e devido à instalação dos fenômenos cadavéricos químicos e físicos: a desidratação cadavérica, o esfriamento Mobile User cadavérico (algidez ou algor mortis), as manchas de hipóstase (livor mortis) e a rigidez cadavérica (rigor mortis); C: incorreta. Não existem fenômenos abióticos ou avitais destrutivos. Os destrutivos são fenômenos transformativos. Fenômenos abióticos ou avitais dividem-se em imediatos e mediatos/consecutivos. Já os fenômenos transformativos dividem-se em destrutivos e conservadores; D: incorreta. Os fenômenos transformativos destrutivos são autólise, putrefação e maceração; E: incorreta. Os fenômenos transformativos conservadores são mumificação, saponificação ou adipocera, calcificação, corificação, congelação e fossilização. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA PC/PI – 2008 – NUCEPE) A respeito dos fenômenos cadavéricos, considere as seguintes afirmativas: I. O decréscimo do peso, pergaminhamento da pele, dessecamento das mucosas e as modificações oculares são frutos da desidratação dos cadáveres. II. O sinal de Ripault (deformação da íris e da pupila pelo exercício de pressão digital), citado por Veloso, ocorre em torno de 8 horas depois da morte. III. O esfriamento do corpo depois da morte, está sob a influência, por exemplo, do panículo adiposo e pelo fato de estar o corpo coberto ou não por roupas. IV. Quanto maior a diferença de temperatura entre o corpo e a temperatura do ambiente na hora da morte, mais lento será seu esfriamento. São verdadeiras as afirmativas: (A) I e II (B) II e III (C) II e IV (D) I, II, e III (E) Todas I: correta. A desidratação ou evaporação cadavérica é a perda de água dos tecidos após a morte, sendo visível especialmente nas mucosas e nos globos oculares. Os principais sinais oculares devidos à desidratação são a tela viscosa, a opacificação da córnea, o sinal de Sommer e Larcher ou mancha negra escleral e a depressibilidade do globo ocular mediante pressão digital (sinal de Ripault). Outros achados serão a redução do peso corporal, o pergaminhamento da pele e o dessecamento das mucosas; II: correta. O sinal de Ripault é um dos fenômenos oculares que ocorrem em razão da desidratação ou evaporação cadavérica e costuma aparecer com cerca de 8 horas após a morte, devendo-se à perda de tensão do globo ocular pela redução de seu conteúdo aquoso no humor vítreo; III: correta. A velocidade da perda de temperatura do corpo para o meio ambiente após o óbito está na dependência de diversos fatores, dentre eles a própria temperatura do ambiente e da pessoa nos momentos anteriores à morte, o uso de roupas, a idade, o teor de água corporal, a quantidade de gordura (que funciona como isolante térmico) corporal, dentre outros fatores; IV: incorreta. Quanto maior o gradiente diferencial de temperatura entre o corpo e a temperatura do ambiente na hora da morte, mais rápido será seu esfriamento. Será mais lento quanto mais próximas forem as temperaturas corporal e ambiental. Gabarito “D” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/PA – 2016 – FUNCAB) Assinale a alternativa que contém um exemplo de fenômeno cadavérico abiótico consecutivo. Mobile User (a) Saponificação (b) Putrefação (c) Rigidez cadavérica (d) Autólise (e) Relaxamento dos esfíncteres A: incorreta. A saponificação é um fenômeno cadavérico transformativo conservador; B e D: incorretas. A autólise e a putrefação são fenômenos cadavéricos transformativos destrutivos; C: correta. A rigidez cadavérica (rigor mortis) é um fenômeno abiótico consecutivo, assim como a desidratação cadavérica, o esfriamento cadavérico (algidez ou algor mortis) e as manchas de hipóstase (livor mortis); E: incorreta. O relaxamento dos esfíncteres ocorre em razão da abolição do tônus muscular, fenômeno que pode também ocasionar abertura das pálpebras e da boca, dilatação pupilar, dilatação do ânus e presença de esperma no canal uretral. Trata-se de fenômeno abiótico imediato. Gabarito “C” (INVESTIGADOR DE POLÍCIA – PC/MG – 2014) A perda da tensão do globo ocular, o enrugamento da córnea e a mancha negra da esclerótica caracterizam um fenômeno abiótico consecutivo denominado: (a) rigidez cadavérica. (b) espasmo cadavérico. Mobile User (c) esfriamento cadavérico. (d) desidratação cadavérica. A desidratação cadavérica é a perda de água por evaporação dos tecidos orgânicos após a morte. Manifesta-se pelos seguintes achados: diminuiçãodo peso corporal; pergaminhamento da pele; dessecamento das mucosas (quando no olho acarreta a mancha negra escleral ou sinal de Sommer e Larcher); perda da tensão e depressibilidade do globo ocular; formação da tela viscosa no olho, com opacificação da córnea. Após 8 horas de morte, quando se exerce a pressão com o dedo no globo ocular do cadáver, ocorre a sua deformação (sinal de Ripault), pela perda da tensão do globo ocular. O enrugamento da córnea é conhecido como sinal de Bouchut. Gabarito “D” (MÉDICO LEGISTA – POLÍCIA CIVIL MG – 2006) Assinale a alternativa CORRETA. Inicia-se em torno de vinte horas após o óbito: (a) pergaminhamento (b) rigidez (c) autólise (d) mancha verde (e) hipóstases A: incorreta. O pergaminhamento da pele é sinal de desidratação cadavérica, evaporação tegumentar, tratando-se de fenômeno cadavérico consecutivo ou mediato. Não há na doutrina faixa de tempo de seu aparecimento, mas é fenômeno precoce, que antecede a putrefação; B: incorreta. A rigidez cadavérica inicia-se entre 1 e 2 horas após a morte, pelos músculos da face e nuca, chegando ao máximo em cerca de 8 horas (rigidez generalizada, incluindo membros inferiores) e desaparecendo com o início da putrefação; C: incorreta. A autólise é um processo de destruição celular, com fenômenos fermentativos anaeróbios causados pelas próprias enzimas celulares, sem interferência bacteriana. É o mais precoce dos fenômenos cadavéricos e já se inicia pouco depois da morte. Um sinal utilizado para constatá-la é o sinal da forcipressão química de Icard, em que se pinça a pele para drenagem de uma serosidade que será ácida no morto, acidez essa a ser identificada pelo papel azul de tornassol; D: correta. A mancha verde, primeiro sinal macroscopicamente evidente da fase cromática da putrefação, inicia-se em torno de 20 a 24 horas de morte, em nosso meio, podendo aparecer antes desse período. Genival Veloso de França descreve casos em que a mancha verde abdominal foi observada com 18 horas de morte, em locais de clima quente (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 483); E: incorreta. As manchas de hipóstase ou livor mortis, em geral, começam a aparecer em torno de 2 a 3 horas após a morte, sendo que pequenos pontos já podem estar presentes com cerca de 30 minutos. Durante as primeiras 12 horas, podem mudar de posição conforme a situação do cadáver para, depois desse prazo, se fixarem definitivamente. Gabarito “D” (MÉDICO LEGISTA/PE – 2016 – CESPE/CEBRASPE) Assinale a opção CORRETA acerca da rigidez muscular cadavérica (rigor mortis). (a) Em mortes ocorridas durante intenso exercício físico, como no caso de afogados que tentaram se salvar, a rigidez é tardia ou débil. (b) A rigidez muscular do cadáver se deve ao consumo total de ATP existente nos músculos. (c) A rigidez evolui de modo ascendente, iniciando-se pelos membros inferiores até atingir o pescoço. (d) O desaparecimento da rigidez cadavérica coincide com a fase coliquativa e se desfaz na ordem inversa de sua instalação. (e) Em casos de pacientes idosos, magros e portadores de doenças crônicas, a rigidez é precoce e intensa. A: incorreta. Em mortes ocorridas em situações de intenso exercício físico, há grande consumo de oxigênio muscular e de ATP, dificultando a separação do complexo actina-miosina responsável pela rigidez, e esta será precoce e intensa. Diz-se, popularmente, que “ao matar uma galinha, não se deve cansá-la muito porque a carne fica dura”. Isso efetivamente ocorre em razão da rigidez cadavérica intensa pelo consumo de ATP e oxigênio musculares; B: correta. A rigidez é uma variante da contração muscular provocada pela escassez de oxigênio e ATP nos tecidos. O principal fator responsável pela rigidez cadavérica é o teor de ATP muscular no momento da morte. Isso porque é o ATP que fornece energia para liberar o complexo actina-miosina, moléculas responsáveis pela contração muscular. Com a redução ou consumo completo do ATP, tais complexos não se desfazem, o que torna o músculo enrijecido na posição em que estava no momento da morte. Hygino de Carvalho afirma ser a rigidez um fenômeno químico (HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal Texto e Atlas. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014, p.171). Já Genival Veloso de França a considera um fenômeno físico-químico (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 472); C: incorreta. A evolução da rigidez, pela regra de Nysten, é crânio-caudal, ou seja, em sentido descendente. Os membros inferiores são os últimos a ficarem rígidos e a rigidez se inicia pelos músculos da face e da nuca, sendo o primeiro deles o masseter; D: incorreta. O desaparecimento da rigidez (instalação da flacidez cadavérica) se dá na mesma ordem crânio-caudal de sua instalação e coincide com o início da putrefação após cerca de 24 horas e não com a fase coliquativa, embora as faixas temporais sejam muito variáveis, como em toda a cronotanatognose; E: incorreta. A rigidez costuma ser pouco intensa e pode ser até imperceptível em recém-nascidos, crianças pequenas e indivíduos idosos, magros e depauperados por doenças crônicas consumptivas. Gabarito “B” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/SP – 2018 – VUNESP) São os 3 fenômenos abióticos mediatos que ocorrem progressivamente após a morte: algor (resfriamento), livor (manchas de hipóstase) e rigor (rigidez cadavérica). Destes, a rigidez generalizada pode ser observada: (a) entre 4 e 6 horas após o óbito. (b) somente após 48 horas do óbito. (c) entre 24 e 48 horas após o óbito. (d) entre 8 e 24 horas após o óbito. (e) entre 1 e 2 horas do óbito. D: correta. A rigidez inicia-se em torno de 1 a 2 horas após a morte, pelos pequenos grupos musculares da face e da nuca, sendo o primeiro deles o masseter. Sua progressão, pela Lei de Nysten, é crânio-caudal e ela se generaliza com cerca de 8 horas de morte, quando os membros inferiores também já se mostram rígidos. O fenômeno desaparece na mesma ordem em que se iniciou, o que ocorre com o início da putrefação, em torno de 20 a 24 horas após a morte, ocasião em que, inclusive, torna-se visível a mancha verde abdominal. Logo, a rigidez generalizada, em todos os grupos musculares, será observada a partir de 8 horas e antes de 20-24 horas. Gabarito “D” (ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL/PA – 2016 – FUNCAB) Sobre a rigidez cadavérica, é CORRETO afirmar que esta situação: (A) é estudada na traumatologia forense. (B) indica a quantidade de cristais no sangue do cadáver putrefeito. (C) desaparece com o início da putrefação. (D) não pode ser utilizada como indicativo do tempo aproximado da morte. (E) é um fenômeno que impede a atuação da fauna cadavérica. A: incorreta, pois a rigidez é um fenômeno cadavérico abiótico mediato ou consecutivo, objeto de estudo da Tanatologia Forense, que visa analisar o cadáver, a morte e suas repercussões nas esferas jurídica e social (e não da Traumatologia; estudo do trauma, das lesões e das energias causadoras de dano); B: incorreta. Os cristais de Westenhöffer-Rocha-Valverde no sangue putrefeito não apresentam qualquer relação com a rigidez cadavérica, aparecendo a partir do 3o dia de morte, quando a rigidez já se desfez; C: correta. A rigidez desaparece com o início da putrefação – dando origem à flacidez cadavérica –, na mesma ordem crânio-caudal de aparecimento. D: incorreta. A rigidez é um estado de “endurecimento” muscular e fornece dados valiosos para a cronotanatognose, estimativa do tempo de morte. Ela se inicia nos pequenos músculos da face e nuca com cerca de 1-2 horas após a morte, generaliza-se com cerca de 8 horas e dura até o início da putrefação, com cerca de 24 horas de morte. E: incorreta. A rigidez não interfere na atuação da fauna cadavérica, que é responsável pela ocorrência da putrefação, quando o rigor mortis já se desfez. Gabarito “C” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/SP – 2018 – VUNESP) Ainda em relação à rigidez cadavérica, a figura representa a ligação entre a actina e a miosina II, importantesno processo de contratura muscular, consequentemente no processo de rigor mortis. Assinale a alternativa correta. (a) A figura II representa a fase de relaxamento, que necessita de ATP nesse processo e corresponde ao desligamento das duas moléculas. (b) A figura I representa a fase de relaxamento, que necessita de ATP nesse processo e corresponde ao religamento entre as duas moléculas. (c) A figura I representa a fase de relaxamento, que necessita de DNA nesse processo e corresponde ao desligamento entre as duas moléculas. (d) A figura I representa a fase de relaxamento, que necessita de DNA nesse processo e corresponde ao religamento entre as duas moléculas. (e) A figura II representa a fase de relaxamento, que necessita de GUANINA nesse processo e corresponde à dissolução do citosol. A: correta. As figuras mostram representações esquemáticas dos processos de rigidez e relaxamento (flacidez) musculares. Em cada fibra muscular, há miofilamentos de actina e de miosina. Na rigidez (figura 1), tem-se a ligação e formação do complexo actina-miosina. O ATP (adenosina trifosfato) participa na liberação desse complexo actina-miosina e promove, consequentemente, o relaxamento muscular (figura 2). Em situações em que há redução ou consumo do ATP muscular, não haverá a liberação da actina e a separação do complexo: os músculos permanecerão em contratura, sendo a rigidez mais precoce e intensa. Quanto menor o teor de ATP, maior a intensidade da rigidez muscular. Assim, a figura mostra o ATP participando do desligamento das moléculas de actina e miosina e, em consequência, do relaxamento muscular. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA – POLÍCIA CIVIL SP – 2014) Com relação ao sinal abiótico consecutivo rigidez cadavérica ou rigor mortis, é CORRETO dizer que: (a) surge na sequência dos grupos musculares da face, dos membros superiores e inferiores. (b) surge na sequência dos grupos musculares dos membros inferiores, superiores e da face. (c) surgem simultaneamente nos grupos musculares da face, dos membros superiores e inferiores. (d) surgem de modo aleatório nos grupos musculares da face, dos membros superiores e inferiores, sem sequência definida. (e) se trata de fenômeno abiótico imediato. A: correta. A rigidez segue uma progressão de instauração regida pela lei de Nysten, que menciona que a rigidez se instala em uma sequência crânio- caudal: inicialmente, músculos da face e nuca, mandíbula e pescoço; seguindo-se dos membros superiores, do tronco e, finalmente, dos membros inferiores. Desaparece pela mesma ordem; B, C e D: apresentam incorreções quanto à ordem de constatação da rigidez cadavérica; E: incorreta, pois a rigidez é um fenômeno abiótico consecutivo ou mediato. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA/AC – 2015 – FUNCAB) O principal fator que determina a intensidade e duração da rigidez cadavérica é: (a) teor de adenosina trifosfato muscular. (b) teor de miosina nas fibras musculares. (c) teor de actina nas fibras musculares. (d) temperatura ambiente no momento da morte. (e) modificações produzidas pela autólise celular. A rigidez é uma variante da contração muscular provocada pela escassez de oxigênio e ATP nos tecidos. A rigidez é um fenômeno multifatorial; contudo, o principal fator responsável pela rigidez cadavérica é o teor de ATP muscular no momento da morte, pois a molécula é a responsável por fornecer energia para liberar o complexo actina-miosina. Com sua redução ou consumo completo, o complexo não se desfaz, o que torna o músculo enrijecido na posição em que estava no momento da morte. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA/PE – 2016 – CESPE/CEBRASPE) De acordo com a tanatologia forense, é CORRETO afirmar que: (a) as hipóstases apresentam coloração vermelho-carmim ou vermelho- cereja, nos casos de envenenamento por monóxido de carbono. (b) as hipóstases apresentam coloração acinzentada, nos casos de envenenamento por cianeto. (c) as hipóstases ocorrem em qualquer região do corpo, ao passo que as equimoses aparecem somente nas áreas de maior declive. (d) as hipóstases têm contornos delimitados e as equimoses, difusos. (e) as equimoses, quando incisadas, resultam no extravasamento do sangue fluido contido nos capilares. A: correta. A cor dos livores ou manchas de hipóstase pode variar de acordo com a causa da morte, pois é a hemoglobina a responsável pela coloração. Logo, variações na quantidade e ligação dessa molécula interferem na cor das hipóstases. Classicamente, em casos de aspiração de monóxido de carbono, há uma asfixia a nível tissular (dos tecidos), pois o monóxido de carbono promove uma ligação estável com a hemoglobina, formando carboxiemoglobina e expulsando o oxigênio de sua ligação com a molécula. Logo, a hemoglobina não levará oxigênio aos tecidos do corpo e haverá, portanto, redução do nível de oxigênio nesses tecidos, o que se denomina asfixia tissular. Os livores terão clássica coloração vermelho-carmim por causa da formação da carboxiemoglobina, que tem cor vermelho-cereja, especialmente quando se atinge a concentração de 30% de carboxiemoglobina; B: incorreta. Em casos de intoxicações por cianeto e também pelo fluoroacetato, há bloqueio da respiração celular e do consumo do oxigênio, o que leva à manutenção de elevados teores de oxiemoglobina no sangue, tornando os livores de cor vermelha intensa e viva; C, D e E: incorretas. É importante diferenciar uma mancha de hipóstase de uma equimose. Uma hipóstase ou livor cadavérico surge quando há parada da circulação sanguínea, com o consequente acúmulo de sangue nas áreas de declive, pela ação da gravidade. Logo, as manchas de hipóstase surgem nas áreas de declive, não têm infiltração hemorrágica nas malhas dos tecidos ao corte, mostram sangue de depósito e, quando são cortadas e lavadas em água corrente, ficam brancas pelo gotejamento do sangue contido nos pequenos vasos sanguíneos. Nas equimoses, o sangue encontra-se infiltrado nas malhas dos tecidos; são produzidas em vida e têm contornos delimitados, enquanto as hipóstases têm limites difusos. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA – PC/MA – 2012 – FGV) O livor hipostático é um elemento de análise da cronotanatognose. A respeito dessa característica assinale a afirmativa incorreta. (A) A localização pode ser um elemento de diferenciação com equimose. (B) A presença de malhas de fibrina sugere tratar-se de livor hipostático de longa duração. (C) Os livores hipostáticos podem mudar de posição nas primeiras 12 horas post mortem. (D) A desnutrição pode modificar a ocorrência do livor hipostático. (E) A ausência de transformação hemoglobínica sugere tratar-se de livor hipostático. A: correta. Os livores de hipóstase localizam-se habitualmente nas áreas de declive do corpo, pela ação da gravidade após a interrupção dos batimentos cardíacos e, em consequência, da circulação sanguínea. Já as equimoses podem se localizar em qualquer região do corpo. B: incorreta, pois os livores não têm malhas de fibrina. Uma das formas de diferenciar uma mancha de hipóstase de uma equimose é avaliar o aspecto ao corte: uma equimose apresenta sangue coagulado e infiltrado nas malhas dos tecidos, com redes de fibrina. C: correta, pois os livores são móveis nas primeiras 12 horas após a morte, se fixando a partir desse período. D: correta, pois estados de desnutrição e anemias agudas podem modificar a ocorrência e a cronologia dos livores. E: correta. A transformação hemoglobínica ocorre nas equimoses e não nos livores hipostáticos, explicando, inclusive, a variação de cor de uma equimose no tempo, de acordo com o espectro equimótico de Legrand du Saulle. Já nos livores, não ocorre decomposição da hemoglobina em outros compostos derivados. Gabarito “B” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2008 – FUMARC) Um cadáver de homem adulto apresenta rigidez generalizada, manchas de hipóstase fixas no dorso, ausência de mancha verde abdominal e desaparecimento das artérias do fundo de olho. Qual o provável tempo de morte em horas? (a) Menos de duas. (b) Mais de duas e menos de quatro. (c) Maisde quatro e menos de seis. (d) Mais de oito e menos de dezesseis. D: correta. A rigidez generalizada indica um tempo de morte superior a 8 horas, quando já se percebe a rigidez até mesmo nos membros inferiores. As manchas de hipóstase são móveis nas primeiras 12 horas após a morte, o que significa dizer que elas podem mudar de posição conforme a situação do cadáver. Elas se fixam em torno de 12 horas, permanecendo na mesma situação a partir daí, mesmo se alguém alterar a posição do cadáver. Já a mancha verde abdominal, em nosso meio surge com cerca de 20 a 24 horas de morte, podendo surgir antes desse período: ela revela o início da fase cromática da putrefação. O exame de fundo de olho também demonstra sinais de cronotanatognose; com cerca de 15 horas de morte, observa-se o desaparecimento das artérias do fundo de olho. Logo, se o cadáver já apresenta rigidez generalizada, mas ainda não há o surgimento da mancha verde abdominal, tendo as artérias de fundo de olho desaparecido, podemos dizer que há certamente mais de 8 horas de morte, mas ainda não iniciou a putrefação. A assertiva contida na letra “d” é a mais adequada, uma vez que as demais apresentam tempos de morte muito precoces, quando ainda não haveria rigidez generalizada, tampouco manchas de hipóstase fixas e desaparecimento das artérias do fundo de olho. Gabarito “D” (INVESTIGADOR DE POLÍCIA CIVIL – BA/2018 – VUNESP) Senhora de 73 anos de idade, viúva, com antecedentes de diabetes mellitus e doença arterial coronariana, mas sem acompanhamento médico há 5 anos, é encontrada morta na cama onde habitualmente dormia, quando a filha foi visitá-la. Após acionar a autoridade policial, logo a equipe pericial chega ao local de morte. Aparentemente, não houve alteração da cena. O cadáver estava em decúbito dorsal, sem sinais de injúrias externas, com livores de hipóstase fixos, rigidez cadavérica em todo o corpo e ausência de mancha verde abdominal. Considerando a temperatura ambiente de aproximadamente 20º e ausência de fatores internos e externos que possam influenciar a cronologia de fenômenos cadavéricos, constitui, com maior probabilidade, uma estimativa aproximada do tempo de morte (intervalo post mortem): (a) 4 horas. (b) 7 horas. (c) 15 horas. (d) 24 horas. (e) 36 horas. A rigidez generalizada indica um tempo de morte superior a 8 horas, quando já se percebe a rigidez até mesmo nos membros inferiores. As manchas de hipóstase são móveis nas primeiras 12 horas após a morte, o que significa dizer que elas podem mudar de posição conforme a situação do cadáver. Elas se fixam em torno de 12 horas, permanecendo na mesma situação a partir daí, mesmo se alguém alterar a posição do cadáver. Já a mancha verde abdominal, em nosso meio surge com cerca de 20 a 24 horas de morte, podendo surgir antes desse período em ambientes muito quentes ou em circunstâncias em que a putrefação é precoce: ela revela o início da fase cromática da putrefação. O exame de fundo de olho também demonstra sinais de cronotanatognose; com cerca de 15 horas de morte, observa-se o desaparecimento das artérias do fundo de olho. Logo, se o cadáver já apresenta rigidez generalizada, mas ainda não há o surgimento da mancha verde abdominal, tendo as artérias de fundo de olho desaparecido, podemos dizer que há certamente mais de 8 horas de morte, mas ainda não iniciou a putrefação. A assertiva contida na letra “c” é a mais adequada: cerca de 15 horas de morte. Em 4 ou 7 horas, ainda não haveria fixação dos livores ou rigidez generalizada; em 24 ou 36 horas, já teríamos sinais de putrefação e a rigidez generalizada não mais estaria presente, já estaria se desfazendo. Gabarito “C” (DELEGADO DE POLÍCIA/PR – 2013 – COPS-UEL) Leia o laudo de autópsia que demonstra as informações a seguir. I. Temperatura retal com perda de 2,5ºC em relação à temperatura média do ambiente. II. Presença de livores cadavéricos (hipóstases) em declives e em face posterior do pescoço, móveis. III. Rigidez cadavérica em membros superiores. IV. Ausência de gases de putrefação ou de mancha verde abdominal. O tempo de morte médio, ocorreu, aproximadamente, (a) em menos de 1 hora. (b)entre 1 a 2 horas. (c) entre 3 a 4 horas. (d) entre 6 a 7 horas. (e) entre 8 a 9 horas. C: correta. O esfriamento cadavérico é algo variável e bastante dependente do clima e da temperatura ambiental. Estima-se que, em nosso meio e nas primeiras três horas de morte, a queda da temperatura seja em torno de 0,5ºC por hora, sendo que, da quarta hora em diante, o decréscimo seja de cerca de 1,0º por hora, até cerca de 12 horas após a morte. Logo, uma perda de 2,5ºC poderia corresponder a um tempo de morte de cerca de 4 horas. A presença de livores móveis em áreas de declive do corpo indica um tempo de menos de 12 horas de morte, pois esse é o período aproximado em que ocorre a fixação dos livores ou hipóstases. A rigidez cadavérica já atingindo membros superiores indica tempo de morte de cerca de 2 a 4 horas; da 4ª à 6ª hora, relata-se o surgimento da rigidez nos músculos torácicos e abdominais e, finalmente, da 6ª à 8ª hora a rigidez atinge os membros inferiores, sendo generalizada com cerca de 8 horas de morte. A ausência de gases da putrefação e da mancha verde abdominal indicam um tempo de morte inferior a 20 horas. Portanto, associando-se especialmente os dados da rigidez e do esfriamento cadavérico, tem-se um tempo de morte aproximado de 3 a 4 horas. Gabarito “C” (MÉDICO LEGISTA AMAPÁ – 2016 – FCC) Os fenômenos cadavéricos podem ser divididos em dois grandes grupos, os abióticos e os transformativos. Em relação aos fenômenos que ocorrem no cadáver: (a) a causa da morte não interfere na velocidade da putrefação. (b) o período de coloração é decorrente do acúmulo de ptomaína nos vasos periféricos. (c) as manchas de hipóstase surgem após o início da fase gasosa da putrefação. (d) a rigidez cadavérica é resultante da supressão de oxigênio celular. (e) a autólise é o primeiro sinal cadavérico decorrente da interferência bacteriana. A: incorreta. A causa da morte pode interferir na velocidade da putrefação. Pessoas com grandes infecções e mutilações podem ter a putrefação adiantada (propensão a maior proliferação bacteriana), enquanto tratamentos prolongados com antibióticos no período logo anterior à morte podem atrasar o início da putrefação, em razão da diminuição da proliferação bacteriana. Asfixia tecidual por monóxido de carbono também é uma hipótese em que a putrefação é tardia, pois o gás tem toxicidade até mesmo para as bactérias; B: incorreta. A ptomaína está associada à fase gasosa da putrefação, em que há grande decomposição proteica, com formação de compostos nitrogenados de odor repulsivo. Na fase de coloração, há formação de compostos hidrogenados e sulfurados, como o gás sulfídrico produzido por bactérias, que se combinam à hemoglobina e originam a sulfometemoglobina, responsável pela coloração esverdeada do cadáver; C: incorreta. As manchas de hipóstase são fenômenos cadavéricos abióticos mediatos ou consecutivos e surgem precocemente, iniciando em torno de 2 a 3 horas de morte. A fase gasosa é a segunda etapa da putrefação, surgindo logo após a fase de coloração, que é revelada pela mancha verde abdominal; D: correta. A rigidez é processo multifatorial e resulta, de forma geral, da supressão do ATP e do oxigênio celular intramuscular. A redução do ATP impede que ocorra o desligamento entre os filamentos de actina e miosina, que mantêm a rigidez como uma espécie de contratura muscular; E: incorreta. A autólise é um processo de destruição celular, fenômeno precoce caracterizado por processos fermentativos anaeróbios e atividade de enzimas intracelulares que geram a acidificação dos tecidos. Não há nenhuma interferência bacteriana nesse processo; trata-se de processo enzimático intracelular, microscópico. Gabarito “D” (MÉDICO LEGISTA – PC/GO – 2015 – SEGPLAN) Na Tanatologia, a cronotanatognose é o estudo, por meio de sinais físicos e químicos, da estimativa da hora da morte. Quantoaos fenômenos cadavéricos ligados e esse estudo, assinale a alternativa CORRETA. (a) A desidratação é um fenômeno cadavérico de ordem física que causa perda de peso, pergaminhamento da pele, dessecamento das mucosas e fenômenos oculares nos cadáveres. (b) Resfriamento do corpo (algidez cadavérica), livores hipostáticos, rigidez muscular e desidratação são fenômenos cadavéricos de ordem física. (c) A regra de Nysten é aplicável ao fenômeno cadavérico de ordem química denominado putrefação. (d) A rigidez cadavérica nada mais é do que uma variante da contração muscular provocada pela escassez de oxigênio nos tecidos. Assim, nos casos de morte rápida, natural ou violenta, tende a aparecer mais cedo e a durar menos. (e) A mancha negra da esclerótica, também conhecida como sinal de Sommer, tem sua gênese no processo de autólise, um fenômeno cadavérico de ordem química. A: correta. Os sinais descritos na assertiva são os mais relevantes na desidratação cadavérica, fenômeno de ordem física cuja rapidez depende de condições que favoreçam a evaporação. Os principais fenômenos oculares são a tela viscosa, a opacificação da córnea, a mancha negra escleral e a hipotonia e depressibilidade do globo ocular; B: incorreta; segundo Hygino de Carvalho Hércules, são fenômenos de ordem física a desidratação, o resfriamento cadavérico e os livores hipostáticos. Os de ordem química seriam a autólise, a rigidez muscular, a putrefação, a maceração e os fenômenos transformativos conservadores (HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal Texto e Atlas. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014, p.166). Genival Veloso de França entende que a rigidez cadavérica é um fenômeno de ordem físico-química (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 472); C: incorreta. A regra de Nysten é aplicável à rigidez cadavérica, de evolução descendente crânio-caudal; D: incorreta. A rigidez cadavérica efetivamente é uma variante da contração muscular provocada pela escassez de oxigênio nos tecidos. Contudo, nos casos de morte rápida, natural ou violenta, demora um pouco mais a se instalar e atingir sua intensidade máxima, além de persistir por mais tempo; E: incorreta. A mancha negra escleral tem sua gênese no fenômeno físico da desidratação cadavérica, por ser consequente à perda de água da esclera, com a visualização do pigmento da coroide por transparência. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA – PC/DF 2015 – FUNIVERSA) No esclarecimento da causa da morte, é importante a aplicação de conceitos técnicos em tanatologia para um melhor entendimento dos sinais encontrados no cadáver. Quanto à cronotanatognose, é CORRETO afirmar que: (a) as técnicas atuais à disposição dos peritos tornaram possível o estabelecimento da hora da morte com precisão, não sendo pertinente a consignação, nos laudos cadavéricos, de uma aproximação em uma faixa de tempo segura que inclua o momento real da morte. (b) o fenômeno cadavérico que tem como fatores de influência, na sua rapidez de instalação, baixa umidade do ar, temperatura elevada, boa ventilação e superfície corporal ampla é conhecido como livor hipostático. (c) o sinal de Sommer, também conhecido como mancha negra esclerótica, apresenta relação direta com a ocorrência de algidez cadavérica. (d) os livores hipostáticos são um sinal precoce da realidade da morte. (e) a temperatura corporal é mantida por um equilíbrio entre a produção interna de calor (reações químicas) e as perdas para o meio ambiente nas quais o aquecimento da pele e a irradiação de calor se dão pela presença da circulação sanguínea, que cessa após a morte, desaparecendo assim o principal mecanismo de aquecimento da pele e favorecendo a constatação de um fenômeno cadavérico de ordem física denominado algidez cadavérica. A: incorreta. Apesar da evolução tecnológica na medicina legal, a cronotanatognose ainda apresenta faixas muito variáveis de estimativa de tempo de morte, não se podendo estabelecer com precisão o exato momento da morte. Deve-se buscar uma aproximação em uma faixa de tempo tão segura quanto possível; B: incorreta. O fenômeno cadavérico que tem como fatores de influência, na sua rapidez de instalação, baixa umidade do ar, temperatura elevada, boa ventilação e superfície corporal ampla é a desidratação cadavérica; C: incorreta. A mancha negra escleral associa-se à desidratação cadavérica e não à algidez ou algor mortis, que é o resfriamento cadavérico; D: incorreta. Os sinais precoces da realidade da morte decorrem especialmente da parada cardiorrespiratória, não se podendo incluir os fenômenos cadavéricos consecutivos nesses sinais iniciais; E: correta. Hygino de Carvalho Hércules explica que um dos principais mecanismos de perda de calor é a irradiação a partir da superfície cutânea, sendo a circulação sanguínea o principal mecanismo de aquecimento da pele. Com sua cessação, a pele passa a obedecer as leis da termodinâmica e se instala o resfriamento cadavérico de forma progressiva (HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal Texto e Atlas. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014, p.167). Gabarito “E” (DELEGADO GOIÁS – 2013 – UEG) Delegado de Polícia na cena do crime encontra um cadáver com livores fixos no dorso, equimoses arroxeadas no braço direito e no tórax, com os pés pendentes sobre o solo através de um laço envolto no pescoço com sulco único, contínuo e horizontal. Diante do exposto, tem-se que: (a) A investigação deve ser direcionada com base na hipótese de suicídio. (b) Os achados são compatíveis com óbito por asfixia mecânica por enforcamento. (c) As lesões equimóticas foram produzidas após a morte, que ocorreu 4 horas antes. (d) O corpo foi manipulado após a morte, antes do isolamento do local do crime. A e B: incorretas. Não há indícios de morte por asfixia devido a enforcamento suicida, mas sim de simulação de suicídio; C: incorreta. Equimoses são lesões produzidas em vida e não após a morte, por constituírem áreas de infiltração hemorrágica nas malhas dos tecidos. Ademais, o corpo tem sinais de morte em período superior a 4 horas, sobretudo em razão dos livores fixos, que indicam morte ocorrida há mais de 12 horas; D: correta. A questão descreve um cadáver que foi encontrado em posição de suspensão completa com os pés pendentes sobre o solo, o que poderia sugerir um enforcamento suicida. Contudo, os livores estão fixos no dorso, o que demonstra que, no período de sua fixação (cerca de 12 horas de morte), o cadáver esteve em decúbito dorsal. Depois desse período, portanto, o corpo foi colocado em posição de suspensão. Chama a atenção ainda o fato de o sulco cervical ser contínuo e horizontal, o que não se observa em um típico enforcamento, cujo sulco cervical é oblíquo superior, heterogêneo e descontínuo na área do nó. Logo, há indícios de que o corpo foi manipulado após a morte, especialmente após o período de fixação dos livores. Gabarito “D” (MÉDICO LEGISTA – PC/ES – 2019 – AOCP) Técnicas cronotanatognósticas compreendem a observação de modificações e fenômenos que se instalam progressivamente no cadáver que possibilitam estimar um lapso temporal desde o momento da morte. Sobre esse assunto, assinale a alternativa correta. (A) O crescimento do pelo da barba possibilita estimar o intervalo desde a morte. (B) Quanto maior o tempo decorrido da morte, mais precisa é a estimativa temporal. (C) Algor mortis e rigor mortis não são úteis para estimar o intervalo desde a morte. (D) As manchas de hipóstase podem ser utilizadas para estimar o intervalo desde a morte, especialmente por não se fixarem no cadáver. (E) Não é possível aplicar técnicas cronotanatognósticas em corpos esqueletizados. A: correta. Embora constitua fenômeno de pouquíssima aplicabilidade prática e enorme incerteza, Genival Veloso de França admite a possibilidade de se estimar o intervalo pós morte pelo crescimento dos pelos da barba, desde que se conheça a hora em que o indivíduo barbeou-se pela última vez (FRANÇA, Genival Veloso. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 2017, p. 483). B: incorreta, pois quanto maior o tempo decorrido após a morte, mais dificultosa e imprecisa será tal estimativa. C: incorreta; a algidez (esfriamento cadavérico) e a rigidez são fenômenos que, embora variáveis a depender das condições ambientais e cadavéricas, mostram-se valiosos para a estimativa temporal na cronotanatognose. D: incorreta, uma vez que as manchas de hipóstase se fixam em torno de 12 horas após a morte. E: incorreta, pois a fase de esqueletização, última fase da putrefação, também fornece elementos para a avaliação cronotanatognóstica, sendo que a esqueletização complete é descrita como ocorrendo de 1 a 3 anos após a morte. Até mesmo a fossilização, que exige períodos muito longos para sua ocorrência, tem importância na análise cadavérica. Gabarito “A” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/SP – 2012 – PC-SP) No processo de putrefação do cadáver se sucedem as seguintes fases, pela ordem: (a) gasosa, cromática, coliquativa e de esqueletização. (b) cromática, gasosa, coliquativa e de esqueletização. (c) cromática, coliquativa, gasosa e de esqueletização. (d) gasosa, coliquativa, cromática e de esqueletização. (e) coliquativa, cromática, gasosa e de esqueletização. B: correta. A putrefação é um fenômeno cadavérico transformativo destrutivo que se desenvolve em quatro fases, nessa ordem: cromática ou de coloração – cujo primeiro sinal macroscopicamente evidente é a mancha verde, geralmente abdominal –, gasosa ou enfisematosa; coliquativa ou liquefativa e, por fim, esqueletização. As fases não têm início e fim precisamente definidos no tempo e seus limites habitualmente se superpõem. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA/ES – 2013 – FUNCAB) Com relação à marcha do processo de putrefação, assinale a alternativa CORRETA. (a) O processo de putrefação inicia-se com a fase de gaseificação. (b) A mancha verde, no caso dos afogados, costuma aparecer ao nível do pescoço e do terço superior do tórax. (c) A mancha verde abdominal surge inicialmente, na maioria das vezes, na fossa ilíaca esquerda, lado esquerdo e inferior do abdômen. (d) Nas bolhas de putrefação observa-se a reação de Chambert. (e) Em natimortos, a mancha verde inicia-se no pescoço e posteriormente vai descendo pelo corpo. A: incorreta. A fase gasosa ou enfisematosa é a segunda fase da putrefação, que se inicia pela fase cromática ou de coloração; B: correta. A mancha verde é o primeiro sinal macroscopicamente evidente da putrefação em sua fase inicial – cromática ou de coloração – e costuma aparecer, em nosso meio, em cerca de 20 a 24 horas após a morte. Habitualmente e em adultos, situa-se na fossa ilíaca direita, em razão da localização do ceco, parte mais calibrosa e superficial do intestino grosso. Contudo, nos afogados, a mancha verde costuma aparecer no pescoço, esterno e parte superior do tórax. Isso porque, em razão da aspiração pelo afogado de água contaminada, a proliferação bacteriana que dá início à marcha da putrefação será intensa nessas regiões; C: incorreta. O local habitual de surgimento da mancha verde abdominal em adultos é na fossa ilíaca direita, lado direito e inferior do abdômen, pela presença do ceco; D: incorreta. O sinal de Chambert caracteriza reação em vida e aparece nas bolhas (flictenas) das queimaduras de segundo grau produzidas no vivo, contendo em seu interior líquido amarelo claro, com proteínas e células inflamatórias; E: incorreta. A mancha verde inicia-se no pescoço de neomortos, infantes nascidos ou recém-nascidos (e não em natimortos ou nascidos mortos), pois eles têm conteúdo intestinal estéril e adquirem bactérias pelo ar atmosférico quando se iniciam as incursões respiratórias após o nascimento com vida. Gabarito “B” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2011 – FUMARC) Constituem fatores que interferem na evolução da putrefação cadavérica, EXCETO: (a) Temperatura ambiente. (b) Espasmo cadavérico. (c) Idade do morto. (d) Umidade do ar. B: incorreta. O espasmo cadavérico caracteriza-se pela rigidez abrupta, generalizada e violenta, sendo fenômeno raro e até mesmo discutível, significando a manutenção das últimas atitude e posição tomadas pelo indivíduo antes de morrer, sem a fase de relaxamento muscular que normalmente antecede a rigidez cadavérica. Não há qualquer interferência com a evolução da marcha da putrefação; A, C e D: corretas. São fatores que interferem na evolução da putrefação cadavérica: temperatura, aeração, umidade do ar, condições do solo, peso corporal, idade do morto, condições físicas e causa da morte. A putrefação é mais rápida em recém- nascidos, crianças, pessoas obesas, vítimas de graves infecções e grandes mutilações. Gabarito “B” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/SP – 2018 – VUNESP) A putrefação é o processo de decomposição da matéria orgânica por bactérias e pela fauna macroscópica, sendo um fenômeno destrutivo e transformativo, que acaba por devolvê-la à condição de matéria inorgânica. Alguns fatores podem influir e alterar esse processo, dentre eles a temperatura ambiente. Podemos então afirmar corretamente que temperaturas: (a) abaixo de zero grau celsius tendem a conservar indefinidamente o corpo. (b) entre 10 e 15 graus celsius tendem a conservar o cadáver por cerca de 48 horas. (c) abaixo de 5 graus celsius aceleram o processo. (d) entre 5 e 10 graus celsius tendem a conservar indefinidamente o corpo. (e) acima de 25 graus celsius não aceleram o processo. Genival Veloso de França afirma que, em temperaturas abaixo de zero grau celsius, a marcha da putrefação não se inicia (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 474), podendo conservar o corpo por tempo incerto ou indefinido. Em locais de climas quentes, a putrefação pode se iniciar muito precocemente, antes mesmo de 24 horas de morte. Em países europeus e norte-americanos, com climas mais frios, os trabalhos mostram fase inicial começando após 36 horas de morte. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA – POLÍCIA CIVIL SP – 2014) No exame do cadáver em putrefação, a chamada “mancha verde abdominal” ocorre no(a): (a) hipocôndrio direito, pela presença da bile na vesícula biliar. (b) fossa ilíaca esquerda, pela presença do sigmoide. (c) hipocôndrio esquerdo, pela presença do cólon descendente. (d) fossa ilíaca direita, pela presença do ceco. (e) região pubiana, pela presença do reto. A mancha verde revela o início da fase cromática ou de coloração da putrefação e, habitualmente em adultos, ocorre na região abdominal, mais propriamente na fossa ilíaca direita. Tal localização ocorre em razão da presença do ceco, porção do intestino grosso de maior calibre, mais ampla (maior conteúdo fecal e, em consequência, de bactérias intestinais) e mais superficial e próxima da parede abdominal. Logo, haverá mais intensa proliferação bacteriana nesse local, sendo a coloração esverdeada mais rapidamente visível na pele da fossa ilíaca direita. Ressalte-se que a mancha verde pode mais raramente aparecer à esquerda no abdome e também no tórax e região do pescoço; nesse último caso, em situações de afogamento (pois a água contaminada presente na via aérea dará início à putrefação nesse local) e em recém-nascidos, já que esses não têm ainda formação de fezes intestinais e adquirem bactérias pelo ar atmosférico, pela respiração. Gabarito “D” (MÉDICO LEGISTA – POLÍCIA CIVIL MG – 2006) Assinale a afirmativa CORRETA. Com relação à fase coliquativa da putrefação, pode-se afirmar: (a) É um fenômeno abiótico imediato. (b) Ocorrem perdas líquidas e desaparecimento do enfisema. (c) Inicia-se antes de seis horas após a morte. (d) Antecede ao aparecimento da mancha verde abdominal. (e) É fenômeno asséptico. A: incorreta. A putrefação é um fenômeno cadavérico transformativo destrutivo. Fenômenos abióticos imediatos são a cessação da circulação, da respiração e das funções encefálicas, perda da consciência e da sensibilidade, abolição da motilidade e do tônus muscular; B: correta. A fase coliquativa ou liquefativa se segue à fase gasosa e é o momentoem que ocorre a dissolução pútrida do cadáver por germes. Há, portanto, perdas líquidas e de partes moles, com desaparecimento dos gases da putrefação que caracterizam a fase gasosa antecedente; C: incorreta. A fase coliquativa é mais tardia e começa em torno de 2 a 3 semanas após a morte; D: incorreta. A fase coliquativa é posterior à fase de coloração, quando surge a mancha verde abdominal em torno de 20 a 24 horas de morte; E: incorreta. A fase liquefativa é um fenômeno séptico ou infectado, já que consiste na dissolução pútrida do cadáver pela ação de germes da fauna necrofágica. Um fenômeno transformativo asséptico – que não se relaciona à proliferação bacteriana – é a autólise, que depende da ação de enzimas celulares que acidificam os tecidos. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA – PC/DF 2015 – FUNIVERSA) A fase da putrefação que aparece após 18 a 24 horas de morte e é caracterizada pela distensão abdominal resultante da produção de gás por bactérias, que comprime os grandes vasos e o coração, levando à ocorrência da circulação póstuma de Brouardel, denomina-se: (a) fase de enfisema. (b) fase de coliquação. (c) fase de coloração. (d) maceração. (e) mancha verde abdominal. A: correta. A fase gasosa ou enfisematosa caracteriza-se pela produção de gases pela fermentação bacteriana. Os principais fenômenos observados nessa fase são especialmente causados pela força dos gases nas grandes cavidades. A circulação póstuma de Brouardel decorre da produção de gases no interior dos vasos sanguíneos, em razão da decomposição do sangue pela ação bacteriana, com dilatação dos vasos e formação do desenho vascular evidente na superfície cutânea; B: incorreta. A fase coliquativa ou liquefativa caracteriza-se pela dissolução pútrida do cadáver com grandes perdas líquidas e teciduais e desaparecimento dos gases; C e E: incorretas. A mancha verde abdominal revela a primeira fase da putrefação, cromática ou de coloração; D: incorreta. A maceração é um fenômeno cadavérico transformativo destrutivo distinto da putrefação e ocorre em meio líquido, como em casos de fetos mortos retidos no ambiente uterino (maceração asséptica) e afogamento (maceração séptica). Gabarito “A” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/CE – 2015 – VUNESP) A tanatologia forense usa de diversas e poderosas ferramentas para tentar estabelecer a identificação de um cadáver, o mecanismo e a causa da morte, o diagnóstico diferencial médico–legal, entre outras. Com essas considerações, é CORRETO afirmar: (a) com relação ao diagnóstico jurídico da morte com suspeita de violência oculta, as características são: lesões externas discretas a moderadas, mas ainda indefinidas, suspeita inicial de lesões ocultas (traumatismos, envenenamentos etc.) ou nos casos de estados de decomposição avançada. (b) apesar de todas as ferramentas modernas, há casos em que não é possível esclarecer a causa da morte, tendo que se concluir por morte de causa indeterminada. Alguns estudos revelam que a percentagem de mortes de causa indeterminada, mesmo depois de realizada a autópsia médico- legal, varia de centro para centro, mas pode chegar a 50%. (c) a rigidez cadavérica resulta da supressão de oxigênio às células e acúmulo de ácido lático. Embora variável, de maneira geral, começa entre 1 e 3 horas após a morte, em condições de temperatura ambiente usual. Inicia-se na mandíbula e na nuca e progride no sentido craniocaudal, desaparecendo após 24 horas, eventualmente após 36 a 48 horas. (d) as características da fase coliquativa são: pele íntegra, abertura dos orifícios naturais e perda do volume do corpo. Ela tem início em 48 horas e pode durar até 3 semanas. (e) os livores de hipóstase são manchas que se formam nas partes em declive do cadáver, por consequência da ausência de fluxo sanguíneo. Eles têm tonalidade violácea, surgem em torno da 10ª hora após a morte e fixam-se em torno da 20ª hora. A: incorreta. Na morte com suspeita de violência oculta, não há lesões externas indicativas de violência, podendo existir suspeita inicial de lesões ocultas (como traumatismos internos e envenenamentos), também assim considerando-se os casos de corpos em estado de decomposição avançada. A presença de indícios de lesões externas discretas, mas que não podem ter sua causa evidenciada apenas pelo exame externo, corresponde à chamada violência indefinida e não violência oculta; B: incorreta. Há situações em que não se identifica a causa da morte, mesmo após a realização de uma necropsia, seja por estar o corpo em estado avançado de putrefação, seja em razão de limitações estruturais na prática do exame. Chama-se o fato de “necropsia branca”, sendo admitido que ela ocorra em aproximadamente 1 a cada 200 casos; logo, o percentual de 50% descrito na assertiva é muito alto e não se admite; C: correta. A rigidez é fenômeno multifatorial que tem como principal causa a supressão de ATP e oxigênio musculares, podendo também o acúmulo de ácido lático contribuir para sua etiopatogênese. Os primeiros músculos a ficarem rígidos, em torno de 1-2 horas de morte, são os pequenos grupos musculares da face e da nuca. A rigidez se extingue também no sentido crânio-caudal de seu aparecimento, a partir do início da putrefação, que, em nosso meio, ocorre em torno de 24 horas de morte, podendo ocorrer mais tardiamente em situações de clima mais frio; D: incorreta; na fase coliquativa da putrefação, há a dissolução pútrida das partes moles do cadáver: a pele se desintegra e o corpo vai perdendo sua forma. Essa fase de inicia em torno de 2 a 3 semanas de morte; E: incorreta. Os livores de hipóstase têm tonalidade violácea e se formam em áreas de declive pelo acúmulo de sangue por ação da gravidade, quando cessa a circulação. Contudo, elas se iniciam em torno de 2 a 3 horas após a morte e se fixam com cerca de 12 horas de morte, mais precocemente do que o descrito na assertiva. Gabarito “C” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/SP – 2014 – VUNESP) Considere a situação em que um cadáver é encontrado por seus familiares em domicílio, 4 dias após a morte. Assinale a alternativa que corresponde ao fenômeno cadavérico que já se desfez, nesse período (4 dias). (a) Gases inflamáveis derivados de ação de bactérias facultativas. (b) Rigidez cadavérica. (c) Cristais de Westenhöffer-Rocha-Valverde no sangue periférico. (d) Mancha verde disseminada por todo o corpo. (e) Livores de hipóstase. A: incorreta. No 1º dia de morte, há gases não inflamáveis produzidos por bactérias aeróbias produtoras de gás carbônico. Do 2º ao 4º dia, encontram- se gases inflamáveis produzidos por bactérias facultativas, que formam hidrogênio e hidrocarbonetos; do 5º dia em diante, são produzidos azoto e amônias, compostos não inflamáveis; B: correta. A rigidez cadavérica desaparece com o início da putrefação, após 24 horas, cedendo lugar à flacidez no mesmo sentido de seu aparecimento, crânio-caudal. Com 4 dias de morte, o corpo já não mostra mais nenhum grupamento muscular rígido. Nas demais assertivas – à exceção da letra “e”, como será discutido –, são descritos sinais presentes em um cadáver com cerca de 4 dias de morte; C: incorreta. Os cristais de Westenhöffer-Rocha-Valverde são formações que surgem a partir do 3º dia de morte no sangue putrefeito e podem permanecer até cerca de 35 dias depois da morte; D: incorreta. A mancha verde abdominal surge, em nosso meio, em torno de 20 a 24 horas de morte e se estende a todo o corpo com cerca de 3 a 5 dias de morte; E: a banca examinadora cometeu uma impropriedade ao considerar que, no 4º dia após a morte, os livores ainda estariam presentes. Genival Veloso de França é claro ao afirmar que as manchas de hipóstase permanecem até o surgimento dos fenômenos putrefativos, quando elas são invadidas pela tonalidade verde-enegrecida em razão da formação da sulfometemoglobina (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 471. Também Hygino de Carvalho Hércules menciona em sua obra que os livores persistem até a putrefação (HÉRCULES, Hygino de Carvalho.Medicina Legal Texto e Atlas. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014, p.170). Mostra-se cabível, portanto, questionamento sobre tal assertiva. Gabarito “B” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/SC – 2014 – ACAFE) Com relação ao processo de putrefação do corpo humano, analise as afirmações a seguir. l. Durante a fase denominada cromática, ocorre o sinal mais precoce da putrefação que se caracteriza pela formação de uma mancha verde, comumente iniciada na fossa ilíaca direita e que se difunde por todo abdome. ll. O período coliquativo, último da decomposição pela putrefação, manifesta-se com a dissolução pútrida das partes moles e dos ossos, devido à ação de bactérias e da fauna necrófaga. lll. É na fase da esqueletização que a fauna cadavérica e o meio ambiente destroem os resíduos tissulares, expondo os ossos que ficam presos apenas por alguns ligamentos. Este período varia de 3 a 5 anos. lV. A fase gasosa se dá com o surgimento dos gases de putrefação, formando flictenas na epiderme, contendo líquido hemoglobínico. Assinale a alternativa CORRETA. (a) Apenas I, II e III estão corretas. (b) Apenas I, III e IV estão corretas. (c) Apenas II e IV estão corretas. (d) Apenas III e IV estão corretas. (e) Todas as afirmações estão corretas. I: correta. A fase cromática da putrefação inicia-se, em geral, pela mancha verde abdominal, localizada, preferencialmente, na fossa ilíaca direita. Daí, vai-se difundindo por todo o abdome, pelo tórax, cabeça e pelos membros; II: incorreta: o período coliquativo não é o último da putrefação, mas a terceira fase, antes da esqueletização. Nessa fase de liquefação, ocorre a dissolução pútrida das partes moles (e não dos ossos), pela ação de bactérias e germes da fauna necrofágica; III: correta. Na última fase da putrefação, a esqueletização, com duração de 3 a 5 anos, há desintegração do corpo e o cadáver se apresenta com os ossos quase livres, presos apenas por alguns ligamentos articulares. IV: correta: na fase enfisematosa, surgem os gases de putrefação (enfisema putrefativo), levando à formação de bolhas na epiderme de conteúdo líquido hemoglobínico. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA IGP/RS – 2017 – FUNDATEC) Há três dias, João, 65 anos, hipertenso, diabético, com história de infarto antigo de miocárdio, deixou de ir à padaria como fazia todas as manhãs. Os vizinhos começaram a perceber odor fétido vindo da porta de seu apartamento e comunicaram o fato à polícia. Após os devidos trâmites, o corpo foi removido para o departamento médico-legal. Sobre esse caso, assinale a alternativa CORRETA. (A) É desnecessário o exame cadavérico, visto que se trata de morte natural, levando-se em conta a idade e comorbidades da vítima. (B) O odor fétido percebido pelos vizinhos pode ser devido à fase gasosa da putrefação, durante a qual larvas que infestam o cadáver produzem gases. (C) O período cromático da putrefação sempre inicia-se na parede abdominal anterior (fossa ilíaca direita), com o aparecimento da mancha verde abdominal. (D) João foi vítima de morte súbita. (E) Quando a morte é causada por sepse, a instalação e a evolução da putrefação tendem a ser muito mais rápidas do que o habitual. A: incorreta. Não é possível afirmar a causa da morte do paciente, sendo que o mero histórico de doença cardíaca prévia e a idade não são suficientes para afirmar que a morte ocorreu de forma natural, por antecedentes patológicos; B: incorreta. O odor fétido é realmente percebido intensamente na fase gasosa da putrefação, mas a produção de gases não ocorre pelas larvas de insetos, mas por fermentação bacteriana. Ademais, o odor repulsivo está muito mais relacionado à decomposição proteica que é bastante elevada nesse período, com formação de compostos nitrogenados e ptomaínas, como putrescina e cadaverina. C: incorreta. O período cromático da putrefação inicia-se com a mancha verde, habitualmente – mas nem sempre – na fossa ilíaca direita, em razão da localização do ceco nessa região. Contudo, a mancha pode surgir à esquerda no abdome e até mesmo em outros locais, como o tórax e o pescoço, em casos de afogados e recém-nascidos; D: incorreta. Não é possível afirmar que a morte de João foi súbita, apenas com as informações descritas no enunciado. Não se sabe o tempo decorrido do evento danoso até a morte ou se ocorreu alguma forma de morte agônica ou tardia; E: correta. A putrefação inicia-se pela ação e proliferação bacterianas. Assim, sendo a sepse uma situação de infecção generalizada, o teor e volume de bactérias no organismo do paciente será significativamente maior, o que propicia a instalação e evolução mais rápidas da putrefação. Gabarito “E” (INVESTIGADOR DE POLÍCIA – PC/MG – 2014) Um cadáver de homem adulto, exumado, apresentava redução do peso, pele dura, seca, enrugada e de tonalidade enegrecida; A sua face conservava, de maneira vaga, os traços fisionômicos mostrados em vida. O fenômeno transformativo caracterizado pela descrição é de: (a) maceração. (b) mumificação. (c) putrefação. (d) saponificação. A: incorreta. A maceração é fenômeno transformativo destrutivo que ocorre em corpos submersos ou modificados pelo excesso de umidade, como em afogados e fetos mortos retidos no útero materno; B: correta. A mumificação é fenômeno cadavérico transformativo conservador que pode ocorrer por meio natural, artificial ou misto. O corpo mumificado tem peso e volume reduzidos, com pele ondulada, endurecida, de coloração parda ou enegrecida, podendo preservar lesões e conservar vagamente traços fisionômicos mostrados em vida, o que favorece a identificação; C: incorreta. A putrefação é fenômeno transformativo destrutivo e não conservador; D: incorreta. A saponificação é processo conservador caracterizado pela transformação do cadáver ou de partes dele em material com aspecto de cera ou sabão, untuoso, mole, quebradiço e de cor amarelo- escura. Gabarito “B” (PERITO CRIMINAL/AC – 2015 – FUNCAB) O fenômeno da saponificação ou adipocera consiste no(a): (a) fenômeno conservador que ocorre em ambiente muito arejado, seco e quente com acentuada perda de líquidos (severa desidratação). (b) fenômeno conservador de substituição do tecido corporal por resina sintética (acrílico), sem risco de putrefação e contaminação e facilitando o estudo anatômico. (c) fenômeno conversador que mumifica o feto morto diante da ausência de líquido amniótico, ocasionando a calcificação do feto. (d) transformação em virtude da gordura do cadáver em contato com metais do ambiente, formando uma cera, espécie de sabão, impedindo a proliferação de bactérias e fazendo cessar o processo de putrefação. (e) fenômeno encontrado em cadáveres inumados em urnas metálicas (principalmente zinco) fechadas hermeticamente. A: incorreta. O fenômeno conservador que ocorre em ambiente muito ventilado, seco e quente, que facilita uma evaporação rápida e impede a ação microbiana responsável pela putrefação, é a mumificação; B: incorreta. Há técnicas artificiais de conservação cadavérica e de peças anatômicas por meio de aplicação de resina acrílica, que não se confundem com os fenômenos cadavéricos transformativos, destrutivos ou conservadores; C: incorreta. O fenômeno conservador que mumifica o feto morto diante da ausência de líquido amniótico consiste na calcificação e formação do chamado litopédio (“criança de pedra”); D: correta. A saponificação ou adipocera é fenômeno tardio que se inicia pelas partes do corpo que contêm mais gordura, em que enzimas bacterianas hidrolisam as gorduras neutras e formam ácidos graxos, que reagem com substâncias minerais de solos argilosos. A produção de ácidos graxos (ácidos palmítico, esteárico, oleico e sabões) modifica o pH e inibe a ação das bactérias da putrefação. Resulta na formação de material esbranquiçado, mole, quebradiço e friável, que aparece nas partes gordurosas de um cadáver localizado em áreas de difícil acesso ao ar atmosférico, com baixa oxigenação e calor com alta umidade; as formas do corpo, bem como suas feições podem ser preservadas por meses e até mesmo algunsanos, favorecendo a identificação e o exame de lesões porventura existentes; E: incorreta. O fenômeno cadavérico bastante raro que pode aparecer em cadáveres inumados em urnas de zinco hermeticamente fechadas, preservando o corpo da decomposição, é a corificação. Gabarito “D” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/AC – 2017 – IBADE) O exame médico- legal em um cadáver constatou a presença de um feto ainda no interior do útero, em meio líquido, com destacamento de amplas partes do tecido cutâneo, flictenas na epiderme, bem como cavalgamento dos ossos cranianos. Diante dessas informações, pode-se afirmar que o feto sofreu: (a) maceração. (b) saponificação. (c) eletroplessão. (d) mumificação. (e) carbonização. A: correta. A maceração é um processo especial de transformação que ocorre em ambientes aquosos, especialmente no cadáver do feto retido no útero materno em contato com o líquido amniótico, habitualmente do sexto ao nono mês de gravidez. Serão observados destacamento de retalhos da pele “em dedos de luvas”, flictenas com líquido serossanguinolento, além do cavalgamento dos ossos do crânio, o que consiste no sinal de Spalding; B: incorreta. A saponificação é processo conservador tardio que se caracteriza pela transformação do cadáver em substância mole e untuosa, com aparência de cera ou sabão; C: incorreta. Eletroplessão é a lesão corporal ou a morte ocasionada por eletricidade de fonte artificial doméstica ou industrial; D: incorreta. A mumificação é processo transformativo conservador artificial, misto ou natural, sendo este dependente de condições ambientais que favoreçam a desidratação cadavérica rápida e intensa, de modo a impedir a ação microbiana responsável pela putrefação; E: incorreta; a carbonização é lesão por energias de ordem física, altas temperaturas, podendo ser classificada como uma queimadura de 4º grau, generalizada ou parcial. Gabarito “A” (PERITO CRIMINAL – PC/MG – 2013 – FUMARC) Em um evento de maceração asséptica, classificada como de segundo grau (segunda semana de morte fetal), esperamos encontrar, EXCETO: (A) Líquido amniótico sanguinolento. (B) Rotura de flictenas epidérmicas. (C) Deformação craniana. (D) Epiderme arroxeada. A, B e D: corretas. Genival Veloso de França descreve os principais achados da maceração fetal asséptica. Na primeira semana de morte fetal (primeiro grau), tem-se a presença de flictenas (bolhas) na epiderme contendo líquido sanguinolento. Na maceração de segundo grau (segunda semana de morte e retenção intrauterina), as flictenas se rompem e o líquido amniótico se torna, então, sanguinolento. A epiderme fica com aspecto arroxeado. C: incorreta, pois a deformação craniana ocorre na terceira semana (terceiro grau), juntamente com a infiltração hemoglobínica das vísceras e córion friável e de cor marrom-escura (FRANÇA, Genival Veloso. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 478). Gabarito “C” (INVESTIGADOR PC/MG – 2014 – FUMARC) É muito importante em Medicina Legal a estimativa do tempo aproximado de permanência de um corpo dentro da água e sua transformação após a morte. Mesmo tendo em conta as múltiplas variáveis que podem atuar, o tempo aproximado de morte e permanência em meio líquido de um corpo que mostrou as seguintes características: “pequenas crostas arredondadas de sais calcários sobre remanescentes da pele” é de: (a) três meses de morte. (b) seis meses de morte. (c) um dia de morte. (d) uma semana de morte. A: correta. Na obra de Genival Veloso de França, ao descrever a cronologia do afogamento, o autor menciona que o estado de maceração e o estágio de putrefação cadavérica, que são sempre mais rápidos nos afogados, são relevantes para a estimativa do tempo de morte. O autor afirma que, com cerca de um mês de morte, o cadáver começa a apresentar pele pardacenta ou amarelada, pergaminhada, rugosa e friável, destacando-se em retalhos. E que, em torno do terceiro mês de morte e com permanência em meio líquido, podem ser encontradas pequenas crostas arredondadas de sais calcários sobre a pele (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 159). Gabarito “A” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL PIAUÍ – 2018 – NUCEPE) O estudo da morte na medicina legal é realizado pela Tanatologia forense. Dentro do estudo dos fenômenos cadavéricos, é CORRETO afirmar que: (a) Ocorre autólise quando há a destruição progressiva dos tecidos sob a ação dos germes. (b) A saponificação ocorre naturalmente, quando o corpo é submetido a uma forte dessecação. (c) A maceração é o fenômeno destrutivo concomitante à putrefação, resultante da umidade ou excesso de água sobre o cadáver. (d) Ocorre a mumificação na transformação do cadáver, após um estado avançado de putrefação, em uma substância especial denominada adipocera. (e) Ocorre a putrefação quando há a desintegração tissular acompanhada pela ação dos fermentos de acidificação, desorganizando as diversas estruturas. A: incorreta. A autólise é o fenômeno cadavérico mais precoce, no qual não há qualquer ação bacteriana ou de germes. É um processo de destruição celular mediada pelas próprias enzimas celulares, com fermentação anaeróbia intracelular e acidificação dos tecidos; B: incorreta. O processo natural que ocorre quando o corpo é submetido a uma forte dessecação é a mumificação, que pode ocorrer quando o cadáver fica exposto ao ar, em locais de clima muito quente e seco com grande ventilação, fazendo com que o corpo perca água rapidamente, sofra acentuado dessecamento, não se iniciando a putrefação. São fatores individuais que favorecem a mumificação: sexo feminino, idade (mais comum em recém-nascidos) e causa da morte, como grandes hemorragias, tratamentos prolongados com antibióticos, envenenamento por arsênico e cianureto; C: correta. A maceração é um processo especial de transformação que ocorre em ambientes aquosos, resultando, portanto, da umidade ou de excesso de água sobre o cadáver. Embora constitua um processo especial de transformação e não se confunda com a putrefação, alguns autores estendem seu conceito ao fenômeno concomitante à putrefação em corpos submersos ou modificados por excesso de umidade. Há a maceração asséptica do feto morto retido na cavidade uterina e a maceração séptica dos afogados; D: incorreta. A transformação do cadáver, após um estado avançado de putrefação, em uma substância especial denominada adipocera, é a saponificação. É fenômeno tardio, que surge após iniciada a putrefação, quando enzimas bacterianas hidrolisam gorduras e originam ácidos graxos que reagem com elementos minerais da argila. São condições ambientais que favorecem o processo: solo argiloso, úmido e com pouco acesso ao ar atmosférico; E: incorreta. A putrefação é a decomposição fermentativa da matéria orgânica por ação inicialmente de germes aeróbios, anaeróbios e facultativos, posteriormente pela fauna necrofágica, desintegrando o corpo. Gabarito “C” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MS – 2017 – FAPEMS) A Cronotanatognose é a parte da Tanatologia que estuda a data aproximada da morte. Para tanto, analisa-se a sequência dos fenômenos cadavéricos que podem sofrer alteração de acordo com a causa mortis e demais fatores externos presentes no meio ambiente em que o cadáver foi encontrado. Assim, no que diz respeito aos fenômenos relevantes à Cronotanatognose, é correto afirmar que: (A) para a determinação da morte a partir da análise da perda de peso, faz- se necessário saber, com a maior precisão possível, o peso do corpo no momento do óbito, o que inviabiliza a utilização de tal parâmetro na maioria dos casos para estimativa do tempo de morte. (B) a mancha verde abdominal não se altera de acordo com a temperatura do meio ambiente. (C) o resfriamento do corpo é elemento sempre preciso para estipular a data da morte. (D) a circulação póstuma de Brouardel costuma anteceder a mancha verde abdominal. (E) a rigidez cadavérica desaparece progressivamente e em sentido contrário de seu aparecimento. A: correta. Após a morte,o corpo perde água para o meio em fenômeno de evaporação ou desidratação cadavérica, com consequente perda de peso. Contudo, trata-se de perda muito variável no tempo e na dependência de diversos fatores, como causa da morte, condições e temperatura do ambiente, sendo inviável sua utilização na cronotanatognose, o que seria apenas levemente mais facilitado diante de informações precisas do peso do indivíduo no momento do óbito; B: incorreta: a temperatura do ambiente interfere de forma significativa na marcha da putrefação, sendo a mancha verde abdominal o seu primeiro sinal macroscopicamente identificável. Em ambientes muito quentes, a putrefação inicia-se precocemente e, em consequência, também a mancha verde se mostra mais rapidamente visível, podendo se mostrar visível em 16 ou 18 horas; C: incorreta. A perda da temperatura corporal após a morte é fenômeno extremamente variável e impreciso, embora relevante para auxiliar, em conjunto com outros dados, a estimativa do tempo de morte. Há numerosos fatores que influenciam o resfriamento ou algidez cadavérica, como idade, proporção de água corporal, uso de roupas, causa da morte, estados febris logo antes da morte, temperatura e condições do meio ambiente; D: incorreta. A Circulação póstuma de Brouardel sucede (e não antecede) a manha verde abdominal. Essa mancha é o primeiro sinal macroscopicamente evidente de putrefação e indica sua primeira fase, a cromática. A segunda fase da putrefação é a gasosa ou enfisematosa, quando haverá produção de gases pela proliferação e fermentação bacteriana. Com os gases sendo produzidos dentro dos vasos, eles aumentam de tamanho e se tornam visíveis na superfície, formando a circulação póstuma de Brouardel, que se mostra como uma “teia de aranha”. A fase gasosa máxima ocorre entre 5 a 7 dias de morte. E: incorreta, pois a rigidez desaparece progressivamente e dá lugar à flacidez cadavérica, no mesmo sentido de seu aparecimento e não em sentido contrário. O sentido é crânio-caudal, mostrando-se mais visível dos menores para os maiores grupos musculares, embora os fenômenos estejam ocorrendo em todas as fibras musculares dos sarcômeros do corpo. Gabarito “A” (PROMOTOR DE JUSTIÇA MP/PARAÍBA – 2018 – FCC) Dentre os fenômenos cadavéricos transformativos, tem-se a: (a) autólise, que é o processo de destruição macroscópica decorrente da ação da água do meio ambiente em que o cadáver se encontra. (b) putrefação, fenômeno que antecede a autólise, caracterizada pela decomposição fermentativa da matéria inorgânica. (c) maceração, que é o processo de conservação que ocorre na morte do feto dentro do útero materno em qualquer tempo da gestação. (d) mumificação, que é um processo destrutivo do cadáver, sendo decorrente de meios naturais. (e) saponificação, na qual o cadáver é transformado em uma substância untuosa após um certo estágio da putrefação. A: incorreta. Autólise é um fenômeno microscópico muito precoce, decorrente da ação de enzimas intracelulares que geram acidificação. É um tipo de destruição celular, caracterizada por fenômenos fermentativos anaeróbios intracelulares. O fenômeno macroscópico decorrente da ação da água sobre o cadáver é a maceração; B: incorreta. A putrefação não antecede a autólise, sendo esta última o fenômeno mais precoce de todos. A putrefação sucede a autólise e é a decomposição fermentativa da matéria orgânica (e não inorgânica) por ação de germes; C: incorreta. A maceração não é fenômeno conservador, mas sim destrutivo. Ademais, a maceração asséptica ocorre em fetos mortos retidos no útero materno, mais habitualmente do sexto ao nono mês de gravidez; D: incorreta. A mumificação não é um fenômeno destrutivo, mas sim conservador e pode ser produzida por meios naturais, artificiais ou mistos; E: correta. A saponificação é um fenômeno cadavérico transformativo conservador, que ocorre tardiamente, levando à formação de uma substância untuosa, quebradiça e mole, com aspecto de cera ou sabão. Não é, portanto, fenômeno inicial e ocorre após certo estágio de putrefação, quando enzimas bacterianas hidrolisam gorduras neutras e formam ácidos graxos, que fazem reação química com substâncias minerais da argila. Em geral, ocorre após a sexta semana de morte, sendo que o solo argiloso e a água estagnada facilitam sua ocorrência. Gabarito “E” (MÉDICO LEGISTA/PI – 2012 – NUCEPE) Com relação aos fenômenos cadavéricos, assinale a alternativa CORRETA: (A) A rigidez cadavérica é perceptível na face e na mandíbula em torno de 2 horas após a morte, e espalha-se por todo o corpo (completa) aproximadamente 18 horas após, compreendendo fenômeno auxiliar para o diagnóstico da realidade e do tempo de morte. (B) A presença da mancha verde abdominal (período de coloração da putrefação) na fossa ilíaca direita decorre da impregnação da pele pela sulfometemoglobina, sendo perceptível entre 16 a 24 horas após a morte. (C) A presença de livores ou manchas de hipóstases fixas unicamente na face ventral do cadáver é prova de que não foi mudado de posição e que decorreram aproximadamente 36 horas da morte. (D) A maceração ocorre em corpos inumados em locais pantanosos, solo argiloso, que filtra pouco os líquidos, e também pode ser encontrada em fetos mortos e retidos no útero materno. (E) No período gasoso da putrefação, o corpo apresenta gigantismo, circulação póstuma de Brouardel, aumento de peso corpóreo e se inicia aproximadamente 17 dias após a morte. A: incorreta. Embora a rigidez seja perceptível em músculos menores da face, mandíbula e nuca em cerca de 1 a 2 horas após a morte, ela se espalha por todo o corpo com cerca de 8 (e não 18) horas após o óbito; B: correta, trata-se exatamente da causa da coloração esverdeada na fossa ilíaca direita, bem como de seu tempo de aparecimento, considerado em geral como cerca de 20-24 horas de morte, podendo aparecer antes (com 16 ou 18 horas), por exemplo em ambientes quentes. A coloração se deve à formação de enxofre pela fermentação bacteriana, que, ao se ligar à hemoglobina, forma sulfometemoglobina. A presença mais comum da mancha na fossa ilíaca direita se deve à localização do ceco nessa região do abdome; C: incorreta. Os livores fixos na parte ventral do cadáver indicam que ele esteve em decúbito ventral no período de fixação dessas manchas de hipóstase, o que ocorre com cerca de 12 horas após a morte; D: incorreta. A maceração é fenômeno destrutivo que ocorre em ambientes aquosos e pode acontecer em fetos mortos e retidos no útero materno (maceração asséptica). Contudo, o fenômeno que pode ocorrer em cadáveres inumados em solo argiloso, pantanoso e com pouco acesso ao ar atmosférico é a saponificação ou adipocera; E: incorreta. O período trazido na questão é muito longo e o corpo, em 17 dias, já estaria em fase coliquativa ou liquefativa da putrefação. A formação de gases ocorre mais precocemente pela fermentação bacteriana, sendo que no primeiro dia já ocorre a produção inicial de gases não inflamáveis. Contudo, o aspecto gigantesco máximo do cadáver (fase gasosa máxima) é visualizado com cerca de 5 a 7 dias após a morte. Gabarito “B” (PERITO CRIMINAL PC/MG – 2013 – FUMARC) Considerando o ponto crioscópico do sangue, o valor mais provável, apurado em uma autopsia de um cadáver na fase gasosa da putrefação, é: (a) -0,35ºC (b) -0,55ºC (c) -0,57ºC (d) -0,77ºC D: correta. O ponto de congelamento do sangue ou ponto crioscópico normal varia entre -0,55ºC e -0,57ºC, segundo Genival Veloso de França (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 483). À medida em que evolui o tempo de morte e são produzidos gases da putrefação, haverá difusão desses gases no sangue e também desagregação de moléculas proteicas, o que fará com que o ponto reduza ainda mais, se afastando ainda mais do zero. Logo, a única possibilidade de resposta na questão é a que apresenta um ponto crioscópico mais baixo que o normal; portanto, de -0,77ºC. Gabarito “D” (DELEGADO GOIÁS – 2013 – UEG) Ao passar por um matagal, popularesencontram um corpo em estado de decomposição e comunicam à autoridade policial, que solicita o exame pericial. Sobre putrefação, tem-se que: (a) A fase gasosa marca o início da putrefação. (b) Os gases produzidos entre o 2º e o 4º dias de putrefação são inflamáveis. (c) A circulação póstuma de Brouardel marca a fase cromática da putrefação. (d) A fase coliquativa é marcada por odor intenso e marcante. A: incorreta. A fase que marca o início da putrefação é a fase cromática ou de coloração, inicialmente revelada macroscopicamente pelo surgimento da mancha verde abdominal; B: correta. No 1º dia de morte, há gases não inflamáveis produzidos por bactérias aeróbias produtoras de gás carbônico. Do 2º ao 4º dia, encontram-se gases inflamáveis produzidos por bactérias facultativas, que formam hidrogênio e hidrocarbonetos; do 5º dia em diante, são produzidos azoto e amônias, compostos não inflamáveis; C: incorreta. A circulação póstuma de Brouardel marca a fase gasosa da putrefação, pois decorre da produção de gases por ação bacteriana no interior dos vasos sanguíneos, rechaçando o sangue para a periferia do vaso e provocando sua dilatação, o que tornará a circulação visível na superfície cutânea; D: incorreta. A fase da putrefação caracterizada por odor intenso e marcante é a fase gasosa, quando há máxima decomposição proteica, com grande desprendimento de gases fétidos, compostos nitrogenados de odor repulsivo e formação de ptomaínas, que começam a surgir em torno de 2 a 4 dias após a morte. Gabarito “B” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2008 – FUMARC) Em uma autopsia, o médico legista descreveu em seu laudo pericial o achado de “alimentos plenamente reconhecíveis em seus diversos tipos no interior do estômago”. Qual o tempo aproximado, em horas, entre a última refeição realizada pela vítima e o seu falecimento? (a) Uma a duas. (b) Duas a quatro. (c) Quatro a sete. (d) Sete a doze. Segundo Genival Veloso de França, no caso de serem encontrados alimentos plenamente reconhecíveis em seus diversos tipos no interior do estômago, ou seja, em fase inicial de digestão, pode-se afirmar que a pessoa morreu 1 a 2 horas de pois de sua última refeição. Se são encontrados alimentos em fase final de digestão, o tempo é de cerca de 4 a 7 horas de morte após a última refeição. Se o estômago é encontrado vazio, afirma-se que o indivíduo morreu depois de 7 horas depois da última refeição realizada (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 483). Ressalte-se que o uso de álcool e drogas pode comprometer o esvaziamento gástrico, retardando-o. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA/AC – 2015 – FUNCAB) Na fauna cadavérica que coloniza o cadáver, alguns insetos costumam chegar primeiro, sobretudo, nas fendas palpebrais narinas e boca, são eles: (a) coleópteros. (b) dípteros. (c) himenópteros. (d) ortópteros. (e) lepidópteros. A entomologia forense cuida do estudo da fauna cadavérica na estimativa do tempo de morte, sendo de fundamental importância na avaliação da cronologia da morte em cadáveres expostos ao ar livre. Há oito legiões de insetos e outros artrópodes relacionados à fauna necrofágica. Os da primeira legião são os dípteros (moscas), que começam a colonização do cadáver pelos orifícios naturais e aparecem de 8 a 15 dias após a morte, correspondendo às espécies Musca domestica e Calliphora vomitoria. São os dípteros que metabolizam as substâncias teciduais até a formação de ácidos graxos. Há espécies de coleópteros e lepidópteros nas demais legiões. Gabarito “B” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/RJ – 2012 – FUNCAB) Para a verificação do tempo aproximado de morte em um cadáver parcialmente esqueletizado, torna-se dispensável: (a) o conhecimento de dados relacionados com o lugar de encontro do corpo, se aberto ou fechado, e o tipo de sepultamento. (b) o estudo do corpo e do local por entomologista. (c) a informação sobre a época do ano e as condições climáticas. (d) a dosagem de carbono 14 nos despojos. (e) a ciência da causa da morte, se violenta ou natural. D: correta. A dosagem de carbono 14 nos despojos humanos não tem nenhuma importância, uma vez que sua meia-vida (ou seja, o período de tempo necessário para que o número de isótopos diminua pela metade) é de mais de 5500 anos. Dessa forma, em um hiato temporal inferior a 100 anos, não é possível determinar nenhuma diminuição minimamente significativa deste elemento, somente se prestando a datação de intervalos da ordem de centenas a milhares de anos. Considerando, sobretudo, que a questão menciona um “cadáver parcialmente esqueletizado”, não há como utilizar essa técnica para analisar a cronologia da morte; A, B, C e E: incorretas. Condições climáticas, local da morte, tipo de solo, ação de microorganismos, são todos fatores relevantes que interferem na velocidade de decomposição da matéria orgânica. Dentre as condições climáticas, as mais significativas são temperatura, umidade e acessibilidade do corpo por animais. Os estudos entomológicos da fauna necrofágica também são elementos importantes na estimativa do tempo de morte. Também a causa da morte pode trazer informações importantes e contribuir para a estimativa cronológica. A título de exemplo, vítimas de mortes violentas com lesões abertas e grandes mutilações têm processos de decomposição mais acelerados, com maior proliferação bacteriana e acesso a espécies da fauna necrofágica com mais facilidade. Por tal razão, locais do corpo que apresentam feridas são consumidos mais rapidamente do que aqueles que se mostram íntegros. Gabarito “D” Capítulo 9 SEXOLOGIA FORENSE A Sexologia Forense é o capítulo da Medicina Legal que estuda questões relacionadas aos crimes contra a dignidade sexual, gravidez, aborto, parto, puerpério, infanticídio, exclusão de paternidade, dentre outras questões relacionadas à reprodução e à sexualidade humana. Os crimes contra a dignidade sexual devem ser estudados sob o ponto de vista jurídico, de sua tipificação no Título VI do Código Penal Brasileiro, bem como sob o prisma da perícia médico-legal dos vestígios deixados pelas condutas delitivas. No mesmo capítulo, são analisados os transtornos da sexualidade humana, que podem constituir meras disfunções sexuais ou até mesmo parafilias, que precisam ser diferenciadas do simples uso consensual de práticas sexuais ou objetos como forma de excitação da libido. A Himenologia Forense, por seu turno, são as questões médico-legais relacionadas ao casamento. (MÉDICO LEGISTA AMAPÁ – 2016 – FCC) A mídia noticiou que um médico endoscopista foi flagrado em sua clínica tendo relação sexual com uma paciente de 35 anos enquanto ela estava sob efeito do sedativo utilizado para o exame de endoscopia digestiva alta. Desse modo, o médico foi acusado de ter cometido crime de: (a) sedução. (b) assédio sexual. (c) estupro. (d) atentado violento do pudor. (e) estupro de vulnerável. A: incorreta. O antigo crime de sedução foi revogado em 2005 e tipificava a conduta de “seduzir mulher virgem, menor de dezoito anos e maior de quatorze, e ter com ela conjunção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança”; B: incorreta. O crime de assédio sexual vigora no art. 216-A do Código Penal Brasileiro (CPB), com a conduta de “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”. As condições de superioridade hierárquica ou exercício de emprego, cargo ou função são elementares do tipo, não se configurando a conduta em hipóteses além de tais situações, como entre colegas de trabalho ou líder religioso e fieis. O Superior Tribunal de Justiça, contudo, em 2019, passou a admitir que, em relações entre professor e aluno pode ser configurada a conduta de assédio sexual. Afirmou a 6ª Turma do STJ que “a ‘ascendência’ constante do tipo penal não deve se limitar à ideia de relação empregatícia entre as partes” e queo professor teria condições de interferir diretamente na avaliação e desempenho acadêmico do aluno, contexto que geraria, inclusive, o receio da reprovação (REsp 1.759.135/SP, noticiado no informativo n. 658); C: incorreta. Para a configuração do crime de estupro tipificado no art. 213 do CPB, deve haver o constrangimento da vítima, homem ou mulher, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso, mediante violência (violência física efetiva) ou grave ameaça (violência psíquica); D: incorreta. O antigo crime de atentado violento ao pudor foi revogado em 2009. A conduta nele então tipificada – ato libidinoso diverso da conjunção carnal com vítima homem ou mulher – faz parte, atualmente, do tipo penal do estupro; E: correta. O crime de estupro de vulnerável, tipificado no art. 217-A do CPB determina pena de reclusão a quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com menor de 14 anos; com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; ou que, por qualquer outra causa, não possa oferecer resistência. Trata-se das três figuras de vulneráveis trazidas pela Lei 12.105/2009, que modificou diversas normas contidas no CPB. Na hipótese, a paciente estava sedada e não tinha como oferecer resistência e tampouco manifestar sua vontade ou consentimento para o ato sexual, razão pela qual torna-se vulnerável. Ressalte-se que, para a configuração deste delito, não é necessária a ocorrência de violência física efetiva ou grave ameaça, sendo fundamental a configuração da vulnerabilidade da vítima, como elementar do tipo penal. Gabarito “E” (MÉDICO LEGISTA – POLÍCIA CIVIL/SP – 2014) Durante viagem de turismo, indivíduo de 22 anos praticou sexo oral com menina de rua, de 13 anos, dentro do seu veículo, com consentimento desta, em troca de dinheiro. Neste caso, pode-se afirmar que: (a) houve um tipo de crime de estupro, pois a vítima é considerada vulnerável. (b) não houve crime de estupro, pois houve consentimento da vítima. (c) houve crime de atentado violento ao pudor. (d) não houve crime de estupro, pois não houve violência. (e) houve apenas a prática de ato libidinoso, não se configurando crime. A: correta. Ocorreu o crime de estupro de vulnerável, tipificado no art. 217- A do CPB, por ter havido ato libidinoso diverso da conjunção carnal (sexo oral) com menor de 14 anos. A obtenção do consentimento da vítima é irrelevante, nos termos da Súmula 593 do STJ, publicada em novembro de 2017, que dispõe que “o crime de estupro de vulnerável configura-se com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o eventual consentimento da vítima para a prática do ato, experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente”. Logo, mesmo que haja o consentimento, experiência sexual anterior por parte da vítima ou mesmo namoro com o autor do fato, o crime de estupro de vulnerável se configura; B: incorreta. O consentimento não desclassifica a conduta delitiva; C: incorreta. O antigo crime de atentado violento ao pudor foi revogado em 2009. A conduta nele então tipificada – ato libidinoso diverso da conjunção carnal com vítima homem ou mulher, mediante violência ou grave ameaça – faz parte, atualmente, do tipo penal do estupro; D: incorreta. A ausência de violência física ou de grave ameaça desqualifica a conduta no tocante ao crime de estupro em sua forma simples, descrita no art. 213 do CPB. Contudo, a vulnerabilidade da vítima, menor de 14 anos, enquadra a conduta no tipo penal do art. 217-A do CPB, estupro de vulnerável; E: incorreta. A conjunção carnal (relação sexual tópica, ou seja, no topos habitual, entre homem e mulher, com penetração do pênis na vagina) não é o único ato sexual presente nos tipos penais do estupro e estupro de vulnerável. A prática de outros atos libidinosos diversos da conjunção carnal, como atos sexuais orais e manuais, também está presente nos tipos penais. Gabarito “A” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/GO – 2016 – CESPE/UNB) Em relação aos aspectos médico-legais dos crimes contra a liberdade sexual, assinale a opção CORRETA. (a) A presença de escoriação em cotovelo e de esperma na cavidade vaginal são suficientes para caracterizar o estupro. (b) Equimoses da margem do ânus, hemorragias por esgarçamento das paredes anorretais e edemas das regiões circunvizinhas são características de coito anal violento. (c) Em crianças com mudanças de comportamento, a presença de eritemas confirma o diagnóstico de abuso sexual. (d) A vasectomia feita no indivíduo antes de ele cometer um crime de estupro impede a obtenção de dados objetivos desse crime. (e) A integridade do hímen invalida o diagnóstico de conjunção carnal. A: incorreta. A presença de esperma na cavidade vaginal pode comprovar a ocorrência de uma conjunção carnal, que não necessariamente foi criminosa; e a presença de escoriação de cotovelo é insuficiente para atestar a ocorrência de violência efetiva para a configuração do estupro; B: correta. Em casos de coito anal como ato libidinoso criminoso diverso da conjunção carnal, devem ser avaliados os vestígios físicos locais e evidentes deixados pelo coito anal, bem como a eventual presença de esperma no reto. No exame físico, são habitualmente descritos equimoses e sufusões (rágades) na margem do ânus, escoriações, hemorragias por ruptura ou esgarçamento das paredes anorretais e perineais, congestão e edema das regiões próximas, dilatação brusca do ânus, dor ao toque retal, ruptura de pregas anais e incontinência fecal por relaxamento do esfíncter; C: incorreta. Eritema é apenas congestão ou hiperemia por aumento da vascularização da região afetada. Trata-se de uma lesão simples que, sobretudo quando não se afirma a sua localização, não tem o condão de confirmar, com segurança, a ocorrência de abuso sexual em crianças com mudanças de comportamento; D: incorreta. A vasectomia é uma cirurgia para esterilização masculina, em que são ligados os canais deferentes, interrompendo o fluxo de espermatozoides, que não serão mais encontrados no esperma. Contudo, permanece a produção e liberação no sêmen de substâncias produzidas pela próstata, especialmente da glicoproteína P30 ou antígeno prostático específico (PSA), que fornece materialidade para avaliação de conjunção carnal ou atos libidinosos com ejaculação, mesmo em casos de indivíduos vasectomizados; E: incorreta, em razão da existência do hímen complacente, tolerante ou transigente. O hímen é uma membrana mucosa que separa a vulva da vagina e habitualmente se rompe pelo coito. Em geral, o número de rupturas varia entre uma e cinco. O conceito de hímen complacente é discutível, mas se admite tratar-se de hímen muito fino ou muito elástico, que não se rompe na relação sexual. Portanto, na presença de um hímen complacente, pode ter ocorrido conjunção carnal a despeito da integridade himenal. Gabarito “B” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/PA – 2016 – FUNCAB) Os “Quadrantes de Oscar Freire” são utilizados para designar a posição: (a) da vítima em relação ao atirador de uma arma de fogo. (b) do atirador de uma arma de fogo em relação a vítima. (c) da lesão provocada pela ruptura da caixa craniana atingida por projétil de arma de fogo. (d) da lesão provocada pela ruptura do hímen. (e) da lesão de entrada provocada por projétil de arma de fogo no tórax da vítima. A, B e E: incorretas, não havendo sinais ou epônimos típicos que nomeiam tais posições; C: incorreta. Nessa alternativa, vale ressaltar o sinal de funil de Bonnet ou do cone truncado de Pousold, que é utilizado para diferenciar os orifícios de entrada e de saída de um projétil de arma de fogo nos ossos planos ou chatos, em razão da diferença do formato da fratura nas lâminas externa e interna do osso; D: correta. Há duas formas principais de topografar as rupturas himenais, descrevendo sua localização no laudo médico-legal: os quadrantes de Oscar Freire e o sistema cronométrico de Lacassagne, sendo esseúltimo o mais usado na prática forense. Pelo método dos quadrantes de Oscar Freire, divide-se de forma imaginária o hímen em quatro quadrantes, dois superiores (direito e esquerdo) e dois inferiores (direito e esquerdo). Os pontos mais frequentes de ruptura localizam-se na união dos quadrantes inferiores, por ser a área em que o hímen é mais “alto” e em razão da posição mais comum do ato sexual em decúbito dorsal. O sistema cronométrico de Lacassagne é a comparação do hímen ao mostrador de um relógio, para descrever a localização da ruptura, por exemplo, às 6 ou 9 horas. Gabarito “D” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2011 – FUMARC) Retalhos de hímen roto pelo parto vaginal, os quais se retraem constituindo verdadeiros tubérculos em sua implantação, correspondem a: (a) entalhes himenais. (b) hímens cribriformes. (c) carúnculas mirtiformes. (d) chanfraduras vulvo-himenais. A e D: incorretas. Entalhes ou chanfraduras himenais são reentrâncias ou recortes que se apresentam na borda livre do hímen, que é a borda que circunda o óstio ou orifício por onde sai o fluxo menstrual. A borda torna- se, portanto, irregular e recortada ou franjada. Se as reentrâncias são simétricas e profundas, chegando quase à borda de inserção do hímen na parede da vagina, denominam-se entalhes. Se são superficiais e correm mais em extensão do que em profundidade, denominam-se chanfraduras. Os entalhes podem ser confundidos com rupturas himenais incompletas, em um exame físico menos atento; B: incorreta. Hímen cribriforme é aquele que apresenta múltiplos e pequenos orifícios ou óstios, à semelhança de um crivo ou peneira; C: correta. As carúnculas mirtiformes são retalhos ou “sobras” da membrana himenal que aparecem habitualmente após cicatrização de rupturas por partos vaginais. Costumam ser em número de três a cinco, formando trabéculas, vegetações ou excrescências mirtiformes, em forma de folha de mirto. Gabarito “C” (MÉDICO LEGISTA/ES – 2013 – FUNCAB) São sinais doutrinários em Medicina Legal de que houve conjunção carnal com uma mulher, que evidenciava hímen não complacente roto, EXCETO: (a) presença de entalhes no hímen. (b) gravidez. (c) presença de esperma na vagina ou canal vaginal. (d) presença de fosfatase ácida acima de 300 u.K./mL no canal vaginal. (e) presença de glicoproteína P 30 no canal vaginal. A: correta. Os entalhes himenais não se confundem com rupturas. São irregularidades congênitas estruturais presentes no hímen, que se manifestam como pequenas reentrâncias ou fendas na borda livre da membrana em torno do óstio. Algumas características que diferenciam os entalhes das roturas: eles podem se localizar em porções delgadas ou espessas do hímen, não são profundos, têm bordas regulares e recobertas por tecido normal e semelhante ao do restante do hímen, têm ângulos rombos e costumam ser simétricos. As roturas, ao contrário, localizam-se em áreas mais delgadas do hímen, costumam ser profundas, suas bordas são irregulares e recobertas por tecido cicatricial, têm ângulos agudos e se dispõem ao acaso, sem simetria, permitindo a coaptação forçada de suas bordas, o que não ocorre com os entalhes; B, C, D e E: as quatro alternativas fornecem vestígios de conjunção carnal, que pode ser demonstrada pericialmente por meio de sinais que variam sendo ela recente ou antiga. Os principais vestígios de conjunção carnal recente são o encontro de esperma na vagina e ruptura himenal não cicatrizada. Já a conjunção carnal antiga tem como vestígios a gravidez e a contaminação profunda por determinadas doenças sexualmente transmissíveis. A presença de esperma na vagina é confirmada pela pesquisa direta de espermatozoides, havendo também dois outros exames que fornecem indícios de sêmen: a fosfatase ácida e a glicoproteína P30. Fosfatase ácida é uma enzima que, embora seja especialmente rica na próstata, é encontrada em vários tecidos humanos, razão pela qual não é um teste específico para a identificação de sêmen. No entanto, a presença de altas titulações da enzima na cavidade vaginal sugere sêmen, uma vez que seus teores normais em outros tecidos não ultrapassam 20 u.K./mL. O antígeno prostático específico (PSA) ou glicoproteína P30 é produzido quase que exclusivamente pelas células epiteliais da próstata, embora Hygino de Carvalho Hércules chame a atenção para o fato de que alguns tipos de câncer na mulher também podem produzir a proteína (HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal Texto e Atlas. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014, p. 611). De qualquer forma, para efeitos práticos, a detecção de altos teores no material coletado da vagina também configura vestígio da presença de ejaculação. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA – PC/DF 2015 – FUNIVERSA) O estudo do hímen apresenta grande relevância na busca de vestígios nos casos de crimes sexuais. Com relação a esse assunto, é CORRETO afirmar que: (a) o hímen complacente se dá por elasticidade excessiva ou exiguidade da membrana. (b) irregularidades na borda livre himenal sempre estão relacionadas à ocorrência de um traumatismo local. (c) as roturas himenais se caracterizam pela disposição irregular, não simétrica, ocorrendo ao acaso e apresentando borda irregular com ângulos abertos. (d) hímen complacente é aquele que permite o coito vestibular sem se romper. (e) entalhes são irregularidades congênitas localizadas na borda livre da orla himenal, de aspecto irregular, com ângulos agudos e bordas cobertas por tecido cicatricial. A: correta. O hímen complacente, tolerante ou transigente tolera a penetração peniana sem sofrer ruptura, sendo explicações para tal a exiguidade da orla, a amplitude do óstio e a grande elasticidade da membrana; B: incorreta. A constatação de irregularidades na borda livre himenal – que é a borda que circunda o óstio ou orifício – pode se referir apenas à presença congênita de entalhes ou chanfraduras himenais, que não se confundem com as rupturas e não indicam qualquer lesão traumática; C: incorreta. Em comparação com os entalhes, as roturas himenais se caracterizam realmente pela disposição irregular e não simétrica, ocorrendo ao acaso e apresentando borda irregular. Contudo, os ângulos das roturas são mais fechados e agudos, enquanto os ângulos dos entalhes são mais rombos e abertos; D: incorreta. O hímen complacente permite o coito vaginal ou a conjunção carnal sem se romper, e não o coito vestibular. Este também tem sido chamado de coito vulvar, interfemoral ou ad introitum, não havendo penetração vaginal, mas apenas contato do pênis no introito (entrada) vaginal, na vulva, vestíbulo ou períneo, sem a penetração na cavidade vaginal; E: incorreta. São as roturas – e não os entalhes – que apresentam aspecto irregular, com ângulos agudos e bordas cobertas por tecido cicatricial. E os entalhes são irregularidades congênitas localizadas na borda livre da orla himenal, com ângulos rombos ou abertos, bordas mais regulares e revestidas por tecido semelhante ao do restante da membrana himenal e com disposição mais simétrica. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA/SP – 2014 – VUNESP) Nos casos de vítima de violência sexual, na perícia após o delito, o sêmen pode ser detectado em até: (A) 12 horas. (B) 48 horas. (C) 24 horas. (D) 72 horas. (E) 6 horas. Genival Veloso de França afirma que “o sêmen pode ser observado através da lâmpada de Wood, quando é identificado por sua ação fluorescente até 72 horas depois da violência” (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 280). Contudo, ressalte-se que pode haver variação na sensibilidade dessa detecção, sobretudo na dependência do local de onde o vestígio foi coletado, se da cavidade vaginal ou outra região do corpo da vítima, se de objetos ou do ambiente, etc. Também o espermatozoide em si ainda pode ser identificado depois desse prazo. Gabarito “D” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/RJ – 2012 – FUNCAB) Na perícia de conjunção carnal, a maioria das lesões encontradas nas vítimas de crimes sexuais é de caráter inespecífico, o que torna necessáriaa realização de métodos complementares para a elucidação dos vestígios, entre os quais NÃO se inclui: (a) pesquisa direta de espermatozoides. (b) dosagem de fosfatase ácida prostática. (c) pesquisa de antígeno prostático específico. (d) exame de confronto genético. (e) dosagem de prostaglandina F2-alfa. A, B, C e D: corretas. Na perícia de conjunção carnal, são usados como métodos complementares a pesquisa direta de espermatozoides, a dosagem de fosfatase ácida prostática (sobretudo em altas titulações na cavidade vaginal), a pesquisa do PSA ou glicoproteína P30, produzido pelas células do epitélio prostático e presente no sêmen mesmo em caso de indivíduos vasectomizados ou azoospérmicos, bem como exame de confronto genético pela coleta de DNA. Nesse último caso, são colhidas amostras de referência da vítima e do material obtido por meio de suas secreções vaginal, anal ou oral, para eventual confronto genético posterior com o material proveniente do agente suspeito, visando a identificação do sujeito ativo do crime; E: incorreta. A dosagem da substância sintética prostaglandina F2-alfa não é utilizada para fins de comprovação de conjunção carnal, mas sim na avaliação da provocação de aborto por medicamentos, em ato efetuado no segundo trimestre da gravidez, em países onde tal procedimento é legalmente permitido. Gabarito “E” (MÉDICO LEGISTA – POLÍCIA CIVIL MG – 2013) Quanto à sexologia criminal, é correto afirmar, EXCETO: (a) O agente passivo do estupro pode ser tanto o homem quanto a mulher. (b) No atentado violento ao pudor, tanto o homem quanto a mulher podem ser o agente passivo. (c) O hímen é uma estrutura mucosa que separa a vulva da vagina e tem duas faces: uma, vaginal e profunda, e outra, vestibular ou superficial. (d) Em presença de hímen complacente, a constatação da presença de fosfatase ácida ou de glicoproteína P30 em resíduo vaginal pode contribuir no diagnóstico de conjunção carnal. A: correta. Após as alterações promovidas no Código Penal pela Lei n. 12.015 de 2009, o crime de estupro pode ter como sujeito passivo tanto o homem como a mulher, sendo que as condutas sexuais perpetradas mediante violência ou grave ameaça, para a configuração do delito, podem ser a conjunção carnal ou atos libidinosos dela diversos; B: incorreta. A frase está incorreta em razão de que o crime de atentado violento ao pudor não está mais em vigor no ordenamento jurídico brasileiro desde 2009. A conduta dizia respeito ao ato de “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal”. Os atos anteriormente descritos no crime de atentado violento ao pudor, após as alterações no Código Penal promovidas pela Lei n. 12.015 de 2009, estão tipificados no crime de estupro, que pode ter como sujeito passivo qualquer pessoa, homem ou mulher; C: correta. O hímen é uma estrutura mucosa que separa a vulva da vagina e tem duas faces: uma vaginal e profunda, e outra, vestibular ou superficial. Tem também duas bordas, uma aderente ou de inserção na parede vaginal e outra livre, que circunda o óstio ou orifício; D: correta. Em presença de hímen complacente (que permite a cópula vaginal sem se romper) e também em casos de indivíduos vasectomizados, a constatação da presença de fosfatase ácida ou da glicoproteína P30 na cavidade vaginal pode contribuir no diagnóstico de conjunção carnal, por serem substâncias presentes no sêmen, independentemente da presença ou ausência de espermatozoides. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA – PC/GO – 2015 – SEGPLAN) Para a sexologia forense, a conjunção carnal é a penetração do pênis em ereção na vagina (intrommissio penis in vaginam). Acerca desse tema, assinale a alternativa CORRETA. (a) A penetração de um instrumento contundente na vagina, por analogia, sempre deve ser considerada como uma conjunção carnal. (b) Conceitualmente, coito vestibular é o mesmo que conjunção carnal. (c) Na demonstração pericial de apuração dos crimes contra os costumes, a utilização de métodos de higiene e a troca das vestes de uma suposta vítima são prejudiciais às finalidades da perícia, uma vez que podem fazer desaparecer sinais ou evidências que auxiliariam na interpretação do fato. (d) São elementos constitutivos do crime de estupro a ação de constranger, a conjunção carnal, a violência ou grave ameaça e o dolo; desse modo, pode-se concluir que somente a mulher pode ser vítima desse tipo de crime. (e) No exame pericial, são sinais de certeza de uma conjunção carnal recente: rotura himenal, presença de espermatozoide na vagina e gravidez. A: incorreta. Apenas pode ser chamada de conjunção carnal a penetração do pênis na vagina ou cópula/coito vaginal ou imissio penis. A penetração de qualquer outro instrumento na vagina constitui ato libidinoso diverso da conjunção carnal; B: incorreta. Não ocorre penetração peniana na vagina no coito vestibular ou vulvar, que é um ato libidinoso caracterizado por contato do pênis na vulva, vestíbulo ou períneo, com ou sem ejaculação. Portanto, o ato não pode ser considerado conjunção carnal; C: correta. A alternativa, embora tenha sido considerada como correta, deve ser questionada por apresentar uma impropriedade técnica a partir do advento da Lei 12.015 de 2009: o Título VI do Código Penal não mais é nomeado como “Dos crimes contra os costumes”, mas sim “Dos crimes contra a dignidade sexual”. Mostra-se correta, portanto, apenas a ideia de que a realização de métodos de higiene e troca das vestes em uma vítima de crimes sexuais são prejudiciais à perícia, pois sinais importantes observados no corpo e nas vestes da vítima, como a presença de vestígios de sêmen, podem desaparecer com tais atos; D: incorreta. Embora, a princípio, os elementos constitutivos do crime de estupro tenham sido descritos corretamente na assertiva, o novo tipo penal descrito no art. 213 do CPB a partir da alteração legislativa pela Lei 12.015 de 2009 também inclui como elementar do tipo os outros atos libidinosos diversos da conjunção carnal, bem como a possibilidade de que alguém – e não mais apenas a mulher – seja o sujeito passivo do crime de estupro; E: incorreta. São descritos como sinais de conjunção carnal recente o encontro de esperma na vagina e a ruptura himenal não cicatrizada. Já a conjunção carnal antiga tem como vestígios a gravidez, a rotura cicatrizada do hímen e a contaminação profunda por determinadas doenças sexualmente transmissíveis. Contudo, nenhum dos sinais considerados como vestígios de conjunção carnal, nem mesmo o mais forte deles, confere certeza absoluta de que ocorreu o coito vaginal. Os sinais permitem sugerir, com maior ou menor força, a ocorrência da conjunção carnal. Gabarito “C” (MÉDICO LEGISTA – PC/GO – 2015 – SEGPLAN) A himenologia é ferramenta de grande utilidade na realização das perícias envolvendo violência sexual. Com relação a esse assunto, é CORRETO afirmar que: (a) a única prova material de virgindade é a integridade da membrana himenal. (b) o hímen que permite a conjunção carnal sem se romper é denominado hímen cribiforme. (c) a rotura himenal recente caracteriza-se pela presença de retalhos sangrantes, com hiperemia, edema, equimose e exsudato fibrinoso. Após a conclusão do processo natural de cicatrização, ocorre a reepitelização das bordas e a reconstituição da membrana himenal. (d) o hímen complacente decorre da presença de entalhes anatômicos em sua borda livre. (e) carúnculas mirtiformes são consideradas resquícios de uma membrana himenal. A: incorreta. Mesmo a integridade himenal não é prova material que forneça absoluta certeza de virgindade, uma vez que é possível ter havido conjunção carnal com hímen íntegro, como no caso de hímen complacente; B: incorreta. O hímen que permite a conjunção carnal sem se romper é denominado hímen complacente. O hímen cribiforme é o que apresenta múltiplos pequenos óstios ou orifícios; C: incorreta. A rotura himenal recente realmente apresenta retalhos sangrantes, hiperemia, edema, equimosee exsudato inflamatório. E após o processo de cicatrização, as bordas da rotura estarão reepitelizadas, com tonalidade rósea inicialmente e esbranquiçada posteriormente. Contudo, não ocorre a reconstituição da membrana himenal; não haverá a confrontação ou soldadura dos retalhos, com restitutio ad integrum da membrana. O que ocorre é apenas a cicatrização das bordas cruentas; D: incorreta. Entalhes anatômicos são reentrâncias congênitas que dão à borda livre do hímen um aspecto irregular. O hímen complacente não está relacionado à presença de entalhes ou chanfraduras, mas sim à exiguidade ou elasticidade exagerada de sua membrana; E: correta. As carúnculas mirtiformes são retalhos remanescentes da membrana do hímen, que aparecem especialmente após partos vaginais, formando pequenas cristas ou tubérculos distribuídos ao longo da linha de inserção himenal. Comentários adicionais: não se deve confundir a Himenologia (estudo do hímen) com a Himeneologia (estudo dos aspectos médico-legais relacionados ao casamento). Gabarito “E” (DELEGADO DE POLÍCIA PC/RJ – 2009 – CEPERJ) Uma mulher foi submetida a coito anal mediante violência e, após a feitura do registro de ocorrência na Delegacia Policial, recebeu guia policial para realização de exame pericial no IML. No que é pertinente ao aludido exame está INCORRETA a assertiva: (a) No exame efetuado a pericianda pode ser colocada em atitude genupeitoral ou em decúbito lateral. (b) O exame positivo pode denotar equimose, rágade, escoriação, edema, sangue, esperma e exulceração. (c) Este coito reiterativo pode evidenciar lesão cicatricial de forma triangular com base na margem do ânus. (d) Não há diagnóstico de coito anal pela fosfatase ácida e glicoproteína P30 no suspeito vasectomizado. (e) Deverá ser recolhido material para comprovar a presença de espermatozoide através de exame laboratorial. A: correta, pois as posições genupeitoral (com os joelhos encostados no tórax, chamada também de “posição de prece maometana”) ou em decúbito lateral flexionado são as mais adequadas para um exame cuidadoso e diligente da região perianal; B: correta. Em coitos anais violentos, são descritos equimoses e sufusões hemorrágicas, fissuras ou rágades, escoriações, edema, sangramento e exulcerações da região perianal e paredes anorretais e perineais, além da presença de esperma caso tenha ocorrido ejaculação; C: correta. Em exames físicos de coito anal não violento e reiterado, além do apagamento das pregas radiadas e relaxamento dos esfíncteres, pode ser vista uma pequena lesão cicatricial, de forma triangular, com base voltada para a margem do ânus e ápice no períneo, ao nível da união dos quadrantes inferiores. Essa lesão tem sido chamada de sinal de Alfredo Machado; D: incorreta. Ressaltando-se que a banca examinadora solicitou a marcação da alternativa incorreta, tem-se que, mesmo em indivíduos vasectomizados, é possível o diagnóstico da ejaculação por meio das dosagens de fosfatase ácida e glicoproteína P30, que são vestígios de sêmen, uma vez que produzidas pelas células prostáticas e independentes da presença de espermatozoides; E: correta. É fundamental colher material para a pesquisa de espermatozoides, que é o elemento figurado do esperma de maior certeza. Pode ser identificado por meio de exame a fresco, com reagente de Florence ou métodos de Barbério ou Baecchi. Gabarito “D” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MA – 2012 – FGV) Uma mulher comparece ao IML alegando que, sob a ameaça de um revólver, foi obrigada a manter conjunção carnal com um desconhecido. O exame pericial não apurou vestígios de violência física. O exame ginecológico apurou a presença de carúnculas mirtiformes. O exame laboratorial da secreção vaginal colhida não revelou a presença de espermatozoides e a dosagem de fosfatase ácida estava elevada. A análise do caso apresentado permite concluir que: (A) a periciada não é virgem e houve conjunção carnal recente comprovada pela dosagem da fosfatase ácida na secreção vaginal. (B) a periciada apresenta vestígios de conjunção carnal recente pela presença de carúnculas mirtiformes. (C) a periciada é virgem pela ausência de rotura himenal e de espermatozoides na secreção vaginal. (D) a periciada não é virgem mas não é possível determinar se houve conjunção carnal recente. (E) a presença de carúnculas himenais é incompatível com a dosagem de fosfatase ácida. As carúnculas mirtiformes himenais consistem em retalhos de hímen roto por partos vaginais, que se retraem e constituem excrescências ou tubérculos na borda himenal. São mais comuns em mulheres mais velhas, com vida sexual ativa e que já tiveram vários partos por via vaginal. A fosfatase ácida é uma enzima produzida normalmente pelas células do epitélio glandular prostático, em altos teores, estando presente no sêmen. Contudo, essa enzima não é produzida apenas na próstata, mas também por outros tecidos e órgãos do corpo humano, podendo ser encontrada até mesmo nas hemácias e na cavidade vaginal, em baixos teores. A presença de elevadas titulações na cavidade vaginal é um vestígio que pode corroborar a presença de sêmen. Contudo, não se trata de exame confirmatório, justamente pelo fato de a enzima não ser encontrada apenas no tecido prostático masculino. Logo, mesmo ela estando elevada na cavidade vaginal, não é possível afirmar, com certeza e segurança, que houve conjunção carnal recente, sobretudo diante da ausência de espermatozoides ao exame. Ressalte-se que isso não significa que não ocorreu o crime narrado pela vítima, pois o estupro pode ter ocorrido sem ejaculação, por meio de outros atos libidinosos, e sem sinais de violência física efetiva, mas apenas com grave ameaça (violência psíquica). O exame físico da paciente, apenas, não pode confirmar na hipótese se houve conjunção carnal recente. Gabarito “D” (MÉDICO LEGISTA – PC/DF 2015 – FUNIVERSA) O diagnóstico de gravidez pode ter um interesse médico-legal significativo e deve ser feito por meio da anamnese, do exame objetivo e dos exames complementares de imagem e laboratoriais. Quanto ao exame objetivo, considera-se um sinal de presunção de gravidez o(a): (a) cianose na vulva. (b) flexibilidade do istmo do útero. (c) pulsação vaginal. (d) sinal de Halban. (e) sinal de Puzos. D: correta. Quanto aos sinais médico-legais periciais de gravidez, são descritos sinais de presunção, de probabilidade e de certeza. São sinais de presunção de gravidez: perturbações digestivas (como náuseas, vômitos e desejos), máscara gravídica ou cloasma (manchas na face), lanugem ou sinal de Halban, pigmentação da linha alba (linha média abdominal), congestão das mamas, hipertricose (aumento de pelos), estrias abdominais e alterações de aparelhos e sistemas, como desmaios e tonturas, taquicardia, sonolência e polaciúria (aumento da frequência urinária, com redução do volume em cada micção); A, B, C e E: incorretas. As quatro alternativas restantes apresentam sinais de probabilidade da gravidez. São eles: amenorreia (suspensão da menstruação), cianose da vulva e da vagina, pulsação vaginal, flexibilidade do istmo uterino, hipertrofia do útero e alteração de sua forma, aumento do volume uterino, modificação das glândulas mamárias com aumento de volume, rede venosa superficial evidente e aumento de pigmentação das aréolas. O chamado sinal de Puzos nomeia duas alterações da gravidez: a primeira é o rechaço vaginal, que é sinal de probabilidade. A segunda é o rechaço uterino, que é sinal de certeza de gravidez. São também sinais de certeza: movimentos do feto, batimentos cardíacos fetais, sopro uterino, palpação de segmentos fetais, exames de imagem mostrando partes fetais e testes biológicos de gravidez. Gabarito “D” (MÉDICO LEGISTA – PC/MA – 2012 – FGV) Uma mulher de 32 anos apresenta-se com queixas de lipotímia, taquicardia, náuseas e vômitos, podendo estar grávida. Ao ser examinada observa-se o sinal de Kluge, que indica uma probabilidade de gravidez. O sinal de Kluge é constatado em razão: (A) da cianose da vulva. (B) do cloasma. (C) daalteração da forma uterina. (D) da pigmentação da linha alba. (E) do aumento da rede venosa superficial das mamas. A: correta; o sinal de Klüge é a cianose da vulva, sinal de probabilidade de gravidez. B: incorreta; o cloasma ou “máscara gravídica” é uma área de escurecimento da pele da face, sinal de presunção de gravidez. C: incorreta. A alteração da forma uterina, sinal de probabilidade de gravidez, é o sinal de Piskacek. D: incorreta; a pigmentação da linha alba abdominal é sinal de presunção de gravidez e não consiste no epônimo nomeado. E: incorreta, pois a rede venosa superficial mamária é o sinal de Haller, também de probabilidade de gravidez. Gabarito “A” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/SP – 2014 – VUNESP) Mulher de 23 anos de idade, sexualmente ativa, procura serviço médico devido a fortes e lancinantes dores abdomino-pélvicas há 1 hora. O exame clínico, associado a exames laboratoriais e de imagem, revela gestação ectópica com embrião fixado e viável em tuba uterina esquerda. A paciente evade-se do local e 3 meses após retorna, agora com franco quadro de hemorragia interna, evoluindo com choque hemodinâmico e parada cardiorrespiratória. Os médicos revertem a parada e, analisando o histórico, determinam que a causa do sangramento provém da ruptura da tuba uterina, que é imediatamente retirada cirurgicamente. Essa condição configura, do ponto de vista médico-legal, um aborto: (a) social. (b) eugênico. (c) terapêutico. (d) econômico. (e) piedoso. A e D: incorretas. Aborto social e aborto econômico são termos tidos por sinônimos, que nomeiam a interrupção da gestação por motivos econômicos ou sociais, de falta de recursos financeiros, conduta delituosa que não se justifica e não está abarcada pelas excludentes de ilicitude que vigoram no país; B: incorreta. Aborto eugênico ou eugenésico ocorre quando a interrupção da gestação se dá como intervenção em fetos com anomalias, malformações ou doenças congênitas, por verdadeiro motivo preconceituoso ou racista, com fins de “aprimoramento da espécie”. A doutrina médico- legal e bioeticista tem diferenciado essa terminologia do chamado “aborto seletivo” ou, mais corretamente, interrupção seletiva da gestação. Nessa hipótese, a anomalia congênita seria incompatível com a vida, como ocorre nos casos de anencefalia, cuja interrupção já foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54. Interromper a gravidez em caso de anomalia que não permite a vida não seria propriamente uma conduta eugênica ou discriminatória, já que não há como manter a vida do feto. Tem-se considerado que, se a malformação congênita é letal, incompatível com a vida, denominar a interrupção de eugenia seria infundado e desarrazoado; C: correta. O aborto terapêutico, também chamado de aborto necessário ou profilático, é a interrupção médica da gravidez abarcada por uma causa de exclusão de ilicitude e está descrito no inciso I do art. 128 do Código Penal (CPB): não se pune o aborto praticado por médico se não há outro meio de salvar a vida da gestante. Na hipótese, devem estar presentes os seguintes requisitos cumulativos: perigo de vida para a mãe, perigo este sob a dependência direta da gravidez; a interrupção da gravidez faz cessar este perigo para a vida da mãe; não há outro meio de salvar a vida da gestante. Na hipótese, a ruptura da tuba uterina levando a choque hipovolêmico e parada respiratória demonstram o risco de morte, mostrando-se lícita e possível, pelo estado de necessidade, a interrupção da gestação com a retirada da tuba uterina que abarcava a gestação ectópica ou tubária; E: incorreta. O aborto piedoso também é chamado de ético, moral, sentimental, humanístico ou humanitário. Trata-se de conduta protegida pela excludente de ilicitude descrita no inciso II do art. 128 do CPB: não se pune o aborto praticado por médico se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Gabarito “C” (MÉDICO LEGISTA AMAPÁ – 2016 – FCC) O aborto criminoso no Brasil é subnotificado, visto que os fatos nem sempre chegam ao conhecimento dos órgãos responsáveis. De acordo com a legislação brasileira, o aborto é considerado criminoso quando: (a) é o único meio capaz de salvar a vida da gestante. (b) o feto morre enquanto a gestante estava viajando de avião. (c) a gestação é resultante de estupro e o ato é consentido pela gestante plenamente capaz e praticado por médico. (d) a gestante faz uso de comprimidos de misoprostol fornecidos pelo marido. (e) o médico não aguarda autorização judicial para praticar antecipação terapêutica do parto de feto comprovadamente anencéfalo em grávida plenamente capaz, que consente o procedimento. A: incorreta. Trata-se do aborto necessário ou terapêutico, quando não há outro meio capaz de salvar a vida da gestante. Trata-se de emergência médica abarcada por uma excludente de ilicitude, o estado de necessidade; B: incorreta. A hipótese consiste em aborto espontâneo não associado à vontade ou ao ato doloso de qualquer pessoa, seja a gestante ou um terceiro, não se constituindo conduta criminosa; C: incorreta. Em caso de gravidez resultante de estupro e na presença do consentimento da gestante capaz, pode o médico realizar a interrupção da gestação, tratando-se do aborto ético, humanístico ou sentimental, abarcado pela excludente de ilicitude do inciso II do art. 128 do CPB; D: correta. O uso de substâncias abortivas – como o medicamento misoprostol – de acordo com a vontade do casal não é abarcado pela legislação brasileira, tratando-se de aborto voluntário, provocado pela própria gestante, que responde por sua conduta delitiva dolosa tipificada no art. 124 do CPB; E: incorreta. Em casos de anencefalia comprovada por exame ultrassonográfico realizado após 12 semanas de gestação, com diagnóstico firmado por dois médicos, a gestante tem o direito de interromper a gestação em qualquer tempo, independente da idade gestacional. Não é necessário que se obtenha autorização judicial, uma vez que o Supremo Tribunal Federal já analisou a questão na ADPF 54, autorizando a interrupção da gestação. O mesmo não se diz para o caso de outras malformações congênitas fetais também incompatíveis com a vida, uma vez que apenas a anencefalia foi alvo de discussão pelo STF na citada ação. Nesses casos, uma autorização judicial para eventual interrupção da gravidez seria mandatória. Gabarito “D” (DELEGADO DE POLÍCIA/PR – 2013 – COPS-UEL) Esclareça-se inicialmente que os termos abortamento e aborto, embora intrinsecamente relacionados, não são sinônimos. Abortamento é o ato de abortar e aborto é o produto expelido. Ressalte-se ainda que esse conceito, em Medicina Legal, difere do da Obstetrícia. Conceitua-se como abortamento, em obstetrícia, a interrupção da gravidez com idade igual ou inferior a 20-22 semanas completas, levando-se em conta, respectivamente, a data da última menstruação ou da ovulação da mulher. Quando não for possível estabelecer com precisão a idade da gestação, considerar-se-ão aborto os produtos de concepção que pesarem 500 gramas ou menos. Já a definição médico-legal do aborto consiste em interrupção criminosa da gestação, não importando a idade em que isso venha a ocorrer. Quanto ao tema do aborto sob a ótica médico-legal, assinale a alternativa CORRETA. (a) Para a comprovação do aborto, não é necessário que a perícia médica demonstre a presença de gestação prévia da mãe, bastando o exame dos restos fetais ou ovulares e a verificação de que houve um parto de um nativivo. (b) O aborto sentimental ou piedoso ocorre em casos de risco de vida iminente para a mãe em que a única modalidade terapêutica é a interrupção da gestação. (c) A perícia de constatação de aborto deve ser realizada em fetos enviados ao IML e consiste em autópsia para avaliar a causa de morte fetal. (d) No caso de aborto terapêutico, é permitido ao médico realizá-lo mesmo sem o consentimento da mãe, bastando que outro médico concordeque é a única modalidade terapêutica possível para salvar a vida da gestante. (e) O exame fetal é parte importante da comprovação da materialidade do crime de aborto, pois é através dele que se verificam os elementos comprobatórios de gestação como a docimásia de Galeno. A: incorreta. O diagnóstico pericial do aborto constitui perícia complexa, sendo fundamental realizar o exame da gestante, com a necessária comprovação do diagnóstico da gravidez e das lesões, além de se excluir o aborto espontâneo e o aborto traumático, identificar o meio causador e realizar também o exame dos restos fetais. Ademais, em situações de aborto, o produto da gestação será um natimorto e não um nativivo; B: incorreta. O aborto que ocorre em casos de risco de morte iminente para a mãe, em que a única modalidade terapêutica é a interrupção da gestação, é o chamado aborto terapêutico, necessário ou profilático. O aborto sentimental ou piedoso ocorre em casos em que a gravidez resultou de estupro e sua interrupção foi precedida de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal; C: incorreta. A perícia de constatação do aborto abarca o exame dos restos fetais, não necessariamente encaminhados ao IML, pois pode se tratar de aborto espontâneo de causa natural. Ademais, a perícia do aborto criminoso não consiste simplesmente em necropsia para avaliar a causa da morte fetal, mas especialmente em exame da mãe, com comprovação da gravidez e das lesões, exclusão de eventual aborto espontâneo ou traumático, evidências de provocação dolosa do aborto e identificação do meio causador; D: correta. A banca examinadora considerou como correta a assertiva descrita na letra D, que, contudo, não encontra respaldo na doutrina médico-legal e penalista majoritária. Efetivamente, em caso de risco iminente de morte materna, sob dependência direta da gravidez, permite-se o chamado aborto terapêutico ou necessário, mesmo sem o consentimento materno. Contudo, não há obrigatoriedade legal da concordância de outro médico para que a interrupção da gestação seja realizada, já que a norma penal menciona a exclusão de ilicitude do aborto necessário praticado “por médico” (no singular), sendo que a doutrina penalista e médico-legal não menciona tal requisito de concordância obrigatória por outro médico, mas apenas uma recomendação, quando possível. Vale lembrar, ainda, que até mesmo em perícias médicas não há mais a necessidade de segundo perito oficial, após a reforma processual penal, não mais havendo a obrigatória figura do “perito subscritor”. Dessa forma, cabe questionamento quanto à adequação da questão, ainda que a banca examinadora tenha decidido por sua manutenção; E: incorreta .A docimásia de Galeno não é um elemento comprobatório de gestação, mas sim uma prova de vida extrauterina que visa a verificar a presença ou ausência de respiração autônoma do infante nascido ou do recém-nascido, sendo utilizada na perícia de infanticídio. Gabarito “D” (PERITO CRIMINAL FEDERAL MÉDICO – PF – 2013 – CESPE) Tão logo recebeu alta hospitalar, uma mãe saiu da maternidade com seu filho, recém-nascido, e colocou-o, ainda com vida, em um depósito de lixo. Localizada por um indivíduo que passava perto desse depósito, a criança foi levada para um pronto-socorro, mas, apesar de ter recebido o necessário atendimento médico, faleceu por hipotermia. Considerando essa situação hipotética, julgue os itens subsequentes. (1) Se a gravidez tiver resultado de estupro, isso caracterizará uma excludente de ilicitude para homicídio, ou seja, não se punirá a mãe. (2) Caso a mãe em questão, durante a gravidez, tivesse apresentado diabete gestacional, grave doença hipertensiva da gravidez ou placenta prévia, a gravidez poderia ter sido interrompida, e o médico estaria protegido por excludente de ilicitude prevista no Código Penal. (3) A mãe em questão cometeu o crime de infanticídio, pois estava movida pelo estado puerperal. 1: errada. A gravidez resultante de estupro é uma das hipóteses de exclusão de ilicitude do aborto praticado por médico e não de homicídio ou abandono de recém-nascido praticados pela mãe. 2: a questão foi considerada correta. Em caso de risco de morte da gestante por condições graves de sua saúde, é prevista a exclusão de ilicitude do aborto, podendo a gravidez ser interrompida por médico. Trata-se do chamado aborto necessário, terapêutico ou profilático. Deve-se ressaltar, no entanto, que não é qualquer doença da gestante, mas sim uma condição patológica grave com evidente risco de morte materna. O risco deve estar relacionado à gravidez, a interrupção da gestação deve fazer cessar o perigo de morte e deve ser também a única possibilidade para cessar tal risco. 3: errada. Não há qualquer evidência de influência no estado puerperal. Ademais, tal estado está relacionado ao crime de infanticídio, quando a mãe mata o filho durante o parto ou logo após, em um período temporal relativamente curto. A hipótese em questão pode configurar o crime de abandono de recém- nascido e não o crime de infanticídio. Gabarito 1E, 2C, 3E (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2011 – FUMARC) Representa uma docimásia extrapulmonar: (a) Siálica de Souza-Dinitz. (b) Hidrostática de Galeno. (c) Táctil de Nero Rojas. (d) Visual de Bouchut. A: correta. As docimásias são provas que se baseiam na possível respiração autônoma – e seus efeitos – do infante nascido ou do recém-nascido, mostrando-se relevantes na avaliação da ocorrência do crime de infanticídio. Há, portanto, docimásias pulmonares e extrapulmonares. A docimásia siálica de Souza-Dinitz (siálica refere-se a saliva) é extrapulmonar e baseia-se na identificação de saliva no estômago, uma vez que, quando respiramos, também deglutimos saliva; B: incorreta. Pois a docimásia hidrostática de Galeno é uma prova pulmonar. É a mais prática, antiga e clássica e baseia-se na densidade em água do pulmão quando houve ou não respiração. É realizada em quatro fases que buscam avaliar a flutuação do pulmão ou de seus fragmentos em um recipiente contendo água. A prova, no entanto, pode gerar resultados falso-positivos em duas hipóteses: quando realizada após 24 horas de morte, em decorrência da produção de gases da putrefação (os pulmões podem flutuar pela presença dos gases da putrefação e não pela ocorrência de efetiva respiração); e quando foram realizadas manobras de ressuscitação por médicos, com respiração artificial e ventilação do recém-nascido com pressão positiva. Para evitar tais resultados falso-positivos, pode-se realizar a docimásia histológica de Balthazard, que de todas é a mais fidedigna, pois consiste na análise microscópica (ou histológica) dos pulmões; C: incorreta, pois a docimásia táctil de Nero Rojas também é uma prova pulmonar. Baseia-se na palpação dos pulmões, havendo uma consistência esponjosa e um som de crepitação quando ocorreu respiração. Se não ocorreu, a consistência é densa e carnosa; D: incorreta, uma vez que a docimásia visual de Bouchut é a simples inspeção visual dos pulmões: observa-se o aspecto insuflado e desenho alveolar em mosaico, quando ocorreu respiração. Se não ocorreu, os pulmões estarão colabados, densos e compactos. Gabarito “A” Comentários complementares: ressalte-se a docimásia diafragmática de Ploquet, que é a observação do rebaixamento das cúpulas do músculo diafragma (músculo que separa o tórax do abdome), que fica horizontalizado quando ocorreu a respiração. O feto que não respirou tem o diafragma em forma de cúpula, convexo. A docimásia gastrointestinal de Breslau também se baseia na densidade de órgãos em água, mas, dessa vez, trata-se do tubo digestivo que é colocado em água. Quando ocorre respiração, há também penetração de ar no tubo digestivo e ele vai flutuar. (MÉDICO LEGISTA – POLÍCIA CIVIL/SP – 2014) A figura a seguir corresponde à realização da Docimásia Hidrostática de Galeno durante uma necropsia de feto para a constatação se houve vida extrauterina. Observa-se que fragmentos dos pulmões flutuam no recipiente contendo água.Pode-se afirmar, portanto, que: (a) certamente houve vida extrauterina, sendo um nativivo. (b) é possível que seja um nativivo ou falso-positivo decorrente de manobras de reanimação. (c) não houve vida extrauterina, sendo um natimorto. (d) se trata, com certeza, de falso-positivo decorrente de manobra de reanimação. (e) se trata, com certeza, de falso-negativo decorrente de gases produzidos pela putrefação. B: correta. A prova docimásia hidrostática pulmonar de Galeno é uma prova de vida extrauterina e baseia-se na densidade em água dos pulmões com ou sem respiração. É realizada em quatro fases, sendo a primeira a colocação de todo o bloco cardiopulmonar contendo língua e timo em um recipiente contendo água. Sendo a primeira fase negativa (bloco afunda no recipiente), passa-se à segunda fase, que é a separação dos pulmões do restante dos órgãos do bloco. Sendo negativa, passa-se à terceira fase, que consiste no corte de fragmentos dos pulmões. Caso eles permaneçam no fundo do recipiente, pegam-se alguns desses fragmentos e comprimem-se com os dedos para avaliar eventual desprendimento de finas bolhas gasosas. Sendo apenas a terceira fase positiva, pode-se concluir por uma respiração precária, não se podendo afastar, contudo, a presença de uma prova com resultado falso-positivo, o que ocorre especialmente em duas situações: quando já se passaram 24 horas após a morte e gases da putrefação começaram a ser produzidos (os fragmentos podem flutuar em razão dos gases da putrefação e não pela presença de ar inspirado) ou quando ocorreram manobras médicas de ressuscitação cardiopulmonar, com ventilação pulmonar com pressão positiva (os fragmentos podem flutuar pelo ar colocado artificialmente pelos médicos nas manobras de ressuscitação por respiração artificial). Logo, a prova positiva na fase descrita na questão pode significar um nativivo (nascido vivo, com respiração espontânea) ou falso-positivo decorrente de manobras de reanimação, bem como presença de gases da putrefação, não havendo como afirmar com certeza do que se trata efetivamente; A, C, D e E: incorretas. Não há como se afirmar com certeza que se trata de um nativivo ou se aprova é falso-negativa, pelas razões explicitadas acima. Quanto a um natimorto, sem vida extrauterina, os fragmentos de pulmões não flutuariam em água, em razão da densidade aumentada por ausência de expansão aérea pulmonar. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA – PC/DF 2015 – FUNIVERSA) No crime de infanticídio, a perícia na criança (feto nascituro ou recém-nascido) tem por base o estabelecimento ou não do nascimento com vida. Uma das maneiras de comprovação da atividade respiratória baseia-se na densidade do tecido pulmonar, que pode ser menor ou maior do que a água, na vigência ou não de respiração. Esse teste de flutuação pulmonar também é conhecido como docimásia: (a) diafragmática de Ploquet e Casper. (b) hidrostática de Icard. (c) hidrostática de Galeno. (d) de Vedren. (e) de Breslau. A: incorreta. A docimásia diafragmática de Ploquet e Casper baseia-se na observação da horizontalidade do músculo diafragma em casos em que houve respiração, estando ele em forma de cúpula de convexidade exagerada nos casos em que não existiu respiração autônoma; B: incorreta. Icard nomeia várias provas docimásias. A hidrostática é realizada em complementação à prova de Galeno, nos casos de dúvidas ou quando apenas a sua quarta fase é positiva, pois presume-se quantidade mínima de ar nos pulmões. Icard preconizou que sejam feitas as docimásias por aspiração e por imersão em água quente, visando a dilatar o ar que se encontra nos alvéolos, favorecendo a sua detecção, ainda que em menores quantidades; C: correta. A prova docimásia hidrostática pulmonar de Galeno é uma prova de vida extrauterina e baseia-se na densidade em água dos pulmões com ou sem respiração; D: incorreta. A docimásia de Vreden, Wendt e Gelé é extrapulmonar e consiste em uma prova auricular, quando se tem para exame apenas a cabeça do feto. Com a respiração, o ar também penetra nas cavidades timpânicas (ouvido médio) pela tuba auditiva. Punciona-se o tímpano com a cabeça em um recipiente com água, visando a observar a saída de uma bolha de ar da cavidade timpânica; E: incorreta. A docimásia de Breslau também é extrapulmonar e consiste em uma prova gastrointestinal, em que todo o aparelho digestivo é retirado e colocado em recipiente amplo com água, observando se as vísceras sobrenadam ou afundam. Baseia-se no fato de que, com as primeiras incursões respiratórias, o ar também penetra no tubo digestivo. Gabarito “C” (PROMOTOR DE JUSTIÇA MP/PARAÍBA – 2018 – FCC) As docimásias são realizadas para verificar a existência de vida extrauterina em casos de aborto e infanticídio. Entre as técnicas possíveis, a docimásia: (a) óptica de Bouchut é realizada por meio de pequenos fragmentos pulmonares que são colocados entre duas lâminas e esmagados. Quando a criança respirou, é verificada a presença de bolhas de ar no meio do esfregaço. (b) hidrostática de Icard consiste na imersão dos pulmões em água em temperatura ambiente, sendo verificada a sua flutuação em quatro fases. Quando a criança respirou, ocorre a flutuação do material em questão em todas as fases. (c) pneumo-hepática de Puccinotti consiste em verificar as taxas de oxihemoglobina no sangue do pulmão e do fígado. Se elas forem idênticas, não houve respiração. Se a taxa for mais alta no pulmão, houve respiração. (d) histológica de Balthazard consiste na análise histológica de um fragmento de pulmão. O pulmão que respirou terá estrutura igual ao pulmão de um adulto. O pulmão que não respirou tem as cavidades alveolares colabadas. (e) alimentar de Beoth investiga a presença de bactérias no sistema gastrointestinal do feto como evidência de respiração. Para alguns autores, essa presença se deve à ingestão de alimentos e não pela respiração, mas também seria considerada uma prova de vida extrauterina. A: incorreta. A alternativa descreveu a docimásia óptica de Icard. Contudo, a docimásia óptica ou visual de Bouchut é distinta e corresponde à simples inspeção visual do pulmão examinado, notando-se mosaico alveolar evidente quando ocorreu respiração e um aspecto compacto, denso e uniforme quando não ocorreu; B: incorreta. A alternativa descreveu a docimásia hidrostática pulmonar de Galeno, feita em quatro fases. A docimásia hidrostática de Icard é um complemento à prova de Galeno, quando apenas sua quarta foi positiva, havendo as provas por aspiração e por imersão em água quente, de modo a dilatar o ar nos alvéolos; C: incorreta. A alternativa descreveu a docimásia hematopneumo-hepática de Severi. A prova pneumo- hepática de Puccinotti avalia, de forma comparativa, a quantidade de sangue no pulmão e no fígado. Se houve respiração, o pulmão tem peso específico menor que o fígado; D: correta. A docimásia histológica de Balthazard é a mais fidedigna e pode ser usada mesmo em casos em que já há produção de gases da putrefação, o que pode gerar resultado falso- positivo na docimásia de Galeno, mais prática e mais simples. Se houve respiração, o pulmão terá estrutura histológica igual ao pulmão de um adulto, com dilatação dos alvéolos, aumento de volume sanguíneo nos capilares e achatamento das células de revestimento epitelial. Do contrário, haverá colabamento alveolar; E: incorreta. A alternativa descreveu a docimásia bacteriana de Malvoz. A docimásia alimentar de Beoth corresponde à identificação microscópica de restos alimentares (que não podem ser confundidos com o induto sebáceo que pode ser deglutido antes do nascimento) no estômago do recém-nascido, o que fala a favor de ter havido vida extrauterina. Gabarito “D” (MÉDICO LEGISTA – PC/MT 2013 – FUNCAB) No crime de infanticídio, a expressão “durante o parto ou logo após” significa: (a) desde o período expulsivo do parto até a dequitação placentária. (b) ainda no canal do parto e depois da separação materno-fetal, pela ligadura e secção do cordão umbilical. (c) do início do trabalho de parto atéo puerpério tardio. (d) da expulsão do concepto até o puerpério remoto. (e) antes que o recém-nascido receba os primeiros cuidados. Uma vez que o crime de infanticídio traz como elementar do tipo penal a expressão “durante o parto ou logo após”, devem ser estabelecidos critérios temporais para tal configuração. O parto, para fins médico-legais, começa com a ruptura da bolsa amniótica (por convenção, dada a maior objetividade desse fato) e termina com a dequitação, que é a expulsão da placenta. Logo, o período “durante o parto” está compreendido nesses limites temporais. Já a expressão “logo após” traz questionamentos, mas sua razão de ser deve-se à necessidade de encurtar o tempo durante o qual a morte do concepto é praticada pela mãe sob o tratamento penal mais benéfico do infanticídio, em relação ao homicídio. Pela Medicina Legal, a expressão “logo após” compreende o momento em que o recém-nascido ainda se encontra em estado sanguinolento, antes de receber os primeiros cuidados. Se a mãe cuida da criança, a limpa e a amamenta e depois a mata, não pode ser considerada infanticida, mas sim homicida. Comentários adicionais: é importante o conhecimento acerca dos limites temporais da gravidez, do parto e do puerpério, para fins periciais. A gravidez se inicia, para a Medicina Legal, com a fecundação, que ocorre no terço distal da tuba uterina. Contudo, para fins de proteção pelo Direito Penal, a posição majoritária defende que o início ocorre com a nidação, que é a implantação do ovo ou zigoto no endométrio que reveste internamente a parede uterina. Dessa forma, a interrupção da gravidez antes da nidação (como em uso de DIU) não configura aborto e é fato penalmente atípico. Há, contudo, divergências doutrinárias quanto a esse início, havendo autores no Direito Penal que consideram o início como a fecundação (e afirmam que o uso de DIU, contudo, seria exercício regular de direito, apto a afastar a ilicitude da conduta). A gravidez termina, para fins objetivos periciais, com a ruptura da bolsa amniótica (dado convencionado por ser mais objetivo do que as contrações uterinas rítmicas), quando se inicia, portanto, o parto. Este vai até a dequitação, que é a expulsão da placenta. Assim, é a dequitação que inicia o puerpério, que vai até a total involução do organismo materno às condições anteriores à gravidez, o que dura cerca de 6 a 8 semanas. Contudo, esse período é bastante variável e pode se prolongar até o retorno dos ciclos menstruais, sobretudo quando há amamentação. Deve-se ressaltar que o conceito de puerpério é obstétrico e não se confunde com o conceito de “estado puerperal” do crime de infanticídio, que é uma espécie de ficção jurídica que leva em consideração principalmente aspectos psicológicos. O chamado “estado puerperal” não é configurador de inimputabilidade penal; tanto é assim que a conduta típica de infanticídio é tratada no art. 123 do CPB e não em seu art. 26, que trata da inimputabilidade. Gabarito “E” (MÉDICO LEGISTA/PE – 2016 – CESPE/CEBRASPE) Com relação a parto e a puerpério, assinale a opção CORRETA. (a) A presença de bossa serossanguínea na cabeça do bebê é sinal de parto recente. (b) A loquiação caracteriza o fim do período puerperal. (c) O puerpério inicia-se com a perda do tampão mucoso. (d) Não é possível observar sinais de parto em partes do corpo diferentes do canal do parto. (e) A saída da placenta encerra o período puerperal. A: correta. A bossa serossanguinolenta neonatal ou caput succedaneum representa um edema e acúmulo de líquido no couro cabeludo do bebê que ocorre devido à pressão no trabalho de parto, na zona de apresentação da cabeça ao nascimento. O tecido subcutâneo fica abaulado, ultrapassando as linhas de sutura. É indicativo, portanto, de parto recente; B: incorreta. Os lóquios são fluxos genitais, secreções provenientes das lesões uterinas que ocorrem durante o parto e indicam sinais de parto recente. São sanguinolentos até o 3º dia após o parto, mais pálidos em torno de 5 dias e branco-amarelados por volta de 7 dias. Podem persistir até em torno de 12- 15 dias e não indicam o fim do período puerperal, que é bem posterior à parada de drenagem da loquiação; C: incorreta. O puerpério inicia-se com a dequitação, que é a expulsão da placenta, acontecimento que encerra o período do parto. A perda do tampão mucoso é fenômeno que ocorre no fim da gestação e início do trabalho de parto; D: incorreta. Os sinais de parto recente e antigo podem ser observados não apenas no canal vaginal de parto, mas também nas mamas, no ventre, na parede abdominal, nos ovários e na forma do corpo uterino; E: incorreta. A saída da placenta (dequitação) encerra o parto e inicia o puerpério. Este vai, portanto, da dequitação até a total involução do organismo materno às condições anteriores à gestação. Gabarito “A” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/AC – 2017 – IBADE) Uma pessoa vai até a Delegacia de Polícia relatar que um indivíduo do sexo masculino reiteradamente é visto à noite, num cemitério, praticando atos sexuais com cadáveres femininos retirados dos túmulos. Com base nas informações acima, pode-se afirmar que se está diante de um caso de: (a) necrofilia. (b) anafrodisia. (c) autoerotismo (d) sadismo. (e) frigidez. A: correta. As parafilias são transtornos da sexualidade caracterizados por anseios, fantasias ou comportamentos sexuais anômalos intensos e recorrentes, que envolvem práticas incomuns e causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo social ao indivíduo. Deve-se considerar a influência de questões sociais e culturais na interpretação de tais práticas como anômalas. A necrofilia ou tanatofilia é tida como uma perversão sexual caracterizada pela obsessão impulsiva de praticar atos sexuais com cadáveres. Há autores que consideram pseudonecrofilia a prática de atos sexuais em ambientes ou situações que lembrem a morte, mas sem contato efetivo com o cadáver; B: incorreta. A anafrodisia é a redução ou deteriorização do instinto sexual no homem, geralmente associada a patologias neurológicas ou glandulares; C: incorreta. O autoerotismo é quando o gozo sexual prescinde da participação física do parceiro e ocorre com mera imaginação ou contemplação, sem toques físicos. É também conhecido como coito psíquico de Hammond ou psicolagnia; D: incorreta. O sadismo é a excitação sexual por meio do sofrimento físico ou moral do parceiro, mais comum em homens. O nome se refere ao Marquês de Sade; E: incorreta. A frigidez é a redução do instinto sexual na mulher, por causas físicas ou psíquicas. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA – POLÍCIA CIVIL MG – 2013) A parafilia, que se caracteriza pela atração que tem determinado indivíduo do sexo masculino só por mulheres vestidas de homem, as quais agem e se representam sexualmente como homem, adotando ele o comportamento de mulher, denomina-se: (a) Dolismo. (b) Fetichismo. (c) Travestismo. (d) Andromimetofilia. A: incorreta. O dolismo vem da palavra inglesa doll (boneca) e caracteriza- se pela atração sexual por bonecas ou manequins de conformação humana; B: incorreta. O fetichismo ou simbolismo erótico é a fixação da libido em algo que simboliza a pessoa desejada, podendo ser determinada parte do corpo (parcialismo) ou objetos inanimados. Se a atração erótica obsessiva é pelos pés ou pelos sapatos, recebe o nome de retifismo; C: incorreta. O travestismo ou fetichismo travéstico é tido como a compulsão pelo uso de vestimenta do sexo oposto; D: correta. Trata-se do exato conceito de andromimetofilia, quando há satisfação heterossexual masculina por parceira mulher que se represente e se relaciona eroticamente como um homem. Quando ocorre o inverso, chama-se ginemimetofilia. Gabarito “D” (MÉDICO LEGISTA – PC/GO – 2015 – SEGPLAN) Acerca das parafilias, assinale a alternativa CORRETA. (a) Onanismo é a manifestação exagerada da volição sexual em relação a parceiros de idade avançada. (b) Mixoscopismo é o prazer erótico despertado pelo fato de presenciar o coito de terceiros. (c) Dollismo é o prazer sexualobtido por meio do contato físico com pessoas amarradas (bondage). (d) A excitação sexual, no sadismo, ocorre por meio do sofrimento físico ou moral recebido. (e) A ninfomania é a preferência sexual por bonecas ou manequins de conformação humana. A: incorreta. Onanismo ou coito solitário de Onan é o impulso obsessivo à manipulação dos órgãos genitais. A manifestação exagerada da volição sexual em relação a parceiros de idade avançada denomina-se gerontofilia, cronoinversão ou presbiofilia; B: correta. A mixoscopia, voyeurismo ou escoptofilia é o prazer erótico despertado pelo fato de presenciar o coito de terceiros, em sua forma ativa. Na mixoscopia passiva, tem-se o prazer erótico em ser observado no coito; C: incorreta. O dolismo vem da palavra inglesa doll (boneca) e caracteriza-se pela atração sexual por bonecas ou manequins de conformação humana. O prazer sexual dependente do contato físico com pessoas amarradas é denominado bondagismo; D: incorreta. A excitação sexual, no sadismo ou algolagnia ativa, ocorre por meio do sofrimento físico ou moral praticado na outra pessoa. O prazer sexual pelo sofrimento físico ou moral recebido é o masoquismo ou algolagnia passiva; E: incorreta. A ninfomania é o hipererotismo feminino, tido como tendência abusiva aos atos sexuais. A assertiva trouxe o conceito de dolismo. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA – PC/DF 2015 – FUNIVERSA) Assinale a alternativa que apresenta a alteração quantitativa da libido, no sexo masculino, caracterizada pelo seu aumento ou exaltação. (a) satiríase (b) anafrodisia (c) ninfomania (d) uranismo (e) onanismo A: correta. O denominado hipererotismo masculino, com tendência abusiva aos atos sexuais, é a satiríase. Pode estar acompanhado de ereções frequentes, repetidas ejaculações, delírios e alucinações; B: incorreta. A anafrodisia é a redução ou deteriorização do instinto sexual no homem, geralmente associada a patologias neurológicas ou glandulares; C: incorreta. A ninfomania é o contraponto feminino da satiríase; é o hipererotismo feminino, com tendência abusiva aos atos sexuais; D: incorreta. O uranismo é descrito como variação da homossexualidade masculina em que a atração se dá apenas em um plano afetivo ou sentimental, sem intuito preponderante do ato sexual; E: incorreta. O onanismo ou coito solitário de Onan é o impulso obsessivo à manipulação dos órgãos genitais. Gabarito “A” (DELEGADO GOIÁS – 2013 – UEG) Em uma tentativa de diminuir o assédio sexual que as mulheres vinham sofrendo em ônibus e vagões de trens, as autoridades criaram os “vagões rosas”, para uso exclusivo de mulheres. A perversão sexual em que o indivíduo se realiza pelo contato em aglomerações ou multidões chama-se: (a) edipismo (b) froteurismo (c) pigmalionismo (d) troilismo A: incorreta. O edipismo é o impulso sexual incestuoso do filho pela própria mãe. O termo vem da tragédia grega sofocliana de Édipo e sua mãe Jocasta. Se o desejo sexual é da filha pelo próprio pai, o termo é electrismo, derivado da história grega de Electra e seu pai Agamenon; B: correta. O frotteurismo ocorre quando o indivíduo se aproveita de aglomerações em transportes públicos ou outros locais de aglomerações para encostar seus órgãos genitais, especialmente em mulheres, sem que a vítima perceba ou identifique suas intenções. Deve-se atentar à posição minoritária de Hygino de Carvalho Hércules, para quem o frotteurismo, por derivar da palavra francesa frotter (esfregar, friccionar), reduz-se à “prática homossexual feminina de mútua atrição genital” (HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal Texto e Atlas. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014, p. 587); C: incorreta. O pigmalionismo é a preferência sexual obsessiva por estátuas. O termo deriva da história grega do escultor Pigmalião, que se apaixonou por uma estátua por ele mesmo construída, de nome Galateia, que ganhou vida por ato de Afrodite. Assemelha-se ao dolismo; D: incorreta. O troilismo, triolismo ou pluralismo é a prática sexual em que participam três ou mais pessoas. Gabarito “B” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2008 – FUMARC) Os distúrbios qualitativos do instinto sexual são denominados parafilias. A forma patológica relativa à atração sexual por mulheres desasseadas e de baixa condição higiênica é denominada: (a) clismafilia (b) coprofilia (c) riparofilia (d) urolagnia A: incorreta. A clismafilia é a preferência sexual pelo prazer obtido pela introdução de grande quantidade de água ou líquidos no reto, sob a forma de enema, lavagem ou clister; B: incorreta. A coprofilia, coprolagnia ou escatofilia relaciona-se ao prazer sexual obtido com o contato com as fezes ou ato de defecação. Não é o mesmo que coprolalia, que é a excitação sexual por falar ou ouvir palavras obscenas ou chulas; C: correta. A riparofilia ou azolagnia é uma condição mais comum no sexo masculino que se caracteriza pela atração sexual por pessoas sujas, desasseadas, fétidas e de baixa condição sócio-higiênica; D: incorreta. A urolagnia ou urofilia é o prazer sexual obtido pelo contato com urina ou ato de urinar, podendo estar relacionado ao odor, sabor, contato ou apenas ouvir o ruído da urina, para fins de excitação sexual. Gabarito “C” (MÉDICO LEGISTA/AP – 2017 – FCC) Os transtornos da sexualidade são distúrbios do instinto sexual, fantasias ou comportamento recorrente e intenso que ocorrem de forma inabitual, também designados de parafilias. Em relação às parafilias, é CORRETO afirmar: (A) Gerontofilia: atração sexual obsessiva de idosos por pessoas bem mais jovens. (B) Dolismo: perversão sexual em que há atração por ovelhas. (C) Coprolalia: perversão sexual em que há necessidade do contato físico com fezes humanas. (D) Riparofilia: perversão sexual em que há atração sexual por pessoas desasseadas, sujas, de baixa condição social e com pouca (ou nenhuma) higiene. (E) Necrofilia: perversão sexual em que há necessidade de relação sexual dentro de necrotérios. A: incorreta. A gerontofilia, cronoinversão ou presbiofilia é a atração sexual obsessiva de indivíduos jovens por pessoas de excessiva idade; B: incorreta; o dolismo é expressão oriunda de um anglicismo (doll é boneca em inglês) e representa a atração sexual compulsiva e obsessiva por bonecas e manequins; C: incorreta, pois a coprolalia é descrita como a necessidade de proferir ou ouvir palavras chulas e obscenas para fins de excitação (o termo “lalia” exprime a ideia de “fala”; dislalia, por exemplo, é um distúrbio da fala). A perversão sexual em que há necessidade do contato físico com fezes humanas é denominada coprofilia; D: correta; trata-se do exato conceito de riparofilia; E: incorreta. A necrofilia é a perversão sexual que se manifesta pela obsessão e impulsão em realizar atos sexuais com cadáveres. Atos sexuais em locais relacionados a cadáveres e à morte podem estar presentes na ideia de pseudonecrofilia, mas a alternativa não trouxe o exato conceito de necrofilia. Gabarito “D” Capítulo 10 PSIQUIATRIA E PSICOPATOLOGIA FORENSE A Psiquiatria e a Psicopatologia Forense destinam-se ao estudo, em primeiro plano e principalmente, dos limites e modificadores biopsicossociais da imputabilidade penal, uma vez que, após a publicação do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146, de 6 de julho de 2015), a modificação da capacidade civil por meio do transtorno mental sofreu forte mitigação, visando à plena inclusão da pessoa com deficiência na vida civil, uma vez que a deficiência não afeta a plena capacidade civil do indivíduo. As questões referentes à modificação da capacidade civil por enfermidade, deficiência mental ou desenvolvimento mental foram revogadas dos artigos 3º e 4º do Código Civil de 2002, pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência. Dessa forma, a maior importância a ser atualmente conferida aos estudos de Psicopatologia Forense dizem respeito especialmente à definição da inimputabilidade e semi-imputabilidade penal, que é um ato de atribuição pericial médico-legal. (MÉDICO LEGISTA – PC/DF 2015 – FUNIVERSA) A perícia médico-legal empsiquiatria forense envolve a verificação da existência ou não de transtorno mental e seu nexo ou relação de causalidade com um ilícito penal praticado. Avalia, ainda, a capacidade de entendimento e de autodeterminação do periciado, tendo por objetivo a determinação ou não de um requisito básico que pode decidir a responsabilização jurídica por um fato punível. Com base nessas informações, assinale a alternativa que apresenta o requisito mencionado. (a) imputabilidade penal. (b) periculosidade. (c) culpabilidade. (d) sanidade mental. (e) medida de segurança. A: correta. O requisito que define a aplicação de consequências jurídico- penais ao agente que pratica um ilícito penal é a imputabilidade penal, conjunto de condições pessoais que fornecem ao agente a capacidade de compreensão dos fatos e de ação conforme tal entendimento. A imputabilidade penal é a regra; a inimputabilidade a exceção e, como tal, deve ser provada por meio de perícia psiquiátrica forense. A imputabilidade penal é o elemento mais importante da culpabilidade e não se confunde com a responsabilidade penal. Esta última é uma atribuição judicial, enquanto a imputabilidade é uma atribuição pericial. Imputabilidade é a condição de quem é capaz de realizar um ato com pleno discernimento; já a responsabilidade é a consequência jurídico-penal atribuída a quem tem tal discernimento; B: incorreta. Periculosidade é tida como o “risco de violência” em conceito que diz respeito a um juízo futuro e incerto sobre condutas ilícitas, que é avaliado nas perícias de cessação de periculosidade, quando o paciente se mostra internado em cumprimento de medida de segurança por ter sido considerado inimputável. A periculosidade é tida, portanto, como um potencial de perigo que um indivíduo portador de transtorno mental pode trazer a ele e à sociedade, tornando-o propenso a cometer novos delitos. A finalidade da perícia de cessação de periculosidade, portanto, é avaliar se o paciente é capaz de voltar a delinquir; C: incorreta. A culpabilidade como elemento integrador do conceito de uma infração penal (crimes são condutas típicas, ilícitas e culpáveis) varia de acordo com a teoria historicamente adotada, como a psicológica, psicológico-normativa e a teoria normativa pura do finalismo penal. Pode ser tida como a reprovabilidade dirigida ao autor do fato. Seus elementos seriam a imputabilidade, a possibilidade de reconhecimento da ilicitude do fato e a exigibilidade de conduta obediente ao Direito; D: incorreta. A sanidade mental é a ideia de saúde mental, como ausência de doença mental e qualidade de vida cognitivo-emocional, ainda que não haja um conceito objetivo e padronizado para tal definição. O exame de sanidade mental é um dos tipos de perícia psiquiátrica, que deve ser realizado quando há suspeita de que o acusado é portador de algum transtorno mental; E: incorreta. Medida de segurança é a resposta jurídico-penal aplicada ao agente inimputável que cometeu uma infração descrita em um tipo penal, ficando o agente sob a custódia do Estado. De acordo com o art. 96 do CPB, as medidas de segurança são internação em hospital psiquiátrico de custódia ou tratamento ambulatorial. Para a aplicação de uma medida de segurança, são pressupostos a prática de um fato típico punível no ordenamento penal, a periculosidade do agente e a ausência de imputabilidade plena. Gabarito “A” (MÉDICO LEGISTA – PC/MT 2013 – FUNCAB) Uma pessoa adulta e portadora de transtorno mental que, em função do mesmo, comete um crime contra a vida, será submetida a: (a) internação compulsória em hospital psiquiátrico. (b) pena correspondente ao delito praticado. (c) tratamento psiquiátrico e cumprimento de pena restritiva de liberdade. (d) medida de segurança na dependência de sua periculosidade. (e) medida socioeducativa e tratamento psiquiátrico ambulatorial. A: incorreta. As medidas de segurança aplicadas (art. 96 do Código Penal Brasileiro – CPB) podem ser tanto a internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico quanto o tratamento ambulatorial, a depender de sua periculosidade. Pode ser adotado o tratamento ambulatorial se o fato previsto como crime for punível com detenção, nos termos do art. 97 do CPB; B e C: incorretas. Se o agente é considerado inimputável por transtorno mental com nexo causal com a prática de um delito, não há imposição da pena cominada ao delito praticado ou de penas restritivas de liberdade, mas sim de medida de segurança; D: correta. Se há o cometimento de um crime por indivíduo maior que 18 anos, mas portador de transtorno mental, restando definido pela perícia psiquiátrica de sanidade mental que houve nexo de causalidade entre o ilícito penal e o transtorno, o agente será declarado inimputável e submetido à medida de segurança adequada, na dependência de sua periculosidade. A medida de segurança terá prazo mínimo de 1 a 3 anos e persistirá enquanto não for averiguada, por perícia, a cessação da periculosidade; E: incorreta. As medidas socioeducativas são medidas aplicadas, com finalidade educativa, aos adolescentes autores de atos infracionais e estão previstas no art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente. São exemplos de medidas socioeducativas advertência, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, obrigação de reparar o dano e internação em estabelecimento educacional. Gabarito “D” (MÉDICO LEGISTA – PC/MT 2013 – FUNCAB) O critério adotado pela lei brasileira para avaliar a imputabilidade penal do agente é o: (a) psicológico puro. (b) psicopatológico. (c) biológico. (d) biopsicossocial. (e) biopsicológico. A, B, C e D: incorretas; E: correta. Há três sistemas principais utilizados como norteadores da verificação pericial da (in)imputabilidade penal: o critério biológico puro, o critério psicológico e o critério biopsicológico. Há também quem considere a existência de um critério biopsicossocial misto. O Brasil adotou o critério biopsicológico, formulado no art. 26 do Código Penal, como regra. Em tal critério, estão presentes questões referentes à análise biológica de doenças mentais, perturbações da saúde mental e desenvolvimento mental incompleto ou retardado, bem como fundamentos do critério psicológico, ao se estabelecer a capacidade do agente de reconhecer a ilicitude de sua conduta e de se determinar de acordo com esse entendimento. Apenas excepcionalmente e na hipótese da inimputabilidade do menor de 18 anos, adotou-se o critério biológico puro, não se analisando, nesse caso, questões psicológicas de entendimento e autodeterminação. Gabarito “E” (MÉDICO LEGISTA – PC/MT 2013 – FUNCAB) São condições mesológicas capazes de modificar a imputabilidade penal do agente: (a) idade e sexo. (b) embriaguez e toxicomania. (c) emoção e agonia. (d) grau de civilização e multidões. (e) surdo-mudez e sonambulismo. D: correta. Há diversas condições, relacionadas ao meio ambiente (mesológicas) ou ao próprio sujeito, que podem limitar ou modificar a imputabilidade penal do agente, suprimindo-a ou reduzindo-a. As condições relacionadas ao meio (mesológicas ou ambientais) são o grau de civilização e as multidões. Isso porque a exposição do homem ao ambiente cultural pode modificar normas morais de conduta em relação aos valores sociais. As questões referentes ao grau de civilização dizem respeito, especialmente, à análise da imputabilidade penal dos índios. Quanto às multidões, o Código Penal Brasileiro aceita trata como atenuante genérica (art. 65, inciso III, alínea “e”) o cometimento do crime pelo agente sob influência de multidão em tumulto, se não o provocou; A, B, C e E: incorretas. As condições descritas são limitadoras e modificadoras da imputabilidade penal sob o prisma biológico e não mesológico. Dentre as condições biológicas ou individuais, há fatores que podem estar presentes em qualquer pessoa, alterações do estado mental habitual ou mesmo transtornos mentais. Gabarito “D” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/PE – 2016 – CESPE/UNB) Psiquiatria forense é o ramo da medicina legal que tratade questões relacionadas ao funcionamento da mente e sua interface com a área jurídica. O estabelecimento do estado psíquico no momento do cometimento do delito e a capacidade de entendimento desse ato são dependentes das condições de sanidade psíquica e desenvolvimento mental, que também influenciam na forma de percepção e no relato do evento, com importância direta para o operador do direito, na tomada a termo e na análise dos depoimentos. A respeito de psiquiatria forense e dos múltiplos aspectos ligados a essa área, assinale a opção CORRETA. (a) A surdo-mudez é motivo de desqualificação do testemunho, da confissão e da acareação, pois, sendo causa de desenvolvimento mental incompleto, impede a comunicação. (b) Nos atos cometidos, pode haver variação na capacidade de entendimento, por doente mental ou por indivíduo sob efeito de substâncias psicotrópicas ou entorpecentes, do caráter ilícito do ato por ele cometido; cabe ao perito buscar determinar, e assinalar no laudo pericial, o estado mental no momento do delito. (c) A perturbação mental, por ser de grau leve quando comparada a doença mental, não reflete na capacidade cível nem na imputabilidade penal. (d) Em indivíduos com intoxicação aguda pelo álcool, observam-se estados de automatismos e estados crepusculares. (e) O desenvolvimento mental incompleto ou retardado, tecnicamente denominado oligofrenia, está diretamente relacionado à ocorrência de epilepsia. A: incorreta. A surdo-mudez, por si só, não pode ser considerada causa de desqualificação de testemunho por desenvolvimento mental incompleto, podendo um surdo-mudo prestar depoimento, desde que as regras do art. 192 do Código de Processo Penal sejam respeitadas. Sob o ponto de vista penal, o surdo-mudo poderá ser considerado inimputável, semi-imputável ou com a plena capacidade de responder pelo fato, devendo a análise ser feita em cada caso concreto; B: correta. É mesmo diante da análise do estado mental no momento do delito, especialmente da capacidade de entendimento sobre a ilicitude do fato e de autodeterminação de acordo com esse entendimento, que será analisada a imputabilidade ou semi- imputabilidade de uma pessoa; C: incorreta. A perturbação da saúde mental é mais leve quando comparada à doença mental, mas está descrita no parágrafo único do art. 26 do CPB como possível causa de semi- imputabilidade. Os chamados transtornos da personalidade se enquadram nessa categoria de transtornos mentais; D: incorreta. Os automatismos e estados crepusculares, em que há amnésia dos fatos e automatismo das ações, são descritos nas epilepsias e no sonambulismo completo epiléptico, e não nas intoxicações etílicas agudas; E: incorreta. O desenvolvimento mental retardado, anteriormente chamado de oligofrenia, forma um grupo heterogêneo de condições que não se confundem com as causas de desenvolvimento mental incompleto. O desenvolvimento mental incompleto refere-se a quem ainda não desenvolveu sua maturidade psíquica, como uma criança e um adolescente. O desenvolvimento mental retardado é uma alusão a quem não conseguirá essa maturidade, por razões várias como doenças cromossômicas, doenças metabólicas, exposição materna a drogas, dentre outros. Ademais, as oligofrenias não estão relacionadas às epilepsias. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA – PC/GO – 2015 – SEGPLAN) No que se refere à perícia médico-legal na psiquiatria forense, assinale a alternativa CORRETA. (a) A avaliação pericial da inimputabilidade penal envolve a verificação da existência ou não de transtorno mental, nexo ou relação de causalidade e a avaliação da capacidade de entendimento e da capacidade de autodeterminação. (b) A verificação da existência ou não de um transtorno mental diz respeito às seguintes categorias previstas no Código Penal Brasileiro: doença mental, desenvolvimento mental incompleto e perturbação da saúde mental. (c) As penas previstas no Código Penal Brasileiro para os inimputáveis apresentam aspecto indeterminado no que tange ao tempo de duração, podendo privar perpetuamente um indivíduo de sua liberdade. (d) São semi-imputáveis aqueles indivíduos que, no momento do ato delituoso, não apresentavam condições para entender o caráter ilícito do ato ou para determinar-se de acordo com esse entendimento. (e) São considerados inimputáveis os portadores de transtornos mentais devido ao uso de substâncias psicoativas, de transtornos da personalidade, de transtornos dos hábitos e dos impulsos e dos transtornos de personalidade sexual. A: correta. Em uma perícia psiquiátrica, avaliam-se, para a definição da (in)imputabilidade penal, a existência e o tipo de transtorno mental, o nexo de causalidade entre o ilícito penal e o transtorno mental, bem como a capacidade de entendimento e de autodeterminação; B: incorreta. A verificação da existência ou não de um transtorno mental diz respeito às seguintes categorias previstas no Código Penal (CPB): doença mental, perturbação da saúde mental, desenvolvimento mental incompleto e desenvolvimento mental retardado (que são transtornos diferentes); C: incorreta. A começar, aos inimputáveis não são cominadas penas, mas sim medidas de segurança. E elas terão um prazo mínimo de duração de 1 a 3 anos, conforme art. 97, § 1º, do CPB, perdurando, a partir daí, por prazo indeterminado, enquanto não for averiguada por perícia a cessação de periculosidade; D: incorreta. O inimputável é quem, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Já o semi-imputável é aquele que, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar de acordo com esse entendimento; E: incorreta. A definição da inimputabilidade será avaliada no caso concreto, quando o transtorno mental retirar totalmente do agente a capacidade de entendimento do caráter ilícito do fato e de autodeterminação de acordo com esse entendimento. Transtornos da personalidade, a título de exemplo, costumam ser alocados em casos de perturbações da saúde mental e não de doenças mentais, sendo mais considerados como causas de semi-imputabilidade e não de inimputabilidade. Contudo, predomina a avaliação do caso concreto do que uma lista de patologias previamente determinadas. Gabarito “A” (DELEGADO DE POLÍCIA/PR – 2013 – COPS-UEL) A avaliação da imputabilidade penal é realizada por intermédio de exame de sanidade mental e leva em consideração fatores limitadores ou modificadores. A interpretação do laudo médico-legal é fundamental para um correto entendimento do quadro psicopatológico. Sobre a ótica da medicina legal relacionada à imputabilidade penal, assinale a alternativa CORRETA. (a) São considerados inimputáveis aqueles com doença mental e que são inteiramente incapazes de discernir o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com o entendimento. (b) São considerados inimputáveis aqueles que são relativamente incapazes de discernir o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com o entendimento, como os que apresentam desenvolvimento mental incompleto ou retardado. (c) A presença de paixão, emoção, agonia, cegueira ou surdomutismo não é modificadora de imputabilidade penal em nenhuma situação. (d) Estados demenciais, oligofrenias ou psicoses mentais geram estados de semi-imputabilidade, mas nunca geram inimputabilidade. (e) Os estados de personalidade antissocial em que existem uma baixa tolerância à frustação e um baixo limiar de descarga de agressividade geram um estado de inimputabilidade penal. A: correta. De acordo com o art. 26 do Código Penal (CPB), são inimputáveis aqueles que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, eram, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento;B: incorreta. São os semi- imputáveis aqueles que, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não eram inteiramente capazes de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento; C: incorreta. A surdo-mudez é considerada potencial limitadora e modificadora da imputabilidade penal, conforme a capacidade do agente de compreender o caráter ilícito do fato ou de se determinar de acordo com esse entendimento. Deve ser avaliado o caso concreto, podendo ser o surdo-mudo imputável, inimputável ou semi- imputável. Estados de emoção e paixão, em regra, não excluem a imputabilidade penal (art. 28, inciso I, CPB), mas podem atenuar a pena no caso da atenuante genérica do art. 65, inciso III, alínea “c”, do CPB, ou das atenuantes específicas do homicídio e da lesão corporal dolosos; D: incorreta; estados demenciais e psicoses mentais são tidos por Hygino de Carvalho Hércules como doenças mentais (mencionadas no art. 26, caput, do CPB) e, quando ativas e incapacitantes, podem gerar inimputabilidade (HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal Texto e Atlas. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014, p. 719). A oligofrenia é o desenvolvimento mental retardado e também pode ser causa de inimputabilidade ou de semi- imputabilidade, como se vê no art. 26, caput e parágrafo único, do CPB; E: incorreta. O transtorno de personalidade antissocial, como uma das formas de transtornos de personalidade (antigamente chamados de psicopatias), difere das chamadas doenças mentais por serem os sintomas mais leves, não levando o agente à total perda do juízo de realidade. Portadores de transtornos de personalidade mostram-se enquadrados, pela doutrina médico-legal, mais propriamente nas perturbações da saúde mental descritas no parágrafo único do art. 26 do CPB, como causas de semi- imputabilidade; muitas vezes, até entendem o caráter ilícito do fato, mas sua capacidade de autodeterminação mostra-se reduzida. Gabarito “A” Comentários adicionais: pela leitura do art. 26 do CPB, depreende-se que doenças mentais (descritas no caput) são diferentes de perturbações da saúde mental (descritas no parágrafo único), em suas consequências como geradoras de inimputabilidade e semi-imputabilidade, respectivamente. Hygino de Carvalho Hércules arrola como doenças mentais as psicoses, as demências e a epilepsia. Como perturbações da saúde mental, o autor arrola as psicopatias, atualmente denominadas transtornos da personalidade (HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal Texto e Atlas. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014, p. 719-721). As formas de desenvolvimento mental retardado e incompleto estão presentes como possibilidades de enquadramento tanto no caput como no parágrafo único do art. 26 do CPB. Quanto à epilepsia, deve-se atentar para a grande controvérsia quanto ao enquadramento em potencial causadora de inimputabilidade, havendo quem diga que se trata apenas de uma doença neurológica sem potencial de retirar o entendimento do agente, como Genival Veloso de França, que advoga pela imputabilidade dos epilépticos, retirando-os do prisma da doença mental do caput do art. 26 do CPB (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 532). Já Hygino de Carvalho Hércules afirma ser a epilepsia doença neuropsiquiátrica, com possibilidade de cometimento de delitos em estados crepusculares, automatismos e psicose epiléptica (HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal Texto e Atlas. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014, p. 719-720). (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MA – 2018 – CESPE/UNB) Revisando o prontuário de um suspeito no sistema prisional, a autoridade policial deparou-se com um laudo psiquiátrico que apontava a seguinte conclusão: “CID10: F60.2 – Transtorno de personalidade dissocial (psicopática ou sociopática): possui ciência do caráter ilícito dos atos praticados e sérias dificuldades no controle de seu impulso sexual exacerbado, que só consegue satisfazer com a subjugação da vítima mediante a imposição de comportamento violento”. Acerca dessa situação, assinale a opção que apresenta, respectivamente, as características do suspeito com referência a: entendimento; controle dos impulsos; imputabilidade. (a) limitado; preservado; semi-imputável (b) preservado; adequado; plenamente imputável (c) preservado; limitado; semi-imputável (d) preservado; limitado; inimputável (e) limitado; limitado; inimputável C: correta. Pelo texto descrito pela banca examinadora, percebe-se o posicionamento doutrinário majoritário em Medicina Legal, no enquadramento dos transtornos de personalidade (antigas psicopatias) como pertencentes às perturbações da saúde mental descritas no parágrafo único do art. 26 do CPB, como configuradoras potenciais de semi- imputabilidade. O portador de transtorno da personalidade dissocial é irritável, agressivo e explosivo, de alta periculosidade, sem afeto e empatia. Tem ciência do caráter ilícito de seus atos, mas, como descrito na questão, pouca capacidade de autodeterminação de acordo com esse entendimento, não conseguindo controlar seus instintos e impulsos exacerbados. Logo, embora seu entendimento esteja preservado, seu controle dos impulsos e autodeterminação mostram-se limitados, razão pela qual será tido por semi- imputável. A, B, D e E: incorretas. Gabarito “C” (PERITO CRIMINAL FEDERAL MÉDICO – PF – 2019 – CESPE) Julgue o item subsequente, relativo à psicopatologia forense. (1) A esquizofrenia é uma das psicoses encontradas com mais frequência nos réus que se submetem a exame de imputabilidade penal, sendo esses periciandos, geralmente, considerados inimputáveis. 1: correta. Os transtornos psicóticos compreendem formas agudas e crônicas, sendo a esquizofrenia uma das mais comuns e relevantes dentre as últimas. Há várias formas de esquizofrenia e, quando sintomáticas e em atividade no momento do ato delituoso, podem privar o agente de sua capacidade de entendimento, tornando-o inimputável; sobretudo a forma paranoide da doença. Gabarito 1C (PERITO CRIMINAL FEDERAL MÉDICO – PF – 2019 – CESPE) Julgue o item subsequente, relativo à psicopatologia forense. (1) No Código Penal brasileiro, a expressão desenvolvimento mental retardado se refere à psicose, à epilepsia e à demência. 1: errada. De acordo com Hygino de Carvalho Hércules, as citadas condições patológicas (psicoses, demências e epilepsias) estão compreendidas na expressão “doença mental” do art. 26, caput, do Código Penal, como potenciais configuradoras de inimputabilidade penal. Já a expressão “desenvolvimento mental retardado” configura o retardo mental, que já foi denominado de oligofrenia. (HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal, 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2014. p. 719). Garito 1E (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/GO – 2018 – UEG) O Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-V) é um guia de critérios adotado pericialmente para a verificação das doenças e dos transtornos mentais. O artigo 26 do Código Penal Brasileiro é aquele que trata das questões voltadas para a imputabilidade e a responsabilidade penal dos agentes agressores. Levando- se em conta os conhecimentos da Psiquiatria Forense, deve-se entender que: (a) o Transtorno de Personalidade Antissocial é o correspondente ao que se denomina de serial killer. (b) o Transtorno de Personalidade Histriônica corresponde ao chamado Transtorno de Dependência. (c) portadores de Transtorno de Personalidade Borderline apresentam instabilidade comportamental. (d) cometimento de atos ilícitos é situação comum entre os portadores de Transtorno Bipolar do Humor. (e) psicopatas são atualmente denominados de sociopatas, por cometerem homicídios e agressões físicas. A: incorreta. Transtorno de personalidade antissocial é caracterizado por falta de limites nas relações sociais, delinquência, mentiras, trapaças, agressividade, crueldade e falta de afeto, de simpatia e de remorso. Os portadores não têm piedade ou vergonhae cometem crimes desumanos e cruéis. Muitos assassinos em série são portadores de tal transtorno, mas não se pode dizer que o transtorno é o correspondente do que se entende por serial killer, já que estes também podem ser portadores de outras doenças mentais, sendo que os estudos mostram serial killers com transtornos de personalidade antissocial, personalidade esquizoide e transtornos de personalidade sádica; B: incorreta. Transtorno de personalidade histriônica e transtorno de personalidade dependente são coisas distintas. O primeiro caracteriza-se por emotividade intensa e lábil, carência afetiva, teatralidade, egocentrismo, sugestibilidade, autocomplacência, tendência à sedução, exibicionismo e exaltação. Já o portador de transtorno dependente é inseguro, subserviente, tem medo da solidão e do abandono, falta de iniciativa, indecisão, dificuldade de discordar e carência afetiva; C: correta. O transtorno de personalidade borderline ou limítrofe tem como características relacionamento interpessoal instável, comportamento e autoestima instáveis, variação do humor, impulsividade e crises de raiva. O traço mais forte é a instabilidade das emoções. Os portadores desse transtorno têm dificuldade de aceitar as necessidades das outras pessoas, ficam agressivos quando não têm apoio dos demais, sentem-se rejeitados e podem apresentar comportamento autodestrutivo. Têm uma labilidade muito rápida do humor, podendo passar da depressão para estados de exaltação e aparente bem-estar; D: incorreta. No transtorno bipolar do humor, há alternância de fases de mania, hipomania e depressão, não sendo comum o cometimento de crimes; E: incorreta. Psicopatias e sociopatias não são expressões sinônimas. O antigo termo psicopatia refere-se aos atuais transtornos da personalidade, que são um grupo heterogêneo de patologias, que compreendem as personalidades paranoica, esquizoide, dissocial, histriônica, ansiosa, dependente, dentre outras. O que já foi antigamente chamado de sociopata é o portador de transtorno de personalidade antissocial, caracterizado por falta de limites nas relações sociais, delinquências, mentiras, trapaças, agressividade, crueldade e falta de afeto e remorso. Gabarito “C” (MÉDICO LEGISTA/SP – 2014 – VUNESP) Indivíduo portador de esquizofrenia, forma paranoide, comete crime brutal contra sua própria mãe, em fase sintomática da doença. Neste caso, normalmente, o réu: (a) cumpre pena normalmente, pela brutalidade do crime. (b) é inimputável, devendo ficar em segurança pela periculosidade. (c) tem sua pena atenuada pela doença. (d) tem sua pena agravada, pela brutalidade do crime. (e) é inimputável, porém sem necessidade de internação. A, C, D e E: incorretas. B: correta. A esquizofrenia é um transtorno psicótico com manifestações variadas, caracterizado especialmente por perda da afetividade, perda da iniciativa e associação extravagante de ideias. Existem várias formas de esquizofrenia, como a simples, a hebefrênica, a catatônica, a paranoide, dentre outras. Sob o ponto de vista do cometimento de delitos (e não do tratamento em si), a forma paranoide é considerada a mais grave, pela ocorrência de ideias delirantes, alucinatórias, distúrbios de afetividade e ideias de perseguição. Genival Veloso de França menciona exatamente o que diz a alternativa B, afirmando que “quando autores de crime na fase sintomática dessa forma de transtorno mental, são inimputáveis, sujeitos a medidas de segurança pela sua alta periculosidade” (FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017, p. 535). As medidas de segurança são sanções penais aplicadas aos inimputáveis (também podem ser impostas a semi-imputáveis, nos termos do art. 98 do Código Penal – CP) e, de acordo com o art. 96 do CP, há duas espécies: (i) internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; ou (ii) sujeição a tratamento ambulatorial. Ainda, o art. 97 do CP dispõe que “se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação. Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial”. Na hipótese, a questão menciona “crime brutal” e, sendo a internação a regra para condutas mais graves (puníveis com reclusão), deverá ser determinada, razão pela qual a alternativa E encontra-se incorreta. Gabarito “B” (MÉDICO LEGISTA MARANHÃO – 2018 – CESPE) Uma pessoa excessivamente emotiva, com pronunciados traços de vaidade, egocentrismo e dramaticidade, pode apresentar transtorno: (a) explosivo da personalidade. (b) esquizoide da personalidade. (c) paranoide da personalidade. (d) ansioso da personalidade. (e) histriônico da personalidade. A: incorreta. O transtorno explosivo intermitente tem como características ataques de raiva descontrolados, fúria repentina, agressividade incontida e irritabilidade excessiva seguida de tensões motoras violentas. Há tendência para agir impulsivamente e desprezando as eventuais consequências do ato impulsivo, associada a instabilidade afetiva; B: incorreta. São características do transtorno de personalidade esquizoide a presença de poucas amizades, indiferença pelas relações sociais, individualismo, baixa emotividade e anedonia; C: incorreta. No transtorno de personalidade paranoide, as principais características são desconfiança, suspeitas reiteradas e ciúmes, rancores, melindres e interpretação maldosa de ações amistosas; D: incorreta; o portador de transtorno ansioso da personalidade apresenta timidez, introversão, insegurança, baixa autoestima, hipersensibilidade à rejeição, afastamento social mas com desejo de aceitação; E: correta. O transtorno de personalidade histriônica tem como características emotividade intensa e lábil, carência afetiva, teatralidade, egocentrismo, sugestibilidade, autocomplacência, tendência à sedução, exibicionismo e exaltação. Gabarito “E” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MA – 2012 – FGV) O transtorno que se manifesta pela compulsão do indivíduo em comprar tudo o que vê e que pode levar à dissipação do patrimônio da própria pessoa, denomina-se: (a) dipsomania. (b) riparofilia. (c) cibomania. (d) amusia. (e) oniomania. A: incorreta. A dipsomania é caracterizada pela vontade irreprimível e impulsiva de ingerir grandes quantidades de bebidas alcoólicas, estando compreendida nos distúrbios psíquicos do alcoolismo crônico; B: incorreta. A riparofilia é uma parafilia ou transtorno da sexualidade caracterizado pela preferência sexual por indivíduos sujos, desasseados, fétidos e com baixas condições higiênicas; C: incorreta. A cibomania é um transtorno de controle dos impulsos caracterizado por participação compulsiva em jogos de azar e apostas de maneira descontrolada; D: incorreta. A amusia é um distúrbio auditivo congênito ou adquirido não relacionado a qualquer patologia psiquiátrica, caracterizado por uma disfunção que compromete o processamento musical, podendo também englobar a memória e o reconhecimento musical; E: correta. A oniomania é um transtorno de controle dos impulsos mais comum em mulheres, que se caracteriza por uma forma compulsiva, recorrente e persistente de fazer compras desnecessárias, muitas vezes sem consumir ou usar o que foi adquirido, podendo dilapidar seu patrimônio. Gabarito “E” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MA – 2012 – FGV) O exame psiquiátrico-forense de uma jovem diagnosticou um transtorno mental e comportamental devido ao uso de substância psicoativa. As alternativas a seguir atendem ao diagnóstico firmado, à exceção de uma. Assinale-a. (a) Síndrome de abstinência. (b) Psicossíndrome orgânica. (c) Síndrome amnésica. (d) Síndrome de Korsakow. (e) Intoxicação patológica. B: incorreta. A psicossíndrome orgânica não está relacionada ao uso abusivo de álcool, drogas ou outras substâncias químicas psicoativas. Trata- se de um distúrbio mental agudo ou crônico causado por dano cerebral orgânico, mais comum em idosos, e relacionado a diversas causas, tais como doenças vasculares e degenerativascerebrais, trauma craniano, encefalites, distúrbios metabólicos e tumores cerebrais; A, C, D e E: todas as alternativas apresentam transtornos comportamentais ou mentais que podem estar relacionados ao uso abusivo de álcool, drogas ou outras substâncias químicas psicoativas. Na síndrome de abstinência, ocorrem sintomas decorrentes da privação abrupta do uso da substância psicoativa. A síndrome amnésica é uma das manifestações clínicas da Síndrome de Wernicke-Korsakow, doença neurológica associada ao alcoolismo crônico, que cursa com paralisia dos músculos da face, amnésia anterógrada (para fatos recentes) e amnésia retrógrada (para fatos passados, anteriores à doença) e desorientação no tempo e no espaço. Na intoxicação patológica, sobretudo na embriaguez alcoólica patológica, atinge-se um estado mental mórbido caracterizado por uma psicose alcoólica, após a ingestão de pequenas quantidades de bebida alcoólica. Gabarito “B” (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/MG – 2011 – FUMARC) A capacidade de diagnosticar e mensurar a dor, alegada em um exame pericial, constitui um desafio da medicina legal, por se tratar de um dado subjetivo. O sinal de dor, avaliado pela contagem prévia do pulso radial, compressão do ponto doloroso alegado e nova contagem do pulso, é denominado pelo epônimo de sinal de: (a) Muller. (b) Levi. (c) Imbert. (d) Mankof. A: incorreta. O sinal de Muller consiste em marcar a zona dolorosa com um compasso, delimitando-se uma zona circular tátil que engloba o local onde há queixa da dor. Sem que o examinado olhe, comprime-se o local que não seja doloroso dentro do mesmo círculo e, rapidamente, comprime-se o ponto doloroso. Se o paciente estiver simulando, ele não vai perceber a mudança; B: incorreta. O sinal de Levi é a contração das pupilas quando se comprime o ponto doloroso; C: incorreta. O sinal de Imbert é para avaliar queixas de dor nos braços ou nas pernas. Com o paciente em repouso, conta-se o pulso radial. Em seguida, solicita-se que ele se apoie apenas na perna dolorosa ou segure um objeto pesado apenas com o braço dolorido. Conta-se novamente o pulso e, se os batimentos cardíacos tiverem aumentado, a existência da dor é real; D: correta. A perícia de dor é um desafio e analisá-la não é apenas relevante para o tratamento do paciente, mas também para se avaliar seu comportamento em casos, sobretudo, de alegação de dor por simulação ou metassimulação, bem como sua omissão por dissimulação. O sinal de Mankof é um dos mais usados e consiste em contar previamente o pulso radial do paciente, comprimir o ponto doloroso e contar novamente o pulso. O aumento dos batimentos cardíacos é um sinal de que a dor é real. Gabarito “D” (MÉDICO LEGISTA MARANHÃO – 2018 – CESPE) Nos casos de autoferimentos, a avaliação sobre a possibilidade de simulação ou metassimulação deve levar em conta as lesões com características próprias e que podem ser: (a) irregulares e com direção única. (b) comuns no dorso do periciando. (c) comuns em regiões plantares e palmares. (d) localizadas em áreas menos sensíveis. (e) profundas e simétricas. D: correta. Em casos de autoferimentos e automutilação, é importante observar a característica das lesões, para que se possa diagnosticar um quadro de simulação ou metassimulação. Normalmente, lesões provocadas em si pela própria pessoa apresentam características que fazem o perito suspeitar do ato, tais como: são localizadas em áreas que suscitam menos dor (áreas menos sensíveis), são superficiais, múltiplas, simétricas e regulares, com direção única em áreas alcançáveis pelas mãos do sujeito. São mais frequentes, portanto, na parte anterior do corpo, nos braços e nas coxas. São mais raras no dorso e nas regiões palmares e plantares. A, B, C e E: incorretas. As autolesões não costumam ser irregulares e profundas e nem localizadas no dorso e nas regiões palmo-palnares. Gabarito “D” Comentários adicionais: simulação é a apresentação de sinais e sintomas falsos; metassimulação é o exagero de sinais e sintomas realmente existentes; dissimulação ou simulação negativa é o ato de se apresentar como normal, escondendo sintomas existentes, ou seja, simular que não tem sintomas. Trata-se de quadros conscientes, em que o examinado sabe da motivação que o faz agir de maneira enganosa, muitas vezes com o objetivo de favorecer interesses pessoais, como obter aposentadorias, seguros, licenças médicas, inimputabilidade, dentre outros. Deve-se saber que existem transtornos mentais que podem ser confundidos com a simulação, como o transtorno fáctico e os transtornos dissociativo e conversivo. Nesses dois últimos, o paciente não tem consciência dos sintomas, interesse ou percepção de suas motivações. No transtorno fáctico, existe a apresentação intencional de sintomas falsos, mas com um desejo inconsciente de assumir uma doença, como ocorre, por exemplo, na síndrome de Munchausen, transtorno mental em que o paciente provoca ou simula sintomas de doenças, objetivando conseguir atenção e cuidados médicos.