Prévia do material em texto
1 CORPO HUMANO E PSICOLOGIA DO ESPORTE 1 Sumário CORPO HUMANO E PSICOLOGIA DO ESPORTE ............................... NOSSA HISTÓRIA ................................Erro! Indicador não definido. INTRODUÇAO ...................................................................................... 7 1 CONHECENDO O ATLETISMO ........................................................ 8 1.1 BREVE HISTÓRIA DO ATLETISMO ........................................... 8 1.2 DIVISÕES DO ATLETISMO ...................................................... 10 1.2.1 PROVAS DE PISTA ............................................................ 11 1.2.2 PROVAS DE CAMPO ......................................................... 13 1.2.3 SALTOS HORIZONTAIS .................................................... 13 1.2.4 SALTOS VERTICAIS .......................................................... 14 1.2.5 LANÇAMENTO DE DARDO ............................................... 15 1.2.6 LANÇAMENTO DE DISCO ................................................. 16 1.2.7 LANÇAMENTO DE MARTELO ........................................... 17 1.2.8 ARREMESSO DE PESO .................................................... 19 1.2.9 PROVAS COMBINADAS .................................................... 20 2 ETAPAS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM E TREINAMENTO DO ATLETISMO ............................................................................................ 21 2.1 METODOLOGIA PARA O ENSINO E DESENVOLVIMENTO .. 24 2.1.1 MÉTODO DO JOGO ........................................................... 25 2.1.2 MÉTODO GLOBAL ............................................................. 25 2.1.3 MÉTODO ANALÍTICO ........................................................ 26 file:///C:/Users/DEDECA/Documents/FACUMINAS/RAPHAEL/Atletismo/Metodologia%20do%20atletismo/ATLETISMO%20CORPO%20HUMANO%20E%20PSICOLOGIA%20DO%20ESPORTE.docx%23_Toc53692747 2 3 PROVAS DE PISTA: CORRIDAS .................................................... 27 3.1 CLASSIFICAÇÃO DAS PROVAS DE CORRIDAS ....................... 29 3.1.1 QUANTO À ORGANIZAÇÃO ................................................. 29 3.1.2 QUANTO AO DESENVOLVIMENTO .................................. 30 3.1.3 QUANTO AO RITMO .......................................................... 30 3.1.4 QUANTO AO ESFORÇO FISIOLÓGICO ........................... 30 3.1.5 CORRIDAS EM PISTA COBERTA (200 METROS) OU DE COMPETIÇÕES INDOOR ...................................................................... 31 3.1.6 QUANTO AO PISO ............................................................. 32 3.2 TÉCNICA DAS CORRIDAS RASAS ......................................... 32 3.2.1 AÇÃO TOTAL DO CORPO ................................................. 35 3.2.2 ÂNGULO DE INCLINAÇÃO DO CORPO ........................... 35 3.2.3 MOVIMENTO DOS BRAÇOS ............................................. 36 3.2.4 MOVIMENTO DAS PERNAS .............................................. 36 3.3 TÉCNICA DAS CORRIDAS DE VELOCIDADE ........................ 37 3.3.1 TÉCNICA DA CORRIDA ..................................................... 38 3.3.1.1 SAÍDA – 1ª FASE ............................................................ 38 3.3.1.2 DESENVOLVIMENTO – 2ª FASE ................................... 41 3.3.1.3 CHEGADA – 3ª FASE...................................................... 42 3.5 METODOLOGIA PARA ENSINO, DESENVOLVIMENTO E TREINAMENTO DA VELOCIDADE ........................................................... 47 3.6 REGRAS DE COMPETIÇÃO .................................................... 49 3 3.7 TÉCNICA DAS CORRIDAS DE MEIO FUNDO ......................... 50 3.7.1 SAÍDA – 1ª FASE ............................................................... 50 3.7.2 DESENVOLVIMENTO – 2ª FASE ...................................... 51 3.7.3 CHEGADA – 3ª FASE ........................................................ 51 3.8 TÉCNICA DAS CORRIDAS DE FUNDO ................................... 52 3.9 TÉCNICA DAS CORRIDAS COM OBSTÁCULOS .................... 53 3.10 TÉCNICA DAS CORRIDAS COM BARREIRAS...................... 54 3.11 METODOLOGIA PARA O ENSINO E DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA ................................................................................................... 65 3.11.1 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO ........................... 70 4 CORRIDAS DE REVEZAMENTO .................................................... 72 4.1 TÉCNICA DES REVEZAMENTOS ............................................ 76 4.1.1 Técnica de revezamento 4x100 metros .............................. 81 4.1.2 TÉCNICA DE REVEZAMENTO 4X400 METROS .............. 82 4.2 METODOLOGIA PARA ENSINO DA TÉCNICA DOS REVEZAMENTOS ..................................................................................... 83 4.2.1 MÉTODO DO JOGO ........................................................... 83 4.3 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO .................................... 87 4.4 MARCHA ATLÉTICA ................................................................. 88 4.4.1 ANÁLISE TÉCNICA ............................................................ 92 4.4.2 METODOLOGIA PARA O ENSINO E DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA ........................................................................................ 100 4.5 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO .................................. 103 5 SALTOS HORIZONTAIS ............................................................ 110 4 5.1 Salto em distância ................................................................... 112 5.1.1 CORRIDA DE IMPULSO .................................................. 112 5.1.1.1 Método das tentativas .................................................... 113 5.1.1.2 Método da corrida inversa ............................................. 113 5.1.1.3 MÉTODO MATEMÁTICO .............................................. 113 5.1.2 IMPULSÃO ....................................................................... 114 5.1.3 FASE AÉREA ................................................................... 115 5.1.4 QUEDA OU ATERRISSAGEM ......................................... 116 5.2 METODOLOGIA PARA O ENSINO DA TÉCNICA .................. 118 5.3 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO .............................. 122 5.4 SALTO TRIPLO ................................................................... 124 5.4.1 Técnica de salto ................................................................ 125 5.4.2 METODOLOGIA PARA O ENSINO DA TÉCNICA DO SALTO ............................................................................................................. 128 5.4.3 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO ........................... 130 6 SALTOS VERTICAIS ................................................................. 131 6.1 SALTO EM ALTURA ............................................................ 131 6.1.1 TÉCNICA DE SALTO ....................................................... 133 6.1.2 METODOLOGIA PARA O ENSINO DA TÉCNICA DO SALTO ............................................................................................................. 141 6.1.3 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO ........................... 144 6.2 SALTO COM VARA ............................................................. 146 5 6.2.1 TÉCNICA DE SALTO ....................................................... 152 6.2.2 METODOLOGIA PARA O ENSINO E DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA ................................................................................................. 158 OS LANÇAMENTOS ........................................................................ 166 ARREMESSO DE PESO .................................................................. 170 7.1.1 TÉCNICA DE ARREMESSO .......................................... 174 7.1 FASES DA TÉCNICA NO ESTILO DE COSTAS OU PARRY O’BRIEN 174 7.1.1 EMPUNHADURA........................................................... 175 7.1 FASES DA TÉCNICA NO ESTILO COM ROTAÇÃO ........... 179 7.1.1 METODOLOGIA PARA ENSINO E DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA DE ARREMESSO DE PESO................................................... 183 7.1.2 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO ......................... 185 7.1 LANÇAMENTO DE DARDO.............................................. 187 8 LANÇAMENTO COM ROTAÇÃO .................................................. 211 8.1 LANÇAMENTO DE DISCO ..................................................... 212 8.1 LANÇAMENTO DE MARTELO ............................................ 226 9 PSICOLOGIA DO ESPORTE ........................................................ 244 REFERÊNCIAS ................................................................................ 287 6 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 7 INTRODUÇAO Este livro-texto tem como objetivo estudar as técnicas e regras básicas de competição das provas que compõem o atletismo, bem como a metodologia para o ensino dessa modalidade esportiva com seus respectivos estilos. Os alunos deverão ser capazes de atuar na área da educação física escolar (licenciatura), aprofundando os conhecimentos básicos que são exigidos na formação do professor, tanto para atuar no esporte para saúde e lazer, quando em outros seguimentos do esporte não escolar, e, finalmente, nas bases do esporte em nível de rendimento (graduação). Após estudar o conteúdo deste livro-texto, você deverá ser capaz de: • Conhecer os principais fatos históricos que deram origem ao atletismo; • Valorizar o atletismo como esporte de base e reconhecer seu valor filosófico, educacional, social, na saúde e também como esporte de rendimento; • Explorar os vários métodos de ensino do atletismo na busca de soluções pedagógicas mais adequadas às condições de trabalho oferecidas; • Conhecer as diferentes provas que compõem essa modalidade esportiva e as regras básicas de competição; • Estudar os movimentos técnicos e estilos das corridas, saltos e lançamentos; 8 • Entender os exercícios apresentados como exemplos para se ensinar as técnicas das provas desse esporte e também o condicionamento físico específico para cada uma delas; • Entender as regras básicas que regem as competições nos níveis escolares, lazer e alto nível; • Atuar como pesquisador em atletismo. 1 CONHECENDO O ATLETISMO 1.1 BREVE HISTÓRIA DO ATLETISMO A origem do atletismo remonta aos tempos de nossos ancestrais, que, para sobrevivência, usavam no dia a dia algumas formas de atividades naturais: andar longas distâncias em busca de alimentos, correratrás de vários tipos de animais ou para fugir deles; saltar obstáculos da natureza selvagem e arremessar ou lançar diferentes armas utilizadas para caçar. Essas ações rotineiras aos poucos foram transformadas em atividades de competição em festas religiosas, nas quais os participantes demonstravam suas habilidades naturais de marchar, andar, correr, saltar e lançar, que mais tarde se converteriam no atletismo. As primeiras provas foram disputadas na Grécia Antiga em jogos religiosos praticados pelos gregos em honra aos deuses mitológicos. Dentre esses jogos, o mais importante, em homenagem a Zeus, teve início no ano de 776 a.C. na cidade grega de Olímpia. Os jogos eram disputados de quatro em quatro anos e até hoje são realizados dessa maneira. 9 Inicialmente, as provas eram disputadas em quatro tipos de corridas com distâncias variadas: • estádio: corrida de 192 metros (comprimento do estádio); • diaulós: corrida de 384 metros; • dolichos: variava entre 7 e 24 estádios; • corrida das armas: atletas corriam 2 e 4 estádios, levando capacete, escudo e um tipo de arma, que podia ser um gládio ou arco e flecha; • pentatlo: composto de cinco provas disputadas por um atleta na seguinte ordem: lançamento de disco, lançamento de dardo, salto em distância, corrida do estádio e luta. Esse modo de disputa deu origem às provas combinadas do atletismo atual: o heptatlo e o decatlo. Com a invasão e conquista da Grécia pelos romanos, os gregos perderam o interesse pelos jogos olímpicos, extintos definitivamente em 394 d.C. pelo imperador romano Teodósio. Durante toda a Idade Média, as atividades físicas e os esportes passaram por um período obscuro. Somente no início do século XIX, na Inglaterra, os esportes voltaram a ser praticados e foram regulamentados, passando a ser usados como modelo de socialização. Essa ideia foi aos poucos se espalhando por todo o mundo; os esportes adquiriram um formato moderno e continuam em evolução até hoje. Com o atletismo não foi diferente: a modalidade passou por uma série de transformações. A princípio, era praticada apenas por homens; mais tarde, gradativamente, as mulheres iniciaram a sua participação, mas limitadas a competirem em apenas algumas das provas. Aos poucos, elas foram ganhando mais espaço e, com a ajuda da ciência do esporte, alguns tabus 10 foram quebrados. Atualmente, todas as provas que compõem o atletismo são disputadas por homens e mulheres, sem distinção. A partir desses acontecimentos, o atletismo se tornou, e permanece, como principal modalidade olímpica dos tempos modernos, sendo também considerado o “esporte de base” e o único na “categoria 1” estabelecida pelo Comitê Olímpico Internacional. No Brasil, a prática do atletismo foi consolidada nas três primeiras décadas do século XX. Em 1914, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) filiou-se à International Association of Athletics Federations (Associação Internacional de Federações do Atletismo – IAAF), com sede em Londres. Em 1924, enviou a sua primeira equipe de atletismo aos Jogos Olímpicos da França; no ano seguinte, foi instituído o Campeonato Brasileiro de Atletismo, e em 1931 começa a participar dos campeonatos sul-americanos. 1.2 DIVISÕES DO ATLETISMO Como já vimos, o atletismo é composto de grupos de provas, nos quais o praticante é desafiado a demonstrar o melhor de suas capacidades e habilidades naturais para correr, saltar, lançar e marchar de forma individual. Por ser uma atividade individual, pode ser praticado por todos, por prazer ou lazer ou pelo desejo de autossuperação. 11 Quando se trata de competição, um mesmo atleta não é capaz de render o máximo de suas potencialidades para se tornar um vencedor completo, já que isso exigiria condições específicas em todas as capacidades físicas e motoras em cada prova. Assim, os praticantes se especializam apenas em algumas modalidades. As opções são muito variadas. Em razão da complexidade e por uma questão de organização, todas as provas são distribuídas em grupos conforme suas característicastécnicas e físicas. Dessa maneira, a composição do atletismo é dada pelos seguintes grupos: • provas de pista; • provas de campo; • provas combinadas; • provas de competição indoor; • marcha atlética; • corridas de rua. 1.2.1 PROVAS DE PISTA Esse grupo é composto de corridas. Possui essa denominação por se tratar de provas disputadas em pista de corridas com distâncias de 100 metros até 10.000 metros: • corridas rasas: 100, 200, 400, 800, 1500, 5000 e 10.000 metros; • corridas com barreiras: 100 metros (feminino), 110 metros (masculino), 400 metros (masculino e feminino); • corridas com obstáculos: 3000 metros. 12 • corridas de revezamento: 4 x 100 metros e 4 x 400 metros. A pista oficial é oval e formada por duas retas opostas e duas curvas com raios iguais. Possui no mínimo oito raias, com 1,22 metros de largura cada, marcadas por linhas brancas de 5 cm de largura. A raia interna é denominada raia um (1), de onde se tira a medida do comprimento da pista, que deve ser de 400 metros – tomados a 30 cm da borda interna dessa raia. Para todas as provas, existe uma única linha de chegada, que está situada no fim da reta principal. Nesta, são realizadas as corridas de 100 e 110 metros rasos e sobre barreiras. As linhas de partida, para todas as provas, devem ser brancas, com 5 cm de largura e marcadas da linha de chegada para trás (medindo-se a distância de cada prova). 13 1.2.2 PROVAS DE CAMPO Este grupo de provas corresponde àquelas disputadas na parte interna da pista, que são as provas de saltos e arremesso ou lançamentos: • saltos horizontais: salto em distância e triplo; • saltos verticais: salto em altura e salto com vara; • arremesso de peso; • lançamentos do dardo, disco e martelo. Cada uma dessas provas é disputada em uma área específica do campo e possui um nome de identificação. 1.2.3 SALTOS HORIZONTAIS Os saltos horizontais (distância e triplo) são realizados em uma zona localizada paralelamente à reta principal da pista, que é formada por um corredor de 40 m de comprimento até o fim da tábua de impulsão, com 1,25 m de largura. Esse corredor termina em uma caixa de areia, denominada área de queda, de 2,75 a 3 metros de largura. O comprimento deve ser de, no mínimo, 10 metros da tábua de impulsão até o fim da caixa de areia. A tábua de impulsão é feita de madeira ou outro material rígido, com 1,22 m de comprimento por 20 cm de largura e 10 cm de altura abaixo do nível da pista. 14 1.2.4 SALTOS VERTICAIS Os saltos verticais (altura e vara) são realizados em uma zona própria para cada um, na qual o saltador deve correr para acumular forças e conseguir impulsionar para cima e ultrapassar, o mais alto possível, uma barra (sarrafo) horizontal apoiada em dois postes. A área para o salto em altura é composta de um corredor em forma de leque com 15, 20 ou 25 m de comprimento, que termina na região de queda, com 5 m de largura por 3 m de fundo, onde é colocado o colchão ou outra coisa similar para amortecer a queda do saltador. Os postes para suporte da barra transversal deverão estar situados logo no início da área de queda e ser separados por uma distância de 4 m. 15 No salto com vara, para realizar sua tentativa, o saltador, portando nas mãos uma vara própria, utiliza um corredor marcado por linhas brancas de 5 cm de largura, com 40 a 45 m de comprimento por 1,22 metros de largura. No fim desse corredor, é colocado o encaixe para a vara enterrado no chão ao nível da pista, que deve possuir 1 m de comprimento por 60 cm de largura na parte inicial e 40 cm na parte final, em sua parte alta, e 15 cm na parte baixa. Ao fim do corredor, logo em seguida ao encaixe, está situada a zona de queda, com 6 m2, onde se encontra um colchão com 80 cm de altura para queda. 1.2.5 LANÇAMENTO DE DARDO A prova de lançamento de dardo é disputada em uma área formada por um corredor de, no mínimo, 30 m de comprimento, marcado por duas linhas paralelas de 5 cm de largura e afastadas a 4 m uma da outra. No fim desse corredor, existe um arco de círculo traçado com um raio de 8 m. Esse arco é pintado de branco, tem 7 cm de largura e pode ser de madeira. Em cada extremidade do arco, há um prolongamento de 75 cm das linhas em ângulo reto com o corredor. O setor de queda do dardo é demarcado 16 com duas linhas brancas de 5 cm de largura, que, teoricamente, se iniciam no centro do corredor a 8 m de distância do fim do corredor de lançamentos. Ligando as duas linhas do setor de quedas, são traçados arcos de 10 em 10 metros a partir dos seus 40 m iniciais. 1.2.6 LANÇAMENTO DE DISCO Essa prova consiste em se lançar um disco de 2 kg, para os homens, e 1 kg, para as mulheres, do interior do círculo de 2,5 m de diâmetro interno, contornado por um aro branco de 6 mm de espessura. A partir do centro do círculo, iniciam-se duas linhas brancas com 5 mm de largura, que se estendem para fora e se prolongam para determinar o setor de queda a uma distância de vários metros, de acordo com o nível da competição. O círculo é dividido em duas metades (denominadas anterior e posterior) que são marcadas por uma linha divisória, estendendo-se em 75 cm pelos lados de fora e formando um ângulo reto com o eixo central do setor de queda no centro do círculo. 17 Para agilizar a medição da distância do lançamento, são marcados arcos de 10 em 10 mm, unindo as linhas demarcatórias do setor de queda. Envolvendo o círculo, como modo de proteção em caso de desvio da trajetória do implemento a ser lançado, existe uma gaiola em forma de U, que evita a saída do disco para outra direção que não seja a desejada pelo competidor. 1.2.7 LANÇAMENTO DE MARTELO O lançamento de martelo é, tecnicamente, a prova mais complexa dos lançamentos, uma vez que envolve uma série de giros velozes executados pelo corpo do atleta e também do implemento (martelo) de uma forma muito rápida e coordenada dentro de um espaço relativamente pequeno, que é o círculo de lançamento. O martelo é composto de três partes: cabeça, cabo e empunhadura. A cabeça de metal é uma esfera de ferro maciço ou outro metal não menos macio, cheio de chumbo ou outro material sólido. O cabo é feito de 18 arame de aço inteiriço com 3 mm de diâmetro, que pode ter alça em uma ou ambas as extremidades como meio de conexão com a cabeça e a empunhadura. A cabeça deverá ser rígida e sem nenhum tipo de conexão articulada. A competição se desenvolve em uma área composta de um círculo de 2,135 m de diâmetro, que pode ser de concreto, asfalto ou outro material firme, mas não escorregadio. Ao redor do círculo deve haver um aro de ferro pintado de branco com 5 cm de largura. O círculo é dividido em duas metades, posterior e anterior, marcadas por uma linha branca de 5 cm, que é marcada a partir do aro em sua parte lateral – com 75 cm de comprimento. Teoricamente, partem do centro do círculo duas linhas brancas de 5 cm de largura que são marcadas a partir da parte externa do aro e se prolongam por, no mínimo, 75 m em cada lado do círculo para definir o setor de queda do martelo após seu lançamento. 19 Ao redor do círculo, deve haver uma gaiola de proteção em forma de U, tendo a parte aberta voltada para frente na direção do lançamento. 1.2.8 ARREMESSO DE PESO Essa prova consiste em arremessar uma bola de ferro maciço de 7,26 kg e diâmetro de 110 a 130 mm para os homens; para as mulheres, 4 kg e com 95 a 110 mm de diâmetro. Esse arremesso é realizado no interior de um círculo idêntico ao usado no lançamento de martelo, com apenas uma diferença: a existência de um anteparo de madeira com 1,22 m de largura colocada na frente do círculo, no início do setor de queda. Não há necessidade de possuir uma gaiola de proteção como existe para o discoe o martelo. Na tabela a seguir, é mostrado um resumo geral dos pesos oficiais de cada implemento conforme as regras da Iaaf e da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). 20 1.2.9 PROVAS COMBINADAS As provas combinadas no atletismo são representadas por desafios nos quais um mesmo atleta participa de uma combinação de várias provas, como corridas, saltos e lançamentos. A disputa se desenvolve em dois dias seguidos de competições. Essas provas são realizadas em várias categorias, masculinas e femininas, e as mais conhecidas são o decatlo (dez provas para homens adultos) e o heptatlo (sete provas para mulheres adultas). O decatlo compreende dez provas, disputadas em dois dias consecutivos, na seguinte ordem: • primeiro dia: 100 m rasos, salto em distância, arremesso de peso, salto em altura e 400 m rasos; • segundo dia: 110 m com barreiras, lançamento de disco, salto com vara, lançamento de dardo e 1500 m. O heptatlo feminino compreende sete provas, disputadas em dois dias consecutivos entre as mulheres, na seguinte ordem: • primeiro dia: 100 m sobre barreiras, salto em altura, arremesso de peso e 200 m rasos; 21 • segundo dia: salto em distância, lançamento de dardo e 800 m rasos. Os competidores recebem uma pontuação em cada uma das provas. Essa pontuação é somada, sendo declarado vencedor aquele que obtiver mais pontos. 2 ETAPAS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM E TREINAMENTO DO ATLETISMO Como todos os esportes, o ensino e o desenvolvimento do atletismo envolvem um processo a longo prazo dividido em etapas e que atendem a um processo natural de promoção das capacidades físicas e morfológicas dos indivíduos. Nesse contexto, deve ser explorado tudo o que é mais adequado à faixa etária e às solicitações mecânicas exigidas na prática dessa modalidade esportiva. Considerando essas necessidades, cada etapa que compõe esse processo tem uma denominação própria conforme especialistas, e neste livro- texto vamos utilizar uma ideia bem adequada à visão. Frometa e Takahashi (2004) dividem todo o processo de aprendizagem e evolução do atletismo em etapas: • Etapa de iniciação (dos 9 aos 13 anos de idade e composta de duas fases): — período de formação inicial multilateral; 22 — período de formação inicial multilateral especial em uma área do atletismo. • Etapa de desenvolvimento (de 14 a 19 anos de idade). • Etapa de alto rendimento (acima de 19 anos de idade). • Etapa de “destreinamento”. A etapa de iniciação multilateral compreende a fase em que a criança está em pleno desenvolvimento de suas capacidades físicas e motoras, em especial a coordenação motora. Portanto, é favorável a aquisição das mais variadas experiências de movimentos, que compõem a base para a aprendizagem da técnica esportiva em geral. A partir dessas considerações, os objetivos a serem perseguidos são: • Familiarizar-se com o treinamento da etapa de formação básica do processo de evolução física e técnica multilateral, adquirindo hábitos e habilidades motoras que permitem sustentar uma futura especialização em uma área do atletismo. • Executar os exercícios motores básicos que sustentam a técnica de iniciação nas corridas, nos saltos horizontais e verticais, no lançamento da pelota e na marcha atlética. • Fomentar hábitos para fazer da prática do atletismo uma atividade consciente e sistemática. • Solucionar medidas didáticas e pedagógicas durante o processo de formação inicial. 23 • Familiarizar-se com o progresso de qualidades volitivas que os preparem para submeter-se a níveis de carga de treinamento cada vez maiores em volume e intensidade. Na etapa de iniciação multilateral especial em uma área do atletismo, com a base adquirida no período anterior, o trabalho começa a ser dirigido para uma especialidade ou grupo de provas, já começando a explorar o potencial da criança para que naturalmente ela comece a gostar e a praticar sistematicamente aquela modalidade. A partir dos 14 anos, o adolescente, com uma base já solidificada e com identidade direcionada para uma das áreas do atletismo, começa a praticar uma atividade mais específica, de preferência não apenas em uma prova. Essa é a característica da etapa do desenvolvimento, que dura, em média, de cinco a seis anos. No fim dessa etapa, o jovem já estará completamente identificado com uma ou mais provas do atletismo; chega o momento de decidir em qual prova ele se especializará, em que nível seguirá praticando o esporte e quais serão as suas pretensões. A partir dos 19 anos, se a opção for pela continuidade, inicia-se uma nova etapa, que visa ao preparo para competições de alto nível e alto rendimento, daí o nome etapa de alto rendimento. É o momento da busca incansável pela perfeição, que depende das exigências predominantes no tipo de prova praticado. A duração desse período áureo está condicionada às exigências da modalidade, por exemplo, em provas predominantemente de velocidade, os melhores resultados da vida atlética chegam, no máximo, até os 28 anos de 24 idade; para cada especialização existe um período variável de melhor performance. Após esse período áureo, inicia-se um novo período denominado “destreinamento” (FROMETA; TAKAHASHI, 2004), que poderia ser considerado como uma fase de manutenção para prolongar a vida útil do atleta. Independentemente do nome dado a cada etapa, fase ou estágio, o mais importante é entender o que deve ser trabalhado ou treinado em cada momento ou espaço de tempo ao longo do processo. Essa é a compreensão necessária para a aplicação correta de uma metodologia adequada a cada objetivo, sem queimar etapas e dando uma continuidade natural a todos os critérios que envolvem o ensino e desenvolvimento do atletismo. 2.1 METODOLOGIA PARA O ENSINO E DESENVOLVIMENTO É essencial iniciarmos esse assunto perguntando: como o professor ensinará o atletismo? Saber ensinar é, provavelmente, a maior virtude do professor; nela, está envolvida uma série de atributos imprescindíveis, e um deles é conhecer e escolher as metodologias adequadas para a faixa etária, os objetivos e as condições em que irá trabalhar. Os métodos aplicados podem ser muito variados, mas nas disciplinas esportivas alguns deles são praticamente universais e simples de entender e aplicar. Vamos então conhecer esses métodos, que são os mais utilizados e eficientes. 25 EXEMPLO DE APLICAÇÃO O atletismo é considerado o esporte de base porque reproduz as atividades naturais dos humanos, que são: andar (marcha), correr, saltar e arremessar. Reflita a respeito das provas que compõem o atletismo moderno e de que forma sua prática poderá contribuir para o desenvolvimento das capacidades físicas e motoras das pessoas, em especial na idade escolar. 2.1.1 MÉTODO DO JOGO Esse método é muito importante, especialmente na faixa etária entre 8 e 10 anos de idade, porque tem um caráter lúdico que motiva a criança. É promovido através de jogos adaptados aos componentes técnicos e físicos do atletismo. Como todos os métodos, possui vantagens e desvantagens para o resultado final: • vantagens: caráter lúdico, motivação, espírito de equipe, inclusão de todos e também favorece a criatividade; • desvantagens: não trabalha a coordenação bilateral (a menos que sejam incluídas regras obrigando o uso de ambos os lados do corpo), imprecisão do aprendizado. 2.1.2 MÉTODO GLOBAL Como o próprio nome sugere, com este método a aprendizagem acontece através da prática da modalidade como um todo, ou seja, a técnica é aprendida e promovida com a prática sistemática do gesto técnico global. Por 26 exemplo, aprende-se a saltar triplo, correr sobre barreiras, arremessar peso etc., executando a ação técnica dessas provas, ou seja, salta triplo, arremessa, correcom barreiras e assim por diante. Aprende-se as corridas, correndo; os saltos, saltando e lançar, lançando. • vantagens: grande motivação, liberdade, solicitação natural da criatividade e do talento; • desvantagens: não desenvolve a coordenação bilateral, possibilita a aprendizagem com deficiências técnicas. 2.1.3 MÉTODO ANALÍTICO O método analítico também é conhecido como método das partes. Ocorre passo a passo: a aprendizagem se dá por meio da aplicação de uma sequência pedagógica (sequência de exercícios educativos exercida em dificuldade progressiva). • vantagens: o aprendizado é mais eficiente devido ao grande número de repetições do movimento e favorece o desenvolvimento da coordenação bilateral (lado direito e esquerdo do corpo); • desvantagens: pode ser desmotivador, muito mecânico e não envolve a criatividade. Mais adiante, quando for estudada cada uma das provas, serão apresentados exemplos de exercícios 27 e atividades correspondentes a cada um desses métodos. Observação A escolha e a utilização ou preferência por algum dos métodos fica a critério do professor, porém, alguns cuidados devem ser tomados, como: quantidade e tipo de material disponível, local, quantidade de alunos etempo para desenvolver a aprendizagem. 3 PROVAS DE PISTA: CORRIDAS Para o estudo das provas de atletismo, começaremos pelas corridas de pista e finalizaremos com as corridas de rua. As corridas representam uma das formas naturais do homem de se locomover de modo mais rápido possível. Por isso, sempre foi uma atividade muito importante, usada como forma de sobrevivência por nossos ancestrais para caçar, guerrear e ainda como brincadeira pelas crianças nas aldeias. Para os gregos antigos, a corrida era admirada pela beleza plástica de seus movimentos; estes foram reproduzidos em muitos utensílios domésticos, como vasos de cerâmica e metais, que marcaram a antiga cultura grega. Como competição, as corridas aconteceram já nos primeiros jogos olímpicos da Grécia Antiga, em 776 a.C. A prova de velocidade possuía 192 metros, o que correspondia à volta do estádio; mais tarde foram acrescidas a prova do dualo (ida e volta) e também as provas de resistência, que correspondiam de 8 a 24 estádios, ou seja, 4600 metros. 28 Na ocasião, já havia uma série de preocupações com a técnica da corrida, que era refletida nas obras de arte da época. Nelas, observam-se detalhes técnicos da postura para correr, movimentar os braços e para a colocação dos pés no chão. Os espartanos avaliavam os homens de acordo com sua capacidade de correr nas competições. As mulheres competiam longas distâncias, já as crianças atuavam em distância curtas. Nos tempos modernos, os ingleses foram os primeiros a mostrar interesse pelas corridas de longa duração: utilizavam mensageiros bem preparados que percorriam grandes distâncias para a entrega de correspondências e que, como corredores, participavam de competições profissionais. Essas competições envolviam grandes apostas. Surgem, assim, os primeiros nomes de corredores que fizeram a história do atletismo a partir do século XVIII. As corridas começaram a ser praticadas em outros países e em outros continentes, originando extraordinários corredores, como Paavo Nurmi e Emil Zatopeke, imbatíveis nas corridas de longas distâncias. Os ingleses começaram a incursionar nas provas mais curtas, como a milha, e ainda na velocidade, o que contribuiu para as constantes adaptações até se chegar ao formato atual. Hoje as corridas oficiais realizadas na pista começam com a velocidade de 100 metros e vão até os 10.000 metros, as mais longas. Já as corridas com distâncias superiores são identificadas como corridas de rua. Para entender as características particulares de cada uma das provas de corridas, é necessário classificá-las de acordo com os padrões de regulamento, técnica e aspectos fisiológicos envolvidos no tipo de esforço empreendido. 29 3.1 CLASSIFICAÇÃO DAS PROVAS DE CORRIDAS 3.1.1 QUANTO À ORGANIZAÇÃO • Balizadas: são as provas curtas de até uma volta na pista, representadas pelas distâncias de 100,200 e 400 metros rasos; 100 m (F) e 110 m (M), mais os 400 m (M e F), que se completam com o revezamento 4 x 100 m (M e F). Além dessas provas, existem outras parcialmente balizadas, são as corridas de 800 m, balizada apenas até o fim da primeira curva, e o revezamento 4 x400 m, que é balizada para o primeiro corredor da equipe e até o fim da primeira curva para o segundo corredor. • Não balizadas: são as provas de 1500 m rasos, 3000 m com obstáculos, 5000 m e 10.000 m rasos. 30 3.1.2 QUANTO AO DESENVOLVIMENTO • Rasas: são as corridas em que o atleta corre toda a prova sem ter que suplantar nenhum tipo de obstáculo durante todo o percurso da corrida; são as provas de 100, 200, 400, 800, 1500, 5000 e 10.000 m rasos. • Com obstáculos: correspondem às provas de 100 m (F), 110 m (M) e 400 m (M e F) com barreiras, nas quais o corredor deve ultrapassar dez barreiras, e à prova de 3000 m com obstáculos com quatro obstáculos pesados em cada volta, na qual o quarto obstáculo tem um fosso de água na frente. 3.1.3 QUANTO AO RITMO • velocidade pura: 100 e 200 metros; • velocidade prolongada: 400 metros; • meio fundo: 800 e 1500 metros; • fundo: 5000 e 10.000 metros; • grande fundo: maratona (42.195 metros). 3.1.4 QUANTO AO ESFORÇO FISIOLÓGICO 31 São provas que envolvem as capacidades predominantes no tipo de esforço solicitado: • velocidade pura: 100 e 200 metros; • velocidade prolongada: 400 e 800 metros; • resistência anaeróbica: 5000, 10.000 metros e a maratona. 3.1.5 CORRIDAS EM PISTA COBERTA (200 METROS) OU DE COMPETIÇÕES INDOOR • corridas: 60, 400, 800, 1500 e 3000 metros rasos; 60 metros com barreiras e revezamento 4 x 400m; • saltos: distância, triplo, altura e com vara; • arremesso de peso; • provas combinadas: pentatlo e heptatlo. 32 3.1.6 QUANTO AO PISO • Pistas: piso sintéticos, ao ar livre (abertas) e recintos fechados (cobertas ou indoor); • Em terrenos variados: corridas de rua e cross-country. 3.2 TÉCNICA DAS CORRIDAS RASAS Como visto anteriormente, a corrida é uma forma natural do homem se locomover com mais rapidez que o caminhar, que é a maneira mais comum. 33 Todos os humanos possuem uma maneira ou estilo próprio para utilizarem esses recursos naturais de locomoção, porém, quando se trata de correr em disputas esportivas, alguns detalhes técnicos devem ser observados porque proporcionam uma forma mais eficiente e produtiva para percorrer a distância desejada e chegar mais rápido ao destino final. Analisando a ação de andar e correr, a diferença principal está no fato de que, ao caminhar, um dos pés estará sempre em contato com o chão, enquanto que, correndo, durante o ciclo da passada, o corpo passa por uma fase aérea, ou seja, o pé de trás deixa o chão antes que o da frente toque o solo para efetuar o contato anterior da passada. Na figura a seguir, observamos o ciclo completo da passada na corrida. O ciclo se inicia com a impulsão realizada no pé esquerdo (a) – sapato preto –, enquanto a perna direita – sapato branco – é projetada flexionada (a, b) para cima e à frente. Nesse instante, o pé de trás deixa o solo e acontece o momento aéreo da corrida (b), os dois pés estão no ar, e na sequência a perna direita se estende (c), buscando alcançar a maior distância possível para tocar o solo mais longe e ampliar a passada. Depois, começa a passada seguinte a partir da letra (e) observada na figura. 34 Além desse detalhe vital, para fazer uma análise completa de toda a técnica da corrida, outras regras precisam ser levadas em consideração. Uma técnica correta para correr deve satisfazer quatroregras importantes: descontração, equilíbrio, coordenação e eficácia. • Descontração: o ato de correr solicita a participação de alguns músculos ou grupos musculares, enquanto que os demais músculos devem estar mais descontraídos possível para que não haja um desgaste desnecessário do uso de energia, que melhora as condições de esforços para a realização da técnica. • Equilíbrio: a cabeça é de grande importância para o equilíbrio geral do corpo e, consequentemente, tem grande influência para o equilíbrio do corredor; com isso, deve ser posicionada de forma a favorecer a estabilidade do corpo durante a corrida. Para isso, ela deve estar em linha com o eixo do corpo com o olhar dirigido aproximadamente a 15 m à frente. • Coordenação: todos os movimentos do corpo devem estar em sintonia para proporcionar uma técnica refinada sem desgastes desnecessários, 35 porém, a colocação e a movimentação dos braços estão intimamente ligadas ao das pernas, em que se busca coordenar a movimentação dos braços ao ritmo das passadas. • Eficácia: a amplitude dos movimentos executados pelo corredor deve estar relacionada ao uso racional das possibilidades do corpo, o que resulta num gesto orgânico mínimo adequado ao ritmo desejado. Para atingir esses importantes requisitos e adquirir uma boa técnica, alguns pontos devem ser observados, como a ação total do corpo, bem como seu ângulo de inclinação, movimento dos braços e das pernas e colocação dos pés. 3.2.1 AÇÃO TOTAL DO CORPO Esse requisito técnico não é decisivo para o resultado final da corrida, mas pode contribuir desde que o conjunto de todos os movimentos do corpo sejam realizados no sentido da corrida, ou seja, para frente e em linha reta. Para isso, os pés devem estar apontados para frente, os braços se movimentando flexionados e sem cruzar exageradamente na frente do corpo e, finalmente, sem oscilações nos ombros e nos quadris. 3.2.2 ÂNGULO DE INCLINAÇÃO DO CORPO O ângulo de inclinação do corpo para frente deve ser natural, determinado em razão do ritmo da corrida. O ponto ideal da inclinação pode ser identificado observando-se a formação de uma linha reta composta pela perna que está apoiada atrás, o tronco e a cabeça. 36 3.2.3 MOVIMENTO DOS BRAÇOS Os braços se movimentam de forma paralela, flexionados aproximadamente em 90º, sem se cruzarem adiante do tronco. Os movimentos são realizados exclusivamente nas articulações dos ombros e nunca na dos cotovelos. Na falta de condição das pernas, já no fim da corrida, a movimentação dos braços é de grande importância, a tal ponto que alguns corredores, ao encerrarem a prova, dizem que terminaram correndo com os braços. 3.2.4 MOVIMENTO DAS PERNAS As pernas possuem uma movimentação que se caracteriza pelo ritmo empregado na corrida. Nas corridas de ritmo mais cadenciado, como nas de longas distâncias, as pernas se movimentam ligeiramente flexionadas, porque as passadas são mais curtas e por isso não há necessidade de se elevar tão alto os joelhos. Assim, o apoio dos pés no chão é feito com predomínio dos calcanhares, caracterizando a técnica pendular de movimentação das pernas. Nas corridas de médias distâncias, que no atletismo correspondem às provas de meio-fundo, 800 e 1500 metros, os braços se colocam um pouco mais flexionados e as mãos totalmente descontraídas. Como o ritmo da prova é mais rápido, as passadas se tornam mais amplas e, com isso, os joelhos se elevam um pouco mais alto que nas corridas de fundo. Dessa forma, os pés devem fazer o contato com o chão pela sua parte média. 37 Finalmente, nas corridas de velocidade, que são realizadas em máxima intensidade, as passadas devem ser mais amplas possíveis, o que exige uma grande elevação dos joelhos. Por isso, o contato no chão é feito pela parte anterior dos pés (ponta), enquanto que as mãos se colocam espalmadas, mais contraídas que os outros tipos de corridas. 3.3 TÉCNICA DAS CORRIDAS DE VELOCIDADE As corridas de velocidade, no atletismo, envolvem as provas de velocidade pura, 100 e 200 metros rasos, e de velocidade prolongada, os 400 metros rasos, para adultos. Nas categorias inferiores, 50 e 75 metros. São classificadas como provas de velocidade pura, que é a velocidade inata de um indivíduo, o que a torna fundamental na seleção de futuros corredores. Significa a máxima capacidade de deslocamento na unidade de tempo sem perdas aparentes de energias, que, segundo muitos estudos, é conseguida entre 40 a 70 metros. Além da velocidade pura, essas provas envolvem uma série de variantes, como a velocidade de reação, velocidade em relação aos movimentos cíclicos, em relação a movimentos acíclicos e velocidade de força. A velocidade de movimentos cíclicos é alta e a movimentação se repete sempre da mesma maneira. Caracteriza-se nos movimentos técnicos, sempre iguais e precisos, que o corredor realiza durante toda a distância percorrida. 38 A velocidade de movimentos acíclicos é alta e a movimentação é repetida de maneira diferente, como é o caso da efetivação de um drible, uma finta e outras formas muito comuns nos esportes. Já a velocidade de força tem relação com a capacidade da realização de trabalhos de alta intensidade contra uma determinada resistência; está presente na fase de aceleração no início da corrida, o que a torna muito importante e até decisiva nas corridas de 100 e 200 m. Todas essas variantes devem ser trabalhadas na preparação dos velocistas e devem ser completadas com o treinamento técnico. A técnica das corridas de velocidade envolve dois componentes, que são a técnica da corrida e a técnica para correr em velocidade. 3.3.1 TÉCNICA DA CORRIDA A técnica da corrida é dividida em três fases: saída, desenvolvimento e chegada. Todas elas estão fortemente relacionadas entre si e são decisivas no resultado final, assim, todos os detalhes de cada uma delas devem ser muito bem trabalhados. 3.3.1.1 SAÍDA – 1ª FASE Diferentemente das corridas de meio fundo e fundo, as corridas de velocidade são provas curtas aplicadas em velocidade máxima. Essa fase da corrida é decisiva para o resultado final, visto que a definição do vencedor é concretizada por décimos de segundo, o que reveste de grande importância os detalhes técnicos da partida. É conhecida como saída baixa, porque os 39 corredores partem de uma posição agachada e apoiam os pés em um bloco de partida. Uma técnica correta requer o posicionamento ideal dos apoios dos pés no bloco de partida com uma adequada distância entre eles que possibilite conforto para o corredor quando ele estiver posicionado para efetuar a largada, além da preocupação com a posição do corpo, braços e cabeça. A distância entre o apoio dos pés no bloco caracteriza três tipos de saída, que podem ser identificadas como saída curta, média e longa. • Saída curta: pouco usada, caracteriza-se pela proximidade em que os pés estão posicionados nos apoios do bloco de partida; a ponta do pé de trás fica na direção do calcanhar do pé da frente e os quadris mais elevados, acima da linha dos ombros no momento do comando “prontos”. • Saída média: a mais aplicada, é identificada pela colocação do joelho da perna de trás na direção da ponta do pé da frente. Ao comando de “prontos”, os quadris se elevam pouco acima da linha dos ombros. • Saída longa: mais utilizada por corredores longilíneos, nela se observa que o joelho da perna de trás é posicionado na direção do calcanhar da perna da frente e os quadris se elevam na altura da linha dos ombros. 40 Ressaltamos os aspectos da figura anterior destacando-os com as respectivas letras indicadas. • “Às suas marcas” (A): posicionar-se no bloco de partida com o joelho da frente no chão e ficar imóvel. • “Prontos” (B): eleva o quadril e aguarda o tiro de partida,imóvel. • “Tiro” (C): é dada a largada impulsionando-se para frente. • Iniciada a corrida (D). Os procedimentos para a realização da partida em uma competição devem estar de acordo com as regras oficiais comandadas pelo juiz de partida, os quais consistem no seguinte: • Os corredores têm um tempo para preparar e testar a posição do seu bloco. Após esse procedimento, todos se colocam em pé atrás do bloco aguardando a voz de comando do juiz. • O juiz, colocado no lado de dentro da pista, diz “às suas marcas”, e todos os corredores ocupam sua posição no bloco. 41 • Após todos estarem imóveis nos seus blocos, o juiz diz: “prontos”, e os corredores elevam os quadris; quando todos estiverem completamente imóveis, o juiz aciona sua arma e, assim, é dado o tiro de partida. 3.3.1.2 DESENVOLVIMENTO – 2ª FASE Essa fase corresponde à realização da corrida propriamente dita; então, a preocupação se volta para a técnica para correr em velocidade, que veremos em sequência. A velocidade da corrida é um produto da distância e da frequência das passadas, cuja proporção varia nos diferentes momentos de uma mesma corrida e entre um atleta e outro (DYSON, 1978). A amplitude da passada se refere à distância desta na corrida e depende de alguns fatores, como a constituição, o peso, a potência, a flexibilidade e a coordenação do corredor; a maioria desses fatores pode ser melhorada através de exercícios específicos e educativos. Um dos fatores que tornam Usain Bolt um fenômeno na história do atletismo é a amplitude de suas passadas. Estudos mostram que a amplitude delas é de 2,45 metros em média, enquanto seus maiores adversários têm, em média, 2,20 a 2,23 metros, o que significa uma diferença decisiva para o sucesso desse corredor. Em cada passada, ele tira uma vantagem de 20 cm, que por si só já garante, praticamente, a vitória em qualquer disputa. 42 Contrariamente, a frequência das passadas pode ser minimamente melhorada por depender de fatores inatos relacionados à constituição física do atleta. Dependendo dessa constituição, ele já nasce com mais ou menos capacidade de velocidade, principalmente em relação à quantidade ou proporção de fibras musculares brancas de contração veloz na composição de sua musculatura. Portanto, para melhorar o desempenho na fase do desenvolvimento da corrida, os exercícios devem visar ao treinamento que possa aumentar a distância e a frequência das passadas. 3.3.1.3 CHEGADA – 3ª FASE 43 Essa fase, principalmente nas corridas mais rápidas (100 e 200 metros), na maioria das competições, decide a classificação dos participantes. Devido a esse detalhe, é preciso haver uma justa preocupação com a técnica de finalizar a corrida, em especial as de velocidade, uma vez que a maioria dos oito concorrentes termina praticamente junto e, assim, a definição fica por conta de uma melhor utilização da técnica de chegada. Pela regra oficial, a chegada é definida pela passagem do tronco do corredor no plano vertical da linha de chegada. Assim, uma boa técnica é aquela que possibilita ao corredor, no momento exato, projetar em primeiro lugar o seu tronco (excluindo a cabeça, pescoço, braços, mãos, pernas ou os pés), além da linha de chegada. Para tal, a técnica mais aplicada é a chegada com projeção do tronco à frente, que consiste na ação pela qual, ao aproximar-se da linha de chegada, o corredor projeta seu tronco adiante de todo o corpo, muito antes dos pés atingirem a linha final, o que possibilita ao corredor, em um momento de decisão, tirar vantagem de uma boa utilização de sua maestria técnica. 44 Muitas vezes torna-se difícil definir a olho nu qual foi o vencedor e, por isso, nessas provas, é utilizado o sistema de foto finish, que não possibilita nenhum tipo de dúvida. Todos os meios fundamentais de corrida, desde o sprint mais curto até as distâncias mais longas, atêm-se a princípios mecânicos básicos, cujo 45 conhecimento é importante não somente para entender a corrida em si, como também para analisar outras provas atléticas e desportivas que derivam dos movimentos inatos da corrida. O movimento de corrida é produzido por uma combinação de forças: internamente, a força muscular, que produz uma troca na reação do solo evence a resistência devido à viscosidade dos músculos, a tensão das fáscias, ligamentos e tendões, etc.; externamente, a força da gravidade, a resistência do ar e as forças exercidas pelo solo contra o calçado do corredor e por isso o corredor usa calçados com cravos na sola para assegurar o máximo de força para frente (DYSON, 1978). Para correr em velocidade, tecnicamente falando, é preciso considerar alguns fatores essenciais, que se resumem na ação total do corpo, o que envolve uma unidade formada pela linha de inclinação do corpo, posição da cabeça, direção do olhar, movimentação das pernas e forma de colocar os pés no chão. Esse conjunto de ações deve contribuir para a realização de movimentos para frente em linha reta, feitos sem perda aparente de energia usada desnecessariamente. • Inclinação do corpo para frente O ângulo de inclinação do corpo durante a corrida de velocidade é uma característica natural utilizada para tomada de equilíbrio. Nos metros iniciais, é mais inclinado e, à medida que se acelera a corrida, a inclinação também diminui. A inclinação ideal é aquela em que todo o corpo forme uma linha reta 46 a partir do ponto de apoio no chão do pé que está atrás, quadril, tronco e cabeça. No caso das corridas de velocidade, essa inclinação é pouco mais acentuada que nas demais corridas por causa da amplitude das passadas, que são maiores. • Movimentação das pernas A forma de movimentação das pernas também é definida pelo ritmo da corrida e pela distância das passadas. Dessa forma, nas corridas de velocidade, em que as passadas são mais amplas, ocorre maior elevação do joelho da perna da frente e o calcanhar se aproxima mais da parte posterior da coxa, o que sugere que o movimento dos pés descreva um círculo (por isso, é conhecida como técnica circular de movimentação das pernas). Esses detalhes influenciam a colocação dos pés no chão, já que nessas corridas o contato do pé é feito com sua parte anterior e com a lateral externa, o que justifica a colocação dos cravos apenas na parte da frente das sapatilhas para correr em velocidade. • Movimento dos braços A movimentação dos braços se constitui em um papel fundamental nas corridas de velocidade. Eles devem estar flexionados no máximo em 90º e se movimentar no sentido da corrida, coordenados com a movimentação das pernas; são úteis para equilibrar o movimento, compensando a rotação dos quadris e absorvendo as reações provocadas pelo impulso das pernas sobre o solo. 47 3.5 METODOLOGIA PARA ENSINO, DESENVOLVIMENTO E TREINAMENTO DA VELOCIDADE Neste tópico serão mostrados exemplos de exercícios para que o aluno possa entender a metodologia utilizada em várias finalidades. Na etapa de iniciação, com crianças de até 10 anos de idade, não se deve ter preocupação com os aspectos técnicos, mas, sim, despertar o senso de velocidade. Para isso, devem ser utilizados todos os tipos de jogos e brincadeiras que envolvam velocidade. Muitas dessas brincadeiras as crianças já fazem 48 naturalmente com seus amigos, nas ruas, recreios nas escolas, festas, etc. Quando aplicadas por um professor, deve haver organização e regras. A partir dos 14 anos, na etapa de desenvolvimento, tem início a evolução e a melhora da técnica. Para isso, começam a ser empregados os exercícios educativos, também conhecidos como exercícios de coordenação para velocidade. Vejamos os exercícios educativos para corridas de velocidade: • Trotar 15 metros em linha elevando o joelhoda perna direita flexionada na altura da cintura e voltar caminhando para o ponto inicial para repetir o exercício. Fazer uma série de dez repetições. • Repetir a série elevando o joelho esquerdo. • Repetir o exercício trocando a cada dois tempos a perna que eleva o joelho. • Repetir, só que agora fazer a elevação do calcanhar contra a parte de trás da coxa. • Repetir, alternando uma elevação do joelho e uma de calcanhar tocando na parte de trás da coxa. • Aumentar para 20 metros a distância a ser percorrida para repetir todos esses exercícios em duas partes, sendo que na primeira executa-se apenas a metade do exercício, na segunda, deve-se correr em ritmo moderado o restante do percurso. A corrida deve ser feita levando em consideração os aspectos técnicos. • Fazer o skipping, que é como correr sem sair do lugar, durante um tempo curto, observando as posições corretas da técnica. Observação 49 Todos esses exercícios devem ser realizados em linha rigorosamente reta, com os braços flexionados em 90º, linha do corpo inclinada ligeiramente à frente e sempre usar a ponta dos pés para fazer o contato com o chão. 3.6 REGRAS DE COMPETIÇÃO As corridas de velocidade, quanto à organização, são classificadas como provas balizadas, o que implica que o corredor deve se manter correndo em sua raia do início ao fim da prova. Para chegar à final nas provas balizadas, serão realizadas fases preliminares (séries) de acordo com o número de participantes. O corredor deverá se manter em sua raia durante toda a corrida. Caso ele cometa uma invasão da raia vizinha, será desclassificado. Se cometer alguma irregularidade durante a saída, o atleta será desqualificado e receberá um cartão vermelho. Exceção será feita no caso das provas combinadas, nas quais ele receberá um cartão amarelode advertência e será d esqualificado na reincidência. Em todas as provas de pista deve ser medida a velocidade do vento para homologação de recordes. A chegada será definida quando o corredor ultrapassar seu tronco no plano vertical da linha de chegada, ficando excluídos o pescoço, cabeça, braços, pernas e pés. 50 Essas regras são apenas aquelas mais comuns para a orientação de qualquer participante. 3.7 TÉCNICA DAS CORRIDAS DE MEIO FUNDO As corridas de meio fundo, também conhecidas como corridas de meias distâncias, são representadas oficialmente no atletismo pelas provas de 800 e 1500 metros rasos. Essas provas envolvem resistência e velocidade, em especial os 800 metros. Segundo Mansilla (1994), um corredor dessa prova precisa ter uma ótima velocidade (principalmente nos 400 metros rasos) e ser capaz de correr os 1500 metros com dignidade. São provas que, além dos fatores fisiológicos, envolvem capacidade tática e predisposição psicológica. 3.7.1 SAÍDA – 1ª FASE Diferentemente das corridas de velocidade, a saída dessas provas não é decisiva para o resultado final e, por isso, os corredores fazem a saída em pé (sem uso dos blocos de partida). As vozes de comando do juiz de partida são as mesmas das demais corridas. O corredor se coloca em pé, atrás da linha de partida e, ao ouvir a voz de “às suas marcas”, o corredor se aproxima da linha, coloca um pé à frente e fica com as pernas ligeiramente flexionadas e com o braço contrário também adiantado. Após todos os corredores se posicionarem e ficarem imóveis, é dado o tiro de partida. 51 A prova de 800 metros é uma prova balizada até o fim da primeira curva da pista, quando acaba o balizamento; portanto, correm oito corredores em cada série. Para os 1500 metros não há balizamento. 3.7.2 DESENVOLVIMENTO – 2ª FASE As técnicas para correr essas provas são parecidas com as de velocidade, mas por serem desenvolvidas em um ritmo menos veloz, as passadas não são tão amplas. Assim, a ação total do corpo envolve algunsaspectos particulares para a técnica dessas corridas: • O corpo deve estar bastante relaxado e menos inclinado que nas corridas de velocidade para que não haja um desgaste desnecessário de energia. • Os braços se movem com naturalidade em coordenação com o movimento das pernas. Descontraídos e flexionados, juntamente com as mãos relaxadas, seus movimentos devem ser para frente, no sentido da corrida. • Como o corpo não se inclina muito à frente, as passadas não são tão amplas. Devido a isso, o apoio dos pés no chão é feito na parte média do pé. 3.7.3 CHEGADA – 3ª FASE Essa fase não é tão decisiva quanto nas corridas de velocidade, porém é vital estar muito atento aos metros finais da prova; no caso de precisar disputar a colocação na linha de chegada, o corredor deve optar pela técnica mais adequada para o momento, que pode ser a chegada normal ou a com projeção do tronco à frente. 52 3.8 TÉCNICA DAS CORRIDAS DE FUNDO As corridas de fundo são representadas oficialmente pelas provas de 5000 e 10.000 metros rasos. São provas de longa duração e intensidade média, portanto denotam esforços de natureza, predominantemente, aeróbica. Como são corridas longas, é necessário que o corredor utilize da melhor maneira possível todas as suas reservas, o que torna muito importante a técnica para correr: • Braços: flexionados em um ângulo inferior a 90º, devem se movimentar de forma paralela no sentido da corrida e bem relaxados. • Tronco: em posição ereta ou pouco inclinado para frente. • Pernas: devem se movimentar de forma pendular, porque as passadas são mais curtas devido à longa distância da prova. Com isso, os joelhos não se elevam tanto e o calcanhar também não se aproxima muito da parte de trás da coxa. • Pés: por conta da menor amplitude das passadas, o contato dos pés com o chão é feito inicialmente pelo calcanhar e se distribui por toda sua extensão, terminando na ponta. Nesse grupo de corridas ainda se acrescentam as corridas de grande fundo, que são as provas mais longas do atletismo não classificadas como provas de pista, pois são praticadas em outros ambientes com pisos variados, como asfalto, calçamentos, estradas de terra etc.; sendo classificadas como provas de rua e o exemplo clássico dessas são a maratona (42 quilômetros) e a meia maratona com 21 quilômetros. 53 A colocação ideal dos pés no solo ainda é assunto de muitas pesquisas nos laboratórios de biomecânica, patrocinados especialmente pelas grandes indústrias de calçados esportivos na busca constante do melhor tipo de calçado para cada distância de corridas. Na figura a seguir, são apresentadas as formas de pisada utilizadas na técnica das principais distâncias de competições oficiais. Considerando as respectivas letras da figura anterior, temos: (A) corridas de velocidade – 50 a 400 metros; (B) corridas de meio fundo – 800 e 1500 metros; (C) corridas de fundo – acima de 1500 metros. 3.9 TÉCNICA DAS CORRIDAS COM OBSTÁCULOS Como foi visto na classificação das provas de corridas, essas provas são compostas de dois tipos de obstáculos: as corridas com barreiras e aquelas com obstáculos propriamente ditos. As corridas com barreiras – 100 m (F), 110 m (M) e 400 m (M e F) – são as provas clássicas dessa especialidade, desenvolvidas com muita beleza plástica. 54 Dentre todas as provas do atletismo, são as mais recentes que compõem a modalidade, cujas primeiras referências, de acordo com Fernandes (2003a), falam sobre uma celebração que foi executada no Ethon College, nos Estados Unidos, em 1837. Há ainda outro destaque, o de uma competição na qual afeiçoados do atletismo disputaram em 1853 uma corrida com 50 obstáculos com 1,06 m de altura, queé a mesma de hoje para a prova dos 110 m. Mais tarde, ficou instituído que essa prova deveria constar de dez barreiras com 1,06 m de altura. Essas barreiras eram coletivas, tomavam toda a largura da pista e eram fixas no chão. Causavammuitas quedas com lesões graves quando os corredores esbarravam nelas, o que levou os organizadores a substituirem esse tipo de barreira por outra individual e em forma de cavalete, que caía ao ser tocada,mas mesmo assim causava lesões. Apenas no ano de 1935 foi utilizada a barreira em forma L (letra ele), que contribuiu definitivamente para o sucesso e evolução dessa prova até chegar na forma oficial atual. De acordo com as regras da Iaaf, a barreira deve ser de metal ou material parecido, com uma haste de madeira ligando suas extremidades superiores e com um peso. Ainda, caso seja tocada pelo corredor, deve ser derrubada com uma força de apenas 3,6 a 4,0 kg. A partir daí, com essa definição, as mudanças passaram a acontecer na técnica usada pelos corredores para passarem sobre as barreiras. 3.10 TÉCNICA DAS CORRIDAS COM BARREIRAS As corridas com barreiras, quando comparadas a outras disciplinas do atletismo como as corridas rasas, o lançamento de disco e o salto em distância, apresentam um histórico relativamente novo, pois essas disciplinas eram 55 praticadas desde a época da Grécia Antiga (FERNANDES, 2003a; SANTOS; MATTHIESEN, 2013). Assim como diversas disciplinas do atletismo, não se sabe certamente o início desse tipo de prova, porém as primeiras referências sobre as corridas com algum tipo de barreira ou obstáculos são do início do século XIX, da Universidade de Oxford, na Inglaterra (SANTOS; MATTHIESEN, 2013). Esse tipo de corrida era bastante popular entre os estudantes ingleses. A história descrita é que Halifax Wyatt, um aluno do colégio D’Exeter, após participar de uma prova hípica, decidiu refazer o percurso da prova a pé, saltando os obstáculos que realizou com seu animal (SANTOS; MATTHIESEN, 2013). A ideia foi disseminada entre os jovens de Oxford, e em 1850 foi celebrado um grande evento chamado de Steeple-chase pedestre, que era uma corrida com 2 milhas de distância e possuía 24 obstáculos. A prova ocorria em um campo com muita dificuldade de mobilidade, pois o trajeto foi concebido em uma área com lama quase intransponível, e somente era possível vencê- la sobre um cavalo (SANTOS; MATTHIESEN, 2013). Em 1853, houve uma prova de corrida com 50 obstáculos, com altura de 1,06 metros entre Oxford e Cambrigde. Pouco tempo depois, em 1888, na França, foi aceita uma prova em que era preciso efetuar a passagem sobre dez barreiras com 1,06 metros de altura (FERNANDES, 2003a). Mesmo com a padronização da altura dos obstáculos, eles eram fixados no chão, e ainda causavam muitos acidentes e contusões nos atletas. Os obstáculos formavam uma barreira única que transpassava a pista toda. Alguns anos depois, as barreiras passaram a ser individuais, mas continuavam fixas 56 ao solo, exibindo os mesmos problemas e perigos aos competidores (FERNANDES, 2003a). No início do século XX, o interesse por esta disciplina cresceu, assim os obstáculos foram trocados por um implemento mais leve. Então, em qualquer contato do atleta com ele, o aparelho cairia no chão. Com isso, o esportista não poderia derrubar mais que três barreiras, pois isso causaria sua desclassificação (FERNANDES, 2003a). Além da alteração do peso das barreiras, em 1930, as barreiras que apresentavam um padrão “T” foram substituídas pelas barreiras em formato de “L”, inventada pelo treinador H. Hillman, contribuindo para uma maior confiança dos atletas, que não tinham mais a preocupação em se machucar ao bater nas barreiras. Tais fatores promoveram o aumento da velocidade das provas (FERNANDES, 2003a; SANTOS; MATTHIESEN, 2013). A prova masculina de 110 metros com barreira faz parte do programa olímpico desde 1986, e a prova feminina (com 100 metros) foi inserida em 1932, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (MATTHIESEN, 2004). Já a prova de 400 metros ocorre desde os Jogos Olímpicos de Paris (1900), e a prova feminina de mesma distância foi incorporada somente em 1984, nos Jogos de Los Angeles (MATTHIESEN, 2014). Atualmente, os recordes nas provas são: 57 Sobre a análise técnica, com as modificações das barreiras no início do século XX, a passagem sobre elas também passou por algumas alterações, principalmente devido à maior velocidade que os atletas desenvolveram. Então, alguns deles criaram características peculiares, destacando-os na evolução técnica da disciplina (FERNANDES, 2003; SANTOS; MATTHIESEN, 2013). Vejamos alguns exemplos: • 1886 – Arthur Crome, de Oxford: utilizava a perna com o joelho estendido no ataque à barreira. • 1891 – A. F. Copland: realizava a flexão de joelho da perna de ataque. • 1898 – A. Kraenzlein, da Universidade da Pensilvânia: deslocava-se com muita velocidade, transpondo a barreira com a perna de ataque estendida, adotando três passadas entre as barreiras. • 1920 – E. Thomson, Canadá: usava uma acentuada inclinação de tronco e extensão dos braços à frente durante a transposição da barreira. • 1941 – F. Walcott: corredor de baixa estatura, utilizava os braços estendidos à frente, porém sem grande inclinação do tronco. Sua perna de passagem era o ponto principal de sua técnica, e isso também foi adotado por outros atletas de mesma característica. Quando passava pela barreira, ele 58 trazia a perna em direção ao tronco, e com este movimento consegue imprimir uma velocidade maior. Com essas descrições, é possível identificar alguns elementos técnicos que compõem o atletismo. As provas de barreira são provas de velocidade. Ao ultrapassar uma sequência de barreiras, o esportista procura realizar essa tarefa sem a mínima perda de velocidade e ainda tentando conservar seu centro de gravidade paralelo ao solo, mesmo no momento da transposição. As provas de barreiras podem ser divididas em suas distâncias, com 100, 110 e 400 metros. Apesar de apresentarem algumas similaridades técnicas, o ritmo empregado entre as barreiras varia devido àsdiferentes alturas, e é preciso fazer algumas alterações técnicas. Uma prova de corridas com barreiras possui quatro fases em comum: • Saída: é utilizada uma saída baixa, semelhante às provas de velocidade. • Da saída ao ataque à primeira barreira: nesta etapa, o corredor deve vencer determinada distância, que irá variar de prova para prova. • Entre as barreiras: todas as barreiras estão dispostas uniformemente dentro da respectiva raia, ou seja, as barreiras têm a mesma distância entre si. De acordo com as distâncias, esses espaços são alterados. • Da última barreira à chegada: ao passar pela última barreira, o corredor precisa terminar a distância da até a linha de chegada. Semelhante às provas rasas, o atleta deve manter a maior velocidade possível. 59 Antes de investigarmos os aspectos técnicos, é importante destacar que a barreira deve ser transposta mantendo o movimento em um plano horizontal e mais paralelo ao solo, e não saltar sobre ela, ou seja, tendo uma movimentação com predominância no plano vertical. Além disso, é essencial cumprir três regras básicas (FERNANDES, 2003): • abordar a barreira sem diminuir a velocidade; • ao fazer a transposição, permanecer em suspensão sobre a barreira o menor tempo possível por meio de uma elevação da pelve; • após a transposição, colocar-se na melhor posição para dar continuidade à corrida sem qualquer tipo de velocidade. Para transpor as barreiras, é preciso manter os movimentos básicos de uma corrida rasa, tendo como ponto principal o devido equilíbrio do velocista com o contato com o solo, e também a cada novo contato após a transposição, devendo permanecer o menor tempo possível com o corpo no ar. É óbvio que não podemos nos esquecer de outros fatores, como: a forma como o corpo sai do chão para iniciar o ataque à barreira, a inclinação do tronco à frente do obstáculo, a rapidez com que a perna atinge o solo e se dirige a eleapós a passagem, e, por fim, a perna de passagem. Desse modo, 60 vimos que representa uma ação acíclica dentro de um ciclo de passadas de corrida. Diante dessas alegações, é necessário ter atenção ao ponto de impulsão para o início da passagem, o que varia de atleta para atleta dependendo da estatura, flexibilidade, mobilidade e velocidade. A segunda parte está relacionada à forma pela qual se passa a barreira, que ressalta os seguintes componentes: • Perna de ataque: vai à frente e é lançada em direção da barreira para depois ser estendida quando estiver sobre ela. Quando o centro de gravidade do corredor passar a barreira, a perna de ataque vai seguir em direção ao solo, buscando a recuperação. • Perna de passagem: é a perna de trás, e esta, ao sair do contato com o solo, o joelho se flexiona no plano horizontal para a lateral, deslizando no ar, 61 tendo a mesma trajetória do corpo. Após a passagem do centro de gravidade pela barreira e apoio da perna de ataque, a perna de passagem segue à frente para dar prosseguimento da corrida com uma passada ampla. • Braços: são utilizados na forma de oposição às pernas de ataque e de passagem. Assim, a perna que vai à frente (ataque) e o braço contrário acompanha a perna que está atrás (passagem). • Tronco: quando a perna de ataque busca seu posicionamento para iniciar a transposição, o tronco começa a se inclinar sobre esta perna, formando um movimento do tipo canivete. Quanto mais fechado for esse ângulo, mais facilitada será a transposição. Após a passagem, o tronco volta a se elevar, buscando a posição para a corrida. A descrição realizada de cada componente tem como objetivo saber como cada segmento do corpo atua durante a transposição, porém é impreterível saber que eles estão ligados e que a movimentação errônea de um deles vai interferir na cadeia de movimentos. Na imagem adiante, é possível observar desde a impulsão com a elevação da perna de ataque e a oposição de braços (A). Então, nota-se o ataque sendo efetuado com a perna que está estendida à frente junto à inclinação do tronco em direção à perna de ataque e extensão do braço à frente (B). Depois, a perna de ataque segue em direção ao solo, e a perna de passagem avança com o joelho flexionado, em uma abertura lateral paralela ao solo, passando rente à barreira (C). Ao terminar a transposição, a perna de ataque continua a percorrer em direção ao solo, enquanto a perna de passagem é trazida rumo ao tronco para iniciar o movimento para uma próxima passada (D). Por fim, a perna de ataque toca o solo, o tronco volta para a 62 posição ereta a fim de realizar a corrida, e a perna de passagem vai à frente do tronco para efetuar o apoio para a corrida (E). Para as provas de 100 e 110 metros, com o início da saída baixa até a transposição da primeira barreira, é preciso atentar para alguns detalhes: o atleta tem que estar ciente do número de passadas que ele tem que executar até a primeira barreira para garantir desde a primeira transposição que o ataque seja feito com a perna de ataque. Normalmente a perna que vai à frente na saída baixa é a mesma perna de ataque. Em alto nível, a quantidade varia entre sete a oito passadas. Se o esportista realizar sete passadas, é essencial fazer a inversão das pernas na saída baixa. A última passada é fundamental para o desenvolvimento dorestante da prova. A segunda parte da prova é a sequência de transposições entre as barreiras, que tem um total de dez transposições. 63 Com a definição da perna de ataque e a perna de passagem, nesta etapa da prova é primordial que o atleta consiga manter um ritmo, principalmente coordenando o número de passadas entre cada barreira, tentando garantir uma manutenção de velocidade. Esse ritmo entre as barreiras, para esportistas de alto nível, é realizado com três passadas, pois ele atacará a barreira com a mesma perna de ataque. Lembrando que as distâncias entre as barreiras são de 8,50 e 9,14 metros, ou seja, dependendo da altura do atleta, ele pode sentir desconforto para desenvolver essa distância em três passadas. Poderá executar quatro passadas, porém ele terá que alternar a perna de ataque e passagem em cada passagem por barreira, além de realizar mais movimentos, comparando-se a esportistas que fazem três passadas, resultando em um gasto energético maior. Além da coordenação das passadas entre as barreiras, durante a transposição é vital que o competidor mantenha sua movimentação o mais próximo possível do plano horizontal, pois esta é uma prova com grande velocidade. Se ele não projetar seu corpo durante a transposição no plano horizontal, e sim para o plano vertical, ele vai perder velocidade e tempo na transposição, resultando um tempo maior de seu corpo no ar, ou seja, não tendo aceleração. O fato é que o atleta deve desenvolver e treinar bastante essa fase da corrida com barreira para obter um ótimo ritmo na prova. A última etapa é a transposição da última barreira até a linha de chegada. Nesta fase, é como se fosse uma prova de corrida rasa, na qual o atleta não tem mais barreiras para transpor. Após esta última transposição, é 64 essencial que ele execute algumas passadas com menor comprimento para conseguir mais aceleração e assim ir aumentando gradualmente o comprimento até a linha de chegada. Para as provas de 400 metros, em que se tem a saída baixa também, deve-se ter consistência, ou seja, diferente das provas mais curtas, nas quais a velocidade é crucial, neste tipo de prova a consistência de um ritmo é muito importante. Na fase de saída até a primeira barreira, que tem 45 metros, o número de passadas varia entre 21 a 24 passadas, dependendo da estatura do indivíduo. Na segunda parte da prova, a distância entre as barreiras é de 35 metros. A prova apresentará duas curvas, pois nos 400 metros realiza-se uma volta completa na pista. Nesta prova, o atleta precisa criar a capacidade de efetuar a transposição com ambas a pernas, pois, devido à fadiga que a prova impõe, deve-se alternar o ritmo das passadas. Nesta segunda etapa, por causa da distância, não é obrigatória uma transposição tão vigorosa como nas provas de 100 e 110 metros. O esportista não precisa fazer uma transposição com grande componente no plano horizontal justamente por não haver a necessidade de uma velocidade grande. A última etapa tem a mesma situação descrita para as provas de 100 e 110 metros, nas quais é indispensável uma pequena aceleração e aumento gradativo da velocidade até a linha de chegada. Para Matthiesen (2014), os principais erros são: 65 3.11 METODOLOGIA PARA O ENSINO E DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA No atletismo, é necessário um bom aprendizado das especificidades técnicas. Para tal, é vital que os alunos e atletas tenham um desenvolvimento paralelo à flexibilidade, coordenação, velocidade e ao ritmo. 66 A introdução das barreiras propriamente ditas se faz somente quando os alunos tenham o domínio do aspecto técnico. Antes, o trabalho é exercido com o auxílio de cordas e obstáculos. Ambos os instrumentos não apresentam uma altura elevada para sua transposição e a altura será aumentada progressivamente. Os exercícios e atividades descritas a seguir obedecem às observações já relatadas, assim há umaprogressão na complexidade em relação aos movimentos e às técnicas empregadas para cada atividade. Vejamos como são as atividades: • Exercício 1: fixam-se vários obstáculos, como bancos, colchões, plintos de ginástica, e o aluno terá que se deslocar de um para outro saltando sem cair no chão. Além de saltar, pode rastejar, saltitar e trepar nos obstáculos, ou seja, utilizar suas habilidades fundamentais. • Exercício 2: distribuem-se bambolês no local da aula, e o aluno deverá entrar no bambolê saltandoum pé para dentro dele. Também há uma variação para esta atividade: ao invés de entrar no bambolê, o aluno terá que saltar para o outro lado do bambolê passando por cima dele. • Exercício 3: empregam-se diversos obstáculos de diferentes tamanhos pelo espaço, como bolas, bolas medicinais, bancos, colchões e bastões, e os alunos precisam saltar tais barreiras. • Exercício 4: em uma competição, há duas equipes, uma ao lado da outra. Os alunos ficam sentados e são divididos em duas partes, formando duas colunas (uma de frente para a outra). Com isso, o primeiro deve sair correndo, passar pelo obstáculo que está no meio do caminho e sentar no fim da coluna à frente. O obstáculo pode ser uma bola, uma corda, um pequeno banco ou um cone. 67 Quando esse aluno sentar, o primeiro da coluna na qual ele sentou deverá sair e realizar a mesma tarefa. Exercício 5: vários bambolês são dispostos pelo espaço, e três deles ficam em linha reta para que os alunos corram e coloquem o pé dentro de cada um deles, efetuando as três passadas que serão utilizadas entre as barreiras. Pode-se fazer uma variação: ao invés de ficarem em linha reta, os bambolêssão fixados em zigue-zague. Exercício 6: faz-se uma linha reta no chão com giz ou corda, e o aluno deve transpor correndo a linha que está no chão. O foco dessa atividade é fazer que o aluno execute as três passadas antes de realizar a transposição. 68 É preciso observar se os passos são iguais, não apresentando nenhum tipo de aceleração ou retardamento do ritmo das passadas. É interessante introduzir os conceitos de perna de ataque e perna de passagem: a perna que vai à frente fica estendida, a outra fica flexionada. Exercício 7: aqui temos o mesmo exercício anterior, mas agora o aluno terá que transpor as duas linhas. Deverá apresentar uma maior amplitude de movimento, principalmente em relação à extensão perna de ataque, trazendo a perna de passagem. 69 Exercício 8: temos a mesma ideia dos exercícios anteriores, mas nesta atividade dois alunos seguram as cordas nas extremidades e a elevam até determinada altura, e os outros alunos têm que transpor esta barreira feita com a corda. Ela também poderá ser colocada na parte superior do cone para fica presa. É preciso lembrar ao aprendiz que ele deve coordenar o ritmo que antecede a transposição e a utilização das pernas de ataque e passagem. Exercício 9: com as barreiras, o aluno deverá se posicionar ao lado da barreira e realizar a movimentação somente da perna de ataque, passando sobre ela. Se a perna de ataque for à direita, o aluno se posiciona do lado esquerdo da barreira, se for à esquerda, ficado lado direito dela. Depois é vital fazer o mesmo para a perna de passagem. É importante analisar a movimentação da perna de ataque (flexão e extensão em direção à barreira e, após a transposição, o direcionamento para o solo) e da perna de passagem (abdução lateral, ficando paralela ao solo durante a transposição e, em seguida, a preparação para passada). Trabalhe também a movimentação de braços. 70 Exercício 10: com as cordas duplas dispostas em linha reta, o aluno deverá transpor uma sequência de no mínimo três cordas, realizando a movimentação completa no momento da transposição e a manutenção do ritmo, de preferência três passadas entre cada conjunto de corda. Exercício 11: aplica-se o mesmo exercício anterior, porém com as cordas suspensas. Exercício 12: realiza-se o mesmo exercício, porém com as barreiras. Exercício 13: executa-se o mesmo exercício, mas com o início sendo efetuado com a saída baixa. 3.11.1 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO As provas de corrida com barreiras são determinadas pela regra 168 da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT, 2015). De acordo com esta regra, as provas para essa disciplina são: • masculino – 110 e 400 metros; 71 • feminino – 100 e 400 metros. Em cada prova é preciso transpor dez barreiras, por isso é necessário que cada prova tenha distâncias diferentes para as barreiras. As categorias que têm provas de corridas com barreiras são: Adulto, Sub-20 e Sub-18. 72 As barreiras são colocadas de modo que a base fique apontada para o lado em que o atleta se aproxima, pois, caso o corredor encostar em uma delas, vão cair sem atrapalhá-lo. Cada esportista terá que transpor todas as barreiras, caso contrário será desqualificado da prova. Além disso, é obrigatório passar sobre a barreira: se passar o pé ou a perna abaixo do plano horizontal da barreira, também será desqualificado (Regra 168, 7a). O último motivo para ele ser desqualificado é derrubar propositalmente a barreira (Regra 168, 7b). As barreiras apresentam alturas diferentes para cada categoria. A tolerância para a altura das barreiras não pode superar 3 mm, para baixo ou para cima. A barra superior da barreira deverá ser pintada em preto e branco ou em cores em contraste à pista e ao espaço da prova. 4 CORRIDAS DE REVEZAMENTO 73 As corridas de revezamento foram concebidas pelos norte-americanos, que se basearam em vários tipos de atividades que praticavam, tais como: competições de cavalos puxando diligências, que iam se revezando pelo caminho devido às longas distâncias que tinham que percorrer; as atividades do corpo de bombeiros de Massachusetts, dentre outras. A ideia de se revezar nessas atividades mais tarde foi aplicada no atletismo. As provas nessa modalidade são indispensáveis nas competições, e atualmente são as únicas do atletismo disputadas por equipes, em que o fator coletivo é decisivo para as vitórias. Oficialmente, são duas as provas de corridas de revezamento disputadas em pista: revezamento curto: 4x100 metros; revezamentos longos: 4x400 metros. Além das provas de pista, hoje os revezamentos de longas distâncias disputados nas ruas já são uma realidade. Funciona do seguinte modo: cada componente corre uma distância diferente, conforme a estratégia da equipe, para totalizar a longa distância percorrida que foi estabelecida no regulamento dessa prova. Tradicionalmente essas duas provas são as mais conhecidas e tecnicamente as mais complexas, sendo praticadas por homens e mulheres. Neste livro-texto faremos uma análise técnica delas. As equipes de revezamento são compostas de quatro corredores, os quais percorrem uma distância semelhante (100 ou 400 metros) conduzindo um bastão oco de 28 a 30 cm de comprimento. O bastão tem uma circunferência de 12 a 13 cm e deve pesar 50 gramas, e deve ter uma cor que possa ser vista facilmente durante a corrida. Esse bastão deve passar de mão em mão pelos quatro corredores, o que caracteriza o revezamento. 74 A passagem do bastão deve ser realizada no interior de uma área especial dentro da pista, que é denominada zona de passagem ou zona de revezamento. É marcada dentro da raia na qual cada equipe está correndo. Essa região tem uma distância de 20 metros, que é medida a 10 metros antes e 10 metros depois da distância a ser percorrida por cada um dos atletas. Portanto, na prova de 4x100 metros, existem três zonas de passagem: a primeira é utilizada pelo primeiro e segundo corredor; a segunda, pelo segundo e terceiro corredor; a última, para a entrega do bastão do terceiro para o quarto corredor, que finaliza a prova. Ao corredor que vai receber o bastão, é permitido iniciar sua corrida a 10 metros antes do início da zona de passagem. Essa zona de 10 metros que antecede à de passagem é chamada de zona opcional. Antes da zona opcional, existe uma marca pessoal feita por cada corredor usando uma fita adesiva, que foi definida com treinamento e serve como referência para o receptor como um sinal para ele iniciar sua corrida dentro da zona opcional. O receptor prepara-se no início da zona opcional,em posição de arranque, e fica olhando para o companheiro que está chegando, e quando este passar pelo handcap, ele inicia sua corrida e não olha mais para trás. É uma zona de aceleração. Quando os dois atletas estão na zona de passagem, eles estão em velocidade idêntica para realizar a passagem sem perder tempo, ou seja, na maior velocidade entre ambos. Isso envolve muito treino. A prova de 4x100 metros é totalmente balizada, o que determina que a equipe deve correr a prova inteira dentro de sua própria raia. Já a prova de 4x400 metros é parcialmente balizada. O primeiro corredor da equipe corre seus 400 metros dentro de sua raia, e o segundo corre balizado até o fim da 75 primeira curva da sua raia. Então, a prova deixa de ser balizada e os demais corredores da equipe (terceiro e quarto) correm livremente pela pista para concluírem a prova. Nos 4x400 metros existe apenas uma zona de passagem (cada corredor corre uma volta inteira na pista, que tem 400 metros de perímetro), que é marcada a 10 metros antes da linha de chegada e 10 metros depois da saída, 76 totalizando os 20 metros regulamentares da zona de passagem para essa prova. 4.1 TÉCNICA DES REVEZAMENTOS O revezamento de 4x100 metros é considerado uma das provas clássicas do atletismo e das mais aguardadas pelo público, pois em uma equipe normalmente estão presentes quatro dos homens mais rápidos do mundo. Por ser uma prova muito rápida, o entrosamento técnico entre os quatro corredores da equipe deve ser apurado, pois um erro, por menor que seja, pode comprometer o resultado na competição. 77 Assim, no ajuste de todos os detalhes, que fazem da técnica um componente decisivo, é preciso levar em consideração um conjunto de ações que compõe a técnica como um todo. Há duas formas de passagem do bastão, uma utilizada nos revezamentos rápidos, a outra, nos menos velozes. • Passagem não visual ou “às cegas” Recebe essa denominação porque a passagem e a recepção do bastão são feitas sem que o corredor da frente olhe para seu companheiro que está chegando para lhe entregar o bastão. É usada nos revezamentos rápidos, como é o caso do 4x100m. Os dois atletas correm em velocidade máxima, e se o indivíduo da frente precisar olhar para trás, terá que diminuir a velocidade, comprometendo o resultado da equipe. • Passagem visual É utilizada nos revezamentos mais longos, haja vista a troca não exigir uma rapidez máxima como no caso anterior. O corredor que está chegando com o bastão faz sua aproximação mais lenta porque se desgasta após o esforço despendido durante sua corrida. Ele chega mais lentamente, e assim o receptor do bastão também começa sua corrida de modo mais lento. Para não “escapar”, olha para trás e observa o companheiro que está chegando com o fito de ter tempo suficiente para acelerar e receber o bastão dentro dos limites da zona de passagem. Além da forma como é feito o revezamento, é imperioso considerar os movimentos efetuados pelos dois atletas para realizar a passagem do bastão sem perder tempo e também não correr o risco de o bastão cair da mão ao ser entregue. 78 Para evitar essa situação, deve-se avaliar qual é o estilo de passagem mais adequado para o entrosamento dos corredores. Diversos estilos foram aplicados, mas sempre outros são testados em busca da perfeição. Hoje são feitos três tipos ou estilos de passagem: a ascendente, com troca de mãos; a descendente; e a passagem horizontal. • Passagem ascendente É o estilo mais antigo dos três. As equipes profissionais quase não o utilizam, mas ele é mais fácil para os iniciantes. Recebe esse nome porque o movimento da mão do corredor que faz a entrega é de baixo para cima, é um movimento ascendente que identifica o estilo. Para receber o bastão, o corredor da frente estende o braço para trás, colocando a mão com a palma voltada para o companheiro. Fica com os dedos unidos e apontados para o chão, menos o polegar, que fica voltado para dentro. Quando a mão estiver preparada, o corredor de trás estende seu braço e faz um movimento de baixo para cima, colocando a extremidade do bastão na mão do companheiro entre o dedo indicador e o polegar. Imediatamente após estar com o bastão na mão, esse corredor o transfere para a outra mão para posicioná-lo de forma adequada e entregá-lo ao corredor seguinte. 79 Dessa maneira, se o primeiro corredor estiver correndo com o bastão na mão direita, entrega-o na mão esquerda do segundo, e este troca de mão e também vai correr com o bastão na mão direita, e assim sucessivamente, até o último corredor. Todos correm com o bastão na mão direita. Portanto, todos os corredores fazem o mesmo gesto em uma mesma sequência, ou seja, a ação é uniforme entre os quatro atletas. Esse mecanismo identifica o método de passagem do bastão, conhecido como método uniforme. • Passagem descendente É a mais usada pela maioria das equipes e recebe essa denominação porque o movimento de entrega do bastão é feito de cima para baixo, ou seja, através de um movimento descendente do bastão, até a mão do receptor. Para receber o bastão, o corredor da frente estende seu braço para trás, colocando-o voltado para seu companheiro, com a palma da mão voltada para 80 cima e com os dedos unidos apontados para trás, exceção do polegar, que fica voltado para dentro. Quando isso acontece dentro da zona de passagem, o corredor de trás coloca a extremidade livre do bastão na mão do corredor da frente, que agarra o bastão e segue correndo com ele, e não precisa transferi-lo para a outra mão como na técnica anterior. Como não há a troca de mão ao transportar o bastão durante a corrida, a sequência das entregas e recepções do bastão é feita de forma alternada, ou seja, se o primeiro atleta correr com o bastão na mão direita, deverá entregá-lo na mão esquerda do segundo, que corre com o bastão na mão esquerda e o entrega na mão direita do terceiro, e assim até o último corredor, sempre alternando a mão que leva o bastão. Essa sequência define o método de passagem utilizado pela equipe, que é denominado método alternado. 81 • Passagem horizontal É semelhante à passagem descendente em quase todos os sentidos. A única diferença é que, ao entregar o bastão, o movimento do braço de quem o entrega é feito como se estivesse empurrando o bastão para a mão do companheiro, portanto, através de um movimento de trás para frente no sentido horizontal. Lembrete Em todas as técnicas de passagem, a entrega do bastão ao companheiro da frente deve ser sempre não mão contrária em relação àquela usada pelo corredor que transporta o bastão. Exemplo: se o primeiro corredor está com o bastão na mão esquerda, deve entregá-lo na mão direita do segundo, e assim sucessivamente. 4.1.1 Técnica de revezamento 4x100 metros O revezamento 4x100 metros é uma grande atração no atletismo. 82 Exige um entrosamento perfeito entre os atletas. Para efetivá-lo, entretanto, é preciso que seja escolhida a técnica que melhor se adapte aos corredores. Nesse caso, a forma de passagem deve ser a não visual ou “às cegas”, e o tipo de passagem aplicado será o mais adequado entre os três utilizados: passagem ascendente, descendente ou a horizontal. • Desenvolvimento da corrida Por ser uma prova balizada, cada equipe corre em uma raia durante todo o percurso. A saída é feita no início da primeira curva da pista. O segundo corredor corre na reta oposta, o terceiro, na segunda curva, e o quarto fecha o revezamento correndo na reta principal para fazer a chegada. 4.1.2 TÉCNICA DE REVEZAMENTO 4X400 METROS É uma clássica representante dos revezamentos longos. Essa prova possui quatro voltas na pista, e cada atleta corre 400 metros, totalizando 1600 metros. Devido ao longopercurso da corrida, é uma prova parcialmente balizada. O primeiro competidor corre balizado, o segundo apenas até o fim da primeira curva, completando sua participação de forma não balizada como os outros componentes da sua equipe. Corredores se realiza de modo mais vagaroso. Isso ocorre por causa do cansaço do corredor que está chegando com o bastão. Devido a essa condição, o tipo de passagem utilizado é o visual. Nesse caso, o corredor que vai receber o bastão inicia sua corrida de forma morosa no início da zona de passagem, sempre olhando para o companheiro que vem 83 chegando, para que este tenha tempo de alcançá-lo dentro da área de passagem. Para essa prova, o regulamento não permite que o receptor do bastão inicie a corrida antes da zona de passagem como nos revezamentos rápidos, em que é aplicada a zona opcional. 4.2 METODOLOGIA PARA ENSINO DA TÉCNICA DOS REVEZAMENTOS 4.2.1 MÉTODO DO JOGO No sistema para o ensino das corridas de revezamento, o uso do método do jogo é muito eficiente e motivador para crianças durante o período de formação inicial multilateral especial. Os jogos utilizados para essa finalidade devem conter os elementos que compõem esse tipo de corrida, como o fator equipe, velocidade, entrega do 84 bastão ou coisa semelhante, velocidade de reação e o fator competição aplicado de forma pedagógica. Para entender como devem ser elaborados esses jogos, também conhecidos como estafetas, vamos destacar alguns exemplos que possuem a maioria das solicitações presentes nas competições desse tipo de corrida. Em relação à organização, deve-se fazer o seguinte: • Dividir a turma em equipes e subdividi-las em duas partes, lado a lado, no espaço utilizado para o jogo. • Colocar cones para marcar o ponto de saída e de chegada (de 10 a 15 metros de distância) do corredor que faz a ação. Todos os participantes ficam de pé, formando uma coluna atrás dos cones, de modo que uma parte da equipe esteja de frente para a outra. Na execução, os primeiros componentes de cada equipe seguram o bastão em uma das mãos, aguardando o sinal de início da corrida. Dado o sinal, o corredor parte em velocidade para entregar o bastão ao companheiro que está aguardando à frente do grupo atrás do cone. Assim, um entrega e o outro recebe, até que todos tenham executado essa ação. Vence a equipe que não cometeu erros e terminou rigidamente na mesma posição na qual iniciou o exercício. Dependendo do número de equipes, devem ser atribuídos pontos para cada colocação. No caso de três equipes, temos o seguinte: primeiro lugar: três pontos; segundo: dois; terceiro: um ponto. Todas as equipes devem ser pontuadas. Agora vamos apresentar quatro figuras e suas respectivas explicações. 85 Cada equipe está dividida em duas partes, cada uma fica de pé atrás dos cones, uma de frente para a outra. O primeiro integrante corre com o bastão e o entrega ao companheiro da equipe, que está do outro lado. Vence a equipe que terminar primeiro e na mesma posição em que iniciou a disputa. 86 A equipe fica sentada atrás do cone. O primeiro corredor parte em velocidade com o bastão na mão, contorna um cone distante – a 10/15 metros – e na volta o entrega ao seguinte componente da equipe,que está esperando em pé. Vence a equipe que terminar primeiro com todos os integrantes sentados e de braços cruzados sobre os joelhos. 87 Do mesmo modo como o exemplo anterior, modifica-se a posição inicial e final da equipe, que deve completar o percurso com todos de pé e formando uma coluna. 4.3 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO Acentuaremos oito regras básicas: • Cada zona de passagem deve ter 20 m de comprimento e com as seguintes medidas: 10 m antes e 10 m depois da linha de saída e chegada de cada distância a ser percorrida. • A prova do revezamento 4x100m é corrida inteiramente em raias. • No revezamento 4x400m, a primeira volta é corrida totalmente balizada e a segunda até o fim da primeira curva, onde deve haver uma linha inclinada indicando o fim do balizamento (raia livre). 88 • No revezamento de 4x100m, com exceção do primeiro corredor, todos os atletas podem começar a correr até 10 m (zona opcional) antes da zona de passagem. • No revezamento 4x400m, não será permitido o início da corrida antes da zona de passagem do bastão. • O bastão deve ser um tubo liso oco, de forma circular, feito de material rígido, com o comprimento mínimo igual a 28 cm e o máximo de 30 cm, com 50 gr de peso. • O bastão deve ser carregado na mão durante toda a prova. Se for derrubado, deverá ser recuperado pelo integrante que o derrubou. Ele pode sair de sua raia para pegar o bastão, desde que não atrapalhe o adversário a continuar a corrida. • Os competidores, antes de receber ou após a passagem do bastão, deverão permanecer em suas raias ou zonas até que o curso esteja livre para não prejudicar outros integrantes. Caso fique comprovado algum prejuízo nessa situação, a equipe será desclassificada. 4.4 MARCHA ATLÉTICA Normalmente, quando se fala de atletismo, são lembradas as principais provas de corridas, saltos e de lançamentos e arremessos. Todavia, como o atletismo propõe uma diversidade de disciplinas, cada uma com suas características específicas, a marcha atlética apresenta questões fisiológicas, biomecânicas e pedagógicas peculiares (CARNEIRO, 2001). 89 A marcha atlética muitas vezes é esquecida ou renegada pelos profissionais de Educação Física, atuando em ambiente escolar ou não (MATTHIESEN, 2004). Uma característica desta prova são os movimentos específicos de ombros e quadril, que não são observados em outras disciplinas do atletismo, tornando-a motivo de ironia e chacota (DUCAL, 1998). Segundo Granell e Lazcorreta (2004), a marcha atlética é uma progressão na qual se efetua passo por passo, de modo que o contato com o solo se mantenha sem interrupção. Oficialmente as provas de marcha atlética são divididas em duas distâncias: 20 km para homens e mulheres, com os 50 km apenas para homens. Caracterizam-se pela execução de passos, de modo que um dos pés do marchador (competidor) mantenha obrigatoriamente contato com o solo, enquanto o outro pé se movimenta (VIEIRA, 2007). A marcha é utilizada com meio de locomoção pelo homem desde o fim do período neolítico. Como esporte, há registros de seu uso em jogos olímpicos na Antiguidade. Também era usada por mensageiros, que andavam ou corriam para levar as mensagens a seus destinos (SANT, 2005). Segundo Viera (2007), as provas masculinas com a distância de 50 km são disputadas desde os Jogos Olímpicos de Los Angeles (1932), já as provas com distância de 20 km desde os Jogos Olímpicos de Sidney (2000) (DARIDO; SOUZA JUNIOR, 2007). Na história dos Jogos Olímpicos, a marcha atlética apresentou uma série de modificações em sua estrutura de realização, principalmente em relação a suas distâncias. Ela teve sua primeira aparição nos Jogos Olímpicos de Atenas (1906). Na Antuérpia (1920), houve a única prova com distância de 3000 metros. Em Londres (1908), foram executadas as provas de 3500 metros 90 e a prova de 10 milhas, que equivale a mais ou menos 16 km. A prova masculina de 10 km começou a ser efetuada em Estocolmo (1912) e teve sua última participação nos Jogos de Helsinque (1952) (VIEIRA, 2007; GOMES, 2007). Somente nas Olímpiadas de Melbourne (1956) que foram realizadas as provas de 20 e 50 km. A prova feminina passou a compor o calendário da Iaaf em 1992 com a prova de 10 km, que teve sua primeira competição regular nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992). Em Sidney (2000), a marcha atlética feminina passa a ter 20 km (SANT, 2005). No Brasil, segundo a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT, 2016), as provas oficiais para a marcha atlética são:As melhores marcas, ou seja, os recordes homologados pela Iaaf (2016), nas principais provas de marcha atlética são: 91 O objetivo deste livro-texto é ensinar como trabalhar com a marcha atlética. Para tal, baseamo-nos em parâmetros como: análise técnica, metodologia para o ensino e desenvolvimento da técnica e as principais regras que compõem esta disciplina. 92 4.4.1 ANÁLISE TÉCNICA A marcha pode ser considerada uma atividade natural e cíclica. Para utilizá-la com maior eficiência, é preciso respeitar as regras internacionais que regem a modalidade. Então, os atletas são obrigados a adotar uma técnica diferente dos corredores. Isso ocorre porque na marcha atlética não se pode correr, essa parte é chamada de fase de voo (o corpo perde momentaneamente o contato com o solo), nem caminhar, pois tal medida não é eficiente para obter um bom rendimento esportivo (SANT, 2005). Apesar do movimento da marcha atlética ser muito peculiar dentro do atletismo, é possível verificar seu emprego no dia a dia. Quando uma pessoa está com pressa para chegar a determinado lugar, passar a andar rápido pela rua, ou seja, apresentará um padrão de marcha. A dificuldade de conciliar o padrão técnico com as exigências físicas que o movimento impõe é outro elemento que torna o movimento da marcha mais complexo. Por causa da fadiga, qualquer adulto com um bom preparo físico terá muita dificuldade em completar a distância de 1 km sem cometer qualquer tipo de irregularidade técnica (SANT, 2005). Conforme Matthiesen (2014), o movimento técnico da marcha representa uma progressão de passos na qual o atleta sempre deverá manter um contato com o solo, não sendo permitida a perda deste contato. O autor relata, ainda, que a observação do cumprimento desta regra deve ser feita a olho nu, ou seja, sem auxílio de recursos eletrônicos. Além desse contato contínuo com o solo, a perna do competidor que avança deve estar reta (em extensão), sem exibir qualquer grau de flexão, tendo como referência o primeiro contato com o solo até a posição ereta vertical (MATTHIESEN, 2014). 93 De acordo com as regras que regem a disciplina, com o passar dos anos, é possível observar algumas modificações nos padrões técnicos dos atletas, como: • Aumento da frequência gestual dos movimentos de quadril, pernas e braços. • Contato com a perna de avanço (que toca o solo à frente) mais próximo ao centro de gravidade. • Fase de apoio duplo mais dinâmico, ou seja, quando ambas as pernas se encontravam, as duas estavam completamente estendidas, porém no momento a perna que estava apoiada (que irá começar o movimento) encontra-se flexionada, diminuindo a ação da inércia. A técnica da marcha atlética é uma especialidade para se atingir o melhor rendimento possível, e qualquer tipo de deficiência técnica pode causar a desclassificação de um marchador nas competições. As características antropométricas e biológicas de um atleta de marcha atlética são muito semelhantes às de corredores de longas distâncias, porém a diferença entre ambos se encontra na capacidade técnica dos marchadores, prática que exige alta capacidade para realizar os gestos (técnica) em altas velocidades, maior concentração de fibras musculares brancas que os corredores de fundo e a capacidade de manter a técnica em níveis elevados de fadiga (SANT, 2005). Durante a prova, o esportista não pode fazer o seguinte: • Perder o contato com o solo. • Desde o primeiro contato da perna com o solo, esta deve estar totalmente estendida (articulação do joelho) até o momento em que a perna se encontra na vertical com o centro de gravidade. 94 A figura a seguir destaca que no primeiro contato com o solo a perna tem que estar estendida. Na imagem ao lado, a segunda etapa descrita, vimos que a perna tem que permanecer estendida até o plano vertical. Desse modo, o atleta é punido assim que perde o contato com o solo ou realiza uma flexão de joelhos no momento do contato com o solo até a posição vertical da perna. O movimento da marcha é composto de quatro fases: 95 • Fase de apoio duplo: o marchador tem os dois pés em contato com o solo. • Fase de tração: inicia quando o calcanhar toca o solo e termina quando a perna fica perpendicular ao solo, entrando na fase de apoio. • Fase de apoio: a perna de apoio se encontra perpendicular ao solo, desde o momento de contato com o solo. Nesta fase é imprescindível que desde o contato com o solo até a posição vertical da perna, o joelho permaneça em total extensão. • Fase de impulsão: instaura-se quando a perna do atleta passa o plano vertical, o que vai gerar a velocidade para o deslocamento. Nas figuras a seguir observamos a técnica completa desenvolvida por um atleta de marcha atlética(SANT, 2005, p. 57). Observando a figura adiante, é possível identificar as fases descritas? 96 Como destacamos, é importante salientar as ações dos membros superiores, ação do tronco e membros inferiores. Em relação aos membros superiores, os braços são flexionados a 90º, tendo um movimento no sentido anteroposterior (indo para frente e para trás), sempre em consonância com o ritmo e amplitude (distância) da passada que o marchador utiliza para se deslocar. Com isso, quanto maior for a velocidade de deslocamento empregada pelo atleta, mais rápida será a movimentação dos 97 membros superiores. Desse modo, o movimento dos membros superiores deve ser o mais natural possível e seguir até o centro do tórax. Ainda, é preciso evitar o encolhimento dos ombros para não haver uma fadiga elevada (erro técnico). Já o tronco fica ligeiramente inclinado à frente, havendo um movimento contrário à ação do quadril, portanto ocorre uma rotação. Contudo, destaca-se que esta não pode ser exagerada. Por fim, temos os membros inferiores. Como vimos, os movimentos dos membros inferiores apresentam as fases de tração e impulsão, e a perna deve tocar no solo somente estendida e permanecer assim até que o segmento esteja no plano vertical. 98 As passadas na marcha atlética têm que ser realizadas sobre uma linha reta imaginária, que é traçada tendo como referência o calcanhar e a ponta do pé, auxiliando o trabalho no quadril. 99 Os movimentos da região pélvica ou quadril são essenciais para o desenvolvimento de uma marcha eficiente, pois eles estão relacionados à frequência e amplitude das passadas, o que, por consequência, vai gerar uma marcha rápida, fluida e econômica. Segundo Lopes, Torres e Filho (2012), o movimento do quadril tem duas funções: • fazer um movimento no plano horizontal acompanhando a perna que está em atraso. • fazer um movimento no plano vertical (cima/baixo) ao descer ao lado da perna que será impulsionada e se elevar coordenadamente com a perna que está em tração. A ação mecânica da marcha atlética permite desenvolver uma velocidade três vezes maior que uma pessoa andando normalmente. Este fator é determinado pela frequência elevada de passadas e por sua amplitude. É interessante observar que a frequência de passadas de um marchador é superior à de um corredor de velocidade ou maratonista (SANT, 2005). 100 4.4.2 METODOLOGIA PARA O ENSINO E DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA É difícil encontrar uma sequência pedagógica ou metodologia para o ensino dos movimentos técnicos que compreendem esta prova, mesmo nos livros sobre atletismo (MATTHIESEN, 2014). Apesar de reunir componentes que possam causar uma impressão de dificuldade inicialmente, o ensino da marcha atlética é relativamente simples, pois ela é muito semelhante ao andar do ser humano e pode ser inserida em diversas tarefas do cotidiano. Para incorporar o aluno na marcha atlética, o professor utiliza como parâmetroseu próprio andar, aumentando progressivamente a velocidade, até a inserção das especificidades técnicas que foram discutidas anteriormente, e depois atuar diretamente no desenvolvimento da marcha. 101 Antes disso, entretanto, o aluno deve compreender quais são as principais diferenças entre o andar, o marchar e o correr tanto lentamente como em velocidade (MATTHIESEN, 2014). Em especial, precisa observar as diferenças de ritmo (frequência e comprimento da passada) e os tipos de apoio proporcionados em cada situação. Para o início da aprendizagem, é necessário que as atividades tenham curta duração, caso contrário a fadiga vai diminuir o aprendizado técnico. Deve-se explorar atividades que envolvam o andar rápido, até que seja possível fixar os movimentos técnicos específicos da marcha. Antes, é vital desenvolver as habilidades de movimentos fundamentais (andar, marchar e correr) e atentar para os seguintes aspectos (MATTHIESEN, 2014): • diferenças de ritmo na realização do deslocamento; • intensidade do movimento; • frequência e amplitude dos passos; • existência ou não da fase aérea (de voo) durante o deslocamento. A ideia básica para uma progressão metodológica para o ensino da marcha atlética pode ser a seguinte (CND, 1998): • Caminhada natural: em uma superfície lisa, deve-se caminhar e ir aumentando a velocidade de modo gradual, porém sem correr. Caminha-se de forma confortável com um ritmo suave por pelo menos 100 metros. • Introdução da técnica da marcha atlética: usando as mesmas características da caminhada natural, porém tendo uma impulsão mais forte, utiliza-se o quadril à frente (em direção à perna de tração). Mantém-se sempre o contato da planta do pé com o solo, juntamente com a extensão do joelho até o momento em que ela está na posição vertical, conservando um ritmo por pelo menos 100 metros. 102 • Caminhando na linha: aplicam-se os conceitos ensinados no último quesito, porém executando os movimentos sobre uma linha, e os pés têm que manter o contato na mesma linha. • Marcha atlética por uma distância: faz-se a junção dos dois primeiros aspectos, porém com distâncias de aproximadamente 400 metros, de modo que o aluno mantenha uma velocidade constante, conservando a técnica do movimento. Pede-se para que eles fiquem atentos às sensações musculares após a prática, principalmente dos músculos anteriores da perna. Matthiesen (2014) elenca algumas atividades que podem inserir essa sequência trabalhada anteriormente. Na atividade 1, os alunos ficam dispostos pelo espaço e começam a andar com o objetivo de fitar o apoio dos pés no solo. Devem aumentar progressivamente a velocidade do andar e continuar a observar as alterações que este aumento provoca no ritmo e na frequência. Precisam notar as diferenças do comportamento das pernas, do quadril, do tronco, dos braços e da cabeça em velocidades mais lentas e mais rápidas. Na atividade 2, aplica-se a mesma dinâmica da atividade anterior. Contudo, em vez de andar livremente, eles devem marchar seguindo o ritmo ditado pelo professor através de palmas. Na atividade 3 os alunos são dispostos em colunas, de preferência com a mesma quantidade de alunos em cada uma, ficando de frente para uma linha. Após o sinal, eles devem iniciar o deslocamento sobre a linha utilizando a técnica da marcha atlética. Pode ser feito em formato de competição, e vence a equipe que chegar primeiro no fim da linha. É preciso lembrar que não se deve realizar as faltas da marcha atlética, principalmente a falta de contato com o solo (fase aérea). 103 A atividade 4 é um pega-pega. Os alunos são colocados em duplas, definindo-se quem é o pegador e quem é o fugitivo. Ao comando do professor, o fugitivo tem que marchar o mais rápido possível para não ser apanhado pelo pegador (da sua dupla), que também estará marchando. Na atividade 5 monta-se um circuito no local disponível para fazer a prova de marcha atlética propriamente dita. Nela, o aluno deve percorrer determinada distância. Será avaliado por árbitros, que as ações técnicas pertinentes à modalidade e aplicam as advertências plausíveis segundo as regras. 4.5 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO A técnica da marcha atlética é desenvolvida tendo como base as regras que a IAAF (2015), determina como requisito para a modalidade. 104 As provas de marcha atlética são divididas em duas categorias: provas de pista e de rua (regra 230.1). Nas provas de pista, para um melhor controle, os atletas em provas de 3000 metros percorrem a pista (7,5 voltas). Nos 5000 metros, eles fazem 12,5 voltas. É importante lembrar que uma volta na pista oficial de atletismo tem 400 metros. Já a regra 230.2 determina a técnica que se deve empregar durante toda a prova de marcha atlética, independentemente da distância que será percorrida, ou se é uma prova de pista ou uma prova de rua. A marcha atlética é uma progressão de passos, executados de tal modo que o atleta mantenha um contato contínuo com o solo, não podendo ocorrer (a olho nu) a perda do contato com o mesmo. A perna que avança deve estar reta (ou seja, não flexionada no joelho) desde o momento do primeiro contato com o solo, até a posição ereta vertical (CBAT, 2015, p. 105). Como se pode perceber, essa regra determina os movimentos (técnica) bases da marcha atlética. É preciso observar um aspecto: o atleta deve manter contato contínuo com o solo, conforme a figura a seguir, na qual ele exibe um contato de pelo menos um dos pés com o solo. 105 Já a figura a seguir destaca uma situação na qual o atleta perde o contato com o solo, o que caracteriza uma fase aérea, ou seja, uma corrida, o que é proibido. A perna que toca o solo na passada tem que ter este contato sem extensão, não podendo haver nenhuma flexão de joelho até que a perna tenha passado pela posição vertical. 106 A característica da marcha atlética é manter uma técnica que promova um deslocamento o mais horizontal possível, pois, se a força aplicada durante o movimento for vertical, poderá ocorrer a perda de contato com o solo. Para identificar tais infrações (perda do contato com o solo e a perna flexionada), os juízes somente podem observar sem qualquer auxílio de recurso tecnológico como um replay. No tocante às punições existentes nas provas de marcha atlética, existem duas possíveis: a placa amarela e o cartão vermelho. A placa amarela, que é a regra 230.5, está associada a uma advertência dada ao atleta, que é aplicada caso o árbitro não esteja satisfeito com os movimentos técnicos executados pelo competidor, e essa infração é relacionada à perda de contato com o solo e à perna flexionada. 107 O atleta não pode receber uma segunda advertência – placa amarela – de uma mesma infração de um mesmo árbitro. Já o cartão vermelho, que está previsto na regra 230.6, ocorre quando o árbitro identifica visualmente que o competidor apresentou a perda de contato com o solo ou a flexão de joelho durante qualquer parte do trajeto da prova. Para o atleta sofrer uma desqualificação da prova, precisa receber três cartões vermelhos de árbitros diferentes. Assim, ele recebe a plaqueta vermelha, que lhe informa que está desqualificado da prova. Conforme a regra 230.7(b), não pode receber dois cartões vermelhos de árbitros distintos, somente se forem de mesma nacionalidade. Desqualificação: 7. (a) Exceto conforme previsto na Regra 230.7 (c), quando três cartões vermelhos de três árbitros diferentes são enviados ao ÁRBITRO CHEFE, o atleta será desqualificado e informado de sua desqualificação pelo Árbitro Chefe ou seu assistente mostrando a plaqueta vermelha. A ausência da notificação não implicará a colocação do Atleta desqualificado no resultado final. (b) Em todas as competições[,] segundo as Regras1.1 (a), (b), (c) ou (e)[,] em nenhuma circunstância cartões vermelhos de dois Árbitros de mesma nacionalidade têm o poder de desqualificar um Atleta (CBAT, 2015, p. 106). Em provas de pista ou de ruas, o atleta que for desqualificado de uma prova deve imediatamente deixar o local (a pista ou o percurso na rua). Depois, seu número é retirado e assim encerra sua prova. Desse modo, vem à luz a seguinte questão: como o competidor sabe quantas punições já recebeu? 108 Durante o percurso são colocados um ou mais placares de advertência e próximos à chegada para que os atletas sempre permaneçam informados sobre o número de advertências que foram aplicadas, assim com o símbolo da infração cometida é destacado. Resumo As corridas no atletismo representam uma das formas naturais de o homem se locomover do modo mais rápido possível. Como uma competição, as corridas foram praticadas em 776 a.C. nos primeiros jogos olímpicos da Grécia Antiga. Houve uma prova de velocidade de 192 metros, que correspondia a uma volta no estádio, e nos jogos seguintes os organizadores foram acrescentando outras distâncias e a modalidade foi evoluindo. Nos tempos modernos, os 109 ingleses foram os primeiros a demonstrar interesse pela prática das corridas longas, e a partir do século XVIII começaram a ser praticadas em outros países. Hoje as corridas oficiais, disputadas em pista, variam de 100 a 10.000 metros e são organizadas de acordo com suas características técnicas e fisiológicas, o que envolve uma classificação especial. Essa classificação é identificada quanto à organização, ao desenvolvimento, ao ritmo, ao esforço fisiológico, além das provas de rua, que são as mais longas, as corridas em pista coberta (indoor) e, finalmente, as provas de marcha. Todos os seres humanos possuem uma maneira própria para usar esses recursos naturais de locomoção porém, quando se trata de correr em disputas esportivas, alguns detalhes técnicos devem ser observados, porque proporcionam uma forma mais produtiva de se percorrer a distância desejada. Comparando a corrida com a marcha (andar), a diferença principal é: ao andar, o corpo sempre está em contato com o chão através dos pés; quando corre, há um momento em que o corpo está totalmente no ar, o que caracteriza uma fase aérea em cada passada. Além desse detalhe, algumas regras importantes devem ser observadas, como a descontração, o equilíbrio, a coordenação e a eficácia. Para utilizá-las com uma boa técnica de corrida, alguns pontos são fundamentais, como a ação total do corpo, seu ângulo de inclinação, o movimento dos braços e das pernas e a colocação dos pés no solo. Na técnica das corridas de velocidade, que compreendem distâncias de 50 a 400 metros e que envolvem a velocidade pura (inata), é preciso considerar outras variantes, como: a velocidade de reação, de movimentos cíclicos e a de força. O treinamento dessas variantes compõem a preparação do velocista, que se completa com a preparação técnica. A técnica de todas as corridas é 110 dividida em fases e o treinamento deve contemplar todas elas, como a saída, o desenvolvimento e a chegada. Essas mesmas ponderações são também observadas para as corridas de meio fundo, fundo e grande fundo. Cada uma dessas provas é disputada com regras oficiais específicas, as quais devem ser de conhecimento do professor, do técnico e do próprio corredor. Na metodologia para o ensino, a execução e preparação do corredor, são selecionados exercícios voltados para a melhora do desempenho técnico e físico, daí a necessidade do conhecimento técnico de cada uma das provas para poder analisar as deficiências. Então, com base nas observações, é possível destacar exercícios adequados às devidas exigências. 5 SALTOS HORIZONTAIS Os saltos representam um dos grupos de provas de campo que fazem parte do atletismo – saltos horizontais (distância e triplo) e saltos verticais (em altura e com vara). O ensino de cada de cada uma dessas provas envolve o conhecimento da técnica e seus respectivos estilos, bem como as regras básicas de competição e os processos pedagógicos utilizados pelo professor ou técnico no ensino, desenvolvimento e treinamento para competições. Quando se estuda a técnica, é preciso conhecer cada movimento que ela possui. Para isso, divide-se o salto em fases e cada uma delas é estudada separadamente, e no fim todas são unidas. Teremos, assim, a técnica completa. Cabe lembrar que uma mesma técnica pode ser realizada de 111 maneira particular por cada saltador, o que identifica um estilo próprio para saltar. A técnica ou mecânica dos saltos é composta de quatro fases comuns, que devem ser analisadas isoladamente: • corrida de impulso; • impulsão; • fase aérea (elevação, suspensão ou flutuação); • queda ou aterrissagem. O conhecimento de cada fase permitirá que o professor ou técnico observe possíveis defeitos e virtudes na execução dos saltos nas competições, auxiliando-o na escolha dos exercícios para correção e aperfeiçoamento. A aprendizagem da técnica pode ser feita através da prática repetitiva do salto completo usando o método global, ou pela aprendizagem de cada uma das fases separadamente, através de exercícios educativos específicos, para unidos formarem o salto como um todo. Essas diferentes maneiras de ensinar caracterizam a metodologia utilizada pelo professor, que são os métodos conhecidos universalmente como global e analítico. Inicialmente avaliaremos o salto em distância, que é a prova mais praticada nas competições escolares. Todas as técnicas analisadas serão descritas para saltadores que usam o pé esquerdo para impulsão. 112 5.1 Salto em distância Para conhecer e identificar a técnica do salto, precisamos analisar cada uma das fases que compõem o salto completo. 5.1.1 CORRIDA DE IMPULSO A técnica do salto em distância começa com a execução de uma corrida preparatória, conhecida como corrida de impulsão, que tem como objetivo buscar a velocidade ótima e acumular força para fazer a impulsão. É realizada no corredor de saltos e deve ser suficientemente longa para que o saltador alcance a velocidade ideal para chegar com bastante energia na tábua de impulsão (FERNANDES, 2003, p. 80). Dependendo da capacidade do atleta em atingir sua velocidade ótima para fazer o impulso, a corrida poderá variar de 30 a 45 metros, aproximadamente 100 a 150 pés, que é a maneira prática de os saltadores medirem a distância total da sua corrida para marcar onde ela deve começar. Em resumo, ela deve ter a menor distância que o saltador necessita para atingir sua velocidade máxima e deve ser aproveitada no momento da impulsão. Conforme a regra, o saltador não pode ultrapassar a tábua de impulso de 20 cm de largura para não cometer uma falta. Deve usar o máximo dessa medida, pois é a partir da borda da frente dessa tábua que é feita a medição do salto. Para definir a distância ideal da corrida, considerando todos esses fatores, são utilizados três métodos: das tentativas, da corrida inversa e o método matemático, conforme Fernandes (2003, p. 80). 113 5.1.1.1 Método das tentativas Nesse método, a distância da corrida é detectada com a realização de várias tentativas da corrida, partindo de uma marca aleatória além de 30 metros. Essa marca inicial é ajustada a cada corrida, até que seja identificado o ponto inicial que permita fazer o saltador chegar à tábua na velocidade ideal com o seu pé de impulso e sem cometer falta. É um método utilizado mais por iniciantes. 5.1.1.2 Método da corrida inversa Como o próprio nome sugere, para encontrar a distância da sua corrida de impulso, o saltador faz a corrida no sentido contrário partindo da tábua de impulsão. Então, no ponto em que atinge a maior velocidade, marca-seo toque do pé de impulso no chão. Após várias execuções para confirmar essa marca, é medida a distância, que passa a ser a definitiva. Em seguida é feita a corrida no sentido normal. Se necessário, devem ser efetuados ajustes para frente ou para trás e assim definir a distância da corrida. 5.1.1.3 MÉTODO MATEMÁTICO Aplicado por atletas mais experientes, porque exige uma técnica precisa para correr mantendo a uniformidade das passadas. Para encontrar a medida da corrida, pede-se para o saltador, partindo em pé, executar a corrida na reta da pista de atletismo. Normalmente o ritmo da corrida é crescente até chegar ao ponto de estabilidade, quando se atinge sua velocidade máxima, por volta 114 dos 25/30 metros. Quando isso ocorre, as passadas se tornam uniformes e com sua máxima frequência. Nesse momento, marca-se a pisada do pé de impulso no chão considerando a quarta ou quinta passada (FERNANDES, 2003, p. 81). Em seguida, mede-se a distância do início da corrida até essa marca, e depois ela é transferida para o corredor de saltos a partir da tábua de impulsão. Então, tem-se a distância que o saltador vai utilizar para saltar. Embora esse método seja o mais eficiente, não se pode garantir que alguma falha não possa ocorrer, pois há fatores que podem influenciar, como clima, questões psicológicas e os próprios torcedores. Também é preciso revisar periodicamente essa distância a fim de corrigir possíveis alterações necessárias. 5.1.2 IMPULSÃO A impulsão ocorre quando o saltador chega à tábua de impulso com seu pé de impulso. Nesse momento toda a força acumulada durante a corrida de impulso é transferida para a perna de impulsão, enquanto a perna livre é lançada para cima e para frente. O propósito dessa ação é projetar o centro de gravidade para cima e para frente ao mesmo tempo. Para isso, a distância da última passada deve ser um pouco menor que as anteriores para facilitar a saída do saltador do chão sem perda aparente de energias. No instante em que o saltador se desprende do chão, o corpo começa a se elevar, iniciando- se a fase aérea do salto. 115 5.1.3 FASE AÉREA Assim que o pé de impulso perde o contato com o chão, é inaugurada a fase aérea ou fase do voo. A trajetória do corpo ou do seu centro de gravidade é composta de um momento de elevação para ganhar a máxima altura, depois há a flutuação, que deve ser mantida o maior tempo possível para que o atleta caia o mais distante que puder. Os movimentos do corpo no ar ajudam a dar equilíbrio e favorecem o voo do corpo. Os movimentos feitos pelo saltador nesse momento caracterizam o estilo de salto usado por ele, que pode ser: salto grupado, carpado, em arco e passadas no ar. • Salto grupado Nesse estilo, que é o mais natural entre todos, o corpo se coloca em uma posição na qual as pernas se elevam flexionadas no momento da flutuação, e o tronco se aproxima delas, adquirindo uma posição grupada, que é mantida até a aterrissagem. • Salto carpado Contrariamente ao salto grupado, aqui as pernas se elevam estendidas no ar e o tronco se flexiona sobre elas. Isso é feito para que as pernas se mantenham à frente da cabeça até a chegada à areia da caixa de saltos. Essa posição possibilita que os pés retardem sua chegada ao solo, promovendo uma queda mais distante. • Salto em arco 116 Nessa forma de salto, ao fazer a elevação do corpo após a impulsão, o saltador faz uma extensão completa do corpo no ar, adquirindo uma posição arqueada, até terminar a flutuação. Quando começa a se aproximar da queda, as pernas se elevam e o tronco se flexiona sobre elas – posição carpada –, como se o atleta estivesse sentado no ar. É preciso se manter nessa posição até chegar à areia. • Salto com passadas no ar É o salto mais complexo e só é eficiente quando se consegue saltar muito longe. É utilizado apenas por saltadores de nível elevado, pois eles pernas como se o saltador estivesse caminhando no ar. Assim, quanto mais tempo ele permanecer no ar, mais passadas se consegue fazer, normalmente uma e meia a duas passadas e meia. 5.1.4 QUEDA OU ATERRISSAGEM 117 Após a flutuação do corpo no ar durante a fase aérea, inicia-se a fase descendente da trajetória que o corpo descreve no ar, momento em que os pés devem buscar a areia e finalizar o salto. Nesse instante, quanto mais tempo ou mais alto forem mantidos os pés, mais longe eles deverão atingir o solo. Para isso, usando a força abdominal, as pernas se mantêm estendidas em elevação, enquanto o tronco se flexiona à frente, posicionando a cabeça entre os joelhos e os braços para frente. Nessa posição, quando os pés chegarem ao chão, o primeiro contato deve ser pelos calcanhares para em seguida flexionar as pernas, para que os glúteos sejam projetados à frente sobre os calcanhares. Caso contrário, se as pernas não forem mantidas elevadas durante o maior tempo possível, a descida dos pés na areia é antecipada, tornando a queda prematura, o que diminui a medida final alcançada com o salto. Essa ação faz com que todo o corpo seja projetado à frente, adiante da marca que os calcanhares deixaram na areia da caixa de saltos, e é lá que será o ponto de medida da distância atingida pelo saltador. 118 Alguns saltadores, quando os calcanhares tocam o chão, imediatamente flexionam apenas uma das pernas, o que provoca uma rotação lateral, projetando o corpo todo para o lado. Então, o salto finaliza com o saltador deitado lateralmente adiante da marca no primeiro contato com os pés na areia. Ao término, o saltador deve sair da caixa de areia, pela frente ou pela lateral, adiante da marca de sua queda, que ficou na areia, como exige a regra. 5.2 METODOLOGIA PARA O ENSINO DA TÉCNICA Para os saltos horizontais, na etapa de iniciação multilateral, a criança deve executar atividades que envolvam todos os tipos de experiências relacionadas com saltos, principalmente empreendidas em recreação e desafios. Citamos alguns exemplos: • Fixar no local da aula vários tipos de obstáculos, como cones deitados, bastões, bolas medicinais, gavetas de plinto etc. e pedir para que os alunos saltem todos os obstáculos com impulso em apenas um dos pés. • Desenhar no chão uma linha e, paralelamente a ela, dois alunos seguram uma corda elevada a 30 cm do chão. Então, as crianças realizam uma curta corrida, devendo tomar impulso antes da linha e saltar sobre a corda elevada que está colocada a 1 m de distância (figura a seguir). 119 • Colocar no chão a parte de cima de um plinto e pedir para que os alunos façam uma corrida de três passadas, de forma que a última seja com o pé sobre o plinto, para fazer a impulsão e saltar para longe, com queda em colchões colocados adiante (figura a seguir). • Mesmo exemplo que o anterior, mas aqui adiante do plinto deve ser colocada uma corda suspensa em um ponto mais alto para que, ao saltar, o aluno o faça por cima desse obstáculo, a fim de ganhar altura para cair mais longe. 120 Nesses exercícios, o professor deve pedir às crianças que percebam com qual pé elas conseguem impulsionar melhor para que cada uma descubra qual será sua perna de impulsão. Os exercícios que destacaremos (resumidamente) a seguir têm como finalidade ressaltar como se pode ensinar a técnica do salto em distância e seus respectivos estilos, que devem ser estimulados a partir dos 12 anos de idade. A sequência é desenvolvida através da aplicação de exercícios educativos realizados com dificuldade técnica progressiva. Acentuamos a sequência pedagógica para aprendizagem da técnica com seus respectivos exercícios: • Aluno de frente para dois plintos, sendo o primeiro com duas partes e o outro com três, separados com 1,0 m de distância. — Execução: fazer uma corrida prévia de cincopassadas, sendo as três primeiras antes do plinto, a quarta sobre o primeiro e a quinta sobre o segundo, que deve ser feita com o pé de impulso (perna forte), para realizar o salto para cima e para frente com queda na caixa de areia ou colchões colocados no chão. 121 • Exercício igual ao anterior, mas neste é preciso retirar uma das partes dos plintos. O professor se coloca adiante do segundo plinto, segurando um bastão posicionado mais alto para que o aluno salte por cima e realize a aterrissagem na caixa de areia ou colchão. • De modo similar, agora vai tirando gradativamente as partes do plinto até que a impulsão passe a ser feita no chão. • Continuando de forma similar, aqui a impulsão deve ser feita sobre a tábua de impulso. À medida que as partes do plinto vão sendo retiradas, devem ser acrescidas mais duas passadas na corrida. A fase aérea do salto em cada um dos exercícios deve ser realizada inicialmente com o corpo grupado, depois na posição carpado e termina fazendo o arco. Após o domínio na efetivação desses exercícios, começam a ser feitos os movimentos mais complexos para a aprendizagem do salto com passadas no ar. Para tal, deve ser executada a mesma série de exercícios utilizados na sequência anterior e com mudanças na fase aérea da seguinte maneira: • Feita a impulsão, a perna contrária deve ser lançada para frente e nessa posição o corpo deve permanecer até a aterrissagem, que deve ser feita com essa perna à frente e a de impulso atrás. • Mesmo exercício, só que as pernas são trocadas de posição no ar para que a aterrissagem seja feita com a perna de impulsão à frente e a outra atrás. • De modo equivalente, aqui devem ser feitas duas trocas da perna que vai adiante, e a aterrissagem deve ser executada com as pernas unidas. 122 • Exercício igual, só que agora a corrida prévia é aumentada gradativamente para ganhar velocidade até o corredor chegar à distância definitiva, que será utilizada para fazer o salto completo em todas as suas fases. 5.3 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO Como vimos, o salto em distância é realizado em uma área especial, composta de um corredor de 40 m de comprimento por 1,22 m de largura. Esse corredor de saltos termina em uma caixa de areia denominada área de queda, com 2,75/3,00 m de largura por 10 m de comprimento, no mínimo. No fim do corredor, está localizada a tábua de impulsão, que fica enterrada no chão ao nível do terreno, a 10 cm de profundidade. Deve ser retangular, pintada de branco, com 1,22 m de comprimento por 20 cm de largura e 10 cm de profundidade. A borda mais próxima da área de queda é denominada linha de impulsão, que é o limite máximo permitido para a execução do impulso e local da medição do salto. Logo adiante dessa borda da tábua, há uma faixa de plasticina macia, que auxilia o árbitro acusando qualquer toque do pé do saltador adiante da linha de impulsão, o que anula o salto. 123 Na competição, o salto é anulado se o atleta cometer as seguintes falhas: • Passar correndo pela tábua de impulsão sem saltar. • Realizar o impulso fora da tábua de impulsão, à frente ou atrás do prolongamento da linha de medição. • Após a queda na areia, ao sair, tocar o solo em um ponto mais próximo da linha de medição da tábua de impulsão em relação à marca de sua queda deixada na areia. É obrigado a sair adiante da marca mais próxima da linha de medição. • Utilizar qualquer tipo de salto mortal durante a corrida ou ao saltar. Ao finalizar a tentativa, o árbitro indicará com uma bandeira branca a validade do salto ou com uma bandeira vermelha se a tentativa for falha. Os saltos devem ser medidos a partir da marca mais próxima do setor de queda feita por qualquer parte do seu corpo até a linha de medição. Quando participarem mais de oito concorrentes, cada atleta terá direito a três tentativas. Então, são classificados os oito melhores saltadores. 124 Subsequentemente, eles têm direito a mais três tentativas adicionais (para que seja definido o vencedor), valendo a melhor das seis tentativas realizadas. Quando participarem até oito concorrentes, todos terão direito a seis tentativas, já válidas como uma avaliação final. 5.4 SALTO TRIPLO É considerado uma das provas mais complexas do atletismo por exigir uma sucessão de ações com características próprias, porém interdependentes entre si, que requerem uma combinação de força, velocidade, agilidade e flexibilidade para a realização dos três saltos sucessivos que compõem a técnica, bem como a relativa importância que se dá a cada um deles. No início da sua trajetória, apresentou um domínio dos saltadores norte- americanos, em seguida se destacaram os atletas do norte da Europa e, por fim, os competidores japoneses e realizaram grandes conquistas nesta modalidade. Para os brasileiros, é uma prova que marcou fortemente nossa história no atletismo. Isso ocorreu porque despontaram talentos que marcaram de 125 forma contundente seus nomes na galeria de campeões nas mais diversas e importantes competições mundiais do gênero. Trata-se, inicialmente, de Adhemar Ferreira da Silva, tricampeão mundial (1950, 1951, 1952) e campeão olímpico nos Jogos de Helsinque (1952) e no Pan-Americano da Cidade do México (1955). Mais tarde, nos Jogos Olímpicos do México (1968), Nelson Prudêncio coloca o Brasil no pódio novamente. Depois, João Carlos de Oliveira (João do Pulo) estabeleceu um novo recorde, que perdurou por dez anos, quando foi superado pelo norte-americano Willie Banks, com a marca de 17,97 metros. Essas conquistas destacam bem o sucesso que esta prova representa para o atletismo brasileiro. 5.4.1 Técnica de salto Para a realização correta de um salto, é preciso levar em consideração uma série de aspectos básicos, como: • completa continuidade de todas as ações do salto, sem descuidar de uma fase em proveito da outra, para não prejudicar o conjunto final. • no segundo salto, denominado passo, é crucial ganhar altura em sua execução. • entre todas as provas de campo, o salto triplo é uma das que mais exige um elevado grau de relaxamento e muita elasticidade em cada uma das aterrissagens. Analisando a técnica do salto, consideramos as seguintes fases: 126 • corrida de impulso Tem as mesmas características que o salto em distância. Para determinar sua distância, usam-se marcas auxiliares, a descontração e o acúmulo de força para realizar a impulsão e manutenção do ímpeto da corrida nas últimas passadas antes de o atleta chegar à tábua de impulso. • impulsão Para fazer o salto completo, são necessárias três impulsões consecutivas, visto que é uma prova em que são executados três saltos consecutivos, cada um com características próprias, o que exige cuidados especiais para cada um dos impulsos. • primeiro salto (hop) A impulsão para esse salto é feita sobre a tábua de impulsão, de maneira semelhante àquela que se faz no salto em distância, com uma pequena diferença relacionada à posição do tronco, que deve ser posicionado mais na vertical para não perder o ímpeto para os saltos subsequentes. O impulso deve ser realizado sobre a perna mais forte, que, no momento da batida, se flexiona ligeiramente, para depois se estender e impulsionar o corpo para cima e para frente. Ao perder o contato com a tábua, o corpo inicia a sua fase aérea. Pouco antes de a perna de impulso terminar a sua ação, a outra perna é lançada à frente, estendida e com muita força para no ar trocar de posição com a perna de impulso, que passa à frente, ou seja, as pernas fazem um movimento de “tesoura” no ar, para que o pé da perna de impulso faça a aterrissagem, porque 127 a impulsão ao segundo salto deve ser feita com o mesmo pé usado no primeiro salto. Assim, a aterrissagem do primeiro salto é feitaem apenas um pé. • segundo salto (step) Inicia-se no local onde aconteceu a aterrissagem do primeiro e sobre o mesmo pé que tinha feito o impulso anterior. Portanto, lá é realizada a impulsão para o segundo salto, que é semelhante a uma ampla passada de corrida efetuada no ar. O movimento das pernas executado dessa maneira na fase aérea tem por objetivo preparar o corpo para finalizar a queda seguinte, que obrigatoriamente deve ser feita com o pé contrário. • terceiro salto (jump) O último dos três saltos tem semelhança com o salto em distância normal em todos os sentidos, porém é realizado com impulso mais reduzido, haja vista a energia gasta na execução dos dois saltos anteriores. 128 5.4.2 METODOLOGIA PARA O ENSINO DA TÉCNICA DO SALTO Todos os exercícios vistos neste livro-texto para a etapa de iniciação ao salto em distância servem igualmente ao salto triplo, porém os exercícios para impulsão devem ser feitos não apenas com a perna forte, mas também com a outra. É preciso desenvolver a capacidade de impulsão de ambas as pernas, pois a efetivação da técnica do salto envolve impulsos realizados alternadamente com as duas pernas. De uma forma resumida, a sequência pedagógica que será apresentada a seguir pode ser utilizada para a aprendizagem do salto. Deve ser feita de modo fragmentado, sempre buscando começar pelos exercícios mais simples e depois dificultar gradativamente, à medida que cada ação seja executada com segurança de aprendizado. 129 Primeiro, deve-se traçar uma longa linha reta e pedir ao aluno para realizar uma série de saltos de duas impulsões sucessivas em cada perna. Ao trocar a perna de impulso, deve-se observar que a ação da mudança deve ser feita através de um salto, e não simplesmente com um pequeno passo. Depois, do mesmo modo, fixam-se cordas ou bastões ao longo do trajeto para que as impulsões sejam realizadas no espaço entre eles. Então, igualmente, substituindo os bastões por cones deitados para obrigar que cada salto seja mais alto. Ainda de forma igual, os impulsos devem ser feitos em sequência de dois (um com a perna forte e o outro com a perna mais fraca), e assim sucessivamente. Subsequentemente, colocam-se três aros alinhados no chão e um colchão de ginástica de solo adiante. O intervalo entre esses objetos deve ser separado de acordo com a capacidade de impulsão dos executantes. Em relação à execução, é preciso fazer uma corrida prévia de cinco ou sete passadas. O pé da primeira impulsão deve ser colocado no interior do aro, e o atleta deve saltar e aterrissar no aro seguinte com o mesmo pé que fez a impulsão; realiza novo impulso nesse segundo aro para aterrissar no outro com o pé trocado; nova impulsão nesse pé e queda com ambos os pés no colchão. Então, se a perna forte for a esquerda, a sequência será: E, E, D e DE sobre o colchão. Continuando no mesmo exercício, deve-se substituir o terceiro aro pela parte de cima de um plinto para que a queda do pé trocado e o último impulso sejam feitos sobre o cone para o competidor aterrissar com os dois pés no colchão. Por fim, retiraram-se os objetos utilizados e no lugar do primeiro aro desenha-se a tábua de impulsão. 130 Isso é feito para que a corrida preparatória seja ajustada de forma que o pé de impulso para o primeiro salto toque sobre ela e seja feito o salto completo, sendo finalizado sobre o colchão. Caso exista uma pista com a área de salto, esse exercício deve ser feito nesse local. À medida que o salto completo já estiver sendo empreendido com desembaraço, o ajuste seguinte deve ser feito com a corrida de impulso, até que ela seja realizada na sua totalidade, e assim a técnica do salto estará concluída. 5.4.3 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO As regras básicas de competição do salto triplo são praticamente as mesmas do salto em distância, somente sendo acrescentadas algumas particularidades. O corredor de saltos e a área de queda são as mesmas, apenas a tábua de impulsão está colocada a 13 m (para os homens) e 11 m (para mulheres) de distância da área de queda. O salto deve ser feito com impulso em um só pé, uma passada e mais um salto. Em competições, o salto triplo deverá ser executado de forma que a queda do primeiro salto seja realizada sobre o mesmo pé que fez a impulsão inicial; o segundo, com impulso no mesmo pé do primeiro salto e queda no contrário e, por fim, o impulso final usando o mesmo pé que fez a queda do segundo salto. O salto é anulado se o atleta cometer as seguintes falhas: • Passar correndo pela tábua de impulsão sem saltar. 131 • Executar o impulso fora da tábua de impulsão, à frente ou atrás do prolongamento da linha de medição. • Após a queda na areia, ao sair, tocar o solo em um ponto mais próximo da linha de medição da tábua de impulsão em relação à marca de sua queda deixada na areia. É obrigado a sair adiante da marca mais próxima da linha de medição. • Utilizar qualquer tipo de salto mortal durante a corrida ou ao saltar. Ao finalizar a tentativa, o árbitro indicará com uma bandeira branca a validade do salto ou com uma bandeira vermelha se a tentativa for falha. Os saltos devem ser medidos a partir da marca mais próxima do setor de queda feita por qualquer parte do seu corpo até a linha de medição. Quando participarem mais de oito concorrentes, cada atleta terá direito a três tentativas. Então, são classificados os oito melhores saltadores. Subsequentemente, eles têm direito a mais três tentativas adicionais (para que seja definido o vencedor), valendo a melhor das seis tentativas realizadas. Quando participarem até oito concorrentes, todos terão direito a seis tentativas, já válidas como uma avaliação final. 6 SALTOS VERTICAIS 6.1 SALTO EM ALTURA O salto em altura, prova muito praticada nas aulas de educação física escolar, é uma especialidade do atletismo que passou por constantes evoluções técnicas, principalmente a partir do ano de 1895, quando surgiu o 132 chamado estilo do leste, usado pelo norte-americano Michael Sweeney, que alcançou a marca de 1,97 metros realizando uma corrida de frente para o sarrafo. Foi o início de uma história da modalidade, que passou por várias modificações em sua técnica e estilo. Em 1917, o também norte-americano Larson ampliou o recorde para 2,07 metros, seguido por seu compatriota George Spitz, em 1933, com o novo estilo – cortado, saltando 2,03 metros. Nesse mesmo período, muitos estilos surgiram, mas sem que seus praticantes conseguissem melhorar os recordes. Todavia, obtendo marcas expressivas com as novidades apresentadas, como o estilo a cavalo a partir de 1930, que foi sendo aperfeiçoado e utilizado por muitos anos até surgir o estilo cravado a cavalo, com o qual o soviético Yuri Stepanov fixou um novo recorde mundial em 1957, com 2,16 metros. Esse estilo passou a ser exercido por muitos saltadores, que atingiram excelentes resultados com o nova forma. Pouco depois, com pequenas modificações do novo estilo, que passou a ser chamado de tesoura, o soviético Valery Brumel conquistou novo recorde mundial com a fantástica marca de 2,28 metros em 1963, que durou até 1971. Nesse meio tempo, surge uma técnica revolucionária nas Olimpíadas do México (1968) que surpreendeu o mundo do atletismo. Foi aplicada pelo norte- americano Richard Fosbury, que realizou uma corrida de impulsão para saltar de forma circular, elevando o corpo em rotação para se colocar de costas para o sarrafo e nessa posição efetuar a passagem do aparelho. Esse novo e surpreendente estilo passou a ser chamado de Fosbury Flop, apenas flop ou estilo de costas. 133 A partir daí os recordes passaram a ser batidos constantemente, e os principais destaques ficaram por conta do alemão Gerd Wessig, com 2,36 metros – recorde olímpico e mundial; em seguida,no ano de 1988, o ucraniano Gennadi Avdeyenko, com 2,38 metros – Jogos de Seul. Entretanto, o grande nome dessa prova ainda é o cubano Javier Sotomayor, que desde 1993 detém a marca histórica de 2,45 metros. 6.1.1 TÉCNICA DE SALTO Para entender a técnica de salto em altura, analisaremos as duas técnicas hoje praticadas, que são o estilo rolo ventral e o flop. 134 O rolo ventral é aplicado nas escolas, já o flop é usado em diversos locais. Começamos pelo rolo ventral, analisando cada fase que compõe esse estilo. Usaremos como exemplo a figura a seguir, com suas respectivas letras quanto às posições dos atletas. Para melhor entender a técnica, devemos dividi-la em fases, com suas características particulares, que se unem como um todo para realizar o salto. • Corrida de impulso (a, b, c, d, e, f, g, h, i, j) Para que a corrida seja bem executada, devem ser observados alguns fatores importantes, como velocidade, direção e extensão. A corrida de impulso é feita em linha reta no sentido diagonal em relação ao sarrafo, com 7 a 11 passadas. Qualquer que seja a extensão e a velocidade empregada, é indispensável muita técnica e ritmo para efetivá-la. Em seu início, deve ser feita uma marca que permita ao saltador chegar próximo da barra no melhor ponto para fazer a impulsão. Alguns saltadores costumam partir com 3 a 4 passadas preliminares antes de tocar a marca inicial, para assim conseguirem desenvolvê-la com mais exatidão. 135 O ângulo ou direção da corrida é pessoal, variando de 30 a 40 graus. Quanto mais se aproxima da linha perpendicular do sarrafo, mais fácil se torna saltar verticalmente, porém isso dificulta a impulsão, porque a perna contrária se eleva estendida nesse estilo, o que pode fazer com que toque e derrube o sarrafo. Ao contrário, se o ângulo for mais aberto – com o saltador correndo mais paralelamente ao sarrafo –, será possível fazer uma impulsão mais distante, facilitando o chute, mas a impulsão vertical será executada com mais dificuldades. Quanto maior for a altura a ser ultrapassada, maior será a força a ser acumulada durante a corrida, o que reveste de importância essa fase. Quando não for realizada de forma ideal, prejudicará as fases seguintes. • Impulsão (l, m, n, o) Determina a direção e a força ascendente do salto, combinando o ímpeto horizontal com a ascensão do corpo à vertical. Para isso, as três últimas passadas da corrida devem ser suaves e rápidas e cada vez mais amplas para provocar uma ligeira inclinação do corpo para trás e aproximar o centro de gravidade do chão, para que o pé de impulso se apoie à frente do corpo, colocando-o em uma posição favorável ao chute da outra perna na direção vertical. Feito o apoio do pé de impulso, começa a ação do chute da perna contrária, que deve ser lançada para cima, estendida e com muita explosão. Quanto mais estendida ela estiver, maior será a energia transmitida para o impulso e elevação ascendente do corpo. • Elevação (p, q, r, s) 136 Corresponde à subida do corpo em direção ao sarrafo. Após o chute da perna livre, a perna de impulso se estende vigorosamente e assim o pé de impulso deixa o chão. Nesse momento se inicia a fase aérea do salto, com o corpo se elevando verticalmente na direção da barra (sarrafo). Todos os movimentos executados nessa fase têm sua origem ainda no solo. Desse modo, a perna de chute se mantém em extensão até sua chegada acima da barra, enquanto a perna de impulso vai se flexionando e afastando o joelho para fora, o que provoca um giro do corpo em torno do seu eixo longitudinal. O braço correspondente à perna de chute deve ser projetado juntamente com ela para o outro lado do sarrafo, enquanto o corpo vai se posicionando paralelamente a ele e, nessa posição, quando a perna de chute já estiver totalmente do outro lado da barra, termina a elevação com o corpo posicionado com o ventre e o peito voltado para ela. Assim, finaliza-se a fase da elevação. • Suspensão (t) Concluída a fase da elevação, o corpo se encontra sobre a barra. Esse é o momento exato em que o corpo terminou a sua elevação e, como se estivesse parado no ar, começa a girar em torno do seu eixo longitudinal, que está paralelo ao sarrafo, iniciando a transposição. • Passagem sobre a barra (u, v, x, z) Com o corpo sobre e de frente para o sarrafo, com a perna de chute estendida e a de impulsão flexionada, começa o giro em torno do seu eixo longitudinal, que é provocado pelo afastamento do joelho da perna de impulsão 137 para fora, o que faz o corpo girar para o outro lado da barra como se estivesse rolando para o outro lado. Daí o nome rolo ventral, que identifica esse estilo de salto. • Queda (z) Assim que o corpo contorna completamente a barra (v, x), com a barra ultrapassada, está encerrado o salto. O corpo, completamente relaxado, deixa- se cair naturalmente em direção ao colchão e finaliza a tentativa. • Fosbury (flop) 138 A figura a seguir apresenta a sequência completa das fases do salto. Faremos sua análise de modo similar ao salto anterior, destacando as respectivas letras da figura. • Corrida de impulso (A) A corrida de impulso nesse estilo de salto é particular, diferente de todos os outros estilos de salto em altura. Feita com 9 a 13 passadas, a corrida é realizada em curva para aproveitar a força centrífuga para projetar o corpo ao outro lado do sarrafo. O fim da corrida é o momento mais importante porque ocorre a preparação para a impulsão. Para isso, há um aumento da velocidade no fim das três últimas passadas, momento em que a curva é mais fechada do que no início da corrida. Alguns saltadores, para melhorar a velocidade inicial, fazem a partida em linha reta para terminar em curva, enquanto outros já iniciam em uma curva de raio maior para finalizar na curva de raio menor na preparação para a impulsão, momento em que ocorre uma acentuada inclinação do corpo para o centro do círculo. 139 • Impulsão (B) Especialistas em biomecânica consideram que a impulsão é a fase mais importante do salto. Devido à forma circular em que é realizada a corrida, a impulsão é feita nas proximidades do poste de suporte do sarrafo em um ponto situado a 1 m de distância do aparelho. A perna de impulso é a externa em relação à barra, portanto, se o saltador usa a perna esquerda para a impulsão, deve fazer a corrida no lado direito da pista. Diferentemente do salto rolo ventral, no momento da impulsão – no flop, a perna não se flexiona tanto, permanece quase que estendida para uma melhor transformação da velocidade horizontal da corrida e velocidade vertical, o que proporciona um impulso superior. Em seguida, o corpo se posiciona verticalmente e o tronco começa a elevar-se com ajuda dos braços, que são projetados para cima. Nesse mesmo instante, a perna livre se flexiona em 90º e projeta o joelho para o alto simultaneamente com o tronco e os braços, e se move em direção do centro do círculo em movimento contrário ao da cabeça, que permanece voltada com o olhar dirigido para a barra. A partir da combinação dessas ações, o corpo inicia sua trajetória aérea na direção da barra a ser ultrapassada. • Elevação (B, C) Quando o pé de impulso perde o contato com o chão, o corpo começa a se elevar verticalmente. 140 Com uma rotação criada com o pé ainda no solo, o joelho da perna contrária, que foi projetado energicamente para cima no momento da impulsão, gira para o centro do círculo utilizado na corrida. Essa ação provoca uma rotação de todo o corpo em torno do seu eixo longitudinal, majudado pela projeção enérgica do braço contrário à perna de impulso, o que faz com que as costas do saltador se coloquem voltadas para a barra. Todas essas ações, realizadas conjuntamente durante a elevação docorpo, preparam o saltador para se posicionar de costas sobre a barra, quando termina a elevação e inicia a transposição da barra (sarrafo). • Passagem sobre o sarrafo ou barra (D, E) Terminada a elevação do corpo, que é proporcional à força de impulso aplicada, o tronco do saltador, em total descontração, está posicionado de costas sobre a barra como se estivesse suspenso no ar, e então começa a manobra para a superação do sarrafo. A passagem sobre a barra começa pela cabeça e pelo braço contrário à perna de impulso. Assim que estiverem do outro lado, os quadris chegam sobre a barra e são projetados para cima, enquanto as pernas se mantêm relaxadas e o corpo adquire uma posição em arco ou ponte. Logo que os quadris ultrapassam a barra, essa posição arqueada deve ser desmanchada rapidamente. Isso se faz através da flexão da cabeça sobre o peito juntamente com as pernas, que são projetadas para cima, o que faz com que o corpo passe totalmente para o outro lado da barra e conclua a passagem. • Queda ou aterrissagem (F) 141 Concluída a passagem, o corpo está na trajetória descendente em direção ao colchão, que amortecerá a queda. Para não correr o risco de as pernas tocarem na barra durante a descida do corpo, as pernas devem se manter afastadas (estendidas na vertical) e ser lançadas para trás da cabeça, provocando um ligeiro rolamento para trás. O primeiro contato no colchão é feito pelos braços, que ficam afastados lateralmente para absorver o primeiro impacto, seguido dos ombros e da nuca. Todos esses procedimentos eliminam qualquer risco de contusão provocada pela queda, concluindo-se com sucesso o salto. 6.1.2 METODOLOGIA PARA O ENSINO DA TÉCNICA DO SALTO Dentre os métodos utilizados para o ensino da técnica, os mais aplicados são o analítico (passo a passo ou das partes) e o global (aprendizagem através da repetição do salto completo). Destacaremos um exemplo resumido, uma sequência pedagógica para a aprendizagem da técnica do salto no estilo flop para que você possa entender o método e como essa técnica pode ser ensinada através do método analítico. Todos os exercícios acentuados aqui devem ser realizados para aqueles que usam o pé esquerdo de impulso. • Executar corridas em volta de um círculo de vários tamanhos, com raios variados entre 5 a 10 metros. 142 • Mesmo exercício. Ouvindo um sinal do professor, o aluno salta para cima com impulso no pé esquerdo, elevando o joelho da perna direita flexionado. Deve manter esse joelho elevado até voltar para o chão apoiando- se no mesmo pé que fez o impulso (esquerdo). • Mesmo exercício. Contudo, ao elevar-se, deve ser feito um giro de 90 graus no ar e a queda no mesmo pé que fez o impulso. • Em duplas (um de frente para o outro). Na execução, um dos alunos fica em pé voltado para seu companheiro, com o braço direito elevado lateralmente à horizontal. O parceiro faz uma corrida de três passadas para tomar impulso, elevando o joelho flexionado da perna contrária para tentar atingir a mão do companheiro com esse joelho. • Exercícios para adaptação à queda de costas: em pé sobre um plinto com quatro partes, colocado à frente do colchão de quedas, com as costas voltadas para o colchão. Sem tomar impulso, o aluno deixa o corpo cair para trás, soltado as costas no colchão. Os braços devem apoiar-se lateralmente na queda. • Mesmo exercício. Agora ocorre uma pequena impulsão para cima e para trás, para cair sobre os ombros com os braços afastados do corpo, a fim de evitar a queda sobre eles. • Mesmo exercício, mas com a barra ou sarrafo colocado nos postes na altura dos quadris do aluno. Na execução, o aluno deve saltar por cima da barra tomando cuidando para não tocar os quadris ou outra parte do corpo na barra e assim derrubá-la dos postes. Finaliza-se com as pernas elevadas à vertical. 143 • Repete-se o exercício anterior. Retira-se, gradativamente, uma parte do plinto, para que seja aumentada a distância entre o ponto de impulsão e a barra, até que o impulso passe a ser realizado do chão. • Executa-se uma corrida em curva com três passadas para fazer a impulsão no pé esquerdo logo após o poste do lado direito. Quando o corpo sair do chão elevando-se à vertical, deve ser produzido um giro de 90º para o lado esquerdo, colocando-se as costas voltadas para o colchão. Não se deve saltar a barra e, ao voltar ao chão, o contato deve ser com o mesmo pé que fez o impulso, para em seguida fazer uma corrida para o centro do círculo. • Mesmo exercício, mas aqui se deve saltar realizando a passagem da barra utilizando a técnica de passagem da forma que foi treinada nos exercícios anteriores. • Mesmo exercício. Aumenta-se gradativamente a distância da corrida para 5, 7, 9 até 11 ou 13 passadas, saltando com a técnica final do estilo flop ou salto de costas. Essa sequência de exercícios pode ser aumentada conforme as necessidades ou cada movimento ser treinado isoladamente, através de exercícios educativos, para corrigir ou melhorar as ações técnicas do salto. A seguir citamos sete exemplos para o condicionamento físico específico para o saltador: • Em decúbito dorsal, fazer a ponte: elevar o quadril mantendo o apoio dos pés e das mãos no chão por cima dos ombros. 144 • Saltos à vertical: elevando o joelho da perna livre flexionada e tentando colocar a cabeça em uma bola suspensa no ar. • Saltos no mesmo lugar com pequenos halteres nas mãos, usando apenas a perna forte para fazer a impulsão. A perna livre se eleva flexionada. • Saltos em progressão para cima e para frente, alternando o pé de impulso. • Ficar em pé, com halteres nos ombros e a ponta dos pés apoiada em um plano elevado. Na execução, elevar o corpo impulsionado pela extensão dos pés, subir e voltar. • Meio agachamento com halteres nos ombros. • Com halteres nos ombros, fazer a posição a fundo alternando a perna, que se afasta para frente. 6.1.3 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO A ordem em que os saltadores farão suas tentativas será definida por um sorteio ou conforme regulamento da competição. Para começar a prova, o árbitro anuncia a altura inicial e as alturas subsequentes nas quais a barra (sarrafo) será elevada. Cada saltador terá direito a três tentativas no local em que a barra estiver colocada, e ele poderá iniciar suas tentativas em qualquer altura em que a barra estiver fixada. Independentemente da altura em que estiver saltando ou das falhas que cometer, o saltador não poderá ter mais de três falhas consecutivas. 145 Dessa forma, após ter falhado uma vez em uma determinada altura, ele poderá deixar de saltar os demais saltos a que tem direito para usar as tentativas restantes na próxima altura. Mesmo depois que todos os demais atletas já tenham terminado suas participações, um único saltador tem direito a continuar suas tentativas até perder o direito a continuar saltando, isto é, após três falhas consecutivas. As alturas nas quais a barra será elevada nunca deverão ser inferiores a dois centímetros, e a impulsão para o salto deverá ser feita em apenas um pé. Será considerada falha se o saltador, de alguma forma, derrubar a barra ao realizar sua tentativa ou tocar o solo além do plano dos postes, incluindo a área de queda, antes de ter feito o salto. Se a barra for derrubada por algum fator externo, vento, por exemplo, a tentativa não será classificada como falha. A distância entre os postes de suporte da barra não deverá ser inferior a 4 metros. Será vencedor o saltador que ultrapassar a maior altura. Em caso de empate, devem ser adotados alguns procedimentos. Será considerado vencedor o saltador que: • 1º – Tiver o menor número de saltos realizados na altura em que ocorreu o empate. • 2º – Tiver o menor número de saltos falhos em toda a competição. • 3º – Se aindapersistir o empate, devem permanecer na mesma colocação, a não ser quando se trata do primeiro colocado. Neste caso, a barra será elevada ou abaixada, com direito a apenas uma tentativa, até que alguém falhe. 146 Exemplo: Os atletas C, D, A, E (tabela anterior) terminaram empatados, com 2,00 m ultrapassados. Aplicando os critérios de desempate, chegamos à classificação final. Pelo primeiro critério de desempate, o competidor D e A continuam empatados, já o C e o E na mesma altura falharam duas vezes. Aplicando o segundo critério, o D vence o A por ter menor número de falhas em toda a competição, sendo o vencedor, e o A fica em segundo. No terceiro lugar houve empate entre C e E em 2,00 m, porém o C fica em terceiro porque tem menos falhas que E em toda a competição. Finalmente, o saltador B ficou em último lugar porque saltou menos que os demais. 6.2 SALTO COM VARA Assim como outras disciplinas do atletismo, o salto com vara não apresenta uma origem exata, pois acaba se confundindo com diversos 147 movimentos usados para a sobrevivência de muitos povos na Antiguidade (FREITAS, 2009). Os primeiros relatos sobre o salto com vara provêm de várias partes do mundo, tendo funções e objetivos específicos, mas é na Grécia Antiga que são registradas as primeiras provas em que se utilizava uma vara para a execução de um salto em competições. Na Espanha destaca-se uma atividade muito semelhante aos saltos praticados pelos gregos. Todavia, em vez de cavalos, são realizados saltos sobre touros. Há informações de que são praticados desde o século XVIII e XIX, como podemos notar na imagem a seguir (FREITAS, 2009). Esse tipo de exibição ainda ocorre no festival de San Firmin (São Firmino), juntamente com as touradas, em que os competidores saltam sobre os touros com auxilio ou não de uma vara. Além do intento esportivo ou para atividades como travessia de rios e lagos, o salto com vara era utilizado para fins militares (FREITAS, 2009). 148 Segundo o autor, na Antiguidade o salto com vara poderia ser agrupado com as seguintes características e objetivos: • Primeiros relatos com os povos gregos e celtas como prática esportiva. • Com o fito de aspecto utilitário – para transpor obstáculos naturais como valas e rios. • Usados como forma de defesa ao ataque de animais ferozes ou em uma perseguição, além de exibição acrobática com animais. • Treinamento de jovens gregos, que utilizavam as próprias lanças como implemento para o salto – para ser usado com recurso em batalhas, tanto em fugas como em ataques. • Fazia parte de rituais religiosos do povo celta. • Aplicado pelos irlandeses para vencer distâncias como altura. Seguindo para a Idade Moderna, na Holanda havia um esporte chamado de fierljeppen, que pode ser considerado uma evolução do uso diário da vara para saltar lagos, muros e rios. Neste esporte, o objetivo é saltar sobre um canal com água, atingindo a maior distância possível (FREITAS, 2009). O atleta faz uma corrida sobre uma plataforma de madeira, sem a vara ou o implemento, que estava no fim da plataforma, já com sua ponta apoiada dentro da água. Então, com o impulso da corrida, o saltador tinha que tentar chegar até a outra margem. Eles poderiam alcançar distâncias de mais de 20 metros (FREITAS, 2009). 149 A técnica inglesa era um pouco diferente do que conhecemos hoje, o atleta se deslocava em baixa velocidade, e quando apoiava o implemento no solo, ele o escalava até transportar o sarrafo (obstáculo) por completo e jogava a vara para trás (FREITAS, 2009). Inicialmente as varas eram de madeira, o que as tornava muito pesadas, e carregá-las tornava-se um trabalho com muita dificuldade. Esse tipo de vara 150 foi utilizado somente na primeira edição de Jogos Olímpicos (1896), pois nos Jogos de Paris (1900) passaram a ser de bambu (FREITAS, 2009). Na década de 1950, as varas de metal foram aplicadas. Não apresentavam uma melhora significativa nos resultados obtidos em comparação à vara de bambu, mas promoviam maior acessibilidade ao implemento aos atletas. Os materiais sintéticos surgem como opção para a substituição do metal nas varas, principalmente a fibra de carbono, fibra de vidro, epóxi ou uma combinação dessas substâncias, que começaram a ser usadas pelos americanos em 1956. Esse material assegurou uma nova fase à disciplina. Observou-se que não era necessário que somente atletas altos e velozes participassem da prova, pois o utensílio possuía flexão extraordinária, proporcionando uma espécie de efeito de estilingue, o que é explicado pela utilização da energia cinética produzida pelo movimento da vara. 151 A mudança de material, juntamente com algumas alterações técnicas, viabilizaram alterações significativas nos resultados alcançados. Isso pode ser observado no estudo realizado por Froes e Haake (2001), que analisaram as marcas de 1896 até 1996. 152 6.2.1 TÉCNICA DE SALTO O salto com vara é uma modalidade do atletismo que possui técnica muito complexa, que é composta de várias fases e subfases que se interligam e apresentam uma estrutura rítmica (PEREIRA, 2002). Além do aspecto rítmico, o salto exige um conjunto de habilidades motoras e capacidades físicas, o que requer um equilíbrio entre tais faculdades e aptidões no mesmo indivíduo, que deve ter uma boa estrutura psicológica (MARTINS, 2007). Muitas vezes a disciplina de salto com vara é comparada às atividades desenvolvidas pela ginástica, ou seja, uma atividade gímnica, o que ocorre por conta das características do movimento que acontecem principalmente na fase aérea (MARTINS, 2007; FREITAS, 2009). De acordo com a literatura, não há um consenso a respeito de uma nomenclatura uniforme ou padronizada para essas fases. 153 154 Além da complexidade do movimento, a diferença entre a vara rígida e a flexível provoca alterações técnicas no movimento, por isso vamos descrever as técnicas para ambas. Apesar de a vara flexível ser usada em competições de alto rendimento, nem todos os locais terão acesso a ela. Isso ocorre devido ao seu alto custo, por isso muitos optam pela vara rígida. Matthiesen (2014) considera que as fases do salto com vara são: empunhadura, corrida, preparação para o encaixe e o salto, que envolve as fases de impulsão, elevação, giro e transposição e, por último, a fase da queda. 155 • Empunhadura: é preciso manter a vara na posição horizontal, com a ponta em ligeira elevação. O braço que está à frente deve estar em um ângulo de 90º, quase que paralelo ao solo, sendo que a mão apanha a vara por cima, principalmente utilizando o polegar e indicador (com a palma da mão voltada para baixo). O outro braço que estará atrás também apresenta uma flexão de 90º, com o cotovelo para cima, e segura firmemente bem próximo à extremidade da vara. A posição de mão de trás pode variar de acordo com o aluno ou atleta, e o ideal é que a palma da mão esteja voltada para cima. • Corrida: deve ter uma velocidade progressiva, e, quanto maior for a velocidade final, com maior altura será o salto. Contudo, mais difícil será o controle da impulsão. Com a vara posicionada do lado contrário à perna de impulsão, com a ponta da vara elevada, ela é abaixada à medida que vai se aproximando do encaixe para realizar esta próxima fase. • Preparação para encaixe: durante a corrida, ocorre a troca da posição da vara. Nos últimos três passos, a vara começa a ser abaixada suavemente em direção à área de encaixe. Um detalhe relevante é que a velocidade de corrida não pode ser diminuída nem haver nenhum tipo de frenagem, e sim o preparo para a impulsão. • Encaixe, impulsão e elevação: em relação ao encaixe, o principal é ter uma boa colocação davara, com coordenação da movimentação de braços, deslocamento do peso do corpo e a velocidade sendo transferida para a vara com a menor desaceleração possível. Com a execução do encaixe, neste instante é realizada a elevação. 156 Esta ação deverá ser feita de modo suave: a perna contrária da mão que está à frente deverá elevar o joelho, ou seja, a perna de impulsão é a que está do mesmo lado da mão que vai à frente. Se todas as fases anteriores forem bem executadas, a elevação, principalmente em direção ao sarrafo, vai produzir um bom salto. O trabalho dos membros inferiores é essencial nesta fase. A vara estará ao lado dos ombros, com a impressão de que o corpo está enrolado, ou seja, em uma posição grupada. À medida que ocorre a elevação, as pernas são estendidas, ficando praticamente paralelas à vara e junto ao corpo. Então, há uma inversão do corpo: as pernas ficam estendidas para cima e a cabeça para baixo. A diferença entre a vara rígida e a vara flexível é que, devido às forças que atuam na vara flexível, este trabalho de elevação é muito mais intenso. • Giro: vai ocorrer no fim da fase de impulsão, na qual o corpo executa uma rotação em 180º cruzando uma perna sobre a outra, não realizando nenhum tipo de movimento lateral. Com esse giro, é efetuado o último impulso 157 para conseguir fazer a transposição da barra, estendendo os braços e dando um empurrão para cima. • Transposição: quando se solta a vara. Se todos os movimentos anteriores forem bem executados, o soltar a vara é simples e natural, empurrando-a na direção contrária ao salto para que ela não derrube a barra. Lembrando que a transposição é uma consequência da fase de giro, anteriormente descrita. Poderá ser feita de uma maneira lateral ou ventral (sobre o abdome). • Queda: operada após a transposição da barra, hoje é feita sobre um colchão, com isso os atletas caem de costas nele. No início da modalidade, a queda era feita em pé, pois não havia um colchão para cair, mas sim uma caixa de areia fofa. 158 Como discorrido até o momento, o salto com vara é um conjunto de movimentos inserido em diversas fases. Atualmente os recordes são: O atleta brasileiro de destaque nesta disciplina é Tiago Braz, que conquistou a inédita medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016), atingindo a marca de 6,03 metros. 6.2.2 METODOLOGIA PARA O ENSINO E DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA O ensino da técnica do salto com vara, mesmo apresentando uma complexidade elevada, pode e deve ser ensinado a crianças. O ideal é primeiro usar a vara rígida e em seguida realizar a transição para a vara flexível. O 159 ensino com a vara rígida ocorre pela facilidade a materiais como cabos de vassoura e bambus com tamanhos menores. É necessário ter atenção com a integridade do aluno para não haver acidentes nas quedas. Assim, é essencial fazer a correta adaptação no uso do material e destacar bem os aspectos técnicos. O primeiro ponto a ser trabalhado é o conhecimento do aluno sobre a vara, pois ele deve criar consciência de que é um instrumento que deve ser manipulado com confiança e, se bem utilizado, vai ajudá-lo a desenvolver a disciplina. Recomenda-se deixar o aluno manipular a vara de diversas formas possíveis. Destacaremos a seguir dez exercícios. • 1º exercício: para iniciação desta manipulação, já com introdução do salto, o aluno deve colocar a vara apoiada no chão na vertical, mantendo um braço estendido mais alto que a cabeça ou o braço flexionado à frente do queixo. Depois, faz uma rápida elevação (impulsão) de joelho contrário ao braço que está à frente do queixo, e assim faz um salto sem soltar a vara. A aterrissagem se dá com os pés unidos. • 2º exercício: ainda com pensamento de manipulação do implemento, os alunos agora devem efetuar o deslocamento com a vara. Eles correm com ela ao lado do corpo em direção a um cone, depois o contornam e voltam correndo. • 3º exercício: a mesma ideia de deslocamento do exercício anterior, porém com atenção para a execução correta da empunhadura. 160 • 4º exercício: uma junção dos três exercícios anteriores, em que o aluno vai realizar o deslocamento. Já com a empunhadura correta, o aluno deve operar o encaixe em um local determinado e fazer um salto em distância. Para tal, precisa fazer a elevação do joelho para execução de uma impulsão vertical e cair com as pernas unidas. • 5º exercício: nesta etapa o aluno já está familiarizado com o utensílio e com a mecânica do movimento, então é necessário tratar da questão da altura, que muitas vezes pode gerar medos e apreensão no aluno. Este exercício é semelhante ao 1º: parado, o aluno faz um salto para frente realizando a impulsão do joelho, mas nesta etapa esse salto será efetuado em uma altura mais elevada – sobre plintos ou sobre um degrau superior ao plano em que a vara está apoiada. Portanto, o aluno deverá posicionar a vara sobre seu ombro (com a mão que está mais alta na vara), inclinar seu corpo à frente, fazer o movimento com o joelho contrário à mão que está acima e realizar o salto caindo com as duas pernas unidas. • 6º exercício: o mesmo exercício anterior, porém na queda o aluno irá executar o giro, ou seja, anteriormente o aluno fazia a queda caindo de costas para onde ele tinha saltado. Assim, deverá efetuar um giro passando uma perna sobre a outra e cair de frente, olhando para onde ele saltou. • 7º exercício: agora com deslocamento, será necessário saltar uma área determinada. Dependendo da idade do aluno, essa atividade pode ser chamada saltar o rio ou saltar a água. O aluno deve correr com a empunhadura correta e empreender o salto sobre esta área onde ele não pode cair, ou seja, deve cair depois dela. 161 • 8º exercício: nesse instante, é preciso fazer os exercícios 5 e 6 (nesta ordem), porém com deslocamento, tendo atenção para a empunhadura, o encaixe, a elevação e a impulsão. • 9º exercício: com auxílio do professor, deve-se processar o salto sobre o sarrafo. Para tal, o aluno faz o encaixe vindo em deslocamento, e o professor auxilia na impulsão, tracionando a vara enquanto o aluno realiza a elevação, impulsão, transposição e queda. • 10º exercício: compreende a efetivação do salto com vara completo. Caso não haja colchão ou material para queda, deverá ser operada com os pés, com as duas pernas realizando o amortecimento. Caso tenha o material para queda, deve-se executá-la sobre as costas. Segundo Matthiesen (2014), os erros mais comuns são: A área em que a disciplina do salto com vara é desenvolvida possui o encaixe, o suporte para barra, a área de queda e, por fim, a vara. A área de encaixe tem como função ser o ponto de apoio para o atleta encaixar seu artefato e assim obter a impulsão para a realização do salto. 162 O material deve ser confeccionado para que o competido adquira estabilidade e não enfrente percalços durante as fases do salto nas quais não há contato com o solo. A determinação para provas oficiais de como esta área e o aparelho de encaixe devem ser confeccionados está descrito na regra 183.8 da CBAt. Após o atleta utilizar o encaixe para a impulsão, deve ultrapassar a barra que está apoiada em um suporte, que também leva o nome de poste. Os postes devem ser rígidos e suas partes mais baixas devem ser cobertas por um material acolchoado para sua segurança no momento da queda. A barra que os esportistas devem ultrapassar sem derrubá-la deve estar apoiada em um suporte. Se houver qualquer tipo de toque do saltador, ela deverá cair com facilidade em direção à área de queda. Antes do início da prova, o atleta pode solicitar a alteração da altura da barra, mas deve fazê-lo comunicando o árbitro responsável. 163 Quando se inicia o tempo de contagem parao salto, a altura da barra não poderá ser alterada. A barra transversal que deverá ser ultrapassada será feita de fibra de vidro ou material similar, jamais de metal. Deve ter comprimento de 4,50 metros e pesar no máximo 2,25 kg. O último instrumento que está presente na área do salto com vara é a área de queda, que deve ter no mínimo 6 metros de comprimento e 6 metros de largura, mais a proteção das regiões laterais da área de encaixe. A área de queda tem como função o amortecimento da queda do atleta após a transposição da barra, sendo ela superada ou não. Está área deve ser coberta por um colchão com 80 cm de espessura para evitar que o indivíduo se machuque no momento da queda. 164 A regra para a confecção da vara (183.11) não determina que tipo de material possa ser aplicado e ainda abre a possibilidade de combinação de materiais. Como vimos, pode haver uma combinação entre fibra de vidro, fibra de carbono e epóxi. O diâmetro e comprimento da vara também não são fixados pela regra, pois o atleta pode alterar a vara a ser usada para cada altura que saltar. O competidor ainda pode cobrir a vara com fitas adesivas para proteção da mão e proteção da vara, desde que este revestimento não provoque alterações bruscas do diâmetro do utensílio em alguma região. Ele deve usar suas varas, só podendo utilizar as varas de outros competidores com o consentimento deles. Nesse contexto, é imprescindível conhecer as regras que compreendem as ações durante a prova. 165 A regra 181 dispõe as condições gerais para as provas de saltos verticais, ou seja, salto em altura e salto com vara. O atleta tem até três tentativas para conclusão correta do salto, ou seja, deve ultrapassar a barra sem cair do suporte, com a altura estabelecida antes dos saltos. Independentemente da altura nas quais as falhas ocorram, ele é desclassificado da prova com três falhas consecutivas. O esportista que concluiu o salto em determinada altura não poderá saltar novamente naquela altura. A altura da barra no salto com vara poderá ser elevada a cada 5 cm. Vence aquele que ultrapassar a maior altura da barra. Caso houver empate, os procedimentos a serem adotados são (regra 181.8): • Vence o atleta com o menor número de saltos na altura na qual ocorreu o empate. • Caso o empate persista na condição anterior, será considerado vencedor o atleta que tiver a menor quantidade de saltos falhos, incluindo a última altura ultrapassada pelos competidores. A tabela de pontuação deve exibir todos os saltos realizados pelos atletas, mesmo os que foram considerados falhos. 166 OS LANÇAMENTOS Para encerrar o estudo do atletismo, nesta última unidade vamos abordar os aspectos técnicos, pedagógicos e regras básicas de competição que fazem parte deste grupo de provas. Os lançamentos envolvem as provas menos populares do atletismo e por isso as menos praticadas pela população de uma forma geral e pouco divulgadas em nosso país, mas são tão importantes como todas as outras. 167 Essa modalidade possui notabilidade pelos desafios físicos envolvidos na prática e por ser uma das mais antigas, como pode ser visto na figura da estátua do discóbolo de Myrón, que representa um valioso suporte iconográfico para relacionar certos acontecimentos desportivos de grande repercussão mundial como os Jogos Olímpicos. Além de elemento para divulgação de eventos da educação física, é utilizado como símbolo da própria Educação Física. Figura 72 – Famosa estátua grega do discóbolo de Myrón de Euléteras, 445 a.C., símbolo da Educação Física Estudamos a técnica dos lançamentos através de uma análise da mecânica dos movimentos que são efetuados em sequência. Cada ação que compõe a sequência tem um início, um desenvolvimento e um fim, cada uma delas com uma finalidade específica. Assim, na soma de todos os movimentos exercidos em cadeia, são definidas as técnicas e estilos de cada um dos lançamentos. Para entender melhor a técnica de lançamento completo, o conjunto das ações realizadas é dividido em fases. Cada etapa tem uma denominação técnica própria e fito particular, portanto, para estudar a técnica, precisamos analisar cada uma delas para compreender os lançamentos. Todos eles são compostos de fases comuns e que têm o mesmo nome, porém os movimentos executados são diferentes. 168 Assim, para fazer a análise da técnica dos lançamentos, devemos identificar em cada um as seguintes fases: empunhadura; posição inicial; deslocamento; posição final; arremesso ou lançamento; troca de pés ou reversão. A empunhadura consiste na maneira pela qual o implemento é agarrado ou manuseado, como a mão segura o peso, o dardo, o disco e o martelo. Ela é determinada segundo a forma de cada um dos utensílios. Posição inicial Agora dentro do círculo para peso, disco e martelo ou corredor de lançamento para dardo, após fixar o artefato na mão, dependendo do tipo de lançamento que vai ser realizado, o atleta se coloca concentrado em uma posição favorável ao início de lançamento e, quando se sentir confortável, inicia o deslocamento. Deslocamento O deslocamento tem o intuito de movimentar o corpo para quebrar a inércia utilizando da melhor maneira possível o espaço do círculo ou corredor e, com isso, adquirir velocidade e acumular força, que serão utilizadas no momento de lançamento. Posição final 169 Ao encerrar o deslocamento, o corpo deve terminar em uma posição que favoreça o equilíbrio e faça com que a velocidade e força acumuladas possam ser transmitidas a partir do chão, passando por todo o corpo e encerrando na mão que vai arremessar ou lançar. Arremesso ou lançamento Essa fase é decisiva para o resultado da marca conseguida pelo arremessador. Se todas as etapas anteriores foram operadas com perfeição ou muito bem coordenadas, a possibilidade de sucesso é muito elevada. Troca de pés ou reversão Executado o lançamento, após a saída do implemento da mão do arremessador, o corpo se desequilibra para frente devido à ação da força centrífuga atuante nesse instante. Como isso acontece no limite final do círculo ou do corredor de lançamento, para não cometer uma falta e perder sua tentativa, o atleta realiza uma troca rápida dos pés, colocando o pé de trás no lugar do que está à frente. Essa ação possibilita o controle do equilíbrio do corpo. O competidor pode sair do círculo ou do corredor somente quanto estiver parado. Com base nos movimentos feitos em cada uma das fases, podemos definir os exercícios. Uma técnica eficaz depende não apenas de uma excelente execução dos movimentos técnicos, mas também de velocidade e força. Técnica de lançamento eficaz é toda aquela na qual o atleta aplica as forças de todo o seu corpo durante a maior distância possível (força x distância = trabalho) e, portanto, durante o maior tempo possível (força x tempo 170 = impulso), já que a velocidade com que o objeto lançado abandona a mão é proporcional à média da força aplicada sobre o centro de gravidade do objeto. Em igualdade de circunstâncias, uma força total do corpo maior produzirá uma maior velocidade e uma maior distância, já que força = massa x aceleração (DYSON, 1978, p. 189). Na sequência, vamos analisar cada um dos lançamentos com as suas características técnicas, metodologia para ensino e desenvolvimento. Todas as técnicas a serem avaliadas serão feitas para lançamentos realizados por indivíduos destros. ARREMESSO DE PESO Visão histórica Iniciamos falando sobre alguns aspectos que marcaram a história do arremesso de peso. Não existe nenhum registro sobre a prática do arremesso de peso nos Jogos Olímpicos na Antiguidade. Há apenas menções de competições de arremessos de pedras entre os soldados gregos,relatadas por Homero durante o cerco da cidade de Tróia. 171 O primeiro registro de competições com arremessos vem da Escócia e remontam ao século I da Era Cristã. No século XVI, o rei Henrique VIII da Inglaterra já participava de competições de lançamento de martelo. Na Idade Média ocorreram os primeiros eventos semelhantes ao arremesso de peso moderno: soldados, em várias partes da Europa, competiam arremessando bolas de canhão o mais longe possível. No século XIX, os escoceses promoviam torneios de arremesso de cubos de pedras a distância por trás de uma linha traçada no chão. Também na Escócia, no início do século XIX, chegaram os primeiros registros da competição que conhecemos hoje, que mais tarde passaram a fazer parte do Campeonato Britânico do Atletismo Amador, que começou em 1866. Desde os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna realizados na cidade de Atenas, em 1896, o arremesso de peso já era disputado pelos homens, e somente a partir de 1948 passou a contar com a participação das mulheres. Hoje o arremesso é uma prova regular do atletismo, disputada em todos os níveis de competição e em qualquer parte do mundo. Até o momento, o recorde mundial masculino pertence ao norte- americano Randy Barnes – com 23,12 m, e o feminino é da soviética Natalya Lisovskaya – com 22,63 m. No início dessa forma de disputa, apenas indivíduos fortes participavam. No decorrer dos tempos, com o avanço da ciência do esporte, da tecnologia, e dos praticantes, dotados de grande estatura e respeitável peso corporal. 172 Hoje essas características não bastam, é preciso melhorar a velocidade, a resistência e aumentar a força em todas as suas possibilidades. Além dessas exigências, ao longo do tempo, a técnica evoluiu muito com a descoberta de novos estilos. Até então, o arremesso era feito atrás de uma linha traçada no chão. A partir de 1896, passou a ser executado dentro de um círculo de 2,13 m de diâmetro, que era o espaço máximo para o atleta se deslocar e arremessar. Em 1920, desenvolveu-se um grande interesse por essa prova e na década de 1940 inaugurou-se um período auspicioso para essa atividade, que marcou o uso do estilo ortodoxo, cuja posição inicial, deslocamento e posição final eram realizados com o corpo na posição lateral. Nessa época, Jim Fuchs, além de quebrar o recorde mundial, contribuiu para uma evolução técnica utilizando um novo estilo: iniciava o arremesso com o corpo na posição lateral e terminava com as costas voltadas para a direção do arremesso. Esse novo estilo revelou um nome que marcou a história dessa modalidade, o norte-americano Parry O’Brien, a partir de 1952. Ele estudou muito esse estilo praticado por todos e concluiu o seguinte: se, ao arremessar, o atleta terminava de costas após o deslocamento, então seria melhor começar de costas para a direção do arremesso, fazendo com que o peso percorresse maior distância durante o deslocamento do indivíduo no círculo, o que possibilitaria a ele adquirir maior impulsão e velocidade e com isso cair mais longe ao ser arremessado. 173 Esse novo estilo propiciou a quebra seguida de recordes até o início dos anos 1970, quando um russo inovou a modalidade com um estilo revolucionário cujo deslocamento no círculo era idêntico ao giro de lançamento de disco, que passou a dominar o cenário e hoje divide com o estilo de costas a preferência dos praticantes dessa prova. Como vimos, tal evolução promoveu a quebra constante das melhores marcas para a prova. Era de 15,54 metros em 1896, e hoje já registramos os respeitáveis 22 metros, tanto no masculino quanto no feminino. Para se ter um panorama geral sobre a evolução dos índices, apresentamos na tabela adiante os principais resultados que marcaram a história do arremesso de peso. Nota-se que, desde 1950, os esportistas mais altos e mais velozes foram aumentando suas marcas de forma expressiva. Tabela 15 – Evolução das marcas do arremesso de peso Ano Melhor marca Atleta País Estilo 1896/1920 15,54 m Ralph Rose Eua Lateral 1910/1920 15,73 m Pat McDonald Eua Lateral 1920/1930 15,26 m Bud Houser Eua Lateral 1940/1950 17,95 m Jim Fuchs Eua Lateral 1950/1960 19,25 m Parry O’Brien Eua Costas 1968 21,78 m James Randel Eua Costas 1973 22,00 m Aleksandr Rússia Rotacional 174 Baryshnikov 1990 23,12 m Randy Barnes Eua Rotacional Hoje ainda os estilos de costas (Parry O’Brien) e o rotacional continuam sendo os praticados. 7.1.1 TÉCNICA DE ARREMESSO Estudamos que todos os lançamentos são compostos de seis fases e que cada um é realizado de acordo com o tipo de lançamento. Para se conhecer a técnica de arremesso, faremos uma análise mecânica das ações que compõem o conjunto de todos os movimentos, feitos em cadeia, para proporcionar o melhor resultado. Para isso, vamos analisar os estilos predominantes que são o de costas, também conhecido como estilo Parry O’Brien e o estilo com rotação ou rotacional. Como vimos anteriormente, todos os lançamentos são compostos de seis fases onde cada uma é efetuada de acordo com o tipo de lançamento. 7.1 FASES DA TÉCNICA NO ESTILO DE COSTAS OU PARRY O’BRIEN 175 7.1.1 EMPUNHADURA É a forma com que o peso é segurado ou empunhado pelo arremessador. Após a entrada, o arremessador prepara o implemento para ser arremessado. Para isso, o peso deve ser colocado sobre a mão, que fica flexionada no punho. O utensílio é suportado pelos três dedos internos (indicador, médio e anular) e fixado lateralmente pelo mínimo e o polegar. A palma da mão fica por baixo. Empunhado, o peso deve ser colocado sobre o ombro em contato com o pescoço. Com um pequeno giro da cabeça para a lateral, coloca-se o queixo sobre o objeto e assim ele ficará fixado e posicionado para ser arremessado. Figura 73 – Empunhadura do peso e posição inicial 7.1.1 Posição inicial 176 Com o peso empunhado corretamente, o atleta se coloca em pé no início da metade de trás do círculo com as costas voltadas para a direção do arremesso, com o outro braço estendido elevado à vertical. Os pés são fixados em pequeno afastamento para frente com o pé correspondente ao braço de arremesso posicionado atrás, tocando o chão apenas com a ponta dos artelhos. Observação: Usaremos as letras correspondentes aos movimentos da figura a seguir (de “a” a “g”) para estudar suas devidas descrições. 7.1.2 Deslocamento (a, b, c) Colocado nesta posição, o corpo iniciará o deslocamento para trás, em linha reta, através de uma ação conjunta de todo o corpo. Para isso, o corpo se inclina em direção ao solo, o que projeta o tronco para fora do círculo. Ao mesmo tempo, eleva-se a perna de trás, que fica na posição horizontal. Dessa posição, com um movimento de flexão de ambas as pernas, o corpo se agrupa (posição b), e depois, através de uma extensão simultânea e veloz das duas pernas para trás, desloca-se para a retaguarda arrastando o pé que estava à frente até o centro do círculo ao mesmo tempo em que o pé de trás, ainda elevado, busca o contato com o chão no fim do círculo, próximo ao anteparo. 7.1.3 Posição final (d) 177 Após esse deslocamento, o corpo se posiciona ligeiramente na lateral, com o pé direito no centro do círculo e o esquerdo no fim, junto à parte interna do anteparo, já preparado para arremessar. 7.1.4 Arremesso (e, f) Com o corpo na posição final após o deslocamento, o peso de todo o conjunto do corpo está situado sobre a perna direita semiflexionada no centro do círculo. Dessa posição, o corpo se estende com velocidade, ao mesmo tempo em que o tronco gira para ficar na posição de arremesso. Simultaneamente, o braço que vai arremessar começa a ser estendido e a empurrar o peso do pescoço para cima e para frente em um ângulo de aproximadamente 45 graus. Após o braço se estendertotalmente, o peso abandona a mão. Em resumo, o peso é arremessado após uma ação de extensão em cadeia de todo o corpo, iniciando pelas pernas, passando pelo tronco e encerrando no braço, o que irá transferir toda a força e velocidade, criada no deslocamento, para o peso, que abandona a mão e assim se dá o arremesso. 7.1.5 Troca de pés ou reversão (g) Após o peso ser arremessado, devido à força centrífuga criada, ocorre um grande desequilíbrio do corpo para frente. Como isso acontece nos limites finais do círculo, para não cometer uma falta de invasão dos limites e ficar 178 parado para sair do local pela metade de trás, o arremessador faz uma troca rápida do pé que está atrás pelo da frente, o que possibilita o controle do corpo. A ação completa do arremesso está representada nas figuras a seguir. Figura 74 – Fases do arremesso no estilo Parry O’Brien 179 Figura 76 – Representação da técnica completa do arremesso de peso;podemos observar: deslocamento (A, B, C), posição final (D) arremesso (E, F) e troca de pés ou reversão. 7.1 FASES DA TÉCNICA NO ESTILO COM ROTAÇÃO A técnica do arremesso de peso no estilo rotacional é a mais recente entre todos os outros estilos. Trata-se de uma inovação utilizada a partir dos anos 1970 pelo atleta russo Alexandr Baryshnikov, que passou a realizar esse novo estilo, cujo deslocamento no círculo deixou de ser retilíneo (como era usado no estilo de costas) e passou a ser executado com giros idênticos ao lançamento de disco, mantendo o peso junto ao pescoço, como exige o regulamento dessa prova. Por causa desses movimentos circulares, a nova técnica passou a ser conhecida como rotacional ou arremesso com rotação. Segundo Fernandes (2003a), o emprego desse estilo é mais apropriado para competidores de altura superior a 1,90 m, o que o torna, nessas condições, mais eficaz que o estilo Parry O’Brien. 180 Para entender essa técnica, vamos estudar suas fases. • Empunhadura A empunhadura é a mesma utilizada no estilo de costas. Figura 77 – Empunhadura do peso • Posição inicial A partir dessa fase, começa a diferença principal entre os dois estilos. Nesse tipo de arremesso, após entrar no círculo, o atleta se posiciona de costas para a direção do arremesso com o peso do corpo distribuído sobre as duas pernas com os pés em afastamento lateral. Então, concentra-se para iniciar o giro (caso para o arremessador destro). • Giro A partir da posição inicial, o movimento para o giro começa com uma leve rotação do tronco para o lado, ao mesmo tempo em que as pernas se flexionam levemente, transferindo o peso do corpo para o lado direito. Dessa posição começa o giro com eixo no pé esquerdo. O pé direito é lançado para o lado esquerdo em forma de um chute até chegar ao centro do 181 círculo, onde se apoiará para se transformar em eixo para a continuação do giro do corpo. Ao tocar o chão no centro do círculo, o pé esquerdo, que está se movendo no ar, é projetado para o fim do círculo para apoiar-se no chão próximo ao anteparo. Depois, o corpo realiza em sequência dois giros: o primeiro feito sobre o é esquerdo no começo do círculo, e o segundo sobre o pé direito, que está no centro do círculo. Assim, são efetuados os dois semicírculos ou giros, que caracterizam o estilo rotatório ou arremesso com rotação. • Posição final Os giros são concluídos com o corpo se posicionando lateralmente e se preparando para a execução do arremesso. Nesse momento, o peso do corpo está distribuído sobre os dois pés, acentuadamente no direito, com as pernas ligeiramente flexionadas. • Arremesso Da posição final, o peso começa a ser arremessado. Isso ocorre com a extensão completa do corpo para cima e para frente. Toda a força e velocidade 182 criadas durante os giros são transferidas para o peso, e assim ele é projetado para o espaço através da extensão veloz do braço e dos dedos. • Troca de pés ou reversão O arremesso provoca um desequilíbrio para frente do tronco do arremessador, que precisa retomar o controle para não cometer uma falta e também poder deixar o círculo completamente recuperado. Para obter êxito, deve ser feita uma troca da posição dos pés: o que está atrás toma o lugar do que está à frente através de uma reversão rápida entre eles. Essa ação elimina a influência da força centrífuga que está atuando, paralisa o giro e possibilita o controle do corpo para que seja concluída a ação de arremessar. Figura 78 – Sequência completa do arremesso com rotação. 183 7.1.1 METODOLOGIA PARA ENSINO E DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA DE ARREMESSO DE PESO Agora vamos destacar uma sequência pedagógica reduzida, através do método analítico, acentuando os exercícios desenvolvidos a partir dos movimentos isolados da técnica do arremesso completo. Esses exercícios devem ser operados em um campo ou terreno com piso de terra. Também podem ser praticados em uma quadra, substituindo o peso por uma pequena bola medicinal. Vejamos a sequência de exercícios. • Aluno em pé com as pernas em pequeno afastamento lateral, empunhando corretamente o peso junto ao pescoço e acima do ombro, com o outro braço estendido à vertical. — Execução: arremessar o peso verticalmente: fazer uma ligeira flexão das pernas seguida de uma rápida extensão delas, juntamente com o braço de arremesso, que, através da sua extensão, projetará o peso no ar em uma trajetória vertical; enquanto isso, com um movimento contrário, o outro braço, que está elevado, é abaixado lateralmente. Deixar o peso cair diretamente no chão. • Mesmo exercício, só que o peso deve ser arremessado para frente em uma trajetória parabólica com ângulo de 45º. Se o exercício for feito com bola medicinal, pode ser realizado em duplas com um aluno arremessando para o outro. 184 • Posicionado de lado para onde será feito o arremesso, com as pernas afastadas, empunhando corretamente o peso. — Execução: arremessar o peso para frente fazendo um giro de 90º do tronco com eixo sobre o pé da perna contrária. Este pé não deve perder o contato com o chão. • Com o peso empunhado corretamente, posicionar-se em pé com as pernas unidas e o corpo voltado de lado para a direção do arremesso, com o braço esquerdo elevado estendido à vertical. — Execução: fazer uma queda lateral através do afastamento do pé direito, o qual deverá suportar o peso do corpo que recairá sobre ele. Imediatamente essa perna se estende, seguida pelo tronco e pelo braço, que completa o arremesso com giro do corpo para frente, como no exercício anterior. • Na mesma posição inicial do exercício anterior, mas com as costas voltadas para a direção do arremesso. — Execução: fazer um movimento “a fundo”, transferindo o peso do corpo para a perna que se afastou para frente. Dessa posição, estender com vigor o corpo para cima, girando simultaneamente o corpo para frente (giro de 180º) e arremessar como nos exercícios anteriores. 185 7.1.2 REGRAS BÁSICAS DE COMPETIÇÃO O peso deve ser uma bola de metal maciço com superfície lisa e satisfazer às seguintes especificações: Tabela 16 Peso Feminino Masculino menores Masculino juvenil Masculino adulto Mínimo para ser admitido em competição e homologação de recorde 4,00 kg 5,00 kg 6,00 kg 7,260 kg Diâmetro mínimo 95 mm 100 mm 105 mm 110 mm Diâmetro máximo 110 mm 120 mm 125 mm 130 mm O arremesso deve ser realizado dentro do círculo de 2,135 mm com uma borda superior de 6 mm de espessura, e esta deve ser pintada de branco. Na parte da frente do círculo, deve haver um anteparo de madeira pintado de branco, em forma de arco, acompanhando o lado interior do círculo, com 1,22 m de comprimento x 10 cm de altura em sua parte interna. 186Vejamos outras características a seguir. • A competição: o peso pode ser arremessado com uma só mão, partindo do ombro e encostado no pescoço, abaixo do queixo. Não pode ser arremessado de trás da linha dos ombros, isto é, deve ser empurrado diretamente da posição que está colocado para iniciar o arremesso. • Tentativas: quando participarem mais de oito concorrentes, cada um deles terá direito a três tentativas. Classificam-se os oito atletas com os melhores resultados, e então cada um fará mais três arremessos. Nesta fase, se ocorrer empate no oitavo lugar, todos os empatados vão à final. Portanto, os finalistas farão seis arremessos no total, valendo o melhor deles como resultado final da competição. Se a final for realizada em outro período, esses oito classificados farão diretamente seis arremessos para que possam ser definidos os vencedores. Tentativas falhas – o arremesso será anulado quando: — for feito atrás da linha do ombro; 187 — ao terminar sua tentativa, o atleta sair do círculo sem estar completamente em posição de equilíbrio ou não sair pela metade de trás do círculo de arremesso; — após o arremesso, o peso cair no chão fora das linhas que limitam a área de queda; — o competidor demorar mais de um minuto para realizar sua tentativa. • Medição: a medida da distância do arremesso será feita a partir da marca mais próxima deixada no chão na queda do peso, até a parte interna do anteparo. Para isso, o ponto zero da trena deverá estar na marca da queda e a outra extremidade no centro do círculo. Após ser arremessado, o peso deverá ser trazido de volta e colocado próximo do círculo, e nunca arremessado ou rolado de volta. 7.1 LANÇAMENTO DE DARDO O lançamento de dardo, juntamente com o lançamento de disco, está entre as provas mais antigas do atletismo, pois já eram disputadas nos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga. 188 Nos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, em 1896, foi estabelecida a primeira marca oficial para a prova, através do sueco A. Wiger, com 35,81 metros. A partir de 1906, durante os Jogos Olímpicos de Atenas, outro sueco, Eric Lemming, marcou extraordinários 53,89 metros e depois subiu para 62,32 metros. Ele se manteve imbatível até 1920, quando três finlandeses terminaram nos três primeiros lugares nos Jogos Olímpicos e também com o recorde, conseguindo a distância de 66,10 metros. Essa supremacia da Suécia e Finlândia durou até o início de 1953, quando o norte-americano Bud Helder, com novidades na técnica, estabeleceu um novo recorde mundial – com 80,41 metros. Além da novidade técnica no estilo de lançamento, os dardos receberam algumas modificações aerodinâmicas, permitindo um melhor deslizamento no ar. Isso possibilitava o ganho de três metros a mais a cada ano. Com essas constantes novidades de estilo e mudanças na forma do dardo, foi atingida a marca de 98,48 metros, o que levou a discussões sobre a redução da potência aerodinâmica até se chegar ao tipo de implemento usado nos dias atuais. A tabela adiante mostra um panorama da evolução das marcas mais significativas para comprovar a importância dos estudos, que divulgam as novidades atuais. Tabela 17 – Evolução das marcas de lançamento de dardo na história dessa prova Ano Marca Atleta País Dardo 189 (metros) 1896 35,81 A. Wiger Suécia 1906 53,89/62,32 Eric Lemming Suécia 1925 69,87 Eino Pentila Finlândia 1955 81,75 Bud Helder EUA 1956 85,71 Egil Danielsen Noruega planador 1984 91,72 Terje Pedersen Noruega – 85,76 Klaus Fangmeier Alemanha picador 1996 98,48 Jan Zelezny República Checa planador 7.1.1 Técnica de lançamento Para conhecer a técnica de lançamento, faremos a análise das fases que compõem a técnica e o estilo. Usaremos como exemplo as figuras seguintes. 7.4.1.1 Empunhadura Para empunhar o dardo, o arremessador o agarra pela corda, que fica na parte central do dardo, e este fica envolto por uma fina corda. Existem três tipos de empunhadura, que são escolhidas conforme a adaptação do arremessador. 190 • Empunhadura finlandesa ou normal — O dardo é colocado na palma da mão e agarrado atrás do início da empunhadura com os dedos polegar e indicador (parte “a” da figura adiante), e os demais ficam sobre a corda. • Empunhadura americana — Os dedos polegar e médio seguram o dardo por trás da corda, e o dedo indicador fica estendido ao longo do dardo, enquanto o anular e o mínimo seguram na corda (parte “b”). • Empunhadura sueca — Na empunhadura sueca, os dedos indicador e médio pressionam o dardo atrás da empunhadura em forma de alicate, e os demais dedos agarram-no sobre a corda (parte “c”). Figura 80 – Técnicas de empunhadura do dardo: normal ou finlandesa (A); americana (B) e sueca (C) 7.4.1.1 Posição inicial 191 O arremessador entra no corredor de lançamentos para fazer sua tentativa. Para tal, coloca-se em pé na marca inicial da sua corrida preparatória, com o dardo empunhado e posicionado sobre o ombro e na altura da cabeça, com a ponta voltada para frente (figura a seguir). Então, concentra-se e parte dessa posição para lançar. Figura 81 – Empunhadura e posição inicial, primeira fase da técnica de lançamento de dardo. 7.4.1.1 Corrida preparatória A corrida é dividida em duas partes e cada uma é identificada por uma marca no chão feita pelo atleta, portanto é individual. A primeira marca é colocada no início e define a corrida inicial utilizada para aceleração em busca da velocidade ideal, que vai até a marca intermediária. A segunda parte começa na marca intermediária, na qual se inicia a preparação do dardo e do corpo para realizar o lançamento. Nessa marca o arremessador chega com o pé contrário ao braço de arremesso, e a ação do corpo para a execução dessa segunda parte é determinada pelo estilo de 192 lançamento, que pode ser o finlandês ou o americano (que são os mais utilizados). No estilo finlandês, são feitas cinco passadas a partir da marca intermediária: as três primeiras são para preparar o dardo e o corpo ligeiramente à lateral; as duas últimas, através de um salto rasante e rápido, para finalizar estancando ambos os pés no chão, o que transfere toda a velocidade e força acumuladas durante a corrida para o braço que encerra o lançamento. Figura 82 – Passo cruzado e lançamento no estilo finlandês 193 No estilo americano, são sete passadas na segunda parte da corrida. As três iniciais são usadas para preparar o corpo. As quatro finais são realizadas com duas passadas cruzadas: a primeira é rasante, e a segunda ocorre no ar, terminando com os dois pés tocando o solo simultaneamente para frear a corrida e transferir toda a força acumulada para o dardo a ser lançado. 7.4.1.1 Posição final Completado o passo cruzado, acontece um duplo apoio dos pés no chão, com o corpo ligeiramente à lateral e o dardo atrás, com a ponta na altura da cabeça e dirigida para frente. A partir dessa posição, começa a ação de lançamento. 7.4.1.2 Lançamento No momento do duplo apoio, na posição final, a maior parte do peso do corpo está concentrada sobre a perna de trás. Assim, a perna direita começa a se estender e o dardo é puxado simultaneamente para frente, enquanto o corpo também se volta adiante. Dessa forma, toda a força que estava concentrada nos pés é transferida para a perna, o tronco e o braço, e finalmente chega ao dardo, que então é lançado. 7.4.1.3 Troca de pés ou reversão A ação de lançamento, que acontece no fim do corredor, provoca um grande desequilíbrio do corpo à frente. Para se recuperar sem cometer uma 194 falta e sair do corredor da maneira exigida pelo regulamento, o atleta faz a troca do pé que estava atrás pelo da frente. Isso possibilita a retomada de controle do corpo, e assim ele completasua tentativa. Figura 83 – No corredor, o fim da corrida preparatória, o lançamento e a troca dos pés ou reversão. Figura 84 – Segunda parte da corrida preparatória com o passo cruzado, posição final, lançamento e troca dos pés. 195 Observando a figura anterior (e considerando sua respetiva numeração para análise), destacamos: • primeira parte da corrida até a marca intermediária (1); • segunda parte da corrida com o passo cruzado (2, 3, 4, 5, 6); • posição final (7, 8); • lançamento (9, 10); • troca dos pés ou reversão (11). 7.1.1 Metodologia para o ensino da técnica 196 O ensino da técnica de lançamento de dardo, na etapa de iniciação multilateral (dos 8 aos 10 anos de idade), é favorecido pela grande motivação das crianças, uma vez que muitas brincadeiras e jogos podem ser utilizados. Os jogos podem ser aplicados através de desafios organizados ou com atividades envolvende lançamentos com pedras, pedaços de madeira, pequenos bastões, bolinhas de tênis, galhos de árvores e muitas outras coisas. Tais configurações de atividades estão presentes na vida das crianças. Elas naturalmente brincam arremessando ou lançando objetos em muitos tipos de alvos, que podem ser adaptados com a finalidade de iniciar a aprendizagem da técnica e o gosto pelo lançamento. Vejamos alguns exemplos a seguir: • Lançar galhos de árvores, pedaços de madeira, cabos de vassoura etc. o mais longe possível, ou em algum alvo, em forma de competição entre as crianças. • Arremessar pequenas bolas de borracha ou de tênis tentando acertar uma bola grande colocada no chão ou dentro de um aro de ginástica pendurado em algum ponto do local da aula, por exemplo, amarrado no travessão do gol na quadra, ou ainda acertar a tabela do basquetebol. • Alunos ficam com uma bolinha de tênis e são colocados a uma distância de 30 metros de um paredão alto. A bola deve ser lançada ao paredão e voltar de rebote ao aluno que fez o lançamento. 197 • Em duplas, sendo um aluno de frente para o outro – a 15 ou 20 metros de distância. São colocadas em fileira, uma dupla ao lado da outra. Um aluno com a bolinha de tênis a lança fazendo-a quicar dentro de um corredor composto de duas cordas estendidas no chão entre os dois alunos. A força de lançamento deve ser calculada de modo que, após quicar no chão, a bola chegue às mãos do companheiro que está adiante. • Mesmo exercício, só que o aluno se posiciona lateralmente ao paredão. • Mesmo exercício, mas agora partindo da posição lateral, o aluno dá um salto rasante para frente e cruza as pernas no ar e apoia novamente os pés no chão para finalizar o lançamento. Essa forma proporciona mais velocidade para lançar. • Executar o exercício anterior realizando uma corrida prévia de 5 a 10 metros, antes de fazer o lançamento. Os exercícios que acentuamos também podem ser aplicados em formas de jogos. Exemplos: • Queimada É uma forma de brincadeira muito praticada por crianças. Usando uma bola de meia, as crianças se reúnem em um espaço qualquer, limitado de algum modo para definir os limites do local do jogo. 198 — Execução: o jogo começa reunindo todos os praticantes no local e um deles lança a bola à vertical. Quando a bola cair, quem pegá-la deve lançá-la para atingir aqueles que fogem. O fugitivo que for tocado pela bola deverá sair do jogo até que todos sejam atingidos. Ao atingir alguém, a bola deve ser apanhada por outro, que vai tentar acertar alguém, e assim sucessivamente. • A guerra Possui dois grupos com igual número de participantes. Um dos grupos é colocado dentro de uma área demarcada por um círculo, quadrado ou de outra forma, e o outro fica fora dessa área com uma bola de meia, de tênis ou de borracha. — Execução: o jogo começa com o apito dado pelo professor. Nesse momento, o aluno do lado externo, que tem a bola, deve lançá-la contra os alunos do centro do círculo. Aquele que foi atingido deve se retirar. É marcado um tempo para o grupo de fora atingir e eliminar o maior número de oponentes em um determinado tempo (definido pelo professor). Finalizada a rodada, os grupos se invertem, e aquele que conseguir atingir um maior número de adversários será considerado vencedor. 199 • Tiro ao alvo móvel I Há dois grupos. Um fica com bolas de meia ou tênis espalhadas do lado de fora de um corredor marcado no chão, e o outro grupo reúne-se em uma das extremidades do corredor. Execução: ao sinal do professor, o grupo sem bolas deve atravessar o corredor correndo, e o grupo de fora lança as bolas tentando acertar quem está correndo. Vence ou faz um ponto a equipe que conseguir acertar o maior número de adversários. 200 Figura 87 – Jogo para iniciação ao lançamento de dardo: tiro ao alvo móvel • Tiro ao alvo fixo Uma corda é estendida na extremidade de dois postes e nela deverão estar presas folhas de jornais. — Execução: os alunos, com bolas de tênis ou de meia, são fixados em uma distância definida, e, ao sinal do professor, devem lançar a bola contra os jornais até que todas as folhas sejam totalmente rasgadas. Quando realizado em forma de competição, o grupo é dividido em equipes e será a vencedora aquela que demorar menos tempo para destruir todas as folhas. 201 Figura 88 – Jogo para iniciação ao lançamento de dardo: tiro ao alvo fixo • Tiro ao alvo móvel II Traça-se no chão um corredor de 2 metros de largura por 10 metros de comprimento. Então, colocam-se do lado de fora os alunos com bolas de borracha ou de tênis, e são distribuídos dos dois lados ao longo do corredor. 202 — Execução: o professor lança uma bola de basquete ou futebol, que deve rolar pela extensão do corredor, e os alunos devem tentar acertá-la em movimento. Cada aluno que acertar a bola faz um ponto. Vence quem atingir mais vezes o alvo móvel. Figura 89 – Jogo para iniciação ao lançamento de dardo: tiro ao alvo móvel I • Lançar o míssil Partindo atrás de uma linha demarcada no chão, os alunos deverão realizar uma pequena corrida e lançar a bola de tênis o mais longe possível. Vence quem, em dez tentativas, conseguir mais vezes lançar a bola mais longe durante mais vezes. Esses exercícios são aplicados na etapa de iniciação multilateral geral, que envolve a faixa de 8 a 10 anos de idade. Após essa etapa, na qual a criança passou por experiências variadas de lançamentos, começa a etapa de 203 iniciação multilateral em um grupo de provas do atletismo, dos 11 aos 13 anos de idade, e aí tem início o ensino da técnica de lançamento. Agora vamos destacar uma sequência pedagógica (método analítico) reduzida, que pode ser utilizada para a aprendizagem dessa técnica. Vejamos as ações a serem aplicadas: • Mostrar os tipos de empunhadura utilizados para segurar o dardo: normal, finlandesa, americana ou sueca. Após as explicações, o aluno coloca o dardo à sua frente na posição vertical, com a ponta no chão, e segura na empunhadura (experimentando todos os tipos). Aquela que promover mais conforto deverá ser utilizada em todos os exercícios seguintes. • Empunhar o dardo com o braço elevado à vertical ligeiramente apontado para baixo, com as pernas em afastamento anteroposterior, com a perna contrária ao braço de lançamento postada à frente. — Execução: lançar o dardo contra um alvo imaginário que está no chão a 3 ou 5 metros de distância. No ato de lançamento, todo o corpo deve acompanhar o movimento feito para lançar para frente, passando o peso do corpo da perna de trás para a da frente. Fazer o mesmo exercício, mas é preciso partir com os pés unidos, caminhar três passos e lançar o dardo diretamente no alvo imaginário. 204 Figura 90 – Exercício educativo para o lançamento de dardo. • Colocar-se de lado para a direçãodo arremesso, com as pernas unidas e o dardo empunhado sobre a cabeça. — Execução: partindo dessa posição, iniciar o movimento afastando a perna direita para trás, que fica ligeiramente flexionada para suportar todo o peso do corpo, que gravitará sobre ela. Junto com esse movimento, o dardo, que está empunhado acima da cabeça, deve ser posicionado para o lançamento: é levado para trás com a calda quase tocando no chão e a ponta é dirigida para cima. Na sequência, o dardo é lançado sob um ângulo de 30º a mais ou menos 20 metros de distância, com uma trajetória parabólica. Quando o dardo sai da mão, o tronco se desequilibra para frente, passando a perna de trás (direita) à frente para frear o ímpeto do desequilíbrio produzido. • Ficar de frente, com os pés unidos e o dardo empunhado corretamente acima do ombro. — Execução: o exercício é feito em quatro tempos: 205 — tempo 1: dar um passo adiante com o pé esquerdo, levando o dardo para frente. — tempo 2: outro passo com o pé direito, levando o dardo ligeiramente para trás. — tempo 3: mais um passo com o pé esquerdo, colocando o corpo lateralmente e levando o dardo para trás com o braço estendido e a palma da mão voltada para cima. Observação: Essas três passadas são para a preparação do dardo. — tempo 4: lançar o dardo à distância sem se preocupar com a força, mas sim com precisão técnica. Figura 91 – Exercício educativo para o lançamento de dardo. • Mesmo exercício. Contudo, ao lançar o dardo, fazer com mais velocidade, efetuando a troca dos pés ou reversão, portanto finalizando com o pé direito à frente para frear a velocidade e paralisar o deslocamento do corpo. 206 • Exercício para o “passo cruzado”: posicionar-se com o corpo de lado, pernas em afastamento lateral, peso do corpo sobre a perna direita, dardo atrás com o braço estendido e colocando a ponta do dardo próxima da cabeça, apontando-o para frente e ligeiramente para cima. — Execução: partindo dessa posição, realizar um passo cruzado rasante e rápido, terminando na mesma posição da partida. Depois lançar o dardo fazendo a troca dos pés ou reversão para finalizar o exercício. O “passo cruzado” é feito para a preparação do corpo. Figura 92 – Exercício educativo para o lançamento de dardo. • Unir os movimentos dos exercícios, o quinto e o sétimo, o que vai ocasionar um exercício com cinco passadas para fazer o lançamento. • Repetir o exercício anterior e acrescentar uma corrida lenta e ritmada antes do início dessas cinco passadas. 207 • Agora temos o lançamento completo, proporcionado pela realização de todos os movimentos, que foram treinados separadamente e unidos no fim. Os exercícios apresentados a seguir (formativos) são utilizados para o condicionamento físico específico do arremessador, nos quais são trabalhados os músculos e as articulações mais exigidas na efetivação desse tipo de lançamento. Destacaremos dez passos. • Alunos em duplas, colocados em pé e de costas um para o outro, com as pernas unidas, os braços elevados à vertical e as mãos dadas. — Execução: em dois tempos: no tempo um, eles afastam o pé esquerdo para frente, colocando o corpo na posição arqueada, no tempo dois, voltam à posição inicial. • Alunos em duplas, um de frente para o outro, pernas afastadas e estendidas lateralmente, o tronco flexionado na horizontal e as mãos nos ombros do companheiro. — Execução: partindo dessa posição, eles devem forçar os ombros com uma flexão maior em direção ao chão, com três insistências consecutivas, e voltar para a posição inicial para repetir a operação dos movimentos. 208 • Duplas em pé, com alunos encostados um no outro, com as pernas em pequeno afastamento lateral e as mãos dadas com os braços elevados na vertical. — Execução: um flexiona o tronco à frente, levando o outro deitado em suas costas, voltam na posição inicial e invertem as funções. • Alunos em duplas na posição de cócoras, um de costas para o outro e as mãos dadas com os braços na posição vertical. — Execução: ao mesmo tempo, os dois se elevam na posição em pé, projetando o quadril para frente para arquear o corpo e, em seguida, voltam à posição inicial, de cócoras. • Agarrar com as duas mãos um dardo ou bastão apoiado com a ponta no chão, as pernas afastadas lateralmente, o tronco flexionado e os braços estendidos. — Execução: apoiado no dardo, fazer a flexão do tronco para baixo com insistências, exigindo principalmente as articulações dos ombros. • Posiciona-se em pé, com as pernas em afastamento lateral e um dardo ou bastão apoiado na nuca e nos ombros. Os braços devem estar apoiados por cima do dardo. — Execução: fazer a rotação do tronco para ambos os lados, sempre olhando para a extremidade do dardo no lado da rotação do tronco. 209 • Mesmo exercício: fazer a flexão do tronco à frente mantendo as pernas estendidas o tempo todo. • Mesmo exercício, mas fazendo a flexão lateral do tronco para os lados. • Deitar no chão com as pernas flexionadas, os pés no chão e os braços estendidos para trás com uma bola medicinal nas mãos. — Execução: com uma rápida elevação do tronco para a posição sentada, arremessar a bola para cima e para frente o mais longe possível. • Posiciona-se em pé, com o corpo inclinado à frente, segurar uma bola medicinal no chão. — Execução: dessa posição a bola deve ser lançada para trás, por cima da cabeça e o mais longe possível com as duas mãos. O corpo todo deve participar do arremesso, estendendo-se completamente. O olhar deve estar dirigido para a bola no momento em que ela abandona a mão ao ser lançada. 7.1.1 Regras básicas de competição Já estudamos como as regras determinam o local onde se desenvolvem as competições de lançamento de dardo. Essa área é composta de um corredor de 30 metros de comprimento (no mínimo), marcado por duas linhas 210 paralelas com 4 metros distante uma da outra. No fim do corredor, existe um arco de círculo que não pode ser tocado nem ultrapassado quando o dardo é lançado. Nas extremidades desse corredor, partem as linhas que definem a área de queda, onde o dardo deve tocar o chão após o seu lançamento. Figura 93 – Corredor de lançamento e sua respectiva área de queda do dardo. O dardo consiste de três partes: cabeça, corpo e uma empunhadura de corda. O corpo deverá ser de material sólido ou oco, feito de metal ou outro material similar. A cabeça deve ser metálica, terminando em uma ponta aguda; a cauda, uniformemente afilada. No centro de gravidade do dardo, deve ser colocada a empunhadura de corda com espessura máxima de 8 mm. Na competição, o dardo deve ser seguro na empunhadura e ser lançado acima do ombro, sem que em nenhum momento sejam feitos movimentos rotatórios, o que significa que o atleta jamais poderá ter as costas voltadas para a direção de lançamento. Este, por sua vez, só será válido se a ponta do dardo tocar o solo antes de qualquer outra parte do objeto. Quando houver mais de oito concorrentes, cada um terá direito a três tentativas, e os oito melhores classificados terão direito a três tentativas 211 adicionais. Com até oito participantes, cada um terá direito a seis. Se houver empate, o segundo melhor resultado entre os empatados decidirá o vencedor. Por exemplo, em uma competição com trinta competidores, cada um fará três lançamentos de forma alternada, valendo o melhor para classificação. De todos os participantes, os oito melhores seguirão na competição e terão direito a mais três tentativas, totalizando seis lançamentos para esses oito finalistas. Caso a final não seja realizada na sequência e os oito melhores tenham que voltar em outro período, terão direito a fazer seis tentativas, pois neste caso estão participando oito atletas. Destacaremos aspectos que podeminvalidar uma tentativa: • se o atleta tocar com qualquer parte do seu corpo as linhas demarcatórias do corredor ou as áreas externas; • se o esportista soltar de maneira imprópria o dardo; • após ser lançado, o dardo tocar primeiro o solo fora do setor de queda; • se o participante sair do corredor antes do dardo cair no solo; • após cada tentativa, o dardo deve ser trazido de volta para as imediações do corredor, e nunca lançado de volta. 8 LANÇAMENTO COM ROTAÇÃO 212 8.1 LANÇAMENTO DE DISCO O lançamento de disco é a prova mais antiga do atletismo. Criada pelos gregos nos tempos mitológicos e imortalizado por muitos artistas da época em várias esculturas do discóbolo, até hoje encontradas em vários museus importantes espalhados pelo mundo. Essas estátuas nos dão uma ideia de como era realizado o lançamento na época e serviram de base para a evolução da técnica ao longo da história. Passaram por várias mudanças, que permitiram a quebra de marcas, até terem o formato executado nos dias atuais. No início, o lançamento era feito de uma plataforma denominada Balbis, e o disco era supostamente feito de pedra. Se caísse durante o lançamento, o competidor seria desclassificado. Nos primeiros Jogos Olímpicos da Idade Moderna, em 1896, o atleta ficava em um pedestal no qual ele devia saltar para efetuar sua tentativa, e não era permitido realizar giros. Por não ser muito prática essa maneira de lançar, logo em 1897, com a introdução da prova nos Estados Unidos, o lançamento passou a ser feito a partir de um círculo de 2,13 metros de diâmetro, quando começaram a surgir grandes lançadores. O primeiro deles foi Martin Sheridan, que entre 1901 e 1911 quebrou o recorde mundial (com 43,08 metros) em sete ocasiões e foi várias vezes campeão nacional e olímpico. 213 A partir daí, a técnica e as regras foram mudando e tornaram as provas mais atraentes, trazendo melhores resultados. Para diminuir as dificuldades, o diâmetro do círculo foi expandido para 2,50 metros. Com isso, um novo recorde foi estabelecido por James Duncan em 1912, com 47,58 metros. A técnica continuou evoluindo com o aparecimento de novos estilos e as marcas foram aumentando sem parar. Para termos uma ideia concreta da evolução das marcas e recordes, apresentaremos a seguir alguns exemplos mais significativos que contribuíram para a evolução técnica dessa especialidade do atletismo. Tabela 18 – Quadro da evolução das marcas mais significativas no lançamento de disco. Ano Marca (metros) Atleta País 1911 43,08 Martin Sheridan Eua 1912 47,58 James Duncan Eua 1939 52,53 Phil Fox Eua 1968 64,78 Al Oerter Eua 1986 74,08 Jürgen Schult Alemanha Oriental TÉCNICA DE LANÇAMENTO 214 8.1.1.1 Empunhadura ou forma de segurar o disco O disco deve ser disposto na palma da mão na posição vertical e ser sustentado pelos dedos em suas articulações distais, colocados na aresta do disco, com exceção do polegar, que é posicionado no corpo ou na face do disco para ajudar no equilíbrio. O dedo polegar é o fixador do disco, e é pela ponta do dedo que o peso do disco gravitará. A separação entre os dedos, indicador e polegar, depende do tamanho da mão. Quanto maior a mão, maior poderá ser a separação entre ambos. Figura 94 – Forma de empunhar o disco 8.1.1.2 Posição inicial 215 Para iniciar o lançamento, com o disco empunhado, o atleta se posiciona em pé no início do círculo – na metade de trás – e fica de costas para a direção que vai lançar. O peso do corpo fica distribuído sobre os dois pés, com as pernas afastadas lateralmente e os braços naturalmente ao lado do corpo. Então, ele começa a concentração mental para iniciar o deslocamento. 8.1.1.3 Deslocamento Feita a concentração, inicia-se o deslocamento no interior do círculo de 2,50 metros de diâmetro. Para quebrar a inércia da posição inicial e começar o deslocamento, são feitos de um a três balanceamentos preparatórios, e o disco é levado de um lado para o outro do corpo. O tronco acompanha os movimentos dos braços, o que resulta em uma participação total do corpo durante os balanceamentos. São realizados de um a três balanceamentos para começar o deslocamento, que é feito através de dois giros, que são iniciados quando o disco está atrás do corpo no último balanceamento efetuado. Nesse momento, mantendo o disco atrás, o corpo inicia o primeiro giro com eixo no pé esquerdo, enquanto o pé direito é lançado para o centro do círculo. Quando ele toca no chão, passa a ser o eixo do segundo giro para dar sequência ao deslocamento, que termina com a chegada do pé esquerdo tocando o chão junto à borda final do círculo. 216 Assim, o atleta termina o deslocamento com os dois pés apoiados no chão, com o corpo na posição lateral e o disco atrás. Essa posição em duplo apoio dos pés no chão caracteriza a posição final. 8.1.1.4 Posição final Nessa posição, o competidor fica em duplo apoio com o pé direito no centro do círculo e o esquerdo no fim. O disco é posicionado atrás e o peso do corpo fica sobre a perna direita, e então o atleta prepara-se para lançar. 8.1.1.5 Lançamento A partir da posição final, o disco começa a ser puxado de trás, sempre com o braço estendido. Sob a ação da extensão da perna direita e do tronco, o corpo gira e se volta para frente, arrastando o disco de trás até passar adiante do corpo, mantendo o braço sempre estendido até a mão soltar o disco na direção para a qual ele será lançado. O conjunto de todos esses movimentos provoca uma extensão completa de todo o corpo, e no momento que o disco sai da mão ao ser lançado ocorre um desequilíbrio do tronco para frente, acompanhando a trajetória do disco que saiu da mão. Assim, efetiva-se o lançamento. 8.1.1.6 Troca dos pés ou reversão 217 Esse desequilíbrio causado pelo lançamento precisa ser controlado para que o atleta fique parado e depois saia do círculo, concluindo sua tentativa. Para conseguir êxito, deve ser feita uma troca entre os pés: o que está atrás (direito) é lançado para frente no mesmo momento que o outro é levado para trás. Assim, o desequilíbrio é controlado, e, de uma posição parada, o atleta deixa o círculo pela parte de trás, como exige o regulamento. Figura 95 – Sequência da técnica de lançamento de disco. 8.1.2 METODOLOGIA PARA O ENSINO DA TÉCNICA DE LANÇAMENTO Como vimos, a técnica de lançamento de disco é complexa. 218 Os giros do corpo realizados no círculo exigem muita coordenação e equilíbrio, o que dificulta a iniciação à aprendizagem de lançamento, em especial para crianças até os 10 anos de idade. Para que o aprendizado se torne eficiente, é necessário adotar uma metodologia especial para criar a base do aprendizado técnico. Devido ao grande sentido da posição e do equilíbrio que a prova de lançamento de disco requer, a metodologia escolar deve buscar o desenvolvimento do sentido de equilíbrio, assim como fazer as crianças vivenciarem os movimentos com giros em torno do eixo do corpo e, em especial, o eixo longitudinal. Nesse aspecto destaca-se a necessidade de exercícios preparatórios generalizados (FERNANDES, 2003, p. 93). Em razão dessa exigência, para crianças escolares, a metodologia deve ser composta basicamente de exercícios que possam explorar a realização de uma diversificada forma de giros, em pé, sobretudo em torno do eixo longitudinal do corpo, com contínuas mudanças de posição no momento da execução para o desenvolvimento do equilíbrio. Para introduzir o lançamento propriamente dito, nessa faixa etária podem ser utilizados jogos de lançamentos. Assim, aplicam-se implementos improvisados, por exemplo: usa-se uma pequena sacola com uma bola de 1 kg no seu interior. Então, é amarrada uma corda em forma de alça para segurar o instrumento ao ser lançado, e,se as condições permitirem, deve ser utilizada bola com alça própria para essa finalidade. 219 Vejamos uma sequência de alguns exercícios: • Divide-se a turma em equipes. Usa-se a sacola ou bola com alça e pede-se para os componentes de cada equipe lançarem a bola ou sacola improvisada na cesta de basquetebol a uma distância de até 20 metros. Vence a equipe que acertar mais vezes o aro (1 ponto) e encestar (2 pontos). • Mesmo caso anterior, mas agora ganha a equipe que conseguir o melhor resultado computando a maior distância alcançada pela soma da maior e menor distância obtida. • Estende-se uma corda na extremidade superior dos postes da rede de voleibol e os membros de cada equipe são fixados atrás de uma linha de 10 metros de distância. — Execução: lançar a bola ou sacola por cima da corda. Atribui-se um ponto a cada aluno que ultrapassar a bola para o outro lado no lançamento. Vence a equipe que somar mais pontos. • As duplas são dispostas uma ao lado da outra, com uma bola medicinal para cada dupla. O aluno que tem a bola medicinal fica voltado de lado para o seu companheiro, colocado a 15 metros de distância, segurando a bola com o braço direito flexionado para prender a bola entre o braço e o antebraço e mão, com ajuda da mão esquerda. 220 — Execução: lançar a bola para o companheiro, com a mão direita auxiliada pela mão esquerda, realizando um movimento pendular dos braços. O lançamento deve ganhar altura e distância ao mesmo tempo. Com base nos exemplos apresentados, o professor poderá criar outros jogos. Para tal, sempre deve ter em mente que os lançamentos nunca devem ser feitos com alvos baixos, e sim com o fito de ganhar altura e distância o máximo possível. Nesse instante destacamos uma sequência pedagógica para a aprendizagem da técnica de lançamento completo, que deve ser iniciada a partir dos 12 anos de idade. Para essa série, devem ser usadas a bola com alça, as sacolas com uma bola de 1 kg no seu interior, sendo fechada por uma pequena alça para ser segurada ou empunhada com uma mão, uma bola medicinal e o próprio disco. Exemplos: • Crianças ficam em pé, com as pernas afastadas lateralmente e o corpo de lado para a direção de lançamento. — Execução: lançar lateralmente a bola medicinal de 1 kg para cima e para frente contra uma parede de pelo menos três metros de altura, partindo do lado direito em direção ao lado esquerdo. 221 • Mesmo exercício, porém o lançamento deve ser feito com um giro de 90º com eixo no pé esquerdo. Ressaltamos a seguir os exercícios para adaptação ao disco: • Posiciona-se em pé, é preciso empunhar corretamente o disco de acordo com a forma anteriormente descrita no estudo da técnica de lançamento. Deve-se ficar de frente para um companheiro colocado a 10 metros de distância. — Execução: fazer uma pequena flexão das pernas em afastamento anteroposterior e rolar o disco para frente em linha reta pelo chão. O objeto deve chegar ao companheiro colocado à frente sem desviar para os lados. • Deve-se ficar em pé, com o disco empunhado corretamente. — Execução: lançar o disco verticalmente. Para tal, o objeto deve sair da mão empurrado pelo dedo indicador para girar no ar durante sua trajetória ascendente. • Em pé, empunha-se o disco com o braço estendido ao longo do corpo. — Execução: realizar movimentos do braço, de um lado para o outro do corpo, fazendo o disco descrever a figura de um número oito na frente do corpo. Quando é levado da direita para a esquerda, ele deve estar com a face 222 voltada para o chão por baixo da mão e, na volta, com a face voltada para cima, com a mão por baixo. Fazer movimentos sucessivos e descontraídos, melhorando cada vez mais a habilidade de empunhar o disco. • Também em pé, é preciso fazer o afastamento lateral das pernas e ficar com o lado esquerdo voltado para a direção para a qual o disco vai ser lançado. — Execução: com uma ligeira flexão das pernas, levar o disco do lado direito para o lado esquerdo, com a palma da mão por baixo; depois, volta para a direita, com o braço estendido e a mão por cima do disco. O tronco deve acompanhar o movimento do disco, e quando ele for levado para trás no lado direito, o peso do corpo recai sobre essa perna e o disco é lançado para o lado esquerdo através de um movimento de extensão de todo o corpo, que acompanha o movimento do disco até que ele deixe a mão ao ser lançado. • Em pé, com as pernas unidas e o corpo posicionado lateralmente, prepara-se para a direção de lançamento. — Execução: fazer o balanceamento do disco de um lado para outro do corpo. Quando o disco estiver sendo levado para o lado direito, a perna direita se afasta lateralmente para esse lado junto com o movimento do disco. Nesse momento, o disco é lançado da mesma forma que no exercício anterior. 223 • Pernas afastadas lateralmente, com o disco empunhado na mão direita. — Execução: fazer os balanceamentos do disco (duas a três vezes) e lançá-lo com o corpo terminando de frente para a direção de lançamento. Isso deve ser feito sem levar o pé de trás para frente, obrigando, dessa forma, o movimento do quadril e extensão completa do corpo na ação de lançamento. • Iniciar o giro em pé, com as pernas unidas e o disco empunhado na mão direita ligeiramente para trás. O corpo fica de frente para a direção de lançamento. — Execução: deslocar-se em linha reta, dando um passo à frente com o pé direito. Em seguida, fazer um giro do corpo com eixo nesse pé para levar o pé esquerdo adiante do pé direito, terminando de lado, com o peso do corpo distribuído sobre as duas pernas, e a partir dessa posição fazer o lançamento como foi feito no exercício anterior, para terminar de frente. • Posiciona-se em pé, com o corpo de lado para a direção de lançamento, com as pernas afastadas lateralmente e o disco empunhado na mão direita. — Execução: deslocar-se em linha reta na direção que vai lançar o disco, levando o disco para trás fazendo uma pequena flexão das pernas. Na sequência, mantendo o disco atrás e com eixo no pé esquerdo, fazer meio giro do corpo lançando o pé direito para o outro lado em um movimento rotatório, 224 com eixo no pé esquerdo. Quando o pé direito tocar o solo, ele passará a ser o eixo de mais um giro para que o pé esquerdo, ao sair do chão, seja colocado à frente. Assim, deve-se encerrar os dois giros com deslocamento do corpo em linha reta, terminando com o corpo de lado para lançar o disco. Essa ação provoca um desequilíbrio para frente, e é preciso fazer a troca dos pés ou reversão. Figura 96 – Exercício educativo para lançamento de disco com giro e lançamento • Mesmo caso anterior. Contudo, para iniciar o giro, o corpo deve estar voltado com as costas para a direção de lançamento, o que vai acrescentar mais um quarto na trajetória inicial do pé direito. 8.1.2 Regras básicas de competição Quando fazemos referência às regras básicas, o intuito é destacar apenas o necessário para orientar os alunos para que possam participar de uma competição sabendo como devem se portar, e o que pode ou não ser feito. 225 O lançamento deve ser feito de dentro de um círculo de 2,50 m de diâmetro interno, contornado por um aro metálico de 5 cm de largura, pintado de branco. O disco é um implemento em forma de um círculo, composto de um corpo sólido de madeira ou outro material adequado, sendo envolto por um aro de metal com bordas circulares. Vejamos suas especificações: Tabela 19 Disco Feminino Masculino menores Masculino juvenil Masculino adulto Peso mínimo exigido em competição 1,0 kg 1,5 kg 1,75 kg 2,0 kg Se houver mais de oito participantes, cada um terá direito a três tentativas. Classificam-se as oito melhores marcas. Esses atletasfarão mais três tentativas (seis lançamentos cada), valendo o melhor de todos como resultado final. Se a competição for paralisada para ter continuidade em outro período ou dia, cada um dos oito finalistas terá direito a seis tentativas. Para iniciar sua tentativa, o competidor deverá começar de uma posição estática dentro do círculo. Ele pode tocar a parte interna do aro do círculo, mas nunca a parte superior. 226 A tentativa será falha quando ocorrerem as seguintes situações: • O atleta soltar de forma imprópria o disco; • Após estar dentro do círculo e ter iniciado sua tentativa, o esportista tocar qualquer parte do corpo sobre o aro ou fora do círculo; • O primeiro contato do disco com o solo ocorrer sobre a linha ou fora do setor de queda; • O competidor pode ter uma tentativa interrompida e reiniciá-la, desde que coloque o disco no chão e deixe o círculo pela metade posterior para começar de novo, caso contrário, não; • Ele deixar o círculo antes de o disco tocar no chão (deve estar parado, equilibrado e sair pela metade de trás). As medidas devem ser realizadas a partir do ponto de queda do disco até o centro do círculo, fazendo a leitura do resultado na borda interna do aro do círculo. 8.1 LANÇAMENTO DE MARTELO 227 O lançamento de martelo é uma prova muito antiga, já era praticada pelos irlandeses por volta de 2000 anos a.C., mas tornou-se conhecida apenas no século XIX com os imigrantes irlandeses radicados nos Estados Unidos. No início não havia um regulamento e a prova era efetuada e partir do interior de círculos de tamanhos variados, e às vezes nem havia círculo. O martelo também era diferente, com o cabo feito de madeira rígida, no qual era fixado o projétil em uma de suas extremidades, e só mais tarde passou a ter um cabo flexível. Apenas em 1907 o círculo foi regulamentado (com 2,135 metros de diâmetro). Com ele, os atletas realizavam uma ou duas voltas para fazer o lançamento. Mais tarde, em 1920, a técnica evoluiu para três giros e assim permanece até hoje. A partir dessas mudanças, as maiores novidades técnicas ocorreram na forma de executar o giro, principalmente na maneira de se colocar o pé que serve de eixo para o giro, no caso o pé esquerdo para lançadores destros. As novidades continuaram a surgir com o desenvolvimento das ciências do treinamento, a biomecânica, o treinamento de força e a periodização. No quadro a seguir são apresentados alguns dos resultados mais expressivos, que contam a evolução das marcas nessa modalidade. Tabela 20 – Evolução das marcas de lançamento de martelo 228 Ano Marca (metros) Atleta País 1909 56,18 John Flanagan Eua 1950/60 63,19 1960 70,33 Harold Connolly Eua 1960/70 79,30 Walter Schimidit Alemanha 1980 80,00 Yuriy Sedych Rússia 1986 86,04 Sergey Litvinov Rússia 1986 86,74 Yuryy Sedych Rússia 8.2.1 Técnica de lançamento A técnica de lançamento de martelo é complexa. Segundo Fernandes (2003), consiste basicamente em combinar o ímpeto máximo que se possa dar à cabeça do martelo sem perder seu controle, com o máximo movimento ascendente realizado pelas forças do corpo ao terminar as voltas e soltar o martelo. Para conhecer e entender a técnica, devemos fazer a análise mecânica de lançamento para visualizar cada parte que compõe o conjunto de movimentos. 229 Cada fase tem o mesmo nome dos lançamentos já estudados, apenas elaboradas de forma diferente. • Empunhadura O martelo deve ser empunhado com muita firmeza em sua alça ou manopla, com as duas mãos sobrepostas, com a direita sobre a esquerda. • Posição inicial Para fazer sua tentativa, o atleta entra no círculo de lançamento posicionando-se junto à borda posterior do círculo, com os pés afastados lateralmente e o corpo voltado de costas para a direção de lançamento. O peso do corpo deve estar distribuído igualmente sobre os dois pés. A partir dessa posição, o martelo empunhado corretamente é colocado no chão ao lado direito do lançador, com a cabeça dentro ou fora do círculo, para que sejam iniciados os molinetes, que consistem em movimentar o martelo fazendo-o girar em círculos ao redor do corpo e acima da cabeça do atleta. • Deslocamento ou giros Com a realização dos molinetes, o martelo adquire grande velocidade após dois giros, ou três, para iniciantes. Os braços devem se manter estendidos ao máximo. Quando a cabeça do martelo estiver do lado direito após o último molinete, começa o primeiro giro de impulsão. O giro tem seu 230 eixo baseado no pé esquerdo, que nunca abandona o chão e passa a ser o eixo de todos os giros, iniciando-se o deslocamento. Durante os três giros feitos em velocidade crescente, o martelo é conservado sempre do lado direito do corpo. Para manter-se equilibrado, o corpo deve estar com seu peso apoiado sobre as pernas semiflexionadas, em especial à esquerda. • Posição final Após o último giro, quando o pé direito chega ao chão, o martelo ainda está atrás alinhado com o tronco. Nesse instante, finaliza-se o deslocamento com os giros, e o corpo está com as costas voltadas para a direção de lançamento, com seu peso gravitando sobre as duas pernas ligeiramente flexionadas. Então, começa o lançamento propriamente dito. • Lançamento A partir da posição final, que encerra os giros e deslocamento, é iniciado o lançamento, que não é feito com os braços, e sim através da extensão rápida das pernas, que estavam semiflexionadas. Os pés continuam girando para a esquerda por mais 90º. Essa ação, combinada com a extensão de pernas, quadris e tronco, traz o martelo, que ainda se mantinha atrasado e no ponto mais baixo de sua trajetória circular. Depois é largado no ar na direção que deve ser lançado. Assim, efetiva-se o lançamento e o corpo continua girando sobre o pé esquerdo. Para frear esse movimento, o lançador faz uma troca do 231 pé esquerdo, que está no chão, substituindo-o pelo direito, que estava no ar, permitindo a retomada do equilíbrio e a finalização de lançamento. • Ação final (troca de pés ou reversão) Quando o martelo sai das mãos, o corpo segue girando sobre o pé esquerdo devido à grande velocidade. Para frear esse movimento, o lançador faz uma troca do pé esquerdo, que está no chão, substituindo-o pelo direito, que estava no ar, ocorrendo a reversão. Tal ação promove a retomada do equilíbrio e a finalização de lançamento. 232 Figura 97 – Fases da técnica de lançamento de martelo. 8.2.1 Metodologia para ensino da técnica de lançamento 233 Dentre as provas de lançamentos, a do martelo é aquela cuja iniciação à aprendizagem da técnica começa mais tarde, pois exige elevada complexidade motora. Por causa das exigências mecânicas de grande dificuldade, é preciso preparar a criança no início do processo de aprendizagem com um trabalho de base voltado para o desenvolvimento das capacidades físicas gerais, como a força, a velocidade, a resistência e a agilidade, complementando com experiências variadas de todos os tipos de lançamentos. Esta prova requer um bom desenvolvimento do sentido de equilíbrio e distribuição do peso, o que não é muito fácil de se conseguir em crianças de 12 anos, que[,] além de tudo[,] não alcançaram] experiência suficiente nos movimentos de giro. Por esse motivo, a metodologia inicial do processo de aprendizagem é constituída de exercícios que têm por objetivo acostumar a criança a realizar movimentos de giro em torno de um eixo transversal e, em especial, do eixo longitudinal do corpo, bem como a manutenção do equilíbrio e a orientação no espaço (FERNANDES, 2003, p. 113). Com a base construída na etapa de preparação geral, inicia-se a aprendizagem da técnica a partir dos 14 anos de idade utilizando-se um martelo improvisado, que pode seruma sacola contendo no seu interior uma bola medicinal pequena. Essa sacola deve ser fechada com uma corda amarrada em sua entrada, tomando-se o cuidado para que essa corda tenha uma sobra de 1 metro para que seja usada como cabo do martelo improvisado. Em sua extremidade, será feita uma alça em forma de empunhadura, que deve suportar as duas mãos, para segurar o martelo. 234 Vejamos os exercícios: • Em pé, com as pernas afastadas lateralmente, empunha-se o martelo improvisado em sua alça segurando-o com as duas mãos, uma sobre a outra e os braços ficam estendidos na frente do corpo. — Execução: girar algumas vezes o martelo sobre a cabeça fazendo movimentos dos quadris para o lado oposto à extremidade do martelo. • Mesmo caso anterior, mas girando o martelo e o corpo simultaneamente, dando pequenos passos para frente. • Com o martelo empunhado e os braços estendidos, deve-se fazer um giro do martelo sobre a cabeça. Em seguida, recomeça-se o movimento com dois giros do martelo. Realizam-se várias repetições com essa sequência. • Agora, sem o uso do martelo, é preciso praticar giros de 180º sobre o calcanhar do pé esquerdo e ponta do pé direito, que na sequência deixa o solo fazendo uma trajetória circular ao redor da perna esquerda para fazer novo apoio paralelo ao pé esquerdo, preparando-se para novo meio giro, encerrando uma volta completa através dos dois giros. • Mesmo esquema do exercício anterior, acrescentando mais um giro, totalizando três giros. Para tal, desloca-se de forma lenta em linha reta, com os braços posicionados como se tivessem com o martelo empunhado nas mãos. • Segura-se nas mãos uma bola medicinal ou um peso com alça de 5 kg para aumentar gradativamente a velocidade dos três giros. Isso é feito 235 para sentir os efeitos da força centrífuga proporcionada pelo peso extra durante os giros do corpo. • Substitui-se o peso pelo próprio martelo ou o improvisado (feito de sacola com a bola de 5 kg). Execução: realizar combinações variadas entre molinetes (giro do martelo sobre a cabeça) e giros do corpo, que podem ser feitos em séries da seguinte forma: — dois molinetes e um giro do corpo; — três molinetes e dois giros; — dois molinetes e três giros. Terminada essa série, tem-se uma pausa para recomeçar nova repetição. Os movimentos feitos nesse exercício são muito próximos do gesto técnico completo de lançamento, por isso devem ser repetidos por mais tempo até que sejam efetivados com segurança e desenvoltura. A partir desse momento, os exercícios passam a ser realizados dentro do círculo de lançamentos. Uma observação técnica a ser considerada na elaboração dos próximos exercícios deve ser direcionada para a posição do corpo, em especial para a postura da curvatura lombar, o que se consegue fazendo uma ligeira inclinação da cabeça para trás em oposição à cabeça do martelo. Ambos fazem tração contrária. 236 • O aluno deve ficar em pé dentro do círculo junto à borda inicial, com os pés afastados lateralmente e as costas voltadas para a direção do arremesso (posição inicial para o lançamento). — Execução: iniciar com o peso do corpo distribuído sobre os dois pés. Depois, movimentar o tronco para o lado esquerdo, transferindo todo o peso do corpo para essa perna. Então, deve-se fazer o mesmo para o lado direito, balançando o corpo de um lado para o outro. • Repete-se o exercício anterior com uma bola medicinal nas mãos. — Execução: ao transferir o peso do corpo para um dos lados, é preciso levar a bola medicinal para o mesmo lado em um movimento de baixo para cima, com extensão total do corpo. Aplica-se tal ação sucessivamente, de forma que a bola descreva um movimento pendular ao ir de um lado para o outro. • Mesmo exercício que o anterior, mas neste a bola medicinal é lançada para o lado esquerdo, fazendo um giro de 90º sobre a planta dos pés. • Usando o martelo improvisado, o aluno deve efetuar um giro na planta do pé direito e calcanhar do pé esquerdo, para depois lançar o implemento. • Realiza-se o mesmo exercício: deve-se usar o martelo real após a aplicação de dois giros da forma descrita no exercício anterior. • Executam-se dois molinetes (giro do martelo sobre a cabeça) e três giros, terminando com o lançamento de martelo. 237 Com essa sequência de exercícios educativos, chega-se de uma forma gradativa e dificuldade progressiva, ao lançamento completo realizado no último exercício. O exemplo que estudaremos agora resume uma orientação sobre os cuidados com os grupos musculares envolvidos na preparação do lançador de martelo. Com base nesse conteúdo, você poderá buscar muitas opções na literatura para encontrar as soluções desejadas para essa finalidade. Ressaltamos os exercícios específicos a seguir. • Em pé, com as pernas afastadas lateralmente, deve-se segurar na mão uma bola medicinal com os braços estendidos para baixo. — Execução: lançar a bola para o mais alto possível com um movimento explosivo e estendendo completamente o corpo, acompanhando a trajetória da bola para o alto. • Mesmo caso que o exercício anterior, porém o lançamento é feito para trás da cabeça, com um ângulo de 45º, buscando atingir a maior distância possível. Olha-se para a bola até onde for possível para obrigar a extensão total do corpo ao lançá-la. 238 • Exercício igual, partindo de uma posição lateral para o sentido de lançamento. — Execução: levar a bola medicinal em um movimento para o lado direito ao mesmo tempo em que as pernas se flexionam ligeiramente. Na sequência, lançar a bola para o lado esquerdo, em um movimento de baixo para cima, com extensão vigorosa das pernas e extensão total do corpo. Figura 98 – Exercício específico para lançamento de martelo • Em pé, com as pernas afastadas lateralmente, o aluno segura na mão uma bola medicinal com os braços estendidos para baixo. — Execução: realizar movimentos circulares com a bola medicinal sobre a cabeça – da direita para a esquerda. • É preciso ficar em decúbito dorsal, com as pernas estendidas com um companheiro segurando nos tornozelos para imobilizá-las. — Execução: elevar o tronco do chão com rotação para um dos lados e colocar as mãos no chão. Retorna-se à posição inicial e efetiva-se o 239 movimento para o outro lado, e assim sucessivamente. É um exercício abdominal feito com rotação para os lados de modo alternado. • Posicionar-se de costas pendurado em um espaldar com o corpo bem estendido e relaxado. — Execução: fazer movimentos balanceados com todo o corpo, para direita e esquerda, como se fosse um pêndulo. • Em pé, com as pernas afastadas lateralmente, as mãos devem segurar uma barra de halter sobre os ombros com anilhas não muito pesadas. — Execução: fazer movimentos de rotação para os lados, com o olhar acompanhando o movimento do corpo, sem tirar os pés do chão. • Exemplo idêntico ao anterior. — Execução: fazer uma rotação do tronco para um dos lados, seguida de uma flexão profunda das pernas e voltar à posição inicial por extensão enérgica das pernas. • Mesmo caso, mas a barra de peso deve ser elevada à vertical com os braços estendidos, e a partir dessa posição é preciso fazer a rotação alternada do corpo para os lados. 240 • Em pé, com as pernas afastadas lateralmente, as mãos devem segurar uma bola medicinal pesada ou um saco de areia no chão do lado esquerdo do corpo. — Execução: estender vigorosamente o corpo e pernas levantando o peso do chão, estendendo os braços para cima, pela frente do corpo, terminando com o peso elevado no alto para o lado direito. Após retornar à posição inicial, o movimento deve ser repetido. • Em pé, com as pernas afastadas lateralmente e ligeiramente flexionadas, as mãos devem segurar uma bola medicinal no chão no lado direito.— Execução: partindo dessa posição, lançar a bola para o lado esquerdo através de uma extensão completa das pernas, tronco e braços. • Em pé, com as pernas afastadas lateralmente e ligeiramente flexionadas, as mãos seguram um peso com alça. — Execução: lançar o aparelho através de um movimento idêntico ao gesto técnico final de lançamento. 8.2.3 Regras básicas de competição 241 O martelo é composto de três partes: cabeça de metal, corpo e empunhadura. Para iniciar sua tentativa, o atleta poderá colocar a cabeça de metal no solo, dentro ou fora do círculo. Se o martelo quebrar durante o lançamento, não será considerada uma tentativa falha, desde que o competidor não tenha cometido nenhuma outra infração. Tabela 21 Peso Feminino Masculino menores Masculino juvenil Masculino adulto Mínimo permitido em competições 4,000kg 5,000 kg 6,000 kg 7,260 kg Em uma competição com mais de oito atletas, cada um terá direito a realizar três tentativas, valendo o melhor resultado. Os oito melhores classificados seguirão competindo e terão direito a mais três tentativas. Ao todo, são seis lançamentos para cada um deles, e o melhor resultado obtido será a marca para a classificação final. Se a final para esses oito classificados for realizada em outro período, cada um terá direito a seis tentativas. Sempre que houver até oito concorrentes, cada um terá direito a seis lançamentos. A tentativa será falha quando ocorrerem as seguintes situações: 242 • Ao ser lançado, a cabeça do martelo tocar primeiro sobre a linha ou fora do setor de quedas; • Se o atleta sair do círculo de lançamento antes de o martelo tocar o chão no setor de quedas; • Após entrar no círculo, o competidor tocar com o pé ou qualquer parte do corpo sobre o aro ou fora do círculo; • Após o lançamento, ele só pode deixar o círculo com o corpo em completo equilíbrio e sair pela metade posterior do círculo, caso contrário, terá agido incorretamente. A medida de lançamento deve ser feita a partir da marca deixada no chão pela cabeça do martelo, mais próxima do centro do círculo. A trena é colocada com início nesse local, estendida até o centro do círculo, e a leitura da medida é feita na borda interna do círculo. Após cada tentativa, o martelo deve ser trazido de volta para um local próximo do círculo. Exemplo de aplicação Os lançamentos do atletismo são provas pouco desenvolvidas nas escolas por causa do espaço físico exigido para sua prática. Porém, com criatividade, o professor poderá adaptar espaços e material para trabalhar esse importante conjunto de lançamentos. 243 Pense e busque soluções para todos os tipos de adaptações simples que podem ser utilizadas para essa finalidade. Resumo No atletismo, os lançamentos correspondem a um grupo de provas de campo muito tradicional e praticado no mundo esportivo, mas pouco popular e difundido no Brasil, o que leva nosso País a não conseguir resultados expressivos nas principais competições internacionais. Dentro dessa categoria de provas do atletismo, uma das mais antigas e tradicionais da modalidade é praticada desde os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga. Estamos falando de lançamento de disco, que é representado pela famosa estátua do discóbolo de Myrón e réplicas espalhadas por muitos museus notáveis ao redor do mundo. Esse conjunto de provas é formado pelos lançamentos de disco, de dardo, de martelo e pelo arremesso de peso. Todos eles passaram por evoluções técnicas, que proporcionaram ao longo da história mudanças constantes nos resultados e recordes. Para o professor de Educação Física, bem como treinadores, é vital possuir o conhecimento da técnica. Assim, poderá avaliar o desempenho e o progresso de seu aluno ou atleta, bem como programar os exercícios adequados para a evolução do praticante. Os quatro lançamentos estudados possuem as mesmas fases: empunhadura, posição inicial, deslocamento, posição final, lançamento e troca 244 de pés ou reversão. Contudo, são realizadas com movimentos próprios e diferentes em cada uma delas. Com base nessa análise, descrevemos exemplos de exercícios educativos e formativos que compõem a metodologia para o ensino e desenvolvimento da técnica. Para concluir o estudo dos lançamentos, exibimos um resumo das regras de competição com suas principais informações. Destacamos, ainda, os procedimentos adequados, as faltas e as incorreções da modalidade que o aluno ou atleta precisa saber para participar de competições. 9 PSICOLOGIA DO ESPORTE 1. Introdução O esporte, fenômeno de grande influência na sociedade, além de formar atletas de alto rendimento, mostra-se extremamente relevante por promover melhoria da saúde física e mental. Segundo o estudo de Balbinotti et al. (2011), a atividade física regular diminui os níveis de estresse do cotidiano, fortalece amizades, aumenta a autoestima quanto à estética e, ainda, permite desenvolver o crescimento pessoal por meio da competitividade. Ela está arraigada na vida cotidiana e é um poderoso fator mobilizador, capaz de influenciar o comportamento de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, que se espelham em seus ídolos e transformam-nos em ícones capazes de criar e modificar padrões, moldar comportamentos e ditar modas 245 que se espalham com uma enorme velocidade (SOUZA FILHO apud MIRANDA, 2009). A psicologia do exercício e do esporte1 consiste no estudo científico do comportamento humano em contextos esportivos e de exercício, bem como na aplicação prática desse conhecimento nos ambientes de atividade física (GILL; WILLIAMS, 2008). Na atualidade, com a evolução da psicologia geral, e da psicologia do exercício e do esporte em particular, é reconhecido o valor dos métodos e das técnicas de avaliação dos parâmetros psicológicos, consideradas atividades altamente especializadas, com ênfase na avaliação e não na testagem. O objetivo principal dessas atividades é avaliar a uniformidade de indivíduos em aspectos essenciais e, por meio de classificação comparativa, observar um indivíduo quanto aos parâmetros da faixa etária a que pertence. Para a Federação Europeia de Psicologia do Esporte (European Federation of Sports Psychology – FEPSAC), o foco da investigação da psicologia do exercício e do esporte encontra-se nas diferentes dimensões psicológicas da conduta humana: afetiva, cognitiva, motivadora ou sensório-motora (BECKER JÚNIOR, 2000). 2. História da psicologia do esporte A trajetória histórica da psicologia do exercício e do esporte pode ser sintetizada em seis períodos, conforme Weinberg e Gould (2008): a) os primeiros anos (1895-1920) – o psicólogo Norman Triplett (1861- 1931) foi o precursor da psicologia do esporte na América do Norte. Em 1897, ele investigou em que ocasião os ciclistas pedalavam mais rápido, se acompanhados ou sozinhos; 246 b) a era Griffith (1921-1938) – Coleman Griffith (1893-1966) é considerado o pai da psicologia do esporte nos Estados Unidos. Ele desenvolveu o primeiro laboratório desse ramo da psicologia e publicou dois livros clássicos: “Psychology of Coaching” (1926), no qual discutiu os problemas levantados pelos métodos de treinamento da época, e “Psychology of Athletics” (1928); c) preparação para o futuro (1939-1965) – no Brasil, a psicologia do esporte teve início na década de 1950, quando o psicólogo João Carvalhaes implementou uma unidade de seleção de candidatos, de natureza psicotécnica, na Escola de Árbitros da Federação Paulista de Futebol (FPF). Após esse trabalho, Carvalhaes iniciou o acompanhamento psicológico dos jogadores do São Paulo Futebol Clube (COSTA, 2006). No plano mundial, o primeiro Congresso Internacional de Psicologia do Esporte foi realizado em Roma, na Itália, em 1965; d) o estabelecimento da psicologia doesporte como disciplina acadêmica (1966-1977) – com o estabelecimento do curso superior de educação física, a psicologia do esporte passou a ser considerada uma disciplina desse curso, separando-se da disciplina de aprendizagem motora. Nessa época, surgiram as consultorias de psicólogos direcionadas a atletas e a equipes. Nos Estados Unidos, foram estabelecidas as primeiras sociedades científicas da área; e) ciência e prática multidisciplinar na psicologia do exercício e do esporte (1978-2000) – a psicologia do exercício ganhou espaço. Nesse período, houve um aumento do número de eventos e de publicações científicas na área, que passou a contar com mais estudantes e profissionais. 247 As pesquisas e as intervenções começaram a apresentar um viés multidisciplinar, à medida que os estudantes realizavam mais trabalhos de curso relacionados a aconselhamento e psicologia; f ) psicologia do exercício e do esporte contemporânea (2000 até o presente) – no Brasil, psicólogos passaram a integrar equipes olímpicas e paraolímpicas. No nível mundial, observou-se um aumento da importância conferida às pesquisas em psicologia do exercício e do esporte, em virtude dos benefícios que o esporte traz à saúde e à qualidade de vida. 3. Objetivos da psicologia do esporte Grande parte dos estudos experimentais em psicologia do exercício e do esporte tem em vista dois objetivos, segundo Weinberg e Gould (2008): a) entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico de um indivíduo; por exemplo, como a ansiedade afeta a precisão de um jogador de basquetebol em um arremesso de lance livre; b) entender como a participação em esportes e exercícios afeta o desenvolvimento psicológico, a saúde e o bem-estar de uma pessoa; por exemplo, se existe uma relação entre o ato de correr e a redução da ansiedade e da depressão. 248 4. Áreas de atuação da psicologia do esporte Quanto às áreas de atuação do psicólogo do exercício e do esporte, são elas (Figura 1): a) esporte de rendimento – a psicologia do exercício e do esporte é mais atuante no esporte de alto nível ou de alto rendimento. Nessa área, são investigados os fenômenos psicológicos determinantes do rendimento, ou seja, 249 a psicologia é utilizada como uma ferramenta para aperfeiçoar o processo de recuperação e para otimizar o desempenho do atleta; b) esporte educacional ou escolar – nessa área, a psicologia analisa os processos de ensino e de aprendizagem, bem como os processos de educação e de socialização. Aqui, enfoca a questão socioeducativa do esporte e do exercício; c) esporte recreativo – tem em vista o bem-estar do indivíduo. Nessa área, a psicologia estuda os motivos, as atitudes e os interesses de grupos recreativos de diferentes faixas etárias, atuações profissionais e classes socioeconômicas; d) esporte de reabilitação – engloba o trabalho tanto de atletas lesionados quanto de atletas deficientes físicos ou mentais. Nessa área, a psicologia investiga os aspectos preventivos e terapêuticos do esporte e do exercício. 5. Motivação Inicialmente, pergunta-se: por que um grupo de crianças que pratica futebol treina três vezes por semana, enquanto outro grupo treina duas vezes por dia? Por que alguns atletas somente conseguem atingir níveis elevados de desempenho quando sabem que receberão uma premiação em dinheiro, ao passo que outros atletas apresentam bons resultados apenas quando jogam com a torcida a favor? As respostas a essas perguntas estão relacionadas a um fator psicológico chamado motivação. 250 Para Samulski (1995), a motivação caracteriza-se como um processo ativo e intencional dirigido a uma meta. Esse processo depende de fatores pessoais (intrínsecos) e de fatores ambientais (extrínsecos). O termo motivação é derivado do verbo movere, em latim, que traduz a ideia de movimento. Assim, a motivação relaciona-se ao fato de uma pessoa ser influenciada, por estímulos internos ou externos, a fazer ou realizar algo, mantendo a pessoa na ação e ajudando-a a completar tarefas (PINTRICH; SCHUNK, 2002). Dessa forma, Sage (apud WEINBERG; GOULD, 2008) entende que a motivação pode ser definida simplesmente como a direção e a intensidade dos esforços humanos. A direção do esforço refere-se à busca, à aproximação ou à atração de um indivíduo por certas situações, enquanto que a intensidade refere-se à força – maior ou menor – que uma pessoa ou atleta investe no esforço em uma determinada situação. De acordo com Weinberg e Gould (2008), as abordagens da personalidade da psicologia do esporte conceituam a motivação sob três orientações típicas: a visão centrada no participante (traço2), a visão centrada na situação e a visão interacional. Segundo a visão centrada no participante (traço), o comportamento motivacional orienta-se primariamente em função das características individuais, tais como a personalidade, as necessidades e os objetivos do indivíduo. A visão centrada na situação sustenta que o nível de motivação é determinado principalmente pelas condições e influências do meio. Contudo, a 251 visão mais aceita pelos psicólogos do exercício e do esporte é a visão interacional, que examina o modo como indivíduo e situação interagem. Para Weinberg e Gould (2008), o modelo interacional de motivação fundamenta cinco diretrizes para a prática profissional da educação física, como se pode ver no Quadro 1, a seguir. A motivação é importante para a compreensão da aprendizagem e do desempenho de habilidades motoras, pois desempenha um papel essencial na iniciação, na manutenção e na intensidade do comportamento do aprendiz (MAGGIL, 1984). 252 Muitos estudos sobre a motivação mostram que os indivíduos que apresentam um elevado grau de estímulo de realização não somente aprendem mais rápido, como também respondem melhor e mais depressa em relação àqueles que apresentam baixo grau de motivação (PEREIRA, 2006). Uma das teorias na área da motivação está apoiada na teoria da autodeterminação e sustenta que o comportamento pode ser motivado intrinsecamente, motivado extrinsecamente ou desmotivado (RYAN; DECI, 2000). Dessa forma, o indivíduo motivado intrinsecamente é aquele cujo envolvimento e constância na atividade acontecem porque a tarefa em si é interessante e produz satisfação. Quando a pessoa é motivada intrinsecamente, ela manifesta tal comportamento de modo voluntário, sem a ocorrência de recompensas materiais e/ou de pressões externas (RYAN; DECI, 2000). No contexto esportivo, são considerados atletas intrinsecamente motivados aqueles que vão aos treinos e aos jogos porque os consideram interessantes e se satisfazem em aprender mais sobre sua modalidade, bem como aqueles que têm prazer de constantemente procurar superar seus limites e aqueles que têm o propósito de experimentar sensações estimulantes (PELLETIER et al., 1995). Isso sugere a existência de pelo menos três tipos de motivação intrínseca. Nessa mesma linha de pensamento, o sujeito motivado extrinsecamente é aquele que desempenha uma atividade ou tarefa tendo em 253 vista recompensas externas ou sociais, tais como receber elogios ou apenas evitar punições. No esporte, os atletas extrinsecamente motivados caracterizam-se pelo interesse em recompensas externas e sociais, como troféus, medalhas, premiações em dinheiro, reconhecimento público e fama. Por fim, os indivíduos amotivados encontram-se em um estado de ausência de intenção para agir, desvalorizam a tarefa, não se sentem competentes para realizá-la e não esperam alcançar o resultado desejado (RYAN; DECI, 2000). Assim, os alunos ou atletas que apresentam essas características não encontram boas razões para continuar treinando e competindo; devido a isso, eles podem chegar ao limite de abandonar oesporte (PELLETIER et al., 1995). Com isso, os professores devem ter cuidado para que, em suas aulas, a motivação extrínseca não se sobreponha à motivação intrínseca: quanto mais o indivíduo for motivado extrinsecamente, menos ele será motivado intrinsecamente, pois “recompensas externas percebidas como controladoras do comportamento de uma pessoa ou que sugerem que o indivíduo não é competente diminuem a motivação intrínseca” (WEINBERG; GOULD, 2008, p. 154). A motivação extrínseca vem de outras pessoas por meio de reforços positivos e negativos. Os reforços positivos aumentam a probabilidade de ocorrerem comportamentos positivos, enquanto os reforços negativos diminuem a frequência desses mesmos comportamentos. Os reforços positivos incluem medalhas, elogios, reconhecimento e dinheiro, enquanto os reforços negativos incluem zombaria, dificuldades, punições, brigas etc. 254 Assim, os atletas são motivados geralmente por uma combinação de motivação intrínseca e extrínseca, que pode variar de pessoa para pessoa. Recompensas extrínsecas excessivas ou exageradas que não são acompanhadas da realização da tarefa tendem a perder efetividade e podem reduzir a motivação intrínseca. Por outro lado, quando acompanhadas de recompensas intrínsecas, aquelas podem ser extremamente motivadoras. 6. Estresse, overtraining e burnout O estresse pode ser definido como um estado de desestabilização psicofísica ou uma perturbação do equilíbrio que ocorre entre a pessoa e o meio ambiente (FLETCHER; SCOTT, 2010). Portanto, o atleta experimenta o estresse – físico e mental – quando não consegue lidar com ou reagir a determinadas situações ocasionadas pelo ambiente esportivo em que vivem. Explicando de forma didática, o estresse – físico e mental – no esporte se manifesta em quatro estágios, desenvolvidos a partir do processo de estresse de McGrath (apud BRANDÃO, 2000), a saber: a) no primeiro estágio, chamado demanda ambiental, o atleta se depara com uma demanda ameaçadora no meio em que se encontra, por exemplo: uma ofensa do atleta adversário, desentendimentos com a arbitragem, pressão da torcida e da imprensa, perda de um jogo nos minutos finais etc.; 255 b) o segundo estágio, conhecido como percepção da demanda ambiental, ocorre no momento em que o esportista, após tomar conhecimento de sua situação, avaliaa cognitivamente, podendo percebê-la como ameaçadora (no caso de uma avaliação negativa), ou como estimulante (no caso de uma avaliação positiva). Em uma partida de futebol, por exemplo, determinada demanda ambiental, como estar perdendo o jogo nos minutos finais, pode levar o jogador a realizar uma avaliação negativa (“a partida está quase perdida, resta pouco tempo para a reação”) ou positiva (“nada está perdido, vamos partir com tudo para chegarmos ao empate”); c) no terceiro estágio, surgem respostas físicas e psicológicas ao estresse. Reagindo aos agentes estressores, o atleta pode apresentar dois tipos de consequências: os sintomas biológicos, como, por exemplo, a elevação da frequência cardíaca e da pressão arterial, e os sintomas psicológicos, como a elevação da ansiedade-estado; d) no estágio final, denominado consequências comportamentais, são observados os efeitos da avaliação cognitiva da demanda ambiental, bem como as alterações físicas e psicológicas sobre o desempenho e o resultado da atividade esportiva. Ainda com respeito desse estágio, as consequências comportamentais podem ser positivas ou negativas para o atleta. Quando ele busca superar a demanda estressora para se tornar mais ativo e melhorar seu desempenho, esse processo se caracteriza como eustresse ou estresse positivo. Por outro lado, quando a situação causa prejuízos ao desempenho do atleta, fala-se de distresse ou estresse negativo. No exemplo citado anteriormente, a partida de futebol tanto pode terminar com a derrota do time 256 que estava “atrás” no placar (distresse), quanto pode ocorrer uma reação nos minutos finais, com o empate ou a virada do jogo (eustresse). A síndrome de sobretreinamento (overtraining), por sua vez, pode ser entendida como um estado de fadiga crônica ocasionado pela dosagem incorreta das cargas aplicadas e pelo excesso de treinamento, combinado com a ação de estressores externos ao processo de treinamento, como o excesso de viagens e de competições, que podem intensificar o efeito das cargas de trabalho (BONETE; SUAY, 2003; GLEESON, 2002). Nesse ponto, deve-se fazer uma consideração importante em relação à carga de trabalho: apesar de geralmente ser considerada sob o ponto de vista fisiológico, sabe-se que, juntamente à carga física aplicada ao atleta, existe também uma carga psicológica envolvida no processo. Esse aspecto pode ser observado em casos de competições sucessivas (carga física), que provocam o afastamento do esportista de seus familiares e amigos (carga psicológica). Portanto, o termo dosagem deve ser compreendido sob o ponto de vista de ambas as cargas. Além das características citadas, o sobretreinamento também ocasiona a piora do desempenho competitivo, mesmo após diversas tentativas de melhora da condição física (GLEESON, 2002). Em geral, quando um atleta encontra-se em estado de sobretreinamento, a comissão técnica dificilmente reconhece a síndrome e avalia a queda no desempenho como falta de treinamento adequado e, com isso, aumenta sua carga de trabalho. Essa conclusão equivocada acaba por levar o esportista a um patamar de rendimento extremamente reduzido. Tal 257 situação pode ser exemplificada quando um jogador de futebol apresenta rendimento abaixo do esperado durante várias partidas, e a comissão técnica aumenta o volume e a intensidade dos treinos na tentativa de melhorar o condicionamento desse atleta. Essa decisão pode promover a piora do nível atlético, pois a estratégia de controle do sobretreinamento consiste no equilíbrio entre o esforço (treinos e competições) e a recuperação (sono e alimentação adequados, convívio social). Para o monitoramento do sobretreinamento em atletas, um dos principais instrumentos psicométricos utilizados é o “Recovery-Stress Questionnaire for Athletes” (RESTQ-76- Sport), elaborado por Kellmann e Kallus (2001), e validado para o idioma português por Kellmann et al. (2009). Trata-se de um questionário de 76 itens – cada item é composto por uma situação para a qual o sujeito deverá informar a frequencia com que a tem feito, por exemplo: eu tenho lido jornais nos últimos três dias – e um item a mais de aquecimento ou preparação da aplicação do questionário. Para cada uma das 19 dimensões são apresentados quatro itens. Dentre as dimensões apresentadas, sete são referentes ao estresse geral, cinco são referentes à recuperação geral, três estão relacionadas ao estresse específico do esporte e quatro estão associadas à recuperação específica do esporte. Associado ao sobretreinamento pode-se encontrar a síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento. Esta pode ser definida como uma reação ao estresse crônico, ou como o desinteresse por uma atividade anteriormente considerada motivadora e prazerosa para o indivíduo, no caso, o esporte. 258 O esgotamento constitui-se em três dimensões (RAEDEKE; SMITH, 2004): a) exaustão física e emocional – desgaste advindo da rotina de treinos e competições; b) reduzido senso de realização esportiva – discrepância entre os objetivos idealizados no início da carreira esportiva e os objetivos realmente conquistados; c) desvalorização esportiva – falta de interesse pela prática esportiva Desse modo, é importante detectar a ocorrência de esgotamento antes que o aluno ou atleta atinja os níveis mais altos da síndrome, pois, quando isso acontece, a probabilidade de abandono da atividade ou da carreira esportiva é bastanteelevada. O instrumento psicométrico mais utilizado internacionalmente para a mensuração das dimensões de esgotamento é o “Athlete Burnout Questionnaire” (ABQ) (RAEDEKE; SMITH, 2001). Esse questionário é composto por quinze itens que avaliam a frequência de sentimentos relativos à síndrome. Cada item se refere a uma das três dimensões do esgotamento mencionadas anteriormente: exaustão física e emocional, reduzido senso de realização esportiva e desvalorização esportiva (RAEDEKE, 1997). No Brasil, Pires, Brandão e Silva (2006) validaram a versão em português do ABQ, intitulada “Questionário de burnout para atletas” (QBA). De acordo com McCann (1995), o ponto comum entre os processos de 259 overtraining e de burnout é o estresse, que constitui elemento fundamental na etiologia6 de ambas as síndromes. Para Gimeno (2003), a diferença-chave entre essas duas síndromes reside no papel exercido pelos fatores cognitivos em caso de burnout. No overtraining, a atenção está voltada para a importância do agente estressor (treinamento) e para a resposta ou reação (sintomas), ignorando-se a interpretação que o atleta faz acerca do agente estressor. Entretanto, no burnout, é dada ênfase à interpretação subjetiva realizada pelo esportista sobre o agente estressor, o que mostra a importância dos mecanismos cognitivos nesse processo. Conforme a conclusão objetiva de Gimeno (2003), pode-se afirmar que existe um paralelismo geral entre os processos de overtraining e de burnout, representado pelo estresse, ao mesmo tempo em que elementos cognitivos diferenciam esses processos com clareza. Em outra abordagem (SILVA, 1990), esses fenômenos são considerados dentro de um continuum de adaptações negativas sofridas pelo atleta, na seguinte ordem: em primeiro lugar, o estresse negativo ou distresse; em segundo lugar, o overtraining; e, por último, o esgotamento. A Figura 2 representa o continuum de adaptações negativas proposto por Silva (1990). 260 7. Coesão de grupo Na Copa do Mundo de 2002, a seleção brasileira pentacampeã de futebol apresentou uma característica interessante. O grupo de atletas e comissão técnica foi denominado “família Scolari”, uma referência ao técnico Luiz Felipe Scolari, que conseguiu unir todos os envolvidos com a seleção em torno de um ideal comum: a conquista do título. Esse fato representa a coesão, um processo dinâmico que reflete a tendência de um grupo de se entrosar e permanecer unido na busca por seus objetivos instrumentais e/ou na satisfação das necessidades afetivas de seus membros (CARRON et al., apud WEINBERG; GOULD, 2008). Weinberg e Gould (2008) complementam esse conceito, ao afirmarem que a coesão é: a) multidimensional – vários fatores determinam a união de um grupo; b) dinâmica – a coesão de um grupo se altera ao longo do tempo; c) instrumental – os grupos são criados para um propósito definido; d) afetiva – as interações sociais dos membros de um grupo produzem sentimentos entre seus participantes. O caráter multidimensional da coesão está associado à combinação das dimensões social e da tarefa, segundo Weinberg e Gould (2008): a) coesão social – reflete o grau de apreciação mútua que existe entre os membros de um grupo, assim como o sentimento de empatia e de pertencimento em relação aos colegas; 261 b) coesão da tarefa – reflete o grau de trabalho em equipe existente em um grupo que busca a obtenção de um objetivo comum. No esporte, esse objetivo comum pode ser vencer um campeonato, por exemplo. Com isso, apresenta-se uma questão importante para o assunto aqui abordado: o fato de uma equipe esportiva ser motivada tem como resultado um melhor desempenho? Em uma investigação que reuniu 46 publicações e envolveu quase 10 mil atletas e mais de mil times, Carron et al. (2002) encontraram uma relação de moderada a forte entre coesão e desempenho, sendo que os maiores efeitos dessa relação foram obtidos em esportes coletivos. Os autores ressaltam a importância da formação da equipe para se elevar a coesão e demonstram que tanto a coesão social quanto a coesão para a tarefa são benéficas para o processo como um todo. A seguir, são abordadas as diretrizes que técnicos e líderes devem respeitar para a formação de um time coeso, conforme Weinberg e Gould (2008): a) comunicar-se de forma efetiva – deve ser criado um ambiente em que todos se sintam confortáveis para expressar pensamentos e sentimentos; b) explicar os papéis individuais para o sucesso da equipe – técnicos e professores devem ressaltar a importância do papel que cada jogador desempenha na equipe. Quando os atletas ou alunos têm consciência de suas funções e das tarefas de seus companheiros, eles passam a desenvolver apoio e empatia mútuos; 262 c) desenvolver o orgulho entre as diferentes funções – deve haver incentivo mútuo entre alunos ou atletas da mesma função tática e de funções táticas distintas. No futebol, por exemplo, os zagueiros se orgulham de evitar que a equipe adversária marque gols; por outro lado, os atacantes admiram os meios-campistas, pois grande parte dos gols marcados por aqueles têm origem nas jogadas destes; d) traçar metas desafiadoras para o grupo – objetivos específicos e desafiadores causam impactos positivos nos alunos ou atletas, bem como nas equipes, aumentando o padrão de produtividade e mantendo os times ou grupos focados no que é preciso fazer para alcançá-los. Ao atingir as metas, os grupos são incentivados a traçar novos objetivos; e) estimular a identidade do grupo – o grupo deve se sentir especial e se diferenciar de outras equipes ou times. A escolha dos números das camisas e a participação em eventos sociais são estratégias interessantes para a formação dessa identidade; f) evitar a formação de facções – conhecidas como “panelas” ou “panelinhas”, esses pequenos grupos tendem a causar a desagregação de uma equipe. A troca dos companheiros de quarto é uma das medidas a serem tomadas pelos técnicos e professores para combater a formação de “panelas”; g) evitar modificações excessivas – demasiadas alterações entre os integrantes de uma equipe tornam o ambiente pouco familiar, o que dificulta o rápido entendimento entre eles e diminui a coesão interna do grupo. Quando as trocas são inevitáveis – como pode ser o caso de espaços organizados como academias, escolas, projetos sociais, cujos ingressos e desistências são 263 registrados, nos quais podem ocorrer entradas e desistências de novos alunos –, os mais experientes devem apoiar os recém-chegados; h) promover encontros periódicos da equipe – reuniões de grupo são produtivas, pois viabilizam a resolução de conflitos internos, a mobilização de energias, a aprendizagem com base nos erros, a redefinição de metas e a manutenção do espírito esportivo; i) conhecer o ambiente da equipe – técnicos e professores devem reconhecer os atletas e alunos que são detentores de grande prestígio ou de aptidão interpessoal, e utilizá-los como meio de comunicação entre a comissão técnica e os jogadores. Da mesma forma, esses alunos podem auxiliar os técnicos a se manter em contato com os sentimentos e as atitudes dos integrantes da equipe ou do grupo; j) estimular a descoberta interpessoal – os valores são os principais determinantes do comportamento humano. Por isso, uma forma de se conhecer melhor os companheiros de uma equipe ou grupo consiste em identificar seus valores, tais como família, planos de realização pessoal e profissional, criatividade e preocupação com os outros. 8. Liderança Os estudos sobre liderança têm sido bem desenvolvidos dentro da psicologia social. 264 Após uma revisão na literatura, Brandão, Agresta e Rebustini afirmaram que liderança significa “a capacidade de influenciar pessoas para trabalharem juntas, no alcance demetas e objetivos, de forma harmônica” (BRANDÃO; AGRESTA; REBUSTINI, 2002, p. 26). De acordo com Noce, Costa e Lopes (2009), um elemento norteador básico para o entendimento do processo de liderança consiste na classificação de seus estilos em autocrático e democrático: a) a liderança autocrática baseia-se na centralização de poder na pessoa do líder; cabe exclusivamente a ele a determinação dos objetivos a serem conquistados pelo grupo, e não há qualquer participação de seus subordinados na discussão das metas. O líder autoritário é inteiramente responsável pelo planejamento, pelas decisões e pelo controle de seus liderados. Nas aulas de esporte, o professor autoritário se caracteriza pelo excesso de comandos verbais, pela tomada de todas as decisões e pelo distanciamento em relação ao grupo de alunos (NOCE; COSTA;LOPES, 2009); b) a liderança democrática tem uma orientação mais integrada e participativa, caracterizando-se pela descentralização dos processos de direção e de tomada de decisões. O técnico ou professor democrático, por exemplo, reúne-se com seus liderados com o objetivo de estimulá-los a discutir os problemas e a refletir coletivamente sobre as estratégias para a obtenção das metas (NOCE; COSTA;LOPES, 2009). Costa, Samulski e Costa (2009) apresentaram resultados de uma investigação que analisou o perfil de liderança de 109 treinadores das 265 categorias de base (sub-20, sub-17, sub-15 e sub-13) do futebol brasileiro, mostrando que os treinadores se percebem como mais autocráticos e voltados para os aspectos de treino-instrução de suas equipes. Esses treinadores exercem liderança autoritária na maioria das situações que demandam decisões e mostram uma grande preocupação com a conduta educativa e de instrução, o que sugere compromisso com o aperfeiçoamento dos desempenhos técnico, tático e motivacional das equipes. O estudo conclui também que os profissionais avaliados apresentam perfis de liderança semelhantes, independentemente da categoria na qual eles estão trabalhando em um dado momento (COSTA; SAMULSKI; COSTA, 2009). Ambos os perfis de liderança (autocrático e democrático) apresentam vantagens e desvantagens. Por isso, pode-se concluir que existem momentos propícios para se exercer a liderança autocrática e que há ocasiões oportunas para se comportar como um líder democrático. Trata-se, portanto, da chamada liderança situacional, que também é influenciada pelas características do grupo de liderados. Alguns jogadores de futebol, por exemplo, confundem a orientação democrática do técnico com a possibilidade de fazer o que bem entendem, como chegar com atraso aos treinos e cometer atos de indisciplina. Nesse caso, a demonstração de liderança autocrática pode ser mais conveniente para a manutenção do foco no alcance das metas. Com o objetivo de desenvolver a autonomia dos alunos e atletas, bem como auxiliar no desenvolvimento de 266 líderes, Franco, Costa e Noce (2009) fazem as seguintes recomendações aos professores e técnicos: • permitir, com regularidade, a participação dos alunos e atletas na preparação e na condução dos treinos; • saber identificar até que ponto se deve conduzir uma tarefa e até que ponto se pode delegá-la aos atletas; • identificar as falhas quando a condução das atividades estiver sob responsabilidade de um aluno ou atleta; • conversar separadamente com cada liderado sobre suas falhas e procurar desenvolver atividades que o ajudem a corrigi-las. Os apontamentos acima permitem que se oriente a formação do professor tendo em vista a concepção de desenvolvimento humano adotada, ou seja, a escolha pelo tipo de liderança que deve estar presente na formação do professor. Isso não se constrói apenas com uma palestra: deve-se atentar para a formação continuada do professor de esporte da Fundação Vale, para que o tipo de liderança utilizado por ele seja coerente com os princípios norteadores do Programa. 9. Comunicação Em um jogo de basquetebol, os participantes sinalizam com as mãos as jogadas defensivas e ofensivas a serem executadas; simultaneamente, o professor ou treinador verbaliza orientações para seus jogadores. Da mesma 267 forma, em uma partida de duplas de tênis, os tenistas parceiros conversam entre si antes do saque para combinar como vão se posicionar e em que direção vão sacar a bola. Essas ações ilustram a comunicação no ambiente esportivo, que pode ser definida como a transferência de informações na forma de mensagens compreensíveis, ricas de sentido e significado, de um emissor para um receptor. É o intercâmbio de informações, pensamentos, ideias e emoções entre duas ou mais pessoas (LAIOS; THEODORAKIS, 2001). A comunicação efetiva, garantida pelo processo de interação social – com base na construção e na interpretação de sentidos e significados – entre os membros de um grupo direciona o esforço da equipe para a obtenção de seus objetivos. Por outro lado, a ausência de comunicação geralmente resulta em pouca cooperação e pouca coordenação, e provoca, assim, confusão entre os integrantes do time (LAIOS; THEODORAKIS, 2001). O entendimento do processo de comunicação por parte de professores e treinadores, e seus alunos e atletas, facilita a sua interação, visto que é por meio da comunicação que as pessoas compartilham pensamentos, costumes, comportamentos e atitudes, com sentidos e significados, o que favorece a criação e o desenvolvimento de relações interpessoais (SAMULSKI; LOPES, 2009). Laios e Theodorakis (2001) afirmam que o processo de comunicação envolve quatro elementos: a) emissor – também chamado de transmissor, é a pessoa que lidera ou inicia o processo de comunicação. Na maioria das vezes, é o professor ou 268 técnico, quando envia uma mensagem ou estímulo para a turma, mas pode ser também um aluno ou atleta, um dirigente, um torcedor ou outra pessoa qualquer; b) mensagem – normalmente, ocorre sob forma de informação, direcionamento, sugestão ou orientação. É muito importante que a mensagem seja totalmente compreendida pelos participantes, assistentes e outros agentes, a fim de que possam entender exatamente o que fazer e como realizar as habilidades técnicas e táticas para a obtenção de seus objetivos; c) canal – é o meio de transmissão da mensagem. O professor ou técnico pode, por exemplo, utilizar mensagens verbais, símbolos, desenhos, sinais e expressões corporais. Os canais podem ser classificados em quatro categorias: verbais (orientações, ordens, sugestões, instruções); não verbais (gestos, expressões faciais); escritos (desenhos, planos) e sonoros (bater palmas, apitar). d) receptor – é o grupo ou indivíduo para quem a mensagem é direcionada. Em esportes de equipe, os receptores geralmente são os participantes ou atletas, os árbitros e os membros da comissão técnica. Um esquema simplificado do processo de comunicação pode ser visualizado na Figura 3, a seguir. 269 Para Laios (apud LAIOS; THEODORAKIS, 2001), os principais problemas de comunicação entre professores ou técnicos e alunos ou atletas são os descritos a seguir: a) tempo limitado – durante os jogos, o professor ou treinador tem pouco tempo para se comunicar com seus alunos ou atletas, como é o caso dos intervalos das partidas e os pedidos de tempo dentro da partida. Nesses curtos períodos de tempo, o professor ou treinador deve transmitir orientações e pensamentos, bem como assegurar que os alunos ou atletas tenham entendido a(s) mensagem(s), mesmo diante do cansaço; b) linguagem – em equipes “globalizadas”, compostas por jogadores de diferentes nacionalidades, é grande a probabilidade de ocorrer problemas de linguagem, visto que nem sempre todos os seus componentes compreendem o idioma local; c) habilidade de percepção – está relacionada ao fato de que uma mesma mensagemdo treinador ou professor pode produzir diferentes entendimentos para cada aluno ou atleta; d) atitude negativa – a atitude de jogadores jovens afeta decisivamente a maneira como eles percebem e colocam em prática as instruções do professor ou treinador. Atitudes negativas demonstradas pelos alunos ou atletas em aulas, treinos ou competições criam um clima pouco saudável e que prejudica o desempenho do grupo ou equipe; e) condição emocional – frequentemente, os alunos ou atletas não compreendem as mensagens enviadas pelo professor ou treinador, por não estarem em boas condições emocionais (problemas de relacionamento ou 270 fadiga são exemplos de fatores intervenientes que podem prejudicar o processo de comunicação); f ) fatores externos – fatores que não estão diretamente relacionados aos alunos ou atletas e aos professores ou treinadores, e que são difíceis de se controlar, como a reação dos torcedores ou espectadores, o apito dos árbitros e o comportamento dos adversários. Tais situações podem distrair os professores ou treinadores e os alunos ou atletas, tendo como resultado uma comunicação ineficaz e, em último caso, um mau desempenho. Após entrevistarem 13 técnicos profissionais de basquetebol na Grécia, Laios e Theodorakis (2001) sugeriram sete maneiras de melhorar as habilidades de comunicação esportiva: a) aumentar a confiança; b) projetar atitudes positivas; c) fornecer informações detalhadas; d) mostrar fidelidade; e) construir meios de comunicação; f ) ouvir ativamente; g) melhorar a comunicação não verbal. Além disso, deve-se ter em mente que, em geral, o ensino formal e tradicional não é caracterizado pelo estímulo ao diálogo e à comunicação em geral. Dessa forma, a prática pedagógica no Programa de Esporte da Fundação Vale deve conter e explicitar estratégias e intervenções que 271 estimulem o diálogo e a comunicação entre seus participantes. Para isso, é necessária uma prática pedagógica que considere o contexto de vida em que se insere cada indivíduo e como ele pode ter acesso a essa dinâmica de comunicação, o que demanda conhecimento sistemático da cultura local pelos dos professores. 10. Atenção e concentração No esporte, o aluno ou atleta deve estar atento aos aspectos mais relevantes do jogo ou da prova, uma vez que a vitória é definida, na maioria das vezes, por pequenos detalhes. Por outro lado, deve-se prestar atenção em situações inicialmente consideradas irrelevantes para o desempenho, como as manifestações da torcida ou dos espectadores, mas que podem distrair o aluno ou atleta e determinar sua perda de ritmo. No caso do tênis, algumas partidas chegam a durar mais de três horas, o que exige que os jogadores mantenham- se atentos por um longo período de tempo (SAMULSKI, 2009b). Para Samulski, atenção “é um estado seletivo, intensivo e dirigido da percepção; por sua vez, concentração é a capacidade de manter o foco de atenção sobre os estímulos relevantes do ambiente” (SAMULSKI, 2009b, p. 86). Quando o ambiente se altera de forma rápida, consequentemente, o foco de atenção também será alterado. Nesse sentido, a concentração tem como elementos importantes a focalização dos estímulos relevantes, a manutenção do nível de atenção por um determinado período de tempo e a tomada de consciência sobre a situação (WEINBERG; GOULD, 2008). 272 Determinadas variáveis interferem nos processos de atenção e de concentração. Uma delas, de acordo com Samulski (2009b), é o nível de ativação. Segundo o autor, estudos indicaram que o nível ótimo de desempenho e de atenção do aluno ou atleta ocorre por volta do meio-dia e atinge o pico quatro horas após um período de sono prolongado. Nideffer (1976) desenvolveu um modelo bidimensional da atenção baseado na amplitude e na direção. A amplitude pode ser ampla ou estreita, enquanto a direção pode ser externa ou interna, conforme descrições a seguir: a) amplitude ampla – atenção simultânea às diferentes informações percebidas; b) amplitude estreita – atenção a um único aspecto da situação; c) direção externa – atenção dirigida aos estímulos do ambiente; d) direção interna – atenção voltada às próprias percepções, sentimentos e pensamentos. O modelo de Nideffer (1976) sobre a atenção consiste na combinação da amplitude e da direção, resultando nas seguintes formas de atenção: ampla- externa, ampla-interna, estreita-externa e estreita-interna (Figura 4, a seguir). 273 No cenário esportivo, as categorias apresentadas anteriormente na Figura 4 podem ser exemplificadas conforme as seguintes descrições, segundo Samulski (2009b): a) ampla-externa – o líbero do voleibol deve estar atento a diversos fatores do ambiente, tais como as movimentações do atacante e do bloqueador, a velocidade e a trajetória da bola, bem como sua posição em quadra, para realizar a defesa; b) ampla-interna – reflete o planejamento de ações táticas futuras. Por exemplo: ao idealizar o seu desempenho técnico e tático dos próximos jogos, o sujeito está exercitando o foco amplo e interno da atenção. As equipes costumam exibir sessões de vídeos de jogos de seus próximos adversários com o intuito de desenvolver estratégias de jogo; c) estreito-externo – o goleiro de handebol, ao tentar defender um tiro de 7 metros, deve focar especificamente no atleta arremessador e na bola; 274 d) estreito-interno – reflete a regulação do nível de tensão interna e do estado emocional antes de uma decisão (partida final de campeonato). De acordo com Samulski (2009b), esportistas que não dispõem de níveis ótimos de atenção e de concentração podem não alcançar altos índices de desempenho. Com o intuito de promover a capacidade de concentração, esse autor recomenda que os professores ou técnicos, bem como os alunos ou atletas identifiquem os estímulos relevantes das tarefas e analisem as características e exigências da situação, de modo a escolher a forma mais adequada de atenção. Além disso, o desenvolvimento do pensamento positivo é fundamental e, por isso, os professores devem orientar seus alunos a se concentrar nos aspectos positivos e a evitar pensamentos negativos e irrelevantes durante as aulas ou treinos ou mesmo nos jogos ou competições. Tendo em vista essa discussão sobre atenção e concentração, retomam-se algumas possibilidades do ensino de esporte no Programa Brasil Vale Ouro. Um princípio ou conceito tático desenvolvido em campo não deve ser empregado apenas no ensino do posicionamento dos participantes ou do controle do jogo, mas também deve estimular, por meio do esporte, habilidades cognitivas como a concentração e a atenção. Por fim, não se deve esperar que isso ocorra naturalmente pelo desenvolvimento da aula – deve ser um aprendizado intencional, retomado e discutido nas rodas finais e em situações extracampo do programa esportivo. 11. Exercício e bem-estar psicológico 275 Atualmente, existe um forte apelo à utilização de equipamentos que favorecem o sedentarismo, como o controle remoto, a escada rolante, os automóveis e os portões eletrônicos. Além disso, os serviços de entrega – os famosos delivery – tornam fácil o acesso à alimentação e aos medicamentos, ao mesmo tempo que evitam o esforço físico. Apesar dos benefícios que esses bens e serviços agregam à vida moderna, tais avanços não são interessantes para a saúde, uma vez que o sedentarismo e a obesidade, associados às complexas e urgentes demandas da sociedade atual, podem levar a transtornos de humor, ansiedade e depressão (SAMULSKI et al., 2009). Guedes (1999) aponta que o termo saúde tem sido caracterizado de forma vaga e difusa. O autor relata que a Conferência Internacional sobre Exercício, Aptidão e Saúde, realizada no Canadá em 1988, produziu um documento com a finalidade de estabelecer um consenso quanto ao estadoatual do conhecimento sobre esse termo. Com certificação da Organização Internacional para Padronização (International Standardization Organization – ISO), esse documento definiu saúde como uma condição humana de dimensões física, social e psicológica, e que se caracteriza por um continuum com polos positivos e negativos. Apesar de se tratar de um construto multidimensional, a discussão a seguir tem como foco a dimensão psicológica da saúde. As pesquisas voltadas para os benefícios psicológicos da atividade física revelam que as pessoas que se exercitam regularmente apresentam tendência a ter melhor estado de humor, maior autoestima e melhor percepção de sua imagem corporal. Além disso, investigações como a desenvolvida por Craft (2005) ressaltam os efeitos antidepressivos do exercício físico. Esses efeitos ocorrem 276 devido à liberação, pelo organismo e durante o exercício, dos hormônios neurotransmissores beta-endorfina e dopamina, que propiciam um efeito tranquilizante e analgésico no praticante regular, que frequentemente se beneficia de um efeito relaxante pós-esforço e, em geral, consegue manter um estado de equilíbrio psicossocial mais estável frente às ameaças do meio externo (MARIN NETO et al. apud CHEIK et al., 2003). Para Samulski e outros, “a intensidade do exercício realizado com o objetivo de melhorar a saúde psicológica do indivíduo deve ser de nível moderado” (SAMULSKI et al., 2009, p. 364). O autor faz essa recomendação como medida de segurança, pois existem divergências entre os estudos na área: certos pesquisadores recomendam intensidade alta, outros sugerem intensidade média e outros, ainda, indicam a baixa intensidade. Por fim, a Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte (ISSP apud SAMULSKI et al., 2009) publicou uma declaração afirmando que a prática de atividade física regular e controlada pode apresentar os seguintes benefícios psicológicos: • redução do estado de ansiedade; • redução do nível de depressão moderada; • redução da instabilidade emocional; • redução de vários sintomas de estresse; • produção de efeitos emocionais positivos 277 12. Psicologia do esporte infanto-juvenil Segundo Weinberg e Gould (2008), uma das áreas de atuação mais importantes da psicologia do esporte é o esporte infanto-juvenil, pois crianças e jovens compõem o maior grupo populacional de praticantes esportivos. Nessa faixa etária, o envolvimento com o exercício e o esporte vai desde as aulas de educação física na escola às atividades esportivas extraescolares, passando pelas “escolinhas” de iniciação esportiva, os jogos recreativos, até a participação em equipes de competição. A atividade esportiva, além de contribuir para o desenvolvimento físico, é fonte de muitos benefícios para o desenvolvimento psicológico e social de crianças e de adolescentes. A prática esportiva permite que eles estejam entre amigos, e é sabido que o convívio em grupo é muito importante nessa fase do desenvolvimento. O esporte também exige que sejam obedecidas certas regras que caracterizam as diferentes modalidades, constituindo assim um exemplo da importância da internalização de regras, processo que, se o jovem for capaz de generalizar para outras situações, contribuirá para o seu convívio social. A prática esportiva também leva o jovem a conhecer-se melhor, pois, ao desenvolvê-la, ele estará confrontando-se com seus limites, aprendendo a lidar com fracassos, bem como afirmando as suas potencialidades. Nesse sentido, o esporte também contribui para o desenvolvimento da autoestima e da autoeficácia do aluno. No meio esportivo, o jovem deve lidar ainda com as 278 expectativas dos pais, dos professores e com as suas próprias, o que auxilia no seu processo de amadurecimento (MACHADO, 1997). Segundo Weinberg e Gould (2008), as crianças e adolescentes participam das atividades esportivas pelos seguintes motivos: • aprendizado de novas habilidades; • diversão; • desejo de pertencer a um grupo ou formar amizades; • emoções e excitação; • exercício e condicionamento; • desafio da competição e desejo de vencer. Por outro lado, estudos indicam que, de cada dez crianças que iniciam uma temporada esportiva, de três a quatro terão desistido no intervalo de um ano. Conforme Weinberg e Gould (2008), os principais fatores que levam a essa desistência são: • falha em aprender novas habilidades; • falta de diversão; • falha em pertencer a um grupo ou formar amizades; • falta de emoções e de excitação; • falta de exercício e de condicionamento; • ausência de desafios ou fracasso. 279 Reforça-se, dessa forma, um dos elementos que subsidiam a escolha do modelo pedagógico a ser adotado nas ações dentro do compromisso da Fundação Vale com a promoção do desenvolvimento humano (FUNDAÇÃO VALE, 2013). Assim, algumas diretrizes e ações estratégicas podem ser seguidas para o ensino do esporte de crianças e adolescentes, com vistas à promoção do desenvolvimento humano: • em primeiro lugar, os professores ou técnicos devem elogiar e incentivar seus alunos ou atletas, pois o elogio direciona a atenção para as atitudes e ações positivas realizadas pelos praticantes. Para que produza benefícios, o elogio deve ser sincero, de modo a que seja mantida a credibilidade e a confiança mútua. Por outro lado, não surtirá efeito elogiar um adolescente afirmando que ele fez uma boa partida, quando ele próprio sabe que não desenvolveu todo o seu potencial (WEINBERG; GOULD, 2008); • em segundo lugar, é relevante o uso da técnica positivo-negativo- positivo (PNP) para a correção de erros. Essa abordagem consiste em expressar uma consideração positiva (por exemplo: “boa tentativa”) antes de apontar o erro do jovem praticante e corrigi-lo (por exemplo: “agora procure se antecipar ao zagueiro para chutar”), e finalizar com um incentivo (por exemplo: “continue tentando, você vai conseguir”); • o terceiro aspecto diz respeito à variação e à modificação das atividades. Quanto mais diversificados forem os treinamentos ou as aulas, mais interessantes eles serão para o público infanto-juvenil. Atividades também podem ser adaptadas, tendo como objetivo a participação adequada e a 280 motivação, como, por exemplo, diminuir a altura da cesta de basquete ou da rede de vôlei quando crianças estiverem jogando. Com isso, vê-se que o foco do esporte para crianças e adolescentes deve ser a aprendizagem (processo), e não o resultado (produto). Ao final de um jogo ou treino, é mais oportuno perguntar ao jovem como ele se sente e como ele avalia a própria atuação (ênfase no processo), em vez de se preocupar com quanto foi o resultado e com a contribuição do aluno ou atleta para alcançá-lo (ênfase no produto). Esse é um ponto importante a se destacar, tendo em vista o foco deste Programa de Esporte da Fundação Vale, que tem o esporte como meio de aprendizagem seja das capacidades físicas e habilidades motoras específicas, seja da formação de valores e outros atributos nem sempre explicitados na prática esportiva convencional de abordagem tecnicista. 13. Agressão no esporte No ambiente esportivo competitivo, o contato físico inerente à prática pode desencadear o surgimento de eventos de agressão, em especial nas modalidades que são caracterizadas pelo confronto físico, como o futebol, o basquetebol e o handebol. A maioria dos meios de comunicação utiliza-se de sensacionalismo para evidenciar a violência no esporte, sendo poucas as menções sobre os aspectos preventivos e educativos do tema. 281 De acordo com Samulski (2009a), a agressão é um comportamento físico ou verbal que está relacionado a uma lesão de ordem física ou psicológica; por isso, envolve intenções e motivos, e é direcionada à própria pessoa ou a outrem. Nesse sentido, uma lesão acidental nãoé considerada agressão, visto que o ato não foi intencional. O mesmo autor aponta fatores relevantes para a ocorrência de comportamentos agressivos durante os jogos (SAMULSKI, 2009a): • jogar em casa ou jogar como visitante; • importância do jogo; • nível de rendimento dos jogadores; • resultado parcial ou final do jogo; • posição e tarefa tática do aluno ou atleta; • comportamento do árbitro; • comportamento dos professores ou técnicos; • quantidade e comportamento do público presente (torcida ou espectadores); • regras das modalidades esportivas. Outro aspecto importante da agressividade no esporte é o fator imitação. Esse fator ocorre com mais frequência em jovens atletas ou alunos que se espelham no comportamento de atletas de alto nível. Com isso, eles aprendem a se comportar de modo agressivo com base na observação e na convivência com atletas profissionais que apresentam comportamentos violentos. 282 As estratégias de prevenção e controle da agressão no esporte envolvem o comprometimento de atletas ou alunos, treinadores ou professores, pais, torcedores ou espectadores, árbitros e profissionais da imprensa esportiva. Tenenbaum et al. (1996) elaboraram o posicionamento oficial da Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte (International Society of Sport Psychology – ISSP), que aponta nove recomendações para a redução da incidência de agressões e de violência no esporte: a) Recomendação 1 – as entidades esportivas devem revisar suas penalidades, ficando atentas para que os comportamentos transgressores sejam penalizados com ações que tenham valor punitivo maior do que o potencial de reforço; b) Recomendação 2 – as entidades esportivas devem assegurar o treinamento correto e apropriado das equipes, especialmente no esporte infanto-juvenil, dando ênfase ao jogo limpo (fair play) para todos os participantes; c) Recomendação 3 – as entidades esportivas devem banir o consumo de bebidas alcoólicas em eventos esportivos; d) Recomendação 4 – as entidades esportivas devem oferecer instalações físicas e materiais adequados; e) Recomendação 5 – os meios de comunicação devem noticiar de modo adequado os casos isolados de agressão no esporte, evitando colocá- los em evidência, como nas manchetes dos jornais; f) Recomendação 6 – os meios de comunicação devem promover campanhas para reduzir a violência e a agressão no esporte. Tais iniciativas 283 devem contar com a participação e o comprometimento de atletas, alunos, professores, técnicos, dirigentes, árbitros, torcedores e espectadores; g) Recomendação 7 – professores, técnicos, dirigentes, atletas, alunos, jornalistas, árbitros e autoridades (por exemplo, policiais) devem participar de seminários sobre agressão e violência para compreender esse fenômeno: por que ocorre, quais as consequências dos atos de agressão e como o comportamento agressivo pode ser controlado; h) Recomendação 8 – professores, técnicos, dirigentes, árbitros e profissionais da imprensa devem incentivar o engajamento de alunos e atletas em comportamentos pró-sociais e punir os que cometem atos de hostilidade; i) Recomendação 9 – alunos e atletas devem participar de programas que os ajudem a reduzir tendências comportamentais agressivas. A revisão das regras, a imposição de penalidades severas e a mudança de padrões de reforço são apenas parte das soluções para coibir a agressão no esporte. Em última instância, alunos e atletas devem assumir a responsabilidade por seu comportamento. As recomendações acima incitam a reforçar outro ponto que foi destacado anteriormente: o conhecimento do contexto e da situação de vida dos alunos do Programa Brasil Vale Ouro em cada território. Situações de violência devem ser consideradas pelos professores do Programa Brasil Vale Ouro, independentemente da ocorrência de agressão em aulas. É importante destacar que os profissionais precisam estar preparados para identificar e lidar com situações de violência dentro ou fora das aulas de esporte, de forma a considerá-las no momento do planejamento 284 contextualizado das aulas com a realidade vivenciada pelos alunos, seja na família, na escola ou na comunidade, uma vez que ela se reflete nas atitudes diária dos alunos. Tais situações podem ser minimizadas por meio de um trabalho orientado por valores como a disciplina, o respeito ao próximo, a cooperação, entre outros, que o esporte pode fortalecer. 14. Considerações finais Para finalizar este caderno, devem ser vistos alguns conceitos importantes sobre o caráter e o espírito esportivo a serem aplicados na prática esportiva e nas atividades do Programa. Segundo Weinberg e Gould (2008), o caráter, no esporte, pode ser definido como a inter- -relação de quatro virtudes: compaixão, imparcialidade, integridade e espírito esportivo. Compaixão é a capacidade de se compreender os sentimentos dos outros indivíduos. No caso do esporte, manifesta-se quando o aluno ou atleta procura analisar os sentimentos e as perspectivas de seus adversários e dos árbitros. A imparcialidade consiste na garantia de direitos iguais para todos os praticantes, ou seja, as regras das modalidades devem ser cumpridas por todos os envolvidos, sem violações ou exceções. Integridade é a capacidade de manutenção de um determinado comportamento ou julgamento mesmo diante de dilemas morais. 285 Um jogador de futebol íntegro, por exemplo, assume que utilizou a mão para marcar o gol, pois não tem a intenção de ludibriar a arbitragem. Por fim, espírito esportivo é um termo difícil de ser conceituado, mas pode ser descrito como a preocupação com a manutenção da ética, mesmo quando houver conflito com o interesse pela vitória. Portanto, no voleibol, quando a bola toca a linha da quadra, o defensor dotado de espírito esportivo reconhece que foi ponto do adversário, evitando discussões entre jogadores e árbitros. O espírito esportivo também é caracterizado por demonstrações de respeito e de cortesia, como o cumprimento dos tenistas à rede, ao final de uma partida. É importante ressaltar que tanto o caráter quanto o espírito esportivo não são alcançados de modo automático, pela simples prática esportiva. Um exemplo disso é o caso de uma aula de natação em que todos os alunos foram orientados a nadar 200 metros. Ao verificar que o colega ao lado nadou uma distância menor e afirmou que cumpriu a tarefa, sem ser percebido ou alertado pelo professor, o aluno pode concluir que trapacear é aceitável. Por isso, tais comportamentos não são adquiridos, mas sim ensinados e aprendidos inclusive nas aulas de educação física e esportes (WEINBERG; GOULD, 2008). Com o objetivo de intensificar o desenvolvimento do caráter, faz-se necessário que o espírito esportivo seja um tema frequentemente discutido entre professores, técnicos, alunos, atletas, árbitros e dirigentes. Os comportamentos representativos do espírito esportivo devem ser incentivados, enquanto as atitudes inadequadas devem ser desencorajadas e, dentro do possível, penalizadas. 286 O indivíduo deve reconhecer os princípios morais que norteiam a prática esportiva para definir o que é certo e o que é errado; portanto, o diálogo favorece a transmissão dos preceitos do código de esportividade. Um árbitro de futebol infanto-juvenil, ao penalizar um atleta com o cartão amarelo, deve explicar o motivo de sua punição, explicitando de modo didático a violação cometida e orientando o jovem praticante a modificar sua conduta, como estímulo ao desenvolvimento de valores coerentes com o novo conceito de desenvolvimento humano. 287 REFERÊNCIAS CARNEIRO, W. F. Atletismo: a sua contribuição enquanto conhecimento da área pedagógica da Educação Física no contexto escolar em uma perspectiva de promoção da saúde.Universidade do Porto: Porto, 2001. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO (CBAT). Atletismo – Regras oficiais de competições 2016-2017. Iaaf, 2015. Disponível em: <http://www.cbat.org.br/regras/REGRAS_OFICIAIS_2016_2017.pdf>. Provas oficiais. CBAt, 2016. Disponível em: <http://www.cbat.org.br/provas/provas_oficiais. asp>. CND. Sistema de capacitación y certificación para entrenadores deportivos. Manual para el entrenador de atletismo nível 4. México: Comisión Nacional del Desporto, 1998. DARIDO, S. C.; SOUZA JÚNIOR, O. M. Para ensinar educação física: possibilidades de intervenções na escola. Campinas: Papirus, 2007. DIEM, C. Historia de los deportes. Barcelona: Luis de Caralt, 1966. DUCAL, J. B. Atletismo 1: carreras y marcha. Real Federación Española de Atletismo, 1998. DYSON, G. Mecânica del Atletismo. 6. ed. Madri: Instituto Nacional de Educación Física, 1978. FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE ATLETISMO (FPA). Ajuizamento da marcha atlética. Manual prático para juízes, dirigentes, treinadores e atletas. 288 Portugal: Federação Portuguesa de Atletismo, 2006. Disponível em: <http://www.aag.pt/fotos/53/731.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2020. FREITAS, F. P. R. F. O salto com vara na escola: subsídios para o seu ensino a partir de uma perspectiva histórica. Dissertação (Mestrado). Instituto de Biociência do campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Rio Claro, 2009. FROES, F. H.; HAAKE, S. J. How materials effect performance in sports Materials Society (TMS), Pensilvânia, 2001. Disponível em: <http://iweb.tms.org/ED/01-5085-1.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2020. FROMETA, E. R.; TAKAHASHI, K. Guia metodológico de exercícios em Atletismo. Porto Alegre: Artmed, 2004. GOMES, L. B. Atletismo como conteúdo curricular nos anos iniciais: justificativa e validade prática. Brasília: Clube de autores, 2007. GRANELL, J. C.; LAZCORRETA, J. E. G. Las técnicas de atletismo: Manual práctico de enseñanza. Barcelona: Editorial Paidotribo, 2004. IAAF/CBAt. Atletismo: regras oficias de competição. São Paulo: Phorte Editora, 2010. INTERNATIONAL ASSOCIATION OF ATLETHICS FEDERATION (IAAF). Competition Rules 2016-2017. IAAF:Mônaco, 2015. LINHARES, J. Sonho nas alturas. Veja, São Paulo, edição 2.489, ano 49, n. 31, p. 92-97, 3 ago. 2016. Disponível em: 289 <https://acervo.veja. =1>. LOPES, C. D.; TORRES, V. M. F.; FILHO, W. C. S. Categorização e descrição da técnica da marcha atlética.EFdeportes.com, n. 17, p. 174, 2012. MANSILLA, I. Conocer el Atletismo. Madri: Gymnos Editorial, 1994. MARTINS, S. G. G. L. A avaliação das estratégias de controle visual na corrida de aproximação no salto com vara: um estudo realizado com atletas de elite masculina durante a época de pista coberta. Faculdade de Ciência do Desporto e de Educação Física. Porto: Universidade do Porto, 2007. MATTHIESEN, S. R. Atletismo se aprende na escola. Jundiaí: Fontoura, 2004. Atletismo: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2014. PEREIRA, A. A. Q. Estudos dos padrões de ritmo na disciplina atlética de salto com vara. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Ciência do Desporto e de Educação Física. Universidade do Porto, Porto, 2002. SANT, J. R. Metodología y técnicas de atletismo. Badalona: Editorial Paidotribo, 2005. SANTOS, I. L.; MATTHIESEN, S. Q. A história do atletismo como um saber necessário às aulas de Educação Física: aprofundamento no estudo das corridas com barreira. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 12, n. 2, p. 118-129, 2013. SAVILLE, J. Race walking: What you need to know. IAAF: Mônaco, 2016. VIEIRA, S. O que é atletismo. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007. 290 BALBINOTTI, M. A. A. et al. Motivação à prática regular de atividade física: um estudoexploratório. Estudos de Psicologia, v. 16, n. 1, p. 99-106, 2011. BECKER JÚNIOR, B. Manual de psicologia do esporte & exercício. Porto Alegre: NovaProva, 2000. BONETE, E.; SUAY, F. Conceptos básicos y terminología del sobreentrenamiento. In:SUAY, F. (Org.). El síndrome de sobreentrenamiento: una visión desde la psicobiologíadel deporte. Barcelona: Editorial Paidotribo, 2003. p. 15-38. BRANDÃO, M. R. F. Fatores de stress em jogadores de futebol profissional. 2000. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). BRANDÃO, M. R. F.; AGRESTA, M.; REBUSTINI, F. Estados emocionais de técnicos brasileiros de alto rendimento. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 10, n. 3,p. 25-28, 2002. CARRON, A. et al. Cohesion and performance in sports: a meta analysis. Journal of Sport and Exercise Psychology, v. 24, n. 2, p. 168-188, 2002. CHEIK, N. et al. Efeitos do exercício físico e da atividade física na depressão e ansiedade em indivíduos idosos. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 11, n. 3,p. 45-52, 2003. COSTA, H. Resgatando a memória dos pioneiros: João Carvalhaes. Boletim Academia Paulista de Psicologia, v. 26, n. 3, p. 15-22, 2006. 291 COSTA, I.; SAMULSKI, D.; COSTA, V. Análise do perfil de liderança dos treinadores das categorias de base do futebol brasileiro. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 23, n. 3, p. 185-194, 2009. CRAFT, L. L. Exercise and clinical depression: examining two psychological mechanisms. Psychology of Sport and Exercise, v. 6 n. 2, p. 151- 171, 2005. FLETCHER, D.; SCOTT, M. Psychological stress in sports coaches: a review of concepts, research, and practice. Journal of Sports Sciences, v. 28, n. 2, p. 127-137, 2010. FUNDAÇÃO VALE. Proposta pedagógica de esporte: Brasil Vale Ouro. Brasília: Fundação Vale; UNESCO, 2013. GHORAYEB, N.; NETO, T. L. de B. O exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. São Paulo: Editora Atheneu, 1999. GILL, D.; WILLIAMS, L. Psychological dynamics of sport and exercise. 3 ed. Champaign-IL: Human Kinetics, 2008. GIMENO, E. C. Sobreentrenamiento, burnout e motivación en el deporte. In: SUAY, F. (Org.). El síndrome de sobreentrenamiento: una visión desde la psicobiología del deporte. Barcelona: Editorial Paidotribo, 2003. p. 39- 55. GLEESON, M. Biochemical and immunological markers of overtraining. Journal of Sports Science and Medicine (Electronic), v. 1, n. 2, p. 31-41, 200.