Prévia do material em texto
LOM3226 - Mecânica Quântica Prof. Dr. Luiz T. F. Eleno Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo Lista 1, Ex. 24: Calcule 〈x〉, 〈p〉, 〈x2〉, 〈p2〉 e 〈T〉 para o n-ésimo estado estacionário do oscilador harmônico. Confira se o princı́pio da incerteza é satisfeito Solução: O exercı́cio é relativamente simples (apesar de longo) se você tiver os conceitos bem claros na cabeça., ainda que a solução dependa de um truque que vou descrever mais adiante. Usando esse truque, você não precisará resolver nenhuma integral no braço! Vou começar calculando 〈x〉n, que é o valor esperado de x no estado estacionário ψn(x): 〈x〉n = ∫ +∞ −∞ ψ∗n(x)x̂ψn(x)dx = ∫ +∞ −∞ xψ2 n(x)dx (1) A última parte da igualdade é verdade porque ψn(x), para o oscilador harmônico, é uma função real (para outros potenciais isso nem sempre acontece!). Agora repare que, como as funções ψn(x) são sempre simétricas (são funções alternadamente pares ou ı́mpares), segue que ψ2 n(x) é sempre par, e, portanto, xψ2 n(x) é uma função ı́mpar. Consequentemente, como a integral de uma função ı́mpar num intervalo de integração simétrico em relação à origem é sempre zero, 〈x〉n = 0 (2) Agora vou calcular 〈p〉n, o valor esperado do momento no estado ψn(x). Para uma demonstração bem simples, perceba que p = m dx dt =⇒ 〈p〉n = m d dt 〈x〉n (3) Mas, como 〈x〉n = 0, segue que 〈p〉n = 0 (4) Para continuar, vou descrever o truque mencionado logo no primeiro parágrafo. Começo relembrando as definições dos operadores levantamento e abaixamento: â+ = 1√ 2mh̄ω (−i p̂ + mωx̂) , â− = 1√ 2mh̄ω (+i p̂ + mωx̂) (5) Somando as duas equações, você obtém â+ + â− = 1√ 2mh̄ω (2mωx̂) (6) de onde posso escrever uma expressão para x̂: x̂ = √ h̄ 2mω (â+ + â−) (7) (Você poderia agora subtrair â− de â+ para obter uma expressão para p̂: p̂ = i √ mh̄ω 2 (â+ − â−) , (8) mas não vou usar essa expressão aqui). Vou agora escrever o operador x̂2 usando a Eq. (7): x̂2 = h̄ 2mω (â+ + â−) 2 = h̄ 2mω ( â2 + + â2 − + â+ â− + â− â+ ) (9) Lembre agora (ver apresentação usada em aula) que Ĥ = h̄ω ( â− â+ − 1 2 ) ou Ĥ = h̄ω ( â+ â− + 1 2 ) (10) 1 Somando essas expressões: 2Ĥ = h̄ω (â+ â− + â− â+) (11) Jogando esse resultado na Eq. (9): x̂2 = h̄ 2mω ( â2 + + â2 − ) + 1 mω2 Ĥ (12) Vou usar esse último resultado para calcular 〈 x2〉 n:〈 x2 〉 n = ∫ +∞ −∞ ψ∗n(x)x̂2ψn(x)dx = ∫ +∞ −∞ ψ∗n(x) [ h̄ 2mω ( â2 + + â2 − ) + 1 mω2 Ĥ ] ψn(x)dx (13) ou ainda 〈 x2 〉 n = h̄ 2mω [∫ +∞ −∞ ψ∗n(x)â2 +ψn(x)dx + ∫ +∞ −∞ ψ∗n(x)â2 −ψn(x)dx ] + 1 mω2 ∫ +∞ −∞ ψ∗n(x)Ĥψn(x)dx (14) Agora repare que â2 +ψn(x) é fundamentalmente ψn+2(x) (a menos da normalização) e, como ψn e ψn+2 são ortonor- mais, segue que a primeira integral se anula. Por um motivo similar, o mesmo é verdade para a segunda integral. Resta, portanto, apenas a última integral, que é a definição do valor esperado do hamiltoniano no estado ψn(x): 〈H〉n = ∫ +∞ −∞ ψ∗n(x)Ĥψn(x)dx (15) Lembre agora que o valor esperado do hamiltoniano em algum estado estacionário é a energia desse estado: 〈H〉n = En (16) o que me permite escrever 〈 x2 〉 n = 1 mω2 En (17) Além disso, sei que En = h̄ω ( n + 1 2 ) (18) e posso, finalmente, escrever 〈 x2 〉 n = h̄ mω ( n + 1 2 ) (19) Agora vou calcular 〈V〉n, o valor esperado da energia potencial no estado ψn(x) — o motivo ficará claro em breve. Para o oscilador harmônico: V̂ = V(x) = 1 2 mω2x2 =⇒ 〈V〉n = 1 2 mω2 〈 x2 〉 n (20) Usando a Eq. (19): 〈V〉n = 1 2 h̄ω ( n + 1 2 ) (21) Repare agora no seguinte. Como Ĥ = T̂ + V̂, segue que 〈H〉n = 〈T〉n + 〈V〉n (22) Portanto, consigo calcular o valor esperado da energia cinética no estado ψn(x): 〈T〉n = 〈H〉n − 〈V〉n (23) ou seja, 〈T〉n = 1 2 h̄ω ( n + 1 2 ) (24) Percebo assim que 〈T〉n = 〈V〉n para os estados estacionários do oscilador harmônico. Finalmente, lembre que T̂ = p2 2m =⇒ 〈T〉n = 1 2m 〈 p2 〉 n (25) De onde obtenho o valor esperado de p2 no estado ψn(x): 〈 p2 〉 n = mh̄ω ( n + 1 2 ) (26) 2 Vou agora determinar os desvios padrão σx e σp no estado ψn(x). As variâncias são dadas por σ2 x = 〈 x2 〉 n − 〈x〉2n , σ2 p = 〈 p2 〉 n − 〈p〉2n (27) Usando tudo o que obtive até agora, terei σx = √ h̄ mω √ n + 1 2 , σp = √ mh̄ω √ n + 1 2 (28) e posso assim escrever σxσp = h̄ ( n + 1 2 ) (29) que consigo ainda colocar numa forma mais sugestiva: σxσp = h̄ 2 + h̄n (30) Como o número quântico n é sempre tal que n ≥ 0, segue que σxσp ≥ h̄ 2 (31) como diz o Princı́pio da Incerteza. Repare que, no estado fundamental (n = 0), a desigualdade torna-se uma identidade. � 3