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MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 1 AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA E PARTICULARIDADES NO EXAME DO IDOSO Professora Mygalys Espinosa Hernández Lacerda HAM IV ENVELHECIMENTO POPULACIONAL O processo de envelhecimento é progressivo, gradual e, principalmente, variável. É um processo natural. O fenótipo por ele determinado é o resultado de fenômenos intrínsecos ao organismo associados a fatores ambientais, ao estilo de vida, às condições nutricionais e à ocorrência de doenças. Desse modo, ninguém envelhece igual a outro da mesma espécie, mesmo que os seus genótipos sejam praticamente idênticos, como os gêmeos monozigóticos. IDOSO É impossível estabelecer o momento exato em que um indivíduo se torna idoso. Contudo, como é necessário estabelecer limites cronológicos para estudos e planejamentos administrativos, a Organização das Nações Unidas (ONU) e também a Organização Mundial da Saúde (OMS), com base em fatores socioeconômicos, consideram idoso todo indivíduo com 60 anos ou mais. Nos países com expectativa de vida mais alta, entretanto, o limite é elevado para 65 anos, e alguns já tendem a estabelecê-lo em 70 anos. No Brasil, do ponto de vista legal, idoso é toda pessoa maior de 60 anos de idade (Lei n. 8.842, de janeiro de 1994, e Lei no 10.741, de outubro de 2003). Atualmente, o envelhecimento não é mais um fenômeno. Uma vez que nem todos conseguem envelhecer. SENESCÊNCIA São, portanto, as alterações pelas quais o corpo passa e que são decorrentes de processos fisiológicos, que não caracterizam doenças. Todos que chegam à velhice experimentam as alterações fisiológicas (normais) desse processo. Para prevalecer a senescência, existem 4 atitudes para serem tomadas ao longo de toda vida: 1) Nutrição adequada em cada fase da vida. 2) Atividade física constante. 3) Relacionamento social presente. 4) Controle de doenças crônicas SENILIDADE É o processo de envelhecimento associado a diversas alterações decorrentes de doenças crônicas, como hipertensão arterial, diabetes, doenças cardíacas, pulmonares, renais e neurológicas, bem como hábitos inadequados adquiridos ao longo da vida. Condições que acometem o indivíduo no decorrer da vida baseadas em mecanismos fisiopatológicos. A separação entre senescência e senilidade não é muito nítida; por isso, procura-se distribuir os idosos entre aqueles com envelhecimento bem-sucedido (senilidade) e aqueles com envelhecimento comum ou usual (senescência). Não se deve tratar o idoso que tenham sinais e sintomas como algo natural do envelhecimento. Nem todo envelhecimento é natural. Sempre evitar exames e procedimentos desnecessários, uma boa anamnese e exame físico é suficiente na maioria das vezes. Tanto a ONU como a OMS adotam os seguintes limites cronológicos: Idosos em países de renda média ou baixa: 60 anos ou mais. Idosos em países de renda alta: 65 anos ou mais. Muito idosos: 80 anos ou mais. Os muito idosos correspondem aos indivíduos mais propensos a apresentarem incapacidades, múltiplas doenças crônicas e fragilidade. Alguns autores têm classificado os idosos com base na cronologia ou de acordo com a presença de doenças crônicas não transmissíveis, como demência, doença de Parkinson, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), câncer, osteoporose, doença tireoidiana, acidente vascular cerebral, hipertensão, doença cerebrovascular e problemas que causam visão subnormal. De acordo com dados do IBGE, a população idosa no Brasil é atualmente de 22,9 milhões (11,34%) e a estimativa é de que esse número mais que triplique. Infelizmente, nosso País ainda não está preparado para atender às demandas dessa população. MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 2 A Política Nacional do Idoso assegura direitos que garantem oportunidades para a preservação de sua saúde física e mental, bem como seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social em condições de liberdade e dignidade. Apesar de avanços, como a aprovação do Estatuto do Idoso, a realidade é que os direitos e as necessidades dos idosos ainda não são plenamente atendidos. No que diz respeito à saúde do idoso, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não está preparado para amparar adequadamente essa população. “FENÔMENO ICEBERG” NOS IDOSOS: Alguns problemas comuns em idosos não geram queixas durante um longo período de sua evolução, podendo permanecer ocultos, “submersos”, como a parte principal de um iceberg. Outros são evidentes, mas não são reconhecidos por uma equipe sem treinamento. Quase sempre ele tem várias queixas sem relação uma com a outra, raramente tem uma queixa principal. MODIFICAÇÕES ANATÔMICAS E FUNCIONAIS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO As modificações anatômicas e fisiológicas guardam pouca relação com a idade cronológica e variam de um órgão para outro e de um indivíduo para outro. Elas se iniciam geralmente a partir dos 30 anos, evoluem gradualmente com o tempo, mas permanecem praticamente imperceptíveis por muitos anos. MODIFICAÇÕES SISTÊMICAS Dentre as modificações gerais ocasionadas pelo envelhecimento destacam-se as alterações da constituição corporal, como: ALTERAÇÕES DA CONSTITUIÇÃO CORPORAL COM O ENVELHECIMENTO Diminuição da massa óssea Diminuição da massa muscular (sarcopenia) Redução da água intracelular Aumento com redistribuição da gordura corporal, que se acumula nos omentos, lóbulos das orelhas, regiões paracardíaca e perirrenais Diminuição do tecido celular subcutâneo dos membros e aumento no tronco Aumento dos diâmetros da caixa torácica e do crânio Diminuição da estatura em cerca de 1 cm por década a partir dos 40 anos, em decorrência da acentuação das curvaturas da coluna vertebral e do achatamento dos arcos dos pés e dos discos intervertebrais MODIFICAÇÕES SISTÊMICAS Pele, tela subcutânea e fâneros. Pode-se afirmar que é praticamente impossível determinar quais modificações da pele seriam provocadas exclusivamente pelo envelhecimento, sem a influência de fatores externos ao organismo, pois a pele é o órgão de contato do corpo com o ambiente. MODIFICAÇÕES DO SISTEMA DE REGULAÇÃO DA TEMPERATURA NO IDOSO HIPOTERMIA Diminuição da sensação de frio; Diminuição da resposta vasoconstritora ao frio; Diminuição da resposta de calafrios; Diminuição da termogênese HIPERTERMIA Elevação do limiar central de temperatura; Diminuição da capacidade de percepção do calor; Diminuição da resposta vasodilatadora ao calor; Diminuição ou ausência de sudorese; Diminuição da reserva cardiovascular. ENVELHECIMENTO CEREBRAL ALTERAÇÕES ANATÔMICAS, HISTOLÓGICAS E BIOQUÍMICAS Diminuição de peso e volume cerebrais; Atrofia dos hemisférios cerebrais com aumento dos espaços subaracnóideos e dos ventrículos laterais (hidrocefalia ex-vácuo); Diminuição do córtex e do número de neurônios; Redução de neurotransmissores, principalmente acetilcolina e dopamina; Depósito de substância beta-amiloide nos vasos; MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 3 Pequena quantidade de placas neuríticas e emaranhados neurofibrilares (quando em maiores quantidades e difusos pelo cérebro, caracterizam a doença de Alzheimer); Microangiopatia nos exames de imagem cerebral. ALTERAÇÕES FUNCIONAIS Pequeno declínio de certas habilidades cognitivas em muitos, mas não em todos, indivíduos saudáveis, o qual não se traduz em comprometimento das atividades da vida diária; Dificuldades de atenção, especialmente quando é necessário fazer várias tarefas; Diminuição da capacidade de recordar novas informações, principalmente visuais; Declínio da capacidade de compreender as relações espaciais; Diminuição da capacidade de varredura visual; Lentidão na conceptualização dos problemas e dificuldades para mudar de estratégia quando as circunstânciasmudam A COMUNICAÇÃO COM A PESSOA IDOSA Use frases curtas e objetivas. Chame-o pelo próprio nome ou da forma como ele preferir. Evite infantilizá-lo utilizando termos inapropriados como “vovô”, “querido”, ou ainda, utilizando termos diminutivos desnecessários (“bonitinho”, “lindinho”) . Pergunte se entendeu bem a explicação, se houve alguma dúvida. Repita a informação, quando essa for erroneamente interpretada, utilizando palavras diferentes e, de preferência, uma linguagem mais apropriada à sua compreensão. Fale de frente, sem cobrir sua boca e, não se vire ou se afaste enquanto fala. Aguarde a resposta da primeira pergunta antes de elaborar a segunda, pois, a pessoa idosa geralmente necessita de um tempo maior para responder. Não interrompa a pessoa idosa no meio de sua fala, demonstrando pressa ou impaciência. É necessário permitir que ele conclua o seu próprio pensamento. QUAL O MAIOR MEDO DOS IDOSOS? É a perda da independência e, assim, tornar-se um peso para os outros. EXAME CLÍNICO Os princípios do exame clínico e as técnicas corretas devem ser sempre mantidos durante o atendimento desses pacientes, independentemente do local de atendimento e das suas condições clínicas. PRINCÍPIOS BÁSICOS Ao examinar um paciente idoso, o médico precisa ter em mente os seguintes princípios: A idade cronológica guarda pouca relação com as condições clínicas e com o prognóstico do paciente. Quanto maior é a idade, maior é o risco de fragilidade e incapacidade. Contudo, existe uma enorme variabilidade entre os idosos. Indivíduos em idades muito avançadas podem estar em melhores condições que idosos mais jovens Existem muitos estereótipos e preconceitos em relação à velhice, chamados no inglês de ageism (sem tradução para o português), tais como o de que os idosos são poliqueixosos, pessimistas, ranzinzas e pouco comunicativos. Na verdade, esses comportamentos são consequência de uma doença de base, orgânica ou psíquica, e não do processo de envelhecimento Muitos idosos têm seus próprios preconceitos em relação à sua idade, como o de que seus sintomas são sempre consequência do envelhecimento e não têm tratamento, não havendo, portanto, razão para procurar o médico. Quase sempre o médico é muito mais jovem do que seu paciente, e isso pode dificultar o estabelecimento de uma relação de confiança entre os dois. Por isso, é preciso uma postura digna e um tratamento respeitoso por parte do médico. CADERNETA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA A Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa é um instrumento estratégico de qualificação da atenção à pessoa idosa, objetiva contribuir para a organização do processo de trabalho das equipes de saúde e para a otimização de ações que possibilitem uma avaliação integral da saúde da pessoa idosa, identificando suas principais vulnerabilidades e oferecendo orientações de autocuidado. MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 4 O Plano de Cuidado estabelecido após a avaliação multidimensional se aplica ao indivíduo, mas, também, proporciona uma tomada de decisões do ponto de vista coletivo, pois fornece recursos e informações para estruturar as ações de uma Unidade de Saúde no que se refere à população adscrita. A Caderneta permite o registro e o acompanhamento, pelo período de 5 anos, de informações sobre dados pessoais e socioeconômicos, condições de saúde, hábitos de vida, vulnerabilidades e orientações para o seu autocuidado. A Caderneta conta com uma ficha espelho (resumo da Caderneta) contendo dados gerais para serem preenchidos e anexados ao prontuário da pessoa idosa na Atenção Básica. Através das informações registradas na ficha espelho, as equipes de saúde podem fazer levantamento do perfil dos idosos cobertos no território, identificando as situações de maior vulnerabilidade. Trata-se de uma ferramenta que pode ser utilizada pelas equipes da Atenção Básica para o planejamento e monitoramento de suas ações. Para receber a Caderneta, o município deverá fazer uma adesão via formulário eletrônico, conhecido como FormSUS. No formulário, serão inseridos os dados do município, sobre perfil da rede de saúde, de idosos, a necessidade de Caderneta, plano de implementação e ofício do Secretário Municipal de Saúde, em que ele assume o compromisso em implementar a Caderneta. ANAMNESE A anamnese é e sempre será a base para o cuidado dos pacientes, principalmente do idoso. Para o médico, o paciente pode ser apenas um a mais entre muitos. Mas, para o paciente, o médico pode ser uma das pessoas mais importantes em sua vida, especialmente no caso de um idoso frágil e que vive isolado. DIFICULDADES DA ANAMNESE DE PACIENTES IDOSOS O paciente informa pouco sobre sua doença; Doenças com apresentação atípica; Apresentação inespecífica das doenças agudas; Barreiras de comunicação; História extensa e queixas mal caracterizadas. IDENTIFICAÇÃO 1- Nome do paciente; 2- Nome do acompanhante (e sua relação com o paciente); 3- Telefone de contato; 4- Data de nascimento do paciente – Idade – Sexo; 5- Endereço; 6- Estado civil; 7- Escolaridade; 8- História familiar: Quantos filhos tem? Mora sozinho ou acompanhado; 9- Profissão; 10- Religião; 11- Queixa principal. Sempre é bom colocar a data e hora na anamnese, uma vez que é importante para a história clínica do paciente. Colocar o endereço é importante para ter noção de onde o paciente vive (zona rural ou urbana), e basear nisso para o diagnóstico da doença. Quantos filhos? Para saber se tem um suporte familiar. Profissão? Para ter noção se tem um apoio econômico. Religião? Principalmente quando se trata de uma doença terminal. LEVANTAMENTO DOS SINTOMAS 1- Preocupações físicas 2- Sensórias 3- Intelectuais 4- Linguagem 5- Habilidades não verbais 6- Memória 7- Humor/Comportamento/Personalidade 8- Histórico médico ASPECTOS ESPECIAIS DO INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO DO PACIENTE IDOSO Deficiência de memória; Distúrbios de comportamento; Deambulação compulsiva (paciente que perambula); Tonturas; Alterações da marcha e uso de equipamentos de adaptação (bengalas, andadores); Problemas com os pés; Quedas; Perda visual; Perda auditiva; Problemas dentários e uso de próteses; MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 5 Distúrbios alimentares, dietas especiais e perda de peso; Modificações do sono; Fadiga; Dor; Incontinência; Úlceras de pressão; Sintomas depressivos e ansiedade; Sexualidade. TESTE DA SACOLA DE REMÉDIOS Os medicamentos que estão sendo usados e aqueles que foram utilizados recentemente pelo paciente merecem atenção especial. Os pacientes devem ser encorajados a levar os medicamentos ou, pelo menos, uma lista por escrito. Deve-se perguntar insistentemente sobre automedicação. EXAME FÍSICO O exame físico do idoso deve ser completo e minucioso. Contudo, muitas vezes as condições clínicas e a fragilidade do paciente dificultam sua realização e demandam maior paciência e disposição por parte do médico. O exame físico começa desde o momento em que o idoso entra no consultório, a partir da observação. No caso de um paciente agitado ou em estado grave, o exame pode ser mais sumário na primeira visita, priorizando-se os problemas que oferecem risco à vida e que demandam intervenção terapêutica imediata; porém, deve ser completado o mais breve possível, inclusive com a realização da avaliação funcional. O exame físico começa a ser realizado no momento em que o paciente entra no consultório, ou o médico entra no ambiente onde ele está (consultório, hospital, domicílio, asilo). Observam-se postura, fácies, deambulação, gestos, modo de sentar e levantar, como ele se despe e acomoda-se na mesa para exame. Muitas vezes, o médico ou o(s) acompanhante(s), ao perceberem as dificuldades do paciente,apressam-se em ajudá-lo. É importante que o examinador se lembre de elevar a cabeceira da mesa de exame, pois são frequentes, nessa faixa etária, afecções que causam dispneia de decúbito. É necessário dispor de um pequeno travesseiro, porque muitos são portadores de artrose cervical ou de doença de Parkinson, que causam rigidez e dificultam o apoio da cabeça no mesmo plano do dorso. POSTURA E MARCHA Devemos lembrar que, com o avançar da idade, a cabeça desloca-se para frente e ocorre diminuição da lordose lombar normal. A marcha senil caracteriza-se por aumento da flexão dos cotovelos, cintura e quadril. Diminui também o balanço dos braços, o levantamento dos pés e o comprimento dos passos (marcha de pequenos passos). FÁCIES Algumas expressões fisionômicas que caracterizam fácies típicas de algumas doenças, como o hipotireoidismo, hipertireoidismo, depressão, e mesmo da síndrome parkinsoniana, podem não ser observadas nos idosos. PESO E ALTURA O peso nem tanto, mas a altura é um parâmetro quase sempre negligenciado no exame físico do paciente idoso. Quando se determina a estatura, deve-se ter em mente que ela é provavelmente menor do que a que o paciente alcançou ao final de sua fase de crescimento. O índice de massa corporal (IMC) ou índice de Quetelet, calculado pelo peso (kg) dividido pela altura (m) ao quadrado, é rotineiramente utilizado para a avaliação do estado nutricional. Nos idosos, deve-se atentar para modificação dos valores em decorrência da diminuição da estatura com o envelhecimento e alguns autores propõem o ponto de corte de menor que 22 para desnutrição. HIDRATAÇÃO As alterações da pele (diminuição do turgor), da mucosa oral e da língua (menos umedecidas por diminuição da produção de saliva) e das conjuntivas (diminuição da secreção lacrimal) que ocorrem com o envelhecimento dificultam a avaliação do estado de hidratação do paciente idoso. PELE A pele senil apresenta diminuição da elasticidade, do turgor, da espessura, das secreções sudorípara e sebácea pela ação ambiental principalmente dos raios ultravioleta (podem ocorrer zonas de hipo e hiperpigmentação e de hiperqueratinização), além das afecções que frequentemente acometem os idodos (neoplasias, micoses). Temperatura (mais baixa do que no adulto jovem, pois ele retém menos calor, 35.5 já é febre), FC e PA MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 6 (ambos os braços), FR (difere de acordo com a situação de saúde e de vida), hipotensão ortostática (deve ser investigado em todos- fenômeno comum). Ausência de febre não quer dizer ausência de infecção. Devem-se buscar sinais de carências nutricionais, principalmente vitamínicas. Durante o exame da pele, deve-se pesquisar a existência de lesões sugestivas de maus-tratos (equimoses), de úlceras por pressão e as condições de higiene do paciente. As pregas na pele devem ser analisadas em busca de monilíase, principalmente quando o paciente é incontinente. PRESSÃO ARTERIAL A medida da pressão arterial é um dado que não pode ser esquecido durante o exame físico do idoso. Com o envelhecimento, a pressão arterial sistólica eleva-se (hipertensão sistólica isolada do idoso), o que constitui um fator de risco para as doenças cerebrovasculares. A medida da pressão arterial dos idosos sempre deve ser feita nas três posições. Artérias enrijecidas dos idosos contribuem para o que se convencionou chamar de pseudo-hipertensão arterial. Essa condição caracteriza-se por níveis pressóricos elevados detectados pelo esfigmomanômetro, na ausência de lesão de órgãos- alvo, além de sensibilidade aumentada aos anti- hipertensivos com hipotensão postural e pressão intra-arterial normal. Algumas manobras, entre elas a palpação da artéria radial após a interrupção do fluxo sanguíneo pela compressão da artéria umeral pelo manguito do esfigmomanômetro (sinal de Osler), foram descritas para diferenciá-la da verdadeira hipertensão, mas nenhuma delas mostrou-se eficaz. A melhor maneira de fazer esse diagnóstico é observar clinicamente o paciente e valorizar a ausência de lesão de órgãos- alvo, os níveis pressóricos menores em outros membros e a resposta aos anti-hipertensivos. Deve- se estar sempre alerta se o “paciente piora” quando a “pressão melhora”. EXAME DA CABEÇA E DO PESCOÇO Nos pacientes idosos é importante observar alterações no tamanho do crânio, pois ele pode aumentar na doença de Paget dos ossos, que acomete quase exclusivamente indivíduos de faixas etárias mais avançadas. Devem-se observar as condições dos dentes e das próteses, e estas devem ser retiradas para exame, pois elas podem ocultar lesões, inclusive malignas. O exame do pescoço deve ser bastante minucioso. Palpam-se a tireoide, os pulsos arteriais, que também devem ser auscultados, as cadeias de linfonodos e as parótidas. EXAME DO TÓRAX À inspeção do tórax, são frequentes a cifose torácica e o alargamento do diâmetro anteroposterior, situações que podem ser consideradas consequências do envelhecimento normal, mas que se acentuam em algumas doenças comuns nessa faixa etária (DPOC, osteoporose). Nas mulheres, as mamas devem ser sempre examinadas, pois o câncer de mama também é comum nas idosas. À inspeção e à palpação, os sinais podem ser menos evidentes, pois, com o envelhecimento, torna-se mais difícil a palpação do ictus cordis em decorrência de alterações como a atrofia miocárdica e o aumento do volume residual pulmonar. Idoso geralmente apresenta tórax em barril. À ausculta, as bulhas cardíacas podem ser hipofonéticas. Até a quarta década de vida, a segunda bulha cardíaca (B2) é mais audível no segundo espaço intercostal esquerdo do que no direito. Com o envelhecimento, essa relação inverte-se, em virtude de modificações na posição da aorta e da artéria pulmonar. A diminuição da expansão pulmonar pode indicar uma calcificação intervertebral. Créptos em ápice de pulmão pode indicar uma pneumonia. Os idosos são mais propensos a apresentar doenças que causam modificações na ausculta das bulhas, como miocardiopatias e arritmias. A quarta bulha pode ser detectada em idosos, independentemente se haver ou não cardiopatia. O sopro sistólico de regurgitação no foco mitral também pode não ter significado patológico e traduzir apenas espessamento e calcificação da valva mitral, sem que haja alteração funcional. Os sopros diastólicos sempre indicam disfunção valvar. Sopro sistólico é da idade, diastólico precisa ser avaliado. MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 7 EXAME DO ABDOME É importante lembrar a necessidade de palpar e auscultar o trajeto da aorta abdominal, pois dilatações aneurismáticas e estenoses de seus ramos (renais, por exemplo) são mais comuns em idades avançadas. A palpação da região suprapúbica também é importante nos casos de diminuição do volume urinário ou incontinência, sob pena de deixar passar uma bexiga distendida. O toque retal deve completar o exame, pois as doenças prostáticas, os fecalomas e as neoplasias do reto são frequentes nessa faixa etária. EXAME DAS EXTREMIDADES Examinam-se os membros em busca de doenças osteoarticulares, as quais são a principal causa de incapacidade nesse grupo de indivíduos. Deformidades, como as alterações da tíbia com arqueamento das pernas, são sugestivas de doença de Paget dos ossos, que é exclusiva dessa faixa etária. Os pulsos devem ser rotineiramente palpados, pois a insuficiência vascular é mais comum nesses pacientes, consequência de doenças crônicas, como a hipertensão e o diabetes, e do tabagismo. O edema sempre deve ser pesquisado, sem se esquecer de que ele pode ser causado pela estase venosa em decorrência da imobilidade. Veias varicosas contribuem para agravar essa situação. EXAME NEUROLÓGICO Deve ser realizado em todos os idosos, independentemente da queixa do paciente, pois muitas doençasneurológicas podem manifestar-se com sintomas inespecíficos, como é o caso da doença de Parkinson, que pode ocorrer sem tremor e o paciente procurar o médico por depressão e/ou quedas. O diagnóstico será estabelecido pelo encontro, ao exame físico, de outros sinais extrapiramidais, como bradicinesia e rigidez. Primeiro, avalia-se a função mental Examinam-se os nervos cranianos e, principalmente, a movimentação ocular. A força e o trofismo muscular devem ser avaliados e os reflexos profundos, testados. Avalia-se também a sensibilidade tátil, dolorosa, vibratória e proprioceptiva. AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA (AGA) A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), também denominada Avaliação Geriátrica Global (AGG), é uma expressão utilizada para denominar um procedimento de avaliação multidimensional, frequentemente interdisciplinar, que tem como objetivo determinar as deficiências, incapacidades e desvantagens apresentadas pelo paciente idoso, visando ao planejamento do cuidado e ao seguimento. Difere do exame físico padrão por enfatizar a avaliação das capacidades cognitiva e funcional e dos aspectos psicossociais da vida do idoso e por basear-se em escalas e testes que permitem quantificar o grau de incapacidade. SISTEMA REPRODUTOR (feminino- exame do aparelho geniturinário e Papanicolau/masculino- exame das áreas geniturinárias e de Próstata), SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO (articulações, amplitude de movimento, anormalidade em mãos e pés), AVALIAÇÃO DA AUDIÇÃO (teste do sussurro- se não escuta faz uma otoscopia, se ainda não resolver faz a lavagem), AVALIAÇÃO DA VISÃO (cartão de rosenbaum ou teste de snelen), SISTEMA NEUROLÓGICO (pares craniano, reflexo pupilar, movimentos oculares, sentido do olfato, teste de força muscular, redução da massa muscular, teste de coordenação motora, reflexos tendinosos profundos e sensibilidade). Mesmo se a idosa para de ter relações sexuais, deve fazer o Papanicolau. BENEFÍCIOS DO AGA NÍVEL INDIVIDUAL Melhora a acurácia do exame clínico tradicional; Estabelece o grau e a extensão da incapacidade; Identifica idosos em risco de declínio funcional. NÍVEL POPULACIONAL Instrumento utilizado em estudos clínicos para a avaliação da capacidade funcional e da qualidade de vida; Identifica populações de risco; Deve ser utilizado para o planejamento de políticas públicas para o envelhecimento. MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 8 DIMENSÕES E SUBDIMENSÕES DA AGA AGA é o coração e a alma da medicina geriátrica. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO POMA: Performance Oriented Mobility Assessment APGAR: Família e amigos CHECKLIST: Segurança do domicílio, dos espaços coletivos e urbanos Escala de Barthel, Índice de Katz, Escala de Lawton e Medida de Independência Funcional (MFI) Questionário de Pfeffer e MFI Medidas antropométricas (peso, altura, circunferência abdominal e da panturrilha, IMC) Cartão de Rosenbaum Teste do Sussurro MINIEXAME DO ESTADO MENTAL (MEEM) Os testes para avaliação do estado mental devem ser simples, rápidos e reaplicáveis; não devem necessitar de material complementar e conhecimento especializado para que possam ser aplicados também por membros da equipe multiprofissional. A pontuação máxima do teste é 30 pontos, havendo grande influência da escolaridade nos escores de interpretação. Deve ser utilizado como instrumento de rastreio, não substituindo uma avaliação mais detalhada, pois, apesar de avaliar vários domínios, o faz de maneira superficial. Não serve para diagnóstico, mas serve para indicar que funções devem ser melhor investigadas. FLUÊNCIA VERBAL (FV) Teste utilizado para a avaliação predominantemente da linguagem e da memória semântica. Solicita-se que o indivíduo diga o maior número de itens de uma categoria semântica (p. ex., animais, frutas) ou fonêmica (palavras indicadas por determinada letra) durante 1 minuto. O escore é a soma do número de itens corretos (excluindo-se as repetições). Indivíduos normais com escolaridade menor que 8 anos devem falar no mínimo 9 itens, e os com escolaridade de 8 e mais anos, mínimo de 13 itens. TESTE DO DESENHO DO RELÓGIO (TDR) Avalia memória, funções executivas, habilidades visuoconstrutivas, compreensão verbal e abstração. Solicita-se ao paciente que desenhe um relógio analógico e os ponteiros marcando 22h45. Há limitação para utilização em paciente com baixa escolaridade (< 4 anos de escolaridade). MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 10 ESCALA DE KATZ Avalia a independência no desempenho de 6 funções (banho, vestir-se, ir ao banheiro, transferência, continência e alimentação), classificando as pessoas idosas como independentes ou dependentes. ÍNDICE DE BARTHEL A Escala de Barthel avalia 10 itens, incluindo a deambulação, e foi validada no Brasil parcialmente, apenas para atendimento ambulatorial. < 20 pontos: Dependência total 20 até 35 pontos: Dependência grave 40 até 55 pontos: Dependência moderada 60 até 95 pontos: Dependência leve 100 pontos: Independente ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DA VIDA DIÁRIA (AIVD) DENTRO DE CASA Preparar a comida Fazer o serviço doméstico Lavar e cuidar do vestuário Executar trabalhos manuais Manusear a medicação Usar o telefone Manusear dinheiro FORA DE CASA Fazer compras (alimentos, roupas) Usar os meios de transporte Deslocar-se (ir ao médico, compromissos sociais e religiosos) ESCALA DE LAWTON De acordo com o grau de limitação apresentado, é possível determinar se a pessoa idosa é ou não capaz de manter uma vida independente dos outros. QUESTIONARIO DE PFEFFER Utilizado para avaliar a autonomia funcional do indivíduo referente às atividades do dia a dia. Avalia se o déficit cognitivo é acompanhado de limitações na capacidade funcional. MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 11 APGAR Outra forma de avaliação do suporte social é a utilização dos instrumentos conhecidos como Apgar da família e Apgar dos amigos, que, apesar de não terem sido desenvolvidos exclusivamente para idosos. São compostos por cinco perguntas que se repetem nos dois questionários, apenas sendo substituída a palavra “familiares” por “amigos”. O escore para um indivíduo normal é menor que 6 pontos; valores superiores indicam comprometimento, ou seja, dificuldade em realizar atividades instrumentais. AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO E MOBILIDADE ESCALA DE AVALIAÇÃO DE TINNETI Em 2003, o teste foi adaptado para ser utilizado na população brasileira, recebendo o nome de POMA. MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 12 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 1º PASSO: Faça, pelo menos, 3 refeições (café da manhã, almoço e jantar) e 2 lanches saudáveis por dia, sem pular as refeições. 2º PASSO: Inclua diariamente 6 porções do grupo dos cereais (arroz, milho, trigo, pães e massas), tubérculos (batata) e raízes (mandioca) nas refeições. 3º PASSO: Coma diariamente, pelo menos, 3 porções de legumes e verduras como parte das refeições e 3 porções ou mais de frutas nas sobremesas e nos lanches. 4º PASSO: Coma feijão com arroz todos os dias ou, pelo menos, 5 vezes por semana. 5º PASSO: Consuma diariamente 3 porções de leite e seus derivados, além de 1 porção de carnes, aves, peixes ou ovos, retirando a gordura aparente das carnes e a pele das aves antes da preparação desses alimentos. 6º PASSO: Consuma, no máximo, 1 porção por dia de óleos vegetais, azeites, manteiga ou margarina. 7º PASSO: Evite refrigerantes e sucos industrializados, bolos, biscoitos doces e recheados, sobremesas doces e outras guloseimas, ingerindoos, no máximo, 2 vezes por semana. 8º PASSO: Diminua a quantidade de sal na comida e retire o saleiro da mesa. 9º PASSO: Beba, pelo menos, 2 litros (6 até 8 copos) de água por dia, de preferência nos intervalos das refeições. 10ºPASSO: Pratique, pelo menos, 30 minutos de atividade física todos os dias, além de evitar o consumo de bebidas alcoólicas e o hábito de fumar. AVALIAÇÃO FÍSICA NUTRICIONAL PESO CORPÓREO: Deve ser aferido em todas as consultas, sempre que possível, pelo mesmo professional e balança devidamente equilibrada. AVALIAÇÃO DA AUDIÇÃO TESTE DO SUSSURRO AVALIAÇÃO DA VISÃO CARTÃO DE JAEGER OU ROSENBAUM O cartão é colocado em uma distância de 35 centímetros da pessoa idosa que, se possuir óculos, deve mantê-los durante o exame. A visão deve ser testada em cada olho em separado e depois em conjunto. Os olhos devem ser vendados com as mãos em forma de concha. AVALIAÇÃO DA SARCOPENIA Sarcopenia é a perda de massa muscular. A mensuração da massa muscular pode ser feita por métodos antropométricos, bioimpedância ou densitometria corporal total. MONICK LEBRÃO MEDICINA- TURMA XIV (FASAVIC) 13 O desempenho muscular é avaliado pelo cálculo da velocidade da marcha e pelo teste de levantar-se e andar cronometrado. A força muscular deve ser avaliada com a preensão palmar. A avaliação mais sensível da massa muscular em idosos é feita pela circunferência da panturrilha (normal ≥ 31 centímetros). Cada um dos parâmetros avaliados tem suas particularidades e limitações, por isso, a aplicação conjunta de vários instrumentos avalia melhor o equilíbrio dos pacientes. AVALIAÇÃO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA Como ocorre a perda urinária? Quando ocorre? Há quanto tempo ocorre? Quando essa condição se tornou um problema? Quantas vezes ela ocorre ao dia? Há consciência da necessidade de urinar antes do escape? Há imediatamente consciência de que está se urinando? Fica molhado na maior parte do dia? Usa fraldas ou outros absorventes para evitar acidentes? Se sim, ocasionalmente ou o tempo todo? Evita situações sociais por causa desse problema? Há uma infecção do trato urinário agora? Há antecedentes? É mais difícil controlar a urina quando tosse, se esforça, espirra, ri, quando se está correndo, pulando ou caminhando? A incontinência é pior ao se ficar sentado ou parado? Apresenta obstipação intestinal? Há algo que se possa fazer para reduzir ou evitar os acidentes? Já foi tratado para essa condição antes? Se sim, com sucesso? Tentou fazer exercícios do assoalho pélvico? Se sim, com sucesso? Que cirurgias já realizou? Que lesões teve? Que medicamentos usa? Costuma tomar café? Quanto? Ingere bebidas alcoólicas? Quanto? Com frequência? Fuma? Quantos cigarros ao dia? Há outros sintomas presentes? “Cuidar de nossos idosos é preservar a nossa história”.