Prévia do material em texto
Respostas do réu na prática Prof. Yves Lima Descrição Você vai entender o que significa a resposta do réu na prática, isto é, a manifestação do réu após a citação. O réu poderá adotar algumas posturas, como: oferecer contestação; oferecer reconvenção; e não fazer nada, o que ocasionará a decretação da sua revelia. Propósito A importância do conteúdo tem um nítido caráter de proteção do réu de eventuais excessos ou equívocos nos pedidos elaborados pelo autor, de modo que a compreensão da resposta do réu (ou sua ausência) permite o exercício da ampla defesa e do contraditório pelo réu. Objetivos Módulo 1 Contestação Identificar as matérias de contestação e o seu papel como forma de defesa contra a pretensão do autor. Módulo 2 Reconvenção Analisar o exercício do direito de ação do réu dentro do processo por meio da reconvenção. Módulo 3 Revelia Analisar as consequências da ausência de contestação do réu no processo e os seus efeitos. Introdução A citação é meio que integra o réu na relação jurídica processual, sendo por meio dela que o réu passa a ter ciência da pretensão do direito do autor. Com a citação, o réu é chamado ao processo para que, querendo, apresente sua resposta no prazo legal. A compreensão do que pode ser alegado pelo réu possibilita o exercício do contraditório e da ampla defesa, admitindo, ainda, a pretensão do réu em exercer o direito de ação dentro do mesmo processo originariamente exercido pelo autor. Em nosso estudo, serão abordados os conceitos de contestação e reconvenção como respostas típicas do réu. Note que o CPC/2015 eliminou as exceções e os incidentes de defesa, tendo em vista que a incompetência relativa passou a ser matéria de contestação, por exemplo. Por fim, você entenderá o conceito jurídico da ausência de contestação do réu no processo, conhecida como revelia, bem como os seus efeitos no desenvolvimento regular do processo. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material 1 - Contestação Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as matérias de contestação e o seu papel como forma de defesa contra a pretensão do autor. javascript:CriaPDF() O que é a contestação? Assista ao vídeo para entender o que é a contestação e o seu cabimento, e conferir o prazo para a sua oferta no processo. Notas introdutórias sobre a contestação O réu é integrado à relação jurídica processual por meio da citação, de modo que passa a ter a plena ciência da demanda ajuizada pelo autor contra ele. Após a ciência do processo instaurado pelo autor, o réu poderá insurgir contra o pedido inicial formulado. A citação do réu é requisito de sua validade, ressalvada as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido (art. 239, CPC). É possível que o réu compareça de forma espontânea, suprindo a falta ou nulidade da citação (art. 239, §1º, CPC). Ao ser citado, o réu poderá adotar três caminhos: Contestar o pedido (arts. 355 a 342 do CPC). Oferecer reconvenção (art. 343 do CPC). Permanecer inerte, acarretando a decretação da sua revelia (arts. 344 a 346 do CPC). A contestação é a peça de defesa por excelência, sendo oferecida contra a própria propositura da ação. Assim como a petição inicial, a contestação subordina-se a uma forma, em regra, é escrita, salvo nos procedimentos concentrados, podendo ser oferecida oralmente, como ocorre no rito da Lei nº 9.099/95. Na contestação, o réu deverá alegar toda matéria de defesa, discorrendo sobre as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor, além de especificar as provas que pretende produzir (art. 336, CPC). Prazo Nos termos do art. 335 do CPC, o prazo para o réu contestar é de 15 dias. A grande problemática surge, no entanto, para definir o termo inicial da contagem de prazo. Vamos entender melhor! Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data: I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição; II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4º, inciso I; III - prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais casos. (Lei nº 13.105/2015) O CPC adota três caminho diversos. Nos termos do inciso I do art. 335 do CPC, o termo inicial será da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição. Por outro lado, o termo inicial do prazo será contado da data do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando a audiência não ocorrer em razão do desinteresse das partes na composição consensual, nos termos do art. 335, inciso II do CPC. Não havendo audiência de conciliação ou mediação e não existindo qualquer protocolo de cancelamento de audiência, a contagem do prazo será nos termos do art. 231 do CPC, isto é, a depender de como foi feita a citação, tal como preconiza o inciso III do CPC. Caso a contestação seja apresentada fora do prazo legal, não se deve realizar o seu desentranhamento se: Atenção: A legislação especial pode estabelecer prazos diferenciados para a contestação, como ocorre no art. 7º, inciso IV da Lei n. 4.717/1965, em que o prazo para contestar é de 20 dias. Matérias alegadas na contestação Assista ao vídeo e confira quais matérias podem ser alegadas na contestação, sejam as prévias ao mérito sejam as defesas de mérito. Contiver defesas que podem ser suscitadas mesmo após o prazo de contestação (art. 342, CPC). For demonstrado que os fatos indicados pelo autor são irrazoáveis para elidir a presunção da veracidade decorrente da revelia (art. 345, inciso IV, CPC). Divergir das conclusões jurídicas pleiteadas pelo autor, sobre as quais não ocorrerão os efeitos da revelia. Matérias que podem ser alegadas antes da discussão de mérito As defesas processuais, também chamadas de defesas indiretas, por não terem como objeto a essência do litígio, estão previstas no art. 337 do CPC, sendo tratadas na prática como defesas preliminares. As defesas preliminares devem ser alegadas pelo réu antes de discutir o mérito (art. 337, CPC). O art. 337 do CPC indica 13 hipóteses. Confira! I - inexistência ou nulidade da citação; II - incompetência absoluta e relativa; III - incorreção do valor da causa; IV - inépcia da petição inicial; V - perempção; VI - litispendência; VII - coisa julgada; VIII - conexão; IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; X - convenção de arbitragem; XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual; XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar; XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça. (Lei nº 13.105/2015) Sob a ótica da defesa, as questões acima trazidas pelo art. 337 do CPC inviabilizam a ação e o processo que antecedem o mérito, por isso a lei as denomina como questões preliminares, cuja discussões gravitam acerca dos aspectos meramente formais. Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício as matérias enumeradas no art. 337. O CPC de 2015 inovou em relação às antigas exceções, que caíram de sua independência de peça e passaram a figurar nas questões preliminares da contestação. Tal fato ocorre em decorrência da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, CF), abarcada pelo CPC/2015 nos seus arts. 1º e 4º, a fim de eliminar o formalismo desnecessário que era feito no CPC/1973. Simplificou-se, portanto, o procedimento para a defesa. As defesas processuais, por meio de questões preliminares, são divididas de acordocom a consequência do seu acolhimento. Elas podem ser: Dilatórias Nesse caso, o acolhimento não põe fim ao processo, mas tão somente alarga seu tempo de duração. Peremptórias Nesse caso, quando acolhidas, o processo é extinto sem resolução de mérito. No CPC de 2015, contudo, esse raciocínio não pode ser adotado com absoluto rigor, tendo em vista que o art. 282, §2º do CPC preceitua que, quando o juiz puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveita a decretação de nulidade, o juiz não a pronunciará. Vejamos alguns exemplos de defesas dilatórias! Inexistência ou nulidade de citação (art. 337, I, CPC). Incompetência do juízo (art. 337, II, CPC). Conexão/continência (art. 337, VIII, CPC). Agora, vejamos os exemplos de defesas peremptórias! Inépcia da petição inicial (art. 337, IV, CPC). Perempção (art. 337, V, CPC). Litispendência (art. 337, VI, CPC). Coisa julgada (art. 337, VII, CPC). Convenção de arbitragem (art. 337, X, CPC). Carência de ação por falta de interesse de agir e ilegitimidade (art. 337, XI, CPC). Caso não haja a alegação da existência de convenção de arbitragem, haverá a aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral (art. 337, §6º). Atenção! Se o réu alegar não ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu, possibilitando uma diminuição dos honorários advocatícios do procurador do réu excluído, que serão fixados entre 3% e 5% do valor da causa (art. 338, CPC). Em caso de ilegitimidade, há a obrigação do réu em indicar o sujeito passivo sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com os prejuízos pela falta de indicação (art. 339, CPC). Defesa de mérito Ao contrário das questões preliminares, as defesas de mérito dizem respeito ao próprio direito material reivindicado ou violado pelo autor. Nesse sentido, na defesa de mérito, o réu pretende sustentar que o direito material alegado pelo autor não é adequado ao caso concreto ou que ele simplesmente não existe. Desse modo, impugna-se a pretensão material do direito do autor. Essa impugnação, caso acolhida, acarretará a improcedência do pedido do autor e, por consequência, a extinção do processo com resolução de mérito, nos termos indicados no art. 487 do CPC. A defesa do mérito pode ser direta ou indireta. Vamos entender as diferenças entre elas! Defesa direta O réu enfrenta frontalmente os fatos e os fundamentos jurídicos expostos pelo autor na petição inicial, com a finalidade de expurgar todas as alegações do autor, ou seja, quando os fatos não ocorreram ou quando o quadro fático não se adéqua ao caso concreto. Defesa indireta O réu não enfrenta o quadro fático trazido pelo autor, mas colaciona fato novo capaz de impedir, modificar ou extinguir o direito do autor, ampliando, por conseguinte, o objeto da cognição. O juiz, portanto, após uma defesa de mérito indireta, passará a analisar o contexto fático de forma mais ampla. Entende-se por fatos impeditivos aqueles que são anteriores ou simultâneos ao fato constitutivo do direito, impedindo que gere seus regulares efeitos. Por fatos extintivos, entende-se que são aqueles que colocam fim a direito, sendo posteriores ao surgimento da pretensão do autor, por exemplo, a prescrição. Já os fatos modificativos são aqueles que geram uma modificação subjetiva ou objetiva na demanda. Na modificação subjetiva, pode ocorrer a cessão de crédito com a mudança do credor, ao passo que, na modificação objetiva, pode ocorrer o parcelamento do crédito – hipótese em que o crédito não poderá ser exigido em sua totalidade. Depois da contestação, o réu só poderá suscitar novas alegações quando forem: Supervenientes ao fato ocorrido. Cognoscíveis de ofício pelo juiz. Por expressa disposição legal. Nesse sentido, a contestação tem o efeito de impedir que o autor desista da ação sem o seu consentimento (art. 485, §4º do CPC), além de que a extinção do processo por abandono da causa pelo autor dependerá de requerimento do réu. É importante pontuar que a ordem da contestação não traduz, necessariamente, uma preferência do legislador no exame das questões processuais em relação ao mérito da causa. Caso assim fosse, haveria uma preferência na extinção do processo sem resolução do mérito (art. 485, CPC) no lugar da extinção com resolução de mérito (art. 487, CPC), contrariando o que preceitua o princípio da primazia do mérito estampado no art. 6º do CPC. Ônus da impugnação especí�ca Assista ao vídeo e aprenda o que é o ônus da impugnação especificada, os deveres inerentes e as consequências de seu descumprimento. Conceituação e características O pedido do autor gera para o réu o ônus de impugnar especificadamente os fatos narrados. Nesse sentido, a defesa, por meio da contestação, deve rebater todos os fatos expostos pelo autor, sob pena de se presumirem verdadeiros os fatos não impugnados, tal como preconiza o art. 341 do CPC. No entanto, o art. 341 prevê três exceções. Vamos conhecê-las! a Quando não for admissível, a seu respeito, a confissão. b Quando a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato. c Se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. Observe que a exceção “c)” exige que o magistrado exerça uma cognição muito maior, porquanto deverá analisar o processo como um tudo para excetuar o ônus de impugnação específica do réu. O ônus da impugnação específica dos fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial (parágrafo único do art. 341 do CPC). Apesar de não ser expresso, há uma ideia de que esses personagens podem se valer de uma negativa geral dos fatos narrados pelo autor. O parágrafo único do art. 341 do CPC tem duas diferenças com o correspondente do Código de 1973, pois exclui o Ministério Público e inclui o defensor público no rol de sujeitos que têm a prerrogativa da negativa geral. De todo modo, a participação do Ministério público no polo passivo é situação excepcional, de modo que, quando atuar como curador especial, terá a prerrogativa de negativa geral. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A famosa Jornalista Luciana anunciou, em seu programa, que estava com depressão. João, inimigo número 1 de Luciana, começou a fazer piadas sobre a doença, além de divulgar nas redes sociais todo o seu tratamento, em tom jocoso. Irritada e triste, Luciana procura um advogado e ajuíza uma ação indenizatória em face de João, demonstrando que as ofensas de João são irrazoáveis e abalaram ainda mais seu estado psicológico. Na petição inicial, Luciana deixa claro seu pedido para que não tenha audiência de conciliação. A juíza, ao receber a petição inicial, não marca a audiência de conciliação e cita João para apresentar sua resposta. João foi citado no dia 14/04/2023 e o aviso de recebimento foi juntado aos autos no dia útil seguinte (15/04/2023). Desesperado com a citação, João procura você para advogar para ele, e faz duas perguntas: a) Qual o instrumento processual cabível para responder a demanda indenizatória de Luciana? b) Qual o prazo para apresentar tal petição? Digite sua resposta aqui Exibir solução a) Conforme art. 335 do CPC, O réu poderá oferecer contestação, por petição, para impugnar as alegações do autor. A contestação é a peça de defesa por excelência. O réu que contesta pugna pelo desacolhimento do pedido da inicial. b) O prazo é de 15 dias úteis a contar da juntada do aviso de recebimento (AR), nos termos do art. 335 c/c art. 231, inciso I, ambos do CPC. 2 - Reconvenção Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o exercício do direito de ação do réu dentro do processo por meio da reconvenção. O que é a reconvenção? Assista ao vídeo e confira uma introdução sobre o que é a reconvenção, seu papel dentro do processoe quais os seus requisitos. Notas introdutórias sobre a reconvenção A reconvenção é um direito de ação do réu dentro do mesmo processo que foi instaurado pelo autor. Ela não se confunde com a contestação, pois haverá uma ampliação objetiva ulterior do processo, uma vez que passará a contar com duas ações: a proposta pelo autor e a proposta pelo réu. Não há uma pluralidade de processos, pois o processo será o mesmo, mas haverá uma ação de natureza reconvencional. Por outro lado, a reconvenção exige que o réu preencha alguns requisitos que torne possível sua propositura, já que não é qualquer pretensão do réu que pode ser objeto de reconvenção, devendo haver uma conexão entre o que está sendo discutido. Exemplo Imagine que o autor discute um contrato “A”. Ao propor a reconvenção, o réu deverá fundamentar seu pedido com base no contrato “A”, cuja discussão foi trazida pelo autor. Há, portanto, a necessidade de uma similitude entre o que foi proposto pelo autor e o que foi proposto pelo réu. Segundo Fux (2019), a reconvenção existe com base no princípio da economia processual, com a finalidade de que o processo seja capaz de resolver uma maior quantidade de problemas com a menor atividade possível. Isso porque a reconvenção faz “exsurgir no processo uma cumulação objetiva de pedidos, de caráter contrastante, viabilizando ao juiz, numa só sentença, julgar a ação e a reconvenção” (Fux, 2019, p. 267). Além disso, para conferir maior economia processual e efetividade, é necessário que sejam preenchidos alguns requisitos. Procedimento da reconvenção Assista ao vídeo e confira as características e fases procedimentais da reconvenção, bem como uma discussão se ela é uma faculdade ou ônus do réu. Características e fases procedimentais A reconvenção poderá ser proposta conexa com a ação principal ou com fundamento da defesa. Ao propor a reconvenção, o réu assume uma posição ativa no processo, da mesma forma que o autor também pleiteia a proteção de um direito material. O réu se tornará autor (autor/reconvinte) e o autor se tornará réu (réu/reconvindo). Por ter natureza de nova ação, haverá a necessidade de recolhimento de custas iniciais. Uma vez proposta, mesmo que o autor desista da ação principal, com ou sem resolução do mérito, a reconvenção não será prejudicada (art. 343, §2º, CPC). Nesse sentido, a reconvenção pode ser formulada na própria contestação, a teor do que dispõe o art. 343 do CPC. No Código de 1973, o tratamento era diverso, pois a reconvenção era apresentada por petição autônoma e simultânea à contestação. A reconvenção só será admitida se o juízo da causa originária for competente para dela conhecer. O termo conexão existente no art. 343 do CPC não é empregado da mesma forma que em outras passagens no CPC, como no art. 55. Isso porque a reconvenção como pressuposto da própria reconvenção deve ser compreendida a partir da exigência de algum traço de similitude entre a reconvenção e a ação originária que justifique a pretensão do réu em propor reconvenção. Em outro giro, por ter uma natureza jurídica de ação, haverá a necessidade de pressupostos processuais específicos, como os indicados por Daniel Assumpção Amorim Neves. Confira! (a) litispendência: para que exista reconvenção é indispensável que exista a demanda originária; (b) identidade procedimental: considerando-se que a ação originária e a ação reconvencional seguirão juntas, sendo inclusive decididas por uma mesma sentença, o procedimento de ambas deve ser o mesmo; (c) competência: o juízo da ação originária é absolutamente competente para a ação reconvencional, de forma que, sendo a competência absoluta dessa ação diferente da ação originária, será proibido o ingresso de ação reconvencional, devendo a parte ingressar com a ação autônoma perante o juízo absolutamente competente; (d) conexão com a ação originária ou com os fundamentos de defesa. (Neves, 2017a) O juiz, ao receber a reconvenção, poderá indeferir a petição inicial (arts. 330 e 356), sendo cabível agravo de instrumento dessa decisão (art. 356, §5º do CPC). A reconvenção, em regra, é uma demanda do réu em face do autor. Isso não afasta, por outro lado, que o réu-reconvinte faça litisconsórcio com terceiro para ajuizar demanda reconvencional em face do autor-reconvindo (art. 343, §4º, CPC). Como exemplo, é o caso de o autor ajuizar ação em face de apenas um dos codevedores solidários e, o réu, em litisconsórcio com seu codevedor, reconvir para requerer a invalidação do contrato em discussão. Se o autor for substituto processual, o reconvinte deverá afirmar ser titular de direito em face do substituído, e a reconvenção deverá ser proposta em face do autor, que nessa hipótese também ocorrerá na qualidade de substituto processual (art. 343, §5º do CPC). Proposta a reconvenção, deve ser intimado o autor para apresentar sua resposta, no prazo de 15 dias. Poderá, ainda, oferecer reconvenção para a reconvenção, apresentando ambas na mesma peça processual. Faculdade do réu A reconvenção é uma faculdade do réu. Da mesma forma, o réu poderá, ao invés de contestar, opor apenas a reconvenção. Não há qualquer vedação legal na oposição de reconvenção desacompanhada de contestação. Se o réu não propuser a reconvenção, poderá ajuizar uma ação autônoma que poderia ser manejada no prazo da reconvenção, que é o mesmo da contestação. Para Neves (2017a), não há qualquer situação de desvantagem para o réu que deixa de reconvir. Observe! Não é possível vislumbrar qualquer situação de desvantagem processual ao réu que deixa de reconvir, situação diametralmente oposta àquele que deixa de contestar, que será considerado revel. Nesse sentido, afirma-se corretamente que a contestação constitui um ônus do réu, enquanto a reconvenção constitui tão somente uma faculdade. A própria natureza de ação dessa espécie de resposta fundamenta sua natureza de mera faculdade processual, não se podendo admitir que o réu perca o seu direito de ação por uma simples omissão processual. O prazo para a reconvenção, portanto, é meramente preclusivo, significando que o réu não mais poderá reconvir após o seu transcurso, mas a via autônoma continuará a existir para o exercício de seu direito de ação. (Neves, 2017a, p. 684) Caso o réu não proponha a reconvenção, a propositura de ação autônoma pode gerar um resultado similar, isto é, não há qualquer prejuízo direto com a ausência de reconvenção. Com efeito, havendo a propositura de ação autônoma, havendo conexão, as demandas serão reunidas perante juízo prevento que ficará responsável pelo julgamento conjunto dos processos (art. 58, CPC). Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 João e Guilherme, advogados conceituados na cidade de João Pessoa, discutem sobre alguns aspectos processuais em um caso comum do escritório em que dividem a sociedade. João fala a Guilherme que vai defender o cliente por meio de contestação, pois era incabível a propositura de reconvenção caso ele optasse por fazer a contestação. Guilherme retruca o sócio e diz que a reconvenção pode ser proposta independentemente da contestação. Sobre o caso narrado, discorra sobre a opinião de João e Guilherme. Digite sua resposta aqui Exibir solução Conforme §6º do art. 336 do CPC, o réu pode propor reconvenção independentemente de oferecer contestação. Além disso, o art. 343 do CPC admite, inclusive, que a reconvenção seja trazida na própria peça de contestação. Nesse sentido, resta claro que João está equivocado e que Guilherme respondeu de forma correta. Vale dizer que a resposta por meio de contestação não impede a propositura de reconvenção. 3 - Revelia Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar as consequências da ausência de contestação do réu no processo e os seus efeitos. A revelia e os seus efeitos Assista ao vídeo e aprenda o que é a revelia e quais são seus efeitos, tanto materiais – presunção relativa de veracidadedas alegações de fato autorais – como processuais. Notas introdutórias sobre a revelia O réu pode, caso queira, não se manifestar acerca da pretensão deduzida pelo autor no processo ou simplesmente perder o prazo para apresentar sua resposta. Nesses casos, como não há defesa, o réu será considerado revel e, por consequência, serão presumidas como verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor, vide art. 344: “Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor”. Apesar do art. 344 do CPC confundir o conceito de revelia com os seus efeitos, trata-se de elementos independentes. A revelia é a ausência de contestação. Se o réu apresentar a contestação, mas de forma intempestiva, será revel, porque apesar da contestação existir, não foi oposta no prazo legal, atraindo para o caso concreto os efeitos da revelia. Vale dizer que a revelia não é um efeito jurídico, ela está no plano dos fatos, sendo um ato-fato jurídico. Efeitos Caso não exista contestação do réu ou sendo oposta fora do prazo legal, haverá revelia. Quatro são os efeitos dessa conduta do réu, confira! Fatos alegados pelo autor são reputados como verdadeiros (efeito material). Desnecessidade de intimação do réu revel. Em razão da ausência de resposta do réu, é comum considerar presumidamente verdadeiros os fatos narrados pelo autor. Por outro lado, o juiz não estará vinculado aos argumentos do autor simplesmente porque o réu não apresentou sua defesa, ao revés, essa presunção é relativa, podendo ser afastada no caso concreto. A revelia, portanto, não implica vitória do autor, uma vez que sua existência não significa o reconhecimento da procedência do pedido pelo réu. Deve-se, portanto, tomar cuidado com o efeito material da revelia, visto que sua presunção está condicionada à expressa advertência de sua possibilidade no momento da citação do réu. Com a finalidade de reduzir o uso indiscriminado da revelia, é possível notar que o art. 345 do CPC estabelece que, em certas situações, não se operará a presunção de veracidade. Confira! Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis; III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato; IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem Preclusão em desfavor do réu do poder de alegar algumas matérias de defesa (efeito processual, ressalvadas aquelas previstas no art. 342 do CPC). Julgamento antecipado do mérito, caso ocorra o efeito material da revelia. inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos. (Lei Nº 13.105/2015) Sobre a presunção relativa quanto aos efeitos da revelia, veja, a seguir, o que Alexandre Câmara preceitua. O efeito material é a presunção da veracidade das alegações de fato formuladas pelo autor (art. 344). Dito de outro modo, caso o réu não conteste, o juiz deverá presumir que tudo aquilo que o autor tenha alegado na petição inicial a respeito dos fatos da causa é verdadeiro. Essa presunção é relativa, iuris tantum, o que implica dizer que ela admite prova em contrário. E é exatamente por isso que ao réu revel é autorizada a produção de contraprovas, ou seja, de provas que busquem afastar a presunção de veracidade das alegações de fatos formuladas pelo autor, desde que ingresse no processo a tempo de produzi-las (art. 349). E isto porque, nos termos do art. 346, parágrafo único, o revel pode intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontre (o que impede, então, de praticar atos que já estejam cobertos pela preclusão). (Câmara, 2017) O art. 346 do CPC aduz que os prazos contra o réu revel que não tenha patrono fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial. Nesse sentido, não haveria necessidade de intimação do réu revel, bastando a publicação do ato decisório no diário oficial. Contudo, em determinadas hipóteses de intimação pessoal, deverá ser observada a intimação pessoal do réu revel, por exemplo, o depoimento pessoal e a exibição de documentos. Caso o réu revel tenha advogado constituído nos autos, o patrono deverá ser intimado de todos os atos processuais. Ainda nos efeitos da revelia, é importante registrar que o art. 355, inciso II do CPC, permite o julgamento antecipado do mérito se o réu for revel e não houver requerimento de prova. Por outro lado, se o juiz considerar presumidamente verdadeiros os fatos alegados pelo autor, não haveria, em tese, a necessidade de produção de provas, mesmo que requeridas pelo réu revel. Audiência. Além disso, mesmo o réu sendo revel, não é permitido ao autor aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, salvo caso promova nova citação do réu, nos termos do art. 329, inciso II do CPC. Ingresso do réu revel no processo Assista ao vídeo e confira as consequências do ingresso do réu revel no curso do processo, bem como as do não ingresso, esclarecendo quando isso pode ensejar o ajuizamento da querela nullitatis. Participação do revel no processo Antigamente, havia um entendimento que a ausência de manifestação do réu seria uma ofensa ao Poder Judiciário. Em realidade, a não atuação do réu se traduziria em pouco caso com o processo. Com efeito, a doutrina entende que o réu não deve ser punido por seu estado de revelia, ao revés, a ausência de manifestação do réu é uma escolha. Em linhas gerais, após a citação, é possível que o réu: Apareça e apresente sua resposta. Apareça e não apresente resposta. Não apareça. Caso o réu apareça e não apresente defesa ou apresente fora do prazo, nada impede que produza prova (art. 349 do CPC e enunciado nº 231 do STF). A participação do réu revel no procedimento probatório não deve ser vista com tanta simplicidade como se poderia entender pela mera leitura do art. 346 do CPC, tal como preconiza Daniel Assumpção Amorim Neves. Confira! No campo probatório, entretanto, a aparente simplicidade da regra prevista no art. 346, parágrafo único, do CPC pode esconder algumas complicações. Naturalmente a regra continua a ser aplicada, mas é imprescindível para fixar o seu exato alcance a percepção de que a prova surge no processo mediante um procedimento probatório, sendo a participação do réu revel condicionada no momento desse procedimento probatório quando ingressa no processo. A súmula 231 do Supremo Tribunal Federal permite a produção de prova pelo réu revel, mas há limitações que dependem no momento do ingresso no processo. Na tentativa de solucionar os dilemas surgidos quanto à participação do réu revel na instrução probatória, o CPC prevê em seu art. 349 que ao réu revel será lícita a prova produção de provas, contrapostas às alegações do autor, desde que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos processuais indispensáveis a essa produção. A regra está posta, mas cabe à doutrina esmiuçá-la. (Neves, 2017a) Nesse sentido, o réu revel pode ingressar no processo e participar a qualquer momento, recebendo o processo no exato estado em que ele se encontra. Obviamente, deve o réu respeitar todas as preclusões operadas no processo, de modo que sua participação ocorra no momento de sua intervenção, tal como consta expressamente no art. 346, parágrafo único, do CPC. Querela nullitatis Caso o réu seja revel e tenha sido proferida sentença em seu desfavor, sem que tenha havido citação válida (art. 525, §1º, I e art. 535, I, ambos do CPC), ele poderá ajuizar uma ação autônoma chamada de querela nullitatis, cuja o objeto é a impugnação da sentença nula. Essa ação autônoma é mais um instrumento de proteção do réu revel, pois, se for constatado algum vício na sentença que tenha prejudicado o réu, o ato judicial deverá ser declarado nulo, especialmente em se tratando de ausência ou nulidade da citação,com a finalidade de preservar o exercício da ampla defesa e do contraditório do réu. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sandoval, em sua caminhada habitual pela manhã, no Rio Grande do Sul, foi atingido no peito por uma faca do apartamento 1726, do Condomínio Vista Alegre. Com o impacto, Sandoval teve um corte profundo e perdeu muito sangue, momento em que foi socorrido por pessoas que passavam no local do acidente. Julia e João Paulo levaram Sandoval para o hospital mais próximo, onde ficou internado por 20 dias. Durante a internação, Sandoval ficou abalado psicologicamente, pois é raro imaginar que um indivíduo, durante uma caminhada matinal, pudesse ser ferido com uma faca jogada por um morador de outro apartamento – no caso, morador do apartamento 1726, do Condomínio Vista Alegre. Sandoval alega que ficar tanto tempo no hospital foi algo que ele jamais imaginava que fosse acontecer e que tal conduta deve ser reparada. Sandoval é advogado renomado e ganha em média R$ 2.000,00 por dia trabalhado, mesmo aos finais de semana. Durante o período internado, ele deixou de receber R$ 40.000,00. Após receber alta, Sandoval resolveu ajuizar uma ação indenizatória em face do condomínio, sustentando que todos os danos da sua internação foram causados pela faca oriunda do apartamento 1726, além dos danos morais decorrentes. Desse modo, nos pedidos, Sandoval requereu a condenação do condomínio em R$ 40.000,00 a título de danos materiais e R$ 20.000,00 a título de danos morais. Citado, o Condomínio Vista Alegre, representado pelo síndico, procura você para atuar com o caso em juízo. Já que advogará para o condomínio, elabore a peça processual cabível para a defesa dos interesses do seu cliente. Digite sua resposta aqui Exibir solução A peça processual cabível é uma contestação (art. 335, CPC) à ação indenizatória proposta por Sandoval. O condomínio deverá alegar sua ilegitimidade passiva (art. 337, CPC) em relação ao ferimento da faca ocasionado pelo apartamento 1726, isto é, como há a identificação do condômino, o proprietário da unidade autônoma é responsável pela prática do ato danoso, nos termos do art. 938 do Código Civil. Deverá, ainda, alegar que o condomínio não tem obrigação de arcar com nenhuma indenização, pois é responsabilidade do proprietário do apartamento 1726. Registre-se que a ilegitimidade passiva deverá ser alegada antes de adentrar o mérito, nos termos do art. 337 do CPC. O condomínio deverá, ainda, impugnar todos os fatos que foram alegados equivocadamente, utilizando o art. 341 do CPC. Por fim, deve requerer a improcedência do pedido autoral e extinção do processo sem resolução do mérito, com base no art. 485, inciso VI do CPC e requerer o arbitramento de honorários advocatícios em seu favor. Considerações �nais Este conteúdo enumerou e esclareceu as respostas do réu na prática, desde a apresentação da contestação e a propositura de reconvenção até aos efeitos da sua não apresentação. A obrigatoriedade de ouvir o réu torna-se imprescindível para o cânone constitucional do contraditório. Nesse sentido, o direito de defesa do réu tem origem no próprio contraditório e no devido processo legal. A não apresentação de defesa, por sua vez, pode ser uma opção do próprio réu, mas não escapará da decretação da revelia, que não confunde o seu conceito com seus efeitos, como se pretendeu diferenciar no decorrer do estudo. Isso porque a revelia é apenas a ausência de contestação, ao passo que seus efeitos são aplicados de forma relativa, podendo ser afastados pelo juiz no caso concreto. Não houve pretensão de exaurimento do conteúdo, mas de demonstrar os principais pontos para compreensão da apresentação formal da resposta do réu, cujo conteúdo é bastante variado, admitindo-se a defesa direta e indireta, bem como a divisão entre a contestação e a reconvenção. Explore + Para saber mais sobre as respostas do réu, consulte Processo Civil, de Daniel Mitidiero, publicado pela Thomson Reuters Brasil em 2021. Vale a leitura! Referências CABRAL, A. do P.; CRAMER, R. (Coords). Comentários ao Novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015. CÂMARA, A. F. O Novo Processo Civil Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. DIDIER JR., F. Curso de Direito Processual Civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 20. ed. Salvador: Juspodivm, 2018. FUX, L. Teoria Geral do Processo Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. MEDINA, J. M. G. Código de Processo Civil Comentado. 6. ed. rev., atual. e ampliada. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. NEVES, D. A. A. Manual de Direito Processual Civil. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2017a. NEVES, D. A. A. Novo Código de Processo Civil Comentado. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2017b. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? javascript:CriaPDF() Relatar problema