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CAO – Crim 
Boletim Criminal Comentado n°139, 5/2021 
(semana nº 4) 
 Procurador-Geral de Justiça 
Mário Luiz Sarrubbo 
 
Secretário Especial de Políticas Criminais 
Arthur Pinto Lemos Junior 
 
Assessores 
Fernanda Narezi P. Rosa 
Ricardo José G. de Almeida Silvares 
Rogério Sanches Cunha 
Valéria Scarance 
Paulo José de Palma (descentralizado) 
 
Artigo 28 e Conflito de Atribuições 
Marcelo Sorrentino Neira 
Manoella Guz 
Roberto Barbosa Alves 
Walfredo Cunha Campos 
 
Analistas Jurídicos 
Ana Karenina Saura Rodrigues 
Victor Gabriel Tosetto 
 
 
Boletim Criminal Comentado 139- Maio-2021 
 
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SUMÁRIO 
AVISOS...................................................................................................................................................3 
ESTUDOS DO CAO-CRIM.......................................................................................................................5 
1 – Estupro de vulnerável contra criança ou adolescente no ambiente doméstico e familiar. 
Competência do SANCTVS ou da Vara da Violência Doméstica?..........................................................5 
STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM.......................................8 
DIREITO PROCESSUAL PENAL:...............................................................................................................8 
1- Tema: Crimes Funcionais. Peculato. Equiparação a funcionário público para fins penais. Ciência 
da condição pessoal do agente pelo concorrente do crime: necessidade?..........................................8 
DIREITO PENAL:.....................................................................................................................................9 
1-Tema: Terceira Seção fixará tese sobre aplicação da majorante do furto noturno ao crime 
qualificado.............................................................................................................................................9 
2- Tema: Terceira Seção aprova súmula sobre efeitos de sentença superveniente em pedido de 
trancamento de ação penal................................................................................................................11 
MP/SP: decisões do setor art. 28 do CPP............................................................................................12 
1-Tema: Divergência quanto a atribuição para sanar suposta inconsistência apontada pelo Instituto 
de Protesto em certidão de multa penal – inteligência da Resolução n. 1229/2020 – PGJ/CGMP – 
atribuição do Promotor de Justiça que oficia perante o Juízo das execuções criminais.....................12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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AVISOS 
1- NÚCLEO DE APOIO AO TRIBUNAL DO JÚRI. Aberta a oportunidade para que você participe 
do fortalecimento das promotorias de justiça criminais do Júri. Estão abertas as inscrições para 
integrar o Núcleo de Apoio ao Tribunal do Júri (NAJ), estrutura criada pela Resolução 1.333/2021 do 
procurador-geral de Justiça, Mario Sarrubbo, com subordinação à Secretaria Especial de Políticas 
Criminais e dentro do Centro de Apoio Operacional Criminal (CAOCrim). 
A finalidade é fortalecer a atuação da promotoria de justiça com atribuição no Júri; desde a fase de 
investigação criminal, as perícias correspondentes, a interação com a polícia judiciária e o auxílio 
aos promotores de Justiça que tenham atribuição nos processos de apuração dos crimes dolosos 
contra a vida. 
Os integrantes do NAJ, cuja coordenação caberá a um dos membros do CAOCrim, serão designados 
pelo PGJ sem afastamento de suas funções ordinárias. Os promotores naturais poderão solicitar ao 
NAJ, mediante requerimento fundamentado ao seu coordenador, apoio para atuação conjunta em 
investigações criminais ou processos judiciais que apurem crimes dolosos contra a vida. 
 
De acordo com Sarrubbo, "o alto índice de crimes dolosos contra a vida" exige constante agilidade e 
efetividade por parte do Ministério Público como instituição responsável pela promoção privativa 
da ação penal pública, bem como constante especialização e preparo". 
Inscreva-se mediante indicação de interesse através do e-mail: 
pgj_politicascriminais@mpsp.mp.br . 
 
2- STJ admite MPSP como “amicus curiae” no Tema 1084 
Em decisão monocrática proferida na última quarta-feira, o ministro Rogerio Schietti Cruz, 
relator do Recurso Especial 1918338, admitiu o MPSP como amicus curiae no processo que 
tramita no Superior Tribunal de Justiça no qual se discute a "a retroatividade das alterações 
promovidas pela Lei n.º 13.964/2019 nos lapsos para progressão de regime, previstos na Lei de 
Execução Penal, dada a decorrente necessidade de avaliação da hediondez do delito, bem 
como da ocorrência ou não do resultado morte e a primariedade, a reincidência genérica ou, 
ainda, a reincidência específica do apenado”. 
Em 23 de março de 2021 o Superior Tribunal de Justiça afetou os Recursos Especiais n° 
1910240/MG e nº 1918338/MT, para julgamento do Tema 1084. 
mailto:pgj_politicascriminais@mpsp.mp.br
 
 
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A redação ambígua dada pela Lei n.º 13.964/19 aos incisos II, IV, VII e VIII do artigo 112 da LEP 
constitui alvo de preocupação do MPSP desde a sua entrada em vigor, pois permite 
interpretação mais liberal em relação ao tempo de execução de pena necessário para 
progressão de regime. 
A Tese 502 do Setor de Recursos Especiais e Extraordinários e o Enunciado 75 do Núcleo de 
Execuções Criminais externaram a nossa posição no sentido de que a reincidência mencionada 
nos incisos respectivos é a genérica. 
De outra parte, o Enunciado 47 PGJ-CGMP Lei n.º 13.964/2019 tratou da questão atinente à 
retroatividade das alterações promovidas pelo Pacote Anticrime nos lapsos para progressão de 
regime: admitimos somente se, aplicadas ao caso concreto, beneficiarem o sentenciado. 
Foi crucial o deferimento do nosso ingresso como amicus curiae no julgamento do Tema 1084, 
pautado para o próximo dia 26, pois permitirá ao Procurador-Geral de Justiça sustentar nossa 
Tese e Enunciados, valendo lembrar que a decisão proferida terá eficácia vinculante. 
Servirá, ainda, para impedir o reconhecimento de tese que vem sendo sustentada pela 
Defensoria Pública no sentido de que a reincidência referida nos citados dispositivos é não 
somente a específica, pressupondo a prática de crimes idênticos (previstos no mesmo tipo e 
que protegem igual bem jurídico). Se não for reconhecida a tese do MPSP, nossa atuação deve 
buscar, subsidiariamente, o não acolhimento desta, sustentada pela Defensoria. 
Sem prejuízo, no mês de fevereiro, a Procuradoria-Geral de Justiça encaminhou ao Deputado 
Carlos Sampaio Proposta de Alteração Legislativa dos incisos II, IV, VII e VIII do artigo 112 da 
LEP, Projeto de Lei que recebeu o número 43/2021. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ESTUDOS DO CAOCRIM 
1 – Estupro de vulnerável contra criança ou adolescente no ambiente doméstico e familiar. 
Competência do SANCTVS ou da Vara da Violência Doméstica? 
O art. 148 do ECA nada prevê em relação à competência da Vara da Infância e da Juventude 
para o julgamento de crimes praticados contra a criança e o adolescente. 
Por esse motivo, em princípio, a Vara da Infância não detém tal competência, restrita às Varas 
Criminais. 
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça, em diversas oportunidades, declarou a 
incompetência da Vara da Infância e da Juventude para o julgamento de ações penais em que 
se apurava a prática de crimes sexuais contra a criança e o adolescente, mesmo quando 
prevista em lei estadual. 
Contudo, esse não foi o posicionamento que prevaleceu no Supremo Tribunal Federal, o qual 
reconheceu ser legítimo que o Tribunalde Justiça, ao estabelecer a organização e divisão 
judiciária, poderá atribuir a competência para o julgamento de crimes sexuais contra crianças e 
adolescentes ao Juízo da Vara da Infância. A propósito: 
Habeas corpus. Penal. Processual penal. Lei estadual. Transferência de competência. Delitos 
sexuais do código penal praticados contra crianças e adolescentes. Juizados da infância e 
juventude. Violação do art. 22 da CF/1988 e ofensa aos princípios constitucionais. Não 
ocorrência. Ordem denegada. I – A lei estadual apontada como inconstitucional conferiu ao 
Conselho da Magistratura poderes para atribuir aos 1.º e 2.º Juizados da Infância e Juventude, 
entre outras competências, a de processar e julgar crimes de natureza sexuais praticados 
contra crianças e adolescentes, nos exatos limites da atribuição que a Carta Magna confere aos 
Tribunais. II – Não há violação aos princípios constitucionais da legalidade, do juiz natural e do 
devido processo legal, visto que a leitura interpretativa do art. 96, I, a, da CF/1988 admite que 
haja alteração da competência dos órgãos do Poder Judiciário por deliberação dos Tribunais. 
Precedentes. III – A especialização de varas consiste em alteração de competência territorial 
em razão da matéria, e não alteração de competência material, regida pelo art. 22 da CF/1988. 
IV – Ordem denegada (HC 113.018, 2.ª T., j. 29.10.2013, rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 
14.11.2013). 
 
 
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Em conformidade com o precedente, portanto, tem-se que a lei estadual poderá autorizar o 
Tribunal de Justiça do Estado a expandir a competência da Vara da Infância e da Juventude 
para a apuração de crimes praticados contra a criança e o adolescente. 
Com o advento da Lei 13.431/17, mais uma “porta se abriu”. Seu art. 20 diz que o poder 
público poderá criar delegacias especializadas no atendimento de crianças e adolescentes 
vítimas de violência. Até a criação do órgão especializado, a vítima será encaminhada 
prioritariamente a delegacia especializada em temas de direitos humanos. O art. 23, por sua 
vez, trata da organização judiciária, facultando aos órgãos responsáveis criar juizados ou varas 
especializadas em crimes contra a criança e o adolescente, sendo que até a sua 
implementação, o julgamento e a execução das causas decorrentes das práticas de violência 
ficarão, preferencialmente, a cargo dos juizados ou varas especializadas em violência 
doméstica e temas afins. 
No Estado de São Paulo, desde 2015, temos o SANCTVS, criado por Provimento do Tribunal de 
Justiça. Compete ao SANCTVS conhecer e julgar os processos referentes aos delitos previstos: 
a) nos artigos 228 a 244-B da Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente); 
b) nos artigos 96 a 109 da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso); 
c) no artigo 8º da Lei nº 7.853/89; 
d) nos artigos 14 a 17 da Lei nº 9.434/1997 (Lei de Transplantes), ressalvada a competência do 
Tribunal do Júri; 
e) nos artigos 133, 134, 135, 136, 207, 217-A, 218-B, 230, §1º, 231-A, 242, 243, 244, 245, 247, 
248 e 249 todos do Código Penal; 
f) no artigo 129 do Código Penal cuja vítima seja do gênero masculino criança, adolescente, ou 
idosa praticado nas circunstâncias previstas no art. 61, inc. II, alínea “f”, do mesmo diploma 
legal; 
g) no artigo 129, §§ 9º e 11 do Código Penal cuja vítima seja do gênero masculino criança, 
adolescente ou idoso, inclusive na forma qualificada; 
h) nos artigos 203 e 206 ambos do Código Penal quando não tenha por objeto a organização 
geral do trabalho ou direitos dos trabalhadores considerados coletivamente. 
 
 
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As alíneas acima não evitaram um debate: a competência alcança qualquer crime sexual 
cometido contra crianças ou adolescentes, inclusive aqueles praticados no ambiente doméstico 
e familiar? 
Depois de oscilar a jurisprudência e a posição do próprio Ministério Público do Estado de São 
Paulo, mais precisamente no Setor do art. 28 do CPP, o entendimento que hoje prevalece no 
STJ e na Câmara Especial do TJ de São Paulo, no julgamento de conflito de jurisdição é no 
sentido de que, para atrair a incidência da Lei n. 11.340/2006 (e, consequentemente a 
competência da Vara da Violência Doméstica e Familiar), pouco importa a idade da vítima, 
exigindo-se, apenas, que seja mulher e que a violência seja cometida no ambiente doméstico, 
familiar ou em relação de intimidade ou afeto entre agressor e agredida. Esse entendimento 
será seguido pela procuradoria-geral de Justiça. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM 
DIREITO PROCESSUAL PENAL: 
1- Tema: Crimes Funcionais. Peculato. Equiparação a funcionário público para fins penais. 
Ciência da condição pessoal do agente pelo concorrente do crime: necessidade? 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
Apesar de próprio, o crime de peculato admite o concurso de pessoas estranhas aos quadros 
da administração. A qualidade de servidor do agente é elementar, comunicável nos exatos 
termos do que dispõe o art. 30 do CP. 
Deve ser alertado, contudo, que a condição pessoal do autor deve ingressar na esfera de 
conhecimento do extraneus, caso contrário responderá este por crime outro, como, por 
exemplo, apropriação indébita. 
A Quinta Turma, em caso relatado pelo ministro Ribeiro Dantas (RHC 112.074), citou 
precedente da Sexta Turma para explicar que "o peculato corresponde à infração penal 
praticada por funcionário público contra a administração em geral. Denominado crime próprio, 
exige a condição de funcionário público como característica especial do agente – de caráter 
pessoal – elementar do crime, admitindo-se o concurso de agentes entre funcionários públicos 
e terceiros, desde que esses tenham ciência da condição pessoal daqueles, pois referida 
condição é elementar do crime em tela". 
Para ter acesso a pesquisa pronta da Corte, clique aqui 
 
 
 
 
 
 
 
https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisa_pronta/toc.jsp?livre=@docn=%27000006990%27
 
 
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DIREITO PENAL: 
1- Tema: Terceira Seção fixará tese sobre aplicação da majorante do furto noturno ao crime 
qualificado 
STJ- PUBLICADO EM NOTÍCIAS DO STJ 
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu afetar os Recursos Especiais 
1.888.756, 1.890.981 e 1.891.007, de relatoria do ministro João Otávio de Noronha, para 
julgamento sob o rito dos recursos repetitivos. 
A questão submetida a julgamento, cadastrada na base de dados do STJ como Tema 1.087, 
está assim resumida: "(im)possibilidade de a causa de aumento prevista no parágrafo 1º 
do artigo 155 do Código Penal (prática do crime de furto no período noturno) incidir tanto no 
crime de furto simples (caput) quanto na sua forma qualificada (parágrafo 4°)". 
O colegiado decidiu não suspender os processos em tramitação sobre o tema. "É desnecessária 
a suspensão dos processos prevista no artigo 1.037 do Código de Processo Civil. Primeiro, 
porque já existe orientação jurisprudencial das turmas componentes da Terceira Seção. 
Segundo, porque eventual dilação temporal no julgamento dos feitos correspondentes pode 
acarretar gravame aos jurisdicionados", afirmou o relator. 
Questão madura 
Ao propor a afetação, João Otávio de Noronha destacou a característica multitudinária do 
tema, tendo em vista que a Comissão Gestora de Precedentes do STJ identificou 47 acórdãos e 
844 decisões monocráticas proferidas por ministros da Quinta e da Sexta Turma a respeito da 
controvérsia. 
Segundo o ministro, tanto o STJ quanto o Supremo Tribunal Federal (STF), em diversos 
julgados, já se manifestaram no sentido de que a causa de aumento prevista no artigo 155, 
parágrafo 1º, do Código Penal – que se refere à prática do furto durante o repousonoturno – é 
aplicável ao furto qualificado. "A questão encontra-se madura para que dela possa advir um 
precedente judicial", concluiu. 
Leia o acórdão de afetação do REsp 1.888.756. 
Esta notícia refere-se ao(s) processo(s):REsp 1888756 
http://www.stj.jus.br/repetitivos/temas_repetitivos/pesquisa.jsp?novaConsulta=true&tipo_pesquisa=T&cod_tema_inicial=1087&cod_tema_final=1087
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm#art155
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1037
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=2037361&num_registro=202002014981&data=20210419&peticao_numero=2021202100IJ1731&formato=PDF
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&termo=REsp%201888756
 
 
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REsp 1890981 
REsp 1891007 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
A presente causa de aumento do “repouso noturno” no crime de furto, de acordo com a 
orientação passada dos Tribunais Superiores, tinha aplicação restrita ao furto simples, previsto 
no caput, podendo o juiz, em se tratando de furto qualificado, considerar o período de 
cometimento (se durante o repouso noturno) na análise das circunstâncias judiciais (art. 59 do 
CP). 
Ressaltamos, no entanto, que o STJ, a partir de 2017, passou a decidir, majoritariamente, ser 
possível a aplicação da majorante também no furto qualificado, pois não há incompatibilidade 
entre esta circunstância e aquelas que qualificam o delito, nem há prejuízo para a dosimetria 
da pena, tendo em vista que o juiz parte da pena-base relativa à forma qualificada e faz incidir 
o aumento de um terço na terceira fase de aplicação. Além disso, não se justifica a imposição 
de óbice porque, lançando mão de critério de interpretação semelhante, o tribunal firmou o 
entendimento de que é possível aplicar sobre o furto qualificado o privilégio do § 2º do art. 155 
(2). 
O STF também já decidiu no mesmo sentido: 
“1. Não convence a tese de que a majorante do repouso noturno seria incompatível com a 
forma qualificada do furto, a considerar, para tanto, que sua inserção pelo legislador antes das 
qualificadoras (critério topográfico) teria sido feita com intenção de não submetê-la às 
modalidades qualificadas do tipo penal incriminador. 2. Se assim fosse, também estaria 
obstado, pela concepção topográfica do Código Penal, o reconhecimento do instituto do 
privilégio (CP, art. 155, § 2º) no furto qualificado (CP, art. 155, § 4º) - como se sabe, o Supremo 
Tribunal Federal já reconheceu a compatibilidade desses dois institutos. 3. Inexistindo vedação 
legal e contradição lógica, nada obsta a convivência harmônica entre a causa de aumento de 
pena do repouso noturno (CP, art. 155, § 1º) e as qualificadoras do furto (CP, art. 155, § 4º) 
quando perfeitamente compatíveis com a situação fática” (3). 
 
2. HC 306.450/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe 17/12/2014; AgRg no REsp 
1.658.584/MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe 03/05/2017. 
 
3. HC 130.952/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 20/02/2017. 
 
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&termo=REsp%201890981
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&termo=REsp%201891007
 
 
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Com fundamento no artigo 1.036 e seguintes do CPC, mediante a seleção de recursos especiais 
que tenham controvérsias idênticas, o STJ resolveu afetar um processo, ou seja, encaminhá-lo 
para julgamento sob o rito dos repetitivos, facilitando a solução de demandas que se repetem 
nos tribunais brasileiros. 
A possibilidade de aplicar o mesmo entendimento jurídico a diversos processos gera economia 
de tempo e segurança jurídica. 
No site do STJ, é possível acessar todos os temas afetados, bem como saber a abrangência das 
decisões de sobrestamento e as teses jurídicas firmadas nos julgamentos, entre outras 
informações. 
 
2-Tema: Terceira Seção aprova súmula sobre efeitos de sentença superveniente em pedido 
de trancamento de ação penal 
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), especializada em direito penal, aprovou 
a Súmula 648, que traz o seguinte enunciado: "A superveniência da sentença condenatória 
prejudica o pedido de trancamento da ação penal por falta de justa causa feito em habeas 
corpus". 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
O trancamento da ação penal, por meio do habeas corpus, é possível, sob o fundamento da 
ausência de justa causa. Lembre-se que o art. 395, inc. III, do CPP, determina a rejeição da 
denúncia ou queixa quando “faltar justa causa para o exercício da ação penal”. 
O trancamento de ação penal pela via do habeas corpus, segundo pacífica jurisprudência do 
STF, constitui medida excepcional só admissível quando evidente a falta de justa causa para o 
seu prosseguimento, seja pela inexistência de indícios de autoria do delito, seja pela não 
comprovação de sua materialidade, seja ainda pela atipicidade da conduta do acusado. 
O STJ pacifica, nesse assunto, mais uma discussão. Ao publicar a Súmula 648, decidiu: 
“A superveniência da sentença condenatória prejudica o pedido de trancamento da ação penal 
por falta de justa causa feito em habeas corpus”. 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1036
 
 
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MP/SP: decisões do setor do art. 28 do CPP 
1-Tema: Divergência quanto a atribuição para sanar suposta inconsistência apontada pelo 
Instituto de Protesto em certidão de multa penal – inteligência da Resolução n. 1229/2020 – 
PGJ/CGMP – atribuição do Promotor de Justiça que oficia perante o Juízo das execuções 
criminais. 
 
CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÃO 
Autos n.º 0001xxx-70.201x.26.0x62 – MM. Juízo da Vara Criminal da Comarca da Mogi Guaçu 
Suscitante: 3ª Promotora de Justiça de Mogi Guaçu 
Suscitado: 1º Promotor de Justiça de Mogi Guaçu 
Assunto: divergência quanto a atribuição para sanar suposta inconsistência apontada pelo 
Instituto de Protesto em certidão de multa penal – inteligência da Resolução n. 1229/2020 – 
PGJ/CGMP – atribuição do Promotor de Justiça que oficia perante o Juízo das execuções 
criminais. 
 
 
 
Trata-se de conflito negativo de atribuições suscitado diretamente nesta Procuradoria-
Geral de Justiça, em que os Doutos Promotores de Justiça de Mogi Guaçu divergem quanto a 
atribuição para sanar eventual inconsistência apontada na certidão expedida pelo E. Juízo da 
condenação para cobrança da pena de multa. 
Verte do expediente que nos autos nº 0001441-70.2018.8.26.0362 da Vara Criminal da 
Comarca de Mogi Guaçu, que apurou crime de furto, E.H.O. foi definitivamente condenado 
pela prática do crime previsto no art. 155 § 1º do CP, as penas de um ano, nove meses e vinte e 
três dias de reclusão, em regime fechado, além do pagamento de 16 dias-multa (R$ 499,73), 
decisão que transitou em julgado em 15 de outubro de 2020, conforme “certidão – multa 
penal” expedida em 17 de março de 2021. 
Informa a Ilustre Suscitante que, inicialmente, tentou a cobrança da pena de multa 
imposta no próprio processo de conhecimento sem, contudo, lograr êxito. Na sequência, em 
 
 
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obediência ao que estabelece o artigo 51 do Código Penal, pleiteou a expedição de certidão 
para a execução da multa penal imposta, tendo conferido todos os requisitos necessários da 
certidão exigidos pela Resolução Conjunta PGJ-CGMP nº 1229/2020, tais como presença de 
nome completo, endereço completo (contendo nome do logradouro, numeral e CEP) e número 
de CPF do sentenciado, além do trânsito em julgado para as partes e não ocorrência de 
eventual prescrição da pretensão executória. 
Como todos os requisitos supra citadosforam atendidos, a Douta Suscitante 
encaminhou referida certidão ao Ilustre Suscitado, que possui atribuição na área de execução 
penal, tendo referido Membro Ministerial conferido o título e o levado a protesto, 
preenchendo os dados constantes da certidão junto ao cadastro do IEPTB (Instituto de Estudos 
e Protesto de Títulos do Brasil). 
Entretanto, a certidão foi devolvida pelo IEPTB ao Suscitado, com a anotação “endereço 
do sacado insuficiente”. 
O Ilustre Suscitado, então, encaminhou e-mail à Suscitante comunicando a 
irregularidade na certidão, para que esta regularizasse o título executivo. 
Prossegue a Suscitante informando que, instado a informar no que consistiam os dados 
insuficientes da certidão, já que ela havia sido levada a protesto e, portanto, apresentava os 
requisitos necessários para a execução, o Suscitado limitou-se a informar que não possuía 
outros dados e que a Suscitante deveria se cadastrar e acessar o sistema de “Resgate de 
Valores” do IEPTB, para os fins pretendidos. 
Por fim, a Ilustre 3ª Promotora de Justiça de Mogi de Guaçu destacou que, em consulta 
ao Núcleo de Execuções Criminais do CAOCrim, foi orientada no sentido de que, em se 
tratando de processos da Justiça comum, os Promotores do processo de conhecimento devem 
verificar se das certidões constam todas as informações necessárias para viabilizar a execução 
 
 
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e, em caso positivo, todas as providências necessárias ao protesto ou à execução da multa 
deveriam ser adotadas pelo Promotor de Justiça da Execução Penal. 
Tal informação foi encaminhada, via e-mail, ao 1º Promotor de Justiça de Mogi Guaçu, 
que em resposta, também via e-mail, informou que tal entendimento estaria equivocado e que 
“continuará devolvendo aos Promotores de Justiça do processo de conhecimento as certidões 
de multa penal restituídas pelo Oficial de Protesto de Títulos com anotação de irregulares para, 
querendo, corrigi-las.” 
Diante disso, argumentou a Ilustre Suscitante que não se trata de execução de pena de 
multa imposta em processo afeto ao Juizado Especial Criminal (Jecrim), único caso em que o 
promotor do processo de conhecimento deve efetivar a execução do título, nos termos do 
Aviso 443/2020-PGJ-CGMP, mas sim de execução de pena de multa imposta em processo da 
Justiça Comum (apuração de crime de furto), em que o Promotor de Justiça do processo de 
conhecimento deve zelar para que na certidão constem as informações necessárias para 
viabilizar a execução, nos termos da Resolução 1.229/2020-PGJ-CGMP e encaminhá-la ao 
Promotor de Justiça que oficia na VEC do Juízo da condenação, que deve adotar todas 
providências necessárias ao protesto ou à execução da multa, incluindo o preenchimento 
correto do título no sistema e a regularização deste em caso de devolução. 
Diante do impasse, então, a Douta 3ª Promotora de Justiça de Mogi Guaçu suscitou 
conflito de atribuições em face do Ilustre 1º Promotor de Justiça da Comarca. 
É a síntese do necessário. 
A remessa se fundamenta no art. 115 da Lei Complementar Estadual n.º 734/93, 
encontrando-se configurado, portanto, o conflito negativo de atribuição entre promotores de 
justiça. 
Como destaca HUGO NIGRO MAZZILLI, tal incidente tem lugar quando o membro do 
Ministério Público nega a própria atribuição funcional e a atribui a outro, que já a tenha 
 
 
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recusado (conflito negativo), ou quando dois ou mais deles manifestam, simultaneamente, atos 
que importem a afirmação das próprias atribuições, em exclusão às de outros membros 
(conflito positivo) (Regime Jurídico do Ministério Público, 6.ª edição, São Paulo, Saraiva, 2007, 
pp. 486-487). 
Considere-se, outrossim, que em semelhantes situações, o Procurador-Geral de Justiça 
não se converte no promotor natural do caso, de modo que não lhe cumpre determinar qual a 
providência a ser adotada (oferecimento de denúncia, pedido de arquivamento ou 
complementação de diligências), devendo tão somente dirimir o conflito para estabelecer a 
quem incumbe oficiar nos autos. 
Pois bem. 
No hipótese vertente, está devidamente configurado o conflito negativo de atribuições 
porque, conforme se depreende da sequência de e-mails colacionados pela Ilustre Suscitante, o 
Douto Suscitado, ao ser comunicado que incumbia a ele promover a regularização da certidão 
da multa imposta para possibilitar o protesto do título, respondeu : 
 
1. A interpretação dada por Vossa Excelência e pelo CAOCRIM 
(conforme sua informação) ao caso é equivocada e contrária ao 
texto da Resolução nº 1229/2020 – PGJ – CGMP. A citada Resolução 
estabelece que cabe ao membro do Ministério Público com 
atribuição para a ação penal de conhecimento (artigo 1º, caput), 
providenciar a remessa da certidão de multa penal ao Promotor de 
Justiça das Execuções Penais quando “a certidão da sentença tenha 
sido emitida com os dados necessários” (inciso III). Isso torna 
evidente que o Promotor de Justiça da ação penal tem a obrigação 
de conferir a certidão de multa penal e verificar, inclusive com 
acesso aos sistemas conveniados, se os endereços do sentenciado 
estão corretos e completos, assim como dados de qualificação 
obrigatórios (CPF por exemplo) para possibilitar o protesto sem 
restituição do título como irregular. 
 
 
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2. Absolutamente incorreta e contrária à Resolução nº 1229/2020 a 
informação de que “a atribuição para o saneamento de 
irregularidades das certidões de multa penal levadas a protesto é do 
Promotor de Justiça que atua na Execução Penal”. Claríssima a 
Resolução citada ao estabelecer que cabe ao Promotor da ação 
penal zelar pela emissão da certidão da multa penal com os dados 
necessários; no caso concreto, a certidão foi emitida com dados 
incorretos e Vossa Excelência tem dever de conferi-los. Evidente que 
no conceito de “dados necessários” está o de DADOS CORRETOS. 
Dados incorretos, evidentemente, não são os necessários para 
protesto ou execução da multa penal. 
3. Em caso de certidão de multa penal com informações incorretas, 
pode o Promotor de Justiça das Execuções Penais restituí-la para 
correção (artigo 2º da citada Resolução). 
4. Não é caso de ajuizamento da ação de execução da multa, pois o 
caso não se insere nas hipóteses de ajuizamento obrigatório (artigo 
3º, §2º da Resolução), de modo que é minha exclusiva atribuição 
decidir pelo ajuizamento da execução, o que não será feito sempre 
que foi possível o protesto, e nesse caso o é, caso as certidões de 
multa penal seja encaminhadas com informações corretas. 
5. Informo que as certidões de multa penal restituídas pelo Oficial de 
Protesto de Títulos com anotação de IRREGULARES continuarão a 
ser restituídas aos Promotores de Justiça com atuação na ação penal 
para, querendo, corrigi-las. Caso não sejam corrigidas a 
responsabilidade é do Promotor de Justiça da ação penal, que deve 
zelar pela inserção de informações corretas e suficientes para 
cobrança da multa penal. 
 
Assim sendo, informo que não será ajuizada ação de execução, pois 
possível o protesto, e aguardo remessa de certidão com dados 
suficientes e corretos para fins de protesto. 
 
Neste cenário, é mister que esta Chefia Institucional solucione o impasse, afim de se 
evitar que o Ministério Público deixe de promover a cobrança da multa penal imposta ao 
sentenciado, atribuição conferida pelo Colendo Supremo Tribunal Federal, em 13 de dezembro 
de 2018, julgando a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3150, em conjunto com a 12ª 
Questão de Ordem na Execução Penal relativa à Ação Penal 470. 
 
 
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E neste ponto, razão socorre à Douta Suscitante, com a máxima vênia do Ilustre 
Suscitado; senão, vejamos. 
Conforme dispõe o art. 50 do Código Penal, com o trânsito em julgado da condenação, 
deve o sentenciadoser intimado a pagar a multa em 10 dias e, caso não o faça, promove-se a 
respectiva execução. 
A intimação para a realização deste pagamento deve ser realizada perante o juízo da 
condenação, segundo preveem os arts. 479-A, 479-B e 4804, das Normas de Serviço da 
 
4 Art. 479-A - Na hipótese de multa isoladamente aplicada, após o trânsito em julgado da sentença 
condenatória ou do acórdão, se houver, caberá ao juiz da vara onde tramitou o processo, promover a 
intimação do réu, preferencialmente por carta com AR, para o pagamento no prazo de 10 dias. § 1º No 
mesmo ato o condenado também será intimado para o pagamento da taxa judiciária, no prazo de 60 dias, 
procedendo-se na forma prevista no artigo 1.098 destas Normas de Serviço. § 2º Recolhido o valor, tratando-
se a multa de única pena aplicada, o juiz da vara onde tramitou o processo extinguirá a pena, comunicando 
ao Tribunal Regional Eleitoral para restabelecimento dos direitos políticos do condenado. 
Art. 479-B - Infrutífera a intimação, ou não efetuado o pagamento da multa isoladamente aplicada, o juiz da 
vara onde tramitou o processo determinará a expedição de certidão da sentença. 
§1º - Expedida a certidão, o ofício de justiça, abrirá vista ao MP e, após lançará a movimentação “Cód. 62050 
- Autos no Prazo - Execução da Multa Penal”, a qual atribuíra ao processo a situação “suspenso”, e 
encaminhará o processo com tramitação digital, automaticamente para a fila “Ag. Execução – Pena de Multa. 
§2º - Comunicado, pelo Juízo da execução, o ajuizamento da ação de execução da multa penal , o juízo de 
conhecimento procederá a anotação no histórico de partes inserindo o evento “Cód. 17 – Início da Execução 
da Pena de Multa”, indicando no complemento o número do processo de execução e lançará a 
movimentação “61619- Definitivo - Processo Findo com Condenação” remetendo o processo ao arquivo. A 
competência para extinção da pena de multa incumbirá ao Juízo do processo da Execução da Multa. 
§3º - Comunicado, pelo Juízo da Execução, a extinção da pena de multa, deverá ser alterada a situação do 
processo com o lançamento da movimentação “Cód. 22- Baixa Definitiva” 
§4º - Não havendo comunicação do ajuizamento da ação de execução da multa penal, e decorrido o lapso 
prescricional, o juiz da vara onde tramitou o processo extinguirá a pena, remetendo os autos ao arquivo 
definitivo. 
Art. 480 - Na hipótese de multa cumulativamente aplicada, após o trânsito em julgado da sentença 
condenatória ou do acórdão, se houver, caberá ao juiz da vara onde tramitou o processo, sem prejuízo da 
expedição da guia de recolhimento definitiva ou das peças necessárias para complementar a guia de 
recolhimento provisória, na forma do artigo 468 destas Normas de Serviço, promover a intimação do réu, 
preferencialmente por carta com AR, para o pagamento da multa no prazo de 10 dias. 
§ 1º - No mesmo ato o condenado também será intimado para o pagamento da taxa judiciária, no prazo de 
60 dias, procedendo-se na forma prevista no artigo 1.098 destas Normas de Serviço. 
 
 
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Corregedoria-Geral de Justiça, com a redação dada pelo Provimento CG n. 04/2020, publicado 
no Diário da Justiça Eletrônico, de 05 de março de 2020. 
Caso não seja efetuado, os autos devem ser remetidos ao foro correspondente ao 
domicílio ou residência do réu. 
Isto porque, de acordo com o art. 51 do Código Penal, depois do trânsito em julgado, a 
multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, 
aplicando-se-lhe as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que 
concerne às causas suspensivas e interruptivas da prescrição. 
Significa que a regra de competência territorial relativa à execução da multa deve ser 
aquela definida nas regras previstas na Lei de Execução Fiscal e no Código de Processo Civil. 
Este determina, em seu art. 46, §5.º, que: “A execução fiscal será proposta no foro de 
domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado”. 
A execução da multa criminal, portanto, se dá em duas etapas, cada qual devendo 
observar um critério específico acerca do órgão competente. 
A primeira, lastreada no art. 50 do CP, que consiste basicamente na intimação para 
pagamento em 10 dias, dá-se perante o juízo da condenação. 
A segunda, fundada no art. 51 do CP, deve se desenvolver no juízo da execução penal, 
correspondente ao domicílio ou residência do réu, em obediência ao disposto no CPC (art. 46, 
§5.º). 
Esta Procuradoria-Geral de Justiça constatou, contudo, que o Egrégio Tribunal de 
Justiça tem reiteradamente decidido, ao dirimir conflitos de competência acerca da matéria, no 
 
§ 2º - Recolhida a multa penal o juiz da vara onde tramitou o processo anotará o pagamento, comunicando o 
cumprimento ao Juízo das Execuções Criminais competente para a execução da pena privativa de liberdade 
ou da pena restritiva de direitos. 
 
 
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sentido de que a competência para execução da multa criminal é da vara de execução 
criminal do juízo da condenação, ou seja, do juízo originário da condenação, não do juízo da 
execução da comarca onde se dá o cumprimento da pena, alterando a orientação até então 
adotada de que a execução se daria no foro do domicílio do condenado, ou onde ele cumpre 
pena, nos termos do art. 46, § 5º, do Código de Processo Penal, e nos termos da Lei de 
Execução Fiscal (Lei n. 6.830/80). 
Confira-se, nesse sentido, a seguinte decisão: 
 
CONFLITO DE JURISDIÇÃO. EXECUÇÃO DA PENA DE DIAS-MULTA 
APLICADA AO RÉU. DISTRIBUIÇÃO AO JUÍZO DA 1ª VARA 
JUDICIAL DE PACAEMBU ONDE O RÉU ENCONTRA-SE PRESO. 
REDISTRIBUIÇÃO AO JUÍZO DA VARA DAS EXECUÇÕES 
CRIMINAIS DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO COMARCA EM QUE 
TRAMITOU O PROCESSO DE CONHECIMENTO. POSSIBILIDADE. 
1. Cumpre observar que o STF, no julgamento da ADIN nº 3.150, 
houve por bem conferir interpretação conforme a Constituição 
Federal ao artigo 51 do Código Penal. 2. Seguindo o 
entendimento exarado, o Tribunal de Justiça do Estado de São 
Paulo editou o Provimento nº 04/2020 da Corregedoria Geral de 
Justiça, especificando os procedimentos a serem adotados 
quando da execução da pena de multa. 3. Ocorre que, uma vez 
tendo a ação penal tramitado pelo Juízo da Vara Criminal da 
Comarca de São José do Rio Preto, a execução deverá se dar 
perante a Vara da Execução Criminal do mesmo foro em que 
tramitou o feito de conhecimento. 4. Ressalte-se que, tratando-
se a presente execução de procedimento autônomo em relação 
à execução da pena restritiva da liberdade e no intuito de se 
evitar que referido feito tramite por diversos juízos, conforme o 
réu seja transferido de estabelecimento prisional ou mesmo 
obtenha progressão de regime penal, razoável se mostra que a 
demanda seja processada pelo Juízo da Vara das Execuções 
Criminais do foro originário da ação penal. 5. Conflito de 
Jurisdição julgado procedente para determinar o 
processamento da execução no Juízo suscitante. 
(TJSP; Conflito de Jurisdição 0020700-02.2020.8.26.0000; Relator 
(a): Luis Soares de Mello (Vice Presidente); Órgão Julgador: 
 
 
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Câmara Especial; Foro de São José do Rio Preto - Vara das 
Execuções Criminais; Data do Julgamento: 21/7/2020) 
 
 
De fato, a execução da multa criminal perante a vara de execução penal da mesma 
comarca do juízo de conhecimento em que proferida a condenação afigura-se mais razoável e 
adequada, uma vez que, conforme refere o precedente acima, não é incomum que o 
sentenciado seja transferido a outros estabelecimentos prisionais ou progrida de regime, o 
que, em princípio, acarreta a necessidade de remessa do processo de execução a outros juízos. 
Esse entendimento de que o foro competente é a vara de execução criminal do lugar da 
condenação confere mais segurança e eficiência ao processo executivo da multa criminal. 
Pontuadoisso, necessário frisar que a Douta Suscitante, nos autos no processo crime n. 
0001441-70.2018.8.26.0362 da Vara Criminal de Mogi Guaçu, cumpriu com sua obrigação e, 
após o não adimplemento voluntário da multa imposta, informou ao E. Juízo, requereu a 
expedição de certidão, conferiu seu teor, providenciou a extração de cópias e as remeteu ao 
Ilustre Promotor de Justiça com atribuição em execução penal na Comarca (cf. fls. 142 e 158 
dos referidos autos). 
A partir de tal providência, com a máxima vênia do Ilustre Suscitado, Promotor de 
Justiça com atribuição em execuções penais, lhe incumbe adotar todas as medidas necessárias 
ao protesto e/ou ajuizamento da ação executiva. 
Isto porque, a Resolução n. 1.229/2020-PGJ-CGMP, de 24 de Setembro de 2020, que 
“Disciplina o Protesto e a Execução da Certidão da pena de multa e dá outras providências”, 
estabelece que: 
Art. 2°. O Promotor de Justiça com atribuição para atuação na 
Vara das Execuções Criminais poderá restituir a certidão da 
sentença penal condenatória: 
 
 
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 I – se não contemplar todos os dados necessários para a 
execução; 
II – se não houver informação acerca do trânsito em julgado; 
III – se houver o pagamento; ou 
IV – se constatar a prescrição da pretensão executória 
Art. 3°. O Promotor de Justiça com atribuição para atuação na 
Vara de Execuções Criminais, depois de conferir a certidão, 
deverá protestar a multa (Lei n. 9.492/1997) e/ou ajuizar a ação 
de execução fundada no rito previsto no Capítulo IV, Título V, da 
Lei n. 7.210/1984, com aplicação subsidiária da Lei 6.830/1980. 
§ 1°. O Promotor de Justiça, a seu critério e entendimento, 
poderá optar pelo direto ajuizamento da ação de execução, sem 
o manejo do protesto mencionado anteriormente. 
 
Do regramento supra citado, percebe-se que o Promotor com atribuição em execução 
penal, ao receber a certidão da multa, poderá devolvê-la ao Representante Ministerial que 
oficia no Juízo da condenação se o título não contemplar os dados necessários para a ação 
executiva. 
No caso concreto, a “certidão – multa penal” emitida pela Vara Criminal de Mogi Guaçu 
contém todos os requisitos necessários à cobrança do valor, destacando-se a descrição de dois 
endereços completos do sentenciado. 
De se destacar, porque oportuno, que restando impossibilitada a efetivação do 
protesto do título, o Representante Ministerial que oficia perante o Juízo das Execuções 
Criminais deverá promover as diligências necessárias visando sanar eventuais omissões 
apontadas ou promover a ação executiva, à inteligência do disposto no §1º, do art. 3º, da 
Resolução 1229/2020. 
 
 
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Nesse sentido, o Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Criminais – 
CAO-Crim, em recente publicação no Boletim Criminal Comentado 137 – Maio – 2021, constou 
o seguinte Aviso: 
“No tocante ao protesto das certidões de multa penal, 
verificamos no Sistema Resgate de Valores que há mais de 300 
certidões com status “a protestar”, pois apresentam 
irregularidades que devem ser sanadas pelo Promotor de 
Execução apresentante. Desse modo, o Núcleo de Execuções 
Criminais ressalta a necessidade dos Promotores de Execução 
observarem as Orientações do IEPTB quando do envio da 
certidão, a fim de evitar irregularidades; bem como de 
consultarem o Sistema Resgate de Valores no dia seguinte à 
remessa da certidão, para verificar se há pendencias no 
preenchimento ou no título e saná-las, viabilizando a efetivação 
do protesto.” 
 
Restou claro, portanto, o entendimento do Núcleo de Execuções Criminais do CAOCrim 
desta Procuradoria-Geral de Justiça, de que eventuais irregularidades a serem sanadas nas 
certidões de multa penal, exigidas para o protesto do título, deverão ser efetivadas pelos 
Insignes Representantes Ministeriais que oficiam perante os Juízos de Execuções Criminais. 
Diante do exposto, conhece-se desta remessa para declarar que a atribuição para 
sanar eventual inconsistência da certidão de multa penal extraída nos autos n. 0001441-
70.2018.8.26.0362 da Vara Criminal de Mogi Guaçu, possibilitando, assim, o protesto do 
título ou a sua execução, incumbe ao Douto Suscitado, 1º Promotor de Justiça da referida 
Comarca, com atribuição em execução criminal. 
A controvérsia se refere apenas a atribuição para regularizar eventual inconsistência na 
certidão de pena de multa e não propriamente ao enquadramento legal dos fatos, motivo por 
que se afigura desnecessária a designação de outro Membro do Parquet para atuar em seu 
lugar. 
 
 
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Comunique-se com via digital da presente decisão os Ilustres Promotores de Justiça 
interessados e ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Criminais. 
 
 
São Paulo, 17 de maio de 2021. 
 
Mário Luiz Sarrubbo 
Procurador-Geral de Justiça

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