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Educação Digital TALITA DA SILVA CAMPELO 1ª Edição Brasília/DF - 2023 Autores Talita da Silva Campelo Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................................. 6 Capítulo 1 Educação na cibercultura .......................................................................................................................................... 7 Capítulo 2 Ação docente e mediação pedagógica na educação digital .......................................................................18 Capítulo 3 Educação disruptiva: internet das coisas e experiências imersivas na escola ......................................28 Capítulo 4 Ensino e aprendizagens inovadores na educação digital ............................................................................38 Capítulo 5 Letramento, alfabetização e inclusão digital ....................................................................................................49 Capítulo 6 Políticas e ações para a educação digital nos cenários nacionais e internacionais ...........................60 Referências ..........................................................................................................................................................................71 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORgAnIzAçãO DO LIvRO DIDátICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Gotas de Conhecimento Partes pequenas de informações, concisas e claras. Na literatura há outras terminologias para esse termo, como: microlearning, pílulas de conhecimento, cápsulas de conhecimento etc. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução Este livro didático é constituído de seis Capítulos voltados para a educação digital e tem como referência principal a incorporação da cultura digital nos processos de ensino-aprendizagem. Cada Capítulo foi contruído para que, partindo da relação entre tecnologias Digitais da informação e da comunicação, tecnologias da inteligência e tecnologias da aprendizagem e educação digital na cibercultura, você possa compreender as especificidades do ensino e da aprendizagem no século XXI. Pensando na ação docente e na mediação pedagógica na educação digital, você será apresentado aos conceitos de metodologia ativa, educação disruptiva, internet das coisas e experiências imersivas na educação escolar. Você conhecerá também exemplos de experiências de ensino e aprendizagens inovadoras desenvolvidas de acordo com esses princípios. Analisaremos e refletiremos também sobre a importância do letramento, da alfabetização e da inclusão digital, além da relação destas com práticas de protagonismo infanto-juvenil e cidadania. Por fim, você conhecerá políticas e ações para a educação Digital nos cenários nacionais e internacionais. Objetivos » Conhecer o que são as tecnologias digitais da informação e da comunicação (TDICs), tecnologias da inteligência e tecnologias da aprendizagem, suas características e a relação destas com a educação digital. » Compreender as possibilidades de enriquecimento da ação docente por meio da mediação pedagógica voltada para a educação digital. » Analisar os conceitos de educação disruptiva, internet das coisas e experiências imersivas, bem como sua aplicabilidade no contexto escolar. » Conhecer experiências de ensino e aprendizagem inovadoras na educação digital. » Refletir acerca da importância do letramento, da alfabetização e da inclusão digital para a educação do século XXI. » Conhecer as políticas nacionais e internacionais para valorização, incentivo e implementação da educação digital. 7 Introdução do Capítulo Neste livro, como já dito, nós nos concentramos na educação digital tendo como referência principal a incorporação desta aos processos de ensino-aprendizagem. Neste Capítulo, vamos conhecer os conceitos de cultura digital, educação digital e educação midiática, vamos dicutir a relação entre tecnologias digitais da informação e da comunicação, tecnologias da inteligência e tecnologias da aprendizagem e a educação digital na cibercultura para que você possa compreender as especificidades do ensino e da aprendizagem no século XXI. Esperamos que você tenha uma boa leitura e que ela contribua para você desenvolver seus estudos de modo a ampliar seus conhecimentos e construir outros sobre educação na cibercultura. Objetivos » Compreender os conceitos de cibercultura, educação digital e educação midiática. » Conhecer o que são tecnologias digitais da informação e da comunicação, tecnologias da inteligência e tecnologias da aprendizagem, suas características e a relação destas com a educação digital. » Analisar as características específicas do processo de ensino-aprendizagem no século XXI. 1.1 Cibercultura e educação digital Para Geertz (1989), a cultura é um padrão de significados e concepções transmitido de uma geração para a outra por meio do qual os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à vida. Segundo Borba (2012), a cultura se sistematiza como um conjunto de práticas, conhecimentos e artefatos construídos e 1CAPÍTULO EDUCAçãO nA CIBERCULtURA 8 CAPÍTULO 1 • EDUCAçãO nA CIBERCULtURA acumulados pelos sujeitos nos contextos históricos e sociais onde se inserem. Se estamos falando de contextos, falamos também de culturas múltiplas e diversas. As ciências sociais têm dado importante contribuição para entendermos que a cultura não se restringe somente ao que é herdado, mas inclui o que é construído nos grupos sociais por meio de processos de interação. Nesse sentido, todos nós herdamos,modificamos e construímos a cultura. A partir de Anjos e Silva (2018), entendemos por cultura digital as produções que se constituem a partir do uso das tecnologias: é a cultura da informação, do conhecimento, de fluxos e criações, que está cada vez mais interligada às inovações tecnológicas e se afirma, cada vez mais, como modo de viver de grande parte da população global. Como explicam os autores, não se trata apenas de um conjunto de técnicas socialmente incorporadas, mas uma nova ordem, fluida e veloz, que estabelece novas fronteiras nos planos econômico, político, cultural e humano (ANJOS; SILVA, 2018). Esse modo de viver manifesta novos tempos e espaços onde as tecnologias se fazem presentes em praticamente todas as relações sociais e tornam-se extensões da pessoa humana, afetando significativamente a linguagem, o comportamento, as emoções, as condições físicas (ANJOS; SILVA, 2018). É nessa cultura que a tecnologia não se limita à condição de mero instrumento de trabalho, mas se torna extensão dos nossos corpos e mentes, criando possibilidades inimagináveis de interação (KERCKHOVE, 2009). Pode-se dizer que a cibercultura é uma construção cultural contemporânea constituída pelos novos usos e funcionalidades das tecnologias. Diniz (2008) a vê como um meio de veiculação de produtos culturais disseminados na rede. A cibercultura não seria um movimento em si, mas um espaço que permite que movimentos culturais tenham sentidos (DINIZ, 2008). Figura 1. Cultura digital. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/fastpaced-modern-society-people-interacting-flow-2062627280. Diante da necessidade da escola acompanhar as mudanças estruturais velozes nas esferas do conhecimento, dos saberes e das práticas que caracterizam a atualidade, atender aos 9 EDUCAçãO nA CIBERCULtURA • CAPÍTULO 1 diferentes tipos e ritmos de aprendizagem dos alunos e incorporar seus interesses de modo contextualizado ao que é social e culturalmente característico do seu tempo (demandas da educação do século XXI), os professores são desafiados a incorporar a cultura digital em suas práticas pedagógicas. Um profícuo caminho para isso é a educação digital, tema central deste livro, enquanto mobilização de recursos tecnológicos nas metodologias de ensino, com vistas ao estabelecimento de processos mais dinâmicos de aprendizagem e processos reflexivos sobre a incorporação dessas tecnologias no cotidiano das escolas e como elas podem transformar a dinâmica ensino-aprendizagem. Isso inclui ensinar a usar a tecnologia de forma a agregar valor à vida das pessoas, garantindo-lhes a própria segurança e uma relação respeitosa com os outros. Figura 2. Cultura digital e escola. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/side-view-diverse-group-children-sitting-1983223739. Contribui também para esse debate a educação midiática, que, para Ferrari, Ochs e Machado (2020), é um conceito mais afinado com a reflexão e com as responsabilidades e oportunidades decorrentes da cultura digital. A educação midiática pode ser melhor definida como aquela voltada para garantir aos alunos e alunas o conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar da cultura digital de maneira crítica e reflexiva, de modo que tenham e dominem os instrumentos necessários para dominar as linguagens que nos permitem ter voz nesse contexto e, com isso, participar plenamente dele (FERRARI; OCHS; MACHADO, 2020). A Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2019) contempla o desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas à cultura digital tendo como fim o desenvolvimento de competências relacionadas ao próprio uso das tecnologias, recursos e linguagens digitais no sentido de favorecer a compreensão, o uso e a criação de tecnologias em diversas práticas sociais. Isso não diz respeito a utilizá-las somente como meio ou suporte para promover aprendizagens, mas sim a utilizá-las com os alunos para que 10 CAPÍTULO 1 • EDUCAçãO nA CIBERCULtURA construam conhecimentos com e sobre o uso dessas tecnologias. Nesse sentido, a BNCC (BRASIL, 2019) estabelece que, até o final do Ensino Fundamental, nossos alunos e alunas precisam desenvolver: » Utilização de ferramentas digitais: precisam ser capazes de usar ferramentas multimídia e periféricos para aprender e produzir. » Produção multimídia: utilizar recursos tecnológicos para desenhar, desenvolver, publicar e apresentar produtos para demonstrar conhecimentos e resolver problemas. » Linguagens de programação: usar linguagens de programação para solucionar problemas. » Domínio de algoritmos: compreender e escrever algoritmos, utilizar os passos básicos da solução de problemas por algoritmo para resolver questões. » Visualização e análise de dados: interpretar e representar dados de diversas maneiras, inclusive em textos, sons, imagens e números. » Mundo digital: entender o impacto das tecnologias na vida das pessoas e na sociedade, incluindo nas relações sociais, culturais e comerciais. » Uso ético: utilizar tecnologias, mídias e dispositivos de comunicação modernos de maneira ética, sendo capaz de comparar comportamentos adequados e inadequados. gotas de conhecimento A Base Nacional Comum Curricular – BNCC é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da educação básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação – PNE (BRASIL, 2019). Figura 3. Educação digital e midiática. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/elearning-online-education-home-modern-vector-1680752509. 11 EDUCAçãO nA CIBERCULtURA • CAPÍTULO 1 1.2 tecnologias digitais da informação e da comunicação, tecnologias da inteligência e tecnologias da aprendizagem Como vimos até aqui, é preciso por em discussão a potencialidade da cultura digital na mediação de processos e relações na escola, a importância de mobilizá-la na construção de estratégias de ensino e os desafios que interpelam a prática pedagógica nesse sentido. Importantes recursos para isso são as tecnologias digitais da informação e da comunicação, as tecnologias da inteligência e as tecnologias da aprendizagem, as quais conheceremos melhor a seguir. As tecnologias digitais da informação e da comunicação (TDICs) são um conjunto de recursos tecnológicos integrados, os quais proporcionam, por meio das funções de hardware, software e telecomunicações, a automação dos processos de comunicação de modo a suprir a necessidade humana de comunicação à distância (GARCIA; MARTINS, 2021). De um modo geral, as TDICs se relacionam com o uso de novas mídias (ou meios), múltiplos formatos e plataformas variadas (como vídeo, texto, fotografia, áudio etc.) para que uma mensagem seja transmitida, e com a reflexão crítica sobre os impactos que essas mudanças na linguagem e na comunicação provocam na sociedade, bem como nos processos educativos. gotas de conhecimento » Hardware: parte física de computadores e de outros sistemas microeletrônicos. » Software: trata-se de uma sequência de instruções a serem seguidas e/ou executadas, na manipulação, redirecionamento ou modificação de um dado ou acontecimento. » Telecomunicações: constituem um ramo da engenharia elétrica que contempla o projeto, a implantação e manutenção de redes de sistemas de comunicações (GARCIA; MARTINS, 2021). Figura 4. tecnologias digitais da informação e da comunicação. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/global-communication-digital-device-information- concept-411902782. 12 CAPÍTULO 1 • EDUCAçãO nA CIBERCULtURA Com base em Anjos e Silva (2018), o termo “Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação” (TDICs) utilizado nessa disciplina se refere aos dispositivos eletrônicos e tecnológicos, incluindo-se computadores, tablets esmartphones, e demais tecnologias criadas antes do fenômeno digital na sociedade contemporânea, tais como o telégrafo, o rádio, a televisão e o jornal. Interessam-nos, portanto, as tecnologias utilizadas em contextos de comunicação e de informação carcterísticas da contemporaneidade e que são essencialmente digitais. Figura 5. “velhas” tecnologias de comunicação e informação. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/tin-can-phone-concept-325260704. As tecnologias da inteligência, por sua vez, como definidas por Lévy (1993), são aquelas que amplificam as faculdades cognitivas humanas, e funcionam como verdadeiras extensões do cérebro – da memória, da imaginação, do raciocínio. Soffner (2005) também as denomina tecnologias de aprendizagem, justamente porque podem e devem ser verdadeiras aliadas no processo de ensino-aprendizagem, tendo papel facilitador de processos antes dificultosos, estimulando o aprendizado de conteúdo e ao mesmo tempo tornando os indivíduos produtores de novos conhecimentos. As TDICs permitem, dentro do ciberespaço, a virtualização dos saberes. O ciberespaço, definido por Monteiro e Pickler (2006), é o ambiente virtual possibilitado pela interconexão mundial dos computadores em rede, um mundo virtual porque está presente em potencial, e implica uma nova relação de tempo e espaço. O espaço não é mais concreto, localizado em um território fixo; o que está no ciberespaço não está em lugar nenhum e também em todo lugar, e o tempo torna-se relativo, e não mais absoluto (SOFFNER; KIRSCH, 2014). Para Lévy (1996), a virtualização promove a unidade do tempo sem a unidade de espaço (graças às interações em tempo real por redes eletrônicas): indivíduos conectados à rede interagem continuamente, utilizando e produzindo os saberes virtualizados, por meio da comunicação síncrona ou assíncrona. A virtualização dos saberes propõe novas maneiras de ensinar e aprender. Para Gadotti, 13 EDUCAçãO nA CIBERCULtURA • CAPÍTULO 1 O ciberespaço rompeu com a ideia de tempo próprio para a aprendizagem. Não há tempo e espaço próprios para a aprendizagem. Como ele está todo o tempo em todo lugar, o espaço da aprendizagem é aqui – em qualquer lugar – e o tempo de aprender é hoje e sempre (GADOTTI, 2000, p.8). Anjos e Silva (2018) explicam que, a partir desse olhar, os espaços educativos não seriam hierarquizados e o professor ocuparia um papel de propulsor e, ao mesmo tempo, interlocutor das informações produzidas. Para alguns, é possível enxergar o fim das instituições educativas, todavia isso não seria possível, pois a escola contribui com a transformação da informação em conhecimento, o que envolve identidades, produções culturais, processos crítico-reflexivos que não poderiam ser desenvolvidos em outros espaços (ANJOS; SILVA, 2018). Os autores explicam ainda que a mudança está na compreensão de que esses processos de construção de conhecimento, embora organizados por instituições educacionais, podem ser geridos de diferentes lugares e tempos para além do sincronismo e da presença física viabilizados pelo uso das novas tecnologias que conhecemos aqui (ANJOS; SILVA, 2018). Nesse sentido, Soffner e Kirsch (2014) defendem que devemos buscar um novo modelo de educação, de ensino, de aprendizagem e de avaliação que se paute em buscar trocas de saberes as quais promovam a construção de um conhecimento mútuo, a aprendizagem colaborativa e a inteligência coletiva. O emprego das tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem pode se revelar um excelente meio para alcançarmos a excelência na educação, pois são ferramentas que ampliam, facilitam e estimulam as faculdades cognitivas humanas – há que se fazer uso delas para modificar e ampliar as formas de ensinar e de aprender (SOFFNER; KIRSCH, 2014). Figura 6. tecnologias e educação. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/set-computer-accessories-desk-workspace-wireless-2052189893. 14 CAPÍTULO 1 • EDUCAçãO nA CIBERCULtURA 1.3 Ensino e aprendizagem no século XXI Como vimos até aqui, o mundo está em constante transformação devido ao avanço da tecnologia e percebemos isso no nosso dia a dia quando observamos que as crianças acessam, cada vez mais jovens, smartphones e tablets, e executam com destreza tarefas remotas. É comum se referir aos nascidos nesse contexto de acesso digital facilitado de “nativos digitais”. Prenski (2001) classifica as pessoas que tiveram contato com a tecnologia digital após a idade adulta como “imigrantes digitais”, pois, apesar de usarem a tecnologia no seu dia a dia, diferem dos “nativos digitais” por conta desses últimos, tendo nascido e crescido envoltos pela tecnologia, também têm uma forma de pensar diferente. De modo geral, nossos alunos e alunas são nativos digitais; que forma seria essa de “pensar diferente” que os caracteriza? Figura 7. nativos digitais e imigrantes digitais. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-school-kids-reading-education-600737564. Educar um nativo digitaal implica compreender o modo de viver e os anseios dele. Observe algumas das características apontadas pela Fundação Telefônica (2013): » Para ele, as tarefas e regras precisam ter uma razão. » No trabalho e na escola, os nativos digitais têm dificuldade em entender o sentido da hierarquia nas relações, pois acreditam que elas são horizontais: todos aprendem com todos. » Aceitam subordinar-se mais a vínculos do que a posições hierárquicas. São mais orientados pela consciência do que pela obediência. » É importante saber que essa geração adora receber elogios: ser reconhecido é um valor muito forte e, embora gostem de ser autônomos, apreciam um retorno sobre como estão se saindo, com dicas para poderem melhorar. » A necessidade de resultados imediatos faz com que eles se desinteressem por atividades a longo prazo. É essencial perceber os resultados de seu esforço em pouco tempo para que se sintam estimulados a continuarem suas tarefas. 15 EDUCAçãO nA CIBERCULtURA • CAPÍTULO 1 » A relação desses jovens com as telas digitais determina em boa parte o comportamento deles. O poder de atração da internet faz muitos deles usarem seu tempo livre para se conectar, em detrimento de outras opções, como dormir, relacionar-se com familiares e amigos de maneira presencial ou participar de outras atividades destinadas ao lazer. » A comunicação via web também tem influência na vida dessa população: a facilidade e a gratuidade de muitas páginas virtuais podem inibir a socialização cara a cara entre as pessoas, embora promova o contato com desconhecidos. Tomar consciência dessas características é fundamental para que o educador pense formas de trabalhar com recursos digitais e interativos em sua prática pedagógica. Segundo Prensky (2001), o maior problema que a educação enfrenta hoje é que os professores, imigrantes digitais, usam uma linguagem ultrapassada (da era pré-digital) e estão lutando para ensinar uma população que fala uma linguagem totalmente nova. Nessa direção, Veen e Vrakking (2009) destacam as principais características dos nativos digitais para as quais os educadores deveriam se voltar: » Executar múltiplas tarefas – competência importante a ser considerada no planejamento educativo. » Habilidades colaborativas – executar tarefas em grupo tornou-se uma preferência. » Comportamento não linear – familiaridade com a linguagem dos hiperlinks. » Habilidades icônicas – preferência por imagens e audiovisuais. » Zapear – assistir simultaneamente a vários canais sem dispersão. Figura 8. Educação no século XXI. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/smiling-small-african-american-girl-headphones-1707844081. 16 CAPÍTULO 1 • EDUCAçãO nA CIBERCULtURA Os termos “nativo digital” e “imigrante digital” ganharam o mundo, mas Ferrari, Ochs e Machado (2020) sinalizam que eles acabaram também criando certo ruído. As autoras explicam que Prensky quis dizer apenas que nativos digitais são osque já nascem em um mundo onde os dispositivos digitais são onipresentes, mas houve quem entendesse que essas crianças e jovens já “vinham de fábrica” com pleno conhecimento e aptos a lidar com tecnologia – longe disso (FERRARI; OCHS; MACHADO, 2020). Ferrari, Ochs e Machado (2020) contam que, em 2016, uma pesquisa nos Estados Unidos com mais de 7.800 estudantes conduzida pelo Stanford History Education Group (SHEG) mostrou que os nativos digitais estavam mais para “inocentes digitais”, pois, apesar de serem a geração mais familiarizada com as novas tecnologias de comunicação e informação, essas crianças e jovens têm muita dificuldade de processar informações encontradas nas redes sociais. Uma das conclusões da pesquisa é que nossos nativos digitais são capazes de ir e voltar do Facebook para o Twitter ao mesmo tempo que fazem o upload de uma selfie no Instagram e escrevem uma mensagem ao amigo, mas, quando o assunto é avaliar as informações que transitam pelas redes sociais, eles são facilmente enganados (FERRARI; OCHS; MACHADO, 2020). Para refletir De acordo com Ferrari, Ochs e Machado (2020), os resultados mostraram que mais de 80% dos nativos digitais participantes da pesquisa não foi capaz de fazer a distinção entre conteúdo patrocinado (publicidade) e reportagem jornalística e que, em outra atividade proposta, uma parcela de menos de 20% dos alunos questionou adequadamente a fonte de uma informação. Esses dados tão contundentes reforçam a importância da educação digital para além do mero uso da tecnologia no ensino, mas sim em uma perspectiva que inclua garantir aos alunos e alunas condições plenas para construir e participar ativamente da cultura digital com autonomia e criticidade. Figura 9. Comunicação e interação de nativos digitais. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/set-children-using-pc-laptops-kids-1959666169. 17 EDUCAçãO nA CIBERCULtURA • CAPÍTULO 1 Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » A cultura digital são as produções que se constituem a partir do uso das tecnologias: é a cultura da informação, do conhecimento, de fluxos e criações que está cada vez mais interligada às inovações tecnológicas e se afirma, cada vez mais, como modo de viver de grande parte da população global. » A educação digital é a prática docente de mobilizar mecanismos tecnológicos em métodos de ensino, com vistas ao estabelecimento de processos mais dinâmicos de aprendizagem e processos reflexivos sobre a incorporação dessas tecnologias e como elas podem ser transformadoras no ensino. » A educação midiática é aquela voltada para garantir aos alunos e alunas o conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar da cultura digital de maneira crítica e reflexiva, de modo que tenham e dominem os instrumentos necessários para dominar as linguagens as quais nos permitem ter voz nesse contexto e, com isso, participar plenamente dele (FERRARI; OCHS; MACHADO, 2020). » As tecnologias da inteligência são aquelas que amplificam as faculdades cognitivas humanas, funcionando como verdadeiras extensões do cérebro: da memória, da imaginação, do raciocínio. Quando mobilizadas em processos educativas, tornam-se tecnologias de aprendizagem, são verdadeiras aliadas no processo de ensino-aprendizagem e têm papel facilitador de processos antes dificultosos, estimulando o aprendizado de conteúdo e ao mesmo tempo tornando os indivíduos produtores de novos conhecimentos. » As pessoas que tiveram contato com a tecnologia digital após a idade adulta são consideradas “imigrantes digitais”, pois, apesar de usarem a tecnologia no seu dia a dia, diferem dos “nativos digitais” por conta de esses últimos, tendo nascido e crescido envoltos pela tecnologia, também terem uma forma de pensar diferente. Os “nativos digitais” são muitas vezes “inocentes digitais”, pois, apesar de serem a geração mais familiarizada com as tecnologias, têm muita dificuldade de processar informações encontradas nas redes sociais. » Veen e Vrakking (2009) destacam as principais características dos nativos digitais para as quais os educadores deveriam se voltar: executar múltiplas tarefas; desenvolver habilidades colaborativas; adotar comportamento não linear; desenvolver habilidades icônicas; e zapear. 18 Introdução do Capítulo No Capítulo 1, conhecemos o que é a cultura digital, a educação digital e a educação midiática e discutimos sobre a relação entre tecnologias digitais da informação e da comunicação, tecnologias da inteligência e tecnologias da aprendizagem e a educação digital na cibercultura. Por fim, nós nos direcionamos para a análise das especificidades do ensino e da aprendizagem no século XXI. Partindo dos conhecimentos que construímos anteriormente, neste Capítulo, estudaremos sobre as possibilidades de enriquecimento da ação docente por meio da mediação pedagógica voltada para a educação digital. Nosso foco principal será a metodologia ativa. Esperamos que você tenha uma boa leitura e que ela contribua para você desenvolver seus estudos de modo a ampliar seus conhecimentos e construir outros sobre ação docente e mediação pedagógica na educação digital. Objetivos » Conhecer o conceito de mediação pedagógica. » Compreender as possibilidades de enriquecimento da ação docente por meio da mediação pedagógica voltada para a educação digital. » Perceber a relação entre novas tecnologias e trabalho docente. » Identificar as característias a metodologia ativa. 2.1 Aprendizagem e mediação pedagógica O processo de ensino e aprendizagem é definido como um sistema de trocas de informações entre docentes e alunos que deve ser pautado na objetividade daquilo que há necessidade de o aluno aprender (SILVA; DELGADO, 2018). A relação entre professores e alunos em 2 CAPÍTULO AçãO DOCEntE E MEDIAçãO PEDAgÓgICA nA EDUCAçãO DIgItAL 19 AçãO DOCEntE E MEDIAçãO PEDAgÓgICA nA EDUCAçãO DIgItAL • CAPÍTULO 2 torno do conhecimento que materializa os processos de ensino-aprendizagem está longe de ser simples como pode parecer a princípio, uma vez que é atravessada por questões de atribuição de papéis e, portanto, construções de identidade que se situam entre essas duas ações indissociáveis: ensinar e aprender. Importante É importante ressaltar que o processo de ensino-aprendizagem é essencialmente humano, sendo, portanto, perpassado por relações interpessoais as quais envolvem subjetividade e afeto; é situado em um contexto social específico, o que diz respeito às condições de trabalho e estudo de profesores e alunos e à oferta de recursos nas escolas; trata de processos de passagem cultural historicamente situados e que necessitam de sistematização e organização, exigindo conhecimentos especializados de quem ensina. Assim como Roldão (2007), defendemos que o ensino não pode mais ser definido como o tipo de situação em que um transmite e o outro assimila de modo acrítico, mas pela existência de alguém – o professor – que procede à construção e ao desenvolvimento de um conjunto de ações que levem o outro – o aluno – a aprender. Nessa concepção, o professor é um profissional do ensino: alguém que domina um conjunto de saberes os quais lhe permitem fazer a mediação entre o conhecimento e o aluno: ensinar (ROLDÃO, 2005). O ensino, por sua vez, é uma ação especializada do professor não encerrada nele, mas que se desenvolve com os alunos em processos mediativos, interativos e relacionais. Figura 10. Ensinar como estabelecer relações. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/asian-female-teacher-teaching-mixed-race-744122482. Para ensinar nessa concepção, é preciso o professor se preocupar e se ocupar com os fundamentos da sua prática, compreendendo e assumindo a maneira pela qual ensina e a forma como ensina. Assim, será possível ele propor formas de mediação, fundadas em concepções as quais permitam situar a função social de tais mediações em uma perspectiva que enfativa não o “como fazer” pura e simplesmente, mas o “comofazer” – mediação – em articulação com o “por que fazer” – intencionalidade pedagógica (CRUZ, 2017). 20 CAPÍTULO 2 • AçãO DOCEntE E MEDIAçãO PEDAgÓgICA nA EDUCAçãO DIgItAL Nesse sentido, a mediação pedagógica se constitui a partir de princípios e pressupostos históricos os quais fundamentam a ação docente nas diferentes abordagens do processo educacional, tendo em vista as concepções de sociedade, de ser humano, de educação e da relação professor-aluno que permeiam esse processo. Por mediação pedagógica, entendemos a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, um incentivador ou um motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e a sua aprendizagem – não uma ponte estática, mas uma “escada rolante”, que ativamente colabora para o aprendiz alcançar seus objetivos (MASETTO, 2013). Figura 11. Ensinar como uma escada rolante. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/df-brazil-october-31-2020-signs-1844826733. Considerando o ensino enquanto ação especializada do professor que não se encerra nele, mas que se desenvolve com o aluno em processos relacionais de mediação pedagógica, para Moretto (2002), aprender não pode ser uma mera devolução do que o aluno recebeu do professor de maneira reprodutivista, sem espaço para criação e interpretação. Ao invés disso, a aprendizagem está muito mais relacionada a processos mediados pelo professor, por intermédio dos quais o aluno pode estabelecer relações entre concepções prévias e o objeto do conhecimento proposto pela escola – um processo interno de quem aprende estimulado por questões exteriores propostas por aquele que ensina (MORETTO, 2002). Masetto (2013) explica que, assim, o desenvolvimento da mediação pedagógica se inicia no trabalho com o aluno, para que este assuma um papel de aprendiz ativo e participante, de sujeito de ações que o levem a aprender e a mudar seu comportamento – ações que realiza sozinho, a autoaprendizagem; com o professor e com os seus colegas, a interaprendizagem. 21 AçãO DOCEntE E MEDIAçãO PEDAgÓgICA nA EDUCAçãO DIgItAL • CAPÍTULO 2 Nesse sentido, o conceito de aprender está ligado diretamente a um sujeito que, por suas ações, busca e adquire informações, produz reflexões e conhecimentos próprios, pesquisa, dialoga, debate, muda comportamentos, integra conceitos teóricos com realidades práticas, relaciona e contextualiza experiências, desenvolve a criticidade, a capacidade de considerar e olhar para os fatos e fenômenos de diversos ângulos, compara posições e teorias, resolve problemas (MASETTO, 2013). Em suma, aprender é crescer e desenvolver-se; Masetto (2013) defende que o professor precisa desenvolver o papel de mediador pedagógico, deve ser aquele que, de forma intencional, mobiliza seus conhecimentos especializados de modo a intervir diretamente e em equipe com o aluno nos processos de ensino-aprendizagem, atuando como um orientador, consultor, facilitador, planejador e dinamizador. Figura 12. Ensinar como trabalho em equipe. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/teacher-teaching-diverse-school-kids-using-2198669189. 2.2 novas tecnologias e ação do professor A complexidade do processo de ensino-aprendizagem, a respeito da qual refletimos anteriormente, exige uma prática intencional, sistemática e organizada, elaborada de de modo reflexivo e autoral, com a qual se utilizem meios e formas de mediação pedagógica. Uma vez que ensinar consiste em “desenvolver uma ação especializada de fazer com que alguém aprenda alguma coisa que se pretende e se considera necessária” (ROLDÃO, 2009, p. 14), isso pressupõe mobilizar e organizar um conjunto variado de dispositivos com vistas a contribuir diretamente (interferir) na aprendizagem do outro (ROLDÃO, 2009). Esses dispositivos são um conjunto de ações intencionais e organizadas para o desenvolvimento de uma determinada aprendizagem – as chamadas estratégias pedagógicas. De acordo com Roldão (2009), uma estratégia justifica-se sempre no plano da concepção, pela resposta às questões: como vou organizar a ação e por quê, tendo 22 CAPÍTULO 2 • AçãO DOCEntE E MEDIAçãO PEDAgÓgICA nA EDUCAçãO DIgItAL em conta o para quê e o para quem, com que meios, atividades, tarefas, em que ordem. As estratégias de ensino devem ser elaboradas considerando as características dos alunos, seus contextos de vida, os objetivos que se propõem a eles, os conteúdos a serem trabalhados com eles, a disponibilidade de tempo e de recursos. Moraes e Lima (2018) defendem também que é preciso considerar a maneira como as tecnologias estão integradas nas vidas dos alunos. Sobre isso, os autores afirmam que os estudantes reconhecem as tecnologias como espaço potencialmente ativo para aprender, servindo de apoio para a compreensão dos conteúdos, como fonte de informação e espaço cooperativo que proporciona interação, novas descobertas e auxilia na realização de atividades e tarefas (MORAES; LIMA, 2018). Além disso, segundo os estudantes, a diversidade de possibilidades ofertadas pelas tecnologias permite o desenvolvimento de uma visão mais ampla dos conceitos, diversificando as linguagens mobilizadas nos processos de ensino- aprendizagem (MORAES; LIMA, 2018). Figura 13. Os alunos e a tecnologia. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/smiling-schoolchildren-using-digital-tablets- classroom-1349212961. Coll, Mauri e Onrubia (2010) explicam que as tecnologias podem ser mobilizadas na escola para mediar a relação dos professores e dos alunos com o conhecimento, dos alunos entre si, deles com os professores e as atividades desenvolvidas por eles, além de poderem proporcionar novos ambientes/espaços de trabalho e estudo. Sobre isso, Moran (2013a) afirma que o uso das tecnologias amplia os espaços de ensino-aprendizagem reconfigurando as salas de aula em laboratórios os quais extrapolam as dimensões físicas e viabilizam pesquisa, comunicação, produção e experiência em uma perspectiva mais alargada. Masetto (2006) defende que esse tipo de mediação pedagógica: » permite entrar em contato com as mais novas e recentes produções de conhecimento, saberes e culturas; » desenvolve a autonomia e a independência do aluno, afirmando a participação dele no processo de ensino-aprendizagem; 23 AçãO DOCEntE E MEDIAçãO PEDAgÓgICA nA EDUCAçãO DIgItAL • CAPÍTULO 2 » possibilita integrar movimento, luz, som, imagem e vídeo em novas formas de trabalhar os conteúdos; » permite orientar os alunos para além do período das aulas; » estimula novas formas de realizar atividades didáticas; » torna o processo de ensino-aprendizagem mais motivador e dinâmico para os alunos. Para Coll, Mauri e Onrubia (2010), o objetivo de introduzir as tecnologias nas escolas deve ser aproveitar o potencial desses recursos para promover novas formas de aprender e ensinar; não se trata, assim, de usar as tecnologias para fazer as mesmas coisas com mais rapidez, comodidade ou mesmo eficácia, mas fazer coisas diferentes, colocar em marcha processos de ensino-aprendizagem que não seriam possíveis sem as tecnologias. Figura 14. tecnologia na escola. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/portrait-female-teacher-holding-digital-tablet-1200194515. Para Kenski (2001), isso implica formar professores que não sejam apenas usuários ingênuos das tecnologias, mas conscientes e críticos, que saibam aproveitar as potencialidades da tecnologia de acordo com a realidade onde atuam. Ainda segundo a autora, é preciso realizar a abertura da mentalidade escolar para a incorporação e aceitação de comportamentos, sentimentos, ações e transformações em que se considerem as imagens, os sons, os movimentos, o ritmo, e, principalmente, a subjetividade na lógica formal dos processos de ensino-aprendizagem, questionando a ênfase dada aos aspectos cognitivos e aos conteúdos dos quais a escola tradicionalmente se ocupa (KENSKI, 1996). Isso exige que se abramespaços maiores na docência para a intuição, para a imaginação, para o inconsciente, para a atuação breve e para o movimento, de modo que o ensino objetive a aprendizagem por meio do desenvolvimento integral do aluno (KENSKI, 1996). Para tal, é necessário realizar uma mudança nos discursos hegemônicos que circulam na escola sobre o processo educativo, e, como ressalta Barreto (2002), na aceitação e incoporação de outras práticas de linguagem nos processos de ensino-aprendizagem. 24 CAPÍTULO 2 • AçãO DOCEntE E MEDIAçãO PEDAgÓgICA nA EDUCAçãO DIgItAL Kenski (2001) propõe para isso que a ação de ensinar seja vista como um ato comunicativo que se dá na relação interativa entre professores e alunos por meio da qual se discute, reflete e problematiza uma mensagem – um conteúdo, um conhecimento – significativa e contextualizada mediada pelas possibilidades pedagógicas das tecnologias. Figura 15. Aprendendo ou perdendo tempo? Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-happy-elementary-school-students- smartphones-1472910872. 2.3 Metodologia ativa Considerando tudo o que vimos até aqui, dois conceitos são especialmente importantes para a aprendizagem hoje: aprendizagem ativa e aprendizagem híbrida. A primeira dá ênfase ao papel protagonista do aluno, ao seu envolvimento direto, participativo e reflexivo em todas as etapas do processo, em que ele experimente, desenhe, crie, com orientação do professor; a segunda destaca a flexibilidade, a mistura e o compartilhamento de espaços, tempos, atividades, materiais, técnicas e tecnologias que compõem esse processo ativo (MORAN, 2018). Figura 16. Aprendizagem ativa e híbrida. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/art-collage-concept-thought-process-ingenuity-2190179093. 25 AçãO DOCEntE E MEDIAçãO PEDAgÓgICA nA EDUCAçãO DIgItAL • CAPÍTULO 2 Segundo Moran (2018), metodologias são grandes diretrizes as quais orientam os processos de ensino e aprendizagem e que se concretizam em estratégias, abordagens e técnicas concretas, específicas e diferenciadas; e metodologias ativas, por sua vez, são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida. A aprendizagem se constrói em um processo complexo e equilibrado entre três movimentos ativos híbridos principais: a construção individual – na qual cada aluno percorre e escolhe seu caminho, ao menos parcialmente; a grupal – na qual o aluno amplia sua aprendizagem por meio de diferentes formas de envolvimento, interação e compartilhamento de saberes, atividades e produções com seus pares, com diferentes grupos, com diferentes níveis de supervisão docente; e a tutorial, em que ele aprende com a orientação de pessoas mais experientes em diferentes campos e atividades (MORAN, 2018). Para Moran (2018), em todos os níveis, há, ou pode haver, orientação ou supervisão, e esta é importantíssima para o aluno avançar mais profundamente na aprendizagem. Este é o papel principal do docente: o de orientador dos estudantes individualmente e nas atividades em grupo, nas quais os alunos são sempre protagonistas. Moran (2018) destaca três tipos de mediação pedagógica que se enquadram nos princípios de aprendizagem ativa e híbrida: » Personalização: do ponto de vista dos alunos, é o movimento de construção de trilhas que façam sentido para cada um, algo que os motiva a aprender, a ampliar seus horizontes e que os leva ao processo de serem mais livres e autônomos. Do ponto de vista do educador e da escola, a personalização é o movimento de ir ao encontro das necessidades e interesses dos estudantes e de ajudá-los a desenvolver todo o seu potencial, motivá-los, engajá-los em projetos significativos, na construção de conhecimentos mais profundos e no desenvolvimento de competências mais amplas. » Compartilhamento: envolve as múltiplas possibilidades de encontros com pessoas próximas e distantes/conectadas, que se agrupam de forma mais aberta ou organizada, pontual ou permanente, formal ou informal, espontânea ou estruturada, com ou sem supervisão, em contextos confiáveis, de apoio e também nos desafiadores. » Tutorial: acontece no contato com pessoas mais experientes (professores, alunos mais avançados) que podem nos ajudar a ir além de onde conseguiríamos chegar sozinhos ou em grupos de pares. Os tutores desempenham o papel de curadores para que cada estudante avance mais na aprendizagem individualizada: desenham algumas estratégias para a aprendizagem entre pares ser bem-sucedida e 26 CAPÍTULO 2 • AçãO DOCEntE E MEDIAçãO PEDAgÓgICA nA EDUCAçãO DIgItAL conseguem ajudar os aprendizes a ampliar a visão de mundo que desenvolveram nos percursos individuais e grupais, levando-os a suscitar novos questionamentos, investigações, práticas e sínteses. Figura 17. Personalizar, compartilhar e tutorizar para aprender. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/education-teamwork-people-concept-group- international-1127680517. Dentre as muitas estratégias que podem ser mobilizadas nas metodologias ativas, destacamos três: problemas, projetos e jogos. Quadro 1. Problemas, projetos e jogos nas metodologias ativas. Trabalho com problemas Trabalho com projetos Trabalho com jogos » O foco no trabalho com problemas é a pesquisa de diversas causas possíveis para um dilema e a busca por interpretações coerentes e soluções possíveis para este. » Isso envolve pesquisar, avaliar situações e pontos de vista diferentes, fazer escolhas, assumir riscos, aprender pela descoberta e caminhar do simples para o complexo. » nos projetos, os alunos se envolvem com tarefas e desafios para resolverem um problema ou desenvolverem um projeto que tenha ligação com a vida deles fora da sala de aula. » Durante o processo, eles lidam com questões interdisciplinares, tomam decisões e agem sozinhos e em equipe, desenvolvendo habilidades de pensamento crítico e criativo e a percepção de que existem várias maneiras de se realizar uma tarefa. » As atividades e as aulas roteirizadas com a linguagem de jogos (gamificação) são estratégias importantes de encantamento e motivação para uma aprendizagem mais rápida e próxima da vida real. » Os jogos mais interessantes para a educação ajudam os estudantes a enfrentarem desafios, fases, dificuldades, a lidarem com fracassos e correrem riscos com segurança. Fonte: adaptado de Moran, 2018. Para refletir Cada estratégia de metodologia ativa tem importância, mas não pode ser superdimensionada como única. A analogia de um cardápio alimentar pode ser ilustrativa. Uma alimentação saudável pode ser conseguida a partir de uma receita básica única. Porém, se todos os dias repetimos o mesmo menu, torna-se insuportável. A variedade e combinação dos ingredientes são componentes fundamentais do sucesso de um bom projeto alimentar, assim como do educacional. Há muitas combinações possíveis, com variações imensas na aplicação e resultados, que vamos experimentando de forma dinâmica e constante, reavaliando-as e reinventando-as de acordo com a conveniência para obter os resultados desejados (MORAN, 2018, p.55). 27 AçãO DOCEntE E MEDIAçãO PEDAgÓgICA nA EDUCAçãO DIgItAL • CAPÍTULO 2 As tecnologias são hoje o motor e a expressão do dinamismo transformador na educação, propulsores da aprendizagem ativa e híbrida (MORAN, 2018). Hoje não são só apoio ao ensino, são eixos estruturantes de uma aprendizagem criativa, crítica, empreendedora, personalizada e compartilhada, sempre que haja profissionais da educação abertos e competentes, currículos abertos e metodologias ativas (PÉREZ GÓMEZ, 2015). Para Moran (2018), a combinação de metodologias ativas com tecnologias é hoje estratégia para a inovação pedagógica, pois as tecnologias ampliam as possibilidades de pesquisa, autoria, comunicação e compartilhamento em rede, publicação, multiplicação de espaços e tempos; monitoram cada etapa do processo,tornam os resultados visíveis, os avanços e as dificuldades. Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » O processo de ensino e aprendizagem é definido como um sistema de trocas de informações entre docentes e alunos que deve ser pautado na objetividade daquilo que há necessidade de o aluno aprender (SILVA; DELGADO, 2018). O ensino é uma ação especializada do professor que não se encerra nele, mas se desenvolve com os alunos em processos mediativos, interativos e relacionais. » A mediação pedagógica é a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, um incentivador ou um motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e a aprendizagem deste (MASETTO, 2013). » Aprender é crescer e desenvolver-se. A aprendizagem está relacionada a processos mediados pelo professor, por meio dos quais o aluno pode estabelecer relações entre concepções prévias e o objeto do conhecimento proposto pela escola (MORETTO, 2002). » Estratégias de ensino são um conjunto de ações intencionais e organizadas para o desenvolvimento de uma determinada aprendizagem (ROLDÃO, 2009). As tecnologias podem e devem ser mobilizadas como estratégias de ensino nos processos de mediação pedagógica. » Nessa perspectiva, a ação de ensinar é vista como um ato comunicativo que se dá na relação interativa entre professores e alunos por intermédio da qual se discute, reflete e problematiza uma mensagem – um conteúdo, um conhecimento – significativa e contextualizada mediada pelas possibilidades pedagógicas das tecnologias (KENSKI, 2001). » A aprendizagem ativa dá ênfase ao papel protagonista do aluno, ao seu envolvimento direto, participativo e reflexivo em todas as etapas do processo, em que ele experimenta, desenha, cria, com orientação do professor; a aprendizagem híbrida destaca a flexibilidade, a mistura e compartilhamento de espaços, tempos, atividades, materiais, técnicas e tecnologias que compõem esse processo ativo (MORAN, 2018). » Metodologias são grandes diretrizes que orientam os processos de ensino e aprendizagem e que se concretizam em estratégias, abordagens e técnicas concretas, específicas e diferenciadas; e metodologias ativas, por sua vez, são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida (MORAN, 2018). » Moran (2018) destaca três tipos de mediação pedagógica que se enquadram nos princípios de aprendizagem ativa e híbrida: personalização, compartilhamento e tutoria. Propõe também diversas estratégias para o desenvolvimento de metodologias ativas, das quais destacamos três: problemas, projetos e jogos (MORAN, 2018). 28 Introdução do Capítulo No Capítulo 2, partindo dos conhecimentos que construímos anteriormente sobre educação digital na cibercultura, estudamos sobre as possibilidades de enriquecimento da ação docente por intermédio da mediação pedagógica voltada para a educação digital, com foco principal na metodologia ativa. Neste Capítulo, vamos nos direcionar para os conceitos de educação disruptiva – conceitos e características, internet das coisas nos processos de ensinar e aprender e experiências imersivas na educação escolar. Juntos refletiremos a respeito da aplicabilidade dessas ideias no contexto educacional brasileiro. Esperamos que você tenha uma boa leitura e que ela contribua para você desenvolver seus estudos de modo a ampliar seus conhecimentos e construir outros sobre mediações pedagógicas voltadas para a cibercultura. Objetivos » Conhecer o conceito de educação disruptiva. » Conhecer o conceito de internet das coisas. » Conhecer o conceito de experiências imersivas. » Compreender os limites e as possibilidades da aplicabilidades desses conceitos em contestos escolares. 3.1 Educação disruptiva: conceitos e características No documento intitulado “Reimaginando nosso futuro juntos: um novo contrato social para a educação”, há registro de consulta a mais de um milhão de pessoas globalmente para reunir as informações necessárias para uma transformação grande na educação a fim de 3 CAPÍTULO EDUCAçãO DISRUPtIvA: INTERNET DAS COISAS E EXPERIÊnCIAS IMERSIvAS nA ESCOLA 29 EDUCAçãO DISRUPtIvA: INTERNET DAS COISAS E EXPERIÊnCIAS IMERSIvAS nA ESCOLA • CAPÍTULO 3 reparar injustiças passadas e melhorar a capacidade de ação conjunta para um futuro mais sustentável e justo (UNESCO, 2022). Nesse contexto, a UNESCO (2022) está pedindo por um novo contrato social mundial para a educação o qual precisa ser construído seguindo princípios amplos, que: » fundamentam os direitos humanos, como a inclusão, a equidade, a cooperação e a solidariedade; » premiem o papel exercido pelos professores; » garantam o direito a uma educação de qualidade ao longo da vida e o fortalecimento da educação como um bem público. Saiba mais A educação pode ser vista em termos de um contrato social: um acordo implícito entre os membros de uma sociedade para cooperar para alcançar um benefício comum. Um contrato social é mais do que uma negociação, pois reflete normas, compromissos e princípios que apresentam um caráter legislativo formal e que estão culturalmente incorporados. O ponto de partida é uma visão compartilhada dos propósitos públicos da educação. Este contrato consiste nos princípios fundamentais e organizacionais que estruturam os sistemas educacionais, bem como no trabalho distribuído que se realiza para construir, manter e refinar esses princípios (UNESCO, 2022, p.6). Figura 18. Uma educação diferente para as novas gerações. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/positive-black-boy-girl-schoolers-backpacks-2030813060. A publicação (UNESCO, 2022) inclui algumas propostas para renovar o setor: » Para começar, a pedagogia – a prática do ensino – precisa mudar do foco das aulas lecionadas pelos professores e centralizadas nas conquistas individuais para a enfatização da cooperação, da colaboração e da solidariedade. » O currículo, que tem sido organizado como uma grade de matérias, precisa enfatizar o aprendizado ecológico, intercultural e interdisciplinar. 30 CAPÍTULO 3 • EDUCAçãO DISRUPtIvA: INTERNET DAS COISAS E EXPERIÊnCIAS IMERSIvAS nA ESCOLA » O ensino precisa ser reorientado para a profissionalização como um esforço colaborativo em vez de ser considerado uma prática individual. » A escola deve ser protegida e preservada, mas precisa sair da imposição de modelos universais e deve ser reimaginada, incluindo a arquitetura, os espaços, os tempos, os cronogramas e grupos de estudos em diversas formas. » Devemos aproveitar e ampliar as oportunidades educacionais que surgem ao longo da vida e nos diferentes espaços culturais e sociais. Nesse movimento por buscas de mudanças nos processos educativos, entra em cena a chamada educação disruptiva. Uma disrupção é uma ruptura ou interrupção brusca; quando pensamos em educação disruptiva, falamos de uma educação que visa romper com o que já está estabelecido para melhorar o existente (VERGINIO, 2018). Muitos especialistas pensam que a mudança é necessária e urgente porque, como aponta Demo (2010), o atual sistema é anacrônico, ou seja, continua ancorado no século passado e não responde às necessidades da era digital. A inovação é uma das palavras-chave do século XXI e a educação deve unir-se a essa (r) evolução para estar à altura das demandas de um mundo hiperativo e hiperconectado. Precisamos de uma mudança deliberada e conscientemente assumida, visando a uma melhoria da ação educativa (VERGINIO, 2018). Consideram-se inovação disruptiva em educação ações que visam mudar de forma drástica as formas de ensino e aprendizagem em vigência, gerando mudanças as quais proporcionem soluções para adequar a escola às necessidades da educação no século XXI (VERGINIO, 2018). Figura 19. O que podemos mudar na educação? Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/children-disabilities-studying-school-handicapped-education-2063893988. Como vimos até aqui, para lidar com todos esses desafios, a tecnologia surge como uma aliada imprescindível para impulsionar uma educação disruptiva que faça uma nova abordagem da aprendizagem (KENSKI, 2001). De acordo com Verginio (2018), existem alguns aspectos que facilitam a implementação das tecnologias na escola, por exemplo: fornecimento de recursos tecnológicos embutidos, qualificação e treinamento dos 31 EDUCAçãO DISRUPtIvA: INTERNET DAS COISAS E EXPERIÊnCIAS IMERSIvAS nA ESCOLA • CAPÍTULO 3 professores para a utilização da tecnologia, suporte constante durante o uso desta na escola, disponibilização dos conteúdos em forma digital, preparação de ambientes virtuais que possibilitem o aluno a navegar online e a aquisição de recursos como celulares, tablets, notebooks e outros. Amorim e Cabral (2015) falam sobre como a experiência educacional separada da tecnológica não ajuda a resolver os problemas educacionais que temos vivenciado há anos, portanto sem o arcabouço pedagógico dentro do contexto educacional, a tecnologia é apenas um aumento no custo da educação. Não adianta organizar todos os recursos para que se faça uma implementação sem pensar em aspectos pedagógicos e sem alinhar essas tecnologias aos objetivos contidos no projeto político-pedagógico da escola (VERGINIO, 2018). Nogaro e Battestin (2016) explicam que a educação disruptiva exige uma mudança abrupta e deliberada assumida de forma consciente e que visa a uma melhoria na ação educativa, seja por meio das tecnologias digitais ou de outros aspectos, que visem soluções para os atuais problemas, levando em consideração as singularidades e as realidades dos estudantes. Logo, as inovações disruptivas em educação não estão relacionadas apenas a aparelhos tecnológicos como computadores e tablets, mas vai muito além, abrangendo objetivos pedagógicos e planejando soluções que visem a melhoria da qualidade educacional. Figura 20. Mudar a educação para melhorar o ensino. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/portrait-smiling-girl-holding-books-against-450541825. 3.2 Internet das coisas nos processos de ensinar e aprender Filippo e Ugulino (2021) explicam que, no contexto em que vivemos, novos processos e métodos de trabalho têm de ser criados ou refinados e há, portanto, bastante espaço para inovação e muito trabalho para se desbravar com soluções inéditas. Assim, desenvolvem-se artefatos computacionais para uma área que começa a se desenvolver e a se tornar conhecida pelo grande público, como é o caso da internet das coisas (FILIPPO; UGULINO, 2021). 32 CAPÍTULO 3 • EDUCAçãO DISRUPtIvA: INTERNET DAS COISAS E EXPERIÊnCIAS IMERSIvAS nA ESCOLA O conceito internet das coisas (da expressão inglesa “Internet of Things”, ou IoT) emerge da atual profusão de objetos do cotidiano equipados com sensores e conexão sem fios, constituindo uma rede que automaticamente coleta, armazena e processa dados pela Internet, disponibilizando os resultados para pessoas e/ou sistemas autorizados (ASHTON, 2009). O termo “internet das coisas” completou vinte anos em 2019, mas sua popularidade só começou a se dar dez anos depois de o termo ter sido criado (SANTOS et al., 2016). Paralelamente ao uso do termo “internet das coisas”, o termo “objeto inteligente” (smart object) também chama a atenção para uma gama de dispositivos inovadores os quais se agregam ao nosso cotidiano (FILIPPO; UGULINO, 2021). Figura 21. Iot. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/smart-digital-city-globalization-abstract-graphic-1932939746. Lima, Schlemmer e Morgado (2020) explicam que a internet das coisas tem se revelado uma tecnologia potencialmente disruptiva em vários campos da atividade humana, o que inclui os processos educacionais. Sistemas de IoT podem ser aplicados tanto no apoio gerencial e operacional à educação quanto na aprendizagem em si, e a popularização e barateamento destes possibilitam a apropriação deles em ambientes de aprendizagem, o que transforma também os contextos educacionais e afeta as pedagogias que os atende (LIMA; SCHLEMMER; MORGADO, 2020). A rápida evolução das tecnologias IoT, aliada a mudanças no comportamento da sociedade e, em particular, das gerações mais jovens, demanda que as instituições de ensino estabeleçam relações pedagógicas atualizadas, com soluções individualizadas as quais considerem as características dos estudantes, para ajudá-los a personalizar seu currículo e superar suas limitações e dificuldades ao longo do seu percurso de aprendizagem (LIMA; SCHLEMMER; MORGADO, 2020). Um bom exemplo disso é a abordagem educacional Science, Technology, Engineering and Math – ou Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em português (STEM), um tipo de educação voltado para alcançar os jovens em várias frentes simultâneas, de modo muito mais abrangente e sem a segmentação observada comumente nas salas de aula (TEIXEIRA, 33 EDUCAçãO DISRUPtIvA: INTERNET DAS COISAS E EXPERIÊnCIAS IMERSIvAS nA ESCOLA • CAPÍTULO 3 2018). Nessa abordagem, diversas matérias são vistas simultaneamente de maneiras inusitadas, fazendo com que o aluno entre em contato com vários novos conceitos ao mesmo tempo (TEIXEIRA, 2018). Além da multidisciplinaridade, o STEM é uma ótima ferramenta para fazer com que os estudantes passem a ter mais autonomia, resolvam problemas com maior facilidade e se integrem de forma cada vez mais eficiente com o mundo ao seu redor (TEIXEIRA, 2018). Em outras palavras, eles aprendem aquilo que realmente será útil para o dia a dia, de maneira muito mais dinâmica e livre do normalmente visto em classe porque, na prática, o STEM funciona em forma de oficinas criativas para que os alunos, reunidos em grupos, possam resolver algum desafio de maneira prática (TEIXEIRA, 2018). Figura 22. StEM. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/stem-education-science-technology-engineering- mathematics-444886717. A educação tem muito a beneficiar-se dos novos cenários introduzidos pela internet das coisas, tanto no ensino e na aprendizagem em si quanto no apoio operacional e gerencial para que a aprendizagem ocorra (FILIPPO; UGULINO, 2021). Além disso, instituições e profissionais devem estar tecnologicamente atualizados e ser capazes de proporcionar ambientes de aprendizagem, físicos e virtuais, condizentes e que dialoguem com aqueles que vivenciamos em nossas práticas culturais no nosso cotidiano, para além dos muros das escolas e demais instituições de ensino (FILIPPO; UGULINO, 2021). Por ser uma área da computação que está começando a se desenvolver, há muito espaço para pesquisas e projetos instigantes e inovadores em IoT e isso é mais evidente na área da educação, pois soluções nessa área ainda são pouco exploradas e têm pouca visibilidade (FILIPPO; UGULINO, 2021). Não se trata necessariamente da inserção de programação, robótica, impressoras 3D e outras tecnologias nas aulas, mas também de algo mais simples e possível como uma abordagem pedagógica focada em aprendizagem criativa a partir da criação de ambientes educacionais mais criativos, lúdicos e relevantes. 34 CAPÍTULO 3 • EDUCAçãO DISRUPtIvA: INTERNET DAS COISAS E EXPERIÊnCIAS IMERSIvAS nA ESCOLA O que se busca é uma forma de estimular práticas pedagógicas mais dinâmicas e voltadas para o desenvolvimento do conhecimento de forma mais abrangente, permitindo que o aluno seja também responsável pelo que aprende, incentivando sua participação ativa na resolução de problemas, o que o ajuda a construir pensamentos e conhecimentos de forma prática (RESNICK, 2020). Para refletir Precisamos nos perguntar como a IoT apoia, possibilita e potencializa uma escola (radicalmente) diferente da que existe hoje. Qual o papel da IoT em fazer emergir novos espaços de aprendizagem, novas práticas pedagógicas, novos recursos didáticos, novas interações com a região onde a escola se encontra, novas formas de integração entre alunos, professores e demaisatores? (FILIPPO; UGULINO, 2021). Figura 23. Iot, StEM e aprendizagem prática. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/multiracial-elementary-students-african-american- young-2155320349. 3.3 Experiências Imersivas na educação escolar A experiência imersiva pode ser entendida como uma situação vivida por uma pessoa que se sente parte de outro ambiente, história ou circunstância (AFONSO et al., 2020). Atualmente, o conceito é atrelado a tecnologias imersivas, como os vídeos em 360º, a realidade virtual (VR), a realidade aumentada (AR) e a realidade mista (MR), que viabilizam vivências mais completas de imersão (AFONSO et al., 2020). Figura 24. Realidade aumentada. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-kid-vr-virtual-reality-headset-1917233969. 35 EDUCAçãO DISRUPtIvA: INTERNET DAS COISAS E EXPERIÊnCIAS IMERSIvAS nA ESCOLA • CAPÍTULO 3 O campo educacional está sendo redefinido por meio das tecnologias imersivas e das formas de esta ensinar, realizar a interação entre o humano e o digital. Essas tecnologias tendem a criar um ensino mais concreto, em especial com disciplinas que dependem de visualização de dados, espaços, adequação de idiomas, abordagens práticas e acontecimentos (AFONSO et al., 2020). Pode-se entender como imersiva a abrangência do mundo real com o virtual, um reflexo da realidade física que permite a interação com outros ambientes, muitas vezes gerados por programas computacionais, onde se perde a sensação de tempo e de mundo real (AFONSO et al., 2020). As tecnologias imersivas têm avançado em diversas áreas e interdisciplinarmente na educação, permitindo que a aprendizagem ocorra de forma significativa pela interseção de diversos recursos os quais possibilitam promover interação além do mundo real em um ambiente virtual (AFONSO et al., 2020). A utilização dessas tecnologias auxilia as disciplinas de modo geral para uma aprendizagem revolucionária. Tecnologias imersivas de aprendizado tendem a ter aplicação recorrente em disciplinas altamente dependentes da visualização de dados, como Biologia, História e Geografia. Contudo, ambientes colaborativos em geral podem se beneficiar da inovação que permite a atuação conjunta de vários pesquisadores e a combinação de várias fontes de pesquisa de forma inédita. Publicações acadêmicas também poderão agregar experiências imersivas e mais atraentes. Estima-se que em cinco anos será possível ler artigos enquanto informações adicionais são exibidas como parte de uma experiência de Realidade Mista. A longo prazo, o ensino passa a ser abordado não mais como uma série de pontos isolados (SENAI, 2019, p.37). Para Moran (2000), educar é contribuir para que docentes e estudantes modifiquem suas vidas com métodos permanentes de aprendizagem. A educação se caracteriza como a construção do saber, a busca pelo conhecimento, ou então a descoberta e exploração; portanto, a experiência imersiva pode ter um importante papel para uma educação de qualidade porque (AFONSO et al., 2020): » possibilita descobertas de locais muitas vezes com dificuldades de acesso; » torna possível a manipulação do ambiente ou do objeto a ser pesquisado; » incentiva a motivação dos alunos; » favorece a questão ilustrativa que sobressai às demais mídias; » contribui para a inclusão de estudantes com necessidades especiais; » oportuniza que o estudante desenvolva autonomia ao estudar; » permite interação e participação sem afetar o desenvolvimento da aula regular. 36 CAPÍTULO 3 • EDUCAçãO DISRUPtIvA: INTERNET DAS COISAS E EXPERIÊnCIAS IMERSIvAS nA ESCOLA Figura 25. Educação em transformação. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/multi-ethnic-class-young-children-remotely-1800166918. A partir do uso de experiências imersivas, o estudante é inserido em uma nova percepção, ou seja, diversas formas de construir o aprendizado lhe são oportunizadas, o que torna mais dinâmico, divertido e facilitado o entendimento a respeito dos conteúdos de forma interdisciplinar. Dessa forma, constrói-se uma sociedade com a educação baseada em igualdade, respeito, qualidade de ensino, onde os estudantes têm acesso às diversas informações dentro das instituições, sejam públicas ou privadas (AFONSO et al., 2020). A aplicabilidade das experiências imersivas se estende aos diversos saberes e, por meio delas, é possível realizar tarefas específicas de formas variadas, unindo o real e o imaginário, captando o mundo real através do virtual ou, ainda, explorando ambientes e situações, apresentando conteúdos, propondo ações ou validando conhecimentos (AFONSO et al., 2020). A informação pode ser simulada, criada ou reproduzida, desde que isso possibilite a interação e construção de novas formas integrativas, seja para fins acadêmicos, de lazer ou de trabalho, e desde que utilizada com prudência e cautela a fim de corresponder às expectativas referentes tanto ao conteúdo quanto ao público-alvo (AFONSO et al., 2020). É possível agregar e direcionar experiências pessoais, situações inusitadas, aproximar conhecimentos distantes e, assim, garantir o preenchimento de lacunas que aprimoram o saber, fazendo uso de novas tecnologias (AFONSO et al., 2020). Atenção Davis, Nesbitt e Nalivaiko (2014) ressaltam que as cybersickness (em livre tradução para o português, as doenças cibernéticas) causadas pelo uso excessivo de tecnologias imersivas incluem sintomas como náuseas, desorientações, dores de cabeça, sudorese, tensão ocular, acuidade estéreo interrompida (é a capacidade de detectar diferenças nas distâncias) e falta de equilíbrio após o uso de jogos também são frequentes. 37 EDUCAçãO DISRUPtIvA: INTERNET DAS COISAS E EXPERIÊnCIAS IMERSIvAS nA ESCOLA • CAPÍTULO 3 Figura 26. Supervisão e equilíbrio. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/father-watching-over-shoulder-son-kid-687576916. Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » No movimento em busca de mudanças nos processos educativos, entra em cena a chamada educação disruptiva. Uma disrupção é uma ruptura ou interrupção brusca; quando pensamos em educação disruptiva, falamos de uma educação que visa romper com já está estabelecido para melhorar o existente (VERGINIO, 2018). » A tecnologia surge como uma aliada imprescindível para impulsionar uma educação disruptiva que faça uma nova abordagem da aprendizagem. » O conceito internet das coisas (da expressão inglesa “Internet of Things”, ou IoT) emerge da atual profusão de objetos do cotidiano equipados com sensores e conexão sem fios, constituindo uma rede a qual automaticamente coleta, armazena e processa dados através da internet, disponibilizando os resultados para pessoas e/ou sistemas autorizados (ASHTON, 2009). » A internet das coisas tem se revelado uma tecnologia potencialmente disruptiva em vários campos da atividade humana, e isso inclui os processos educacionais. » Na abordagem STEM, diversas matérias são vistas simultaneamente de maneiras inusitadas, e isso faz o aluno entrar em contato com vários novos conceitos ao mesmo tempo (TEIXEIRA, 2018). » A aprendizagem criativa é uma forma de estimular práticas pedagógicas mais dinâmicas e voltadas para o desenvolvimento do conhecimento de forma mais abrangente, permitindo que o aluno seja também responsável pelo que aprende, incentivando sua participação ativa na resolução de problemas – isso o ajuda a construir pensamentos e conhecimentos de forma prática (RESNICK, 2020). » A experiência imersiva pode ser entendida como uma situação vivida por uma pessoa que se sente parte de outro ambiente, história ou circunstância (AFONSO et al., 2020). » Atualmente, o conceito é atrelado a tecnologias imersivas, como os vídeos 360º, a realidade virtual (VR), a realidade aumentada (AR) e a realidade mista (MR), que viabilizam vivências mais completas de imersão (AFONSO et al., 2020). » A partir do uso de experiências imersivas, o estudante é inserido em uma nova percepção, ou seja, diversas formasde construir o aprendizado lhes são oportunizadas, tornando mais dinâmico, divertido e facilitado o entendimento deles a respeito dos conteúdos de forma interdisciplinar (AFONSO et al., 2020). » Em qualquer situação ou contexto que envolvam crianças e adolescentes, incluindo o educacional, é preciso usar as tecnologias imersivas com cuidado por conta do risco de desenvolvimento de doenças cibernéticas. 38 Introdução do Capítulo No Capítulo 3, estudamos os conceitos de educação disruptiva, internet das coisas e experiências imersivas. Juntos, refletimos acerca da aplicabilidade dessas ideias no contexto escolar. Considerando isso e o que vimos anteriormente sobre tecnologias digitais da informação e da comunicação, da inteligência e tecnologias da aprendizagem e ação docente e mediação pedagógica na educação digital, vamos nos direcionar para exemplos de práticas as quais podem ser desenvolvidas em contextos escolares com apoio e suporte das tecnologias. Neste Capítulo, vamos conhecer experiências de ensino e aprendizagens inovadoras na educação digital desenvolvidas a partir de tecnologias para apoio à pesquisa, para comunicação e publicação e para produção audiovisual. Esperamos que você tenha uma boa leitura e que ela contribua para você desenvolver seus estudos de modo a ampliar seus conhecimentos e construir outros sobre experiências docentes voltadas para a integração das tecnologias nos processos de ensino-aprendizagem. Objetivos » Conhecer tecnologias para apoio à pesquisa. » Conhecer tecnologias para comunicação e publicação. » Conhecer tecnologias para produção audiovisual. » Compreender o papel das tecnologias na educação digital a partir de exemplos de possibilidades de trabalho pedagógico nesse sentido. 4 CAPÍTULO EnSInO E APREnDIzAgEnS InOvADORES nA EDUCAçãO DIgItAL 39 EnSInO E APREnDIzAgEnS InOvADORES nA EDUCAçãO DIgItAL • CAPÍTULO 4 4.1 tecnologias para apoio à pesquisa Como vimos no Capítulo 1, as tecnologias da inteligência amplificam as faculdades cognitivas humanas, funcionam como verdadeiras extensões do cérebro: da memória, da imaginação, do raciocínio. Quando mobilizadas em processos educativas, tornam-se tecnologias de aprendizagem, verdadeiras aliadas no processo de ensino-aprendizagem, têm papel facilitador de processos antes dificultosos, estimulam o aprendizado de conteúdo e ao mesmo tempo tornam os indivíduos produtores de novos conhecimentos. Moran (2013b) explica que a gestão das tecnologias pela escola passa por três etapas: na primeira, as tecnologias são utilizadas para melhorar o que já se vinha fazendo para automatizar processos e diminuir custos; na segunda, a escola insere parcialmente as tecnologias no projeto educacional mantendo intocadas as estruturas das aulas, as disciplinas e os horários; na terceira, com o amadurecimento da implantação e o avanço da integração das tecnologias, as instituições de ensino repensam o projeto pedagógico e introduzem mudanças metodológicas e curriculares significativas (MORAN, 2013b). Com menor ou maior grau, a depender das etapas, os docentes podem usar as tecnologias em diferentes tipos de atividades, para comunicação com os alunos e dos alunos entre si, para integração entre grupos dentro e fora da turma, para a publicação de páginas web, blogs, vídeos, para a participação em redes sociais e muitas outras possibilidades (MORAN, 2013b). Conheceremos mais a seguir sobre o uso de tecnologias como apoio para a pesquisa. Figura 27. A internet e a pesquisa. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/landing-page-programming-research-concept-hands-2011951874. Saiba mais Tomada num sentido amplo, pesquisa é toda atividade voltada para a solução de problemas; como atividade de busca, indagação, investigação, inquirição da realidade, é a atividade que, no âmbito da ciência, nos permitirá elaborar um conhecimento ou um conjunto de conhecimentos que nos auxilie na compreensão dessa realidade e nos oriente em nossas ações (PÁDUA,1996, p.29). 40 CAPÍTULO 4 • EnSInO E APREnDIzAgEnS InOvADORES nA EDUCAçãO DIgItAL A internet é a principal ferramenta para pesquisa na atualidade e precisa ser considerada como tal pela escola. Segundo Moran (2013b), aproveitamos melhor o potencial dela se equilibrarmos a rapidez e a multiplicidade da informação com o necessário tempo de análise, decantação e reflexão, se focarmos menos na quantidade e mais na qualidade da observação, da percepção, da comunicação, se combinarmos a função de “radar” – de mapear e descobrir – com a de “focar” – aprofundar e iluminar. Para Moran (2013b), os professores podem ajudar os alunos a pesquisar na internet incentivando-os: » a saber perguntar; » a enfocar questões importantes; » a ter critérios nas escolhas de sites, de avaliação das páginas web; » a comparar textos com visões diferentes. Moran (2013b) cita ainda que, para desenvolver nos alunos aprendizagens a partir da pesquisa na internet, os professores precisam: » focar mais na pesquisa do que em dar respostas prontas; » propor temas interessantes; » caminhar dos níveis mais simples de investigação aos mais complexos; » iniciar com páginas mais coloridas e estimulantes em direção às mais abstradas. Figura 28. Aprender a pesquisar com a internet. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/search-bars-people-browsing-online-information-2176083983. Moran (2013b), indica dois tipos de atividades as quais podem ser desenvolvidas nas escolas combinando pesquisa e internet: projetos com webquest e mapas ou esquemas conceituais. O autor sugere que se desenvolvam projetos a patir de webquest (em tradução livre, significa “busca pela Web”), uma metodologia de ensino que consiste em uma atividade (individual ou em grupo) feita totalmente online, com a qual os alunos devem acessar informações e recursos digitais para encontrarem a reposta do questionamento feito pelo professor 41 EnSInO E APREnDIzAgEnS InOvADORES nA EDUCAçãO DIgItAL • CAPÍTULO 4 (MORAN, 2013b). Resolver uma webquest é um processo de aprendizagem interessante porque: envolve pesquisa, leitura, interpretação, interação e colaboração; podem ser utilizadas diversas ferramentas como a escrita colaborativa, o compartilhamento de ideias, a criação de portfólios; e tudo pode ser integrado e compartilhado, mesmo as atividades individuais (MORAN, 2013b). Moran (2013b) explica que mapas ou esquemas conceituais são diagramas os quais mostram relações entre conceitos trabalhados em uma disciplina ou em um tema de pesquisa que podem ser utilizados no planejamento e na elaboração de atividades das mais diversas. A ideia é criar uma representação gráfica de determinado conteúdo a partir de informações obtidas na internet mediante orientação e supervisão do professor, que seleciona as fontes iniciais. Mapas e esquemas conceituais são ferramentas importantes para o desenvolvimento da autonomia e autoria dos alunos nos processos de aprendizagem, pois estes podem criar os próprios guias de informações importantes para construir determinado conhecimento (MORAN, 2013b). Tanto para webquest quanto para mapas ou esquemas conceituais, existem uma infinidade de recursos gratuitos disponíveis online. Figura 29. Investigação e aprendizagem. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/internet-user-during-online-search-data-2130752783. 4.2 tecnologias para comunicação e publicação Moran (2013b) explica que, com a internet e as TDICs, desenvolvemos formas abrangentes de comunicação, escrita, fala e narrativa audiovisual. Como parte da cibercultura, a qual estudamos no Capítulo 1, fundamentalmente o que fazemos hoje na internet são registros (de ideias, notícias, sentimentos), publicações (para divulgar conquistas pessoais, experiências, serviços) e comunicação com escritas, imagens, fotos, vídeos e áudios (MORAN, 2013b). O autor espanhol, naturalizado brasileiro, comenta que nosso povo gosta de falar, de se comunicar, de serelacionar presencial e virtualmente, sendo muito ativo em listas de discussão, salas de bate-papo, aplicativos de troca de mensagens, sites de relacionamento, redes sociais e podcasts (MORAN, 2013b). 42 CAPÍTULO 4 • EnSInO E APREnDIzAgEnS InOvADORES nA EDUCAçãO DIgItAL gotas de conhecimento Vimos no Capítulo 1 que as tecnologias digitais da informação e da comunicação (TDICs) são um conjunto de recursos tecnológicos integrados os quais proporcionam, por meio das funções de hardware, software e telecomunicações, a automação dos processos de comunicação de modo a suprir a necessidade humana de comunicação à distância. Para Moran (2013b), essas e outras ferramentas simples, acessíveis e colaborativas permitem a professores e alunos serem divulgadores de suas pesquisas, projetos e aprendizagens de forma rica, estimulante e criativa, que valoriza a contextualização, a interpretação, a discussão e a realização de novas sínteses. O autor (2013b) indica três tipos de ferramentas para comunicação e publicação que professores e alunos podem mobilizar para dinamizar os processos de ensino-aprendizagem: blogs, produções compartilhadas e podcasts. Figura 30. Comunicação na web. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/contact-us-call-symbols-social-media-1193163277. Blogs são páginas online atualizadas frequentemente para comunicação de pessoas e instituições com o mundo, e atende a várias finalidades diferentes. A utilização dos blogs nos processos educativos é cada vez mais importante, pois permite atualização constante da informação, favorece a construção de projetos e pesquisas, a divulgação de trabalhos, o acompanhamento do progresso dos alunos ao longo de um determinado tempo ou em determinadas áreas do conhecimento (MORAN, 2013b). Moran (2013b) nos chama atenção para o fato de que, por meio dos blogs, os alunos podem se expressar, tornar visíveis suas ideias e pesquisas, e isso lhes confere uma dimensão maior dos trabalhos desenvolvidos e dos conhecimentos construídos. A esse respeito, Bertocchi (2011) explica que há outros ganhos: blogs abrem espaços para a consolidação de novos papéis para alunos e professores e no processo de ensino-aprendizagem, com atuação menos diretiva destes e mais participantes de todos. Outra contribuição é que os blogs facilitam a execução de trabalhos interdisciplinares e transdisciplinares, além de serem estratégia importante para aprender a pesquisar e publicar os resultados colaborativamente (MORAN, 2013b). 43 EnSInO E APREnDIzAgEnS InOvADORES nA EDUCAçãO DIgItAL • CAPÍTULO 4 Moran (2013b) explica que há diferentes tipos de blogs educacionais: » discussão de estudos de caso; » projetos; » produção de texto, narrativas, poemas; » análises literárias; » opiniões sobre a atualidade; » relatório de visitas e excursões de estudos; » publicações de fotos, desenhos e vídeos autorais. Figura 31. Blog na escola. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/social-media-connecting-blog-communication-content-247195609. A produção compartilhada pode ser feita por meio de algumas ferramentas colaborativas, como o Wiki e o Google Docs, softwares que permitem a edição coletiva de documentos com um sistema simples de escrita, de forma que várias pessoas possam criar coletivamente conteúdos na internet ao mesmo tempo (MORAN, 2013b). Essas são ferramentas importantes para a construção de ideias e de habilidades colaborativas, cujo objetivo é melhorar algo a partir do que o outro fez. Elas podem contribuir para o amadurecimento da classe e o professor pode ver o crescimento do grupo, analisando as diferentes versões de um projeto ou texto (MORAN, 2013b). 44 CAPÍTULO 4 • EnSInO E APREnDIzAgEnS InOvADORES nA EDUCAçãO DIgItAL Figura 32. O que vamos escrever juntos? Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/document-text-editor-word-microsoft-vector-1801096939. Outro recurso popular na educação é a criação de podcasts (produções de arquivos digitais de aúdio e/ou vídeo com enredo e narrativa), que podem ser ouvidos em celulares, tablets, computadores e MP3. A utilização mais promissora do podcast na escola acontece quando os alunos produzem seus próprios programas e projetos, porque ser produtor de conteúdo é muito mais importante para a aprendizagem do que somente acessar materiais prontos (MORAN, 2013b). Além disso, a linguagem do podcast é muito mais estimulante para o aluno do que só fazer leituras ou ouvir um professor, além de permitir que a própria aula seja gravada, disponibilizando-a na internet para download quando os alunos assim o desejarem (MORAN, 2013b). Figura 33. Ensinar e aprender com podcasts. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/podcast-cover-art-design-women-female-1721884717. 4.3 A utilização criativa de produção audiovisual Com relação ao material audiovisual como recurso na educação, para além dos blogs e podcasts, é preciso considerar tanto as produções dos alunos quanto aquelas produzidas por terceiros e não necessariamente com fins educativos, como clipes, filmes, documentários e séries. 45 EnSInO E APREnDIzAgEnS InOvADORES nA EDUCAçãO DIgItAL • CAPÍTULO 4 Moran (2013b) explica que uma parte importante da produção e da publicação digital se faz hoje no formato específico de vídeo, justamente porque crianças e jovens gostam de assistir a esse tipo de material e de produzi-lo também, contando eles mesmos suas próprias histórias – as histórias com som e imagem são populares há muito tempo e são produzidas e veiculadas cada vez mais facilmente. A escola precisa acordar para o potencial da produção audivisual como ferramenta de ensino-aprendizagem. Um exemplo disso é o YouTube, plataforma online que permite a criação e o consumo de conteúdos em vídeo via streaming – sem baixar nada, desde que a pessoa esteja conectada à internet. A rede faz muito sucesso desde 2005, quando foi criada nos Estados Unidos por Jawed Karim, Chad Hurley, Steve Chen. gotas de conhecimento A primeira exibição de cinema ocorreu em 1895, quando Louis e Auguste Lumière projetaram os filmes “Empregados Deixando a Fábrica Lumière” e “Chegada de um Trem à Estação de la Ciotat” em um café de Paris. Até então o cinema era mudo, e o primeiro filme falado, “O Cantor de Jazz”, estreou no dia seis de outubro de 1927, em Nova York. Figura 34. Dos cinemas ao Youtube. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/template-video-frame-youtube-player-layout-1488096026. Para Moran (2013b), os vídeos produzidos por terceiros devem ser exibidos pelos professores dos mais simples para os mais complexos, tanto do ponto de vista temático quanto técnico; deve-se selecionar vídeos próximos à sensibilidade dos alunos, mais atraentes, e deixar para depois a exibição de obras mais artísticas e elaboradas. Nessas situações, eles podem ser utilizados de três formas: para motivar, sensibilizar os alunos; para ilustrar, contar, mostrar e tornar próximos temas complicados (distantes geograficamente, abstratos e situados em períodos passados); e como vídeoaulas ou 46 CAPÍTULO 4 • EnSInO E APREnDIzAgEnS InOvADORES nA EDUCAçãO DIgItAL webaulas, quando forem produções didáticas para esses fins (MORAN, 2013b). Outro aspecto importante a ser considerado nas aulas é a análise das produções audiovisuais, o que contribui para o desenvolvimento de leitura em conjunto, leitura globalizante, leitura concentrada e leitura funcional (MORAN, 1995). Se bem empregadas pelo professor, as produções audiovisuais enriquecem a aula e o ambiente escolar e proporcionam uma aprendizagem mais significativa, considerando que “somos tocados pela comunicação audiovisual de modo sensorial, emocional e racionalmente” (FIORENTINI; CARNEIRO, 2001, p.25). Segundo Moran (1995), devemos ter alguns cuidados com a utilização desse recurso: é preciso levar em conta o planejamento do professor, priorizando os objetivos a serem desenvolvidos durante a aula, a fim de contribuir de fatocom a aprendizagem. Moran (1995) sinaliza que a utilização de produções audiovisuais exige prioritariamente uma checagem inicial dos aspectos técnicos (qualidade do material, qualquer que seja a duração, cor, som, imagem) e pedagógicos (aspectos mais importantes, cenas, adequação à faixa etária, linguagem, assunto, outros). Formas inadequadas de uso (vídeo-tapa-buraco, vídeo-enrolação, vídeo deslumbramento, vídeo perfeição, só vídeo) podem causar transtornos e descaracterizar o uso pedagógico da ferramenta, comprometendo o trabalho do professor (MORAN, 1995). Figura 35. O que vamos assistir na escola? Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/schoolkids-watching-movie-about-natural- environment-2025845447. Como vimos, hoje é muito fácil produzir e divulgar vídeos com programas simples e gratuitos, sem nem mesmo precisar de um computador (com aplicativos como Picasa, Movie Maker, Jumpcut, Ustream etc.). É possível fazer tudo pelo celular! Tão bom quanto assistir vídeos é produzi-los, pela dimensão moderna e lúdica dessas mídias – moderna, como um meio 47 EnSInO E APREnDIzAgEnS InOvADORES nA EDUCAçãO DIgItAL • CAPÍTULO 4 contemporâneo, novo, que integra linguagens; lúdica, pela miniaturização da câmera que permite brincar com a realidade – filmar é uma das experiências mais envolventes para crianças e adultos (MORAN, 2013b). Para Moran (2013b), a escola precisa aproveitar todo o potencial que essas tecnologias trazem para que os alunos se transformem em autores, narradores, contadores de história e divulgadores de conteúdo: » Os alunos podem ser incentivados a produzir vídeos dentro de uma determinada tarefa ou de um trabalho interdisciplinar. » Podem também produzir vídeos informativos e exibi-los para toda a escola. » O vídeo pode ser planejado como documentação, registro de eventos, aulas, estudos do meio, experiências, entrevistas, depoimentos. » O vídeo pode ser feito para ajudar futuros alunos com dicas, compartilhamento de experiências e orientações sobre a escola e sobre conteúdos e disciplinas. Além da produção, o professor deve discutir, comentar e aprofundar os múltiplos significados e valores que cada material audiovisual traz para o cotidiano da escola, para cada assunto do programa de uma disciplina, para a avaliação de projetos, para a discussão sobre a comunicação na cibercultura (MORAN, 2013b). O papel do professor é fundamental se agrega valor ao que o aluno sozinho consegue fazer com a tecnologia. Rojo (2012) explica que trabalhar com as tecnologias na escola permite outro espaço de atuação escolar: transformar o “consumidor acrítico” em “analista crítico” com competência técnica (que sabe fazer). Figura 36. O que vamos filmar na escola hoje? Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/glitch-camera-effect-retro-vhs-background-1485897452. 48 CAPÍTULO 4 • EnSInO E APREnDIzAgEnS InOvADORES nA EDUCAçãO DIgItAL Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » A gestão das tecnologias pela escola passa por três etapas: na primeira, as tecnologias são utilizadas para melhorar o que já se vinha fazendo para automatizar processos e dimunuir custos; na segunda, a escola insere parcialmente as tecnologias no projeto educacional mantendo intocadas as estruturas das aulas, as disciplinas e os horários; na terceira, as instituições de ensino repensam seu projeto pedagógico e introduzem mudanças metodológicas e curriculares significativas (MORAN, 2013b). » Os docentes podem usar as tecnologias em diferentes tipos de atividades, para comunicação com os alunos e dos alunos entre si, para integração entre grupos dentro e fora da turma, para a publicação de páginas web, blogs, vídeos, para a participação em redes sociais e muitas outras possibilidades. » Segundo Moran (2013b), aproveitamos melhor o potencial das tecnologias se equilibrarmos a rapidez e a multiplicidade da informação com o necessário tempo de análise, decantação e reflexão, se focarmos menos a quantidade e mais a qualidade da observação, da percepção, da comunicação; se combinarmos a função de “radar” – que mapeia e descobre – com a de “focar” – que aprofunda e ilumina. » Moran (2013b) indica dois tipos de atividades que podem ser desenvolvidas nas escolas combinando pesquisa e internet: projetos com webquest e mapas ou esquemas conceituais. Tanto para webquest quanto para mapas ou esquemas conceituais existem uma infinidade de recursos gratuitos disponíveis online. » Para Moran (2013b), ferramentas para comunicação e publicação permitem que professores e alunos sejam divulgadores de suas pesquisas, projetos e aprendizagens de forma rica, estimulante e criativa, que valoriza a contextualização, a interpretação, a discussão e a realização de novas sínteses. » Moran (2013b) indica três tipos de ferramentas para comunicação e publicação que professores e alunos podem mobilizar para dinamizar os processos de ensino-aprendizagem: blogs, produções compartilhadas e podcasts. » Com relação ao material audiovisual como recurso na educação, é preciso considerar, para além dos blogs e podcasts, tanto as produções dos alunos quanto aquelas produzidas por terceiros e não necessariamente com fins educativos, como clipes, filmes, documentários e séries. » A produção audiovisual pode ser utilizada de três formas: para motivar, sensibilizar os alunos; para ilustrar, contar, mostrar e tornar próximos temas complicados (distantes geograficamente, abstratos e situados em períodos passados); e como videoaulas ou webaulas quando se trata de produções didáticas para esses fins (MORAN, 2013b). » Para Moran (2013b), a escola precisa aproveitar todo o potencial que essas tecnologias de comunicação e publicação trazem para que os alunos se transformem em autores, narradores, contadores de história e divulgadores de conteúdo. 49 Introdução do Capítulo No Capítulo 4, conhecemos experiências de ensino e aprendizagens inovadoras na educação digital desenvolvidas a partir de tecnologias para apoio à pesquisa, para comunicação e publicação e para produção audiovisual. Neste Capítulo, vamos discutir e analisar a importância do letramento, da alfabetização e da inclusão digital para a educação do século XXI. Conheceremos os conceitos de novas alfabetizações e de letramento digital, refletiremos acerca da relação entre inclusão digital e democratização do conhecimento, e, por fim, problematizaremos sobre as contribuições das TDICs nos processos de protagonismo e cidadania infanto-juvenil. Esperamos que você tenha uma boa leitura e que ela contribua para você desenvolver seus estudos de modo a ampliar seus conhecimentos e construir outros sobre letramento, alfabetização e inclusão digital. Objetivos » Conhecer o conceito de novas alfabetizações. » Conhecer o conceito de letramento digital. » Refletir sobre a relação entre inclusão digital e democratização do conhecimento. » Compreender o papel das TDICs nos processos de protagonismo e cidadania infanto-juvenil. 5.1 novas alfabetizações e letramento digital Conforme nos explicam Soares e Batista (2005), chamamos de alfabetização o ensino e o aprendizado de um sistema de representação da linguagem humana, a escrita alfabético-ortográfica – as letras ou grafemas. O domínio desse sistema envolve um 5 CAPÍTULO LEtRAMEntO, ALFABEtIzAçãO E InCLUSãO DIgItAL 50 CAPÍTULO 5 • LEtRAMEntO, ALFABEtIzAçãO E InCLUSãO DIgItAL conjunto de conhecimentos e procedimentos relacionados tanto ao funcionamento desse sistema de representação quanto às capacidades motoras e cognitivas para manipular os instrumentos e equipamentos de escrita (SOARES; BATISTA, 2005). A alfabetização diz respeito a representar fonemas (sons) em grafemas (letras), no caso da escrita, e grafemas (letras) em fonemas (sons), no caso da leitura; os aprendizes, sejam eles crianças ou adultos, para além da simples codificação/decodificação de símbolos e caracteres, precisam passar por um processo de compreensão/expressãode significados do código escrito (SOARES, 2015). A entrada no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento (SOARES, 2003). Soares e Batista (2005) definem letramento como o conjunto de conhecimentos, atitudes e capacidades envolvidos no uso da língua em práticas sociais e necessários para o desenvolvimento de uma participação ativa e competente na cultura escrita. Os autores explicam ainda que, para a aquisição de conhecimentos corresponder adequadamente às características e demandas da sociedade atual, é necessário que as pessoas sejam alfabetizadas e letradas; no entanto, há alfabetizados não letrados, e também é possível haver analfabetos com um certo nível de letramento (SOARES; BATISTA, 2005). Figura 37. Alfabetização e letramento para se integrar na cultura escrita. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/young-female-student-study-online-on-2199839673. 51 LEtRAMEntO, ALFABEtIzAçãO E InCLUSãO DIgItAL • CAPÍTULO 5 Para refletir Um adulto pode ser analfabeto e letrado: não sabe ler nem escrever, mas usa a escrita: pede a alguém que escreva por ele, dita uma carta, por exemplo [...] – não sabe escrever, mas conhece as funções da escrita, usa-as, lançando mão de um “instrumento” que é o alfabetizado (que funciona como uma máquina de escrever...; pede a alguém que leia para ele a carta que recebeu, ou uma notícia de jornal, ou uma placa na rua, ou a indicação do roteiro de um ônibus – não sabe ler, mas conhece as funções da escrita, e usa-a, lançando mão do alfabetizado. É analfabeto, mas é, de certa forma, letrado, ou tem um certo nível de letramento. [...] Uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada: sabe ler e escrever, mas não cultiva nem exerce práticas de leitura e de escrita, não lê livros, jornais, revistas, ou não é capaz de interpretar um texto lido; tem dificuldades para escrever uma carta, até um telegrama – é alfabetizada, mas não letrada (SOARES, 1999). Para Soares e Batista (2005), o conceito de letramento surgiu de uma ampliação progressiva do próprio conceito de alfabetização, de modo que, antigamente, uma pessoa alfabetizada era entendida como quem domina as “primeiras letras”, domina as habilidades básicas ou iniciais do ler e do escrever. Ao longo do século XX, porém, esse conceito de alfabetização foi progressivamente ampliado, em razão de necessidades sociais e políticas, a ponto de já não se considerar alfabetizado aquele que apenas domina o sistema de escrita e as capacidades básicas de leitura e escrita, mas aquele que sabe usar a linguagem escrita para exercer uma prática social em que essa modalidade da língua é necessária (SOARES; BATISTA, 2005). O mesmo se refere ao próprio letramento, que hoje se relaciona a diversas áreas para além da linguagem escrita. O letramento é um processo muito amplo e complexo que envolve diversos aspectos: pessoais, sociais, culturais, históricos, econômicos, tecnológicos, entre outros, mas, de um modo geral, ele se refere a um conjunto de conhecimentos, atitudes e capacidades envolvidos em práticas sociais e culturais de leitura e interpretação do mundo necessárias para uma participação ativa e competente em um dado contexto (SOARES; BATISTA, 2005). Figura 38. Práticas de leitura e escrita. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/set-hands-holding-pens-pencils-writing-2023607672. Dentre os muitos tipos de alfabetizações e letramentos considerados hoje em dia, no contexto deste livro, interessa-nos a alfabetização digital e o letramento digital. Quando falamos de alfabetização digital, referimo-nos à capacidade mais básica de uso das 52 CAPÍTULO 5 • LEtRAMEntO, ALFABEtIzAçãO E InCLUSãO DIgItAL tecnologias digitais, como acessar a internet e navegar em seus sites de preferência, por exemplo. A questão é que essas habilidades são importantes, mas não são suficientes para que o indivíduo utilize o meio digital de forma crítica ou que aplique os conhecimentos adquiridos lá no seu dia a dia. O letramento, por sua vez, pressupõe uma posição mais ativa, a qual exige análise do que se lê, confronto entre informações e aplicação dos conhecimentos construídos nesse processo no cotidiano. Para Ferrari, Ochs e Machado (2020), letramento digital é a construção da fluência necessária para escolher e utilizar as ferramentas e dispositivos digitais, abrangendo desde o uso correto do mouse e do teclado até o entendimento acerca do que é e de como funciona um código. Ainda, as autoras explicam que o letramento digital requer competências para encontrar, selecionar e usar novas ferramentas e aplicativos à medida que as necessidades surgem, a partir do próprio conhecimento construído sobre as tecnologias da informação e comunicação (FERRARI; OCHS; MACHADO, 2020). Nesse sentido, o letramento digital apela à visão das tecnologias enquanto artefatos culturais, levando os utilizadores a questionarem a sua existência, propósito e funcionalidade, para finalmente se tornarem conscientes do contexto sociocultural que as envolve, enquadrando-a num espaço sociocultural que envolve valores, práticas e competências as quais operam em contexto tecnológico (ROBERTO; FIDALGO; BUCKINGHAM, 2015). Anjos e Silva (2018) sinalizam que o sujeito digitalmente letrado é quem faz buscas eficientes, que compara uma série de fontes e separa os documentos confiáveis dos não confiáveis e os relevantes dos irrelevantes; sabe usar navegadores, hyperlinks, mecanismos de busca, entre outros; e tem a capacidade de avaliar e usar a informação de forma crítica para transformá-la em conhecimento. Isso significa fazer perguntas sobre as fontes dessa informação, os interesses de seus produtores e as formas como ela representa o mundo, compreendendo como esses desenvolvimentos tecnológicos estão relacionados às forças sociais, políticas e econômicas mais amplas (BUCKINGHAM, 2010, p.49). Figura 39. Letramento digital para compreender o mundo e interferir nele. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/set-professional-journalist-copywriter-content- manager-1773158615. 53 LEtRAMEntO, ALFABEtIzAçãO E InCLUSãO DIgItAL • CAPÍTULO 5 5.2 Inclusão digital e democratização do conhecimento Como é seu acesso à internet? A quais tecnologias digitais você tem acesso? Você acha que sua realidade é mais próxima ou distante da maioria dos brasileiros? A falta de acesso às tecnologias digitais, em especial às da informação, é um dos principais problemas do Brasil na atualidade. Veja o índice de acesso à internet e o perfil de usuários brasileiros, de acordo com a pesquisa Abismo Digital (PWC/INSTITUTO LOCOMOTIVA, 2022): Quadro 2. Acesso à internet e o perfil de usuários brasileiros. Desconectados » São 33,9 milhões de pessoas sem acesso à internet. » O grupo é composto predominantemente por homens, não alfabetizados, idosos e categorizados como classes C, D e E. Subconectados » São 41,8 milhões de pessoas com acesso médio de dezenove dias no mês. » O grupo é composto predominantemente por moradores da região norte e nordeste. » Possuem celular pré-pago, são menos escolarizados, são das classes D e E e são negros. Parcialmente conectados » São 44,8 milhões de pessoas com acesso médio de 25 dias no mês. » O grupo é composto predominante por menos escolarizados, classes C, D e E, negros, da região Sudeste e menos escolarizados. Plenamente conectados » São 49,4 milhões de pessoas com acesso médio de 29 dias no mês. » O grupo é composto por pessoas das classes A e B, brancos, escolarizados, com acesso por laptop e celular pré-pago e são das regiões Sul e Sudeste. Fonte: adaptado de PWC/Instituto Locomotiva, 2022. De acordo com a pesquisa PWC/Instituto Locomotiva (2022), as razões da desigualdade noacesso à internet perpassam por infraestrutura de conexão (problemas de amplitude, qualidade e distribuição do sinal e custo) e limitação de acesso a hardware (58% dos usuários de internet possuem o celular como único meio de acesso à internet). O Marco Civil da Internet – MCI (BRASIL, 2014), em seu artigo 4º, reconhece o acesso à internet como um direito, além da importância desta para a promoção do desenvolvimento humano, econômico, social e cultural. Cada vez mais, o acesso à internet é condição para o acesso pleno à cidadania, como apontam os dados da pesquisa TIC Domicílios (CETIC, 2019a): 36% dos usuários da internet procuraram por serviços públicos relativos ao direito do trabalhador ou previdência social, 25% realizaram ou procuraram por serviços relativos ao acesso à educação, tais como ENEM, ProUni e matrículas, e 28% realizaram ou buscaram por serviços relativos à emissão de documentos pessoais, como RG, CPF, carteira de trabalho ou passaporte. Além disso, vale destacar o uso de serviços como abertura de boletim de ocorrência, que pode ser feito online, bem como a obtenção do auxílio emergencial em virtude da pandemia de Covid-19 (GONSALES, 2021). 54 CAPÍTULO 5 • LEtRAMEntO, ALFABEtIzAçãO E InCLUSãO DIgItAL Neste ponto, é válido assinalar o conceito de inclusão digital, comumente ligado à questão do acesso à internet. Inclusão digital é a democratização do acesso às tecnologias da informação, de forma a permitir a inserção de todos na sociedade da informação (ARAÚJO; GLOTZ, 2014). O letramento digital possibilita a inclusão digital, que, por sua vez, potencializa as interações e possibilidades de os próprios sujeitos se engajarem nas atuais dinâmicas sociotécnicas de forma ativa, participativa, propositiva e construtora de novas realidades sociais que oportunizam condições para que cada pessoa humana seja capaz de participar, questionar, produzir, decidir, transformar, tornando-se parte integrante da dinâmica social (BONILLA, 2011). gotas de conhecimento A Sociedade da Informação é aquela que recorre predominantemente às TDIC para a difusão e construção de conhecimento em formato digital, suportando a interação entre indivíduos e entre estes e instituições, recorrendo a prática e métodos em construção permanente (GOUVEIA, 2004). De acordo com Silva (2005, p.33), inerente ao conceito de inclusão digital está não só a aquisição de habilidades básicas para o uso de computadores e da internet, mas também a capacitação para utilização dessas mídias em favor dos interesses e necessidades individuais e comunitários, com responsabilidade e senso de cidadania. A inclusão digital significa, antes de tudo, melhorar as condições de vida de uma determinada região ou comunidade com ajuda da tecnologia. Em termos concretos, incluir digitalmente não é apenas “alfabetizar” a pessoa em informática; é também melhorar os quadros sociais a partir do manuseio dos computadores (REBÊLO, 2005). O que está implícito aqui é que não basta apenas disponibilizar o acesso aos recursos tecnológicos para a população; acima de tudo, é necessário oferecer condições efetivas para que as pessoas tenham condições de usabilidade e proveito desses recursos (ARAÚJO; GLOTZ, 2014). Figura 40. Internet como um direito de todos. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/portrait-three-african-girls-playing-leisure-176264801. 55 LEtRAMEntO, ALFABEtIzAçãO E InCLUSãO DIgItAL • CAPÍTULO 5 Na responsabilidade que cabe à educação em relação ao processo de inclusão digital, há a questão da necessidade de uma reformulação ampla do cenário educacional – o que implica repensar elementos como a formação de profissionais, a estrutura física das escolas, a proposta pedagógica delas, políticas educacionais, entre outros fatores – os quais precisam ser modificados para atender a essa nova demanda formativa (ARAÚJO; GLOTZ, 2014). Moran (2006) explica que a educação escolar precisa compreender e incorporar mais as novas linguagens, desvendar os seus códigos, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações porque é importante educar para usos democráticos, mais progressistas e participativos das tecnologias, que facilitem a evolução dos indivíduos. Os recursos tecnológicos, por si sós, não garantem melhora no aprendizado e na qualidade da educação, mas as tecnologias garantem às escolas a possibilidade de se abrir e oferecer educação para todos, indistintamente, porque o uso intensivo das mais novas tecnologias digitais e das redes transforma as dimensões da educação e dá à escola “o tamanho do mundo” (KENSKI, 2007). Nessa perspectiva, o uso das TICs na educação aponta para uma redemocratização da escola, para uma ampliação do seu raio de ação e para uma maior inserção dos seus sujeitos, o que sem dúvida é um recurso válido no combate à exclusão social e na transformação da escola em um instrumento de inclusão digital (ARAÚJO; GLOTZ, 2014). A escola é o principal espaço de inclusão digital da maioria da população brasileira jovem e pode ser uma ferramenta muito importante para a melhoria da aprendizagem desse grupo. Não favorecendo o acesso à informática e não a transformando em aliada para a educação, sobretudo das camadas populares, a escola contribuirá para o fortalecimento de mais uma forma de exclusão de seus alunos, e isso vai excluí-los de muitas outras instâncias da sociedade contemporânea, que exige dos seus cidadãos um grau de letramento cada vez maior (COSCARELLI, 2007). Figura 41. Inclusão digital para ensinar e aprender. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/online-education-elearning-concept-tablet-stacks-2055631286. 56 CAPÍTULO 5 • LEtRAMEntO, ALFABEtIzAçãO E InCLUSãO DIgItAL 5.3 As tDICs, o protagonismo infanto-juvenil e a cidadania Na Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2019), destaca-se que um dos objetivos da escola é auxiliar no desenvolvimento da consciência social, cooperação e colaboração nos alunos, ou seja, ela estabelece o desenvolvimento do protagonismo juvenil. Você sabe o que é isso? O protagonismo se relaciona à ideia de destaque, de ser o personagem principal. Seguindo a concepção de Costa (2006), o protagonismo juvenil propõe que os adolescentes e os jovens sejam os personagens principais (protagonistas) de uma iniciativa prática voltada para a resolução de problemas e conflitos reais na comunidade onde estão inseridos. Historicamente, podemos relatar diversas ações políticas mobilizadas pela população jovem anteriores à década de 1990, como a luta contra o Golpe Civil-Militar de 1964, na qual o movimento estudantil organizado fez frente de resistência ao regime militar vigente até 1985, vivenciando perseguições e assassinatos por conta desses enfrentamentos; a participação ativa nas “Diretas Já”, quando se lutou por eleições diretas, entre 1983 e 1984, além da defesa da reabertura dos grêmios estudantis nas escolas – proibidos de funcionar pela ditadura militar; e a mobilização pró-impeachment do ex-presidente Fernando Collor, na qual ficaram conhecidos como “caras pintadas” (UBES, 2016). Recentemente, tivemos a mobilização estudantil de 2016, que resultou em uma série de manifestações e ocupações de escolas secundárias e universidades de diversos estados do Brasil. A “Primavera Secundarista”, maneira como os estudantes apelidaram as ocupações das escolas, foi um movimento que utilizou a estratégia de ocupação de prédios públicos para reivindicar direitos essenciais em pautas que variavam de escola a escola e trouxeram para o debate a necessidade de se repensar a educação pública (ROCHA, 2020). Figura 42. O que a juventude quer? Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/female-body-model-bright-electric-bulb-2139151143. 57 LEtRAMEntO, ALFABEtIzAçãO E InCLUSãO DIgItAL • CAPÍTULO 5 Ao protagonizar uma ação, a juventude torna-se o principal agente mobilizador de mudança de sua própria realidade: quanto mais possibilitamos que crianças e jovensproblematizem e questionem seu cotidiano, mais trabalharemos na formação de um sujeito crítico que pleiteia e defende seus direitos (PICIRILLI, 2019). Em relação a esses direitos, destaca-se a ideia de cidadania – fundamento necessário para a sustentação de um Estado Democrático de Direito, conforme prevê a Constituição Federal brasileira (BRASIL, 1988). Saiba mais Promulgada em 5 de outubro de 1988, a Constituição Federal é um marco histórico e político de grande importância para a população brasileira porque, a partir dela, todos passam a ser considerados iguais diante da lei, sendo vedada toda forma de distinção (PICIRILLI, 2019). Dentro dessa concepção, estão os direitos sociais – como a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer etc. (BRASIL, 1988, art. 6º); os direitos civis – como o direito à união estável ou casamento; o direito à propriedade (BRASIL, 1988, art. 5º); além dos direitos políticos – como o voto e a filiação partidária (BRASIL, 1988, art. 14º, 15º e 16º). A cidadania, nesse sentido, se refere justamente à garantia de direitos e, consequentemente, de deveres e supõe, ainda, a participação ativa na sociedade tanto para sustentar e manter o que já foi conquistado como para pleitear o reconhecimento de novos direitos e deveres em função de novas demandas (PICIRILLI, 2019). Sabemos que há uma distância enorme entre o que vivenciamos na prática e o que está determinado na legislação e é isso justamente uma das principais razões as quais mobilizam as ações de cidadania (PICIRILLI, 2019). Para Escámez e Gil (2003), o protagonista é o indivíduo social, que assume ativamente sua responsabilidade enquanto cidadão. Figura 43. Cidadania para melhorar o mundo. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/crowd-protesting-people-holding-banners-placards-1105708631. As tecnologias digitais, especialmente as da comunicação e da informação, se configuram hoje como um importante espaço para o exercício do protagonismo e do exercício da cidadania entre os jovens. Isso se dá porque os meios de participação política e social 58 CAPÍTULO 5 • LEtRAMEntO, ALFABEtIzAçãO E InCLUSãO DIgItAL também migraram para os espaços virtuais, tornando as habilidades do cidadão digital – aquele que exerce a cidadania digital enquanto conjunto de normas a serem seguidas no meio digital com consciência, responsabilidade, ética e segurança – necessárias para seu exercício completo do protagonismo. Nesse sentido, a alfabetização e o letramento digital, conceitos que vimos anteriormente, ganham um novo significado enquanto caminhos profícuos para união, mobilização e engajamento da juventude na ocupação do espaço que lhe cabe de defensores dos seus direitos e dos outros. A escola tem aí um importante papel. Quando falamos em autoria ou em protagonismo juvenil, reconhecemos que os jovens são sujeitos de sua própria aprendizagem e de seu processo de desenvolvimento, e, portanto, as situações de ensino e aprendizagem devem ser organizadas de modo a eles exercerem, efetivamente, um papel autoral, ativo e criativo de (re)construção e invenção de saberes os quais desejamos que eles dominem (COSTA, 2006). O protagonismo juvenil na escola permite ao aluno mergulhar nesse processo de forma assistida e sistematizada, a partir do desenvolvimento do autoconhecimento, do autocuidado e do exercício da empatia e da solidariedade (COSTA, 2006). A escola pode exercer diversas ações nesse sentido, como a organização de grêmios estudantis, clubes, rádios, fóruns de discussão etc. Como vimos no Capítulo 4, essas e outras atividades podem ser potencializadas com as tecnologias da aprendizagem, da comunicação, da informação, e, do ponto de vista de recursos, de tecnologias para apoio a pesquisa, para comunicação e publicação e para produção audiovisual. Figura 44. Unidos para transformar a sociedade. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/people-group-greetings-smile-international-team-2082325237. 59 LEtRAMEntO, ALFABEtIzAçãO E InCLUSãO DIgItAL • CAPÍTULO 5 Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » Chamamos de alfabetização o ensino e o aprendizado de um sistema de representação da linguagem humana, a escrita alfabético-ortográfica – as letras ou grafemas. » Letramento é o conjunto de conhecimentos, atitudes e capacidades envolvidos no uso da língua em práticas sociais e necessários para uma participação ativa e competente na cultura escrita. » Quando falamos sobre alfabetização digital, referimo-nos à capacidade mais básica de uso das tecnologias digitais, como acessar a internet e navegar em seus sites de preferência, por exemplo. » Letramento digital é a construção da fluência necessária para escolher e utilizar as ferramentas e dispositivos digitais, abrangendo desde o uso correto do mouse e do teclado até o entendimento do que é e de como funciona um código. » Inclusão digital é a democratização do acesso às tecnologias da informação, de forma a permitir a inserção de todos na sociedade da informação (ARAÚJO; GLOTZ, 2014). » O letramento digital possibilita a inclusão digital, que, por sua vez, potencializa interações e possibilidades de os próprios sujeitos se engajarem nas atuais dinâmicas sociotécnicas de forma ativa, participativa, propositiva e construtora de novas realidades sociais que oportunizam condições para cada pessoa humana ser capaz de participar, questionar, produzir, decidir, transformar, tornando-se parte integrante da dinâmica social (BONILLA; OLIVEIRA, 2011). » A escola é o principal espaço de inclusão digital da maioria da população brasileira jovem e pode vir a ser uma ferramenta muito importante na melhoria da aprendizagem desse grupo. » Seguindo a concepção de Costa (2006), o protagonismo juvenil propõe que os adolescentes e os jovens sejam os personagens principais (protagonistas) de uma iniciativa prática voltada para a resolução de problemas e conflitos reais na comunidade onde estão inseridos. » A cidadania, nesse sentido, se refere aos direitos e deveres e supõe, ainda, a participação ativa na sociedade tanto para sustentar e manter o que já foi conquistado como para pleitear o reconhecimento de novos direitos e deveres em função de novas demandas (PICIRILLI, 2019). » As tecnologias digitais, especialmente as da comunicação e da informação, se configuram hoje como um importante espaço para o exercício do protagonismo e da cidadania juvenil. » Os meios de participação política e social também migraram para os espaços virtuais, tornando as habilidades do cidadão digital – aquele que exerce a cidadania digital enquanto conjunto de normas a serem seguidas no meio digital com consciência, responsabilidade, ética e segurança – necessárias para seu exercício completo do protagonismo. » A escola pode exercer diversas ações nesse sentido, como a organização de grêmios estudantis, clubes, rádios, fóruns de discussão etc. – essas e outras atividades podem ser potencializadas com as tecnologias. 60 Introdução do Capítulo Ao longo dos cinco Capítulos anteriores deste livro, estudamos sobre a educação digital e a incorporação da cultura digital nos processos de ensino-aprendizagem. Começamos com a relação entre tecnologias digitais da informação e da comunicação, tecnologias da inteligência e tecnologias da aprendizagem e educação digital na cibercultura, e nos direcionamos para a compreensão das especificidades do ensino e da aprendizagem no século XXI. Pensando na ação docente e na mediação pedagógica na educação digital, apresentamos os conceitos de metodologia ativa, educação disruptiva, internet das coisas e experiências imersivas na educação escolar. Apresentamos também exemplos de experiências de ensino e aprendizagem inovadoras desenvolvidas de acordo com esses princípios. Analisamos e refletimos sobre a importância do letramento, da alfabetização e da inclusão digital, além da relação destes com práticas de protagonismo infanto-juvenil e cidadania. Por fim, nesteúltimo Capítulo, discutiremos sobre os dilemas e desafios da educação digital e você conhecerá políticas e ações para a educação digital nos cenários nacionais e internacionais. Esperamos que você tenha uma boa leitura e que ela contribua para você desenvolver seus estudos de modo a ampliar seus conhecimentos e construir outros sobre a educação digital. Objetivos » Refletir sobre os dilemas e desafios da educação digital. » Conhecer políticas nacionais para a educação digital. » Conhecer políticas internacionais para a educação digital. 6 CAPÍTULO POLÍtICAS E AçÕES PARA A EDUCAçãO DIgItAL nOS CEnáRIOS nACIOnAIS E IntERnACIOnAIS 61 POLÍtICAS E AçÕES PARA A EDUCAçãO DIgItAL nOS CEnáRIOS nACIOnAIS E IntERnACIOnAIS • CAPÍTULO 6 6.1 Dilemas e desafios para a educação digital Na educação brasileira, as tecnologias digitais começaram a ser incorporadas no início do século XXI por meio do uso dos laboratórios de informática nas escolas; ao longo dos anos, os professores começaram a implementar as tecnologias em suas aulas como um instrumento de suporte, visando elaborar aulas mais atrativas e interativas, por meio de metodologias ativas no ensino (BALBINO et al., 2020). Atualmente, as tecnologias digitais são usadas tanto por docentes quanto por discentes, como um meio de aquisição e produção de conhecimentos, e abrangem diversas áreas, de forma transdisciplinar (BALBINO et al., 2020). O uso de tecnologias digitais na educação cria caminhos, possibilidades para novas formas de aprender e de ensinar, porque, quando esses recursos interativos são inseridos no processo educacional, ocorrem transformações significativas no ensino, pois as ferramentas virtuais favorecem a construção de múltiplos conhecimentos (BALBINO et al., 2020). Dessa forma, utilizar recursos tecnológicos digitais no contexto educacional é pensar em educação além das quatro paredes de uma sala de aula, visto que as tecnologias digitais presentes no mundo, quando usadas de forma adequada no ensino, potencializam o aprendizado dos alunos e aperfeiçoam a prática dos professores, podendo servir como ferramentas de suporte à educação (BALBINO et al., 2020). Conforme defendem os autores, em nossa sociedade informatizada, as tecnologias digitais devem ser utilizadas amplamente no ambiente educacional, pois os recursos e ferramentas disponibilizados pelo acesso às tecnologias digitais possibilitam a interação e a comunicação, favorecendo a aprendizagem de forma autônoma, crítica, criativa, colaborativa e muito mais significativa (BALBINO et al., 2020). Outro aspecto importante é que, ao utilizarmos tecnologias digitais na educação, potencializamos a prática pedagógica, diversificamos as técnicas e metodologias de ensino que irão contemplar diversos tipos de aprendizagem, o que se aplica como práticas pedagógicas inclusivas, atendendo às especificidades dos alunos (BALBINO et al., 2020). Nesse contexto, Alves, Pereira e Viana (2017) entendem que a educação digital possui um caráter democrático e inclusivo ao permitir romper paradigmas, barreiras e fronteiras entre saberes e seres. Figura 45. tecnologias digitais e educação. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/set-computer-accessories-desk-workspace-wireless-2052189893. 62 CAPÍTULO 6 • POLÍtICAS E AçÕES PARA A EDUCAçãO DIgItAL nOS CEnáRIOS nACIOnAIS E IntERnACIOnAIS Assim, considerando tudo que vimos até aqui neste livro, é urgente a implementação da educação digital. Entretanto, para isso acontecer, é necessário haver formação docente adequada, inclusão digital para discentes, docentes e escolas. Estes são os dois principais desafios da educação digital no Brasil. A formação de qualidade dos docentes deve ser vista em um amplo quadro de complementação às tradicionais disciplinas pedagógicas e que inclui, entre outros, um razoável conhecimento de uso do computador, das redes e de demais suportes midiáticos em variadas e diferenciadas atividades de aprendizagem (KENSKI, 2007). É preciso saber utilizá-los adequadamente, identificar quais são as melhores maneiras de usar as tecnologias para abordar um determinado tema ou projeto específico ou refletir sobre eles, de maneira a aliar as especificidades do “suporte” pedagógico ao objetivo maior da qualidade de aprendizagem dos alunos (KENSKI, 2007). Logo, os professores precisam conhecer e entender quais suportes tecnológicos estão disponíveis para serem utilizados no cenário educacional, de modo a favorecer o processo de ensino-aprendizagem dos alunos (BALBINO et al., 2020). Entretanto, não basta apenas inserir artefatos computacionais no cenário escolar: é de suma importância que a formação continuada docente seja incentivada e privilegiada pelas políticas públicas e pelos gestores escolares (BALBINO et al., 2020). Isso resultará em professores mais preparados, o que acarretará aprendizagens criativas, colaborativas, inovadoras e emancipadoras, tanto para os docentes quanto para os discentes (BALBINO et al., 2020). Figura 46. Os professores e as tecnologias digitais. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/teachers-on-screen-phone-teaching-vector-2084533537. Como vimos no Capítulo anterior, a exclusão digital é um problema muito sério no contexto brasileiro e se configura como um desafio para a implementação efetiva da educação digital. Nesse cenário, muitos alunos são excluídos de receber uma plena educação digital devido à dificuldade de acesso aos recursos tecnológicos necessários, seja em casa ou na escola. 63 POLÍtICAS E AçÕES PARA A EDUCAçãO DIgItAL nOS CEnáRIOS nACIOnAIS E IntERnACIOnAIS • CAPÍTULO 6 Provocação Educação é a chave para transformar o cenário para as próximas gerações, mas em que situação estamos? De acordo com a pesquisa Abismo Digital (PWC/INSTITUTO LOCOMOTIVA, 2022), mais de oito milhões de estudantes, ou 21% dos alunos matriculados nas redes municipais e estaduais de educação básica, estão em escolas sem acesso a banda larga; para outros 124 mil estudantes, a escola nem sequer tem energia elétrica. No Ensino Médio, a situação é semelhante: uma em cada quatro escolas não tem internet para ensino e aprendizagem. O resultado desse quadro é o uso limitado dos recursos da tecnologia e da internet para conseguir explorar plenamente as oportunidades que o ambiente on-line oferece em termos de educação, exercício da cidadania e inserção no mercado de trabalho (PWC/INSTITUTO LOCOMOTIVA, 2022). Pessoas sem habilidades digitais ou com incapacidade de interpretar textos têm dificuldades para buscar conhecimentos de forma autônoma como parte do processo de aprendizado contínuo exigido hoje dos profissionais; esses indivíduos também são vítimas mais fáceis da desinformação e da polarização política nas redes sociais e têm menos chances de concorrer a empregos que exigem alta qualificação (PWC/INSTITUTO LOCOMOTIVA, 2022). Sendo assim, é necessário o Poder Público implementar programas estratégicos para promover a efetiva inclusão digital de todos os educandos, professores e escolas (BALBINO et al., 2020). Figura 47. Escola conectada. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/online-learning-concept-teacher-books-chalkboard-1703595283. 6.2 Políticas e ações para a educação digital no cenário nacional As políticas públicas constituem-se de decisões que envolvem não apenas o que fazer e com que finalidade, mas, também, como fazer. Assim, exigem a identificação e a definição de instrumentos para colocar em prática a solução, bem como decisões e comandos para mobilização dos meios que permitam a execução das ações necessárias ao fim ao qual se propuseram. A implementação das soluções implica custos, especialmente os que tratam de provisão de bens e serviços, e, por isso, os mecanismos de financiamento e o montante 64 CAPÍTULO 6 • POLÍtICAS E AçÕES PARA A EDUCAçãO DIgItAL nOS CEnáRIOS nACIOnAIS E IntERnACIOnAIS de recursos financeiros constituem meios muito importantes para a operacionalizaçãodas políticas públicas. Quanto se vai gastar e como se pode obter os recursos são decisões fundamentais das políticas públicas. Para ocorrer a superação dos desafios que dificultam a implementação da educação digital no Brasil, as políticas públicas de educação e tecnologias em nosso país precisam ser construídas considerando planejamento e execução de ações para viabilizar acesso à internet e a dispositivos tecnológicos que permitam a inclusão digital dos estudantes, professores e escolas. Como vimos anteriormente, também é importante investir em formação docente. Isso exige a união colaborativa e integrada de esforços entre os governos (União, estado e municípios). Cordeiro e Bonilla (2018) explicam que as políticas públicas que relacionam tecnologia e educação têm se desenvolvido no Brasil por meio de programas governamentais em duas frentes: Quadro 3. Programas governamentais sobre tecnologia e educação. Banda larga e conexões nas escolas Inserção de dispositivos tecnológicos nas escolas » Programa nacional de tecnologia Educacional (Proinfo); » Proinfo Integrado; » Banda Larga nas Escolas; » Programa gesac. » Programa Nacional de Tecnologia Educacional; » Tablets nas escolas; » Programa Um Computador por Aluno (PROUCA); » Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais. Fonte: adaptado de Cordeiro e Bonilla, 2018. Para as autoras, de modo geral, o que se tem visto no Brasil são políticas públicas pouco estruturadas, baseadas em programas, projetos e ações completamente desarticulados e que sofrem de uma fragilidade incomensurável, de continuidade e de expansão, percebida a cada mudança de governo (CORDEIRO; BONILLA, 2018). Para estar em consonância com as políticas internacionais, tem se lançado mão de estratégias voltadas para acesso à internet e distribuição de aparelhos digitais. Essas ações são importantes, mas desvinculadas de formação docente não garantem o desenvolvimento de processos de inserção da escola nas dinâmicas das práticas e da cultura digital (CORDEIRO; BONILLA, 2018). Saiba mais Políticas públicas de Estado são ações estruturantes que incidem e modificam infraestrutura e aplicação de longo prazo que atingem às atividades fins e beneficiam o público-alvo com efetividade social. As políticas públicas governamentais são ações governamentais efêmeras que resultam mais em transferência de recursos que se perdem no processo beneficiando as atividades-meio, financiando estruturas burocráticas e ou privadas e alimentando interesses de operadores intermediários de serviços prestados (LIMA; MACIEL; PAZOLINI, 2019). As políticas públicas de Estado têm uma linha de ação contínua mais permanente. As políticas públicas de governo costumam se descontinuar, desestruturar ou acabar quando há alteração nas legendas e partidos que estão no poder: não se mantém o que foi feito pelo governo anterior, mesmo que seja bom. 65 POLÍtICAS E AçÕES PARA A EDUCAçãO DIgItAL nOS CEnáRIOS nACIOnAIS E IntERnACIOnAIS • CAPÍTULO 6 Em meio a esse cenário, surge um possível caminho para tornar as ações e programas sobre essa temática mais coesos e interligados, além de contemplar as lacunas que foram identificadas ao longo dos anos: a Política Nacional de Educação Digital. Sancionada no dia 11 de janeiro de 2023, a Lei n. 14.533 institui a Política Nacional de Educação Digital (PNED), estruturada a partir da articulação entre programas, projetos e ações de diferentes entes federados, áreas e setores governamentais, a fim de potencializar os padrões e incrementar os resultados das políticas públicas relacionadas ao acesso da população brasileira a recursos, ferramentas e práticas digitais, com prioridade para as populações mais vulneráveis (BRASIL, 2023). Figura 48. Políticas públicas que beneficiam as pessoas. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/student-activism-abstract-concept-vector-illustration-2113318394. A PNED apresenta os seguintes eixos estruturantes e objetivos: » Inclusão Digital; » Educação Digital Escolar; » Capacitação e Especialização Digital; e » Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologias da Informação e Comunicação (BRASIL, 2023). Conforme estabelecido no PNED, o eixo Educação Digital Escolar deve estar em consonância com a Base Nacional Comum Curricular e com outras diretrizes curriculares específicas. Além disso, tem como objetivo garantir a inserção da educação digital nos ambientes escolares, em todos os níveis e modalidades, a partir do estímulo ao letramento digital e informacional e à aprendizagem de computação, de programação, de robótica e de outras competências digitais, englobando: pensamento computacional, mundo digital, cultura digital, direitos digitais e tecnologia assistiva (BRASIL, 2023). Constituem estratégias prioritárias do eixo Educação Digital Escolar (BRASIL, 2023): » desenvolvimento de competências; » promoção de projetos e práticas pedagógicas; 66 CAPÍTULO 6 • POLÍtICAS E AçÕES PARA A EDUCAçãO DIgItAL nOS CEnáRIOS nACIOnAIS E IntERnACIOnAIS » promoção de ferramentas de autodiagnóstico; » estímulo ao interesse em carreiras de ciência, tecnologia, engenharia e matemática; » adoção de critérios de acessibilidade; » promoção de cursos em competências digitais aplicadas à indústria; » incentivo a parcerias e a acordos de cooperação; » diagnóstico e monitoramento das condições de acesso à internet nas redes de ensino federais, estaduais e municipais; » promoção da formação inicial de professores da educação básica e da educação superior; » promoção de tecnologias digitais como ferramenta e conteúdo programático dos cursos de formação continuada de gestores e profissionais da educação de todos os níveis e modalidades de ensino. Figura 49. A educação digital na prática. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/online-vector-training-illustration-set-remote-1937677588. 6.3 Políticas e ações para a educação digital no cenário internacional Como vimos anteriormente, o Brasil tem avançado na ampliação da acessibilidade a ferramentas digitais e de sua utilização para melhorar a educação, mas, como sabemos também, vários desafios persistem (CORDEIRO; BONILLA, 2018). Segundo o relatório “BRASIL com foco em políticas internacionais” (OCDE, 2021), embora os esforços para aperfeiçoar a infraestrutura digital e o acesso equitativo continuem sendo vitais, é cada vez mais importante concentrar a atenção nas metodologias, nos educadores e nas instituições devido ao crescente papel das tecnologias digitais na prática pedagógica — processo acelerado pela pandemia de Covid-19. Ainda de acordo com o relatório (OCDE, 2021), também é preciso regulamentar melhor o que se oferece e garantir a qualidade desse 67 POLÍtICAS E AçÕES PARA A EDUCAçãO DIgItAL nOS CEnáRIOS nACIOnAIS E IntERnACIOnAIS • CAPÍTULO 6 material em virtude da crescente presença dos cursos digitais, particularmente no ensino superior em três áreas prioritárias: » criação de uma estratégia nacional que aproveite o avanço conquistado e as oportunidades surgidas durante a pandemia de Covid-19; » desenvolvimento de ferramentas e espaços de apoio aos educadores para a efetiva incorporação de metodologias digitais; e » promoção da aplicação com mais qualidade das ferramentas digitais no ensino superior. O relatório (OCDE, 2021) cita quatro exemplos de políticas internacionais de educação digital que podem servir de inspiração para o Brasil tanto no nível federal como estadual e até municipal: Figura 50. Conectividade e educação. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cloud-computing-concept-connect-1418032037. » Na Irlanda, a Digital Strategy for Schools (Estratégia Digital para Escolas) tem a finalidade de implementar de forma mais profunda tecnologias da informação e comunicação (TICs) em toda a rede de ensino (OCDE, 2021). Usando como embasamento os resultados do Censo TIC nas Escolas (2013) e a consulta às partes interessadas, inclusiveestudantes, a estratégia aborda quatro temas: ensino, aprendizagem e avaliação por meio das TICs; desenvolvimento profissional contínuo (DPC); gestão, pesquisa e política; e infraestrutura (OCDE, 2021). Para fundamentar o planejamento, a implementação e a avaliação no nível escolar, a Irlanda elaborou um Digital Learning Framework – DLF (Marco de Aprendizagem Digital), adotado como roteiro para as escolas, e também um vasto programa de desenvolvimento profissional para educadores (OCDE, 2021). 68 CAPÍTULO 6 • POLÍtICAS E AçÕES PARA A EDUCAçãO DIgItAL nOS CEnáRIOS nACIOnAIS E IntERnACIOnAIS » A iniciativa Digital Tutor-Teacher (Professor-Tutor Digital), da Finlândia, criou uma rede de pioneiros digitais em toda a educação escolar cuja função é assumida por um professor que abraça novas metodologias e promove a digitalização do ensino (OCDE, 2021). As ações, realizadas na escola do tutor, podem abranger a organização de capacitação em metodologias digitais, pesquisas sobre habilidades, orientação técnica e trabalho em rede com pares (OCDE, 2021). Até 2018, o governo já havia designado tutores em 90% dos municípios, mais de 80% dos quais haviam sido capacitados por meio de repasses discricionários do governo (OCDE, 2021). » Na Coreia, o Knowledge Spring (Primavera do Conhecimento) é uma plataforma on-line para professores com um sistema autônomo e personalizado de formação remota desses profissionais (OCDE, 2021). Por meio de uma gama de ferramentas e espaços digitais, professores e instrutores podem organizar e utilizar materiais didáticos de forma flexível, conteúdos e horários de aulas para atender a suas necessidades identificadas; professores especializados proporcionam o conteúdo (OCDE, 2021). O Knowledge Spring baseia-se em uma comunidade on-line de dez mil professores (2020), composta de representantes de quase todas as escolas do país e criada para ajudar os professores na implementação da educação a distância no período de fechamento das escolas em 2020 (OCDE, 2021). Ao promover maior colaboração entre os professores e permitir a personalização do material didático, o Knowledge Spring difere muito dos modelos de formação existentes disponibilizados por instituições (OCDE, 2021). » A Turquia introduziu novas regulamentações sobre educação a distância (2020) que permitiram às instituições de ensino superior oferecer 40% de todos os programas formais na modalidade a distância, introduzindo também a expectativa de que pelo menos 10% de todos os programas formais fossem oferecidos remotamente (OCDE, 2021). Como apoio às instituições de ensino superior para que aproveitem essas novas regulamentações, as universidades públicas receberão mais funcionários e assistentes de pesquisa, que trabalharão em Uzaktan Eğitim Merkezi (Centros de Educação a Distância) novos ou já existentes (OCDE, 2021). Com a criação de vinte novos Centros de Educação a Distância em 2020, cada universidade pública do país agora tem um; o governo também aprovou recentemente uma recomendação para a instalação desses centros em todas as universidades privadas (OCDE, 2021). O que podemos aprender sobre políticas públicas para educação digital com esses exemplos? As iniciativas de base institucional, como nos casos da Finlândia e da Turquia, podem ser particularmente aplicáveis, pois permitem que as ferramentas e os processos formativos sejam adaptados às necessidades específicas de estudantes e educadores de cada instituição (OCDE, 2021). Ao mesmo tempo, os métodos personalizados de apoio 69 POLÍtICAS E AçÕES PARA A EDUCAçãO DIgItAL nOS CEnáRIOS nACIOnAIS E IntERnACIOnAIS • CAPÍTULO 6 aos educadores para que incorporem tecnologias digitais – seja em grande escala, como na Coreia, seja de forma mais individual, como na Finlândia – podem atender melhor às necessidades dos educadores (OCDE, 2021). No segundo caso, contudo, é essencial os professores conseguirem identificar suas próprias necessidades: ferramentas como o ICT Census ou o Digital Learning Framework, ambos da Irlanda, podem ajudar nesse processo (OCDE, 2021). Por fim, os profissionais designados para formar professores deveriam ter suas próprias oportunidades de formação e desenvolvimento: a criação de redes entre esses profissionais, como na Finlândia, pode gerar um impacto particularmente interessante (OCDE, 2021). Para refletir Segundo Moran, Masetto e Behrens (2013), na educação do século XXI, todos estamos reaprendendo a conhecer, a nos comunicar, a ensinar; estamos reaprendendo a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social. Com a exclusão digital, nem todos se sentam a essa mesa: “toda nova tecnologia cria seus excluídos” (LÉVY, 2011). O que o Brasil precisa fazer para não ficar excluído das inovações necessárias para a educação no século XXI? Figura 51. Ser professor no século XXI. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/student-guy-studying-on-internet-watching-1904948992. Sintetizando O que vimos neste Capítulo? » Os dois principais desafios da educação digital no Brasil são a formação docente adequada e a inclusão digital para discentes, docentes e escolas. » É imprescindível a implementação de programas estratégicos pelo Poder Público, para promover a efetiva inclusão digital de todos os educandos, professores e escolas (BALBINO et al., 2020). » Para a superação dos desafios que dificultam a implementação da educação digital no Brasil, as políticas públicas de educação e tecnologias em nosso país precisam ser construídas considerando planejamento e execução de ações para viabilizar acesso à internet e a dispositivos tecnológicos que permitam a inclusão digital de estudantes, professores e escolas. 70 CAPÍTULO 6 • POLÍtICAS E AçÕES PARA A EDUCAçãO DIgItAL nOS CEnáRIOS nACIOnAIS E IntERnACIOnAIS » Cordeiro e Bonilla (2018) explicam que as políticas públicas as quais relacionam tecnologia e educação têm se desenvolvido no Brasil por meio de programas governamentais em duas frentes: banda larga e conexão nas escolas; e inserção de dispositivos tecnológicos nas escolas. » De um modo geral o que se tem visto no Brasil são políticas públicas pouco estruturadas, baseadas em programas, projetos e ações completamente desarticulados e que sofrem de uma fragilidade incomensurável, de continuidade e de expansão, percebida a cada mudança de governo (CORDEIRO; BONILLA, 2018). » Sancionada no dia 11 de janeiro de 2023, a Lei n. 14.533, que institui a Política Nacional de Educação Digital (PNED), é o esforço brasileiro mais recente para promover valorização, incentivo e implementação da educação digital no país. » O relatório (OCDE, 2021) cita quatro exemplos de políticas internacionais de educação digital que podem servir de inspiração para o Brasil tanto no nível federal como estadual e até municipal: Estratégia Digital para Escolas (Irlanda), Professor-Tutor Digital (Finlândia), Primavera do Conhecimento (Coreia) e Centros de Educação a Distância (Turquia). 71 Referências AFONSO, G. 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Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/portrait- female-teacher-holding-digital-tablet-1200194515. Acesso em: 16 jan. 2023. FIGURA 15. Aprendendo ou perdendo tempo? Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/ group-happy-elementary-school-students-smartphones-1472910872. Acesso em: 16 jan. 2023. FIGURA 16. Aprendizagem ativa e híbrida. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/art- collage-concept-thought-process-ingenuity-2190179093. Acesso em: 16 jan. 2023. FIGURA 17. Personalizar, compartilhar e tutorizar para aprender. Disponível em: https://www.shutterstock.com/ pt/image-photo/education-teamwork-people-concept-group-international-1127680517. Acesso em: 16 jan. 2023. FIGURA 18. Uma educação diferentepara as novas gerações. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/ image-photo/positive-black-boy-girl-schoolers-backpacks-2030813060. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 19. O que podemos mudar na educação? Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image- vector/children-disabilities-studying-school-handicapped-education-2063893988. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 20. Mudar a educação para melhorar o ensino. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image- photo/portrait-smiling-girl-holding-books-against-450541825. Acesso em: 31 jan. 2023. 76 REFERÊnCIAS FIGURA 21. IoT. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/smart-digital-city-globalization- abstract-graphic-1932939746. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 22. STEM. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/stem-education-science- technology-engineering-mathematics-444886717. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 23. IoT, STEM e aprendizagem prática. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/ multiracial-elementary-students-african-american-young-2155320349. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 24. Realidade aumentada. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-kid-vr- virtual-reality-headset-1917233969. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 25. Educação em transformação. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/multi- ethnic-class-young-children-remotely-1800166918. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 26. Supervisão e equilíbrio. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/father- watching-over-shoulder-son-kid-687576916. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 27. A internet e a pesquisa. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/landing- page-programming-research-concept-hands-2011951874. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 28. Aprender a pesquisar com a internet. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image- vector/search-bars-people-browsing-online-information-2176083983. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 29. Investigação e aprendizagem. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/ internet-user-during-online-search-data-2130752783. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 30. Comunicação na web. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/contact-us- call-symbols-social-media-1193163277. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 31. Blog na escola. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/social-media- connecting-blog-communication-content-247195609. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 32. O que vamos escrever juntos? Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/ document-text-editor-word-microsoft-vector-1801096939. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 33. Ensinar e aprender com podcasts. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/ podcast-cover-art-design-women-female-1721884717. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 34. Dos cinemas ao YouTube. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/template- video-frame-youtube-player-layout-1488096026. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 35. O que vamos assistir na escola? Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/ schoolkids-watching-movie-about-natural-environment-2025845447. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 36. O que vamos filmar na escola hoje? Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/ glitch-camera-effect-retro-vhs-background-1485897452. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 37. Alfabetização e letramento para se integrar na cultura escrita. Disponível em: https://www. shutterstock.com/pt/image-vector/young-female-student-study-online-on-2199839673. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 38. Práticas de leitura e escrita. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/set- hands-holding-pens-pencils-writing-2023607672. Acesso em: 31 jan. 2023. FIGURA 39. Letramento digital para compreender o mundo e interferir nele. Disponível em: https://www. shutterstock.com/pt/image-vector/set-professional-journalist-copywriter-content-manager-1773158615. Acesso em: 15 fev. 2023. FIGURA 40. Internet como um direito de todos. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/ portrait-three-african-girls-playing-leisure-176264801. Acesso em: 15 fev. 2023. FIGURA 41. Inclusão digital para ensinar e aprender. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image- vector/online-education-elearning-concept-tablet-stacks-2055631286. Acesso em: 15 fev. 2023. 77 REFERÊnCIAS FIGURA 42. O que a juventude quer? Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/female- body-model-bright-electric-bulb-2139151143. Acesso em: 15 fev. 2023. FIGURA 43. Cidadania para melhorar o mundo. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/ crowd-protesting-people-holding-banners-placards-1105708631. Acesso em: 15 fev. 2023. FIGURA 44. Unidos para transformar a sociedade. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image- vector/people-group-greetings-smile-international-team-2082325237. Acesso em: 15 fev. 2023. FIGURA 45. Tecnologias digitais e educação. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/set- computer-accessories-desk-workspace-wireless-2052189893. Acesso em: 15 fev. 2023. FIGURA 46. Os professores e as tecnologias digitais. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image- vector/teachers-on-screen-phone-teaching-vector-2084533537. Acesso em: 15 fev. 2023. FIGURA 47. Escola conectada. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/online-learning- concept-teacher-books-chalkboard-1703595283. Acesso em: 15 fev. 2023. FIGURA 48. Políticas públicas que beneficiam as pessoas. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/ image-vector/student-activism-abstract-concept-vector-illustration-2113318394. Acesso em: 15 fev. 2023. FIGURA 49. A educação digital na prática. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/online- vector-training-illustration-set-remote-1937677588. Acesso em: 15 fev. 2023. FIGURA 50. Conectividade e educação. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cloud- computing-concept-connect-1418032037. Acesso em: 15 fev. 2023. FIGURA 51. Ser professor no século XXI. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/student- guy-studying-on-internet-watching-1904948992. Acesso em: 1º mai. 2023. _Hlk121324603 _Hlk121327457 _Hlk57717848 _Hlk133339748 _Hlk57742497 _Hlk120812331 _Hlk57889764 _Hlk121327712 _Hlk58413497 _Hlk90205864 _Hlk58424052 _Hlk58425897 _Hlk58425943 _Hlk122444710 _Hlk122433150 _Hlk122435917 _Hlk122942274 _Hlk133340838 _Hlk122438797 _Hlk133340761 _Hlk126674013 _Hlk126674632 _Hlk126673694 _Hlk126674076 _Hlk126674178 _Hlk126674318 _Hlk126674739 Organização do Livro Didático Introdução Capítulo Educação na cibercultura Capítulo Ação docente e mediação pedagógica na educação digital Capítulo Educação disruptiva: internet das coisas e experiências imersivas na escola Capítulo Ensino e aprendizagens inovadores na educação digital Capítulo Letramento, alfabetização e inclusão digital Capítulo Políticas e ações para a educação digital nos cenários nacionais e internacionais Referências