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CRIMES AMBIENTAIS NA LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA 1. Introdução No Brasil, a proteção ambiental é uma questão de alta relevância e complexidade, refletida na legislação penal que abrange crimes ambientais. Esses crimes são regulados principalmente pela Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, e são complementados por normas constitucionais e outras legislações específicas. Conforme a Política Nacional do Meio Ambiente, conceitua-se o meio ambiente como o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. 2. Legislação Penal Aplicável 2.1. Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998) A Lei nº 9.605/1998 estabelece normas para a proteção do meio ambiente e define os crimes e as sanções administrativas e penais para infrações ambientais. Os crimes ambientais voltam-se à proteção do meio ambiente em seus vários aspectos. · Ambiente Natural: Inclui todos os elementos da biosfera, solo, subsolo, água, ar e clima, essencialmente todos os componentes fornecidos pela natureza sem interferência humana. · Ambiente Artificial: Compreende tudo que foi modificado ou criado pela ação humana, como cidades, construções, infraestruturas e outros espaços físicos. · Ambiente Cultural: Refere-se aos elementos criados pelo ser humano que têm valor artístico ou histórico, podendo ser tangíveis ou intangíveis, e que compõem o patrimônio cultural de uma sociedade ou grupo. Dito isso, importante destacar que a Lei de Crimes Ambientais dividiu os crimes contra o meio ambiente em 5 (cinco) seções, a saber: 1. Crimes contra a fauna; 2. Crimes contra a flora; 3. Poluição e outros crimes ambientais; 4. Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural; e 5. Crimes contra a Administração Ambiental. Os crimes em questão tratam justamente daqueles ambientes que citamos acima. Há crimes contra o ambiente natural (fauna e flora), artificial (ordenamento urbano) e cultural (patrimônio cultural). 2.1.1 DOS CRIMES CONTRA A FAUNA Aqueles cometidos contra animais. Exemplos (art.29 ao 35, da Lei de Crimes Ambientais): · Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente; · Art. 35. Pescar mediante a utilização de explosivos (ou substâncias com efeito semelhante) ou substâncias tóxicas (ou outro meio proibido pela autoridade competente). STJ: O delito previsto no art. 34 da Lei. 9.605/1998 é norma penal em branco, pois carece de legislação complementar acerca dos parâmetros para a pesca autorizada. 2.1.2 DOS CRIMES CONTRA A FLORA A flora, para os fins deste texto, é o conjunto de espécies vegetais que compõe a cobertura de uma determinada área (conceito relacionado à botânica). São exemplos de crimes contra a flora (art. 38 ao 52 da Lei de Crimes Ambientais): · Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente ou utilizá-la violando as normas de proteção; · Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta; 2.1.3 DA POLUIÇÃO E OUTROS CRIMES AMBIENTAIS A poluição é, em síntese, a degradação do meio ambiente resultante de sua alteração química ou física (pode, portanto, derivar da atividade humana ou ocorrer de forma natural). São exemplos de crime de poluição (art. 54 ao 61 da Lei de Crimes Ambientais): · Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortalidade de animais ou a destruição significativa da flora; · Art. 61 Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas. STJ: O crime de poluição previsto na primeira parte do art. 54 da Lei n. 9.605/1998 é de natureza formal, assim a potencialidade de danos à saúde humana é suficiente para configurar a conduta delitiva, despicienda a realização de perícia. 2.1.4 DOS CRIMES CONTRA O ORDENAMENTO URBANO E O PATRIMÔNIO CULTURAL O meio ambiente artificial e o cultural também são protegidos pela Lei de Crimes Ambientais. Assim, esta seção trata das condutas que violem bens públicos e culturais. São exemplos de crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (art. 62 ao 65 da Lei de Crimes Ambientais): · Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar (a) bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial ou (b) arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; · Art, 65. Pichar ou por outro meio profanar edificação ou monumento urbano. 2.1.5 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL Por fim, a Lei também tipificou como crime ambiental condutas cometidas contra a Administração Ambiental por meio de seus funcionários públicos. São exemplos de crime contra a Administração Ambiental (art. 66 ao 69-A da Lei de Crimes Ambientais): · Art. 67. Conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. · Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais; STJ: O crime do art. 67 da Lei n. 9.605/1998 é de natureza formal; consuma-se com a simples emissão do ato administrativo, dispensada a perícia para a comprovação da materialidade delitiva. 2.2. Constituição Federal de 1988 A Constituição Federal estabelece a proteção ambiental como um princípio fundamental e uma responsabilidade pública. O Art. 225 garante a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e impõe ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo. 3. Jurisprudência 3.1. Supremo Tribunal Federal (STF) Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou seu entendimento de que a pretensão da União de ressarcimento pela exploração irregular do seu patrimônio mineral não está sujeita à prescrição. A controvérsia foi analisada no Recurso Extraordinário (RE) 1427694, com repercussão geral (Tema 1.268). A tese de repercussão geral fixada foi a seguinte: “É imprescritível a pretensão de ressarcimento ao erário decorrente da exploração irregular do patrimônio mineral da União, porquanto indissociável do dano ambiental causado.” Tema 648 - Competência da Justiça Federal para processar e julgar crimes ambientais transnacionais. Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. 3.2. Superior Tribunal de Justiça (STJ) O STJ tem contribuído com importantes decisões sobre a aplicação da Lei de Crimes Ambientais, incluindo: Superação DA TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO EM CRIMES AMBIENTAIS: Após o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do RE 548.181, o STJ modificou a sua jurisprudência e deixou de adotar a teoria da dupla imputação para a responsabilização das pessoas jurídicas por crimes ambientais. AREsp 1.621.911: Nos crimes ambientais, aplicam-se às pessoas jurídicas as sanções penais isoladas, cumulativa ou alternativamente, de multa, restritivas de direitos e de prestação de serviços à comunidade (artigo 21 da Lei 9.605/1998). RHC 154.979: Impossibilidade de celebrar acordo de delação premiada com pessoa jurídica. a Sexta Turma declarou a ineficácia de uma colaboração premiada celebrada entre o Ministério Público de São Paulo e a empresa Camargo Côrrea, por entender que não há previsão legal para esse tipo de acordo. REsp 1.977.172: a Terceira Seção decidiu que a responsabilização penal de empresa incorporada não pode ser transferida à sociedade incorporadora. O colegiado fixou o entendimento de que o princípio da intranscendência da pena, previsto no artigo 5º, inciso XLV, da Constituição Federal, pode ser aplicado às pessoas jurídicas. STJ: “Nos crimes ambientais,é cabível a aplicação do princípio da insignificância como causa excludente de tipicidade da conduta, desde que presentes os seguintes requisitos: conduta minimamente ofensiva, ausência de periculosidade do agente, reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e lesão jurídica inexpressiva.” 3. Considerações Finais Essas jurisprudências refletem a evolução e o aprofundamento da aplicação das leis de crimes ambientais no Brasil. O STF e o STJ têm abordado questões relevantes que impactam a aplicação das leis e a responsabilização por crimes ambientais, sempre buscando garantir que a legislação atenda de forma eficaz à proteção do meio ambiente e à justiça.