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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Aberta do Brasil Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará Diretoria de Educação a Distância Fortaleza, CE 2014 Tecnologia em Hotelaria Relações Interpessoais Adonai Martins Aragão 2ª edição Créditos Presidente Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Aloízio Mercadante Oliva Presidente da CAPES José Almeida Guimarães Diretor de EaD - CAPES João Carlos Teatini Clímaco Reitor do IFCE Virgílio Augusto Sales Araripe Pró-Reitor de Ensino Reuber Saraiva de Santiago Diretora de EAD/IFCE e Coordenadora UAB/IFCE Cassandra Ribeiro Joye Coordenadora Adjunta UAB Cristiane Borges Braga Coordenadora do Curso de Licenciatura em Educação Profissional, Científica e Tecnológica Gina Maria Porto de Aguiar Elaboração do conteúdo Adonai Martins Aragão Colaboradora Jane Fontes Guedes Equipe Pedagógica e Design Instrucional Daniele Luciano Marques Iraci de Oliveira Moraes Schmidlin Isabel Cristina Pereira da Costa Jane Fontes Guedes Karine Nascimento Portela Lívia Maria de Lima Santiago Luciana Andrade Rodrigues Maria Cleide da Silva Barroso Márcia Roxana da Silva Regis Marília Maia Moreira Saskia Natália Brígido Batista Virgínia Ferreira Moreira Equipe Arte, Criação e Produção Visual Benghson da Silveira Dantas Camila Ferreira Mendes Denis Rainer Gomes Batista Érica Andrade Figueirêdo Luana Cavalcante Crisóstomo Lucas de Brito Arruda Lucas Diego Rebouças Rocha Marco Augusto M. Oliveira Júnior Quezia Brandão Souto Rafael Bezerra de Oliveira Suzan Pagani Maranhão Equipe Web Aline Mariana Bispo de Lima Benghson da Silveira Dantas Corneli Gomes Furtado Júnior Fabrice Marc Joye Germano José Barros Pinheiro Herculano Gonçalves Santos Lucas do Amaral Saboya Pedro Raphael Carneiro Vasconcelos Samantha Onofre Lóssio Tibério Bezerra Soares Áudio Lucas Diego Rebouças Rocha Revisão Antônio Carlos Marques Júnior Aurea Suely Zavam Débora Liberato Arruda Hissa Nukácia Meyre Araújo de Almeida Saulo Garcia Logística Francisco Roberto Dias de Aguiar Secretários Breno Giovanni Silva Araújo Laide Ane de Oliveira Ferreira Auxiliar Charlene Oliveira da Silveira Daniel Oliveira Veiga Nathália Rodrigues Moreira Yara de Almeida Barreto Aragão, Adonai Martins Relações Interpessoais: semestre II/ Adonai Martins Aragão; Coordenação Cassandra Ribeiro de Oliveira e Silva. - Fortaleza: UAB/IFCE, 2014. 93p. : il. ; 27cm. 1. TURISMO – EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. INTELIGÊNCIA SOCIAL 3. HOSPEDAGEM – RESLAÇÕES INTERPESSOAIS . Silva, Cassandra Ribeiro de Oliveira e. (Coord.) II. Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará - IFCE III. Universidade Aberta do Brasil IV. Título CDD – 158.26 A659r Catalogação na Fonte: Etelvina Marques (CRB 3 – Nº 615) SUMÁRIOApresentação 7 Referências 91 Princípios básicos das relações interpessoais 8 Princípio da constituição da consciência: o conhecer, o sentir e o agir 9 Princípio da Subjetividade 12 Princípio da Mudança 15 Princípio da Diversidade e princípio do Holismo 18 Princípio da Reciprocidade e princípio do Encontro 21 AULA 2 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 4 Tópico 5 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 4 AULA 1 A harmonia interior 8 Sentimento de autoestima 28 Autoconfiança 36 Liberdade interior 39 Contentamento 44 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 4 Tópico 5 Tópico 6 AULA 3 Da inteligência emocional à inteligência social 48 Panorama geral sobre a inteligência emocional 49 Conhecer as próprias emoções 52 Lidar com emoções 55 Lidar com relacionamentos 58 Da inteligência emocional à inteligência social 61 A pessoa socialmente inteligente 64 Competência interpessoal na hotelaria 68 Caracterização da prestação de serviços na hotelaria 69 Encontro de serviços na hotelaria 72 A qualidade na hotelaria: o fator humano 74 A noção de acolhimento no atendimento ao cliente na hotelaria 77 Satisfação em satisfazer 80 A noção de acolhimento no atendimento ao cliente na hotelaria 83 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 4 Tópico 5 Tópico 6 AULA 4 7 APRESENTAÇÃO A disciplina de Relações Interpessoais aborda as possibilidades de relacionamento bem-sucedido entre o profissional de turismo e o hóspede. O objetivo desta disciplina é fazer com que o aluno obtenha conhecimentos sólidos sobre o atendimento ao cliente, no caso o hóspede. O conteúdo da disciplina é leve e prazeroso de estudar, pois toca, de certa forma, a vida de cada um de nós. Trata de como podemos nos relacionar melhor na sociedade e mais especificamente em situações de trabalho nos hotéis. Veremos os fundamentos dos relacionamentos interpessoais, passando por uma psicologia da inteligência emocional e social, e finalizaremos com o próprio atendimento em situações de trabalho em hotéis. Assim, você, aluno(a), poderá situar-se no atendimento ao hóspede, a partir dos exemplos colocados. Espero que você tenha bom proveito ao estudar os conteúdos e que reflita sobre eles a partir da sua própria vida. Afinal, nós vivenciamos as relações interpessoais antes mesmo de as estudarmos. Adonai Martins Aragão Psicólogo, professor de Psicologia do IFCE APRESENTAÇÃO 8 Re lações In te rpessoa is AULA 1 Princípios básicos das relações interpessoais Caríssimo(a) aluno(a)! Em nossa primeira aula, apresentaremos uma fundamentação da nossa disciplina. Isso, no entanto, não significa que vamos fazer difíceis reflexões sobre os assuntos a serem vistos. Pelo contrário, nessa introdução, apresentamos o conteúdo da forma mais simplificada possível. Acredito ser isso o que você deseja. Estou certo? Veremos, então, os princípios básicos das relações interpessoais e sua aplicação no turismo e na hotelaria. A compreensão desses princípios possibilitará a você refletir sobre as relações interpessoais e aprender como elas se dão na vida social de cada um de nós. Os princípios apresentados mostram uma visão bastante ampla de como a pessoa pode se preparar para se articular na sociedade de forma bem sucedida. Vamos começar! Objetivos • Compreender os princípios básicos das relações interpessoais • Relacionar os princípios norteadores do bom relacionamento interpessoal • Entender como os relacionamentos interpessoais estão fundamentados nos princípios apresentados 9 Perceba você que todo o relacionamento do ser humano se inicia consigo mesmo, na mente ou consciência. E a mente encontra-se no cérebro, sendo este a parte material da consciência. Você não acha que, tendo o cérebro como referência, fica mais fácil entender a mente humana? É realmente mais fácil, pois atualmente a neurociência, com suas pesquisas, embasa as descobertas sobre a consciência. Então, daqui para frente, cérebro e mente passarão a andar juntos, para sua melhor compreensão das relações interpessoais. A consciência ou mente humana é constituída por três aspectos: conhecer, sentir e agir. Esses componentes da constituição da mente se influenciam mutuamente, de modo que, quando se fala de um, os outros devem ser também considerados. O ato de conhecer faz parte da cognição (pensamento) e nos dá as informações necessárias para nos adaptarmos no mundo. O nosso cérebro age inicialmente visando a adaptação. Depois da adaptação vem a criação. Com o ato de conhecer, podemos saber das coisas que precisamos para nos adaptar a maior parte dos desafios que a vida dos coloca, vencer na vida, tanto no aspecto de TÓPICO 1 Princípio da constituição da consciência: o conhecer, o sentir e o agir ObjetivO • Compreender como se constitui a mente humana AULA 1 TÓPICO 1 S a i b a m a i s De acordo com Keith S. Dobson e colaboradores (2006), a neurociência é o estudo do cérebro e das relações entre o cérebro e o comportamento. Foto 1- Grupo social Fo nt e: w w w .la tin st oc k. co m .b r Matemát ica Bás ica I I1010 Re lações In te rpessoa is informações sobre a vida cotidiana,sobre a ciência, quanto sobre nós mesmos (autoconhecimento) e sobre os outros. O sentir (as emoções) é o segundo componente da consciência da pessoa. O homem é algo mais que seu conhecimento, pois de tudo que o homem conhece ele sente algo de bom ou ruim, ou algo neutro. Então, qualquer novo conhecimento adquirido é dotado de uma emoção, e o homem pode usar essa emoção para se realizar plenamente enquanto ser no mundo. O sentir diz respeito aos sentimentos do ser humano, às emoções. Os sentimentos são usados também para ajudar o homem a se adaptar e perceber o mundo. Chamamos toda essa gama de sentimentos, emoções e afetividade de sensibilidade humana. O sentir nos faz ser de determinado jeito em relação aos outros com quem mantemos contato. O sentir também nos faz ter uma visão do mundo a partir da construção dos nossos valores. O sentir é o suplemento que vem atrelado ao conhecer e ao agir humano. Qualquer ato da consciência humana é constituído por conhecer, sentir e agir. O terceiro aspecto da consciência é o agir. O homem é ação e pela ação constrói sua vida. Há uma tendência natural para agirmos no mundo, pois a consciência na sua constituição contém a disposição para agir e é pela ação que ela se desenvolve. Quando conhecemos algo, quando temos uma informação sobre algo, é natural querermos aplicar esse conhecimento. E é pela ação que fazemos isso. Pela ação também, o homem se constitui como ser individual, único e inédito no mundo. Mas, ao mesmo tempo em que a pessoa se torna tudo isso, ela também se torna um ser socializado. Precisamos da ação para nos manter alerta, para trabalharmos, para nos emocionarmos e para conhecermos. Na ação do homem, há planejamento, reformulação e redirecionamento e isso é possibilitado pelo conhecer e pelo sentir. Então na vida, o conhecer, o sentir e o agir estão sempre juntos, não existem separadamente, não age um após o outro. Apenas por um aspecto didático, podemos falar deles em separado, para você melhor entendê-los. A maneira como esses três aspectos trabalham em conjunto é que determina v o c ê s a b i a? Não é suficiente somente conhecer as coisas. É necessário, além disso, termos uma noção se gostamos do que conhecemos e do direcionamento (ação) que damos ao conhecimento experimentado (sentido) para vivermos com mais satisfação no mundo (qualidade de vida). 11 se alguém vai se relacionar bem com os outros ou não. Quanto mais estiverem agindo na mesma direção os três elementos, mais a pessoa gostará da própria vida e também dos outros e, como consequência, terá sucesso profissional. No seu caso, caro(a) aluno(a), você poderá fazer um bom trabalho na hotelaria e no turismo. Quando uma pessoa pratica uma ação qualquer em sua vida, ela naturalmente sente um agrado ou um desagrado, ou quando muito se sente neutra. Quando agimos de modo que não gostamos, nos sentimos presos, de mau-humor, sem gosto pela vida. Com o conhecimento é a mesma coisa: quando conhecemos algo, podemos ter uma reação de agrado ou de desagrado. Quando o agrado aparece, dá-nos um sentimento de plenitude, de preenchimento, temos a intuição de estarmos de bem com a vida, no rumo certo. Ao agirmos de forma prazerosa, a emoção comanda a ação. Esta acontece de forma leve e motivada e ainda com bastante energia para ser empregada em outras ações. Hoje em dia, entretanto, é frequentemente mencionado o fato de que o homem se tornou uma “pedra de gelo”. Nessa perspectiva, o ser humano tem dificuldades de reconhecer suas próprias emoções e acha que é até vergonhoso expressá-las. Quando essa integração dos três aspectos da mente se perde, a pessoa tende a estagnar, a perder sua vitalidade, o gosto de lutar para alcançar o que quer. Tudo lhe parece meio sem graça. Pode-se afirmar que o profissional da hospedagem com preparo técnico e emocional está apto para atuar com os turistas e os hóspedes, correto? Errado. Somente o conhecimento técnico não capacita ninguém a ser um bom profissional. Atualmente, somente o conhecer já não é prerrogativa para o sucesso em nenhuma área de atuação, principalmente na hotelaria, área onde há uma atuação intensa entre o funcionário e o hóspede. É exigido do profissional em seu trabalho também o sentir, um jeito de tratar bem os clientes. AULA 1 TÓPICO 1 12 Re lações In te rpessoa is TÓPICO 2 Princípio da Subjetividade ObjetivO • Compreender o que constitui a subjetividade nos relacionamentos humanos Como vimos no Tópico 1, a mente tem como base o cérebro para existir. E a mente, além de funcionar no modo conhecer-sentir-agir, desenvolve o atributo da subjetividade. Vamos agora compreender o que constitui a subjetividade nos relacionamentos humanos. Subjetividade é a capacidade do ser humano de interpretar os estímulos externos de modo bem próprio e único. Isso determina todas as nossas reações aos estímulos do mundo objetal e social. É a subjetividade que nos torna diferentes uns dos outros. O princípio da subjetividade é talvez o mais importante de todos os princípios norteadores do comportamento nas relações interpessoais. Esse princípio significa que ninguém é igual a ninguém e por isso deve haver um respeito pelo jeito de ser das outras pessoas. Esse respeito deve acontecer em todas as relações interpessoais, seja na família, na escola ou no trabalho. A pessoa realiza dois tipos de relações no mundo: relações com as coisas e relações com as pessoas. Veja que a segunda é mais complexa. A primeira é uma relação mais objetiva, utilitária; e a outra, mais subjetiva, relacional. Quando olhamos para uma coisa, estamos tendo uma relação objetiva com ela. Ela não nos responde, não discute conosco. Uma relação com outra pessoa é g u a r d e b e m i s s o ! O funcionário do hotel, seja qual for o seu nível na escala hierárquica, precisa respeitar o hóspede, pois, por conta da subjetividade humana, cada hóspede é diferente do outro. 13AULA 1 TÓPICO 2 diferente. O outro pode, por exemplo, discordar de nossos pontos de vista. Temos, então, que respeitar seu modo de ser. Uma relação é objetiva quando todos concordam sobre o que sejam as coisas. Exemplo: quando olhamos para uma caneta, todos concordam que aquilo para o que estamos olhando é uma caneta. Trata–se de um acordo explícito. Todos concordam com isso. Sabemos para que serve uma caneta, sem sabermos com que se constrói; e até mesmo sem sabermos escrever, reconhecemos o referido objeto como caneta. Como essa caneta pode assumir formas variadas, cores variadas, tamanhos variados, texturas variadas, passa-se a gostar mais de certos tipos de canetas que de outros. Quando escolhemos certo tipo de caneta em lugar de outra, já estamos no âmbito da subjetividade. É nesse campo que as relações humanas muitas vezes fraquejam. Ora, se com um objeto inanimado (tome ainda a caneta como exemplo) podemos ter variações e gostos sobre ela, imaginemos a nossa subjetividade contracenando com as dos outros. Considerando a subjetividade, podemos raciocinar que não existe ninguém igual a ninguém e que os gostos dos outros devem ser respeitados, pois ninguém é mais do que o outro, seja por conta de inteligência, sagacidade ou dinheiro. Ou seja, as pessoas são o que são e ainda podemos amá-las, compreendendo melhor sua subjetividade. O ser humano é dotado de subjetividade, como dissemos acima. O fato de o homem ser subjetivo implica em cada homem pensar, sentir e agir de diferentes modos, cada um a sua maneira. A subjetividade é característica exclusiva do homem. É a responsável pela complexidade humana e pode se resumir neste questionamento: como pode o homem ser tão parecido enquanto espécie e tão diferente dos outros homens enquanto indivíduo? Até hoje, essa resposta ainda não foi descoberta e custará muito a ser encontrada. A noção de que temos uma subjetividade está em cada um denós, em nossa vida interior, a qual se reflete em nosso comportamento cotidiano, quando vivemos o dia a dia ou quando colocamos nossas ações em xeque; quando nossa filosofia de vida é questionada por nós mesmos ou até mesmo pelos outros; quando nos é imperativo reformularmos nossos planos para melhor nos adaptarmos à vida. É essa busca que ratifica nossa subjetividade, pois, no íntimo, sabemos que cada um de nós g u a r d e b e m i s s o ! A subjetividade é que dá vida interior às pessoas, é o calor humano para a vida. Matemát ica Bás ica I I1414 Re lações In te rpessoa is é único, especial, que não pode ser repetido. Os exemplos que acabamos de citar são demonstrações de como podemos nos afirmar no mundo com nossa subjetividade. Você, aluno(a), trabalhando com hotelaria, entendendo o princípio da subjetividade, pode aceitar melhor o turista e o hóspede com sua singularidade, sua interpretação da vida, seu desejo de melhor atendimento. O ser humano, sendo dotado de subjetividade, como dissemos acima, necessariamente pensa, sente e age de diferentes modos, cada um a sua maneira. A subjetividade é característica exclusiva do homem. É a responsável pela complexidade humana. 15 Caríssimo(a) aluno(a), trataremos neste tópico sobre a mudança e suas implicações nas relações interpessoais. Veremos como a mudança é importante para a consideração ao outro ser humano, aquele que está sempre ao nosso redor ou mesmo distante, mas que deve ser considerado em sua capacidade de mudar. Aceitando essa possibilidade, poderemos nos tornar mais capacitados para entendê-lo. Vamos em frente? Tudo está constantemente mudando. Os seres inanimados, as pessoas e tudo o que existe no mundo. Engels (1979), o parceiro intelectual de Karl Marx, escreveu um livro intitulado “Dialética da Natureza”, no qual enfatizava a mudança de todas as coisas. Ora, se as coisas inanimadas mudam, o que diremos dos humanos, com seu conhecimento, sentimentos e sua constante ação no mundo? No caso da profissão que você exercerá ao concluir este curso, é de grande importância considerar o turista como sendo um ser mutável. Sendo assim, o profissional não pode vê-lo a partir TÓPICO 3 Princípio da Mudança ObjetivO • Conhecer o principio da mudança AULA 1 TÓPICO 3 Foto 2: Transformação Fo nt e: w w w .la tin - st oc k. co m .b r V O C Ê S A B I A? Heráclito de Efeso, filósofo da Grécia antiga teve uma experiência única sobre o fato da mudança. Estava ele tomando banho em um rio quando de repente, percebeu que a água em que ele estava já não era a mesma em que tinha entrado. Daí, sua grande frase: “Um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio”. Matemát ica Bás ica I I1616 Re lações In te rpessoa is de sua perspectiva (do profissional), e sim tentar vê-lo em seu próprio mundo interior (do turista). A aplicabilidade da teoria de Heráclito nas relações interpessoais nos prepara para as mudanças e para aceitá-las, sejam as nossas ou as dos outros. Na atividade profissional do turismo e da hospedagem, aceitar a mutabilidade (capacidade de mudar) é algo necessário para uma boa administração das emoções, tão necessárias hoje ao profissional que procura se relacionar bem com todos ao seu redor. Uma pessoa muda diariamente, embora ela mesma possa não estar atenta a essas mudanças. Às vezes, percebemos que mudamos, mas, na maioria das vezes, isso não acontece. Vale ressaltar que as mudanças começam com um pensamento, com uma necessidade interior, a qual pode tomar forma, ser desenvolvida e ser satisfeita dentro de um contexto social favorável. Particularmente em nossas vidas, em nosso desenvolvimento, estamos sempre convivendo com mudanças. Entretanto às vezes não sabemos administrá- las, principalmente não sabemos aceitá-las nas pessoas. As crenças da pessoa são abaladas pela inexorabilidade da vida, das mudanças, inicialmente pela constatação da mudança do corpo e depois das ideias. É inegável que nosso corpo se transforma com o tempo e nossas ideias mudam. E, muitas vezes (na verdade em inúmeras vezes mesmo), temos a sensação de que não nos reconhecemos mais em certos atos, como na agressividade ou na falta de atitude em ajudar alguém. Antes de nascermos, estamos protegidos no útero. Após nascermos e quando criança, cremos que estamos totalmente protegidos e que nada nos abala ou pode nos atingir. Na adolescência nos deparamos com um sentimento difuso de desamparo, principalmente na passagem da criancice para a pré-adolescência. Somente a noção de tempo já é suficiente para certificar o homem da certeza da mudança. Diante dessa fantástica ideia heracliteana (de Heráclito) do eterno devir, uma pessoa pode resistir, pois lhe é mais cômoda a estabilidade, ou seja, não mudar. Não encarar as mudanças como algo natural na vida do ser humano é característica de uma mentalidade infantil. Nesse caso, tanto faz ser adulto ou não ser: se não aceitamos as mudanças, podemos parecer emocionalmente infantis. O preparo para a aceitação da mudança nos faz fortes e responsáveis. Implica maturidade emocional, a mais difícil tarefa do ser humano: um voltar-se para dentro, um desvelar do que somos verdadeiramente. Tal preparo emocional Foto 3- Heráclito Fo nt e: w w w .la tin st oc k. co m .b r 17 é hoje enfatizado nos EUA por psicólogos como Goleman (2001) e Gardner (1995). Goleman estudou a Inteligência Emocional; e Gardner, a Teoria das Inteligências Múltiplas. Tanto um quanto outro estudo trazem consequências para a vida pessoal e profissional. AULA 1 TÓPICO 3 18 Re lações In te rpessoa is TÓPICO 4 Princípio da Diversidade e princípio do Holismo ObjetivOs • Perceber a importância da diversidade nas relações interpessoais • Compreender como tudo é conectado nos relacionamentos humanos 4.1 PRINCÍPIO DA DIVERSIDADE: OS HOMENS SÃO AO MESMO TEMPO IGUAIS E DIFERENTES Diversidade quer dizer diferença. E as pessoas são diferentes. Entendendo isso, caro(a) aluno(a), você estará apto(a) a conviver com um número cada vez maior de turistas em seu trabalho. Aqui trataremos do princípio que diz que as pessoas interiormente são diferentes, como são diferentes em seus aspectos físicos. Diversidade significa o diferente, a variedade das pessoas, cada um com seu jeito de ser. A subjetividade faz as coisas e as pessoas serem diferentes. A subjetividade vai bem com diversidade. E os clientes anseiam serem tratados de modo diferente, individualizados. A consideração da diversidade nos relacionamentos se reflete em como as pessoas simpatizam mais com uns do que com outros. Temos uma propensão a gostar mais daquelas pessoas que têm ideias e conceitos semelhantes aos nossos, em vez daquelas que pensam de forma diferente ou mesmo oposta. A consequência direta disso são comportamentos de seleção no sentido de agregar e segregar. Agregamos naturalmente as pessoas parecidas conosco e segregamos aquelas que não têm nada a ver conosco. Em outras palavras, muitas vezes somos preconceituosos com aqueles diferentes de nós e, portanto, os deixamos de lado. O princípio da diversidade tem a função de melhorar a compreensão do humano para facilitar a agregação das pessoas visando uma convivência harmônica. Foto 4- Convivência pacífica Fo nt e: w w w .la tin st oc k. co m .b r 19 A ideia de diversidade está em todo lugar. Nas relações interpessoais, compreender que as pessoas são diferentes é essencial ao sucesso do bom profissional. E você, aluno(a), certamente se esforçará para isso, correto? Consideremos a pluralidade das sociedades. Cada uma com sua cultura, as quais devem ser entendidas para ser respeitadas. É esse respeito que falta hoje aos homens para uma boa convivência. O profissional da hotelaria se beneficiaria muito se considerasse o conceito de cosmopolita, isto é, a pessoa que aceita todas as culturas e modo de viverdo mundo. 4.2 PRINCÍPIO DO HOLISMO: O TODO É MAIS QUE A SOMA DAS PARTES Para compreendermos verdadeiramente o outro, precisamos considerar a noção do todo. Compreender como tudo é conectado nos relacionamentos humanos. Você já se pensou como um corpo separado da alma? Ou mesmo como sendo uma inteligência ambulante sem um corpo que sirva para você se apresentar às pessoas como inteligente? Imagino que não! É justamente sobre isso que diz respeito o princípio do holismo (o todo). Vejamos o que é isso. Holismo significa “o todo”, a totalidade das coisas. O holismo é um princípio do “tudo está em conexão”. Uma formiga que é morta aqui tem alguma repercussão em outra parte do mundo, quer se entenda ou não como isso acontece. É evidente que conexões de menor amplitude e complexidade ficam mais fáceis de assimilar, assim como fica mais fácil entender sua importância para o relacionamento humano. Se agrido uma pessoa com um soco, fica fácil entender sua reação de raiva para comigo. Esse tipo de conexão é simples e fácil de percebermos nas interações humanas. Porém nas interações há reações e manifestações comportamentais que são complexas e não entendemos porque acontecem de certo modo. O princípio do holismo, no entanto, não quer dizer que sempre exista Foto 5 - Globo terrestre Fo nt e: h tt p: // up lo ad .w ik im ed ia .o rg / V O C Ê S A B I A? Holismo vem da palavra grega holús, que significa o todo, a totalidade das coisas. Atualmente significa que quando se considera algo deve-se considerá-lo de um modo global com todas as suas relações com as outras coisas. AULA 1 TÓPICO 4 Matemát ica Bás ica I I2020 Re lações In te rpessoa is uma única causa para os acontecimentos e sim muitas causas para um único acontecimento. E existem muitas dessas causas que sequer são percebidas em termos de relacionamento humano. Na verdade, o nosso pensamento usual é de que há apenas uma causa para certo comportamento que percebemos em nós ou nos outros. O comportamento do ser humano é determinado por uma série de fatores visíveis e invisíveis aos olhos dos homens. Tais fatores atuam na pessoa e nos relacionamentos no mesmo momento e em diferentes intensidades. Esses fatores podem ser sociais, econômicos, políticos, religiosos, pedagógicos, biológicos. Todos eles se juntam de forma quantitativa e qualitativa atuando constantemente nas pessoas e em suas avaliações de si e dos outros. No dia a dia, as pessoas não param para refletir sobre a atuação de tais fatores, embora de vez em quando se sinta mais de perto a influência de algum deles. Uma pessoa pode ficar à margem de um grupo de estudantes no intervalo no colégio, simplesmente porque não tem dinheiro para o lanche, e isso a deixa constrangida. Mas vamos considerar que ela fique constrangida porque tem um traço genético que a predispõe a ser antissocial. E o grupo pode simplesmente não atinar o que realmente está acontecendo. Alguém mais imaturo no grupo pode interpretar tal atitude de isolamento como timidez ou como uma atitude de uma pessoa não quer estar com outras que compõem o grupo. Na verdade, interpretações como essas são limitadas, pois nelas não se aplica o princípio do todo; fica-se restrito a pequenas conjecturas de causas aparentes. 21 5.1 PRINCÍPIO DA RECIPROCIDADE: “É DANDO QUE SE RECEBE” Vamos agora estudar um princípio que retrata o ego humano, o qual tem uma importância fundamental para o entendimento das relações interpessoais. À medida que você for lendo, veja como se sente ao entrar em contato com o conteúdo do princípio que agora iniciamos. “É dando que se recebe”, eis o grande princípio de São Francisco de Assis. E eis o grande princípio propulsor que dá continuidade às relações humanas. O ser humano tem um ego enorme e, na maioria das vezes, espera pelo outro para iniciar uma interação e mesmo para dar continuidade a ela. Cada um de nós se acha bem importante, concorda? Há uma tendência para ficarmos na inércia. Aqueles que não investem em conquistar e construir bons relacionamentos com as pessoas ficam “a ver navios”, pois o outro não tem uma disposição natural para tomar a iniciativa. Normalmente cada pessoa quer ser apreciada, quer que o outro tome a iniciativa e mantenha a relação. É a inércia na interação social. Quase ninguém tem disponibilidade para o outro. Quando se vai até o outro, iniciando e mantendo contato, percebe-se que ele se apresenta acessível, cordato e até disponível para futuras relações sociais, se os interesses forem comuns. Ninguém, com raras exceções (apresentadas em certas TÓPICO 5 Princípio da Reciprocidade e princípio do Encontro ObjetivOs • Perceber a importância de se doar primeiro nos relacionamentos • Diferenciar os níveis de relacionamento do homem com o mundo Foto 6 - Troca de presentes Fo nt e: w w w .la tin st oc k. co m .b r AULA 1 TÓPICO 5 Matemát ica Bás ica I I2222 Re lações In te rpessoa is psicopatologias), quer ou gosta de sentir-se sozinho, porém são poucos os que tomam a iniciativa nos contatos sociais. As profissões da área de serviços, como turismo e hospedagem, exigem que o profissional tenha disposição psicológica para ir até o cliente. O cliente não tem disposição natural para ir ao profissional. Este deve estar sempre atento para servir com presteza. Não é o cliente que deve procurar o garçom com o olhar e sim o garçom deve estar a postos, sempre olhando para as mesas, esperando o cliente acenar chamando-o. O princípio da reciprocidade se inicia quando tomamos a iniciativa e se completa no retorno a essa iniciativa. Raramente uma pessoa não retribui um gesto amável. Na maioria das vezes, uma ação agradável é retribuída com outra agradável. Se você quer que seus amigos lhe telefonem, é recomendável que você tome a iniciativa para depois colher os frutos com o recebimento de vários telefonemas. A reciprocidade é uma ação natural nas relações interpessoais. É uma ação que comprova que todo mundo gosta de ser lembrado, de ser elogiado, cortejado. Isso, por sua vez, pode ser feito através de gestos simples, como iniciar uma conversa com alguém desconhecido. 5.2 PRINCÍPIO DO ENCONTRO: “SE UM DIA NOS ENCONTRARMOS SERÁ LINDO, SE NÃO, NÃO HÁ NADA A FAZER” Você percebeu que estamos cada vez mais compreendendo as relações interpessoais? Sabe por quê? Porque, à medida que fomos lendo, ficou mais completa nossa fundamentação sobre a interação humana. O encontro é o coroamento da união intelectiva e emocional entre as pessoas. O encontro aqui é descrito sob a perspectiva de Martin Buber (2008). Vários pensadores, filósofos e psicólogos escreveram sobre o encontro. Fritz Perls (citado por RIBEIRO, 1985, p. 42), que cunhou a frase destacada no subtítulo acima, retirada aqui da oração da gestalt, soube bem o que é realmente se encontrar. Nas relações humanas, há diferentes níveis de encontro. v o c ê s a b i a? Psicopatologias são as patologias (doenças) da mente. Foto 7 - Abraço Fo nt e: w w w .la tin st oc k. co m .b r 23 Vamos agora delinear as relações interpessoais em dois tipos, segundo a intensidade emocional delas: a relação eu-tu e a relação eu-isso. Martin Buber (2008) foi o idealizador do princípio dialógico com a criação das expressões eu–isso e eu–tu. A relação eu-isso quer dizer uma relação superficial, utilitária, em que não acontece um encontro, quando estamos diante de uma pessoa e na verdade não nos importamos muito de estar ali. Tal momento é destituído de emoção. É uma relação eu-isso. Para Buber (2008), na verdade, o homem se relaciona com o mundo nessas duas instâncias ou momentos. Quando está numa relação eu–isso, a pessoa está numa relação humana típica do cotidiano. Tal momento se caracteriza pela falta de interesse real em estar com os outros não tendo a pessoa nenhuma sensação afetiva emespecial. Na relação eu-isso, tudo acontece de modo mecânico ou automático. As pessoas implicadas na relação não têm prazer real em estar juntas conversando, jogando ou fazendo qualquer coisa. Uma relação eu-isso acontece em qualquer local – no trabalho, nas viagens, na rua, dentro de casa, brincando, nas atitudes sérias ou jocosas, em qualquer AULA 1 TÓPICO 5 V O C Ê S A B I A? Dialógico diz respeito a troca, a diálogo, embora em uma relação dialógica nem sempre esteja havendo um diálogo. Uma relação dialógica implica envolvimento emocional real e autêntico com o outro. s a i b a m a i s ! Gestalt é um termo alemão que não tem tradução exata para o português. Significa configuração, todo e ainda forma. O nome também significa uma das principais escolas ou linhas de psicoterapia, junto com o Humanismo, a Psicanálise e o comportamentalismo, também chamado de Behaviorismo. Para a Gestalt , entre outras coisas, é importante a percepção dos próprios sentimentos, como estes sentimentos nos fazem estar na vida e uma ação efetiva para a melhora de si mesmo. Inserida dentro do contexto das psicoterapias humanistas, a Gestalt considera o homem como um ser total, não desprezando nenhum aspecto constitutivo de seu comportamento. A Gestalt preza pela autonomia do homem no mundo e considera que a pessoa é responsável pela sua condição social de relacionamento, enfatizando a responsabilidade pessoal nos relacionamento e na vida como um todo. Matemát ica Bás ica I I2424 Re lações In te rpessoa is hora ou qualquer lugar, embora haja algumas condições específicas para acontecer, como condições de trabalho ou de lazer, por exemplo. Dizemos que a relação eu– isso é a relação da pessoa com o mundo e com as outras pessoas, de modo que essa relação não altera emocionalmente em quase nada os participantes. Já o momento do eu–tu, é revestido de uma sensação de grande satisfação para os sentidos, para o corpo e para o espírito dos participantes desse tipo de interação social. Uma das grandes características do momento eu–tu é ele ser difícil de acontecer. Outra característica é que ele é fugidio. Quando acontece, logo passa, não se mantém por muito tempo, nos fazendo lembrar a célebre frase “que seja eterno enquanto dure”. Uma pessoa envolta numa relação eu–tu esquece o mundo à sua volta nos seus aspectos espaciais e temporais. Tudo parece não existir além da outra pessoa. Melhor dizendo, o outro lado da relação é o tu, outra pessoa. Estando na relação eu–tu, a pessoa fica quase como em estado de êxtase, quando seus sentidos são intensamente ativados, ficando em contemplação com a própria relação interpessoal. No turismo e na hospedagem, a relação eu–isso e eu–tu não acontece diferentemente do cotidiano. É claro que o profissional competente precisa ter abertura a experiências do tipo eu–tu. A abertura a experiências significativas, e o gosto pela vida, pelo mundo e principalmente pelas pessoas, facilitam momentos eu-tu. O profissional do turismo e da hospedagem estará mais apto a se aventurar em momentos contemplativos (não ainda momentos eu–tu), próprios de sua profissão. Dessa forma ele poderá fazer, por exemplo, o “relaxamento responsável” em seu trabalho. O desenvolvimento das tensões internas ao indivíduo, junto às tensões do social, provoca comportamentos sem significação. Aventurando-se a relaxar responsavelmente no seu trabalho, o profissional se permite ser criativo, pois energia positiva vai ser gerada nesse intuito. Sendo criativo, podendo relaxar, o profissional do turismo poderá se equipar para ter mais experiências significativas com os outros profissionais e clientes. Foram delineados os princípios fundamentais para a compreensão das relações interpessoais. É importante para você, aluno(a), considerar a nossa filosofia de explicação considerando conteúdos de uma maneira global v o c ê s a b i a? O Relaxamento responsável é uma expressão para indicar uma forma de bem-estar no trabalho, que não implica em falta de responsabilidade nem de competência técnica. É um modo de ser e de estar no trabalho que a pessoa adquire com aplicação e experiência emocional. 25 e passando, aula a aula, para os detalhes das relações humanas. Entendendo como são os princípios fundamentais de qualquer interação humana, podemos nos tornar capacitados a entender melhor como as pessoas se comportam umas com as outras. AT I V I D A D E D E A P R O F U N D A M E N T O 1. Elabore uma situação do cotidiano que mostre como a mente humana se constitui nos princípios conhecer, sentir e agir, e como estas instâncias se influenciam mutuamente. 2. Qual a diferença entre algo objetivo e subjetivo? 3. Como o princípio da mudança me ajuda a compreender melhor uma pessoa? 4. A partir do princípio do holismo, explique como podemos considerar vários fatores para a compreensão do outro nos relacionamentos. 5. Caracterize uma situação social com base no princípio eu-tu. 6. Você concorda que as pessoas ficam muito “na sua” antes de iniciar uma relação social? Explique sua opinião se inspirando no princípio da reciprocidade. 7. Considerando a leitura atenta e reflexiva dos princípios das relações interpessoais, elabore uma opinião sobre o que falta nas pessoas para haver uma sociedade mais fraterna, onde as pessoas possam conviver mais abertamente e de uma forma emocionalmente mais satisfatória. 8. A partir de uma leitura atenta dos princípios das relações interpessoais, elabore uma reflexão sobre o que falta nas pessoas para haver uma sociedade mais fraterna, na qual as pessoas possam conviver mais abertamente e de uma forma emocionalmente mais satisfatória. AULA 1 TÓPICO 5 Matemát ica Bás ica I I2626 Re lações In te rpessoa is S U G E S T Õ E S D E L E I T U R A S CHARNETSKI, Carl J.; BRENNAN, Francis X. Sentir-se bem faz bem a você: sugestões fáceis e prazerosas para fortalecer seu sistema imunológico e prolongar sua vida. São Paulo: Gente, 2004. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2005. CORETH, Emerich. Questões fundamentais de hermenêutica. São Paulo: E.P.U., 1973. FINGERMANN, G. Relaciones humanas: fundamentos psicológicos y sociales. 7. ed. Buenos Aires: Editorial El Ateneo, 1976. FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. HEATH, Harriet. Ensinando valores: criando um adulto admirável. São Paulo: Madras, 2001. LOGOS - Enciclopédia Luso-brasileira de Filosofia. Lisboa: Editorial Verbo, 5v, 1991. MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. São Paulo: Círculo do Livro, 1994. __________. A descoberta do ser. 3.ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. NOGARE, P. D. Humanismos e anti-humanismos: introdução à antropologia filosófica. 8.ed. Petrópolis: Vozes, 1983. SHERMER, Michael. Cérebro e crença. São Paulo: JSN Editora, 2012. WILLSON, Rob e BRANCH, Rhena. Terapia cognitivo-comportamental para leigos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2011. 27 AULA 2 A harmonia interior Na aula anterior, vimos os princípios básicos que fundamentam toda relação interpessoal. Nesta aula, vamos tratar dos sentimentos que compõem a harmonia interior. Quando se é harmônico interiormente, se é exteriormente. Em outras palavras, se estamos em harmonia, nos relacionamos bem com os outros. As relações interpessoais são fundamentadas por princípios universais e, possibilitam uma abertura de espírito para o desenvolvimento da harmonia interior. A harmonia interior é uma condição emocional importante para o bom relacionamento nos âmbitos do turismo e da hotelaria. Os sentimentos que compõem a harmonia interior estão diretamente relacionados ao comportamento que se espera quando o empregado está atendendo o cliente. Veremos tais relações em termos dos sentimentos da harmonia interior que são: autoestima, confiança em si (auto-confiança), liberdade interior e contentamento. Esses sentimentos, quando bem desenvolvidos,fazem com que a pessoa tenha uma boa base psicológica para se relacionar com o cliente. Compreendendo como cada sentimento se relaciona entre si e como todos em conjunto se relacionam de forma interpessoal na hotelaria, iniciemos agora nossa aula. Objetivos • Compreender a harmonia interior como condição de um bom relacionamento interpessoal • Relacionar as características dos sentimentos da harmonia interior • Entender a influência mútua entre os sentimentos da harmonia interior se influenciando mutuamente AULA 2 28 Re lações In te rpessoa is TÓPICO 1 Sentimento de autoestima ObjetivO • Compreender o que seja autoestima e sua importância nos relacionamentos 2.1 AUTOESTIMA Autoestima é o sentimento de gostar de si mesmo e de se valorizar . Está ligada à valorização pessoal. Uma pessoa com autoestima tem mais chance de se relacionar bem com a sociedade, mesmo quando o meio não lhe é favorável.É a sensação de que tudo no âmbito social pode ir de qualquer jeito e que no fim resta o sentimento de gostar de si. De acordo com Vernieri (2006) , para o desenvolvimento da autoestima, é necessário, entre outros pontos, o autoconhecimento alcançado através do contato consigo mesmo, entre outras atividades. O autoconhecimento conhecidoConhecendo-se a si mesmao, a pessoa estará mais apta a desenvolver sua autoestima. Como aponta Estanqueiro (1997, p. 15): uma pessoa que se conhece poderá, mais facilmente, superar seus pontos fracos e desenvolver os seus pontos fortes. Desta forma, dará um passo decisivo na construção da autoestima e da autoconfiança, atitudes facilitadoras da comunicação interpessoal. (1997, p. 15). (Grifos no original) Conhecer a si mesmo não é tarefa fácil, pois envolve o desenvolvimento de uma autopercepção. A percepção é um processo psicológico que permite o homem entrar em contato consigo mesmo e com o mundo. A percepção tem a função de Foto 8- Sensação boa Fo nt e: w w w .la tin st oc k. co m .b r 29 adaptar o ser humano ao mundo. Ela se dá por meio de uma autoconsciência dirigida, quando se refere à percepção de si mesmo; e envolve os cinco sentidos, quando é dirigida ao mundo. Quando uma pessoa se olha interiormente e “vê” que está com raiva, ela realiza uma autopercepção. Por sua vez, quando ela olha para outra pessoa e vê um olhar de desprezo dirigido para ela, naquele momento está tendo uma percepção do mundo (mundo aqui se refere às coisas e às pessoas). Tanto a autopercepção como a percepção do mundo (ou simplesmente percepção), envolvem inteligência e emoções. As implicações da falta do autoconhecimento nas relações interpessoais são enormes e às vezes comprometedoras. Em um mundo do trabalho altamente competitivo, é importante que os empregados tenham essa dimensão de si bem desenvolvida. Imagine uma pessoa que está em uma reunião de trabalho e não sabe exatamente como está emocionalmente. Há psicólogos que consideram a autoestima como algo fundamental no comportamento, chegando que chega a afetar toda uma visão da vida de uma pessoa. Segundo eles, autoestima é divisor de águas entre o sucesso e o fracasso. Qualquer reação que temos dos fatos decorre do que pensamos sobre nós mesmos. Isso é autoestima: o que pensamos sobre nós mesmos, independentemente dos outros. Weissbourd (2012 , p. 55) assim se expressa sobre a autoestima: A ideia da autoestima é por demais cativante, não somente por sua simplicidade e seu aparente poder explanatório, como também pela sensação instintiva de que, quando nos sentimos bem com nós mesmos, somos capazes de qualquer coisa, inclusive de ajudar os outros. A autoestima pode ser alta, média ou baixa. Vejamos um exemplo dessa gradação: um técnico de turismo se atemoriza diante de um turista que está gritando com um funcionário do hotel. Sente-se, então, diminuído, humilhado, como se o grito fosse com ele. Isto se chamaEsse sentimento revela autoestima baixa. A autoestima se tem a ver com o julgamento interno que fazemos sobre nós. AULA 2 TÓPICO 1 v o c ê s a b i a? A autopercepção dá à pessoa uma dimensão emocional dos seus limites e potenciais. Uma pessoa que não se percebe não pode “se policiar” e a qualquer momento pode perder seu autocontrole e ter um acesso de raiva ou expressar um cansaço inusitado, o que causaria realmente uma má impressão a seus colegas de trabalho e ao seu chefe, por exemplo. Matemát ica Bás ica I I3030 Re lações In te rpessoa is Quando falamos de autoestima, não falamos sobre julgar os outros, nem sobre o julgamento que os outros fazem de nós. O foco da autoestima começa e termina em cada um de nós. Estimar a si mesmo se configura como um sentimento interior. Podemos achar outra pessoa super segura, mas essa pessoa pode sentir-se uma criança desprotegida. O contrário também pode se dar: podem dizer tudo de ruim a respeito de uma determinada pessoa e ainda assim ela nem dá dar atenção a isso, pois em seu íntimo sente-se ótima. O desenvolvimento da autoestima pode partir daí. Estímulos externos têm pouca conseqüência consequência na autoimagem que a pessoa faz de si, pois a autoestima é uma construção interior, de como a pessoa se construiu emocionalmente. Evidentemente pode-se mudar essa estrutura emocional pela ressignificância dos pensamentos. Uma das características mais marcantes da autoestima, talvez a principal, é a sensação de gostar de si mesmo, independentemente de a pessoa ser rica, pobre, negra, branca, homem, mulher, adulto, adolescente, pois seu desenvolvimento transcende posição social, raça, gênero, idade. A dimensão do respeito a si mesmo dentro do contexto das relações interpessoais é também uma característica da autoestima. Evidentemente nas relações interpessoais, há conflitos a serem resolvidos entre as pessoas, e ter autoestima dá as diretrizes de ação na resolução de conflitos, já que, para resolver o conflito, é preciso as pessoas cederem de ambos os lados. É aí, nesse ceder, que a pessoa que tem autoestima precisa ver se não está se desrespeitando para “aliviar a barra do outro”. Longe de ser um impedimento à conciliação social, a autoestima promove relações interpessoais autênticas e motivadoras, já que é o sujeito que tem suporte emocional, que determina os limites e as possibilidades da relação. Assim, esta se torna cada vez mais autêntica, embasada no autorrespeito. A valorização de si por ser simplesmente humano é uma outra característica da autoestima. A humanidade da pessoa é suficiente para ela sentir-se naturalmente digna de ser e ter o que ela desejar, e assim se esforçar para tal. Ter autoestima implica em sempre sentir-se suficiente, seja em momentos piores ou melhores da vida. A autoestima não isenta a pessoa de dificuldades de relacionamentos durante o curso de sua vida, porém, dá uma sensação de poder vencer desafios impostos g u a r d e b e m i s s o ! Podemos nos referir à autoestima como uma questão de consciência, de percepção de si, autorrespeito e vida autêntica. 31 pelas adversidades da vida. No que diz respeito às relações interpessoais, Branden (1996, p. 11) afirma que: Quanto maior for nossa autoestima, maiores serão as nossas possibilidades de manter relações saudáveis, em vez de destrutivas, pois, assim como o amor atrai o amor, a saúde atrai a saúde e a vitalidade e a comunicabilidade atraem mais do que o vazio e o oportunismo. Percebemos então ser a autoestima uma característica de base na constituição do psiquismo da pessoa, sendo base para uma valoração pessoal, o que determina uma facilitação nas relações interpessoais nos vários níveis em que a socialização se realiza, inclusive no mundo do trabalho. Passemos agora a estudar como a autoestima se desenvolve. 2.2 ORIGEM DA AUTOESTIMA Como se origina a autoestima? Na infância, a partir da educação que se recebe. Ninguém nasce para ter uma má noção sobre simesmo. Torna-se evidente que as pessoas que educam (pais, parentes, professores) têm um peso na construção da autoimagem. A noção de “tabula rasa” (folha em branco, no latim) é aqui bem adequada. O ser humano nasce como uma folha em branco, onde na qual vão sendo postas as impressões que ele tem vai adquirindo da vida, das pessoas, de suas relações interpessoais. Como diz Santagostino, uma psicoterapeuta italiana que usa as fábulas como um instrumento de conhecimento e desenvolvimento pessoal: “Comumente se entende que um adulto entenda sua autoestima a partir de resultados obtidos na vida, mas se observarmos bem, perceberemos que boa parte desses resultados foram influenciados por convicções anteriores” (2003, p. 87). (tradução do autor). Uma criança constrói uma autoestima elevada quando é elogiada, quando, por exemplo, é estimulada a conseguir executar uma tarefa que nunca tinha feito antes; quando mostramos que ela é merecedora de nossa confiança. A crítica gratuita, por outro lado, é uma arma certa para a criança desenvolver autoestima baixa. Se criticada sem razão, paulatinamente vai ficando insegura, pois, quando criança, tem uma tendência para generalizar e pode se sentir insegura em todas as Foto 9 - Criança Fo nt e: w w w .la tin st oc k. co m .b r AULA 2 TÓPICO 1 Matemát ica Bás ica I I3232 Re lações In te rpessoa is situações em que se colocar. pois não tem referência para agir, sua mente ainda não lhe permite distinguir signos situacionais. O ser humano tem a tendência de enfatizar o que é ruim. E, assim, a criança enfatiza críticas sem fundamentação, agressões gratuitas, ficando com um sentimento de inadequação que expande para todas as esferas constituintes de seu ser: imagem corporal inadequada, inteligência insuficiente, dificuldades em expressar emoções e ação comportamental quase sem dinâmica. A tendência normal é a criança desenvolver sua consciência para chegar à fase adulta. Mas, por conta de uma autoestima baixa, a pessoa torna-se um adulto-criança, ou seja, leva para a vida adulta aquele sentimento de inadequação à vida. Um adulto nessas condições tem sua intelectualidade intacta, porém suas emoções são imaturas e ele tem dificuldade de se perceber. 2.3 AUTOESTIMA E TRABALHO A autoestima é um daqueles aspectos psicológicos básicos para o sucesso interior do profissional, pois tem a ver com o nosso íntimo de cada um. Junto com uma personalidade expansiva, uma percepção afinada, a autoestima permite ao profissional sentir-se bem interiormente. Permite, portanto, experimentar um sentimento de adequação à vida e ao trabalho. Um profissional da hotelaria e do turismo que tem autoestima elevada, por exemplo, passa aos outros, emoções autênticas de sinceridade, gosto pelo ser humano e aceitação incondicional de turistas. Então, nesse conjunto de exigências por parte da essência e dinâmica do trabalho, há uma exigência mais fundamental que tudo para o aspecto psicológico do profissional de turismo e hospedagem: que ele tenha uma boa autoestima. A esta altura você pode estar se perguntando se tem uma autoestima elevada. A resposta para essa possível indagação será respondida ao longo do texto. Você verá também como fortificar sua autoestima e entenderá ainda que é a autoestima o aspecto psicológico mais essencial para o sucesso na área. Depende do profissional querer exercitar-se, lançar-se no mundo da psicologia para desenvolver sua autoestima. v o c ê s a b i a? Tendo uma boa autoestima, poderá o profissional ter mais “solo psicológico” para atuar de maneira menos tensa e mais certeza vocacional no trabalho. 33 2.4 O PROFISSIONAL DE TURISMO E HOSPEDAGEM E SUA AUTOESTIMA Uma das características mais importantes de uma autoestima elevada se revela em uma pessoa tranquila, que tem paz de espírito. Ela não entra em guerra consigo mesma nem com os outros. Em seu mundo, não existe competição interna. Se ela é competitiva na sociedade, tudo se passa dentro do contexto ético. Ela é leal consigo e com os outros. Quem tem uma autoestima elevada é confiante, tem um sentimento de estar adequado à vida, de modo competente e merecedor, sentindo-se útil e produtivo à sociedade. O profissional de turismo e hospedagem detentor de uma autoestima elevada está protegido contra as possíveis atitudes negativas dos turistas. Uma autoestima elevada constrói um escudo psicológico na consciência do profissional e ele não toma, então, para si o que pode o turista lhe dizer. Sente que em seu íntimo ele é diferente do modo como o turista o trata. Sabe que pode enfrentar situações de antagonismos com a maior naturalidade possível e ainda extrair dali experiência profissional e de vida. Sua autoestima elevada lhe permite ter um controle em situações emocionalmente descontroladas. Torna-se espelho, refletindo tudo o que de ruim lhe chega. Ou é flexível o suficiente para procurar acalmar o turista, contornando e revertendo a situação que se configurou. Nem é preciso dizer que um profissional de turismo com autoestima baixa tem um sentimento inconfesso de que ele não é suficiente em seu trabalho, pois se sente insuficiente em sua vida. Há em seu íntimo a sensação de falta e ele não sabe como lidar com isso. Uma simples advertência de seu chefe pode deixá-lo deprimido, entristecido, e levá-lo a pensar muitas vezes em mudar de ramo. Deixa-se, então, abater facilmente, ficando sem forças para desempenhar a contento suas funções e não ousa ser criativo. Sente-se bem quando consegue ficar no nível do profissional regular. O ser regular é sua confirmação de que pode continuar na área de turismo. Ser guia? Isso lhe parece quase impossível. Guia é para quem é desinibido, não para ele que se acha sem direitos naturais. Como tem dificuldades de se perceber bem, não consegue ver suas características boas. Ele as têm, porém termina por enxergar são as pessoas que lhe são mais próximas. “Vai lá, você sabe fazer isso, até mais do que eu”. “Aceite, você é tão bonita...”. Os incentivos podem continuar, mas a pessoa não reage bem. Pode até encarar sem medo a tarefa pela força do incentivo. Mas, em seu íntimo, sente que algo está errado com ela. Foto 10 - Profissional do Turismo Fo nt e: w w w .la tin st oc k. co m .b r AULA 2 TÓPICO 1 Matemát ica Bás ica I I3434 Re lações In te rpessoa is 2.5 COMO DESENVOLVER A AUTOESTIMA O núcleo do desenvolvimento da autoestima é a consciência. É dirigir a consciência em nosso comportamento e viver conscientemente. Uma pessoa pode passar toda uma vida sem viver conscientemente. Pode negar seu poder de ser racional de modo a viver pensando como uma criança desnorteada; utilizar suas emoções apenas para ficar triste e negar a possibilidade de sua alegria de viver. Pode negar perceber-se e viver pela metade, tendo emoções pálidas, frias. Pode se isolar física e psicologicamente e viver sem contato pleno, sem a capacidade de separar o que é seu e o que não é. Pode ter uma vida muito convergente optando pelo viver inconsciente, vivendo mais para os outros do que para si. A nossa vida, ou melhor, a qualidade dela, depende do modo como fazemos a integração do nosso comportamento. Quando integramos nosso comportamento, estamos vivendo em nível acentuado de consciência. Todas as nossas escolhas podem fortalecer nosso autorrespeito. Se não gosto de trabalhar no turismo e ainda assim abraço essa profissão, estou escolhendo algo que destrói o meu autorrespeito. Agindo assim, não estou gostando de mim. Viver conscientemente é estar atento a tudo que afeta nossa ação, é sentir os estímulos de fora e os seus próprios (os que vêm de dentro, como as sensações corporais e emocionais). Significa não desrespeitar nossos valores, atos, propósitos e metas. Viver conscientemente é gerar um estado mental adequado para cada situação diante de nós. Dirigir umcarro, fazer amor, fazer uma prova, atender um cliente, guiar um grupo. Cada ação dessas exige envolvimento diferente por parte da consciência. Algumas estão com mais conotação emocional que outras. Em algumas se sobressaem aspectos mais cognitivos e, em outras, aspectos mais motores. Viver conscientemente é estar atento a esses aspectos e como ficamos em cada situação. Evidentemente é o contexto (campo) que determina o aspecto da instância da consciência (conhecimento, sentimento e ação). O desenvolvimento da autoestima passa pelo incremento do autorrespeito e da autoconfiança. Autorrespeito, pois vivendo integrado (conscientemente), g u a r d e b e m i s s o ! Desenvolvemos nossa autoestima vivendo conscientemente. Uma pessoa que vive conscientemente permite melhores opções em sua vida. Não é traidor de suas ações. Age de acordo com o que sente ser certo para si. 35 estamos nos valorizando interiormente. Isso nos faz mais relaxados e criativos nas interações sociais. Vimos neste tópico o que é a autoestima, bem como sua origem e desenvolvimento no ser humano. Para desenvolver uma autoestima regulada torna-se preciso uma educação saudável com elogios e respeito pela criança e pelo jovem. O desnvolvimento da autoestima também passa pelo autoconhecimento de si mesmo, reconhecendo, valorizando nossa emoções,e conjugando-as com o nosso agir no mundo. AULA 2 TÓPICO 1 36 Re lações In te rpessoa is TÓPICO 2 Autoconfiança ObjetivO • Conhecer o que seja o sentimento de autoconfiança Caríssimo(a) aluno(a), vimos no tópico 1 quais são as características da autoestima e vimos também que esse sentimento de gostar de si é independente das condições gerais da pessoa. É realmente reconfortante termos uma autoestima elevada e isso reflete diretamente no trato com o outro. Vamos agora introduzir outro sentimento interior não menos importante que a autoestima: a autoconfiança. A psiquiatra francesa Gisèle George (2011), uma das maiores autoridades em crianças e adolescentes, considera a autoconfiança como um traço de caráter. Porém, segundo ela, a autoconfiança não se aplica a todos os campos, e a multiplicidade de fatores da vida e estados psicológicos podem desestabilizá- la ao longo da vida. Os pais muitas vezes ficam frustrados com os filhos ao entrarem na adolescência quando, às vezes, não demonstram aquela autoconfiança que lhes era própria da infância. A autoconfiança refere-se ao sentimento de estar convicto de poder fazer algo. Implica também sair-se bem em um empreendimento que a pessoa se propõe realizar. Ter autoconfiança implica ter certeza de realizar algo a curto, a médio e, ainda, a longo prazo. Autoconfiança ou confiança em si decorre da autoestima, embora esteja mais relacionada ao saber-fazer. O sentimento de poder acompanha a autoconfiança, assim como o sentimento de ser acompanha a autoestima. Na Foto 11- Profissionais Fo nt e: w w w .la tin st oc k. co m .b r 37 autoconfiança, há o poder fazer algo, realizar, ter um saber-como (know-how, isto é saber fazer). Pode-se dizer que há basicamente dois tipos de autoconfiança: uma que é mais generalizada na pessoa, como fazendo parte dela, decorrente da autoestima. É uma autoconfiança geral que a acompanha em qualquer ocasião social, seja ela a protagonista ou não. Tal sentimento toma conta da pessoa como um todo, possibilitando um bom autoconceito, uma boa imagem corporal e uma boa sensação de bem-estar no convívio social. Esse tipo de autoconfiança pode-se observar em pessoas desinibidas, “descoladas”, que não se importam muito com a opinião alheia e são mais “soltas” consigo mesmas, desobrigadas socialmente. Por outro lado, há uma espécie de autoconfiança mais ligada à ação da pessoa no mundo, à prática dirigida, ao fazer do experto, do perito que visa à perfeição. Este tipo de autoconfiança pode ser melhor desenvolvida quando a pessoa se dispõe a se exercitar em alguma atividade, seja falar um idioma estrangeiro ou ser boa em matemática. A prática constante em uma atividade lhe dá a sensação de poder fazer algo e aumenta seu sentimento de autoestima. Ela passa a gostar mais de si quando sabe que faz algo bem feito. Em todo setor de trabalho, costumamos ver pessoas autoconfiantes. São pessoas comuns, que desenvolveram, naturalmente ou por treinos, habilidades de autodomínio no trato com as coisas próprias de trabalho. Normalmente, tais pessoas se apresentam bem em reuniões, palestras, conferências, eventos e em quaisquer situações que necessitem de comunicações efetivas. Vestem-se bem, não necessariamente com roupas mais caras, e parecem sempre à vontade na frente das pessoas. Tem-se a impressão de que estão sempre à frente de seus colegas de trabalho. A autoconfiança se retrata em uma combinação de preparo técnico e psicológico. Por preparo técnico entendemos toda e qualquer informação e habilidade pertinente à execução de um trabalho específico. Pode ser desde a habilidade de fazer um simples bilhete de comunicação interna à empresa, até a coordenação de elaboração de um mega evento. O preparo psicológico necessário à autoconfiança se estrutura originalmente como um sentimento de “poder-fazer” alguma coisa, de sentir-se seguro para AULA 2 TÓPICO 2 v o c ê s a b i a? A autoconfiança pode ser desenvolvida a partir de uma prática continuada em qualquer atividade na sociedade. Matemát ica Bás ica I I3838 Re lações In te rpessoa is realizar algo. O desenvolvimento dessa segurança se inicia na infância por meio de elogios e incentivos adequados ou mesmo por um hercúleo esforço individual em se superar na execução de tarefas, a princípio simples. Esse desenvolvimento continua na adolescência, fase na qual os desafios parecem intransponíveis, devido à própria instabilidade emocional típica desta fase da vida. É na superação desses desafios que o jovem se faz mais autoconfiante. O poder-fazer primeiramente se apresenta em situações não-estruturadas, como as que acontecem em casa, na rua, na turminha do bairro. São iniciativas tomadas quando a maioria não se apresenta para fazê-las. Um simples aperto em um parafuso feito pela criança, quando elogiado pelo pai, reforça a autoconfiança do filho. Da mesma forma, nas relações pessoais, a autoconfiança se origina pelo saber- fazer: saber dar um belo bom dia e não um bom dia seco e frio; saber a hora certa de falar em um grupo; ter a iniciativa de dar uma opinião em um grupo sem se preocupar se a opinião é pertinente ou não. O sentimento de poder-fazer vai se instalando paulatinamente na pessoa, construindo-se assim a autoconfiança. No âmbito do trabalho, o poder-fazer se articula com o preparo técnico (conhecimento), o que resulta em um profissional confiante, preparado, reconhecido como alguém competente que pode realizar algo dentro da empresa. A competência pessoal aumenta a autoconfiança. A competência pessoal se refere ao julgamento implícito da nossa capacidade de encararmos o lado difícil da vida (entender e resolver os problemas). O valor pessoal se manifesta como o direito de ser ou não feliz. Isto implica respeitar nossos interesses e ter ação de defendê-los. Caro(a) aluno(a), vimos o sentimento da autoconfiança e sua relação com a atuação de uma pessoa nas relações interpessoais. Se a autoestima está relacionada ao ser si mesmo, a autoconfiança se relaciona ao poder fazer, ao poder pessoal de realizar algo com maestria. A autoconfiança complementa a autoestima funcionando como uma espécie de “avalanca pessoal” para o mundo social, especificamente para o mundo do trabalho. Passemos então, ao sentimento de liberdade interior. s a i b a m a i s ! O profissional de turismo, mais do que ninguém, precisa ter em si autoconfiança. Ele precisa passar para seus clientes a sensação de estar bem consigo mesmo e ao mesmo tempo de estar tecnicamenteatualizado e sempre atencioso. O técnico não deve se diminuir diante de prováveis exigências exageradas do turista. Deve se mostrar sempre atencioso e se mostrar competente e autoconfiante diante dele. Na verdade, o técnico de turismo estará sempre vendendo sua imagem para seus clientes. 39 E então, aluno(a), você viu como se caracteriza a autoconfiança? Deu para perceber as diferenças entre a autoestima e a autoconfiança e suas inter- relações? Espero que sim. Veja agora como os dois sentimentos em questão levam à liberdade interior. A liberdade interior é um sentimento que se baseia na necessidade e na vontade. Ser livre interiormente é ter vida psíquica livre de pressões pessoais e sociais. É evidente que a liberdade interior é condicionada às convenções sociais e, portanto, não é absoluta. A liberdade interior depende do contexto social em que o sujeito está inserido e implica responsabilidade consigo e com o outro. Uma necessidade, se não for fisiológica, é psicológica, subjetiva; é um ato da consciência pensante, emotiva e que age no mundo. Nas relações interpessoais, uma pessoa com liberdade interior sente-se livre para pensar independentemente dos modismos ou ideologias políticas. Ela sabe como se livrar das pressões do cotidiano, seja por um pensamento dirigido pela vontade de ser ela mesma, seja sendo fiel às suas próprias convicções, desenvolvendo assim um comportamento de autenticidade na sociedade. Quem é livre interiormente se lança nas situações, não esperando nem mais nem menos. Vive o aqui e o agora como uma oportunidade de se desenvolver como ser humano, de possibilitar oportunidades de melhorias relacionais para os demais. Com o exercício da subjetividade, a pessoa livre consegue subjetivar TÓPICO 3 Liberdade interior ObjetivO • Compreender a liberdade interior como um dos atributos para o bom relacionamento AULA 2 TÓPICO 3 Foto 12 - Andando na praia Fo nt e: w w w .la tin st oc k. co m .b r Matemát ica Bás ica I I4040 Re lações In te rpessoa is satisfatoriamente as situações (favoráveis ou não), estando disponíveis a serem cada vez mais livres com os outros. A falta da liberdade interior leva a pessoa a não aproveitar as oportunidades dadas, ficando mental e emocionalmente no passado, numa postura neurótica, ou “viaja” frequentemente ao futuro, criando ilusões com o que ainda não aconteceu. Perde, assim, a oportunidade de ser livre no presente, de tirar o melhor dele e de vê-lo como belo e prazeroso. Quem se sente de posse da liberdade interior é honesto consigo mesmo para se aceitar como é, com seus desejos e anseios, embora não pense em atingir a liberdade do outro, pois respeita os limites das outras pessoas. A liberdade interior é liberdade para pensar e agir. O pensamento autônomo é um pensamento interiorizado a partir das relações sociais mais longínquas da infância. A interiorização de ideias é comum dentro de um processo educacional informal acontecido no seio familiar. Porém, com o alcance e a independência do pensamento lógico, a afetividade da pessoa fica livre para alçar suas próprias rotas de voos. Saber exatamente o que se deseja na vida, como são seus reais valores, possibilita um posicionamento mental e emocional interior, os quais dão uma boa base pessoal ao convívio social, favorecendo condições de posicionamentos refletidos frente às outras pessoas. Pensar em limites e forças de ação dá à pessoa a necessária autonomia. A autonomia mental e emocional da pessoa livre interiormente surge a partir de um convencimento embasado em sua experiência de vida. Tal convencimento diz respeito ao que realmente interessa à pessoa, ou seja, quais são seus valores, o que ela elege como bom para si. Quem tem liberdade interior vive o dia-a- dia certo de seus valores, os quais foram eleitos por ela mesma e não por outrem. Cabe bem aqui uma pergunta inquietante: O que penso, sinto e desejo é o resultado do que faz parte da minha constituição enquanto ser-no-mundo ou é imposto sub- repticiamente pelos outros e mesmo assim ainda sinto que é meu? Para uma resposta honesta, é preciso um autoconhecimento, base da liberdade interior. Apoiamo-nos agora e aqui nas palavras de Riso (2013, p. 118): v o c ê s a b i a? Não é o fato de como a pessoa se apresenta socialmente que a faz ter liberdade. Não é o que ela fala ou diz sentir, mas é o que de mais verdadeiro ela sente dentro de si, na sua mais íntima interioridade. Realmente é uma sensação boa de sentir e viver com ela. É o conhecimento de si no exercício da sensibilidade pessoal que dá à pessoa as bases do desenvolvimento do sentimento da liberdade interior. 41 Gostando ou não, existe no ser humano, uma profunda exigência de sentido, um anseio pelo genuíno e pelo não contaminado que nos permita ser realmente livres. É o requerimento da autorrealização. Ansiamos por uma transformação interna e radical, uma forma de mutação que nos ponha em contato com nossa própria essência. Apresentamos aqui as características da pessoa que não tem liberdade interior: a. É constrito. O sentimento de liberdade interior é diametralmente oposto ao de ser constrito. Quando se é constrito, perde-se a vontade de ousar, de ser criativo, de viajar, de olhar as possibilidades em volta de si e de se movimentar psicologicamente buscando cada vez mais seu bem- estar. Um exemplo de uma constrição de si seria uma aflição por seus próprios pensamentos e por conta dos pensamentos e ideias dos outros. A construção cotidiana de pensamentos fixos, que não levam à ideia de abertura mental e emocional, deixa a pessoa presa a seu próprio cárcere interior, sem margem para a sensação de liberdade interior, a qual tem sempre suporte da força física e bem-estar corporal; b. Tem constantes preocupações. Quem vive preocupado não é livre. A liberdade interior exige relaxamento mental e emocional, quando, por exemplo, uma pessoa que não vive se preocupando em agradar alguém para se dar bem na vida. Qualquer atitude que fuja ao espírito de autonomia mental e emocional é uma atitude de constrição de si e, portanto, contrário ao conceito de liberdade interior; c. Desconhece a si mesmo. Ter liberdade interior implica ter um conhecimento prévio de si mesmo. Uma pessoa livre interiormente se compreende, açambarca seu ser total, tendo uma boa concepção dos motivos porque age de tal e tal maneira. Compreender-se é saber de seus sentimentos mais profundos, das condições básicas da sua afetividade, para se sentir livre; d. Tem medo de ser antipática. Evidentemente a pessoa não está vivendo socialmente para ser antipática. Porém, a pessoa sem liberdade interior tem medo da crítica social; não tem autonomia e autossuporte para ser si mesma; AULA 2 TÓPICO 3 g u a r d e b e m i s s o ! A liberdade interior implica uma consciência livre de pressões, de preocupações constantes e opressoras. Matemát ica Bás ica I I4242 Re lações In te rpessoa is e. Não exprime os seus desejos. É retraída, tímida. Tem medo da rejeição. Vê seus desejos como sendo inadequados a si mesmo. Não se respeita em termos de lutar pelo que quer. Vive uma vida de segunda categoria, com pouca intensidade, pois não tem forças para lutar genuinamente por aquilo que lhe é mais caro: suas necessidades. O grande psicólogo americano Abraham Maslow (1991, p. 150) refere-se à satisfação das necessidades quando defende que há relacionamentos bons e pobres: No transcurso de uma análise das relações humanas, não teremos senão a saída de enfrentarmos a necessidade, assim como a possibilidade, de diferenciar as relações boas das relações pobres. Tal distinção se pode fazer de forma aceitável, baseando-nos no grau de satisfação das necessidades básicas que a relação origina. Uma relação de amizade, de matrimônio, pais e filhos, se poderia definir (de uma maneira limitada)como psicologicamente boa se serve para apoiar ou melhorar o sentido pertinência, a segurança e a autoestima (e fundamentalmente a autorrealização), e definir como psicologicamente má se não é assim. f. Reprime suas opiniões. Enquanto os outros defendem suas opiniões, muitas vezes sem uma lógica interna de raciocínio, a pessoa sem liberdade interior torna-se refém de sua apatia emocional preferindo reter suas opiniões para não se comprometer com nada, ficando sem compartilhar opiniões, deixando de enriquecer o ambiente social com ideias; g. Vive a crítica como refutação. A crítica é um instrumento da convivência social instaurado para uma melhor vida em comunidade. Serve para mediar relacionamentos que estão descompensados de alguma forma. A crítica serve para balizar as relações sociais visando um melhor equilíbrio de ideias e sentimentos. Porém, a pessoa sem liberdade interior toma a crítica como se fosse algo pessoal, como um refugo de sua personalidade como um todo, quando na realidade a crítica descarta apenas parte da personalidade, como forma de um ajuste no convívio social; h. Medo de perder a pessoa amada. Insegurança é medo interior, é a tônica de quem tem esse tipo de medo. Ninguém tem controle sobre as coisas v o c ê s a b i a? No plano das ideias, a pessoa destituída de liberdade interior está sempre “em cima do muro”. 43 do coração. O amor vai embora se não for devidamente cuidado no dia- a-dia. A conjugação de duas pessoas no amor não quer dizer que um não possa viver sem o outro, se houver um rompimento. Haverá sofrimento, porém a liberdade interior é superior à dependência amorosa; i. Medo de doença. Até mesmo os livres interiormente têm medo de uma doença grave, porém suas mentes estão ocupadas com seus projetos e anseios a serem satisfeitos. Ficar constantemente pensando em adoecer não é sinal de saúde psicológica. A liberdade interior deixa a pessoa isenta desse tipo de medo. Ao contrário, ela tem plenas condições de viver sua saúde de forma intensa e plena; j. Pensa demasiadamente em dinheiro. Fala-se aqui da pessoa que tem um emprego e mesmo assim vive se remoendo de medo de não poder se manter financeiramente. A falta de liberdade interior a faz ficar dependente do dinheiro. Ela é mantida pela noção do ter e do consumir. A falta de harmonia interior, sem os sentimentos normais a respeito de si, a faz entregar-se à noção de vida a ser consumida em termos materiais, sentida em termos vazios de conquista pelo dinheiro. Acredita conseguir que o outro fique por perto, mas somente até enquanto o dinheiro não acabe; k. Dificuldade de se adaptar às situações. A pessoa sem liberdade interior cria muitas expectativas a respeito da vida e dos outros. E o pior, estas expectativas são permeadas do conceito de ideal. Ela espera relacionamentos ideais, maridos ideais, mulheres perfeitas, emprego fantástico, chefe compreensivo, irmãos bonzinhos, pais modernos, entre outras coisas. É necessário se descentrar dessas posições idealistas e investir em relacionamentos mais reais, mais acessíveis. Chegamos ao final do nosso tópico, no qual abordamos o sentimento de liberdade interior. Vimos que a liberdade interior pode se desenvolver a partir do exercício responsável da subjetividade da pessoa, a qual passa a se colocar no mundo com autonomia na sociedade. E pudemos ver também algumas características de quem não conseguiu desenvolver ainda a liberdade interior. Enfim, a liberdade interior é um primeiro passo para o exercício da liberdade social. AULA 2 TÓPICO 3 g u a r d e b e m i s s o ! O sentimento de liberdade interior atenua o medo de ser abandonado. 44 Re lações In te rpessoa is TÓPICO 4 Contentamento ObjetivO • Compreender contentamento como sentimento da harmonia interior Neste tópico, vamos ver o sentimento que surge como uma junção emocional dos três anteriores: o contentamento. Tal sentimento difere daqueles momentos felizes, os quais passam rapidamente, e logo se dissipa a disposição para a luta, para o prazer e para a vida em geral. O sentimento de contentamento, você verá que é bem mais consistente, bem mais duradouro, embora não signifique que a pessoa vá ficar constantemente em estado de euforia. Johnson e Ruhl (2000, p. 16) contam uma história que retrata genuinamente o perfil do homem satisfeito: Há um vendedor do coco chamado Arusacumar, que vive num barraco de bambu perto da cidade de Pondicherry, no sul da Índia. É um mestre da arte de cortar o topo de um coco verde com um facão, introduzir um canudinho e oferecê-lo a seus fregueses. Você se senta num saco de estopa cheio de cocos para saborear a sua água, pois é a única mobília de sua banca no meio- fio. Arasacumar é um dos homens mais contentes do mundo, e esse estado semidivino é extremamente contagiante. Ele canta e ri e faz você entrar no clima do Jardim do Éden, onde passa os seus dias. Poderia parecer que quem é contente tem necessariamente que viver em uma cabana na beira da praia ou viver rindo e cantando. Evidentemente que existem muitos perfis de pessoas contentes. O perfil de Arucusamar foi colocado aqui como um modelo de vida simples que contrasta com o modelo complexo e agitado de 45 viver da sociedade moderna. Cada qual pode ser contente a seu modo, se adaptando às contingências da vida. A razão do contentamento é uma vida calcada na sólida realidade. A pessoa contente se adapta às possibilidades dadas (LÜSCHER, 1993). Seu desprendimento faz dela uma pessoa pronta para fazer menos, ser equilibrada no seu agir na vida e a dar, podendo compartilhar o que tem com os outros. A plenitude dada pela satisfação possibilita à pessoa contente estar à vontade no mundo, como se ele todo fosse a sua casa, seu lar. O mundo que lhe é oferecido é vivido no presente, sem as teias da nostalgia do passado nem a incerteza do futuro. Ela vive de acordo com suas possibilidades. O contente se relaciona com as pessoas sem avaliá-las nem julgá-las. Sua autoconfiança lhe faz forte o suficiente para “se mexer” no mundo real, ponderando as circunstâncias em que se encontra, bem como as situações que podem se apresentar, a partir de uma compreensão lógica, com um bom-senso inteligente e adaptativo. Por outro lado, a pessoa desprovida de satisfação se relaciona com os outros de um modo inadequado à adaptação social. Sente como estranho o mundo social, as pessoas do trabalho e até seus familiares. Ressente-se da falta de confiança mútua com as pessoas e lhe falta um sentido de solidariedade (LÜSCHER, 1994). Toda essa falta resulta numa solidão interior, um afastamento interior das pessoas com as quais convive. Para não sentir o isolamento interior, se empenha em fazer muitas coisas, não se permitindo relaxar nem saborear os prazeres da vida. O descontente é hipersensível. De repente, perde a paciência com as pessoas. É irrequieto. Quando sente o comportamento do outro como desagradável ou ofensivo, a pessoa descontente se distancia dele ou chega até a fugir (LÜSCHER, 1994). A pessoa privada de contentamento vive numa dependência insatisfatória. Falta-lhe a capacidade de empatia com o outro. Como um modo exagerado de vivenciar seu descontentamento, anseia viver com o outro uma relação de tranquilidade inabalável, com proteção absoluta e satisfação contínua. Evita convivência tensa para não sentir raiva. Quer relações privadas de qualquer conflito para poder “se abandonar”. AULA 2 TÓPICO 4 s a i b a m a i s ! Estar satisfeito é viver de acordo com a realidade; significa vivê-la como ela se apresenta, exatamente como é. Significa não construir ilusões nem pedir demais da vida, a ponto de se obstinar em buscas contínuas de dinheiro, prestígio e reconhecimento. Matemát ica Bás ica I I4646 Re lações In te rpessoa is Chegamos ao final da aula 2. Tratamos dos sentimentos da harmoniainterior. Tais sentimentos devem ser estudados sempre na perspectiva de que são importantes para o bem- estar da pessoa e consequentemente para a sua interação com os outros. O ser humano é melhor com os outros quando é melhor consigo mesmo. Quanto mais cultivados esses sentimentos, mais integrado é o ser humano consigo mesmo e com os outros. AT I V I D A D E S D E A P R O F U N D A M E N T O 1. Quais são os quatros sentimentos da harmonia interior? 2. Por que uma pessoa que tem harmonia interior está mais bem preparada para se relacionar com os outros? 3. De acordo com as posições de Vernieri(2006) como o autoconhecimento pode desenvolver a autoestima? 4. Explique a seguinte frase do texto: “Ter autoestima implica sempre sentir-se suficiente, seja em momentos piores ou melhores da vida”. 5. Explique: a autoestima diz respeito ao poder ser e a autoconfiança ao poder fazer. 6. Explique a seguinte frase do texto: “uma pessoa com liberdade interior sente-se livre para pensar independentemente dos modismos ou ideologias políticas”. 7. Cite e comente três características da pessoa que não tem liberdade interior. 8. De acordo com o texto, caracterize uma pessoa que contém em si o sentimento de contentamento. v o c ê s a b i a? Uma particularidade da pessoa descontente é sua tendência à saciedade e à distração. Tende a comer demais, a beber muito e a fumar em demasia. Pode facilmente se obstinar com seu trabalho, tendo cobiça e medo de acontecer o pior. Sente que está se sacrificando quando ajuda os outros e é dependente nas relações amorosas. 47 S U G E S T Õ E S D E L E I T U R A S BOWLBY, John. Formação e rompimento dos laços afetivos. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. DUCLOS, Germain; LAPORTE, Danielle; ROSS, Jacques. A auto-estima dos adolescentes. São Paulo: Paulus, 2008. EKMAN, Paul (editor). Consciência emocional: uma conversa entre Dalai Lama e Paul Ekman. São Paulo: Prumo, 2008. GOUNELLE, Laurent. O homem que queria ser feliz. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. LE BRETON, David. As paixões ordinárias: antropologia das emoções. Petrópolis: Vozes, 2009. PERRON, J. Bases e aplicações dos valores em psicologia. Porto Alegre: Sagra,1987. SCHNEIDER, Kirk J. O eu paradoxal: para o entendimento de nossa natureza contraditória. Petrópolis: Vozes, 1993. TAYLOR, Ros. Você sabe desenvolver autoconfiança?: construa uma abordagem positiva na vida e o trabalho. São Paulo: Editora Senac, 2009. MARTI, Lorenz. Como um místico amarra os seus sapatos: o segredo das coisas simples. Petrópolis: Vozes, 2008. STOCKER, Michael; HEGEMAN, Elizabeth. O valor das emoções. São Paulo: Palas Athena, 2002. AULA 2 TÓPICO 4 48 Re lações In te rpessoa is AULA 3 Da inteligência emocional à inteligência social Vimos nas duas primeiras aulas a fundamentação para melhor nos relacionarmos. Esta aula tratará de dar mais praticidade aos conceitos das duas primeiras. Vamos falar de uma nova maneira de ser inteligente: a inteligência emocional e sua “prima” mais exigente, a inteligência social. O que se conhece hoje por inteligência emocional é simplesmente uma nova forma de encararmos o que realmente significa sermos inteligentes. O termo “emocional” acrescentado ao termo inteligência denota que para sermos inteligentes torna-se necessário considerar e desenvolver requisitos emocionais, os quais são acrescentados aos princípios do conceito de inteligência clássica, ou seja, a inteligência como algo exclusivo da razão, da capacidade de fazer cálculos ou memorizar algo por um bom tempo. E, daremos forma ao conceito de inteligência social e suas aplicações no mundo da hotelaria. A inteligência social é uma forma de inteligência emocional mais aprimorada, voltada inteiramente ao contato social extremamente humano, tão necessária ao empregado de hotel. Objetivos • Reconhecer a inteligência emocional como uma operacionalização dos princípios do comportamento humano e do conceito de harmonia interior • Relacionar as características da inteligência emocional • Avaliar a importância da inteligência social nas relações com os turistas e hóspedes 49AULA 3 TÓPICO 1 Vários psicólogos nos Estados Unidos, entre os quais, Daniel Goleman (2001), vêm há tempos estudando a influência das emoções no modo de o ser humano se comportar, a influência dessas mesmas emoções no sucesso profissional e, no que é mais importante, no bem-estar individual das pessoas. Em resumo, a inteligência emocional é o bom gerenciamento das emoções que a pessoa executa com a finalidade de se sentir bem na vida e de se relacionar bem com os outros. Estudos da neurociência estão em pleno desenvolvimento. Através deles, pesquisadores tentam explicar como os neurônios (células nervosas) funcionam e como influenciam o comportamento social do homem. Estudos realizados com estudantes universitários dos Estados Unidos revelaram que nem sempre os alunos mais inteligentes (aqueles que têm maior Q.I) se projetavam no meio profissional. Por outro lado, os estudos também mostraram que aqueles que eram apenas alunos medianos, conseguiam se colocar bem profissionalmente. Qual a razão dessa aparente contradição? Aos alunos brilhantes faltava a extroversão, o bom papo, a capacidade de ver aspectos globais de suas vidas, capacidade de mudar, maior aceitabilidade do outro TÓPICO 1 Panorama geral sobre a inteligência emocional ObjetivO • Discutir o conceito de inteligência emocional s a i b a m a i s ! Q.I. é a sigla de Quociente de Inteligência. Para o professor Dorsch e colaboradores, o Q.I. é a “medida da capacidade intelectual de uma pessoa” (2004, p. 498). Matemát ica Bás ica I I5050 Re lações In te rpessoa is e capacidade de sentir as reações das pessoas. Enquanto os alunos medianos tiravam mais vantagem do convívio social, pois valorizavam também as pessoas, além de seus próprios empenhos intelectuais. Em resumo: os alunos emocionalmente inteligentes eram ajudados pelas pessoas que eles valorizavam. A inteligência emocional implica primeiramente um sentir a si mesmo. É o reconhecimento das próprias emoções, reconhecimento esse muitas vezes embotado pela pressa do dia a dia, pelo estresse ou simplesmente pela falta de valor que as pessoas dão a isso. O reconhecimento de “como estou me sentido agora” é fundamental para uma boa saúde física e psíquica. Saber mesmo quais são as nossas reais necessidades já é meio caminho andado para a busca da realização total. Depois, sentir o outro. É o aspecto social da inteligência emocional. O emocional não teria sentido se a pessoa não pudesse compartilhar de seu bem-estar (ou mal-estar) com as outras pessoas. Consideremos esse compartilhar em todos os âmbitos da vida humana: em casa, no trabalho ou no lazer. As grandes empresas do mundo estão hoje cada vez mais convencidas de que é preciso humanizar-se para um futuro promissor. Essa nova perspectiva provoca a valorização das necessidades do trabalhador, que passa por melhores salários e um bom convívio dentro das organizações. Isso implica em cada vez mais treinamentos de relações sociais para os empregados e maior qualidade nas seleções de pessoal. Veja que os empregadores não querem somente pessoas com bom currículo, mas pessoas criativas e com poder de liderança. O lado social da inteligência emocional torna-se obrigatório, pois as emoções do homem somente podem se desenvolver com a aprovação do outro. Nosso desenvolvimento mais importante é o emocional. Veja-se o biológico: crescemos sem fazer o menor esforço para tal. O aspecto intelectual da inteligência é normalmente desenvolvido nas atividades corriqueiras e burilado pela escola. Porém, o lado emocional é outra coisa. O fato de considerarmos o ser humano como muito complexo reflete a dificuldade de vermos os outros a partir do ponto de vista emocional deles. Eis aí delineado a grande dificuldade da convivência social.Desse modo, a inteligência emocional se apresenta como um novo modo de o ser humano se comportar. A inteligência para cálculos, a rapidez de raciocínio - desde há séculos sempre bem aceita e sinônimo de sucesso profissional, agora é confrontada pela inteligência emocional. A inteligência para cálculos sempre esteve ligada a uma visão machista da 51 sociedade. Propagou-se, por exemplo, a ideia de que o homem é mais inteligente que a mulher porque justamente ele conseguia se sair melhor com os cálculos. Ora, existe aí um equívoco. Tudo isso se desenvolveu para colocar a mulher presa em casa cuidando de afazeres domésticos e da família, enquanto o homem saía de casa e cuidava dos negócios. Havia, na verdade, interesse em a mulher ser sentimental. Antigamente ser sentimental era prova de incapacidade de fazer cálculos ou gerir negócios. Como as condições sociais mudaram, hoje se pode falar mais sobre emoções. Porém, tanto o homem como a mulher têm necessidade de trabalhar mais suas emoções. A vida sempre cobrou da humanidade um tributo muito alto. Somente a aceitação e o desenvolvimento de um trabalho emocional farão esse tributo ficar bem menores. As características da inteligência emocional descritas adiante podem ser acrescentadas de reflexões acerca do trabalho do profissional do turismo e hospedagem. Pode-se dizer que é uma inteligência emocional aplicada ao trabalho deste profissional. AULA 3 TÓPICO 1 s a i b a m a i s ! Na verdade, há capacidades iguais para ambos os sexos. O que aconteceu historicamente foi o exercício do lado intelectual, racional do homem, a favor dos seus interesses, e o desenvolvimento do lado emocional para a mulher, tomada como fraca e como intelectualmente inferior. 52 Re lações In te rpessoa is TÓPICO 2 Conhecer as próprias emoções ObjetivO • Compreender a importância de levar em conta as próprias emoções Caro(a) aluno(a), espero que você tenha apreciado esta nova perspectiva sobre ser inteligente. É bem mais democrática, não? Claro que é sim. Ser emocionalmente inteligente nos dá a motivação para conquistar a vida através das relações sociais, pois sabemos agora que somente a inteligência determinada pelo quociente de inteligência não é suficiente para vencer na vida. Então, vamos continuar nessa caminhada para saber quais são as características da inteligência emocional. Iniciemos pela autoconsciência. Reconhecer um sentimento quando ele ocorre é a pedra fundamental da inteligência emocional. A capacidade de controlar sentimentos a cada momento é crucial para o discernimento emocional e a compreensão de si. A incapacidade de observar nossos verdadeiros sentimentos nos deixa à mercê deles. As pessoas de maior certeza sobre seus próprios sentimentos são melhores pilotos de suas vidas, tendo um sentido mais preciso de como se sentem em relação a decisões pessoais, desde com quem se casar a que emprego aceitar. A autoconsciência se traduz em a pessoa ter um domínio cognitivo de como ela funciona emocionalmente em qualquer situação. A autoconsciência é a forma prática do autoconhecimento. Em uma obra recente, Goleman (2012) considera o autoconhecimento, juntamente com a gestão dos estados interiores, como facetas do autodomínio. O autoconhecimento também é o ideal socrático com sua máxima “Conhece-te a ti mesmo”. Krishnamurti (2010, p.54), Foto 12- Sócrates Fo nt e: h tt p: // up lo ad .w ik im ed ia .o rg /w ik ip ed ia / 53 com simplicidade em sua eterna sabedoria, assim se expressa sobre a genuidade do processo de conhecer a si mesmo: Cada um de nós deve se conhecer como é, não como deseja ser, pois isso é apenas um ideal e, desse modo, algo fictício, irreal. Só aquilo que é pode ser transformado, não aquilo que se deseja que seja. Saber o que se é requer uma extraordinária capacidade de percepção mental, porque o que é está constantemente passando por transformação, mudando, e, para segui-lo em sua rapidez, a mente não pode estar amarrada a nenhuma crença, nenhum dogma, nenhum padrão de ação. Dessa forma, torna-se necessário, inicialmente, o técnico de turismo passar a conhecer a si mesmo. No âmbito da Psicologia, existe uma frase que se configura como uma regra básica: “Ninguém pode conhecer mais ao outro do que a si mesmo”. Ao longo do processo evolutivo, o homem desenvolveu seus cinco sentidos para permitirem uma conscientização corporal e também uma relação com o ambiente. Então, o caminho inicial de se reconhecer as próprias emoções passa pela percepção corporal. O conhecimento de si passa primeiramente em dar atenção ao próprio corpo. Nosso comportamento muitas vezes é pautado e dirigido para as necessidades do nosso corpo e às vezes não nos damos conta disso. Capacidade de relaxar e de se colocar em prontidão fazem a diferença entre uma pessoa produtiva e uma improdutiva. Assim, o profissional do turismo e hospedagem pode fazer exercícios de autopercepção corporal, utilizando seus cinco sentidos. Reconhecer as necessidades orgânicas não se tornou uma prática em nossa sociedade globalizada. Quando nos comportamos na contramão de nossas necessidades orgânicas, passamos a desenvolver neuroses, ou seja, um comportamento não integrado nas instâncias do conhecer, do sentir e do agir. Na verdade, torna- se difícil agir de outra forma, pois tendemos a não reconhecer nossas necessidades físicas. Se há, por exemplo, uma necessidade sexual emergindo e não a satisfazemos, dirigindo nosso comportamento para outra esfera da vida, a necessidade sexual ainda estará lá, tentando fazer-se notada pela consciência débil de uma pessoa que não está integrada consigo mesma. Então, tal v o c ê s a b i a? Segundo o dicionário Aurélio (HOLANDA, s/d), neurose é “uma perturbação mental que não compromete as funções essenciais da personalidade e em que o indivíduo mantém penosa consciência de seu estado” (p. 971) AULA 3 TÓPICO 2 Matemát ica Bás ica I I5454 Re lações In te rpessoa is necessidade sexual estará atuando em surdina, tentando ser satisfeita, e como tal poderá possibilitar o surgimento de outras necessidades. As necessidades emocionais, pela sua natureza etérea, não irão ser facilmente reconhecidas como as necessidades físicas. Partindo somente desse fundamento, não se entende como a cultura ocidental teima ainda em renegar os sentidos. As emoções também podem ser reconhecidas. É interessante sabermos que temos as mesmas necessidades, mas não as sentimos com a mesma intensidade e nem ao mesmo tempo. Cada necessidade é igual em sua essência, mas é manifestada de acordo com o ritmo de ser de cada pessoa. Sentimos sede, mas não sentimos sede ao mesmo tempo, e alguns sentem mais sede que outros. O mesmo acontece no plano emocional. Saber o que sentimos a cada momento nos impulsiona para a satisfação das nossas necessidades. Ora, se não sei de minhas necessidades físicas e emocionais, que rumo vou tomar em minha vida? E na vida profissional? Aproveitamos aqui essa reflexão para dizer que a vocação genuína passa por uma revisão de vida, revisão do que se necessita para viver uma vida plena e sociavelmente produtiva. Necessita-se mais de dinheiro ou mais de bem-estar? Como cada um vai conciliar essas necessidades? O profissional de turismo e hospedagem emocionalmente inteligente tem a capacidade de reconhecer seus próprios sentimentos em situação de trabalho, principalmente em situações conflitantes entre suas opiniões e a dos turistas. Isso vai, no mínimo, lhe possibilitar saber seus limites, sua capacidade de suportar pressão, sua paciência diante de um provável turista intransigente. Conhecendo- se emocionalmente, pode o profissional saber onde melhor se adequar na sua profissão, podendo, por exemplo, ficar trabalhando em um setor em que não se exponha muito, se tiver um traço de personalidade muito explosivo.Se ele se reconhecer como um tímido, pode escolher trabalhar onde existam poucas pessoas, diminuindo assim sua tensão social. Estes são apenas alguns exemplos para uma reflexão mais aprofundada sobre esse tema específico da área de turismo. s a i b a m a i s ! Torna-se importantíssimo ao profissional de turismo e hospedagem primariamente participar de trabalhos e dinâmicas de grupo, trabalhos que exijam dele uma participação ativa, nos quais ele tenha inevitavelmente que ceder, fazer concessões, como também tomar para si uma postura de exigir direitos e “amarrar” opiniões sem se distanciar do grupo. É a manutenção de um equilíbrio nesse jogo de dar e receber nos trabalhos em grupo que vai dar ao profissional de turismo e hospedagem a experiência necessária ao bom manejo de suas emoções e o conhecimento das emoções dos outros. 55AULA 3 TÓPICO 3 Já aprendemos que saber o que sentimos a cada instante é bastante proveitoso para nos relacionarmos com os outros. Agora vejamos como é lidar com as próprias emoções, o que fazer com elas quando surgem na nossa consciência. Lidar com os sentimentos para que sejam apropriados a uma situação social específica é uma aptidão que se desenvolve pela autoconsciência. Exige-se para isso capacidade de confortar-se, livrar-se da ansiedade, tristeza ou irritabilidade. As pessoas fracas nessa aptidão vivem constantemente “cultivando” sentimentos negativos, enquanto as fortes permeiam sua mente com pensamentos positivos e esperançosos e se recuperam com muito mais rapidez das dificuldades e dos reveses da vida. A administração das emoções é a habilidade de administrar a ansiedade, de controlar impulsos ou de direcionar a raiva à pessoa certa, na medida certa e na hora certa. Os antigos já nos falavam da dificuldade que é controlar as emoções primitivas. Tal dificuldade existiria, diziam eles, porque o organismo segrega líquidos que controlariam os humores. Líquidos mais claros estariam relacionados com sentimentos leves, de bondade, enquanto líquidos negros, mais pesados, densos, seriam responsáveis por rasgos de raiva, ódio ou sentimento de vingança. 3.1 MOTIVAR-SE Saber motivar-se é uma outra característica da inteligência emocional. As pessoas que têm essa capacidade tendem a ter mais alta produtividade e TÓPICO 3 Lidar com emoções ObjetivOs • Avaliar a importância de administrar as próprias emoções. • Aprender o significado de automotivação e destacar sua importância na relação consigo mesmo e com o outro • Analisar o significado de empatia destacando seu impacto nas relações interpessoais Matemát ica Bás ica I I5656 Re lações In te rpessoa is eficácia em qualquer atividade que empreendem. Vejamos como isso acontece. A automotivação é a habilidade de persistir e de se manter otimista mesmo diante de problemas. Há pessoas que, ao simples sinal de uma dificuldade, se bloqueiam em sua ação, não se movimentam em seu problema, ficam como que paralisadas. Outras, por sua vez, não se intimidam tanto, ou simplesmente não se intimidam, não se preocupam. Os que sabem se motivar sofrem pouco com a adversidade. Logo conseguem se refazer, saindo mais rápido do emaranhado das dificuldades, conseguindo antever uma luz no fim do túnel e até um leque de possibilidades. Vêem, assim o “outro lado da moeda”. Bouillerce e Rousseau (2004, p. 19) nos dizem que: “É importante lembrar que, assim como temos o poder de ser infelizes, de resistir, temos também o poder de nos motivarmos para ser feliz”. 3.2 RECONHECER EMOÇÕES NOS OUTROS As três primeiras características da inteligência emocional são: conhecer as próprias emoções, lidar com as próprias emoções e motivar-se. As três se referem ao conhecimento de si ou autoconhecimento, enquanto as demais dizem respeito ao conhecimento do outro. A característica que agora iniciamos refere-se a ser empático, isto é, ter empatia, que é a capacidade emocional de se colocar no lugar do outro, tentar perceber o que ele está sentindo em determinado momento. O reconhecimento de emoções nos outros é também chamado de empatia. A empatia, embora se origine na autoconsciência emocional, se desenvolve no exercício social, com os outros. As pessoas empáticas estão mais sintonizadas com os sutis sinais sociais que indicam de que os outros precisam ou o que querem. Isso as torna melhores em vocações, como as de profissões assistenciais, de ensino, de vendas e de administração. O ponto crucial da empatia é a habilidade de se colocar no lugar do outro, de entender esse outro e de perceber sentimentos não verbalizados, individuais ou em grupo. A pessoa empática não consegue sentir exatamente o que o outro sente, porém chega perto disso, dependendo de sua experiência nesse aspecto. Tal característica é extremamente importante para o profissional g u a r d e b e m i s s o ! Convém, no entanto, não confundir empatia com simpatia. A simpatia é a competência social de ser sorridente, de ser aberto socialmente e de dar abertura ao outro, enquanto a empatia é a competência de perceber as emoções nos outros. 57 de turismo e hospedagem, uma vez que ele lidará com os turistas. Estes últimos, muitas vezes, estando sedentos de atenção e de prestígio, exigem muitas vezes um serviço em nível de excelência. AULA 3 TÓPICO 3 58 Re lações In te rpessoa is TÓPICO 4 Lidar com relacionamentos ObjetivO • Discutir sobre como é possível reagir às intervenções sociais dos outros Você, aluno(a), se sentiu como um psicólogo tentando penetrar na mente emocional do outro? Sabemos que não é preciso ser um especialista com um diploma de psicólogo para isso. Porém, é preciso certa disposição emocional para “cuidar” do outro. Veja que cuidar aqui quer dizer dar atenção emocional, amparar, ser solidário e até proteger quando possível. Agora vamos a um ponto mais geral da inteligência emocional, que é lidar com relacionamentos. Lidar com relacionamentos é a competência de reagir às reações emocionais dos outros, interagindo com tato. Os psicólogos da geração anterior à Goleman (2001) advogavam que se sair bem com vários tipos de pessoas é ter um bom nível de inteligência, o que chamavam de inteligência social. Os diplomatas, por exemplo, precisam tê-la bem desenvolvida. A arte dos relacionamentos é, em grande parte, a aptidão de lidar com as emoções dos outros. Há competência ou incompetência nesse sentido. Devemos desenvolver as aptidões específicas envolvidas. São as aptidões que reforçam a popularidade, a liderança e a eficiência interpessoal. As pessoas excelentes nessas aptidões se dão bem em qualquer coisa que dependa de interagir tranquilamente com os outros; são estrelas sociais. v o c ê s a b i a? Além da boa educação e da etiqueta, torna- se imprescindível ao preparo do profissional de turismo e hospedagem um bom treino em inteligência emocional. 59 A necessidade de manter contato quase que permanente com pessoas exige do profissional um equilíbrio emocional de base. É esse equilíbrio interno que vai ditar se o jovem profissional terá destaque ou não em sua profissão. O contato com o grande público pode ser vivificante, mas pode também ser desgastante, se o profissional não estiver devidamente cônscio de suas possibilidades e limites e das possibilidades e limites dos outros. Realmente, a automotivação é uma capacidade do técnico de turismo bem integrado com o que faz. A partir de bons conhecimentos técnicos e do sentimento que vem daí decorrente, ele tem que ser honesto consigo, no sentido de perceber se se sente bem na profissão, se a recompensa é mais interna que externa (dinheiro). Há profissionais que não ganham muito, mas sentem-se tão bem em seu fazer social que não temem continuar em sua profissão. A capacidade de se motivar trabalhando com turismo e hospedagem se operacionaliza no gosto pelo contato com outraspessoas, no gosto pela comunicação, no gosto de estar junto e de servir com um prazer que vem de dentro, superando algo meramente mecânico. É claro que a capacidade de se motivar passa também pela capacidade orgânica da pessoa. Órgãos e circulação sanguínea saudável ajudam a pessoa sentir aquela energia vital natural, impulsionando-a a conseguir seus objetivos. Atualmente a medicina tem recursos para tratar de possíveis debilidades orgânicas, e a psicologia está aí para treinar a parte emocional para a automotivação. O profissional do turismo e hospedagem bem engajado em seu mundo profissional terá menos tensão, sentimento próprio dos relacionamentos sociais e profissionais. Sua tensão será tal que ele terá energia livre para atentar para o lado não explícito de seus clientes, os turistas, ou mesmo de seus colegas de trabalho. Chamamos de lado não-explícito as emoções sentidas, porém não exteriorizadas. Ora, o bom técnico de turismo, bem treinado para trabalhar em grupo e bem confortável em sua vocação, terá capacidade de reconhecer emoções não comunicadas pelas vias tradicionais. De um modo geral, todas as características descritas e comentadas acima preparam o técnico de turismo para o coroamento de seu preparo, que é a capacidade AULA 3 TÓPICO 4 g u a r d e b e m i s s o ! Fazer um trabalho que nos dá prazer nos dá motivação. E o que é melhor, nos dá motivação interna, aquela por meio da qual a pessoa se sente mais recompensada com os ganhos individuais do que com o dinheiro ganho com sua profissão. Matemát ica Bás ica I I6060 Re lações In te rpessoa is de se relacionar. É exigido do profissional de turismo muito mais do que o simples contato social. Todas as características comentadas até aqui o colocam em um patamar de excelência na execução de seu trabalho. Dizemos sempre que somente o preparo técnico não é suficiente para o técnico despontar como um excelente profissional. No relacionamento profissional, existem demasiadas situações que não se podem prever. São situações, na maioria das vezes, que implicam desconforto psicológico para ambos os lados envolvidos, ou seja, para o profissional e para os turistas. Ora, mesmo numa situação de desconforto, o turista está ali numa situação privilegiada. É o profissional, com preparo emocional, que deve “controlar” a situação, de forma que o cliente não fique emocionalmente desconfortável. O técnico está ali como alguém disponível para “sanar” essas possíveis situações. É como o profissional lida com suas próprias emoções que vai determinar sua conduta nos relacionamentos profissionais. Ele pode até ter que “engolir sapos”, mas é o modo como ele introjeta isso em sua consciência, se trabalhando ou não em relação ao acontecido, que vai determinar seu êxito na profissão. Lidar com relacionamentos implica, para o profissional de turismo e hospedagem, ter, por exemplo, que exigir o cumprimento de regras sem ser rude. Ou ter que fazer o que deve ser feito, sem arrependimentos ou culpas. E ainda, ter que dizer umas verdades a um colega, sem ofendê-lo. Para isso é preciso treino com suas próprias emoções e com a dos outros. É de extrema importância para qualquer profissional moderno ter, além da competência técnica, a competência emocional. Sabe-se hoje facilmente que a inteligência tradicional (traduzida nos meios científico-psicológicos como quociente de inteligência - Q.I) não é mais suficiente para alguém desempenhar a contento suas funções num emprego, seja atuando em uma organização, seja atuando como profissional liberal. v o c ê s a b i a? Geralmente as emoções são transmitidas pelo corpo. Pierre Weil e Roland Tompakow (1980) nos dizem que o corpo fala. Há estudos em psicologia que são de excelente ajuda para o técnico de turismo, como a habilidade de “ler” rostos. Os autores tratam da necessidade de nos atentarmos para a linguagem silenciosa. 61AULA 3 TÓPICO 5 Estimado(a) aluno(a), vamos refletir juntos sobre uma coisa: tem fundamento a gente estudar bastante conteúdo sobre como ser inteligente no trato com as pessoas se não utilizar esse mesmo conteúdo? Para que ficar emocionalmente mais desenvolvido, sensível a si mesmo e à vida se não operacionalizarmos tais conteúdos? Se não os colocarmos a nosso favor? Ora, é justamente pela necessidade de tirar proveito desses conteúdos que agora vamos compreender como aplicá-los no trato social. É sabido que o aspecto social é tratado desde há muito tempo pelos filósofos antigos e modernos, mas nunca com a propriedade dos dias atuais, pois os estudos hoje são fundamentados pela neurociência. Goleman (2006) aprofundou ainda mais seus estudos e chegou à conclusão de que a parte mais interessante da inteligência emocional é podermos tirar o máximo de proveito social dela. Vejamos como as palavras do próprio Goleman reforçam a necessidade de um melhor aprofundamento nos estudos da inteligência social: “O surgimento mais recente da neurociência significa que chegou a hora de ressuscitarmos a inteligência social em condições de igualdade com sua irmã, a inteligência emocional” (2006, p. 376). Assim sendo, amparado pelos avanços da neurociência, o pesquisador estudou TÓPICO 5 Da inteligência emocional à inteligência social ObjetivO • Analisar a diferença entre inteligência emocional e inteligência social s a i b a m a i s ! Como vimos nas aulas anteriores, o psicólogo americano Daniel Goleman é considerado o “pai” da inteligência emocional. Ele foi o pesquisador que sistematizou de uma vez por todas os conteúdos sobre o assunto e revelou para o mundo a importância de sermos emocionalmente inteligentes. Matemát ica Bás ica I I6262 Re lações In te rpessoa is o aspecto social da capacidade de ser emocionalmente inteligente e desenvolveu mais o tema, passando de aspectos do eu emocional interior para o eu emocional social. Fez surgir, então, a ideia de inteligência social. Esta, por sua vez, não é nada mais que estar atento às nossas emoções e às emoções das outras pessoas. É interessante notar que a inteligência social no nosso desenvolvimento psicológico não deveria constituir um problema, já que somos seres sociais, como nos disse Aristóteles, o maior filósofo que o mundo já conheceu. Por que isso? Quando falamos de problemas, queremos dizer nos referimos a problemas de relacionamentos. Ora, sabemos que o ser humano nasce e se desenvolve em determinada cultura, aprende seus costumes, seu idioma, seu modo de se comunicar e de se comportar em sociedade. Como estamos equipados biologicamente para vivermos em sociedade, tal processo de socialização não deveria apresentar problemas. O que conhecemos por socialização não é nada mais que nascer e se desenvolver dentro de padrões culturais, experimentando as vivências sociais e emocionais que esse processo natural possibilita. É evidente que cada pessoa vai reagir emocionalmente diferente diante de cada situação cotidiana que for produzida. E, como já observamos anteriormente, o produto emocional resultante desse processo de socialização é que será determinante para o futuro social da pessoa. Por terem reações internas altamente subjetivas, produzem pensamentos e sentimentos extremamente qualitativos e individuais. Mas, para muitas pessoas, parece que essa vivência natural não é suficiente para se sentirem socialmente à vontade na convivência social. Visto que se sentem desconfortáveis, essas pessoas produzem um desconforto psicológico para si mesmas. Tais desconfortos vão desde uma timidez branda até um medo intenso de interagir com outras pessoas. A notícia boa para quem sofre esses problemas de relacionamento social se traduz nos últimos estudos sobre a inteligência social, os quais, baseados nos avanços da neurociência, apontam para a possibilidade de se poder desenvolver a inteligência social treinandodeterminados aspectos adequados para uma boa interação, eliminando aspectos falhos e comprometedores desse tipo de interação. v o c ê s a b i a? É o modo emocional de reagir, no interior de cada um, por meio de interpretações cognitivas, que vai determinar se a pessoa vai se sair bem no contato com os outros ou não. 63 Um aspecto importante da inteligência social é que ela é possibilitada também pela intuição. Intuição aqui se apresenta como um processo interno ao indivíduo, o qual lhe permite chegar a conclusões e atitudes sem considerar o raciocínio ou o uso de estratégias previamente arquitetadas pela própria pessoa. A intuição se apresenta como uma característica inata, que pode ser exercitada quando relaxamos psicologicamente e tomamos uma atitude “menos científica”, passando a considerar, por exemplo, outros aspectos da vida que não os racionais. Como um exemplo social de intuição, tomemos duas pessoas quando se apresentam. Uma mais intuitiva que racional sente que algo não vai bem com a outra pessoa, passando a sentir um desconforto interno meio que sem explicação. Ela não sabe bem dizer o que é, porém sabe que algo está em desequilíbrio na outra pessoa. O que aconteceu aqui? Ora, a pessoa intuitiva “percebeu” que a outra possuía algum desvio de caráter, por exemplo. E como ela conseguiu tal façanha? Como isso acontece, a ciência ainda não consegue explicar. Com o andamento do desenvolvimento dos estudos cerebrais é quase certo surgir uma explicação científica para essa sensação a qual chamamos de intuição. A passagem da inteligência emocional para a inteligência social é exatamente esse movimento psicológico de sair de si mesmo, se descentrar emocionalmente e ter a atitude humana, bem humana, de se interessar pelo que o outro sente, utilizando muitas vezes a intuição para isso. Se o processo não for concluído, o movimento para a realização da inteligência social fica pela metade, pois, na verdade, para nos sentimos bem socialmente, é necessário treinar a exteriorização da inteligência emocional, ou seja, é necessário ficarmos mais inteligentes nos comportamentos relacionados aos outros. Um pequeno investimento em treinamentos sistematizados, com certeza, melhorará muito a competência social de uma pessoa. Mesmo uma simples disposição para ser melhor nesse campo do social - seja no trabalho, escola ou na família - já favorece uma melhoria na convivência com os outros, dizem os especialistas. AULA 3 TÓPICO 5 s a i b a m a i s ! O reconhecimento do que sentimos em nosso interior faz parte da inteligência emocional, lembra? Mas isso não basta para sermos socialmente inteligentes. A inteligência social requer a utilização do conhecimento que temos sobre esses sentimentos interiores dos outros com o intuito de melhorar a relação interpessoal. Devemos, então, saber e fazer algo positivo com esse saber, ou seja, devemos otimizar as relações sociais. 64 Re lações In te rpessoa is TÓPICO 6 A pessoa socialmente inteligente ObjetivOs • Apresentar as características da inteligência social, bem como uma visão global sobre o assunto • Apresentar uma visão global da inteligência social como elemento crucial para se relacionar melhor Então, aluno(a), como estamos nessa caminhada em busca de uma melhor interação social? Lembre-se de que, mesmo tendo lido até aqui sobre o assunto, você já está a meio caminho para melhorar as habilidades que favorecem a inteligência social. Aos poucos vamos adentrando nas minúcias emocionais desse tipo de inteligência. De agora em diante, vamos considerar aspectos e exemplos de situações sociais que mostram como cada uma das características da inteligência social são aplicadas por pessoas que se dão bem nessa área e também exemplos de posicionamentos não satisfatórios ao sucesso social. Às vezes, o que faz a diferença entre uma atitude de sucesso com os outros é um simples pensamento dito ou não , dependendo da ocasião. É evidente que, em toda relação social, existe o risco da rejeição, porém as pessoas normalmente estão sedentas por atenção, carinho e cuidados afetivos. Então vale a pena investir na maior das aventuras humanas: entrar no mundo da afetividade. Como ainda não há uma teoria unificada a respeito da inteligência social, também é presumível que as características desse tipo de inteligência sejam as mais variadas. Apresentaremos, neste tópico, as características at e n ç ã o ! Esperamos que você se concentre bem nas duas grandes áreas da inteligiencia social e em seguida nas caracteristicas da inteligencia social, que se encontra em nosso material complementar, prestando atenção nas nuances de certos posicionamentos que se retratam em emoções que percebemos quando estamos junto às outras pessoas. 65 propostas por Goleman (2006). Esse autor relaciona as características da inteligência social às da inteligência emocional. REFINANDO OS RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS Goleman (2006) divide a inteligência social em duas grandes áreas: a consciência social e a facilidade social. a. Consciência social: é a capacidade de ver o que os outros estão sentindo quando interagindo socialmente. Envolve uma apreensão instantânea dos sentimentos dos outros. A compreensão desses sentimentos favorece uma noção bem completa de situações sociais complexas. A consciência social envolve toda a gama de atribuições de análise social, as quais partem de observações das interações sociais de que a pessoa participa, diretamente ou indiretamente. Esta última engloba apenas as atitudes com outros, que não a própria pessoa. A consciência social envolve a pessoa estar “ligada” com o que acontece à sua volta, percebendo como as pessoas se comportam, o que dizem, seus gestos, posturas e intenções. As características da consciência social são a empatia primordial, a sintonia, a precisão empática e a cognição social (ver as descrições no material complementar). b. Facilidade social: é a parte operacional da inteligência social, são as habilidades sociais, a capacidade de perceber as sutilezas muitas vezes despercebidas no intuito de que as coisas revertam ao nosso favor. As características da facilidade social são a sincronia, a apresentação social, a influência e a preocupação (ver as descrições destas no material complementar). A facilidade social é alicerçada pela consciência social. É a partir dessa condição interna (consciência social), como potencialidade, que as relações sociais se produzirão com facilidade e fluidez. A consciência social é a possibilidade de acontecer a facilitação social. A pessoa detentora da consciência social vai ter mais facilidade no contato social, pois perceberá com antecedência e rapidez o que está acontecendo à sua volta. AULA 3 TÓPICO 5 s a i b a m a i s ! Leia sobre as características da inteligência social que se encontra no material complementar Matemát ica Bás ica I I6666 Re lações In te rpessoa is AT I V I D A D E S D E A P R O F U N D A M E N T O Responda as questões a seguir: 1. Comente a inteligência emocional como uma nova maneira de ser inteligente, que vai além da clássica inteligência de cálculos e abstrações. 2. Como você vê o papel da escola no desenvolvimento da inteligência emocional? 3. Fale da inteligência social como uma extensão social aplicada da inteligência emocional. 4. Qual a diferença básica entre a empatia e a empatia primordial? 5. Ouvir o outro é uma manifestação da sintonia, de estar com o outro, e diminui a distância social. Por que fica tão difícil escutar bem o outro? 6. Fale da importância de se conhecer a linguagem não-verbal para uma melhor interação social. 67 S U G E S T Õ E S D E L E I T U R A S DHOQUOIS, R. (Org.). A polidez: virtude das aparências. Porto Alegre: L & PM, 1993. GAHAGEN, J. Comportamento interpessoal e de grupo. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar,1980. HEIDER, Fritz. Psicologia das relações interpessoais. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1970. LIMBOS, E. Les barrages personnels dans les rapports humaines. Paris: Editions E.S.F., 1984. LOWEN, Alexander. Alegria: a entrega ao corpo e à vida. São Paulo: Summus, 1997. PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999. RESENDE, Enio. O livro das competências. Rio de janeiro: Qualitymark, 2000. ROPÉ, Françoise; TANGUY, Lucie (Org.) Saberes e competências: o uso de tais noções na escola e na empresa. Campinas: Papirus, 1997. WINNICOTT, Donald W. Tudo começa em casa. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. AULA 3 TÓPICO 5 68 Re lações In te rpessoa is AULA 4 Competência interpessoal na hotelaria Nesta aula, voltamos a tratar das habilidades sociais, vistas nas aulas anteriores. Entretanto acrescentaremos a esse tópico outro aspecto: enfocaremos habilidades sociais aplicadas ao atendimento ao cliente de hotel, ou seja, aplicadas ao atendimento ao hóspede. Sendo assim, relembraremos o que é e como se desenvolve a harmonia interior, a inteligência emocional e a inteligência social e proporemos situações práticas do trabalho com turismo e hotelaria, nas quais você, caro(a) aluno(a), poderá aplicar o que aprendeu até aqui. As situações descritas retratam o mundo do trabalho, especialmente aquelas que envolvem o atendimento ao cliente na hospedagem, o contato face a face. Vejamos o que é valorizado nesse tipo de atendimento, então. Objetivos • Conhecer a filosofia geral do atendimento ao cliente na hospedagem • Identificar os conceitos da inteligência social no processo de atendimento ao cliente na hospedagem • Reconhecer a importância das relações interpessoais no âmbito profissional da hospedagem como forma de melhorar o atendimento 69AULA 4 TÓPICO 1 Segundo Monterjano (1996), na atividade de turismo, e, por extensão, na hotelaria, estão bem caracterizados dois tipos de serviços: o serviço de contato direto com o turista, que é o mais interessante para nosso estudo, e o contato indireto com o turista, tema adjunto ao nosso e sobre o qual, no entanto, não trataremos nestse curso. O contato direto com o turista se caracteriza pelo atendimento em que o atendente fica “face a face com o turista. O atendimento direto exige que o atendente tenha alguns atributos de sensibilidade, além do insubstituível preparo técnico. Os atributos da sensibilidade provêm das características da personalidade e das atitudes dela decorrentes, as quais o atendente emprega no seu trabalho como uma extensão de si. O atendimento de contato direto com o turista se desenvolve em dois núcleos de ação por parte do atendente: seu comportamento e sua comunicação. Por comportamento, entendemos o conceito em sua dimensão mais ampla. Essa dimensão considera um aspecto segundo o qual as pessoas percebem como o indivíduo se relaciona com o mundo e como ele se apresenta ao mundo. Além disso, compõe o comportamento um aspecto interno (vivencial), caracterizado por um processo interno ao indivíduo, tal como o pensar, o querer e o imaginar. A dimensão interna do comportamento do atendente, então, pode ocorrer mesmo quando ele não está diretamente na frente do hóspede. O atendente pode investir na qualidade de seus serviços se comportando de modo a não perturbar TÓPICO 1 Caracterização da prestação de serviços na hotelaria ObjetivO • Analisar a natureza da prestação de serviços na hotelaria Matemát ica Bás ica I I7070 Re lações In te rpessoa is o hóspede e ainda a melhorar sua satisfação com os serviços do hotel. Vejamos um exemplo. Se um atendente já tem a informação de que um hóspede gosta de ler um jornal que o hotel não assina, pode o atendente, em parceria conjunta com o gerente de atendimento, providenciar cotidianamente, durante o tempo de permanência do hóspede, o jornal desejado. Percebamos que, enquanto o atendente providencia o jornal, o atendenteele não está em contato direto com o hóspede, porém está desenvolvendo um comportamento totalmente adequado para melhor servi-lo. Desse modo, o atendente trabalhou para suprir as necessidades específicas daquele hóspede em particular. O outro núcleo de ação do atendente é a comunicação. Esta representa o aspecto do contato direto com o hóspede. A comunicação com o hóspede pode se manifestar pela atenção, trato e ajuda. Tomemos um exemplo: um atendente solícito pode se comunicar prontamente com um hóspede que procura algo ou alguém na recepção de um hotel, logo que entre em contato visual com ele. Desta forma exercitará sua capacidade de se comunicar e de ser prestativo. Como já observamos, outro tipo de prestação de serviços é feito no contato indireto com o turista. Esse tipo de contato se traduz na aplicação de conhecimentos teórico-práticos na cultura organizacional, visando a satisfazer as necessidades gerais do cliente. O desempenho do atendente se manifesta particularmente nas ações gerais da empresa. A participação do atendente no contato indireto com o cliente se dá quando, por exemplo, o atendente, visando à melhoria do atendimento geral, assume um posicionamento que favoreça a melhoria do clima organizacional do hotel, ou quando ele participa ativamente da filosofia da empresa hoteleira. O contato indireto com o turista envolve a aplicação das habilidades sociais de inteligência no relacionamento humano aplicadas aos colegas de trabalho, tanto com subordinados como com os chefes. O serviço de contato indireto com o hóspede pode ultrapassar as paredes do hotel e se relacionar diretamente com os aparatos de infraestrutura do turismo, como o pessoal dos aeroportos, portos, malha viária, agências de viagens. Nesse contexto torna-se importante que as empresas se preocupem em selecionar pessoas adequadas para o cargo de atendente de hotel. O atendente de hotel deve ter competência emocional diferenciada de outros tipos de atendente, devido à própria natureza do que é a indústria hoteleira e do nível de excelência dos serviços exigidos pelos hóspedes. Estes querem estar em um hotel como se estivessem em suas casas. Não é exagero dizer que os serviços oferecidos na hotelaria deveriam ser os de maior qualidade no âmbito dos serviços turísticos. 71 Encerramos, então, este tópico com as sábias palavras de Ford e Healton (2001, p. 201): Muitos trabalhos requerem destrezas definíveis que podem identificar-se, medir-se e provar-se, porém a indústria hoteleira tem o desafio agregado de assegurar-se de que os empregados que contrata não são só competentes ao desenvolver sua tarefa, senão também que tenham as destrezas interpessoais necessárias para entrar em contato de maneira satisfatória com o cliente e que sejam capazes de enfrentar com êxito os inevitáveis erros no serviço. (tradução livre do autor). Como vimos, a prestação de serviços no âmbito da hotelaria visa o bem-estar do hóspede, e isso se dá principalmente através do contato direto do atendente com o hóspede. O atendente deve demonstrar um comportamento sempre solícito, atuando com sensibilidade e capacidade de comunicação. AULA 4 TÓPICO 1 72 Re lações In te rpessoa is TÓPICO 2 Encontro de serviços na hotelaria ObjetivO • Correlacionar “encontro de serviços” com a situação de prestação de serviços no mundo da hospedagem O chamado “encontro de serviços” consiste nas situações em que o atendente se relaciona de modo direto com o hóspede. A expressão encontro de serviços diz respeito, pois, a toda e qualquer relação direta entre o atendente e o cliente no mundo das organizações. Destacamos, então, mais uma vez, o atendimento do tipo direto, face a face, com o cliente. Em nossa exposição relacionamos aspectos da inteligência social com esse tipo de serviço. De acordo com Ford e Healton (2001, p.13), “[...] a expressão encontro de serviços,freqüentemente se emprega para referir-se a interação ou a série de interações pessoa a pessoa, entre o cliente e a pessoa que entrega o serviço, ou seja, ‘às interações do empregado com os clientes’” (tradução livre do autor). Evidentemente tal interação está delimitada por um período de tempo, sendo este um dos determinantes da qualidade da interação atendente-hóspede. O encontro de serviços é bem diferente do encontro eu-tu, estudado em aulas anteriores. Diferente, porém nem tanto. Vejamos. O encontro de serviços se caracteriza por ser uma relação profissional, o que nos leva a pensar logo em uma relação fria e distante. Deve ser, então, uma relação eu-isso? Entendemos que não. Lembra você o que caracteriza as relações de eu-isso e eu-tu? Recapitulando, o tipo de encontro eu-isso se caracteriza por representar Foto 15 - Recepção de Hotel Fo nt e: h tt p: // up lo ad .w ik im ed ia .o rg /w ik ip ed ia / 73 uma relação fria, descompromissada e distante. É isso que queremos dar ao nosso hóspede? Claro que não. Por outro lado, o encontro tipo eu-tu tu ficaria muito íntimo e difícil de acontecer, pois o hóspede inicialmente não está ali para dividir problemas e agir com sensibilidade com uma pessoa que ele não conhece, no caso o prestador de serviços de atendimento, o atendente. Mas, por ser o atendimento um serviço face to face (face a face), que se caracteriza pelo contato direto com o cliente, devemos acreditar que, delimitando o espaço psicológico do cliente, há uma tendência de o atendimento em hospedagem ser direcionado para o encontro eu-tu. Naturalmente, para que isso aconteça é necessário que o atendente esteja em harmonia interior, desfrutando daqueles sentimentos interiores benéficos ao bem-estar interno e que preparam para o bom convívio social, quando ele aplica sua sensibilidade. Sentindo-se bem, o atendente estará disponível emocionalmente para o outro. O mesmo acontece em uma situação de atendimento ao cliente na hospedagem. O atendimento em nível de excelência exige do atendente todas as características emocionais de que acabamos de falar. Uma pessoa que, nas relações cotidianas corriqueiras, não está disponível emocionalmente ao outro também não estará quando imbuído da função de atendimento. Estar bem consigo é possibilitar o estar bem para atender na hospedagem. No encontro de serviços deve haver um equilíbrio entre o não entrar na intimidade do hóspede, nem tampouco se afastar demais, a ponto de estabelecer uma relação muito fria e desagradar o cliente pela falta de calor humano no atendimento. O segredo do atendimento é servir com o coração sem ser invasivo na intimidade do hóspede. Atender com o coração na hospedagem implica estar inteiro na situação específica de atendimento, isto é, ter realmente prazer em atender o cliente, em estar ali, querendo fazer exatamente aquilo a que está se propondo como atendente. AULA 4 TÓPICO 2 g u a r d e b e m i s s o ! Não devemos esquecer que o hóspede se confunde com o turista, o hóspede é muitas vezes um turista, e, sendo turista, exigirá a realização de um sonho, mesmo em situação de atendimento. 74 Re lações In te rpessoa is TÓPICO 3 A qualidade na hotelaria: o fator humano ObjetivO • Reconhecer a importância do fator emocional na qualidade dos serviços na hotelaria O fator qualidade é importante em qualquer empresa competitiva. Antigamente, a concepção de liderança só se aplicava aos altos escalões. Atualmente, essa restrição não se justifica mais. O fator humano deve estar em todos os escalões da empresa, onde aqueles que têm uma contribuição a compartilhar podem fazer a diferença (CAROSELLI, 2009). Podemos entender por qualidade o “conjunto de propriedades e características de um produto, processo ou serviço, que lhes forneçam a capacidade de satisfazer as necessidades explícitas ou implícitas” (SERRA, 2005, p.10). No nosso caso, quando tratamos das relações interpessoais na hotelaria, destacamos o aspecto dos serviços e sua qualidade. Considerando a qualidade de um serviço na hotelaria, podemos considerar as relações interpessoais entre o hóspede e o profissional do hotel. A qualidade dos serviços no setor hoteleiro se destaca na área de serviços face a face, onde o fator humano pode fazer a diferença. A qualidade do serviço no caso é o que o profissional pode oferecer ao hóspede em termos de intangibilidade, ou seja, aquilo não material oferecido ao hóspede, na forma de um sorriso, de uma disposição emocional para atender bem (proatividade), ou na intencionalidade de um esforço percebido de agradar o hóspede, como uma forma de consubstanciar as estruturas físicas (fator tangível) dos hotéis oferecidas aos hóspedes. O serviço oferecido ao hóspede é feito pelos profissionais nos vários níveis disponíveis nos hotéis. Atualmente as empresas exitosas são aquelas voltadas para a satisfação do 75 cliente, empenhadas em melhorar a qualidade na hotelaria. Dessa forma, tais empresas preocupam-se em desenvolver estratégias visando envolver o hóspede dentro de suas estratégias de ação, fazendo-o participar ativamente, pedindo-lhes sugestões de melhoria dos serviços visando sua satisfação. Podemos dizer que a postura hoteleira está voltada para saber o que o hóspede quer. Atualmente, em um mundo corporativo de alta competitividade, se quiserem ficar em alta competividadade, procuram se conectar ao hóspede, buscando saber e o que querem e o que os satisfazem. Enfim, na conjuntura atual, o hotel só subsiste se o hóspede estiver satisfeito com seus serviços. Nessa atual conjuntura, nenhum hotel pode criar um produto e/ou serviço à toa, sem considerar primeiro os desejos do hóspede. É valorizado o que ele pensa, sente e suas expectativas, em especial as suas necessidades (pois estas estão diretamente ligadas às satisfações), pois quanto maior suas expectativas, menor sua satisfação e vice-versa. Para Serra (2005, p. 21), as empresas devem adequar as suas instalações, equipamentos, bens e serviços permanentemente aos desejos e necessidades dos clientes, estando assim, conectados a eles. É isso que o hotel deve fazer. Esta deve ser sua premissa de sobrevivência, nos tempos atuais. A constante busca de satisfação turística a ser sentida pelo hóspede independe da categoria do hotel (SERRA, 2005). Na verdade, há uma interdependência resultante dos desejos do hóspede e da capacidade do hotel em satisfazê-los. Torna- se necessária muita pesquisa de mercado, pois os desejos mudam de acordo com a conjuntura. Enfim, o hotel deve ficar atento às tendências econômico-sociais, que influenciam a vida, os desejos e as necessidades de cada cidadão. Inserido nessa abordagem mais geral, há a consideração da individualização do hóspede, por parte do hotel. Assim, o hotel depende da consideração das necessidades de cada hóspede. Cada hóspede deve ser atendido em suas próprias necessidades individuais. Cada hóspede deve ser considerado um cliente em especial, visto como um ser único que sente de modo subjetivo a objetividade dos serviços em sua interioridade (aqui considerada como sinônimo de consciência). O desafio é o hotel estar preparado até certo ponto para tal, se reinventando, se reorganizando em seus serviços, sendo criativo para satisfazer o hóspede no que ele quer e como quer, treinando seu pessoal para um atendimento altamente qualificado e visando hóspede em particular. AULA 4 TÓPICO 3 Matemát ica Bás ica I I7676 Re lações In te rpessoa is Um atendimento individualizado é extremamente importante, pois o hotel sobrevive calcado na fidelidade do hóspede. Assim, deve investir em treinamento de atendimento, buscando encantar o hóspede, surpreendê-lo de forma a superar suas expectativas. Somente assim estará garantido esse “suprimento excedente” de satisfação. Isso cativa o hóspede, fidelizando-o. É importante ressaltarque a satisfação depende dos aspectos tangíveis e intangíveis e da sinergia existente entre esses dois tipos de estrutura de serviços. Sem o apoio e vontade do pessoal de fundo, o pessoal de contato não conseguiria agradar e atender com excelência. Ainda para Serra (2005), a satisfação de cada hóspede pode realizar-se a partir da diferenciação dos serviços e atendimentos prévios, na identificação de cada hóspede, direcionando requisitos para satisfazê-lo, sempre que possível. Tais identificações podem ser feitas durante as reservas e no check in, com perguntas que vão além das tradicionais, impostas pela EMBRATUR (Empresa Brasileira de Turismo). A compreensão individualizada do hóspede ajudará ao hotel atendê-lo melhor. 77AULA 4 TÓPICO 4 Segundo o dicionário de Ferreira (1979), acolhimento significa atenção, consideração. Para nós, que trabalhamos com hotelaria, mais importante é o significado de acolhimento como consideração. Acolher significa atender, servir, considerando o cliente como uma pessoa que merece nosso respeito. Ao acolher, se considera a pessoa pelo que ela é e não pelo que ela tem. É o primado do ser sobre o ter, coisa que nossa sociedade está se esquecendo de fazer. Para Villamira (2001), quando comparamos as palavras hospitalidade e acolhimento, por suas origens comuns, notamos que ambas se referem a aspectos ligados a questões de civilidade que permeiam as relações entre as pessoas envolvidas, para diferenciar das relações de negócios. Atualmente parece que os hotéis somente pensam em lucrar com a presença do hóspede, pois, muitas vezes, hospedam somente para ganhar dinheiro, desprezando aspectos do acolhimento, como o prazer de receber o hóspede no hotel. Acolhimento como estamos demonstrando se refere a uma atitude de sensibilidade para o hóspede, de recebê- lo no hotel como se fosse na nossa casa, superando a situação de simplesmente ganhar dinheiro com o hóspede no hotel. Evidentemente, para haver uma melhor qualidade no atendimento dos hóspedes, não podemos esquecer que a atitude de receber acolhendo bem implica o hotel ter seus vários segmentos voltados para esta política de acolhimento. Nesse sentido, cada setor deve ser treinado e deve trabalhar coordenado para haver TÓPICO 4 A noção de acolhimento no atendimento ao cliente na hotelaria ObjetivO • Compreender a noção de acolhimento como superação do simples servir Matemát ica Bás ica I I7878 Re lações In te rpessoa is um acolhimento verdadeiro, ou seja, aquele voltado para sensibilizar o hóspede e não somente para ganhar dinheiro. É claro que, se a qualidade do acolhimento é mantida, haverá mais turistas retornando e, consequentemente, mais dinheiro entrando na instituição hoteleira. Como o turismo é uma atividade globalizada, que envolve em suas dimensões toda a população da cidade receptiva, é recomendável que a população seja educada para receber e acolher o turista. Dessa forma, quanto mais educada a população para o turismo, mais haverá bem-estar e crescimento pessoal tanto para o turista quanto para a população em geral. Então, haverá um desenvolvimento não somente econômico, mas também cultural e moral para ambas as partes, turistas e residentes. Na esteira de um atendimento em nível de excelência no turismo, há uma característica que é consequência do sentimento de gostar de servir: a satisfação que acompanha o ato de acolher o turista. O acolhimento é uma ação resultante do sentimento do profissional do turismo de servir com o coração. Esse sentimento dá ao turista a sensação de ser acolhido logo no primeiro encontro com o pessoal de contato. Admitamos que ser turista é o desempenho passageiro de um papel, o papel de turista. Porém a pessoa é um ser integral. Somente o fato de fazer turismo não a isenta de sentimentos de insegurança. Servir de um modo altamente humano, com o coração, faz o turista se sentir acolhido, atitude que dissipa a sensação de estar desprotegido e diminui sentimentos de ambiguidade, como, por exemplo, a sensação de prazer em estar hospedado e a sensação de receio de que alguma coisa dê errado na prestação de serviços do hotel. Tais sentimentos ambíguos são próprios de quem está em outro local que não o seu de origem. Acolher é muito mais do que o simples receber. Por exemplo, numa reunião de amigos, a anfitriã pode receber, mas nem sempre acolher. Acolher é envolver espiritualmente, é demonstrar por atos e gestos o amor fraternal que deve existir entre as pessoas. Atos de acolhimento são plenos de significados. Acolher é, antes de tudo, uma forma de amar, pois o verdadeiro amor é destituído de segundas intenções, e implica ficar longe de algo que pareça negócio, de associações de segunda ordem. Acolher é ser naturalmente afável, sincero e mais que isso, no turismo, desejar bem- estar ao outro. Em certos casos, o acolhimento se v o c ê s a b i a? Acolher é passar um sentimento de “gosto de estar com você”, ou “olho para você com ternura” ou “que bom que você veio”, ou ainda, “fico feliz por você estar aqui”. 79 manifesta através de contatos físicos. Por uma questão de lógica emocional, no âmbito profissional esse ato nunca deve partir do profissional. Contudo, quando vindo do turista, o profissional deve ponderar se pode retribuí-lo, evidentemente dependendo do contexto e da adequação do momento. O acolhimento deve estar repleto de sensibilidade, que se manifesta em um atendimento que supere o simples receber e servir. Deve dar a impressão ao hóspede de que ele foi realmente convidado para o hotel. AULA 4 TÓPICO 4 80 Re lações In te rpessoa is TÓPICO 5 Satisfação em satisfazer ObjetivO • Analisar como o atendente obtém satisfação em atender Ford e Healton (2001) acham que, à medida que o atendente consegue fazer com que um hóspede dê um sorriso ou fazer uma criança feliz, ele pode obter satisfação em realizar seu trabalho de atendente. Em resumo: a satisfação do atendente vem quando ele consegue ver o hóspede satisfeito. A indústria hoteleira vem se beneficiando da contratação de pessoas de mais idade para seus quadros. Por já estarem em uma faixa etária mais elevada, já aposentados, parecem sentir-se sozinhos e experimentar certo tédio. Então um trabalho que lhes permita realmente interagir com pessoas, se relacionar com elas, é benéfico para elas e para os hóspedes, pois estes recebem um carinho e entusiasmo natural. Enquanto muitas vezes o atendente mais jovem apenas processa o atendimento, o mais velho se relaciona espontaneamente com os hóspedes. Pelo que já vimos até agora, é possível perceber uma diferença enorme entre processar e se relacionar com pessoas. Evidentemente, no mundo da hotelaria, há alguns tipos de contatos nos quais mal dá para realmente se relacionar com o hóspede. Porém, quando o atendente é motivado, procura sempre dar o melhor de si para que até os momentos mais fugazes passem a significar muito para o hóspede. Quando o atendente realmente tem prontidão para passar uma boa primeira impressão, tal atitude repercute positivamente na satisfação do hóspede. Quanto a isso, vejamos as palavras de Silva (1999, p. 132): 81 No contexto Turismo & Hotelaria, é primordial lembrar que uma impressão no início do relacionamento cliente X profissional (ou empresa), pode significar uma situação do tipo ‘primeira e única’. A qualidade do serviço prestado tende a ratificar o primeiro momento porque, se o cliente não sentir-se “atraído” pelo que está vivenciando (ou se suas necessidades não estiverem sendo satisfeitas), você provavelmente estará perdendo-o. No contexto Turismo & Hotelaria, é primordial lembrar que uma impressão no início do relacionamento cliente X profissional (ou empresa), pode significar uma situação do tipo ‘primeira e única’. A qualidade do serviço prestado tende a ratificar o primeiro momento porque, se o cliente não sentir-se“atraído” pelo que está vivenciando (ou se suas necessidades não estiverem sendo satisfeitas), você o hotel provavelmente estará perdendo-o. Logicamente naqueles contatos mais prolongados, a relação é mais primorosa. O atendente tem a chance de se colocar de maneira mais pessoal no atendimento. Tomemos o papel de um garçom em um restaurante chique de um hotel, de onde as pessoas não têm tanta pressa em sair. Dessa forma o atendimento fica mais prolongado. Pode o garçom atender com mais propriedade, colocando na relação sua personalidade atraente, colocando-se mais como pessoa, quando possível, mas sempre sem interferir na intimidade do hóspede. Como observam ainda Ford e Healton (2001), passar uma experiência pessoal no atendimento ao cliente em um restaurante de comidas prontas e serviços rápidos, por exemplo, torna-se um desafio. Além de o hóspede não ter tempo de se relacionar bem com o atendente, este não era seu objetivo inicial quando resolveu viajar e se hospedar em determinado hotel. Tempo menor de contato implica em satisfação menor, tanto para o hóspede quanto para o atendente. Nessas situações de atendimento rápido, o desafio é encontrar formas de fazer o atendente de sentir- se valorizado, reconhecido pelo hóspede, sem comprometer a rapidez e a qualidade do atendimento. As palavras de Marinoff (2012, p.184) retratam bem o que estamos a dizerdizendo: O valor está em trabalhar com afinco e fazer o melhor possível. Talvez o seu melhor não o faça atravessar a linha de chegada en primeiro lugar – --- ou conseguir a direção da repartição ou um grande aumento de salário –---, mas se você se esforçou para fazer o melhor possível, ganhou satisfação pessoal. Os estoicos enfatizaram que a satisfação é a parte mais valiosa do trabalho: o resultado que ninguém pode tirar de você, a parte sobre a qual ninguém pode, só você (p.184). AULA 4 TÓPICO 5 Matemát ica Bás ica I I8282 Re lações In te rpessoa is Podemos atentar bem, no entanto, para o fato de não ser a quantidade de palavras ou de gestos do atendente que vai resultar em positividade para ambos os lados. Devemos considerar, antes de tudo, a qualidade da atuação no atendimento, a autenticidade do atendimento por parte do atendente. Isso é o que fará dele uma pessoa satisfeita em atender. 83AULA 4 TÓPICO 6 Como assim professor??? Vamos aprender a atender mal? Não, não é isso. É que, às vezes, a gente apresenta algo ao contrário e se aprende por contraste, a partir desta contradição. Muitas vezes, uma apresentação de algo de modo inusitado e folclórico deixa impressões boas de aprendizagem. Este último tópico de nossa última aula apresenta exemplos de atendimentos malsucedidos, feitos em situação de sala de aula, a pedido do professor Adonai Martins Aragão, o autor deste material didático, por ocasião da disciplina de Psicologia do Turismo no curso técnico de Agenciamento e Guia. São situações de atendimento criadas pelos alunos de turismo. São exemplos de situações imaginadas, simuladas, mas que refletem perfeitamente atitudes de compreensão da realidade do atendimento. Embora sejam situações fictícias, construídas com originalidade pelos alunos, apresentam atitudes do cotidiano, escritas para podermos perceber como trabalham os atendentes despreparados. As situações de atendimentos equivocados estão recheadas de humor, sensibilidade e mostram a irreverência dos jovens alunos. Situações inversas, de bom atendimento, podem ser criadas a partir das que se apresentam aqui, como um exercício, para refletir sobre um atendimento de excelência. Essas situações fictícias são reproduções de situações que podem muito bem vir a acontecer conosco ou no nosso ambiente de trabalho. Observe-as com atenção. As situações foram reproduzidas aqui exatamente como os alunos escreveram e me autorizaram a colocar no material de estudo. TÓPICO 6 Atendimentos mal-sucedidos ObjetivO • Compreender a essência do atendimento bem-sucedido a partir da noção de contraste de aprendizagem Matemát ica Bás ica I I8484 Re lações In te rpessoa is SITUAÇÃO DE ATENDIMENTO Nº 1: Cliente: Boa noite! Vendedora: Oi! Cliente: Eu gostaria de olhar um biquíni “m” de cor azul, branco e rosa. Vendedora: Nós só temos esses dois modelos que estão aí nessa mesa. Cliente: Eu posso experimentar? Vendedora: Poder pode, mas vê se você toma cuidado para não sujar, nem rasgar, está bem? Cliente: Ah, legal. Depois de alguns minutos, a cliente ainda estava experimentando. Vendedora: E aí, já terminou? Cliente: Não. Vendedora: Mulher, deixa eu te vê. A cliente termina de experimentar. Cliente: Olha, eu gostei desse branco. A malha é boa? Ele é muito transparente? Vendedora: Sinceramente, esses biquínis brancos da loja não são muito recomendáveis, eu mesma já comprei um e foi um horror. Agora, naquela loja do andar superior eu recomendo. Cliente: Não, mas eu já me acostumei a comprar aqui devido à qualidade e ao preço. Vendedora: Esse biquíni estava de vinte e quatro reais, tu acreditas? Mas só porque ele tem essas miçangas e a proximidade com o verão, o dono aumentou. Cliente: É mesmo? E as saias, eu gostaria de ver alguns modelos. Vendedora: Olha, elas estão aí nessa prateleira à esquerda. Pode pegar. Enquanto tu vai experimentar, eu vou ali na lanchonete. Depois de dez minutos, a cliente terminou de experimentar e a vendedora chega. Cliente: Olha, eu quero levar esse biquíni azul e esse branco com essa saia branca. Vendedora: “Mulher”, tu vai perder esse dinheiro, esse biquíni branco é transparente, esse azul não combinou com a tua pele e essa saia mostra as tuas gordurinhas. Cliente: Que gordura? Eu estou abaixo do meu peso! Vendedora: Que loucura, tu está gorda até demais. 85 Cliente: Olha, eu ia comprar aqui, mas sinceramente você é uma péssima vendedora e atende super mal. Essa loja já foi uma das melhores. Silvia Rafaelle 19.01.2000 Ex-aluna do Cefet-CE SITUAÇÃO DE ATENDIMENTO Nº 2 O cliente chega à loja, mas o vendedor finge que não vê o cliente . Depois de algum tempo, o cliente se dirige ao vendedor. Cliente: Bom dia! O vendedor não responde. O cliente insiste. Cliente: Bom dia. Quanto custa aquela calça da vitrine? Vendedor: Qual? Cliente: Aquela calça preta. Vendedor: Vinte e cinco reais. Cliente: Eu gostaria de experimentar uma calça igual aquela (o cliente aponta para a calça). Meu manequim é 47. Vendedor: Eu vou verificar se tem essa calça. O vendedor vai, mas não vai procurar a calça. Ele fica conversando com seu colega e depois vai atender outro cliente. Depois de 15 minutos, o cliente vai procurar o vendedor. Cliente: Você não encontrou a calça que pedi? Vendedor: Que calça? Eu não me lembro de você ter falado comigo! Cliente: Eu não vou mais querer a calça! Vendedor: Tudo bem. Melhor para mim. Eu terei menos essa preocupação. Lorena L. Barbosa 19.01.2000 Ex-aluna do Cefet-CE SITUAÇÃO DE ATENDIMENTO Nº 3 Em uma agência de turismo Atendente: Bom dia, em que posso ajudá-lo? Cliente: Eu quero viajar nas férias, você pode me ajudar a escolher o local? Atendente: É, posso. Prefere aqui ou fora? Cliente: Bem, eu prefiro locais mais próximos. AULA 4 TÓPICO 6 Matemát ica Bás ica I I8686 Re lações In te rpessoa is Atendente: Certo, temos passeios para o Beach Park, Cumbuco, Caponga, Iguape, Morro Branco, Praia das Fontes. Esses são os mais próximos. Cliente: Ótimo. Qual a diferença, os atrativos de cada local? Atendente: É tudo igual: areia, mar e se tiver sorte, sol. Cliente: Deve haver algum diferencial. Atendente: Ter tem, Caponga e Morro Branco são mais caros. Cliente: Ahn.... Vocês têm passeios a Jericoacoara? Atendente: Sim, todas as quartas e sextas-feiras, num ônibus caindo aos pedaços, uma pousada cara e sem nenhum conforto, com um péssimo serviço. Cliente: Só tem esse passeio para Jeri? Atendente: E é um dos nossos melhores pacotes. No Cumbuco, o grupo ficanuma pensão a 20 km da praia. Cliente: Você é muito estranha, posso falar com seu superior? Atendente: Aquele gordo careca só aparece aqui dia de terça-feira, reclama um bocado e sai pra beber, retorna bêbado e diz que o expediente está encerrado. Cliente: Você teria outro pacote pra alguma praia daqui? Atendente: Temos para Lagoinha, mas você vai ter que vir outro dia pra conversar com a minha colega, porque ela é quem sabe melhor desse programa sem graça. Cliente: Pois bem, eu vou me embora daqui, só tem gente maluca. Atendente: Obrigada, tenha um bom dia e volte sempre. Ana Virgínia Gurgel Rêgo 19.01.2000 Ex-aluna do Cefet-CE – PVI de turismo SITUAÇÃO DE ATENDIMENTO Nº 4 Ao telefone Atendente: Companhia telefônica, bom dia, Katiuska... Cliente: Eu gostaria de... TUM, TUM, TUM, TUM (A atendente coloca aquela musiquinha de enterro e depois de um tempo retorna à ligação). Atendente: Pois não? Cliente: Eu gostaria de saber o endereço da ABAV e o telefone? Atendente: Endereço de que? 87 Cliente: Da ABAV. (Depois de um tempo) Atendente: Não consta nenhuma ABAV aqui. Tenha um bom dia. Cliente: Mas... (A atendente desliga , a cliente volta a ligar) Atendente: Companhia Telefônica, Katiuska, um momento... (depois de um momento) Cliente: Eu quero saber o endereço e o telefone da ABAV. Atendente: Eu já não disse que não consta aqui na central, não teria na lista telefônica? Cliente: E se você procurasse na Associação Brasileira das Agências de Viagem? Atendente: Só um minuto, vou checar. (Depois de mais de 1 minuto...) “Esta é uma gravação. O telefone procurado é 266-6666”. TUM, TUM, TUM, TUM (Logo depois a cliente volta a ligar novamente...) Atendente: Companhia Telefônica, bom dia. Cliente: Minha filha, quero o endereço da ABAV também. Atendente: Meu bem por que você não liga pra lá e pergunta? Cliente: Porque eu já estou ligando para vocês. Sua mal educada. Que serviço imprestável... (No meio da reclamação, a atendente diz...) Atendente: O DDD da companhia telefonia é nº 00. (E desliga!) Andreza Medeiros de Araújo 29.12.1999 Ex-aluna do Cefet-CE SITUAÇÃO DE ATENDIMENTO Nº 5 Cliente: Boa tarde! Com licença. Vendedora: Diga o que é que você quer. Cliente: Eu desejo um pacote para duas pessoas para os Estados Unidos. Vendedora: Sim. Estados Unidos. Você tem certeza de que este é um país que vale a pena conhecer? AULA 4 TÓPICO 6 Matemát ica Bás ica I I8888 Re lações In te rpessoa is Cliente: Eu adoro os EUA. E toda a minha família mora lá. Eu e meu esposo iremos para o Natal na casa de minha mãe. Vendedora: Pois bem. Você ouviu falar das tragédias que estão ocorrendo naquela região? Ai, sei não, eu não teria coragem de ir pra lá, dizem que os terremotos e os tornados estão destruindo tudo e todos. Cliente: Olha, minha filha, eu não quero saber das suas “maravilhosas” informações. Você tem ou não tem esse pacote para vender? Vendedora: Calma, madame... Cliente: Madame é a sua... Vendedora: Sim, a senhora quer ir de avião? Cliente: Não, de jumento serve! Vendedora: Você ouviu falar das panes que estão dando nos aeroportos que fazem conexões no itinerário dos Estados Unidos? Dizem até que tem uma onda de terroristas assaltando, até mesmo dentro dos aviões. Cliente: É mesmo? Vendedora: É, e quando são assaltados, nem o aeroporto nem a companhia se responsabilizam pelos danos, nem mesmo em caso de homicídio. Cliente: Credo!! Olha, minha filha, vou ligar para minha família e dizer o próximo Natal eu e meu marido passaremos lá. Obrigada (responde em tom de ironia). Vendedora: Tenha uma boa tarde, ei, e cuidado com os assaltantes, viu? Iassodara Sem data Ex-aluna do Cefet-CE 89AULA 4 TÓPICO 6 AT I V I D A D E D E A P R O F U N D A M E N T O 1. Caracterize o contato direto e o indireto do atendente na hotelaria. 2. Embora a relação de encontro com o hóspede tenda para uma relação eu-tu, ela ainda não o é. Explique a afirmação. 3. Explique como o acolher um hóspede supera o simples servir. 4. Observe atentamente a Figura 1 do texto e explique-a. Considere sempre que a satisfação do atendimento é não só do hóspede, mas do atendente também. 5. Explique com poucas palavras o Gráfico 1. Tenha sempre em mente que queremos um melhor desenvolvimento das habilidades sociais para o atendente. 6. Questão desafio: 7. Embora não tenha sido enfocado explicitamente no texto, procure explicar a Figura 1 sob a perspectiva da satisfação-fidelização do hóspede. 8. Escolha duas situações de mau atendimento descritas no texto e aponte os erros de atendimento. Matemát ica Bás ica I I9090 Re lações In te rpessoa is S U G E S T Õ E S D E L E I T U R A S ALVES, Rubens. O que é religião. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984. ANDRADE, J. V. de. Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática, 1992. BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade das relações humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004. BENINI, Emilio; MAROCCI, Gianni; POZZI, Euro. Psicosociologia del turismo. Bologna: Pàtron Editore, 2007. BOTTON, Alain de. Desejo de status. Rio de Janeiro: Rocco, 2005. CÍCERO, Marco Túlio. Da amizade. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 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Princípio da Reciprocidade e princípio do Encontro Princípio da Diversidade e princípio do Holismo Princípio da Subjetividade Princípio da Mudança Contentamento Liberdade interior Autoconfiança Sentimento de autoestima A pessoa socialmente inteligente Da inteligência emocional à inteligência social Lidar com relacionamentos Lidar com emoções Conhecer as próprias emoções Panorama geral sobre a inteligência emocional A noção de acolhimento no atendimento ao cliente na hotelaria Satisfação em satisfazer A noção de acolhimento no atendimento ao cliente na hotelaria A qualidade na hotelaria: o fator humano Encontro de serviços na hotelaria Caracterização da prestação de serviços na hotelaria