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Sífilis Sumário 1. Definição ....................................................................................................................... 3 2. Epidemiologia ............................................................................................................... 3 3. Agente etiológico e transmissão ................................................................................ 4 4. Infecção local precoce e tardia ................................................................................... 5 5. Manifestações clínicas ................................................................................................ 6 6. Neurossífilis ................................................................................................................ 13 Meningovascular ........................................................................................................ 15 Sífilis ocular ................................................................................................................ 15 Otosífilis ...................................................................................................................... 16 7. Sífilis congênita .......................................................................................................... 21 8. Diagnóstico ................................................................................................................. 23 9. Interpretação dos casos ............................................................................................ 26 Sífilis adquirida ........................................................................................................... 26 Sífilis em gestantes .................................................................................................... 26 Sífilis congênita .......................................................................................................... 27 10. Tratamento ............................................................................................................... 27 Sífilis adquirida recente.............................................................................................. 28 Sífilis adquirida tardia ................................................................................................ 28 Neurossífilis ................................................................................................................ 29 Referências bibliográficas ............................................................................................. 31 Sífilis 3 1. Definição A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum, da ordem das espiroquetas. As manifestações clínicas da doença vão depender do estágio em que se encontra, como veremos adiante. SÍFILIS Infecção sexualmente transmissível Agente etiológico: Treponema pallidum Bactéria gram negativa Espiroqueta Fonte: elaborado pelo autor. 2. epiDemiologia Segundo a OMS, Organização Mundial De Saúde, em 2016 no mundo estima-se que em jovens de 15 a 49 anos ocorreram 20 milhões de casos de sífilis sendo cerca de 6 milhões casos novos. As regiões mais prevalentes foram a do pacífico ociden- tal, África e Américas. No Brasil, a taxa de sífilis vem em aumento segundo as suas notificações compul- sórias. Em 2017, houve uma taxa de 59 casos por 100 mil habitantes. Já em 2018, houve uma taxa de 75,8 por 100 mil habitantes. É válido salientar que, embora tenha havido um aumento nos registros de sífilis, em nenhum estado brasileiro obser- vou-se uma taxa superior de sífilis congênita. Esse fato provavelmente reflete uma melhora na detecção precoce da sífilis na mesma, o que possibilita um tratamento adequado e a prevenção da transmissão vertical da doença. Sífilis 4 Figura 1. Evolução das taxas de sífilis de 2010 a 2018. Fonte: Acervo Sanar. Outro parecer epidemiológico importante é que existe uma alta taxa de co-infec- ção pelo HIV entre HSH (homens que fazem sexo com homens) com sífilis. Cerca de 42% dos HSH com sífilis estão infectados pelo HIV, em comparação com 8% dos homens que fazem sexo com mulheres e 4% das mulheres. 3. agente etiológico e tranSmiSSão O Treponema pallidum, é uma bactéria gram-negativa da ordem das espiroquetas. Possui aproximadamente 10 a 13 mícrons de comprimento, mas apenas 0,15 de largura, o que o torna muito delgado, dificultando sua visualização por microscopia direta. Assim, a visualização desse organismo é feita por microscopia de campo escuro, sendo um organismo delicado, em forma de saca-rolhas, com espirais firme- mente enroladas e um movimento rotativo, suficientes no diagnóstico da sífilis. Figura 2. Treponema pallidum. Fonte: Acervo Sanar. Sífilis 5 A transmissão ocorre, geralmente, através do contato direto com a lesão infecciosa durante o ato sexual. Para ocorrer infecção, a lesão deve estar aberta e com presença de microrganismos, como ocorre na lesão primária e em algumas manifestações se- cundárias da sífilis (manchas mucosas e condiloma lata). Já as lesões cutâneas apre- sentam baixas risco de transmissão por conter poucos treponemas. Pacientes com sífilis latente também são considerados infecciosos. O desenvolvimento da doença é feito por inoculação do agente em qualquer parte do corpo, levando ao desenvolvimen- to de uma sífilis primária naquele local, podendo se espalhar por todo o corpo. Além disso, gestantes que não foram tratadas ou tratadas inadequadamente, a sífilis pode ser transmitida para o feto (transmissão vertical), mais frequentemente intraútero (com taxa de transmissão de até 80%), embora a transmissão também possa ocorrer na passagem do feto pelo canal do parto. Se liga! Não há vacinas contra a sífilis e a infecção pela bactéria causadora não confere imunidade protetora. Assim, pessoas infectadas pe- las sífilis podem ser reinfectadas tantas vezes quantas forem expostas ao Treponema pallidum. 4. infecção local precoce e tarDia A contaminação ocorre a partir do contato com o tecido subcutâneo por meio abrasões microscópicas da pele. A lesão ulcerativa inicial (cancro duro) surge após cerca de 30 horas. Durante esse período pode ocorrer infestação de linfonodos lo- cais, com disseminação subsequente. No infiltrado da lesão foram encontrados, além de linfócitos TCD4 e TCD8, monócitos ativados, macrófagos e células dendríti- cas com receptores do HIV. A presença desses receptores pode justificar o vínculo entre a infecção por sífilis e a transmissão do HIV. O desenvolvimento da resposta imune humoral também acontece no início da infecção, levando ao desenvolvimento de anticorpos que podem ser detectados na fase inicial. Se liga! O Treponema pallidum facilita significativamente o risco de se contrair a infecção pelo vírus HIV, uma vez que as lesões genitais facilitam a entrada do vírus. Além disso, a presença do T. pallidum no organismo acelera a evolução da infecção pelo HIV para a AIDS. Sífilis 6 Se por um lado as respostas imunológicas são capazes de controlar a lesão inicial, ocorre ao mesmo tempo uma disseminação generalizada de espiroquetas em um indivíduo não tratado, levando a manifestações clínicas de sífilis secundárias ou terciárias. Na sífilis tardia pode ocorrer, anteriormente, um período prologando de latência que pode ser explicada por: Diminuição da imunidade com o envelhecimento, facilitando o desenvolvimento de pequenos treponemas que sobreviveram em locais sequestrados Hospedeiro hipersensível parcialmente imune que pode reagir à presença de tre- ponemas, gerando uma resposta inflamatória crônica. Assim, na infecção tardia pode ter o aparecimento de granulomas em pele, vísceras ou outros tecidos, conhecido como Gummas ou sífilis benigna tardia. Essa manifesta- ção ocorre em indivíduos com resposta imune insuficiente para ser protetora, mas subs- tancial o suficiente para causar danos aos tecidos e levar a formação de granulomas. A vasculite de pequenosvasos, comum nos estágios secundários, ocorre pelo au- mento do número de linfócitos e células plasmáticas que se infiltram em vasos e tecidos perivasculares. Como consequência, pode ocorrer envolvimento do arco ascendente da aorta e da válvula aórtica, levando ao que chamamos de sífilis cardiovascular. 5. manifeStaçõeS clínicaS Pacientes com sífilis podem apresentar inúmeros sintomas ou podem testar positivo no teste sorológico sem presença de sintomas (sífilis latente). A sífilis precoce com- preende a sífilis primária e secundária que ocorre, geralmente, semanas a meses após a infecção inicial. Quando não tratada, essa infecção pode progredir para uma doença la- tente tardia ou desenvolver uma sífilis terciária. A manifestação clínica tardia pode ocor- rer de 1 a 30 anos após a infecção inicial e apresenta repercussões sistêmicas. Se liga! As manifestações clínicas em gestantes são as mesmas que a da população em geral, não sendo afetadas pelo estado gravídico. A sífilis pode ser classificada de duas formas: • Segundo o tempo de infecção: Sífilis adquirida recente (menos de um ano de evolução); Sífilis adquirida tardia (mais de um ano de evolução). • Segundo as manifestações clínicas da sífilis adquirida: Sífilis primária Sífilis secundária Sífilis latente Sífilis terciária Sífilis 7 Tempo de infecção Manifestações clínicas < 1 ano de evolução Recente (até um ano de infecção) > 1 ano de evolução Tardia (mais de um ano de infecção) Adquirida recente secundária Adquirida tardia Fonte: Elaborado pelo autor. conceito! Sífilis adquirida recente compreende sífilis primária, secundária e latente precoce. • Sífilis primária ou cancro duro: Após um período médio de 21 dias de incu- bação (variando de 3 dias a 3 meses), pode ocorrer o aparecimento de lesão genital ulcerada, quase sempre única, indolor, de bordos endurecidos, de fundo limpo e rica em treponemas. Essas lesões ulceradas, geralmente não possuem uma base exsudativa e podem ocorrer em outras regiões além de genitália, co- mo região oral, faringe posterior e ânus. A lesão dura cerca de 2 a 6 semanas Sífilis 8 e desaparece espontaneamente. Além disso, pode ocorrer, associado à lesão, adenopatia satélite inguinal indolor, que se diferencia do linfogranuloma vené- reo por se apresentar, em geral, bilateralmente. O cancro representa uma infecção local inicial, mas a sífilis rapidamente se torna sistêmica com ampla disseminação das espiroquetas. Essa disseminação pode ou não estar associada a sintomas sistêmicos concomitantes, mas é a base fisiopato- lógica da sífilis secundária e/ou tardia subsequente, incluindo a neurossífilis. Figura 3. Lesões de cancro duro de 4mm. Fonte: Acervo Sanar. SÍFILIS PRIMÁRIA Cancro duro 21 dias após contato sexual Desaparece em 04 semanas mesmo sem tratamento Fonte: Elaborado pelo autor. • Sífilis secundária: Cerca de 25% dos pacientes com sífilis primária não trata- da desenvolvem uma doença sistêmica que representa a sífilis secundária. Pacientes com sífilis secundária podem não ter tido apresentação do cancro (assintomáticos) ou essa lesão ter passado despercebida. Suas manifestações ocorrem cerca de 4 a 8 semanas após o aparecimento do cancro. Assim como na sífilis primária, as lesões desaparecem espontaneamente, mesmo na ausên- cia de terapia, exceto em casos mais graves como na lues maligna. Sífilis 9 Você sabia? Lues maligna é uma forma grave de sífilis secundária que ocorre em pacientes gravemente imunocomprometidos, principalmente os infectados por HIV, e é caracterizada por lesões cutâneas ulcerativas não resolvidas. Figura 4. Lues maligna, forma grave de sífilis secundária. Fonte: Acervo Sanar. Os pacientes com sífilis secundária não tratada sofrem episódios de recidiva, que podem ocorrer em até 5 anos após a infecção inicial. Os sintomas associados a sífi- lis secundária acontecem, principalmente, pela resposta imune rápida resultante da disseminação generalizada do T. pallidum. • Sintomas constitucionais: febre, cefaleia, mal-estar, anorexia, odinofagia, mial- gias e perda de peso. • Adenopatia: aumento de linfonodos palpáveis em região cervical posterior, axi- lar, inguinal e femoral, com consistência minimamente macia, firme e aspecto emborrachado. • Erupção cutânea: É o achado mais característico da sífilis secundária. Se apre- senta como erupção macular ou papular difusa, simétrica, envolvendo todo o tronco e as extremidades, incluindo palmas das mãos e sola dos pés. Figura 5. Múltiplas pápulas eritematosas escamosas em tronco de paciente com sífilis secundária.. Fonte: OneSideProFoto/Shutterstock.com. Sífilis 10 Figura 6. Comprometimento da mucosa oral na sífilis secundaria. Eles estão cheios de organismos e, portanto, são altamente infecciosos. Fonte: TisforThan/Shutterstock.com A erupção cutânea também pode acometer superfícies mucosas, se apresentando com lesões grandes elevadas, cinza, esbranquiçada, principalmente em boca e perí- neo, sendo referidas como condiloma lata. • Alopecia: É vista ocasionalmente e é chamada de alopecia “devorada por traça”, devido ao padrão irregular de queda de cabelo. Pode ocorrer em região de cou- ro cabeludo, sobrancelhas ou barba e é reversível com o tratamento. Figura 7. Presença de alopecia na sífilis secundária Fonte: enuengneng/Shutterstock.com • Anormalidades gastrointestinais: A hepatite sifilítica é caracterizada por au- mento sérico de fosfatase alcalina, geralmente com transaminases normais. Quando leve, desaparece com o tratamento. Pode ocorrer ainda infiltrados ou ulcerações em TGI, o que pode ser diagnosticado erroneamente como linfoma. • Anormalidades renais: Albuminúria transitória leve, síndrome nefrótica ou nefri- te aguda com hipertensão e IRA. O tratamento para sífilis é capaz de reverter o quadro. Sífilis 11 • Achados neurológicos/oculares: Cefaleia, meningite aguda, déficit de nervos cranianos, doença meningovascular ou AVC. Paciente com sífilis pode ainda desenvolver uveíte anterior, posterior e panuveíte, de características granuloma- tosas, associado a diminuição de acuidade visual. O envolvimento ocular deve ser considerado uma manifestação da neurossífilis. SÍFILIS SECUNDÁRIA 4 a 8 semanas após cancro duro Linfadenopatia generalizada 40% do treponema detectado em SNC Regride em 2-6 semanas com períodos de remissão mais intervalados Lesões cutâneo mucosas Alopécia Anormalidade renais, gastrointestinais Achados neurológicos/oculares Fonte: Elaborado pelo autor. • Sífilis latente: Representa o período de infecção pelo T. pallidum comprovado por teste sorológico, mas sem apresentação sintomática. A categoria “sífilis de duração desconhecida” foi eliminada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças e categorizaram novamente a sífilis latente em precoce, quando a infecção ocorreu nos 12 meses anteriores, e tardia quando após 12 meses. Essa distinção, além da conduta terapêutica ser diferente, é importante para entender o risco de transmissão, visto que pacientes com sífilis latente tardia não são considerados infecciosos em seus contatos sexuais recentes, já que não apresentam lesões que possam transmitir a doença. Pacientes com sífilis latente precoce podem ter contaminado seus parceiros sexuais através de le- são recentemente ativa, mas que não está mais presente ou por meio de lesão obscura ou indolor que não foi descoberta no exame físico. Sífilis 12 Se liga! Diante de um indivíduo com diagnóstico confirmado, em que não é possível inferir a duração da infecção (sífilis de duração ignorada), trata-se como sífilis latente tardia. conceito! Sífilis adquirida tardia compreende sífilis latente tardia e sífilis terciaria. Ocorre em indivíduos infectados que não foram tratados adequadamente ou não realizaram tratamento. • Sífilis terciária: Cerca de 25 a 40% dos pacientes com sífilis não tratada pode evoluir para sífilis tardia, podendo ser latente tardia ou terciária. Nãonecessa- riamente os indivíduos tiveram sífilis primária/ secundária sintomáticas antes de desenvolver a tardia. Na sífilis terciária, os achados são: Sífilis cardiovascular: aortite com envolvimento do arco ascendente, resultando em aorta dilatada e regurgitação da valva aórtica. Relaciona-se esse distúrbio como consequência da vasculite nos vasa vasorum, levando um enfraquecimen- to da parede da aorta. Apresenta-se com sopro assintomático ou insuficiência cardíaca esquerda. Aparecem tipicamente 15 a 30 anos após a infecção Sífilis gomatória: Também chamado de Gummas. É mais raro, sendo um achado mais frequente em paciente infectados por HIV. Pode ocorrer em qualquer lugar, como pele, mucosas, ossos ou órgãos internos. • Sífilis cutânea: as manifestações podem ser em forma de nódulos, tubérculos, placas nódulo-ulceradas ou tuberocircinadas e gomas. Podem ser solitárias ou em pequeno número, assimétricas, com pouca inflamação, endurecidas, com bordas demarcadas, policíclicas ou em formato de círculos, destrutivas, com tendência à cura central com extensão periférica, com formação de cicatrizes e hiperpigmentação periférica. Figura 8. Lesão cutânea característica da sífilis terciária. Fonte: Acervo Sanar. Sífilis 13 Neurossífilis tardia: Sífilis terciária do sistema nervoso central (SNC) representado por paresia geral e tabes dorsalis, meningite aguda, goma do cérebro ou da medula, atrofia do nervo óptico, lesão do sétimo par craniano, paralisia geral e demência É tão importante que vamos abrir um tópico para falarmos somente sobre neurossífilis. 6. neuroSSífiliS Existem muitas formas de sífilis do SNC, como as formas precoces (sífilis preco- ce) e tardias (sífilis terciária), podendo ocorrer até 25 anos após a infecção inicial. Existem cepas específicas de T. pallidum que podem ter maior probabilidade de causar neurossífilis. Esse acometimento começa com a invasão do líquido cefalorra- quidiano (LCR) pelos organismos causadores em 25% dos pacientes com sífilis não tratada. A meningite persistente é resultado da falha de remoção do organismo no LCR, sendo que esses pacientes possuem “neurossífilis assintomática”, podendo evoluir para neurossífilis sintomática posteriormente. A neurossífilis é dividida em precoce, podendo ser assintomática, por meningite sintomática, meningovascular, sífilis ocular e otossífilis ou tardia, podendo levar a paresia geral e tabes dorsalis. A neurossífilis precoce ocorre por acometimento do LCR, meninges e vasculatura. Seus tipos são: • Neurossífilis assintomática: Não apresentam sinais e sintomas do SNC, mas podem apresentar manifestações de sífilis primária ou secundária concomi- tantemente. Pode surgir de semanas a meses após infecção inicial, raramente ocorre posterior a 2 anos de infecção. O diagnóstico é feito desta forma: Linfócitos no LCR > 5 células/microL, geralmente <100 células/microL Proteínas no LCR > 45mg/dL geralmente <100 mg/dL Teste VDRL reativo DIAGNÓSTICO NEUROSSÍFILIS ASSINTOMÁTICA OU OU Fonte: Elaborado pelo autor. Sífilis 14 Existem duas ressalvas para esse diagnóstico: 1. Pacientes com neurossífilis assintomática e COM infecção pelo HIV, que não é reativo ao LCR-VDRL, mas apresenta-se com pleiocitose leve e/ou proteína ele- vada no LCR, o diagnóstico torna-se difícil porque a presença desses critérios pode ocorrer devido ao próprio HIV. 2. Pacientes com neurossífilis assintomática, independentemente da reatividade do LCR-VDRL, devem ser tratados com neurossífilis para evitar a progressão para doença sintomática. • Meningite sintomática: Geralmente ocorre no primeiro ano após a infecção, mas pode ocorrer também anos depois. Os achados de sífilis precoce podem ocorrer também simultaneamente, principalmente as erupções cutâneas da doença secundária. Esses pacientes apresentam cefaleia, confusão, náuseas, vômitos e rigidez de nuca. Os sinais que podem estar presentes são os de neu- ropatias cranianas, particularmente de nervo óptico (sífilis ocular), facial e au- ditivo (otossífilis). Pode causar ainda hidrocefalia e arterite de vasos pequenos, levando a isquemia do cérebro ou da medula espinhal (meningovascular). A inflamação da meninge pode levar a presença de gomas sifilíticas, se apresen- tando como lesões de massas contíguas às leptomeninges (aracnoide e pia- máter), característica da sífilis secundária. O diagnóstico é feito também com base nos valores linfocíticos e proteicos, sen- do que o LCR-VDRL é quase sempre reativo. e seus ramos são os mais comumente afetados. O diagnóstico é muito parecido com a de meningite aguda, porém menos grave. Linfócitos no LCR entre 200 e 400 células/microL Proteínas no LCR entre 100 e 200 mg/dL Teste VDRL quase sempre reativo DIAGNÓSTICO MENINGITE SINTOMÁTICA Linfócitos no LCR entre 10 e 100 células/microL Proteínas no LCR entre 100 e 200 mg/dL Teste VDRL quase sempre reativo DIAGNÓSTICO NEUROSSÍFILIS MENINGOVASCULAR Fonte: Elaborado pelo autor. A neuroimagem de gummas cerebrais mostram áreas focais de realce adjacentes às meninges, geralmente com uma “cauda dural” e edema circundante. Sífilis 15 meningovascular A meningite sifilítica pode causar uma arterite infecciosa que pode afetar qual- quer vaso no espaço subaracnoide ao redor do cérebro ou da medula espinhal, le- vando a trombose, isquemia ou infarto. Apresentam queixas de cefaleia, tontura ou alterações de personalidade, por dias ou semanas antes do início da isquemia ou do AVC. Esses sintomas são provavelmente devido a meningite concomitante. A artéria cerebral média (ACM) A angiografia cerebral é um método de diagnóstico útil para diferenciar a isquemia por acidente vascular cerebral da isquemia provocada por sífilis cerebrovascular, a qual tem manifestações clínicas semelhantes. Na neurossífilis ocorre, habitual- mente, envolvimento multifocal de ramos arteriais de menor calibre, observan- do-se na angiografia um acometimento difuso e irregular de artérias e arteríolas intra-cerebrais. Figura 9. Múltiplas lesões hiperintensas em T2 e hipointensas em T1 ao redor do trígono e corno occipital do ventrículo lateral esquerdo. Edema difuso e perifocal nessa região com efeito de massa. Difusão restrita dos centros de lesão e toda a região. Há realce anelar das lesões subcorticais maiores e realce giriforme do córtex no cuneus. Fonte: Case courtesy of Roberto Schubert, Radiopaedia.org, rID: 15976. Sífilis ocular A uveíte e panuveíte posteriores são as mais comuns e apresentam-se com di- minuição da acuidade visual. Ocorre frequentemente acompanhada de meningite sifilítica. Sífilis 16 otosífilis A perda auditiva, com ou sem zumbidos, é considerado como parte dos sintomas neurológicos e como sinais de neurossífilis. Pode ou não ser acompanhada de me- ningite sifilítica. A neurossífilis tardia afeta parênquima cerebral e medula espinhal. São as consi- deradas formas terciárias de sífilis. • A paresia geral: É uma demência progressiva, também chamada de paralisia geral dos loucos ou neurossífilis parética. Geralmente surge após 10 a 25 anos após infecção. Embora o exame neurológico possa parecer normal em alguns pacientes, os achados anormais comuns são disartria, hipotonia fa- cial e dos membros, tremores de intenção de face, língua e mãos e anorma- lidades reflexas. Os achados pupilares são mais comuns de tabes dorsalis. O diagnóstico: Linfócitos no LCR entre 25 e 75 células/microL Proteínas no LCR entre 50 e 100 mg/dL Teste VDRL reativo DIAGNÓSTICO NEUROSSÍFILIS PARÉTICA Fonte: Elaborado pelo autor. A neuroimagem geralmente revela atrofia cerebral. • Tabes dorsalis: Também chamado de ataxia locomotora. É uma doença das colunas posteriores da medula espinhal e raízes dorsais. Possui período laten- te mais longo entre a infecção primária e o início de todas as formas de neu- rossífilis, com intervalo médio de 20 anos. É o acometimento de SNC menos comum. Os sintomas frequentemente associados são ataxia sensorial,dores lancinantes (dores súbitas, breve e intensas, em pontada que podem afetar membros, costas ou face) e alterações pupilares (pupila de Argyll-Robertson). Disfunção da bexiga, como retenção urinária ou incontinência podem ocorrer no início do curso da doença. Sífilis 17 Saiba mais! PUPILA DE ARGYLL-ROBERTSON: São pupilas bilate- ralmente pequenas que não respondem a luz, mas se contraem normalmen- te para acomodação e convergência, dilata-se ao estímulo midriático e não dilata em resposta a estímulos dolorosos. É um dos sinais mais comuns de tabes dorsalis. O diagnóstico de tabes dorsalis é feito: Linfócitos no LCR normal ou pleiocitose leve (entre 10 a 50 células/microL) Proteínas no LCR entre 45 e 75 mg/dL Teste VDRL reativo em 75% dos casos DIAGNÓSTICO TABES DORSALIS Fonte: Elaborado pelo autor. Saiba mais! Para pessoas com HIV, o risco de neurossífilis as- sintomática e sintomática é aumentado naquelas com menor número de células T CD4+ periféricas, RNA plasmático detectável do HIV e/ou nenhuma terapia antirretroviral. Sífilis 18 Meningite persistente Invasão do SNC INFECÇÃO SÍFILIS Clareamento (Semanas-meses-anos) (Anos-décadas) Meningite sintomática Tabes dorsalis Meningovascular Paresia geral Fonte: Elaborado pelo autor. Sífilis 19 Hora da revisão! SÍFILIS ADQUIRIDA RECENTE Sífilis primária: Geralmente consiste em um único cancro no local da inocula- ção indolor e acompanhado por adenopatia regional bilateral. Sífilis secundária: Doença sistêmica que geralmente inclui erupção cutânea (disseminada e/ ou envolvendo as palmas das mãos e as plantas dos pés), fe- bre, mal-estar e outros sintomas como faringite, hepatite, manchas mucosas, condiloma lata e alopecia. Sífilis latente precoce: Refere-se ao período em que um paciente está infecta- do com Treponema pallidum, conforme demonstrado por testes sorológicos, mas não apresenta sintomas. A sífilis latente precoce ocorre dentro do primei- ro ano da infecção inicial. SÍFILIS ADQUIRIDA TARDIA Sífilis terciária: Paciente com sífilis tardia que apresentam manifestações sintomáticas envolvendo o sistema cardiovascular ou doença granulomatosa (pele, mucosa, tecidos subcutâneos, ossos ou vísceras). Sífilis latente tardia: Período em que um paciente infectado com T. pallidum, con- forme demonstrado por testes sorológicos, mas não apresenta sintomas. A sífilis latente tardia, por definição, ocorre mais de um ano após infecção inicial. Se o momento de uma infecção não for conhecido, presume-se sífilis latente tardia. NEUROSSÍFILIS Pode ocorrer a qualquer momento durante o curso da infecção. Neurossífilis precoce: Pacientes com neurossífilis precoce podem ter menin- gite assintomática; meningite sintomática; doença meningovascular (menos comum), isto é, meningite e derrame; perda da visão ou da adição, com ou sem meningite concomitante. Neurossífilis tardia: As formas mais comuns envolvem cérebro e medula espi- nha (paresia geral e tabes dorsalis). Figura 10. Evolução da sífilis. Fonte: Acervo Sanar. Sífilis 20 Agente etiológico Secundária Terciária Primária Latente precoce SÍFILIS Indolor Bordas elevadas Aortite Treponema pallidum Úlcera genital Sintomas constitucionais Assintomático Lesões cutâneo mucosas Achados neurológicos/oculares Anormalidades gastrointestinais Doença cardiovascular Linfadenopatia generalizada Erupções cutâneas Doença granulomatosa (pele, osso, vísceras, mucosa, tecido subcutâneo) Alopécia < 1 ano de infecção Anormalidades renais Lesões gomosas, nodulares e destrutivas Fonte: Elaborado pelo autor. Sífilis 21 7. SífiliS congênita A definição de sífilis congênita requer que: (1) a criança apresente sinais físicos, laboratoriais ou radiográficos de sífilis congênita (confirmada ou provável) OU (2) criança que nasceu de mãe não tratada, inadequadamente tratada ou subtratada. Alguns especialistas também presumem que os bebês têm sífilis congênita se suas mães tiveram contato com uma pessoa com sífilis primária ou secundária den- tro de 90 dias antes do parto e não foram tratadas ou inadequadamente tratadas. A sífilis congênita é um importante problema de saúde, complicando cerca de 1 milhão de gestações por ano em todo o mundo, refletindo o aumento de incidência de sífilis em mulheres em idade fértil e o acesso precário ao pré-natal um importante fator de risco para sífilis congênita. A sífilis congênita geralmente é adquirida pela transmissão transplacentária de espiroquetas na corrente sanguínea materna ou, ocasionalmente, pelo contato direto com uma lesão infecciosa durante o parto. Mulheres com sífilis primária ou secun- dária não tratada são mais propensas a transmitir sífilis para seus fetos (60-90%) do que mulheres com doença latente (40% na latência inicial e <10% na latência tardia). O T. pallidum não é transferido no leite materno, mas a transmissão pode ocorrer se a mãe tiver uma lesão infecciosa na mama. As manifestações clinicas da sífilis congênita precoce (antes dos 2 anos de idade), apesar de 60 a 90% dos recém-nascidos vivos são assintomáticos ao nascimento, são: • Hepatomegalia: pode ou não estar associada à esplenomegalia, mas a espleno- megalia isolada não ocorre. • Icterícia: associado a hepatomegalia e colestase. • Corrimento nasal: geralmente se desenvolve durante a primeira semana de vida e raramente após o terceiro mês. A secreção nasal é branca e pode ser sangui- nolenta (secundária à erosão da mucosa) ou purulenta se houver infecção bac- teriana secundária. • Erupção cutânea: podem ocorrer em qualquer lugar, principalmente em cos- tas, nádegas, coxas e sola dos pés. A erupção geralmente progride em uma a três semanas, seguida de descamação e crostas. À medida que desapa- rece, as lesões ficam vermelhas escuras ou cor de cobre, e a pigmentação pode persistir. Se presente ao nascimento, a erupção cutânea pode ser am- plamente disseminada e bolhosa (pênfigo sifilítico). Lesões ulcerativas e líquido bolhoso contêm espiroquetas, são contagiosas e podem transmitir infecção por contato direto. • Linfadenopatia generalizada, principalmente epitroclear • Anormalidades esqueléticas. • Acometimento do SNC: O envolvimento sintomático do SNC é raro em be- bês com sífilis congênita, mas pode se desenvolver a partir da disseminação Sífilis 22 contínua em bebês que não são tratados no período neonatal. A sífilis sintomá- tica do SNC em bebês tem duas apresentações sobrepostas: leptomeningite sifilítica aguda e sífilis meningovascular crônica. Já as manifestações da sífilis congênita tardia (após 2 anos de idade) estão relacionadas a cicatrizes ou inflamação persistente de infecção precoce e são ca- racterizadas pela formação de goma em vários tecidos. Se desenvolve em aproxi- madamente 40% dos bebês nascidos de mulheres com sífilis não tratada durante a gravidez. São representadas por: • Abaulamento dos ossos frontais, depressão da ponte nasal (nariz em sela”), maxila curta, mandíbula protuberante. • Ceratite intersticial: Inflamação da estrutura do tecido conjuntivo da córnea. Geralmente é bilateral. • Alterações esqueléticas: curvatura anterior das canelas (“canela de sabre”), artrite indolor dos joelhos (“articulações de Clutton”). Esta última é uma condição indolor que, geralmente, ocorre durante os estágios finais da sífilis congênita Na sífilis congênita, é importante o diagnóstico diferencial com condições seme- lhantes, como infecção por toxoplasmose, por rubéola, citomegalovírus e vírus her- pes simplex. O diagnóstico pode ser feito por visualização direta ou coloração com anticorpo fluorescente de fluidos ou lesões corporais infectadas, placenta ou cordão umbilical; por testes sorológicos típicos da sífilis. Pode ser realizado também a detecção de DNA do T. pallidum por PCR. EVOLUÇÃO ESTÁGIOS DA SÍFILIS CONGÊNITA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sífilis congênita (antes de dois anos de idade) Precoce Hepatomegalia com ou sem esplenomegaliae icterícia Lesões cutâneas (pênfigo palmo-plantar, condiloma plano), petéquias, púrpura Periostite ou osteíte ou osteocondrite, pseudoparalisia dos membros Sofrimento respiratório com ou sem pneumonia Rinite sero-sanguinolenta, anemia e linfadenopatia generalizada (epitroclear) Fissura peribucal, síndrome nefrótica, hidropsia, edema, convulsão e meningite Sífilis congênita (após dois anos de idade) Tardia Tíbia em “lâmina de sabre” Articulações de Clutton Fronte “olímpica” e nariz “em sela” Dentes incisivos medianos superiores deformados (dentes de Hutchinson), molares em “amora” Rágades periorais, mandíbula curta, arco palatino elevado Ceratite intersticial Surdez neurológica e dificuldade no aprendizado Tabela 1. Manifestações clínicas de acordo com a evolução e estágios da sífilis congênita. Fonte: Ministério da sáude. Sífilis 23 8. DiagnóStico A triagem diagnóstica da sífilis deve ser realizada em pacientes: 1. Com sinais e sintomas de infecção: úlcera genital indolor (sífilis primária); uma erupção macular ou papular difusa, simétrica, envolvendo todo o tronco e extre- midades (sífilis secundária); paresia geral; ou tabes dorsalis (sífilis terciária); 2. Sem sinais e sintomas, mas com alto risco de adquirir doença ou transmitir a outras pessoas; 3. Mulheres grávidas; 4. HSH (homens que fazem sexo com homens) e sexualmente ativos anualmente; 5. Comportamento sexual de risco; 6. Indivíduos infectados por HIV. Os testes sorológicos são utilizados para a triagem dos pacientes. Existem dois tipos de testes sorológicos para sífilis: teste não treponêmicos e testes específicos do treponema. O diagnóstico é feito com base nesses dois tipos de testes, visto que o teste sorológico, principalmente o não treponêmico, está associado a resultados falso-positivos. Resultados falso-negativos também podem ocorrer, já que necessita de resposta imune humoral para positivar o teste. Assim, estes testes apresentam limitações em pacientes com imunossupressão ou doença precoce. • Os testes não treponêmicos são os utilizados na triagem e incluem: VDRL: Laboratório de Pesquisa em Doenças Venéreas RPR: Reagin Rápido de Plasma TRUST: Teste de Soro Não aquecido a Toluidina Vermelha. Testes não treponêmicos positivos são relatados como um título de anticorpo, por exemplo 1:32, que representa a detecção de um anticorpo no soro diluído 32 vezes. Esses títulos tendem a ir diminuindo com o tempo, mesmo sem tratamento. • Os testes treponêmicos são mais complexos e mais caros para serem realiza- dos. São utilizados como confirmatórios quando os testes não treponêmicos são reativos. Os testes treponêmicos incluem: FTA-ABS: Absorção Fluorescente de Anticorpos Treponêmicos MHA-TP: Teste de Micro-Hemaglutinação para Anticorpos contra T. pallidum TPPA: Ensaio de Aglutinação de Partículas de T. pallidum TP-EIA: Imunoensaio com Enzima T. pallidum CIA: Imunoensaio quimioluminescente Sífilis 24 Os testes sorológicos rápidos são feitos utilizando microscopia de campo es- curo para examinar o exsudato de lesões quanto a presença de microrganismos de T. pallidum, porém não é o mais recomendado rotineiramente. A maioria são testes específicos do treponema que não distinguem entre sífilis ativa e previa- mente tratada. Possuem baixa sensibilidade 74 a 86% e especificidade de 96 a 100%. Os métodos diretos são utilizados para diagnóstico definitivo de sífilis. Como o T. pallidum não pode ser cultivado em laboratório, o organismo deve ser identi- ficado em visualização direta ou detecção de amostras clínicas. Para isso, foi de- senvolvido testes de reação em cadeia da polimerase (PCR) para detecção de DNA do T. pallidum de amostras clínicas. A sensibilidade desse teste é de 70 a 95% e parece ser maior do que a observada em microscopia de campo escuro. A especifi- cidade variou de 92 a 98%. Não deve ser realizado em pacientes assintomáticos, já que em amostras de sangue e de líquido cefalorraquidiano a sensibilidade do teste cai para 24 a 32%. Figura 11. Representação do Treponema Pallidum. Fonte: Olga Bolbot/Shutterstock.com Sífilis 25 REAGENTENÃO REAGENTE Reagente Reagente Não-reagente Não-reagente FTA-AbsFTA-Abs Doença não tratada ou tratada recentemente precoce ou doença de longa evolução possivelmente curada Falso positivo Não se evidencia ser período de incubação VDRL Fonte: Elaborado pelo autor. PRINCIPAIS TESTES DIAGNÓSTICOS DA SÍFILIS TESTE DESCRIÇÃO VANTAGENS LIMITAÇÕES Microscopia de campo escuro Visualização direta das espiroquetas no fluído da lesão. Diagnóstico imediato. Permite notificação rápida do parceiro. Não útil para lesões orais. Exige técnico experiente para realização do exame. Não treponêmico VDRL Detecta anticorpo anticardiolipina no sangue. Baixo custo. Títulos são correlacionados com sucesso ou falência no tratamento. Falta de reatividade antes da segunda semana na sífilis primária. 1 a 2% de falso-positivos na gestante e em pessoas com doenças autoimunes, malária, cirrose e tuberculose. Treponêmico FTA-Abs Detecta anticorpos anti-T. Pallidum no sangue. Teste confirmatório com alta especificidade e baixa taxa de falso- positivo. Torna-se reagente precocemente na sífilis primária comparado a outros testes treponêmicos. Custo mais elevado. Só se torna reagente depois de 15 dias na sífilis primária. Tabela 2. Principais testes diagnósticos na sífilis. Fonte: Guia de Referência Rápida. Doenças Sexualmente Transmissíveis. 1ª Edição. Rio de Janeiro, 2013. Sífilis 26 9. interpretação DoS caSoS Sífilis adquirida • Situação 1: Indivíduo assintomático com teste não treponêmico reagente com qualquer titulação e teste treponêmico reagente • Situação 2: Indivíduo sintomático para sífilis com pelo menos um teste reagente (treponêmico ou não treponêmico com qualquer titulação). Sífilis em gestantes • Situação 1: Mulher sem presença de sintomas para sífilis, no pré-natal ou no parto ou puerpério possui um teste positivo sendo ele treponêmico ou não treponêmico e sem história de tratamento anterior. • Situação 2: Mulher com presença de sintomas para sífilis e no período do pré natal ou parto ou puerpério apresente um teste reagente sendo treponêmico ou não treponêmico de qualquer titulação. • Situação 3: Mulher no período de pré natal ou parto ou puerpério com um teste não treponêmico positivo e um teste treponêmico positivo, isso independente de sintomas e de presen- ça de tratamento anterior. Saiba mais! O rastreamento de sífilis em gestante, pelo teste não treponêmico-VDRL é feito logo na primeira consulta do pré-natal. Caso posi- tivo é confirmado pelo teste treponêmico FTA-ABS. O teste deve ser repetido no terceiro trimestre (entre 28 e 32 semanas), no momento do parto e em casos de abortamento. O tratamento deve ser feito seguindo as recomenda- ções do adulto, exceto com uso de Doxiciclina (contraindicado na gravidez). Sífilis 27 Sífilis congênita • Situação 1: Todo recém-nascido (RN), natimorto ou aborto de mulher com sífilis não trata- da ou tratada de forma não adequada • Situação 2: Toda criança com menos de 13 anos de idade com pelo menos uma das se- guintes situações: Presença de clínica alterada, líquor alterado ou presença de sífilis na radiolo- gia e presença de um teste não treponêmico positivo. Os títulos nos testes treponêmico da criança são maiores que o da genito- ra, em ao menos duas amostras do sangue periférico retiradas ao mesmo tempo. Presença de títulos não treponêmico em subida em duas diluições . Teste treponemicos reagentes após 6 meses de vida, com exceção para quando ocorre seguimento terapêutico. Quando não há diagnóstico prévio da sífilis congênita e após o 1 ano e 6 meses de idade presença de teste treponemico reagente. Afastando a possibilidade de sífi- lis adquirida. • Situação 3: Evidência microbiológica de infecção pelo Treponema pallidum em amostra de secreção nasal ou lesão cutânea, biópsiaou necropsia de criança, aborto ou natimorto. *Detecção do T. pallidum por meio de exames diretos por microscopia de campo escuro ou com material corado. 10. tratamento Como vimos, pacientes com sinais e sintomas de sífilis devem ser submetidos a testes sorológicos para confirmar diagnóstico. No entanto, o tratamento empírico pode ser feito para sífilis precoce, ou seja, com base na suspeita de cancro duro, ou em exposição recente conhecida, especialmente quando pouco provável o acompa- nhamento deste paciente. Um teste não treponêmico deve ser obtido antes do trata- mento para adequação da resposta sorológica pós-tratamento. Sífilis 28 Sífilis adquirida recente • Sífilis primária, secundária e latente recente (com menos de um ano de evolução). Doxiciclina 100 mg, VO, 2x/dia, por 14 dias (contraindicado na gravidez) Penicilina G benzatina 2,4 milhões de unidades, IM, dose única (1,2 milhão UI em cada glúteo). Ceftriaxona 1 a 2 g por dia, IM ou IV, por 10 a 14 dias Tetraciclina 500 mg, VO, 4x/dia, por 14 dias Amoxicilina 3 g + Probenecide 500 mg, VO, 2x/ dia, por 14 dias TRATAMENTO ALTERNATIVOTRATAMENTO PREFERIDO Fonte: Elaborado pelo autor. Monitoramento após tratamento: Exame clínico e teste sorológico com um teste não treponêmico (por exemplo RPR) aos 6 e 12 meses. Os títulos devem ser verifica- dos com mais frequência se o paciente estiver infectado pelo HIV, o acompanhamen- to for incerto ou se houver reinfecção. Sífilis adquirida tardia • Sífilis latente tardia (com mais de um ano de evolução) ou latente com duração ignorada e sífilis terciária. Doxiciclina 100 mg, VO, 2x/dia, por 4 semanas (contraindicado na gravidez) Penicilina G benzatina 2,4 milhões de unidades, IM, 1x/semana, por 3 semanas (1,2 milhão UI em cada glúteo). Ceftriaxona 2 g por dia, IM ou IV, por 10 a 14 dias TRATAMENTO ALTERNATIVOTRATAMENTO PREFERIDO Fonte: Elaborado pelo autor. Sífilis 29 Se liga! Indicação para retratamento: Se um paciente assintomá- tico com suspeita de sífilis latente tiver sido tratado anteriormente para sífilis, mas o recebimento de um regime de tratamento apropriado não for verificado, o regime completo de três doses de penicilina recomendado para sífilis latente tardia deve ser administrado. Monitoramento após tratamento: Exame clínico e teste sorológico com um teste não treponêmico (por exemplo RPR) aos 6, 12 e 24 meses. neurossífilis Ceftriaxona 2 g por dia, IV, por 10 a 14 diasPenicilina G cristalina 3 a 4 milhões de unidades, IV, 4/4h, por 10 a 14 dias Penicilina G procaína 2,4 milhões de unidades, IM, diariamente + Probenecide 500 mg, VO, 4x/dia, por 10 a 14 dias TRATAMENTO ALTERNATIVOTRATAMENTO PREFERIDO Fonte: Elaborado pelo autor. Monitoramento após tratamento: Exame clínico e teste sorológico com testes não treponêmico (por exemplo RPR). A frequência depende do estágio da doença (preco- ce ou tardio). O monitoramento do LCR pode ser garantido. Se liga! Nas primeiras 24h após a primeira dose de penicilina, principalmente na sífilis secundária, a paciente pode apresentar a Reação de Jarisch-Herxheimer, caracterizada por febre, artralgia, mal-estar e exacerbação das lesões cutâneas. Essa reação não configura alergia à penicilina e ocorre em resposta ao derrame de proteínas e de outras estruturas dos treponemas mortos pela penicilina na corrente sanguínea. O tratamento é feito com analgé- sicos e antitérmico. Sífilis 30 Adquirida recente Adquirida tardiaPrimária Métodos diagnósticos Tratamento Secundária Terciária Congênita VDRL RPR TRUST FTA-Abs MHA-TP TP-EIA cência em campo escuro Penicilina G benzatina 2,4 milhões de unidades, IM, dose única 2ªop: Doxiciclina 100 mg, VO, 2x/dia, por 14 dias Penicilina G benzatina 2,4 milhões de unidades, IM, 1x/ semana, por 3 semanas 2ª op: Doxiciclina 100 mg, VO, 2x/ dia, por 4 semanas Penicilina G cristalina 3 a 4 milhões de unidades, IV, 4/4h, por 10 a 14 dias OU Penicilina G procaína 2,4 milhões de unidades, IM, diariamente + Probene-cide 500 mg, VO, 4x/dia, por 10 a 14 dias 2ªop: Ceftriaxona 2 g por dia, IV, por 10 a 14 dias SÍFILIS Clinica Treponema pallidum Agente etiológico Não treponêmicos Treponêmicos Pesquisa direta Fonte: elaborado pelo autor. Sífilis 31 referênciaS bibliográficaS Ministério da Saúde. Boletim EpidemiológicoSífilis. Secretaria de Vigilância em Saúde. N° Especial, Out. 2019. Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília-DF, 2015. Imagens Figura 5: Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/secondary-syphilis-lady-who-had -history-496486270 >. Acesso em: 24 de fevereiro de 23. Figura 6: Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/epidemic-rubella-viral-infection-con- cept-skin-1055488253 >. Acesso em: 24 de fevereiro de 23. Figura 7: Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mucosal-involvement-case-secon- dary-syphilis-infection-1032079408>. Acesso em: 24 de fevereiro de 23. Figura 8: Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hair-loss-secondary-syphilis-stage -alopecia-1087454366>. Acesso em: 24 de fevereiro de 23. Figura 13: Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, disponível em: < https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/bacteria-treponema-pallidum-mag- nifying-glass-causative-1715114083 >. Acesso em: 24 de fevereiro de 23. sanarflix.com.br Copyright © SanarFlix. Todos os direitos reservados. Sanar Rua Alceu Amoroso Lima, 172, 3º andar, Salvador-BA, 41820-770 1. Definição 2. Epidemiologia 3. Agente etiológico e transmissão 4. Infecção local precoce e tardia 5. Manifestações clínicas 6. Neurossífilis Meningovascular Sífilis ocular Otosífilis 7. Sífilis congênita 8. Diagnóstico 9. Interpretação dos casos Sífilis adquirida Sífilis em gestantes Sífilis congênita 10. Tratamento Sífilis adquirida recente Sífilis adquirida tardia Neurossífilis Referências bibliográficas