Prévia do material em texto
DESENVOLVIMENTO HUMANO AULA 5 Prof. Cassio Gonçalves de Azevedo 2 CONVERSA INICIAL Abordaremos, nesta aula, três importantes autores do desenvolvimento humano: Jean Piaget, Lev Vygotsky e Henry Wallon. Iniciaremos por Piaget e sua Epistemologia Genética; depois, seguiremos com a Teoria Interacionista de Vigotsky; por fim, a Teoria da Pessoa Completa de Henri Wallon. Ao final, na seção “Na prática”, apresentaremos um caso concreto sobreo qual podemos pensar a partir das três teorias conjugadas. TEMA 1 – EPISTEMOLOGIA GENÉTICA E A TEORIA DE JEAN PIAGET Jean Piaget (1896-1980) se formou em Biologia e Filosofia na Suíça. Foi um teórico cognitivista de grande relevância para as áreas da Psicologia e da Educação. Seus interesses eram direcionados ao estudo sobre a origem e desenvolvimento da inteligência, estruturas mentais implicadas no processo de construção do conhecimento – gênese do conhecimento, tanto de forma teórica como experimental. Em sua teoria, chamada de Epistemologia Genética, Piaget tinha como foco central o sujeito epistêmico e os processos de pensamento, desde a infância inicial até a idade adulta, com perspectiva naturalista, ou seja, afirmava que o ser humano tinha possibilidade de evolução ao se adaptar ao meio ambiente, bem como de construir conhecimento com base na interação com esse, com predisposição de organização interna, favorecendo assim o seu funcionamento e adaptação. Para Piaget, existe um meio externo que regula e corrige o desenvolvimento do conhecimento adaptativo. Sendo assim, a função do conhecimento é produzir estruturas lógicas que permitem ao sujeito atuar no mundo de forma cada vez mais complexas e flexíveis (Gallo; Alencar, 2012, p. 82). Lakomy (2014, p. 24), ao considerar a teoria piagetiana, menciona: “À medida que a criança passa a interagir com o mundo ao seu redor ela começa a atuar e modificar ativamente a realidade que a envolve”. A Teoria da Construção do Conhecimento é a tese de Piaget cujo desenvolvimento intelectual se faz por práticas/ações biológicas, organizacionais, interativas e adaptativas ao meio ambiente, com base na construção de esquemas de ações cognitivos desenvolvidos pelo indivíduo que 3 permitem novas organizações e adaptações, em um processo contínuo de assimilação e acomodação interna, buscando um equilíbrio com o meio. Para o entendimento do processo de desenvolvimento cognitivo, é necessária a compreensão dos seguintes conceitos: hereditariedade, esquema, assimilação e acomodação. Esses conceitos são utilizados por Piaget para elucidar a condição da ação. A hereditariedade é um legado de estruturas biológicas, neurológicas e sensoriais que contribuem para que estruturas mentais sejam originadas, ou seja, o organismo herdado amadurece quando em contato com o ambiente (Gallo; Alencar, 2012, p. 82). O esquema é definido como uma estrutura mental básica de pensamento ou ação, que ocorre através de conexões neurais formadas ou fortalecidas ao vivenciar experiências similares as já experimentadas, favorecendo o amadurecimento cerebral. A criança irá se comportar de acordo com seu esquema, ou seja, modelo mental de ação, diante de uma situação parecida com a qual já viveu, modificada pelo processo de adaptação. Pulaski (1986) considera que esquema expressa um padrão de comportamento ou pensamento; Wadsworth (1996) entende esquema como uma estrutura cognitiva que permite a adaptação intelectual do indivíduo e organização ao meio. Já os conceitos de assimilação e acomodação surgem a partir da adaptação, caracterizada como um processo dinâmico em que a criança busca novos conhecimentos ao explorar o seu meio, e assim tentar se adaptar ao mesmo. A assimilação fortalece o esquema e esse, por sua vez, absorve a experiência vivida, ou seja, o bebê nasce com o reflexo de sucção (esquema primitivo) e passa a mamar o mamilo da mãe; Contudo, quando passa a mamar a mamadeira, essa é assimilada e passa a integrar o esquema de sucção. Lakomy (2014, p. 26) considera que “a assimilação é a incorporação de novos conhecimentos e experiências ou informações à estrutura intelectual da criança que não são modificados”. A assimilação age ao mesmo tempo em que a acomodação; portanto, não existe a assimilação sem acomodação, ou seja, a assimilação e a acomodação são interdependentes. 4 A acomodação é o processo de modificação do esquema e “ocorre quando a criança reorganiza sua estrutura mental a fim de incorporar esses novos conhecimentos, experiências ou informações e transformá-las para se ajustarem as novas exigências do meio” (Lakomy, 2014, p. 26). Quando os processos de assimilação e acomodação ocorrem simultaneamente, proporcionam um ajuste interno das experiências, favorecendo o estado de equilíbrio e viabilizando a organização das estruturas cognitivas. TEMA 2 – ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Para Piaget (citado por Lakomy, 2014, p. 26), o desenvolvimento neurocognitivo é uma sequência que se repete e que somente pode variar de acordo com o ritmo como cada criança irá adquirir novas habilidades ou em etapas anteriores de aprendizagem, ordenando novos esquemas de ação com diferentes propriedades funcionais. Para tanto, Piaget (1982) descreve quatro estágios. 2.1 Sensório Motor – 0 aos 2 anos Estágio que compreende os primeiros níveis do desenvolvimento, em que o recém-nascido não consegue realizar a diferenciação entre si e o mundo, experimentando-o através de sua experiência sensorial no contato com o meio. O bebê, ao nascer, apresenta reflexos, e esses são mecanismos inatos que o auxiliarão a lidar e a se adaptar ao meio, viabilizando o desenvolvimento de primeiros esquemas de ações sem que haja representações mentais ou pensamentos, mas que possibilitam um equilíbrio com o mundo através do toque, da sucção, do olhar, de percepções e sensações, que se modificam conforme ocorre sua interação com o meio e a maturação do sistema nervoso. Esse período é considerado o da inteligência prática, marcado principalmente pelo processo de assimilação, pois o bebê constrói seus primeiros esquemas de ação mais complexos progressivamente, que futuramente servirão como base para conexões cognitivas (Piaget, 1982). 5 2.2 Pré-operatório – 2 aos 7 anos Ocorre o aparecimento da linguagem e a criança não depende unicamente de sensações e movimentos. O desenvolvimento da função simbólica permite o início de atividades com representações e atribuições à realidade (Piaget, 1982). Com o aparecimento da linguagem junto à evolução da habilidade motora, o campo de exploração físico e social da criança é ampliado consideravelmente, e a fala se torna o principal meio de evolução. Nessa fase, verificamos o aumento da curiosidade e dos porquês, em que tudo deve ter uma explicação (finalismo). Nessa fase, a criança é egocêntrica e tem dificuldade de articular pontos de vista e de se colocar no lugar do outro, mas também apresenta uma mistura de realidade com fantasia, atribuindo vida a seres inanimados (animismo) e características humanas a animais ou objetos (antropomorfia). É a fase dos contos de fadas, com possível percepção distorcida da realidade. Seu pensamento tem caráter pré-lógico e irreversível, com dificuldade de fazer associações por falta de maturidade. 2.3 Operações concretas – 7 aos 13 anos A criança tem a capacidade de pensar de forma lógica, mas ainda necessita da realidade concreta para realizar elaborações mentais (Piaget, 1982). Ocorre um amadurecimento que, baseado em lógica e regras, permite que a criança supere o egocentrismo, socialize seus pensamentos, articule outros pontos de vista e respeite sentimentos em busca da compreensão ao próximo, mas ainda com dificuldades em aceitar contradições relacionadas às suas ideias.A reversibilidade dos pensamentos já pode ser entendida e ocorre o abandono do pensamento fantasioso, bem como a necessidade de comprovação prática das elaborações mentais. 2.4 Operações formais – 13 anos em diante O adolescente passa a pensar de forma lógica, abstrata, formula hipóteses e as testa sistematicamente, buscando soluções. Compreende 6 metáforas, associa ou correlaciona conhecimentos, usa a linguagem para elaborar pesquisas e hipóteses e se liberta das limitações da realidade concreta (Piaget, 1982). É possível perceber a preocupação do adolescente em relação ao seu próprio pensamento e o interesse por ideias abstratas, como o senso de justiça, a discussão e criticidade sobre os sistemas sociais e a democracia. Os adolescentes costumam questionar os valores morais de seus pais e sentimentos como o amor e fantasias, visando à construção de autonomia com base na elaboração de normativas próprias. Assim, para Piaget, por meio dessas quatro etapas, o indivíduo completa a elaboração cognitiva e continua a se desenvolver ao longo da vida, conforme a estimulação advinda do meio em que está inserido. TEMA 3 – TEORIA SOCIOINTERACIONISTA DE LEV VIGOTSKY Lev Vygotsky (1896-1934) foi um psicólogo bielo-russo, pesquisador contemporâneo de Piaget. Ele buscou estudar a influência da linguagem e da comunicação no desenvolvimento cognitivo do indivíduo considerando sua experiência histórico-social – Revolução Socialista. Defendia o aprendizado como essencial para que o indivíduo pudesse compreender e analisar o seu contexto social. Em sua teoria, considerava fundamentais para o processo de desenvolvimento as vivências sociais, culturais e a linguagem. Dessa forma, considerava que o contexto social e o desenvolvimento cognitivo “caminham juntos”. E, assim como Piaget, Vygotsky deixou contribuições expressivas para as áreas da educação e Psicologia, e é considerado um dos pensadores mais influentes da Psicopedagogia contemporânea. Baseado em seus estudos, surgiu a teoria nomeada Sociointeracionista ou Socioconstrutivista, cujo desenvolvimento é um processo de origem social, histórico e cultural. Em sua teoria, Vygotsky destaca a importância estímulos ambientais e de intervenção motivacional de mediadores no processo de ensino- aprendizagem, bem como o papel fundamental da interação da criança com pessoas mais experientes, em que existe a estimulação para o alcance de novas habilidades e níveis de compreensão que ainda não domina, proporcionando ao impulso para o desenvolvimento de suas estruturas cognitivas. 7 O desenvolvimento cognitivo da criança é um processo de assimilação ativa do conhecimento histórico-social existente na sociedade em que ela nasceu. Esse conhecimento é internalizado e transformado pela criança por meio da interação com as pessoas que a rodeiam. [...] Nesse processo de interação, a linguagem desempenha, desde o nascimento da criança, um papel fundamental na formação e na organização de um pensamento gradativamente mais complexo e abstrato (Lakomy, 2014, p. 30). Desta forma, a linguagem é destacada e exerce papel fundamental na sistematização de suas experiências sociais. Logo, as interações sociais estão relacionadas ao processo de aprendizagem de forma prática e abstrata, e estimulam vários processos internos para que ocorra o desenvolvimento intelectual (Vygotsky, 1988). Vygotsky, baseado no processo de mediação, realizou experimentos e concluiu que, diferentemente dos animais, o ser humano necessita de signos ou símbolos (instrumentos físicos e psicológicos) para aprender, como o signo da escrita. Esses signos ou símbolos e a linguagem, associados à ação, atribuem características humanas ao indivíduo. “Por exemplo, no período pré- verbal, a ação das crianças é comparável à dos macacos antropoides” (Lakomy, 2012, p. 32). O comportamento do ser humano (atitudes conscientes, pensamento lógico, abstrato ou imaginário, além de fatos concretos e planejamentos) se desenvolve por meio das demandas ou do aprendizado social. Nessa perspectiva, o desenvolvimento do processo da linguagem passa pela interação com o meio social e cultural e, juntamente com os símbolos, é considerada mediador para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo. A linguagem, a atenção, a memória e o pensamento são caracterizados como funções superiores e seu desenvolvimento suscita comportamentos que constituem e diferenciam o ser humano de outras espécies. Assim, Vygotsky afirma que as relações que o indivíduo mantém socialmente dão origem ou iniciam a evolução dessas funções. As relações interpessoais e o desenvolvimento ou evolução são aperfeiçoados com base na complexidade e sofisticação da linguagem, permitindo desde a classificação dos objetos até associações, elaborações e organizações mais sofisticadas da realidade. 8 3.1 Níveis do desenvolvimento da fala Vygotsky estabelece associações entre o desenvolvimento cognitivo e a relação entre a fala e a ação modificada, relacionando a três fases (Vygotsky, 1988): 1. Fala Social – até 3 anos. É a primeira fala a surgir. Acompanha as ações da criança de forma imitativa, caótica e dispersa. 2. Fala Egocêntrica – 3-6 anos. A fala passa a preceder a ação. A criança fala o que faz e, quando concentrada, pode falar em voz alta ou baixa. O pensamento do planejamento das atividades da criança é externalizado. Nessa fase, existe a descoberta de que todas as coisas têm nomes e aparece a curiosidade em saber o que é isso ou aquilo, o que possibilita o aumento do vocabulário. 3. Fala Interior – Após 6 anos. A fala interna aparece progressivamente, possibilitando a aquisição da função de autorregulação ou planejadora, permitindo o controle de situações, atenção, comportamentos, afetos, emoções, percepção, pensamento, memória e capacidade em solucionar problemas, mesmo que esses não estejam sendo vistos. É a fase do discurso interior, em que é possível pensar palavras e interiorizar sons sem necessariamente verbalizá-los. Com bases nesses estudos, Vygotsky (1988) desenvolveu o conceito de Zona do Desenvolvimento Proximal, compreendida como a distância entre o desenvolvimento real e o desenvolvimento potencial da criança. O Desenvolvimento Real corresponde aos saberes já formados e/ou adquiridos, ou seja, a criança por si só tem o seu nível de compreensão ou entendimento de um conhecimento ou resolução de um problema. O Desenvolvimento Potencial condiz com a capacidade que a criança tem de aprender com outra pessoa, possibilitando o aumento e transformação do conhecimento. Alicerçado nesses conceitos, o aprendizado cria a Zona de Desenvolvimento Proximal, e é entendido por Vygotsky da seguinte forma: 9 Aprendizado não é desenvolvimento; entretanto, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas (Vygotsky, 1991, p. 101). Assim, para Vygotsky, o desenvolvimento humano e a aprendizagem são processos que se influenciam reciprocamente e desse baseiam em uma perspectiva histórico-cultural. TEMA 4 – TEORIA DA AFETIVIDADE DE HENRI WALLON Henri Wallow (1879-1962) foi um médico, filósofo e psicólogo francês; nas décadas de 1950 e 1960, desenvolveu uma teoria psicogenética centralizada na afetividade – Teoria da Afetividade. Tinha grande interesse pela psicologia voltada à criança e em suas implicações para a educação. Desenvolveu estudos e pesquisas com foco no atendimento de crianças com necessidades especiais e trabalhou na segunda guerra mundial com pessoas que apresentavam distúrbios psiquiátricos, despertandoatenção para a importância do desenvolvimento pessoal do indivíduo. Sua obra também é considerada como Psicogênese da Pessoa Completa, pois destaca o desenvolvimento de forma integral, considerando questões cognitivas, afetivas e motoras, bem como as interações entre o sujeito e seu meio sociocultural. Lakomy (2014, p. 50) afirma que a teoria de Wallon “[...] auxilia tanto no desenvolvimento pessoal quanto no desenvolvimento cognitivo do indivíduo”. Os estudos de Wallon se situam nos campos da psicologia do desenvolvimento e da psicologia genética, interessando-se pelas origens do conhecimento e considerando tanto as questões orgânicas como também as influências socioambientais como agentes relacionados ao desenvolvimento psíquico, e assim sendo de grande contribuição para a área da educação. Dessa forma, acredita que a criança evolui de maneira global em diferentes domínios ou campos funcionais e nas fases do seu desenvolvimento. Essas fases não acontecem de forma linear, mas são assíncronas e descontínuas quando relacionadas aos domínios, marcadas dessa forma por alternâncias entre eles, nos quais, em alguns momentos, prevalecem os aspectos afetivos e, em outros momentos, os cognitivos – Alternância Funcional. 10 A alternância funcional é notada por crises ou conflitos, que podem ser tanto de origem de endógena, ocorrendo por meio do amadurecimento nervoso, quanto de exógena, mediante as influências do meio que agem na conduta e no desenvolvimento, o que possibilita novas organizações orgânicas e novas alterações do meio social por meio de situações e estímulos diferenciados, os quais, por sua vez, são necessários para o exercício do pensamento. Essas crises e conflitos possibilitam o surgimento e a dinamização do pensamento e da inteligência, fazendo parte do desenvolvimento psíquico normal da criança. Assim, os estágios do desenvolvimento são categorizados e relacionados aos recursos ou domínios funcionais, os quais a criança possui para interagir com o meio. É por meio das interações sociais que ocorre o desenvolvimento da afetividade e da inteligência. No entanto, as interações voltadas à afetividade são de origens culturais, e no que tange a inteligência, são de origens interpessoais. Mas, é por meio da inteligência prática ou das situações que a criança começa a construir a realidade, e dessa forma a afetividade dá espaço ao desenvolvimento cognitivo. A fala e o comportamento representativo são fundamentos paro o pensamento discursivo. Assim, ocorrem vários momentos afetivos ou cognitivos de maneira integrada, sendo que para que ocorra o processo de evolução, a afetividade necessita de conquistas pelo plano cognitivo e vice-versa (Lakomy, 2014, p. 51). 4.1 Os estágios do desenvolvimento segundo Wallon Wallon considera que o desenvolvimento humano ocorre de maneira interacionista e dialética sem definição de idades. Contudo, para elucidar o entendimento sobre como isso ocorre do ponto de vista afetivo, ele definiu cinco estágios buscando estabelecer um parâmetro de tempo comum entre as crianças, o que geralmente acontece por faixa etária (Mahoney; Almeida, 2005, p. 22): 1. Estágio – Impulsivo Emocional (0 – 1 ano). No primeiro ano de vida, o âmbito afetivo predominante na vida do bebê é caracterizado pelas relações emocionais trocadas com o meio, isso de forma corporal por movimentos descoordenados, proprioceptivos (sensibilidade muscular) e interceptivos (sensibilidade visceral). 11 La Taille, Oliveira e Dantas (2019) pontuam que esse estágio é uma fase de construção do sujeito, em que existe a presença do trabalho cognitivo que ainda não se diferencia da atividade afetiva. O bebê depende de outras pessoas para sobreviver e é afetado por meio das emoções para que suas necessidades sejam satisfeitas. Essas emoções podem ser percebidas por reações orgânicas, como expressões faciais, gestos, choros, gritos e alteração no ritmo cardíaco e/ou respiratório. 2. Estágio – Sensório Motor e Projetivo (1 – 3 anos). Nesse estágio, predomina o âmbito cognitivo, pois é quando a criança fala, marcha e se volta para a exploração sistemática do meio (exploração exteroceptiva). “Essa exploração permite que ocorra um processo de diferenciação entre afetividade e inteligência, apesar da reciprocidade entre ambas se manter de tal forma que as aquisições de cada uma repercutem sobre a outra permanentemente” (Lakomy, 2014, p. 51). 3. Estágio – Personalismo (3 – 6 anos). O predomínio se volta ao âmbito afetivo. O foco está no desenvolvimento da personalidade ou na construção da consciência sobre si e de se descobrir diferente dos outros, permitindo a ocorrência da modulação em relação a sua forma de agir e autonomia (reconhecer e respeitar as diferenças). “O tipo de afetividade que facilita essas aprendizagens comporta oportunidades variadas de convivência com outras crianças de idades diferentes e aceitação dos comportamentos de negação [...] recursos de desenvolvimento” (Mahoney; Almeida, 2005, p. 22). 4. Estágio – Categorial (início por volta dos 6 anos – 11 anos). O predomínio volta a ser cognitivo e da razão. O interesse da criança é voltado para o conhecimento e as conquistas e exploração mental em relação ao mundo externo e físico. Diferenciação entre o eu e o outro, semelhanças e diferenças. A organização do mundo em categorias bem definidas possibilita também uma compreensão mais nítida de si mesma (Mahoney; Almeida, 2005, p. 22). 5. Estágio – Adolescência. O predomínio afetivo é retomado e tem como base exigências fundamentadas na racionalidade. A afetividade determina os moldes da 12 personalidade. Existe a busca por uma identidade autônoma. Além disso, a oposição, juntamente com a expressão e discussão de ideias, permitem a aprendizagem. “O domínio de categorias cognitivas de maior nível de abstração, nas quais a dimensão temporal toma relevo, possibilita a discriminação mais clara dos limites de sua autonomia e de sua dependência” (Mahoney; Almeida, 2005, p. 22). Em relação ao adulto, espera-se que ocorra a promoção da consciência moral e o amadurecimento existente na busca do equilíbrio entre si e o outro, entre seu mundo interior e exterior no processo de desenvolvimento. Para Mahoney e Almeida (2005, p. 22), o adulto “conhece melhor suas possibilidades, suas limitações, seus pontos fortes, suas motivações, seus valores e sentimentos, o que cria a possibilidade de escolhas mais adequadas nas diferentes situações de vida”. Henry Wallon destaca a emoção como algo inerente ao ser humano e mostra a importante relação entre a afetividade e a inteligência, mas também ressalta a necessidade da imposição de limites no processo de aprendizagem. Conclui-se que, para que ocorra uma efetiva educação, a comunicação afetiva é essencial. TEMA 5 – CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON Como vimos até agora, Piaget, Vygotsky e Wallon foram importantes mestres, estudiosos e pesquisadores que desenvolveram teorias psicogenéticas interacionistas, que até hoje norteiam e embasam estudos sobre o desenvolvimento humano, principalmente nas áreas da Psicologia e Educação. Muito já se discutiu na literatura sobre as convergência e divergências entre suas teorias, talvez como uma investida em defender pontos de vista, sobrepor ou acomodar tais conhecimentos. Isso, de certo modo, originou o entendimento de que cada uma dessas teorias apresenta riquezas que ainda permanecem vivas e merecem ser estudadas e conhecidas. Piaget e Vygotsky são considerados construtivistas complementares; embasados em seus próprios experimentos, desenvolveram teorias cognitivas da aprendizagem. 13 Piaget tinha uma perspectiva naturalista com enfoque biológico inclinado para a organização e adaptação do organismo ao meio. Sendo assim, em sua teoria,chamada de Epistemiológia Genética, considerava tanto os fatores maturacionais quanto os ambientais. Para Piaget, o desenvolvimento ocorre antes da aprendizagem através de estágios. Vygotsky, por outro lado, tinha uma perspectiva histórico-social. Em sua Teoria Interacionista, afirma que a aprendizagem ocorre pela interação da criança com o meio, para então acontecer o desenvolvimento – Zona do Desenvolvimento Proximal. Dessa forma, descreve a complexidade que existe na relação entre a aprendizagem e desenvolvimento, pois a aprendizagem promove o desenvolvimento, e esse está relacionado às modificações que acontecem no meio ambiente ao longo da vida do indivíduo e do seu funcionamento psicológico. Assim, o desenvolvimento é percebido de forma conjunta às práticas culturais e educativas, incluindo o processo de aprendizagem. Em síntese, o desenvolvimento e aprendizagem dizem respeito às experiências do sujeito no mundo com base nas interações, assumindo o pressuposto da natureza social do desenvolvimento. Ainda aponta que a criança nasce com funções psicológicas elementares, as quais, com o aprendizado da cultura e as experiências adquiridas, tornam-se funções psicológicas superiores – comportamentos conscientes, ação proposital, capacidade de planejar e pensamento abstrato. Para Wallon, em sua teoria da Psicogênese da Pessoa Completa – Teoria da Afetividade –, a aprendizagem acontece pela relação da criança com o movimento e a afetividade, em que a construção da inteligência está relacionada ao desenvolvimento da afetividade. Logo, a inteligência e a afetividade proporcionam o desenvolvimento do ser humano de maneira global, afetiva, individual, concreto e social. Para ele, é por meio da emoção que a criança exterioriza seus desejos e suas vontades. A emoção é algo típico da espécie humana e mostra a interligação entre afetividade e inteligência. Para melhor compreensão, delineou o papel da afetividade em diferentes estágios. Wallon considerou que a criança completa, concreta, contextualizada, vista de forma integral no processo de desenvolvimento, tendo quatro elementos básicos principais que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu. 14 NA PRÁTICA Os fatores sociais e biológicos do desenvolvimento foram objeto de controvérsia, como vimos, ao longo do desenvolvimento da ciência do desenvolvimento humano. Considerando esses dois fatores, contudo, podemos compreender o desenvolvimento completo? Uma criança, por exemplo, com dificuldades de aprendizado e, consequentemente, de desenvolvimento deve ser considerada exclusivamente do ponto de vista da maturação de seu sistema biológico e do seu contexto social? Depois dessa aula, compreendemos que o aspecto emocional influencia decisivamente nesse processo de desenvolvimento e, caso negligenciado, pode colocar sim em risco todo o desenvolvimento do sujeito. FINALIZANDO Nesta aula, aprendemos sobre as relevantes contribuições da teoria do desenvolvimento humano e aprendizagem sob a ótica da Epistemologia Genética de Jean Piaget, bem como os conceitos de hereditariedade, esquema, assimilação e acomodação, além das fases do desenvolvimento cognitivo: sensório motor, pré-operatório, operações concretas e operações formais. Vimos a teoria Sociointeracionista de Vygotsky e o papel de mediação que a linguagem nela adquire. Vimos também os níveis de fala: Fala social, Fala egocêntrica e Fala interior, além da Zona de Desenvolvimento Proximal. Quanto à Teoria da Pessoa Completa de Henri Wallon, vimos que ela alterna períodos de predominância cognitiva e afetiva, que Wallon denominou Alternância Funcional. Vimos ainda os estágios de Walon, o impulsivo emocional, o sensório motor e projetivo, o personalismo, categorial e, por fim, a adolescência. Foi possível entender através de Piaget e Vygotsky de que forma os fatores internos e a influência social interferem no processo da construção da aprendizagem, mas também, com base nos estudos de Wallon, vimos que a emoção desempenha um papel fundamental para o desenvolvimento da inteligência de um ser humano afetivo, individual, concreto e social. 15 REFERÊNCIAS GALLO, A. E.; ALENCAR, J. da S. A. Psicologia do desenvolvimento da Criança. Maringá, 2012. LA TAILLE, Y. de; OLIVEIRA, M. K. de; DANTAS, H. Piaget, Vigotski, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. 28. ed. São Paulo: Summus, 2019. LAKOMY, A. M. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2014. MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. R. de. Afetividade e processo ensino- aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. Psicologia da educação, São Paulo, n. 20, p. 11-30, jun. 2005. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 69752005000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 4 jan. 2022. PIAGET, J. A construção do real da criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1988. _____. Linguagem e pensamento da criança. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1990. _____. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1997. PIAGET, J.; INHLEDER, B. A psicologia da criança. São Paulo: Difel, 1982. PULASKI, M. A. S. Compreendendo Piaget. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1986. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: M. Fontes, 1988. _____. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1991. WADSWORTH, B. J. Inteligência e Afetividade da Criança na Teoria de Piaget. São Paulo: Pioneira,1996. WALLON, H. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Edição 70, 2005.