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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA - NECROPSIA Estudante: Brenda Raphaela Carvalho de Brito UC22200941 Professora: Edilaine Fernandes BRASÍLIA-DF 2022 Sumário Introdução 1. Necropsia 2. Alterações cadavéricas 3. Exame necroscópico 3.1. Exame externo 3.2. Exame interno 3.2.1. Abertura do cadáver 3.2.2. Exame das vísceras e SNC 4. Insuficiência Cardíaca Congênita Esquerda 4.1. Manifestação clinica 4.2. Diagnóstico 4.3. Tratamento Conclusão Referências bibliográficas Introdução A necropsia consiste em um exame detalhado de um cadáver, com a finalidade de determinar e esclarecer a causa da morte pela interpretação das patologias no organismo. À vista disso, inclui-se o conhecimento acerca das alterações cadavéricas, como também o exame necroscópico que abrange o externo e o interno. Ademais, a Insuficiência Cardíaca Congestiva é uma doença que acomete os animais, possuindo um grau emergencial. Ocorre quando o coração falha em bombear o sangue para as demais vias do organismo, comprometendo-o. 1. Necropsia Método de secção do corpo aplicado para a descoberta do óbito do animal. Possui o objetivo de identificar e analisar as patologias que acometeram o cadáver. Durante este exame é possível ter o conhecimento direto da causa principal além da coleta de material complementar para o auxílio no diagnóstico. 2. Alterações cadavéricas A observação das alterações cadavéricas permite estimar o tempo entre a morte e a necropsia. O estado de nutrição do cadáver dá indicações muito úteis ao diagnóstico anatomopatológico. (CARDOSO, s.d.) O algor mortis, o rigor mortis, o livor mortis, as alterações oculares, a coagulação do sangue, a autólise e a putrefação são modificações que aparecem no corpo do animal, algum tempo após a sua morte, e são denominados de alterações cadavéricas. (CARDOSO, s.d.) O algor mortis, isto é, o esfriamento do cadáver, se instala 1 a 24 horas após a morte. O rigor mortis aparece mais ou menos 3 a 6 horas depois da morte e dura aproximadamente 24 horas, desaparecendo quando surgem os primeiros sinais de putrefação. O livor mortis se caracteriza pelo surgimento de manchas violáceas que se localizam nas regiões de declive e faltam nas regiões em que o corpo se apoia. (CARDOSO, s.d.) 3. Exame necroscópico Antes de iniciar o exame necroscópico certifique-se quanto à autorização do proprietário ou responsável. Obtenha informações sobre a rotina da propriedade e os fenômenos que antecederam a morte através de uma anamnese detalhada. A avaliação necroscópica inclui três momentos: o exame externo, a abertura e o exame interno do cadáver. A técnica pode ser adaptada conforme a necessidade, mantendo a premissa de se obter o máximo de informações a partir do exame macroscópico pormenorizado. 3.1. Exame externo Inicia-se a prática da necropsia com o exame externo do cadáver, consistindo em observar e detectar alterações quanto ao estado geral do animal. Nesse exame, são observadas as alterações cadavéricas, o estado de nutrição do animal, presença de ectoparasitas, escoriações, cicatrizes, neoplasias, exame da cavidade oral e situação das mucosas. Todas as alterações encontradas, tais como icterícia, aftas, tumorações, corrimentos, secreções, dentre outras, devem ser registradas e devidamente investigadas. (CARDOSO, s.d.; MOURA, s.d.) 3.2. Exame interno É a abertura propriamente dita do cadáver. Dependendo do porte do animal, pode-se fixá-lo à mesa de necropsia adequada à espécie. (CARDOSO, s.d.) 3.2.1. Abertura do cadáver a) Em decúbito dorsal e distendido, expõe-se toda a região ventral do animal. Promove-se a incisão longitudinal da pele sobre a linha mediana, desde a região mandibular até a sínfise pubiana. (CARDOSO, s.d.) b) Deve-se optar pela abertura inicial da cavidade abdominal ou da cavidade torácica e nunca das duas simultaneamente, pois caso exista liquido em algumas das cavidades o mesmo pode transvazar de uma cavidade para outra confundido sobre a real origem do liquido. (CARDOSO, s.d.) c) Desarticular os membros posteriores na articulação coxofemoral e rebater os membros anteriores lateralmente de maneira que ocorra a exposição completa da pelve e tórax. Seguir dissecando a pele e subcutâneo das regiões submandibular e cervical. (MOURA, s.d.) d) A partir do lábio inferior, rebata a pele, o tecido subcutâneo e a musculatura, até o início da cavidade torácica. Realize duas incisões na face interna dos ramos laterais da mandíbula, seccione a musculatura local, tracione a língua para fora da cavidade oral e siga com uma incisão junto à inserção dos palatos. Mantenha a tração e corte as estruturas cervicais dorsalmente até a entrada do tórax, para a liberação do conjunto língua, esôfago e traqueia. Continue o corte na linha dorsal da cavidade torácica, junto às vértebras, até a inserção do diafragma. Neste ponto, seccione a aorta, a cava e o esôfago, de modo a liberar o primeiro conjunto, composto por língua, traqueia, esôfago, pulmões e coração. (MATOS e MOURA, 2013) 3.2.2. Exame das vísceras e SNC e) Examine a superfície da língua e realize corte longitudinal para verificar a musculatura. f) Corte a traqueia em seu comprimento total e verifique possíveis conteúdos e aspectos da mucosa. É comum observar conteúdo espumoso, que caracteriza edema pulmonar agudo. Ao exame dos pulmões, abra os brônquios principais dos lobos craniais e caudais e adentre o tecido pulmonar. Siga o exame pulmonar com cortes transversais ao longo dos lobos. Corte ao longo do bordo pulmonar para avaliar quanto à presença de parasitas (MATOS e MOURA, 2013) g) Abra o saco pericárdico e observe se há acúmulos de conteúdo. Examine o lúmen das câmaras, endocárdio e as válvulas cardíacas. A musculatura cardíaca pode exibir lesões de origem circulatória (hemorragias), muito comuns devido à alta densidade vascular do órgão, além de degeneração e necrose, esta última de causas isquêmicas e não isquêmicas. (MATOS e MOURA, 2013) h) Avalie o diafragma quanto a sua integridade, observando ambos os lados do músculo. O baço compreende órgão hemolinfático muito susceptível às alterações de volume. Inicie a avaliação esplênica antes mesmo que se realizem os cortes da superfície ao parênquima. Analise os linfonodos e o baço se preocupando com o tamanho e a presença de tumorações. (MATOS e MOURA, 2013) i) Observe o fígado quanto às alterações de volume, irregularidades e opacidade na superfície, nodulações, modificações na cor e parênquima, realizando cortes transversais seriados em toda a extensão hepática (MATOS e MOURA, 2013) j) Examine os rins externamente e avalie o parênquima internamente (corte longitudinal único ao longo da curvatura maior até alcançar o hilo, removendo a cápsula). Observe possíveis alterações nas regiões cortical, medular e pélvica (MATOS e MOURA, 2013) k) Observe o posicionamento gástrico à abertura da cavidade abdominal. Siga com a abertura das câmaras a partir de suas curvaturas, examinando o conteúdo e a mucosa do rúmen, retículo, omaso e abomaso. O intestino é de grande extensão e pode exibir ampla variedade de enfermidades e lesões. Por esta razão, procure distender as alças intestinais desde o duodeno até a porção final do cólon (MATOS e MOURA, 2013) l) Avalie a bexiga já à vista da serosa e, após abertura da parede, internamente no que diz respeito ao conteúdo, à mucosa e à espessura da parede. Neste conjunto de órgãos também se encontra a porção final do cólon, o intestino grosso, representada pela ampola retal, que deve ser aberta e avaliada especialmente quanto aos aspectos da mucosa. (MATOS e MOURA, 2013) m) No sistema reprodutor das fêmeas o exame inicia-se com a abertura da vulva, na sua porção dorsal, seguindo o corte ao longo do canal vaginal até a cérvix e em direção aos cornos, avaliando a mucosa e alterações de conteúdo no lúmen uterino. Em seguida, realize cortes longitudinais em ambos os ovários e também avalie a glândula mamária. Nos machos, abra a bolsa escrotal, exteriorizeos testículos e realize corte longitudinal único ao longo da linha oposta ao epidídimo em cada testículo. (MATOS e MOURA, 2013) n) Examine a carcaça por meio da palpação e do corte dos músculos, ossos e articulações. (MATOS e MOURA, 2013) o) No sistema nervoso central remova a cabeça do cadáver, seccionando a articulação atlanto-occipital, musculatura e pele adjacentes. Fazem parte deste sistema a medula espinhal e o encéfalo. A medula espinhal é acessada a partir de corte ósseo longitudinal ao longo das vértebras e removida do canal espinhal em três segmentos, cervical, torácico e lombar, tendo em vista a sua longa extensão e as ramificações nervosas. Para acessar o encéfalo, remova a pele e a musculatura na porção dorsal da cabeça, expondo a superfície óssea da calota craniana e removendo-a. Posicione a cabeça em orientação dorso ventral e, com a tesoura curva, corte os nervos cranianos e remova o encéfalo inteiro da caixa craniana, avaliando o encéfalo e o interior da caixa craniana. Com o auxílio de um bisturi, remova o monobloco, estrutura localizada na base do crânio, que abriga a hipófise, o hipotálamo e o hipocampo. (MATOS e MOURA, 2013) 4. Insuficiência cardíaca congestiva esquerda - ICCE O sistema cardiovascular tem como função primordial a manutenção da pressão arterial e do débito cardíaco, de forma a providenciar pressões venosas e capilares normais quer em exercício quer em repouso (MOTA, 2009). A síndrome clínica denominada insuficiência cardíaca congestiva é uma das principais causas de óbito dos pacientes com doença cardíaca. Tal condição é ocasionada por uma falha do coração em realizar a função de bomba do sistema circulatório, levando a complexos mecanismos de ativação neuro-hormonal. O correto entendimento desses mecanismos é fundamental para a compreensão da evolução dessa síndrome, bem como das estratégias terapêuticas disponíveis. Caracterizada pelo aumento nas pressões venosa e capilar, em razão do comprometimento da função cardíaca, resultando em órgãos com vasos congestos, podendo haver extravasamento de líquidos para tecidos e cavidades (edemas e efusões). (PEREIRA, et al) A ICC pode ser classificada de acordo com o lado acometido. Assim, a insuficiência em bombear sangue do lado esquerdo é chamada de insuficiência cardíaca congestiva esquerda e resulta em congestão da circulação pulmonar. Quando há retorno de sangue por onde ele não deveria, como no caso da regurgitação da válvula mitral, ocorre a congestão (o sangue para de fluir e fica estagnado em determinados locais) e, à medida que o coração falha, desenvolve a ICC. Nem todo animal com cardiopatia apresenta insuficiência cardíaca, tampouco insuficiência cardíaca congestiva, sendo esta encontrada nas fases mais avançadas da doença cardíaca. A insuficiência cardíaca congestiva, como resultado final da progressão das diversas doenças cardíacas em cães e gatos, é uma síndrome bastante comum. (PEREIRA, et al) 4.1. Manifestação clínica A insuficiência cardíaca congestiva esquerda tem como resultado o edema pulmonar. Esse quadro é resultado do aumento da pressão venosa pulmonar e consequente elevação da pressão hidrostática dos capilares pulmonares, favorecendo a saída de líquido para o espaço extravascular (parênquima pulmonar) (PEREIRA, et al). Assim, os sinais típicos de IC congestiva esquerda estão relacionados com dificuldades respiratórias tais como taquipneia, dispneia, ortopneia (COBB, 1998), podendo ainda apresentar tosse úmida, por vezes, com eliminação de secreção serossanguínea. 4.2. Diagnóstico Os mecanismos fisiopatológicos da insuficiência cardíaca congestiva sempre devem ser levados em consideração na interpretação dos achados de exames clínicos e complementares. Dentre eles, o principal é o mecanismo de controle do sistema nervoso autônomo. Pacientes com insuficiência cardíaca congestiva estabelecida têm ativação exacerbada do tônus simpático, e a maneira mais fácil de evidenciar essa ativação é pelo aumento na frequência cardíaca. Deste modo, a determinação da frequência cardíaca pela auscultação cardíaca é um dado extremamente importante na interpretação clínica. Dentre os exames complementares empregados no diagnóstico da insuficiência cardíaca congestiva, destacam-se o eletrocardiograma, o exame radiográfico de tórax, o ecocardiograma, a determinação da pressão arterial sistêmica, e o Holter (PEREIRA, et al). 4.3. Tratamento A estratégia terapêutica ideal na IC é identificar e tratar a doença primária (MOTA, 2013). O objetivo do tratamento da insuficiência cardíaca congestiva em cães e gatos, em sua maioria, não é proporcionar a cura ao paciente, devido ao fato de que ainda não existem cirurgias de transplante cardíaco e cirurgias cardíacas reparadoras eficientes e disponíveis em nosso país com índice de sucesso satisfatório (PEREIRA et al). A maioria dos esquemas de tratamento de cães com IC são baseados em manifestações clínicas e achados radiográficos. As informações sobre o tamanho do coração, grau de regurgitação e/ou grau de disfunção de contratilidade fornecidos pela ecocardiografia em conjunto com a história, exame físico, eletrocardiograma e radiografia de tórax permitem um acesso mais cuidadoso à gravidade da doença e à necessidade de tratamento (PETRUS, 2020) A terapia utilizada é, basicamente, medicamentosa, com objetivos principais de aumentar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida (PETRUS, 2020). Assim, o objetivo é reduzir a carga sobre o coração, com a diminuição do volume sanguíneo que chega por minuto (pré-carga) e redução do esforço para saída do sangue (pós-carga), utilizando principalmente diuréticos; controlar a pressão arterial e aumentar a contração cardíaca; utilizar anti-arrítmicos em casos de arritmia; e, além disso, também pode-se utilizar nutracêuticos, como o ômega 3 e ômega 6. Conclusão Observa-se, portanto, que um exame necroscópico deve ser realizado atenciosamente, respeitando o animal, por um profissional especializado afim de desvendar a causa da morte e podendo ainda contribuir para um possível controle ambiental com base nos resultados. Outrossim, para chegar ao diagnóstico da Insuficiência Cardíaca Congestiva Esquerda é necessário avaliar e interpretar minuciosamente todas as manifestações clinicas e exames complementares, além de adequar o tratamento correto ao estágio da doença levando sempre em conta o bem estar do animal. Referências bibliográficas CARDOSO, Celia Virginia Pereira. Técnica de necropsia. SciELO books. Link para acesso: https://books.scielo.org/id/sfwtj/pdf/andrade-9788575413869-40.pdf MATOS, Moema Pacheco Chediak; MOURA, Veridiana Maria Brianezi Dignani de. Manual de necropsia, colheita e envio de amostras para diagnóstico laboratorial de enfermidades de bovinos. Goiania: Departamento de Medicina Veterinária - Setor de Patologia Animal, 2013. MOURA, Veridiana Maria Brianezi Dignani de. Roteiro de necropsia e colheita de material para laboratório. Goiânia: UFG - Departamento de Medicina Veterinária – Setor de Patologia Animal. MOTA, Rui Pedro Lima dos Santos. Abordagem à síndrome de insuficiência cardíaca no cão e no gato. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal, 2009. PEREIRA, Guilherme Gonçalves; YAMATO Ronaldo Jun; LARSSON, Maria Helena Matiko Akao. Tratado de medicina interna de cães e gatos: Insuficiência Cardíaca Congestiva, Cap. 131. Rio de Janeiro: Roca, 2015. PETRUS, Lilian Caram. Abordagem prática do tratamento da icc em cães. 2020. Link para acesso: https://vetsmart-parsefiles.s3.amazonaws.com/267cf56ddde32dc98331edde530438af_vetsmart_admin_pdf_file.pdf https://www.petlove.com.br/conteudo/saude/doencas/insuficiencia-cardiaca-congestiva-esquerda-icce. Acesso em 14/11/2022. image1.png