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Sistemas e Vias de Controle Judicial da Constitucionalidade Critério Subjetivo ou Orgânico · Sistema Difuso: Qualquer juiz ou tribunal pode realizar o controle de constitucionalidade, respeitando as regras de competência. É chamado de "difuso" porque se difunde por todos os órgãos do Poder Judiciário e "aberto" porque se abre a todos os órgãos do Poder Judiciário. · Sistema Concentrado: O controle de constitucionalidade é centralizado em um ou poucos órgãos jurisdicionais. No sistema concentrado, o órgão jurisdicional possui competência originária para julgamento da questão constitucional. Critério Formal · Controle Incidental (ou pela Via de Exceção ou de Defesa): A inconstitucionalidade é uma questão prejudicial, causa de pedir e premissa lógica do pedido principal. Exemplo: Em uma ação de repetição de indébito tributário, a causa de pedir é a inconstitucionalidade da lei que gerou a cobrança do tributo. · Controle pela Via Principal (Abstrata ou pela Via de Ação ou Direto): A inconstitucionalidade é o objeto principal e exclusivo da demanda. Exemplo: O Procurador Geral da República ajuíza uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra uma lei estadual que viola a Constituição. Mesclando Critério Subjetivo ou Orgânico e Critério Formal · Controle Difuso pela Via Incidental: Exemplo: Uma ação de repetição de indébito tributário pode ser julgada por qualquer juiz do Brasil, e a inconstitucionalidade da lei é a causa de pedir da demanda num caso concreto. Esse sistema derivou dos Estados Unidos e influenciou o sistema brasileiro. · Controle Concentrado pela Via Principal: Exemplo: O Procurador Geral da República ajuíza uma ADI no STF contra uma lei estadual. O pedido principal é a inconstitucionalidade. Esse sistema é uma derivação do sistema austríaco. Regra Geral e Exceção · Regra Geral: O Controle Concentrado opera pela Via Principal (a inconstitucionalidade é o pedido principal e o julgamento se concentra em um ou poucos órgãos). · Exceção: O Controle Concentrado pode operar pela Via Incidental (a inconstitucionalidade é a causa de pedir, mas o julgamento se concentra em um órgão). Exemplos de Controle Concentrado pela Via Incidental · Habeas Corpus: Para Ministros de Estado, Comandantes das Forças Armadas, membros dos Tribunais Superiores, etc. · Mandado de Segurança e Habeas Data: Contra atos do Presidente da República, Mesas da Câmara dos Deputados e Senado Federal, Tribunal de Contas da União, Procurador-Geral da República e Supremo Tribunal Federal. Conclusão · Controle Difuso: Via Incidental · Controle Concentrado: Via Principal · Exceção: Sistema Concentrado pela Via Incidental Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica (ADI Genérica) Definição e Objetivo: · Principal ação de controle concentrado da constitucionalidade. · Ajuizada perante o Tribunal de Justiça do Estado ou o Supremo Tribunal Federal (STF). · Visa apreciar a constitucionalidade das leis e atos normativos do poder público, mesmo sem existir um caso concreto. Surgimento: · Surgiu na Constituição de 1946 pela Emenda Constitucional n. 16 de 1965. · Originalmente chamada de "representação contra inconstitucionalidade". · Só podia ser ajuizada pelo Procurador-Geral da República até a Constituição de 1988, que ampliou os legitimados. Competência: · Somente dois tribunais são competentes para julgar a ADI Genérica: o Tribunal de Justiça do Estado e o STF. · Tribunal de Justiça do Estado: · Julga a constitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual (art. 125, § 2º da CF). · Supremo Tribunal Federal (STF): · Julga ADI de leis ou atos normativos federais ou estaduais (art. 102 I "a" da CF). Controle Difuso: · Não cabe ADI contra lei municipal que fere a Constituição Federal (CF), mas sim controle difuso. · Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) pode ser usada conforme Lei n. 9.882/99. Legitimidade: · Ampliada na Constituição de 1988 para nove legitimados (art. 103 da CF). Pertinência Temática: · Condição da ação na modalidade interesse de agir, necessário para alguns legitimados como Governadores e Mesas Legislativas. Capacidade Postulatória: · Alguns legitimados possuem capacidade postulatória própria (Presidente da República, Mesas do Senado e Câmara, PGR, etc.), outros precisam de advogado. Natureza das Leis e Atos Normativos: · Leis: Emendas à CF, leis complementares, ordinárias, delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. · Atos Normativos: Medidas provisórias, resoluções do CNJ ou CNMP, normas regimentais, deliberações administrativas com força normativa. Súmulas: · Não podem ser objeto de ADI, conforme entendimento do STF. · Súmulas Vinculantes podem ser objeto de ADI (ex.: decisão no HC 96.301/2008). Emenda Constitucional: · Pode ser objeto de ADI. · Exemplo: ADI 5.316 julgou inconstitucional parte da Emenda Constitucional n. 88/2015. Norma Constitucional Originária: · Não existe hierarquia entre normas constitucionais originárias. · Devem ser harmonizadas em caso de conflito. · Exemplo: Art. 60, § 4º, II (voto direto) e art. 81, § 1º (voto indireto para Presidente) da CF. Leis Anteriores à Constituição Federal Leis Anteriores à CF e Inconstitucionalidade: · Segundo o STF, leis anteriores à CF não podem ser objeto de ADI. · Se a lei anterior for incompatível com a CF, ela não será recepcionada, configurando a "não recepção" que pode ser declarada por qualquer juiz ou tribunal de forma difusa. Decretos e Regulamentos Atos Infralegais: · Decretos, regulamentos, instruções normativas e atos congêneres são atos infralegais para regulamentar a lei superior. · Não podem ser objeto de ADI, pois, se contrariarem a Constituição, serão considerados ilegais, não inconstitucionais, sujeito a controle de legalidade, não controle de constitucionalidade. Decretos Autônomos: · São exceção e podem ser objeto de ADI. · Exemplo: Art. 84 VI da CF permite que o Presidente da República edite decretos sobre organização e funcionamento da administração federal sem implicar aumento de despesa ou criação/extinção de órgãos públicos. Tratados Internacionais Hierarquia dos Tratados Internacionais: · Tratados internacionais ingressam no direito brasileiro com diferentes hierarquias: lei ordinária, norma supralegal/infraconstitucional, ou emenda constitucional. · Tratados sobre direitos humanos aprovados por 3/5 dos membros do Congresso Nacional têm força de emenda constitucional (ex: Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência). Leis Revogadas Impossibilidade de ADI: · Não é possível ajuizar ADI contra leis já revogadas, pois não estão mais no ordenamento jurídico, descaracterizando a natureza da ADI. Medidas Provisórias Objeto de ADI: · Podem ser objeto de ADI por inconstitucionalidade material ou formal. Procedimento da ADI Genérica Prazo Decadencial: · Não existe prazo decadencial para ajuizar ADI. · ADI só pode ser ajuizada contra normas vigentes cujos efeitos não se exauriram. Legitimados da ADI Rol Taxativo: · Legitimados previstos no art. 103 da CF e art. 2º da Lei n. 9.868/99. · Municípios não são legitimados para propor ADI perante o STF. Petição Inicial Requisitos: · Deve indicar o dispositivo impugnado, fundamentos jurídicos, e o pedido com especificações. · O STF não está adstrito à causa de pedir indicada pelo autor. Impossibilidade de Desistência Proibição: · Proposta a ação direta, não se admitirá desistência. Pedido de Informações Informações Complementares: · O Relator pode solicitar informações adicionais para avaliação segura da controvérsia. Intervenção de Terceiros Proibição de Intervenção: · Não se admite intervenção de terceiros, exceto a figura do amicus curiae. Manifestação do Advogado-Geral da União Defesa do Ato Impugnado: · O AGU deve manifestar-se defendendo o ato ou texto impugnado. Decisão na ADI Genérica Quórum e Caráter Dúplice: · Decisão requer presença de pelo menos oito Ministros e seis votos para declarar a inconstitucionalidade ou constitucionalidade da norma. · ADI possui caráter dúplice: pode declarara lei inconstitucional ou constitucional. Irrecorribilidade da Decisão Irrecorribilidade: · Decisão de constitucionalidade ou inconstitucionalidade em ADI é irrecorrível, salvo embargos de declaração. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) Previsão Constitucional e Regulamentação · A ADPF foi prevista pelo texto originário da CF/88 (originalmente no art. 102 § único, depois transformado pela EC 3/93 em art. 102 § 1º). · Foi regulamentada 11 anos depois pela Lei n. 9.882/99, quando de fato passou a ser implementada. · Antes da edição dessa norma, o STF entendeu ser inaplicável a ação por se tratar de norma constitucional de eficácia limitada de princípio institutivo dependente do complemento legal. Legitimados · A CF não prevê quais são os legitimados da ADPF, deixando tal tema a cargo da legislação infraconstitucional. · O tema foi tratado pelo art. 2º da Lei n. 9.882/99: “Podem propor arguição de descumprimento de preceito fundamental: I – os legitimados para a ação direta de inconstitucionalidade”. · Dessa maneira, as nove pessoas do art. 103 I a IX da CF poderão ajuizar ADPF aplicando-se-lhes todas as observações que fizemos quanto aos legitimados da ADI (pertinência temática, capacidade postulatória, etc.). Propositura por Terceiros · Embora qualquer do povo não possa ajuizar a ADPF perante o STF, “faculta-se ao interessado, mediante representação, solicitar a propositura de arguição de descumprimento de preceito fundamental ao Procurador-Geral da República, que examinando os fundamentos jurídicos do pedido decidirá do cabimento do seu ingresso em juízo” (art. 2º § 1º Lei n. 9.882/99). Competência · Segundo o art. 102 § 1º da CF, a competência para julgar a ADPF é do STF. Outro não é o disposto no art. 1º caput da Lei n. 9.882/99: “A arguição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante o Supremo Tribunal Federal...”. · É possível que haja previsão na Constituição Estadual de ADPF Estadual em razão do princípio da simetria constitucional. Evidentemente, prevista na Constituição do Estado deverá atender aos parâmetros da ADPF Federal, ou seja, deverá ter como legitimados os mesmos legitimados da ADI Genérica Estadual, como competente o Tribunal de Justiça, etc. Objeto da ADPF · Segundo o art. 1º caput da Lei n. 9.882/99, a ADPF “terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder Público”. · Há duas espécies de ADPF: a) Preventiva (visa a evitar lesão a preceito fundamental) b) Repressiva (visa a reparar lesão a preceito fundamental). Definição de Preceito Fundamental · A CF não prevê um rol específico do que seria preceito fundamental e a Lei n. 9.882/99 também não delimita o que seria. · Por essa razão, fica a cargo da doutrina e da jurisprudência estabelecer quais seriam os preceitos fundamentais da Constituição Federal. · Podemos identificar como preceitos fundamentais: · Os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil (arts. 1º a 4º CF); · Os direitos e garantias fundamentais (arts. 5º a 17 CF); · As cláusulas pétreas (art. 60 § 4º CF); · Os princípios constitucionais sensíveis (art. 34 VII CF). Atos do Poder Público Atacáveis por ADPF · A ADPF visa a evitar ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder Público. · Podem ser atacados por ADPF quaisquer atos do poder público, como um ato normativo (leis, resoluções, decretos, portarias, etc.) ou ato administrativo. · Importante: segundo o art. 4º § 1º da Lei n. 9.882/99, somente caberá ADPF quando não houver outro meio eficaz de sanar a lesividade. Portanto, a ADPF é uma ação residual. · Se houver outro mecanismo jurisdicional de evitar ou reparar a lesividade, a ADPF não será recebida por falta de interesse processual. Atos do Poder Público não Atacáveis por ADPF · Não caberá ADPF se contra o ato ou omissão do poder público couber: a) ação popular; b) mandado de segurança; c) ADI Genérica; d) ADI Interventiva; e) Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão etc. · Segundo a jurisprudência, esse artigo tem de ser interpretado com reservas, sob pena de esvaziar por completo o cabimento da ADPF, pois sempre (ou quase sempre) haverá um mecanismo jurisdicional capaz de combater as lesividades, já que nos termos do art. 5º XXXV da Constituição Federal “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Jurisprudência sobre Subsidiariedade · Princípio da subsidiariedade (art. 4º § 1º da Lei n. 9.882/99): inexistência de outro meio eficaz de sanar a lesão compreendido no contexto da ordem constitucional global como aquele apto a solver a controvérsia constitucional relevante de forma ampla, geral e imediata. A existência de processos ordinários e recursos extraordinários não deve excluir a priori a utilização da arguição de descumprimento de preceito fundamental em virtude da feição marcadamente objetiva dessa ação (ADPF 33 rel. Min. Gilmar Mendes). · O princípio da subsidiariedade para o cabimento da ADPF não oferece obstáculo à presente ação. É que este Supremo vem entendendo que a subsidiariedade exigida pelo art. 4º § 1º da Lei n. 9.882/99 não pode ser interpretada com raciocínio linear e fechado. A subsidiariedade de que trata a legislação diz respeito a outro instrumento processual-constitucional que resolva a questão jurídica com a mesma efetividade, imediaticidade e amplitude que a própria ADPF. Em se tratando de decisões judiciais, não seria possível o manejo de qualquer ação de nosso sistema de controle concentrado. Da mesma forma, o recurso extraordinário não daria resolução de maneira definitiva como a ADPF. É que muito embora a tendência do Supremo em atribuir dimensão objetiva ao recurso extraordinário, a matéria ainda não é totalmente pacificada, o que coloca o efeito vinculante da ADPF como instrumento processual-constitucional ideal para o combate imediato dessas decisões judiciais (ADPF 79-MC rel. Min. Cezar Peluso). ADPF em Casos Específicos · Segundo o art. 1º § único I da Lei n. 9.882/99, também caberá a ADPF quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre “lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os atos anteriores à Constituição”. · Ora, em razão da subsidiariedade da ADPF que acabamos de comentar, caberá a ADPF para questionar a constitucionalidade das leis e atos normativos que não admitem ADI, por exemplo: a) Lei anterior à Constituição Federal; b) Lei municipal que contraria a Constituição Federal; c) Lei revogada; d) Decretos infralegais (que não sejam autônomos) etc. · Quanto a atos infralegais não passíveis de controle de constitucionalidade, decidiu o STF pelo cabimento da ADPF: · “Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Ato regulamentar. Autarquia estadual. Instituto de Desenvolvimento Econômico-Social do Pará. [...] Afronta ao princípio federativo e ao direito social fundamental ao salário mínimo digno. [...] Cláusula da subsidiariedade ou do exaurimento das instâncias. Inexistência de outro meio eficaz para sanar lesão a preceito fundamental de forma ampla, geral e imediata” (ADPF 33 MC rel. Min. Gilmar Mendes). · Não obstante, se o ato infralegal extrapolar os limites de sua função regulamentar, sendo um decreto autônomo, será objeto de ADI Genérica: · “Impugnação de resolução do Poder Executivo estadual. Disciplina do horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais, consumo e assuntos análogos. Ato normativo autônomo. Conteúdo de lei ordinária em sentido material. Admissibilidade do pedido de controle abstrato. Precedentes. Pode ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade” (ADI 3.731-MC rel. Min. Cezar Peluso). · No tocante à lei anterior à Constituição, histórico exemplo foi a ADPF 130 que decidiu pela não recepção total da Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67): · “Total procedência da arguição de descumprimento de preceito fundamental para o efeito de declarar como não recepcionado pela Constituição de 1988 todo o conjunto de dispositivos da Lei Federal 5.250 de 9-2-1967” (voto do Min. CarlosAyres Britto). ADPF contra Decisões Judiciais · Também é possível ADPF