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IMUNOLOGIA CLÍNICA TUTORA JÚLIA BARCELLOS UNIDADE 1 O QUE É UM ANTICORPO? IMUNOENSAIO Os ensaios imunológicos são técnicas que determinam respostas imunes de anticorpos, antígenos ou linfócitos para detectar de forma exata a presença de agentes agressores no organismo. A base que fundamenta esses testes é a interação que ocorre entre antígeno e anticorpo, de modo que nós podemos utilizar como reagentes tanto anticorpos quanto antígenos e seus componentes. IMUNOENSAIO • ENSAIO DIRETO: quando você realiza uma técnica que busca identificar um determinado anticorpo, à composição do reagente utilizada para o teste será adicionado um antígeno. • ENSAIO INDIRETO: quando o objetivo é identificar a presença de determinado antígeno o reagente deverá conter o anticorpo para esse antígeno. PRINCÍPIO DE ESPECIFICIDADE • Como o organismo reconhece e reage com a produção de anticorpos específicos contra determinado agente infeccioso. • Existem diferentes métodos para detecção de antígenos e anticorpos, cada um com suas vantagens e desvantagens. Por exemplo, há metodologias que podem apresentar reagentes marcados e reagentes não marcados. REAGENTES MARCADOS • Quando a metodologia é do tipo que apresenta reagentes marcados, uma substância como um fluoróforo, por exemplo, é adicionada ao reagente com o intuito de aumentar a sensibilidade de detecção do ensaio. ALGUNS DETALHES IMPORTANTES • A sensibilidade de um teste corresponde à menor concentração da ligação antígeno-anticorpo que o imunoensaio é capaz de detectar. Isso significa que, quanto maior a sensibilidade do teste, menores são as concentrações que ele é capaz de quantificar, ou seja, maior sensibilidade e menor chance de falso- negativo. • Resultados falso-negativos podem ocorrer também por conta do efeito prozona, um fenômeno que ocorre quando existem muitos anticorpos na amostra de soro analisada, em resposta ao antígeno infeccioso. ALGUNS DETALHES IMPORTANTES • Além da sensibilidade da metodologia, ainda existem outras circunstâncias que podem gerar resultados falso-negativos, como a janela imunológica, que corresponde ao intervalo entre o momento em que o paciente teve contato com o antígeno e o momento em que o organismo passa a apresentar níveis detectáveis de anticorpos para o antígeno em questão. ALGUNS DETALHES IMPORTANTES • Especificidade é um termo que indica a capacidade de um teste de identificar os indivíduos que não possuem a doença ou condição clínica investigada. Assim, quanto maior for a especificidade de um teste, menor será o número de pacientes com resultado falso-positivo. • As circunstâncias que podem apresentar resultados falso-positivos podem ter origem tanto das limitações da metodologia do imunoensaio quanto das condições clínicas do paciente. Em se tratando de limitações relacionadas à metodologia, um resultado falso- positivo pode ocorrer por conta de uma reação cruzada, ou seja, quando o anticorpo é capaz de interagir com um antígeno diferente daquele que o originou. UNIDADE 1 TÓPICO 2 DOENÇAS REUMÁTICAS • As doenças reumáticas apresentam eventos dolorosos relacionados ao aparelho motor, é importante compreender quais mecanismos conduzem ao estabelecimento dessas doenças. Mesmo não apresentando mecanismos claros sobre como esse grupo de doenças se estabelece, sabe-se que fatores genéticos, imunológicos e infecciosos têm importante relação com sua causa. As doenças reumáticas podem ser de fase aguda, originadas por fatores exógenos, ou crônica. DOENÇAS REUMÁTICAS • O período de duração da doença está associado à retirada do estímulo exógeno, como o tratamento de uma infecção, por exemplo. Por outro lado, quando as doenças reumáticas apresentam perfil crônico, em geral, trata-se de uma doença caracterizada por um processo autoimune que pode acompanhar o paciente ao longo da vida, alternando períodos de manifestação de sinais e sintomas e períodos assintomáticos. • As doenças reumáticas de fase aguda e crônica apresentam em comum o estabelecimento de um processo inflamatório. A importância de destacar o componente inflamatório dessas doenças é que, a partir dos elementos moleculares que configuram essa inflamação. OSTEOARTRITE • Na osteoartrite, também conhecida como artrose, temos um processo degenerativo nas estruturas cartilaginosas. Com isso, os ossos perdem o revestimento cartilaginoso, o que os expõe diretamente aos impactos gerados pelos diversos tipos de movimentos que realizamos, e a estrutura óssea passa a ser comprometida pelo desgaste. • Esse desgaste gera alterações nos ossos e conduz a formação de um processo inflamatório na membrana sinovial, que contribui para manifestação de dor ao realizar movimentos. OSTEOARTRITE • O processo inflamatório que compõe a osteoartrite está associado à degeneração da cartilagem, que, quando rompida, libera elementos de sua matriz extracelular lesionada no líquido sinovial. O extravasamento de matriz extracelular (MEC) estimula a produção de elementos pró-inflamatórios no líquido sinovial, que podem, por sua vez, estimular a produção de enzimas que intensificam a degradação da cartilagem. ARTRITE REUMATÓIDE • Na artrite reumatoide (AR), células do sistema imune atacam os componentes teciduais do próprio indivíduo, pois é uma doença autoimune. Trata-se de uma doença inflamatória, autoimune sistêmica, que acomete aproximadamente 1% da população mundial, apresentando maior propensão de desenvolvimento em mulheres. Apesar de acometer indivíduos de qualquer idade, a maior incidência ocorre na faixa entre 50 e 75 anos. ARTRITE REUMATÓIDE • As manifestações da AR ocorrem principalmente na membrana sinovial. Assim, todas as articulações que apresentam membrana sinovial serão afetadas, de modo que, conforme a doença progride, é possível observar um gradativo efeito de erosão e deformidade articular. • A artrite reumatoide é uma doença de origem multifatorial. Contudo, sabe-se que existem fatores passíveis de mudança, como o tabagismo, a periodontite e o microbioma, que têm em comum o estabelecimento de um evento inflamatório. ARTRITE REUMATÓIDE • Esse tecido, denominado pannus reumatoide, apresenta hiperplasia e hipertrofia dos sinoviócitos, infiltrado inflamatório predominantemente de linfócitos, plasmócitos e macrófagos e intensa angiogênese, tornando-se densamente vascularizado”. • Por conta disso, as manifestações clínicas compreendem o estabelecimento de poliartrite crônica, de padrão erosivo, principalmente nas mãos e nos punhos. Além disso, indivíduos portadores de AR apresentam artralgia de padrão inflamatório (dor nas articulações), tendo como caraterística manifestação principalmente ao acordar, com sensação de rigidez que apresenta melhora com a realização de esforço físico. FEBRE REUMÁTICA • A febre reumática é uma doença autoimune que acomete pacientes geneticamente predispostos (em torno de 1 a 2% da população), quando infectados pela bactéria Streptococcus pyogenes. • Os eventos característicos relacionados à febre reumática estão associados ao estabelecimento de um quadro inflamatório que acomete diferentes órgãos e estruturas, resultando em condições clínicas de maior complexidade, como valvulite, e coreia, além de artrite reativa pós-estreptocócica FEBRE REUMÁTICA • A doença cria um mimetismo molecular, devido às semelhanças entre os componentes moleculares que constituem o Streptococcus e componentes presentes no corpo humano, o sistema imunológico se “confunde” e ataca os próprios tecidos do indivíduo, ou seja, a ativação do sistema imune, necessária para combater a infecção, resulta na produção de anticorpos capazes de reconhecer e atacar as estruturas bacterianas para eliminar o agente patogênico. UNIDADE 1 TÓPICO 3 MARCADORES REUMÁTICOS • PCR (PROTEINA C REATIVA): A indicação “C-reativa” foidada, inicialmente, por ter sido identificada a sua reação com o polissacarídeo C da cápsula da bactéria Streptococcus pneumoniae em casos de pacientes com pneumonia pneumocócica. Após essa descoberta, novos estudos identificaram sua presença em outras condições clínicas. • Isso fez com que a PCR se tornasse um exame amplamente utilizado, em função da variedade de doenças em que sua mensuração aparece alterada. Por isso, a PCR é classificada como inespecífica. MARCADORES REUMÁTICOS • PCR (PROTEINA C REATIVA): A PCR é uma pentraxina (Figura 12) de origem hepática, que atua ligando-se a potenciais agressores, células em apoptose ou com alguma lesão, causando a sua destruição por intermédio da ativação de fagócitos e do sistema complemento. • Com relação a sua influência sobre o processo inflamatório, sabemos que a PCR pode atuar tanto como mediador pró-inflamatório quanto anti-inflamatório. MARCADORES REUMÁTICOS • Por se tratar de uma proteína de fase aguda, a PCR apresenta-se elevada na fase ativa de doenças relacionadas a processos inflamatórios – é importante notar que a presença desse componente no organismo é sempre associada a um processo inflamatório. • Algumas condições podem elevar discretamente os valores da PCR, posto que apresentam quadros inflamatórios como, por exemplo: “Obesidade, tabagismo, diabetes, uremia, hipertensão arterial, inatividade física, uso de anticoncepcionais orais, distúrbios do sono, álcool, fadiga crônica, depressão, envelhecimento, doença periodontal, entre outras situações” MARCADORES REUMÁTICOS • FATOR REUMATÓIDE: O fator reumatoide (FR) é um auto-anticorpo que tem como alvo a região Fc de IgGs, ou seja, ele se liga em outros anticorpos e mais especificamente, na sua porção “Fc” (parte invariável dos anticorpos, que foi nomeada por se cristalizar em análises estruturais de anticorpos). A maioria dos FR são do isotipo IgM mas podem ser também. • Apesar da impossibilidade de utilização exclusiva desse marcador para confirmação de artrite reumatoide, a avaliação do fator reumatoide tem uma importante função prognóstica (capacidade de uma informação indicar a evolução mais provável de uma condição clínica). MARCADORES REUMÁTICOS • Imunoglobulinas com atividade de FR estão presentes em pequena quantidade e com baixa avidez no soro da maior parte dos indivíduos; nesses casos, a pesquisa do FR é negativa ou fracamente reagente. Em determinadas condições patológicas, a concentração de imunoglobulinas pode se elevar com atividade de FR de alta afinidade. MARCADORES REUMÁTICOS • ANTIESTREPTOLISINA O: A estreptolisina O é uma exotoxina (proteínas que podem ser produzidas por bactérias, capazes de gerar prejuízo a uma célula hospedeira) produzida por Streptococcus pyogenes. Quando ativada, tem ação hemolítica, ou seja, desencadeia a lise (quebra) das hemácias. • Após a infecção por S. pyogenes, anticorpos são produzidos pelos linfócitos B específicos para combater essa exotoxina, uma vez que essa molécula é imunogênica. Esses anticorpos são chamados de antiestreptolisina O MARCADORES REUMÁTICOS • ANTIESTREPTOLISINA O: Assim, análises que investigam a presença de ASO apontam a existência prévia de infecção estreptocócica. É comum que, em um primeiro momento, a dosagem sanguínea desse anticorpo esteja fortemente vinculada à investigação de febre reumática. • É importante ressaltar que a presença de ASO pode permanecer na circulação sanguínea por semanas após o evento infeccioso. UNIDADE 1 TÓPICO 4 METÓDOS LABORATORIAIS: AGLUTINAÇÃO EM LÁTEX • A técnica de aglutinação em látex é baseada nas reações de precipitação. Os imunoensaios, desenvolvidos pelo princípio das reações de precipitação, estão baseados na interação entre antígeno e anticorpo solúveis que produzem complexos insolúveis visíveis. A formação desses complexos visíveis é realizada a partir da utilização de partículas inertes (que não reagem quimicamente), como o látex. • Com relação à possibilidade de esse tipo de teste ser usado tanto para pesquisa de antígenos quanto de anticorpos, fazemos referência a testes diretos (partículas de látex sensibilizadas com anticorpos) ou indiretos (partículas de látex sensibilizadas com antígeno). Assim, quando existe na amostra uma concentração mínima do marcador que está sob investigação, é possível observar a formação de pequenos grumos (imunocomplexos), resultantes da aglutinação. NEFELOMETRIA • A nefelometria é uma técnica quantitativa utilizada para mensurar a concentração dos marcadores de doenças reumáticas. Para sua execução, é utilizado um nefelômetro, equipamento que mede a dispersão de luz gerada em soluções contendo imunocomplexos. • A fonte luminosa utilizada em ensaios nefelométricos é de alta intensidade e incide sob uma cubeta (pequeno tubo que pode ser feito de plástico, vidro ou quartzo, muito utilizado em ensaios laboratoriais) que contém a solução resultante da amostra com o reagente. A forma e o tamanho das partículas, resultantes dos imunocomplexos formados, serão fatores determinantes para quantidade e natureza da dispersão de luz captada e quantificada pelo nefelômetro TURBIDIMETRIA • Esse teste está sujeito às mesmas condições dos sistemas nefelométricos. O sinal de detecção é a absorbância e não a intensidade de luz dispersa. Não necessita de aparelhagem especial. As reações podem ser medidas em espectrofotômetros simples utilizados em bioquímica. Pode ser utilizada para medidas quantitativas de drogas ou biomarcadores no soro, plasma ou urina. • Enquanto o nefelômetro mede a luz dispersa, a turbidimetria mede a luz absorvida (não dispersada) pela turbidez gerada pelos imunocomplexos formados na combinação entre amostra e reagente. Para medir a absorbância presente na reação entre amostra e reagente, o equipamento utilizado é o espectrofotômetro. E PRA FINALIZAR...