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,
BIOTECNICAS
~ PAULO BAYARD DIAS GONSALVES
It ,
g .JOSE RICARDO DE FIGUEIREDO
CI , "
w VICENTE .JOSE DE FIGUEIREDO FREITAS
LIvraria
~LA. ]
--- --
--,-
I ISBN 85-85519-67-3
i 1I1I11111111111111111111
L? 788585~~74
EDITORES
PAULO BAYARDDIAS GONÇALVES
JOSÉ RICARDO DE FIGUEIREDO
VICENTE JOSÉ DE FIGUEIRÊDO FREITAS
Biotécnicas aplicadas
à reprodução animal
Livraria
l~~~
VARELAEDITORAE LIVRARIALTOA
SÃoPAULO- 2002
Capítulo
Capítulo
Capítulo
Capítulo
Capítulo
Capítulo
Capítulo
Capítulo
Capítulo
Capítulo
Sumário
1. Diagnóstico de Gestação em Bovinos...........................................
Jairo Pereira Neves, João Francisco Coelho Oliveira, Marlon Nadal Maciel
2. Diagnóstico de Gestação em Caprinos.........................................
Vicente José de Figueirêdo Freitas, Aurino Alves Simplício
3. Controle do Estro e da Ovulação em Bovinos e Ovinos ................
José Carlos Ferrugem Moraes, Carlos José Hoff de Souza,
Paulo Bayard Dias Gonçalves
4. Controle do Estroe da Ovulação em Caprinos .............................
Vicente José de Figueirêdo Freitas, Edilson Soares Lopes Júnior
5. Inseminação Artificial em Cães ....................................................
Lúcia Daniel Machado da Silva, Alexandre Rodrigues Silva,
Rito de Cássio Soares Cardoso
6. Inseminação Artificial em Bubalinos .............................................
Otávio Mitio Ohashi
7. Inseminação Artificial em Caprinos "
José Ferreiro Nunes
8. Transferênciae Criopreservação de Embriões Bovinos...................
Horst-DieterReichenbach, Marcos Antônio Lemosde Oliveira, Paulo Fernandes
de Lima, Antônio Santana dos Santos Filho, Joaquim Corrêa de Oliveira Andrade
9. Transferência de Embriões em Caprinos "...................
Vicente José de Figueirêdo Freitas, Aurino Alves Simplício
15
25
57
69
97
111
127
179
10. Produção in vitro de Embriões 195
Paulo Bayard Dias Gonçalves, José Antônio Visintin, Marcos Antônio Lemos de
Oliveira, Marcelo Marcos Montagner, Luís Fabiano Santos da Costa
Capítulo
Capítulo
Capítulo
Capítulo
11. Manipulação de Oócitos Inclusosem Folículos Ovarianos
Pré-antrais - Moifopa ..................................................................
José Ricardode Figueiredo,Ana PauloRibeiro Rodrigues,
ChristianiAndrade Amorim
227
12. Marcadores Moleculares em Reprodução Animal..........................
João FranciscoCoelho de Oliveira, LuizErnaniHenkes
261
13. Clonagem Animal por Transferência Nuclear ................................
Vilceu Bordignon, Lawrence C. Smith
14. Produção de Animais Transgênicos nas Espécies Domésticas:
Tecnologia e Aplicações ........
Matthew B. Wheeler, Seong:Jun Choi, Gary R. Voelker, Eric M. Walters,
Gabriela G. Cezar
281
303
Prefácio
Agrande maioria de publicações, na área
de reprodução animal, disponíveisno Brasil
é gerada em outros países e, até certo tempo
atrás, não se dispunha de bibliografiade au-
tores brasileiros. Um dos primeiros livros
sobre biotecnologia foi a obra do Dr. Antô-
nio Mies Filho que, editada mais de uma
vez, tem sido, praticamente, uma das pou-
cas fontes de consulta nacional para estu-
dantes e profissionais. No entanto, a refe-
rida obra concentrou maior ênfase na inse-
minação artificial.
Com a expansão da informática, tem
ocorrido uma proliferação de livros que se
baseiam em compilaçõesde obras estrangei-
ras, sem uma contribuição mais consistente
dos autores.
O presente livro, Biotécnicas Aplicadas
à Reprodução Animal, está divulgando re-
sultados de pesquisa básica e aplicada, pro-
duzida por pesquisadores brasileiros e cola-
boração de estrangeiros que mantêm pro-
gramas de cooperação científica com enti-
dades brasileiras. O conhecimento na área
de biotecnologia existe (há um grande nú-
mero de artigos científicos e comunicações
em congressos), entretanto está disponível
de uma maneira dispersa e não há publica-
ção nacional que apresente essas informa-
ções sistematizadas facilitando o acesso do
público alvo: Médicos Veterinários que atuam
na área, alunos de graduação e pós-gradua-
ção e outros profissionais da área como Bió-
logos, Agrônomos, Zootecnistas, Geneticistas,
Médicos, etc.
Sob o ponto de vista de crescimento cien-
tífico, a política educacional de um país deve
estimular paralelamente pesquisa básica e
aplicada. Em países subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento, é comum se ouvir críticas
às pesquisas básicas e uma maior valoriza-
ção da pesquisa aplicada. Daí decorre uma
dependência destes países daqueles mais
desenvolvidos.
As informações obtidas nas pesquisas
básicas que estão nesta obra colocam o nos-
so país em nível qualitativo de igualdade aos
países do primeiro mundo. Do mesmo mo-
do, os resultados das pesquisas aplicadas
apresentados neste livro, permitem uma utili-
zação imediata em nosso meio, dispensando
adaptações que se fazem necessárias quando
se consulta autores estrangeiros cuja realida-
de é diferente da brasileira.
É com grande satisfação que redijo o pre-
fácio desta obra que vem trazer aos profis-
VII
sionais brasileiros, informações atualizadas
e geradas pelos autores de cada capítulo em
seus laboratórios e ambientes de trabalho.
O livroconsta de tópicos avançados em
reprodução animal, com uma abrangência
de informações que vão desde o diagnósti-
co de gestação até clonagem em espécies
domésticas. Cada capítulo é escrito de uma
maneira didática e com referências que
permitem ao leitor localizar a fonte das in-
formações disponíveis. Além disso, os au-
tores não apenas apresentam tópicos os
quais dominam, como relatam resultados
gerados em trabalhos de pesquisa nos quais
participaram ativamente. Portanto, essa
VIII
obra contém ensinamentos atualizados e de
fundamental importância, não apenas para
profissionais brasileiros como para usuários
de outros países.
Finalmente, a edição de uma obra deste
porte, unindo pesquisadores capazes de dar
brilho ao conhecimento científico nacional,
pode ser comparada ao seguinte pensamen-
to de Edson Pereira Neves:
"...diante do colar - belo como um so-
nho - admirei sobretudo, o fio que unia
as pérolas e se imolavaanônimo para que
todas fossem um..."
Prof. Cláudio Alves Pimentel
Capítulo 1
Diagnóstico de Gestação em Bovinos
Jairo Pereira Neves, João FranciscoCoelho Oliveira,
Marlon Nadal Maciel
Introdução
O diagnóstico de gestação é uma técnica
que permite determinar a existência e o pe-
ríodo de gestação. Em bovinos, através da
palpação retal, essa técnica é utilizada desde
o início do século XX. Posteriormente, a par-
tir da década de oitenta, o emprego da ultra-
sonografia possibilitou o diagnóstico de ges-
tação em fases mais precoces. A utilização
do diagnóstico de gestação em criatórios bo-
vinos, tanto de leite como de corte, constitui-
se numa ferramenta estratégica no manejo
geral de uma propriedade. O conhecimento
da existência ou não de gestação possibilita
a tomada de decisões as quais podem afetar
diretamente os índices de produtividade com
reflexos econômicos imediatos. O diagnósti-
co precoce, por exemplo, com a identificação
de fêmeas não gestantes, se constitui em uma
importante ferramenta na avaliação do futuro
desses animais dentro da propriedade, possi-
bilitando que sejam tomadas providências no
sentido de reduzir o período parto-concep-
ção ou de descartar o animal, minimizando
dessa forma as perdas econômicas. Assim, a
utilização rotineira dessa técnica facilita o
manejo dos animais e evita gastos desneces-
sários com alimentação. Permite ainda uma
avaliação imediata da eficiência de programas
de indução, sincronização ou transferência de
embriões. É também utilizada na formulação
de laudos periciais e fêmeas que irão partici-
par de feiras e exposições.
Reconhecimento da Gestação
O reconhecimento materno da gestação
em ruminantes se dá através da ação de uma
proteína (172 aminoácidos) produzida pelas
células trofoblásticas do blastocisto, denomi-
nada de Interferon tau (lNF-t). O INF-t é
expresso somente em ruminantes e represen-
ta uma das cinco famíliasde interferon do
Tipo I, classificadas como IFN -a, IFN -~,
IFN -õ, IFN -O) e IFN -to Anteriormente à
identificação do IFN -t, já havia indicativos
da ação de proteínas blastocísticas no proces-
so de reconhecimento da gestação em rumi-
nantes. Pesquisas realizadas ainda na década
de sessenta, apontaram para a ocorrência de
inibição da luteólise a partir da liberação de
substâncias blastocísticas antes do momento
da implantação (Moor & Rowson, 1966).
Posteriormente, por ter sido isolada das célu-
las trofoblásticas, essa substância foi denomi-
nada de trofoblastina ou proteína trofoblásti-
ca (Martal et aI., 1979). Após a sua purifica-
ção, realizada na espécie ovina (Imalawa et
al., 1987), por apresentar grande semelhança
estrutural com algumas classes de interfe-
rons, passou a ser chamada de INF-"[. Sub-
seqüentemente, foi caracterizada no concep-
to bovino, entre os dias 16 e 24 de gestação.
O IFN -"[bovino é uma proteína com peso
molecular entre 22 a 24 KDa, com diferentes
isoformas, diferenciando-se do seu análogo
da espécie ovina por algumas alterações na
sua estrutura bioquímica.
O processo de luteólise a partir da secre-
ção de PGF 2a necessita da secreção luteal da
ocitocina, bem como da interação da ocitocina
circulante com os seus receptores, os quais se
localizam, principalmente, nas células do epi -
télio endometrial. Os efeitos anti-Iuteolíticos
do IFN -"[são traduzidos a partir da sua ação
inibitória sobre a expressão dos genes que co-
dificam para os receptores endometriais de
ocitocina e de estrógenos, substâncias essas
que atuam sobre as células do endométrio, es-
timulando-as a produzirem PGF2a. Dessa
forma, o IFN -"[regula a produção de PGF 2a
através da inibição da sua expressão no endo-
métrio. O IFN -"[não é detectado na circulação
periférica de fêmeas gestantes, sendo sua ação
localizada apenas no útero.
Um marcado aumento na expressão do
gene do IFN-"[ ocorre no 15°dia de gestação
nos bovinos, coincidindo com a fase de tran-
sição morfológica do blastocisto, que nesse
período passa da forma esférica para a forma
filamentosa. Por isso, a produção de IFN-"[
parece ser mais dependente do desenvolvi-
mento blastocístico do que propriamente
do dia de gestação. O pico de produção do
IFN -"[ ocorre no 17° dia de gestação e o seu
mRNA é detectado no trofoblasto até o 25°
dia de gestação nos bovinos. No momento
do pico de produção, o seu mRNA está
presente no blastocisto em níveis mais eleva-
dos do que qualquer outro mRNA. Embo-
ra a expressão do gene pareça ser genetica-
2
mente programada e independente do am-
biente uterino, considerando que a sua ex-
pressão ocorre também in vitro, esse proces-
so é largamente afetado pelas concentrações
plasmáticas de progesterona. A suplementa-
ção de progesterona no início da gestação,
auxilia o desenvolvimento do blastocisto, au-
mentando os níveis de IFN-"[ no útero e dimi-
nuindo os índices de perda gestacional nesse
período (Mann & Lamming, 1999). O de-
créscimo na expressão do IFN -"[ parece ser
dependente do processo de implantação,
ocorrendo diminuição na medida que deter-
minadas regiões do trofoblasto começam a
estabelecer contato com o epitélio uterino.
Fases Iniciais do Desenvolvimento
Gestacional
Parafinsdidáticos,a gestaçãopode serdi-
vidida em três estádios. O estádio inicialvai
desde a fecundaçãoaté o 13°dia; o segundo,
denominado embrionário se estende do 14°
ao 45° dia; e o terceiro,denominado feta!,vai
do 46° dia até o parto (Peters & BaTI,1991).
Imediatamenteapós a fecundaçãoocorre um
processo de clivagem, seguido de divisões
mitóticas dando origem ao zigoto. Essas di-
visõesse processam até o 5° ou 6° dia, quan-
do se forma uma massa de células denomi-
nada mórula. O oviduto propicia condições
ambientaisfavoráveisao desenvolvimentodo
zigoto independentemente da situação hor-
mona!, enquanto que o ambiente uterino é
desfavorável a sobrevivência dos mesmos
quando presentesprematuramente no seu lú-
men. Após essa fase, ocorre a formação do
blastocistoque consistenuma estrutura esfé-
rica de células denominadas de trofoblasto.
Essa estrutura apresenta um halo central de
células que darão origem ao embrião. Após
o 8° dia, ocorre a perda da zona pelúcida,
iniciando o período de alongamento do
blastocisto. O desenvolvimento das células
germinativas tem o seu inícioa partir do 14°
dia e caracteriza o início da fase embrioná-
ria. Dessas, originam-se três cordões de cé-
lulasdenominadas de ectoderma, mesoder-
ma e endoderma. O ectoderma irá constituir
estruturas como pele, pêlos, cascos, glân-
dula mamária, e sistema nervoso. O cora-
ção, músculos e ossos serão formados a
partir do mesoderma e os outros órgãos in-
ternos do endoderma.
No 18° dia, o alantóide expande-se no
corno ipsilaterale logo em seguida no con-
tralateral,seguidode uma erosão gradual no
epitéliodas carúnculaspelas célulasbinuclea-
das do trofoblasto. Antes do 22° dia ocorre
uma ligaçãoatravés de microvilosidadesque
se torna progressivamente mais íntima até o
27° dia. A partir do 32° dia de gestação o
alantóideiniciasua fIXaçãono corno uterino.
O âmnio, formado de célulasdo mesoderma
e ectoderma, cresce juntamente com o em-
brião envolvendo-ocompletamente. Essa es-
trutura esta formada a partir do 18° dia. As
bolsas amniótica e alantoideana são densa-
mente vascularizadas e conectadas com o
cordãoumbilical.Nos ruminantes, a placenta
é do tipo cotiledonária, caracterizando-se
pelo contato apenas em determinadas áreas
endometriais, denominadas de carúnculas.
Nessespontos, ocorrem as trocas gasosas de
°2 e CO2, assim como de nutrientes entre
feto e a mãe. Esse processo se denomina
placentação, tem seu iníciono 20° dia e con-
solida-se entre 40-45 dias de gestação.
Modificações Fisiológicas
Observadas na Gestação
O estabelecimento da gestação provoca
uma sériede alterações no organismo mater-
no, de ordem hormonal, anatômica e com-
portamental. Uma delas, que diz respeito ao
comportamento reprodutivo da fêmea, é o
não retorno ou ausência do estro. Esse fato,
no entanto, não é suficiente para garantir o
diagnóstico, pois o não retorno pós-serviço
poderá também ser resultante de outras cau-
sas. O ideal seria poder realizar o diagnóstico
antes do primeiro estro. No entanto, isso so-
mente é possível de ser realizado, com boa
margem de segurança, antes do segundo es-
tro. As modificações anatômicas que servem
de suporte para o diagnóstico clínico, dizem
respeito às alterações evidenciadas no tama -
nho, simetria, conteúdo e parede uterina e
são de grau e intensidade variáveis depen-
dendo do estádio gestacional.
O corno gestante apresenta alteração no
seu tamanho e posição, ficando progressiva-
mente maior que o não gestante, gerando uma
assimetria. Em virtude do aumento progressi-
vo do útero observam-se mudanças na sua po-
sição em relação às cavidades pélvica e abdo-
minal, com variações individuais, dependendo
do porte do animal. Geralmente até aos 60
dias o útero gestante permanece na cavidade
pélvica. A partir dos três meses, situa-se numa
posição de transição pélvico-abdominal e aos
cinco/seis meses, localiza-se à direita, ventral-
mente no abdômen. A partir dos sete meses,
ocorre uma expansão, inicialmente transversal
e fmalmente crânio-dorsal.
Uma das primeiras evidências clínicas de
gestação é a presença da vesícula amniótica,
constituída pelo fluído e concepto. Essa es-
trutura pode ser palpada a partir dos 28 dias
de gestação. Nessa fase, apresenta forma es-
férica, diâmetro de 1 cm e consistência túrgi-
da. Permanece parcialmente livre, flutuando
no líquido alantoideano, sendo freqüente-
mente encontrada no ápice do corno gestan-
te. Aumenta progressivamente de tamanho
com o avanço da gestação, porém o seu reco-
nhecimento após 65 dias é dificultado pela
redução da sua turgidez e maior volume de
líquido alantoideano. A palpação da vesícula
amniótica deve ser feita por profissional ha-
bilitado, considerando os riscos de lesão do
concepto e conseqüente perda gestacional.
3
Uma característica marcante e de impor-
tânciafundamental para o diagnóstico de
gestação é o efeito de parede dupla. É detec-
tado através do deslizamento da parede uteri-
na sobre a membrana alantoideana e percebi-
do à palpação, em algumas vacas, já aos 35
dias. Esse sinal torna-se mais evidente após
os 40 dias de gestação. O crescente acúmulo
de fluídos gestacionais acompanhados pela
distensão e redução da espessura da parede
uterina, proporciona ao toque o efeito de flu-
tuação observado a partir dos 45 dias.
Os cotilédones da placenta fetal com suas
vilosidades penetram nas criptas das carúncu-
Ias uterinas constituindo os placentônios, dis-
postos em ftleiras dorsais em número de 75 a
120, os quais são detectados já a partir dos
75 dias de gestação. Apresentam uma variação
de tamanho de tal maneira que os maiores si-
tuam-se medialmente e os menores nas extre-
midades cervical e apical do corno gestante.
O feto pode ser percebido após 65 dias,
quando a vesícula amniótica reduz sua turgi-
dez, até os quatro meses de gestação. No pe-
ríodo seguinte, quando ocorre o deslocamen-
to do corno grávido no sentido ventral, sua
detecção fica dificultada ou inviáveI.A partir
dos 6 meses, devido ao seu crescimento e ex-
pansão dorso-craneal, haverá maior facilida-
de para sua detecção. A crescente demanda
de sangue, como conseqüência do curso ges-
tacional, provoca um aumento do diâmetro
da artéria uterina média a partir dos 90 dias,
provocando um frêmito arterial. Esse sinal
corresponde ao pulso arterial aumentado,
mais facilmente detectado quando se provoca
uma obstrução parcial da artéria. É impor-
tante destacar que após um aborto, parto ou
determinadas condições patológicas esta evi-
dência poderá ainda estar presente. O corpo
lúteo gravídico presente durante toda a ges-
tação não difere do cíclico, localizando-se
geralmente no ovário ipsilateral ao corno
gestante.
4
Perfil de Hormônios e Proteínas
Ligadas à Gestação
O período inicial da gestação é marcado
por eventos que prolongam o período funcio-
nal do corpo lúteo a partir da inibição do me-
canismo de luteólise, conforme descrito ante-
riormente. Esse processo é responsável pela
manutenção dos níveis adequados de proges-
terona necessários para que ocorra a conti-
nuidade do desenvolvimento embrionário.
Diversos estudos evidenciam a relação entre
baixas concentrações de progesterona e per-
das gestacionais, assim como descrevem o
aumento nos índices de gestação e desenvol-
vimento embrionário após a suplementação
com progesterona (Garret et aI., 1988, Ne-
phew et al., 1991, Mann & Lamming, 1999).
Os bovinos são corpo lúteo dependente,
significando que necessitam da produção lu-
teal para a manutenção dos níveis de pro-
gesterona durante todo o período gestacio-
nal, embora essa também seja produzida pela
placenta. As concentrações de progesterona
detectadas no leite e no plasma de vacas nos
primeiros dias de gestação são semelhantes
aquelas observadas nas fêmeas não gestantes
que se encontram na fase de diestro. Assim,
sua utilização para diagnóstico de gestação
é limitada a períodos bem específicos, sendo
em conseqüência dependente de registros
criteriosos da data do serviço.
Os níveis de estrógenos, estrona e estra-
diol-17B, começam a aumentar na segunda
metade da gestação, atingindo o seu ápice
próximo ao parto. Assim sendo, sua utiliza-
ção não é adequada para diagnóstico de ges-
tação. O hormônio lactogênico placentário
bovino (bPL) é uma proteína secretada pelas
células binucleadas e possível de ser detecta-
da na circulação materna a partir do 26° dia
de gestação. As concentrações maternas des-
se hormônio aumentam progressivamente
durante o período gestacional, atingindo ní-
veis em torno de 1 a 2 ng/rnl próximo ao
parto. A proteína específica da gestação B
(PSPB) é uma glicoproteína específica da
placenta com peso molecular entre 47.000
e 53.000 daltons. Os seus níveis periféricos
podem ser detectados já a partir do 24° dia
de gestação nos bovinos (Sasseret al., 1986),
os quais apresentam uma elevação gradual
até o parto. As glicoproteínas associadas à
gestação (PAG) são pertencentes à superfa-
mília das proteases aspárticas, no entanto,
são consideradas enzimaticamente inativas.
Nos bovinos, o seu perfil caracteriza-se por
um aumento gradativo do primeiro ao oitavo
mês de gestação, apresentando uma rápida
elevaçãoapós esse período.
Métodos de Diagnóstico
Paipoção retal
A adequada contensão da fêmea é um im-
portante fator a ser considerado para o diag-
nóstico de gestação. A fêmea deve ser contida
em estação, de tal forma que sejam evitados
movimentos bruscos ou mesmo quedas que
venham provocar lesões ou ferimentos, tanto
nos animais examinados quanto no examina-
dor. Além disso, para a realização do exame
de palpação reta! de forma segura, é indispen-
sável que o médico-veterinário também tenha
alguns cuidados com relação ao seu material
de trabalho, devendo utilizar sempre luvas es-
peciais de boa qualidade bem como lubrifican-
te adequado. O diagnóstico de gestação por
palpação retal é um método seguro, que não
oferece risco para a integridade da vaca e tam-
pouco para a viabilidade do feto quando rea-
lizada por profissional habilitado. Antes do iní-
cio do exame propriamente dito, é aconselhá-
vel efetuar uma inspeção da vulva, seus arre-
dores e glândula mamária o que poderá servir
de subsídio para o diagnóstico final.
O diagnóstico de gestação em bovinos é
realizado levando-se em consideração deter-
minadas características do controle reproduti-
vo, se individual ou de rebanho. O controle
individual é realizado em criações intensivas,
de gado de leite ou plantéis de gado de corte,
e nesses casos há geralmente informações so-
bre datas de serviço e principalmente interesse
acentuado em um diagnóstico precoce. Quan-
do se trata de um controle de rebanho, típico
de criações extensivas de gado de corte, sub-
metidos a monta natural ou inseminação ar-
tificial, o diagnóstico é realizado em períodos
estratégicos, contribuindo para racionalização
do manejo. Esse método é considerado o mais
prático e preciso para o diagnóstico de gesta-
ção em fêmeas bovinas, desde que realizado
após 45-50 dias pós-serviço, dependendo da
capacidade do examinador. Uma vaca somen-
te deverá ser considerada gestante se pelo me-
nos um dos sinais indicativos de gestação for
detectado e reconhecido. O estádio da gesta-
ção pode ser estimado com base nas caracte-
rísticas uterinas e fetais, com maior precisão
em sua primeira metade.
Cabe destacar que algumas evidências des-
critas no item "Modificações Fisiológicas
Observadas na Gestação", quando considera-
das isoladamente, não servem como parâme-
tro para o diagnóstico de gestação. Determi-
nadas situações fisiológicas, como por exem-
plo a fase de puerpério precoce ou mesmo dis-
túrbios reprodutivos tais como piometra, mu-
mificação ou maceração fetal, proporcionam
também um aumento de tamanho uterino.
Outras características são peculiares e exclu-
sivas da gestação, razão pela qual é indispen-
sável fundamentar o diagnóstico consideran-
do, pelo menos um dos seguintes sinais posi-
tivos para gestação (Zemjanis, 1970):.Vesícula amniótica. Efeito de parede dupla. Placentônios.Feto
É importante salientar que profissionais
menos experientes devem procurar funda-
mentar o diagnósticopor pelomenos dois ou
5
mais desses sinais característicos, tendo assim
maior segurança. A detecção desses sinais vai
depender também da fase gestacional. Deve-
se também destacar que nenhum animal deve
ser considerado não-gestante a menos que o
examinador provoque uma retração uterina,
pela cérvice, e se certifique de que não há si-
nais indicativos de gestação.
A utilização de fases gestacionais propos-
tas originalmente por Grunert & Berchtold
(1988); Grunert (1993), apresentadas na ta-
bela 1.1 proporcionam maior facilidade e se-
gurança, não só para o estabelecimento do
diagnóstico de gestação, como também para
estimativa do período em que ela se encontra.
É importante ressaltar que esses dados ser-
vem apenas como parâmetro para o exami-nador. Devem ser consideradas variações in-
dividuais e não existem limites rígidos entre
as fases.
~ Eficiência do Método de Palpação Retal
O diagnóstico de gestação por palpação
retal é considerado um método eficiente e se-
guro, cuja acuidade aproxima-se de 100%,
6
desde que realizado por profissional treinado
(Youngquist, 1997). Erros de diagnóstico po-
dem ocorrer devido a repleção vesical, con-
teúdo uterino não fisiológico, pós-parto pre-
Tabelo1.1. Principoiscoractensticosqueservemdesuporteparao diagnósticodegestaçãoe estimativodopenadogestocionolembovinos.
FASE PERíODO POSIÇÃO TAMANHOFETO CARAaERíSTICAS
(meses) DOUTERO (cm)
Semsinais I Pélvico I sem sinaisevidentes
evidentes
Pequenobolso 1-11 Pélvico 3-9 iJssimetriadoscornosuterinos;
(31'00 60' dia) -vesículaamniótico;
-efeitodeporededuplo;
-IIutuaçãa;
-carpalúteaipsilateral.
Grandebolso 1-111 Pélvico/ 10-14 iJssimetriapronunciadodoscornosuterinos;
(61' 0090') Abdominal -IIutuaçãa;
-efeitodeparededuplo;
-feto possívelde serpalpado;
Balão III-IV Pélvico/ 15o 20 -grandebalão;
(91'001200) Abdominal -IIutuação;
-plocentãnios;
-feto;
-frémitoarterial.
Descido IV-VI Abdominal -cérvicedistendido;
(121'001800) Ventral -plocentãnios;
-difícilpaipoçãodo feto.
Final VII-IX Abdominal -palpoçãodofeto;
(181'280') Ascendente -placentônios;
-frémitoarterial.
coce, projeções de porções do rúmen no
sentido dorso ventral ou confusão devido à
palpação de ovários por placentônios. A in-
cidência de perdas gestacionais principal-
mente no primeiro terço gestacional é maior
que nas outras fases, e esse fato deve ser de
conhecimento do proprietário. O parto po-
de não ocorrer por erro de diagnóstico ou
por perda/morte pré-natal. Os erros de dia-
gnóstico ocorrem por falhas na interpreta-
ção dos exames realizados ou devido a con-
dições patológicas peculiares, no entanto,
nesses últimos, os sinais positivos de gesta-
ção não estão presentes. As condições pato-
lógicas mais comuns são piometra, hidro-
metra, doenças das novilhas brancas, linfo-
ma uterino, morte fetal, mumificação e ma-
ceração fetal e tumores ovarianos. A discus-
são detalhada dessas patologias, no entanto,
fogem ao escopo deste capítulo.
Ultra-sonografia
... Princípios Básicos da Ultra-sonografia
A ultra-sonografia ou ecografia é um mé-
todo de diagnóstico para exploração de es-
truturas, através da emissão de ultra-som e
captação de ecos. Constitui-se em uma técni-
ca complementar ao exame clínico e é utiliza-
da para avaliação de tecidos moles em todas
as espécies. É uma técnica não invasiva e não
provoca modificações biológicas, tanto aos
pacientes como ao operador. A ultra-sono-
grafia permite a avaliação do tamanho, da
forma, da localização e da consistência deór-
gãos em funcionamento ou o monitoramen-
to de suas funções. Possibilita ainda o registro
de imagens para ser utilizado em atestados
ou laudos clínicos. Uma das limitações da ul-
tra-sonografia inclui a natureza não específi-
ca de muitas alterações observadas, o que im-
pede, muitas vezes, um diagnóstico preciso e
imediato. Para obtenção de imagens precisas,
há necessidade de uma perfeita interação en-
tre o homem, a máquina e o paciente. A apli-
cação dessa técnica a partir da década de 80
constituiu-se em um dos passos mais impor-
tantes para o estudo e entendimento dos
eventos fisiológicos que ocorrem no ciclo es-
traI e gestação em diversas espécies. Permite
ainda maior precisão e segurança para o diag-
nóstico, prognóstico e terapêutica proporcio-
nando uma maior eficiência reprodutiva, prin-
cipalmente em explorações intensivas. Infeliz-
mente sua utilização é ainda restrita conside-
rando o elevado custo de aquisição e manu-
tenção do equipamento em relação ao retorno
econômico com a prestação de serviços.
O som é uma onda mecânica caracteriza-
da por compressão e rarefação, dentro de um
meio, audível pelo homem (8-20 KHz) oupel-
o cão até 50 KHz. Uma onda sonora possui
comprimento, freqüência e velocidade. O com-
primento é o número de ciclos que elas per-
correm em um dado período de tempo, medi-
do em ciclos por segundo ou Hertz. O ultra-
som é caracterizado por uma onda sonora
com freqüência muitas vezes superior à que
é percebida pelo ouvido humano, medida em
MHz. A velocidade do som varia conforme a
textura das áreas a serem examinadas mas são
muito próximas, na maioria dos tecidos mo-
les, com exceção do ar, ossos e pulmões. Para
a ultra-sonografia diagnóstica, os aparelhos
são programados para uma velocidade cons-
tantede 1540m/seg. (Griffith, 1980).
Ondas ultra-sônicas são emitidas a uma
velocidade constante até encontrarem uma su-
perfície refletora. Nessa superfície, uma pe-
quena porção do som é refletida e captada
pelo transdutor. O transdutor possui cristais
que têm propriedades piezelétricas, como a
da transformação de um tipo de energia em
outro, como por exemplo, mecânica em elé-
trica. O aparelho converte essa transforma-
ção em pontos de luz em uma tela conversora
de varredura. A amplitude do ponto na tela
é proporcional à distância percorrida. Assim,
temos reconstruída uma imagem dos tecidos
7
e órgãos atingidos pelo ultra-som. As ondas
sonoras são atenuadas à medida que percor-
rem os órgãos do animal examinado. As prin-
cipais causas de atenuação são absorção, re-
flexão e espalhamento. Porções de onda so-
nora poderiam ser responsáveis por danos
biológicos sofridos pelo tecido examinado.
No entanto, a intensidade da onda é tão baixa
que a quantidade absorvida de calor é ínfima.
Além disso, a posição do transdutor é muda-
da constantemente e o tempo de exame não
é suficiente para ocasionar danos aos tecidos.
Quando o som atinge uma interface, que
é a linha formada entre tecidos de diferentes
impedâncias acústicas, uma porção será re-
fletida com maior intensidade e a amplitude
do eco retomado será determinada pela dife-
rença absoluta na impedância acústica de um
tecido comparado a outro. Quanto mais se-
melhantes forem as impedâncias acústicas
entre os tecidos tanto menor será o eco. Esse
eco retomará ao transdutor onde será trans-
formado em impulsos elétricos e finalmente
em imagens. A elasticidade dos tecidos tam-
bém contribui para sua ecogenicidade. Os
gases e os ossos agem como barreiras às on-
das sonoras. Para ser possível examinar um
local circundado por gás ou estruturas ósseas
há necessidade de se utilizar uma janela acús-
tica, ou seja um meio que não impeça a pas-
sagem do eco (Nyland & Matoon, 1995).
Atualmente, utiliza-se o sistema em tempo
real que permite a observação de movimento
na imagem, representada pela variação de tons
na escala cinza.
Diversos planos podem ser observados
mediante mudança da posição do transdutor.
De acordo com a natureza e capacidade em
absorver e refletir os feixes de ultra-som os
tecidos são caracterizados na imagem gerada
dentro de uma escala que vai desde o preto
até o branco com vários tons intermediários
de cinza. Existe uma terminologia própria pa-
ra interpretar essas imagens que são anecói-
8
co, ecóico, hipoecóico, hiperecóico, isoecóico
e interfaces. Anecóico significa ausência de
ecos, transmissão completa de som aparecen-
do na tela em cor preta, ecóica ou ecogênico
a presença de ecos ou a capacidade de refletir
as ondas sonoras em maior ou menor intensi-
dade aparecendo na tela diversos tons de cin-
za. Hiperecóico representa estruturas brilhan-
tes, altamente reflexivas predominando o
branco e hipoecóico, ecos esparsos, reflexão
intermediária. Aspecto isoecóico é traduzido
por estruturas com a mesma ecotextura ou
ecogenicidade. Os artefatos são estruturas que
aparecem na imagem por interações ecográ-
ficas, erros técnicos, interferências ou ruídos
eletrônicos como, por exemplo, sombra acús-
tica, reverberação e reforço posterior, cujo co-
nhecimento evitará falsas interpretações.
Os equipamentos de ultra-sonografia são
fundamentalmente constituídos por um con-
sole, que possui uma fonte de energia e serve
para recebimento, amplificação e conversão
de sinais em imagens; por um teclado alfa
numéricoe outro de funções; transdutor,
constituído por cristais de quartzo turmalina,
zirconato de chumbo e titanato de bário co-
nectados ao console através de um cabo e
impressora ou vídeo para documentação de
imagens. Para revisão ver Fritsch & Gerwing
(1996) e Nyland & Matton (1995).
~ Condições para Diagnóstico Ecográfico
de Gestação
Para realização do diagnóstico ecográfico
de gestação, a fêmea deve ficar contida de tal
maneira que ofereça segurança tanto para o
examinador como para o equipamento. O
equipamento de ultra-sonografia deverá ficar
posicionado em plano elevado, permitindo fá-
cilvisualização da tela em ambiente de pouca
luminosidade, protegido de chuva e poeira.
Os transdutores, para uso retal, possuem ge-
ralmente uma freqüência de 5- 7,5 MHz e de-
verão ser recobertos com plástico descartá-
'--
vel.A utilização de gel entre o transdutor e
essaproteção permitirá uma imagem de me-
lhor qualidade.
.,. Técnica de Ultra-sonografia
O diagnóstico gestacionaI, por ultra-sono-
grafia, na vaca, pode proporcionar o ganho de
tempo correspondente ao de um ciclo estral
em relação ao que é utilizado por palpação
retal (Chaffauxetal., 1988; Neves, 1991; San-
tos, 1993; Santos & Neves, 1994). Além dis-
so, permite que o desenvolvimento embrio-
nário seja monitorado, com total inocuidade
para o feto e para a gestante (Kastelic et al.,
1991; Kãhn, 1990; Totey et a!, 1991). A vesí-
cula embrionária pode ser detectada entre os
17-19 dias após o serviço e caracteriza-se por
uma área não ecogênica e esférica no lúmen
uterino, geralmente ipsi-Iateral ao corpo lúteo,
próximo à junção útero tubárica. O embrião
poderá ser detectado a partir do 23° dia pós-
serviço, caracterizando-se como uma estru-
tura de ecogenicidade média no interior da
vesícula embrionária, que é anecóica. A tabe-
la 1.2 e a figura 1.1 (Santos, 1993) servem
de subsídio para o diagnóstico e estimativa do
A B
c D E
Figura 1.1. Imagens ecográficas da gestação na vaca. As setas indicam embrião aos 18 (AIe 24 dias (S), membrana
amniótica no 31 ° dia (CI membros anteriores e posteriores no 33° dia (DI e coluna vertebral no 41 ° dia (E).
9
período da gestação. O primeiro órgão a ser
identificado é o coração caracterizado como
uma estrutura ora não ecogênica, ora com
pouca ecogenicidade. A freqüência cardíaca
é de 184 a 188 batimentos por minuto. O
âmnio poderá ser visualizado dos 25 aos 30
dias de gestação (Curran et al., 1986ab; Fis-
sore et al., 1986; Toteyet al., 1991). Os mem-
bros são detectáveis aos 32 dias; a coluna
vertebral aos 40 dias e os movimentos fetais
são percebíveis aos 45 dias. Do dia 23 ao 50
a vesícula embrionária cresce em diâmetro na
razão de 1,38 mm/dia e o embrião aumenta
seu comprimento em 1,15 mm/ dia, confor-
me Santos & Neves, 1994. O diagnóstico
realizado antes do 22° dia de gestação atra-
vés da presença de fluídos uterinos não é se-
guro considerando que a detecção do con-
cepto nem sempre é viável. Isso depende tam-
bém da resolução do equipamento, freqüên-
cia do transdutor e habilidade do examina-
dor, podendo ser também mascarado pela
presença de fluídos uterinos fisiológicos. Por-
tanto, o período mais conveniente e seguro é
a partir dos 25 dias pós-serviço. Uma prática
recente que tem sido utilizada em vacas lei-
teiras e receptoras de embriões é a determi-
nação do sexo fetal. Fundamenta-se na ob-
servação do tubérculo genital, escroto e glân-
Tabelo 1.2. Característicos gestacianais que servem de parômetro paro
diagnóstico nos fases iniciais de gestação através do ultra-
sonogrofia.
CARAaERíSTICASGESTAClONAIS DIASPÓS-SERVIÇO-
13-19
20-24
24-27
30-32
28-34
40
42-50
51-55
33-38
60
Vesículo embrionário
Embrião
BoIimentos cardíacos
Âmnio
Membros
Coluna vertebral
Movimentos fetois
Costelas
Plocentônios junto 00 embrião
Plocentônios em todo o útero
10
dula mamária a partir dos 50 dias de gestação
(Curran et al.,1989).
Eficiênciado Método de Diagnóstico
Ecográficode Gestação
A eficiência do diagnóstico ecográfico de
gestação depende do equipamento, habilida-
de do examinador e período gestacional. Exa-
mes realizados antes dos 25 dias estão mais
susceptíveisa erros (50%) em relação aos reali-
zados posteriormente, quando o embrião e
os batimentos cardíacos possibilitam um diag-
nóstico mais consistente (Kastelic et aI.,
1989). A localização pélvica dos órgãos ge-
nitais permite um diagnóstico mais seguro em
relação a animais cujos genitais localizam-se
no abdômen. Assim, o período mais indicado
para a realização do diagnóstico por ultra-so-
nografia vai do dia 25 até quando for possí-
vel uma avaliação segura por palpação retal.
A crescente utilização da ultra-sonografia
tem proporcionado um salto de qualidade na
assistência veterinária em algumas regiões do
País no âmbito da reprodução animal. As fa-
lhas na concepção e morte embrionária
precoce podem ter seus efeitos minimizados
mediante uma maior precisão e rapidez diag-
nóstica. Novas biotecnologias como indução
e sincronização do estro, transferência e pro-
dução de embriões in vitro têm sido otimi-
zados. Considerando ainda que a média dos
índices reprodutivos brasileiros, mesmo com
todos os avanços tecnológicos, apresentem
poucos sinais de progresso, as utilizações de
técnicas de diagnóstico mais precisas podem
contribuir substancialmente para a reversão
desse quadro. Para isso, as instituições de en-
sino, cooperativas, núcleos de criadores, pro-
fissionais liberais e entidades afins devem
avaliar o potencial incremento que poderá ser
gerado na produtividade com a adoção des-
sa tecnologia.
DosagemHormonal
.. Progesterona
A progesterona é secretada pelo corpo lú-
teo no decorrer da gestação. Nas vacas não
gestantes ocorre uma queda brusca em tor-
no do 17° dia do ciclo. Portanto, a determi-
nação dos teores de progesterona no soro e
leite entre os dias 21 a 24, pós-serviço, per-
mite avaliar a existência ou não de uma fun-
ção lútea indicativa de gestação. Testes de ra-
dioimunoensaio e ELISA têm sido utilizados
comercialmente para aplicação em diagnós-
tico precoce de gestação nos bovinos. Vacas
gestantes apresentam níveis de progestero-
na semelhantes ao de uma vaca na fase lútea.
Ao contrário, se a concentração de progeste-
rona nos dias 21 a 24 for baixa significará que
a vaca não está gestando.
A eficiência do método é estimada em 75
a 85% para detecção de gestação e de 100%
para detecção das não gestantes. Resultados
falso-positivos ocorrem devido a erros de
identificação de amostras, variações indivi-
duais na duração do ciclo, anormalidades
ovarianas (cistos) ou uterinas e morte embrio-
nária. Na verdade, a determinação da proges-
terona nesse período indica unicamente a pre-
sença ou não do corpo lúteo o que pode estar
ou não associado com uma gestação. Consi-
derando a baixa eficiência do método e o custo
relativamente alto, em relação aos demais, a
dosagem de progesterona não se tornou um
procedimento usual em nosso meio.
.. Estrógenos
O sulfato de estrona, produzido pela pla-
centa das vacas em concentrações suficien-
tes para um diagnóstico de gestação, ocorre
a partir dos 100 dias de gestação. Em com-
paração com outros métodos existentes, a
determinação de estrógenos deixa de ser uma
opção viável, considerando o período gesta-
cional em que poderá ser utilizado.
... Hormônio lactogênio PlacentárioBovino
Em virtude da sua detecção somente ser
possível a partir do 110° de gestação na gran-
de maioria das vacas, o seu uso não é indica-
do para o diagnóstico de gestação na espécie
bovina.
... Proteína específica da gestação B
A mensuração das concentrações da PSPB,
através de radioimunoensaio, pode ser utili-
zada para o diagnóstico de gestação a partir
do 28° de gestação em bovinos. O risco de
erro no diagnósticoé de no máximo10%.
... Proteínas associadas à gestação (PAGj
A utilização da dosagem de PAG como
método de diagnóstico de gestação em bovi-
nos é recomendada, somente, após os 34 dias
de gestação (Zoli et al., 1992). Além dos altos
índices de precisão da técnica, descritosentre
87 e 98%, a PAG conserva-se em níveis de-
tectáveis por até 10 dias após a colheita de
sangue, mesmo em temperatura ambiente
elevada (Skinner et aI., 1996). Considerando
as vantagens de precocidade e precisões do
método existem perspectivas de uma efetiva
utilização desta técnica no futuro.
Considerações Finais
É indiscutível a importância do diagnósti-
co de gestação em qualquer tipo de explora-
ção bovina. O método mais utilizado e mun-
dialmente consagrado é apalpação retal pela
sua praticidade, eficiência e baixo custo. Em
fêmeas de maior valor comercial, principal-
mente vacas de leite ou plantéis de corte, é
crescente a utilização da ultra-sonografia.
Isso se deve a possibilidade de um diagnosti-
co mais precoce, preciso e passível de ser do-
cumentado. Assim, pode-se otimizar a efi-
ciência reprodutiva através de novo serviço
diminuindo dessa forma o intervalo entre
11
partos. A baixa eficiência, custo relativamen-
te elevado e pouca praticidade das dosagens
hormonais fazem dessa opção a menos utili-
zada em nosso meio. Deve-se destacar que a
determinação de PAG pela sua precisão e pe-
ríodo de determinação constitui-se numa pos-
sibilidade de diagnóstico. Sua utilização co-
mercial vai depender fundamentalmente do
custo e agilidade para retorno do diagnóstico.
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13
Capítulo 2
Diagnóstico de Gestação em Caprinos
VicenteJosé de Figueirêdo Freitas, Auríno Alves Simplício
Bases Fisiológicas
Quando ocorre um ciclo estral normal na
cabra, esse é geralmente associado a uma ou
mais ovulações que ocorrem 30 a 36 horas
após o início do estro. O corpo lúteo formado
após a luteinização do folículo ovulatório se-
creta uma elevada quantidade de progestero-
na que será responsável pela manutenção da
posterior gestação, caso ocorra a fecundação
(Figura 2.1). O embrião resultante da fecun-
Ciclo
Gestação
5 7 9 11 13 15 17 1921 2325272931 33 35 37 3941
Dns
Figura2.1. Curva de progesterona plasmática em uma cabra cíclica e, em seguida, gestante (Adaptado de Chemineau
etal.1991).
15
14
12
10
]' 8bb
5
6
,::l.,
4
2
O
1 3
t
Estro
dação começa a implantar-se no 149dia do
ciclo quando a vesícula coriônica está desen-
volvida suficientemente para entrar em con-
tato estreito com o epitélio uterino. No mo-
mento da implantação (entre o 149e o 17Qdia
pós-estro), o embrião desenvolve, juntamen-
te com o útero, uma placenta do tipo cotile-
donária. Todas as trocas serão feitas através
dessa placenta, na qual a fixação embrionária
ocorre em um número restrito de regiões ar-
redondadas ou ovais, onde uma camada de
vilosidades sai do cório fetal e agregam-se
em uma saliência da mucosa uterina deno-
minada carúncula (Oeriveaux et aI., 1988).
Do lado materno, o corpo lúteo continua a
secretar progesterona até o parto. Na cabra,
a destruição química ou física do corpo lúteo,
em qualquer momento da gestação, provo-
ca o aborto.
A duração da gestação em caprinos está
entre 144 e 152 dias (lshwar, 1995). No en-
tanto, em cabras nativas do Nordeste do Bra-
sil (Moxotó, Canindé, Marota e Repartida),
uma duração de 137 dias é considerada nor-
mal. A duração da gestação é também geral-
mente ligada ao número de fetos, pois as fê-
meas gestantes de vários fetos têm uma dura-
ção mais curta que aquelas com um único
feto. A duração da gestação é também deter-
minada pelo peso dos fetos, onde cabras ges-
tantes de fetos mais pesadostêm uma gesta-
ção mais curta (Martal & Charlier, 1985).
Introdução
Em regime de manejo extensivo, onde
machos e fêmeas são exploradosjuntos du-
rante todo o ciclode produção, a realização
do diagnósticoprecocede gestação apresen-
ta poucasvantagenspara o sistemade produ-
ção, desde que se trabalhe com matrizes e
reprodutores de fertilidadecomprovada.Ge-
ralmente, nesse tipo de manejo, o custo de
manutenção de algumas cabras não gestan-
tes é substancialmente menor que o preço
16
dos exames de gestação em todo o rebanho.
Por outro lado, o diagnóstico precoce de ges-
tação em caprinos, como em outras espécies
domésticas, tornou-se uma necessidade em
regimes de manejo semi-intensivo e intensivo
dentro de sistemas de exploração produtivos.
A prática do repasse mediante o uso de rufião
e o não retorno ao estro não são métodos
eficazes de diagnóstico de gestação, servindo
apenas como elementos auxiliares. Ainda, em
caprinos, não é possível proceder apalpação
do sistema genital através do reto objetivando
o diagnóstico de gestação, a exemplo do que
é feito na égua e na vaca. Em adição, condi-
ções patológicas do útero e dos ovários são
causas de anestro na cabra, dificultando, des-
ta forma, um diagnóstico de gestação basea-
do no não retorno ao estro. A incapacidade
de proceder-se o diagnóstico precoce de ges-
tação na cabra pode resultar em perdas eco-
nômicas significativas, quer em sistema de
produção de leite quer de carne, devido ao
aumento no intervalo entre partos (Freitas
& Simplício, 1999).
Vários métodos para diagnóstico precoce
de gestação em caprinos têm sido descritos;
todavia, a grande maioria deles depende de
mão-de-obra qualificada e do uso de equipa-
mentos sofisticados e, por conseqüência, de
elevado custo. Como exemplos destes méto-
dos, pode-se citar: biópsia vaginal, radiogra-
fia, laparotomia, laparoscopia, dosagem hor-
monal, métodos ultra-sônicos, determinação
do antígeno específico da gestação e outros
métodos que não podem ser considerados
precoces, como por exemplo a palpação ab-
dominal. A escolha do método dependerá,
dentre outros fatores, da disponibilidade de
laboratório, equipamentos e mão-de-obra
qualificada, idade provável da gestação, custo
operacional e eficácia desejada. Neste capítu-
lo, são descritos os métodos de diagnóstico
de gestação disponíveis e mais freqüentemente
usados na espécie caprina.
Métodos Ultra-sônicos
O ultra-som é refletido de tecidos móveis,
em suaves mudanças de freqüência, o que o
qualifica como um instrumento importante
para exames de tecidos pela sua segurança pa-
ra o operador e o paciente (Bishop, 1966).
Em adição, técnicas ultra-sônicas têm sido
usadas para examinar estruturas sub-superfi-
ciais em tecidos vivos pelo uso de scan-A e
do efeito Doppler.
A gestação na cabra pode ser diagnostica-
da por um dos três métodos ultra-sonográfi-
cos a seguir enumerados: o scan-A (amplitu-
de do eco-tempo), o efeito Doppler (registro
de movimentos) e o scan-B (tempo real). To-
dos eles podem ser usados em condições de
campo. A precisão do diagnóstico, o tempo
despendido para a realização do exame e a
acurácia na determinação do número de fe-
tos e sua idade variam entre as três técnicas
e dependem da sensibilidade do equipamento
usado, além da qualificação e experiência do
profissional. Entretanto, independente do
método a ser usado deve-se atentar para os
seguintes pontos:
A
.proceder a jejum hídrico e alimentar
de, pelo menos, 12 horas;.o exame cutâneo deve ser priorizado
a menos que um diagnóstico precoce
seja essencial;.o diagnóstico transabdominal, feito en-
tre o 252 e o 352 dia pós-cobrição ou in-
seminação artificial, propicia boa acu-
rácia desde que conduzido com trans-
dutor de 5 MHz e com a cabra em po-
sição de estação.
~ Técnica Ultra-sônica- $can-A
O princípiodo ultra-som, considerando a
amplitude do eco x tempo, é baseado na de-
tecção da faixa fluida presente no útero. A uni-
dade scan-Aemite ondas ultra-sônicas a partir
de um transdutor manual colocado externa-
mente contra a pele do abdômen e em direção
ao útero (Figura 2.2). As ondas ultra-sônicas
são refletidas entre os diferentes tecidos para
o transdutor e convertidas em energia elétrica
na forma de sinais audíveis ou visuais. A uni-
dade é sensível a uma profundidade de 10 a
20 cm. Um sinal sonoro ou luminoso é emiti-
Figura 2.2. Locale ângulo de aplicaçâo do módulo transreceptor do aparelho, em vista póstero-anterior (AI e lateral
direita (8)
17
do pela unidade quando uma faixa de estru-
tura fluida é registrada. O ultra-som scan-A
é considerado um método de gestação satis-
fatório em caprinos com idade fetal entre
50 a 120 dias conforme descrito por Wani
(1981). Contudo, Haibel (1990) descreve
uma acurácia de, no mínimo, 95% quando o
diagnóstico é feito entre 60 e 80 dias após a
cobrição ou inseminação artificial. É impor-
tante considerar que a bexiga urinária repleta,
a hidrometra e a piometra podem levar a resul-
tados falsos positivos. Por outro lado, resulta-
do falso negativo pode ocorrer no início ou
final da gestação, devido à reduzida quantida-
de de fluido uterino em relação ao volume de
tecido feta!. A viabilidade fetal e o número
de fetos não são detectáveis por esse método.
Ressalta-se que a técnica pode ser muito útil
em áreas onde a eletricidade não é disponível.
~ EfeitoDoppler
O princípio envolvido no efeito Doppler
para a confirmação diagnóstica de gestação
é o registro de movimentos como um indica-
dor da gestação tais como: a pulsação san-
guínea, o batimento cardíaco e os movimen-
tos fetais. A técnica foi pela primeira vez usa-
da por Callahan et aI. (1964) para diagnósti-
co de gestação na espécie humana.
Doppler Cutâneo
Semelhantemente ao scan-A o transdutor
deve ser posicionado no flanco direito, cra-
nialmente e ligeiramente ao lado do úbere,
com a cabra em posição de estação. Os pelos
da área devem ser, preferencialmente, retira-
dos objetivando favorecer um melhor conta-
to. Agentes de ligação, tais como gel para ul-
tra-som ou óleo vegetal, devem ser aplicados
no transdutor para eliminar espaços vazios
entre a pele e a parte correspondente à cabe-
ça do transdutor. A acurácia da técnica é de,
aproximadamente, 100% durante a segunda
metade da gestação (Ishwar, 1995). Contudo,
18
essa técnica apresenta uma eficiênciamuito
baixa durante o primeiro terço da gestação
(Lindahl, 1969).
Doppler Retal
A técnica Doppler retal é superior à cutâ-
nea no diagnóstico de gestação, pois a viabi-
lidade fetal pode ser avaliada. Entretanto, a
acurácia do diagnóstico diferencial entre a
gestação, simples e múltipla, não é elevada.
Por outro lado, a técnica Doppler retal pode
ser utilizada mais precocemente para o diag-
nóstico de gestação quando comparada à
técnica de ultra-som scan-A (lshwar, 1995).
~ Técnica Ultra-sônica- Scan-B
Até recentemente não existia uma técnica
que permitisse determinar satisfatoriamente
o número de fetos na espécie caprina. O ul-
tra-som scan-B foi desenvolvido na Austrália
e oferece acurácia, rapidez, segurança e pra-
ticidade para diagnosticar a gestação e de-
terminar o número de fetos. O método pro-
duz uma imagem bidimensional e móvel do
útero, fluidos fetais, feto, batimento cardíaco
fetal e dos placentomas, a qual pode ser foto-
grafada. O exame pode ser realizado sob a luz
solar ou sob uma luz tênue permitindo uma
visibilidade ótima (lshwar, 1995). A cabra
deve estar em posição de estação e a parte
correspondente à cabeça do transdutor é co-
locada contra a pele, após a tricotomia na
região inguinal cruzando o abdômen cranial-
mente. A melhor acurácia é alcançada quan-
do o exame é feito entre 40 e 75 dias após a
cobrição ou inseminação artificial. Neste pe-
ríodo, o útero gestante, que se encontra em
distensão, ocupa principalmente o lado direi-
to do abdômen. O método, quando usado por
via trans-abdominal, permite uma boa acu-
rácia a partir do 50Qdia após a cobrição ou
inseminação artificial. No entanto, Haibel
(1990) demonstrou que o diagnóstico de ges-
tação é possível entre o 25Qeo 30Qdia após
a cobrição ou inseminação artificial, desde
que se use a via transreta1. Para tanto, o reto
deve ser esvaziado reduzindo-se a possibi-
lidade das fezes envolverem o transdutor difi-
cultando, por conseguinte, o contato deste
com a parede do reto e levando a obtenção
de uma imagem de má qualidade. Otransdu-
tor deve ser lubrificado e colocado no reto
mediante movimentos delicados e rotativos.
O feto e o seu batimento cardíaco são, geral-
mente, perceptíveis a partir do 25Qdia de ges-
tação. A viabilidade fetal pode ser avaliada
pelo registro dos movimentos e batimentos
cardíacos fetais. Os placentomas podem ser
visualizados a partir do 26Qdia da gestação.
A possibilidade e a acurácia da determi-
nação do número de fetos com o uso da ultra-
sonografia em tempo real é uma vantagem so-
bre as demais técnicas ultra-sônicas. O perío-
do mais seguro para contagem dos fetos é en-
tre 45 e 90 dias de gestação, uma vez que a
partir dos 90 dias os fetos estarão muito de-
senvolvidos para serem diferenciados um dos
outros (Dawsonetal., 1994). Umaoutravan-
tagem do ultra-som em tempo real é que esse
permite diferenciar com segurança a gesta-
ção da hidrometra, da piometra e da mumifi-
cação feta! (Haibel, 1990). Nos dois primeiros
casos, os placentomas estão ausentes e o útero
aparece distendido com um fluido ecogênico
na hidrometra (Figura 2.3), além de um flui-
do cinza-esbranquiçado na piometra. A mu-
mificação fetal é caracterizada pela ausência
de fluido e a presença de uma imagem densa,
hiperecogênica. A idade fetal pode ser deter-
minada entre 40 e 100 dias de gestação pela
mensuração da largura da cabeça, o que torna
a técnica valiosa na predição do provável pe-
ríodo do parto quando a data da cobrição ou
inseminação artificial não é conhecida (Daw-
son et aI., 1994).
A ultra-sonografia em tempo real para o
diagnóstico de gestação na espécie caprina
pode ser fácil e rapidamente dominada, per-
mitindo que um profissional qualificado e
com boa experiência obtenha uma acurácia
no diagnóstico da ordem de 90% a 100%. O
diagnóstico falso positivo é raro e pode ser
devido à morte embrionária precoce com
absorção fetal, aborto não observado ou erro
no registro da bexiga como se fosse o útero
(Bruckell, 1988). O diagnóstico falso negati-
Figura 2.3. Imagens de gestação (A)e hidrometra (8) obtidas através do método de ultra-som scan-8.
19
vo pode resultar da imagem pouco detalhada
do sistema genital no início da gestação ou
devido a não qualificação e inexperiência do
profissional.
Dosagens Hormonais
A mensuração de hormônios esteróides,
dentre eles o sulfato de estrona e a progestero-
na, em momentos estratégicos após a cobrição
ou inseminação artificialé um bom método de
diagnóstico precoce de gestação na espécie
caprina (Murray & Newstead, 1988; Refstal
et al., 1991). Entretanto, essa técnica requer
equipamentos sofisticados e pessoal de eleva-
da qualificação técnica.
A técnica de radioimunoensaio (RIE) tem
permitido o desenvolvimento de testes sensí-
veis para detectar esses hormônios no sangue,
leite e urina. O sulfato de estrona é produzi-
do pela placenta da cabra e pode ser detectado
40 a 50 dias após a cobrição ou inseminação
artificial (Refstal et al., 1991). O teste positivo
indica a existência de, pelo menos, um feto
viável.Murray & Newstead (1988) utilizaram
o enzimoimunoensaio (ELISA) para mensu-
rar a concentração de sulfato de estrona no
leite como auxiliar no diagnóstico de gestação
na espécie caprina. O teste apresentou uma
acurácia de 82% e 83% para diagnosticar ges-
tação positiva e negativa, respectivamente.
A mensuração da concentração de pro-
gesterona no sangue e no leite é usada como
método de diagnóstico de gestação na cabra.
A concentração de progesterona plasmática
pode ser avaliada 19 a 23 dias após a cobri-
ção ou inseminação artificial com uma eleva-
da acurácia (Thimonier et aI., 1977; Murray
& Newstead, 1988). Thibier et aI. (1982)
quantificaram a progesterona plasmática em
267 cabras de raças leiteirasno 21Q e 22Qdia
pós-cobrição e encontraram uma acurácia de
86% e 100%, para gestação positiva e negati-
va, respectivamente. A concentração de pro-
gesterona no leite, em geral, reflete a concen-
20
tração plasmática; todavia, de acordo com
diversos autores (Holdworth & Davies,
1979; Thibier et aI., 1982; Murray & News-
tead, 1988) a concentração no leite é mais
elevada.Aconcentração de progesterona no
leite igualou superior a 10 nglml, entre o
22Qe 2~ dia pós-cobrição ou inseminação
artificiaCé considerada como resultado posi-
tivo para gestação. A acurácia desse método
é de 86% para detectar gestação positiva e
100%para negativa (Holdsworth & Davies,
1979). É também relatado que as concentra-
ções plasmáticas de progesterona tendem a
ser mais precisas que no leite (Bretzlaff et
aI., 1989). Apesar da determinação da pro-
gesterona no plasma ou no leite na espécie
caprina ser 100% segura para diagnosticar
gestação negativa, deve-se considerar que a
presençade progesterona elevadanessesflui-
dos somente indica a existência de corpo lú-
teo funcional. Condição essa, também pre-
sente em casos de hidrometra, piometra, ma-
ceração e mumificaçãofetal,o que pode levar
a um diagnóstico falso positivo.
Palpação Reto-abdominal
A técnica da palpação reto-abdominal para
o diagnóstico de gestação em cabras foi des-
crita por Ott et alo (1981). As cabras são dei-
xadas em jejum por 12 horas antes do exame,
o qual é realizado em uma maca de contenção
utilizada para laparotomia. Uma solução lu-
brificante é injetada lentamente no reto e um
bastão de plástico medindo 1,5 x 50 cm, com
a ponta arredondada, é colocado no reto a
uma profundidade de 30 a 35 cm. A mão livre
do operador é colocada sobre o abdome pos-
terior enquanto o bastão é manipulado com
a outra mão. O bastão é movido para cima e
para baixo, da direita para a esquerda, até que
um obstáculo é sentido e palpado contra a pa-
rede abdominal (Figura 2.4); caso contrário,
decide-se pelo diagnóstico de gestação nega-
tivo. O método apresenta 97% de acurácia aos
60 dias após a cobrição ou a inseminação arti -
ficiai.A palpação reto-abdominal é um méto-
do simples, rápido, preciso e barato; no entan-
to, o procedimento envolve um pouco de ris-
co. Trauma retal, aborto e morte da matriz e
do(s) feto(s) têm sido descritos seguidos ao
exame (Memon & Ott, 1980; Ott et al., 1981).
Figura2.4 Diagnósticode gestação em cabras por
paipoção reto-abdominal.
Radiografia
Na espécie caprina essa técnica pode ser
usada para detectar a gestação e o número
de fetos com uma acurácia de 90% aos 58
dias após a cobrição ou inseminação artifi-
cial (Barker & Cawley, 1967). O esqueleto
fetal é quase sempre rádio-opaco após 65
dias da gestação. O aumento do útero, su-
gestivode gestação, pode ser observadobem
mais precocemente, mas não pode ser dife-
renciado de uma hidrometra ou piometra.
Para se evitar a repetição de exames, suge-
re-se realizar um só exame aos 70 dias após
a cobrição ou inseminação artificial,permi-
tindo 100% de acurácia no diagnóstico de
gestação e contagem do número de fetos.
Entretanto, a técnica não é prática para se
examinar um grande número de cabras, ge-
ralmente o seu uso no campo é impossibili-
tado e dispendioso.
Biópsia Vaginal
A avaliação histológica de biópsia vaginal
tem sido utilizada como método de diagnós-
tico de gestação em pequenos ruminantes,
sobretudo em ovelhas (Ishwar, 1995). As cé-
lulas e núcleos oriundos da mucosa vaginal
de fêmeas gestantes têm a metade do tama-
nho daquelas não gestantes, sendo poligonais
e de forma escamosa e dispostas em dez ou
mais camadas. A mucosa vaginal de cabras
gestantes tem poucas camadas de células e,
geralmente, essas apresentam-se colunares
e de forma cuboidal. As amostras para bióp-
sia devem, preferentemente, ser colhidas da
porção cranial da vagina. No entanto, o pro-
cedimento não é prático para uso no campo
devido ao tempo despendido, requer pessoal
de elevada qualificação técnica e os gastos
na obtenção, processamento e exame pro-
priamentedito são elevados. Recentemente,
Raposo et ai. (2000), trabalhando com ca-
bras da raça Saanen, não recomendaram
esse método para o diagnóstico precoce da
gestação em caprinos.
Laparotomia
O útero pode ser facilmente palpado atra-
vés de uma pequena incisão na parede abdo-
minal e uma incisão paramediana ventral e
cranial ao úbere é realizada para permitir a
entrada de dois dedos. O útero com paredes
finas, dilatado e contendo fluido é indicador
positivo de gestação. O procedimento deve ser
o mais asséptico possível para se evitar conta-
minação seguida de infecção.
A palpação direta do útero resulta em uma
acurácia próxima de 100% em cabras aos 42
dias de gestação (Smith, 1980). Ainda, em
consonância com o mesmo autor, entre a
quarta e quinta semanas após a cobrição ou
a inseminação artificial os cornos uterinos
21
mostram-se bastante distendidos e durante a
sexta semana os cornos estão com 5 a 10 em
de diâmetro e os cotilédones tomam-se facil-
mente palpáveis. Entretanto, Mani et aI.
(1993) descrevem que o número de placen-
tomas utilizados pelo feto é fIXado em tomo
do 3Ü2dia após a fecundação apesar do peso
total dos placentomas aumentar até aos 90
dias da gestação.
Paipoção Abdominal
A palpação abdominal pode ser utilizada
em cabras com gestação avançada e torna-
se de mais fácil realização à medida que a
gestação avança. Essa técnica é também de
mais fácil execução em animais magros que
em obesos. a útero gestante ou o fetopo-
dem, algumas vezes, serem palpados através
da parede abdominal relaxada colocando-se
as mãos em cada lado do abdômen para pres-
sioná-Io ou levantá-lo. a feto pode ser facil-
mente tocado no flanco direito durante o últi-
mo mês de gestação. Na execução dessa téc-
nica é aconselhado realizar um jejum alimen-
tar e hídrico por, no mínimo, 12 horas antes
250
200
t 150=.
'-'
o
<r: 100
~
50
o
1 3 75
do exame a fim de obter-se maior facilidade
durante a operação.
Detecção de Proteínas Específicas da Gestação
A Proteína Associada à Gestação (PAG)
foi inicialmente descrita em bovinos como sen-
do um antígeno placentário presente nos ex-
tratos cotiledonários e detectável no soro san-
guíneo (Zoli et al., 1991). Posteriormente, an-
tígenos sorologicamente semelhantes também
foram encontrados no soro de ovinos (Ranilla
et al., 1994) e caprinos (Benitez artiz, 1992),
sendo de interesse pela possibilidade de sua
determinação no soro sanguíneo servir como
método alternativo de diagnóstico precoce de
gestação em ruminantes. De acordo com Sou-
sa et aI. (1999), os perfis de PAG em raças
nativas do Nordeste do Brasil, como a Canin-
dé e Moxotó, aumentam significativamente a
partir da terceira semana, sendo mais elevados
na sétima semana de gestação. Esses autores
também verificaram um efeito do número de
fetos sobre as concentrações plasmáticas de
PAG (Figura 2.5). Em adição, na raça Pardo
Alpina explorada no Sudeste do Brasil, os per-
-1 feto
--r:r 2-3 fetos
9 13 1711 15 19 21
Semmas de Gestação
Figura2.5. Níveisde PAGem cabrasda raça Moxotó durantea gestaçãode umou váriosfetos(Adaptadode Sousa
et 01. 1999).
22
fis de PAG apresentam curva semelhante à
descrita para as nativas do Nordeste brasi-
1eiro(Batalha, 1998). Ressalta-se também
a possibilidade de se trabalhar com determi-
nações pelos métodos homólogo (hmPAG-
RIA) e heterólogo (htPAG- RIA), nesse caso
usando-se anticorpos de origem ovina. En-
tretanto, registra-se que a eficácia de ambos
os métodos é semelhante.
Considerações Finais
A caprinocultura, nos últimos anos, soli-
dificou sua condição de atividade lucrativa
do setor primário. Esta condição implica na
modernização das técnicas utilizadas pelos
produtores, sobretudo aquelas ligadas ao
manejo reprodutivo, tais como o diagnósti-
co precoce de gestação.
A dosagem de progesterona ou PAG
continua necessitando de condições labora-
toriais excessivamentedispendiosas. No en-
tanto, a ultra-sonografia (scan B) vem se
sobressaindo pela simplicidade e eficáciano
diagnóstico de gestação, sendo o custo do
aparelho sua principal desvantagem.
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1fu
,/ Capítulo 3 '",
'ii
Controle ido Estro e da'.Ovula ção
I ,
er(t, Bovinos e Ovipos
, iii
José Carlos Ferru9~mMoraes, Carlos .J6séHoffde Souza,
Pauk\Bayard Dias Go,rçalves
Bases Fisiológicas
As fêmeas ruminantes domésticas são po-
liéstricas, apresentando estro em intervalos re-
gulares de 21 dias na vaca e 17 dias na ovellia.
Durante o ciclo estral ocorre uma cadeia de
eventos que se repetem até o impedimento da
luteólise pela gestação (nas ovellias também
pode ser por ocasião do anestro estacional que
será discutido posteriormente). Na vaca e na
ovelha, o processo de foliculogênese (cresci-
mento/maturação folicular) tem início com a
formação dos folículos durante a vida fetal,
ou seja, ao nascimento a terneira ou cordeira
já tem determinado o número de folículos pri-
mordiais nas suas gônadas. A maioria desses
folículos durante o seu crescimento vão se de-
generar no processo conhecido por atresia fo-
licular, enquanto, apenas uma minoria vai
completar sua maturação e ovular. As di-
versas etapas da foliculogênese podem ser
divididas de acordo com as características
fisiológicas de cada grupo de folículos nas
seguintes categorias: folículos primordiais,
comprometidos (também denominados de
ativados) que recebem a denominação pelo
fato de estarem comprometidos com o cres-
cimento e não mais voltarem a queiescên-
cia, sensíveis a gonadotrofinas, dependentes
de gonadotrofinas e ovulatórios.
Os folículos primordiais compõem o esto-
que de folículos formados durante a fase fetal
e que vão se desenvolver durante a vida re-
produtiva da fêmea. Esses folículos em esta-
do quiescente são caracterizados por um oó-
cito na prófase da primeira divisão meiótica,
sem zona pelúcida, rodeado por algumas cé-
lulas da pré-granulosa e envolvidas pela
membrana basal (van Wezel & Rodgers,
1996). Os folículos nesse estádio não têm
suprimento sangüíneo próprio e, dessa for-
ma, recebem nutrientes por difusão (Hirsch-
field, 1991). Os ditos folículosativados,após
reiniciar seu desenvolvimento, estão compro-
metidos a crescer, resultando em atresia ou
oVulação. O mecanismo determinante da
passagem do estádio de folículo primordial
para o de folículo primário, no qual as células
da granulosa crescem e se multiplicam, não
é totalmente conhecido, mas acredita-se que
esse ocorra sem a participação de gonadotro-
finas. Existem evidências de que fatores de
crescimento estão envolvidos no desenvolvi-
mento de folículos primordiais e primários.
Recentemente, resultados obtidos em ani-
mais de laboratório sugerem que fatores co-
mo o KL (kit ligand), bFGF (basic fibroblast
growth factor), MI S (Mullerian Inhibitin
25
Substance; Durlinger et aI., 1999) e NGF
(Nerve Growth Factor, Dissen et aI., 2001)
participam da regulação do reinício do
desenvolvimento de folículos primordiais
(Parrot & Skinner, 1999; Nilsson et aI.,
2001). Essas evidências, associadas a resulta-
dos anteriores que demonstraram a presença
de bFGF em oócitos de folículos primários
e primordiais de animais de diversas espécies,
incluindo a bovina (van Wezel & Rodgers,
1996), solidificam a ação desses fatores de
crescimento no início da foliculogênese. Pro-
vavelmente, a interação de diversos fatores
de crescimento seja responsável pelo recruta-
mento de folículo primordial até a expressão
de mRNA para receptor de FSH e conse-
qüente dependência de gonadotrofinas para
continuar o seu desenvolvimento. Fatores de
crescimento, como o fator de crescimento e
diferenciação 9 (GDF-9) e o GDF-9b, tam-
bém conhecido como morphogenetic protein
(BMP) 15 (Galloway et aI., 2000) são ex-
pressos em oócitos a partir de folículos pri-
mários e são essenciais para continuar o de-
senvolvimento a partir de folículo secundá-
rio. Assim sendo, esses estudos demonstram
que o desenvolvimento folicular inicial é em
decorrência de uma seqüência de diferentes
fatores de crescimento específicos para cada
estádio da foliculogênese. Os sinais iniciais
do reinício do desenvolvimento folicular são
a síntese de RNA e proliferação das células
da granulosa, seguidas de aumento de tama-
nho do oócito. Subseqüentemente, as células
da teca evolvem as células vizinhas do estro-
ma ovarIano.
Na ovelha adulta, a qualquer momento,
existem até 400 folículos pré-antrais ativados.
Eles variam em diâmetro de 0,03 mm a
O,1 mm e podem conter até 5 mil células da
granulosa no maior diâmetro (Cahill & Mau-
leon, 1980; Cahill, 1981). Nessa espécie, os
folículos responsivos a gonadotrofinas vari-
am entre O,1a 2,5 mm e são conhecidos como
26
folículos pré-antrais tardios ou pequenos fo-
lículos antrais. Eles possuem receptores para
FSH nas células da granulosa e receptores de
LH nas células da teca, entretanto, o suporte
de gonadotrofinas não é essencial para o seu
desenvolvimento (Cahill, 1981; McNatty et
aI.,1990). As células da granulosa originadas
de folículos com diâmetro maior que 0,1 mm
podem gerar resposta de segundo mensagei-
ro (AMP cíclico) quando estimuladas por
FSH in vitro (McNatty et al., 1992).
A medida que os folículos crescem, au-
menta a resposta a gonadotrofinas, e eles pas-
sam a secretar progesterona e andrógenos
quando cultivados in vitro (McNatty et aI.,
1986). Entretanto, eles não secretam volumes
detectáveis de estradiol in vitro até que atinjam
diâmetro maior que 0,3 mm (McNatty et aI.,
1992; McNatty et al., 1986). Embora folículos
por volta do estádio de formação do antro te-
nham o potencial de sintetizar todos os princi-
pais hormônios esteróides ovarianos, eles o
fazem em quantidades bastante pequenas, e,
portanto, o desenvolvimento folicular precoce
provavelmente ocorre independente de este-
róides endógenos (Eckery et aI., 1996).
A formação de fluído que preenche a ca-
vidade antral ocorre em folículos com diâme-
tro ao redor 0,2-0,4 mm (Turnbull et aI.,
1977, Cahill, 1981). Logo após a formação
do antro, os folículos entram em rápido pe-
ríodo de crescimento, marcado por alta proli-
feração celular (granulosa e teca), em conse-
qüência dos elevados índices mitóticos obser-
vados em folículos entre 0,7 e 1,5 mm, decli-
nando quando esses atingem diâmetro maior
que 2,2 mm. Tem sido estimado que na ove-
lha um folículo leva aproximadamente 5 dias
para crescer de 0,5 a 2,2 mm em diâmetro
(Turnbull et aI., 1977).
Na ovelha adulta, o tempo para que um
folículo evolua até o estádio antral foi estima-
do em 130 dias (estimativa por histologia;
Cahill, 1981). Essa estimativa foi recente-
mente confirmada in vivo em ovelhas que re-
ceberam implante autógeno de ovário (Gos-
den et aI., 1994). Após a formação do antro,
a velocidade do crescimento folicular aumen-
ta, tendo sido estimado que são necessários
entre 34-43 dias para um folículoalcançar o
tamanho de 5 mm em diâmetro (Cahil, 1981;
Turnbull et aI., 1977). Atresia precoce é rara-
mente observada em folículos com diâmetro
menor que 1mm, enquanto que a maior inci-
dência de atresia ocorre quando os folículos
têm diâmetro entre 1,5 e 2,5 mm.
O requerimento de gonadotrofinas para
crescimento folicular acima de 2,5 mm em
diâmetro, tem sido demonstrado em várias
circunstâncias tais como: após hipofisectomia
(Dufour et aI., 1979), imunização ativa con-
tra GnRH (Hormônio Liberador de Gonado-
trofinas; McNeilly et aI., 1986) e infusão crô-
nica de agonistas de GnRH (McNeilly et al.,
1987). Das gonadotrofinas, somente o FSH
tem sido observado como capaz de estimular
desenvolvimento folicular, enquanto que a
presença de LH não é capaz de suportar de-
senvolvimento de folículos até o estádio pré-
ovulatório (Campbell et al., 1995).
A necessidade aguda de FSH nos folícu-
los dependentes de gonadotrofinas é a carac-
terística que distingue os folículos responsi-
vos a gonadotrofinas dos folículos ovulató-
rios. Essa dependência de FSH também tor-
na essa classe de folículos particularmente
susceptível à atresia (Scaramuzzi et al., 1993).
Durante esse estádio, os folículos sobreviven-
tes dobram seu tamanho em aproximada-
mente 4 dias. Esse crescimento rápido em
volume é devido quase que exclusivamente
à acumulação de fluido folicular, já que a taxa
de proliferação celular declina progressiva-
mente após o diâmetro de 3,5 mm (Cahill &
Mauléon, 1980; Turnbull et aI., 1977). Si-
multâneo ao declínio da proliferação celular,
as células da granulosa e da teca se diferen-
ciam, o que se reflete no aumento de respon-
sividade ao FSH medido pela produção de
cAMP pelas células da granulosa. O cAMP
aumenta 2-10vezes, enquanto o folículo pro-
gride de 2,5 para 6,0 mm em diâmetro (Hen-
derson et aI., 1987).
Os folículos estrogênicos também são de-
signados como dominantes pela sua habilida-
de de resistir à atresia e passar aos estádios
finais de maturação (Driancourt, 1994). Es-
ses folículos têm o potencial de se tornarem
ovulatórios quando expostos a um ambiente
endócrino adequado, especialmente na pre-
sença de um padrão pulsátil de LH com alta
freqüência. A principal característica dessa
classe de folículos é uma maior atividade das
proteases específicas para IGFBP-4 (proteí-
nas ligadoras de fator de crescimento seme-
lhante a insulina-4), do que nos subordina-
dos, liberando IGF o que, provavelmente,
potencialize ou permita a ação das gonado-
trofinas em estimular o crescimento e dife-
renciação folicular, resultando no estabeleci-
mento da dominância (Rivera & Fortune,
2001; Rivera et aI., 2001). Na fase final de
desenvolvimento folicular, após a dominân-
cia, é observada a expressão de receptores
de LH na camada de células da granulosa
(Webb & England, 1982; Evans & Fortune,
1997). O folículo dominante secreta mais
que 80% do estradiol e também é responsável
por 55% da inibina liberada na circulação
(Campbell et aI., 1991a). As mudanças da
arquitetura intracelular desses folículos tam-
bém refletem a alta capacidade de produção
de hormônios, já que eles apresentam três
vezes mais área de retículo endoplasmático
liso, aumento de cinco vezes na área do siste-
ma de Golgi e o dobro de membranas mito-
condriais, quando comparado com folículos
antrais pequenos (McNatty et aI., 1992).
O estro é um complexo de sinais fisiológi-
cos e comportamentais que ocorre logo antes
da ovulação. A duração do estro varia de 24-
48 horas na ovelha e de 12-24 horas na vaca.
27
Os sinais de estro são: a fêmea fica imóvel
quando montada, vulva edemaciada, mucosa
vaginal hiperêmica, descarga de muco vagi-
nal claro e elástico, inserção da cauda arre-
piada, inquietude, formação de grupo, lordo-
se e algumas vezes redução do consumo ali-
mentar e na produção de leite. Muitos desses
sinais também podem estar presentes no pró-
estro, por isso o sintoma da fêmea ficar imó-
vel quando montada é o mais característico
e confiável da ocorrência de estro. Esses si-
nais são induzidos pela elevada concentração
de estradiol na circulação, proveniente do fo-
lículo pré-ovulatório, que atua em centros ce-
rebrais (principalmente hipotalâmicos) e me-
dulares. A ação do estradiol é potencializada
pela pré-exposição à progesterona, fato esse,
que é lógico e não traz maiores conseqüên-
cias quando em um ciclo estral normal, mas
que tem implicações na indução de estro, no-
tadamente em períodos de anestro.
O pico de LH, que inicia síncrono com o
começo do estro, resulta em dois fenômenos
independentes: a luteinização das camadas
celulares da parede folicular (granulosa e te-
ca) e ruptura do folículo ovulatório (domi-
nante, maduro), culminando com ovulação
e posterior formação do corpo lúteo. O pro-
cesso de luteinização resulta em mudanças
estruturais e funcionais. Ocorre ruptura da
membrana basal, que no folículo separa a ca-
mada da teca da granulosa (avascular), e de-
termina mudanças bioquímicas fazendo que
uma estrutura que secreta predominante-
mente andrógenos (teca) e estrógenos (gra-
nulosa) passe a secretar progesterona.
A ovulação nos mamíferos é similar ao
processo inflamatório e ocorre durante os
primeiros estádios do processo de luteiniza-
ção que é iniciado pelo pico de gonadotrofi-
nas originário da hipófise. Embora o proces-
so de luteinização não necessite da ovulação,
o processo ovulatório é parte integrante dos
estádios iniciais da luteinização. Durante a
28
ovulação, os folículos pré-ovulatórios tor-
nam-se hiperêmicos dentro de poucas horas
do pico de gonadotrofinas. Essa hiperemia
é provavelmente mediada por agentes vasoa-
tivos tais como: histamina, quininas e produ-
tos metabólicos da lipogenase do ácido arac-
dônico. Neste período, também aumentam
os níveis de proteases e metaloproteinases
como ativador de plasminogênio, calicreína
e colagenase. Também ocorre aumento de
permeabilidade dos capilares da teca que leva
a aumento do volume folicular, acompanha-
do de dissociação dos fibroblastos da teca.
Esse afrouxamento do tecido do ápice do fo-
lículo, aliado à ação das proteinases, espe-
cialmente a colagenase, leva à formação do
estigma ovulatório, que no momento da ovu-
lação tem aproximadamente 20% da espes-
sura da parede do folículo. À medida que o
processo ovulatório prossegue, as camadas
da granulosa e da teca se rompem e o oócito,
então, é liberado para ser captado pelo ovidu-
to através da pressão negativa gerada pelos
movimentos ciliares.
Após a luteinização, as estruturas que an-
tes formavam o folículo, sofrem grandes alte-
rações morfológicas, marcadas pela intensa
angiogênese, proliferação de células fibro-
blásticas e hipertrofia das células luteínicas.
As células esteroidogênicas, entretanto, não
proliferam após a ovulação, portanto a quali-
dade da função lútea depende do estado do
folículo que a originou. As células da granu-
losa dão origem às células luteais grandes,
e, as da teca, às células luteais pequenas. Ca-
da linhagem mantém antígenos de membra-
na específicos, que indicam a sua origem, e
tendem a desaparecer com o decorrer da ges-
tação. As células grandes têm formato arre-
dondado ou poliédrico e, além de possuírem
características esteroidogênicas, também
possuem grânulos secretários próximos à
membrana, que são constituídos de relaxina
entre outros hormônios. As células pequenas
são menores que 20 ~m, têm formato irre-
gular e numerosas gotículas de lipídios no ci-
toplasma, mas não apresentam grânulos se-
cretórios. Ambas as células constituem apro-
ximadamente 50% do volume do corpo lú-
teo, sendo o restante formado por vasos e
células fibroblásticas.
O corpo lúteo começa a se organizar em
seguida da ovulação, mas nos ruminantes o
corpo lúteo só começa a funcionar após 1
ou 2 dias, com função plena após 5 dias. As
variações das concentrações de progesterona
durante a fase luteínica refletem os sucessivos
estádios de crescimento, manutenção e re-
gressão do corpo lúteo. A funcionalidade do
corpo lúteo dos ruminantes (medido pela se-
creção de progesterona)é regulada por LH
proveniente da hipófise anterior. Após a liga-
ção de LH ao seu receptor, esse induz a ati-
vação da adenil ciclase e subseqüente aumen-
to dos níveis de cAMPoA presença de cAMP
estimula a esteroidogênese em poucos mi-
nutos, facilitando o transporte de colesterol
para dentro da célula e do meio intracelular
para dentro da mitocôndria, resultando em
aceleração da conversão de colesterol em
pregnenolona pela ação da enzima clivado-
ra de cadeia lateral, localizada na membra-
na interna da mitocôndria. A ação do LH (via
cAMP) é de aumentar a concentração das
enzimas esteroidogênicas.
A regressão do corpo lúteo nos ruminantes
não pode ser atribuída à queda nos estímulos
luteotróficos (especialmente LH), mas sim da
presença de um fator luteolítico, a prostaglan-
dinaFp (PGFp.). A PGF2<1é produzida pelo
endométrio durante todo o ciclo estral, mas
sua concentração máxima é atingida no mo-
mento da luteólise de cada espécie. Durante
esse período, a secreção de PGF2<1é pulsátil
na razão de 3 a 4 pulsos por dia e está estabe-
lecido que são necessários cerca de 5 pulsos
para que ocorra luteólise completa. A PGFp
é extremamente sensível à oxidação que acon-
tece durante sua passagem pelos pulmões.
Dessa forma, a prostaglandina ativa chega aos
ovários pelo mecanismo de contra corrente
que opera transferindo a prostaglandina da
veia uterovariana para a artéria ovariana, evi-
tando que o hormônio seja inativado. Embora
os mecanismos de luteólise e da atuação da
PGF2<1na regressão do CL não estejam total-
mente elucidados, há evidências de que a in-
volução estrutural do corpo lúteo é mediada
por apoptose (Juengel et aI., 1993; Rueda
et aI., 1995; Rueda et al., 1997; McCormack
et al., 1998; Gaytan et aI., 1998). Recente-
mente, foi demonstrado que a caspase-3
(considerado executor primário de apoptose)
não está envolvida na inibição da síntese de
esteróide durante a luteólise, mas é essencial
para que ocorra a regressão normal do corpo
lúteo (Carambula et al., 2001). Aluteólise po-
de ser induzida com uma aplicação única de
análogos da PGF 2<1somente a partir do quinto
dia do ciclo. A hipótese para a PGF2<1não
atuar logo após a ovulação era de que há uma
deficiência em número ou afinidade de recep-
tores à prostaglandina. No entanto, foi de-
monstrado que receptores com alta afinidade
pela PGF 2<1estão presentes em corpos lúteos
dois dias após a ovulação (Wiltbank et al.,
1995) e que, múltiplas aplicações de PGF2<1,
durante as fases iniciais da formação do corpo
lúteo causa luteólise em alguns animais (para
revisão, Mapletoft et al., 2000). A luteólise po-
de ser bloqueada naturalmente pela ação de
uma proteína produzida pelo concepto cha-
mada trofoblastina (também chamada de oTP
ou mais recentemente interferon 't) que é pro-
duzida durante o período próximo à implan-
tação do embrião nos dias 15 a 25 após a
ovulação e fecundação.
A hipófise anterior secreta duas gonado-
trofmas, FSH e LH. Ambas são glicoproteí-
nas heterodiméricas compostas de uma sub-
unidade alfa comum e uma sub-unidade beta
que é hormônio específica (Gray, 1988). A
29
síntese e secreção desses hormônios está sob
controle primário do GnRH, o qual é regula-
do por sistemas aminérgicos e de neuromo-
dulação (Clarke, 1996). Adicionalmente, a
secreção de gonadotrofinas pode ser modu-
lada pela ação direta de peptídios e esteróides
gonadais na hipófise, que atuam regulando
a expressão de receptores para GnRH ou a
transcrição e tradução dos genes das gona-
dotrofinas (Haisenleder et aI., 1994; Brooks
& Mcneilly, 1996). Emboraambas as gona-
dotrofinas sejam produzidas no mesmo tipo
celular (gonadotrofo), elas são secretadas de
maneira distinta. O LH é secretado de forma
pulsátil em resposta a aumentos de ions de
cálcio intracelular (Ca2+), que são gerados
pela ligação do GnRH ao seu receptor espe-
cífico no gonadotrofo. O FSH é secretado
de maneira constitutiva, ou seja, a maior par-
te do hormônio é liberado na mesma veloci-
dade em que é produzido, embora uma pe-
quena parcela possa ser armazenada para ser
liberada em resposta ao GnRH (Farnworth,
1995). Menos de 10% do conteúdo de LH
da hipófise é liberado num período de 24 ho-
ras comparado com 60-80% de liberação do
conteúdo de FSH no mesmo período (Mc-
Neilly, 1988).
As gonadotrofinas agem nas suas células
alvo através de receptores hormônio específi-
co na superfície celular. Esses receptores são
caracterizados por uma porção extracelular
com uma região terminal-N que é responsá-
vel pela ligação com o hormônio de sete do-
mínios transmembrana que ancoram o re-
ceptor na superfície da membrana e uma
porção intracelular que esta acoplada à pro-
teína-G para ativar a sinalização intracelular
(segundos mensageiros). A região intracelu-
lar terminal-C não é necessária para ligação
do hormônio ao receptor, mas está envolvida
na reciclagem do receptor (Catt, 1996a). A
ligação da gonadotrofina ao seu receptor ati-
va as proteína-G associadas, promovendo a
30
conversão de GDP em GTp, o qual se liga à
subunidade alfa da proteína-G, estimulan-
do a adenil ciclase a gerar AMP cíclico
(cAMP). O AMP cíclico por sua vez aciona
uma cascata de fosforilação nas quinases de-
pendentes de cAMP (PK-A). Dessa forma,
a ativação da PK-A controla múltiplos aspec-
tos da função celular através da fosforilação
de substratos protéicos. Uma vez que a inte-
ração receptor-ligando tenha se estabelecido,
o complexo é internalizado por endocitose e
degradado pelos lisossomas. Então o recep-
tor é reciclado de volta à membrana celular
por exocitose (Catt, 1996b).
A secreção de FSH, embora controlada
por GnRH, parece ser contínua e não aguda-
mente responsiva aos pulsos de GnRH, re-
sultando num padrão não pulsátil de secre-
ção quando medido na circulação periférica
(Figura 3.1). A secreção tônica de FS H está
sob controle de feedback negativo de dois
hormônios gonadais, estradiol e inibina (Mar-
tin et al., 1988) que diminuem a transcrição
de mRNA na glândula pituitária (Bister & Pa-
quay, 1983; Miller & Miller, 1996). A secre-
ção de FSH exibe variações cíclicas durante
o ciclo estral (Campbell et al., 1991b; Ginther
et al., 1995) que estão relacionadas com o
desenvolvimento e involução de folículos do-
minantes (Souza et aI., 1998).
A secreção de LH é imediatamente regu-
lada pela liberação pulsátil do GnRH hipota-
lâmico na circulação porta, que resulta num
pulso de LH correspondente liberado pela hi-
pófise anterior (Clarke & Cummins, 1982).
A regulação da secreção de LH pelo feedback
ovariano é devida à ação dos esteróides pro-
gesterona e estradiol (Martin et aI., 1988).
A importância de cada hormônio no controle
do LH varia de acordo com a fase do ciclo
estral e época do ano (estacionalidade, na
ovelha; Goodman, 1994). Brevemente, du-
rante o anestro estacional da ovelha, somente
a presença de estradiol é capaz de reduzir a
Arte gráfica de G.B. Martin
o horas 6
LHll.l
~ Gônadas
Figura 3 1. Localização dos neurônios de GnRH e padrão secretório de GnRH e das gonadotrofinas POA, área pré-
ótica; AHA, área hipotalômica anterior; MBH, corpo mamilar hipotalômico.
freqüência dos pulsos de LH (GnRH) devido
a interação com baixas concentrações de me-
latonina presentes. Em fêmeas ciclando, du-
rante a fase folicular, na ausência de proges-
terona, o estradiol aumenta a freqüência dos
pulsos de LH e diminui sua amplitude, de-
sencadeando o pico de LH. Na fase luteínica
precoce, a progesterona age sinergisticamen-
te com estradiol no controle da freqüência
dos pulsos de LH, enquanto que, posterior-
mente, na fase luteínica média/tardia a pro-
gesterona sozinha é capaz de regular a fre-
qüência dos pulsos de LH.
A secreção de GnRH é regulada pelos es-
teróides gonadais, progesterona e estradiol,
que alteram as características dessa secreção
no ciclo estral e nas diferentes condições es-
tacionais. Entretanto, esses esteróides não
podem exercer sua ação diretamente nos
neurônios de GnRH. Essa ação deveser me-
diada por outros sistemas neurais esteróide-
sensitivos como por exemploo que envolve
o ácido gama amino butírico (GABA).Os
neurônios GABAcontêm receptores para os
esteróides e fazem sinapses com os neurô-
nios de GnRH. Tem sido demonstrado que
as concentrações de GABAestão diminuídas
quando a secreção de GnRH está sendo esti-
mulada por estradiol durante o período pré-
pico (fase folicular) e as concentrações de
31
GABA estão aumentadas quando a progeste-
rona está deprimindo a secreção de GnRH.
Esse neurotransmissor também pode ser im-
portante nas ações de feedback negativo de
estradiol. Durante a estação de anestro das
ovelhas, quando o estradiol é um potente ini-
bidor da secreção de GnRH, antagonistas es-
pecíficos para o receptor de GABA podem
estimular a liberação de neurormônio, ação
essa que não é observada durante a estação
reprodutiva, quando os estrógenos são mui-
to menos potentes (Robinson, 1995).
A ovelha é um animal poliéstrico estacio-
nai caracterizado por períodos de atividade
sexual durante os dias curtos (outono e in-
verno) com ciclos regulares. Durante os dias
longos (primavera-verão), a atividade sexual
diminui com os animais apresentando desde
completo anestro até irregularidade dos ci-
clos. A vaca, por sua vez, não é tão influencia-
da pelo fotoperíodo, apresentando ciclos du-
rante todo o ano. De qualquer maneira, em
ambas as espécies, o crescimento folicular
ocorre em intervalos regulares durante todo
o ano. O ciclo estral (Figura 3.2) na ovelha
n
cio
i~t;ITprogesterona
O estradiol
I
tUlação
,
.~ ~
: ~ ~
:~:~'
:~:~
,.<~
dura 17 dias enquanto que na vacaa duração
é de 21 dias, com o dia Osendo designado
como o dia do início do estro e a ovulação
como ocorrendo no dia 1. O cicloé dividido
na fase luteínica que vai da ovulação até a
luteólise por volta do dia 14 na ovelha e do
dia 17 na vaca, e na fase folicular que com-
preende o período que vai da luteólise até a
ovulação (Baird & Mcneilly, 1981).
A fase luteínica é caracterizada por um
ovário contendo um corpo lúteo (CL), que
resultou do rompimento do folículoovulató-
rio. A medida que a fase lútea progride, o
CL produz um volume crescente de proges-
terona até que chegue a um platô que inicia
por volta do dia 6 e se mantém até a luteólise
(Pant et al., 1977). A secreção de LH no iní-
cio da fase lútea consiste em pulsos com alta
freqüência e baixa amplitude (aproximada-
menteum pulso/hora; Campbellet al., 1990a)
que vão aumentando de amplitude à medi-
da que a freqüência diminui para um pulso
a cada 2-4 horas sob a influênciado aumento
das concentrações plasmáticas de proges-
terona produzida pelo Clo A freqüência dos
Figura 3.2. Esquema da variação das concentrações hormonais durante o ciclo estral.
32
pulsosde LH durante a fase de platô da pro-
gesterona consiste em pulsos de baixa fre-
qüência (1 cada 4-6 horas) e alta amplitu-
de (Baird et ai., 1976). A secreção de FSH
não é afetada pela progesterona (Martin et
ai., 1988; Mann et ai., 1992) mas é regulada
peloestradiol e inibina produzidos pelos fo-
lículosque maturam (dominantes) durante
essafase do ciclo (Adamset ai., 1998; Sou-
za et ai., 1998).
Apóso pico de LH todos os folículosan-
trais grandes que não ovularam se tornam
atrésicos (Turnbullet al., 1977) e em conse-
qüência,a secreçf\ode hormônios ovarianos
esteróides e protéicos está nas mais baixas
concentrações observadas durante o ciclo
(Bairdetal., 1981;Souzaet al., 1998).No dia
0.00
o
O
<li
Q
....
I:
~
..
~
o 3 6 9
Dias do Ciclo
12 15 18 21
1, as baixas concentrações de estradiol e ini-
bina estão associadas com um rápido aumento
nas concentrações de FSH (segundo pico de
FSH) que é seguido por um aumento nas
concentrações de estradiol e inibina que por
sua vez inibine a secreção de FSH (Baird et
ai., 1991). Esse padrão de aumento nas con-
centrações de FSH, seleção do folículo domi-
nante, atividade do folículo dominante (secre-
ção de estradiol e inibina), inibição da secre-
ção de FSH, regressão do folículo dominan-
te (baixa de estradiol e inibina) e conseqüen-
te aumento dos níveis de FSH, ocorre várias
vezes durante a fase luteínica no fenômeno
conhecido como ondas de crescimento folicu-
lar. O ciclo estral de uma vaca com duas ondas
foliculares está representado na figura 3.3.
.~
8 Folículo resgatado 8Folículo em atresia . Folículo dominante.
8 Folículo ovulatório e Luteinização. Corpo Lúteo em atividade
. Folículo dominante em atresia
Q Desenvolvimento do Corpo Lúteo
.)Luteólise
Figuro 3.3. Eventos em um ciclo estral com duas ondas foliculares em uma fêmea bovino.
33
A presença de altas concentrações de pro-
gesterona durante a fase luteínica mantém a
freqüência da secreção de LH baixa, reduzin-
do a secreção de androstenediona pela teca
e, consequentemente, a de estradiol pela gra-
nulosa dos folículos dominantes. Como re-
sultado, os folículos dominantes presentes
durante esta fase não ovulam devido à con-
centração de estradiol insuficiente para indu-
zir o pico de LH. Entretanto, os folículos do-
minantes presentes no ovário, neste período,
têm capacidade de ovular se suplementação
artificial de LH for administrada (aplicação
de hCG ou GnRH).
A queda dos níveis de progesterona plas-
mática após a luteólise deixa o estradiol so-
zinho incapacitado de inibir a freqüência dos
pulsos de LH (Goodman et al., 1981). Dentro
de 24 horas do declínio da concentração peri-
férica de progesterona, o intervalo entre pulsos
de LH fica em torno de um por hora (Baird,
1978; Baird et al., 1981). Esse aumento na
freqüência de pulsos, pela secreção de GnRH,
é acompanhado por uma redução na ampli-
tude dos pulsos que é mediada pela ação do
estradiol modulando a resposta da hipófise
ao GnRH (Baird et aI., 1981; Thiery & Mar-
tin, 1991). A despeito da baixa amplitude dos
pulsos de LH, o ovário (folículos) responde
a cada um desses pulsos com um pulso de
androstenediona e estradiol (Baird, 1978;
Campbell et al., 1990b). À medida que a fre-
qüência dos pulsos aumenta, há um aumento
das concentrações médias de LH e um cor-
respondente aumento na secreção de esterói-
des ovarianos (Baird et aI., 197Gb; Campbell
et al., 1990). O aumento de estradiol durante
a fase folicular resulta na queda das concen-
trações de FSH (Campbell et aI., 1990), pre-
venindo o crescimento e maturação de folí-
culos adicionais. Eventualmente, a secreção
de estradiol aumenta a um nível suficiente
para induzir o comportamento de estro (Sca-
ramuzzi, 1975; Fabre-Nys & Martin, 1991)
34
e desencadear o pico de LH. O pico de LH
é caracterizado por um rápido aumento dos
níveis basais para uma concentração de 20-
100 ng/rnl dentro de 4-8 horas, com as con-
centrações retomando aos níveis basais 10
horas depois, resultando num pico com apro-
ximadamente 10-18 horas de duração (Thiery
& Martin, 1991; Land et aI., 1973). Na ove-
lha, o pico de LH ocorre dentro de 4-8 horas
do início do estro e a ovulação aproximada-
mente 24 horas após o início do pico de LH
ou em torno de 32 horas após o inicio do es-
tro (Souza et aI., 1994).
O anestro estacional da ovelha é resultado
de uma mudança no mecanismo de feedback
por estradiol, mediado pelo fotoperíodo, de
uma maneira que somente o estradiol é capaz
de suprimir a secreção de LH. As mudanças de
fotoperíodo (horas de luz/horas de escuridão)
são percebidas pela retina, traduzidas em si-
nais nervosos e transmitidas a glândula pineal.
A pineal responde com a secreção de melato-
nina que inicia imediatamente após o início
do período de escuridão e se mantém até o
começo do período de luz, criando um ritmo
circadiano de secreção hormonal (Karsch et
aI., 1984). Durante os dias curtos (alta mela-
tonina), o estradiol controla a amplitude dos
pulsos de LH, mas tem pouco efeito na fre-
qüência dos pulsos. Num ambiente de baixa
melatonina (dias longos), o estradiol é um
potente supressor da freqüência de pulsos de
LH, uma ação exercida diretamente no hipo-
tálamo. Tomadas de amostras de sangue por-
ta-hipofisiário demonstraram que durante a
estação reprodutiva, o estradiol não tem efei-
to na freqüência dos pulsos de GnRH, situa-
ção estaque se inverte durante o anestro cau-
sando uma profunda supressão nos pulsos
de GnRH (Karsch et al., 1993).
A regulação da secreção de FSH não é
influenciada pelo anestro, sendo controlada
pelos níveis de estradiol e inibina (Bister &
Paquay, 1983). Na maioria das raças de ovi-
nos, as concentrações de FSH são suficientes
para promover desenvolvimento folicular de
folículos dominantes (Smeaton & Robert-
son, 1971; Cahill & Mauléon, 1980; Webb
& Gould, 1985; Souza et aI., 1996). Esses fo-
lículos podem ser induzidos a ovular em res-
posta a injeções repetidas (pulsátil) de GnRH
(McLeod et al., 1982) ou LH (McNeillyet al.,
1982; McNatty et al., 1984) ou ainda por uma
injeção de hCG (Webb et aI., 1992). Raças
com estacionalidade menos marcada como a
Merina e suas cruzas podem ser induzidas a
ovular por aumento endógeno da freqüência
de pulsos de LH, desencadeada pela exposi-
ção a carneiros (Signoret, 1990).
Definição ou Conceito da Biotécnica
A sincronização de estros em ovinos e bo-
vinos é uma biotécnica reprodutiva que permi -
te a concentração da inseminação e da pari-
ção em épocas desejáveis dentro dos sistemas
de produção (Evans & Maxwell, 1987). Em
termos práticos, é importante diferenciar sin-
cronização de indução de estros. A sincroni-
zação consiste em encurtar ou prolongar o ci-
clo estral através da utilização de hormônios
ou associações hormonais que induzam a lu-
teólise ou prolonguem a vida do corpo lúteo,
de maneira que um grupo de vacas entre em
estro e/ou ovule durante um curto período de
tempo ou, até mesmo, num único dia. Ao con-
trário, a indução de estros consiste em induzir
o estro em vacas que estejam em anestro, atra-
vés da utilização de hormônios ou práticas de
manejo. Assim sendo, a sincronização e a in-
dução de estros são processos distintos e apli-
cáveis a diferentes categorias de animais.
Métodos de Sincronização
de Estros em Ovinos
A sincronização de estros em ovinos é im-
portante e até indispensável quando são em-
pregados sistemas intensivos de reprodução,
tais como, parições em blocos, ou três partos
a cada dois anos. Antes de descrever as prin-
cipais metodologias disponíveis, deve ser
considerada a estacionalidade reprodutiva
dos ovinos, uma vez que, dependendo da épo-
ca do ano, será peculiar a técnica a ser em-
pregada. Nas condições de criação do Rio
Grande do Sul, a incidência mensal de estro
na presença de machos vasectomizados foi
descrita para as raças Corriedale, Merino e
Romney Marsh (Mies Filho & Ramos, 1960).
A estação reprodutiva preferencial das ove-
lhas na região está definida entre os meses
de fevereiro a julho (Figura 3.4), sendo um
aspecto importante a ser averiguado em ou-
tras regiões do País. Basicamente, existem
dois conjuntos de métodos de manipulação
do ciclo estral em ovinos, um natural, que
emprega o chamado efeito macho, e outro
que inclui métodos artificiais, que empregam
progestágenos e as prostaglandinas.
EFeito Macho
Durante a estação reprodutiva ou próxi-
mo ao seu início, em uma determinada raça
é possível empregar apenas o método natural
que é o chamado efeito macho ou efeito car-
neiro (para revisão, Martin et aI., 1986). As
ovelhas apresentam um padrão semelhante
de incidência de estros se estão sempre em
contato com os carneiros ou se mantidas iso-
ladas desses. Após a separação de ovelhas em
anestro por cerca de 15 dias, quando os ma-
chos são novamente introduzidos no reba-
nho, as fêmeas ovulam em um período de
24 a 60 horas. Esse procedimento é de mui-
ta utilidade quando se deseja antecipar a
manifestação de estro de um rebanho em
torno de um mês antes do início efetivo da
estação reprodutiva, já que em momentos
de anestro mais profundos (p. ex. meses de
setembro e outubro no Rio Grande do Sul)
o percentual de ovelhas que respondem com
manifestação de estro é baixo. Na figura 3.5
são apresentados resultados clássicos, indi-
35
100
80
60
. Corriedale
OMerino
'#
I
~ Romney ,
IJ Média ~
o
40
20
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses do Ano
Figura3.4. Incidênciamensalde cios em ovelhasno RioGrande do Sul.
12
10
.2
u 8
E
C1)
~
:5
!;! 6
O
~
. comrufião
a sem rufião
10 11 12 13
Dias de Inseminação
Figura3.5. Incidênciadiária de cios em ovelhas Ideal submetidasou não a exposição de rufiões30 dias antesdo
início da inseminaçãoartificial.
36
cando a utilidade da introdução de machos
vasectomizados quinze dias antes do início
efetivo das cobrições.
O mecanismo é desencadeado pela ação
dos chamados feromônios que através do ol-
fato atingem o tálamo, hipotálamo e determi-
nam a liberação de LH pela hipófise anterior
e por estímulos visuais relacionados à pre-
sença física dos machos. A modificação nos
níveis de LH se traduz pelo incremento no
número de pulsos e nos níveis de LH de ma-
nutenção. Pelo menos, duas possibilidades
podem ser constatadas na atuação do meca-
nismo do efeito IVacho. A primeira diz res-
peito à indução do pico de LH e formação
de um corpo lúteo com atividade normal e
manifestação de estro cerca de 19 a 21 dias
após a exposição aos carneiros; a segunda,
mais freqüente, após o pico de LH, há indu-
ção de um corpo lúteo hipofuncional (de vi-
da curta) que determina novo pico de LH
em sete dias, resultando na manifestação de
estro 27 dias após a exposição aos machos.
Os ciclos curtos podem ser evitados pela as-
sociação de um progestágeno previamente
à exposição aos machos, dessa forma, pode
ser obtido o pico de LH no terceiro dia e ma-
nifestação seqüencial de estro com possi-
bilidade de retorno dentro de 21 dias (Mies
Filho, 1975).
r
Alternativas Hormonaispara Sincronização
de Estrosna EstaçãoReprodutiva
~ Progestágenos
O desenvolvimento da sincronização de
estros com análogos sintéticos da progestero-
na data dos anos 60 (Robinson, 1967), cons-
tituindo-se no exemplo do desenvolvimento
da tecnologia, denominada a "técnica das es-
ponjas". De uma maneira genérica, os pessá-
rios são confeccionados com esponja de alta
densidade (#33) com um cordão de 15 cen-
tímetros de comprimento atado em cruz de
forma a facilitar sua retirada. A dose conven-
cional de progestágeno é de 50 mg de acetato
de medroxi-progesterona (MAP) ou 40 mg
de acetato de fluorogestona (FGA). Diversos
ensaios têm demonstrado resultados seme-
lhantes em termos de sincronização de estros
entre os dois produtos, apenas tem sido des-
crita alguma vantagem quando a insemina-
ção é procedida em tempo pré-fixado, em-
pregando 30 mg de FGA, o que indica pro-
vavelmente uma maior sincronia das ovula-
ções decorrentes do uso desse progestágeno
(Cognié, 1993).
O procedimento para a sincronização
com as esponjas é simples, há que ser planifi-
cado o momento das inseminações e proce-
der a colocação das esponjas com antecedên-
cia de 11 a 14 dias. Na figura 3.6 está ilustra-
Período de repouso
1
15 255
~
r
Controle de cios e inseminações ou Controle de cios e re-inseminações
cobrições com 10% de carneiros
Figura 3.6. Representação esquemática da sincronização com progestágenos em ovinos durante a estação reprodutiva.
37
Inserçãodopessário Remoçãodopessário
r
Dia -11 O
do o procedimento do método de sincroniza-
ção de estros com a utilização de esponjas
impregnadas com progestágeno.
Na colocação dos pessários, os cuidados
que devem ser efetuados dizem respeito a hi-
giene do material (espéculo) e a aplicação
de antibióticos em pó, tais como a penicilina
e a estreptomicina para reduzir o crescimento
da fauna saprófita vaginal, que resulta num
odor bastante forte e produção de muco tur-
vo abundante. Esse procedimento contribui
para que o criador não fique preocupado e
imagine alguma relação entre o aspecto e
odor do muco com problemas de fertilidade
após inseminação. Cerca de 90% das ovelhas
que recebem o progestágeno manifestam
estro em até 4 dias após a retirada das espon-
jas e, no caso de não terem sido fecundadas
no primeiro serviço, apresentam novo estro
após 16-20 dias.
Essa técnica, aplicada na estação reprodu -
tiva, ou um pouco antes de seu início, apre-senta um excelente nívelde sincronização com
uma boa taxa média de fertilidade do primeiro
estro (60-65%), permitindo que 90% das ove-
lhas do rebanho fiquem gestantes em dois ser-
viços que podem ser efetuados num período
de 21 dias. Além disso, há que se considerar
a possibilidade de que o inseminador não pre-
cisa dedicação excIusiva ao serviço entre os
dias 5 e 15 após a retirada dos pessários, per-
mitindo uma apreciável redução nas despesas
com mão de obra e também redução no tem-
po de manejo com os animais, o que diminui
os riscos de surtos de enfermidades infeccio-
sas e facilitaa alocação dos animais nos potrei-
ros. Há necessidade de considerar que o uso
da sincronização de estros, na grande maioria
dos casos deve estar acoplado a IA. Em algu-
mas situações peculiares em que se deseje sin-
cronizar estros e usar como método de aca-
salamento a monta natural, é necessário em-
pregar 10% de carneiros, sem colocá-Ios no
rebanho nas primeiras 30 horas.
38
~ Prostaglandinas
Um fator limitante para o uso das prosta-
glandinas é que as ovelhas estejam cicIando
e apresentem um corpo lúteo funcional nos
seus ovários, ou seja, estejam entre os dias 5
a 14 do cicIo (Hoppe & Slyter, 1989), reite-
ra-se nesse contexto, que é uma tecnologia
que apenas pode ser empregada durante a
estação reprodutiva. Além disso, o uso das
prostaglandinas ou fica na dependência de
um minucioso controle do dia do estro ou
de duas aplicações seqüenciais. Um aspecto
que sempre deve ser considerado no uso de
sincronização de estros é o objetivo dos pro-
dutores e qual a duração prevista para sua
temporada de reprodução. Caso não haja in-
teresse em maiores concentrações nos par-
tos, essa metodologia não deve ser utilizada,
pois estará sendo de pouca utilidade, já que,
se o rebanho estiver cicIando, em 42 dias é
possível oferecer duas oportunidades de IA
para cada ovelha.
A efetividade do uso de uma dose 30%
inferior a recomendada para os ovinos já foi
demonstrada numa única aplicação no quin-
to dia do cicIo (Douglas & Ghinter, 1973).
A revelia da dose empregada, o que se des-
creverá a seguir é um sistema eficiente para
sincronização de estros com prostaglandina,
administrando uma única injeção de uma
terça parte da dose na submucosa vulvar,
buscando um sistema alternativo mais eco-
nômico. Em três experimentos seqüenciais
foi evidenciado que é possível a utilização de
uma terça parte da dose usual, num sistema
de nove dias com a aplicação no sexto dia de
serviço (Chagasetal., 1994). Na figura 3.7,
é apresentada a freqüência de ovelhas em es-
tro submetidas a injeção de cloprostenol em
diferentes dosagens no dia 6 após o início
do serviço de IA. Evidentemente que todas
as ovelhas detectadas em estro nos primeiros
seis dias de serviço são inseminadas normal-
mente, o que permite que com o sistema pro-
100
90
r~. 125~
[ j
[J 62,5 mg
~31,3mg
LJII~"'~"'" -
80
00 70~
tU
!:
's 60
1;1
.$ 50
00
(Ij
:5
~ 40
O
;f. 30
20
10
o
día 6 día 7 día 8 día 9
Dias de Serviço de IA
Figura3.7 - Freqüênciaacumulada de ovelhasinseminadasapós inieçõode PG no sextodia de serviço.
posto, sejam inseminadas cerca de 70% das
ovelhas concentradas em 9 dias, aspecto esse
que traz as vantagens acima mencionadas.
Alternativas Hormonais para Sincronização/
Indução de EstrosFora da Estação Reprodutiva
.,. Progestágenos e gonadotrofina sérica
eqüina
Conforme já salientado em tópico ante-
rior, durante o anestro estacional para a sin-
cronização/indução de estros é necessário
que o progestágeno seja acompanhado de
eCG (gonadotrofina coriônica eqüina), tam-
bém chamado de PMSG. Esse procedimento
(MAP+eCG) permite cobrições ou insemi-
nações no período de anestro, onde 80 e 90%
das ovelhas ovulam entre 48 e 80 h após a
retirada dos pessários, com concentração das
ovulações entre 60 e 64 h. O momento das
ovulações foi estudado nas condições de Rio
Grande do Sul, associado ou não ao efeito
macho, indicando uma antecipação no mo-
mento modal das ovulações, sendo em torno
de 65 horas na presença de rufiões e de 74
horas na ausênciadesses (Souzaet al., 1995).
As distribuições amplas desde 48 até 120
horas após a injeçãode eCG, para a ocorrên-
cia das ovulações,justificamos baixosíndices
de fertilidade quando se usa inseminações
com sêmen congelado (Figura 3.8).
Na figura 3.9, está ilustrado como deve
ser procedida a sincronização de estros com
MAP+eCG e como pode ser efetuado um
sistema de indução/sincronização de estros
fora da estação reprodutiva. Outros aspectos
que devemser salientadossão: a taxa de ovu-
lação que se apresenta aumentada, levando
a um percentual de partos gemelares na or-
dem de 20 a 60%; e, que na grande maioria
dos casos, quando o sistema é empregado
durante os períodos de anestro mais profun-
do, não se deve esperar que as ovelhas que
39
52 56 60 64 68 72
!'oras após a injeçãode eCG
76 80 80-120
Figura 3.8. Momento de ovulação em ovelhas Corriedale submetidas a tratamento com MAP+eCG na presença ou
não de rufiões
1
Remoção do pessário,
injeção de 500 VI eCG
r
Inserção do pessário
Dia -11 o 2-3
D
r
Controle de cios e inseminações a
partir das 48 horas com sêmen
fresco e das 60 horas com sêmen
congelado
Figura 3.9. Representação esquemótica da sincronização com progestógenos em ovinos fora da estação reprodutiva.
40
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
O
48
não tenham ficado gestantes no primeiro ser-
viço, retornem ao estro.
Comparação de Despesas
e Resultados Esperados
Com freqüência, o ovinocultor reavalia
seu sistema de trabalho e se questiona sobre
o método que vem empregando para o acasa-
lamento de suas ovelhas. Essa definição, apa-
rentemente simples, requer algumas refle-
xões e depende: do número de ovelhas no
rebanho e do(s) objetivo(s) do produtor. O
método a ser escolhido pode ter uma e/ ou a
combinação das seguintes características:
1. ser o mais sim~es;
2. ser o mais econômico;
3. ser o que permita maior aproveita-
mento de um dado reprodutor;
4. ser o mais rápido.
O método mais simples, evidentemente
consiste na utilização da monta natural, onde
os carneiros são adquiridos e utilizados na
reprodução durante dois ou três anos segui-
dos. Essa prática que envolve baixa utilização
das tecnologias disponíveis, normalmente
não incluindo uma avaliação prévia da fertili-
dade dos carneiros, nem um maior controle
dos acasalamentos que se processam por pe-
ríodos de 6 a 9 semanas com cerca de 3%
de carneiros. Esse método pode ser melhora-
do com a execução de exames andrológicos
nos carneiros, monta controlada e emprego
de coletes marcadores para controle do aca-
salamento, parição e descarte das ovelhas.
De um modo geral, a monta natural é bastan-
te eficaz e seu emprego, normalmente, não
inclui resultados negativos. No entanto, cabe
ressaltar que a monta natural, nem sempre
é o método mais econômico ou adequado ao
objetivo do produtor. A idéia é que sempre
antes de que seja tomada uma decisão sobre
qual método de reprodução deve ser adotado,
seja feita uma análise das vantagens e desvan-
tagens de cada um, concomitantemente com
os objetivos do produtor, almejando maxi-
mização da produção.
O intenso manejo dos rebanhos na inse-
minação artificial convencional durante seis
semanas, sob certas condições de clima, dis-
ponibilidade alimentar, infra-estrutura física
para manejo e deficiência de pessoal devida-
mente qualificado, pode determinar sérios
comprometimentos na eficácia dessa biotéc-
nica, levando a baixos índices de gestação,
em decorrência de surtos de enfermidades
infecciosas (por exemplo, manqueira e que-
ratite) ou em função da qualidade do serviço
executado. Em contraste, deve ser considera-
do que a utilização de qualquer sistema de sin-
cronização de estros determina aumentos nas
despesas com a reprodução em percentuais
de 10% a 120% (Souza & Moraes, 1998).
Na comparação específica das despesas
com as biotécnicas reprodutivas, que incluem
sincronização de estros e a convencional por
42 dias, as técnicas que utilizam os proges-
tágenos (MAP, esponjas vaginaisdurante 11-
14 dias) ou injeções de prostaglandina (PG,
dose reduzida via submucosa vulvar) mos-
tram-se como as alternativas mais rápidas
para as práticas reprodutivas e, em compara-
ção com a inseminação artificial convencio-
nal, podem reduzir os riscos com enfermida-
des e perda de peso dos animais pelo manejo
intensivo e apresentam uma interessante va-
riação nos custos, em função do número de
ovelhas a serem acasaladas.
O criador que já usa inseminação artificial
e tem um rebanho pequeno (em torno de 100
ovelhas), mantém os custos sincronizando
com pessários de progestágeno e, consegue
reduzir os custos em torno de 10%, empre-
gando dose reduzida de prostaglandina. Para
rebanhos com 250 e 500 fêmeas, as despesas
são maiores, considerando os insumos ne-
cessários para a sincronização. Particular-
mente, o uso de PG pode contribuir para a
efetivação de temporadas reprodutivas com
despesas reduzidas.
41
Métodos de Sincronização de
Estros em Bovinos
A eficiência dos sistemas de produção de
bovinos de corte é dependente da taxa de ter-
neiros nascidos e desmamados. A aplicação
dos resultados de um estudo sobre custos de
produção, indicou que o intervalo máximo
entre o parto e a concepção seja de 100 dias,
para que uma vaca tome-se economicamente
viável em uma propriedade, o que significa
uma taxa de fertilidade média de 90%. Para
que seja possível a obtenção desses índices,
é imprescindível que seja utilizada uma esta-
ção de monta não superior a 60 dias. Nesse
contexto, a sincronização de estros é impor-
tante, permitindo uma boa concentração dos
partos das novilhas nos momento mais ade-
quados do ano em função de um orçamento
forrageiro prévio. Em contraste com as ove-
lhas, as vacas podem apresentar estro em
qualquer época do ano; no entanto, os pro-
dutores normalmente concentram as tempo-
radas de reprodução em função das condi-
ções climáticas. No Rio Grande do Sul, co-
mo exemplo, essa concentração é nos me-
ses de final de primavera/verão e no outono
(Moraes, 1994).
Em bovinos de leite ou de corte confina-
dos, a identificação de estros é um dos gran-
des problemas do processo de inseminação
artificial. Nesses sistemas de criação, a sin-
cronização de estros, associada a processos
de inseminação com horário pré- fIXado, é
um importante instrumento para fecundar
vacas sem observação de estros e, com isso,
incrementar os índices de gestação, reduzir
o intervalo parto-concepção e diminuir o nú-
mero médio de doses de sêmen por vaca in-
seminada. Da mesma forma que em ovinos,
os dois grandes grupos de produtos para sin-
cronização de estros são: os progestágenos
e as prostaglandinas. Associações hormonais
são também utilizadas, sendo as mais comuns:
progestágeno com estrógeno; progestágeno,
42
estrógeno e prostaglandina; progestágeno,
estrógeno, prostaglandina e GnRH ou hCG;
prostaglandina e GnRH ou hCG.
Controledo Ciclo Estralcom Progesterona
e Progestágenos
A utilização de progestágenos na sincro-
nização de estros em bovinos data dos anos
50, inicialmentesendo administradas por um
período de 11 a 14 dias a semelhança dos
sistemasdesenvolvidospara os ovinos.Poste-
riormente, em decorrência de baixos índices
de fertilidade após sincronização, o período
de administração passou para 7-9 dias, com
incretpentonos índicesde gestação (Gordon,
1996). Os progestágenos na sincronização
de estros são utilizados para aumentar a vida
útil do corpo lúteo, permitindo que as vacas
apresentem regressão do corpo lúteo, e con-
seqüente estro, em um mesmo período.
Os métodos de administração até agora
empregados para promover a liberação len-
ta são:
1. injeção em óleo;
2. administração no alimento;
3. implantes subcutâneos;
4. esponjas intra-vaginais;
5. dispositivode espiralde plástico injeta-
do para uso intra-vaginal,PRID ("pro-
gesterone releasing internal device");
6. aparato de plástico injetado em forma
de Y para uso intra-vaginal, CIDR ("con-
trolled internal drug release device").
Os sistemas ilustrados na figura 3.10, que
incluem a administração no alimento do pro-
gestágeno MGA (acetato de melengestrol)
durante 14 dias, proporcionam 85% de es-
tros em novilhas na primeira semana após o
tratamento, sendo que cerca de 80% ficam
gestantes no primeiro mês. Essa prática pode
ser útil em sistemas intensivos onde os ani-
mais são racionados individualmente ou em
grupos pequenos e uniformes, viabilizando
consumo adequado do gestágeno. Em con-
seqüência das dificuldades de administração,
os progestágenos via oral foram substituídos
por aparatos intravaginais e implantes subcu-
tâneos. Os produtos comercializados e seus
sistemas de utilização estão sumarizados na
tabela 3.1 (Gordon, 1996). De um modo ge-
ral constata-se a manifestação de estro entre
2-3 dias após a remoção da progesterona/
progestágeno e fertilidade normal ao primei-
ro serviço.
Tabela3.1 - Sistemas para a sincronizaçãode estIos em bovinos empregando progestógenos.
-14 o 17 19 287. .8 9 10... 1211-
~
Iiliíií!.Select Synch
Select Synch +
..
~ "«1
Norgestomet
MGA+GnRH+PG
MGA+PG
P4+PG+GnRH
. 11
m~
m
Iill!fu
..
P4+BE
11 .
. GnRH 111 P4, progesterona
iJI PG 11 Benzoato de estradiol (BE)
~ Norgestomet O lnseminações com controle de cios
111 MGA . lnseminaçõescomtempofIXo
Figura 3.10. Sistemas mistos de sincronização de cios, incluindo indução de cios e controle da ovulação.
As associaçõeshormonais utilizadas na
sincronização de estros com progestágenos
(Figura 3.10) tem o objetivode induzir a lu-
teólise, sincronizar as ondas foliculares e/ ou
sincronizar a ovulação. O estrógeno pode
estimular ou inibir a liberação de gonado-
trofinas, dependendo da dose e das concen-
trações sanguíneas de progesterona. Em
doses fisiológicas e baixas concentrações de
progesterona, o estrógeno estimula a libera-
ção de LH para que ocorra a ovulação.Ao
contrário, elevadas doses de estrógenos, na
43
Método Princípioativo Luteolítico Duroção
PRID Progesterona 10 mgbenzoatodeesfTadiol(cópsulo) 9-12dias
Implantessubcutâneos Norgestomet 5 mgdevalerotodeesfTadiol(injetóvel) 9-1Odias
Esponjasvaginais Acetatademedroxi-progesterona 5 mgbenzoatadeesfTadiol(injetóvel) 7-9dias
CIDR Progesterona 10 mgdebenzoatodeesfTadial(cópsula) 9-12dias
presença de elevadas concentrações de pro-
gesterona, bloqueiam as gonadotrofinas, ini-
bindo, principalmente, a expressão do gene
que codifica para a subunidade beta do FSH,
através da redução da transcrição e da esta-
bilidade do mRNA (para revisão Roche,
1996) .Além disso, o estrógeno é fundamen-
tal para a expressão de receptores para oxito-
cina no endométrio, o que é fundamental no
processo de liberação de PGF p. para regres-
são do corpo lúteo. De posse desses conheci-
mentos fisiológicos, o estrógeno tem sido uti-
lizado tanto para sincronização das ondas fo-
liculares como luteolítico. A aplicação de es-
trógeno pode ser no dia da aplicação de pro-
gesterona quando a finalidade é apenas re-
gressão do corpo lúteo. No entanto, quando
se pretende regredir o folículo dominante e
reiniciar uma nova onda folicular, provocan-
do uma sincronização das ondas foliculares,
associada à luteólise, a aplicação do estróge-
no tem que ser em cápsula ou no dia poste-
rior à colocação do aparato vaginal impreg-
nado com progestágeno. A aplicação injetável
de progesterona é um outro procedimento que
tem sido realizado para atingir rapidamente
os níveis de progesterona, possibilitando a
aplicação de estrógeno no mesmo dia da co-
locação do dispositivo impregnado com pro-
gesterona, seja ele subcutâneo ou intravagi-
naI. Os melhores resultados de sincronização
de estros têm sido obtido com associações de
progesterona, estrógeno e prostaglandina.
Porém, são sistemas onerosos que, na maio-
ria dos sistemas de produção no Brasil, se
torna inviável. Nesses procedimentos, a pro-
gesterona é mantida por 7 dias, estradiol é
aplicado no momento ou no dia seguinte a
colocação da progesterona e PGFil é apli-
cada no dia anterior (dia 6) à retirada da pro-
gesterona. Com esse protocolo, ocorre sin-
cronização dasondas foliculares e as vacas
que não tiveram a regressão do corpo lúteo
por ação do estrógeno, terão pela PGF p, o
44
que resultaráem sincronizaçãodo estroe ovu-
lação. O estro ocorre em torno de 48 horas
após a retirada da progesterona.
Controle do Ciclo Estral com Prostaglandinas
Durante a década de 70, foi acumulado
um grande volume de informações sobre as
prostaglandinas e suas ações. As prostaglan-
dinas foram inicialmente detectadas no líqui-
do seminal de carneiros, possivelmente secre-
tadas pela próstata, daí a denominação de
prostaglandinas. As prostaglandinas são sin-
tetizadas em inúmeras células quando requi-
sitadas, não são armazenadas e têm meia vida
biológica muito curta. Os análogos sintéticos
(cIoprostenol, dinoprost, entre outros) &ãomais
potentes que as prostaglandinas naturais e
funcionam como agentes luteolíticos em va-
cas que estão cicIando normalmente, deter-
minando a queda dos níveis de progesterona,
desenvolvimento folicular e pico de LH den-
tro de três dias.
Existem inúmeras alternativas para uso
das prostaglandinas. Na tabela 3.2, são apre-
sentadas algumas possibilidades de uso das
PGs. É interessante salientar a importância
da aplicação da PG durante o diestro, daí as
distintas possibilidades. As metodologia des-
critas apresentam vantagens e desvantagens
e têm sido adaptadas e modificadas nos últi-
mos anos em função das necessidades de uso
em cada sistema. Um outro aspecto impor-
tante para ser enfocado é a facilidade e eco-
nomicidade de cada sistema, uma vez que
muitas vezes requerem experiência na avalia-
ção ginecológica para a detecção de uma va-
ca cicIando e! ou com CL nos ovários para a
tomada de decisão na injeção da PG.
É necessário realizar algumas considera-
ções gerais a respeito desses sistemas de sin-
cronização de estros com prostaglandinas
descritos na tabela 3.2. As PGs provocam a
regressão do corpo lúteo somente entre o 5°
e o 16° dia do ciclo, conforme discutido ante-
Tabela3.2. Resumodos vias de injeção e sistemas de administração das prostaglandinas.
Sistema
. Duasinjeçõescom intervalo de 11 dias.
- Injetartadosas vacase inseminor;re-injetaras que nõo responderamem 11 dios.
.Inseminornormalmentepor 5 a 7 dios e injetar os remonescentes,continuondoo inseminoçãopor mois 5 dios.
. Avaliaçãoginecológicae injetar os com corpo lúteo
-Injetar vacascom progesterono,no plosmo, superioro 1 nglml ou, no leite, superiora 5 ng/m!.
- Avalioçãopor ultr~om e injetar as com corpo lúteo.
Momenta da IA
Préfixadoopós 72 e 96 ou 80 horas
Após defecção de estro
Após defecção de estro
Após defecção de estro
Após defecção de estro
Após detecção de estro
Gordon,1996
riormente, ou seja, na presença de um corpo
lúteo funcional, causando manifestação de
estro e ovulação em um período entre 2 a 5
dias após sua admini~tração. O momento
exato entre a administração de PG e a mani-
festação de estro vai depender da população
de folículos no ovário. Por exemplo, vacas
que não apresentam um folículo dominante
entrarão em estro após aquelas com um folí-
culo dominante em fase final de desenvolvi-
mento. Por essa razão, os animais apresenta-
rão estro em diferentes momentos após a
aplicação de PG. Assim sendo, os resultados
de inseminação artificial com horário pré-fi-
xado, após sincronização com PG, são relati-
vamente baixos, não ultrapassando os 20 a
40% de gestação. Além disso, antes do co-
nhecimento das ondas foliculares, preconiza-
vam-se duas aplicações com intervalo de 11
dias. No entanto, considerando a emergên-
cia da onda folicular, melhor sincronia é
obtida com duas aplicações com intervalo de
14 dias (Folman et aI., 1990).
O primeiro procedimento para realizar
uma sincronização de estros é determinar se
os animais estão cicIando. A determinação da
presença de estruturas ovarianas para deter-
minar se um animal está cicIando é extrema-
mente falho. As ondas foliculares iniciam em
torno de 10 dias pós-parto, resultando na
possibilidade de folículos dominantes desen-
volvidos em vacas em anestro. Por outro lado,
o diagnóstico da presença de corpo lúteo por
palpação retal é muito pouco preciso, consi-
derando que uma percentagem significativa
se desenvolve no interior do ovário. A verifi-
cação da contratilidade uterina, associada à
estrutura ovariana, aumenta as chances de
uma determinação mais correta do ciclo. Va-
cas em fase estrogênica apresentam o útero
com contratilidade uterina acentuada, em fa-
se progesterônica, com contratilidade uterina
média e, em anestro, contratilidade uterina re-
laxada. No entanto, o método ideal para deter-
minar se os animais estão cicIando é controlar
o estro durante cinco dias antes de iniciar o
procedimento de sincronização de estros. Se
uma percentagem de, aproximadamente, 5%
dos animais apresentarem estro por dia, deter-
mina-se que o lote está cicIando. É importante
salientar que, em sistemas longos de sincro-
nização de estros, os animais podem parar de
cicIar. Considerando esse fato, o sistema de
10 dias (inseminando normalmente por 5 dias,
injetando PG nas remanescentes, no 5° dia, e
continuando a inseminação por mais 5 dias)
tem a vantagem de determinar se os animais
estão cicIando antes da aplicação de PG. Se
menos de 20 a 25% das vacas não apresen-
tarem estro nos cinco primeiros dias, signifi-
ca que as vacas não estão cicIando em sua
maioria e que o sistema de sincronização de
estros não deve ser realizado.
Como ilustração de um sistema, será des-
crito em maiores detalhes o desenvolvido por
Sufié et aI. (1985). O sistema inclui 10 dias
45
de inseminação, com injeção de PG nas que
não manifestaram estro até o quinto dia de
serviço e inseminação por mais cinco dias,
empregando um quinto da dose de PG (mi-
ni-dose de PG) na submucosa vulvar (Figura
3.11). A despeito de inúmeras discussões so-
bre a possibilidade da redução da dose ser
efetivamente decorrente da via de aplicação,
foi demonstrada e diversas vezes repetida no
Brasila utilidade desse sistema. O mesmo gru-
po de pesquisadores que desenvolveu esse
protocolo empregou esse sistema em mais
de 60.000 vacas em diversas propriedades,
obtendo uma amplitude de 70% a 95% de
vacas em estro e uma percentagem média de
75% de vacas em estro durante os 10 dias
de serviço.É importante ressaltarque a mini-
dose não é preconizada para outro sistema
que não o de 10 dias e, evidentemente,é um
processo para acasalamento de novilhas e
vacasvaziasde corte ciclando e não para ser
usado no preparo devacas doadoras e!ou re-
ceptoras em programas de transferência de
embriões.Essa conclusão é corroborada por
ensaios sobre o comportamento de vacas
com estro sincronizado,cujas evidênciassão
de que há modificação do momento previs-
to para a visualizaçãodos sinais de estro em
função do tamanho da população e número
devacasem estro (Medranoetal., 1996,Hom
et al., 2001).
Nesse sistema de 10 dias, as vacas são exa-
minadas no dia Ocom o objetivo de eliminar
vacas com problemas clínicos de reprodução
e, aquelas, eventualmente, já gestantes. Du-
rante esse exame, já é possível se ter uma opi-
nião geral sobre o estado de ciclicidade dos
animais. Em um conjunto, animais em baixas
condições nutricionais, ovários pequenos e
afuncionais, útero relaxado, indicam condi-
ções evidentes de anestro. No dia O, as vacas
que estiverem em estro no turno da manhã,
ou seja, aqueles animais que não temos co-
nhecimento do início do estro, não devem
ser inseminados e devem ingressar no pro-
grama. As vacas em estro pela parte da ma-
nhã devem ser inseminadas na parte da tarde
e, as vacas em estro à tarde, devem ser inse-
minadas no próximo dia pela manhã, assim,
sucessivamente. No dia 5 de manhã, um total
de aproximadamente 25% das vacas devem
ter sido inseminadas. Se uma percentagem
J
I Observação de cio e Inseminação Artificial
1
5Dia O
1
P o;necológico e início das Mini dose de
inseminações
25% dos animais devem ser
inseminados
10
Figura3.11. Sistemade 10 dias, com 1/5 da dose de PGF2<xna submucosavulvar(mini-dose),para inseminação
artificial (IA)de vacase novilhas de corte ciciando.
46
menor que 15-20% dos animais demonstrar
estro, o processo deve ser suspenso, pois isso
demonstra que uma grande parte dos ani-
mais não está cicIando. As vacas que não en-
trarem em estro no dia 5 devem receber uma
mini-dose de PG na submucosa vulvar. A PG
deve ser aplicada na submucosa vulvar com
agulhas 25/7 (para uso humano em aplica-
ção intramuscular) para que não ocorra re-
fluxo. No 8° dia, ocorre um pico de estro,
sendo observado em torno de 20% de estro,
do total das vacas submetidas ao programa.
Assim, se forem submetidas 300 vacas cicIan-
do, aproximadamente, 60 vacas estarão em
estro no 8° dia, distribuindo-se em torno de
30 vacas em cada turno: Esse é o número
máximo de vacas que um inseminador, com
um ajudante, pode inseminar sem que os ín-
dices sofram prejuízos. Se o número de vacas
for maior que 300, deve-se realizar uma apli-
cação de PGF2<xem 50% das vacas que não
entraram em estro até o 5° dia e, no 6° dia,
realizar a aplicação nas demais vacas que não
receberam a PG F2<Xe não demonstraram
estro. Nesse caso, o protocolo deve ser pror-
rogado até o 11° dia. Dessa maneira, não ha-
verá um acúmulo de vacas a serem insemina-
das em um mesmo dia. É importante manter
5 dias após a aplicação de prostaglandina,
ou seja, se for aplicado no 5°, 6° ou 7° dia, a
identificação de estro e inseminação artificial
deve estender-se até o tO°, 11° ou 12° dia,
respectivamente.
Uma outra possibilidade que pode ser
considerada é que o exame ginecológico seja
efetivado no quinto dia juntamente a injeção
da PG, essa alternativa pode ser útil, visando
reduzir uma visita à propriedade, aliada ao
fato, que o próprio produtor pode abortar o
início do serviço caso o número de vacas em
estro seja significativamente menor que o es-
perado teórico. Ou seja, menos de 15-20%
em comparação aos esperados 25% (Souza
& Moraes, 1998).
Comparação de Despesas e Resultados
Esperados
Os diversos sistemas disponíveis para a
sincronização, que têm sido desenvolvidos,
são úteis para solucionar problemas especí-
ficos de uma região e/ ou tipo de exploração.
Nem todos são aplicáveis de forma universal
e sempre que são feitas comparações com
bases hipotéticas, incorre-se em alta proba-
bilidade de erro, pois, cada sistema tem suas
vantagens e desvantagens, dependendo do
custo dos insumos a serem empregados na-
quele momento e disponibilidade de recursos
humanos e materiais. As comparações que
têm sido exercitadas em outras publicações,
efetivamente, objetivam reiterar a necessidade
de uma ampla avaliação antes da tomada de
decisão de qual biotécnica reprodutiva deve
ser mais recomendável ao produtor, naquele
momento, visando não frustrar suas expecta-
tivas, pois, essas biotécnicas, diretamente não
aumentam a fertilidade como ele imagina e
deseja (Souza & Moraes, 1998).
Controle do Ciclo Estral com Sincronização
da Ovulação
A sincronização da ovulação, com o obje-
tivo de inseminação artificial em horário pré-
fIXado, é uma ferramenta importante para
inúmeras situações de manejo, possibilitando
a inseminação dos animais em um único dia.
Um dos métodos mais utilizados com essa
finalidade é o Ovsynch (Figura 3 .tO). Esse
protocolo utiliza uma seqüência de GnRH,
PGF2<x e GnRH para IA em horário pré-fIXa-
do (Thatcher et aI., 1989; Pursley et aI.,
1995). O princípio desse protocolo consiste
em provocar a ovulação e formação de um
corpo lúteo ou luteinizaçãodo folículodomi-
nante, para posterior luteólise com a aplica-
ção de PGF2<x.A segunda aplicação de
GnRH tem a finalidade de desencadear o
processo ovulatório e, com isso, a ovulação
sincronizada. O GnRH deveser aplicadoem
47
uma dose de 50 f..lga 100 f..lg.Fricke et aI.
(1998) ao compararem essas duas doses, não
observaram redução significativa nos índices
de gestação, reduzindo consideravelmente o
custo do protocolo, com o emprego da me-
nor dose. A primeira aplicação de GnRH é
realizada aleatoriamente em relação ao dia
do ciclo estraI. Essa aplicação resulta em cor-
pos lúteos ou luteinização de, aproximada-
mente, 85% dos maiores folículos. Após sete
dias, é aplicada PGF /1. em todos os animais
do programa e, 36-48 horas após, é aplica-
da a segunda dose de 50 f..lga 100 f..lgde
GnRH. A inseminação artificial deve ser rea-
lizada 12 a 18 horas após a segunda aplica-
ção de GnRH (Figura 3.10). A percentagem
de gestação com esse método é em tomo de
30-45% de gestação, caracterizando a pro-
blemática da fertilidade da vaca Holandesa
de alta produção, relativos a detecção de es-
tro e fecundação pós-parto (Fricke et aI.,
1998, Lynch et aI., 1999). Diversos ensaios
utilizando progesterona e/ou progestágenos
associados a estradiol têm sido desenvolvi-
dos na última década, visando facilitar a
identificação de estro ou resolver o problema
do anestro anovulatório de vacas em lactação
(McMillan et aI., 1995; Xu et aI., 1995).
Recentemente, foi descrito um protocolo
para sincronização da ovulação com percenta-
gem de gestação, aproximadamente, de 60%,
utilizando progesterona, benzoato de estradiol
(BE) e PGF/1. para IA com horário pré-fixa-
do (Bridges et al., 1999). Nesse protocolo,
progesterona intravaginal é mantida por 7
dias, sendo aplicada uma injeção de 2 mg I.M.
de BE no momento da colocação do disposi-
tivo intravaginal. No momento da retirada da
progesterona, é aplicada PGF2cx,seguindo a
aplicação de 1mg de BE I.M. 30 horas após.
A IA deve ser realizada 28 a 30 horas após a
segunda aplicação de BE (Figura 3.10).
O custo hormonal de cada sistema pode
ser facilmente calculado e varia de acordo
48
com o produto comercial a ser utilizado no
mesmo ou entre protocolos. Fornecendo
subsídios para calcular o custo da sincroniza-
ção da ovulação para IA em horário pré- fixa-
do em relação ao sistema convencional de
sincronização de estros, é importante salien-
tar que a principal diferença entre os proces-
sos está no custo do sêmen, em função de
que o número de doses de sêmen por vaca
inseminada sempre é maior na IA com horá-
rio pré-fixado do que na IA com observação
de estro. Evidentemente, esse fato está em
decorrência da eficácia do protocolo e da ne-
cessidade de inseminar vacas que não ovu-
Iam na IA pré-fixada. Os protocolos de indu-
ção da d'vulação para IA com horário pré-
fIXado podem fornecer resultados similares
aos sistemas de sincronização de estros con-
vencionais, com vantagens de eliminar a
observação de estros e permitir que o próprio
Médico Veterinário realize a inseminação
artificial, além de várias vantagens intrínsecas
ao processo de inseminar todas as vacas em
horário pré-determinado. Na Figura 3.12, é
apresentado um desenho esquemático que
ilustra as duas possibilidades de sincroniza-
ção, com observação visual de estros durante
cinco dias e com inseminação à tempo fIXO,
em ambos os casos, é ilustrada apenas a pos-
sibilidade de reinseminação com observação
de estros, considerando vacas ciciando, o que
permite pelo meno menos duas oportunida-
des para cada vaca fecundar em períodos de
16 e 20 dias de serviço efetivo. Uma outra
possibilidade que pode ser considerada é o
emprego de um novo protocolo de indução
de ovulação, para vacas que não tenham sido
inseminadas.
Considerações Finais
A sincronização de estros e da ovulação
são instrumentos para facilitar e incremen-
tar a fertilidade nos sistemas de produção
animal. Esses protocolos não podem ser uti-
Sistema com observação de estros
-7 -I 4
I> :~
19 28
Sistema com inseminação a tempo f"1xo
Sincronização da ovulação
-7
t
4
',~
-I
~
Re-sincronização
se desejado
19
t
28
. Periodo de suplementação com o gestágeno
~ Inseminação 56h após a remoção dos pessários
~ Observação de estros e re-inseminações
D Observação visual de estros e inseminações
U Periodo de repouso
Figura 3.12. Protocolos de sincronização de estro com observação visual e à tempo fixo.
lizados indiscriminadamente, não sendo re-
comendados para todos os sistemas de pro-
dução bovina e ovina. Antes de optar por
empregar esses sistemas na IA,é necessário
realizaruma avaliação detalhada da relação
custo/benefício às condições da empresa
rural que iráabsorver essa tecnologia.Alguns
fatores importantes na sincronização de es-
tros podem ser destacados. Primeiramente,
os sistemas de sincronização de estros são
utilizados em vacas solteiras e novilhas, ten-
do em vista que os sistemas de indução de
estros é que são os apropriados para vacas
com cria ao pé. Com os protocolos hormo-
nais atualmente disponíveis, os resultados
esperados são de cerca de 70 a 80% de va-
cas inseminadas em um primeiro serviço. Se
não for realizado um repasse com IA,o pro-
dutor terá em torno de 50 a 60% de ternei-
ros de IAnas vacas solteiras e novilhas, sen-
do os demais filhos dos touros de repasse.
Esses resultados são extremamente baixos
quando comparados aos 90% obtidos nas IA
convencionais por um período de 45 dias.
No entanto, os resultados se aproximam se
for realizado um repasse com vacas sincro-
nizadas, que alternativamente pode ser feito
através de controle de estros e re-insemina-
ção durante quinze dias ou repetindo o pro-
tocolo de sincronização em 25-60% das va-
cas, o que aumenta consideravelmente o
custo por vaca gestante.
Um outro fator importante é o número
de vacas inseminadas em um dia por um
inseminador. Efetivamente, este problema
depende da infraestrutura da propriedade
para a execução dos serviços, visando não
exceder o que já foi comentado: um único
inseminador, com um ajudante, não deverá
inseminar mais do que, aproximadamente,
49
30 vacas por turno. O importante é que todo
o processo desde o descongelamento do sê-
men até sua deposição no trato da vaca, não
seja prejudicado pelo número de vacas a se-
rem inseminadas. Além disso, o percentual
de gestação está diretamente relacionado
com a qualidade do sêmen e a experiência
do inseminador. À medida que são introduzi-
das mais tecnologias, maiores deverão ser os
cuidados a serem tomados com todos os pro-
cedimentos envolvidos, os quais estão direta-
mente relacionados com os índices obtidos.
Por isso, é de grande importância realizar a
IA com sêmen de ótima qualidade fecundan-
te por inseminadores bem treinados.
Na prática, os maiores erros observados
na aplicação de protocolos de sincronização
de estros podem estar relacionados com a
identificação de corpo lúteo por palpação re-
tal e aplicação de PGF2a. O erro na identifi-
cação de corpo lúteo, geralmente, resulta em
índices muito aquém dos esperados em ter-
mos de vacas em estro durante o período de
sincronização. Os protocolos que consideram
a população de vacas a ter o estro sincronizado
são superiores aos que realizam a aplicação
após detecção de corpo lúteo por palpação
retal ou após testes de pro~esterona no leite
(Heuwieser et aI., 1997). E importante con-
siderar que no processo de sincronização de
estros devemos considerar a população de'
animais e nunca casos individuais, como a
identificação do corpo lúteo. Se os animais
estão cicIando, o protocolo deve considerar
esse fato, propiciando sistemas que respeitem
a atuação hormonal, e não a estrutura ovari-
ana no momento da aplicação do hormônio.
Finalmente, a técnica de sincronização de
estros tem diversas vantagens, as quais po-
dem ser exemplificadas pelo menor período
de inseminação, o qual pode variar de 1 a
12 dias; com concentração de nascimentos
e padronização dos terneiros para comercia-
lização; antecipação de gestação e reflexo na
50
temporada seguintepara a vacaficargestante
novamente em um período de um ano; utili-
zação de épocas do ano ótimas em termos
de disponibilidadede pastagem; otimização
de potreiros e diminuição de atividades rela-
cionadas com a IAna empresa rural. Esses
benefícios devem ser ponderados com o in-
cremento do custo por terneiro nascido em
alguns protocolos e redução em outros, con-
siderando a aquisição de touros e qualidade
dos terneiros nascidos. No entanto, deve ser
cristalino o fato de que qualquer protocolo
de sincronização de estros nada mais é do
que a antecipaçãodo estro que ocorreria nor-
malmenteem todos os animaisem um perío-
do médio-de 21 dias. Assim, o protocolo de
sincronização de estros não deve se estender
por um período muito longo, se aproximan-
do aos 21 dias, em decorrência do seu custo
intrínseco, por menor que ele seja, pode in-
viabilizar totalmente o sistema de IA.
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Prod, v.55, p.242-244, 1995.
55
Capítulo 4
Controle do Estro e da Ovulação em Caprinos
VicenteJosé de Figueirêdo Freitas,
Edilson Soares Lopes Júnior
Bases Fisiológicas
A espécie caprina é caracterizada como
possuidora de reprodução estacional. Assim,
em latitudes superiores a 35° a reprodução
da cabra depende do fotoperíodo. A estação
de reprodução ocorre durante o período de
dias decrescentes, mais particularmente du-
rante o outono. Nas regiões de latitudes infe-
riores (regiões equatoriais, tropicais e sub-
tropicais), onde as mudanças de fotoperíodo
são mínimas, a estacionalidade da reprodu-
çãoé pouco evidente e mais dependente devariações na alimentação e nas condições tér-
micas (Chemineau et al., 1991).
O ciclo estral corresponde ao período deli-
mitado por dois estros. A cabra vazia manifes-
ta ciclos que se sucedem a intervalos mais ou
menos regulares (em tomo de 21 dias). O dia
da ocorrência do estro é, convencionalmente,
definido como dia O (D O) do ciclo. Na cabra,
pode-se observar durações de ciclos muito
variáveis. Em cabras Alpinas, 77% dos ciclos
são considerados de duração normal, 14% são
de duração curta (< 17 dias) e 9% de duração
longa (> 25 dias). Esta freqüência elevada de
ciclos curtos parece ser uma característica da
espécie (Chemineau etal., 1987). No entanto,
algumas raças são exceção, como por exemplo
as cabras da raça Shiba, do Japão, nas quais
a duração do ciclo é muito pouco variável:
20,4 ~ 0,2 dias (Kano et al., 1977).
O comportamento sexual na fêmea é nor-
malmente mais difícil de identificar que o do
macho (Fabre-Nys, 2000). No entanto, o com-
portamento de estro na cabra é muito mais
expressivo que em outras fêmeas domésticas
(McTaggart, 1971; Rouger, 1974; Llewelyn,
1993). Aduração do comportamento do es-
tro é em média de 30 horas. Todavia,são obser-
vadas variações importantes ligadas à raça, à
idade e à estação do ano. Já foram observadas
durações de estro tão curtas quanto 22 horas
(Van Rensburg, 1971) e tão longas quanto 96
horas (Jarosz et al., 1971).
No D Odo ciclo, o nível crescente e eleva-
do de estradiol-17b é responsável pelo com-
portamento de estro. A cabra, contrariamen-
te à ovelha, não necessita de uma impregna-
ção anterior de progesterona para que o es-
tradiol possa induzir o comportamento de es-
tro. Isso explica que o fenômeno da ovulação
silenciosa ao início da estação sexual seja me-
nos freqüente na cabra que na ovelha. Essa
elevação do nível de estradiol-17b na circu-
lação induz, por retroalimentação positiva,
uma descarga de LH pela hipófise. Uma
57
descarga de FSH acontece ao mesmo tem-
po que a de LH.
A descarga pré-ovulatória de gonadotrofi-
nas (FSH e LH) provoca a ovulação e depois
a luteinização do(s) folículo(s) que ovulou
(aram) e o bloqueio da secreção de estradiol.
Os mecanismos de transformação das células
foliculares conduzem à ovulação, que se pro-
duz 30 a 36 horas após o início do estro ou
20 horas após o pico pré-ovulatório de LH
(Gonzalez-Stagnaro et aI., 1984). No mo-
mento da ovulação, um ou vários oócitos são
liberados. O folículo transforma-se em corpo
lúteo que começa a secretar progesterona,
em parte sob influência de LH, cuja ativida-
de pulsátil é elevada até o sétimo dia do ciclo,
dia à partir do qual a freqüência se estabiliza.
A freqüência dos pulsos de LH está correla-
cionada negativamente com o nível de pro-
gesterona plasmática. Essa progesterona
exerce uma retroalimentação negativa sobre
a secreção de LH, trazendo como conseqüên-
cia a ausência da descarga cíclica de LH du-
rante a presença do corpo lúteo.
No D 16-17 do ciclo, as prostaglandinas
uterinas, sob influência da ocitocina ovariana
(Homeida, 1986), provocam a luteólise e por
conseguinte a queda das concentrações plas-
máticas de progesterona. Esse acontecimento
é responsável pelo aumento da freqüência e
amplitude dos pulsos de LH (Mori & Kano,
1984). Esse aumento da atividade gonadotró-
fica provoca uma estimulação do crescimento
dos folículos de diâmetro superior a 1 mm
(Akusu et al., 1986). Os folículos têm sua ati-
. vidade estrogênica aumentada secretando es-
tradiol-l 7~ em quantidades crescentes. Esse
aumento dos níveis de estrógenos provoca um
novo comportamento de estro e, por conse-
qüência, um novo ciclo começa.
Introdução
Os tratamentos hormonais permitem in-
duzir e sincronizaro estro na fêmeaem anes-
58
tro e sincronizar o aparecimento do estro na
fêmea cíclica. Esses tratamentos permitem
antecipar o período de parto e, por conse-
guinte, produzir leite em períodos economi-
camente mais interessantes. A concentração
do estro permite, também, a programação do
aparecimento do comportamento sexual e da
ovulação para uma parte ou para totalidade
de um rebanho. Em conseqüência, a insemi-
nação artificial pode ser programada e reali-
zada em um grande número de fêmeas em
um período pré-determinado. O custo da in-
seminação artificial pode ser assim reduzido.
Facilitando o uso da inseminação artificial,
os tratamentos hormonais de controle do es-
tro e da ovulação contribuem para criação e
difusão dq,progresso genético através de ma-
chos melhoradores. Em adição, durante a es-
tação sexual, para os animais não gestantes
após a inseminação, o retorno ao estro é mais
agrupado e portanto mais fácil de detectar.
A técnica de sincronização do estro facili-
ta, dessa maneira, a utilização de uma ali-
mentação racional de cabras em produção
em função de seu estado fisiológico. A obser-
vação dos partos é também mais facilitada e
a mortalidade perinatal é diminuída. Os lotes
de cabritos para o abate são também mais
homogêneos no momento da venda. Em zo-
nas áridas, o período de partos pode ser pro-
gramado para época mais favorável (melho-
res condições alimentares ~ climáticas) a fim
de aumentar a produção leiteira das mães e,
por conseguinte, o aumento da taxa de so-
brevivência das crias.
Substâncias Utilizadas:
Funções e Características
Os tratamentos hormonais visam induzir
ej ou sincronizar o estro e a ovulação na fê-
mea em anestro ou então sincronizar o mo-
mento de aparecimento do estro na fêmea
cíclica.Essestratamentos utilizam diferentes
substâncias e hormônios exógenos, sejapara
controlar a fase lútea (progestágenos e lu-
teolíticos), seja para induzir ou aumentar a
resposta ovariana.
Progestágenos
O tratamento com progestágeno permi-
te controlar o momento de aparecimento do
estro e da ovulação através de um mecanis-
mo de "bloqueio" (retroalimentação negati-
va sobre as gonadotrofinas), seguido por um
"desbloqueio" (resposta hipofisária algum
tempo após o final do tratamento). Os pro-
gestágenos utilizados na cabra são: proges-
terona, acetato de fluorogestona (FGA), ace-
tato de medroxiprogesterona (MAP) e nor-
gestomet. Essas substâncias caracterizam-se
por uma meia-vida curta e p~rtanto uma eli-
minação rápida. No caso de administração
intra-muscular, as aplicações devem ser re-
petidas quotidianamente durante a duração
do tratamento. Para evitar esse problema,
pode-se utilizar diferentes suportes que libe-
ram progressivamente a progesterona ou os
progestágenos. Esses suportes são encontra-
dos sob a forma de esponjas vaginais, CIDR
(Controlled Internal Drug Release) ou im-
plantes sub-cutâneos. Os progestágenos sinté-
ticos têm uma atividade de inibição gonado-
trófica muito mais elevada que ;:tda progeste-
rona (Nédélec, 1988).
Agentes Luteolíticos
Os agentes luteolíticos são utilizados nas
fêmeas cíclicas a fim de provocar a destruição
do corpo lúteo. A importante diminuição da
secreção de progesterona, consecutiva à lu-
teólise, é responsável por uma descarga go-
nadotrófica (FSH e LH) e aparecimento do
estro e, posteriormente, da ovulação (Lau-
derdale et aI., 1981).
Os agentes luteolíticos mais utilizados na
cabra são análogos sintéticos da prostaglan-
dina F2a (PGF2a): cloprostenol e dinoprost.
O cloprostenol é um análogo especializado
na luteólise e possui a mesma estrutura geral
da PG FP e um peso molecular de 414,5 Kd,
tendo uma meia-vida em tomo de três horas
(Jackson, 1981). O dinoprost tem um peso
molecular de 314,5 Kd e sua meia-vida é de
uma a duas horas (Léon, 1988).
Substâncias que induzem a atividade ovariana
Nos tratamentos de indução/sincroniza-
ção do estro na cabra, a estimulação ovariana
já foi obtida pelo uso de coriogonadotrofinas
(eCG e hCG), hormônios peptídicos (GnRH)
ou preparações com atividade gonadotrófica
(hMG). O GnRH (hormônio liberador das
gonadotrofinas) ou gonadoliberina é um neu-
ro-hormônio de natureza peptídica. A sim-
plicidade relativa de sua estrutura tomou fácil
não somente a síntese, mas igualmente o de-
senvolvimento de vários agonistas. Assim, o
(D-Ser(But) 6,Pro9Ethylamide)-GnRH
(Cistorelina), um nonapeptídeo muito utili-
zado em medicina veterinária, tem uma ativi-
dade 190 vezes superior àquela do composto
natural, todavia sua meia-vida é de alguns
minutos (Hanzen, 1988).
A eCG (gonadotrofina coriônica equina),
extraída do soro da égua prenhe, apresenta
uma dupla atividade (FSH e LH). A meia-
vida dessa gonadotrofina é bastante longa
(em tomo de 120 horas) e seu peso molecu-
lar é de 45.000 Kd (Geschwind, 1963). A
meia-vida longa desse hormônio, resultante
da presença de resíduos de áddo siálico, ex-
plica sua facilidade de emprego (uma única
injeção), para obter os efeitos desejados para
indução/sincronização do estro. Na realida-
de, a seqüência polissacarídica tem um papel
essencial na manutenção das gonadotrofinas
na circulação, isto é, sua meia-vida (Combar-
nous, 1993). Essa característica é importante
para diminuir o número de injeções e por con-
seguinte facilitar a utilização do tratamento.
A hCG (gonadotrofina coriônica huma-
na) é um hormônio gonadotrófico excretado
59
na urina da mulher gestante. Esse hormônio
é sintetizado pelas células do sinciotrofoblas-
to e sua estrutura química é semelhante à das
gonadotrofinas hipofisárias, ou seja, duas
sub-unidades (a e b) e um conteúdo de car-
boidratos em torno de 29%. O peso mole-
cular é de 40.000 e a meia-vida de 20 horas
(Kaltenbach & Dumn, 1980).
A hMG (gonadotrofma da menopausa hu-
mana) é extraída da urina na mulher durante
o período de menopausa e é composta de pro-
porções variáveis de FSH e LH. O conteúdo
em carboidratos é elevado e a análise dos car-
boidratos presentes mostrou que o conteúdo
de ácido siálico está em torno de 8,5%. O peso
molecular da hMG é de aproximadamente
30.000 (Geschwind, 1963).
Os Diferentes Tratamentos Hormonais
Administração de Agentes luteolíticos
Os agentes luteolíticos mais utilizados na
cabra (cloprostenol e dinoprost) somente são
eficazes em fêmeas cíclicas. Nessas fêmeas, é
também necessário administrar o produto du-
rante o período de atividade do corpo lúteo,
ou seja, 4 a 17 dias após o estro. Uma única
injeção de cloprostenol (125 JLg),realizada no
122 dia do ciclo induz o estro 24 a 72 horas
após a injeção em 100% das cabras tratadas
(Nuti et al., 1992). No entanto, quando o es-
tádio do ciclo sexual não é conhecido, o trata-
mento com luteolíticos consiste em duas inje-
ções realizadas de 11 a 14 dias de intervalo de
maneira a induzir a luteólise nas fêmeas que
não tinham corpo lúteo no momento da pri-
meira injeção e que apresentaram um estro
natural nesse intervalo. Também será induzida
uma segunda luteólise nas fêmeas que apre-
sentavam corpo lúteo na primeira injeção.
Ott et aI. (1980), administrando duas in-
jeções de dinoprost (8 mg) com 11 dias de
intervalo, observaram 94% de cabras em es-
tro, em média 52 h após a primeira injeção.
As fêmeas foram cobertas por diferentes bo-
60
des a 12 horas de intervalo até o final do es-
tro, obtendo uma taxa de fertilidade de 70%.
Greyling & Van Niekerk (1986) obtiveram
resultados semelhantes efetuando duas inje-
ções de cloprostenol a 14 dias de intervalo.
O estro foi observado em 94% das cabras 57
horas, em média, após a segunda injeção. As
cabras foram inseminadas em intervalos de
12 horas até o final do estro com sêmen fres-
co e não diluído e a fertilidade foi de 70%.
Utilização de Tratamentos Progestágenos
A administração de um progestágeno exó-
geno durante o ciclo estral, bloqueia a secre-
ção hipofisária de gonadotrofinas. Ao final do
tratamento, a parada da inibição do eixo hipo-
talamo-hipoúsário permite a liberação de go-
nadotrofinas e, por conseguinte, o estro e a
ovulação. Desde que o tratamento progestá-
geno é utilizado com o objetivo de obter a si-
multaneidade das ovulações, em fêmeas trata-
das em diferentes fases do ciclo, a duração
mínima do tratamento deve ser igual à dura-
ção da fase luteal (Robinson, 1967).
O uso de esponjas vaginais impregnadas
com 60 mg de MAP durante 14 dias em ca-
bras da raça Angorá, cíclicas, provocou o es-
tro em 75% das cabras tratadas entre 48 e
90 horas após o final do tratamento. As ca-
bras em estro foram cobertas duas vezes por
dia até o final do estro. A taxa de fertilidade
foi próxima de 85% (Van der Westhuysen,
1979). Greyling & Van Niekerk (1991) utili-
zaram o mesmo método em cabras da raça
Boer, obtendo 53,3% de fêmeas em estro 72
horas após a retirada da esponja. As cabras
foram inseminadas a cada 12 horas de inter-
valo com sêmen fresco não diluído até o final
do estro, resultando em uma taxa de fertilida-
de de 53%.
Associação Progestágeno e Gonadotrofina
Durante o anestro estacional, o tratamento
progestágeno só consegue ser eficaz se for as-
sociado a uma estimulação ovariana efetuada,
na maioria das vezes, com eCG (Corteel et
al., 1968; Ritar et aI., 1989). A metodologia
mais utilizada consiste na administração de
um progestágeno, por via vaginal (esponja)
ou sub-cutânea (implante), associado a uma
injeção de eCG realizada 48 horas antes ou
no momento da retirada do progestágeno.
Na cabra Boer não cíclica, o emprego de
esponjas vaginais impregnadas com 60 mg
de MAP durante 14 dias e uma injeção de
500 VI de eCG realizada no momento da
retirada da esponja, induziu o estro em todas
as fêmeas tratadas em torno de 40 horas após
o final do tratamento. Com inseminação arti-
ficial transcervical realizada a cada 12 horas.
até o final do estro, com sêmen fresco não
diluído, a taxa de fertilidade foi superior a
70% (Greyling & Van Niekerk, 1991).
Associação de Progestágeno,
Luteolíticoe Gonadotrofina
O uso de um tratamento com progestáge-
no de curta duração, inferior à duração da
fase luteal, conduziu Corteel et aI (1984) a
utilizarem uma injeção de um agente luteolí-
tico, durante o tratamento progestágeno, a
fim de induzir a destruição de um eventuaC
corpo lúteo. Esse tratamento consiste na co-
locação de uma esponja vaginal impregnada
de 45 mg de FGA durante 11 dias, associado
a uma injeção de 300- 700 VI de eCG e uma
injeção de 50 J.lgde Cloprostenol, ambas rea-
Dia O
J s
Dia 9
f
lizadas 48 horas antes da retirada da esponja
(Figura 4.1). A taxa de fertilidade obtida com
esse tratamento na cabra leiteira, durante
anestro estacional, gira em torno de 65%;
após uma única inseminação realizada por
via transcervical com sêmen congelado e em
um momento pré-determinado em relação
ao final do tratamento.
Esse tratamento é importante porque é o
único que permite a realização da insemina-
ção artificial em um horário pré-determina-
do, facilitando dessa forma a utilização das
inseminações e, por conseguinte, do melho-
ramento genético do rebanho. Nesse caso,
o grau de sincronização da ocorrência do es-
tro é um importante fator de variação da fer-
tilidade de cabras inseminadas.
A fim de diminuir o custo do tratamento,
foi estudada a possibilidade de retirada de
eCG do tratamento de sincronização do es-
tro. No entanto, Freitas & Salles (2000), tra-
balhando com cabras leiteiras no Nordeste
do Brasil, verificaram a necessidade do uso
de eCG mesmo em fêmeas cíclicas, pois a
retirada dessa gonadotrofina do tratamento
resulta em uma queda do número de cabras
prenhes (Tabela 4.1).
Tabelo4.1. Porcentagemde cobrasem estro,gestantese parindo
apóssincronizaçãoda estrocomou semusodeee6.
DosedeeeG % decobras
tU!) emestra gestantes parindo
O 100,0 55,0' 25,0'
200 100,0 87,Ob 60,9b
Letrasdiferentesnomesmocolunaindicamdiferençaestatístico(P< 0,05).
~ ~..~ ~""'"
, 'I" "";
,
,
"
,
'
,
".'.'. : ,.' 'ti~
Dia 11
f
Dia 13
I
Colocação da esponja 50ug Cloprostenol Retirada
(45mg FGA) + da esponja
200 -400UI eCG
Figura4.1 . Tratamentopadrão de sincronizaçãodo estroem caprinos,
Monta ou
inseminação
61
Fatores que Influenciam o Grau de
Sincronização do Estro Após
Tratamento Hormonal
Quando a inseminação artificial é realiza-
da em um momento pré-determinado em re-
lação ao final do tratamento hormonal, fica
claro que o momento de ocorrência do estro,
do pico pré-ovulatório de LH e por conse-
guinte da ovulação, irá determinara taxa de
fertilidade das fêmeas tratadas. No entanto, o
momento de ocorrência desses acontecimen-
tos é variável e, conseqüentemente, menores
são as possibilidades de se obter a fecundação
e mais baixa será a taxa de fertilidade.
Em cabras que recebem um tratamento
progestágeno de curta duração (11 dias), a
distribuição da ocorrência do estro é também
uma causa de falha na fertilidade, pois as ca-
bras que apresentam estro entre 49 a 72 horas,
após a retirada do progestágeno, apresentam
uma taxa de fertilidade muito baixa, em tomo
de 25%. Esse resultado é significativamente
inferior quando da comparação com fêmeas
apresentando estro até 30 horas após o final
do tratamento, as quais mostram uma taxa de
fertilidade próxima a 65% (Baril et al., 1993b).
A produção de anti-corpos anti-eCG, após
vários tratamentos no mesmo animal, é uma
causa da ocorrência de estros tardios. Na rea-
lidade, 60% dos estros tardios são correlacio-
nados a uma elevada taxa de ligação de anti-
corpos ao eCG (> 25%). Por outro lado, para
taxas de ligaçãomais baixas « 5%) são ob-
servados somente 10% de estros tardios (Baril
etal., 1996). No entanto, umaimportanteva-
riabilidade do momento de ocorrência do es-
tro é também observada em fêmeas caprinas
que nunca receberam um tratamento hormo-
nal anteriormente (Baril et al., 1993b).
Otimização do Tratamento Padrão
de Sincronização do Estro
Na tentativa de melhorar o grau de sin-
cronização do estro em caprinos, após o uso
62
do tratamento hormonal, várias alterações
foram realizadas no tratamento padrão. Es-
sas alterações foram baseadas nas possíveis
variáveis interferindo na resposta das cabras,
ou seja: concentração do progestágeno; tipo,
dose e via de administração do progestágeno;
bem como a condição ovariana antes e du-
rante o tratamento hormona1.
Efeito da Concentração do Progestágeno
Uma impregnação muita longa ou com
doses muito elevadas do progestágeno altera
de maneira negativa a fertilidade dos animais,
essencialmente devido a um efeito sobre o
transporte de espermatozóides no trato genital
da fêmea (Quilivan& Robinson, 1969). Por
essa razão, a diminuição na duração do trata-
mento e das doses administradas foram tema
de vários trabalhos, particularmente na quan-
tidade de FGA depositada nas esponjas vagi-
nais. No entanto, em razão da liberação dife-
rente e/ou de um catabolismo mais ou menos
ativo, as concentrações plasmáticas de FGA
apresentam perfis variáveis de acordo com as
fêmeas. A busca pela diminuição de doses a
serem administradas poderia ter conduzido,
em alguns animais, concentrações insuficien-
tes para bloquear o desencadeamento dos
eventos fisiológicos que conduzem à ovulação.
Para tanto, foi comparado o grau de sin-
cronização do estro e a fertilidade de cabras
que receberam, no 72 ou no 92 dia do trata-
mento, uma segunda esponja vaginal após o
início do tratamento. A maior parte das ca-
bras tratadas apresentou estro e ovulação em
quaisquer dos tratamentos testados. Porém,
a administração de uma segunda esponja não
melhorou o grau de sincronização do estro
nem a prolificidade das cabras em compara-
ção ao tratamento padrão. Segundo Freitas
et aI. (1996), em alguns rebanhos o uso da
segunda esponja no 92dia do tratamento foi
responsável por uma queda na fertilidade nos
animais tratados (Tabela 4.2).
Tabela 4.2. Desempenho repradutivo de cobras submetidas à
sincronizaçãodo estrocomo usode umaou duas
esponjasimpregnadascomFGA.
Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença estatística (P < 0,05),
Efeitodo Tipo, Dose e Via de
Administraçãodo Progestágeno
Quando dos primeiros trabalhos sobre
a sincronização do estro em ,ovinos e em
bovinos, foi demonstrado que não somente
as doses mas também o tipo de progestá-
geno e a via de administração são susceptí-
veis de afetar a eficiência dos tratamentos
hormonais.
Uma variação no tratamento hormonal
utilizoua comparação entre o tratamento pa-
drãoe duas dosesdo implantede Norgestomet
(1,5 e 3 mg; Freitaset aI., 1997a). Foiverifi-
cado que o uso de meio-implantes (1,5 mg)
de Norgestomet produz uma ocorrência de
estro mais precoce, porém com a mesma va-
riabilidade do tratamento com esponjas. Foi
também colocado em evidência uma menor
eficiência do meio-implante, no tocante ao
número de cabras ovulando e a fertilidade
após inseminação artificial (Tabela 4.3).
Tabela 4.3. Respostade cobrasapós sincronizaçãodo estro com espon-
jas de FGA,implante ou meio-implante de Norgestomet.
Letrasdiferentesna mesmacolunaindicamdiferençaestatística(P< 0,05).
Efeito do Estado Ovariano Antes e Durante
o Tratamento Hormonal
Os tratamentos de sincronização do es-
tro baseiam-se nas interações endócrinas do
eixo hipotálamo-hipófise-ovário. A participa-
ção do ovário é indiscutível, pois suas secre-
ções hormonais participam na retroalimen-
tação sobre o hipotálamo e hipófise durante
o ciclo natural. Portanto, foi estudado o efeito
do estado da população ovariana (número
e tamanho de folículos e número de corpos
lúteos) antes e durante o tratamento hormo-
nal sobre o grau de sincronização do estro e
do pico pré-ovulatório de LH. Essas obser-
vações foram executadas sob controle lapa-
roscópico no momento da colocação da es-
ponja e da injeção de eCG.
O número ou o tamanho dos folículos
não apresentou efeito sobre o momento ou
sobre a variabilidade de ocorrência do estro
ou do pico pré-ovulatório de LH. No entan-
to, a presença de 2 ou 3 corpos lúteos duran-
te o tratamento é responsável por um retar-
damento na ocorrência do pico pré-ovulató-
rio de LH (Figura 4.2). Essa observação su-
gere que o número de corpos lúteos no mo-
mento de indução da luteólise é um fator que
está implicado na variabilidade de resposta
de cabras ao tratamento de sincronização do
estro (Freitas et aI., 1996b).
Estudos Sobre o Fenômeno de
Sincronização Durante o Ciclo Natural
Os tratamentos de sincronização do es-
tro consistem em induzir (prostaglandinas)
ou bloquear (progestágenos), de maneira
sincronizada entre os animais, a luteólise,a
qual ocorre espontaneamente ao final do
ciclo das fêmeas não gestantes.
A queda na concentração de progestero-
na permite o desencadeamento dos fenôme-
nos no hipotálamo,hipófisee ovário,os quais
levarão ao estro e à ovulação.Como a varia-
bilidade do momento de ocorrência do es-
63
Tipode %decabras
tratamento emestro ovulando parindo
1esponja 93.8 93.8 87.5°
2°.esponjanodia7 92.3 84.6 61.5b
2°esponjanodia9 95.0 75.0 50.0b
Tipode Número %de CabrasFertilidadeProlificidade
tratamento de cabras ovu- aoparto (média
Cabrasemestro lando (%) :!:d.pJ
Esponja 56 98,2 98,2° 75,0° 1,9:!:0,8
Meicrimplante55 98,2 81,8b 45,Sb 1,8:!:0,8
Implante 51 96,1 86,300 58,8Ob 1,9:!:0,8
24 28 32 36 40 44 48 52 56 60 64
Intervaloretiradada esporYa- pico de UI (horas)
Figura4.2. Momentode ocorrência do pico de lH em cabras após retirada do progestágeno e de acordo com o
número de corpos lúteos (ClI observados no nono dia do tratamento progestágeno (Freitas et 01. 1996b).
LN-EN
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O 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15~ -4 -3 -2 -1 O
Dias do Ciclo Estral
Figura 4.3. Curva média progesterona, após modelização matemática, para cabras com 1 (-) ou 2-3 (- - -) corpos
lúteos durante o ciclo estral natural (Freitas et ai. 1997b).
LN = luteólise natural
EN = estro natural
LN-EN= intervalo luteólise-estro natural.
64
100
I
-O- OCL
801
-ICL
t':I
0.6 --+- 2-3 CL
,.$ 60
40CJ
'$..
20
O
12
-. 10-
S
Õ"JJ 8=--
=
=
6O
:..
Q;;
......
VJ
4Q;;
OJ)
O
'..
2
tro e do pico pré-ovulatório de LH não foi
reduzidacom as modificaçõesno tratamento
padrão, foi então formulada a hipótese que
essavariabilidadefosse inerente aos sistemas
biológicosimplicados,isto é, desde a luteóli-
se natural até o estro e/ou o pico pré-ovula-
tóriode LH. Para tanto, essa variabilidadefoi
verificadaem 21 cabras realizandoa compa-
raçãoentre o estro sincronizado e o natural.
Afimde determinar de uma maneira precisa
e objetivao momento da luteólise natural e
levandoem consideraçãoa flutuaçãona con-
centração de progesterona durante o ciclo,
foi utilizada a técnica de modelização não-
linearda curva de progesterona (Yenikoyeet
al., 1981). Os resultados demonstraram que
a variabilidade do momento de ocorrência
do estro e do pico pré-ovulatório de LH, em
relação à queda de progesterona, é maior
durante o fenômeno natural que durante o
estro sincronizado (Freitas et aI., 1997b).
Ficou também demonstrado que existe um
efeitodo número de corpos lúteosprovenien-
tes do ciclo anterior sobre o aparecimento
do próximo estro (Figura 4.3).
Considerações Finais
Comparando-se os resultados obtidos
com as diferentes modificações realizadas so-
bre o tratamento fundamentado na retroali-
mentação negativa do progestágeno sobre o
eixo hipotálamo-hipofisário, pode-se con-
cluir o seguinte:
a) O grau de sincronização do estro e do
pico pré-ovulatório não é melhorado
em relação ao tratamento padrão qual-
quer que seja a metodologia emprega-
da. Essas modificações foram, algumas
vezes, deletérias para a fertilidade.
b) A eficiência dos tratamentos com pro-
gestágenos parece ter alcançado o limite
biológico e, por conseguinte, é pouco
provável que novas melhorias possam
ser desenvolvidas.
c) É provável que uma parte importante
dessa variabilidade possa estar ligada
a fatores ambientais, pois esse fenô-
meno existe também durante o ciclo
natural e que, em adição, não é repe-
tível em um mesmo indivíduo de um
tratamento a outro.
Para o futuro, existem perspectivas ligadas
sobretudo a uma intervenção mais tardia na
seqüência de eventos que conduzem à ovula-
ção, pois quanto mais próximo da ovulação,
mais aumenta a probabilidade de diminuição
da variabilidade do fenômeno. As injeções de
LH, GnRH ou dos antagonistas do GnRH são
soluções possíveis.
Um novo tratamento utilizando um anta-
gonista do GnRH (Antarelix) foi descrito em
cabras superovuladas (Baril et aI., 1996).
Com esse tratamento, obtêm-se um bloqueio
do pico endógeno de gonadotrofinas durante
o período desejado; um pico pré-ovulatório
exógeno é então induzido algumas horas mais
tarde. No entanto, o emprego desse tratamen-
to é muito complicado em razão do grande
número de intervenções realizadas nos ani-
mais. Parece importante o estudo de meios de
melhorar a metodologia desse tipo de trata-
mento para sincronização do estro e da ovula-
ção em caprinos.
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67
Capítulo 5
Inseminação Artificial em Cães
Lúcia Daniel Machado da Silva, Alexandre RodriguesSilva,
Rito de Cássio SoaresCardoso
Introdução
Dentro de um contexto social, os animais
domésticos tomaram-se componentes impor-
tantes com o passar dos anos, estando repre-
sentados principalmente pelo cão, o qual en-
contra-se mais próximo ao homem, comparti-
lhando do seu dia a dia. Em decorrência disso,
o homem vem se esforçando para obter ani-
mais de alto valor genético, adequados a pa-
drões inerentes à utilização prática de cada
raça. Dessa forma, surgiu a necessidade de
otimizar e preservar o material genético de re-
produtores de alto valor zootécnico. Assim, o
homem tem encontrado uma solução nas bio-
tecnologias de reprodúção, tais como, a tecno-
logia de sêmen e a inseminação artificial.
A inseminação artificial consiste em, após
a obtenção do sêmen, depositá -10 no trato
genital da fêmea a ser inseminada (Silva,
1999). Essa técnica pode ser utilizada como
um meio alternativo quando da impossibili-
dade de realização de monta natural, devido
a problemas anatômicos e comportamentais
(Feldman & Nelson, 1996), ou ainda, quando
da utilização do sêmen congelado. Essa bio-
técnica apresenta ainda como vantagens a
possibilidade de utilização por tempo indefi-
nido e disseminação mais rápida do material
genético de machos; preservação da sanidade
de reprodutores, bem como a redução de cus-
tos e de estresse com transporte de animais.
Histórico
O espermatozóide canino foi microscopi-
camente descrito pela primeira vez por Lee-
wenhoeck no século XVII, mais precisamen-
te em 1672. O primeiro oócito mamífero des-
crito foi o da cadela em 1827 por Karl Ernst
von Baer (Farstad, 2000). A primeira insemi-
nação artificial notificada cientificamente, foi
realizada por SpaIlanzani, no século XVIII, na
espécie canina. SpaIlanzani utilizou o sêmen
fresco obtido de um cão e depositou-o direta-
mente na vagina de uma cadela com o auxílio
de uma seringa. Dessa inseminação artificial,
foram obtidos três produtos vivos e normais
após uma gestação de 62 dias. Em 1782, Rossi
repetiu o experimento de SpaIlanzani, obtendo
igualmente sucesso (Badinand et al., 1990).
Apesar da primeira inseminação artificial
com sêmen fresco ter sido realizada no século
XVIII, foi somente no século XX, em 1954
que foi descrita por Harrop a primeira inse-
minação artificial frutuosa a partir do sêmen
canino refrigerado a 4°C. Além disso, foi ape-
nas em 1969 que SEAGER obteve a primeira
69
gestação canina, utilizando sêmen criopre-
servado, tendo ocorrido o nascimento de
dois filhotes saudáveis. Desde essa época,
então, numerosos desenvolvimentosnas téc-
nicas e princípios da criobiologiavêm sendo
realizados para o sêmen de espécies pecuá-
rias e do homem, porém as pesquisas dire-
cionadas para a espécie canina eram raras
e, mais freqüentemente calcadas nas outras
espécies. No entanto, mais recentemente,
esse quadro vem mudando.
Com o interesse cada vez maior sobre o
animais de companhia, a sua utilização em
pesquisasvemaumentando significativamente
nos últimosanos. O emprego de sêmen cani-
no frescoou refrigeradovemsendoestabeleci-
do (Farstad,1984;Tsutsuiet al., 1988;Linde-
Forsberg& Forsberg, 1989) e os resultados
aproximam-sedos obtidos após monta natu-
ral. No entanto, os resultados obtidos após
inseminaçãoartificialcom sêmencanino con-
gelado são bastante heterogêneos (Linde-
Forsberg & Forsberg,1989;England, 1993).
No Brasil, a primeira notificação de su-
cesso em inseminação artificial com sêmen
canino congelado foi realizada há 20 anos,
tendo sido obtida uma ninhada de seis cães
normais da raça Boxer (Vaskeet al., 1981).
Desde então, inúmeros trabalhos vêm sendo
realizados tanto com inseminação artificial
na cadela,bem como com processamento de
sêmen canino.
Bases Fisiológicas do Aparelho
Reprodutor do Cão
Anatomia do trato reprodutor masculino
O trato reprodutivo do cão é composto
por uma bolsa escrotal, dois testículos, dois
epidídimos,dois cordões espermáticos, dois
ductos deferentes, uma próstata, uma ure-
tra, um pênis e um prepúcio.
~ Bolsa Escrotal
A pele da bolsa escrotal é fina, pigmenta-
da, contém glândulas sudoríparas e é coberta
70
por pêlos. A bolsa escrotal exerce papel fun-
damental na proteção e termorregulação tes-
ticular. A ausência de gordura subcutânea e
o resfriamento do sangue arterial, pela passa-
gem próxima ao sangue venoso mais frio no
plexo pampiniforme, são mecanismos que evi-
tam aumentos na temperatura escrotal, o que
poderia levar a alterações degenerativas nos
túbulos seminíferos. Uma termorregulação
adequada que mantenha os testículos a uma
temperatura cerca de 5°C abaixo da tempera-
tura corpórea é condição sine qua non para
garantir uma produção hormonal e uma es-
permatogênese normal (Thibault, 1991).
~ Testículo .
Os testículos, de forma redonda a oval,
estão situados no interior da bolsa escrotal,
com o eixo oblíquo longo dirigido dorso-cau-
dalmente, e com os epidídimos relativamente
grandes fIrmemente aderidos em posição dor-
so-lateral. Há grande variação no tamanho
do testículo entre as raças de grande e peque-
no porte; a média gira em torno dos 3 cm de
comprimento x 2 cm de largura x 1,5 cm de
espessura (Christiansen, 1988). O corpo do
testículo é composto pelos túbulos seminí-
feros, nos quais os espermatozóides são pro-
duzidos pelo processo de espermatogênese.
Os túbulos seminíferos esvaziam-se num sis-
tema de colheita, a rede testicular (rete testis),
que conduz os espermatozóides além dos tes-
tículos e para o epidídimo. A descida dos tes-
tículos ocorre muito precocemente, passando
através do canal inguinal quatro dias após o
nascimento, alcançando a localização escro-
tal por volta dos 35 dias.
... Epidídimo
É um tubo longo, enrolado sobre si mesmo
e é composto por três partes: cabeça, corpo e
cauda. A cabeça do epidídimo está na mar-
gem cranio-Iateral do testículo e não é facil-
mente palpável. O corpo localiza-se na su-
perfície dorso-lateral do testículo e não pode
ser palpável. A cauda fica no pólo dorso-cau-
dal e é prontamente palpável no animal nor-
mal como uma protuberância firme. O epidí-
dimo se continua como um tubo reto deno-
minadode ducto deferente.
.., Cordão Espermático
O cordão espermático apresenta os se-
guintes componentes: ducto deferente; arté-
ria testicular que conduz o sangue da aorta
para os testículos e corre através do plexo
pampiniforme (veias testiculares + veias epi-
didimárias); duas veias testiculares que con-
duzem sangue dos testículos para a veia cava;
o sangue frio que retoma do testículo reduz
a temperatura do sangue arterial para' assegu -
rar que o testículo não se tome superaqueci-
do; veias epididimárias; inervação colinérgica;
inervação adrenérgica; músculo cremaster que
surge a partir do músculo oblíquo abdominal
interno próximo ao anel inguinal externo e é
aderido à túnica vaginal no nível dos testícu-
los; ele regula a distância entre os testículos e
a parede abdominal, regulando a temperatu-
ra testicular. Os vasos espermáticos e o ducto
deferente passam para o abdômen através de
um pequeno espaço nos músculos da parede
abdominal, o canal inguinal.
... Dueto Deferente
Este ducto conduz espermatozóides do
epidídimo à uretra, seguindo cranialmente e
adentrando o abdômen no cordão espermá-
tico. No abdômen, passa cranialmente ao
ureter e desembocana uretra na próstata cra-
nial. O ducto deferente apresenta aproxima-
damente 1mm de diâmetro e é espesso, sen-
do boa referência para localizar testículos
abdominais durante a cirurgia para remoção
de testículos ectópicos.
. Próstata
É a únicaglândulasexualacessóriano cão.
É uma estrutura bilobada situada na entra-
da da pelve, repousando na porção cranial da
sínfise pélvica, envolvendo a porção cranial
da uretra. A glândula prostática é simétrica, de
forma globular, com um sulco dorsal media-
no que a divide em duas metades e possui
uma consistência elástica tênsil. Em cães
adultos, a glândula varia, de comprimento,
largura e espessura, entre um mínimo de 1,4
- 1,9 cm e um máximo de 2,5 - 2,8 cm, com
um peso absoluto de 1,7 -14,5 g e peso rela-
tivo (ao peso corporal) de 0,21 - 0,57 g/kg.
A glândula prostática é responsável pela
produção do líquido prostático sob a influên-
cia de testosterona, que é uma secreção clara
e expelida na uretra, consistindo na primeira
e terceira fração do ejaculado (England et
aI., 1990). O fluido prostático é bactericida,
sendo responsável por cerca de 95% do volu-
me total ejaculado. A próstata normalmente
aumenta de tamanho na idade avançada, ad-
quirindo uma posição mais abdominal. Após
cinco anos de idade, quase 100% dos cães não
castrados apresentam uma hipertrofia pros-
tática significativa, porém sem conseqüências
patológicas. Essa modificação é em decorrên-
cia a um aumento da sensibilidade da glându-
la à dihidrotestosterona (Poulet, 1985).
~ Uretra
A uretra tem a função de carrear urina e
sêmen à extremidade do pênis. Origina-se no
trígono da bexiga e caminha caudalmente no
assoalho da pelve através da próstata. No limi-
te caudal do ísquio, a uretra penetra no pênis
situando-se caudoventralmente, eventualmen-
te adentrando a fenda ventral do osso peruano.
~ Pênis
O pênis consiste em dois corpos caver-
nosos distintos. A porção posterior é sepa-
rada pelo septopeniano médio;anteriormen-
te, o osso peniano, situa-se desde o bulbo da
glande até a quase extremidade da glande,
no interior da qual este osso se prolonga por
71
uma projeção cônica de fibrocartilagem com
cerca de 0,5 cm de comprimento.
A glande do pênis inicia -se na região ade-
rida internamente ao prepúcio e é composta
do bulbo da glande, consistindo em tecido
erétil que envolve completamente o pênis e
a uretra, e parte longa da glande, composta
de tecido erétil apenas dorsal e lateralmente.
O bulbo é dificilmente discernível no estado
relaxado. Quando o pênis fica ereto, a glande
torna-se uma estrutura espessa esférica, ede-
maciada que é responsável por travar o pênis
na vagina durante a cópula. A parte longa
compreende os 3/4 distais da glande e termi-
na na abertura da uretra.
O osso peniano é largo proximalmente e
estreito distalmente, apresentando uma fenda
que abriga a uretra. Em cães de grande porte,
o osso peniano pode chegar a 10 cm, ou mais,
de comprimento.
~ Prepúcio
O prepúcio forma uma bainha que reco-
bre completamente o pênis não ereto. Exter-
namente é revestido pela pele, internamente
por uma membrana mucosa que se continua
com a mucosa do pênis na base da glande.
Espermatogênese
A espermatogênese, ou seja, a produção
de espermatozóides, está sob o controle do
FSH e do LH. A regulação desses é, por sua
vez, controlada pelos esteróides gonadais,
peptídeos como a inibina e, finalmente, pelo
GnRH. A produção de espermatozóides e de
andrógenos está intimamente ligada.
A espermatogênese é um processo seqüen-
cial de proliferação, divisão e transformação
celular, no qual as células espermatogoniais
primordiais (spermatogonium) dão origem
aos espermatozóides (Johnson, 1991). Esse
processo é desencadeado nos túbulos seminí-
feros a partir do início da puberdade do ma-
cho (Sclegel, 1995 apud Rodrigues, 1997).
72
No entanto, segundo AlIen (1992), a esper-
matogênese inicia-se aos 4 meses de idade
no cão, embora ejaculados contendo esper-
matozóides só sejam verificados a partir dos
10 - 12 meses.
O ciclo espermatogênico dura aproxima-
damente 54 dias na espécie canina e com-
preende cinco ciclos do epitélio seminífero
(período compreendido entre duas gerações
de espermatogônias iniciando a espermato-
gênese), onde cada um dura em torno de 13
dias. O período de vida para os espermatóci-
tos primários é de 20,9 dias; para os esper-
matócitos secundários, 0,5 dias; para as es-
permátides com núcleos redondos, 10,5 dias;
e para as espermáQ.des com núcleos alonga-
dos, 10,6 dias, até o momento em que são
liberados para o lúmen. A célula espermática
do cão apresenta uma área média de cabeça
de 18,10 - 22,22 JLm2,comprimento de 6,49
- 7,06 JLme largura de 3,77 - 4,46 JLm.
Características Seminais
Para se determinar as características se-
minais, faz-se necessário a avaliação do eja-
culado (espermograma). Os critérios utiliza-
dos para o espermograma na espécie canina
são similares àqueles utilizados em outras es-
pécies. O ejaculado normal é composto por
três frações. A primeira e a terceira são de
origem prostática, onde a primeira tem a fun-
ção de limpar o canal uretral de urina e a ter-
ceira serve como carreadora de espermato-
zóides para o útero. As principais caracterís-
ticas seminais descritas para a espécie canina
estão apresentadas na tabela 5.1.
~ Volume
A primeira fração tem um volume variá-
vel, mas geralmente é de 0,5 ml. A segunda
fração varia de 0,5 - 1 mI, em alguns cães,
podendo chegar até 3 mI.A última fração é
a que possui maior volume e pode variar de
3 a 30 ml.
!JIo-Motilidade
Amotilidade consiste na porcentagem de
espermatozóides móveise, no cão, este per-
centual oscila entre 80-90%. Motilidade
abaixo de 60% pode ser considerada como
anormal.
!JIo-Vigor
O vigor é a qualidade da motilidade e é
expresso em uma escala que varia de Oa 5.
No cão, um ejaculadonormal não deveapre-
sentar vigor inferior a 3,5.
!JIo-Morfologia
As alterações morfológicas localizam-se
com maior freqüência na cabeça e na cauda,
e são divididas nos tipos primário e secundá-
rio. As anormalidades primárias são originá-
rias da produção espermática, ou seja, no tes-
tículo. As secundárias desenvolvem-se durante
a passagem pelo epidídimo (matupção) e du-
rante a manipulação do sêmen. E considera-
do normal, um ejaculado que apresente até
13 a 15% de alterações morfológicas totais
(Christiansen, 1988; Feldman & Nelson, 1996).
. Concentração Espermática
A concentração corresponde ao número
de espermatozóides por mililitro de sêmen.
Como a segunda fração é rica em esperma-
tozóides, é nesta que avaliamos tal parâme-
tro. No cão, a concentração espermática fi-
ca em torno de 247 j; 9,9 x 106 espermato-
zóides/ml.
Bases Fisiológicas do Aparelho
Reprodutor da Cadela
Anatomia do TratoReprodutor
O trato reprodutor da cadela é compos-
to por dois ovários, duas tubas uterinas, um
útero do tipo bicornual, uma cérvice,uma
vagina, uma vulvae o clitóris (Getty, 1981).
. Ovário
Os ovários são pequenos, de forma oval
e achatados, com comprimento médio de 2
cm. O ovário situa-se a 1 ou 2 cm do pólo
caudal do rim e opostamente à terceira ou
quarta vértebra lombar. O ligamentosuspen-
sório faz a sustentação do ovário, inserindo-
se no pólo caudal do rim. O ovário direito
está situado entre a parte direita do duodeno
e a parede abdominal lateral. O ovário es-
querdo relaciona-selateralmentecom obaço.
O ovário da cadela é totalmente circundado
pela bolsa ovariana, proveniente do peritô-
neo, e possui uma fenda ventral. Essa bolsa
73
Tabela5.1. ParõmefTosdosêmencanino.
PorõmefTos Souza,1985 DobrinskietaI.,1993 Oemé,1993 Rodrigues, 1997 Santos,1997
volumeda2' froção(ml) 7,17* 2,22 1,05 4,68*
cor branca
aspecto leitoso
motilidade(%) 68,84 84 75,6 77,62 90,67
vigor(0.5) 3,5 3,75 4,73
concentração(nQsptzx 106/ml) 310 890 288
nQsptz/ejaculodo 600 911,1
alteraçõesprimários(%) 9,92 9,83 3,83
olteraçãessecundárias(%) 7,62 8,26 2,25
olteraçãestotais(%) 20,7
pH 6,02:6,6 6,2 6,56
* Segundae porte da terceirafração.
é formada por duas camadas, sendo uma
de tecido adiposo e a outra de músculo liso.
Elasse continuam até o corno uterino, cons-
tituindo o mesossalpinge e o ligamento pró-
prio do ovário.
.. Oviduto
Os ovidutos são pequenos e possuem
comprimento entre 5 e 8 cm. Cada oviduto
passa cranialmente na parte lateral da bolsa
ovariana e, a seguir, corre caudalmente na par-
te medial da bolsa. A extremidade fimbriada
está essencialmente situada na bolsa ovaria-
na, mas parte dela muitas vezes, projeta-se
atravésda abertura da bolsa. Sua extremidade
do lado da abertura abdominal é grande, en-
quanto que suajunção com o útero, denomi-
nada de óstio uterino, é muito pequeno.
.. Útero
O útero tem um corpo muito pequeno e
cornos extremamente longos e estreitos. Na
cadela de porte médio, o corpo do útero tem
aproximadamente 2 a 3 cm e os cornos de
12 a 15 cm. Os cornos uterinos são de diâ-
metro uniforme e quase retos, situando-se
inteiramente dentro do abdômen. Divergem
do corpo na forma de um "V" no sentido de
cada rim. Suas partes caudais estão unidas
pelo peritôneo. Dorsalmente, não há nenhu-
ma demarcação entre o útero e a vagina, mas
a cérvice é bem mais espessa do que a vagina.
Ventralmente, a cérvice forma uma projeção
cilíndrica que se situa numa depressão da pa-
rede vaginal. A mucosa uterina, formada pelo
endométrio, possui longas glândulas uterinas
e criptas tubulares curtas. Os ligamentos lar-
gos contêm muita gordura e algum músculo
liso. São bem mais largos no meio do que nas
extremidades. A parte caudal está inserida na
parte cranial da vagina. Os ligamentos redon-
dos estão contidos na borda livre das pregas
emitidas da face lateral dos ligamentos largos.
São faixas de músculo liso e gordura. Cada li-
74
gamento passa através do canal inguinal envol-
to por uma bolsa peritoneal (processo vaginal).
.. Vagina
A vagina, órgão copulatório feminino, es-
tá situada na cavidade pélvica entre o reto,
dorsalmente, e a bexiga urinária e a uretra,
ventralmente. A vagina é relativamente longa.
É estreita cranialmente. A túnica muscular é
espessa e consiste essencialmente em fibras
circulares. A túnica mucosa forma pregas
longitudinais. Nas fêmeas carnívoras madu-
ras, o clitóris retém sua proeminência em-
brionária. O vestíbulo da vagina pode ser cir-
cundado por pregas soltas de pele ou lábios.
Essas pregas (lábio menor) são bem desen-
volvidasnos carntvoros (Getty, 1981).
!li>Vestíbulo
O vestíbulo da vagina liga a vagina na en-
trada da uretra (meato urinário) com a aber-
tura genital externa. As glândulas vestibulares
menores estão muitas vezes presentes.
!li>Vulva
A vulva possui lábios espessos que formam
uma comissura ventral pontiaguda. A muco-
sa é lisa e vermelha. Ela freqüentemente apre-
senta pequenas proeminências causadas por
folículos linfóides.
!li>Clitóris
O corpo do clitóris é largo e plano e tem
aproximadamente de 3 a 4 cm de compri-
mento no animal de tamanho médio. Não é
de estrutura eréctil, mas está infiltrado por
gordura. Já a glande é composta de tecido
eréctil e está situada numa grande fossa, a
fossa clitoridiana.
Ovulação
A ovulaçãoparece ocorrer de maneira sin-
crônica entre 36 e 50 horas após o pico de
LH (Concannonetal., 1977, 1989).Acadela
ovula oócitos primários em estado de vesícula
germinal. O estádio de metáfase 11só é atingi-
do cerca de 2 a 3 dias mais tarde, na porção
distal do oviduto (Holst & Phemister, 1971;
Tsutsui, 1989). Os espermatozóides podem
penetrar o oócito ainda imaturo, porém a .
evolução dos pronúcleos ocorre somente após
o término da meios e (Mahi & Yanagamachi,
1976). A fecundação pode ocorrer, portanto,
somente 4 a 5 dias após o pico de LH. Enfim,
o período de fecundação dos oócitos madu-
ros parece ser extremamente curto, entre 24
e 48 horas (Concannon & Battista, 1989).
Fecundação
A fecundação ocorre na porção distal do
oviduto e o concepto chega ao úter~ no está-
gio de mórula (16 a 32 células) por volta do
10° - 12° dia após o pico de LH (Holst &
Phemister, 1971).
Gestação
A duração da gestação aparente, conside-
rando-se o intervalo entre a primeira cober-
tura e o parto, pode variar de 56 a 72 dias,
com uma média de 64 dias (Concannon,
1986). Asvariações observadas na primeira
cobertura, podendo em casos extremos che-
gar a mais ou menos 10 dias, justifica essa
grande variação na duração da gestação.
Portanto, a verdadeira duração da gestação
é constante quando se utiliza o pico de LH
como ponto de referência, sendo de 65 + 1
dias, ou o primeiro dia do metaestro, sendo
de 57 + 2 dias (Concannon, 1986).
Ciclo Estral
A cadela é uma espécie monoéstrica esta-
cional, possuindo uma fase folicular, também
denominada de fase estrogênica e uma lu-
teal, também denominada de progesterôni-
ca. A fase estrogênica dura em torno de três
semanas e a progesterônica em torno de 2 a
3 meses (Bell & Christie, 1971; Christie et
aI., 1971; Concannon, 1980; Chakraborty,
1987). O intervalo entre dois estros pode va-
riar de 5 a 12 meses (Concannon et al., 1989).
Nem o tamanho da cadela (Christie & Bell,
1971), nem a presença ou ausência de gesta-
ção (Jochle & Andersen, 1977) parecem exer-
cer papel importante nessas flutuações.
O ciclo estral também pode ser dividido
em cinco fases, a saber: proestro, estro (cor-
respondendo à fase folicular), metaestro,
diestro (correspondendo à fase progesterôni-
ca) e anestro (fase de repouso sexual). A ca-
dela é a única espécie de mamífero doméstico
que passa obrigatoriamente por todas as fa-
ses do ciclo, independentemente de haver ou
não gestação.
~ Proestro
O proestro e o estro juntos duram de uma
a duas semanas com variações de 3 dias a 3
semanas (Concannon et aI., 1989). A fase
do proestro caracteriza-se por um rápido de-
senvolvimento dos folículos, um aumento,
seguido de um pico de estrógenos, o surgi-
mento do LH e pelo início do aumento da
secreção de progesterona, fato esse observa-
do exclusivamente nos canídeos que apresen-
tam uma luteinização precoce das células da
teca, antecedendo a ovulação.
Clinicamente, o proestro caracteriza-se
por uma vulva aumentada e congesta, presen-
ça de descargas sero-sanguinolentas e atração
do macho, no entanto, a fêmea não se deixa
ser montada. A cérvice, a vagina e o vestíbulo
aumentam durante o proestro, sobretudo, por
congestão e acúmulo de fluido intersticial
(Allen, 1992).
No início do proestro, o esfregaço vaginal
mostra uma grande quantidade de células san-
guíneas, numerosas células parabasais e algu -
mas pequenas e grandes células intermediá-
rias, podendo também ser observados alguns
neutrófIlos. Esse esfregaço mostra-se bastan-
te "sujo", em virtude da presença de secre-
75
ções viscosas de origem cervical e vaginal. Por
volta da metade do proestro, os neutróftlos
desaparecem e começam a surgir as células
superficiais. No final do proestro, a presença
de células sanguíneas é variável e o "fundo"
da lâmina toma-se claro. A maioria das célulastoma-se superficial, exibindo núcleos vesicu-
lados ou picnóticos, ou mesmo ausentes.
~ Estro
A fase do estro caracteriza-se, por sua
vez, pelo pico de LH, ovulação, redução na
produção de estrógenos, desenvolvimentodo
corpo lúteo e aumento da secreção de pro-
gesterona (Concannon et aI., 1975; Cono-
cannon, 1986). O estro caracteriza-se por
uma vulvatambém aumentada, macia e mo-
le,aceitaçãodo macho e diminuição das des-
cargas hemorrágicas vaginais (Allen,1992).
O inícioda receptividadesexualpode ser sin-
crônico com o pico pré-ovulatório de LH,
mas pode também ocorrer tão cedo quanto
4 dias antes do pico de LH, bem como tão
tarde quanto 6 dias após a ocorrência desse
pico (Concannon, 1986). Em geral, operío-
do normal de acasalamentocomeça um pou-
co antes do pico de LH e termina com a que-
da abrupta da queratinização do epitéliova-
ginal, correspondendo ao início do metaes-
tro, como definidoanteriormente. Ascober-
turas realizadas fora do período do estro são
raramente férteis (Concannon et aI., 1989).
Citologicamente, as células superficiais
são predominantes no esfregaço, represen-
tando um total de 80 a 100% das célulasvi-
sualizadas.As células sanguíneas podem es-
tar presentes ou não. O "fundo" da lâmina é
bastante claro e límpido.
~ Metaestro
A fase luteal, fase de atividade do corpo
lúteo, é conhecido indistintamente sob o no-
me de metaestro ou diestro nos países anglo-
saxônicos (Arthur et aI., 1989), enquanto
76
que em paísescomo a França e a Bélgicacon-
sideram que esses dois termos representem
períodos bem definidos do cicloestral da ca-
dela (Silva, 1995).
Nas espécies de produção, o metaestro
corresponde à fase de formação ou instalação
inicialdo corpo lúteo (primeiros dias após a
ovulaçãoaté a fase de secreção plena de pro-
gesterona; Arthur et al., 1989). Na espécie
canina, o corpo lúteo começa a se constituir
desde 48 horas antecedendo a ovulação, ou
seja,durante o estro, e apresenta o seu desen-
volvimentomáximo durante o diestro (Con-
cannon et aI., 1977). Portanto, o metaestro
não pode ser definido como sendo a fase de
instalação do corpo lúteo; ele corresponde à
fase do ciclo seguipte ao estro, iniciando-se
com a descamaçãomaciça do epitéliovaginal
(Concannon & Digregorio, 1986). A defini-
ção dessa fase e seu reconhecimento parece
importante, pois ela permite facilmente de-
terminar-se o fim do estro citológico. Den-
tro do contexto da inseminação artificialpor
via intravaginal, o metaestro parece ser o li-
mitealémdo qual nenhuma fecundaçãopode
ser obtida (Tsutsui, 1975).
Como comentado anteriormente, o me-
taestro na cadela é caracterizado apenas do
ponto de vistacitológico. O reconhecimento
do metaestro citológico faz-se através da obser-
vação de um esfregaço vaginal, contendo to-
dos os tipos celulares, ou seja, desde células
superficiais anucleadas e nucleadas, passan-
do pelas células intermediárias até as células
parabasais, além de uma grande quantidade
de polimorfonucleares revestindo o fundo da
lâmina, imagem denominada de "tapete" de
polimorfonucleares. Outra característica típi-
ca do metaestro manifesta-se pela presença
das chamadas células do metaestro (metaes-
trum cells) e as células de sabão (foam cells).
As primeiras tratam-se de células com poli-
morfonucleares fagocitados no interior de
seu citoplasma e as segundas, células com
inclusões lipídicas também no citoplasma. A
imagem citológica do metaestro corresponde
à descamação maciça do epitélio vaginal em
decorrência da redução dos níveis de estró-
geno circulante no sangue. Essa descama-
ção dura em torno de 2 a 3 dias e o primeiro
dia, que é o mais característico, é denomi-
nado de rush do metaestro.
.. Diestro
O diestro corresponde à fase de atividade
do corpo lúteo e vem em seguida ao metaes-
tro. O diestro termina com a parturição e en-
tre 70 e 120 dias após o pico de LH pela re-
gressão progressiva do corpo lúteo na cadela
não gestante (Concannon, 1980; Chakra-
borty et aI., 1982). Ao final do estoo, dentro
de um período que vai de 24 a 48 horas, o
número de células superficiais é reduzido pa-
ra cerca de 20%, observando-se uma maioria
de células parabasais e intermediárias, carac-
terizando o diestro.
.. Anestro
O período que compreende o final da fase
luteal e o início da fase folicular é denomina-
do anestro. Esse tem sido tradicionalmente
descrito como um período de quiescência do
eixo ovário- hipofisário. Clinicamente, é um
período de inatividade reprodutiva, porém,
endocrinologicamente, a atividade hormonal
é flutuante. Sua duração é em média de 4,5
meses, mas pode variar de acordo com a ra-
ça, idade, estado sanitário, período do ano,
ambiente e diversos outros fatores. Durante
esta fase, o útero atinge sua inyolução com-
pleta, havendo um completo reparo endome-
trial. O esfregaço vaginal realizado nessa fase
mostra a presença de células parabasais e in-
termediárias, sob um "fundo" claro ou gra-
nulado, onde os neutrófIlos e as bactérias da
flora vaginal normal podem ou não ser vi-
sualizados (Feldman & Nelson, 1996).
Perfil Hormonal
Os valores de LH são variáveis durante o
anestro, no entanto, ligeiramente elevados
em comparação com os valores médios obser-
vados durante a maior parte do proestro (Con-
cannon, 1993). A secreção de LH é pulsátil
e aumenta logo antes do proestro, atingindo
valores 20 a 40 vezes maior durante o perío-
do pré-ovulatório, ao fim do proestro (Con-
cannon, 1993). A diminuição da relação es-
trógeno/progesterona que ocorre quando os
folículos atingem a maturidade é, provavel-
mente, o desencadeador do pico pré-ovulató-
rio de LH. Esse pico persiste durante 24 a
72 horas (Concannon, 1993). A descarga de
LH é responsável pelo crescimento terminal
rápido e pela luteinização dos folículos pré-
ovulatórios. Esses folículos passam de 1-2 mm
no início do proestro a 8-9 mm de diâmetro
ao final do proestro e secretam estrógenos e,
depois, progesterona. Os folículos luteiniza-
dos pré-ovulatórios e folículos pós-ovulató-
rios têm uma aparência muito semelhante.
Os dados referentes ao FSH são muito
restritos e baseiam-se em dosagens heterólo-
gas, cuja sensibilidade e especificidade são
extremamente reduzidas. Os valores de FSH
estariam elevados durante o anestro, forte-
mente reduzidos durante o proestro, enquan-
to que um pico simultâneo ou ligeiramente
dissociado do pico de LH seria observado no
início do estro (Concannon, 1993).
As taxas plasmáticas de estradiol apresen-
tam flutuações cíclicas desde alguns dias an-
tes do proestro (Jeffcoate, 1993). No entan-
to, o aumento torna-se significativo com a
aparição do proestrp comportamental e o
pico é atingido ao final do proestro (183,5 e
367 pmol/l) aproximadamente 1a 2 dias an-
tes do pico pré-ovulatório de LH. O estradiol
diminui em seguida progressivamente para
atingir níveis basais por volta do dia 6 ou 7
do ciclo (Concannon, 1993; Onclin & Vers-
tegen, 1997).
77
Os valores de progesterona aumentam
progressivamente desde o fim do proestro,
permanecem elevados durante a gestação
(47,4 a 286,2 nmol/l) e declinam brusca-
mente quando ocorre o parto ou progressiva-
mente quando ocorre o fim da fase luteal na
cadela não gestante (Concannon et al., 1989;
Onclin & Verstegen, 1997). Apesar do fato
de o corpo lúteo começar a diminuir de ta-
manho após o 37° dia de gestação, é somente
a partir do 45° dia que a regressão morfológi-
ca torna-se aparente (Dore, 1989). A regres-
são continua lentamente e vestígios do corpo
lúteo podem ser detectados durante 2 ou 3
ciclos consecutivos. Os valores dos andróge-
nos tendem a seguir o perftl da progesterona
durante a gestação.
Os perfis hormonais observados na cade-
la gestante são semelhantes àqueles observa-
dos na cadela em diestro sem gestação (Con-
cannon et aI., 1975; Onclin & Verstegen,
1997). As maiores diferenças endócrinas ob-
servadas durante a gestação são o aumento
plasmático nas taxas de prolactina (Onclin
& Verstegen, 1997) e de relaxina durante a
segunda metade da gestação (Steinetz et aI.,
1987, 1989; Tsutsui & Stewart, 1991).Procedimentos no Macho
Seleção de Reprodutores
A seleção de doadores pode exercer um
efeito significativo sobre a fertilidade do sê-
men congelado, tal qual é descrito para ou-
tras espécies (England, 1993), visto que exis-
te uma marcada variação individual entre os
cães. Desse modo, na seleção de cães repro-
dutores, deve ser feita uma detalhada ana-
mnese, verificando-se através desta o desem-
penho reprodutivo anterior do macho e pro-
blemas de saúde atuais ou prévios. Deve tam-
bém ser procedido um cuidadoso exame clí-
nico geral e andrológico específico, que deve
incluir a inspeção e palpação dos órgãos re-
78
produtivos, observando-se principalmente o
tamanho e a consistência testicular, visto que
cães com espermatogênese anormal frequen-
temente têm testículos de consistência inferior
à normal. Em seguida, procede-se a colheita
e avaliação do sêmen e inspeção do compor-
tamento de monta (libido), podendo ter conti-
nuidade com testes hormonais e análises cro-
mossômicas (Christiansen, 1988; Freshman
et aI., 1988; Feldman & Nelson, 1996).
Colheitade Sêmen
Os cães possuem relativamente baixa pro-
dução de espermatozóides quando compara-
dos a animais de outras espécies (Amann,
1981). Como determinado pelo Colorado Sta-
te University Anim~ Reproduction Laborato-
ry, a média diária de produção espermática
no cão é de aproximadamente 14 x 106 sptz
por grama de parênquima testicular ou 482
x 106 sptz por cão. Quando os cães ejacu-
Iam diariamente, sua produção vai decres-
cendo. Portanto, recomenda-se a frequência
de apenas 1 a 2 colheitas semanais, com
intervalo de 4 a 5 dias. (Olar, 1985).
Segundo Harrop (1955), foi Freiberg, em
1935, quem primeiramente identificou o fra-
cionamento na ejaculação do cão, propondo
a colheita fracionada. A primeira fração, ou
pré-espermática, é composta de algumas go-
tas de fluido claro, sendo que determinados
cães podem ejacular até 2 ml dessa fração, a
qual tem a origem na próstata e supõe-se ser
responsável pela limpeza e estabilização do
pH no canal uretral. A segunda fração ou es-
permática, de origem testicular, é aquela rica
em espermatozóide, cujo volume varia con-
forme o tamanho testicular e a variação indi-
vidual, de 0,5 a 5 rol, possuindo um aspecto
turvo, leitoso e opalescente. A terceira e
maior fração é o fluido prostático, que pode
ser de até 30 ml e deve ser claro e facilmente
distinguível da fração espermática; sua fun-
ção é servir como um meio dilui dor natural
proporcionando o transporte dos espermato-
zóides no trato genital da cadela. (Christian-
sen, 1988; Feldman & Nelson, 1996).
O sêmen é facilmente colhido de cães, em
especial daqueles com experiência prévia de
acasalamento. A presença de uma cadela em
estro pode melhorar a qualidade do ejacula-
do, particularmente no caso de cães inexpe-
rientes ou tímidos. O local da colheita deve
ser tranqüilo e livre de distrações, com piso
seguro para os animais (Nelson & Couto,
1994). Diversos métodos foram reportados
para a colheita de sêmen nesta espécie, por
exemplo: massagem digital, uso de uma vagi-
na artificial ou vibrador elétrico, e eletroeja-
culação (Harrop, 1955; Christiansen, 1988).
Boucher et aI. (1958) verificaram. que a ma-
nipulação digital é superior a uma vagina ar-
tificial, e que esse método mostrou-se espe-
cialmente confiável mesmo para cães não
condicionados. Althouse et aI. (1991) obser-
varam que a exposição do sêmen fresco às
luvas de látex e/ou vinil causa um imediato
decréscimo na motilidade espermática, de-
vendo-se evitar tal contato durante a mani-
pulação digital, que é hoje o método de elei-
ção para a colheita do sêmen do cão.
A técnica de manipulação digital consiste
em massagear o prepúcio do cão na altura do
bulbo cavernoso, estrutura anatõmica pró-
pria do cão implicada em sua ejaculação na-
tural. A ereção tem lugar com a protusão do
pênis. O prepúcio é então retraído por trás
do bulbo, com uma ação escorregadia da
mão da pessoa que está colhendo. O pênis é
apertado com moderada pressão entre o de-
do indicador e o polegar, posteriormente ao
bulbo (Seager & Fletcher, 1972; Christian-
sen, 1988). Os movimentos pélvicos de mon-
ta são coincidentes com a ejaculação da fra-
ção pré-espermática e persistem por cerca de
1 a 2 minutos. O cão se torna imóvel enquan-
to a fração espermática é ejaculada pelos pró-
ximos 30 a 60 segundos. Finalmente, o cão
tenta girar a perna durante a ejaculação da ter-
ceira fração, entre 10 e 45 minutos (Morton
& Bruce, 1989). O ejaculado é colhido em
frações com o auxílio de um funil de vidro
ou plástico que desemboca em tubos gradua-
dos (Gill et al., 1970), devendo-se evitar con-
tato direto entre o pênis do cão e o material
de colheita, o qual deve ser mantido a aproxi-
madamente 38°C (Seager & Fletcher, 1972).
Análise do Sêmen ou Espermograma
A análise padrão do sêmen é rotineira-
mente utilizada para avaliar a qualidade es-
permática canina e é realizada através da ava-
liação da fração espermática do ejaculado. A
avaliação macroscópica do sêmen do cão in-
clui a observação do volume, coloração e vis-
cosidade. O volume pode variar de acordo
com a raça, idade, tamanho, clima e freqüên-
cia de colheita, porém não tem correlação
com a fertilidade do animal. A coloração do
sêmen pode variar desde o transparente até
o branco-opalescente, sendo que sua varia-
ção, da mesma forma que a viscosidade se-
minal, está bastante associada à concentra-
ção espermática. A coloração é importante
porque pode permitir o diagnóstico inicial de
alguma patologia do aparelho reprodutor,
visto que a presença de elementos estranhos
como a urina, o sangue e o pus podem alterá-
Ia e, conseqüentemente, afetar a viabilidade
dos espermatozóides (Sorribas, 1995).
A análise microscópica do sêmen inclui a
avaliação do pH, concentração, motilidade,
vigor e morfologia espermática. O pH nor-
mal do sêmen canino oscila entre 6,3 e 6,7 e
pode variar caso haja contaminação com o
líquido prostático. A concentração espermá-
tica corresponde ao número de espermato-
zóides por mililitro de s~men e pode ser de-
terminada através de diversos métodos, des-
de que estes sejam baseados nos princípios de
contagem celular através da câmara de Neu-
bauer (Nelson & Couto, 1994). A espectro-
79
fotometria é um método bastante seguro para
a determinação da concentração espermática
e consiste na observação de sua correlação
com a tramitância observada em espectrofo-
tômetro, sob um comprimento de onda de
580nm, fazendo-se a diluição de 0,1 ml de
sêmen para 5 ml de solução salina formoli-
zada a O,1% (Olar et al., 1983; Cardoso et al.,
1997). Além desse, existe a análise computa-
dorizada do sêmen que, além da concentra-
ção, avalia todos os demais parâmetros es-
permáticos (Ellington et aI., 1993). Um cão
normal, deve exibir uma concentração esper-
mática mínima de 200 milhões de esperma-
tozóides por ml (Feldman & Nelson, 1996).
Entretanto, este parâmetro pode ser bastante
influenciado pelo fluido prostático, o qual po-
de também ter efeito deletério sobre os esper-
matozóides no decorrer da conservação, de-
vendo portanto, ser evitada a diluição da fra-
ção espermática com o mesmo (England &
Allen,1992).
A motilidade espermática, que é a porcen-
tagem de espermatozóides móveis na amos-
tra, deve ser avaliada imediatamente após a
colheita, com o auxílio da microscopia óptica
(Seager & Fletcher, 1972). Uma gota de sê-
men deve ser colocada em uma lâmina pre-
viamente aquecida e microscopicamente exa-
minada sob os aumento de 100, 200 ou
400x. Uma amostra normal de sêmen deve
exibir uma motilidade mínima de 70% (Feld-
man & Nelson, 1996). O status da motilida-
de ou vigor espermático, que é a qualidade
da motilidade exibida pelos espermatozóides
móveis, deve ser também avaliado. Para tan-
to, Platz & Seager (1977) sugerem o uso de
uma escala, onde:
O: todos os espermatozóides sem movi-
mento
1: movimentos lentos látero-Iaterais, sem
progressão
2: rápidos movimentos látero-Iaterais,
sem progressão
80
3: rápidos movimentos látero-Iaterais,com ocasional progressão
4: lenta e contínua progressão
5: rápida e contínua progressão
No sêmen canino, não se costuma obser-
var o movimento de onda característico do
sêmen de ruminantes (Christiansen, 1988).
Burke (1986) sugere que as alterações na
morfologia espermática podem ser classifica-
das como primárias, quando oriundas de
problemas na espermatogênese, ou secundá-
rias, quando originadas durante o processo
de maturação espermática, através da passa-
gem das células espermáticas pelo epidídimo,
ou mesmo, provocadas no decorrer dos pro-
cedimentos de manipulação do sêmen. Para
a avaliação da morfologia, faz-se um esfre-
gaço de sêmen, podendo ser empregados di-
versos corantes para facilitar, sendo os mais
comumente utilizados a eosina e a nigrosina
(Morton & Bruce, 1989; Nelson & Couto,
1994). Um outro corante, que se encontra
comercialmente disponível, possível de ser
utilizado e que vem dando bons resultados é
o Spermac (Oettle, 1993).
Diluidores Para o Sêmen do Cão
O sêmen apropriadamente diluído pode
ser imediatamente utilizado, resfriado ou
congeladopor tempo indeterminado, perma-
necendo potencialmente fecundante quando
reaquecido e utilizado em uma inseminação
artificial. Desse modo, faz-se necessário o
uso de um bom diluidor, o qual deve conter
nutrientes como uma reservade energia, ser-
vir como tampão ajustando as alterações do
pH; promover uma pressão osmótica e con-
centração de eletrólitos dentro dos padrões
fisiológicos;preveniro crescimento de bacté-
rias; proteger as célulascontra o choque tér-
mico durante o processo de resfriamento e
possuir crioprotetoresque reduzam os danos
às célulasespermáticasdurante a congelação
e posterior descongelação (Concannon &
Batista, 1989). A atividade metabólica do es-
permatozóide resulta num acúmulo de íons
hidrogênio. Se não houver nenhum mecanis-
mo para tamponar o excesso de hidrogênio,
o pH do diluidor diminui e a longevidade,
juntamente com a fertilidade do espermato-
zóide, decrescem (Rodrigues, 1997). Portan-
to, sistemas de tampão são utilizados nos di-
luidores de sêmen.
Seager (1969) descreveu um diluidor com
11% de lactose e diversos autores utilizaram
esse meio modificado (Andersen, 1972; Sea-
ger et al., 1975; Platz & Seager, 1977; Seager
& Platz, 1977a; Yubi et aI., 1987). Foote
(1964) utilizou o tampão Tris-gema-citrato
no sêmen canino. Modificações desse método
também têm sido amplamente utilifadas (Gill
etal., 1970; Andersen, 1972). Um outro dilui-
dor também utilizado é PIPES-glicose-citra-
to (Andersen, 1975). Todos esses métodos in-
cluem a gema de ovo que também possui ca-
pacidade tamponante.
O Tris tem como desvantagem o fato de
ser um tampão relativamente pobre quando
em pH 7,0; nesse caso, outros tampões são
mais eficazes. Entretanto, a maioria dos gru-
pos de pesquisa da atualidade tem utilizado
o tampão Tris-frutose original sem modifi-
cações, ou tem continuado a desenvolver
esse tampão, por exemplo, pela substituição
do monossacarídeo frutose pela glicose, a
qual tem atividade nutricional e osmótica,
ou ainda pelos dissacarídeos não penetran-
tes sacarose e lactose, os quais agem como
crioprotetores extracelulares, além de pro-
porcionarem um efeito osmótico favorável
(Farstad, 1996).
O Tris é um agente emulsificante usado
em medicina para combater a acidose. É so-
lúvel em água e comporta-se como uma base
fraca. São ainda notórias sua capacidade na
redução do índice de frutólise e sua contri-
buição na preservação da energia espermá-
tica. Sua composição, em geral, corresponde
a uma solução constituída por 3,028g de
Tris-hidroximetil-aminometano, 1,78g de
ácido cítrico mono-hidratado e 1,25g de D-
frutos e, dissolvidos em 100 ml de água desti-
lada, sendo que esta solução deve apresentar
uma osmolaridade entre 300 e 310 mOsm/
I com pH em torno de 6,6. O uso deste dilui-
dor adicionado de gema de ovo e glicerol tem
oferecido excelentes resultados in vitro, sen-
do observados de 60 a 70% de espermatozói-
des móveis após a descongelação (Silva et al.,
2000a, Strom et aI, 1997).
Inúmeras companhias comerciais tem
também desenvolvido seus próprios diluido-
res. Encontra-se disponível comercialmente
o Triladyl (Minitub, Tiefenbach, Alemanha),
composto por Tris como principal agente
tamponante, ácido cítrico, frutose, glicerol,
tilosina, gentamicina, espectinomicina e linco-
micina (Nothling et al., 1995). Silva & Vers-
tegen (1995) realizaram inseminações artifi-
ciais com sêmen congelado tanto em uma
mistura dos tampões Tes/Tris, quanto com
os diluidores comerciais Laiciphos 478 e Bio-
ciphos W 482 (IMV, França), o qual foi espe-
cialmente desenvolvido para a congelação do
sêmen do cão. Esses autores obtiveram uma
taxa de concepção de 60% com o Laiciphos
e a mistura de Tes/Tris, enquanto que com
o uso do Biociphos obtiveram 100% de con-
cepção. Além disso, os autores verificaram
que os espermatozóides diluídos e congela-
dos em Biociphos exibiam motilidade e vigor
espermático mais baixos que nos demais di-
luidores, provavelmente devido a uma maior
viscosidade do mesmo, o que não veio a in-
terferir nas taxas de concepção. Um outro
meio comercial bastante utilizado e que vem
proporcionando excelentesresultados in vitro
e in vivo é o diluidorCLONE produzido pelo
Cryogenic Laboratories of New England,
Inc. (Govetteet al., 1996;Strõm et al., 1997).
Entretanto, a grande desvantagemdos dilui-
dores comerciais é que sua exata composi-
ção não é divulgada.
81
Recentemente, no Brasil, foi descrito o uso
de um diluidor para a congelação do sêmen
de cães à base de água de coco, a qual é uma
solução estéril, ligeiramente ácida, rica em
proteínas, sais, açúcares, vitaminas, fatores
de crescimento e pobre em fosfolipídios. Para
uma perfeita compatibilidade dessa substân-
cia com o sêmen canino, faz-se necessário o
preparo de uma solução base contendo em
média 50% de água de coco, 25% de água
destilada e 25% de citrato de sódio a 5%, com
a osmolaridade corrigida para 300 - 310
mOsm/L e o pH para 6,2 - 6,6. Após a des-
congelação do sêmen de cães, o diluidor à
base de água de coco proporcionou motilida-
de e vigor espermático em torno de 50% e
3,0, respectivamente (Cardoso et aI., 2000).
Protetores de Resfriamento e Crioprotetores
A adiçãode protetoresde resfriamento,co-
mo a gema de ovo, e de crioprotetores, como
o glicerolou dimetilsulfóxido(DMSO), açú-
carescomo a lactoseou a sacarose,polímeros
macromoleculares ou detergentes como o po-
livinilpirrolidona, Orvus ES -Paste ou o Equex
STM-Paste, é necessária para proteger o es-
permatozóide durante o resfriamento, conge-
lação e descongelação (Farstad, 1996).
A gema de ovoé o componente de origem
biológica mais largamente utilizado na com-
posição dos diluidores para o sêmen (England,
1993). Ela contém lecitina (fosfatidilcolina),
a qual acredita-se proteger a membrana por
restaurar os fosfolipídiosperdidos durante o
choque térmico (Hammerstedt et al., 1990).
Durante o choque térmico, os fosfolipídios
interagem com a estrutura lipídica da mem-
brana plasmática das células espermáticas e
proporcionam a proteção. As lipoproteínas
ligam-se à membrana da célula espermática
e ajudam a preservar a integridade celular du-
rante o armazenamento (Bouchard et aI.,
1990). Entretanto, a gema apresenta uma
possibilidade de transmissão de doenças. Por
82
isto, diversas pesquisas visando sua substi-
tuição por outros lipídios sintéticos e puri-
ficados estão sendo conduzidas, sendo que
osanálogosdo hidroxitolueno-butilado(BHn,
os quaistêmmostradoprotegera membra-
na plasmática da injúria do choque térmico,
podem vir a ser eventuais substitutos (Fars-
tad, 1996).
Para a preservação de sêmen canino, dife-
rentes concentrações de gema de ovo vêm
sendo utilizadas. O diluidor de Andersen
(1972) contém 20% de gema de ovo; quan-
tidades similares têm sido empregadas por
outros pesquisadores (Farstad & Andersen-
Berg, 1989; Fergunson et aI., 1989; Linde-
Forsberg & Forsberg, 1989; Silva & Verste-
gen, 1995; Silva et aI., 1995ab; Silva et aI.,
2000b). Nos diluidoresà base de Tris para a
congelaçãodo sêmende cãese raposas,a pro-
porção de gema de ovo varia de 10 a 20%.
Visto que a mesma também tem uma capaci-
dade de tampão, sua quantidade depende da
capacidade tamponante dos outros ingre-
dientes do diluente (Farstad, 1996).
O glicerol (CH3HsO3), um álcool polihí-
drico altamente permeável, é o crioprotetor
mais empregado na congelação de sêmen nas
diferentes espécies (Rodrigues, 1997). En-
tretanto, foram observados efeitos tóxicos so-
bre os espermatozóides (McLaughin et aI.,
1992), envolvendo todas a zonas da mem-
brana (Hammerstedt et al., 1990). Segundo
England (1993), a concentração crioprote-
tora ótima representa baixa toxicidade e alta
proteção, ressaltando-se que altas concentra-
ções podem também afetar a capacidade fer-
tilizante do espermatozóide (England, 1993).
Ravaszova et aI. (1996) testaram o efeito de
4, 6 e 8% de glicerol no diluidor à base de Tris
na criopreservação de ejaculados caninos e
observaram que as concentrações de 4 e 6%
de glicerol são as mais apropriadas para tal
processamento, havendo uma tendência a
uma melhor eficiência da concentração de
6% de gliceroI.
Sêmen Fresco
Ainseminação artificial com sêmen a fres-
co é a que oferece melhores taxas de gestação
e quando bem conduzida, oferece resultados
similares aos da monta natural (Silva et aI.,
1996a). No entanto, o sêmen a fresco é o
que permite menor flexibilidade quanto à sua
utilização. a diluidor empregado pode ser o
próprio líquido prostático autólogo (Nõth-
ling & Volkmann, 1993). Caso o volume ou
a concentração espermática não seja sufi-
ciente para a IA, pode-se realizar uma segun-
da colheita de sêmen para incrementar a
amostra. England (1999) demonstrou que
uma segunda colheita em um curto intervalo
de tempo não afeta a qualidade espermática.
Para a inseminação artificial inttavaginal
com o sêmen fresco, faz-se necessária a ex-
pansão da fração espermática, a qual é geral-
mente realizada adicionando-se o líquido
prostático até ser atingido o volume mínimo
de 6,0 mI. Entretanto, caso o animal não ve-
nha a ejacular um volume suficiente de líqui-
do prostático, pode-se fazer uso de diluido-
res, tais como o Tris, água de coco, solução
de citrato de sódio (2,9%), solução fisiológi-
ca de c1oreto de sódio, dentre outros.
Sêmen Resfriado
A longevidade do sêmen refrigerado de-
pende da qualidade espermática inicial, da
temperatura de conservação e do diluidor
empregado (Yubiet aI., 1987). A temperatu-
ra de manutenção do sêmen refrigeradovaria
entre 4 e 5°C (Provinceet al., 1984; England
& Ponzio, 1996). a sêmen refrigerado per-
mite um pouco mais de flexibilidadedo que
o a fresco, podendo ser utilizado por um pe-
ríodo médio de 4,9 dias (England & Ponzio,
1996). No entanto, resultados espetaculares
têm sido conseguidos, prolongando-se a via-
bilidade espermática de 13 a 21 dias (Iguer-
auada & Verstegen, 2001 ab) .
Naqueles casos em que não é necessário
o emprego imediato do sêmen colhido, pode-
se prolongar sua viabilidade através da adi-
ção de dilui dores associados a um protetor
de resfriamento (Sorribas, 1995). Diversos
diluidores podem ser empregados para este
procedimento, tomando-se como exemplo o
Tris-gema e o leite desnatado. Para o resfria-
mento do sêmen, mudanças rápidas de tem-
peraturas devem ser evitadas, pois quando
o procedimento é apropriadamente conduzi-
do, o espermatozóide pode permanecer viá-
vel por um período variável de 24 horas a 5
dias (Feldman & Nelson, 1996).
De uma forma geral, independente do di-
luidor empregado, faz-se sua diluição da fra-
ção espermática em uma proporção que po-
de variar de 1:1 aI: 10, de acordo com a con-
centração espermática. Uma vez diluído, o
sêmen é acondicionado em tubos graduados,
os quais são colocados em banho-maria e le-
vados a uma caixa térmica ou refrigerador,
para que após um período aproximado de
uma hora, seja alcançada uma temperatura
entre 4 e 6°C.
Sêmen Congelado
a sêmen congelado é o que oferece maior
flexibilidade de uso, porém é o que sofre as
mudanças mais drásticas quanto à sua quali-
dade pós-descongelação (Concannon & Bat-
tista, 1989). As taxas de gestação com sêmen
congelado variam muito e ficam abaixo dos
resultados obtidos com sêmen a fresco (Silva
et aI., 1996b; Linde- Forsberg et aI., 1999;
Rota et aI., 1999). Entretanto, taxas de gesta-
ção de 100% com sêmen congelado insemi-
nado via intrauterina já foram relatadas (Silva
& Verstegen, 1995).
Diversas metodologias têm sido descritas
para a congelação do sêmen de cães e variam
de acordo com o diluidor, protetores de res-
friamento e agentes crioprotetores emprega-
dos, preconizando o uso de diferentes velo-
83
cidades de congelação. Dentre os diversos
métodos existentes, um ponto básico de su-
ma importância é o período de equilíbrio.
Entretanto, alar (1984) verificou não exis-
tirem diferenças entre amostras de sêmen
resfriadas e equilibradas por uma, duas ou
até três horas.
O método mais usual para a congelação
do sêmen canino é aquele descrito por An-
dersen (1975). Nesse método, realiza-se a
diluição do sêmen na proporção de 1:4 com
Tris-frutose-ácido cítrico, contendo 8% de
glicerol e 20% de gema de ovo. Em seguida,
procede-se o período de equilíbrio a 5°C por
três horas, o envase em palhetas de 0,5 mI e
a congelação através da exposição aos vapo-
res de nitrogênio, seguindo-se o acondicio-
namento em botijão criobiológico. Atualmen-
te, essa metodologia tem servido como base
para inúmeros trabalhos, os quais têm reali-
zado pequenas modificações na mesma e al-
cançado excelentes resultados in vitro, tendo
sido verificada motilidade espermática após
a descongelação em torno de 70% (Strõm
et a1., 1997), bem como excelentes taxas de
concepção após inseminações artificiais (An-
dersen, 1975; Ferguson et a1., 1989).
O método CLONE é um método comer-
cial desenvolvido pelo Cryogenic Labora-
tories ofNew England, Inc. (CLONE) e tem
sido utilizado desde 1983. Ele consiste na di-
luição do sêmen à temperatura ambiente em
um diluidor denominado CLO NE A. subme-
tendo-se, em seguida, o sêmen diluído a um
período de equilíbrio por uma hora a 4°C.
Faz-se uma segunda diluição com o diluidor
CLONE B e o envase em palhetas de 0,5 rol,
as quais são congeladas através da exposição
vagarosa aos vapores de nitrogênio. Esse mé-
todo tem também proporcionado motilidade
pós-descongelação em torno de 70% (Strõm
et al., 1997) e taxas de concepção em torno de
86,4%apósinseminação (Govetteetal., 1996).
Silva et a1. (2000a) congelaram o sêmen
de cães com diluidores à base de Tris e água
84
de coco, ambos submetidos a uma modifica-
ção da metodologia descrita por Nunes et a1.
(1997) para a congelação do sêmen de ca-
prinos com o diluidor à base de água de coco.
Esse método consistiu em uma primeira di-
luição do sêmen a 37°C com uma primeira
porção do diluidor Tris ou água de coco adi-
cionados de 20% de gema de ovo. Em segui-
da, procede-se um período de equilíbrio por
40 minutos a 15°C em caixa térmica e mais
30 minutos no banho-maria em um refrige-
rador até ser atingida a temperatura de 4°C.
Nesse momento, faz-se a adição da segunda
porção do diluidor adicionado de gema de
ovo e de 12% de glicerol, a fim de que seja
atingida uma concentração final de 6% de
glicerol no diluicJor. Por fim, faz-se o envase
do sêmen em palhetas de 0,25 mllacradas
com álcool polivinílico e a exposição das
mesmas aos vapores de nitrogênio, a uma al-
tura de 5 cm do nível do nitrogênio líquido,
durante cinco minutos. Efetuado esse proce-
dimento, as palhetas são acondicionadas em
botijão criobiológico a -196°C.
Uma diversidade de pesquisadores tem
investigado diferentes meios para a congela-
ção do sêmen na forma de pastilhas (Battista
et al., 1988) ou em palhetas com diferentes
volumes de sêmen (Battista et al., 1988; alar
et al., 1989). As curvas de congelação podem
ser essencialmente diferentes para a congela-
ção em pastilhas e palhetas, e o uso do mes-
mo padrão de descongelação quando com-
parando os dois métodos de envase poderia
complicara interpretação dos resultados. A
congelação em palhetas tem a vantagem so-
bre as pastilhas em facilitar a identificação
do doador de sêmen e reduzir a possibilidade
de contaminação, a qual se torna importante
com o transporte de sêmen congelado entre
os países (Farstad, 1996).
De maneira análoga ao processo de con-
gelação espermática, existem vários proto-
colos preconizando diferentes temperaturas
e velocidades de descongelação para o sêmen
canino. Usualmente, este processo é realiza-
do sob imersão em banho-maria a tempera-
turas que variam de 37°C (Linde- Forsberg,
1991) a 75°C (Olar et aI., 1989).
alar et alo(1989) descongelaram sêmen
canino de forma lenta, a 1°Cpor 120s; de for-
ma moderada, a 35°C por 30s; e de forma
rápida, a 75°C por 12s, obtendo bons resulta-
dos com os três processos, mas observando
uma tendência à melhor eficácia do processo
rápido. Kim & Kim (1995) sugerem não exis-
tir diferenças quanto a motilidade e viabilidade
no sêmen canino descongelado a 5°C por 30
minutos, 37°C por 30s ou 75°C por 10s.
Badinand et aI. (1993) descongelaram
amostras de sêmen a 37°C por 45 segundos
e consideraram esse método mais seguro,
pois o tempo de permanência em temperatu-
ras altas é sempre crítico e de influência letal
sobre a viabilidade dos espermatozóides. Po-
rém, Ivanova-Kicheva et aI. (1995), compa-
rando os processos de descongelação a 37°C
por 8s e 55°C por 5s, observaram que a mo-
tilidade espermática foi melhor preservada a
55°C e sugeriram que a elevação da tempera-
tura de descongelação reduz o dano osmóti-
co das células, além de prevenir a formação
de cristais.
A diluição, resfriamento, congelação e
descongelação da célula espermática canina
são processos que provocam mudanças na
estrutura da bicamada e na função da mem-
brana plasmática. Além disso, o glicerol tem
um efeito direto sobre cada zona da membra-
na, bem como sobre a suspensão celular nos
compartimentos aquosos. Quando uma mem-
brana biológica é resfriada, ocorre possivel-
mente uma reorganização dos componentes
membranários e alguns lipídios que normal-
mente encontram-se adjacentes às proteínas
da membrana poderiam agregar-se, deixan-
do as proteínas livres para se ligarem a novas
substâncias (Rodriguez-Martinezetal., 1993).
o resultado mais evidente dessas mudan-
ças é a redução na motilidade espermática,
que é a característica mais freqüentemente
avaliada para se determinar o sucesso do pro-
cesso de criopreservação (England, 1993).
England & Ponzio (1996) relataram que nas
amostras de sêmen descongeladas existe uma
marcada deterioração na qualidade espermá-
tica, a qual é indicada por uma redução da
motilidade espermática, da porcentagem de
espermatozóides morfologicamente normais
e do tempo de sobrevivência espermática,
bem como, por um aumento na osmolarida-
de, se comparados com o ejaculado original.
Segundo Farstad (1996), uma preserva-
ção bem sucedida de espermatozóides pelo
resfriamento, congelação e descongelação é
dependente de uma série de fatores, como a
qualidade da amostra de sêmen, adição de
diluidores, padrão de diluição, tipo de tam-
pão, protetores de resfriamento empregados,
tempo de equilíbrio, padrão de congelação e
descongelação. A interação desses fatores
objetiva a redução do dano celular, assegu-
rando uma sobrevivência espermática ade-
quada in vitro e in vivo.
Procedimentos na, Fêmea
Acompanhamentodo ciclo Estral
Para o sucesso da IA, é imprescindível que
se faça o correto acompanhamento do estro
da cadela a ser inseminada. A determinação
do momento ideal para inseminar é uma das
chaves de sucesso e é tão mais importante,
quanto mais o sêmen sofre algum tipo de be-
neficiamento. Isso se deve ao fato de que a
viabilidade espermática reduz-se com o res-
friamento e, ainda mais com a congelação.
O sêmen a fresco tem uma viabilidade que
pode chegar até 11 dias quando se encontra
no trato reprodutor da cadela (Doak et aI.,
1967); ao passo que o sêmen congelado apre-
senta uma viabilidade de cerca de 24 horas.
A IA intravaginal, por exemplo, deve ser feita
85
num período máximo de até seis dias após o
pico de LH, pois Silva et alo(1995a) demons-
traram que a cérvice da cadela em estro fe-
cha-se, em média, 6,7 dias após esse pico.
~ Modificações Anatômicas
e Comportamentais
De um modo geral, clinicamente, o proes-
tro caracteriza-se pela vulva edemaciada,
uma descarga vaginal sero-sanguinolenta e
a atração do macho, porém sem haver acei-
tação de cópula pela fêmea. Enquanto que o
estro caracteriza-se pela vulva aumentada e
mole, diminuição das descargas vaginais e
aceitação do macho (Allen, 1992).
~ Citologia Vaginal
Para o acompanhamento da cadela, a for-
ma mais prática e usual é através de seu com-
portamento sexual, associado à citologia vagi-
nal. O perfIl citológico da cadela sofre mudan-
ças bem características de acordo com as fases
do ciclo estral (Schutte, 1967). Em cadelas
normais, a conjunção dos dois métodos mos-
tra-se bastante eficaz. Dessa forma, a insemi-
nação artificial deve ser realizada quando a
fêmea está receptiva ao macho e apresenta
uma citologia com pelo menos 70% de células
superficiais. No entanto, uma grande parcela
de cadelas candidatas à inseminação artificial
são justamente aquelas que têm desvio de
comportamento, não aceitando a cópula e não
manifestando comportamento sexual normal.
Nesses casos, esse parâmetro não pode ser
utilizado como guia, ficando a citologia vagi-
nal como método isolado. Essa última é exce-
lente para guiar o veterinário dentro do ciclo
estral da cadela, mas nem sempre eficaz quan-
do utilizada isoladamente.
Para se obter um esfregaço vaginal, os lá-
bios da vulva são gentilmente separados com
uma mão. A outra mão deve conduzir um
swab plástico de algodão estéril, o qual será
passado através da comissura dorsal da vul-
86
va, evitando-se o contato com a fossa clitori-
diana, seguindo na direção craniodorsal, no
sentido da coluna vertebral, até ultrapassar
o arco isquiático. O swab deve ser inserido
até a distância necessária para se atingir o ca-
nal pélvico. Nesse momento, deve-se rotacio-
nar o swab em todas as direções. Todo esse
procedimento dura alguns segundos apenas
e é indolor, porém a cadela pode sentir descon-
forto, principalmente se não houver descarga
vaginal. Nesse caso, deve-se umedecer o algo-
dão do swab com solução fisiológica. Em se-
guida, o swab deve ser rolado gentilmente so-
bre uma lâmina, fazendo-se em geral, três im-
pressões lineares. Esse esfregaço poderá ser
corado através de diversos métodos, tais como
Wright's Giemsp, Diff-Quick e Papanicolau
(Feldman & Nelson, 1996).
~ Vaginoscopia.
Uma alternativapara aumentar a eficiên-
cia de determinaçãodo momento ótimo para
se fazer a inseminação artificialé o acompa-
nhamento da cadela por vaginoscopia que é
um método mais preciso do que a citologia
vaginal (Lindsay, 1983). O momento ótimo
para inseminar, baseado na vaginoscopia, é
quando a mucosa vaginal está pálida e pre-
gueada. Tanto os endoscópios fibro-ópticos
quanto proctoscópios pediátricos, com diâ-
metro inferiora 12 mm, podem ser utilizados
na maioria das cadelas a fim de se visualizar
as mudanças na região caudal da vagina. O
uso de ambos os instrumentos requer prática
e atenção, no intuito de não causar danos à
estrutura anatômica da cadela (Burke, 1986).
~ DosagemHormonal
Se houver oportunidade, o melhor méto-
do para se determinar o momento ótimo para
a inseminação artificial é através da dosagem
da progesterona plasmática. Esse método
permite se fazer uma estimativa do momento
de ocorrência do pico pré-ovulatório de LH,
sendo o método ideal para o acompanha-
mento do ciclo estral da cadela (Concannon
et aI., 1989). Com base na progesterona,
quando esta está em torno de 7,5 ng/rnl que
corresponde a aproximadamente 2 dias
após a ovulação.
... Ultra-sonografia
Recentemente, Hase et aI. (2000) investi-
garam o uso da ultra-sonografia como méto-
do para predizer a ovulação na cadela, no en-
tanto, nesse estudo, só foi possível estimar a
ocorrência da ovulaçãoem 54,5% das cadelas
estudadas. Silva et alo(1996a) já haviam veri-
ficado a dificuldade de se determinar a ovula-
ção na cadela por ultra-sonografia.
A Inseminação Artificial.
Propriamente Dita
Para a realizaçãoda inseminaçãoartificial
na cadela, já foram descritas algumas técni-
cas,onde o sêmené depositadona vagina (via
intravaginal-IV) ou diretamenteno útero (via
intrauterina - lU) por diferentes meios.
InseminaçãoArtificial Via Intravaginal
Para a inseminação artificial intravaginal
(lAIV) pode-se utilizar uma sonda rígida, com
a deposição do sêmen ao longo da vagina da
cadela (Seager & Fletcher, 1972; Seager &
Platz, 1977b) ou a Sonda de Osíris@, que é
uma sonda flexível provida de um pequeno
balão inflávelna sua extremidade cranial, imi-
tando o papel do bulbo cavernoso do pênis
do cão, a qual faz a deposição do sêmen dire-
tamente na porção cranial da vagina (Mialot
et aI., 1985; Silva & Verstegen, 1995; Silva
et aI., 1996b). Com ambas as sondas, faz-se
necessária a manutenção da fêmea com os
seus membros posteriores elevados durante
cerca de 15 minutos visando prevenir o re-
fluxo do sêmen.
A WV é a via de escolha na maioria dos
casos, por ser de fácilexecuçãoe por oferecer
bons resultados de um modo geral (Silvaet
al., 1996b).Assim sendo,a WU ficareserva-
da para casos particulares,onde aviavaginal
poderia comprometer os resultados da IA,
como, por exemplo, na utilização de um sê-
men congelado com baixa qualidade pós-
descongelação.
No protocolo clássico de IAIV,recomen-
da-se a elevaçãodo trem posterior da cadela
por períodos que variam de 5 a 20 minutos
(Seager, 1986; Silva et aI., 1996b). Porém,
no trabalho de Pinto et aI. (1998), elesobser-
varam que a redução no tempo de elevação
do trem posterior de 10 para 1 minuto não
comprometeu a fertilidade, nem a prolifici-
dade das cadelas.
InseminaçãoArtificial Via Intrauterina
Várias abordagens têm também sido rea-
lizadas com o intuito de se desenvolver técni-
cas para a inseminação artificial intra-uterina
(WU), na qual a deposição do sêmen é reali-
zada diretamente dentro do útero da fêmea
por via transcervical, utilizando-se um catéter
norueguês (Andersen, 1975) ou um endos-
cópio com fibra ótica (Wilson, 1993; Linde-
Forsberg et aI., 1999) ou por via intra-ute-
rina diretamente por laparotomia (Tsutsui et
aI., 1989) ou por laparoscopia (Silva et aI.,
1995b).
A WU via cirúrgica têm o inconveniente
de ser um procedimento cirúrgico, sendo as-
sim necessários todos os cuidados clássicos
no pré-, trans- e pós-operatório. Já a WU
via transcervical não apresenta esse inconve-
niente, mas por outro lado, não é uma técnica
fácil de ser executada, requerendo muita prá-
tica do inseminador, bem como colaboração
por parte da cadela. Em alguns casos, a tran-
qüilização do animal pode ser necessária.
!li- Cirúrgica
A WU por laparotomia foi desenvolvida,
no sentido de tentar-se contornar as dificul-
87
dades do cateterismo cervical. No entanto,
essa técnica comporta uma intervenção ci-
rúrgica com todos os riscos implícitos (Silva,
1999). A IAIU por laparoscopia, apesar de
também ser uma técnica cirúrgica, tem cará-
ter pouco invasivo e é de rápida execução.
Os resultados obtidos após IAIU por laparos-
copia, tanto com sêmen fresco (Silva et al.,
1996), como com sêmen congelado (Silva
& Verstegen, 1995; Silva et aI., 1995ab) têm
sido satisfatórios.
Resumidamente, a técnica de IAIU por
laparoscopia consiste em, após a tricotomia
da região abdominal, a cadela é colocada so-
bre a mesa cirúrgica em decúbito dorsal. A
cavidade abdominal é insuflada com CO2
através de uma agulha Verres de 10 cm que
é inserida na linha média cerca de 1 cm acima
do umbigo. A quantidade de CO2 insuflada
é em torno de 3 a 5 I e a pressão abdominal
atingida fica entre 10 a 12 mmHg. O laparos-
cópio com 8 mm de diâmetro com uma lente
de 0°, conectado a uma fonte de luz elétrica
e um monitor de vídeo, é inserido na cavida-
de abdominal na linha média cerca de 1 cm
caudal ao umbigo, utilizando-se um trocáter,
não sendo realizada uma prévia incisão na
pele. A cavidade é visualizada e os cornos
uterinos localizados. Um segundo trocáter,
com 5 mm de diâmetro, é então inserido no
lado direito do abdômen do animal cerca de
2 a 3 cm ao lado das glândulas mamárias.
Um fórceps endoscópico é passado através
da cânula do segundo trocáter, a fim de segu-
rar o corpo uterino e fechar a bifurcação. Um
corno uterino é levado ao encontro da cama-
da muscular abdominal, permitindo que um
catéter de 18 G seja inserido no lúmen do
mesmo, próximo à bifurcação uterina, em di-
reção aos ovários. A agulha do cateter é reti-
rada, deixando sua parte plástica no interior
do lúmen. Através desta, é feita a injeção do
sêmen descongelado. Em seguida, o catéter
e o fórceps endoscópico são retirados e o úte-
88
ro retoma à sua posição original. Após a re-
moção do laparoscópio, o CO2 é retirado da
cavidade abdominal através de uma cânula.
A camada muscular e a pele são suturadas.
Finalmente, um esfregaço vaginal é realizado
a fim de confirmar a presença de espermato-
zóides na vagina, para observar o sucesso da
inseminação artificial (Silva et al., 1995b).
~ Não Cirúrgica
O cateterismo cervicalé uma técnica que
exige destreza do operador devido à anato-
mia particularda cérvicee à presença da pre-
ga médio-dorsal da vagina da cadela (Pineda
et aI., 1973; Linde, 1978; Lindsay, 1983).
Dose Inseminante
Inseminaçõês bem sucedidas têm sido rea-
lizadas, em geral, utilizando-se um grande nú-
mero de espermatozóides, inseminações fre-
qüentes ou ambos. Farstad & Berg (1989) su-
geriram que 100 x 106espermatozóides pro-
porcionam taxas de concepção e tamanho de
ninhada aceitáveis. Normalmente, um total de
150 a 200 x 106espermatozóides inseminados
em duas ou três ocasiões é adequado.
O número mínimo de espermatozóides
congelado-descongelado requerido para inse-
minação artificial não está bem estabelecido.
No entanto, boa fertilidade foi obtida com do-
ses inseminantes tão baixas quanto 35 x 106
espermatozóides móveis apósIAIU e de 50 x
106espermatozóides móveis após IAlV (Wil-
son, 1993). De um modo geral, a IAIU requer
uma menor concentração de espermatozóide
por inseminação artificial do que a técnica de
IAIV.Entretanto, a IAIU tem a desvantagem
de ser um procedimento invasivo que requer
toda uma metodologia cirúrgica.
EficiênciaDas Vias de Inseminação
Com relação à eficiência das vias de inse-
minação, ambas assemelham-se quando se
trata de inseminação com sêmen a fresco.
Silvaet aI. (1995b) obtiveram taxas de gesta-
ção semelhantes, utilizando-se sêmen a fresco
inseminado pela via lU comparado à monta
natural. Já com o sêmen congelado, os resul-
tados variam de acordo com a literatura. Sil-
va et alo(1996b) obtiveram taxas de gestação
semelhantes com IAIV e WU, utilizando sê-
men congelado. No entanto, Linde- Forsberg
et aI. (1999) obtiveram taxas de gestação
significativamente superiores utilizando a via
lU em relação à via IV com sêmen congelado.
Taxas de Concepção
Segundo os dados da literatura, as taxas
de concepção observadas após inseminação
artificial com sêmen congelado são sensivel-
mente inferiores às obtidas após inseminação
artificial com sêmen fresco (Lindc!-Forsberg
& Forsberg, 1989). Esse fato é provavelmen-
te devido à viabilidade e fecundidade reduzi-
da dos espermatozóides congelados. Isso po-
de ser devido ao processo de congelação e
descongelação, à qualidade do sêmen após
congelação, aos tipos de meios utilizados,
dentre outros fatores. De fato, segundo Con-
cannon & Battista (1989) e Fontbonne & Ba-
dinand (1993), a viabilidade do espermato-
zóide após descongelação pode variar de 12
a 24 horas.
É geralmente aceito que a WV com sê-
men congelado resultaria em baixas taxas de
concepção (Andersen, 1972; Linde- Forsberg
& Forsberg, 1989), enquanto que a IAIU com
sêmen congelado culminaria com melhores
resultados (Farstad, 1984). No entanto, essa
afirmação está baseada unicamente na análi-
se de alguns dados clínicos não controlados,
observando-seque a problemática está ligada
não somente ao sêmen canino e às suas carac-
terísticas após descongelação, mas também
às dificuldades ainda encontradas concernen-
tes à determinação do momento ideal para
inseminação artificial nessa espécie de fisio-
logia particular.
A problemática da obtenção de sucesso
através da inseminação artificial está também
ligada às dificuldades encontradas concer-
nentes à determinação do momento ideal pa-
ra inseminação nessa espécie de fisiologia
particular. De fato, a ovulação nessa espécie
ocorreria de maneira sincrônica entre 36 e
50 horas após o pico de hormônio luteinizan-
te (LH - Concannon et aI., 1977). Os oóci-
tos emitidos não estariam ainda maduros,
encontrando-se ainda no estado de vesícula
germinativa. A completa maturação ocorreria
dois a três dias mais tarde com a emissão do
segundo corpúsculo polar (Holst & Phemis-
ter, 1971; Tsutsui, 1989). Só a partir desse
momento, o oócito seria fecundável, mas a sua
sobrevivência parece ser muito curta, de ape-
nas 24 a 48 horas (Concannon & Battista,
1989). O limite máximo de fecundação se
encontraria em torno de 6,5 dias depois do
pico de LH (Tsutsui, 1989), sendo o período
ideal de fecundação entre três e quatro dias
depois do pico. No entanto, esses estudos
não nos permitem determinar precisamente
o momento e o caráter sincrônico da ovula-
ção (Silva, 1995).
Considerações Finais
Apesar da inseminação artificial ser a bio-
técnica de reprodução mais antiga da qual se
tem notícia e de que muitos avanços têm sido
observados tanto na tecnologia de sêmen, co-
mo no monitoramento do ciclo estral das ca-
delas, ela ainda requer o desenvolvimento de
muitos estudos acerca da biologia dos gametas
masculino e feminino. Novos estudos acerca
dos fatores que afetam o sucesso da conserva-
ção de sêmen, quer seja por resfriamento ou
por congelação, poderão trazer ainda mais be-
nefícios para esta biotécnica.
Perspectivas
Atualmente,presencia-seem todo o mun-
do um imensodesenvolvimentode biotecno-
89
logias aplicadas à reprodução dos carnívoros
domésticos. O interesse recente de compa-
nhias comerciais, aliado aos recursos huma-
nos aperfeiçoados nas universidades, possibi-
lita hoje, a implantação de diversos bancos
de sêmen canino congelado em diversos paí-
ses. Esses bancos de sêmen mantêm constan-
temente material genético de alto valor, o
qual pode ser utilizado por populações isola-
das geograficamente, a fim de se evitar o ex-
cessivo cruzamento consangüíneo, além da
eliminação de doenças sexualmente transmis-
síveis. Desse modo, entende-se que a tecnolo-
gia de sêmen e a inseminação artificial em cães
são apenas o começo de uma nova era para a
reprodução e otimização do material genético
de canídeos domésticos e selvagens, visto que
o cão doméstico presta-se como modelo expe-
rimental para os demais canídeos.
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95
Capítulo 6
Inseminação Artificial em Bubalinos
Otávio Mitio Ohashi
Introdução
A Inseminação Artificial (IA) é uma das
técnicas mais simples e de baixo custo em-
pregada na área de reprodução animal e a
que apresenta melhor resultado quando se
pretende realizar a seleção e o melhoramento
genético de um rebanho como um todo. O
melhoramento genético é realizado através
do uso de sêmen de reprodutores de compro-
vado valor zootécnico e da sua utilização em
rebanho selecionado, através do processo da
IA. Apesar de sua simplicidade, a IA requer
um criterioso e rígido controle de suas dife-
rentes etapas, que vai desde a seleção do re-
produtor doador de sêmen, passando pelo
processamento tecnológico do sêmen, sele-
ção e controle do rebanho, chegando até ao
treinamentodo inseminador. Neste capítulo,
será abordado o emprego da técnica da IA
na espécie bubalina, a qual tem demonstrado
ser viável e de fundamental importância para
a melhoria da produtividade do rebanho.
Morfofisiologia do Sistema Genital
do Búfalo
O sistema genital do búfalo é morfologi-
camente semelhante ao do bovino, com pe-
quenas diferenças que serão destacadas a
seguir. A bolsa escrotal é menor e não apre-
senta a constrição na região do colo como
nos bovinos (Battacharya, 1974). Os testícu-
los também são menores que dos bovinos e
o seu crescimento apresenta alta correlação
com o desenvolvimento corporal (Ohashi,
1993a; Chacur, 1999; Vale et aI., 2001). A
tabela 6.1 apresenta dados sobre a biometria
testicular em bubalinos de diferentes idades.
A vesícula seminal é menor que a do bovino,
cujo comprimento e largura são 5,33 + 2,2
x 1,9 + 0,9 cm, respectivamente. As lobula-
ções são também menos pronunciadas e mais
finas que nos bovinos (Valeet al., 1981, Oha-
shi et aI., 1988).
A puberdade no bubalino, caracterizada
histologicamente pelo início da atividade es-
permatogênica dos testículos, começa a partir
de 14-15 meses, com os animais atingindo a
maturidade sexual ao redor de 24-30 meses
de idade (Ohashi, 1993a), sendo que o com-
pleto desenvolvimento reprodutivo é atingido
somente aos 4-5 anos de idade. O desenvolvi-
mento reprodutivo do bubalino parece ser bas-
tante lento, quando comparado ao bovino Bos
taurus, entretanto, com uma adequada seleção
genética, aliado a um bom manejo e alimenta-
ção, é possível obter animais mais precoces,
97
uma vez que têm sido observados histologi-
camente animais com atividade espermatogê-
nica com idades de 8-9 meses (Devaraj &
Janakiraman, 1986; Ohashi et al., 1988).
Considerações sobre o processamento
tecnológico do sêmen
O processamento tecnológico do sêmen
tem como principal objetivo aumentar o nú-
mero de fêmeas fertilizadas com um único
ejaculado, como também conservar a capaci-
dade fertilizante do espermatozóide, quer
seja por um período determinado, através de
uso do sêmen refrigerado, quer seja por um
período indeterminado, através da utilização
da técnica de congelação do sêmen. A conge-
lação do sêmen está bem estabelecida na es-
pécie bovina e em fase de aperfeiçoamento
em outras espécies animais, como por exem-
plo, nos bubalinos, ovinos, caprinos, suínos
e eqüinos.
A criopreservação do sêmen tomou um
impulso muito grande na década de 40, após
a descoberta por POLGE, da função criopro-
tetora do glicerol (Polge, 1985), o que permi-
tiu a congelação, com sucesso, do sêmen bo-
vino. Atualmente inúmeras outras células, e
mesmo tecidos do organismo animal, sãotam-
bém preservadas pelo processo de congelação,
tendo como principal agente criogênico o ni-
trogênio líquido, onde as células ou tecidos
congelados podem ser mantidos por tempo in-
determinado, os quais após a descongelação,
recuperam todas as suas funções fisiológicas.
Durante o processo de congelação e de
descongelação do sêmen, cerca de 10-50%
dos espermatozóides de um ejaculado não
resistem ao processo e morrem, o que depen-
derá de vários fatores tais como, qualidade
do ejaculado, método de congelação (curva
de congelação), tipo de diluidor, tipo de en-
vasamento (mini-palheta, palheta média, am-
pola, pellets) e método de descongelação.
A morte do espermatozóide durante o
processo de congelação ocorre como conse-
qüência das mudanças físico-químicas que
se processam no meio diluidor e principal-
mente no próprio espermatozóide, através de
danos provocados em suas ultra-estruturas
que inviabilizam a sua sobrevivência. O desa-
fio celular, durante a congelação e desconge-
lação não é a capacidade da célula de supor-
tar a temperatura muito baixa, mas sim a de
atravessar uma das fases críticas do processo
que vai de -15 a -60°C, no qual a célula tem
que passar duas vezes, ou seja, durante a
congelação e descongelação (Mazur, 1985).
As células normalmente resistem ao abài-
xamento da temperatura, entretanto, não
resistem à formação de cristais de gelo, uma
vez que isso implica na retirada de água do
sistema, levando ao desequilíbrio osmótico
com conseqüente desidratação celular (Ma-
zur, 1985; Holt, 2000). Esse fato ocorre prin-
cipalmente quando o processo de congela-
ção é lento.
Os eventos físicos que ocorrem na célula
dependem da velocidade de congelação.
Tabelo 6.1. Dadosbiométricosdotestículo(médio)debubolinosemd~erentesidades(CE:circunferênciaescratal;G: comprimentotesticular;LT:
largura testicular).
98
Idadesem meses
PorômefTosRecém-nascido 2-5 6.8 9-11 13-14 16 18.24 >36
CE(cm) 8,8:!:0,5 12,6:t.0,7 14,1:!:1,1 19,3:!:2,1 23,7:!:1,0 24,4:!:1,1 28,2:!:1,6 32,7:t.2,7
a (cm) - 4,4:!:0,5 4,9:!:0,4 6,7:!:0,9 7,9:!:0,6 8,7:!:0,4 8,7:!:1,1 12,2:!:2,2
LT(em) - 2,3:!:0,3 2,8:!:0,3 4,2:!:0,6 5,2:!:0,3 6,2:!:0,5 6,4:!:0,3 7,1:!:0,8
Fonte:Ohoshi (19930)
Quando o processo de congelação é muito
lento, ocorre a congelação da água extracelu-
lar com a conseqüente concentração de solu-
to, colocando a célula momentaneamente em
um meio hipertônico, fazendo com que a cé-
lulaperca água rapidamente, o que leva a de-
sidratação celular e ao aumento na concen-
tração de soluto intracelular, promovendo a
morte celular por desidratação. Por outro la-
do, quando a célula é congelada rapidamen-
te, não há perda de água, promovendo com
isso a formação de cristais de gelo intracelu-
lar, causando, conseqüentemente, lesões nas
estruturas celulares, fato que compromete a
função celular (Mazur, 1985).
Portanto, é necessária uma curva de con-
gelação que evite esses dois extremos, ou se-
ja, não muito lenta e nem muito rápida, pre-
venindo, desse modo, que um grande núme-
ro de células sejam afetadas durante o pro-
cesso. Para a congelação de sêmen bovino e
bubalino, esta curva já está bem definida e
consiste basicamente em baixar a temperatu-
ra do sêmen a uma velocidade de 0,3-0,5°C/
minuto até o sêmen atingir 4°C, o que se con-
segue deixando o sêmen, que foi diluído a
32°C, e colocá-lo à uma temperatura de 4°C,
durante 3-4 horas, tempo este denominado
de "tempo de equilíbrio", onde o sêmen diluí-
do leva cerca de 90 minutos para atingir a tem-
peratura de 4°C, permanecendo nessa tempe-
ratura o tempo restante. Posteriormente, o sê-
men é transferido para o vapor de nitrogênio
líquido à uma temperatura aproximada de
150°C negativos por 15 minutos e logo após
mergulhado em nitrogênio líquido, onde a
temperatura é de 196°C abaixo de zero, con-
cluindo-se o processo de congelação.
Processamento tecnológico do
sêmen bubalino
A IAem bubalinos, apesar de ter iniciado
na década de 50 (Bhattacharya& Srivastava,
1955), ainda nas décadas de 60-70, a mesma
suscitava discussões quanto a sua viabilidade
técnica, em função de vários fatores, tais co-
mo, dificuldades na congelação do sêmen do
reprodutor bubalino, na detecção visual do
estro na búfala e na determinação do melhor
momento para a inseminação da búfala.
Hoje, esses obstáculos estão sendo supera-
dos, em função da adequação do manejo na
detecção do estro e na determinação do mo-
mento de inseminar à espécie bubalina. Ade-
quando-se esse manejo reprodutivo à espécie
em questão, o uso da IA em bubalinos tem
demonstrado ser tão eficiente quanto nos bo-
vinos, não havendo mais dúvida quanto a sua
viabilidade técnica. Entretanto, ainda há mui-
to para ser aprimorado, especialmente com
relação ao melhoramento genético do reba-
nho, onde um criterioso programa deveria
ser implementado para identificar animais
superiores do ponto de vista de produção
animal, para que os mesmos possam ser utili-
zados com segurança e confiabilidade em
programas de IA, transferência de embriões
e outras biotécnicas que visem o aumento da
produtividade do rebanho.
No Brasil, os primeiros trabalhos sobre
processamento tecnológico do sêmen e IAem
bubalinos foram realizados pela equipe do
Prof. Will\am Gomes Vale, da Universidade
Federal do Pará (UFPA), no final da década
de 70 e início da década de 80. O referido pes-
quisador utilizou o diluidor abase de tes-tris
para congelar o sêmen bubalino, obtendo ex-
celente resultado na motilidade pós-congela-
ção, contribuindo em muito para solucionar o
problema da congelação de sêmen bubalino,
o qual não apresentava bons resultados após
o processo de congelação. Além disso, insemi-
nou as primeiras búfalas no Brasil em 1982,
obtendo quatro bezerros de 1Ovacas insemi-
nadas em uma fazenda da Ilha do Marajó.
Para o processamento tecnológico do sê-
men são necessários conhecimentos básicos
sobre as suas características, uma vez que,
99
somente desse modo pode ser obtido o po-
tencialmáximo dos processos de congelação
e de IA. É importante ressaltar que para se
chegar a esse estágio do processamento, é
necessário que o reprodutor tenha passado
por um criterioso e rigoroso exame clínico-
andrológico e avaliaçãodas suas qualidades
zootécnica.
O objetivodesses examesé selecionarso-
mente doadores de sêmen isentos de proble-
mas reprodutivos,especialmenteos de cunho
hereditário,e com característicade produção
comprovada, a qual deve ser obtida através
do teste de progênie, do contrário corre-se
o risco de disseminar-se caracteres indesejá-
veise que possam comprometer a produtivi-
dade do rebanho.
Colheitade sêmen
Uma colheita de sêmen realizada adequa-
damente e respeitando as características fi-
siológicas da espécie, é o primeiro passo para
se obter o sucesso esperado no seu processa-
mento tecnológico. Em bubalinos, a colheita
de sêmen deve ser realizada preferencialmen-
te através do método da vagina artificial. En-
tretanto, outros métodos também têm sido
empregados, tais como, a eletro-ejaculação
(onde obtém-se sucesso somente em animais
jovens) e a massagem das ampolas dos due-
tos deferentes. Com referência a esses dois
últimos métodos têm sido relatados resulta-
dos poucos satisfatórios, onde a qualidade
do sêmen é invariavelmente inferior quando
comparado ao obtido pela vagina artificial.
O bubalino adulto reage violentamente
durante a tentativa da colheita de sêmen pelo
método da eletro-ejaculação, uma vez que
essa espécie mostra-se bastante sensível ao
estímulo elétrico. Por esse motivo não é reco-
mendado o uso desse método para a colheita
de sêmen em bubalino, especialmente, para
animais adultos, acima de quatro anos. Além
disso, o sêmen colhido através da eletro-eja-
100
culação apresenta maior grau de contamina-
ção por bactérias e de células de descamação
do epitélio prepucial, em função da maioria
dos animais ejacularem dentro da bainha pre-
pucial. O sêmen colhido através desse méto-
do também apresenta menor concentração
espermática em função do maior estímulo
sobre as glândulas sexuais acessórias, levan-
do-as a secretar maior quantidade de plasma
seminal, cujo estímulo pode atingir também
a bexiga, podendo haver a liberação de urina,
a qual será misturada ao sêmen, comprome-
tendo a sua qualidade. Finalmente, esse mé-
todo não permite avaliar uma das mais im-
portantes características de um reprodutor
que é a libido sexual.
A massagem das ampolas dos duetos de-
ferentes é um dos métodos mais simples de
colheita de sêmen em bovinos, entretanto, a
obtenção de sêmen através deste método em
búfalos é mais difícil e requer prática, sendo
que muitos animais não respondem a esse
método de colheita. O sêmen colhido através
da massagem das ampolas dos duetos defe-
rentes é geralmente de baixa qualidade, de
baixa concentração espermática e de alta
contaminação em decorrência do animal eja-
cular dentro da bainha prepucial (Vale,
1994), não devendo, portanto, ser aproveita-
do para o processo da congelação para uso
em programas de IA.
A vagina artificial é o método de excelên-
cia para a colheita de sêmen de bubalinos,
por ser o mais próximo do processo da mon-
ta natural e segundo Sansone et aI. (2000)
por ser este animal um dos mais fáceis a ser
treinado para a colheita de sêmen por este
método. A estrutura da vagina artificial, à se-
melhança da usada em bovino, é constituída
basicamente por um tubo rígido com válvula
de dupla entrada (ar e água), cilindro flexível
de látex ("camisa"), cone coletor de látex e
tubo coletor graduado. Para bubalinos, a va-
gina artificial deve ser mais curta, com cerca
de 25-30 cm para animais jovens e de 30-
35 cm para animais adultos acima de quatro
anos, em função do menor tamanho do pênis
bubalino em relação ao bovino. Não é neces-
sária a lubrificação da vagina artificial, uma
vezque a lubrificação natural do pênis é sufi-
ciente para permitir a penetração do mesmo.
Porém, um dos aspectos importantes a ser
observado é a temperatura, que deve estar
entre 42-44°C, uma vez que, muitos animais
montam, porém não ejaculam quando a tem-
peratura da vagina artificial está abaixo, ou
sofrem irritações do pênis quando a mesma
está acima desse parâmetro. Este fato acarre-
ta a recusa dos animais nas próximas colhei-
tas de sêmen, onde muitas vezes o reprodutor
masturba-se quando apresentado ao mane-
quim, sem realizar a monta, havendo muitas
vezes a necessidade de recondicionamento
dos mesmos. Deve-se usar vagina artificial
de boa qualidade, especialmente com relação
ao cilindro e ao cone de látex, que muitas
vezes, quando de má qualidade, apresentam-
se tóxicas para os espermatozóides.
Em regiões de clima quente e úmido o
comportamento sexual do búfalo manifesta-
se principalmente durante as horas amenas
do dia. Na região norte do Brasil, onde predo-
mina o clima tropical úmido, com alta tempe-
ratura ambiental durante o dia, tem sido obser-
vado, que os búfalos em regime de colheita
de sêmen em Central de IA apresentam me-
lhor desempenho sexual logo após o pôr do
sol do que no início da manhã (Ohashi et aI.,
1988). No horário noturno, muitos animais
"montam" em poucos segundos após a apro-
ximação do manequim. Entretanto, para um
bom desempenho na colheita de sêmen com
a vagina artificial é necessário um treinamen-
to ou condicionamento adequado do repro-
dutor para a colheita com o referido método.
Os animais selecionados como doadores de
sêmen, devem ser preferencialmente jovens,
entre dois e quatro anos, os quais também
devem ser calmos e dóceis. Durante o treina-
mento dos animais, quando necessário, de-
vem ser tratados com firmeza, mas nunca de-
vem receber maus tratos, como pancadas e
chicotadas.
Os animais adultos, acima de quatro anos e
que tenham sido utilizados como reprodutor
a campo, são mais difíceis de se condiciona-
rem a colheita de sêmen com o uso da vagina
artificial, entretanto, com paciência, obtém-se
com alguns animais, bons resultados no con-
dicionamento e na colheita de sêmen. Deve-
se evitar colocar búfalos adultos próximos uns
dos outros, pois apesar desses animais serem
bastante dóceis, eles não permitem a presença
de um outro macho na mesma área, podendo
ocorrer brigas, o que muitas vezes culmina em
sérias lesões nos animais, tais como, cortes pro-
fundos na pele, quebra de chifres e muitas vezes
de pernas, especialmente as dianteiras.
A sala de colheita de sêmen deve ser lim-
pa, localizada em local tranqüilo, com pouca
gente ao redor, bem arejada e de preferência
com piso emborrachado na área de colheita
para evitar que o animal escorregue durante
o salto. O manequim deve ser de preferência
uma fêmea de boa estrutura corporal. Entre-
tanto, em caso de reprodutores jovens, pode
ser outro macho jovem, entretanto, em ani-
mais acima de quatro anos e que já serviram
como reprodutor no rebanho, a utilização de
um manequim macho jovem tem resultado
em fracasso na colheita, em função da reação
violenta por parte do reprodutor contra o
manequim (Ohashi, 1993b), dando-se por-
tanto, preferência ao manequim fêmea.
Avaliação do sêmen
Este é um dos importantes aspectos a ser
observado no processamento tecnológico do
sêmen, uma vez que através de uma criterio-
sa avaliação do sêmen obtém-se dados quan-
to a qualidade do ejaculado, bem como, so-
bre a saúde reprodutiva do doador. Na ava-
101
liação do sêmen bubalino observam -se vários
parâmetros como o volume, a cor (exames
macroscópicos), o turbilhonamento,a motili-
dade, o vigor, a concentração e a patologia
espermática (exames microscópicos), sendo
que, nenhum teste isoladamente pode predi-
zer com segurança sobre a qualidade e a ca-
pacidade de fecundação do sêmen. É bom
lembrar que tais exames devem ser realizados
com o ejaculado mantido em temperatura
constante de 38°C, tendo em vista que o es-
permatozóide do búfalo é bastante sensível
à variação da temperatura (Raizada et aI.,
1988; Ohashi, 1993b; Sansone et aI., 2000).
A não observação deste detalhe faz com que
muitas vezes o sêmen que aparenta ter baixa
motilidade antes da diluição, melhore após
a sua diluição com o meio de congelação.
Para preservar a qualidade do sêmen para
a congelação, é importante que logo após a
colheita da amostra para a avaliação e deter-
minação da concentração espermática dilua-
se o ejaculado em 1:1 com o diluidor, en-
quanto se processam as análises do ejacula-
do e a determinação da concentração, visan-
do a determinação da taxa de diluição, ou
seja, o volume do diluidor a ser acrescenta-
do ao ejaculado.
O volume do ejaculado varia com a idade,
com a freqüência e o número de colheitas
realizadas em um determinado período. Em
búfalo jovem (2-4 anos), o volume e a con-
centração do ejaculado são menores que dos
animais adultos em função do menor tama-
nho dos testículos e das glândulas sexuais
acessórias. O volume do sêmen obtido nas
colheitas com vagina artificial, utilizando pre-
viamente a falsa monta, está em torno de 2-
3 ml para a primeira amostra e de 0,5-1 ml
para a segunda, com uma concentração es-
permática de cerca de 800.000/mm3 e
400.000/mm3, respectivamente (Ohashi,
1993b). Chacur (1999) observou em búfalos
com três anos de idade que o volume e a con-
102
centração do sêmen foram de 2,5+0,2 ml e
467.000+32.000 espermatozóides/mm3,
respectivamente. Em animais acima de qua-
tro anos, o volume do 1° ejaculado gira em
torno de 4-6 ml e do 2° de 3-4 ml, com con-
centração ao redor de 1.000.000/mm3 e de
750.000/mm3, respectivamente (Ohashi, 1988;
Ohashi, 1993b; Vale, 1994).
A cor do sêmen é dependente de sua con-
centração espermática, podendo variar de
branco leitoso/branco marmóreo, quando o
mesmo apresenta invariavelmente uma alta
concentração, até a coloração branca translú-
cido, quando o mesmo apresenta baixa con-
centração espermática. A coloração róseo-
avermelhado indica contaminação por san-
gue, que pode ser oriundo de trauma peniano
provocado durante a colheita do sêmen.
O turbilhonamento é definido como o
movimento em massa dos espermatozóides,
o que provoca a formação de verdadeiras
"ondas" de espermatozóides e que pode ser
observado em sêmen de animais que apre-
sentam alta concentração espermática como
o bovino, bubalino, caprino e ovino e para isso
basta colocar uma pequena gota de sêmen em
uma lâmina aquecida e observar com objeti-
va de 10x. Essa característica do ejaculado é
avaliado numa escala que vai de zero a cin-
co, sendo zero para o ejaculado com ausên-
cia de ondas e cinco quando há a presença
de muitas ondas espermáticas, movimentan-
do-se rapidamente no campo microscópico.
Essa avaliação é subjetiva e somente com a
prática constante se consegue avaliar com se-
gurança esse parâmetro, especialmente para
as escalas intermediárias de 1 a 4.
A motilidade espermática indica a percen-
tagem de espermatozóides com movimentos
progressivos (para frente), em cuja avaliação
deve-se excluir os espermatozóides com mo-
vimentos circulares e vibratórios. Avalia-se
a motilidade com a mesma gota que foi utili-
zada para a observação do turbilhonamento,
sendo que agora coloca-se uma lamínula
aquecida sobre a gota e examina -se com obje-
tivade 40x, de preferência através de micros-
cópio equipado com contraste de fase.
O vigor indica a força com que os esper-
matozóides se locomovem através do campo
microscópico e é avaliado com a mesma lâ-
mina com que se avalia a motilidade e com
o mesmo aumento. Sua avaliação é dada nu-
ma escala que vai de zero a cinco, sendo zero
para o ejaculado que apresenta espermato-
zóides com movimentação fraca ou ausente
e cinco para ejaculados que apresentam es-
permatozóides com forte movimentação
através do campo microscópico.
No búfalo, todas essas características des-
critas acima (turbilhonamento, motilidade e
vigor) devem ser avaliadas rapidamente pois
a movimentação dos espermatozóides do bu-
balino decai rapidamente, especialmente se
a lâmina e lamínula estiverem frias durante
os exames microscópicos. Por isso, é funda-
mental que essas características do sêmen
bubalino sejam avaliadas em microscópio
adaptado com platina aquecedora, a qual
deve estar com temperatura entre 38 e 39°C.
Além dessas características, exames adi-
cionais podem ser realizados, tais como exa-
me de vivos/mortos, através de simples colo-
ração vital com eosina citratada (1g de eosina
azulada em 100 ml de solução de citrato de
sódio à 2,9%) ou com outro tipo de corante,
bem como, a análise do espermograma, o
qual deve compreender o exame dos defeitos
de morfologia (coloração de Williams) e dos
defeitos estruturais dos espermatozoides,
através da microscopia de contraste de fase.
As anormalidades espermáticas mais fre-
qüentes observadas são as anomalias de cau-
da seguida das anomalias de cabeça dos es-
permatozoides. Outras alterações muito fre-
qüentes observadas em búfalos do rebanho
nacional são espermatozóides com implanta-
ção abaxial (Ohashi, 1988), sendo que seu
significado para a fertilidade não está devi-
damente esclarecido, a qual também tem sido
descrita em outros países em animais infér-
teis, assim como, em animais com a fertilida-
de normal (Kodagali et ai., 1971).
Procedimentopara a coloração vital
Colocar duas gotas da solução de eosina
citratada em uma lâmina e logo após adicionar
uma gota de sêmen, homogeneizar e esperar
30 segundos e imediatamente fazer esfregaço
e secar em chama. Deverá ser realizada a con-
tagem de 200 espermatozóides, imediatamen-
te após a coloração, com objetiva de imersão,
sendo o resultado dado em percentagem de
espermatozóides vivos. Os espermatozóides
mortos coram-se de róseo-avermelhado e os
espermatozóides vivos, por apresentarem a
sua membrana citoplasmática não permeável
ao corante, aparecem incolor. É importante
que a solução de eosina esteja na mesma tem-
peratura do sêmen e que a contagem seja feita
imediatamente após a coloração, pois com o
tempo todos os espermatozóides vão absor-
vendo a eosina e ficam róseos.
Diluidores
Entende-se por diluidores, soluções que
têm por objetivoaumentar o volume do eja-
culado, potencializando a sua capacidade de
fecundação e preservando a capacidade fe-
cundante do espermatozóide, protegendo-os
durante o processo de congelação. Os com-
ponentes básicos de um diluidor são os se-
guintes: água, substância tampão, compo-
nentes orgânicos (gemade ovo),crioproteto-
res (sêmen congelado), energéticos (frutose)
e antibióticos. Segundo Mies Filho (1987),
um bom diluidor deve satisfazer às seguin-
tes condições:
- ausência de toxidez para os esperma-
tozóides.
- ter pressão osmótica igual à do sêmen
- apresentar pH favorávela sobrevivên-
cia dos espermatozóides
103
- ser de baixo custo e de fácil preparo
- não produzir metabólitos nocivos aos
espermatozóides
- não mascarar o exame microscópico do
sêmen diluído
Antes de se fazer a diluição, é importante
observar se o ejaculado e o diluidor estão na
mesma temperatura. No caso de bubalinos,
utiliza-se um banho-maria com a temperatu-
ra a 32°C, na qual devem ser colocados o
sêmen e o diluidor para que os mesmos al-
cancem a mesma temperatura.
Para determinação da taxa de diluição, é
necessário que se tenha alguns dados funda-
mentais, tais como: a concentração espermá-
tica relativa, o volume do ejaculado, tipo de
envasamento (palheta média = 0,5 mI, pa-
lheta fina ou mini-tubo = 0,25 ml) e a con-
centração espermática por dose (normal-
mente 40 milhões/dose). O primeiro passo
é determinar a concentração total do ejacu-
lado, o que se faz a partir do conhecimento
da concentraçãorelativa, a qual deve ser mul-
tiplicada pelo volume do ejaculado (Fórmula
1). Logo em seguida, determina-se o número
total de espermatozóides com motilidade
progressiva, a qual obtém-se a partir da moti-
lidade do sêmen, através de uma regra de três
simples (Fórmula 2).
A motilidade progressiva é o número de
espermatozóides que deslocam-se para a
frente, o que é um indicativo de que os mes-
mos estão aptos para se locomoverem até o
sítio de fecundação (ampola da tuba uterina).
A partir do número de espermatozóides com
motilidade progressiva, determina-se o nú-
mero de doses que se pode obter do sêmen,
o que se consegue dividindo-se a concentra-
ção total do ejaculado pelo número de esper-
matozóide/dose (Fórmula 3).
O volume do diluidor a ser acrescentado
ao ejaculado é determinado multiplicando-se
o número de doses pelo volume do envase, di-
minuído do volume do ejaculado (Fórmula 4).
104
CT = C x VoI. (Fórmula 1),
onde CT =concentração total; C = concentra-
ção relativa; VoI. = volume do ejaculado.
Motilidade Progressiva = (CT x Motilidade
espermática) / 100 (Fórmula 2)
N° de doses = N° de espermatozóides com
motilidadeprogressiva/N° de espermato-
zóide por dose (Fórmula 3)
Volumedo diluidor = (N°de doses xVoI.do
envase) - VoI.do ejaculado (Fórmula 4)
Exemplo:
- Volume do ejaculado = 5 ml
- Motilidade espermática = 70%
- Concentração relativa = 1.000.000 es-
permatozóides/mm3 = 1.000.000.000
espermatozóidesl ml
- Espermatozóides/dose = 40.000.000
- Tipo de envase = palheta fina (0,25 mI)
Executando-se as fórmulas descritas aci-
ma teremos:
- CT = 1.000.000.000 espermatozóides 1
rnl x 5 rnl = 5 bilhões de espermatozóides
- Motilidadeprogressiva = (CTxMotilida-
deespermática) 1100 = (5.000.000.000
x 70) 1 100 = 3.500.000.000 esperma-
tozóides
- No.Dedose = 3.500.000.000/40.000.000
= 87,5 doses de sêmen
-Volume do diluidor = (87,5 x 0,25 rnl)
- 5 rnl = 16,8 mI do diluidor.
Portanto no exemplo acima, o volume do
diluidor a ser acrescentado ao sêmen é de
16,8 ml de diluidor.
Determinado-se o número de dose e o vo-
lume de diluidor a ser acrescentado ao ejacu-
lado, procede-se a diluição a qual deve ser
seguido de movimentação circular e lenta do
frasco contendo o sêmen diluído para que
ocorra a homogeneização adequada, evitan-
do-se a formação de bolhas de ar.
Apesar do sêmen de búfalo ter sido con-
gelado na década de 50, ainda hoje existe
uma pequena controvérsia sobre o melhor
diluidor a ser utilizado. Inúmeros diluidores
têm sido testados, todos baseados nas fórmu-
las utilizadas para bovinos, tais como, o citra-
to-gema, lactose, leite desnatado, soro de lei-
te de búfala e tris-gema. Mais recentemente,
dois outros diluidores, desenvolvidos especi-
ficamente para o bubalinos, foram testados,
sendo um à base de Tes-Tris (Vale et aI.,
1990) e o outro à base de glicina (Oba et
ai., 1994), sendo o glicerol à 7%, o crioprote-
tor comum a todos os diluidores.
Tem sido relatado que sêmen de búfalo
congelado, utilizando-se diluidores a base de
citrato-gema ou leite desnatado, apresentaram
motilidade pós-congelação em torno de 20%,
e com lactose, a motilidade pós-congelação
ficou em 30% (Ohashi, 1993b), sendo que os
melhores resultados foram obtidos com dilui-
dores à base de tris e tes-tris (fórmulas abai-
xo), com motilidade pós-congelação variando
de 50-60% nos dois diluidores. Entretanto,
quando o sêmen, diluído com diluidores à
base de citrato, leite desnatado ou lactose, foi
submetido ao teste de termo resistência (TTR)
a 39°C, a motilidade espermáticajá estava au-
sente após 30 minutos do início do teste, apre-
sentando somente espermatozoides com mo-
vimento vibratório A motilidade espermática
do sêmen congelado com Tris cessou com
uma hora e meia após o início do teste. O me-
lhor resultado foi obtido com diluidor à base
de Tes-Tris, no qual a motilidade espermática
após cinco horas do início do TTR ainda era
ao redor de 20% (Ohashi, 1993b).
Em teste de campo, inseminando 430 bú-
falas, Barnabé et aI. (1995) observaram que
o sêmen congelado com Tes-Tris apresentou
um índice de gestação de 60,0%, enquanto
que o sêmen congelado com Tris o índice foi
de 49,26%, ou seja, o diluidor à base de Tes-
Tris apresentou um índice de gestação 10,74%
superior (p<0,05) ao sêmen congelado com
Tris, demonstrando deste modo que o dilui-
dor à base de Tes-Trisé um bom diluidor para
sêmen de bubalino.
o diluidor à base de glicina tem apresen-
tado bons resultados em teste de laboratório
(Oba et aI., 1994; Chacur, 1996), havendo
a necessidade do teste de campo.
Após fazer o diluidor, deve-se medir o
pH, o qual deve estar em torno da neutralida-
de (6,8- 7,2), caso necessário, corrigi-Io com
solução 1N de hidróxido de sódio, quando
estiver com pH ligeiramente ácido, ou com
solução 1N de ácido clorídrico, em caso de
pH ligeiramente alcalino.
É importante lembrar que os componen-
tes que entram na composição do meio dilui-
dor devem ser de qualidade comprovada. A
água deve ser destilada e deionizada ou-bi-
destilada, nunca usar água somente destila-
da. O ovo a ser usado para obtenção da gema
deve ser de granja com sanidade comprova-
da, livre de doenças tais como, salmonelose
e tuberculose aviária, as quais podem causar
problemas no rebanho que utilizar sêmen
contaminado com as bactérias responsáveis
pelas referidas doenças.
Fórmulo do diluidor o base de Tes-Tris(Tes= tris-hidroxi1Jmino-etono)
Sol.Stack. Sol.Leitedesnatadoo 11%
Tes 24,5g SoluçãoFinol
Tris 5,3g SoluçãodeTes-Tris:..36,5ml
D-frutose 1,08g SoluçãodeLeite: 36,Sml
Penicilina 500.000UI Glicerol: 7ml
Estreptomicino 500mg Gemodeovo: 20ml
Águo(bi-destilodo)...500ml *Filtrarameiodiluidorempapelfiltro.
Fonte:Gunzel,1979.
Fórmulo do diluidor o base Tris (Tris-hidroxi1Jmino-metono)
Sal.Stock. I Soluçãofinal
Tris 30.4812g
Ác.Cítrico 17,Og
D-frutose 12.5g
Estreptomicino 850mg
Penicilina 850.000UI
Água(bi-destilodo)850ml
Fonte:Vosonth(1979)
Sol.Tris 740ml
Glicerol 60ml
Gemade ovo ... 200 ml
105
Envasamento
Após a diluição, faz-se o envasamento do
sêmen, dividindo-o em doses para que sejam
armazenadas no botijão (container) de nitro-
gênio líquido. O modo de envasamento do
sêmen sofreu modificações e aperfeiçoamen-
tos. Em bovinos, no início do emprego da
técnica da IA com sêmen congelado, as doses
eram congeladas na forma de pellet, molda-
dos em pequenos buracos feitos no bloco de
gelo seco (-79°C). No entanto, por questões
sanitárias, dificuldade no manuseio, no ar-
mazenamento, descongelação entre outras,
esta técnica foi substituída pelo método de
congelação em ampola de vidro, com capaci-
dade para cerca de 1 mI. Este último também
por dificuldade de manejo, de armazenamen-
to e descongelação (em água com gelo), foi
substituído pela palheta francesa (média)
com capacidade para 0,5 mI, sem os proble-
mas dos métodos de envase anteriores. A
vantagem da congelação em palhetas é que
há uma perda menor de espermatozóide du-
rante o processo de congelação e desconge-
lação (cerca de 15-20%), em função do pro-
cesso de congelação ser mais uniforme por
toda a superfície da palheta, enquanto que
com a ampola, a perda espermática era de
cerca de 50% (Mies Filho, 1987).
Atualmente o melhor método de envasa-
mento é o que utiliza a palheta francesa fina
de 0,25 ml, cuja perda espermática durante
o processo de congelação e descongelação
do sêmen é de somente cerca de 10-15%
(Mies Filho, 1987). Além disso, a referida
palheta apresenta maior facilidade de arma-
zenamento do que a palheta média em fun-
ção do menor diâmetro. Na Alemanha, foi
desenvolvida a técnica do mini-tubo (capa-
cidade de 0,25 ml) cujo tamanho correspon-
de à metade da palheta média. Portanto, para
o envasamento do sêmen bubalino, podem
ser usados a palheta média, a fma e o minitub.
106
Congelação do sêmen
Após o envasamento transfere-se o sêmen
para uma câmara fria, regulada para 4°C pa-
ra que o sêmen abaixe a sua temperatura gra-
dualmente, o qual deve permanecer nesse
ambiente durante 3-4 horas, período deno-
minado de tempo de equilíbrio. Decorridoo
tempo de equilíbrio, prossegue-se no proces-
so de congelação, colocando-se as palhetas
ou minitub com sêmen no vapor do nitrogê-
nio líquido, o que é realizado com o auxílio
de uma plataforma feita de tela, localizada a
aproximadamente 4,0 a 5,0 cm acima do ní-
vel do nitrogênio líquido (vapor do nitrogê-
nio líquido), onde a temperatura está em tor-
no de 150°C negativos. O sêmen deve ser
mantido no referido vapor por 15 minutos
e, após decorrido esse tempo, ser mergulha-
do no nitrogênio líquido, completando o pro-
cesso de congelação do sêmen.
Avaliação do sêmencongelado
A avaliação do sêmen pós-congelação é
uma das etapas mais importantes do proces-
samento tecnológico do sêmen e visa obter
subsídios que assegurem que o processo de
congelação do sêmen foi adequado e mante-
ve a qualidade e a integridade espermática.
A descongelaçãodo sêmen deveser realizada
em água à 38° C, durante 45 segundos e, lo-
go após, examinar o sêmen com microscópio
adaptado com platina aqueci da, observando-
se a motilidade que deve estar acima de 45%
e vigor 3. É importante que o sêmen seja des-
congelado adequadamente como descrito
acima, caso contrário, a qualidade do sêmen
ficará comprometida (Sukhato et aI., 2001)
resultando em baixa taxa de concepção. Logo
após a avaliação da motilidade, colhe-se uma
amostra em formol salino para análise da in-
tegridade do espermatozóide através de mi-
croscopia de contraste de fase, com ênfase
especial sobre a membrana acrossômica,
uma vez que a mesma é facilmente lesada se
oprocessodecongelaçãonão for adequado.
Adicionalmente, pode-se fazer o Teste.de
Termo-Resistência (TTR) que consiste em
deixaro sêmen em um banho-maria à 39°C
durante 5 horase observara motilidadeao
final do teste, a qual deveser de no mínimo
20%. Os exames de laboratório têm por
objetivo observar características do sêmen
queestãocorrelacionadascom a capacidade
de fecundação do mesmo, entretanto, para
quese tenham dados sobrea real capacida-
dedefertilizaçãoénecessáriotestara partida
do sêmenno testede campo, onde amostras
do mesmosãoutilizadas em diferentes pro-
priedades,através das quais pode-se obter
dados concretos sobre a taxa de concepção
(número de doses utilizadas/vaca gestante),
o que indica a real capacidade de fecundação
do sêmen congelado.
Inseminação Artificial (IA)
na vaca bubalina
Com o adventodo uso de diluidoresespe-
cíficos para a espécie bubalina, os problemas
do processamento tecnológico do sêmen vi-
sando a congelação foi superado. Entretanto,
aperfeiçoamentos no emprego da técnica a
campo ainda são necessários, visando facili-
tar o seu uso, bem como, o manejo das fê-
meas a serem inseminadas, uma vez que, ain-
da existem pequenos problemas no processo
da IA em bubalino.
Um desses principais problemas é a difi-
culdade na detecção visual do estro pelo va-
queiro e na determinação do melhor momen-
to para a IA, tendo em vista que o comporta-
mento de estro na búfala é mais discreto que
na vaca bovina (Tabela 6.2). Por exemplo, o
comportamento homossexual que é caracte-
rizado pelo comportamento das fêmeas
montarem ou deixarem-se montar no perío-
do do estro, nas vacas bubalinas, somente um
pequeno número de animais apresenta esse
tipo de comportamento quando comparado
ao comportamento do bovino, especialmen-
te do Bos taurus, como também são os si-
nais clínicos, como o corrimento do muco
vaginal que só é detectado na búfala em es-
tro quando realiza-se a massagem da vagina
através do toque retal (Ohashi, 1994). Em
função desse fato, é de fundamental impor-
tância o uso de um rufião para a identifica-
ção segura da búfala em estro, o qual pode
ser um macho operado para essa finalidade
ou uma fêmea androgenizada.
O período para a observação de estro de-
ve ser no mínimo de 1-2 horas, duas vezes
ao dia, uma pela manhã entre 6:00 e 7:30 e
a outra pelo período da tarde entre 17:00 e
as 18:30 horas. Esses são os horários onde
os animais externam com maior intensidade
o comportamento de estro, especialmente em
regiões de alta temperatura ambiental, sendo
que, em regiões de clima ameno, o estro pode
ser manifestado em qualquer horário do dia
(Baruselli, 1994b).
Tabela 6.2. Principaissinais de estra observadasem búfalas
Fonte:Hale (1988); 2-Baruselli(1994b).
A búfala apresenta uma grande variabili-
dade na duração do estro, fato que dificulta
a determinação de um horário padronizado
para a realização da IA, entretanto, sabe-se
que o esquema utilizado em bovino não apre-
senta bons resultados em bubalinos (Tabela
6.3). Em função desse fato é que preconiza-
se a realização da IA da búfala após o término
do estro, ou seja, a partir do momento em
que a mesma não aceita mais ser montada
107
Sinoisdeestro %(n=70)1 %(n=29)1
Aceitaçãodomontapl rufião 100 100
Montaremoutrofêmea 17,1 3,4
Micçãofreqüente 67,1 72,4
Elevação da cauda 95,7 51,7
Edemavulvar 67,1 79,3
Mugido freqüente 57,0 51,7
Descarga de muco à palpoção 75,7 68,9
pelo rufião. Esse é um dos aspectos que difi-
culta a realização de um programa de IA em
pequenas propriedades, uma vez que é ne-
cessário manter dois rufiões na propriedade,
um para a detecção do estro dos animais a
campo e o outro rufião que deve ser mantido
junto com a fêmea em estro para observação
do momento em que a mesma não mais acei-
tar a monta, para que seja então realizada a
IA, uma vez que a ovulação ocorrerá em mé-
dia 16 horas após o término do estro (Vale,
1983; Baruselli, 1994a). Do ponto de vista
prático, esse fato torna-se uma limitação do
uso da referida técnica em propriedades com
pequeno número de animais e com deficiên-
cia de espaço físico (curral), visto que o ma-
nejo de dois machos na mesma área dificulta
o manejo dos animais.
Devido a dificuldade na detecção do estro
e na determinação do melhor momento para
realizar a IA na búfala, atualmente a metodo-
logia denominada de ovsynch (sincronização
da ovulação) utilizada em bovinos para a rea-
lização da IA em tempo fIXO(inseminação em
tempo pré-determinado) esta sendo adaptada
para a espécie bubalina usando-se GnRH +
PGF2alfa (Baruselli et aL, 1999; Sousa et aL,
1999) ou usando eCG (PMSG) + PGF2alfa,
bem como, compostos comerciais à base de
progesterona, sendo este último método usa-
do na forma de esponja intravaginal (Barile
etal., 2001). Em todos os protocolos os resul-
tados foram muito promissores, entretanto,
o único inconveniente ainda é o custo, espe-
cialmente se for usado para um programa de
IA em larga escala.
É necessário que se tenha em mente que'
em um programa de IA não basta somente I
um bom controle reprodutivo, é necessário
também que se tenha um rígido controle com
relação aos aspectos sanitários, bem como
com relação aos aspectos nutricionais do re-
banho. Outro fator que deve ser levado em
conta, quando da implantação de um progra-
ma de IA em bubalino, é o fato de que em
regiões onde há diferença de luminosidade
(dia/luz) durante o ano, o búfalo apresenta
o fenômeno da estacionalidade reprodutiva,
concentrando sua atividade reprodutiva nos
meses de outono e início de inverno (Baruselli,
1993; Baruselli, 2001). Em região equatorial,
como a Ilha do Marajó, onde não há diferen-
ça de luminosidade ao longo do ano, a repro-
dução pode ocorrer ao longo do ano. Nessa
região por haver variação na disponibilidade
de alimento, ocorre a estacionalidade repro-
dutiva, sendo que nesse caso, tal característi-
ca está relacionada ao fator nutricional (Vale,
1988), onde na estação chuvosa, ocorrem as
enchentes dos rios Ganeiro/junho) inundan-
do as pastagens, levando à escassez de ali-
. mento, com conseqüente queda na atividade
ovariana (ovário afuncional). No entanto, no
período de julho a novembro ocorre a estia-
gem das chuvas e os rios voltam ao seu leito
normal, disponibilizando as pastagens aos
animais, quando então tem início o apareci-
mento do estro, com decréscimo a partir de
dezembro/janeiro quando reiniciam as chuvas.
Outro aspecto que deve ser levado em
conta é o fato da novilha bubalina apresentar
o diâmetro do colo uterino bastante reduzi-
Animoisinseminodos
Tobelo 6.3. Toxo de concepçãode vacas bubolinos inseminodos em diferentes momentos após o aparecimento do estro.
Dose/gestoçãoMomento do Inseminoção
24 horasapósiníciodo estro
Padrãobovino
Apósfinal do estro
42
64
70
Dosesutilizados Animoisnascidos
79
148
97
25
29
47
3,16
5,10
2,06
Fonte:Valeet 01.(1990).
108
do, o que dificulta a passagem da pipeta du-
rante o ato de inseminar, especialmente por
Inseminador com pouca experiência. Em fun-
ção desse fato, deve-se no início de um pro-
grama de IA, dar preferência para animais
que já pariram, nos quais a cérvice já está
bem mais desenvolvida.
Considerações finais
A técnica da IA em bubalinos, no que se
refere ao processamento tecnológico do sê-
men, não apresenta mais as limitações quan-
to a sua qualidade pós-congelação, sendo
que ainda existem as pequenas limitações
quanto a detecção de estro e o melhor mo-
mento para inseminar a fêmea bubalina, cujo
problema pode ser minimizado com o auxílio
imprescindível do rufião, sem o qual a detec-
ção de estro nessa espécie torna-se bastante
difícil, mesmo quando essa função é realiza-
da por pessoa conhecedora do comporta-
mento de bubalino e treinada para esse fim.
Isso deve-se ao fato de que os sintomas de
estro na búfala são mais discretos que o da
vaca bovina. Apesar das dificuldades, a técni-
ca da IA em bubalinos tem apresentado um
grande progresso técnico-científico nesses
últimos anos, o que permite afirmar que essa
técnica pode ser usada rotineiramente como
instrumento para promover o aumento da
produção e a qualidade zootécnica do reba-
nho bubalino.
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Capítulo 7
Inseminação Artificial em Caprinos
José Ferreiro Nunes
Introdução
A inseminação artificial (IA) é a técnica
mais importante já idealizada para o melho-
ramento genético de animais. Isto se torna
possível porque poucos reprodutores alta-
mente selecionados produzem espermatozói-
des suficientes para inseminar milhares de
fêmeas por ano, enquanto que relativamente
poucos descendentes de fêmeas selecionadas
podem ser obtidos por ano, mesmo pela
transferência de embriões.
A técnica consiste na retirada do sêmen
do bode e sua deposição no aparelho genital
da cabra. O sêmen puro pode ter sua capa-
cidade de utilização aumentada grandemente
através da simples diluição. Devidamente
processado, pode o sêmen de uma só colheita
servir para algumas dezenas de cabras (Mies
Filho, 1978).
O sêmen caprino pode ser conservado
sob refrigeração a 4°C, podendo ser utiliza-
do em um curto espaço de tempo ou, ainda,
congeladoa -196°C em nitrogênio líquido,
o que possibilita a sua utilização por um lon-
go período de tempo. A tecnologia do sêmen
caprino possui entraves com relação à conge-
lação, proveniente de problemas gerados pela
interação do plasma seminal com os fosfoli-
pídios existentes nos diluentes comumenteuti-
lizados para beneficiamento e criopreservação
do material espermático (Nunes et aI, 1982).
O presente capítulo aborda a morfofisio-
logia do aparelho reprodutor masculino de
caprinos, a utilização da água de coco como
diluente, bem como a tecnologia de manipu-
lação e beneficiamento do sêmen caprino.
Morfofisiologia do aparelho
reprodutor masculino de caprinos
Anatomia e fisiologia
Os testículos são os principais órgãos den-
tre os que constituem o aparelho genital mas-
culino e dele dependem duas funções essen-
ciais: a espermatogênese e a produção hor-
monal (Thibault & Levasseur, 1992). Os tes-
tículos do bode são em número de dois, apre-
sentam forma ovóide e estão alojados na bol-
sa escrotal, em posição vertical (Figura 7.1).
São simétricos e de consistência firme. Os
testículos de um bode adulto pesam de 80 a
300 g, sendo influenciado pela raça, estação
do ano e estado nutricional (Baril et al., 1993).
O epidídimo é um órgão alongado que en-
volve medialmente cada testículo, com a sua
cabeça dirigida para a porção cranial da bor-
da livre do testículo. É composto de três partes
111
Prepúcio
Corpo do Epididimo--'
Cauda do Epididimo
Ampola
/ Vesículas Seminais
/ li Próstata
Ânus
.~<"'1\/
Bulbo
Uretrais
Músculo
Figura 7.1. Componentes do aparelho reprodutivodo bode.
distintas: cabeça, corpo e cauda e tem a fun-
ção de transportar e armazenar os esperma-
tozóides produzidos nos testículos. O dueto
deferente, junto com o dueto excretor da
glândula vesicular, desemboca na porção ini-
cial da uretra, formando o dueto ejaculatório.
Sua função é a de transportar os espermato-
zóides no momento da ejaculação.
As glândulas acessórias são responsáveis
pela produção do plasma seminal e estão si-
tuadas junto à uretra, depositando suas se-
creções nela. As glândulas vesiculares (duas)
são formadas por um corpo glandular. A
próstata, pouco desenvolvida, está distribuída
ao redor do lúmen da uretra. As glândulas
bulbouretrais têm o tamanho de uma avelã,
e possuem somente um conduto excretor de
cada lado.
O pênis é o órgão masculino responsável
pela cópula. É semelhante ao de outros rumi-
nantes e apresenta a flexura sigmóide (ou "S"
peniano) entre a pélvis e o escroto, disten-
112
dendo-se no momento da cópula, provocan-
do um aumento no comprimento efetivo do
pênis, que é exteriorizado e pode penetrar
no genital da fêmea. Apresenta, em sua extre-
midade, a glande, na qual se situa o processo
uretral (apêndice vermiforme), com 3 a 4 em
de comprimento.
O bode também possui glândulas odorífe-
ras, denominadas glândulas de Schietzel, lo-
calizadas atrás do ponto de inserção dos chi-
fres, e que produzem um odor característico,
o odor hircino, que aumenta na estação de
monta, estimulando o comportamento sexual
da fêmea.
Produção espermática e puberdade
A puberdade no bode está associada a um
marcante aumento na secreção de testostero-
na, na espermatogênese e no comportamen-
to sexual. De trinta a quarenta dias após o
nascimento, o crescimento dos testículos e
dos epidídimos do caprino jovem se processa
espermatogênico. A temperatura ambiental
acima da qual os espermatozóides caprinos
são afetados situa-se ao redor de 29-30°C.
Mas a sensibilidade dos bodes à temperatura
ambiental varia de acordo com a raça e o
local de criação. Existe uma variabilidade
intra-racial quanto ao estresse térmico, suge-
rindo uma possível origem genética. A bipar-
tição escrotal, em seus diversos graus, leva a
uma melhor regulação térmica testicular e
tem sido descrita em rebanhos tropicais co-
mo adaptação face ao clima adverso. Muitos
criadores de caprinos sabem que diferentes
regimes alimentares são capazes de modificar
a performance reprodutiva de seus animais.
Em zonas tropicais e subtropicais, a escassez
de alimentos é provavelmente um dos princi-
pais fatores ambientais que limitam a perfor-
mance reprodutiva. A libido do bode pode ser
marcadamente afetada pela falta ou escassez
de alimentos. A perda de peso crônica (400 g
de peso vivo semanalmente por 30 semanas)
provoca uma contínua diminuição do peso
testicular e da concentração e número total
de espermatozóides por ejaculado. Final-
mente, pode ser destacado que a deficiência
de vitaminas e minerais pode afetar a perfor-
mance reprodutiva dos bodes (Chemineau
etal.,1991).
Função fisiológica do plasma seminal
Frazer & Bucci (1996) afirmaram que o
plasma seminal é composto por açúcares, li-
pídeos e minerais, bem como por um elevado
teor de proteínas especiais, incluindo enzi-
mas, hormônios, vários fatores de crescimen-
to, inibidores, imunossupressores, substân-
cias ligadas a andrógenos, inibina e imuno-
globulinas, onde a presença ou a ausência de
muitos desses componentes pode estar en-
volvida com a fertilidade. Essas exercem im-
portante influência na sobrevivência das célu-
Ias espermáticas, comportando-se como in-
dicadores de patologias do aparelho repro-
114
dutor masculino e estão intimamente relacio-
nadas com a congelabilidade do sêmen (lbar-
ra & Navaridas, 1992).
Há muito tempo que o sêmen tem sido
objeto de intensas investigações bioquímicas,
mas apesar dos consideráveis avanços, os co-
nhecimentos sobre o plasma seminal ainda
são obscuros. As modificações que ocorrem
após o tratamento "in vitro", ocasionam va-
riações no metabolismo e/ou sobrevivência
dos espermatozóides, além disso, a inexistên-
cia de mecanismos de eliminação das células
espermáticas mortas, submete os gametas vi-
vos a conviverem com os produtos de sua de-
composição (Corteel, 1980). Skandhan (1981)
reconhece que as alterações de muitos com-
ponentes do plasma seminal são responsá-
veis pela incapacidade de fecundação do ga-
meta, contudo sugere que há uma correlação
direta entre o nível de zinco no fluido seminal
e a motilidade do espermatozóide, ressaltan-
do que pequenas quantidades deste elemento
são essenciais para a manutenção da motili-
dade espermática.
Ibarra & Navaridas (1992) sugerem que
a frutose seminal comporta-se como um mar-
cador das funções das vesículas seminais,
sendo necessária à sobrevivência e motilidade
inicial da célula espermática e que o ácido
cítrico reflete a atividade secretora da prósta-
ta mesmo que sua função ainda não seja bem
conhecida. Todavia, acredita-se que o ácido
cítrico se comporte como um ativador da fos-
fatase ácida, sendo importante para a manu-
tenção do equilíbrio osmótico, juntamente
com o potássio e o sódio, favorecendo deste
modo a atividade espermática.
O ácido cítrico é um dos principais cons-
tituintes do plasma seminal e apresenta uma
relação com os níveis de testosterona plas-
mática, ocorrendo em altas concentrações na
maioria das espécies de mamíferos, tendo ele-
vada importância para o metabolismo e mo-
tilidade espermática, por constituir-se em um
agente regulador necessário em muitos siste-
mas Bioquímicos (Polakoski & Kopta, 1982).
Singh & Penbey (1995), avaliando a cor~
relação existente entre os níveis de testostero-
na plasmática com a quantidade de alguns
constituintes bioquímicos do plasma seminal,
observaram que altas concentrações do an-
drógeno, não somente conduziam a uma me-
lhor demonstração da libido, como também,
eram responsáveis pela elevação dos níveis de
frutose e ácido cítrico no sêmen de caprinos.
Hiroe et aI. (1960) afirmaram que a condi-
ção de armazenamento do plasma seminal,
a freqüência de ejaculações, o nível de glicose
no sangue e a condição nutricional, podem
interferir fortemente na produção e metabo-
lismo da frutose.
Pinheiro et aI. (1996a), com o objetivo
de determinar os parâmetros bioquímicos
normais no plasma seminal de caprinos cria-
dos no Nordeste do Brasil, em machos das
raças Alpina, Moxotó e mestiço Alpina- Mo-
xotó, observaram que osvalores encontrados
para frutos e, ácido cítrico e proteína total fo-
ram inferiores na estação seca. Entretanto, em
ambas as estações, o tipo racial Moxotó mos-
trou valores sempre mais elevados, correla-
cionando os níveis de frutose e ácido cítrico
com a maior disponibilidade de alimento
ocorrida durante a estação chuvosa. Pinheiro
et aI. (1996b) sugerem que a disponibilidade
e quantidade de alimento entre os períodos
chuvoso e seco, provavelmente, influenciam
o equilíbrio eletrolítico do sêmen caprino.
Tem sido sugerido que o plasma seminal
de caprinos no meio de conservação interfere
no comportamento dos espermatozóides em
suportar a congelação (Corteel, 1974). Al-
guns experimentos relataram que a qualida-
de espermática do sêmen lavado, congelado
e descongelado é significativamente superior
ao sêmen não lavado, no que se refere à moti-
lidade individual progressiva (MIP), mas não
na percentagem de espermatozóides móveis
(Corteel, 1975a). A eliminação do plasma se-
minal melhorou o comportamento dos esper-
matozóides em suportar a congelação, a so-
breviver "in vitro" após a descongelação e sua
conservação a -196°C, assim como também,
aumentou a taxa de fertilidade (Corteel, 1976).
Baseado nestas observações, Corteel (1975a)
recomendou a lavagem do esperma de capri-
nos antes da congelação.
Entretanto, as recomendações para lava-
gem espermática foram preconizadas após
estudos realizados com animais de clima tem-
perado, onde comprovadamente o plasma
seminal exerce efeito deletério sobre os es-
permatozóides (Nunes et aI., 1982). Corteel
(1975a) relata que o tempo de conservação
do sêmen congelado com o plasma seminal,
conservado em nitrogênio líquido, decresce
significativamente quando comparado ao
sêmen criopreservado sem plasma seminal.
Assim, o plasma seminal caprino mostra-se
desfavorável à sobrevivência espermática
(Corteel, 1975b).
Durante a estação não sexual, em clima
temperado, o plasma seminal deprime forte-
mente a motilidade individual e a percenta-
gem de espermatozóides móveis, colhidos,
congelados na estação sexual e descongela-
dos na estação não sexual (Nunes, 1980).
Nunes et aI. (1982), demonstraram que
esse efeito deletério do plasma seminal da es-
tação não sexual provém das glândulas bul-
bouretrais que durante essa estação tornam-
se hipertrofiadas e secretam grandes quanti-
dades de fosfolipases do tipo "1\'.Essa enzima
age sobre os fosfolipídios dos diluentes, levan-
do a formação de lisolecitinas e ácidos graxos,
que exercem ação tóxica sobre os espermato-
zóides (Roy, 1957). Esse efeito é exacerbado
quando há interação entre as enzimas fosfoli-
pases e os fosfolipídios presentes no meio di-
luente como o leite e o plasma seminal, respec-
tivamente. Foi demonstrado que a congelação
do sêmen caprino diluído em leite, contendo
115
acima de 10 mg de fosfolipídios, causou a
morte de todos os esperrnatozóides (Nunes
et aI., 1982). Portanto, diluentes pobres em
fosfolipídios poderiam ser a solução para evi-
tar ou reduzir os efeitos negativos causados
pela fosfolipase "/\' sobre o sêmen de animais
desta espécie (Nunes, 1987). Dentre as alter-
nativas de diluentes pobres em fosfolipídios,
surgiu a água de coco que, através de experi-
rnentos "in vitro" e "in vivo", exibiu um exce-
lente comportamento no que se refere ao vi-
gor e motilidade de espermatozóides móveis
e fertilidade (Nunes, 1986).
Utilização da água de coco e suas
frações ativas como diluente do
sêmen de mamíferos domésticos
Propriedades físico-químicas da água de coco
A água de coco (Cocus nucifera), perten-
cente à subfamília Cocosidea, da família Pal-
mae, é composta de solução ácida estéril, con-
tendo sais, proteínas, açúcares, vitaminas,
minerais, fatores de crescimento e gorduras
neutras (Marques, 1982), além de indutores
da divisão celular e eletrólitos diversos, que
lhes conferem densidade e pH compatíveis
com o plasma sangüíneo, fornecendo, desta
forma, os nutrientes necessários para manter
a sobrevivência e viabilidade dos gametas mas-
culinos e femininos criopreservados (Blume
& Marques Jr., 1994). A água do coco ima-
turo é isenta de piógenos, com 2,5 a 5,9g/
100 rnl de açúcares redutores, não causando
hemólise no sangue humano in vitro ou in vivo
(Eisemann,1954).
Visando isolar a fração da água de coco
que atua sobre os espermatozóides, realizou-
se o fracionamento da água de coco, utilizan-
do-se urna coluna de Sephadex G-25, e um
comprimento de onda de 21Onm, verifican-
do-se quatro piques de saída recuperados em
60 tubos, sendo que o pique observado entre
os tubos 20 e 30 corresponde à fração B, da
qual isolaram urna molécula pertencente ao
116
grupo das auxinas, isto é, o ácido 3-indol-
acético, substância com ação hormonal es-
timuladorado crescimentode vegetais,a qual
demonstrou atividade sobre o metabolis-
mo dos esperrnatozóides(Nunes & Combar-
nous, 1995).
A introdução do ácido 3-indol-acético
(1M) na composição dos diluentes conven-
cionais do sêmen de diferentes espéciescon-
fere aos espermatozóides um incremento na
motilidade,aumentando a taxa de fertilidade,
além de permitir a sua conservação durante
períodos mais longos. Cruz (1994) obteve
urna fertilidade significativamente superior
com o uso de sêmen preservado por 48 ho-
ras a 4°C em meio contendo 1M (40,74%)
quando comparado com o sêmen em meio
à base de leite (14,81%).
Composição da água de coco
A água de coco recomendada para o uso
em diluentes seminais é a proveniente de fru-
tos com 6 meses de maturação, sendo com-
posta principalmente de açúcares, aminoáci-
dos, vitaminas e minerais (Tabela 7.1). No
estágio de maturação inicial, isto é, o fruto
verde com seis meses de idade, a água de
coco apresenta osmolaridade em torno de
500 mOsm/L e pH 4,5.
Principais etapas na inseminação
artificial em caprinos
Escolha do reprodutor
Na prática da inseminação artificial com
sêmen congelado espera-se que a central de
inseminação ofereça o material genético de
um animal de comprovada capacidade repro-
dutiva e que consiga transmitir, aos seus des-
cendentes, todos os aspectos almejados com
a técnica. Já com a utilização de sêmen fresco
ou resfriado, a avaliação do reprodutor é mui-
to importante.
Os machos caprinos e ovinos são animais
precoces que aos quatro meses de idade
Tabela7.1. Composiçãoda água de coco anãa maduro.
1. Aminoácidos
Alonino
Aminobutírico
Arginino
Aspargina
ÁcidoAspártíco
Fenilalonina
Glicino
ÁcidoGlutâmico
Glutamino
Histídino,Melioninae Hidroxipolino
Homoserino
Leucino
Usina
Prolino
Serina
Tirosino
Treonino
Volina
!-lg/ml
177.1
168.8
16.8
10.4
5.4
10.2
13.9
78.8
13.4
Troços
5.2
31.7
22.5
21.6
65.8
3.1
26.3
15.1
2. Açúcares
Frutose
Glicose
Socarose
!-lg/ml
8.9
2.46
2.51
3. Vitaminas
Ácidofólico
Ácidonicotínico
Ácidopontotéico
Biolino
Tiominoe Piridoxino
!-lg/ml
0.003
0.64
0.52
0.02
0.01
4. Minerais
Cálcio
Cloro
Cobre
Enxofre
Ferro
Fósforo
Mognésio
Potássio
Sódio
!-lg/ml
Traços
183.0
0.04
24.0
0.10
37.0
30.0
312.0
105.0
Fonte: Nunes& Combarnous,1995.
podem entrar em puberdade, atingindo a
maturidade sexual aos seis e sete meses após
o nascimento. Os animais jovens embora se-
xualmente maduros, têm produção de sêmen
inferior a dos animais adultos, portanto serão
considerados adultos quando atingirem o pe-
so, o desenvolvimento corporal e a produção
espermática ideais a sua raça. Geralmente,
isso acontece por volta dos dois anos de ida-
de. Um reprodutor pode atuar, ativamente,
como doador de sêmen dos seis a oito anos
de idade, quando deverá ser substituído, por
apresentar uma diminuição no seu potencial
reprodutivo (Nunes et aI., 1997).
Na escolha de um reprodutor devem ser
observadas algumas características:
+ os testículos devem ser simétricos, ovói-
des, firmes e presentes na bolsa escrotal.
Animais com problemas de criptorqui-
dismo (um ou ambos os testículos pre-
sentes no abdômen e não na bolsa es-
crotal), orquite (inflamação nos testícu-
los) e hipoplasia devem ser descartados
como reprodutores, poisessas altera-
ções podem comprometer a fertilidade;
+ o animal deve ser isento de alterações
penianas ou prepuciais;
+ deve apresentar boa libido (interesse se-
xual pela fêmea);
+ deve ter integridade escrotal (ausência
de bernes, carrapatos, bicheiras, mico-
ses ou outras lesões corporais);
+ deve ser isento de doenças;
+ não deve apresentar hérnia umbilical,
tetas supranuméricas ou tetas bífidas;
+ apresentar aspecto masculino: porte,
pescoço, voz, libido e desenvolvimento
testicular e peniano;
+ não ser agnata e nem prognata;
+ ter bons cascos e aprumos;
+ apresentar espermograma dentro dos
padrões da normalidade (volume entre
0,5 e 2,0 ml; concentração em torno de
3 x 109espermatozóides/ml; motilidade
117
massal > 3; motilidade progressiva indi-
vidual >3 e < 15% de alterações mor-
fológicas), segundo Nunes et alo(1997).
Colheitae manipulaçãodo sêmen
O sêmen pode ser processado de diferen-
tes maneiras, podendo ser usado:
a) fresco, puro ou diluído;
b) resfriado; ou
c) congelado.
Segundo Nunes et aI. (1997), o sêmen
fresco e resfriado apresenta fertilidade mais
elevada; o congelado preserva-se por um pe-
. ríodo de tempo indefinido, se mantido em
nitrogênio líquido à temperatura de -196°C
e é de maior aplicabilidade, quando compa-
rado ao sêmen resfriado a 4°C, cuja viabili-
dade máxima é de 48 horas. Produto da eja-
culação normal de um reprodutor, o sêmen
é composto de espermatozóides, produzidos
nos testículos, e uma fração líquida, produ-
zida pelas glândulas acessórias do aparelho
genital masculino. Os espermatozóides são
as células responsáveis pela fecundação dos
óvulos nas fêmeas. Na colheita do sêmen de
bodes, utiliza-se a vagina artificial, instru-
mento que simula as condições de pressão e
temperatura das vaginas naturais. A vagina
artificial pode ser constituída por um tubo de
PVC rígido, um tubo elástico de borracha e
uma torneira, por onde deve passar a água à
40° C. Na extremidade desta estrutura, aco-
pIa-se um copo de colheita graduado em dé-
cimos de milímetros (Figura 7.2).
Figura7.2. Vaginaartificialacoplada a copo coletar
118
O ato de colher o sêmen é simples: segu-
ra-se a fêmea em estro natural ou induzido,
apresentando-a ao macho. Quando este efe-
tuar o salto, segura-se o prepúcio com a mão,
desviando o pênis para dentro da vagina ar-
tificial. A ejaculação é quase instantânea. O
material colhido deve ser protegido da luz
solar direta, da poeira, da agitação e de mu-
danças bruscas de temperatura.
Avaliação do sêmen
O sêmen deve ser avaliado de acordo com
as seguintes características:
. volume: varia de 0,5 a 2,0 ml;
. cor: deve ser amarelada, desprezando-
se o sêmen com coloração avermelhada
ou com cor de chocolate,indicandopre-
sença de sangue ou pus;
. aspecto: variando de leitoso a cremoso,
desprezando-seo sêmenaquoso ou tur-
vo, indicativo de pequeno número de
espermatozóides;
. concentração:determinadano espectro-
fotômetro ou no microscópio segundo
a técnica empregada em hematimetria;
significaa quantidade de espermatozói-
des em cada mililitrode sêmen. O valor
normal está em torno de 3 bilhões/ml;
. Turbilhonamento (motilidade massal):
movimento da massa de espermatozói-
des no plasma seminal.Assemelha-seàs
ondas do mar e pode receber notas de
O (sem movimento) a 5 (movimentos
muito fortes)
. Motilidadeindividualprogressiva:movi-
mento em flechade cada espermatozói-
de (escalade Oa 5). Para a inseminação
artificial devem ser utilizados somente
ejaculados que apresentarem valores
para motilidade igualou superior a 3;
. Morfologiaespermática:a porção dees-
permatozóidespatológicos (sem cauda,
com cauda dupla, com dupla cabeça, etc.)
dentro da população espermática, não
devendo ultrapassar os 15%.
Diluição do sêmen
Após a etapa de avaliação e consideran-
do-se ter a amostra do sêmen boa qualidade,
passa-se à fase de diluição, a qual deve ter
concentraçãofinal,para cada dose, de apro-
ximadamente 200 milhões de espermatozói-
des por ml. Caso não se disponham de meios
para determinar, com eficácia, tal concentra-
ção, procede-se uma diluição prática com
uma parte de sêmen para nove partes do di-
luente, isto é, para 1,5 ml de sêmen, adicio-
nam-se 13,5 mldo diluente, obtendo-se 15 ml
de sêmen diluído, quantidade suficiente para
inseminar 30 fêmeas, já que se utiliza 0,5 ml
da solução por inseminação.
Escolhado diluente
Um bom diluente deve ser atóxico para
os espermatozóides; ter pH e pressão osmó-
tica compatíveiscom a sobrevivênciaesper-
mática; ser de baixo custo e preparo fácil.
Dentre os vários diluentes, destacam-se:
a) Diluentepara sêmencongelado (-196°C):
Leite desnatado 20 g
Glicose 388 mg
Água bidestilada 200 ml
PenicilinaG sádica 200.000U.I.
Sulfato de estreptomicina 100 mg
b) Diluente para sêmen resfriado (4°C):
Água de coco filtrada 50 ml
Água bidestilada 25 ml
Solução de citrato de sódio a 5% 25 ml
O coco utilizado deve ter, aproximada-
mente, seis meses de maturação, ou seja,
apresentar-se no início da formação da ca-
mada tipo "gel". Antes de ser utilizada, de-
ve-se proceder à filtragem da água de coco
em filtro de papel (Salgueiro, 2000).
Envasamento
Após a diluição, o sêmen deve ser acondi-
cionado de maneira a permitir a aplicação fácil
e rápida. Por isso, são envasados em "palhe-
tas" de 0,5 ml, para posterior refrigeração
ou congelação. No envase, procedimento
simples, segura-se a palheta pela porção su-
perior (extremidade fechada), insere-se a ex-
tremidade oposta no sêmen diluído e enche-
se a palheta, por aspiração. A seguir, bate-se
suavemente, a fim de formar uma pequena
bolha de ar na sua porção terminal, preen-
chendo, esse espaço, com massa de modelar,
álcool polivinílico ou selar com seladora elé-
trica. Por ocasião da inseminação, remove-
se esse lacre, cortando-o com uma tesoura.
As doses devem ser identificadas, principal-
mente quando são utilizados sêmen de repro-
dutores distintos. A identificação mínima de-
ve conter a raça, o nome ou número do re-
produtor, a data e a hora do envasamento.
Resfriamentodo sêmencaprino diluído em
água de coco
A água de coco, por ser pobre em fosfoli-
pídios, apresentou-se como um diluente fa-
vorável, possibilitando um excelente compor-
tamento do sêmen caprino, tanto in vitro
quanto in vivo.A tecnologia do sêmen capri-
no resfriado e diluído em água de coco ou
leite mostrou-se eficiente no processo de di-
fusão genética de reprodutores da raça Saa-
nen. O maior tempo de sobrevivência do sê-
men desses reprodutores em água de coco
permitiu, através de um baixo custo econô-
mico, aumentar a produtividade leiteira das
cabras nativas em certas regiões do Nordeste
brasileiro.
A água de coco apresenta resultados satis-
fatórios com o sêmen diluído e resfriado a
4°C. No entanto, para a congelação, os re-
sultados não são desejáveis, pois a presença
de fosfolipídios é necessária para a criopre-
servação das células espermáticas, principal-
mente à temperatura abaixo de O°C,havendo
a necessidade da adição de certa quantidade
de fosfolipídios, após a lavagem do plasma
seminal, possibilitando, uma boa criopreser-
119
vação do material espermático e viabilizan-
do, dessa forma, o sêmen caprino, tanto in
vitro quanto in vivo após a congelação.
Tratamento do sêmen após a colheita
Após a colheita, avaliam-se o volume (ml),
a concentração espermática (109 sptz/ml) e
turbilhonamento (motilidade massal-escore
de Oa 5). O volume é determinado por obser-
vação direta através de copo coletor gradua-
do e a concentração espermática por espec-
trofotometria utilizando-se 5 ml de uma so-
lução salina formolizada a 0,1% e 50 I.Lide
esperma puro. O número total de esperma-
tozóides no ejaculado é determinado multi-
plicando-se o volume pelo número de esper-
matozóides indicados po~ ml através da tra-
mitância de cada animal. O turbilhonamento
é determinado por observação de uma gota
de esperma puro, em microscopia ótica (au-
mento de 1OOX).
~ Preparação da solução a base de água
de coco (100 mil
Utiliza-se 50% de água de coco filtrada,
25% de água bidestilada e25% de solução de
citrato de sódio a 5%. O coco a ser utilizado
deve ter, aproximadamente, de 4 a 6 meses
de maturação, ou seja, apresentar-se no início
da formação da camada tipo" gel" .A ftltração
deverá ser realizada em ftltro de papel.
A água bidestilada será utilizada para bai-
xar a osmolaridade para 300 miliosmoles e
o citrato de sódio a 5% para elevar o pH para
6,2 a 6,8, sendo os citados valores compatí-
veis para o sêmen caprino (Nunes & Com-
barnous, 1995).
~ Adição de gema de ovo
Acrescenta-se 2,5% de gema de ovo à so-
lução a base de água de coco, ou seja, em
uma solução de 100 ml, retira-se 2,5ml da
solução e descarta-se, em seguida, adiciona-
se 2,5ml de gema de ovo à solução. A gema
120
de ovo, por ser rica em fosfolipídeos, protege
os espermatozóides do choque térmico em
temperaturas abaixo de O°C (Mies Filho et
aI., 1982).
~ Uso do glicerol
O glicerol é utilizado como crioprotetor
em uma porcentagem de 7% em 100 ml da
solução final. Para a adição do glicerol, sepa-
ra-se a solução de 100 ml, já adicionada da
gema de ovo, em dois recipientes de 50 ml.
A primeira solução será denominada de fra-
ção A e terá 0% de glicerol, sendo acondicio-
nada em um banho-maria a uma temperatu-
ra constante de 37°C. À segunda solução,
acrescentar 14% de glicerol, ou seja, descar-
ta-se 7 ml da solução e acrescenta-se 7 ml
de glicerol. Tal solução será denominada de
fração B e deverá ser levada ao freezer para
que atinja a temperatura de 4°C.
~ Primeiradiluição
Realizada na proporção de 1 parte de sê-
men para 4,5 partes da fração A, ou seja,
1 ml de sêmen para 4,5 ml da fração A.
Avaliação da motilidade individual pro-
gressiva (MIP) e da percentagem de esper-
matozóides móveis
Após a primeira diluição, o sêmen é incu-
bado a 37°C em banho-maria, sendo então
avaliadas a motilidade individual progressiva
(MIP) e a percentagem de espermatozóides
móveis (% sptz móveis) estimadas em mi-
croscopia ótica (aumento de 400X), por exa-
me subjetivo de uma gota de sêmen diluído
e avaliado entre lâmina e lamínula.
~ Resfriamentodo sêmen
Ocorre de forma progressiva, na geladeira
e não no freezer, onde permanece por 45 mi-
nutos, aproximadamente, dentro de um bé-
quer ou um copo de vidro contendo água, até
atingir a temperatura de 12°C. Atingida esta
temperatura, transporta-se o sêmen para o
freezer, até atingir a temperatura de 4°C.
~ Segunda diluição ou glicerolização
A glicerolização realiza-se em 3 etapas que
constam de adição, a cada 5 minutos, de uma
parcela da fração B, duplicando o volume e
reduzindo a primeira diluição pela metade.
~ Exame pós-glicerolização
Antes de envasar, avalia-se a motilidade
individualprogressivae a porcentagemde es-
permatozóidesvivos,através de microscópio
ótico no aumento de 400x.
~ Envasamento e Congelação
Depois de envasados em palhetas e fecha-
dos com álcool polivinílico ou massa de mo-
delar atóxica, são levados a um isopor com
rampa suspensa a 3 cm da base para que as
palhetas recebam somente os vapores de ni-
trogênio líquido, até atingir a temperatura de
- 60°C. Decorridos 5 minutos, transfere-se
parabotijõesde nitrogêniolíquidoa - 196°C,
onde serão armazenados.
Avaliação do sêmen após a descongelação
Decorridos 15 dias após a congelação, re-
tiram-se do botijão amostras aleatórias de pa-
lhetas para a descongelação. As palhetas são
imersas em banho-maria a uma temperatura
de 37°C, durante 1 minuto. Descongeladas
as amostras, avaliam-se, novamente, a moti-
lidade progressiva individual e a percentagem
de espermatozóides vivos em cada diluente
e, ainda, as alterações morfológicas.
~ Avaliação das alterações morfológicas
Efetuam-se "esfregaços" de sêmen de cada
amostra descongelada, utilizando-se uma so-
lução de coloração composta de eosina a 1%,
de nigrosina a 3% e de citrato de sódio a 3%
(Colas, 1980). Em cada "esfregaço"são ava-
liadas 150 células, observando-se os defeitos
de cabeça, das peças intermediárias, das gotas
citoplasmáticas proximal e distal e do flagelo,
através de microscópio ótico, utilizando ocu-
lar de 10% e objetiva de imersão (100%).
No que se refere à morfologia do esper-
matozóide, Arbeiter (1964) detectou 15,5%
de espermatozóides morfologicamente anor-
mais, após o exame de 144 ejaculados pro-
venientes de nove animais sadios. A freqüên-
cia entre diferentes alterações classificadas
em seis grupos é altamente significativa (Ta-
bela 7.2).
Tabela 7.2. Freqüência de anomalias morfolágicos dos espermatozái-
des de bodes com um quadro espermático normal.
Alterações
Porte superior do cabeça
Cabeça
Peço intermediário
Flogelo
Estruturas duplos ou múltiplos
Fonte: Arbeiter, 1964.
%
3,00
0,74
3,00
6,5
0,01
Principais resultados referente à
utilização da água de coco e seu
princípio ativo (IAA) na
inseminação artificial em caprinoso
Sob a forma de gel e estabilizada, a água
de coco tem mostrado excelentes resultados
no aumento das taxas de parição, no índice
de prolificidade e na fertilidade. Os resulta-
dos observados com cabras inseminadascom
sêmen diluído em água de coco x leite estão
ilustrados abaixo (Tabela 7.3).
Tabela 7.3. Fertilidadede cobrasinseminadascom sêmen diluídoem
água de coco e leite.
Porõmetros Águo de coco Leite
Fertilidade aos 60 dias
Taxo de ponção
Taxo de prolificidode
Proporção de fêmeas
Proporção de mochos
Fonte: Nunes, 1998.
85%(136)
60%(96)
110%(105)
43%(45)
57%(60)
88%(194)
68%(150)
180%(266)
72%(194)
28%(72)
Toniolli & Mesquita (1990), trabalhando
com sêmen suíno diluído em água de coco,
obtiveram taxa de parição superior ao BTS,
121
além de um melhor comportamento do sê-
men in vitro com relação à motilidade. Refe-
rente a humanos, a motilidade e percentagem
de espermatozóides móveis do sêmen diluído
em água de coco ou 1M foram estatistica-
mente superiores aos dos diluentes conven-
cionais. Montezuma et aI. (1974) realizou
teste de termo-resistência a 37°C no sêmen
canino diluído em água de coco e observou
que a motilidade e porcentagem de esperma-
tozóides móveis foram superiores àquelas
obtidas com o diluente à base de leite desna-
tado, sobretudo ao final do tempo de incuba-
ção de 120 minutos.
Resultados superiores (p<O,OS) em to-
dos os tempos de incubação para a água de
coco como diluente, em relação ao leite, fo-
ram encontrados nas avaliações das percen-
tagens de espermatozóides móveis e da mo-
tilidade progressiva do sêmen ovino incubado
a 15°C durante 24 horas (Tabela 7.4).
Tabela 7.4. Percentagemde espermatozóides móveis e motilidade
progressivado sêmen ovino diluído em água de coco
e no leite, incubadasa 15Q C.
Avaliaçãoin vitroe in vivodo sêmendeovinos,
caprinose humanosadicionado de IAA
Cruz (1994) trabalhando com sêmen ovi-
no diluído em água de coco e no 1M e con-
servado por 48 horas a 4°C, observou taxas
de parição de 42% para 1M, 22% para a água
de coco e 0% para o leite, lactose e gema de
ovo (Cruz, 1994).
122
Na espécie humana, realizaram-se en-
saios preliminares com sêmen de indivíduos
oligospérmicos, incubados à temperatura
ambiente e diluído em 1M e diluente Mene-
zo, sendo observada a motilidade (velocidade
retilínea do espermatozóide) durante um pe-
ríodo de 20 horas, em ambos os diluentes. A
ação do 1M na menor dosagem, ou seja, fan-
togramas (1019IM/rnl de sêmen) foi signi-
ficativamente superior em relação às doses
crescentes de 1M e, ainda, em comparação
com o diluente Menezo.
Na Índia, foram isoladas e identificadas,
na água de coco, as substâncias promotoras
do crescimento revelando várias citocininas
endógenas e, ainda, traços de zeatina e ribo-
sídeo. O endosperma líquido, concomitan-
temente, mostrou a presença de 1M e de
duas giberelinas.
Dix & Van Standen (1982) identificaram
na água de coco as substâncias "giberielin-
like", que constituem as termolábeis, "asamá-
nas e as citocininas, fatores ativos que se rela-
cionam com fatores estabilizadores de calor,
já que os níveis de citocininas conhecidas e
presentes na água de coco, são elevados.
A comparação da motilidade individual
progressiva dos espermatozóidescaprinos
diluídos em água de coco in natura com este
diluente acrescido de 10ng/ml de zeatina e
com O,OSng/ml de 1M, evidenciou melhor
comportamento com a adição de 1M (Tabela
7.5). No que se refere ao comportamento in
vivo do 1M, a melhor fertilidade do sêmen
sempre foi alcançada com as menores doses.
Tabela7.5. Motilidadeindividualprogressivadosêmendecoprinosdiluído
emáguadecocoin naturae acrescidadezeatinae 1M.
Tempode
incubação
(minutos)
5
30
60
90
120
Diluenteáguodecoco(motilidade- média:t DP)
innatura1OngdeZeatina/ml0,05ngdeIM/ml
45.7:t19,8 32,8:t12,7 23,6:t24,5
42,8:t21,1 30,°:t16,0 60,°:t25,0
35.7:t12,9 27,1:t8,08 54,3:t23,0
40,°:t13,0 27,1:t11,7 47,1:t21,8
37,8:t19,2 25,°:t14,2 35,8:t15,7
Fonte:Salles,1989.
Tempodeincubação Águodecoco Leite
(horas) (% sptz móveis) (% sptz móveis)
-motilidade- -motilidade-
2 85-4,5 80-4,5
4 80-4,5 70-4,0
6 70-4,0 60-3,5
8 60-4,0 50-3,0
24 50-3,0 3°-2,0
Fonte:Nunes,1998.
Diante dos resultados alcançados, pode-
se concluir que a água de coco in natura, des-
de que corrigidos a osmolaridade e o pH para
o sêmen da espécie respectiva, constitui-se
em um diluente eficiente, com uma relação
custo-benefício favorável aos programas de
inseminação artificial. Além disso, a fração
ativa da água de coco contendo a substância
IAA apresenta efeito potencializador, incre-
mentando a motilidade in vitro de esperma-
tozóides de caprinos, ovinos e suínos, com
correlações positivas sobre a fertilidade dos
rebanhos das referidas espécies.
Considerações Finais
A seleção de reprodutores caprinos po-
derá contribuir com a elevação das taxas de
crescimento de animais jovens e com a me-
lhoria da eficiênciareprodutiva e do material
genético dos rebanhos, uma vez que, além
de contribuir com metade do patrimônio
genético para a progênie, ainda se pode
aplicar neles uma pressão de seleção maior
do que nas fêmeas.
A identificação da idade em que se inicia
a puberdade, no macho caprino, permite ao
produtor adotar técnicasde manejoreprodu-
tivo,no que diz respeito à castração, à época
da separação dos animais por sexo e à sele-
ção precoce de animais destinados à repro-
dução, contribuindo para reduzir o intervalo
entre gerações e conseqüentemente permi-
tindo o melhoramento genético mais rápido
do rebanho.
Uma avaliaçãoda morfologiados testícu-
los, incluindo as medidas de circunferência
escrotal, permite aos criadores a escolha de
melhores animais jovens destinados à repro-
dução, devido à alta correlação entre essas
características com a produção total de sê-
men e o desempenho reprodutivo.
Vários são os pesquisadoresque têm con-
centrado seus estudosno desenvolvimentode
técnicas que permitam a máxima exploração
do potencial reprodutivo de animais de alto
padrão genético. A sincronização do estro, a
inseminação artificial (com a utilização de sê-
men fresco, resfriado ou congelado) e a trans-
ferência de embriões, são exemplos de biotéc-
nicas já utilizadas em nívelprático. Outras te-
rão sua aplicabilidade no futuro, como é o ca-
so da fecundação "in vitro", da sexagem, da
clonagem e da transferência de genes. A bio-
técnica de isolamento, criopreservação e culti-
vo de folículos ovarianos pré-antrais (FOPA),
recentemente desenvolvida, e a tecnologia de
beneficiamento do sêmen diluído em água de
coco, também poderão contribuir de maneira
significativa para a conservação e multiplica-
ção de animais de alta linhagem, bem como
aqueles em via de extinção.
O uso de diluentes pobres em fosfolipí-
dios pode contribuir para a biotecnologia de
criopreservação do esperma caprino, supri-
mindo os processos de lavagens pelos quais o
sêmen deverá passar antes de ser diluído nos
diluentes convencionais.
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125
Capítulo 8
Transferência e Criopreservação
de Embriões Bovinos
Horst-DieterReichenbach,Marcos Antônio Lemos de Oliveira,
Paulo Fernandes de Lima, Antônio Santana dos Santos Filho,
Joaquim Corrêa de Oliveira Andrade
Introdução
A transferência de embriões (TE) é uma
biotécnica que permite recolher embriões de
uma fêmea doadora e transferi-Ios para fê-
meas receptoras com a finalidade de comple-
tarem o período de gestação. Apesar dos pro-
cedimentos sofisticados necessários para sua
implementação, a TE é uma biotécnica mun-
dialmente difundida. Sua importância básica
para a produção animal consiste na possibili-
dade de uma fêmea produzir um número de
descendentes muito superior ao que seria
possível obter fisiologicamente durante sua
vida reprodutiva. Além de equacionar proble-
mas relativos a questões de ordem genética e
sanitária, contribui para ampliar os conhe-
cimentos de fisiologia, patologia e endocri-
nologia decorrentes da relação entre em-
brião, orgãos genitais internos e sistema ner-
voso central.
A TE fornece a base técnica para viabilizar
a implementação de biotécnicas afins, como
a produção de clones e de animais transgêni-
coso Para o melhoramento zootécnico, ela é
um importante instrumento porque acelera
e confere maior precisão no processo de se-
leção animal. Além disso, a TE pode ser em-
pregada para obter descendentes de animais
com distúrbios reprodutivos adquiridos sem
caracterização genética, impedindo, em alguns
casos, o descarte precoce de fêmeas gene-
ticamente superiores.
Este capítulo tem por objetivo principal
apresentar os diferentes métodos e técnicas
empregadas na TE de bovinos de forma por-
menorizada e de abordar, para melhor com-
preensão do conteúdo temático, assuntos re-
lativos à fisiologia e ao controle biotécnico
do ciclo estral e da ovulação, bem como con-
cernentes aos processos de fecundação e de
desenvolvimento embrionário. Ao término
deste capítulo e com todos os assuntos discu-
tidos, espera-se ter repassado informações
atualizadas que permitam o leitor adquirir
não somente os conhecimentos específicos
da TE em bovinos, mas de ter proporcionado
uma visão técnica consistente sobre o poten-
cial de utilização desta biotécnica em prol da
melhoria dos rebanhos, especialmente quan-
do utilizada em conjunto com as biotécnicas
afins aqui apresentadas.
Histórico
A idéia de fazer uma fêmea conceber um
embrião colhido de outra da mesma espécie
é bastante antiga e os coelhos foram os ani-
127
mais selecionados por Heape (1890) para rea-
lizar a primeira transferência. Na espécie bovi-
na, a primeira TE foi realizada ainda na me-
tade do último século por Willet et alo(1951).
Em termos comerciais, a TE em bovinos
teve início nos Estados Unidos da América
durante a década de 70. Nessa época, os em-
briões ainda eram colhidos através de laparo-
tomia mediana sob anestesia geral inalatória,
fato que limitava a difusão dessa biotécnica.
Ainda na metade dos anos 70 e na busca de
alcançar resultados semelhantes aos obtidos
com o método cirúrgico, técnicos de vários
laboratórios desenvolveram o método de co-
lheita não cirúrgica, mas apesar disso, a
transferência continuava sendo realizada
através da laparotomia do flanco sob aneste-
sia local. Como nessa mesma década, outros
pesquisadores viabilizaram a colheita e a
transferência unicamente por via transcervi-
cal, esse método não cirúrgico tornou-se um
marco na história da TE em bovinos devido
a sua exeqüibilidade ter sido bastante simpli-
ficada, fato que dinamizou a comercialização
de embriões.
A criação da Sociedade Internacional de
Transferência de Embriões (IETS) no ano
de 1974, em Denver-Colorado/EUA, pro-
porcionou grande difusão dessa biotécnica
em bovinos, especialmente a partir de 1978
com o lançamento dos anais da IETS que
permitiu maior divulgação e acesso das ino-
vações tecnológicas em outros continentes.
A necessidade de melhor aproveitar a ca-
pacidade produtiva de animais geneticamente
superiores motivou os pesquisadores a desen-
volverem métodos para superovular fêmeas
buscando obter um elevado número de em-
briões em um mesmo ciclo estral. Esse méto-
do permite um aproveitamento mais racional
do potencial de uma fêmea produzir muito
mais descendentes do que seria possível atra-
vés dos processos fisiológicos de reprodução.
Como o número de fêmeas receptoras nem
128
sempre era compatível com a quantidade de
embriões disponíveis para transferência, criou-
se a expectativa de se conservar os embriões
excedentes para maximizar a eficiência dessa
biotécnica, fato que motivou o nascimento
do primeiro produto originado de embrião
congelado, segundo relato de Wilmut &
Rowson (1973).
No Brasil, a primeira tentativa de se trans-
ferir embriões bovinos data do ano de 1977,
quando um convênio existente entre a Uni-
versidade Federal de Santa Maria e a Escola
de Medicina Veterinária de Hannover pro-
porcionou a vinda do Professor J.Hahn, en-
tão responsável pelos trabalhos de TE na Clí-
nica de Ginecologia e Obstetrícia da referida
escola alemã. Todavia, somente a partir da
década de 80 é que essa biotécnica em bovi-
nos foi realmente difundida. O marco impor-
tante no Brasil foi a criação, em 1985, da So-
ciedade Brasileira de Transferência de Em-
briões, atualmente denominada de Socie-
dade Brasileira de Tecnologia de Embriões
(SBTE), que vem proporcionado, ao longo
dos anos, eventos técnico-científicos visando
respaldaros profissionais da área.
Bases Fisiológicas da Transferência
de Embriões
Aspectos Fisiológicos do ciclo Estral
Na espécie bovina, a atividade sexual das
fêmeas tem início quando alcançam a pu-
berdade e atingem desenvolvimento corpo-
ral correspondente aos padrões da raça. Os
bovinos, classificados como poliéstricos con-
tínuos por exibirem atividade sexual durante
todos os meses do ano, quando mantidos
em condições ambientais adequadas apre-
sentam ciclo estral com duração aproxima-
da de 21 dias, sendo constituído das fases
de proestro (3 dias), estro ou fase estrogêni-
cal proliferativa (:t 18 horas), metaestro (2
a 3 dias) e diestro ou fase luteínica/secretó-
ria (:t 14 dias).
A fisiologia do ciclo estral é complexa e
depende da perfeita interação entre o sistema
nervoso central (hipotálamo e hipófise) e os
órgãos genitais (útero e ovários). O hipotála-
mo, estrutura localizada centralmente na base
do cérebro, possui agrupamentos neuronais
(núcleos) responsáveis pela secreção de hor-
mônios peptídicos, os quais, através dos axô-
ruos dos neurônios ou do sistema porta-hipo-
talâmico-hipofisário são carreados, de forma
pulsátil, até a hipófise para controlar a ativida-
de dessa glândula. No caso dos eventos repro-
dutivos, os fatores liberadores de gonadotro-
finas (GnRH), ligam-se a receptores específi-
cos nos gonadotrofos da adeno-hipófise para
dar início a sÚltese e a liberação, também pul-
sátil, dos hormônios de natureza glicoprotéi-
ca, denominados hormônio folículo estimu-
lante (FSH) e hormônio luteinizante (LH).
Alguns fatores intrÚlsecos e extrínsecos in-
fluenciam no controle da secreção de GnRH.
Intrinsecamente, os hormônios esteróides do
ovário são estrógeno e progesterona, conhe-
cidos por exercerem ação destacada na sÚltese
das neurosecreções hipotalâmicas e das gona-
dotrofinas adeno- hipofisárias. A progesterona,
que exerce efeito modulador sobre o hipotála-
mo, diminui a freqüência de pulso de GnRH
através do mecanismo de retroalimentação
negativa, enquanto que a ação estrogênica va-
ria de acordo com a concentração de proges-
terona. Durante a fase luteínica, o estrógeno,
em ação sinérgica com a progesterona, depri-
me a secreção de GnRH, mas durante a fase
pré-ovulatória dos folículos ovarianos, esse
esteróide, por meio de retroalimentação posi-
tiva, determina o aumento da freqüência pul-
sátil de GnRH e da onda pré-ovulatória de
LH. Dentre os fatores extrínsecos que inter-
ferem na sÚltese de GnRH, o estado nutricio-
nal do animal, a temperatura ambiente, o fo-
toperíodo conforme a região geográfica, a
época do ano, o manejo do rebanho, situa-
ções de estresse, o estímulo da amamentação
em vacas de corte e os feromônios masculi-
nos são os de maior importância. A nutrição
em conjunto com a condição corporal de-
sempenham papel relevante na secreção de
GnRH e, por conseguinte, na fisiologia da
reprodução. O estímulo da amamentação em
vacas de corte resulta na produção de opiói-
des endógenos que inibem a secreção de
GnRH pelos neurônios hipotalâmicos.
A ação do GnRH sobre a adeno-hipófise
pode ser também influenciada por hormô-
nios específicos produzidos pelos folículos
ovarianos. Até o presente, o hormônio mais
interessante é a inibina que, seletivamente,
suprime a secreção de FSH sem interferir na
de LH. Por outro lado, a ativina estimula a
secreção de FSH e o balanço entre esses fa-
tores pode determinar a taxa de secreção de
FSH. O LH, como anteriormente comenta-
do, é secretado de forma pulsátil e a freqüên-
cia desses pulsos é regulada pelo GnRH e,
conseqüentemente, pela secreção de proges-
terona durante a fase luteínica, pelo balanço
energético negativo durante o pós-parto e
pelo estímulo da amamentação. A liberação
de FSH é regulada pelo estrógeno e inibina
(vide Capítulo 3). Apesar das gonadotrofinas
hipofisárias atuarem de modo sinérgico, de-
sempenham funções diferenciadas. Enquan-
to o FSH tem a função de atuar sobre os pe-
quenos folículos ovarianos estimulando o de-
senvolvimento até o estádio de folículo domi-
nante, o LH atua no final da maturação desse
folículo dominante estimulando a produção
de estrógeno e induzindo a ovulação, além
de estimular a secreção de progesterona pelo
corpo lúteo. No caso da fêmea não ter sido
naturalmente ou artificialmente inseminada
durante o estro, o útero não recebe o sinal
trofoblástico do embrião e em decorrência
de ser estimulado pela ocitocina secretada
pelo corpo lúteo, libera a prostaglandina que
promoverá a lise desse corpo lúteo, por volta
do 17° ou 18° dia do ciclo, permitindo a ocor-
rência de um novo ciclo estral.
129
Superovulação
Logo após o nascimento, os ovários de
uma fêmea bovina contêm milhares de folícu-
los, entretanto, muito poucos desenvolvem,
maturam e ovulam durante a vida reprodutiva.
Os demais permanecem em umpool no esta-
do de lemrgia e, por um mecanismo ainda des-
conhecido, são recrutados em grupos para
iniciar o desenvolvimento. Do grupo de folí-
culos que iniciam a emergência da onda, um
deles é selecionado, torna-se dominante e
continua desenvolvendo, enquanto os outros
regridem e tornam-se atrésicos. Picos na con-
centração de FSH coincidem com a emergên-
cia da onda folicular, enquanto que o momen-
to da divergência da taxa de crescimento dos
folículos dominantes e subordinados encon-
tra-se relacionado com o decréscimo da con-
centração desse hormônio gonadotrófico.
Nos bovinos, o desenvolvimento folicular
apresenta a particularidade de, na maioria
dos animais, consistir de duas ou de três on-
das de crescimento, (Santos Filho et aI.,
2001), sendo cada onda formada por um
grupo de folículos com diâmetro maior ou
igual a 4 mm. Ressalta-se que a emergência
da terceira onda folicular está associada com
uma fase luteínica mais prolongada.
O aproveitamento mais racional desses
folículos que se tornariam atrésicos pode ser
obtido através da superovulação. A superovu-
lação pode ser definida, portanto, como um
método de estimular diversos folículos terciá-
rios desenvolverem até o estádio de pré-ovu-
lação, com subseqüente ovulação. O trata-
mento superovulatório objetiva suprir a defi-
ciência da concentração de FSH antes que
o folículo dominante promova a redução da
concentração endógena dessa gonadotrofi-
na. Desse modo, os efeitos da dominância
folicular são neutralizados, a divergência im-
pedida e o desenvolvimento simultâneo de
vários folículos com características fisiológi-
cas semelhantes daqueles selecionados para
ovularem, torna-se possível. O processo de
130
seleção do folículo dominante não está total-
mente esclarecido, entretanto, sabe-se que o
desenvolvimento desse tipo de folículo inibe
o crescimento dos subordinados de formas
passiva e ativa. A inibição passiva ocorre atra-
vés da diminuição da concentração de FSH
até alcançar valores incompatíveis com a ma-
nutenção dos folículos subordinados e a ativa
por meio da secreção de substâncias capazes
de diminuir a sensibilidade desses folículos
à ação das gonadotrofinas. O recrutamento
de folículos em resposta ao tratamento supe-
rovulatório após a remoção do folículo domi-
nante, evidencia que a presença desses foncu-
los inibe a resposta ao FSH exógeno (para
maiores detalhes vide Capítulo 3).
Embora existam alternativas de utilização
de gonadotrofinas que promovem a supero-
vulação (gonadotrofina coriônica eqüina-
eCG, gonadotrofma da menopausa humana-
hMG e FSH), a alta variabilidade de resposta
à superovulação decorrente de diversos fato-
res, imprecisão no grau de sincronia ovaria-
na, atividade biológica e dose da gonadotrofi-
na utilizada, idade e raça da doadora, além
de fatores individuais, é um aspecto que in-
terfere e limita a eficiência da TE na espécie
bovina. Por isso, outros fatores que também
exercem influência sobre a TE devem ser cui-
dadosamente controlados. É importante fri-
sar que a superovulação deve ser iniciada no
momento da emergência da onda folicular,
seja espontânea ou induzida, porque animais
com folículos sensíveis a ação do FSH, nor-
malmente apresentam maior capacidade

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