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FEBRE REUMÁTICA 
INTRODUÇÃO 
→ Compreende uma doença autoimune e inflamatória que se 
apresenta como uma sequela tardia de uma 
faringoamigdalite causada pelo estreptococo beta – 
hemolítico do grupo A. 
→ Principal causa de doença cardíaca adquirida em crianças e 
adultos jovens em todo mundo. 
→ Alta taxa de prevalência e incidência em países 
subdesenvolvidos. 
→ O alcoolismo piora o prognóstico da doença. 
ETIOPATOGENIA 
→ Para que a febre reumática surja, é preciso uma 
faringoamigdalite/ impetigo pelo estreptococo do grupo A. 
→ Fatores ambientais e socioeconômicos contribuem para o 
aparecimento da doença. 
ESTREPTOCOCO 
→ Streptococcus pyogenes (bactéria gram – positiva) → causa 
faringoamigdalite, impetigo, fasciíte necrosante. 
→ Pode ser colonizador do trato respiratório superior sem 
manifestar doença. 
→ A bactéria possui capacidade de desenvolver mimetismo 
molecular. 
 
→ Sua parte mais externa consiste em uma cápsula de ácido 
hialurônico → impede a fagocitose e é mais frequente em 
cepas epidêmicas. 
→ Junto a cápsula podem ser encontradas fimbrias, flagelos 
imóveis responsáveis pela aderência do estreptococo as 
células epiteliais da faringe. 
Abaixo da cápsula há uma parede celular rígida formada por 3 
camadas: 
→ CAMADA EXTERNA: possui a proteína M (estrutura homóloga 
a proteínas humanas – miosina cardíaca, tropomiosina, 
queratina, laminina, vimentina). A proteína M é antifagocítica, 
inibe a deposição de complemento (contribui para adesão as 
mucosas), além disso, tem propriedade de superantígeno, 
sendo capaz de provocar uma reação imunológica exacerbada. 
Existem múltiplos tipos de proteínas M o que possibilita 
reinfecções. 
Proteínas M no padrão: 
▪ A, B e C → estão associadas a infecções de orofaringe. 
▪ D → são principalmente dos recuperados de lesão 
superficial de pele (impetigo). 
▪ E → representa um grupo “generalista” relacionado com 
ambos sítios de isolamento. 
→ CAMADA MÉDIA: formada por um carboidrato. 
→ CAMADA INTERNA: composta por peptídeoglicano que 
confere rigidez e dá forma ao microrganismo. 
SUSCEPTIBILIDADE GENÉTICA 
→ A susceptibilidade é poligênica. 
→ O alelo HLA DR7 e o gene HLA classe II são os mais associados 
a susceptibilidade a desenvolver cardite reumática crônica 
(CRC). 
→ Os antígenos HLA – DR7 e DRw53 são os marcadores de 
susceptibilidade para população brasileira desenvolver FR. 
→ Alelos do gene TNFA, como: 308A (associado lesão mitral mais 
grave) e 238A (associado a cardite leve e lesão de valva 
aórtica). 
RESPOSTA AUTOIMUNE E AUTOINFLAMATÓRIA 
→ A evolução da doença se processa em 3 fases distintas: 
infecção estreptocócica, fase intermediária assintomática e a 
fase que surge como uma complicação tardia ligada a 
formação de anticorpos e a ativação da cascata inflamatória. 
→ A reação exacerbada de reconhecer antígenos humanos 
como antígenos estreptocócicos (mecanismo de mimetismo 
antigênico e reação cruzada) representa a essência da 
resposta imune na FR e é responsável pelas manifestações 
clínicas. 
→ O ácido hialurônico da cápsula da bactéria tem reação cruzada 
com a sinóvia e a cartilagem articular, a artrite surge por 
depósitos de imunocomplexos na membrana sinovial. 
→ O carboidrato da camada média reage com o miocárdio e as 
valvas, a membrana celular do estreptococo com o sarcolema 
miocárdico e com antígenos do citoplasma de neurônios dos 
núcleos caudado e subtalâmico. 
→ A cardite se dá por infiltração de células T nos tecidos 
cardíacos e a coreia em consequência de anticorpos que se 
ligam aos núcleos da base. 
DIAGNÓSTICO 
→ O diagnóstico é CLÍNICO baseado nos critérios de Jones. 
→ Faringoamigdalite é mais frequente entre os 5 – 15 anos. 
→ Período de incubação: varia de 1 – 5 semanas (média: 3 
semanas). 
→ 30% dos pacientes são assintomáticos. 
→ O risco de um segundo surto aumenta para 50% naqueles que 
já tiveram um surto prévio da doença. 
→ Sinais e sintomas inespecíficos: epistaxe, dor abdominal, dor 
precordial, anorexia, fadiga, perda de peso, anemia e 
leucocitose. 
CRITÉRIOS DE JONES 
→ A divisão dos critérios em maiores e menores baseia-se na 
especificidade, e não na frequência da manifestação. 
→ A população brasileira se encaixa no grupo de risco elevado 
para o desenvolvimento da FR. 
PRIMEIRO SURTO DE FEBRE 
REUMÁTICA 
RECIDIVA DE FEBRE REUMÁTICA 
(RECORRENTE) 
▪ 2 critérios maiores OU 
▪ 1 critério maior + 2 critérios 
menores 
▪ 2 critérios maiores OU 
▪ 1 critério maior + 2 critérios 
menores OU 
▪ 3 critérios menores 
 
 
CRITÉRIOS 
POPULAÇÃO DE RISCO MODERADO/ELEVADO 
CRITÉRIOS MAIORES: CRITÉRIOS MENORES: 
Cardite (clínica ou subclínica) Monoartralgia 
Artrite (poliartrite, 
poliartralgia e/ou 
monoartrite) 
 
Febre (> 38°C) 
 
Coreia 
Elevação de VHS (> 30 mm/h 
ou proteína C reativa > 3 
mg/dl ou maior que o valor 
de referência indicado) 
 
Eritema marginado 
Intervalo PR na ECG 
prolongado corrigido para 
idade (somente quando não 
houver cardite) 
Nódulo subcutâneo 
 
SITUAÇÕES EM QUE OS CRITÉRIOS DE JONES NÃO SÃO 
OBRIGATÓRIOS: 
1) Coreia de Sydenham: pode ocorrer depois de meses da 
infecção aguda, quando da normalização das provas 
inflamatórias e da ASLO. 
2) Cardite insidiosa confirmada na ecocardiografia. 
3) Cardiopatia reumática crônica percebida apenas na fase 
tardia da doença, já sem sinais ou sintomas da fase aguda. 
O surto agudo da FR raramente dura mais de 3 meses. 
Quando a cardite se mantém por 6 meses ou mais, é 
classificada como CRC. 
 
Atenção!!!! 
A ecodopplercardiografia passou a ser uma ferramenta 
fundamental para o diagnóstico de cardite reumática subclínica 
(formas de cardite sem alteração na ausculta), incluindo - se 
como critério maior, independentemente do grupo de risco. 
 
QUADRO CLÍNICO 
CRITÉRIOS MAIORES 
ARTRITE 
→ Manifestação clínica mais frequente (75% dos pacientes). 
→ Acomete grandes articulações (joelho, tornozelos, punhos e 
cotovelos) de forma migratória/assimétrica, surgindo em 
novas regiões a medida que outras vão se normalizando. 
→ Acomete pequenas articulações de mãos e pés, as 
coxofemorais e coluna cervical (maior frequência). 
→ A dor é de grande intensidade e desproporcional aos demais 
achados da inflamação, levando à incapacidade funcional, 
uma das características que a diferencia da AIJ. 
→ A artrite costuma ser mais comum e mais intensa em adultos 
jovens (100% no primeiro surto). 
→ A artrite é mais observada na primeira semana, podendo 
persistir de forma leve por mais 1 ou 2 semanas. 
→ ARTROPATIA DE JACCOUD: é considerada uma sequela rara 
de surtos repetidos de FR. Caracteriza-se por desvio ulnar, 
subluxação e deformidade em flexão das articulações 
metacarpofalângicas e hiperextensão das interfalângicas 
proximais. Não é uma verdadeira sinovite, mas uma fibrosite 
periarticular. Não há erosões ao estudo radiográfico. 
 
 
 
CARDITE 
→ Mais importante manifestação da febre reumática aguda, pois 
pode provocar morte e deixar sequelas. 
→ Ocorre em 50% dos pacientes. 
→ Trata-se de uma pancardite na fase aguda, mas a lesão 
primária da cardite reumática crônica é a valvulite que 
acomete principalmente as valvas mitral e aórtica. 
→ Os principais sinais clínicos consistem em taquicardia, sopros, 
cardiomegalia, insuficiência cardíaca congestiva e atrito 
pericárdico. 
→ Alterações miocárdica: a lesão intersticial fibroinflamatória 
se apresenta na forma de granuloma focal (nódulos de 
Aschoff – patognomônico de cardite reumática crônica). 
→ Cardiomegalia indica miocardite e/ou endocardite. A 
miocardite, na ausência de envolvimento valvar, não deve ser 
considerada de origem reumática. 
→ Insuficiência cardíaca: dispneia, tosse, dor torácica, anorexia, 
taquicardia, hepatomegalia, ritmo de galope, edema e 
crepitações pulmonares basais. 
→ Pericardite fibrinosa (raro): quase nunca se manifesta de 
forma isolada,se houver derrame pericárdico (atrito e/ou 
efusão pericárdica) tende a ser autolimitado. 
ENDOCARDITE (VALVULITE) 
→ É comum e ocorre em quase todos os pacientes que 
apresentam cardite. 
→ Sopro cardíaco é o achado mais frequente. 
→ Valvas mais acometidas: mitral e aórtica e, durante o surto 
agudo, a lesão é de regurgitação, a estenose leva anos para 
se desenvolver. 
→ Regurgitação mitral: sequela mais comum da FR, pela 
dilatação do anel valvar e pelo relaxamento das cordoalhas 
tendíneas. Produz sopro holossistólico → mais audível em 
ápice, com irradiação para axila e abafamento da primeira 
bulha. 
→ Regurgitação aórtica: produz sopro protodiastólico, de 
alta frequência, decrescente e bem mais audível na borda 
esternal esquerda. 
→ Insuficiência mitral e aórtica em indivíduo previamente 
sadio é fortemente sugestiva de FR. 
 
COREIA DE SYDENHAM 
→ Indica envolvimento do SNC (acometimento dos núcleos da 
base) pela FR. 
→ Período de incubação da manifestação: 1 – 6 meses. 
→ Afeta as meninas com maior frequência. 
→ Pode ocorrer de modo isolado, caso no qual os pacientes não 
apresentam alterações dos exames laboratoriais, mas 
permanecem com risco de desenvolver lesão cardíaca, e 
devem receber profilaxia primária para erradicar o 
estreptococo e a secundária para prevenir recorrências. 
→ Quadro clínico: movimentos não coordenados e involuntários 
(a escrita costuma tornar-se confusa e a fala fica 
incompreensível), fraqueza muscular e labilidade emocional. 
Os músculos da face e das extremidades são os mais 
acometidos. 
→ Os movimentos involuntários são exacerbados por estresse, 
esforço e cansaço e desaparecem durante o sono. Trata-se de 
uma condição autolimitada, de duração variável e que 
melhora com 1 a 2 semanas, embora a cura completa possa 
levar meses. 
ERITEMA MARGINADO 
 
→ Bastante específico de febre reumática aguda, com maior 
frequência nos pacientes com cardite e nódulos subcutâneos 
e nos estágios inicias da doença. 
→ Apresentação clínica: lesões maculares, eritematosas, que 
tomam um aspecto rendilhado com o centro mais claro, não 
pruriginosas, não enduradas, indolores, de duração transitória 
e caráter recidivante. Os locais mais comumente acometidos 
são o tronco e a região proximal dos membros. Não surge na 
face. 
NÓDULOS SUBCUTÂNEOS 
→ Raro, ocorrem tardiamente e quase exclusivamente nos 
pacientes com cardite grave. 
→ Apresentação clínica: firmes, indolores e móveis, seu 
tamanho varia de alguns milímetros até 1 ou 2 cm. São 
encontrados nas superfícies extensoras próximas às 
proeminências ósseas em cotovelos, joelhos, tornozelos, 
processos espinhosos vertebrais, couro cabeludo e fronte. 
Duram 1 ou 2 semanas, e raramente mais de 1 mês. 
CRITÉRIOS MENORES 
FEBRE 
→ Geralmente presente no início da doença, diminui com o 
passar dos dias. 
→ Pode durar até 3 semanas e desaparece mesmo sem 
tratamento. 
PROVAS INFLAMATÓRIAS 
→ São inespecíficas e revelam apenas a existência de uma 
atividade inflamatória no organismo. 
→ VHS (velocidade de hemossedimentação): tem aumento 
precoce e acentuado. Sofre interferência de complicações da 
FRA, como ICC e anemia, e não é útil para seguir a atividade da 
doença. 
→ PCR (proteína C reativa): eleva-se no início do processo 
reumático em todos os pacientes nas 2 primeiras semanas. Se 
estiver normal nesse período, deve-se pensar em outro 
diagnóstico. Normaliza-se precocemente, mas pode voltar a se 
elevar durante o processo de melhora, caso no qual se deve 
aventar a possibilidade de redução prematura da terapêutica, 
exacerbação da atividade da doença ou existência de outra 
enfermidade associada. Não representa uma medida útil para 
avaliar a atividade e acompanhar a evolução da doença. 
→ Alfa 1 glicoproteína ácida: compreende uma proteína 
induzida por processo inflamatório agudo. Eleva-se 
precocemente já no final da 1° semana e seus desvios 
permanecem enquanto a doença se mantém. Não sofre 
influência dos anti-inflamatórios não esteroides, e representa 
um bom exame para acompanhar o período de atividade da 
doença. 
ELETROCARDIOGRAFIA 
→ Não apresenta alterações patognomônicas de febre 
reumática. 
→ O exame normalmente não exclui cardite ativa. 
→ Anormalidade mais importante: alongamento do intervalo 
PR (podem ser considerados anormais os valores que 
ultrapassam o tempo de 0,18 s em crianças e 0,20 s em 
adultos). 
→ Miocardite: apresenta alterações difusas e inespecíficas de 
repolarização (retificação do segmento ST, inversão de onda 
T). 
→ Arritmias: tem caráter benigno e autolimitado, sendo a mais 
frequente a extrassistolia ventricular e supraventricular. 
→ Pericardite: supradesnivelamento do segmento ST de mais de 
1,5 mm nas derivações precordiais. 
ATENÇÃO!!! 
A eletrocardiografia deve ser solicitada em todos os pacientes 
com suspeita de FR e repetida para registrar o retorno à 
normalidade. 
 
EVIDÊNCIA DE INFECÇÃO ESTREPTOCÓCICA 
→ ASLO (dosagem do anticorpo antiestreptolisina O): mede a 
habilidade do soro em neutralizar essa enzima. 
→ Na vigência de uma estreptococcia complicada com FRA, a 
elevação dos títulos surge dentro de 7 a 12 dias após a infecção 
inicial e atinge o máximo ao fim de 4 a 6 semanas. Depois, 
declinam lentamente em 1 a 2 meses, podendo demorar até 
12 meses para se normalizarem. 
→ Cerca de 80% dos pacientes com FRA têm ASLO elevada. 
→ O ASLO não pode ser considerado para o diagnóstico de FRA 
nem configura medida de gravidade ou atividade da doença, 
apontando apenas a ocorrência de uma infecção 
estreptocócica prévia, mesmo que assintomática. 
Outros exames: 
→ CULTURA DE OROFARINGE (padrão ouro): positivo apenas em 
30% dos pacientes no momento do diagnóstico de FRA pois 
durante o período de latência, os mecanismos de defesa do 
hospedeiro normalmente conseguem erradicar o 
microrganismo da orofaringe. 
→ TESTE RÁPIDO PARA DETECÇÃO DE ESTREPTOCOCO NA 
OROFARINGE: sensibilidade de 95%, entretanto, teste 
negativo não exclui a presença do estreptococo. 
EXAMES COMPLEMENTARES 
ECODOPPLERCARDIOGRAFIA 
→ Fundamental na identificação da cardite subclínica, quando há 
lesão valvar de regurgitação em pacientes com FR com 
ausculta cardíaca normal. 
Alterações morfológicas à ecocardiografia para diagnóstico de 
valvulite reumática: 
ALTERAÇÕES AGUDAS DA VALVA MITRAL 
▪ Dilatação anular 
▪ Alongamento das cordoalhas tendíneas 
▪ Ruptura de cordoalha 
▪ Prolapso anterior de folheto (mais raramente prolapso 
posterior) 
▪ Espessamento ou nódulos no folheto 
 
 
 
ALTERAÇÕES CRÔNICAS DA VALVA MITRAL 
▪ Espessamento de folheto 
▪ Espessamento e/ou efusão de cordoalhas 
▪ Restrição de movimento do folheto 
▪ Calcificação 
 
ALTERAÇÕES EM VALVA AÓRTICA, EM CARDITE AGUDA OU 
CRÔNICA 
▪ Espessamento de folheto focal ou irregular 
▪ Defeito de coaptação 
▪ Restrição de movimento de folheto 
▪ Prolapso de folheto 
 
Alterações ao Doppler para diagnóstico de valvite: 
REGURGITAÇÃO MITRAL 
▪ Jato regurgitante holossistólico para o átrio esquerdo 
identificado em, pelo menos, dois planos 
▪ Pico de velocidade > 3 mm/s 
▪ Extensão do jato > 2 cm identificado em, pelo menos, um 
plano 
 
REGURGITAÇÃO AÓRTICA 
▪ Jato regurgitante holodiastólico para o ventrículo 
esquerdo identificado em, pelo menos, dois planos 
▪ Pico de velocidade > 3 mm/s 
▪ Extensão do jato > 1 cm identificado em, pelo menos, um 
plano 
 
RAIO X DE TÓRAX 
→ É útil na avaliação do tamanho da área cardíaca, entretanto o 
exame normal não exclui a presença de cardite. 
→ Apresentação da cardite grave ao raio X: aumento acentuado 
e incaracterístico da área cardíaca, notando-se crescimento 
predominante das cavidades esquerdas e aumento variável 
das direitas, este último conforme a presença e gravidade da 
hipertensão pulmonar, identificada, por sua vez, pela clássica 
inversão vascular pulmonar. 
→ Sinais de congestão pulmonar,como aumento do leito 
vascular e edema intersticial confirmam a existência de 
insuficiência cardíaca. 
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA DE ENCÉFALO 
→ Em pacientes com coreia de Sydenham, em geral é normal. 
FEBRE REUMÁTICA POSSÍVEL 
▪ Esse diagnóstico pode ser considerado diante de um quadro clínico 
que não preenche os critérios de Jones, mas há boa razão para 
suspeitar de FRA, sendo aceito nas populações de risco elevado. 
▪ Mesmo na ausência da certeza do diagnóstico, é razoável 
considerar a prescrição de profilaxia secundária por 12 meses, 
quando deverá haver uma reavaliação cuidadosa, inclusive com 
nova ecodopplercardiografia. 
 
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS 
→ Artrite idiopática juvenil, lúpus eritematoso sistêmico, 
artropatias soronegativas, artrite pós estreptocócica, doença 
de Lyme, infecções virais e bacterianas, septicemia, 
endocardite bacteriana, anemia falciforme, leucemia 
linfoblástica aguda e linfoma. 
→ Quando há cardite ou pericardite, deve-se considerar 
miocardite viral, endocardite bacteriana, lúpus eritematoso 
sistêmico, artrite idiopática juvenil na forma sistêmica, 
cardiopatia congênita, síndrome do anticorpo antifosfolipídio. 
→ Na presença de cardite com coreia, aventar a possibilidade de 
síndrome do anticorpo antifosfolipídio (SAF). 
 
 
TRATAMENTO 
→ O melhor tratamento consiste na profilaxia primária que se 
baseia no diagnóstico precoce e no tratamento adequado das 
infecções estreptocócicas de orofaringe, idealmente nos 
primeiros 8 a 10 dias. 
→ A amigdalectomia não altera o curso natural da doença. 
→ O tratamento da FRA tem três objetivos básicos: erradicação 
do estreptococo, alívio dos sintomas e profilaxia contra novos 
surtos de infecção estreptocócica. 
PROFILAXIA PRIMÁRIA 
→ Os pacientes com qualquer manifestação da FR (incluindo a 
coreia isolada) devem ser tratados com agentes 
antimicrobianos bactericidas para erradicar o estreptococo, 
mesmo que este não tenha sido isolado pela cultura. 
→ 1° ESCOLHA: Penicilina Benzatina IM – dose única (dose de 
600.000 UI para crianças até 20 kg de peso e 1.200.000 UI para 
pacientes acima desse peso). 
 
ALÍVIO DOS SINTOMAS 
REPOUSO NO LEITO 
→ Sem cardite ou somente artrite: 
▪ Enquanto durarem os sintomas 
▪ 2 a 4 semanas, com liberação gradual em 2 semanas 
→ Cardite leve/moderada: repouso no leito por 4 a 6 semanas, 
com liberação gradual nas 2 a 4 semanas seguintes 
→ Cardite grave: repouso no leito até a resolução dos sinais de 
insuficiência cardíaca, com liberação gradual nas 4 a 6 
semanas seguintes 
→ Coreia: repouso em local tranquilo, com pouca luz, enquanto 
durarem os sintomas 
ARTRITE 
→ É preconizado o uso de AINES 
→ 1° escolha: AAS 50 – 70 mg/kg/dia, dividido em 4 tomadas, por 
3 a 5 dias → os pacientes apresentam ótima resposta. 
→ Outras opções: naproxeno, nimesulida, diclofenaco, 
ibuprofeno e cetoprofeno, AAS 
CARDITE 
→ Exceto nas formas subclínicas, deverá sempre ser tratada. 
→ 1° ESCOLHA: Prednisona 1 – 2 mg/kg/dia (máximo 60 mg/dia) 
por 12 semanas. 
→ Situações graves: Pulsoterapia com Metilprednisolona 30 
mg/kg/dose (máximo 1 g), 1x/dia, por 3 dias consecutivos. 
→ Efeitos adversos dos corticoides: acne, ganho de peso, 
retenção hídrica, resistência à insulina, fácies cushingoide. 
COREIA 
→ HALOPERIDOL (bloqueador do receptor dopaminérgico): 1 
mg/dia, em uma ou duas tomas diárias, aumentando-se 0,5 
mg a cada 3 dias até a remissão dos sintomas (dose máxima 5 
mg/dia). 
→ ÁCIDO VALPRÓICO (agonista gabaérgico): preconiza-se a 
dose de 20 a 30 mg/kg/dia até o máximo de 60 mg/kg/dia, 
dividido em duas ou três tomadas. 
→ RISPERIDONA (bloqueador do receptor D2 de dopamina): a 
dose inicial é de 1 mg VO, 2 vezes/dia. 
→ PIMOZIDA (neuroléptico e antipsicótico) 
→ PREDNISONA 1 mg/kg/dia: para casos graves. 
PROFILAXIA SECUNDÁRIA 
→ Tem como objetivo evitar novas infecções, prevenindo, 
assim, novos surtos de FRA que poderiam provocar lesões 
valvares ou agravar as sequelas cardíacas já existentes. 
→ 1°ESCOLHA: Penicilina benzatina: 1.200.000 UI IM, a cada 21 
dias. 
→ Penicilina V: 250.000 UI VO, de 12/12h, uso contínuo. 
→ Sulfadiazina: 1g/dia VO, em 1 ou 2 doses, uso contínuo. 
→ Eritromicina: 250 mg VO, 2 vezes/dia, uso contínuo – opção 
para pacientes alérgicos a penicilina. 
Critérios para suspensão da profilaxia secundária: 
 
Febre reumática sem cardite 
Até a idade de 21 anos ou por pelo 
menos 5 anos após o último surto, o que 
for mais longo. 
Febre reumática aguda com cardite 
leve sem lesão residual ou 
insuficiência mitral leve 
Até a idade de 25 anos ou por pelo 
menos 10 anos após o último surto, o 
que for mais longo. 
Febre reumática aguda com cardite 
e lesão valvar residual moderada a 
grave 
Até 40 anos ou por toda vida. 
Troca valvar Profilaxia por toda vida 
 
PROFILAXIA PARA ENDOCARDITE BACTERIANA 
→ INDICAÇÃO: quando houver manipulação dentária com 
sangramento, cirurgia ou instrumentação de vias urinárias, 
trato respiratório ou gastrintestinal. 
→ Amoxicilina 50 mg/kg, dose máxima de 2 g, em única tomada 
VO, 30 a 60 min antes do procedimento. 
→ Azitromicina 15 mg/kg, dose máxima de 500 mg VO, 1 h antes 
do procedimento. 
→ Clindamicina 20 mg/kg, dose máxima de 600 mg VO ou IV, 1 h 
antes do procedimento. 
 
→ Não está recomendada a profilaxia para procedimentos 
como colocação de piercing, tatuagem, histerectomia e 
parto via vaginal. 
→ É importante ressaltar que a principal medida de profilaxia 
contra endocardite bacteriana consiste na manutenção de 
uma saúde oral ótima. 
 
ABORDAGEM CIRÚRGICA NA CARDITE REUMÁTICA CRÔNICA 
→ A valvuloplastia mitral percutânea (comissurotomia) consiste 
no procedimento sugerido para os casos de estenose mitral 
leve, devendo ser indicado e realizado precocemente, para 
evitar a colocação de prótese, oferecendo sobrevida longa e 
segura, livre de nova intervenção. 
Recomenda-se a valvuloplastia mitral percutânea nas seguintes 
situações: 
→ Pacientes sintomáticos, com estenose mitral grave e 
morfologia favorável, na ausência de sinais de trombo em 
átrio esquerdo ou regurgitação moderada/grave 
→ Pacientes com estenose grave assintomáticos, com área valvar 
≤ 1 cm2 
→ Pacientes com estenose mitral grave, com fibrilação atrial de 
início recente e pacientes assintomáticos com área de valva > 
1,5 cm2 e PSAP > 25 mmHg ou gradiente mitral > 15 mmHg 
durante esforço 
→ Pacientes com estenose grave, sintomáticos, de risco elevado 
para a cirurgia de troca valvar. 
A troca valvar é recomendada para pacientes com: 
→ Estenose grave, com sintomas, não candidatos ou que 
falharam à valvuloplastia 
→ Dupla lesão (estenose grave e regurgitação moderada).

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