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FEBRE REUMÁTICA INTRODUÇÃO → Compreende uma doença autoimune e inflamatória que se apresenta como uma sequela tardia de uma faringoamigdalite causada pelo estreptococo beta – hemolítico do grupo A. → Principal causa de doença cardíaca adquirida em crianças e adultos jovens em todo mundo. → Alta taxa de prevalência e incidência em países subdesenvolvidos. → O alcoolismo piora o prognóstico da doença. ETIOPATOGENIA → Para que a febre reumática surja, é preciso uma faringoamigdalite/ impetigo pelo estreptococo do grupo A. → Fatores ambientais e socioeconômicos contribuem para o aparecimento da doença. ESTREPTOCOCO → Streptococcus pyogenes (bactéria gram – positiva) → causa faringoamigdalite, impetigo, fasciíte necrosante. → Pode ser colonizador do trato respiratório superior sem manifestar doença. → A bactéria possui capacidade de desenvolver mimetismo molecular. → Sua parte mais externa consiste em uma cápsula de ácido hialurônico → impede a fagocitose e é mais frequente em cepas epidêmicas. → Junto a cápsula podem ser encontradas fimbrias, flagelos imóveis responsáveis pela aderência do estreptococo as células epiteliais da faringe. Abaixo da cápsula há uma parede celular rígida formada por 3 camadas: → CAMADA EXTERNA: possui a proteína M (estrutura homóloga a proteínas humanas – miosina cardíaca, tropomiosina, queratina, laminina, vimentina). A proteína M é antifagocítica, inibe a deposição de complemento (contribui para adesão as mucosas), além disso, tem propriedade de superantígeno, sendo capaz de provocar uma reação imunológica exacerbada. Existem múltiplos tipos de proteínas M o que possibilita reinfecções. Proteínas M no padrão: ▪ A, B e C → estão associadas a infecções de orofaringe. ▪ D → são principalmente dos recuperados de lesão superficial de pele (impetigo). ▪ E → representa um grupo “generalista” relacionado com ambos sítios de isolamento. → CAMADA MÉDIA: formada por um carboidrato. → CAMADA INTERNA: composta por peptídeoglicano que confere rigidez e dá forma ao microrganismo. SUSCEPTIBILIDADE GENÉTICA → A susceptibilidade é poligênica. → O alelo HLA DR7 e o gene HLA classe II são os mais associados a susceptibilidade a desenvolver cardite reumática crônica (CRC). → Os antígenos HLA – DR7 e DRw53 são os marcadores de susceptibilidade para população brasileira desenvolver FR. → Alelos do gene TNFA, como: 308A (associado lesão mitral mais grave) e 238A (associado a cardite leve e lesão de valva aórtica). RESPOSTA AUTOIMUNE E AUTOINFLAMATÓRIA → A evolução da doença se processa em 3 fases distintas: infecção estreptocócica, fase intermediária assintomática e a fase que surge como uma complicação tardia ligada a formação de anticorpos e a ativação da cascata inflamatória. → A reação exacerbada de reconhecer antígenos humanos como antígenos estreptocócicos (mecanismo de mimetismo antigênico e reação cruzada) representa a essência da resposta imune na FR e é responsável pelas manifestações clínicas. → O ácido hialurônico da cápsula da bactéria tem reação cruzada com a sinóvia e a cartilagem articular, a artrite surge por depósitos de imunocomplexos na membrana sinovial. → O carboidrato da camada média reage com o miocárdio e as valvas, a membrana celular do estreptococo com o sarcolema miocárdico e com antígenos do citoplasma de neurônios dos núcleos caudado e subtalâmico. → A cardite se dá por infiltração de células T nos tecidos cardíacos e a coreia em consequência de anticorpos que se ligam aos núcleos da base. DIAGNÓSTICO → O diagnóstico é CLÍNICO baseado nos critérios de Jones. → Faringoamigdalite é mais frequente entre os 5 – 15 anos. → Período de incubação: varia de 1 – 5 semanas (média: 3 semanas). → 30% dos pacientes são assintomáticos. → O risco de um segundo surto aumenta para 50% naqueles que já tiveram um surto prévio da doença. → Sinais e sintomas inespecíficos: epistaxe, dor abdominal, dor precordial, anorexia, fadiga, perda de peso, anemia e leucocitose. CRITÉRIOS DE JONES → A divisão dos critérios em maiores e menores baseia-se na especificidade, e não na frequência da manifestação. → A população brasileira se encaixa no grupo de risco elevado para o desenvolvimento da FR. PRIMEIRO SURTO DE FEBRE REUMÁTICA RECIDIVA DE FEBRE REUMÁTICA (RECORRENTE) ▪ 2 critérios maiores OU ▪ 1 critério maior + 2 critérios menores ▪ 2 critérios maiores OU ▪ 1 critério maior + 2 critérios menores OU ▪ 3 critérios menores CRITÉRIOS POPULAÇÃO DE RISCO MODERADO/ELEVADO CRITÉRIOS MAIORES: CRITÉRIOS MENORES: Cardite (clínica ou subclínica) Monoartralgia Artrite (poliartrite, poliartralgia e/ou monoartrite) Febre (> 38°C) Coreia Elevação de VHS (> 30 mm/h ou proteína C reativa > 3 mg/dl ou maior que o valor de referência indicado) Eritema marginado Intervalo PR na ECG prolongado corrigido para idade (somente quando não houver cardite) Nódulo subcutâneo SITUAÇÕES EM QUE OS CRITÉRIOS DE JONES NÃO SÃO OBRIGATÓRIOS: 1) Coreia de Sydenham: pode ocorrer depois de meses da infecção aguda, quando da normalização das provas inflamatórias e da ASLO. 2) Cardite insidiosa confirmada na ecocardiografia. 3) Cardiopatia reumática crônica percebida apenas na fase tardia da doença, já sem sinais ou sintomas da fase aguda. O surto agudo da FR raramente dura mais de 3 meses. Quando a cardite se mantém por 6 meses ou mais, é classificada como CRC. Atenção!!!! A ecodopplercardiografia passou a ser uma ferramenta fundamental para o diagnóstico de cardite reumática subclínica (formas de cardite sem alteração na ausculta), incluindo - se como critério maior, independentemente do grupo de risco. QUADRO CLÍNICO CRITÉRIOS MAIORES ARTRITE → Manifestação clínica mais frequente (75% dos pacientes). → Acomete grandes articulações (joelho, tornozelos, punhos e cotovelos) de forma migratória/assimétrica, surgindo em novas regiões a medida que outras vão se normalizando. → Acomete pequenas articulações de mãos e pés, as coxofemorais e coluna cervical (maior frequência). → A dor é de grande intensidade e desproporcional aos demais achados da inflamação, levando à incapacidade funcional, uma das características que a diferencia da AIJ. → A artrite costuma ser mais comum e mais intensa em adultos jovens (100% no primeiro surto). → A artrite é mais observada na primeira semana, podendo persistir de forma leve por mais 1 ou 2 semanas. → ARTROPATIA DE JACCOUD: é considerada uma sequela rara de surtos repetidos de FR. Caracteriza-se por desvio ulnar, subluxação e deformidade em flexão das articulações metacarpofalângicas e hiperextensão das interfalângicas proximais. Não é uma verdadeira sinovite, mas uma fibrosite periarticular. Não há erosões ao estudo radiográfico. CARDITE → Mais importante manifestação da febre reumática aguda, pois pode provocar morte e deixar sequelas. → Ocorre em 50% dos pacientes. → Trata-se de uma pancardite na fase aguda, mas a lesão primária da cardite reumática crônica é a valvulite que acomete principalmente as valvas mitral e aórtica. → Os principais sinais clínicos consistem em taquicardia, sopros, cardiomegalia, insuficiência cardíaca congestiva e atrito pericárdico. → Alterações miocárdica: a lesão intersticial fibroinflamatória se apresenta na forma de granuloma focal (nódulos de Aschoff – patognomônico de cardite reumática crônica). → Cardiomegalia indica miocardite e/ou endocardite. A miocardite, na ausência de envolvimento valvar, não deve ser considerada de origem reumática. → Insuficiência cardíaca: dispneia, tosse, dor torácica, anorexia, taquicardia, hepatomegalia, ritmo de galope, edema e crepitações pulmonares basais. → Pericardite fibrinosa (raro): quase nunca se manifesta de forma isolada,se houver derrame pericárdico (atrito e/ou efusão pericárdica) tende a ser autolimitado. ENDOCARDITE (VALVULITE) → É comum e ocorre em quase todos os pacientes que apresentam cardite. → Sopro cardíaco é o achado mais frequente. → Valvas mais acometidas: mitral e aórtica e, durante o surto agudo, a lesão é de regurgitação, a estenose leva anos para se desenvolver. → Regurgitação mitral: sequela mais comum da FR, pela dilatação do anel valvar e pelo relaxamento das cordoalhas tendíneas. Produz sopro holossistólico → mais audível em ápice, com irradiação para axila e abafamento da primeira bulha. → Regurgitação aórtica: produz sopro protodiastólico, de alta frequência, decrescente e bem mais audível na borda esternal esquerda. → Insuficiência mitral e aórtica em indivíduo previamente sadio é fortemente sugestiva de FR. COREIA DE SYDENHAM → Indica envolvimento do SNC (acometimento dos núcleos da base) pela FR. → Período de incubação da manifestação: 1 – 6 meses. → Afeta as meninas com maior frequência. → Pode ocorrer de modo isolado, caso no qual os pacientes não apresentam alterações dos exames laboratoriais, mas permanecem com risco de desenvolver lesão cardíaca, e devem receber profilaxia primária para erradicar o estreptococo e a secundária para prevenir recorrências. → Quadro clínico: movimentos não coordenados e involuntários (a escrita costuma tornar-se confusa e a fala fica incompreensível), fraqueza muscular e labilidade emocional. Os músculos da face e das extremidades são os mais acometidos. → Os movimentos involuntários são exacerbados por estresse, esforço e cansaço e desaparecem durante o sono. Trata-se de uma condição autolimitada, de duração variável e que melhora com 1 a 2 semanas, embora a cura completa possa levar meses. ERITEMA MARGINADO → Bastante específico de febre reumática aguda, com maior frequência nos pacientes com cardite e nódulos subcutâneos e nos estágios inicias da doença. → Apresentação clínica: lesões maculares, eritematosas, que tomam um aspecto rendilhado com o centro mais claro, não pruriginosas, não enduradas, indolores, de duração transitória e caráter recidivante. Os locais mais comumente acometidos são o tronco e a região proximal dos membros. Não surge na face. NÓDULOS SUBCUTÂNEOS → Raro, ocorrem tardiamente e quase exclusivamente nos pacientes com cardite grave. → Apresentação clínica: firmes, indolores e móveis, seu tamanho varia de alguns milímetros até 1 ou 2 cm. São encontrados nas superfícies extensoras próximas às proeminências ósseas em cotovelos, joelhos, tornozelos, processos espinhosos vertebrais, couro cabeludo e fronte. Duram 1 ou 2 semanas, e raramente mais de 1 mês. CRITÉRIOS MENORES FEBRE → Geralmente presente no início da doença, diminui com o passar dos dias. → Pode durar até 3 semanas e desaparece mesmo sem tratamento. PROVAS INFLAMATÓRIAS → São inespecíficas e revelam apenas a existência de uma atividade inflamatória no organismo. → VHS (velocidade de hemossedimentação): tem aumento precoce e acentuado. Sofre interferência de complicações da FRA, como ICC e anemia, e não é útil para seguir a atividade da doença. → PCR (proteína C reativa): eleva-se no início do processo reumático em todos os pacientes nas 2 primeiras semanas. Se estiver normal nesse período, deve-se pensar em outro diagnóstico. Normaliza-se precocemente, mas pode voltar a se elevar durante o processo de melhora, caso no qual se deve aventar a possibilidade de redução prematura da terapêutica, exacerbação da atividade da doença ou existência de outra enfermidade associada. Não representa uma medida útil para avaliar a atividade e acompanhar a evolução da doença. → Alfa 1 glicoproteína ácida: compreende uma proteína induzida por processo inflamatório agudo. Eleva-se precocemente já no final da 1° semana e seus desvios permanecem enquanto a doença se mantém. Não sofre influência dos anti-inflamatórios não esteroides, e representa um bom exame para acompanhar o período de atividade da doença. ELETROCARDIOGRAFIA → Não apresenta alterações patognomônicas de febre reumática. → O exame normalmente não exclui cardite ativa. → Anormalidade mais importante: alongamento do intervalo PR (podem ser considerados anormais os valores que ultrapassam o tempo de 0,18 s em crianças e 0,20 s em adultos). → Miocardite: apresenta alterações difusas e inespecíficas de repolarização (retificação do segmento ST, inversão de onda T). → Arritmias: tem caráter benigno e autolimitado, sendo a mais frequente a extrassistolia ventricular e supraventricular. → Pericardite: supradesnivelamento do segmento ST de mais de 1,5 mm nas derivações precordiais. ATENÇÃO!!! A eletrocardiografia deve ser solicitada em todos os pacientes com suspeita de FR e repetida para registrar o retorno à normalidade. EVIDÊNCIA DE INFECÇÃO ESTREPTOCÓCICA → ASLO (dosagem do anticorpo antiestreptolisina O): mede a habilidade do soro em neutralizar essa enzima. → Na vigência de uma estreptococcia complicada com FRA, a elevação dos títulos surge dentro de 7 a 12 dias após a infecção inicial e atinge o máximo ao fim de 4 a 6 semanas. Depois, declinam lentamente em 1 a 2 meses, podendo demorar até 12 meses para se normalizarem. → Cerca de 80% dos pacientes com FRA têm ASLO elevada. → O ASLO não pode ser considerado para o diagnóstico de FRA nem configura medida de gravidade ou atividade da doença, apontando apenas a ocorrência de uma infecção estreptocócica prévia, mesmo que assintomática. Outros exames: → CULTURA DE OROFARINGE (padrão ouro): positivo apenas em 30% dos pacientes no momento do diagnóstico de FRA pois durante o período de latência, os mecanismos de defesa do hospedeiro normalmente conseguem erradicar o microrganismo da orofaringe. → TESTE RÁPIDO PARA DETECÇÃO DE ESTREPTOCOCO NA OROFARINGE: sensibilidade de 95%, entretanto, teste negativo não exclui a presença do estreptococo. EXAMES COMPLEMENTARES ECODOPPLERCARDIOGRAFIA → Fundamental na identificação da cardite subclínica, quando há lesão valvar de regurgitação em pacientes com FR com ausculta cardíaca normal. Alterações morfológicas à ecocardiografia para diagnóstico de valvulite reumática: ALTERAÇÕES AGUDAS DA VALVA MITRAL ▪ Dilatação anular ▪ Alongamento das cordoalhas tendíneas ▪ Ruptura de cordoalha ▪ Prolapso anterior de folheto (mais raramente prolapso posterior) ▪ Espessamento ou nódulos no folheto ALTERAÇÕES CRÔNICAS DA VALVA MITRAL ▪ Espessamento de folheto ▪ Espessamento e/ou efusão de cordoalhas ▪ Restrição de movimento do folheto ▪ Calcificação ALTERAÇÕES EM VALVA AÓRTICA, EM CARDITE AGUDA OU CRÔNICA ▪ Espessamento de folheto focal ou irregular ▪ Defeito de coaptação ▪ Restrição de movimento de folheto ▪ Prolapso de folheto Alterações ao Doppler para diagnóstico de valvite: REGURGITAÇÃO MITRAL ▪ Jato regurgitante holossistólico para o átrio esquerdo identificado em, pelo menos, dois planos ▪ Pico de velocidade > 3 mm/s ▪ Extensão do jato > 2 cm identificado em, pelo menos, um plano REGURGITAÇÃO AÓRTICA ▪ Jato regurgitante holodiastólico para o ventrículo esquerdo identificado em, pelo menos, dois planos ▪ Pico de velocidade > 3 mm/s ▪ Extensão do jato > 1 cm identificado em, pelo menos, um plano RAIO X DE TÓRAX → É útil na avaliação do tamanho da área cardíaca, entretanto o exame normal não exclui a presença de cardite. → Apresentação da cardite grave ao raio X: aumento acentuado e incaracterístico da área cardíaca, notando-se crescimento predominante das cavidades esquerdas e aumento variável das direitas, este último conforme a presença e gravidade da hipertensão pulmonar, identificada, por sua vez, pela clássica inversão vascular pulmonar. → Sinais de congestão pulmonar,como aumento do leito vascular e edema intersticial confirmam a existência de insuficiência cardíaca. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA DE ENCÉFALO → Em pacientes com coreia de Sydenham, em geral é normal. FEBRE REUMÁTICA POSSÍVEL ▪ Esse diagnóstico pode ser considerado diante de um quadro clínico que não preenche os critérios de Jones, mas há boa razão para suspeitar de FRA, sendo aceito nas populações de risco elevado. ▪ Mesmo na ausência da certeza do diagnóstico, é razoável considerar a prescrição de profilaxia secundária por 12 meses, quando deverá haver uma reavaliação cuidadosa, inclusive com nova ecodopplercardiografia. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS → Artrite idiopática juvenil, lúpus eritematoso sistêmico, artropatias soronegativas, artrite pós estreptocócica, doença de Lyme, infecções virais e bacterianas, septicemia, endocardite bacteriana, anemia falciforme, leucemia linfoblástica aguda e linfoma. → Quando há cardite ou pericardite, deve-se considerar miocardite viral, endocardite bacteriana, lúpus eritematoso sistêmico, artrite idiopática juvenil na forma sistêmica, cardiopatia congênita, síndrome do anticorpo antifosfolipídio. → Na presença de cardite com coreia, aventar a possibilidade de síndrome do anticorpo antifosfolipídio (SAF). TRATAMENTO → O melhor tratamento consiste na profilaxia primária que se baseia no diagnóstico precoce e no tratamento adequado das infecções estreptocócicas de orofaringe, idealmente nos primeiros 8 a 10 dias. → A amigdalectomia não altera o curso natural da doença. → O tratamento da FRA tem três objetivos básicos: erradicação do estreptococo, alívio dos sintomas e profilaxia contra novos surtos de infecção estreptocócica. PROFILAXIA PRIMÁRIA → Os pacientes com qualquer manifestação da FR (incluindo a coreia isolada) devem ser tratados com agentes antimicrobianos bactericidas para erradicar o estreptococo, mesmo que este não tenha sido isolado pela cultura. → 1° ESCOLHA: Penicilina Benzatina IM – dose única (dose de 600.000 UI para crianças até 20 kg de peso e 1.200.000 UI para pacientes acima desse peso). ALÍVIO DOS SINTOMAS REPOUSO NO LEITO → Sem cardite ou somente artrite: ▪ Enquanto durarem os sintomas ▪ 2 a 4 semanas, com liberação gradual em 2 semanas → Cardite leve/moderada: repouso no leito por 4 a 6 semanas, com liberação gradual nas 2 a 4 semanas seguintes → Cardite grave: repouso no leito até a resolução dos sinais de insuficiência cardíaca, com liberação gradual nas 4 a 6 semanas seguintes → Coreia: repouso em local tranquilo, com pouca luz, enquanto durarem os sintomas ARTRITE → É preconizado o uso de AINES → 1° escolha: AAS 50 – 70 mg/kg/dia, dividido em 4 tomadas, por 3 a 5 dias → os pacientes apresentam ótima resposta. → Outras opções: naproxeno, nimesulida, diclofenaco, ibuprofeno e cetoprofeno, AAS CARDITE → Exceto nas formas subclínicas, deverá sempre ser tratada. → 1° ESCOLHA: Prednisona 1 – 2 mg/kg/dia (máximo 60 mg/dia) por 12 semanas. → Situações graves: Pulsoterapia com Metilprednisolona 30 mg/kg/dose (máximo 1 g), 1x/dia, por 3 dias consecutivos. → Efeitos adversos dos corticoides: acne, ganho de peso, retenção hídrica, resistência à insulina, fácies cushingoide. COREIA → HALOPERIDOL (bloqueador do receptor dopaminérgico): 1 mg/dia, em uma ou duas tomas diárias, aumentando-se 0,5 mg a cada 3 dias até a remissão dos sintomas (dose máxima 5 mg/dia). → ÁCIDO VALPRÓICO (agonista gabaérgico): preconiza-se a dose de 20 a 30 mg/kg/dia até o máximo de 60 mg/kg/dia, dividido em duas ou três tomadas. → RISPERIDONA (bloqueador do receptor D2 de dopamina): a dose inicial é de 1 mg VO, 2 vezes/dia. → PIMOZIDA (neuroléptico e antipsicótico) → PREDNISONA 1 mg/kg/dia: para casos graves. PROFILAXIA SECUNDÁRIA → Tem como objetivo evitar novas infecções, prevenindo, assim, novos surtos de FRA que poderiam provocar lesões valvares ou agravar as sequelas cardíacas já existentes. → 1°ESCOLHA: Penicilina benzatina: 1.200.000 UI IM, a cada 21 dias. → Penicilina V: 250.000 UI VO, de 12/12h, uso contínuo. → Sulfadiazina: 1g/dia VO, em 1 ou 2 doses, uso contínuo. → Eritromicina: 250 mg VO, 2 vezes/dia, uso contínuo – opção para pacientes alérgicos a penicilina. Critérios para suspensão da profilaxia secundária: Febre reumática sem cardite Até a idade de 21 anos ou por pelo menos 5 anos após o último surto, o que for mais longo. Febre reumática aguda com cardite leve sem lesão residual ou insuficiência mitral leve Até a idade de 25 anos ou por pelo menos 10 anos após o último surto, o que for mais longo. Febre reumática aguda com cardite e lesão valvar residual moderada a grave Até 40 anos ou por toda vida. Troca valvar Profilaxia por toda vida PROFILAXIA PARA ENDOCARDITE BACTERIANA → INDICAÇÃO: quando houver manipulação dentária com sangramento, cirurgia ou instrumentação de vias urinárias, trato respiratório ou gastrintestinal. → Amoxicilina 50 mg/kg, dose máxima de 2 g, em única tomada VO, 30 a 60 min antes do procedimento. → Azitromicina 15 mg/kg, dose máxima de 500 mg VO, 1 h antes do procedimento. → Clindamicina 20 mg/kg, dose máxima de 600 mg VO ou IV, 1 h antes do procedimento. → Não está recomendada a profilaxia para procedimentos como colocação de piercing, tatuagem, histerectomia e parto via vaginal. → É importante ressaltar que a principal medida de profilaxia contra endocardite bacteriana consiste na manutenção de uma saúde oral ótima. ABORDAGEM CIRÚRGICA NA CARDITE REUMÁTICA CRÔNICA → A valvuloplastia mitral percutânea (comissurotomia) consiste no procedimento sugerido para os casos de estenose mitral leve, devendo ser indicado e realizado precocemente, para evitar a colocação de prótese, oferecendo sobrevida longa e segura, livre de nova intervenção. Recomenda-se a valvuloplastia mitral percutânea nas seguintes situações: → Pacientes sintomáticos, com estenose mitral grave e morfologia favorável, na ausência de sinais de trombo em átrio esquerdo ou regurgitação moderada/grave → Pacientes com estenose grave assintomáticos, com área valvar ≤ 1 cm2 → Pacientes com estenose mitral grave, com fibrilação atrial de início recente e pacientes assintomáticos com área de valva > 1,5 cm2 e PSAP > 25 mmHg ou gradiente mitral > 15 mmHg durante esforço → Pacientes com estenose grave, sintomáticos, de risco elevado para a cirurgia de troca valvar. A troca valvar é recomendada para pacientes com: → Estenose grave, com sintomas, não candidatos ou que falharam à valvuloplastia → Dupla lesão (estenose grave e regurgitação moderada).