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Curso: Licenciatura em Pedagogia Data: 
Disciplina: Empreendedorismo Turma: 
Orientador Professor : Antônio Caíque Carvalho Silva Turno: 
Acadêmico (a): 
 
Pedagogia Empreendedora 
Por Anita S. M. Pinheiro 
 
Uma análise interpretativa numa visão psicopedagógica 
Iniciamos pela citação da Mirian Costa (2003), que anuncia a proposta do 
projeto Pedagogia Empreendedora e a Intencionalidade do Autor, na qual ela 
sintetiza as principais questões contempladas pelo projeto de criação do 
Fernando Dolabela: 
[...] Tratando o empreendedorismo como uma forma de SER, Dolabela liga o 
INDIVIDUAL ao COLETIVO, amarra o compromisso de CRIAR RIQUEZAS 
com o de DISTRIBUÍ-LAS, apresenta o círculo virtuoso do 
DESENVOLVIMENTO HUMANO e SOCIAL INTEGRADO e convoca TODA A 
 
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SOCIEDADE a participar desse movimento, que é CONTRA A MISÉRIA e a 
FAVOR DA FELICIDADE [...] (COSTA, 2003, p. orelha do livro). 
 
As questões ressaltadas na citação apresentam as premissas que norteiam 
toda a proposta empreendedora aplicada à Educação, cuja dimensão que 
ocupa pode ser traduzida em: mudança de filosofia de vida — através de um 
novo modelo de construção social. A Pedagogia Empreendedora, no meu 
entendimento, não se trata de simples metodologia educacional ou de apenas 
um projeto pedagógico inovador, muito menos de uma nova estratégia didática. 
Constituída por uma nova forma de pensar o processo de ensino-
aprendizagem, a obra não pode ser apenas lida, mas, sim, estudada num 
contínuo interpretativo e de construção. 
Por outro lado, tenho dúvidas quanto a considerá-la uma “teoria”. Embora 
reúna regras e princípios sistematizados aplicados a uma área específica, a 
Educação, seus fundamentos pautam-se nas teorias educacionais, clássicas e 
modernas, já institucionalizadas. Acredito que o tempo de aplicação, seguido 
de pesquisa e estudos aprofundados, consolidará uma identidade científica 
para essa proposta. 
Sendo assim, em nosso estudo interpretativo para a formulação de uma 
resenha da obra do Fernando Dolabela Pedagogia Empreendedora, adotamos 
a perspectiva de projeto inovador de aplicação exequível, na conjuntura atual. 
Projeto este resultante de vários estudos, pesquisas e experimentações em 
relação às obras do referido autor, que subsidiaram esses fundamentos de 
alcance globalizante. 
Nesse sentido, iniciaremos por analisar os fundamentos teóricos que embasam 
essa obra, que o autor teve o zelo de explicitar exaustivamente antes da 
apresentação da metodologia propriamente dita, não deixando espaço para 
distorções interpretativas e resistências na adoção e aplicação no campo 
educacional. 
Após essa análise, faremos um estudo da proposta pedagógica e metodológica 
da referida obra, com ênfase nas estratégias didáticas apresentadas no projeto, 
e concluiremos com a análise avaliativa comparativa entre a Pedagogia 
Empreendedora, a Educação Básica e a perspectiva da Formação do Cidadão. 
Registramos antecipadamente nosso encantamento pela obra Pedagogia 
Empreendedora enquanto fundamentos educacionais integrativos, proposta 
didática metodológica de grande abrangência e viabilidade de aplicação na 
prática educacional. Essa condição constitutiva da obra reflete a imagem 
empreendedora do autor, seu compromisso com uma educação de qualidade, 
sintonizada com as demandas do contexto contemporâneo. Seu pensamento 
retrata a essência que, durante décadas, estudamos, debatemos, discutimos, 
refletimos e praticamos sem conseguir dar uma forma única de projeto, 
proposta ou teoria que fundamentasse nossa prática educativa escolar, 
alinhada com a diversidade de questões que compõem o complexo processo 
educacional brasileiro. 
Nossa expectativa para essa obra são avanços significativos para a 
concretização de uma educação de qualidade. Para isso, será necessário o 
entendimento da proposta, pelos profissionais da Educação e das áreas afins, 
sintonizado com os parâmetros determinados pelo autor na Pedagogia 
Empreendedora, expressos em sua essência intencional: culto aos valores que 
 
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privilegiam o “ser” integral em razão e emoção; visão de mundo ampliada para 
o desenvolvimento humano e social; prática educacional fundamentada em 
teorias que promovem a construção do conhecimento para todos; metodologia 
ancorada em estratégias didáticas que integram o desenvolvimento individual 
ao coletivo; busca de resultados empreendedores para criação de riquezas 
com distribuição equável; e perspectiva de formação de um modelo de 
sociedade com identidade cidadã. 
Com essa avaliação da obra Pedagogia Empreendedora, recomendamos uma 
maior dedicação ao estudo da temática empreendedorismo aplicado à 
educação a partir da Educação Básica, estendendo-se ao Ensino Superior, 
deixando as resistências de lado, para que estejamos abertos a críticas 
construtivas que agreguem ajustes, melhorias e mudanças efetivas. 
A Pedagogia Empreendedora partiu do princípio de que “todo ser humano 
nasce empreendedor”, fundamentada na existência do potencial natural que 
todas as pessoas apresentam, precisando apenas de estímulo para o seu 
desenvolvimento. Nesse sentido, Dolabela empreende a realização do seu 
próprio sonho e desenvolve a ideia de uma educação pautada no “direito de 
sonhar e realizar o sonho como projeto de vida”. Nessa proposta 
aparentemente simples, o autor faz algumas considerações importantes, que 
terminam por clarificar sua intenção diante do desafio de: “Educar para a 
autorrealização e, simultaneamente, produzir um país mais justo e mais feliz” 
(DIMENSTEIN, 2013, p. 14). 
 
Ao propor a ideia da Pedagogia Empreendedora como modelo de educação 
para crianças a partir de 4 anos, seguindo o seu desenvolvimento formal até o 
último ano do Ensino Médio, Dolabela aposta numa proposta preventiva, por 
entender que, diante da cultura cristalizada no Brasil, a maioria das pessoas 
tem seu potencial empreendedor sufocado ainda criança, a serviço do 
interesse de uma minoria. Logo, ele ressignifica os conceitos que dão suporte 
ao seu pensamento empreendedor: “[...] Crescimento econômico não é o 
 
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mesmo que desenvolvimento” — sim, aprendemos isso ao ver que o bolo 
cresceu, mas foi dividido entre poucos —, “Pobreza não é apenas ausência de 
renda, mas também de poder e conhecimento”. Com esse entendimento, ele 
descreve as bases conceptivas que dão suporte à aplicabilidade da Pedagogia 
Empreendedora para escolas, professores e alunos em geral, através da 
citação de Gilberto Dimenstein: 
“[...] fazer as escolas se interessarem por formar gente capaz de criar suas 
próprias oportunidades, em vez de formar empregados para um mercado de 
trabalho onde há cada vez menos vagas”. Convidar o professor para a missão 
de animador, inventor de recursos e aprendiz dos vários sonhos que irão surgir 
em sua classe, pois, afinal, os sonhos são personalíssimos; lançar ao aluno o 
desafio de seguir o Mapa do Sonho; definir seu sonho (o que quer ser ou 
fazer); e gerar os conhecimentos necessários para realizá-lo [...] — “Para isso: 
investimento em capital humano e capital social, capacitar indivíduos e 
comunidades a sonhar e realizar seu sonho. Essa é a revolução que o autor 
propõe: educar para a autorrealização e, simultaneamente, produzir um país 
mais justo e mais feliz” (DIMENSTEIN, 2003, p. 13). 
“O direito de sonhar e realizar o sonho” é concretamente a máxima do criador 
da Pedagogia Empreendedora, quelança, como proposta, a ação, a toda a 
sociedade brasileira, numa perspectiva em construção. Para isso, determina 
parâmetros norteadores para o seu desenvolvimento, que devem ser 
respeitados: aponta a “emoção” como energia necessária para a geração e 
manutenção da “condição” empreendedora (o que o faz criar o sonho e 
conduzi-lo à sua realização). O que nos faz entender que, para sonhar, a 
pessoa tem que se emocionar, pois o sonho de cada ser humano nasce na 
dimensão emocional e se mantém alimentado por ela, expressando-se em 
ações empreendedoras, que é um processo essencialmente humano e que 
compreende toda a carga de desejos, valores, condição de enfrentar com 
ousadia as incertezas das respostas da vida diante da construção permanente 
de ambiguidade e indefinições, o enfrentamento de erros em caminhos 
desconhecidos e crenças na capacidade de mudar diante das iniquidades 
sociais. É o que nos afirma, com muita convicção, Dolabela, quando nos faz 
refletir: 
[...] Ao não abraçar o aproveitamento do sonho como elemento que dá 
intencionalidade à vida e subsidia um projeto existencial, nossa cultura comete 
um imenso desperdício. A separação entre o sonho (vontade, desejo, projeto 
de vida, objetivo existencial, busca de autorrealização) e a sua realização pode 
estar na base de uma fragmentação que provoca efeitos danosos tanto à 
felicidade como à capacidade de fazer dos indivíduos e, portanto, da 
coletividade — a dissociação de duplas inseparáveis, como trabalho e prazer, 
esforço pessoal e desejo, aprendizado e significado, autorrealização e 
felicidade. Mas a ruptura mais importante se deu na tentativa de dissociação 
entre emoção e trabalho [...] (DOLABELA, 2003, p. 60). 
 
Em seguida, o autor delimita o significado do sonho a que ele se reporta em 
Pedagogia Empreendedora, diferentemente do conceito internalizado pela 
cultura brasileira, propondo os fundamentos teóricos do sonho estruturante, 
descrito por ele da seguinte forma: 
 
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O sonho estruturante pode ser transitório, porque influenciado e determinado 
pelas constantes mutações do próprio ser. Tanto o sonhador quanto o sonho, 
portanto, são dinâmicos. Enquanto dura (ou até ser substituído ou 
metamorfosear-se em outro), o sonho estruturante dá significado à vida do 
indivíduo. Somente o próprio sonhador pode distinguir sonhos estruturantes e 
periféricos. Ele faz isso ao avaliar a intensidade da emoção que o sonho 
produz. Ou seja, um sonho estruturante tende a persistir e autoprover-se da 
carga de emoção necessária à sua realização [...] — implica a definição de 
uma atividade, o claro detalhamento dos meios que proporcionarão a 
satisfação dos desejos contidos no sonho. Só assim o indivíduo poderá 
construir um caminho para chegar ao futuro desejado (DOLABELA, 2003, p. 
41). 
Por essa lógica, ele explicita a essência da estratégia pedagógica como sendo 
o movimento em ciclo “sonhar e buscar realizar o sonho” — se dá através do 
ciclo iniciado pela criação do projeto próprio, pela criança, definida como autora 
do “sonho” que a beneficia pela força pedagógica da ação, o que a torna autora 
e protagonista do enredo que ela mesma criou. Com base nesses 
fundamentos, compreendemos que o sonho ao qual o autor se refere não é 
pura obra do imaginário, que fica apenas na dimensão dos desejos 
inconscientes. Trata-se de sonho com suporte edificante numa fundamentação 
de ação. Logo, o entendimento da ação pedagógica, tão bem colocado pelo 
autor, se expressa na sua afirmativa: “A busca de realização do sonho dará 
dinâmica ao processo, tornando-o autocriativo através do aprendizado cíclico 
decorrente do sonhar e do agir para realizar o sonho e das mútuas alterações 
daí decorrentes” — o que confere à Pedagogia Empreendedora a proposta do 
aprimoramento da capacidade de pactar sempre uma percepção ética, que 
possa significar a construção evolutiva de conceitos como liberdade, 
democracia, respeito, cooperação, amor (DOLABELA, 2003, p. 63). 
Por essa perspectiva, a Pedagogia Empreendedora não só revela novos 
paradigmas na estrutura educacional, como também indica, com muita 
propriedade, a função pedagógica que responde, no contemporâneo, por um 
desempenho esperado de um novo modelo de construção social, organizado 
por comunicação em rede, cuja essência pauta-se no desenvolvimento do 
capital humano e social como principais elementos de geração de riqueza. 
Essa proposição elege a “inteligência” como maior bem de produção, que, 
disparada pela emoção, retroalimenta a capacidade de sonhar e de construir 
novos caminhos para sua realização. 
Essa nova forma de pensar o fazer pedagógico sinaliza mudanças 
significativas de paradigmas educacionais, que passam a assumir 
posicionamentos pessoais e profissionais orientados segundo Dolabela: “Na 
pedagogia empreendedora, o objetivo não é só o domínio de conteúdos e 
ferramentas, mas de processos de invenção do saber. Em outras palavras, 
aprender a gerar novos conhecimentos voltados para a transformação da 
realidade” (DOLABELA, 2003, p. 84). 
Mantendo a coerência em sua proposta, a Pedagogia Empreendedora 
sustenta-se na intenção da geração de melhorias na qualidade de vida de uma 
sociedade. Não acreditando em apenas valores exclusivamente individuais e 
econômicos. Podemos considerar, na visão do autor, que “Se o sonho é 
individual na sua concepção, é coletivo na sua finalidade, uma vez que deve 
 
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necessariamente oferecer (e não subtrair) valor para a comunidade” — um dos 
princípios da proposta pedagógica empreendedora é contemplar, a partir do 
desenvolvimento individual, a geração do desenvolvimento e a melhoria da 
sociedade. Esse princípio fica melhor compreendido no pensamento do autor: 
“[...] Mesmo sendo individual na concepção, o sonho é fortemente influenciado 
pelo etos da comunidade a que pertence o sonhador. Além do mais, na sua 
realização, o sonho é também coletivo, porque fruto da cooperação de vários 
atores, recursos e elementos” (DOLABELA, 2003, p. 43). 
 
Para um melhor entendimento, Dolabela apresenta os tipos de sonho de um 
empreendedor, a concepção de sonho coletivo e as características do 
empreendedor coletivo, como vemos a seguir: 
[...] o empreendedor é alguém capaz de desenvolver sonhos que: tenham 
congruência com o seu eu, porque assim poderá desenvolver sua 
individualidade e seus potenciais como alguém integrado à sua comunidade; 
produzam valores úteis à comunidade (riqueza material e/ou imaterial), 
cumprindo a essência social do indivíduo; gerem emoções sob a forma de 
energia em intensidade suficiente para impulsionar à sua realização através da 
cooperação. – O sonho coletivo é a visão de futuro de uma comunidade. 
Representa a vontade coletiva construída através da interação que respeita a 
legitimidade do outro, que acolhe, dá coerência e unicidade às diversas 
vontades individuais. – Empreendedor coletivo é aquele que tem como sonho 
promover o bem-estar da coletividade, a melhoria das condições de vida de 
todos. – [...] é o indivíduo capaz de aumentar a capacidade de conversação de 
uma comunidade, ampliando ou criando a conectividade entre seus diversos 
setores, gerando o capital social, que é insumo básico do desenvolvimento e 
cujo trabalho consiste em criar as condições para que a comunidade 
desenvolva sua capacidade de sonhar (DOLABELA, 2003, p. 47). 
Conhecendo a proposta pedagógica de natureza empreendedora, fica 
compreendido que o projeto traz, em seu bojo filosófico, concepções, 
fundamentos e princípios que privilegiam o desenvolvimento do ser por meio de 
seu potencial natural empreendedor; elege a “emoção” como energia para 
geração e alimentação de sonhos estruturantes em busca de realizações 
 
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individuais, com reflexos no desenvolvimento e em melhorias sociais coletivas; 
e defende o desenvolvimento integrado dos capitais humano, social, 
empresarial e natural. Por esse viés, a propostaaponta para mudanças 
significativas no fazer pedagógico, de caráter preventivo, indicando sua 
aplicação nos segmentos da escolarização formal, a partir da Educação Infantil 
até o Ensino Médio. 
Diferentemente de outras propostas pedagógicas, a Pedagogia 
Empreendedora é apresentada, pelo seu criador, de forma completa para sua 
adoção/aplicação, pois, além do rico embasamento teórico, o projeto foi 
experienciado na prática escolar e avaliado pelos seus futuros autores-
protagonistas: escola, educadores e alunos. Para isso, o autor nos presenteia 
com a apresentação da metodologia, de estratégias didáticas e desafios, 
sintetizados nesta resenha, para o nosso maior encantamento e entendimento 
da Pedagogia Empreendedora. 
Em sua proposta metodológica para a adoção e implantação da Pedagogia 
Empreendedora, Fernando Dolabela orienta sobre algumas questões que não 
podemos deixar de considerar em nossa análise — apresenta metodologia 
restrita ao campo do empreendedorismo, devendo ser aplicada 
concomitantemente às diretrizes curriculares fundamentais para o Ensino 
Básico, que compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental (anos 
iniciais, do 1º ao 5º ano, e anos finais, do 6º ao 9º ano) e o Ensino Médio. O 
que nos faz entender que a proposta metodológica da Pedagogia 
Empreendedora assume estrutura temática transversal, com aplicação 
interdisciplinar, na perspectiva de “estimular e preparar o aluno para sonhar e 
buscar a realização do sonho” (DOLABELA, 200, p. 55), cumprindo assim seu 
objetivo, que, segundo o autor, se expressa da seguinte maneira: 
Em primeiro momento, o aluno desenvolve um sonho, um futuro onde deseja 
chegar, estar ou ser. Em um segundo momento, ele busca realizar o sonho e, 
para isso, se vê motivado a aprender o necessário a esse objetivo. – A busca 
constante de realização do sonho é a fonte de geração e manutenção do nível 
emocional que dá ao indivíduo a capacidade de persistir e continuar, apesar 
dos obstáculos, erros e resultados indesejáveis que encontrar. – [...] as 
atividades de buscar, aprender com os erros e, portanto, evoluir dizem respeito 
ao saber empreendedor. Assim, a atividade pedagógica vai se dedicar 
principalmente à conexão entre o sonho e sua realização (DOLABELA, 200, p. 
55). 
Segundo o autor e em sintonia com a proposta metodológica, a estratégia 
didática expressa-se em duas proposições de ação para o aluno: “a formulação 
do sonho” e “a busca de sua realização” — consideradas como unidade 
indissociável, as duas ações compõem o eixo do autoaprendizado e 
acompanham o aluno em todo o ciclo da Educação Básica, iniciado na idade 
escolar de 4 anos. 
Esse encaminhamento pedagógico contemplará todo o ciclo escolar, com o 
movimento entre as ações de “sonhar e buscar realizar o sonho”. Para isso se 
concretizar, o autor descreve: “O programa curricular será iniciado com a 
pergunta: ‘Qual é o seu sonho e como buscará realizá-lo?’” (DOLABELA, 2003, 
p. 56). Ao final do ano letivo, o período de trabalho será encerrado com a 
apresentação individual dos alunos: “Aqui está a descrição do que fiz para 
formular meu sonho e do esforço que desenvolvi buscando realizá-lo” 
 
 8 
(DOLABELA, 2003, p. 56). Por essa lógica, o autor lança mão dos “elementos 
de suporte”, citando Filion (1991 a e b), em que apresenta um sistema de 
atividades, adaptadas à Pedagogia Empreendedora, para o desenvolvimento 
dessas estratégias, organizadas segundo a natureza interna ou externa do 
conhecimento visado: 
– Desenvolvimento de condições para o entendimento e o desenvolvimento do 
próprio ser (autoestima, autoconhecimento, autonomia, protagonismo, sistema 
de valores, diferenciação, criatividade, energia, capacidade de análise, 
capacidade de lidar com o risco, conhecimento da natureza do sonho). 
– Desenvolvimento de habilidades e competências para entender fenômenos 
exógenos, ambientais, e lidar com eles: conhecimento do ambiente em que o 
sonho se insere; capacidade de tecer uma rede de relações para dar suporte à 
realização do sonho; identificação de oportunidades. 
– [...] Ao formular o sonho, o aluno deve trabalhar para: conhecer a si mesmo; 
conhecer a realidade em que está inserido; conhecer a natureza de seu sonho. 
– A busca de realização do sonho envolve, além do conceito de si, 
conhecimento do ambiente, energia, liderança, rede de relações (DOLABELA, 
2003, p. 57). 
 
Dolabela sintetiza os fundamentos das estratégias na Pedagogia 
Empreendedora: estímulo ao sonho; não interferências no que diz respeito à 
construção e à realização do sonho; oferecimento de orientação e meios 
(elementos de suporte) para o desenvolvimento das competências e 
habilidades para formular e buscar realizar o sonho; auxílio no delineamento 
dos contornos éticos em que toda essa atividade irá se desenvolver. 
Compreende-se que essa estratégia, na prática, não é tão simples assim como 
formulada, mas, para sua aplicabilidade, essas ações estratégicas podem ser 
consideradas como eixos norteadores, em que estarão contidas inúmeras 
ferramentas didáticas. Na promoção dos objetivos metodológicos, é necessário 
criar o sonho e desenvolver caminhos em busca de sua realização — 
 
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permanentemente, defende o autor. 
Frente a essa proposta inovadora e, por isso, desafiante, o estudo e a análise 
da Pedagogia Empreendedora exigem alguns cuidados, em sua adoção e 
implementação, da escola, dos professores e alunos, para que não haja 
distorções com relação à proposta fundamentada ou à sua prática distanciada 
da metodologia e das estratégias didáticas, necessárias ao seu 
desenvolvimento adequado no ambiente escolar. 
Nesse sentido, Dolabela foi muito cuidadoso e chama a atenção para questões 
delicadas, que, na área de Educação, se não bem administradas, têm seu 
impacto ampliado, como as relacionadas à decisão da instituição escolar, à 
postura do corpo docente e ao objetivo final do desenvolvimento e aprendizado 
do aluno, principalmente em se tratando do segmento educacional da 
Educação Básica. 
Em nossa análise interpretativa, compreendemos: “A Pedagogia 
Empreendedora é uma estratégia destinada a dotar o indivíduo de graus 
crescentes de liberdade para fazer sua escolha” — o que nos faz entender que 
o papel da escola será o de “preparar o aluno para sua escolha e para assumir 
a consequência dela decorrente”. Fácil? Não! Considerando nossa cultura, 
predominantemente orientada pela valorização do “ter”, adotar um 
encaminhamento pedagógico em que a proposta de ensino fundamenta-se na 
construção do sonho e na busca para realizá-lo e em que o aluno tem que 
assumir toda e qualquer responsabilidade em sua formação para a vida 
significa no mínimo uma mudança cultural. Para nosso alívio, o autor pontua: 
[...] A Pedagogia Empreendedora jamais poderá ser imposta. Sua adoção é 
uma decisão política de cada escola, congruente com sua visão de mundo. – 
Por exigir grande energia do corpo para conduzir as mudanças que suscita, é 
imprescindível total compromisso da escola. – A implementação invasiva é 
inadequada não só porque a metodologia pressupõe cooperação para a 
construção coletiva — e esta depende de liberdade —, mas também pela 
necessidade de recriação da metodologia pelo professor, o que exige empenho 
e convicção. – A única forma de implementar a Pedagogia Empreendedora 
será pela construção de instrumentos didáticos adequados às peculiaridades e 
aos modos próprios de ser dos atores envolvidos, ou seja, a escola, o 
professor, os alunos, a comunidade(DOLABELA, 2003, p. 110). 
 
 
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Logo, podemos compreender a proposta da Pedagogia Empreendedora, criada 
por Fernando Dolabela, estruturada por fundamentos teóricos bem embasados, 
consolidados por uma prática constituída de bagagem experienciada no Brasil 
e um leque de reflexões para novos caminhos educacionais, viáveis para o 
nosso tempo, considerando a conjuntura política e de formação para a 
cidadania, com indicação precisa para aplicação no ciclo da Educação Básica e 
com definição do seu desenvolvimento no espaço “escola”, fonte formadora do 
desenvolvimento humano, consubstanciando uma proposta pedagógica 
coerente com os fundamentos educacionais, já institucionalizados, na história 
da Educação. Contempla ainda: fundamentos teóricos socioconstrutivistas; 
uma metodologia a partir da “emoção”, pautada na Pedagogia do Afeto; a 
prática da Pedagogia de Projetos Temáticos, um desenvolvimento de 
conhecimento dinâmico por estratégias didáticas de caráter interdisciplinar; a 
promoção do ensino contextualizado com aprendizagem significativa, para uma 
intencionalidade alinhada com uma educação de qualidade na formação de 
uma futura sociedade cidadã. 
Registramos considerações quanto ao estudo e à discussão da referida obra, 
que, embora date de 2003, teve recente adoção e aplicação nas escolas da 
rede do ensino privado, merecendo uma atenção maior, com aprofundamentos 
de conhecimento da proposta, para evitar resistências ideológicas e distorções 
intencionais que prejudiquem seu desenvolvimento. Para isso, recomendamos, 
para toda a comunidade escolar (gestores, coordenadores, professores e 
professoras, pais e comunidades), conhecer as obras anteriores do autor 
Fernando Dolabela, junto com seu trabalho experimental da Pedagogia 
Empreendedora, apropriando-se do teor técnico pedagógico com posterior 
posicionamento de adoção ou não da proposta, com responsabilidade. 
Anita S. M. Pinheiro é psicóloga especialista em Desenvolvimento e 
Aprendizagem, Gestão Educacional, Administração com Ênfase em Marketing 
Educacional, Formação de Professores, Psicologia Clínica Infantil e 
Psicopedagogia Clínica e Institucional. Também é consultora interna 
pedagógica da Editora Construir. Endereço eletrônico: 
anitasilvapinheiro@gmail.com. 
Atividade em grupo. 
 
Cada grupo deverá ler e debater em grupo esse artigo com o tema “Pedagogia 
Empreendedora. Por Anita S. M. Pinheiro”. 
Agora é sua vez futuro professor eu professor em “exercício” a ter um olhar 
Empreendedor para sua sala de aula ou sua futura turma de alunos. 
Apresentem ideias, propostas e maneiras de se trabalhar o empreendedorismo 
na Educação Infantil ou no ensino do EJA (Educação de Jovens e Adultos). 
 
Forma de avaliação: 
 Será Avaliado de forma individual e em grupo. A avaliação constará a 
apresentação de micro seminário, tendo como critérios avaliativos, domínio de 
conteúdo, organização do pensamento, clareza e criatividade.

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