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1 Disciplina: Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação de Jovens e Adultos Autora: M.e Eliana Nunes Maciel Bastos Revisão de Conteúdos: D.ra Marli Pereira de Barros Dias Designer Instrucional: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki Ano: 2020 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Eliana Nunes Maciel Bastos Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação de Jovens e Adultos 1ª Edição 2020 Curitiba, PR Faculdade UNINA Faculdade UNINA 3 Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Marli Pereira de Barros Dias Designer Instrucional Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica Juliano de Paula Neitzki Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA BASTOS, Eliana Nunes Maciel. Fundamentos teóricos e metodológicos da educação de jovens e adultos/ Eliana Nunes Maciel Bastos. – Curitiba: Faculdade UNINA, 2020. 48 p. ISBN: 978-65-87972-04-6 1. Alfabetização. 2. Aprendizagem. 3. Comprometimento ético. Material didático da disciplina de Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação de Jovens e Adultos – Faculdade UNINA, 2020. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade UNINA 5 Sumário Prefácio ..................................................................................................... 06 Aula 1 – EJA: reflexões relevantes e as políticas educacionais para a Educação de Jovens e Adultos .................................................................. 07 Apresentação da aula 1 ............................................................................. 07 1.1 - EJA: reflexões relevantes para a prática contemporânea nesta modalidade ................................................................................................ 07 1.2 - As políticas educacionais para a EJA .......................................... 10 Conclusão da aula 1 ................................................................................... 16 Aula 2 – As Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA .......................... 17 Apresentação da aula 2 ............................................................................. 17 2.1 - O que as DCNs orientam para a EJA? ......................................... 17 Conclusão da aula 2 ................................................................................... 27 Aula 3 – Alfabetização de jovens e adultos: fundamentos teóricos e metodológicos ........................................................................................... 27 Apresentação da aula 3 ............................................................................. 27 3.1 - Alfabetização de jovens e adultos: fundamentos teórico- metodológicos ........................................................................................... 28 Conclusão da aula 3 ................................................................................... 36 Aula 4 – Os sujeitos da educação a distância e a organização do trabalho com jovens e adultos .................................................................................. 36 Apresentação da aula 4 ............................................................................. 36 4.1 - A educação a distância (EAD) como instrumento para a EJA...... 37 4.2 - A organização do trabalho com a EJA ......................................... 39 Conclusão da aula 4 ................................................................................... 44 Índice Remissivo ........................................................................................ 46 Referências ............................................................................................... 47 6 Prefácio A disciplina Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação de Jovens e Adultos versará a respeito dessa modalidade educativa, que lida com um público muito diverso e complexo, repleto de difusas e apaixonantes características, e que precisam ser acolhidos na ambiência educativa com muita postura humana. Na nossa primeira aula, faremos relevantes reflexões acerca da vivência com os educandos da EJA, elencando alguns referenciais teóricos que colaboram a realização de uma prática humanizadora. E faremos uma abordagem dos fatos políticos e históricos que permeiam a historicidade da EJA no Brasil. No segundo encontro, destacaremos as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) que estabelecem critérios para o funcionamento da EJA nas instâncias escolares pelo país, sendo assim, serão sublinhados com mais veemência os princípios e as funções da EJA, enfatizando sua relevância para ampliar as possibilidades de desenvolvimento às pessoas envolvidas nos processos de ensino e aprendizagem. Na terceira aula, a abordagem se dará a respeito do processo de alfabetização na EJA, refletindo sobre a postura dialógica frente às reais necessidades dos educandos, sabendo que todos os sujeitos: docentes e discentes fazem parte do processo educativo e devem participar deste com entusiasmo. No quarto e último encontro, faremos uma discussão sobre a Educação a Distância – EAD e sua interação com a EJA, sublinhando que essas modalidades são ferramentas relevantes para a propagação do direito à educação. E serão feitas inferências a respeito da organização do trabalho pedagógico na EJA, por intermédio da elaboração de um planejamento intencional e flexivo, visando sempre a constituição de aprendizagens significativas para os educandos. Contudo, a EJA deve proporcionar uma educação qualitativa aos seus partícipes, a fim de que estes possam ter condições de transformar suas vidas, sendo protagonistas de suas histórias. 7 Aula 1 – EJA: reflexões relevantes e as políticas educacionais para a Educação de Jovens e Adultos Apresentação da aula 1 Olá, estudante! Nesta aula, serão abordados aspectosrelevantes dessa prática educativa que é tão peculiar e que requer muito mais que a aprendizagem escolar, sobretudo, está em busca de um desejo maior: viver em sociedade com mais dignidade. Em seguida será feita uma abordagem de fatos políticos e históricos que colaboram para a realização da prática na EJA nos tempos atuais. Desafios da EJA Fonte: https://i0.wp.com/www.polemicaparaiba.com.br/wp-content/uploads/2016/07/ large49.jpg?quality=95&strip=all&ssl=1 1.1 EJA: reflexões relevantes para a prática contemporânea nesta modalidade O trabalho educativo com os sujeitos na EJA precisa envolver a partir de um comprometimento ético do docente, em prol de atender tais pessoas em suas especificidades, primando em compreender suas condições de vida, para então, estabelecer um plano de trabalho, no qual tais sujeitos tenham participação ativa dentro do processo dialógico de aprendizagem, ou seja, é notório sublinhar que todos precisam ter voz e vez dentro do contexto da sala de aula, para que haja produções de conhecimentos plausíveis e úteis à vida das pessoas, as quais 8 necessitam, na maioria das vezes, sentirem-se acolhidas, por meio do domínio da leitura e da escrita. Por intermédio do diálogo, deve-se promover momentos de estudos proveitosos para alunos da EJA, tendo criatividade em encantar os processos de aprendizagem, sublinhando em aprender a ver e perceber o mundo com outros olhos, como as palavras do autor Paro (2008, p. 37), inspira a aplicação de atos educativos que expressem o “belo, com o justo e com o verdadeiro” (PARO, 2008, p. 37). Assim sendo, é possível inferir que, por meio da educação, o sujeito se move em direção aos objetivos da história humana, compreendendo o seu papel no mundo e estabelecendo relações que possam influenciar na feitura de um mundo melhor. Trabalho livre e sala de aula Fonte: acervo do autor (2017). Freire (2003) destaca a respeito do trabalho livre em sala de aula. Na EJA, é estabelecido contato com os educandos, à medida que vão constituindo suas autonomias em defender suas ideias, elaboram seus pensamentos estabelecendo estratégias para suas compreensões de mundo e assim dominam o processo de alfabetização, construindo condições para melhorar sua leitura, interpretar e compreender o mundo a sua volta. Portanto, toda e qualquer estratégia de ensino e aprendizagem deve decorrer por atos que instigam a liberdade dos sujeitos, do aprendizado coletivo e do dialógico libertador, preparando os alunos para o cotidiano com autonomia, constituindo-se em pessoas com dignidade de vida, contagiando outros semelhantes a trilharem os caminhos que levam à concretização da educação recebida. 9 Neste ínterim, vale ressaltar as reflexões da autora portuguesa Isabel Alarcão (2003), que disserta a respeito da educação reflexiva e humana, abordando os aspectos de que as pessoas são as pedras angulares dos processos educacionais, porque sem elas as escolas não existem, são apenas edifícios vazios, e é nessa perspectiva que a educação na EJA deve estar pautada, nas relações dialógicas entre os sujeitos educacionais, ou seja, as pessoas são a pedra de toque desses ambientes, é por elas e para elas que os processos didáticos devem ser pensados. Portanto, deve-se elaborar um processo de ensino que atenda os sujeitos educacionais em suas especificidades, sendo necessário ouvir os estudantes e compreender os seus anseios, pois diversas e complexas são as causas que levam as pessoas chegarem à EJA. Contudo, a autora ainda instiga a reflexão sobre a relevância da educação na vida das pessoas quando exalta que esta é o cerne do desenvolvimento de toda a pessoa humana. Assim sendo, pode-se afirmar que é imprudente produzir um trabalho na EJA, se não sublinhar a pessoa como foco principal de tal tarefa, elencando todas as possibilidades de atender a real necessidade do educando, dialogando sempre, a fim de que o sujeito possa agir e participar da sociedade em que vive. Vocabulário Cerne: íntimo, centro, âmago, essência, interior. Assmann (1998) discorre a respeito do entusiasmo na educação, da necessidade de reencantar o processo de educar, ou seja, a sua prática educacional, e sem dúvida essa postura deve estar no cotidiano dos docentes que desejam realizar uma prática educacional transformadora na vida dos educandos, pois somente professores entusiasmados podem fazer a diferença na existência dos seus alunos e alunas, transpondo, assim, todas as dificuldades que compõem o cotidiano educativo em realidades. Porém, esse entusiasmo deve ser compreendido pela sua profissão com o desenvolvimento do seu semelhante, revelando resultados desejáveis, mediante as reais necessidades dos sujeitos educacionais. 10 Mídias Assista ao vídeo contendo resumo histórico da EJA no Brasil e uma ampla matéria sobre essa modalidade de educação. Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=j1vJQoHnxvc&t=36s 1.2 As políticas educacionais para a EJA Após as reflexões iniciais, nas quais o objetivo foi de estimulá-los a compreender a relevância dessa modalidade educacional, frente os processos de inclusão das pessoas no direito à escola com qualidade, agora tem-se a necessidade de traçar ideias a respeito dos fatos históricos e políticos que colaboram para que a EJA seja hoje um direito garantido a todos os cidadãos brasileiros que necessitam dessa modalidade para alcançarem os seus objetivos de aprendizagens. Para tanto, na premissa desta discussão é necessário sublinhar que a herança da história brasileira deixa sérias características na educação, sendo que esta não foi uma prioridade por muito tempo, em que somente os filhos das pessoas muito ricas, provenientes dos colonizadores europeus, que tinham os seus professores/tutores particulares e depois continuavam e finalizavam os seus estudos na Europa. A história da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil remete-se ao tempo dos Jesuítas (ordem religiosa da Igreja Católica), que catequizavam os índios, ou seja, ensinavam aos índios adultos suas culturas. Logo, essa educação de adultos tinha toda uma característica religiosa, sendo que o objetivo central era doutrinar os índios, podendo se dizer que os povos indígenas catequizados são um exemplo de EJA. No período do Império, destaca-se: a Constituição Imperial de 1824, com a promulgação da instrução primária gratuita para a elite; a Lei de 12/08/1843, a qual ordenava cada província brasileira organizar o seu ensino. Em 1882, Rui Barbosa defere alguns pareceres a respeito da educação e faz menção ao ensino dos adultos, porém, de maneira muito superficial, sendo tais pareceres predominantes de orientações para o ensino das crianças. 11 No período da República (final do século XIX e meados do século XX), destaca-se: o decreto nº 16.782 – A, de 13 de janeiro de 1925, conhecido como a Lei Rocha Vaz ou Reforma João Alves, que estabeleceu escolas noturnas para o ensino dos adultos. Vale ressaltar que os alfabetizadores noturnos tinham os mesmos direitos que os diurnos. Com a Revolução de 1930, houve algumas mudanças no quadro econômico e político, assim sendo, criou-se o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, o qual mais tarde passaria a se chamar Ministério da Educação e Saúde. Em 1931, o Conselho Nacional de Educação (CNE) foi criado pelo Decreto nº 19.850, de 11 de abril de 1931, e na Constituição de 1934 o ensino primário para crianças e adultos passa a ser obrigatório, porém, esta foi substituída pela Constituição de 1937, que não trouxe medidas positivas para a educação dos adultos. No Estado Novo (1937 – 1945), há uma grande preocupação com as imensas taxas de analfabetos no Brasil, pois era necessário que os adultos soubessem ler para trabalharem nas fábricas, ou seja, detectou-se que era precisoaperfeiçoar o homem para a efetivação da sua mão de obra no mundo capitalista. Em 1942, houve a criação do Fundo Nacional de Ensino Primário. Nessa época, Getúlio Vargas atuou como ditador. Portanto, em 1945, com o fim da ditadura de Vargas, houve o começo do fortalecimento da democracia no país. Com o fim da 2ª Guerra Mundial, o mundo estava passando por um momento de profundas reflexões e mudanças em prol de propagar o bem comum. Curiosidade A Conferência das Nações Unidas para a criação de uma organização educacional e cultural foi convocada em Londres de 1 a 16 de novembro de 1945. No dia 16 de novembro, trinta e sete países assinam a carta que estabelece a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Na conferência, Ellen Wilkinson, então simultaneamente Ministra britânica da educação e presidente da Conferência geral, lê a recém- adotada Constituição. 12 Em 1947, aconteceu a Campanha Nacional de Educação, dirigida por Lourenço Filho, dando ênfase à necessidade de alfabetizar os adultos, devido às altas taxas de analfabetismo no Brasil. As décadas de 50 e 60 do século XX se seguiram com certa conscientização por parte de algumas pessoas da sociedade brasileira, por intermédio de movimentos e debates, que algo deveria ser feito em favor da grande parcela da sociedade analfabeta, dentre os quais destaca-se: ➢ Movimento de Educação de Base (MEB); ➢ Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); ➢ Movimento de Cultura Popular do Recife, iniciado em 1961; ➢ Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE); ➢ Campanha de Pé no Chão também se Aprende a Ler, da Secretaria de Educação de Natal; ➢ Programa Nacional de Alfabetização, do Ministério da Educação e Cultura em 1964, que contou com a presença de Paulo Freire. Saiba mais O MEB, criado pelo Decreto nº 50.370, de 21 de março de 1961, deveria executar um plano quinquenal (1961-1965), que previa inicialmente 15 mil escolas radiofônicas e deveria expandir-se nos anos subsequentes. Para saber mais, acesse o link disponível: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete- tematico/movimento-de-educacao-de-base-meb Leia na íntegra sobre Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) acessando o link disponível: https://formacao.cancaonova.com/diversos/como- surgiu-a-cnbb/ Mídias Assista ao documentário que retrata aspectos relevantes sobre a vida e obra do Educador Paulo Freire. Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v= 5y9KMq6G8l8 Assista também ao documentário sobre o Movimento de Cultura Popular do Recife, iniciado em 1961. Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v= C7uBYIFuWKc 13 Especialmente, na década de 1960, destaca-se o nome do Educador Paulo Freire, precursor de um novo paradigma para a construção teórica e metodológica da educação de adultos, que teve um papel fundamental para o desenvolvimento da EJA no Brasil. O educador enfatizou a importância do povo na vida pública do país, fomentou iniciativas de educação popular, levando esperança para as pessoas que viviam oprimidas pela falta de conhecimento na sociedade, sem ao menos terem a possibilidade de assinarem os seus nomes em seus documentos pessoais. Nascia, assim, a proposta da educação libertadora, frente a um mundo cada vez mais desumano, avassalador de atender as exigências do capitalismo. Para tanto, estimulou-se a renovação dos métodos e procedimentos educativos frente às reais necessidades dos educandos adultos. Curiosidade Paulo Freire, educador brasileiro, ganhou vários títulos internacionais. Sua obra mais famosa Pedagogia do Oprimido foi traduzida para mais de 40 idiomas. Faleceu em 02 de maio de 1997, na cidade de São Paulo. No ano de 2012, em 13 de abril, é declarado Patrono da Educação Brasileira, de acordo com a Lei 12.612. Em janeiro de 1964, foi aprovado o Plano Nacional de Alfabetização, o qual buscou disseminar por todo o Brasil programas de alfabetização orientados pela proposta de Paulo Freire. Contudo, em 1964, com o golpe militar, os programas de alfabetização foram suspensos e os seus promotores sofreram inúmeras repressões, entre eles, Freire, que foi preso e exilado, ficando fora do país por 16 anos. Saiba mais Para saber mais sobre Educador Paulo Freire, acesse a página do instituto que leva o seu nome e tem como Presidente o Autor Moacir Gadotti. Disponível no link: http://www.paulofreire.org/ Também sugiro que você leia a obra organizada pelo MEC sobre a vida e obra de Paulo Freire da Coleção Educadores. Disponível no link: http://www.do miniopublico.gov.br/download/texto/me4713.pdf 14 No ano de 1967, o governo federal organizou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), o qual propagou um processo de alfabetização e de educação continuada para jovens e adultos em toda a nação. Em 1971, foi implantado o ensino supletivo, mediante a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5.692/71 e explicava em seu teor que esse ensino poderia ser efetivado a distância, por correspondência ou outros meios que fossem adequados. A implantação do Mobral deveria dar continuidade aos processos de aprendizagem, para o crescimento das taxas dos alfabetizados no Brasil. Saiba mais O presente artigo apresenta uma reflexão sobre a história e as memórias do Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL (1967- 1985). Disponível no link: http://www.ufpb.br/evento/index.php/ixsidh/ixsidh/paper/download/4318/17 11 Em 1985, o Mobral foi extinto e tem-se a implantação da Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos, denominada então de Fundação Educar, propagando o atendimento das séries iniciais, a produção de materiais, entre outras atividades que visavam à progressão da alfabetização dos brasileiros. A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu texto a Educação de Jovens e Adultos como dever do Estado e direito de todos, por intermédio da obrigatoriedade e da gratuidade do ensino fundamental. O artigo 208 da Constituição sublinha que a educação deve ser “assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 1988, art. 208). Nesses destaques de ações políticas, frente ao atendimento da EJA, no decorrer da história e tempo da nação brasileira, é importante relatar que, em 1990, o Brasil participou da Conferência Mundial de Educação para Todos em Jomtien, na Tailândia, ato que interferiu muito nas decisões tomadas internamente, no país, para alcançar resultados positivos diante dos processos de educação para todos, no aspecto da inclusão dos sujeitos no ensino público, 15 gratuito e de qualidade. Para tanto, o ano de 1990 foi denominado como Ano Internacional da Alfabetização. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 20 de dezembro de 1996, traz em seu artigo 37 a seguinte ordenação para o ensino da EJA: A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da vida (BRASIL, 1996, art. 37). Ou seja, o artigo 37 da LDB menciona a EJA como direito do cidadão brasileiro. Esse texto de lei está atualizado mediante as últimas alterações em seu escrito, pois foi modificado recentemente nas suas palavras finais, tendo o objetivo de sublinhar que a formação do sujeito na EJA deve estar pautada em uma preocupação de prepará-lo para atuar na sua sociedade, com total autonomia, utilizando os meios adquiridos nos processos de ensino e aprendizagem para embelezar a sua vida de sentido, objetivos, e, sobretudo, conquistas individuais e coletivas, e consequentemente, a partir de sua postura cidadã autônoma, ajudar a tornar o mundo em um lugar mais agradávelde viver. Logo, a LDB traz a EJA em destaque nos seus artigos 37 e 38, versando sobre o atendimento peculiar a tais estudantes, que precisam ser compreendidos em suas características singulares, ou seja, as oportunidades educacionais ofertadas a tal público devem convergir às suas reais necessidades, as ações didáticas precisam ser organizadas, de acordo com a realidade dos educandos atendidos, a fim de que possam aprender com mais naturalidade e que utilizem os saberes adquiridos no âmbito da sala de aula para agirem em seus ambientes de convivência humana com mais sabedoria, sentindo-se parte de todo o processo de desenvolvimento que lhes for possível. No ano de 2000, destaca-se a Resolução CNE / CEB nº 01, de 05 de julho, que, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, buscando atender as peculiaridades dessa modalidade educacional. Em janeiro de 2001, é aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 10.172, que determina como um dos objetivos e metas da EJA a criação de 16 Programas de Alfabetização. O PNE de 2014, Lei nº 13.005, traz em suas metas 9 e 10 orientações e objetivos a serem traçados no trabalho com a EJA. Meta 9 Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional. Meta 10 Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas da EJA nos ensinos fundamentais e médios, na forma integrada à educação profissional. Metas do PNE para a EJA Fonte: elaborado pelo autor (2018), adaptado pelo DI (2020). Saiba mais Leia o artigo: “Desvendando o PNE – a educação de jovens e adultos demanda outra lógica”, e reflita a respeito das metas para a EJA instituídas no PNE de 2014. Depois, faça uma análise sobre as características peculiares dessa modalidade educativa. Disponível no link: http://educacaointegral.org.br/repor tagens/desvendando-pne-educacao-de-jovens-adultos-e-mais-um-capitulo-da-d ivida-social-pais/ Conclusão da aula 1 Nesta aula, buscamos enfatizar a prática educacional na EJA, sublinhando pontos culminantes para a compreensão dessa modalidade educativa, tão carente de docentes que sejam comprometidos com a transformação social das pessoas. Ainda, pontuamos aspectos importantes das políticas públicas instauradas no país. Atividade de aprendizagem Discorra a respeito das discussões propostas em nossa aula, elencando pontos relevantes sobre a prática educativa na EJA e os aspectos das políticas educacionais. 17 Aula 2 – As Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA Apresentação da aula 2 Olá, estudante! Nesta aula, iremos abordar aspectos relevantes das Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA (DCNs), buscando intensificar o aprendizado a respeito dessa modalidade, instigando a reflexão sob a ótica da teoria x prática, a fim de que as pessoas atendidas na EJA tenham os seus direitos educacionais atendidos, de maneira que a postura didática do docente esteja permeada de humanidade frente às reais necessidades de aprendizagem. Fonte: https://potim.sp.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/Eja-Campo-Site-660x330. jpg 2.1 O que as DCNs orientam para a EJA? As DCNs para a EJA foram estabelecidas pelo Parecer CNE/CEB 11/2000 e Resolução CNE/CEB 1/2000. Destaca-se o trecho do Parágrafo Único: Como modalidade destas etapas da Educação Básica, a identidade própria da EJA considerará as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das DCNs e na proposição de um modelo pedagógico próprio [...] (BRASIL, 2000). 18 Curiosidade O princípio da proporcionalidade está sublinhado nas DCNs, o que permite dizer que os componentes curriculares devem ser organizados conforme as necessidades dos educandos. Contudo, o trabalho com a EJA deve ser organizado pelo viés das singularidades do seu público, buscando entender a realidade dos indivíduos nela matriculados, nas suas diversidades. É preciso compreender as especificidades da comunidade, conversar com os educandos, conhecer suas histórias, saber sobre suas motivações e/ou necessidades para retornar aos estudos. Saiba mais Leia na íntegra o texto de Lei das Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA (DCNs) e aguce os seus conhecimentos críticos. Disponível no link: http://confinteabrasilmais6.mec.gov.br/images/documentos/resolucao_CNE_CE B_01_2000.pdf Acerca dos princípios que permeiam as DCNs para a EJA, destaca-se a equidade, que denota a respeito da oportunidade igual aos jovens e adultos, os quais por motivos diversos não puderam concluir os seus estudos na idade propícia e precisam ser atendidos em suas singularidades, tendo acesso a novas formas de trabalho e cultura, seus caminhos na sociedade por meio da aquisição da aprendizagem no âmbito escolar. Assim sendo, o princípio da equidade deve nortear um atendimento que prime pelo respeito às diferenças, valorizando a diversidade no contexto educativo. Pode-se afirmar que os sujeitos devem ser tratados de acordo com suas características individuais, a fim de que todos possam ter condições de aprendizagens favoráveis a se constituírem cidadãos conscientes e autônomos, portanto o educando deve ser ensinado conforme as suas condições de aprendizagem. 19 Vocabulário Equidade: (origem no latim aequitas), igualdade, simetria, retidão, imparcialidade, conformidade. O Inciso I do Parágrafo Único da Resolução CNE/CEB Nº 1, de 05 de julho de 2000, que estabelece as DCNs para EJA, sublinha que: “quanto à equidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a fim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação” (BRASIL, 2000). Curiosidade A função equalizadora da EJA é sublinhada nas DCNs, sendo o fio condutor, oportunizando condições igualitárias de desenvolvimento aos sujeitos. No entanto, a EJA deve promover novas possibilidades para que os seus alunos vejam o mundo com outros olhos. Como sublinha Paulo Freire: “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” (FREIRE, 1988, p. 80), nessa afirmação o autor intensifica sua inferência a respeito da leitura de mundo, enquanto exorta a nossa reflexão acerca da prática na EJA: A educação leitura do mundo e leitura da palavra se impõe como prática indispensável a essa reinvenção do mundo, a assunção de nós próprios como sujeitos e objetos da história nos torna seres da decisão, da ruptura, da opção. Seres éticos (FREIRE, 2012, p. 66). Sobretudo, faz-se necessário apresentar o mundo vasto de conhecimento e conteúdo diverso para os alunos, que muitas vezes são destituídos do direito à dignidade de vida. É preciso dialogar com intrepidez, propondo momentos com os sujeitos, nos quais possam desenvolver suas comunicações social e política, de aprender, de entender o que é desenvolver o que se aprende, enfim, de apreender a sabedoria de ler o mundo, lendo as palavras. Afinal, Freire nos inspira que “Existir humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo” (FREIRE, 1977 p. 92). 20 Vocabulário Intrepidez: coragem, força inabalável diante de uma situação perigosa, bravura, expressão de destemor, de valentia, ousadia, ação de quem não tem medo, característica de intrépido. O segundo princípio a ser destacado sob a ótica da análise das DCNs para a EJA está posto no Inciso II do Parágrafo Único da legislação supracitada, e que designa: “quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimentode seus conhecimentos e valores” (BRASIL, 2000). Tendo em conta, a necessidade de promover a igualdade de oportunidades no ambiente educacional para a EJA, o aspecto do respeito à diferença corrobora toda a inferência realizada diante do primeiro princípio destacado, pois é preciso um olhar aprofundado para os alunos e compreendê- los em suas essências, para então formular projetos de trabalhos que sejam úteis para o pleno desenvolvimento dessas pessoas. Contudo, destaca-se a alteridade como uma primazia de todo este contexto educacional, diria, que esta pode ser acrescida como também um princípio norteador da prática humana na EJA, tendo o pressuposto de colocar-se no lugar do outro, de entender suas características, respeitar sua cultura, configurando, assim, atos de inclusão de todo e qualquer ser humano no processo educacional, consolidando posturas inclusivas que colaboram para que a prática na EJA seja efetivada. Isso tudo em consonância com as orientações acerca da educação como direito de todos que norteiam as legislações em vigência, e como bem elucida a autora Mantoan (2003): “incluir é estar com”, contudo, para que haja resultados satisfatórios mediante os processos de aprendizagem / desenvolvimento dos educandos da EJA, é primordial andar lado a lado com tais sujeitos, conhecê-los e compreendê- los. 21 Fonte: https://image.freepik.com/fotos-gratis/os-executivos-de-empresas-que-intera gem-uns-com-os-outros_1170-1778.jpg Sublinha-se o terceiro princípio elencado no Inciso III do Parágrafo Único da Resolução CNE/CEB Nº 1, de 05 de julho de 2000: Quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face às necessidades próprias da EJA com espaços e tempos, nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos seus estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica (BRASIL, 2000). Entretanto, faz-se pensar, especificamente, na formação dos sujeitos na EJA, relacionando os conteúdos necessários às suas formações acadêmicas básicas, às reais necessidades de suas vidas em seus mundos de convivência, ou seja, é fundamental organizar uma prática pedagógica que dê respostas aos anseios cotidianos dos alunos e alunas da EJA, sublinhando uma aprendizagem significativa para tais sujeitos, da mesma forma que os ambientes devem ser organizados com o intuito de atender e acolher os educandos concebendo relações inclusivas em todos os aspectos, denotando assim todos os esforços cabíveis para uma ímpar formação humana. Reflita Como deve ser estruturada a prática educativa do docente que se preocupa em promover uma formação humana aos seus estudantes da EJA? 22 Fonte: https://image.freepik.com/fotos-gratis/estudante-maduro-em-sala-de-aula_1391- 555.jpg As funções da EJA, de acordo com as DCNs nessa modalidade, são “reparadora, equalizadora e qualificadora”. A primeira diz respeito não só à reparação pelo direito negado ao sujeito humano, mas tão somente devolver a esse sujeito a dignidade de existir em conformidade com os aspectos educativos vigentes em sua sociedade, ou seja, a educação é inerente ao ser humano, sendo algo natural ao desenvolvimento do ser, obtendo oportunidade de ler o mundo com as ferramentas de leituras, de ter voz e vez por intermédio de sua oralidade fundamentada em conhecimentos consolidados e flexíveis, como também saber escrever sobre suas angústias e sonhos, por exemplo. Em outras palavras, devolve-se ao sujeito uma igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano, ou seja, é natural que se tenha o direito à educação, sendo algo inerente da pessoa humana, algo exigível dentro de todo e qualquer contexto de convivência humana. Afinal de contas, o indivíduo deve ser inserido à sua cultura, para que desenvolva o seu sentimento de pertencimento ao seu grupo de iguais. Algo ontologicamente imprescindível à natureza dos homens e mulheres, jovens e idosos que estão inseridos na EJA. A segunda função da EJA em destaque é a equalizadora, de oportunizar condições igualitárias para os sujeitos, vítimas da desigualdade social, que são inseridos na EJA. Sublinha-se trechos do texto da VI CONFITEA (Conferências Internacionais de Educação de Adultos) realizada no Brasil: [...] A reentrada no sistema educacional dos que tiveram uma interrupção forçada seja pela repetência ou pela evasão, seja pelas desiguais oportunidades de permanência ou outras condições adversas, deve ser saudada como reparação corretiva, ainda que tardia, de estruturas arcaicas [...] (BRASIL, 2000). 23 No entanto, deve-se receber esses estudantes com toda a postura inclusiva, acolhendo-os no processo educativo de maneira individual e coletiva, ao mesmo tempo que as diferenças são respeitadas a coletividade é sublinhada como condição favorável para a configuração de um meio social menos desigual, no qual todos possam cooperar para a propagação do bem comum, e o trecho desse documento é finalizado da seguinte forma: “[...] possibilitando aos indivíduos novas inserções no mundo do trabalho, na vida social, nos espaços da estética e na abertura dos canais de participação” (BRASIL, 2006). Outrossim, a função equalizadora da EJA é entendida como uma oferta de possibilidade maior ao sujeito, frente à sociedade que vive, podendo abrir o seu próprio caminho por intermédio da sua compreensão do mundo, desvencilhando assim os caminhos tortuosos da desigualdade e conquistando seus espaços de participação na sociedade de cunho democrático. E a terceira função da EJA destacada é a qualificadora, sobre a qual o documento supracitado especifica: Mais do que uma função, ela é o próprio sentido da EJA, ela tem como base o caráter incompleto do ser humano, cujo potencial de desenvolvimento e de adequação pode se atualizar em quadros escolares ou não escolares (BRASIL, 2006). Para tanto, a função da EJA é qualificar as pessoas para viverem em seus mundos de convivência com dignidade humana, interagindo em seus ambientes com protagonismo, construindo suas histórias com autonomia, de tal forma que adquirem a aquisição da leitura e escrita na escola, mas vão moldando seus conhecimentos, reelaborando-os no decorrer de suas histórias de vidas, para além dos muros escolares nos espaços formais e não formais, pois como Freire (2003) ensina, o conhecimento é inacabado, pois o ser humano é histórico, repleto de dinamismo, enquanto houver fôlego de vida no planeta haverá sempre novas possibilidades de propagar conhecimentos. Portanto, os seres são, dinâmicos e inacabados, tudo é passível de mudança, existirão sempre novos aspectos para serem vistos, abordados ou investigados. 24 Curiosidade A CONFITEA (Conferência Internacional de Educação de Adultos) é realizada no mundo desde a primeira metade do século XX. Já foi realizada 06 vezes até o momento, sendo que a VI Conferência foi realizada no Brasil, na cidade de Belém, capital do Pará, e terá a periodicidade de 12 anos. Resolução CNE/CEB Nº 1, de 05 de julho de 2000 Artigo 7º “[...] Será considerada idade mínima para a inscrição e realização de exames supletivos de conclusão do ensino fundamental a de 15 anos completos”. Parágrafo único “Fica vedada, em cursos de EJA a matrícula e a assistência de crianças e de adolescentes da faixa etária compreendida na escolaridade universal e obrigatória, ou seja, menores de 15 anos”. Artigo 8º “[...] A idade mínima para a inscrição e realização de exames supletivos de conclusão do ensino médio é a de 18 anos completos”. Matrículas na EJA segundo as DCNs Fonte: elaborado pelo autor (2018), adaptado pelo DI (2020). Segundo as DCEs (Estado do Paraná) os eixos articuladores do trabalho pedagógico com a EJA são: trabalho, cultura e tempo. O trabalho designa-se na ação do homem que transforma o seuespaço, a natureza em volta. O autor Barato (2008) elucida as características do trabalho sob uma ótica axiológica, vislumbrando o valor do trabalho para a história de vida do sujeito, uma realização que dá sentido à vida, logo, o trabalho como eixo estruturante do fazer pedagógico na EJA tem o objetivo de unir a teoria com a prática, de pensar na profissão que o educando já exerce ou irá exercer, fazendo-o refletir sobre o seu papel na sociedade, e não somente fazer a sua tarefa de maneira mecanicista ou sem intencionalidade. Da mesma forma, o professor deve ter consciência e intencionalmente, ao abordar o eixo articulador do trabalho em seus projetos de aula, os educandos devem ser estimulados a compreenderem o trabalho como uma tarefa inerentemente humana, com um valor axiológico, sendo um princípio educativo em todos os seus aspectos de compreensão, o qual segundo o autor Barato (2008) deve ser celebrado sempre, na perspectiva de uma formação humana unilateral, na qual o sujeito em questão seja motivado, 25 estimulando o educando a formar-se integralmente no contexto educativo, intervindo na formulação de um mundo menos injusto, mais igualitário para todos os seus partícipes. Vocabulário Axiológica: é tudo aquilo que se refere a um conceito de valor ou que constitui uma axiologia, isto é, os valores predominantes em uma determinada sociedade. O segundo eixo articulador do trabalho pedagógico na EJA deve ser a cultura, a qual é compreendida como a forma de produção da vida do sujeito em seu mundo de convivência, desde a sua produção mais simplista às mais grandiosas, que envolvem as produções de trabalhos manuais com rendas às mais requisitadas e milionárias obras de artes expostas nos mais belos museus, ou seja, toda a produção humana é fruto cultural de um povo em seu tempo e espaço de existência. Curiosidade Cultura: significa todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade da qual é membro. Também é uma das grandes vertestes, possibilitando aprimorar os conhecimentos sobre a diversidade comum às ambiências humanas. Quando se trabalha a cultura de um país ou mundo com os educandos da EJA, são evidentes seus embaraços e motivações diante das características culturais, um exemplo disso é o trabalho com músicas populares brasileiras (MPB), devido a sua imensa diversidade e com letras de conteúdos históricos, tais ferramentas culturais podem ser abordadas com muita criticidade frente aos sujeitos estudantes, e serem configuradas em excelentes projetos de trabalho didático, pois ao mesmo tempo em que se apresenta algo novo, ou às vezes conhecido pelos educandos, porém, está se propondo outro olhar diante do que 26 já se conhecia. Esses são concebíveis resultados admiráveis, pois se explora uma nova cultura. Por sua vez os discentes inserem-se nessa cultura, ao colocarem suas experiências, por exemplo, quando se indica o ano da composição da música, e muitos deles trazem outras experiências dessa época, dando assim oportunidade singular para um denso, complexo e alinhado processo dialógico, no qual, possivelmente, irão se constituir culturas, que são advindas de ampliações vocabulares com novas, difusas e bonitas leituras de mundo. E por fim, têm-se o tempo como eixo articulador do trabalho com a EJA, tempo esse que deve ser considerado pelo docente no seu aspecto cronológico e pedagógico, primando pelo respeito integral aos educandos e ao currículo organizado mediante o tempo do período letivo, organizando assim da melhor maneira as intervenções a serem realizadas mediante os objetivos de desenvolvimento pleno dos sujeitos matriculados na EJA. E o segundo, o tempo pedagógico, é o respeito que deve ser expressado mediante o tempo de aprendizagem de cada indivíduo, sendo que é necessário observar o sujeito em sua individualidade, e de maneira concomitante respeitar o tempo vivido em sala frente ao coletivo, que necessita também ser atendido em sua especificidade. Sobretudo, é valorizar as singularidades dos sujeitos, mas primando o bem comum de todos os partícipes desse contexto educacional, valorizando seu tempo de vida, de aprendizagem, de convivência, disseminando uma compreensão de mundo e de tempo aos educandos. Parecer CNE/CEB Nº 6 / 2010 ➢ Para os anos iniciais do ensino fundamental, a duração deve ficar a critério dos sistemas de ensino (normalmente são 1200 horas distribuídas em 2 anos). ➢ Para os anos finais do ensino fundamental, a duração mínima deve ser de 1600 horas. ➢ Para o ensino médio, a duração mínima deve ser de 1200 horas. ➢ Para a educação profissional técnica de nível médio integrada com o ensino médio, a duração é de 1200 horas destinadas à educação geral, cumulativamente com a carga horária mínima para a respectiva habilitação profissional de nível médio. Carga horária para a EJA Fonte: elaborado pelo autor (2018), adaptado pelo DI (2020). 27 Conclusão da aula 2 Nesta aula elencamos conhecimentos relevantes acerca das DCNs para a EJA, sublinhando os princípios: equidade, diferença e proporcionalidade. De igual modo, foram elencadas as funções da EJA: reparadora, equalizadora e qualificadora. Buscou-se refletir sobre as diretrizes para o trabalho com a EJA mediando-as com exemplos de vivências frente aos sujeitos aprendizes, os quais estão inseridos nessa modalidade e precisam ser acolhidos com uma prática pedagógica que tenha como primazia a formação humana de maneira unilateral. Atividade de aprendizagem Elabore um texto a respeito dos princípios e funções da EJA contidos nas DCNs, argumentando com suas palavras como tais diretrizes educativas podem ser asseguradas aos estudantes da EJA no contexto escolar. Aula 3 – Alfabetização de jovens e adultos: fundamentos teóricos e metodológicos Apresentação da aula 3 Olá, estudante! Nesta aula discutiremos o processo de alfabetização para a EJA, relacionando as posturas práticas e necessárias frente a um atendimento humanista para os estudantes, em consonância com a intenção de alfabetizá-los de maneira eficaz, mediante a análise dos fundamentos teórico-metodológicos constituídos no decorrer do histórico deste país, buscando atender seus anseios diante da apreensão da leitura e escrita, a fim de que possam viver em sociedade com maior dignidade. 28 3.1 Alfabetização de jovens e adultos: fundamentos teórico-metodológicos O processo de alfabetização é, primeiramente, uma construção de relação entre os sujeitos aprendizes, que devem aconchegar-se mediante o diálogo ético. Para tanto, os educadores da EJA necessitam ter muita sensibilidade e conhecimento, para compreenderem as reais necessidades dos seus educandos, aproximando-se do intuito de desenvolver os seus trabalhos com intencionalidade, obtendo maior possibilidade de alcançar resultados satisfatórios, os quais proporcionem o pleno desenvolvimento da pessoa humana em questão. Um exemplo: empatia, se questionar por que, quais os objetivos de estarem e/ou retornarem à escola. Ao tentar entender seus alunos a respeito dos seus sonhos como seres humanos, auxilia-se a estimulá-los a formularem os seus sonhos, pois muitos deles retornam ao âmbito escolar tão desiludidos com suas histórias de vidas que já não possuem mais a habilidade de sonhar, porém, precisam encontrar motivações para estudarem e continuarem seus estudos em prol dos seus desenvolvimentos como cidadãos dentro dos contextos de suas relações como indivíduos humanos, assim sendo, a atitude dialógica dos educadores faz-se fundamental diante de toda essa construção do acolhimento de tais estudantes em seus ambientes educacionais.Importante A atitude dialógica é sublinhada como algo fundamental em todo o discorrer do trabalho com a EJA, pois é imprescindível fazer com que o sujeito aprendiz sinta- se parte do processo educacional, tendo voz e vez dentro do âmbito escolar, construindo sua identidade educativa, compreendendo a importância dos conhecimentos adquiridos, a fim de aplicá-los para além dos muros escolares. Assim, Freire (2012) infere que: “os educadores verdadeiramente democráticos não estão, são dialógicos” (FREIRE, 2012, p. 132). Sobretudo, o trabalho na EJA deve ser essencialmente democrático, permeado de atitudes dialógicas, educando os sujeitos a exercitarem seus direitos de cidadãos em seus ambientes de vivência social. É importante questionar os estudantes também sobre seus objetivos a curto e longo prazo, indagando a respeito do(s) motivo(s) que os trouxeram à 29 escola, por exemplo, uns vão dizer que é a necessidade de um melhor trabalho, outros mais idosos podem dizer que precisam ler a bula do remédio, ler o letreiro do ônibus, ajudar os netos a fazerem a lição de casa, ler as mensagens e usar melhor o celular, entre outros. Sobretudo, todos necessitam elencar seus reais objetivos de estarem na EJA, para que possam traçar suas metas e encorajar-se diante dos desafios de prosseguirem suas caminhadas com entusiasmo, e de igual modo o professor precisa ter conhecimento de tais objetivos e/ou sonhos para então traçar seus métodos de ensino, pois sabe-se da relevância em elaborar o processo de aprendizagem em conformidade com os interesses dos educandos, buscando configurar momentos de aprendizagens que sejam significativos ao sujeito educativo, instigando sempre o diálogo reflexivo e as interações que ajudam a constituir as leituras das palavras e, concomitantemente, as leituras de mundo, as quais precisam ser apreendidas pelos sujeitos rumo à construção de uma identidade cidadã cada vez mais protagonista, quiçá autônoma em seus contextos de vivência. Após as discussões propostas em nossa aula, leia o material escrito atentamente e estruture um texto argumentativo de até 15 linhas sobre a organização do trabalho pedagógico na EJA. Fonte: acervo do autor (2017). Essas primeiras reflexões acerca do acolhimento dos sujeitos no processo de alfabetização, mediado pela atitude de escuta do docente, diz respeito à necessidade de conhecer os estudantes, tendo o intuito de elaborar um projeto 30 de trabalho claro, conciso e condições reais para que haja um aprendizado eficaz. De acordo com Gonçalves (2009), o processo histórico de alfabetização no Brasil se consolidou a partir do método sintético, que se caracteriza pela decodificação das letras, para em seguida, a construção de palavras, e progressivamente para a constituição de frases simples, frases complexas com palavras de maiores dificuldades ortográficas, para então avançar para a leitura de pequenos textos, textos maiores e assim os sujeitos aprendizes vão constituindo seus processos de leitura e escrita. Em se tratando de uma concepção libertadora de educação na EJA, as relações dialógicas alfabetizadoras constituem de sujeitos autônomos. Gonçalves (2009) continua instigando a reflexão sobre o processo histórico do ensino da alfabetização e sublinha o final do século XIX com um momento de grande discussão a respeito do método de ensino da alfabetização, intensificando assim as discussões frente à utilização do método analítico, que consiste em analisar a palavra-chave de determinado assunto em destaque, por exemplo, explicar o significado da palavra “janela” e posteriormente a decomposição em sílabas e depois em letras. Para a autora, essa proposta não significou uma mudança significativa para a alfabetização, pois não se relacionava o processo da aquisição da leitura e escrita com o mundo exterior, ou seja, limitava-se a demonstrar, no caso para as crianças, a utilização da leitura e escrita no âmbito escolar, delimitando o espaço de utilização das habilidades desenvolvidas da leitura e escrita da língua portuguesa. Essa concepção ou prática educativa propagou-se para o atendimento da EJA e perpetuou-se por muito tempo, lembrando que o número extenso de analfabetos no Brasil é algo real desde os primórdios dessa nação. No entanto, com a aplicação do método analítico para a prática de alfabetização na EJA, desconsideram-se as características do contexto sociocultural e político da vida dos indivíduos, ficando assim exíguas as possibilidades da pessoa se desenvolver plenamente, conquistando melhores condições de atuar em seus mundos de convivência com protagonismo. 31 Vocabulário Exígua: pequena, minúscula, humilde, parca, diminuta, escassa, minguada, módica. Contudo, após os estudos de Paulo Freire (década de 1960), propagam- se as ideias de alfabetizar os educandos mediante suas vivências socioculturais, ou seja, o currículo para a EJA deve ser organizado de acordo com as realidades dos estudantes, primando assim por uma prática libertadora de educação, em que estudantes e professores sejam sujeitos participativos da construção dos saberes, refletindo sobre a realidade que estão inseridos, para então construir conhecimentos reflexivos e úteis à transformação dessa realidade. Para Gonçalves (2009), a concepção de Freire é, genuinamente, pautada na relevância da educação popular e libertadora, na qual os sujeitos devem refletir sobre suas realidades e aprender a ler seus mundos mediante a utilização de palavras que lhes são comuns, compreendendo assim politicamente e criticamente os seus ambientes de convivência, a partir da postura mediadora do professor, que intencionalmente conduz suas práticas pedagógicas por intermédio do diálogo libertador, dando sempre oportunidades aos sujeitos de expressarem e constituírem suas opiniões sobre as realidades que estão inseridos, e singularmente o ato educacional constitui-se em um ato político emancipador, no qual os sujeitos vão lapidando suas maneiras de ver e perceber o mundo. De acordo com as leituras de Freire (1977), especificamente em sua obra: “Pedagogia do Oprimido”, ponto central de sua contribuição para a EJA, como também para grandes reflexões sobre a educação no Brasil e no mundo, é destacada a metodologia de um fazer educacional libertador, que se dá pela intervenção dialógica dos sujeitos, sendo que os tais são professores e educandos, que em conjunto constituem os processos de aprendizagens, os quais se dão no cotidiano educacional, tendo a realidade vivenciada como campo fértil para as constituições dos saberes, em contrapartida o autor constrói sua crítica a respeito da educação “bancária”, que consiste no depósito de conhecimentos do professor frente aos seus alunos e alunas, acreditando ser 32 àquele o detentor absoluto do saber, e estes e estas são considerados como receptores submissos. Assim sendo, não é possível conceber saberes que sejam importantes para a vivência democrática em sociedade. Freire (1977) propõe o método da alfabetização pela utilização da palavra geradora, no caso do ensino ao grupo de trabalhadores, que exerciam a profissão de pedreiro, iniciou-se o processo de aprendizagem com a palavra “tijolo”, e a partir de então, pôde-se consolidar discussões referentes à realidade de tais pessoas, construindo e reconstruindo palavras com as sílabas da palavra geradora, ao mesmo tempo que são discutidos temas a respeito da profissão, das realidades dos pedreiros na região onde vivem os educandos, como também no país. Dessa forma, sucessivamente, os assuntos vão dirigindo novas discussões, que podem dar condições para a efetivação de construções textuais e leituras diversas, as quais vão compilando novas, e longas maneiras de apreender os conhecimentos propostos por uma prática mediadora, dialógica e evidentementelibertadora. Gonçalves (2009) colabora com esta discussão: “a concepção de alfabetização contemporânea não deve-se limitar em apenas reproduzir métodos e técnicas, mas também a construir sentidos para ensinar e aprender” (GONÇALVES, 2009, p. 21). A dialogicidade é primordial na constituição das relações alfabetizadoras, devendo promover a construção cotidiana de saberes, por meio do diálogo, ou seja, a participação de todos os sujeitos educacionais, docentes e educandos, os quais precisam respeitar os conhecimentos dos seus semelhantes diante de suas constituições progressivas. No caso da alfabetização, a relevância da compreensão da leitura e escrita. Gonçalves (2009) complementa: “[...] é necessário saber como se realizam a leitura e a escrita nas práticas sociais” (GONÇALVES, 2009, p. 21). Portanto, é imprescindível conduzir os processos alfabetizadores por meio da contextualização de todos os conteúdos, conceitos, construções textuais e de palavras com as práticas sociais, ou seja, que a realidade de mundo, ou os aspetos de convivência dos sujeitos com seus meios sociais estejam presentes nos processos de aprendizagem, tendo o intuito de alfabetizar o sujeito. Em uma realidade nacional corrupta, em que mais de 11 milhões de brasileiros segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ainda não estão alfabetizados, são necessárias discussões sobre o processo 33 pedagógico, o qual deve proporcionar momentos extremamente dialógicos em suas ambiências educativas, visando que os seus estudantes possam frequentar os âmbitos educativos com entusiasmo, e que o processo alfabetizador se dê com eficácia, fazendo com que os estudantes desvencilhem os dados tortuosos do analfabetismo postos no Brasil. Curiosidade A respeito do processo e método de alfabetização, pode-se dizer que deve acontecer mediante a uma constante atitude dialógica por parte dos sujeitos educacionais. Fonte: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/images/agenciadenoticias/estatisticas_ sociais/2018_05/AnalfMapa-Brasil.jpg Até no momento do processo de aprendizagem, é relevante destacar o analfabetismo funcional, que é um fato que persiste no Brasil, que também é algo a ser vencido, pois pessoas que frequentaram as escolas não conseguem interpretar textos simples, ou seja, leem, mas não conseguem interpretar, dessa maneira é importante que o processo de alfabetização seja ministrado por meio de práticas dialógicas, as quais precisam instigar a ação-reflexão-ação. Tal prática é estimulada e inspirada nas leituras de Paulo Freire, consolidando assim a concepção da práxis educacional que viabiliza a constituição de uma educação transformadora de vidas. 34 Saiba mais São chamados de analfabetos funcionais os indivíduos que, embora saibam reconhecer letras e números, são incapazes de compreender textos simples, bem como realizar operações matemáticas mais elaboradas. Para mais informação, leia na íntegra acessando o link: https://brasilescola.uol.com.br/ gramatica/analfabetismo-funcional.htm Desse modo, é imprescindível abordar a constituição de um processo alfabetizador que prima pelo letramento, sendo que este pode ser definido como a concepção de uma alfabetização pela leitura das palavras e seus significados frente suas funções sociais. De acordo com Soares (1999), letramento é o estado em que um grupo social ou indivíduo atinge mediante a aquisição da leitura e escrita da sua língua, assim sendo, o ato de alfabetizar acontece por intermédio da utilização de textos significativos para os alfabetizandos. Importante Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE (2017), a taxa de analfabetismo de pessoas com 15 anos ou mais foi estimada em 7,0% (11,5 milhões de analfabetos) no Brasil. Sobretudo, as práticas dos professores em sala de aula devem ser permeadas de significados, demonstrando conceitos aos estudantes, por intermédio de textos que colaborem para os seus processos de conhecimentos, sobre determinado assunto, e a partir das discussões e das demonstrações das palavras e das suas funções em um texto informativo, por exemplo, ensinar o alfabeto, a junção dessas letras em sílabas e dessas sílabas em palavras, dando então o significado e a relevância do porquê deve-se aprender as letras, ou seja, é a princípio lendo o “mundo”, lendo a palavra, compreendendo sua função para compreender melhor e se comunicar com os seus semelhantes que os educandos podem fornecer sentido aos seus processos de alfabetização, dinamizando meios para integrar o saber da leitura e escrita à sua vida. Para fundamentar esses ideários sobre a prática de alfabetização na EJA, utiliza-se das reflexões de Barreto (1998), que sublinha a proposição do “texto 35 como um pensamento ligado ao contexto social e histórico como objeto da curiosidade e do conhecimento do alfabetizando [...]” (BARRETO, 1998, p. 68). Sendo assim, a prática do letramento é concebível nessa perspectiva de utilização dos textos, das realidades intrínsecas nos ambientes de vivência dos sujeitos, objetivando a estruturação de aprendizagens significativas aos estudantes. Reflita O que são aprendizagens significativas para a vida dos sujeitos da EJA? E como tais aprendizagens podem interferir na construção da cidadania de tais estudantes? Para Romão (2002), todos os seres humanos são capazes de aprender, sendo assim a relação alfabetizador/alfabetizando é uma constante de aprendizagem, em que existem novas possibilidades de aprender, sendo assim, tudo pode ser modificado, então há chances de se aperfeiçoar o que foi apreendido, novas leituras de mundo podem ser feitas, para que inovadoras maneiras de ler o mundo possam ser conquistadas pelos sujeitos aprendizes. Outro ponto relevante desse estudo é considerar que professores e educandos são sujeitos no processo educacional, estão agindo sempre frente ao objeto do ensino e aprendizagem, e como seres humanos são dotados de condições para mudança, como bem estimula Freire (2012). Ninguém está acabado, ou melhor dizendo, não existe conhecimento pronto ou definitivamente acabado, pois tudo é passível de modificações no mundo humano. Gonçalves (2009) ressalta que o trabalho da alfabetização na EJA deve ser pautado na construção da leitura e escrita mediante “as relações sociais, culturais, políticas, econômicas e linguísticas do grupo social em que o alfabetizando está inserido” (GONÇALVES, 2009, p. 23). Sendo assim, o autor colabora, veementemente, com as inferências sublinhadas ao longo dessa reflexão acerca do trabalho alfabetizador mediante a prática do letramento e enfatizando a interação entre os eixos da linguagem: oralidade, leitura e escrita. 36 Conclusão da aula 3 Ao final deste encontro, objetiva-se que a apreensão acerca da alfabetização na EJA tenha se dado sob a ótica de uma educação pautada na liberdade dos sujeitos, os quais devem interagir com os seus semelhantes com inteireza, a fim de que as práticas dialógicas em sala de aula reflitam na compreensão do mundo, lendo-o com entusiasmo por meio da mediação intencional do professor, que incansavelmente propõe práticas de letramento em sua sala de aula, estimulando os educandos a aprenderem ver e compreender seu mundo com outros olhos, desenvolvendo assim a conscientização necessária de cidadãos autônomos, protagonistas de suas histórias. Atividade de aprendizagem Discorra, com suas palavras, organizando um texto argumentativo a respeito da alfabetização na EJA em uma perspectiva do letramento, utilizando-se dos referenciais teóricos sublinhados no decorrer da nossa aula. Aula 4 – Os sujeitos da educação a distância e a organização do trabalho com jovens e adultos Apresentação da aula 4 Nesta aula, serão abordados aspectos da Educaçãoa Distância (EAD) como instrumento para a EJA, como também será feita uma reflexão acerca da organização do trabalho pedagógico para a educação de jovens e adultos, quer seja na modalidade EAD como no atendimento presencial dos educandos, fazendo uma ponte com todos os conhecimentos já abordados anteriormente, provocando em você, estudante, novas e resumidas reflexões que possam estimular sua criticidade e curiosidade em buscar mais saberes, os quais sejam relevantes para sua formulação acadêmica e profissional. 37 4.1 A educação a distância (EAD) como instrumento para a EJA No ano de 1971, a Lei 5692/71 sublinha o ensino por correspondência (Mobral). Conforme a Resolução CNE / CBE nº 01, de 05 de julho de 2000, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), no seu artigo 10, já elucida a educação a distância (EAD) como possibilidade para a oferta da EJA. Nesse artigo também está explícita a forma de oferta semipresencial. Curiosidade As DCNs versam a respeito das orientações do trabalho com a EJA. Em seu parágrafo único está explícito que deve haver uma preocupação em atender os perfis dos estudantes e que cada contexto educativo deverá organizar o seu modelo pedagógico próprio, sendo mister organizar o trabalho pedagógico de acordo com a singularidade de público. O artigo 80 da Lei de Diretrizes da Educação Nacional (LDB – 9394/96) versa a respeito da EAD, trazendo orientações a respeito dessa modalidade educacional tão relevante para ser utilizada como mais uma ferramenta educativa em um país tão imenso como o Brasil, e que ainda no terceiro milênio vive a angústia de ter tantas pessoas analfabetas. Sem dúvida a EAD é uma ferramenta importante nesta conjectura democrática da educação, à medida que proporciona mais oportunidades de ofertas a pessoas que vivem longe das escolas. Sublinha-se o texto do artigo 80 da LDB: “o Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada” (BRASIL, 1996). E mais recentemente, nesta suposição de legislações da EAD, destaca- se o Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017, que regulamenta o artigo 80 da LDB – 9394/96, o qual traz em seu artigo primeiro: Art. 1º Para fins deste Decreto, considera-se educação a distância a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por 38 estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos (BRASIL, 2017). Na continuação de análise e leitura do Decreto nº 9.057, destaca-se o artigo 8º (oitavo) e seu inciso IV, que destaca a educação de jovens e adultos (EJA) como uma das modalidades que podem ser ofertadas em EAD. A LDB já trazia em seu artigo 32 e parágrafo quarto a EAD como uma possibilidade para a oferta do ensino fundamental: “o ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais” (BRASIL, 1996). Por sua vez, o Decreto nº 9.057 traz em seu artigo 9º (nono) a oferta do ensino fundamental na modalidade a distância em situações emergenciais, previstas no artigo 32 da LDB, que se refere a pessoas que: Art. 9º: I: estejam impedidas por motivo de saúde, de acompanhar o ensino presencial; II: se encontrem no exterior, por qualquer motivo; III: vivam em localidades que não possuam rede regular de atendimento escolar presencial; IV: sejam transferidas compulsoriamente para regiões de difícil acesso, incluídas as missões localizadas em regiões de fronteira; ou V: estejam em situação de privação de liberdade (BRASIL, 2017). Portanto, a oferta em EAD da EJA é orientada para essas situações emergenciais, de tais pessoas, cidadãs do território brasileiro, que segundo a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205, o direito a educação é para todos. Sem sombra de dúvida, a EAD é mais um instrumento notório na configuração de um Estado mais democrático, em que todos sem restrição tenham o direito de se alfabetizarem e concluírem seus estudos básicos. Sendo assim, a educação básica também pode ser ofertada na EAD, porém, de acordo com as situações emergenciais supracitadas, as quais estão elencadas nas legislações vigentes. Exercer a prática educacional na EJA, como está nos textos de Freire (2012), é a prova de que se gosta das pessoas, expressando isso, fazendo então da educação uma ferramenta primordial para a efetivação de relações humanas suscetíveis à formulação de mundo melhor. Refletindo em meio às palavras de Paulo Freire, é possível dessa maneira conceber o mundo em um lugar mais fácil de viver. 39 Saiba mais Leia na íntegra o texto da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados com o título: Oferta educacional em prisões e a modalidade de educação a distância. Disponível no link: http://www2.camara.leg.br/a-camara/documentos-e-pesqui sa/estudos-e-notas-tecnicas/areas-da-conle/tema11/2016_18422-oferta-de-edu cacao-em-prisoes Mídias Assista a um vídeo sobre o trabalho educacional nas prisões, sublinhando a EJA neste contexto. Título do vídeo: Educação para a cidadania no cárcere. Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=9lj2CsFWZnY 4.2 A organização do trabalho com a EJA A organização do trabalho com a EJA deve partir sempre da premissa de que os sujeitos precisam ser acolhidos, pois tanto já sofreram em outros tempos por deixar a escola, e os motivos são inúmeros e complexos. Quando existe esse retorno ao ambiente escolar, os docentes devem estar preparados com uma postura humana acolhedora, a fim de que exista toda uma esfera de ambiente harmônico para receber, acolher e estabelecer vínculos com os educandos, buscando maneiras para que se produzam aprendizagens significativas aos seus plenos desenvolvimentos enquanto sujeitos humanos, de forma que possam atuar em seus ambientes de vivência com maestria, interferindo em suas evoluções como sujeitos cidadãos, e consequentemente, atuem na coletividade dos seus meios de convivência, contribuindo para a propagação do bem comum. É relevante pensar que a organização do trabalho com a EJA implica refletir sobre o currículo, a didática, o espaço físico, e o mais importante, a postura em lidar com as relações humanas instauradas nos âmbitos educacionais, as quais devem promover harmonia e condições para que o aprendizado aconteça de forma favorável ao desenvolvimento significativo para a vida de todas as pessoas envolvidas nos processos de ensino e aprendizagem. Neste interim de reflexão, cita-se Barcelos (2012), que ressalta a necessidade de colocar as emoções para organizar as práticas educativas, 40 levando sempre em consideração as singularidades dos sujeitos envolvidos nos processos educacionais. É importante permear o fazer pedagógico de uma flexibilidade e bom senso, ou seja, refletir sempre diante dos conteúdos postos, para encontrar os meios mais corretos de interferir nos processos de desenvolvimento das pessoas, fazendo com que estas tenham prazer em aprender, e sintam-se motivadas em frequentar a escola, lembrando que a maioria dos cursos ofertados para a EJA são noturnos, e os estudantes vêm para a escola depois de longos dias de atividades em seus mais diversos e difusos trabalhos. Para tanto, o professor deve conhecer o seu público, sob quaisquer circunstâncias esse é o primeiro passo para a efetivação de um trabalho singular, o qual tenha maior possibilidade de obter resultados satisfatórios frente à urgência de uma formação humana integral.Após a reflexão e observação mediante a prática com a EJA para então elaborar um eficiente planejamento, é necessário que o professor esteja sempre atento a explorar sua criatividade, tendo curiosidade para pesquisar assuntos que sejam do interesse dos educandos, fazendo dos seus momentos de planejamento verdadeiros laboratórios do saber, em que todos os partícipes educacionais tenham condições de falarem, dando suas opiniões, elaborando seus saberes e reelaborando conhecimentos que sejam úteis aos seus mundos de vivência, para, enfim, atuarem em seus âmbitos de convivência humana com mais autonomia. É imprescindível sublinhar que a prática do diálogo nas salas de aula deve ser regada por atos de pesquisa, curiosidade, criticidade e humildade do professor, o qual deve atuar como mediador da constituição do conhecimento, encorajando os seus educandos a saber mais, a buscarem mais e mais informações, a fim de que possam ser constituídos conhecimentos úteis e preciosos para os seus desenvolvimentos de vida, afinal, o professor precisa ter competência técnica e teórica para ministrar a arte do ensino. Os sujeitos estudantis precisam acreditar em seus potenciais, precisam vencer o cansaço, o desânimo, a falta de saúde, entre tantas outras situações que fazem parte do cotidiano do público da EJA. Para tanto, é fundamental que o docente tenha sensibilidade de notar essas características singulares em seus educandos e tenha flexibilidade para atuar em conformidade com as reais necessidades do seu público, trabalhando em prol da concepção de um 41 ambiente escolar que seja favorável à constituição de aprendizagens significativas. Para isso, por exemplo, pode escolher livros e/ou textos para fazer a leitura na sala de aula, primando por textos ou histórias que estimulem o desenvolvimento da autoestima, principalmente buscando sempre motivar os alunos e alunas da EJA a prosseguirem suas caminhadas. Assim, o professor contribui para vencer o problema da evasão também, além de enriquecer sua prática com posturas humanizadas frente à convivência com os seus sujeitos educativos. Fonte: acervo do autor (2017). As práticas diferenciadas na EJA devem vir seguidas por debates, diálogos e proposições de atividades escritas, para então concluir a sequência didática ou projeto com uma atividade mais lúdica. Por exemplo, ao realizar com a turma da EJA uma sequência didática sobre a construção da escrita, elencando fatos históricos desde o povo egípcio, vários trabalhos serão realizados durante uma sequência de planejamento que pode durar 1 mês, então, para finalizar o trabalho, pode-se fazer exposição na escola das atividades dos educandos da EJA, por meio de desenhos na argila com cola colorida (conforme a imagem acima demonstra). Nesse processo, enquanto alguns desenham nas argilas, outros terminam a construção das suas escritas nos cadernos, mas todos participam da construção da atividade, expondo seus trabalhos. ➢ O Professor precisa estar aberto ao educando e sua realidade, necessita eleger prioridades, exercer a criatividade constantemente e ser flexível para as possíveis modificações em seu instrumento de planejamento, sempre que se fizer necessário. ➢ O Professor precisa planejar mediante as características e aprendizagens de seus educandos, tendo ciência sobre os objetivos do projeto pedagógico da escola, do 42 conteúdo para a etapa da EJA, condicionando esses conhecimentos às suas reais condições de trabalho. ➢ O Professor precisa estabelecer o que vai ensinar, como vai ensinar e como se dará o seu processo de avaliação. ➢ Para o professor, o planejamento deve orientar todo o desenvolvimento do seu trabalho, acerca dos conteúdos, dos recursos didáticos e dos procedimentos de avaliação, sendo que todos os saberes que constituem o planejamento devem convergir para a efetivação de um processo de aprendizagem significativo pelos seus educandos. ➢ O ato de planejar possibilita maior segurança ao professor para ministrar sua aula com autonomia, levando os seus educandos a melhores patamares de aprendizagens significativas, pois um bom planejamento está permeado de muita pesquisa, e esta por sua vez enriquece o fazer pedagógico. Inferências a respeito do planejamento para a EJA Fonte: elaborado pelo autor (2018), adaptado pelo DI (2020). O planejamento deve ser intencionalmente produzido, buscando o conhecimento emancipatório nas vidas dos seus estudantes. De acordo com Padilha (2001), o planejamento é um ato político, no qual o professor deve deixar todo o seu teor de objetividade em tal instrumento, visando uma atuação objetiva, clara e mediadora diante dos seus educandos, pois estes devem ser estimulados a se desenvolverem da melhor maneira possível, objetivando a apropriação de aprendizagens significativas. Quando se trata de pensar na conjectura da alfabetização para a EJA, é necessário abordar muitos fatos do cotidiano. As palavras geradoras em sala de aula devem ter significados para os estudantes, por exemplo, ao trabalhar a sequência sobre a importância da escrita, a turma da EJA elencou a palavra “caderno” como a palavra-chave da discussão daquela aula específica, assim, no quadro de giz essa palavra foi fragmentada nas suas sílabas, e dessas nasceram outras palavras. Essa atividade é denominada de “banco de palavras”, dessa forma os educandos fazem o registro em seus cadernos, ao mesmo tempo que ocorre a discussão sobre o significado de cada uma das palavras destacadas, como também a exploração dos sons das sílabas e letras, que ajudam na aquisição da consciência fonológica frente à leitura pausada e crítica. Essa é uma descrição de metodologia que pode ser estendida à criação de frases, de textos, de números, de situações problemas na matemática, entre outros. Lembrando que o fato mais importante na apreensão desse exemplo é a proposição do trabalho coletivo, dialogando plenamente, com os sujeitos, a fim 43 de que estes participem com autonomia dos seus processos de ensino e aprendizagem. Curiosidade O planejamento na EJA é parte intrínseca para efetivação de processos educacionais com resultados favoráveis, para a formulação de sujeitos capazes de atuarem em seus meios sociais com brilhantismo. Para isso, é preciso observação, registro e avaliação. Ferramentas metodológica do professor Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcRBwL7yYo39 FuGE_KjXpaXZXnzao0E6PLwAFA&usqp=CAU Sobretudo, o professor deve exercer a sua didática cotidiana com a preocupação de convergir os seus esforços com planejamento à sua prática, frente aos seus educandos, fazendo com que aconteça a concretização de uma prática educativa: ação-reflexão-ação. Por intermédio da estruturação didática que zele pelo bem-estar dos seus educandos no que diz respeito a proporcionar a aprendizagem, ou seja, com muita atenção no decorrer de todo o processo, sendo sensível para perceber os momentos de avançar e retroceder, fazendo os registros necessários para que os seus atos sejam avaliados constantemente, a fim de que todo o processo de ensino e aprendizagem esteja passível de melhorias ou mudanças. Por fim, que essa avaliação de si mesmo, do processo e dos seus educandos, se dê continuamente, utilizando-se de instrumentos avaliativos que sejam coerentes às características de seus estudantes, e que tais instrumentos sejam coerentes com toda a prática aplicada, a fim de que toda 44 a organização da prática educativa alcance sempre o seu real objetivo: a concretização de uma aprendizagem significativa por parte dos educandos. Planejamento da EJA Sugestões de temas para sequências didáticas e/ ou projetos que podem ser desenvolvidos com turmas da EJA “Cidadania: Ser e estar sendo cidadão” (Tema inspirado em Paulo Freire). “A importância de estudar” (Tema
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