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O PROLETARIADO DE SERVIÇOS, AS PLATAFORMAS DIGITAIS, A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E O CIBERPROLETARIADO O conceito de proletariado foi desenvolvido por Marx e Engels, em razão do estudo da sociedade capitalista europeia do século XIX. Com efeito, os autores identificaram um grupo de trabalhadores que se encontravam nas piores condições de trabalho, desprovidos de qualquer perspectiva, restando-lhes a venda da sua força de trabalho como meio para garantir a sua subsistência – o proletariado. Se é bem verdade que o século XX assistiu, durante certo período, a melhoria das condições operárias, sobretudo nos países centrais, é certo que as crises econômicas de 1973 e de 2008 têm impulsionado a acentuação da exploração do trabalho. É nesse contexto que se insere a obra “Privilégio da Servidão – o novo proletariado de serviços na era digital”, do professor Ricardo Antunes. Em essência, o autor sustenta que aquele cenário no qual havia um grupo de trabalhadores desprovidos de tudo (proletários do século XIX), não estaria superado, pois foi novamente gestado pelo modelo econômico neoliberal. A distinção essencial é que a situação precarizada, agora, alcança o setor de serviços – proletariado de serviços: “inúmeras pesquisas recentes vêm problematizando de forma aguda tais assertivas, demonstrando que o infoproletariado (ou cibertariado), ao contrário do desenho acima esboçado, parece exprimir muito mais uma nova condição de assalariamento no setor de serviços, um novo segmento do proletariado da indústria de serviços, sujeito à exploração do seu trabalho, desprovido do controle e da gestão do seu labor e que vem crescendo de maneira exponencial, desde que o capitalismo fez deslanchar a chamada era das mutações tecnológico-informacionais-digitais.” · Importante para sua prova: a categoria central nas reflexões desse autor para delinear esse proletário do setor de serviços é a atividade dos trabalhadores terceirizados em telemarketing / call center. O professor Ruy Braga também apresenta informações relevantes que nos ajudam a compreender esse trabalhador, denominado por ele como “precariado”. “Em linhas gerais, foram essas as forças sociais que moldaram o contexto social em que o telemarketing originou-se no Brasil. Trata-se de uma indústria apoiada em um jovem precariado pós-fordista e localizada na confluência entre a terceirização empresarial, a privatização neoliberal e a financeirização do trabalho. No Brasil, esse setor formou-se apenas muito recentemente: na realidade, 96% das centrais de teleatividades brasileiras foram criadas após 1990, e 76% a partir de 1998, ano de privatização do sistema Telebrás e auge do neoliberalismo no país. Em segundo lugar, entre 1998 e 2002, o número de ocupados no setor cresceu a uma taxa anual de 15% e dados do Ministério do Trabalho indicam que durante o governo Lula essa taxa aumentou para 20% ao ano, acumulando uma variação de 182,3% entre 2003 e 2009. Aliás, vale destacar que, entre novembro de 2008 e fevereiro de 2009, durante o momento mais agudo da crise econômica mundial, portanto, e apesar de o país ter perdido cerca de 2,3% dos empregos formais – algo em torno de 750 mil trabalhadores, concentrados sobretudo no setor secundário –, a indústria de call center continuou contratando, ainda que em um ritmo menor. Nascido do processo de desconstrução neoliberal do antigo sistema de solidariedade fordista, experimentando o aumento da concorrência e da fragmentação vivido pelos novos grupos de trabalhadores, o número de teleoperadores no país cresceu em um ritmo acelerado durante os dois mandatos de Lula da Silva. Resultado do amadurecimento de um novo regime de acumulação pós-fordista no país, os call centers brasileiros espalharam-se pelo Nordeste, nutrindo-se de um vasto contingente de trabalhadores jovens, especialmente mulheres e negros, em busca de uma primeira oportunidade no mercado formal de trabalho. Com a diminuição da desigualdade de renda entre as regiões Nordeste e Sudeste, além da queda do número dos que não chegam ao ensino médio no país, muitos jovens que há algumas décadas migrariam para o Sul em busca de melhores salários e qualificações profissionais preferem permanecer nas regiões de origem, aventurando-se no setor de telemarketing. Integrando essa realidade, a indústria de call center mostrou-se um terreno privilegiado para a observação das atuais transformações do precariado brasileiro. Daí nosso interesse em acompanhar a trajetória dos teleoperadores, destacando cinco variáveis-chave: modelo de organização do trabalho, padrão de proletarização, nível de qualificação, relação salarial e formas de mobilização coletiva.” Braga, Ruy. A política do precariado: Do populismo à hegemonia lulista (Coleção Mundo do Trabalho). Esse fenômeno tem, atualmente, uma face ainda mais intensa de proletarização ou precarização do trabalhador, quando consideramos o trabalho plataformizado. Embora a palavra essencial aqui seja Uberização (relativa a Uber, empresa criada após a crise econômica de 2008), é fundamental compreender que essa forma de trabalho se estende a muitas outras empresas e atividades. Em síntese, a plataforma digital é uma rede estruturada, hierarquizada, que relaciona controlador e usuários. Muitas delas possibilitam a pessoas que ofereçam seus serviços a outros usuários. Contudo, isso se dá nos termos estabelecidos pelos controladores das plataformas, que extraem lucro do trabalho prestado por um grupo de seus usuários (motoristas, trabalhadores domésticos, advogados, encanadores, entregadores etc.). Observação: os entregadores de refeição são considerados como o segmento mais precário dentre os proletários digitais (motoboys e ciclistas). Esses trabalhadores que se ativam por longas jornadas (muito superiores ao parâmetro celetista de 8 horas diárias), sem proteção trabalhista e previdenciárias, correndo todos os riscos da atividade (sejam os custos, sejam os riscos à saúde) são os ciberproletariados. RESUMO Proletariado de serviços: Grupo de trabalhadores que estão nas piores formas de inserção do mercado de trabalho no setor de serviços (categoria típica – call center). Ciberproletariados: Prestadores de serviço por intermédio de plataformas digitais. A NECESSIDADE DE NOVAS COMPETÊNCIAS, QUALIFICAÇÕES E AS FUNÇÕES EM EXTINÇÃO No contexto do modelo de gestão toyotista e dos avanços tecnológicos aplicados ao trabalho, podemos considerar como competência e qualificações exigidas nos tempos atuais: a) habilidades em tecnologia da informação e da computação; b) competências em comunicação; c) flexibilidade; Os trabalhos flexíveis surgem como perspectivas de novas modalidades de vínculos empregatícios em decorrência do desenvolvimento de novas competências motivadas pelos avanços tecnológicos e também da possibilidade de expansão de fronteiras. Isso posto, com a crescente automação e aplicação da inteligência artificial nas atividades econômicas, assiste-se à perspectiva de extinção (ou significativa diminuição) de sua série de profissões, funções e tarefas, por exemplo: a) revisor de texto; b) caixa de supermercado; c) operadores de telemarketing; d) recepcionistas; e) frentistas; f) motoristas. FLEXIBILIZAÇÃO, INFORMALIDADE, TERCEIRIZAÇÃO E PRECARIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO Flexibilização A flexibilização diz respeito a estratégias para redução da intensidade da proteção do direito trabalhista, incorporando técnicas como acordos individuais e acordos com sindicatos para afastar preceitos trabalhistas. Também devemos mencionar a desregulamentação, a qual consiste na supressão da norma trabalhista protetiva. Podemos considerar a Reforma Trabalhista, promovida pela Lei 13.467/2017, como exemplo desses ideários. A reforma ampliou hipóteses nas quais o acordo individual entre o empregador e o empregado pode reduzir direitos (considere a figura do trabalhador hiperssuficiente); as possibilidades de arbitragem; e temas que podem ser flexibilizados por normas coletivas (art. 611-A, da CLT). Informalidade Fenômeno que consisteno desempenho de atividades profissionais à margem da regulamentação trabalhista protetiva. Há diversos formatos possíveis que correspondem à informalidade. A OIT – Organização Internacional do Trabalho caracteriza a economia informal como todas as atividades econômicas realizadas por trabalhadores ou unidades econômicas que não estão cobertas ou suficientemente cobertas – na lei ou na prática – por acordos formais. Para o IBGE, trabalho informal é aquele em que um empregado não está devidamente registrado e coberto pela legislação trabalhista, seja em razão da ausência de assinatura da carteira de trabalho, seja pela adoção de formas que buscam descaracterizar o vínculo empregatício (cooperativas fraudulentas, contratos de associação, pejotização etc.) Terceirização A terceirização é um fenômeno econômico que se reflete no âmbito do Direito do Trabalho pelo deslocamento entre o trabalho e a relação jurídica a ele subjacente. Com efeito, na terceirização identifica-se a presença de três agentes: a) o trabalhador; b) a contratante e c) a empresa prestadora de serviço terceirizado. · Observação: na relação de emprego tradicional, verificamos o vínculo jurídico laboral formado entre quem trabalha e quem recebe o serviço; já na terceirização, o vínculo jurídico laboral é formado entre quem trabalha e a empresa que presta serviço terceirizado a outrem. Ou seja, o terceirizado é empregado da empresa terceirizante, contudo desempenha suas funções na contratante. Por exemplo, um hospital pode contratar uma empresa para cuidar de sua recepção. Aqui, o recepcionista será empregado da empresa prestadora de serviços terceirizados, porém exercerá suas atividades no hospital. Desta feita, na terceirização entre os três agentes é estabelecida uma relação trilateral, havendo três distintos liames entre as partes: a) entre o trabalhador e a contratante que recebe seus serviços teremos a prestação de trabalho terceirizado; b) entre o trabalhador e a empresa prestadora de serviço terceirizado teremos vínculo empregatício; c) entre a contratante e a empresa prestadora de serviço terceirizado há uma relação civil / comercial. No Brasil, recentemente, passou a ser admitida a terceirização de toda e qualquer atividade, incluindo a atividade principal da empresa. Até então, a jurisprudência vinha restringindo a terceirização às atividades-meio, acessórias, contudo com o impulso à exploração do trabalho provocado pela crise de 2008, tornou-se prevalecente a terceirização irrestrita. Precarização Os fenômenos tratados anteriormente são expressões da precarização, porém há ainda outras figuras que devem ser mencionadas. O trabalho intermitente, no qual o vínculo empregatício não garante trabalho nem renda, foi admitido pela legislação em 2017 e é uma forma de legalização do “bico”. Também podemos mencionar o trabalho plataformizado como um trabalho precário, ante a desregulamentação trabalhista e previdenciária. Observação: “dumping social” é um fenômeno caracterizado pela decisão empresarial de descumprimento da legislação trabalhista, previdenciária e de segurança e saúde do trabalho com a finalidade de redução de custos, com vistas a auferir vantagens competitivas em relação ao preço de produtos e serviços. · O TRABALHO COMO CATEGORIA ESTRUTURANTE NA SOCIEDADE CAPITALISTA O trabalho sempre existiu nos mais diversos sistemas econômicos, contudo o modo de produção capitalista se estrutura com base em profundas mudanças na forma por intermédio da qual o trabalho se concretiza. É possível afirmar que, anteriormente, o trabalho era desenvolvido para satisfação das necessidades básicas do grupo social, tendo a família como núcleo essencial dessa organização. Porém, no contexto do desenvolvimento do sistema capitalista, verificamos significativas alterações: - o trabalhador é afastado dos meios de produção; - o trabalhador necessitará vender sua força de trabalho para outrem, a fim de assegurar uma remuneração que lhe garanta o sustento; - intensifica-se a divisão e especialização do trabalho; - a atividade do trabalhador é direcionada à produção de mercadorias que irão circular na sociedade, não mais se restringindo à satisfação de necessidades biológicas ou primárias; - o trabalhador será assalariado com quantia inferior ao efetivo valor do seu trabalho, pois uma parcela será expropriada pelo tomador de serviços. Assim, o trabalho, na forma descrita, é fundamental para a estruturação da sociedade capitalista, marcada pela produção de mercadorias e acumulação de capital. · O TRABALHO NO PENSAMENTO CLÁSSICO Há três pensadores que são considerados como os mais representativos do pensamento clássico, em termos de Sociologia. Pensamento clássico na Sociologia Émile Durkheim Max Weber Karl Marx · Observação: Augusto Comte é considerado o pioneiro da Sociologia. Trabalho para Durkheim Émile Durkheim se destacou pelo esforço de consolidar a Sociologia como uma ciência autônoma, específica, distinta de outras ciências humanas, como a filosofia e a psicologia. Nesse propósito, o autor propôs estabelecer aquilo que seria o objeto específico da Sociologia, apresentando a noção de “fato social”. Com efeito, “fato social é toda a maneira de fazer, fixada ou não, susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então, que é geral no âmbito de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das manifestações individuais” (DURKHEIM, As Regras do Método Sociológico, Lisboa, Presença, 2004, p. 47). Portanto, para o autor, o trabalho, sendo um fato social, é dotado das seguintes características: a) coercitividade; b) generalidade e c) existência própria ou exterioridade. Ainda, o referido autor compreende que o trabalho gera solidariedade entre os integrantes do grupo social. Trabalho para Weber Para Max Weber, o trabalho, na forma assumida no contexto pós-industrial, é expressão de uma vocação profissional do indivíduo. Aqui, é necessário destacar as reflexões que Weber apresenta na obra “A Ética Protestante e o ‘Espírito’ do Capitalismo”. A ideia central apresentada é que as diferenças de valores e propostas éticas entre a religião católica e a religião protestante tem impacto no desenvolvido do capitalismo. Isso porque com a referida religião protestante, surge a visão de que a salvação espiritual se coaduna com a acumulação de bens materiais. E, precisamente, a pessoa somente saberia se está no caminho correto, se visualizar o crescimento de sua prosperidade material. O autor afirma: “Ela [a ética protestante] não apenas aprofundou ao máximo esse ponto de vista, como fez mais, produziu para essa norma exclusivamente aquilo que importava para sua eficácia, isto é, o estímulo psicológico, quando concebeu esse trabalho como vocação profissional, como o meio ótimo, muitas vezes como o único meio, de uma pessoa se certificar do estado de graça”. (WEBER, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 162). Outro aspecto destacado por Weber a relação entre a ação racional do trabalho e a estruturação da burocracia (no sentido de organização e hierarquia). Trabalho em Marx Karl Marx desenvolve o método do materialismo histórico-dialético, em contraponto ao idealismo de Hegel, propondo que a correta forma de compreender a realidade é por intermédio a práxis (combinação entre teoria e prática). O trabalho teve sua origem no momento em que o ser humano, a partir da elaboração de ferramentas de pedra, começou a buscar formas de se alimentar. Desde então, o trabalho passou a fazer parte de uma das necessidades do ser humano. Pode-se dividir a história do trabalho mediante modo de produção que o ser humano desenvolveu através do tempo, que são os chamados regimes de trabalho: primitivo, escravo, feudal, capitalista e comunista. O trabalho primitivo foi o primeiro regime de trabalho onde o ser humano buscava satisfazer suas necessidades básicas como se alimentar, se abrigar, etc. Esse regime foi o modo de produção nas comunidades primitivas, ondehouve o avanço das primeiras ferramentas, que eram construídas de pedra, espinhos e lascas de árvores. A sociedade primitiva possuía relações de trabalhos igualitários, onde cada um desenvolvia sua atividade para o bem estar de toda a relação de trabalho. O trabalho primitivo caiu quando o homem começou a plantar e a estocar alimentos e riquezas, surgindo novas formas sociais de interação, originando as hierarquias. À medida que surgiram novas formas de trabalho, outras relações de poder também apareceram. No modelo de trabalho capitalista, quem tem meios de produção emprega quem não tem. Neste formato o trabalho em questão de tempo, força, qualidade e produto é trocado por salário. Utilizando o materialismo dialéctico, Marx explica o modo como as sociedades humanas se desenvolvem. Dizia ele que as mudanças sociais ocorrem de acordo com as forças dinâmicas internas da sociedade que, em consequência, são o resultado das relações de produção da sociedade. Ele defendia que a história da humanidade era baseada na luta de classes, isto é, na luta de uma classe explorada contra uma classe de exploradores. Assim, trabalho é definido como: “um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza com uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo – braços e pernas, cabeças e mãos – a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humano. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza.”. (MARX, O Capital – crítica da economia política, São Paulo, Civilização Brasileira, 2008, p. 211). Além dessa concepção sobre o que é o trabalho, Marx também destaca que a atividade humana se distingue da atividade dos animais em virtude da consciência da ação que o humano realiza. “Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e uma abelha envergonha muitos arquitetos com a estrutura de sua colmeia. Porém, o que desde o início distingue o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colmeia em sua mente antes de construí-la com a cera. No final do processo de trabalho, chega-se a um resultado que já estava presente na representação do trabalhador no início do processo, portanto, um resultado que já existia idealmente.” (MARX, Karl. O Capital, volume I, Boitempo). Acrescente-se, por fim, que o trabalho se apresenta como uma necessidade da vida humana, em qualquer período histórico. Tabela de Revisão Durkheim Trabalho como fato social. Coercitivo, geral e externo. Solidariedade (mecânica ou orgânica) Weber Trabalho como ação racional Vocação Burocracia Marx Trabalho é a ação do homem que transforma a natureza enquanto transforma o próprio homem. O homem idealiza a ação que pretende realizar pelo trabalho, distinguindo-o dos demais animais. Necessidade A TEORIA DO VALOR-TRABALHO A teoria do valor-trabalho preconiza que valor de um determinado bem decorre do trabalho humano necessário para sua produção. No contexto de provas de sociologia, esse tema é abordado, usualmente, sob o viés da teoria marxista. Isso nos conduz à necessidade de apresentar conceitos importantes que estruturam a lógica do pensamento marxista em relação às mercadorias e ao trabalho. Inicialmente, é importante destacar que as expressões valor e preço correspondem a ideias distintas. Efetivamente, valor pode ser compreendido de diferentes formas: a) valor: o valor de um determinado bem decorre do trabalho social necessário para sua produção como mercadoria; b) valor de uso: refere-se à medida da utilidade de um determinado bem (a utilidade é “determinada pelas propriedades materialmente inerentes à mercadoria”); c) valor de troca: é a condição que o produto assume ao se converter em mercadoria, expressando a sua medida no contexto da circulação (“o valor de troca revela-se, de início, na relação quantitativa entre valores de uso de espécies diferentes, na proporção em que se trocam”). O preço é aquilo que se paga para a obtenção de uma mercadoria. Importante para sua prova: quando mercadorias são trocadas (10 pacotes de figurinha por 20 pirulitos) isso pressupõe a identidade do valor de troca desses produtos. Para o pensamento marxista, essa identidade decorre da “quantidade de trabalho socialmente necessária” para sua produção. Posto isso, um dos elementos centrais do pensamento marxista corresponde à noção de que os trabalhadores não são remunerados na medida do valor que produzem. Isso decorre do conflito de interesses entre a classe dos proletários e a classe burguesa, denominado luta de classes. A primeira é formada pelas pessoas que vendem sua força de trabalho e não são detentoras dos meios de produção. A segunda é constituída pelos proprietários dos meios de produção. Em uma linhagem mais ilustrativa, na burguesia encontraremos os donos das fábricas, das terras, das empresas prestadoras de serviços, que contratam a mão de obra. Nesse contexto, os trabalhadores vendem sua força de trabalho aos empregadores em troca de salário. Contudo, o valor produzido pelo trabalhador não retorna integralmente para ele, pois uma parcela fica com o empregador, detentor dos meios de produção. De maneira exemplificativa, um trabalhador, ao longo de um mês de atividade, gera um valor x. Seu salário, necessário para sua subsistência, corresponderá a 0,2x, enquanto 0,8x será apropriado pelo empregador. Essa parcela do trabalho que fica com o burguês é denominada trabalho excedente e constitui a mais-valia. Sendo a mais-valia a diferença entre o que o trabalhador recebe e o que o empregador retém, ela pode ser amplia de duas formas diferentes: de maneira absoluta e de maneira relativa. a) mais-valia absoluta: diz respeito à ampliação do tempo de trabalho, por exemplo: prorrogação da jornada com horas extras. b) mais-valia relativa: diz respeito ao aumento da produção não pelo elastecimento do tempo, mas pela intensificação da atividade, como com a introdução de um novo maquinário ou novas tecnologias. Tabela de Revisão valor o valor de um determinado bem decorre do trabalho social necessário para sua produção como mercadoria; valor de uso refere-se à medida da utilidade de um determinado bem (a utilidade é “determinada pelas propriedades materialmente inerentes à mercadoria”); valor de troca é a condição que o produto assume ao se converter em mercadoria, expressando a sua medida no contexto da circulação (“o valor de troca revela-se, de início, na relação quantitativa entre valores de uso de espécies diferentes, na proporção em que se trocam”). mais-valia absoluta diz respeito à ampliação do tempo de trabalho, por exemplo: prorrogação da jornada com horas extras. mais-valia relativa diz respeito ao aumento da produção não pelo elastecimento do tempo, mas pela intensificação da atividade, como com a introdução de um novo maquinário ou novas tecnologias DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO Durkheim Para esse autor, a divisão social do trabalho é um fato social (externo, imperativo e geral) que se impõe às coletividades. Ainda, em suas obras, o sociólogo defendeu que a divisão social do trabalho promoveria a coesão do grupo social, na medida da interdependência entre seus integrantes. Para ele, essa divisão promovia dois tipos de solidariedade. Solidariedade mecânica: comum às sociedades pré-capitalistas, sociedades “menos complexas”, divisão do trabalho rudimentar (menor complexidade das tarefas). Solidariedade orgânica: inerente às sociedades capitalistas, sociedades “mais complexas”, divisão do trabalho mais intensa (grande diversidade de tarefas). Os conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica foram cunhados pelo sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) como parte de sua análise sociológica. Esses conceitos são fundamentais para compreender a coesão social e as mudanças nas sociedades ao longo do tempo. 1. Solidariedade Mecânica: o Objetivo:Coesão social em sociedades simples. o Características: § Baseada em tradições, hábitos e moral. § As pessoas desempenham tarefas semelhantes. § Independência entre os indivíduos. § Direito fundamentado na manutenção de costumes. o Exemplo: Sociedades pré-capitalistas. 2. Solidariedade Orgânica: o Objetivo: Coesão social em sociedades complexas. o Características: § Baseada na interdependência gerada pela especialização do trabalho. § Funções especializadas e interdependência entre tarefas. § Diferenças entre os indivíduos. § O trabalho como gerador de solidariedade. o Exemplo: Sociedades capitalistas. . Em sua obra “Da Divisão do Trabalho Social” (1893), Durkheim enfatiza que a solidariedade é uma relação moral que une os indivíduos como parte de uma mesma sociedade. O trabalho desempenha um papel central na coesão social, seja pela tradição ou pela interdependência funcional. A solidariedade mecânica está intrinsecamente ligada à consciência coletiva. Nesse contexto, os indivíduos compartilham valores, crenças e normas semelhantes, o que os une de maneira homogênea. É uma forma de coesão social baseada na similaridade e na tradição. Por exemplo, em sociedades pequenas e tradicionais, onde todos desempenham funções semelhantes e seguem normas culturais comuns, a solidariedade mecânica é prevalente. Por outro lado, a solidariedade orgânica (CONSCIENCIA INDIVIDUAL) está relacionada à interdependência crescente de funções e atividades na divisão social do trabalho. Em sociedades mais complexas e urbanas, as pessoas desempenham papéis especializados e têm funções distintas. A coesão social é mantida pela necessidade mútua de serviços e pela complementaridade das atividades. Por exemplo, em uma cidade moderna, os médicos, professores, agricultores, motoristas de ônibus e outros profissionais dependem uns dos outros para manter a sociedade funcionando. Em resumo, a solidariedade mecânica é baseada na semelhança e na tradição, enquanto a solidariedade orgânica surge da interdependência funcional na sociedade contemporânea. Solidariedade mecânica é um conceito sociológico criado pelo sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) que se refere à coesão social em sociedades pré-capitalistas. Segundo Durkheim, a solidariedade mecânica é fundamentada nas tradições, nos hábitos e na moral, características muito presentes em sociedades pré-capitalistas. . A solidariedade mecânica é a forma de organização social que prevalece nas sociedades pré-capitalistas, com baixa divisão do trabalho e coesão social baseada em laços tradicionais. A noção de solidariedade mecânica liga-se à noção de consciência coletiva, enquanto a noção de solidariedade orgânica está relacionada à crescente interdependência de funções e atividades na divisão social do trabalho. Marx Para Marx, a divisão social do trabalho está presente nas sociedades anteriores ao capitalismo e se intensifica historicamente, alcançando a máxima relevância nas sociedades capitalistas. Isso porque, no capitalismo, a divisão social do trabalho se insere no contexto da expropriação e alienação do trabalhador: “A divisão manufatureira do trabalho supõe a autoridade incondicional do capitalista sobre homens que constituem meras engrenagens de um mecanismo total que a ele pertence.” (O Capital). Portanto, a divisão social do trabalho em Marx se insere no contexto da divisão entre trabalhadores e proprietários, ou seja, na luta de classes. Weber A divisão social do trabalho não aparece de maneira destacada na obra de Max Weber. Não obstante, o autor sustenta que o progresso das sociedades está atrelado ao progresso da divisão do trabalho, bem como que a divisão social do trabalho, ao aumentar a produtividade, é expressão da organização e da racionalidade. Tabela de Revisão Durkheim Solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. Marx Maximizada na sociedade capitalista, promovendo alienação. Weber Progresso e racionalidade. · DIVISÃO SOCIOSSEXUAL E RACIAL DO TRABALHO A compreensão do tema da divisão sociossexual e racial do trabalho exige familiaridade com o conceito de sistemas de discriminação. Efetivamente, em sentido comum, a palavra discriminação se traduz na ideia de tratamento diferenciado e desvantajoso entre pessoas e grupos. Contudo, existem formas de discriminação que atingem grupos sociais de maneira sistemática, impactando diversas esferas da vida dos integrantes desses grupos, resultando em frustração do usufruto de direitos fundamentais concedidos a outros. Podemos considerar a eventualidade de um homem vir a ser tratado de maneira discriminatória por uma mulher, porém isso jamais se equiparará às discriminações que uma mulher sofre pela sua condição de mulher. De igual sorte, uma pessoa branca pode ser discriminada por uma pessoa negra, contudo o tratamento desvantajoso sistemático recai sobre as pessoas negras, nas mais diversas esferas da vida social (mercado de trabalho, segurança, saúde, educação etc). Outra ideia importante para compreensão da divisão sociossexual e racial do trabalho repousa no fato de que os sistemas de discriminação contam com suporte em construções culturais, e aqui nos interessa, sobretudo, o papel desempenhado por estereótipos. Com efeito, tais generalizações também avançam para o mundo do trabalho, produzindo e reproduzindo inserções imperfeitas e precárias de grupos sociais. Isso posto, podemos adentrar mais detidamente ao tema, iniciando por apresentar um dos conceitos mais bem acabados de divisão sexual do trabalho: “A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais entre os sexos; mais do que isso, é um fator prioritário para a sobrevivência da relação social entre os sexos. Essa forma é modulada histórica e socialmente. Tem como características a designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das funções com maior valor social adicionado (políticos, religiosos, militares etc.)” (Helena Hirata e Danièle Kergoat). Três noções essenciais dão fundamento a essa visão. Primeiro, a divisão sexual do trabalho consiste na atribuição de distintas tarefas aos sexos (gêneros) em virtude de uma relação de poder elaborada histórica e socialmente, não decorrendo, portanto, de um dado da natureza ou de predisposições inerentes aos pertencimentos de gênero. Segundo, a distinção entre o trabalho produtivo e o trabalho reprodutivo. Aquele é o trabalho que se insere na dinâmica da venda da força de trabalho e da produção da mais-valia; ao passo que este diz respeito à promoção das condições que possibilitam a conservação da mão de obra. Em outros termos, o trabalho produtivo é aquele em razão do qual o trabalhador será assalariado. Já o trabalho reprodutivo envolve o cuidado dirigido aos integrantes da família (tarefas domésticas). · Importante para sua prova: é em razão disso que se considera que o sistema capitalista contribui para a valorização do trabalho masculino, produtor de mais-valia. Terceiro, o trabalho produtivo, tipo como o lugar do masculino, é aquele que recebe maior apreço e se conecta com a compreensão de que os homens devem ocupar os espaços de poder e prestígio no contexto social. Essa compreensão da divisão sexual do trabalho está estruturada sobre dois princípios: a) Princípio da separação: há trabalhos que “devem” ser realizados por homem e trabalhos que “devem” ser realizado por mulheres. b) Princípio da hierarquia: os trabalhos realizados por homens são mais “importantes”. A configuração da divisão sexual do trabalho e o grau de incidência dos princípios mencionados variam ao longo do tempo, em diferentes sociedades. Durante boa parte do Século XX, o marido tinha a prerrogativa legal de requer ao empregador de sua esposa que ela fosse demitida (art. 446, parágrafo único, da CLT, hoje revogado). Atualmente, se prevalece a igualdade jurídica entre homens e mulheres (art. 5º, I, da CF), as mulheres permanecem afastadas das posiçõesde comando e direção das empresas (a despeito de terem mais tempo de estudo médio do que os homens). A divisão sexual do trabalho é a separação e distribuição das atividades de produção e reprodução social de acordo com o sexo dos indivíduos. É uma das formas mais simples e, também, mais recorrentes de divisão social do trabalho. Qualquer sociedade tem definidas, com mais ou menos rigidez e exclusividade, esferas de atividades que comportam trabalhos e tarefas considerados apropriados para um ou outro sexo. A esfera feminina situa-se no âmbito doméstico privado, da produção de valores de uso para o consumo do grupo familiar, da reprodução da espécie e do cuidado das crianças, dos velhos e dos incapazes. As atividades de produção social e de direção da sociedade, desempenhadas no espaço público, são atribuições masculinas. Os estereótipos de ser homem e de ser mulher sustentam e legitimam a divisão sexual do trabalho. Vale acrescentar que a separação das atividades profissionais, em virtude do gênero, é apresentada como natural, sob o argumento de que homens e mulheres possuem certas características inatas. Por exemplo: é lugar comum em diversas sociedades considerar que as mulheres têm uma maior aptidão para as tarefas de cuidado. Por conta disso, as mulheres teriam uma propensão a atividades profissionais nas quais essa característica tenha relevo como na área da saúde, da educação, da alimentação. Então, de maneira cumulativa, identificamos a separação e a hierarquização, na medida em que é culturalmente consolidada a imagem da mulher como cuidadora doméstica, professora infantil, cozinheira. É raro idealizar um cuidador doméstico masculino, é mais comum encontramos professores universitários masculinos e o posto mais alto da culinária é “reservado” para os chefs (homens). Aliás, não é um excesso de zelo lembrar que a compreensão da divisão sexual do trabalho é uma categoria sociológica, decorrente da análise de fenômenos que atingem diferentes coletividades. Ou seja, claro que encontraremos mulheres em posições de destaque profissional, porém elas estão, historicamente, sub-representadas em tais posições. Isso posto, avançamos para o próximo ponto. A análise da divisão sexual do trabalho mostrou-se insuficiente para compreender as diferentes experiências vividas por mulheres negras e por mulheres brancas. Isso porque em razão da interseccionalidade dos sistemas de discriminação, os sujeitos estão submetidos a diferentes situações em razão dos seus diversos pertencimentos a variados grupos sociais. De maneira sintética, mulheres e pessoas negras são discriminadas no ambiente de trabalho, de maneira que as mulheres negras sofrem o duplo efeito discriminatório (pelo pertencimento racial e pelo pertencimento de gênero). Se dividirmos os grupos sociais por raça e gênero, as mulheres negras estão na base da pirâmide remuneratória, são direcionadas ou relegadas às tarefas de menor prestígio social e estão mais precariamente inseridas no mercado de trabalho (estando sobrerepresentadas nos grupos de informalidade e subocupação). Essa situação é reforçada e reproduzida por aquilo que a autora Patricia Hill Collins denomina de “imagens de controle”, que corresponde a papéis estereotipados reafirmados socialmente e reiterados pelos veículos de mídia. Para o que ponto que nos interessa nesse estudo, Collins elaborada a figura da “mammy”, que seria a mulher negra trabalhadora doméstica, leal e devotada aos patrões, subserviente e grata pela oportunidade de trabalho. No contexto da televisão brasileira, por décadas essa figura foi veiculada, indicando ou sugerindo que ocupar os lugares de menor prestígio social seria uma condição natural (a primeira personagem negra de classe média foi apresenta na TV no ano de 1988). Tabela de Revisão Divisão sexual do trabalho A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais entre os sexos; mais do que isso, é um fator prioritário para a sobrevivência da relação social entre os sexos. Essa forma é modulada histórica e socialmente. Tem como características a designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das funções com maior valor social adicionado (políticos, religiosos, militares etc.) Princípios da divisão sexual do trabalho a) Princípio da separação: há trabalhos que “devem” ser realizados por homem e trabalhos que “devem” ser realizado por mulheres. b) Princípio da hierarquia: os trabalhos realizados por homens são mais “importantes”. Reflexos da discriminação interseccional no que tange às mulheres negras As mulheres negras estão na base da pirâmide remuneratória, são direcionadas ou relegadas às tarefas de menor prestígio social e estão mais precariamente inseridas no mercado de trabalho (estando sobrerepresentadas nos grupos de informalidade e subocupação).