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MÓDULO 05 – DA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA E DOS ASPECTOS GERAIS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA 01 - INTRODUÇÃO O processo de conhecimento tem por finalidade fazer com que a partes apresentem suas respectivas versões dos fatos e produzam provas sobre elas para que, ao final, diante desse conjunto, o juiz possa dizer a quem o direito socorre. O resultado desse procedimento, que consiste na subsunção do fato às normas, é uma sentença de mérito, que pode ter conteúdo declaratório, constitutivo ou condenatório. Com a sentença, submetida ao fenômeno jurídico da coisa julgada material, encerra-se em definitivo o processo de conhecimento da ação, convertendo-se, a sentença, em título executivo judicial, gerando, para o devedor, uma obrigação a ser adimplida. A sentença condenatória importa em um comendo de fazer, não fazer, pagar, etc..., e uma vez que o réu se quede inerte no sentido de cumprir referido comando, ele dá espaço para o início da fase de execução, pela qual o Estado, por intermédio do Poder Judiciário, procurar imprimir eficácia plena à decisão judicial. Assim, transitada em julgado a Sentença, esta poderá ser objeto de Liquidação e, após, de Execução de Sentença, que será processada, no caso da Execução Definitiva, nos próprios autos da ação de conhecimento. Portanto, EXECUÇÃO é um conjunto de atos pelos quais o Estado, por intermédio do Poder Judiciário, procura imprimir eficácia plena à decisão dada em fase de conhecimento. A execução trabalhista tem início quando o devedor não cumpre espontaneamente a obrigação contida no título executivo judicial ou extrajudicial, havendo uma verdadeira continuação da ação judicial. 02 - CONCEITO Segundo MOACYR AMARAL, execução forçada é o processo mediante o qual o Estado, via órgão jurisdicional competente, baseando-se em título judicial ou extrajudicial, e fazendo uso de medidas coativas, torna efetiva e realiza a sanção, visando a satisfação do direito do credor. Já MANOEL ANTONIO TEIXEIRA FILHO afirma que execução é a atividade jurisdicional do Estado, de índole coercitiva, desenvolvida por órgão competente, de ofício ou a requerimento do interessado, com o objetivo de compelir o devedor ao cumprimento da obrigação contida em sentença judicial, acordo judicial inadimplido ou título extrajudicial, previsto em lei. O Processo do Trabalho tem pouquíssimos dispositivos que regulam a fase de liquidação e execução, necessitando, pois, da aplicação subsidiária de diversas outras leis. São aplicáveis à Execução Trabalhistas, as seguintes normas, nesta ordem necessária: a CLT (artigos 876 a 892); a Lei 5.584/70, a Lei 8.630/80 (LEF), por autorização do art. 889, da CLT. Somente na omissão da LEF o CPC é subsidiariamente aplicável somente quando seus preceitos não contradizerem a própria CLT Na prática, porém, o elenco de aplicabilidade das normas não é respeitado, sendo o CPC utilizado na maior parte dos casos. 03 – NATUREZA JURÍDICA No Processo Civil, há tempos, a doutrina e a jurisprudência tinham pacificado o conceito de que o processo de execução era completamente autônomo, desvinculado do processo de conhecimento, até porque, nos termos do CPC de 1973, era exigido do credor a apresentação de uma nova petição inicial, que desse origem a uma ação de execução, com a citação do devedor e o prazo para a apresentação de defesa. No entanto, a Lei 11.232/05 inseriu uma nova sistemática no CPC de 1973, que posteriormente foi mantida pelo CPC de 2015, criando a fase de cumprimento de sentença e alterando o conceito anterior sobre a autonomia da execução, já que este novo procedimento provocou uma interdependência entre a cognição e a execução por quantia certa, quando fundada em título judicial. Assim, com o novo procedimento instituído pela Lei 11.232/05 e depois mantido no CPC de 2015, transitada em julgado a sentença condenatória, o devedor não mais será citado para pagamento da execução e apresentação de eventual defesa, mas sim intimado (o que pode ocorrer até na pessoa de seu advogado) para, em 15 dias, cumprir de maneira espontânea a sentença, sob pena da condenação ser acrescida de multa equivalente a 10% do montante devido (artigo 523, caput e §1º, do CPC). Já no PROCESSO DO TRABALHO, é fato que a fase de execução jamais foi autônoma, já que nunca houve a necessidade de propositura de uma ação de execução, sendo considerada simples fase do processo de conhecimento destinada à dar efetividade ao provimento jurisdicional. 04 – ANÁLISE ESTRUTURAL DA EXECUÇÃO TRABALHISTA A execução baseada em título executivo judicial é composta por três fases distintas e sequenciais: a quantificação, a constrição e a expropriação patrimonial. 04.1) FASE DE QUANTIFICAÇÃO Trata-se de uma fase necessária para obter a liquidez exigida no título executivo porque, na maioria dos casos, a obrigação materializada no título exequendo se mostra ilíquida, tornando inexigível o título em que ela se contém e fazendo com que haja necessidade de se inaugurar a fase com a finalidade de quantificar o conteúdo obrigacional. A fase de quantificação é realizada pelo procedimento de Liquidação de Sentença, que consiste em procedimento pelo qual se faz a quantificação do conteúdo obrigacional da sentença condenatória. Manoel Antônio Teixeira Filho define a Fase de Liquidação como “Fase preparatória a execução, em que um ou mais atos são praticados, por uma ou por ambas as partes, com a finalidade de determinar o valor da condenação ou de individuar o objeto, mediante a utilização, quando necessário, dos meios de prova admitidos em lei” É, de fato, um Procedimento incidental, intercalado entre o processo de conhecimento e a execução, que tem uma previsão específica no artigo 879, da CLT, mas que tem suas diretrizes gerais indicadas nos artigos e 509 a 512 do CPC. No entanto, tanto o artigo 509, §4º, do CPC, como o artigo 879, §1º, da CLT trazem uma regra bastante clara, sendo proibido às partes rediscutirem, em liquidação, matéria acobertada pelo manto da coisa julgada. O Código de Processo Civil aponta a existência de três tipos de liquidação: por arbitramento (art. 509, I), por procedimento comum (art. 509, II e antes conhecida como “liquidação por artigos”) e por cálculos (art. 509, §2º). A CLT, no seu artigo 879, apresenta apenas o procedimento de liquidação por cálculos, sendo, portanto, os outros dois, de aplicação subsidiária do CPC. Vejamos cada um dos tipos de liquidação. 04.1.1) Liquidação por procedimento comum A liquidação por procedimento comum, que no CPC de 1973 era denominada de liquidação por artigos, tem lugar toda vez que há necessidade de alegar e provar fato novo para determinar o valor da condenação (art. 509, II, CPC). No novo CPC, a nomenclatura “liquidação por artigos” não mais foi utilizada, afirmando o legislador que quando a parte desejar alegar e provar fato novo em fase de liquidação, deve se utilizar do procedimento comum, fazendo, então, referência ao procedimento ordinário da fase de conhecimento. De fato, o artigo 475-F, do CPC/73 já afirmava pela possibilidade de utilização do procedimento comum na liquidação por artigos, motivo pelo qual não há inovação de procedimento, mas apenas supressão oficial da denominação “liquidação por artigos”. De todo modo, as hipóteses de cabimento são as mesmas e “fato novo”: é aquele reconhecido em sentença, de forma genérica, mas precisa ser detalhado na fase de liquidação, fatos que não foram precisados na fase de cognição, mas estão deferidos no título executivo Neste sentido, muito embora a expressão “fato novo” seja comumente interpretada como a que se refere a fato não alegado antes no processo; em fase de liquidação, o “fato novo” deve ser tomado como aquele que é reconhecido genericamente em sentença, mas que precisa ser melhor especificado em fase de liquidação. Assim, o que se deve provar na liquidação pelo procedimento comum não são “fatos novos” propriamente ditos, até porque é proibido inserir novas realidades neste momento do processo, mas sim fatos que que a sentençaexequenda, à mingua de elementos concretos nos autos, não pode precisar. Um bom exemplo é o caso em que a reclamada foi condenada ao pagamento do trabalho em feriados de forma dobrada. Não obstante, em instrução, as testemunhas não foram inquiridas ou não souberam precisar em quantos feriados o reclamante trabalhou. Há necessidade de liquidação por artigos para precisar a quantidade de dias. Este procedimento de liquidação é iniciado a requerimento do credor ou devedor, que apresentada petição indicando (ou “articulando”) um a um os pontos que serão objetos desta espécie de liquidação, bem como especificando os meios de prova que irá se utilizar. Na liquidação pelo procedimento comum, o juiz determinará a intimação do requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias, observando-se, a seguir, no que couber, as regras de produção de provas dispostas no procedimento comum, tudo nos termos do artigo 511, CPC. Como se trata de verdadeiro processo que tramitará sobre as regras do procedimento comum, a relação jurídica processual só é perfeita e válida com a o chamamento do requerido para a composição do polo passivo da relação, através da intimação do seu advogado, sendo este requisito indispensável para a validade do procedimento. 04.1.2) Liquidação por arbitramento A liquidação por arbitramento, prevista nos artigos 509, I e 510, do CPC tem lugar toda vez que, para a determinação do valor da condenação ou para a individualização do objeto (nas obrigações de fazer ou não fazer), é necessário dispor de conhecimento técnico ou científico específico. O arbitramento consiste em exame ou vistoria pericial de pessoas ou coisas, com a finalidade de apurar o quantum relativo à obrigação pecuniária que deverá ser adimplida Tendo em vista a autorização do CPC para a realização de negócios jurídicos entre as partes, podem elas convencionar sobre a utilização da liquidação por arbitramento. Um exemplo de liquidação por arbitramento é o da sentença que condena a empresa ao pagamento de indenização por danos materiais a trabalhador que sofreu acidente de trabalho e teve redução de capacidade laborativa. A decisão condena o empregador, mas condiciona a fixação do valor à apuração do percentual de perda de capacidade laborativa, que deverá ser feita por perito. Esta modalidade pode ser requerida tanto pelo credor como pelo devedor. Nos termos do artigo 510, CPC, o juiz intimará as partes para a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial. 04.1.3) Liquidação por cálculos A liquidação por cálculos, que é a única expressamente tratada na CLT, tem cabimento toda vez que o montante da condenação depender de simples operações aritméticas, já que a sentença possui todos os elementos necessários à fixação do quantum. (artigo 879, da CLT e artigo 509, §2º, do CPC) O artigo 879 da CLT apresenta a liquidação por cálculos por meio de dois procedimentos. Nos termos do artigo 879, §1º-B, o juiz deixa às partes a incumbência de apresentar cálculos para, após, verificar qual deles está em consonância com o comando sentencial, sendo este o cálculo homologado. Não há, na letra da lei, previsão de abertura de prazo para impugnação dos cálculos apresentados pela parte contrária, podendo o juiz, caso entenda que o primeiro valor está correto, homologá-lo diretamente para, somente após a intimação para pagamento e a respectiva garantia de juízo, dar oportunidade à parte prejudicada de manifestar-se sobre o montante homologado. Nada obstante, caso o juiz, nesta hipótese, abra prazo para que a parte contrária fale sobre os valores apresentados nos autos e esta mesma parte se mantenha inerte, é entendimento pacífico que ocorre a PRECLUSÃO do direito de posteriormente impugná-lo. Já o procedimento do artigo 879, §2º, da CLT, que sofreu uma pequena alteração com a Lei 13.467/17 (Reforma Trabalhista) , prevê que a conta de liquidação será apresentada pelo próprio juízo, devendo ele, após, abrir o prazo COMUM de OITO dias para que as partes possam sobre ele se manifestar. Novamente, uma vez aberto o prazo às partes e mantendo-se qualquer delas ou mesmo ambas silentes, ocorrerá a preclusão do direito de posteriormente impugnar o montante homologado. Qualquer que seja o procedimento de liquidação por cálculos adotado, o fato é que o juiz fixa o quantum debeatur por meio de um ato comumente chamado de “sentença de liquidação” ou “sentença homologatória”. No entanto, o citado ato não tem natureza de sentença, já que não possui força para pôr fim à relação litigiosa, consistindo em verdadeira decisão interlocutória da qual não cabe qualquer recurso de forma imediata. 04.2) FASE DE CONSTRIÇÃO A próxima fase da execução é a da constrição pois, uma vez estabelecida a liquidez do título, será o devedor convocado para satisfazer a obrigação, no prazo de 48 horas (artigo 880, da CLT). Caso não o faça, o patrimônio do devedor ficará sujeito aos atos de constrição ordenados pelo Juiz do Trabalho (artigo 883, da CLT). Importante destacar que por força do artigo 882, da CLT, caso o devedor queira indicar bens para satisfazer a execução, deverá ele observar a ordem de preferência estabelecida no artigo 835, do CPC, que dispõe: Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação em mercado; III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; IV - veículos de via terrestre; V - bens imóveis; VI - bens móveis em geral; VII - semoventes; VIII - navios e aeronaves; IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias; X - percentual do faturamento de empresa devedora; XI - pedras e metais preciosos; XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação fiduciária em garantia; XIII - outros direitos. É sempre importante lembrar que o dinheiro é sempre o primeiro bem na ordem de preferência, equiparando-se a ele a fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento. Nada obstante, o juiz tem a prerrogativa de alterar o elenco, de acordo com as circunstâncias do caso. (artigo 835, §§1º e 2º, do CPC) 04.3) FASE DE EXPROPRIAÇÃO Na última fase que compõe a execução, o devedor é privado de poder se disponibilizar dos bens de sua propriedade, já que, julgada subsistente a penhora, os bens já avaliados poderão ser submetidos à praça e/ou leilão para serem alienados e para que a dívida seja devidamente quitada. 05 – PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO 05.1) IGUALDADE DE TRATAMENTO DAS PARTES (art. 5º, caput, CF) A Constituição Federal impõe a necessidade de que todos sejam tratados igualmente perante a lei. No entanto, em execução, é certo que o credor está em posição de relativa superioridade, já que só resta ao devedor sujeitar-se ao procedimento. Assim, na execução, não há mais um equilíbrio jurídico entre as partes, até porque não existe mais um contraditório, na sua forma mais pura e, portanto, o devedor deve suportar as exigências do credor, podendo, unicamente, cumprir com seus encargos 05.2) PRINCÍPIO DA NATUREZA REAL O artigo 824, do CPC restringe a execução ao patrimônio do devedor, não podendo os atos executórios atingir a pessoa do executado e, neste sentido, apenas o conjunto de bens corpóreos e incorpóreos, presentes ou futuros, de direitos e obrigações economicamente apreciáveis do devedor que respondem pela dívida, até o limite da obrigação expressa no título executivo (artigo 831, CPC) Este princípio nasce, na verdade, como contraposição à Manus iniectio (Lei das XII Tábuas), que afirmava que depois de 30 dias do proferimento da sentença,o credor poderia conduzir o devedor a juízo, valendo-se de qualquer meio de força. O devedor deveria pagar a dívida ou deixar que um terceiro o fizesse. Caso a dívida não fosse solvida, o credor poderia acorrentar o devedor em sua casa até que alguém quitasse a dívida. Se ninguém o fizesse, o credor poderia matar o devedor ou vende-lo como escravo. Em caso de múltiplos credores, eles poderiam esquartejar o devedor e cada um ficaria com uma parte do corpo. 05.3) DA LIMITAÇÃO EXPROPRIATÓRIA Na execução, os atos de expropriação têm como limite o valor da dívida, com os devidos acréscimos legais 05.4) DA UTILIDADE PARA O CREDOR A lei não permite execuções inúteis, ou seja, aquelas que não forem suficientes para a satisfação do direito do credor 05.5) DA NÃO PREJUDICIALIDADE AO DEVEDOR (Favor Debitoris) O princípio da não prejudicialidade, insculpido no artigo 805, do CPC, tem grande relevância na execução civil, pregando que quando a execução puder ser feita por vários modos, deve ser feita pelo modo menos gravoso ao devedor No Processo do Trabalho, porém, as regras próprias e a hipossuficiência do trabalhador limitam a aplicação deste princípio de forma absoluta, até porque o crédito trabalhista, como possui natureza alimentar, é de fato um crédito privilegiado (art. 15, II, LEF). Assim, no Processo do Trabalho o favor debitoris tem prevalência apenas em algumas situações, como, por exemplo, na situação descrita na Súmula 417, III, do TST, que afirma que é impossível se determinar o bloqueio de numerário na execução provisória quando existirem outros bens passíveis de constrição 05.6) DO NÃO AVILTAMENTO DO DEVEDOR A execução não deve afrontar a dignidade humana do devedor e, por isso, não pode atingir os bens elencados como absolutamente impenhoráveis, pois atingiria a própria dignidade e subsistência do devedor Por este motivo, o artigo 833, do CPC coloca um rol de bens impenhoráveis, englobando aqueles que atendam à necessidade de subsistência, mas também reservando bens de ordem sentimental, religiosa, profissional e outras. Aqui também se inclui o bem de família, descrito pela Lei 8.009/90 como o imóvel residencial do casal ou da entidade familiar que lhe sirva de residência. No entanto, importante destacar que, quanto ao bem de família, a própria Lei 8.009/90, em seu artigo 3º, permite a penhora do mesmo em execuções provenientes de reclamações trabalhistas movidas por empregadas domésticos, já que ressalva o direito de penhora quando os credores forem trabalhadores da própria residência. 05.7) DA LIVRE DISPONIBILIDADE DO PROCESSO PELO CREDOR A lei faculta ao credor desistir da execução ou de determinados atos da execução, independentemente da anuência do devedor (artigo 775, CPC), desde que a desistência seja homologada por sentença (artigo 200, parágrafo único, CPC) 06 – DOS REQUISITOS DA EXECUÇÃO A possibilidade de se promover qualquer execução está condicionada à concorrência dos dois requisitos: o inadimplemento do devedor e a existência de título executivo 06.1) INADIMPLEMENTO DO DEVEDOR O artigo 786 único, do CPC considera inadimplente o devedor que não satisfaz espontaneamente o direito reconhecido por sentença ou a obrigação a que a lei atribui eficácia de título executivo. O inadimplemento só se configura quando a obrigação deixar de ser cumprida na sua modalidade específica, no dia, hora e local estipulados e de acordo com as condições estabelecidas no título. Sem que tenha ocorrido o inadimplemento, o credor não poderá promover a execução, sob pena de vir a ser declarado carente dessa ação, dada a manifesta ausência de interesse de agir. Já o cumprimento da obrigação impede o próprio início da execução ou se seu prosseguimento, mas, para que a prestação realizada pelo devedor se revista dessa eficácia extintiva é imperativo que ela corresponda ao direito ou obrigação derivante do título executivo. O devedor que pretender cumprir a obrigação sem observar seu modo ou as condições de cumprimento incorre em violação positiva do direito do credor e realiza uma ADIMPLEMENTO DEFEITUOSO e, nesta situação, o artigo 788, o CPC permite que o credor se recuse a receber a prestação (direito de recusa do credor) e dê seguimento à execução. Por outro lado, certas obrigações podem comportar a cláusula da “Exceção do Contrato Não Cumprido” (exceptio non adimplenti contractus), que afirma que o credor só pode iniciar a execução após cumprir a própria obrigação que lhe cabe, como, por exemplo, no caso do empregado, credor da obrigação salarial reconhecida em sentença, que não poderá cobrar as parcelas devidas se não prestar os serviços correspondentes. 06.2) TÍTULO EXECUTIVO Título Executivo é o instrumento judicial ou extrajudicial que documenta e demonstra a existência de um ato jurídico representativo de um direito de crédito líquido e exigível, possibilitando ao seu titular ou outra pessoa designada por lei o manejo de uma ação de execução forçada para fazer cumprir a obrigação do devedor. Para ser objeto da execução, o título deve ser líquido, certo e exigível • Certeza: diz respeito à própria existência do crédito, de modo que não haja qualquer dúvida de que representa um crédito do credor e uma obrigação do devedor • Liquidez: individualização do objeto ou do valor da execução • Exigibilidade: a obrigação contida no título deve estar vencida e não sujeito ao implemento de qualquer condição (art. 514, CPC). No Processo do Trabalho, o artigo 876 prevê a existência de quatro títulos executivos: as decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévias. A sentença transitada em julgado é um título executivo judicial, destacando-se, porém, que apenas as decisões condenatórias, em tese, carregam essa característica. Isso porque as sentenças meramente declaratórias valem apenas como simples preceito e se o autor quiser fazer valer o direito que ali lhe foi declarado, deverá, mais uma vez, invocar a tutela jurisdicional, procurando, agora, um preceito condenatório. No mesmo sentido, as sentenças constitutivas, que são aquelas que constituem, extinguem ou modificam alguma relação jurídica, também não possuem conteúdo executivo imediato. Assim, as sentenças condenatórias são as que contém obrigação destinada ao cumprimento por parte do réu e somente elas guardam e outorgam ao autor a pretensão de índole executiva direta. Importante constar que a sentença judicial perde sua exigibilidade se fundada em norma inconstitucional (art. 884, §5º, da CLT), acontecendo o mesmo quando o título é fundado em sentença normativa que foi modificada por decisão do tribunal. (OJ 277, da SDI-I, TST) Quanto aos acordos inadimplidos, é importante falar que na Justiça do Trabalho, o termo de acordo firmado e homologado pelo juiz, produz o efeito de coisa julgada passível, apenas, de ação rescisória. Em todos os casos em que o devedor inadimplir a obrigação derivante do acordo judicial, o credor poderá promover a pertinente execução que compreenderá o principal, a cláusula penal, a correção monetária, os juros de mora e as demais despesas processuais. No mesmo artigo 876, da CLT, também estão previstos dois títulos executivos extrajudiciais – o termo de ajuste de conduta firmado junto ao MPT e os termos de acordo firmados perante as comissões de conciliação prévia. Também é título executivo extrajudicial a Certidão de Inscrição na Dívida Ativa na União, referente às penalidades administrativas impostas ao empregador pelos órgãos de fiscalização do trabalho (art. 114 da CF); Nas execuções fundadas em títulos extrajudiciais há, na ação de execução, uma verdadeira fase de conhecimento, podendo o devedor, em embargos, alegar quaisquer das matérias elencadas nos artigos 525, §1º, e 535, ambos do CPC. 07 – EXECUÇÃO DEFINITIVAE PROVISÓRIA 07.1) EXECUÇÃO DEFINITIVA A execução definitiva é a baseada em sentença acobertada pela coisa julgada, sendo este o pressuposto para dar a definitividade para a execução. No mesmo sentido, também é definitiva a execução fundada em acordo judicial inadimplido Importante destacar que a sentença condenatória pode dar ensejo a uma execução mesmo quando partes dela ainda não tenham transitado em julgado em razão da pendência de análise de recurso de uma das partes ou de ambas. Assim, existem situações que permitem que parte da decisão seja executada definitivamente e parte provisoriamente, muito embora, nestas situações, ambas as modalidades tramitem por meio de Carta de Sentença. Após as modificações trazidas pela Lei 13.467/17, o artigo 878, da CLT, permite que a execução seja promovida pelas partes, mas restringe a atuação de ofício do juiz apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado. 07.2) EXECUÇÃO PROVISÓRIA A execução provisória, baseada em sentença da qual ainda pende o julgamento de recurso, é uma forma excepcional de execução, na qual se admite a prática de determinadas medidas executivas antes da sentença adquirir a qualidade de coisa julgada material. Esta modalidade de execução deve tramitar por meio de Carta de Sentença, com a apresentação das cópias autenticadas ou declaradas autênticas pelo advogado (art. 830, da CLT e art. 425, IV, CPC/15). Na execução provisória, ao contrário da definitiva, o juiz não pode atuar de ofício em nenhuma hipótese. A execução provisória é regida pelas seguintes bases: ? Corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exequente, que se obriga a reparar os danos causados ao devedor, em case de reforma da decisão (art. 520, I, CPC) ? Fica sem efeito caso a decisão em que se baseia seja reformada no Tribunal, restituindo-se às partes o status quo ante (artigo 520, II, CPC) ? São proibidos os atos de expropriação e alienação do patrimônio do devedor, não havendo, em tese, possibilidade de levantamento de depósito em dinheiro. Nada obstante, como ser verá de forma mais aprofundada no item seguinte, a doutrina discute a aplicabilidade, ao Processo do Trabalho, do inciso IV do artigo 520, do CPC, bem como do artigo 521, do mesmo código, no Processo do Trabalho. Vale repisar que durante a execução provisória é plenamente aplicável o Princípio da Não Prejudicialidade ao Devedor (favor debitoris), sendo impossível a conversão da penhora de bens em dinheiro (Súmula 417, TST) O período de tempo entre a execução provisória e sua transformação em definitiva é denominado de período temporário ou interino. Por fim, nas execuções provisórias das obrigações de fazer e das antecipações de tutela, a OJ 142 DA SDI-2 DO TST dispõe inexistir direito líquido e certo a ser oposto contra ato do juiz que, antecipando a tutela jurisdicional, determina a reintegração do empregado até a decisão final do processo, quando demonstrada a razoabilidade do direito subjetivo material, como nos casos de anistiado pela Lei n° 8.878/94, aposentado, integrante de comissão de fábrica, dirigente sindical, portador de doença profissional, portador de vírus HIV ou detentor de estabilidade provisória prevista em norma coletiva.” 08 – COMPETÊNCIA Quanto à competência para a execução, no caso de títulos executivos judiciais, nos termos do artigo 877, CLT, é ela do juízo de conciliação ou de julgamento originário. Na hipótese de execução de títulos executivos extrajudiciais, o artigo 877-A, CLT, afirma que a competência é do juiz que seria competente para o processo de conhecimento, se ele existisse. Exercício 1: 1. Analise as assertivas abaixo: I - o título executivo é o instrumento judicial ou extrajudicial que documenta e demonstra a existência de um ato jurídico representativo de um direito de crédito líquido e exigível, tendo como requisitos necessários a liquidez, certeza, exigibilidade; II - No Processo do Trabalho são espécies de Títulos Executivos Judiciais apenas as sentenças condenatórias e acordos inadimplidos; III - a competência para a execução de Títulos Executivos Judiciais na Justiça do Trabalho será do juízo de conciliação ou de julgamento originário IV - na execução provisória tem aplicação do princípio da Não Prejudicialidade ao Devedor (favor debitoris), sendo impossível a conversão da penhora de bens em dinheiro Agora, assinale a alternativa correta: A) todas as assertivas são verdadeiras; B) apenas as assertivas I, II e III são verdadeiras; C) apenas a assertiva I é verdadeira; D) apenas as assertivas II e IV são falsas; E) todas as assertivas são falsas. Exercício 2: A convocação do requerido, através de intimação, é requisito indispensável para a validade do procedimento: A) na liquidação por cálculo; B) na liquidação por arbitramento; C) na liquidação por procedimento comum; D) em todas as espécies de liquidação. E) Em nenhuma espécie de liquidação. Exercício 3: Tratando-se de execução provisória, assinale a alternativa incorreta: A) é execução baseada em sentença da qual ainda pende o julgamento de recurso B) o juiz não goza de poderes para iniciar de ofício a execução provisória; C) fica sem efeito caso a decisão em que se baseia seja reformada no Tribunal, restituindo-se às partes o status quo ante D) são permitidos os atos de expropriação e alienação do patrimônio do devedor E) nenhuma das alternativas anteriores Exercício 4: Com relação à liquidação por arbitramento dos valores devidos em decorrência de decisão judicial, é correto afirmar que: A) só na própria sentença pode ser determinada a adoção do procedimento; B) as partes podem convencionar que o valor devido seja apurado por arbitramento; C) é processada da mesma forma que a liquidação por procedimento comum; D) não é possível seu processamento quando a execução for provisória; E) nenhuma das alternativas anteriores Exercício 5: No tocante a execução trabalhista, leia atentamente as assertivas abaixo e, depois, assinale a alternativa correta: I - Não há necessidade da sentença trabalhista ser determinada em relação à quantidade, existindo, para tanto, a fase de liquidação de sentença; II - Sendo ilíquida a sentença exequenda, ordenar-se-á, previamente, a sua liquidação, que poderá ser feita por cálculo, por arbitramento ou por procedimento comum; III - Na liquidação, não se poderá modificar, ou inovar, a sentença liquidanda nem discutir matéria pertinente à causa principal; IV - A liquidação abrangerá, também, o cálculo das contribuições previdenciárias devidas; V - Não sendo líquida a sentença condenatória, o juiz ainda quando não tenha sido inserido expresso comando para liquidação, deverá determinar a apuração do devido para a execução mediante cálculo, arbitramento ou procedimento comum, incluída, quando for o caso, desde logo, a incidência dos valores devidos à título de imposto de renda ou de contribuição previdenciária. A) Apenas as assertivas I e II estão corretas; B) Todas as assertivas estão corretas; C) Apenas a assertiva III está correta; D) Apenas a assertiva IV está correta; E) Apenas a assertiva V está correta. Exercício 6: Assinale a alternativa errada: A) A intimação, na liquidação por procedimento comum, far-se-á na pessoa do advogado constituído nos autos; B) Se a condenação depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá instruir o pedido com a memória discriminada e atualizada dos cálculos; C) A liquidação por procedimento comum tem como pressuposto a necessidade de alegar e provar fato novo, com vistas à determinação do valor da condenação; D) Na liquidação por procedimento comum, e só nela, é lícito discutir de novo a lide, à vista de fato novo a se provar. E) nenhuma das alternativas anteriores Exercício 7: Considere: I. Termo de compromisso de ajustamento de conduta com conteúdo obrigacional firmado perante o Ministério Público do Trabalho. II. Acordo celebrado entre empregador e empregado não homologado e sem testemunhasinstrumentárias. III. Cheque sem suficiente provisão de fundos emitido pelo empregador para pagamento de salário. IV. Termo de conciliação com conteúdo obrigacional celebrado perante a Comissão de Conciliação Prévia competente. São títulos exequíveis na Justiça do Trabalho os indicados APENAS em: A) I e IV. B) II e IV. C) I, III e IV. D) II e III. E) I, II e III. Exercício 8: Caio, reclamante, propõe demanda em face de Tício, seu empregador, que é condenado a pagar-lhe R$ 25.000,00, devidamente corrigidos a partir da propositura da demanda, mais juros legais de 6% ao ano. A sentença transita em julgado. Para executar a sentença, Caio deverá: A) iniciar a execução, mediante requerimento, apresentando memorial dos cálculos de atualização do débito; B) iniciar a execução, requerendo a remessa dos autos ao contador judicial para que este faça a atualização; C) proceder primeiramente a liquidação da sentença que será feita por cálculo do contador; D) iniciar a execução pelo valor do principal, sendo que o valor atualizado será objeto de cálculos na impugnação do devedor. E) a liquidação deverá ser feita, obrigatoriamente, por procedimento comum. Exercício 9: Na liquidação da sentença por procedimento comum, o exeqüente requereu a produção de prova testemunhal, suficiente para a prova do fato novo ainda não demonstrado. Assinale a solução correta: A) o Juiz deferiu a produção de prova testemunhal porque consentânea com os fatos novos cuja prova se fazia necessária, tendo ouvido as testemunhas em audiência, com a presença das partes; B) o Juiz indeferiu a produção de prova testemunhal porque na liquidação de sentença não pode ha ver tal tipo de prova; C) o Juiz indeferiu a produção de prova testemunhal, mas deferiu a produção de prova pericial, para apuração do “quantum debeatur”; D) o Juiz indeferiu a produção da prova testemunhal e determinou a remessa dos autos ao Contador para cálculo, porque mais econômica e rápida esta forma de liquidação. E) nenhuma das alternativas está correta. Exercício 10: Quanto à execução no processo do trabalho, assinale a opção correta. A) Na liquidação, poderá haver modificação, caso tenha ocorrido omissão no título executivo que gerou o título. B) Sendo líquida ou ilíquida a sentença exequenda, terá início a execução. C) A execução no processo do trabalho deve ser provocada pela parte. D) A execução no processo do trabalho pode ser iniciada apenas pelo juiz. E) A execução no processo do trabalho pode ser iniciada pelo juiz ou pela parte, resguardando-se a atuação do juiz apenas na hipótese em que as partes não estiverem representadas por advogado. Exercício 11: Assinale a opção correta a respeito da execução no processo do trabalho. A) Os termos de compromisso de ajustamento de conduta firmados perante o MP do Trabalho não constituem títulos executivos extrajudiciais. B) A CLT trata de forma completa a execução das decisões trabalhistas, não sendo necessária a utilização de lei ordinária para as execuções trabalhistas. C) É absolutamente incabível, no Processo do Trabalho, o Princípio do Favor Debitoris D) Após a alteração da competência da justiça do trabalho, não cabe mais execução ex officio. E) O título executivo extrajudicial ocorre sob a forma de processo autônomo de execução. Exercício 12: Considerando que em determinado processo foram elaborados os cálculos pelo próprio juízo e aberto prazo às partes para manifestação, assinale a opção correta: E) Caso haja pagamento antecipado da parcela apurada a título de contribuição previdenciária, não poderá a previdência social cobrar eventual diferença. D) A referida concessão de prazo para manifestação sobre a conta é uma obrigação do julgador e deverá ter prazo sucessivo fixado pelo juiz. C) A mencionada concessão de prazo para manifestação sobre a conta é um dever do julgador e será de oito dias na forma comum. B) A concessão de prazo para manifestação sobre a conta é uma faculdade do julgador e será de cinco dias na forma sucessiva. A) A parte insatisfeita, reclamante ou reclamada, mesmo silente no prazo que lhe foi aberto, poderá, em momento posterior, apresentar, respectivamente, embargos à execução ou impugnação, não ocorrendo a preclusão do direito;