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Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica • Fig. 9.4 - (A) Presença de dentina terciária na região do teto da câmara pulpar em dente com atrição (setas); (B) dente cuja restauração deficiente foi removida, evidenciando a presença da dentina terciária na reg ião do corno pulpar mesio vestibular (seta), exposto durante o preparo; (C) fotomicrografia mostrando a diferença entre a Dentina Secundária (DS) com túbulos regulares e a Dentina Terciária (DT) com a disposição irregular da matriz e dos túbulos (Tricrómico de Mallory, aumento de 400x), gentilmente cedida pelo Prof. Dr. Miguel Angel Castillo Salgado (Professor da disciplina de Histologia do curso de Odontologia do ICT de São José dos Campos - UNESP). Polpa A polpa dentária pode ser definida como um tecido conjuntivo frouxo, altamente especializado, de origem ectomesenquimática, circundado por paredes de dentina, ocupando a câmara pulpar e o canal radicular. Está diretamente ligada aos siste mas circulatório e nervoso através do feixe vascu lonervoso que penetra pelo forame apicaL 16 A es pecialização do tecido conjuntivo da polpa deve-se principalmente às células dispostas em sua perife ria, os odontoblastos, responsáveis pela formação da matriz da dentina.17 A polpa dentária é consti tuída de 25% de matéria orgânica e 75% de água. É formada basicamente pelos seguintes elementos estruturais: células progenitoras (odontoblastos, fi broblastos, células mesenquimais indiferenciadas), células de defesa (linfócitos e macrófagos), subs tância intersticial amorfa (proteoglicanas e glico proteínas) e substância intersticial fibrosa (fibras colágenas).18 No estudo da estrutura pulpar, a polpa 294 dentária pode ser didaticamente dividida em duas zonas: periférica, composta pela camada odonto blástica e subodontoblástica, e central, composta, principalmente, por vasos e nervos (Fig. 9.5). A ca mada mais externa da polpa, denominada camada odontoblástica, é constituída pelos corpos celula res dos odontoblastos, localizados imediatamente subjacentes à pré-dentina. A função principal dos odontoblastos é a produção de dentina.1 Abaixo da camada odontoblástica, encontra-se a zona ace lular de Weil, rica em capilares sanguíneos, fibras nervosas amielínicas (plexo de Rashkow) e proces sos citoplasmáticos de fibroblastos. Abaixo da zona acelular existe a zona rica em células, composta por fibroblastos, células me senquirnais indiferenciadas ou pré-odontoblastos, macrófagos e linfócitos. Quando ocorre a morte dos odontoblastos, há aumento de mitoses na zona celular e migração destas células para a camada odontoblástica, sendo este o início do processo de recomposição da camada odontoblástica após uma Fig. 9.5 - Fotomicrografia do complexo dentina-polpa mostrando a camada de odontoblastos (CO), zona acelular de Weill (ZA), zona rica em células (ZC) e região central da polpa (RC). Tricómico de Mallory, 200x. Fotografia gentil mente cedida pelo Prof. Dr. Miguel Angel Castillo Salgado (Professor da disciplina de Histologia do curso de Odonto logia do ICT de São José dos Campos - UNESP). injúria pulpar. 3 Este processo é possível devido à capacidade das células mesenquimais de se dife renciarem em células similares aos odontoblastos e, consequentemente, reativarem a capacidade re paradora da polpa na região lesada. 4 Os vasos san guíneos mais calibrosos e nervos circundados por tecido conjuntivo rico em fibroblastos e células mesenquirnais indiferenciadas constituem a por ção central da polpa dentária. As arteríolas e vênulas que entram e saem da cavidade pulpar, através dos forames e das ramifi cações apicais, constituem o rico suprimento vas cular da polpa dentária. Acompanhando o trajeto dos vasos sanguíneos, encontra-se um suprimento nervoso abundante, originário do nervo trigêmeo. As fibras nervosas que penetram na polpa são mie línicas e mediadoras da sensação de dor causada por agentes externos, enquanto as fibras amielíni cas estão associadas aos vasos sanguíneos tendo, entre outras funções, o controle vasomotor. Estas fibras agrupam-se basicamente em dois tipos, de acordo com localização, função, diâmetro e veloci dade de condução do estímulo nervoso: fibras Del ta A e fibras C. Na zona periférica, encontram-se as fibras Delta A, rnielínicas, termorreceptoras para o frio, de rápida velocidade na condução do estímu- 9 Proteção do Complexo Dentina-Polpa lo nervoso e não relacionadas ao dano tecidual. Na zona central, próximo aos vasos sanguíneos, estão as fibras C, amielínicas, termorreceptoras para o calor, de lenta velocidade na condução do estímulo nervoso e relacionadas ao dano tecidual (processo inflamatório). A polpa dentária possui quatro funções bási cas: formativa, nutritiva, sensorial e defensiva. 19 A função formativa relaciona-se à formação de dentina durante toda a vida do dente. É, sem dú vida, a sua principal função. A Ju.nção nutritiva é observada a partir de sua rica vascularização, na entrada de nutrientes e oxigênio pelos vasos e saída de restos metabólicos teciduais. Afu.nção sensorial é caracterizada pela capacidade da pol pa de responder com dor aos diferentes agentes agressores, por meio das fibras nervosas mielíni cas e amielínicas. Afu.nção defensiva pode ser ob servada quando a polpa se defende dos estímulos agressores com formação de esclerose dentinária ou de dentina terciária.18 A polpa dentária sofre alterações com a idade, em função do processo fisiológico de envelheci mento. Estas alterações incluem a modificação de um tecido jovem (rico em células e pobre em fi bras) para um tecido senil (pobre em células e rico em fibras), ou seja, mudança de tecido conjuntivo frouxo para tecido conjuntivo denso. Essas alte rações são importantes do ponto de vista clínico, porque a capacidade de defesa de uma polpa senil é menor que a de uma polpa jovem,5 e o prognóstico de manutenção da vitalidade pulpar nos casos de proteção direta do complexo dentina-polpa pode ser reduzido. Ainda, pacientes jovens que subme tem seus dentes a vários estímulos "agressivos" (cá rie, traumatismos fumo, entre outros) podem levar à redução da capacidade de defesa do tecido pulpar pela alteração do tecido conjuntivo em decorrência da exposição a estes fatores de agressão. Mecanismos de Defesa do Complexo Dentina-Polpa O complexo dentina-polpa pode sofrer altera ções frente aos diferentes tipos de agressores exter nos, como a cárie dentária, traumatismos com ou sem fraturas, prepares cavitários, atrição, abrasão, 295 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica erosão, materiais restauradores, movimentação ortodôntica, condicionamento ácido, etc. A pol pa dentária tenta promover um bloqueio a estes agentes agressores por meio de três mecanismos de defesa: esclerose dentinária, depósito de denti na terciária reacional e/ou reparadora e inflamação pulpar. A resposta do complexo dentina-polpa aos agentes agressores depende basicamente da condi ção pulpar e da manutenção de sua vitalidade. A manutenção da vitalidade do complexo dentina -polpa é fundamental, pois ela é responsável pelas respostas aos estímulos externos. Frente às agressões externas, primeiramente o tecido responde com esclerose local dos túbulos pela deposição contínua de dentina intratubular (peritubular) nas regiões subjacentes às lesões ca riosas, o que reduz o diâmetro dos túbulos dentiná rios e representa um mecanismo de defesa impor tante contra agressões externas. 2.19·21 Clinicamente, a esclerose tubular resulta em coloração escura da dentina (Fig. 9.16A e B). A esclerose tubular é pro duzida por agentes irritantes leves ou moderados, tais como as cáries de progressão lenta, traumatis mo moderado após o preparo cavitário, abrasão, erosão, atrição e avanço da idade. A esclerose dos túbulos não ocorrerá se os odontoblastos tiverem sido previamentedestruídos. Quando a agressão é muito intensa, os odontoblastos morrem e os tú bulos correspondentes são referidos como tratos mortos. Posteriormente, como segunda linha de defesa do complexo dentina-polpa, há depósito de uma matriz de dentina terciária reacional com o intuito de aumentar a distância entre o agente agressor e o tecido pulpar.22 A estrutura da matriz dentinária depositada depende da atividade da lesão cario sa. Quanto mais ativa a lesão, mais irregular será a dentina terciária formada. 23 Essa dentina terciá ria apresenta túbulos, em geral, sinuosos e menos numerosos do que a dentina regular e, às vezes, completamente ausentes (Fig. 9.4C). Ela se carac teriza por ser mais calcificada e menos sensível que a dentina regular em decorrência da falta de continuidade do processo odontoblástico. Caso os odontoblastos sejam destruídos em decorrência dos agressores externos, eles são substituídos por células mesenquimais indiferenciadas que se dife renciam e secretam a matriz da dentina. Elas po- 296 dem não assumir a forma colunar e poligonal dos odontoblastos, mas uma aparência cúbica ou acha tada. A dentina resultante tem uma continuidade interrompida dos túbulos dentinários, mas exerce função de barreira contra a penetração de irritan tes externos.24 A inflamação pulpar deve ser entendida como uma resposta defensiva que tem por objetivo limi tar e eliminar o agente agressor. A inflamação acar reta alterações vasculares, como a vasodilatação e o aumento da permeabilidade vascular. A localização anatômica da polpa, alojada entre paredes duras e inelásticas, associada à falta de circulação colateral, são fatores que dificultam a expansão pulpar, que é observada a partir do aumento do fluxo sanguíneo (vasodilatação) e da permeabilidade vascular, re sultando no aumento da pressão pulpar. Na conges tão vascular, parte do líquido intersticial é impelido para fora, com o intuito da acomodar o aumento do fluxo sanguíneo. No primeiro momento, há o aumento do fluxo arterial (hiperemia arterial ou ativa) e no estágio seguinte ocorre diminuição do fluxo venoso (hiperemia venosa ou passiva), sur gindo a exsudação plasmática e a migração celular, caracterizando o quadro da inflamação aguda. A inflamação, no entanto, é um fenômeno bem mais complexo, controlado pela presença de mediadores químicos que atuam em estágios definidos e com funções específicas. A dor é consequência do au mento da pressão nos tecidos devido à hiperemia, ao edema e à liberação de agentes inflamatórios al gógenos (produtores de dor). Resumidamente, a polpa responde inicialmen te aos diferentes estímulos com formaç.ão de den tina. Se a intensidade e a frequência dos estímulos estiverem dentro da capacidade defensiva da pol pa, haverá inflamação com diferentes intensidades, porém, com potencial de reversibilidade do quadro inflamatório. Se a intensidade e a frequência da agressão estiverem acima da capacidade defensiva da polpa, haverá inflamação irreversível Esse qua dro inflamatório irreversível poderá levar a polpa à necrose. Os mecanismos de defesa do complexo denti na-polpa, mesmo quando eficientes na manuten ção da vitalidade, terão como consequência natu ral um processo de envelhecimento pulpar.25 Nesse caso, ocorre redução da celularidade, do número de vasos e nervos no tecido pulpar e, como consequ ência, diminuição da capacidade reparadora frente aos tratamentos conservadores, como capeamento, curetagem e pulpotomia, que serão descritos mais adiante. Nessas situações, o planejamento do caso deve incluir uma avaliação minuciosa da condição pulpar, a qual determinará o tratamento clínico a ser instituído. Avaliando a Condição Pulpar O diagnóstico da condição pulpar representa a base para a estruturação do tratamento, em especial quando a queixa principal do paciente relaciona-se à dor. A dor, por sua vez, é o motivo mais frequente que obriga o paciente a procurar por tratamento odontológico. Ela, portanto, é um referencial im portante para que o profissional possa chegar a um diagnóstico, uma vez que não existe correlação ní tida entre a sintomatologia clínica e os achados his topatológicos. Assim, os resultados histopatológi cos não podem ser extrapolados para as condições clínicas de tratamento. Por essa razão, atualmente, o diagnóstico é definido pelas condições clínicas (dor) do quadro patológico pulpar.26-28 O grande desafio ao reconhecer o fator etioló gico responsável pela origem do processo de dor nas estruturas bucais distingue a etapa do diagnós tico como fundamental no contexto do tratamento odontológico. 17 Para o diagnóstico da condição pul par não basta apenas o conhecimento das respos tas biológicas da polpa, mas também é necessária a interpretação das respostas frente à aplicação de estímulos destinados à observação clínica de seu estado. Assim, o diagnóstico da condição pulpar pode ser dividido em fases: anamnese, exame clíni co extra e intraoral, testes pulpares, testes comple mentares e exame radiográfico. Anamnese A anamnese representa o exame subjetivo rea lizado por meio da técnica do interrogatório do paciente, que direciona a investigação ao surgi mento dos sinais e sintomas envolvidos no proces so patológico. A história clínica deve ser coletada e registrada de maneira organizada, em forma de perguntas objetivas e definidas. A anarnnese envol- 9 Proteção do Complexo Dentina-Polpa ve a análise dos dados obtidos separadamente e in terpretados de modo associado para compor parte do processo de diagnóstico.17 A anarnnese é com preendida pela queixa principal, história da doença atual e pregressa da patologia em questão e história médica do paciente. Em alguns casos, a interação com o médico pode ser necessária para determi nar o estado geral e os medicamentos usados pelo paciente, assegurando planejamento e tratamento adequados. É fundamental perguntar ao paciente onde e quando a dor acontece, e se ela é contínua, pulsátil, espontânea ou provocada. Exame clínico extrabucal Um protocolo básico para o exame extrabucal sugere que o profissional observe o paciente quan do ele entra no consultório. Sinais de limitações físicas, assim como sinais de assimetria facial po dem estar presentes. Um exame visual deve ser re alizado para determinar se existem edema, fístulas extrabucais, lacerações, escoriações, cicatrizes, he matomas, etc. A palpação da face e do pescoço per mite ao profissional determinar se existe realmente edema e se o mesmo é localizado, difuso, firme ou flutuante (Fig. 9.6).27 Exame clínico intrabucal O exame clínico intrabucal representa o exame objetivo dos sinais que identificam uma determi nada doença. 17 A observação visual dos tecidos mo les e duros, associada à inspeção física (por meio de espelho clínico, sondas exploradora e periodontal) Fig. 9.6-Exame cl ínico extrabucal evidenciando fístu la de drenagem. 297 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica permite a identificação de lesões de cárie, fraturas coronárias e/ou radiculares, presença de fístulas, fraturas de restaurações, bolsas periodontais e ex posições pulpares. O exame clínico intrabucal não é conclusivo para se chegar a wn diagnóstico sobre a condição pulpar, devendo ser associado a outros testes clínicos (Fig. 9.7 A-D). Palpação A palpação permite determinar, a partir da per cepção tátil, a consistência e textura dos tecidos, a aderência, mobilidade e lisura, além de caracterizar a presença de respostas dolorosas frente a esse tipo de estímulo. Nos abscessos periapicais sem fístula, a palpação permite verificar o estágio de evolução (inicial, em evolução, evoluído) e se o mesmo apre senta ponto de flutuação (Fig. 9.8).17 Ao ser pres sionada, a região correspondente à lesão manifesta uma sensação dolorosa. Percussão A percussão consiste de um método no qual o profissional aplicaleves toques na coroa dentária com o auxilio do cabo do espelho clínico, no sentido vertical ou horizontal (Fig. 9.9A e B).28 Embora seja um teste simples, a percussão é importante para lo calizar de um dente responsável pela dor de origem endodôntica ou envolvido com dor à mastigação por contato prematuro, por exemplo. A resposta positiva à percussão vertical, ou seja, a presença de sensação dolorosa, pode estar associada com alte rações periapicais, enquanto a percussão horizontal pode estar associada com alterações periodontais. 19 Uma resposta positiva ao teste de percussão deve ser sempre confrrmada por testes de sensibilidade pulpar e exames radiográficos complementares. Sondagem periodontal e teste de mobilidade A sondagem periodontal permite avaliar a presença ou não de bolsas periodontais, exsudato gengival ou mesmo drenagem via sulco gengival O profissional deve realizar, sempre que necessá rio, o tratamento periodontal indicado para cada situação clínica. Para realizar este teste, devem-se utilizar sondas periodontais bem finas (Fig. 9.10A). Fig. 9.7 - Exame clín ico intrabucal observando-se visualmente os tecidos moles e duros. (A) Fístu la (seta); (B) dentes escu recidos associados à necrose pulpar; (C) lesões de cárie; (D) dente fraturado evidenciando um aspecto róseo da dentina, observando-se a polpa por transparência e indicando uma cavidade muito profunda. 298 Fig. 9.8 - Palpação da região periapical. 9 Proteção do Complexo Dentina-Polpa O teste de mobilidade dental também deve ser exe cutado durante a fase de exame intrabucal do pa ciente. Ele pode ser realizado pela palpação digital ou com o auxílio de instrumentos odontológicos (Fig. 9.lOB). Transiluminação Consiste na aplicação de uma luz intensa na su perfície lingual de um dente. Nos casos de trauma tismos dentários, a transiluminação é importante no diagnóstico de fraturas ou trincas (Fig. 9.11). Nos dentes com polpa necrótica, em geral a sombra da câmara pulpar aparece mais escura em relação à coroa dentária, devido à decomposição do tecido pulpar. Nos dentes com polpa viva, essa diferença não é muito evidente. Fig. 9.9 - (A) Percussão vertical com o cabo de um espelho; (B) percussão horizontal. Fig. 9.1 o - (A) Sondagem periodontal; (Bl teste de mobilidade. 299 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica Fig. 9.1 1 - Transiluminação evidenciando trincas na coroa dentária. Testes de sensibilidade pulpar A sensibilidade pulpar pode ser avaliada em pregando testes térmicos (frio e calor) e/ou elé tricos. Os testes de sensibilidade pulpar auxiliam na diferenciação dos dentes com polpas normais daqueles com polpas alteradas patologicamente, principalmente nos casos de necrose pulpar, quan do outros dentes são utilizados como controle. Estudos clínicos foram realizados para avaliar os testes térmicos ao frio e elétrico na determinação da vitalidade pulpar.29 Foi verificado que 97% dos dentes que responderam positivamente aos testes apresentavam vitalidade pulpar, verificada através de inspeção visual direta da câmara pulpar. Entre tanto, os resultados dos testes de sensibilidade tér mica devem ser interpretados com cautela, pois embora sejam métodos não invasivos, indolores, objetivos, de custo acessível e reproduzíveis, estes testes monitoram indiretamente a vitalidade pul par através da avaliação da resposta nervosa pulpar e não do sistema de suprimento vascular.30 Os tes tes térmicos têm valor limitado para o diagnóstico da condição pulpar em dentes com formação ra dicular incompleta e forame apical amplo. Nestes casos, para o diagnóstico correto, deve-se conside rar a presença de sintomas de pulpite irreversível ou periodontite apical, sinais clínicos de infecção periapical que incluem edema, sensibilidade à per cussão, mobilidade e fístula, perda óssea detectável radiograficamente, reabsorção radicular progressi va e atraso no desenvolvimento radicular quando comparado com os dentes adjacentes.31 300 Entendendo que as alterações inflamatórias pulpares relacionam-se a alterações vasculares, agentes que promovam mudanças nas mesmas, como vasoconstrição ou vasodilatação, são capa zes de induzir estímulos nas terminações nervo sas, caracterizando um possível estado clínico do tecido (normal ou inflamado, porém vital). Entre tanto, diversos agentes são capazes de estimular a sensibilidade nas terminações nervosas, o que não certifica necessariamente que o dente esteja com vitalidade. As fibras nervosas são as últimas a en trarem em degeneração e, nos dentes com necrose pulpar, pode ocorrer sensibilidade quando elas são estimuladas.17 Teste de sensibilidade pulpar ao frio A estimulação térmica com o frio pode ser rea lizada com bastão de gelo, cloreto de etila (Endo Ice - Hygienic), gases refrigerantes (diclorodiflu orometano, tetrafluoretano) ou dióxido de carbo no (neve carbônica) (Fig. 9.12A e B). Estes agentes promovem decréscimos da temperatura intrapul par, estimulando terminações nervosas pulpares a partir das alterações vasculares (vasoconstriç.ão), gerando dor. Quanto maior a redução da tempera tura, maior o estímulo. 17 Na aplicação do teste de sensibilidade ao frio, deve-se utilizar isolamento relativo, sendo o teste realizado, inicialmente, nos dentes adjacentes ou até análogos ao dente em questão, de posterior para anterior, na face vestibular, para depois ser realizado no dente suspeito de alteração. O tempo de aplicação do teste ao frio pode variar de 1 a 4 segundos.17 • 28 A ausência de resposta dolorosa após a aplicação do estímulo térmico pode indicar que a polpa está necrosada. Teste de sensibilidade pulpar ao calor No teste térmico realizado com calor, emprega -se geralmente o bastão de guta-percha aquecido, aplicado sobre a superfície vestibular dos dentes anteriores e superfície oclusal dos posteriores. 28 Neste teste, é difícil controlar com exatidão a tem peratura e a extensão da aplicação. É importante que, antes da aplicação, o dente seja lubrificado com saliva ou vaselina para que a guta-percha não permaneça aderida à superfície dentária. No caso de resposta positiva, o calor deve ser removido imediatamente. Deve-se evitar calor excessivo e prolongado sobre o dente, o que poderá ocasionar alterações pulpares irreversíveis (Fig. 9.13A e B).32 O teste de sensibilidade pulpar ao frio não agrava a situação de uma polpa normal ou in flamada. O contrário pode ser observado com o teste ao calor, não sendo portanto aplicado como rotina em polpas com características de normalidade.17 O teste de sensibilidade ao calor é empregado em situações onde se requer o es tabelecimento de um diagnóstico diferencial, em que o dente com sintomatologia não é facilmente identificado. Em função do calor promover vaso dilatação, nos dentes com inflamação pulpar sin tomática, dependendo da extensão do processo, a resposta dolorosa com o calor pode torna-se intensa e imediata. 9 Proteção do Complexo Dentina-Polpa Teste elétrico O teste elétrico possibilita a avaliação da res posta pulpar a partir da estimulação elétrica sobre as fibras nervosas presentes na polpa. O objetivo deste teste é estimular a sensibilidade pulpar, po rém, assim como com os testes térmicos, não per mite a obtenção de informações sobre o suprimen to sanguíneo, fator determinante da vitalidade.17 Os aparelhos elétricos utilizados para testes de sensibilidade pulpar empregam diferentes tipos de corrente elétrica, sendo a de alta frequência a mais adequada, cuja graduação pode ser regula da de modo contínuo. A resposta positiva ao teste elétrico é percebida pelo paciente como sensação de calor ou "formigamento'; que desaparece após a remoção do eletrodo (Fig. 9.14).28 A ausência de resposta ao teste elétrico, nos casos de polpa vital, Fig. 9.12-Teste de sensibilidade pulpar ao frio. (A) Aplicação do spray refrigerante Endo-Frost(Roeko) em uma bolinha de algodão; (B) toque da bolinha congelada no dente a ser aval iado. Fig. 9.13 - Teste de sensibilidade pulpar ao calor. (A) Aquecimento de um bastão de guta-percha sobre a chama; (B) toque do bastão no dente a ser testado. 301 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica Fig. 9.14 - Aparelho para teste elétrico (Digitest Pulp Tes te,, Parkell lnc.) pode indicar resposta falso-negativa, como nos ca sos de dentes traumatizados, calcificações do ca nal radicular, rizogênese incompleta, pacientes que fizeram uso de analgésicos/tranquilizantes ou até defeitos no próprio aparelho.33·35 Teste de sensibilidade pelo preparo de cavidade O objetivo do teste de cavidade é avaliar a pre sença de resposta dolorosa durante a remoção de dentina. Deve ser empregado se ainda houver dú vida ou resultados inconclusivos sobre a condição pulpar, após o uso do teste de sensibilidade ao frio. Neste teste, a dentina exposta por uma cavidade de cárie é removida com escavadores ou brocas de grande diâmetro, sem o uso de anestesia. A au sência de resposta dolorosa pode indicar necrose pulpar.28 Exame radiográfico O exame radiográfico é um recurso comple mentar utilizado para o diagnóstico da condição pulpar, que permite a avaliação das estruturas mi neralizadas do dente e das regiões apical e periapi caL Entretanto, em algumas situações, a aparência radiográfica de um processo patológico pode ser muito subjetiva. Assim, a imagem radiográfica deve ser utilizada apenas como um método importan te, mas complementar para auxiliar o diagnóstico. Quando não associada à anarnnese, exame clínico e testes de sensibilidade pulpar, a radiografia isola damente pode induzir uma interpretação equivo cada sobre a normalidade ou doença. 302 Vários fatores podem influenciar na qualidade da interpretação radiográfica, incluindo habilidade do clínico na tomada radiográfica, qualidade do fil me, qualidade da fonte de exposição, qualidade de processamento do filme e a forma como a radio grafia é visualizada. Controlar todas essas variáveis pode ser um desafio difícil, mas é indispensável para se obter uma interpretação radiográfica aceitável. 27 Além da radiografia convencional, podem ser obtidas imagens digitais diretas com sensores intra bucais. A radiografia digital não utiliza filmes e não necessita de processamento químico. Um sensor é utilizado para capturar a imagem originada pela fonte de radiação. Este sensor é acoplado direta ou indiretamente a um computador, que interpreta o sinal, e utilizando um software específico, transfor ma o sinal em uma imagem digital que pode ser exibida e melhorada. A imagem é armazenada e pode ser revisada quando necessário. A qualida de diagnóstica da radiografia digital mostrou-se comparável, mas não necessariamente superior, ao filme radiográfico convencional exposto e proces sado corretamente. 36 • 37 A condição pulpar exata, entretanto, não pode ser evidenciada nem pelo exame radiográfico con vencional nem digital. Nos casos de alterações pul pares reversíveis e irreversíveis, o exame radiográ fico poderá evidenciar a presença de cáries, restau rações com problemas, etc. Entretanto, deve mos trar o periodonto apical com aspecto normal e/ou ligeiramente espessado, com lâmina dura intacta.28 Na presença de necrose, o exame pode mostrar o rompimento da lâmina dura e a presença de lesões periapicais. Estabelecendo as Hipóteses de Diagnóstico O diagnóstico deve ser entendido como um processo dinâmico, realizado com etapas integra das (exames subjetivo e objetivo, testes clínicos e complementação radiográfica). Finalizada a fase inicial de avaliação, o profissional deve estabelecer hipóteses de diagnóstico, interpretando os dados obtidos para planejar e executar o tratamento. O tratamento a ser instituído (conservador ou radi cal) será fundamentado no diagnóstico da condição pulpar, ou seja, avaliando se a polpa apresenta vita lidade ou não. A dor odontogênica pode ter basicamente três origens: dentina exposta, inflamação pulpar e infla mação periapicaL Algumas características clínicas da dor colaboram durante o estabelecimento das hipóteses de diagnóstico. Dentre elas, destacam-se o local da dor, o surgimento, a duração, a frequên cia e a intensidade da dor. A dor dentinária é geral mente aguda e localizada, provocada por estímulos específicos, como mecânicos (toque), físicos (frio ou calor), químicos (ácidos), osmóticos (açúcar) e desidratação.4 A dor é provocada pela condução do estímulo através da dentina, pela movimentação do líquido dentro dos túbulos, criando forças de ci salhamento na parte mais interna dos túbulos den tinários, e desaparece assim que o agente causador é removido. Os mecanorreceptores detectam esses movimentos levando à geração de um potencial de ação e, consequentemente, à percepção da dor. 38 O diagnóstico da dor de origem pulpar em ge ral é mais complexo. A dor de origem pulpar pode ser difusa (referida ou reflexa), espontânea e pulsá til, dificultando a localização exata do dente com prometido. O relato de dor espontânea descarta quase sempre a possibilidade de a polpa apresentar características de alteração reversível à normali dade. Sendo assim, as alterações pulpares patoló gicas agudas podem ser classificadas, apenas com o objetivo de indicação clínica de tratamento, em pulpite aguda reversível (tratamento conservador indicado) e pulpite aguda irreversível (tratamento radical indicado).28 A proteção ao complexo dentina-polpa, enten dido como tratamento conservador, estará indica da apenas nos casos onde a polpa apresentar sinais de alterações patológicas reversíveis. Nesses casos, a dor é aguda, de natureza provocada, em geral lo calizada, com duração não superior a um minuto, cessando após a remoção do estímulo. O tratamen to indicado é conservador, realizando-se o capea mento indireto ou direto, conforme explicado mais adiante.28 Nos casos de pulpites agudas irreversíveis a dor é aguda, de natureza espontânea, geralmente in tensa e pulsátil, de longa duração, às vezes poden do ser difusa e/ou reflexa. O tratamento indicado é radical, através da biopulpectomia. Nos dentes 9 Proteção do Complexo Dentina-Polpa com rizogênese incompleta, mesmo na presença de uma alteração com características de irreversi bilidade, estará indicada a pulpotomia, que é a re moção apenas da polpa coronária, permitindo que a rizogênese ocorra até o final. 28 A pulpite aguda irreversível poderá evoluir lentamente para uma pulpite crônica. Esta alteração pulpar é geralmente observada em pacientes jovens, resultante de uma irritação de baixa intensidade e longa duração, sobre uma polpa com grande resistência. Clinica mente, podem ser observados dois tipos de pulpites crônicas: pulpite crônica ulcerada e pulpite crônica hiperplásica. A pulpite crônica ulcerada é carac terizada por apresentar uma úlcera na superfície exposta da polpa, isolando o remanescente pulpar por meio de uma barreira de tecido ulcerado e por células de defesa. A dor, em geral, é provocada, localizada, manifestada pela compressão de ali mentos na cavidade de cárie ou em uma restaura ção insatisfatória. O tratamento indicado é radical através da biopulpectomia. Nos dentes com rizo gênese incompleta, estará indicada a pulpotomia.28 A pulpite crônica hiperplásica é caracterizada pela proliferação de um tecido granulomatoso no nível da exposição pulpar, denominado pólipo pulpar. A dor geralmente é provocada, localizada, manifesta da pela compressão de alimentos durante a masti gação. O tratamento indicado é a biopulpectomia. Nos dentes com rizogênese incompleta estará indi cada a pulpotomia. 28 As pulpites aguda e crônica, dependendo da condição pulpar e da intensidade do agente agressor, poderão evoluir lenta ou rapidamente para a morte da polpa. A necrose pulpar é geralmenteassinto mática, podendo ocorrer alteração de cor da coroa dentária. Geralmente, não há resposta aos testes de sensibilidade pulpar, mas, nos casos duvidosos, o teste de preparo de cavidade deve ser realizado. O tratamento indicado é a necropulpectomia. Fatores que podem Promover Alterações Pulpares No passado, acreditava-se que as causas prin cipais de inflamação pulpar eram os efeitos tóxi cos dos materiais restauradores. Contudo, a partir da metade da década de 1970, diversas pesquisas 303 Odontologia Restauradora Estética e Funcional: Princípios para a Prática Clínica demonstraram que a polpa pode tolerar uma varie dade de materiais restauradores se as bactérias não estiverem presentes, dependendo obviamente do tipo de material e se ele está ou não em contato di reto com o tecido pulpar. 39 Sendo assim, a principal causa de respostas pulpares é a invasão bacteriana e suas toxinas nos tecidos pulpares, principalmen te pela falta de selamento marginal e dos túbulos dentinários cortados durante o preparo. 40 Contudo, o contato direto de materiais que apresentam cito toxicidade e capacidade imunossupressora com o tecido pulpar contribui para a manutenção da infla mação tecidual. 30 Materiais cito tóxicos provocarão respostas que podem destruir determinadas células pulpares, reduzindo sua capacidade de responder a uma invasão bacteriana futura. 39 Diversos fatores como cárie, preparo cavitário, traumatismo oclusal, procedimentos operatórios, microinfiltração marginal, além de componentes resinosos que possam atingir a polpa, também apresentam capacidade de promover alterações pulpares e serão discutidos a seguir.390 diagnóstico correto da condição pulpar e o conhecimento dos fatores que podem promover alterações pulpares, isoladamente ou em conjunto, são fundamentais para realizar procedimentos que possam permitir a manutenção da vitalidade do tecido pulpar e a promoção da saúde, através da limitação do dano e da reabilitação. Lesões por cárie A doença cárie promove alterações na polpa através da difusão de bactérias e seus subprodutos pelos túbulos dentinários. O grau de lesão pulpar é determinado pelas características do paciente (ida de, risco de cárie e potencial de resposta sistémica) e pelas características da lesão (profundidade da cavidade, grau de comprometimento da estrutu ra dentária e grau de mineralização da dentina).4 1 Para tanto, a manutenção da maior quantidade de dentina separando o tecido pulpar após a remoção de esmalte e dentina comprometidos pela lesão por cárie é de suma importância, pois a manutenção da vitalidade pulpar após a instrumentação da dentina em dentes assintomáticos e bem selados, mesmo com cárie residual sem exposição pulpar, é exce lente.39 304 Preparo dental Para a realização de preparos dentais, são uti lizados instrumentos cortantes rotatórios em tur binas de alta ou baixa rotação, laser ou jato de ar abrasivo com partículas de óxido de alumínio.42 Esses instrumentos são capazes de gerar calor em maior ou menor grau, podendo resultar em altera ções no tecido pulpar pelo aquecimento, causan do sensibilidade pós-operatória.43 De acordo com Zach & Cohen, o aumento de temperatura no teci do pulpar não pode ser superior a 5,SºC acima da temperatura corpórea, pois existe risco mais alto de ocorrência de alterações irreversíveis e necrose pulpar.44 Estudos verificaram que existe movimen tação de fluido dentinário, tanto em direção ao tecido pulpar como em direção à superfície den tinária pela ação dos instrumentos cortantes rota tórios, como resultado do aquecimento gerado por instrumentos inadequadamente irrigados ou com desidratação excessiva com jatos de ar.45•46 A pressão aplicada pelo profissional sobre as turbinas durante o preparo cavitário também pode gerar mais calor.47 O aumento da pressão aplicada pode ser resultado da sensibilidade manual e técni ca do profissional que realiza o preparo, estresse do profissional e deficiência de corte dos instrumen tos cortantes rotatórios.43 Para minimizar o trau matismo ao tecido pulpar em decorrência do pre paro cavitário, instrumentos cortantes rotatórios novos devem ser empregados, associado à refrige ração abundante; menos pressão de corte e força intermitente devem ser aplicadas, além de evitar a secagem intempestiva do preparo, utilizando boli nhas de algodão, papéis absorventes ou jatos de ar intermitentes, indiretos e não direcionados à den tina exposta.41 O uso de instrumentos rotatórios desbalanceados e excêntricos promovem maior aquecimento fricciona! por vibração, devendo ser substituídos ou reparados.7.41 Traumatismo oc/usa/ Restaurações com contatos oclusais exagera dos transferem a carga mastigatória para o dente, comprimindo de maneira anormal o ligamento periodontal, provocando inflamação periapical e dor. 41 Clinicamente, a dor é localizada e pulsátil, 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367 368 369 370 371 372 373 374 375 376 377 378 379 380 381 382 383 384 385 386 387 388 389 390 391 392 393 394 395 396 397 398 399 400 401 402 403 404 405 406 407 408 409 410 411 412 413 414 415 416 417 418 419 420 421 422 423 424 425 426 427 428 429 430 431 432 433 434 435 436 437 438 439 440 441 442 443 444 445 446 447 448 449 450 451 452 453 454 455 456 457 458 459 460 461 462 463 464 465 466 467 468 469 470 471 472 473 474 475 476 477 478 479 480 481 482 483 484 485 486 487 488 489 490 491 492 493 494 495 496 497 498 499 500 501 502 503 504 505 506 507 508 509 510 511 512 513 514 515 516 517 518 519 520 521 522 523 524 525 526 527 528 529 530 531 532 533 534 535 536 537 538 539 540 541 542 543 544 545 546 547 548 549 550 551 552 553 554 555 556 557 558 559 560 561 562 563 564 565 566 567 568 569 570 571 572 573 574 575 576 577 578 579 580 581 582 583 584 585 586 587 588 589 590 591 592 593 594 595 596 597 598 599 600 601 602 603 604 605 606 607 608 609 610 611 612 613 614 615 616 617 618 619 620 621 622 623 624 625 626 627 628 629 630 631 632 633 634 635 636637 638 639 640 641 642 643 644 645 646 647 648 649 650 651 652 653 654 655 656 657 658 659 660 661 662 663 664 665 666 667 668 669 670 671 672 673 674 675 676 677 678 679 680 681 682 683 684 685 686 687 688 689 690 691 692 693 694 695 696 697 698 699 700 701 702 703 704 705 706 707 708 709 710 711 712 713 714 715 716 717 718 719 720 721 722 723 724 725 726 727 728 729 730 731 732 733 734 735 736 737 738 739 740 741 742 743 744