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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA , Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2013 
 
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MUCOCELE EM CÃES 
 
Fernanda Gosuen Gonçalves Dias1, Lucas de Freitas Pereira2, Juliana Santilli3, 
Geórgia Modé Magalhães4, Luis Gustavo Gosuen Gonçalves Dias5 
 
1 Mestre em Medicina Veterinária de Pequenos Animais e Especialista em 
Odontologia Veterinária, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil 
2 Mestre em Medicina Veterinária, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, 
Brasil 
3 Discente do Programa de Aprimoramento em Medicina Veterinária de Pequenos 
Animais, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil 
4 Profa. Dra. do Programa de Mestrado em Medicina Veterinária de Pequenos 
Animais, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil 
5 Prof. Dr. do Programa de Mestrado em Medicina Veterinária de Pequenos Animais, 
Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil 
e-mail do autor: fernandagosuen@yahoo.com.br 
Recebido em: 06/05/2013 – Aprovado em: 17/06/2013 – Publicado em: 01/07/2013 
 
RESUMO 
As mucoceles, lesões pseudocísticas benignas, são causadas por obstrução e/ou 
rompimento de glândulas salivares e de seus ductos excretores correspondentes, as 
quais causam extravasamento e retenção de saliva no tecido conjuntivo adjacente. 
Na maioria das vezes, a etiologia é traumática. Os pacientes acometidos podem 
ficar assintomáticos ou apresentar sinais clínicos diversos. O diagnóstico definitivo é 
obtido pela aspiração citológica da região afetada. O tratamento de escolha é a 
remoção cirúrgica da glândula salivar e obliteração por ligadura do ducto envolvido, 
evitando recidivas e proporcionando prognóstico favorável ao paciente. Diante da 
ocorrência incomum em cães, o presente trabalho tem como objetivo apresentar 
uma revisão literária sobre o aparecimento de mucocele nessa espécie, discutindo 
os aspectos etiológicos, sinais clínicos, diferentes localizações de ocorrência, meios 
de diagnóstico e opções de tratamento. 
PALAVRAS-CHAVE : glândula salivar, pequenos animais, sialocele. 
 
 
MUCOCELE IN DOGS 
 
ABSTRACT 
Mucoceles, benign lesions pseudocystic, are caused by obstruction and/or rupture of 
the salivary glands and excretory ducts corresponding, which cause extravasation 
and retention of saliva in the adjacent tissue. In most cases, the etiology is traumatic. 
Affected patients may be asymptomatic or present different clinical signs. Definitive 
diagnosis is obtained by aspiration cytology of the affected region. The treatment of 
choice is surgical removal of the salivary gland and obliteration by duct ligation 
involved, avoiding relapses and providing favorable prognosis for the patient. Given 
the unusual occurrence in dogs, this paper aims to present a literature review on the 
VOU USAR PRA DIAGNOSTICO EM DIANTE)
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA , Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2013 
 
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appearance of mucocele in this species, discussing the etiological, clinical signs, 
different locations of occurrence, diagnostics and treatment options. 
KEYWORDS: salivary gland, small animals, sialocele. 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 Os cães possuem inúmeras glândulas salivares menores distribuídas ao 
longo de toda a cavidade oral (lábios, bochecha, língua, palato, faringe e esôfago) e 
quatro pares de glândulas maiores, são elas: as parótidas, sublinguais, zigomáticas 
e submandibulares (WIGGS & LOBPRISE, 1997; GIOSO, 2003; PIGNONE et al., 
2009). A parótida, glândula serosa, possui anatomia triangular e localiza-se próxima 
ao conduto auditivo dos cães. A sublingual localiza-se abaixo da língua; próximo ao 
ramo horizontal da mandíbula. A glândula zigomática, também conhecida como 
orbitária, é ovoide e irregular, relacionando-se aos músculos masséter e temporal e 
ao arco zigomático. A mandibular é grande e ovoide, estendendo-se da fossa 
atlantal até o osso basi-hióide, sendo parcialmente recoberta pela parótida (WIGGS 
& LOBPRISE, 1997; ANDRADE et al., 2011). 
As glândulas salivares maiores produzem saliva; a qual é transportada até a 
boca pelos ductos excretores específicos de cada glândula (GIOSO, 2003). A saliva 
possui a função de atuar no processo digestivo dos alimentos, além de higienização, 
umidificação, lubrificação e imunização oral (WIGGS & LOBPRISE, 1997; FOSSUM, 
2002). 
As moléstias das glândulas salivares são infrequentes em cães 
(VALLEFUOCO et al., 2011; FERNANDES et al., 2012; KAZEMI et al., 2012), 
apresentando uma baixa incidência nessa espécie de aproximadamente 0,3% 
(ANDRADE et al., 2011). Dentre elas, as mucoceles, também denominadas de 
sialoceles, higroma salivar, cistos salivares ou cistos melíferos (FOSSUM, 2002) são 
afecções benignas (KAISER et al., 2008; ANDRADE et al., 2011) oriundas de 
obstruções (parciais ou totais) ou rupturas das glândulas salivares ou de seus ductos 
correspondentes, causando extravasamento e acúmulo de saliva no tecido 
conjuntivo adjacente (FISCH et al., 2008; PIGNONE et al., 2009; ATA-ALI et al., 
2010; GAHIR et al., 2011; PEREIRA & MALM, 2011; FERNANDES et al., 2012; 
KAZEMI et al., 2012). A saliva extravasada induz reação inflamatória nos tecidos 
vizinhos (CRIVELLARO et al., 2007) e para que o conteúdo salivar extravasado não 
atinja outros locais, forma-se um tecido de granulação circundando-o (ATA-ALI et al., 
2010) e por essa razão, a mucocele é caracterizada como um pseudocisto 
(FOSSUM, 2002; CRIVELLARO et al., 2007; MENEZES et al., 2012). 
São caracterizadas por aumento de volume progressivo e regular, uni ou 
bilateral (Figuras 1 e 2), de tamanhos distintos, não aderido, circunscrito, não 
invasivo, superfície lisa, indolor à palpação, hipertérmicos ou não, flutuante e 
flácidos (WIGGS & LOBPRISE, 1997; VALLEFUOCO et al., 2011) e revestido por 
epitélio pseudoestratificado (GIOSO, 2003). 
Podem ser formadas na região cervical ventral, sublingual, faríngea, parotídea 
ou zigomática, de acordo com a glândula e ducto salivar afetado (FOSSUM, 2002; 
RAHAL et al., 2007; KAISER et al., 2008; ANDRADE et al., 2011; GAHIR et al., 
2011; PEREIRA & MALM, 2011; KAZEMI et al., 2012; MENEZES et al., 2012). Em 
um mesmo animal pode ocorrer mais de um tipo de mucocele concomitantemente, 
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sendo denominadas de mucoceles complexas (ANDRADE et al., 2011). Em 
pacientes humanos, o local mais acometido é a superfície do lábio inferior 
(CRIVELLARO et al., 2007), por serem as glândulas salivares menores mais 
acometidas (ATA-ALI et al., 2010). 
Em cães e gatos, quando localizadas na região sublingual, as mucoceles são 
denominadas de rânulas (Figura 3) (RAHAL et al., 2007; ATA-ALI et al., 2010). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 1 Imagem fotográfica de cão demonstrando mucocele 
na região cervical ventral direita (seta vermelha) 
(Fonte: Arquivo pessoal, 2009). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 2. Imagem fotográfica de cão demonstrando 
mucocele bilateral na região cervical 
ventral (Fonte: Arquivo pessoal, 2012). 
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FIGURA 3. Imagem fotográfica de cavidade oral de felino demonstrando presença 
de rânula (seta vermelha) (Fonte: Arquivo pessoal, 2012). 
Na maioria das vezes, quando a glândula zigomática é afetada, a saliva 
acumula-se na região ventral do globo ocular (ANDRADE et al., 2011), porém essa 
ocorrência é rara (KAZEMI et al., 2012). 
As mucoceles possuem etiologia infecciosa, traumática (após cirurgias 
glandulares, auto mordiscamentos linguais, feridas por mordedura, uso de 
enforcadores ou coleiras apertadas, acidentes balísticos, fornecimento de osso na 
alimentação) (GHOREISHIAN & GHEISSARI, 2009; GAHIR et al., 2011), neoplásica, 
idiopática ou obstrutiva por cálculos mineralizados (sialólitos) (WIGGS & LOBPRISE, 
1997; DUMPIS& FELDMANE, 2001; GIOSO, 2003; FISCH et al., 2008; KAISER et 
al., 2008; ATA-ALI et al., 2010; FERNANDES et al., 2012). Alguns autores (KAZEMI 
et al., 2012) também relataram que a dirofilária pode estar envolvida na etiologia das 
mucoceles. 
Em humanos, acredita-se que podem estar correlacionadas com indivíduos 
portadores do vírus da AIDS (ANDRADE et al., 2011). 
Os pacientes acometidos podem ficar assintomáticos ou apresentar sinais 
clínicos diversos, dependendo da glândula acometida. Os pacientes com rânula 
apresentam dificuldade de apreensão dos alimentos, disfagia, movimentos anormais 
da língua, hemorragias e hematomas orais e anorexia (FOSSUM, 2002; ANDRADE 
et al., 2011). O desconforto respiratório, irritabilidade e disfagia são comuns em cães 
com mucocele faringeana (GIOSO, 2003). Sinais oculares como exoftalmia, 
estrabismo divergente e inchaço periocular são encontrados em caninos com 
mucocele zigomática (BARTOE et al., 2007). 
Não há predisposição sexual e racial em cães (FERNANDES et al., 2012), 
porém os poodles, pastores alemães (PIGNONE et al., 2009; MENEZES et al., 
2012), yorkshires e dachshunds são os mais comumente afetados (FOSSUM, 2002; 
ANDRADE et al., 2011). Os poucos casos relatados na espécie felina foram de 
animais sem raça definida (RAHAL et al., 2007). 
Em humanos, o sexo feminino é o mais afetado e a maioria dos casos 
relatados são de pacientes adultos jovens e crianças (CRIVELLARO et al., 2007; 
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KAISER et al., 2008; ATA-ALI et al., 2010). 
 O diagnóstico é baseado no histórico do paciente, exame físico (palpação 
glandular e do aumento de volume) e análise do material obtido por punção 
aspirativa do local intumescido (GIOSO, 2003; BARTOE et al., 2007; ATA-ALI et al., 
2010; PEREIRA & MALM, 2011; VALLEFUOCO et al., 2011; KAZEMI et al., 2012). 
Normalmente, o conteúdo aspirado é definitivo para o diagnóstico por ser viscoso, 
espesso, translúcido, de coloração amarelo-palha à avermelhada e com aspecto de 
saliva. A análise citológica, normalmente demonstra diversos macrófagos 
vacuolizados e células gigantes e polimorfonucleares, sugerindo inflamação 
granulomatosa com escassa celularidade (ANDRADE et al., 2011). 
Dependendo do tamanho da mucocele, não é possível afirmar clinicamente o 
lado da glândula salivar afetada (PIGNONE et al., 2009); aconselha-se inspecionar o 
paciente em decúbito dorsal, na tentativa de que o aumento de volume tenda para o 
lado do comprometimento, mas nem sempre isso ocorre (FOSSUM, 2002; GIOSO, 
2003). Em contrapartida, a sialografia utilizando contraste hidrossolúvel iodado no 
interior do ducto salivar (aproximadamente 0,5 a 1,5 mililitros), com o auxílio de 
cânulas e cateteres, é útil para determinar com exatidão o lado acometido (DUMPIS 
& FELDMANE, 2001; GIOSO, 2003; GHOREISHIAN & GHEISSARI, 2009; 
ANDRADE et al., 2011; VALLEFUOCO et al., 2011). 
Para verificar a presença de sialólitos (Figura 4), corpos estranhos ou 
nodulações nas glândulas salivares indicam-se raios-x simples da região afetada 
(GIOSO, 2003; PIGNONE et al., 2009). Normalmente, os exames laboratoriais 
encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade para a espécie (WIGGS & 
LOBPRISE, 1997; FOSSUM, 2002). 
 
FIGURA 4. Imagem radiográfica látero lateral de cão demonstrando 
presença de inúmeros sialólitos (setas vermelhas) na 
região cervical ventral (Fonte: Arquivo pessoal, 2009). 
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De acordo com BARTOE et al., (2007), ATA-ALI et al., (2010) e ANDRADE e 
colaboradores (2011), as sialoadenites, hiperplasia fibrosa, neoplasias salivares, 
corpos estranhos, hematomas, cistos e abscessos devem ser incluídos no 
diagnóstico diferencial das mucoceles. 
 O tratamento conservador é baseado na drenagem do conteúdo salivar 
acumulado no tecido subcutâneo (GAHIR et al., 2011), com agulha estéril de amplo 
calibre (WIGGS & LOBPRISE, 1997; VALLEFUOCO et al., 2011); mas apesar de ser 
um procedimento pouco invasivo, a recidiva é comum nestes casos (RAHAL et al., 
2007; FISCH et al., 2008) e por causar fibrose e abscedação pode dificultar o 
procedimento cirúrgico subsequente (FOSSUM, 2002). Outro fator que desfavorece 
o ato cirúrgico por causar fibrose é a irrigação interna da mucocele com tintura de 
iodo após a drenagem salivar (DUMPIS & FELDMANE, 2001; ANDRADE et al., 
2011; KAZEMI et al., 2012). 
No tratamento cirúrgico indica-se a ressecção da glândula salivar 
comprometida (sialoadenectomia) (Figura 5) (WIGGS & LOBPRISE, 1997; FISCH et 
al., 2008; VALE et al., 2009; MENEZES et al., 2012), além de obliteração do ducto 
salivar correspondente (DUMPIS & FELDMANE, 2001; GIOSO, 2003; ANDRADE et 
al., 2011), com o animal sob anestesia geral inalatória (FOSSUM, 2002). ANDRADE 
e colaboradores (2011) sugerem fazer ressecção bilateral glandular, quando não for 
possível definir exatamente o lado afetado. 
 
 
 
 
FIGURA 5. Imagem fotográfica demonstrando mucocele (seta 
vermelha) e glândula parótida (seta amarela) de cão, 
após remoção cirúrgica (Fonte: Arquivo pessoal, 
2009). 
 
DUMPIS & FELDMANE (2001) relataram que o acesso cirúrgico intra-oral é 
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mais difícil quando comparado com o extraoral. Este último inicia-se com a incisão 
ampla da pele e subcutâneo na região do aumento de volume e posterior secção do 
músculo platisma para tentar identificar a cápsula da glândula afetada do lado 
acometido (GIOSO, 2003). O lado afetado apresenta um túnel em direção ao local 
do vazamento salivar (FOSSUM, 2002). Após isolamento glandular deve-se realizar 
sialoadenectomia e remoção do ducto salivar, com cautela para não lesar nenhum 
nervo e vaso sanguíneo importante que possam estar aderidos nas estruturas 
acometidas (PIGNONE et al., 2009; KAZEMI et al., 2012). No final do procedimento, 
indica-se a colocação de dreno de Penrose, que deve ser mantido por até cinco dias 
(FOSSUM, 2002) e sutura com fio absorvível e pontos simples separados no 
músculo e tecido subcutâneo; a pele é suturada com fio inabsorvível em padrão de 
sutura simples ou interrompida (GIOSO, 2003). Se possível, a região operada deve 
ser protegida com bandagem compressiva para evitar a formação de seromas 
(ANDRADE et al., 2011). 
Outra opção cirúrgica é a marsupialização de glândulas sublinguais (GIOSO, 
2003; PIGNONE et al., 2009), a qual permite o extravasamento do conteúdo mucoso 
para o interior da cavidade oral após sutura do epitélio do ducto salivar ao bucal 
(WIGGS & LOBPRISE, 1997); porém o índice de recidiva é alto, principalmente 
quando o tempo de evolução da rânula é extenso (KAISER et al., 2008; PEREIRA & 
MALM, 2011). Segundo FOSSUM (2002), o local operado cicatriza por segunda 
intenção. 
 As complicações mais frequentes das sialoceles incluem infecções, seromas, 
recidivas (FOSSUM, 2002; VALE et al., 2009; PEREIRA & MALM, 2011) e edema 
facial (GIOSO, 2003). 
 Na maioria das vezes, o prognóstico após o tratamento cirúrgico é favorável 
(ANDRADE et al., 2011; VALLEFUOCO et al., 2011). 
 
DISCUSSÃO 
 
 A mucocele é uma afecção de glândulas salivares que afeta mais 
frequentemente a espécie canina do que a felina (FOSSUM, 2002; RAHAL et al., 
2007; PIGNONE et al., 2009), sendo que nesta última há poucos casos relatados na 
literatura (VALLEFUOCO et al., 2011). Podem ser formadas em diferentes locais 
(FOSSUM, 2002; RAHAL et al., 2007; KAISER et al., 2008; ANDRADE et al., 2011; 
PEREIRA & MALM, 2011; KAZEMI et al., 2012; MENEZES et al., 2012), porém a 
maioria dos cães apresentam mucoceles cervicais (FOSSUM, 2002). 
 Mesmo apresentando inúmeros fatores etiológicos (GHOREISHIAN; 
GHEISSARI, 2009; GAHIR et al., 2011), a causa das mucoceles nem sempre é 
possível de ser estabelecida nos cães (KAZEMI et al., 2009). 
 O aumento de volumedecorrente da mucocele é macio, flutuante e regular; 
em contrapartida as neoplasias são geralmente firmes e irregulares (FOSSUM, 
2002). 
 Em alguns casos, os pacientes com mucocele faringeana necessitam ser 
intubados para minimizar a angústia respiratória; porém essa intubação nem sempre 
é possível ser realizada pela boca, sendo indicado traqueostomia temporária 
(WIGGS & LOBPRISE, 1997; FOSSUM, 2002). 
 Apesar de a punção aspirativa (paracentese) ser um procedimento de simples 
execução (PEREIRA & MALM, 2011; KAZEMI et al., 2012), deve ser realizada de 
forma asséptica para evitar infecção local (FOSSUM, 2002). E, mesmo que esse 
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exame complementar possa ser definitivo no diagnóstico da mucocele, o tecido 
excisado na cirurgia deve ser encaminhado para exame histopatológico, sendo 
previamente conservado em formol a 10% (KAISER et al., 2008; ATA-ALI et al., 
2010; VALLEFUOCO et al., 2011; KAZEMI et al., 2012). 
Os sialólitos, um dos fatores etiológicos das mucoceles, normalmente são 
cálculos consistentes, irregulares, multifacetados, únicos ou múltiplos e de tamanhos 
variados, formados pela deposição de sais minerais como fosfatos e carbonato de 
cálcio, além de magnésio, zinco, nitrato, proteínas, bactérias, muco e células 
epiteliais descamadas (PIGNONE et al., 2009; VALE et al., 2009; FERNANDES et 
al., 2012) associado ao pH alcalino da espécie canina (PIGNONE et al., 2009). 
Essas estruturas calcificadas podem ser vistas tanto no interior do tecido glandular 
quanto nos ductos salivares (PIGNONE et al., 2009). 
A sialografia, apesar de ser fidedigna na identificação da glândula salivar 
afetada (GHOREISHIAN & GHEISSARI, 2009; PIGNONE et al., 2009), é um exame 
complementar de difícil execução na veterinária (FOSSUM, 2002; KAISER et al., 
2008), além de invasiva (DUMPIS & FELDMANE, 2001; VALLEFUOCO et al., 2011; 
KAZEMI et al., 2012). 
Em humanos, como as mucoceles são frequentemente pequenas e 
localizadas na mucosa do lábio inferior pode-se utilizar a crioterapia e aplicação de 
laser com dióxido de carbono, como forma de tratamento inicial (ATA-ALI et al., 
2010). 
O tratamento de eleição para mucocele é a sialoadenectomia (FISCH et al., 
2008; VALE et al., 2009; MENEZES et al., 2012); por ser um método simples, rápido 
e efetivo (VALLEFUOCO et al., 2011). Indica-se não romper a cápsula glandular 
durante o procedimento cirúrgico, evitando-se assim o extravasamento de saliva no 
campo operatório e consequente contaminação (PIGNONE et al., 2009). 
Mesmo com a exérese glandular não há relatos no pós-operatório de 
pacientes com xerostomia e interferência na deglutição e umidificação alimentar 
(FOSSUM, 2002), pois a produção de saliva pelas glândulas maiores e menores 
preservadas é o suficiente (GIOSO, 2003). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A mucocele é uma formação pseudocística da mucosa oral, preenchida por 
conteúdo salivar, com paredes finas e sem epitélio de revestimento. 
O diagnóstico precoce e a terapia cirúrgica nos casos de mucocele são 
fatores determinantes para o bom prognóstico e aumento da qualidade de vida dos 
cães acometidos. 
A extirpação da glândula salivar afetada é o tratamento de eleição, por 
promover a reparação tecidual e reestruturação do local afetado e diminuir o índice 
de recidiva. Os detalhes anatômicos durante a sialoadenectomia minimizam 
possíveis complicações. 
O prognóstico das mucoceles é favorável, no entanto recidivas podem ocorrer 
caso a glândula salivar não seja totalmente removida. 
 
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