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Planejamento Físico e Financeiro na Construção Priscila Maria Santiago Pereira, Hudson Goto e Rafaela Franqueto Planejamento Físico e Financeiro na Construção 2 Introdução Nesse conteúdo, você terá a oportunidade de obter uma visão geral de uma área que é de extrema importância na construção civil. Isso posto, pela óptica do planejamento de obras, de custos, da segurança e da gestão, conhecerá o passo a passo para que uma construção seja bem-sucedida. Os projetos e obras, muitas vezes com um grau elevado de complexidade, exigem profissionais preparados para tomar ações preventivas e corretivas, de maneira consciente e embasados em conhecimentos técnicos consistentes. O material elaborado aborda, de maneira prática e clara, os principais conceitos e ferramentas necessários para planejar, programar, controlar e, se necessário, reprogramar, além de outros tópicos interligados ao tema e relevantes para sua formação. Bons estudos! Objetivos da Aprendizagem Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de: • identificar a importância do planejamento físico e financeiro para a gestão de obras; • reconhecer as ferramentas e técnicas utilizadas no planejamento e progra- mação física e financeira de obras; • elaborar e interpretar elementos como gráfico de Gantt, rede CPM e as curvas S e ABC. 3 Planejamento Físico Fazemos uso de planejamento em muitas atividades diárias e, muitas vezes, nem nos damos conta disso. A decisão sobre qual caminho escolheremos para chegar ao trabalho ou à faculdade ou, ainda, como nos organizaremos no final de semana são fatores que nos levam a planejar nossas atividades. Assim, planejar significa escolher a forma como iremos atingir determinado objetivo, de que maneira chegaremos a ele: em quanto tempo, quais recursos serão utilizados e quanto isso custará. Para que esse planejamento seja eficiente, é fundamental a obtenção do maior número possível de informações – e que o planejado seja controlado, a fim de que falhas ou problemas que venham a ocorrer sejam identificados o mais breve possível e corrigidos. Planejamento, segundo Formoso (1991 apud Bernardes, 2001, p. 17), pode ser definido como “o processo de tomada de decisão que envolve o estabelecimento de metas e dos procedimentos necessários para atingi-las, sendo efetivo quando seguido de um controle”. Na gestão de obras, o planejamento tem função extremamente importante. Um bom planejamento e controle podem ser a diferença entre o sucesso ou o fracasso do empreendimento. Gerenciar uma obra é fazer com que as coisas aconteçam por meio 4 de terceiros, e implica acompanhar a execução técnica, controlar o cumprimento do cronograma, o planejamento financeiro e todas as pessoas envolvidas direta e indiretamente. Durante a execução da obra, é muito comum que alguns imprevistos ocorram – e certamente eles irão! É preciso, no entanto, estar atento para agir rapidamente e fazer as alterações necessárias, razão pela qual o controle na obra é indispensável. É importante destacar que o planejamento de uma obra ou de qualquer outro projeto envolve a participação de diversas áreas da empresa, como, por exemplo, a área de projetos, de obras, orçamento, suprimentos, meio ambiente, e os departamentos financeiro e jurídico. Se essa participação não ocorrer desde o início, o planejamento será ineficiente e, certamente, vários problemas que poderiam ter sido previstos poderão ocorrer durante a obra, acarretando atraso e desperdício de recursos, isso se não resultarem em algo ainda mais grave. Imagine que as obras estão prestes a serem iniciadas e, somente nesse momento, você é informado da necessidade de uma licença ambiental que não foi providenciada porque a área ambiental não participou da elaboração do planejamento? Como, porém, realizar um bom planejamento de obra? A definição detalhada, clara e objetiva do escopo da obra pode ser considerada o primeiro passo para um bom planejamento. Definido o objetivo a ser atingido, inicia-se a definição de “como” a obra será feita. Nessa fase, já com o conhecimento das características da obra, estabelece-se a estratégia a ser implementada para sua execução. Escopo pode ser entendido como “o que” vai ser feito. Há, em gestão de projetos, várias definições para esse termo. Segundo Carvalho e Rabechini Jr. (2011, n.p.), “escopo, na verdade, refere-se ao trabalho a ser realizado no âmbito do projeto”. Pode haver necessidade de alteração do escopo durante o andamento da obra; por exemplo, na implantação de um projeto de urbanização, verifica-se que há uma adutora no local que interferirá no andamento da obra. Nesse caso, o planejamento precisa ser alterado (reprogramado), considerando as alterações necessárias. Saiba mais 5 A definição e o detalhamento das estratégias que serão adotadas na obra, como tecnologias que serão utilizadas, os materiais, os equipamentos, entre outros, possibilitam um maior conhecimento de todo o processo, tornando-o mais eficiente. Nessa etapa de elaboração do planejamento físico de uma obra, é necessário o uso de algumas técnicas que auxiliarão tanto no planejamento quanto no controle do que será realizado. Algumas delas são: • EAP; • Método do caminho crítico (Critical Path Method – CPM); • Cronograma; • Histograma de recursos; • Curva S. EAP Segundo Carvalho e Rabechini Jr. (2011, p. 89), a estrutura analítica do projeto (EAP), ou Work Breakdown Structure (WBS), “é a representação do processo de desagregação (para baixo) e integração (para cima) do trabalho do projeto que vai ajudar o gerente de projetos na execução e controle das atividades do projeto”. Esclarecendo: projeto, aqui, deve ser entendido como o empreendimento, a obra. Afinal, toda obra é um projeto único e com datas de início e término definidas, o que configura-se como as principais características de um projeto. A identificação das atividades necessárias para a execução e conclusão da obra é um trabalho muito importante e é a primeira etapa para a elaboração do planejamento de obra. Não é, porém, uma prática simples. Mesmo gerentes com grande experiência, dependendo do tipo de projeto ou obra, encontram dificuldades em sua elaboração. Informações de campo, opiniões de profissionais especializados, conhecimentos técnicos e obras similares podem contribuir para definição dessas atividades e elaboração da EAP. Desta maneira, a estrutura analítica do projeto (EAP) consiste em uma listagem de todas as atividades a serem executadas em ordem hierárquica e auxilia na montagem dos cronogramas e no controle das atividades de obra. As atividades são decompostas em componentes menores até chegarem em pacotes de trabalho, nos quais é possível fazer uma previsão mais confiável de data e custo. Uma das vantagens da EAP é possibilitar uma melhor estimativa da duração, recursos e custo da obra. Ademais, ela deve detalhar todo o trabalho necessário para execução do escopo e, dependendo da complexidade da obra, poderá ter diversos níveis. 6 A Figura 1 representa uma EAP para a construção de uma casa. Observe que haveria possibilidade de colocar níveis mais baixos em alguns serviços dessa EAP, como no caso do revestimento. Esse serviço poderia ser “revestimento interno” e “revestimento externo”, por exemplo. O mais importante a ser considerado na elaboração da EAP é que seu uso possibilita a visão de todo o escopo da obra e, dessa maneira, torna-se fácil identificar quais os responsáveis por cada etapa. Assista ao vídeo disponibilizado no canal Mario H. Trentim - Gestão & Projetos, que discorre sobre gerenciamento do escopo e estrutura analítica de um projeto. Disponível no link Saiba mais Figura 1 – EAP de uma casa Fonte: Arquivo Pessoal A EAP pode também ser representada por meio de tabelas. O Quadro 1 a seguir mostra uma EAP em forma de tabela. 7 CASA 01. Serviços preliminares 01.01. Limpeza 01.02. Água/Luz 01.03. Canteiro 02. Projeto 02.01. Planta 02.01.01. Arquitetura02.01.02. Elétrica 02.01.03. Hidráulica 02.01.04. Estrutural 02.02. Aprovações 02.02.01. Plantas 02.02.02. Alvarás 03. Construção 03.01. Fundação 03.02. Estrutura 03.03. Telhado 03.04. Esquadrias 03.05. Alvenaria 04. Sistemas 04.01. Água 04.02. Elétrica 05. Acabamento 05.01. Pintura 05.01.01. Interna 05.01.02. Externa 05.02. Revestimentos 05.02.01. Banheiros 05.02.02. Cozinha 05.02.03. Quartos 05.02.04. Outros 05.03. Vidros 05.04. Armários 06. Serviços complementares 06.01. Limpeza 06.02. Jardinagem 07. Gerência 07.01. Plano 07.02. Acompanhamento 07.03. Entrega/Encerramento Quadro 1 – EAP em forma de tabela Fonte: CARVALHO; RABECHINI JR., 2011, n.p. (Adaptado). Método do caminho crítico (Critical Path Method – CPM) Diagrama de rede, ou Critical Path Method (CPM), é a representação gráfica de um programa/projeto ou, no caso em estudo, uma obra. É uma ferramenta muito utilizada no setor de construção e apresenta a sequência lógica de um planejamento com as interdependências das atividades. 8 Aqui, faz-se a representação da rede conectando-se todas as atividades. Para isso, é necessário caracterizar as interligações entre as atividades, ou seja, as relações de dependência entre elas e a sequência de execução, definindo qual atividade será executada primeiro (predecessora). As atividades podem ser representada por círculos que simbolizam a transição entre as atividades e por setas, que são as atividades a serem executadas. Outra forma é representar as atividades em nós. Neste caso, os nós são caixas e as flechas são as relações de precedência, sendo essa a maneira mais usual de apresentação do CPM. Imagine, por exemplo, que, na obra de uma casa, você tenha a atividade “revestimento” e “pintura da parede interna da parede” para ser executada. A sequência das atividades seria: Execução do chapisco → Emboço → Reboco → Pintura As relações de precedência podem ser de vários tipos, conforme afirmar Carvalho e Rabechini Jr. (2011): Término/início O início do trabalho da atividade sucessora depende do término da predecessora. Término/término O término do trabalho da atividade sucessora depende do término do trabalho da predecessora. Início/início O início do trabalho da atividade sucessora depende do início da predecessora. Início/término O término do trabalho da atividade sucessora depende do início do trabalho da predecessora. 9 Para a elaboração da rede, é necessário conhecer bem as durações das atividades e atribuir estimativas de tempo e recursos para cada uma delas. A duração das atividades, que pode ser em horas, dias, semanas, meses, entre outros, está diretamente ligada à quantidade de recursos disponíveis, à quantidade de serviços que serão realizados e à produtividade (ADOMA; MAZUTTI, 2019). Lembre-se também de que a definição do processo construtivo ou do material escolhido para a realização das atividades terá impacto direto na duração. A escolha do material a ser utilizado na estrutura (concreto usinado ou concreto produzido na obra com betoneira) vai alterar a duração da atividade “concretagem da estrutura”. No caso de obras de manutenção em pontes e viadutos, a interferência do trânsito local também vai ter impacto na duração das atividades. Assim, a definição de como serão feitas as intervenções deve ocorrer na fase do planejamento. Além disso, a estimativa de duração das atividades deve levar em conta a região onde a obra será executada e também a época do ano. Obras similares já executadas anteriormente pela empresa podem servir de parâmetro para estabelecer as durações; porém, como o período de chuvas, a mão de obra e mesmo o clima têm implicações no andamento da obra, ao se fazer a estimativa da duração, tudo isso deve ser considerado. No exemplo “revestimento e pintura da parede interna da parede”, imagine que a duração de cada uma das atividades seja de 1 (um) dia. A representação gráfica da rede seria: Figura 2 – Rede de precedência Fonte: Arquivo Pessoal Utilizamos o CPM (Critical Path Method, ou método do caminho crítico) para identificar as atividades que não podem atrasar, sob pena de prejudicar a duração do projeto. Essas atividades são chamadas de atividades críticas e são aquelas que não têm folga alguma. As demais atividades, não críticas, e, portanto, com folga, podem atrasar um pouco para começar ou para terminar (até o limite da folga especificada) sem que o projeto seja prejudicado. 10 Você vai ouvir sobre Program Evaluation and Review Technique – PERT, ou PERT/CPM. Na verdade, PERT e CPM são métodos de programação distintos. Embora ambos tenham sido desenvolvidos no mesmo ano (1958), o PERT, desenvolvido para a Equipe de Projetos Espaciais da Marinha Norte-Americana, teve aplicação no Sistemas de Mísseis Polaris e tem aspectos probabilísticos. Já o CPM foi desenvolvido para a empresa DuPont para projetos de produtos químicos, com abordagem determinística para estimativas de duração das atividades. Curiosidade O caminho crítico é, portanto, a sequência de atividades que representa o caminho mais longo do projeto ou obra. É importante ressaltar que, em uma obra, pode haver mais de um caminho crítico. Já folga, segundo Pinheiro e Crivelaro (2014, p. 97), “é a diferença entre o intervalo de tempo existente para o início e o término de uma atividade e a sua duração prevista”. Cronograma A representação do cronograma físico é frequentemente realizada pelo gráfico de Gantt, ou diagrama de Gantt, ou gráfico de barras. O gráfico de Gantt é talvez uma das técnicas mais utilizadas para representar um cronograma de obra. A facilidade de elaboração, compreensão e alteração são as principais vantagens desse gráfico. Ele é bastante utilizado nos relatórios e apresentações para os clientes na exibição do progresso da obra. Você sabia que o gráfico de Gantt foi inicialmente elaborado pelo engenheiro mecânico Henry Gantt para controle diário da produção? Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, esse gráfico foi utilizado para a construção de navios de guerra, segundo Pinheiro e Crivelaro em seu livro Planejamento e custos de obras, de 2014. Curiosidade 11 Nele, as atividades que serão desenvolvidas são representadas em forma de barras horizontais com a identificação de início e fim da atividade. Para controle, podem ser criadas barras paralelas com as atividades já realizadas. Como desvantagem, podemos citar o fato de não ser possível identificar as interdependências das atividades. Depois de definida a sequência das atividades e sua duração, pode-se dar início à elaboração do cronograma de obra, estabelecendo a data de início e término de cada atividade. Recomenda-se começar pelas atividades críticas, que têm folga zero. Na sequência, as demais são programadas, que podem começar um pouco mais tarde do que a data mais cedo possível. No Quadro 2, temos a representação de cronograma físico. Atividades Duração(semanas) Duração (semanas) 1 2 3 Atividade A 1 Atividade B 1 Atividade C 1 Quadro 2 – Representação de um cronograma físico Fonte: Arquivo Pessoal Pode-se optar por iniciar uma atividade não crítica mais tarde do que ela poderia em função da disponibilidade de recursos, por exemplo. Dessa forma, seria possível usar os recursos disponíveis – pessoas, materiais e equipamentos – da forma mais eficiente possível, com pouca ou nenhuma ociosidade. Por isso, às vezes, é interessante postergar o início de uma atividade para aguardar a liberação de um recurso que ainda está sendo utilizado em uma atividade em vias de ser concluída. Nesse momento, os histogramas de recurso são particularmente úteis, uma vez que eles mostram o consumo dos recursos-chave durante a execução do projeto. Isso nos permite identificar, a priori, quando um recurso estará escasso (consumo acima da disponibilidade) e/ou sua ociosidade ao longo do tempo. Isso posto, é muito comum em relatórios gerenciais a apresentação do cronograma ou diagrama de marcos. Esse é bem semelhante aocronograma de Gantt, mas é focado nos marcos da obra, ou seja, nas etapas importantes a serem atingidas. 12 Figura 3 – Diagrama de marcos Fonte: Arquivo Pessoal Há, no mercado, vários aplicativos específicos para o gerenciamentos de obras, e muitos fazem uso dessas mesmas ferramentas. É importante, no entanto, que o profissional conheça os conceitos e as técnicas nas quais o software se baseia para que possa utilizá-lo com conhecimento, discernimento e segurança. Histograma de Recursos Histograma é uma ferramenta muito útil na obra, seja o histograma de pessoal, seja o de material ou o de equipamento. Assim, “o histograma de recursos é um gráfico de colunas que representa a quantidade requerida do recurso por unidade de tempo” (MATOS, 2010 apud ADOMA; MAZUTTI, 2019, n.p.). O histograma de pessoal permite o dimensionamento da mão de obra necessária para execução de cada atividade, facilitando prever com antecedência a necessidade ou o excesso de trabalhadores. Com o cronograma elaborado, as atividades a serem executadas estão distribuídas ao longo do tempo. Assim, em um determinado período, é possível visualizar as atividades que estão sendo executadas em paralelo e estimar a equipe que será necessária para a sua execução no período específico. 13 Ademais, o histograma de materiais ajuda no planejamento dos materiais que serão necessários no canteiro de obras para a realização dos serviços. A instalação do canteiro de obras prevê local para armazenamento de materiais que serão utilizados, e os materiais serão entregues conforme a etapa em que a obra se encontra. Dessa maneira, o histograma de materiais pode ajudar no planejamento das compras e entregas desses materiais. No Quadro 3, é possível visualizar uma planilha com a relação de atividades, precedências, duração e recursos por atividade. Em seguida, são apresentados o cronograma físico correspondente e os histogramas de pessoal. Para facilitar o entendimento, observe o período do cronograma entre 0 e 10, momento em que está sendo executada somente a atividade A. Para a realização dessa atividade, a quantidade de mão de obra necessária é: 3 de X, 2 de Y e 1 de Z. Nos histogramas apresentados na sequência, é fácil visualizar esses recursos. Atividades Duração (sema- nas) Duração (semanas) Dias Recurso X Recurso Y Recurso Z A 10 3 2 1 B A 12 2 1 3 C A 5 2 1 2 D C 4 1 3 2 E C 6 3 2 2 F B, D 12 4 2 1 G D, F 5 0 2 2 H F, G 16 1 1 3 Quadro 3 – Tabela de atividades, precedências, duração e recursos Fonte: A Figura 4 – Gráfico de Gantt Fonte: Arquivo Pessoal 14 Figura 5 – Histograma de pessoal – recurso X (verde), recurso Y (amarelo) e recurso Z (azul) Fonte: Arquivo Pessoal 15 Curva S (para estimativa do progresso) O desenvolvimento de um projeto não acontece de forma linear e constante. Ele começa mais devagar, seu ritmo acelera e, ao se aproximar do final, volta a cair. Por esse motivo, ao fazer um gráfico de realização acumulada do projeto ao longo do tempo, temos uma curva que se assemelha a uma letra S. A curva S, criada durante o planejamento, é depois utilizada no monitoramento do projeto durante sua execução. Com ela, é possível ter uma visão mais clara da evolução física da obra e comparar o planejado e o realizado. Por essa razão, é bastante utilizada em relatórios gerenciais. O eixo horizontal representa o tempo e o vertical a quantidade executada acumulada, geralmente apresentada em porcentagem. Isso posto, analise a Figura 6, que representa uma curva S. Figura 6 – Curva S Fonte: Arquivo Pessoal Para melhor assimilação do conteúdo, observe o exercício a seguir, extraído de Pinheiro e Crivelaro (2014, adaptado). Consideremos a execução de uma obra residencial, conforme a tabela retratada no Quadro 4, na qual estão identificadas atividades, durações e precedências: 16 Numeração Atividades Duração Precedência 1 Locação da obra 6 - 2 Alvenaria 30 1 3 Cobertura 8 2 4 Piso 10 2 (II - 25) 5 Limpeza 6 3; 4 Quadro 4 – Atividades, duração e precedências Fonte: Elaborado pelo autor (2022). Elaborando a rede CPM para determinação do caminho crítico da obra: Figura 7 – Rede CPM Fonte: Arquivo Pessoal Determinando a folga e o caminho crítico: 17 Data mais cedo Data mais tarde Folga total Início Término Início Término 1 6 6 6 0 7 36 7 36 0 37 44 37 44 0 33 42 35 44 2 45 50 45 50 0 Quadro 4 – Atividades, duração e precedências Fonte: Elaborado pelo autor (2022). Podemos, agora, elaborar o gráfico de Gantt, já com o caminho crítico evidenciado. Ou seja, a sequência de atividades que não têm folga: Figura 8 – Gráfico de Gantt – caminho crítico Fonte: Arquivo Pessoal Considerando uma distribuição linear de execução para as atividades, e que todas tenham o mesmo peso no projeto (o que não é condizente com a realidade), é possível elaborar a curva S da obra: 18 Figura 9 – Curva S – percentual previsto Fonte: Arquivo Pessoal Planejamento Financeiro de Execução de Obras O planejamento e controle financeiro da obra é também muito importante para o bom desempenho e sucesso do empreendimento. O aumento dos custos da obra implica em redução dos lucros da empresa; porém, com um planejamento financeiro adequado, é possível prever a movimentação financeira que ocorrerá durante a obra e, dessa maneira, realizar o gerenciamento de recursos financeiros (ADOMA; MAZUTTI, 2019), adotando inclusive medidas corretivas, se necessárias. Adoma e Mazutti (2019) explicam que o planejamento financeiro de obras consiste na adoção de medidas que possibilitem gerenciar os custos decorrentes das diversas fases de implantação do empreendimento, de maneira que todas as empresas envolvidas tenham segurança financeira. 19 Cronograma Financeiro Utiliza-se, para elaboração do planejamento financeiro, o cronograma financeiro de obra (que é baseado no orçamento) e o fluxo de caixa. A Tabela 1 mostra um cronograma financeiro de uma obra hipotética, com o custo das atividades distribuídas ao longo do tempo. Na parte inferior, há o custo total da obra ao longo do tempo. Atividades Semanas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Locação da obra 10 2 - - - - - - - - Alvenaria - 16 20 20 20 20 20 4 - - Cobertura - - - - - - - 8 8 - Piso - - - - - - 10,8 18 7,2 - Limpeza - - - - - - - - 2,5 12,5 Total (R$ · 10³) 10 18 20 20 20 20 30,8 30 17,7 12,5 Acumulado (R$ · 10³) 10 28 48 68 88 108 139 169 187 199 Tabela 1 – Exemplo de cronograma financeiro Fonte: Arquivo Pessoal Já o fluxo de caixa é um instrumento que permite a projeção das entradas e saídas de recursos financeiros em um determinado período de tempo. Segundo Araújo, Teixeira e Licório (2015, p. 16): Sendo o fluxo de caixa uma ferramenta simples no controle gerencial, é de suma importância para a análise de controle, isso porque, com essa ferramenta, é possível não somente projetar as receitas financeiras da empresa, mas também utilizá-la para decisões de investimentos futuros. A seguir, um modelo de fluxo de caixa. 20 Fluxo de caixa Empresa: DIAS Período: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Outras receitas Recebimento sobre vendas Receita de prestação de serviços Outras receitas TOTAL DAS ENTRADAS 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 SAÍDAS Fornecedores Folha de pagamento INSS a recolher FGTS Retiradas sócios Aluguéis Energia elétrica Telefone Serviços contabilidade Combustíveis Manutenção de veículos Despesas diversas 21 Férias 13º salário Empréstimos bancários Financiamentos de equipamentos Despesas financeiras Outros pagamentos TOTAL DAS SAÍDAS 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 SALDO ENTRADAS - SAÍDAS 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 SALDO ANTERIOR 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 SALDO ACUMULADO 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Tabela 2 – Modelo de fluxo de caixa Fonte: SIENGE, 2020. (Adaptado). Conforme destacam Adoma e Mazutti (2019), na construção civil, o fluxo de caixatem uma importância vital, uma vez que as construtoras precisam ter capital disponível para bancar a execução das obras. Empresas que não têm recursos financeiros suficientes para executar inicialmente os serviços correm o risco de atrasar e, muitas vezes, de não conseguir concluir a obra, havendo necessidade de rescisão contratual, o que é ruim tanto para a contratada quanto para o contratante. Em obras públicas, esse cuidado precisa ser ainda maior, pois não é incomum que ocorram atrasos nos pagamentos para as construtoras – por uma série de motivos –, e a construtora precisa estar preparada para algum imprevisto que venha a ocorrer. 22 O controle financeiro visa a acompanhar se as atividades realizadas na obra estão compatíveis com os gastos projetados e, caso sejam identificadas diferenças, devem- se determinar os motivos e fazer a intervenção necessária. Dessa forma, o controle financeiro é realizado paralelamente ao controle físico da obra. Como, porém, relacionar as contas da obra com as contas gerais da empresa? Halpin e Woodhead (2017) destacam que, para se estabelecer um sistema de controle de custos para uma construção, é necessária a definição de centros de custos de níveis de empreendimento. É preciso dividir toda a obra em unidades de controle significativas, a partir da EAP, de tal forma que o trabalho possa ser medido no campo. Ainda conforme os autores (2017, n.p.): Uma vez estabelecidas as contas de custos de trabalhos, é atribuído a cada conta um código identificador, que é chamado de código de custo. Ao serem separados por centros de custos associados, todos os elementos de despesas (mão de obra direta, mão de obra indireta, materiais, suprimentos, custos de equipamentos etc.) que constituem unidades de trabalho podem ser apropriadamente registrados pelo código de custos. A Figura 10 apresenta uma estrutura de custos: Figura 10 – Estrutura de custos Fonte: HALPIN; WOODHEAD, 2017, n.p. 23 Curva S: Estimativa de Custo A curva S pode ser utilizada também no planejamento financeiro, com a finalidade de acompanhamento dos gastos acumulados na obra ao longo do tempo. Sua representação gráfica é a somatória dos custos atribuídos às atividades do cronograma de barras, apresentando, dessa forma, uma previsão de gasto acumulado, que pode ser comparado ao gasto previsto. O eixo horizontal representa o tempo, ao passo que o eixo vertical os gastos acumulados, geralmente simbolizados em unidade monetária. Figura 11 – Curva S Fonte: Arquivo Pessoal Curva ABC A curva ABC permite identificar os itens de maior importância na obra (aqueles de maior valor), ordenando-os de forma decrescente. Essa ferramenta é muito útil, posto que a identificação dos insumos de maior valor ou mais utilizados na obra deve merecer uma atenção especial, visando assim um maior controle dos custos. Esse tipo de curva pode ser utilizada também para identificar as atividades mais caras na obra. 24 “A ideia dessa curva surgiu na Itália em 1800, com Wilfredo Paretto, que a denominou lei 20 x 80. Ele mediu a distribuição de renda da população e constatou que poucos indivíduos da sociedade concentravam a maior parte das riquezas existentes, isto é, 20% da população absorvia 80% de renda. Os fundamentos do método Paretto foram colocados em prática na Segunda Guerra Mundial pela General Electric” (PINHEIRO; CRIVELARO, 2014, p. 67). Saiba mais Os itens da curva ABC são separados em três classes, conforme o valor que representam no gasto total da obra. Segundo a especificação do Sienge (2017): 25 Classe A São aqueles que têm um valor de demanda ou consumo alto; 20% dos itens são considerados classe A e representam 80% do valor da demanda ou consumo; Classe B São aqueles que têm um valor de demanda ou consumo intermediário; 30% dos itens são considerados classe B, representando 15% do valor da demanda ou consumo; Classe C São aqueles que têm um valor de demanda ou consumo baixo; 50% dos itens são considerados classe C e correspondem a 5% da demanda ou consumo. No dia a dia, a divisão entre as classes A, B e C é baseada no bom senso do gestor da obra. No caso de atividades de obra de construção, os percentuais adotados para cada região em relação ao custo total da obra são: • Região A – 53% do custo total; • Região B – 32% do custo total; • Região C – 15% do custo total. Para a redução de custos, é interessante priorizar os insumos da classe A, seja para negociação com seu fornecedores ou, se possível/viável, a substituição de algum deles. 26 Figura 12 – Representação da curva ABC de insumos Fonte: SIENGE, 2017. (Adaptado). A curva ABC pode ser feita, de forma muito simples, a partir de uma planilha em que constem todos os itens do orçamento. Há também aplicativos de gestão para um controle mais elaborado. Curiosidade Para uma melhor compreensão, considere a planilha orçamentária apresentada no Quadro 6, com macro atividades de uma obra de construção de conjuntos habitacionais que já foram ordenadas de forma decrescente com base nos custos das atividades. A distinção entre as classes A, B e C foi feita em cores diferentes. 27 CÓDIGO DESCRIÇÃO DOS SERVIÇOS TOTAL C/ BDI % em relação ao custo total % acumu- lado Classe UNIDADES HABITACIONAIS 00-00-00 TIPOLOGIA A: 6 BLOCOS COM 6 PAVIMENTOS +5 BLOCOS COM 7 PAVIMENTOS = 142 UHs 00-00-02 ESTRUTURA 1.844.956,34 21,42% 21,42% A 00-00-03 ALVENARIA 1.168.303,22 13,56% 34,98% 00-00-08 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS 1.049.939,32 12,19% 47,17% 00-00-01 malesuada FUNDAÇÕES 965.602,06 11,21% 58,38% 00-00-09 INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS E APARELHOS SANITÁRIOS 831.502,77 9,65% 68,03% B00-00-10 REVESTIMENTOS 606.275,06 7,04% 84,07% 00-00-14 PINTURA 428.188,02 4,97% 89,04% 00-00-05 COBERTURAS 285.560,08 3,32% 92,35% C 00-00-15 COMPLEMENTAÇÃO DA OBRA 114.471,32 1,33% 97,96% 00-00-04 IMPERMEABILIZAÇÕES 101.004,71 1,17% 99,13% 00-00-13 VIDROS 60.814,74 0,71% 99,84% 00-00-11 FORROS 13.756,01 0,16% 100,00% TOTAL 8.613.802,14 Quadro 6 – Ordenação financeira das atividades Fonte: Arquivo Pessoal As atividades “estrutura”, “alvenaria”, “instalações elétricas” e “fundações” são as atividades que deveriam receber mais atenção, por serem as mais caras nessa obra. Assim, a curva ABC resultante é apresentada a seguir: 28 Figura 13 – Curva ABC de atividades Fonte: Arquivo Pessoal 29 Conclusão Nesse conteúdo, destacou-se a importância do planejamento físico e financeiro para uma boa gestão de obras. Em relação ao planejamento físico, foi discutido o que é escopo e foram apresentadas algumas das ferramentas mais utilizadas, como a estrutura analítica do projeto (EAP); e na programação, como o cronograma físico, com destaque para o gráfico de Gantt, o Critical Path Method (CPM), o histograma de recursos e a curva S. Em relação ao planejamento financeiro, foram apresentadas as ferramentas utilizadas, como o cronograma financeiro (cuja base para elaboração é o orçamento de obras e o fluxo de caixa), a curva S e a curva ABC. Ainda no planejamento financeiro, analisou-se a definição de fluxo de caixa em conjunto com uma planilha-modelo e destacou-se a importância de uma estrutura de custos, com a codificação, para o controle financeiro de obras. Por fim, por meio de um exercício, realizou-se o acompanhamento, passo a passo, de uma rede CPM para determinação do caminho crítico, elaboração de um gráfico de Gantt e de sua curva S correspondente. 30 Referências ADOMA, D. L.; MAZUTTI, J. H. Gestão de obra. Porto Alegre: SAGAH, 2019. ARAÚJO, A.; TEIXEIRA, E. M.; LICÓRIO. A importância da gestão no planejamento do fluxo de caixa para o controle financeiro de micros e pequenas empresas. Redeca, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 73-88, 2015. AULA 06 - Escopo e estrutura analítica do projeto. Postado por Mario H. Trentim - Gestão & Projetos. (8min. 26s.). son. color. port. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=LBq6wA9MOek. Acesso em: 15 set. 2020. BERNARDES, M.M. S. Desenvolvimento de um modelo de planejamento e controle da produção para micro e pequenas empresas de construção. 2001. 310 f. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001. CARVALHO, M. M.; RABECHINI JR., R. 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