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W BA 08 34 _V 1. 1 FERRAMENTAS PARA O PLANEJAMENTO E CONTROLE DE OBRA 2 Márcia Elisa Jacondino Pretto São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 FERRAMENTAS PARA O PLANEJAMENTO E CONTROLE DE OBRA 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Fabrício Alonso Richmond Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Pretto, Marcia Elisa Jacondino P942f Ferramentas para o planejamento e controle de obra / Marcia Elisa Jacondino Pretto, – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 44 p. ISBN 978-65-89965-40-4 1. Estrutura Analítica de Projeto (EAP). 2. Planejamento na construção civil. 3. Método PERT e CPM. I. Título. CDD 690 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 8 SP-010289/O © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Planejamento de obra empregando EAP _____________________ 05 Aplicação do método PERT e CPM ___________________________ 18 Curva ABC para construção civil _____________________________ 30 Softwares para o planejamento e controle de obra ___________43 FERRAMENTAS PARA O PLANEJAMENTO E CONTROLE DE OBRA 5 Planejamento de obra empregando EAP Autoria: Márcia Elisa Jacondino Pretto Leitura crítica: Fabricio Alonso Richmond Navarro Objetivos • Entender a importância da identificação das etapas no planejamento de obra e sua relação com a Estrutura Analítica de projeto (EAP). • Definir a EAP indicando sua importância para o gerenciamento de projetos de obra. • Explicar o processo de elaboração de uma EAP considerando suas entradas, ferramentas, técnicas e saídas. 6 1. Planejamento de Obra Planejar uma obra envolve o conhecimento de suas diversas etapas desde o projeto até sua execução, incluindo o escopo da obra, os prazos de execução e os custos envolvidos a serem desembolsados a cada etapa. Uma das maneiras de facilitar o planejamento é empregar ferramentas e recursos que podem contribuir para o gerenciamento como um todo. Uma dessas ferramentas é a Estrutura Analítica de Projeto (EAP), no caso dos empreendimentos, a palavra projeto no meio da sigla EAP não se refere aos projetos propriamente, como o arquitetônico, o estrutural ou de instalações. O projeto nesse caso é que se quer planejar, no caso, a obra como um todo, inclusive podendo ser empregado para gerenciar as entregas das etapas dos projetos antes mesmo da execução da obra. 1.1 Identificação das atividades de obra Uma obra pode ser pensada em vários níveis de serviços, desde uma visão macro até uma visão mais minuciosa das atividades menores. Por exemplo, em uma visão mais macro, pode-se pensar em uma obra como sistemas construtivos, tais como: o estrutural, o de vedação, o de cobertura, o piso, os sistemas prediais hidrossanitários e os das demais instalações não civis (elétricas e mecânicas). No entanto, dentro de cada um desses sistemas se pode subdividir os serviços em etapas, por exemplo, pensemos no sistema estrutural: podemos subdividir em elementos estruturais como pilares, vigas e lajes. Em uma visão mais detalhada das atividades podemos ainda subdividir cada elemento estrutural em forma, ferragem e concreto, pois são realizadas em momentos distintos e por equipes distintas de mão de obra. Dessa maneira, é indispensável que se identifique as atividades a serem desenvolvidas na obra de acordo com as etapas a serem realizadas 7 pelas diferentes equipes de mão de obra e cada uma no seu tempo a ser previsto no planejamento. Segundo Mattos (2010), a maneira mais prática de identificar as atividades é por meio da elaboração da EAP. Essa é uma estrutura hierárquica, em níveis, em que se decompõe a totalidade da obra em pacotes de trabalho progressivamente menores. Segundo o autor, a EAP tem a vantagem de organizar o processo de desdobramento dos serviços, permitindo que as diversas atividades sejam facilmente identificadas e alteradas, se necessário (MATTOS, 2010). Para identificação das atividades, Mattos (2010) sugere a utilização de mapas mentais como recurso visual. Dentre os diversos tipos possíveis de representação gráfica, o que mais se adequa para a EAP de obra, segundo o autor, é o de estrutura em árvore, como a genealógica, em que cada ramo (serviço) se subdivide em ramos menores (atividades) até que todo o escopo do empreendimento tenha sido identificado (MATTOS, 2010). Com relação às subdivisões, elas devem ser feitas em função do grau de controle que se quer impor ao planejamento. De acordo com Mattos (2010), muito detalhe pode gerar uma rede muito extensa e, consequentemente, um maior custo de controle. Por outro lado, pouco detalhe gera uma rede sucinta e de baixo custo, mas o planejamento pode ficar superficial e pouco prático de acompanhar. De acordo com ENAP (2014), geralmente, a EAP é constituída por três níveis hierárquicos, mas esse número não é apropriado para todas as situações. O detalhamento de uma EAP depende do tamanho e da complexidade da obra. Outra consideração a ser feita é com relação ao tempo médio das atividades do planejamento, que devem ter a mesma escala de tempo, pois não se deve misturar atividades longas e atividades curtas. Para 8 um bom planejamento, deve-se considerar um equilíbrio nas durações (MATTOS, 2010). Não se deve esquecer que é necessário gerar subprodutos que propiciem o planejamento, controle e encerramento do projeto. Já segundo o ENAP (2014), o trabalho de gerenciamento deve ser previsto no escopo da obra. A figura a seguir ilustra um exemplo de EAP com o trabalho do gerenciamento listado à esquerda. Figura 1 – Exemplo de Estrutura Analítica de Projeto (EAP) com gerenciamento à esquerda Fonte: elaborada pela autora. Para que seja alcançado o sucesso da execução da obra em cada fase, deve-se identificar os subprodutos necessários. Para tanto, o ENAP (2014) recomenda que: • Sejam consultados os documentos que guiam o escopo. • Sejam identificados os subprodutos de cada fase. 9 • Sejam identificados subprodutos necessários aos macroprocessos de Iniciação, Planejamento, Controle, Execução e Encerramento do Projeto. 1.2 Estrutura Analítica de Projetos (EAP) Com relação à representação, a EAP pode ser apresentada em três diferentes configurações: árvore, analítica (ou sintética) e mapa mental (MATTOS, 2010). A Figura 2 ilustra a representação da estrutura em árvore e a Figura 3 ilustra a representação da estrutura de mapa mental. Figura 2 – Exemplo de formato em árvore Fonte: anyaberkut/iStock.com. 10 Figura 3 – Exemplo de mapa mental Fonte: marchmeena29/iStock.com. • EAP analítica EAP analítica nada mais é do que uma listagem do escopo, que, muitas vezes, advém do próprio orçamento da obra. Por isso é tãoimportante estruturar o escopo do orçamento de acordo com a lógica da execução e, consequentemente, com a programação prévia do planejamento. Essa listagem do escopo é subdividida em itens e subitens associadas a uma numeração lógica, que pode inclusive ser organizada nos principais softwares empregados em orçamento e planejamento de obras. A essência é simples: cada novo nível da EAP é “indentado” em relação ao anterior, isto é, as atividades são alinhadas mais internamente. Tarefas de um mesmo nível têm o mesmo alinhamento. Quanto mais indentadas as atividades, menor o nível a que pertencem. (MATTOS, 2010, p. 64) O Quadro 1 ilustra a listagem do escopo subdividida em itens e subitens, com as atividades alinhadas de acordo com a numeração lógica. 11 Quadro 1 – EAP Analítica Atividade 0 Torre 1 1 Infraestrutura 2 1.1 estacas 3 1.2 blocos 4 1.3 baldrames 5 2 Supraestrutura 6 2.1 Pavimento térreo 7 2.1.1 Forma 8 2.1.2 Ferragem 9 2.1.3 Concreto Fonte: elaborado pela autora. • EAP como mapa mental Além do formato tradicional de árvore de blocos, Mattos (2010) apresenta a EAP sob a forma de mapa mental, em que a ideia inicial, a edificação como um todo, vai se subdividindo no formato de árvore nas diferentes etapas que compõem os serviços. O autor destaca que em relação à EAP por blocos, o mapa mental tem a vantagem de mostrar toda a decomposição da obra em uma única tela, não sendo necessário rolar a barra do software para visualizar a totalidade da EAP. 12 Figura 4 – Mapa mental na tela Fonte: anyaberkut/iStock.com. Mattos (2010) além de citar a EAP analítica e a EAP como mapa mental, detalha, ainda, a EAP de subcontratos. • EAP de subcontratos Geralmente, as obras de edificações novas possuem subcontratos, ou seja, as construtoras/incorporadoras possuem serviços terceirizados por empresas empreiteiras. Nesse sentido, são exemplos de serviços subcontratados: cravação de estacas, instalações prediais, como instalações elétricas e hidráulicas, serviço de impermeabilização, revestimento de gesso etc. Nesses casos, para que se tenha um maior controle e envolvimento dos fornecedores, é imprescindível que os serviços terceirizados também sejam incluídos na EAP. 13 Mattos (2010), inclusive, salienta que as etapas e prazos sejam referencialmente fornecidos pela empresa subcontratada, pois é ela que domina o serviço e ela é uma maneira de envolvê-la no esforço global de planejamento e garantir que as atividades estarão identificadas no cronograma, o que permitirá um melhor monitoramento desses subcontratados. 1.3 Propriedades da Estrutura Analítica de Projetos (EAP) As propriedades de uma EAP são muitas de acordo com Mattos (2010, p. 69), a saber: • Cada nível representa um refinamento do nível imediatamente superior; • As subtarefas representam 100% do escopo da tarefa do nível imediatamente superior (regra dos 100%), ou seja, se um pacote de trabalho é desmembrado em três atividades, elas representam a totalidade do alcance do pacote de trabalho; • A soma do custo dos elementos de cada nível é igual a 100% do nível imediatamente superior; • O custo de cada elemento da estrutura equivale à soma dos custos dos elementos subordinados; • Juntas, as atividades de nível mais baixo nos diversos ramos da EAP representam o escopo total do projeto; • Uma mesma atividade não pode estar em mais de um ramo; • Duas atividades são mutuamente excludentes: não pode haver sobreposição de trabalho entre elas (seria uma redundância desnecessária); • Atividades não incluídas na EAP não tomam parte do projeto; • As atividades são relacionadas em ordem lógica de associação de ideias, não em ordem cronológica; • As atividades de nível mais baixo são mensuráveis e podem ser atribuídas a um dos responsáveis (pessoa ou equipe). 14 Há vários benefícios da EAP para a obra, de acordo com Mattos (2010, p. 70), a saber: • Ordena o pensamento e cria uma matriz de trabalho lógica e organizada; • Individualiza as atividades que serão as unidades de elaboração do cronograma; • Permite o agrupamento das atividades em famílias correlatas; • Facilita o entendimento das atividades consideradas e do raciocínio utilizado na decomposição dos pacotes de trabalho; • Facilita a verificação final por outras pessoas; • Facilita a localização de uma atividade dentro de um cronograma extenso; • Facilita a introdução de novas atividades; • Facilita o trabalho de orçamentarão porque usa atividades mais precisas e palpáveis; • Permite a atribuição de códigos de controle que servem para alocação dos custos incorridos no projeto; • Evita que uma atividade seja criada em duplicidade. Agora que você já sabe quais são as propriedades e os benefícios EAP no planejamento, gerenciamento e controle de obras, o próximo item mostrará como criar uma estrutura dessa. 1.4 Como criar uma EAP Para criar a EAP, de acordo com o PMBOK (PMI, 2017), deve-se inicialmente identificar as entradas, as ferramentas, técnicas e, por fim, as saídas. 15 • Entradas Inicialmente, o guia lista quatro entradas: • Plano de gerenciamento do projeto: no caso, do escopo da obra, que define como a EAP será criada. • Documentos do projeto: são as especificações do escopo do projeto (descreve o trabalho que será executado e o que será excluído) e documentação dos requisitos (descrevem como requisitos individuais atendem às necessidades de negócio para o projeto). • Fatores ambientais da empresa: padrões de EAP específicos do setor da construção civil. • Ativos de processos organizacionais: políticas, procedimentos e modelos para a EAP, arquivos de projetos anteriores e lições aprendidas de obras anteriores. • Ferramentas e técnicas Como ferramentas e técnicas são destacadas pelo guia PMBOK (PMI, 2017) a opinião especializada e a decomposição. Na opinião especializada entra a expertise dos envolvidos na elaboração do EAP, que contribuirão com seus conhecimentos e experiências em obras anteriores. Já a decomposição é a própria subdivisão das atividades, os pacotes de trabalho, cujo grau de detalhamento dependerá da complexidade da obra e do nível de controle que se deseja para o custo e o prazo. Na etapa de decomposição, o guia PMBOK (PMI, 2017, p. 158) lista as seguintes atividades envolvidas: • Identificação e análise das entregas e do trabalho relacionado; • Estruturação e organização da EAP; 16 • Decomposição dos níveis mais altos da EAP em componentes detalhados em menor nível; • Desenvolvimento e designação de códigos de identificação aos componentes da EAP; • Verificação se o grau de decomposição das entregas é apropriado. • Saídas Como saídas, a linha de base do escopo e as atualizações de documentos do projeto, com registro das premissas e documentação dos requisitos são os destaques do guia PMBOK (PMI, 2017). A linha de base inclui: • A declaração do escopo do projeto, que contempla a descrição do escopo do projeto, das principais entregas, premissas e restrições. • A EAP, com toda sua decomposição hierárquica das atividades. • Os pacotes de trabalhos, que são os níveis mais baixos da EAP e servirão para controle do orçamento e cronograma. • Os pacotes de planejamento. Um pacote de planejamento é uma parte da decomposição, com conteúdo de trabalho conhecido, mas sem atividades detalhadas do cronograma (PMI, 2017). Neste tema, você aprendeu sobre o planejamento de obra empregando a Estrutura Analítica de Projeto (EAP). Assim, você pode entender sobre a importância da identificação correta das atividades para o planejamento e os tipos de estruturas que podem ser empregadas na representação, tais como a EAP analítica, mapa mental e de subcontratos. Além disso, abordamos ainda sobre o grau de detalhamento para a definição da configuração da EAP e também sobre as propriedades e os benefícios do emprego da EAP no gerenciamento de obras. Por fim, percebe-se que a importância do planejamento empregando EAP para controlaro orçamento e o cronograma de obras e as etapas para a criação da EAP. 17 Referências MATTOS, A. D. Planejamento e controle de obras. São Paulo: PINI, 2010. PMI. Project Management Institute. Guia do conhecimento em gerenciamento de projetos. Guia PMBOK. Pensilvânia: Project Management Institute, 2017. Disponível em: https://dicasliderancagp.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Guia-PMBOK- 6%C2%AA-Edi%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 27 maio 2021. ENAP. Fundação Escola Nacional de Administração Pública. Gerencia de projetos – Teoria e Prática. Módulo 5: Elaboração de uma EAP. Brasília, DF: Fundação Escola Nacional de Administração Pública, 2014. Disponível em: https://repositorio.enap. gov.br/bitstream/1/1107/1/GerenciaDeProjeos_modulo_5_final_.pdf. Acesso em: 26 maio 2021. https://dicasliderancagp.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Guia-PMBOK-6%C2%AA-Edi%C3%A7%C3%A3o.pdf https://dicasliderancagp.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Guia-PMBOK-6%C2%AA-Edi%C3%A7%C3%A3o.pdf https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/1107/1/GerenciaDeProjeos_modulo_5_final_.pdf https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/1107/1/GerenciaDeProjeos_modulo_5_final_.pdf 18 Aplicação do método PERT e CPM Autoria: Márcia Elisa Jacondino Pretto Leitura crítica: Fabricio Alonso Richmond Navarro Objetivos • Entender os conceitos de caminho crítico e diagrama de redes no planejamento. • Conhecer as representações gráficas dos diagramas de redes. • Empregar o método do caminho crítico (CPM) para estimar os prazos e as folgas do cronograma. • Aplicar a metodologia PERT para representar graficamente os cronogramas. 19 1. PERT/CPM PERT/CPM é a união de duas metodologias muito usadas para o planejamento e gerenciamento de obras: o método do caminho crítico (com, em inglês, Critical Path Method) e o diagrama de redes (PERT, em inglês, Program Evaluation and Review Technique). Segundo Almeida (2009), a técnica PERT foi desenvolvida em 1957, nos Estados Unidos, em um projeto que envolveu 250 empreiteiros, cerca de 9.000 subempreiteiros e a fabricação de 70.000 componentes, de um míssil a ser lançado de um submarino. O prazo inicialmente previsto era de cinco anos, mas, por razões políticas, objetivaram reduzir para três anos. Como não havia registro de histórico dos prazos de fabricação de cada componente, pois esse seria o primeiro desse tipo, foi feita consulta aos fabricantes para saber quais seriam os prazos máximo, normal e mínimo envolvidos na produção de cada peça. A técnica CPM também foi desenvolvida no mesmo ano pela empresa de produtos químicos Dupont. No entanto, nesse caso, a empresa possuía em seus arquivos o registro do prazo e das condições da época em que fora construída. Ao expandir seu parque fabril, a empresa resolveu usar esses dados no planejamento, considerando um determinado prazo para cada atividade (por isso, o CPM é um método determinístico), o que possibilitou a elaboração da rede (ALMEIDA, 2009). O CPM é mais adequado para obras em geral, como as da construção civil, em que as durações das atividades podem ser estimadas com base em obras anteriores de maneira pontual. Nesse caso é interessante separar as obras por tipologia, padrão construtivo, número de pavimentos, entre outros, e, então, poder comparar esses prazos e criar parâmetros. Já para aquelas obras mais inovadoras, em que se empregam sistemas construtivos ainda não executados em obras anteriores, deve-se recorrer a métodos probabilísticos, cuja recomendação é que se utilize o PERT. Assim: 20 [...] com o tempo as duas técnicas foram se fundindo, passando-se a usar a denominação PERT/CPM para este tipo de rede onde as atividades são representadas por setas. As duas técnicas são muito semelhantes e às vezes se confundem. (ALMEIDA, 2009, p. 110) Então, o PERT/CPM se aplica a qualquer projeto que compreenda um conjunto de atividades interdependentes, como ocorre com as obras de construção civil. Com essa técnica, é possível programar e controlar prazos, custos, riscos e recursos, físicos ou financeiros. No controle de obras pode ser refeito continuamente, segundo um sistema de realimentação com os prazos do que está de fato sendo executado (ALMEIDA, 2009). Dessa forma, as técnicas de planejamento PERT/CPM são tanto mais úteis quanto maior o número de atividades que compõe o projeto. 1.1 Representação gráfica Uma obra é composta por diversas atividades, como na execução do concreto armado que poderíamos pensar em pelo menos três atividades: montagem de forma, montagem das armaduras e concretagem. No PERT/ CPM cada uma delas é representada por uma seta, orientada na ordem em que ocorre a execução. O tamanho da seta não depende da duração da atividade. Na representação gráfica toda atividade será precedida de um evento inicial e concluída no evento final, os quais são ligados por uma seta que vai do evento inicial ao evento final. O evento é o que chamamos de marco, ou seja, uma atividade concluída que significa etapa vencida na obra. Na representação gráfica, os eventos são representados por círculos (ou retângulos) desenhados nas extremidades das setas para assinalar o início e término de cada atividade. Os eventos devem ser sequenciados, ou numerados, na ordem em que ocorrem. A figura a seguir ilustra a atividade iniciada após o evento 1 e finalizada no evento 2. 21 Figura 1 – Representação de atividade e eventos Fonte: elaborada pela autora. O Método PERT (Figura 2) consiste em uma rede com “setas” e “nós”, onde as setas representam as atividades e os nós representam os eventos concluídos ou a serem atingidos. Figura 2 – Rede PERT Fonte: Almeida (2009, p. 73). O Método do Caminho Crítico (CPM) (Figura 3) adota o mesmo procedimento do gráfico do PERT (setas para atividades e nós para eventos), em que as atividades possuem registros de prazos de execução. Figura 3 – Rede COM Fonte: Almeida (2009, p. 73). 22 Em planejamento de obra, quando falamos em marcos do cronograma, pensamos na conclusão de etapas importantes, como finalização da estrutura, finalização da alvenaria, finalização do revestimento etc. Isso justifica porque na representação do Método CPM, o evento fim aparece após várias atividades, o que difere do sistema PERT. Isso ocorre justamente porque o CPM é o método do caminho crítico, então, uma das maneiras de destacar os marcos do cronograma é representando dessa forma. Assim, em vez de termos os eventos finalização do chapisco, finalização do emboço e finalização do reboco, teremos o evento final de finalização do revestimento argamassado como um todo. Na Figura 3 poderíamos ter como evento inicial a alvenaria, que já estaria pronta, as atividades A, B e C como as etapas do revestimento interno e as atividades D, E e G como as etapas no revestimento externo, e todas convergem para o fim que consiste na conclusão do sistema de vedação como um todo. Em suma, segundo Mattos (2010), existem dois métodos de elaboração de um diagrama de rede: o método das flechas (ou Arrow Diagramming Method — ADM) e o método dos blocos (ou Precedence Diagramming Method — PDM). Ambos produzem o mesmo resultado, o que muda são as regras para desenhar o diagrama. A diferença está exatamente na representação gráfica, no método das flechas, como o próprio nome diz, as atividades são representadas por flechas que conectam eventos ou instantes do projeto. Já no outro método, as atividades são representadas por blocos. Assim, em ambos, as atividades são unidas por setas. 1.2 Método do caminho crítico – MCC ou CPM Na execução do cronograma de uma obra existem atividades em que são toleráveis atrasos em função de não impactarem no prazo final da obra como um todo. Por exemplo, a instalação de metais sanitários pode ocorrer tão logo a instalação hidrossanitária esteja concluída, porém, existe um alargamento no prazo até que a obra seja entregue, ou seja, 23 temos folga até sua instalação sem que isso impacte no prazo final de entrega daobra ao cliente. Geralmente, o que ocorre com esses itens de maior valor agregado, a fim de se evitar que ocorram furtos, ou seja, são instalados mais próximos do final do prazo. Dessa forma, perceba que é uma atividade que possui uma folga no cronograma. Agora, pense em uma outra atividade, como a execução das ferragens dos pilares. Se essa atividade atrasar, atrasa a atividade seguinte, que é a concretagem. Com a concretagem atrasando, atrasa toda a estrutura dos pavimentos seguintes, e em consequência a alvenaria e o revestimento, e assim por diante. Logo, perceba que essas são atividades críticas. Dessa forma, caminho crítico é uma sequência de atividades, as quais não possuem folga em seus prazos e cujo atraso de uma impactará o prazo de todas as demais. Se esse atraso ocorrer em mais de uma atividade crítica, ou seja, que pertencem ao caminho crítico, o atraso se acumulará e refletirá no prazo final de conclusão da obra. Dessa forma, o Método do Caminho Crítico (CPM) é usado para estimar a duração mínima da obra e determinar o grau de flexibilidade entre as atividades da rede do cronograma. Com essa técnica, calculam-se as seguintes datas de todas as atividades (PMI, 2017): • Início mais cedo (IC). • Início mais tarde (IT). • Término mais cedo (IC). • Término mais tarde (TT). A fim de exemplificar como a determinação dessas datas ocorrem, na Figura 4 é apresentado um exemplo do método do caminho crítico com as durações (D), os prazos e as folgas consideradas. 24 Figura 4 – Exemplo do método do caminho crítico Fonte: https://www.guiadaengenharia.com/wp-content/uploads/2020/05/cronograma- exemplo.png. Acesso em: 17 jun. 2021. Sobre o exemplo da Figura 4 analisa-se o seguinte: • As atividades B e F podem ser realizadas em paralelo às atividades C e E, no entanto, levarão 2 dias a mais para serem concluídas. • Considerando o prazo mais longo das atividades em paralelo, mais as atividades de início e fim, a duração total do projeto é de 20 dias. • Considerando que o caminho crítico é composto pelas atividades que levam mais tempo quando em paralelo com outras, as atividades da sequência A-B-F-G são as que compõem o caminho crítico. • A sequência A-C-E-G possui 18 dias de duração, portanto, não é o caminho crítico. • Existe uma folga total igual a 2 dias nas atividades A-C-E-G. • É possível atrasar nas atividades A-C-E-G em, no máximo, dois dias sem que isso afete o cronograma inicialmente definido. https://www.guiadaengenharia.com/wp-content/uploads/2020/05/cronograma-exemplo.png https://www.guiadaengenharia.com/wp-content/uploads/2020/05/cronograma-exemplo.png 25 • O caminho mais longo tem a menor folga total, ou seja, geralmente zero, logo, a atividade C não possui folga livre. • Se atividade a C atrasar um dia irá prejudicar a data de início mais cedo da atividade E, que deve iniciar no dia 10. Dessa forma, conclui-se que as datas, resultantes de início e término mais cedo e início e término mais tarde, não são necessariamente o cronograma do projeto. Essas datas são na verdade uma indicação dos períodos de tempo dentro dos quais a atividade poderia ser executada, usando os parâmetros inseridos no modelo do cronograma para durações de atividades, relações lógicas, antecipações, esperas e outras restrições conhecidas (PMI, 2017). • Controlar o cronograma Durante a fase de planejamento da obra, caberá ao profissional de planejamento calcular o caminho crítico a partir do cronograma executivo acordado da obra (linha de base). Segundo Soler (2017), com o andamento da obra deverá gerenciar para que as atividades nela contidas não sofram atrasos, tais como a compra de materiais e a contratação e mobilização de equipamentos em tempo compatível com a execução, as liberações de frentes de trabalho e áreas, e as interferências do trabalho dessas atividades com outros serviços ou atividades. Além disso, a comparação do progresso ao longo do caminho crítico pode ajudar a determinar a situação do cronograma, se está atrasado ou não. Logo, a variação no caminho crítico terá um impacto direto na data de término da obra. Inclusive, a avaliação do progresso das atividades nos caminhos quase críticos pode também identificar o risco de atraso do cronograma (PMI, 2017). Por fim, o cronograma CPM facilita a identificação de atividades críticas e não críticas. Assim, o cronograma CPM permite ao profissional de planejamento a capacidade de determinar se o atraso de uma atividade 26 é capaz de atrasar toda a obra ou se apenas consome folga existente no cronograma. Por essa razão, as avaliações de atraso, utilizando técnicas de programação CPM, são preferidas para a identificação e quantificação de atrasos no projeto (SOLER, 2017). 1.3 Diagrama de rede–PERT O diagrama de rede é a representação gráfica das atividades de uma obra, levando em conta as dependências entre elas. Essa etapa do roteiro do planejamento transforma a sequência e as informações de duração em um diagrama, como uma malha de flechas ou blocos (MATTOS, 2010). De acordo com Mattos (2010), a grande vantagem de representar a lógica do projeto como um diagrama de rede é que a leitura e a utilização da rede ficam muito mais simples e práticas de entender. Esse diagrama, geralmente, tem as atividades nos nós sem mostrar uma escala de tempo (PMI, 2017), conforme mostrado na Figura 5. Figura 5 – Diagrama de rede do cronograma do projeto Fonte: https://universoprojeto.files.wordpress.com/2014/02/diagrama-de-rede-project- network.png. Acesso em: 17 jun. 2021. https://universoprojeto.files.wordpress.com/2014/02/diagrama-de-rede-project-network.png https://universoprojeto.files.wordpress.com/2014/02/diagrama-de-rede-project-network.png 27 De acordo com o Guia PMBOK (PMI, 2017), ainda, é possível empregar o diagrama de redes juntamente com uma escala de tempo, com os prazos das atividades, mostrando as datas de início e fim, normalmente, na forma de gráfico de barras ou Diagrama de Gantt, conforme a figura a seguir. Figura 6 – Diagrama de rede do cronograma do projeto Fonte: https://64d63e83-a-62cb3a1a-s-sites.googlegroups.com/site/gdeprojetos/ grafico-de-gantt/GANTT.2.png?attachauth=ANoY7crxQsdwJY8SweWVazC4vR Mdl9jJsEIafgiJffSKrfQ8SUiwT3JN-2GU4GMMdyZyx0XmByz7BxbC45GjsLencj_ P9Xq0movv_pH7kv-Y-EXkJJ9q8g-57HdoA5aQcqrFKQzwUWiKfAr_ AE7wB7lA8f6i9UJ1Fh1rXppG2GQw9n6j3fh24V6a5XcOuQG1a85_ KhagJvhmTz7mAifPnVqnnAfz4oXkZZsUhd2rtK_mUOJoXkqpL_4%3D&attredirects=0. Acesso em: 17 jun. 2021. • PERT (Program Evaluation and Review Technique) A sigla PERT (em inglês, Program Evaluation and Review Technique) trata da técnica de Avaliação e Revisão de Programas, cuja equipe de criadores recorreu à ideia de durações probabilísticas para as atividades, atribuindo para cada uma delas uma duração otimista, uma pessimista e uma mais provável. O sistema PERT exige certa experiência do planejador para estimar os tempos de atividade e produzir as três estimativas do tempo de atividade, são elas (MOORE; WEATHERFORD, 2005): https://64d63e83-a-62cb3a1a-s-sites.googlegroups.com/site/gdeprojetos/grafico-de-gantt/GANTT.2.png?attachauth=ANoY7crxQsdwJY8SweWVazC4vRMdl9jJsEIafgiJffSKrfQ8SUiwT3JN-2GU4GMMdyZyx0XmByz7BxbC45GjsLencj_P9Xq0movv_pH7kv-Y-EXkJJ9q8g-57HdoA5aQcqrFKQzwUWiKfAr_AE7wB7lA8f6i9UJ1Fh1rXppG2GQw9n6j3fh24V6a5XcOuQG1a85_KhagJvhmTz7mAifPnVqnnAfz4oXkZZsUhd2rtK_mUOJoXkqpL_4%3D&attredirects=0 https://64d63e83-a-62cb3a1a-s-sites.googlegroups.com/site/gdeprojetos/grafico-de-gantt/GANTT.2.png?attachauth=ANoY7crxQsdwJY8SweWVazC4vRMdl9jJsEIafgiJffSKrfQ8SUiwT3JN-2GU4GMMdyZyx0XmByz7BxbC45GjsLencj_P9Xq0movv_pH7kv-Y-EXkJJ9q8g-57HdoA5aQcqrFKQzwUWiKfAr_AE7wB7lA8f6i9UJ1Fh1rXppG2GQw9n6j3fh24V6a5XcOuQG1a85_KhagJvhmTz7mAifPnVqnnAfz4oXkZZsUhd2rtK_mUOJoXkqpL_4%3D&attredirects=0 https://64d63e83-a-62cb3a1a-s-sites.googlegroups.com/site/gdeprojetos/grafico-de-gantt/GANTT.2.png?attachauth=ANoY7crxQsdwJY8SweWVazC4vRMdl9jJsEIafgiJffSKrfQ8SUiwT3JN-2GU4GMMdyZyx0XmByz7BxbC45GjsLencj_P9Xq0movv_pH7kv-Y-EXkJJ9q8g-57HdoA5aQcqrFKQzwUWiKfAr_AE7wB7lA8f6i9UJ1Fh1rXppG2GQw9n6j3fh24V6a5XcOuQG1a85_KhagJvhmTz7mAifPnVqnnAfz4oXkZZsUhd2rtK_mUOJoXkqpL_4%3D&attredirects=0https://64d63e83-a-62cb3a1a-s-sites.googlegroups.com/site/gdeprojetos/grafico-de-gantt/GANTT.2.png?attachauth=ANoY7crxQsdwJY8SweWVazC4vRMdl9jJsEIafgiJffSKrfQ8SUiwT3JN-2GU4GMMdyZyx0XmByz7BxbC45GjsLencj_P9Xq0movv_pH7kv-Y-EXkJJ9q8g-57HdoA5aQcqrFKQzwUWiKfAr_AE7wB7lA8f6i9UJ1Fh1rXppG2GQw9n6j3fh24V6a5XcOuQG1a85_KhagJvhmTz7mAifPnVqnnAfz4oXkZZsUhd2rtK_mUOJoXkqpL_4%3D&attredirects=0 https://64d63e83-a-62cb3a1a-s-sites.googlegroups.com/site/gdeprojetos/grafico-de-gantt/GANTT.2.png?attachauth=ANoY7crxQsdwJY8SweWVazC4vRMdl9jJsEIafgiJffSKrfQ8SUiwT3JN-2GU4GMMdyZyx0XmByz7BxbC45GjsLencj_P9Xq0movv_pH7kv-Y-EXkJJ9q8g-57HdoA5aQcqrFKQzwUWiKfAr_AE7wB7lA8f6i9UJ1Fh1rXppG2GQw9n6j3fh24V6a5XcOuQG1a85_KhagJvhmTz7mAifPnVqnnAfz4oXkZZsUhd2rtK_mUOJoXkqpL_4%3D&attredirects=0 https://64d63e83-a-62cb3a1a-s-sites.googlegroups.com/site/gdeprojetos/grafico-de-gantt/GANTT.2.png?attachauth=ANoY7crxQsdwJY8SweWVazC4vRMdl9jJsEIafgiJffSKrfQ8SUiwT3JN-2GU4GMMdyZyx0XmByz7BxbC45GjsLencj_P9Xq0movv_pH7kv-Y-EXkJJ9q8g-57HdoA5aQcqrFKQzwUWiKfAr_AE7wB7lA8f6i9UJ1Fh1rXppG2GQw9n6j3fh24V6a5XcOuQG1a85_KhagJvhmTz7mAifPnVqnnAfz4oXkZZsUhd2rtK_mUOJoXkqpL_4%3D&attredirects=0 28 • Tempo otimista (a) é o tempo mínimo em que tudo tem de estar perfeito para alcançar esse tempo. • Tempo mais provável (m) é o tempo mais provável, pois é o tempo requerido sob circunstâncias normais. • Tempo pessimista (b) seria o máximo tempo com alguma folga, para caso algo der errado. No desenvolvimento original da abordagem PERT (durante o final da década de 1950) o procedimento para estimar os tempos das atividades era considerado o tempo como uma variável aleatória com uma distribuição de probabilidade particular (MOORE; WEATHERFORD, 2005). Assim, estatisticamente, essa distribuição (distribuição beta) tem um valor mínimo e máximo, diferentemente da distribuição normal que tem um intervalo infinito de valores. O valor esperado de uma distribuição beta é de aproximadamente (MOORE; WEATHERFORD, 2005): (a + 4m + b)/6 Então, essa é a fórmula utilizada para estimar o tempo esperado da atividade. Como dado estatístico, estima-se ainda o desvio-padrão do tempo de uma atividade supondo que existam seis desvios-padrão entre os tempos otimista e pessimista, conforme a equação: (b – a)/6 Nesse tema, você aprendeu sobre a aplicação dos métodos PERT e CPM, entendendo o conceito de caminho crítico e sua importância no controle dos cronogramas de obras. Além disso, você aprendeu como estimar prazos e folgas das atividades e aplicar a metodologia PERT para representar graficamente os cronogramas, facilitando o controle dos prazos da obra. 29 Referências ALMEIDA, J. Técnicas de planejamento e controle. Rio Grande: FURG – CTI, 2009. MATTOS, A. D. Planejamento e controle de obras. São Paulo: PINI, 2010. MOORE, J. H.; WEATHERFORD, L. R. Tomada de decisão em administração com planilhas eletrônicas. São Paulo: Bookman, 2005. PMI. Project Management Institute. Guia do conhecimento em gerenciamento de projetos. Guia PMBOK. Pensilvânia: Project Management Institute, 2017. Disponível em: https://dicasliderancagp.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Guia-PMBOK- 6%C2%AA-Edi%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 27 maio 2021. SOLER, A. M. Caminho crítico: fundamentos para entendimento. Buildin, 2017. Disponível em: https://www.buildin.com.br/fundamentos-caminho-critico/. Acesso em: 15 jun. 2021. https://dicasliderancagp.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Guia-PMBOK-6%C2%AA-Edi%C3%A7%C3%A3o.pdf https://dicasliderancagp.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Guia-PMBOK-6%C2%AA-Edi%C3%A7%C3%A3o.pdf https://www.buildin.com.br/fundamentos-caminho-critico/ 30 Curva ABC para construção civil Autoria: Hudson Goto Leitura crítica: Fabricio Alonso Richmond Navarro Objetivos • Apresentar os conceitos da curva ABC para insumos e serviços de obras. • Estabelecer critérios referenciais para elaboração de curvas ABC da construção civil. • Elaborar e apresentar exemplos de curvas ABC de insumos e de serviços de obras. 31 1. Curva ABC na construção civil Um dos primeiros passos do planejamento de uma obra é a elaboração do seu orçamento. Durante esse processo podemos identificar que alguns insumos são recorrentes em diversas composições, por exemplo, a areia que é utilizada como insumo no serviço de execução do emboço, reboco, concreto e da alvenaria. No caso da mão de obra, o trabalho do pedreiro é frequentemente empregado na maioria dos serviços ao longo da construção. Para os engenheiros orçamentistas e gestores de obra é importante saber quais são os principais insumos utilizados e seus totais, podendo definir, dessa forma, a sua representatividade em relação ao escopo da construção. Essa informação servirá para planejar e priorizar as cotações de preços, negociações detalhadas, entre outros. Portanto, a curva ABC é uma ferramenta poderosa tanto para a análise de orçamentos como para o planejamento e controle de obras, aplicável para insumos e serviços, como estudaremos a seguir. 2. A curva ABC para insumos da construção Iniciando o planejamento da obra que se pretende executar, após a etapa de orçamentação propriamente dita, podemos tabular todos os insumos que serão empregados, em ordem decrescente, de acordo com os seus custos. Com esse processo obtemos a curva ABC de insumos, em que, no topo, estarão os principais insumos da construção (aqueles de maior custo). À medida que percorremos a tabela para baixo, os insumos menos significativos (os de menor custo) passam a ser identificados. Para ilustrar melhor esse método, considera-se o exemplo de uma obra simples, com paredes em alvenaria de tijolos cerâmicos e acabamentos em azulejos e pintura, tendo os quantitativos obtidos a partir dos projetos, conforme o quadro a seguir. 32 Quadro 1 – Planilha de quantitativos de serviços da construção Serviço Unidade Quantidade Alvenaria m² 210,00 Chapisco m² 410,00 Emboço m² 330,00 Reboco m² 90,00 Azulejo m² 330,00 Pintura m² 90,00 Fonte: elaborado pelo autor. Para conhecermos o custo total desta obra, devemos calcular os custos de cada serviço indicado no Quadro 1, baseando-se em composições de custos unitários. Alguns exemplos dessas composições são apresentados no Tabela 1 a seguir. Nesse contexto, ressalta-se que os custos unitários apresentados são apenas para fins didáticos, não devendo ser utilizados para composições de custos profissionais sem a prévia consulta de preços no mercado. Tabela 1 – Composição de custos unitários de serviços Alvenaria (m²) Chapisco (m²) Insumo Unidade Índice Custo Unitário (R$) Custo Total (R$) Insumo Unidade Índice Custo Unitário (R$) Custo Total (R$) Pedreiro h 1,08 15,50 16,74 Pedreiro h 0,11 15,50 1,67 Servente h 1,21 10,00 12,10 Servente h 0,16 10,00 1,62 Areia m³ 0,02 48,00 0,76 Areia m³ 0,00659 48,00 0,32 Cal kg 2,35 0,55 1,29 Cimento kg 2,62 0,84 2,20 Cimento kg 2,35 0,84 1,98 Total 5,81 Tijolo cerâmico un 27,00 1,30 35,10 Total 67,97 33 Emboço (m²) Reboco (m²) Insumo Unidade Índice Custo Unitário (R$) Custo Total (R$) Insumo Unidade Índice Custo Unitário (R$) Custo Total (R$) Pedreiro h 0,65 15,50 10,04 Pedreiro h 0,54 15,50 8,37 Servente h 0,86 10,00 8,64 Servente h 0,70 10,00 7,02 Areia m³ 0,03 48,00 1,26 Areia m³ 0,00659 48,00 0,32 Cal kg 3,93 0,55 2,16 Cal kg 1,98 0,55 1,09 Cimento kg 3,93 0,84 3,30 Total 16,79 Total 25,41 Azulejo (m²) Pintura (m²) Insumo Unidade Índice Custo Unitário (R$) Custo Total (R$) Insumo Unidade Índice Custo Unitário (R$) Custo Total (R$) Pedreiro h 0,39 15,50 6,03 Pintor h 0,76 16,50 12,47 Servente h 0,22 10,00 2,16 Servente h 0,59 10,00 5,94 Argamassa pronta kg 4,752 3,00 14,26 Lixa un 0,54 2,10 1,13 Azulejo m² 1,19 40,00 47,52 Selador litro 0,13 8,50 1,10 Total 69,96 Massa corrida kg 0,63 12,00 7,52 Tinta Látex PVA litro 0,18 18,00 3,30 Total 31,47 Fonte: elaborada pelo autor. Com base nos custos calculados para cada serviço, é possível definir o custo totalda obra (Tabela 2). 34 Tabela 2 – Levantamento do custo total da obra Insumo Unidade Qtde Custo Unitário (R$) Custo Total (R$) Alvenaria m² 210,00 67,97 14.272,75 Chapisco m² 410,00 5,81 2.384,04 Emboço m² 330,00 25,41 8.384,67 Reboco m² 90,00 16,79 1.511,39 Azulejo m² 330,00 69,96 23.087,59 Pintura m² 90,00 31,47 2.832,41 Total 52.472,84 Fonte: elaborada pelo autor. No entanto, se quisermos conhecer a quantidade total de cada insumo na obra, devemos multiplicar a quantidade unitária definida em cada serviço pelo quantitativo do serviço e somar ao final. De forma similar, se quisermos saber o custo total de cada um desses insumos, temos que multiplicar seu custo unitário dentro de cada serviço pelo quantitativo do serviço e somar ao final. Por exemplo, para calcularmos a quantidade e o custo total do insumo cimento, devemos fazer os seguintes cálculos: Na etapa de execução da alvenaria: • Quantidadecimento: 2,35 kg/m² x 210,00 m² = 494,42 kg • Custocimento: 494,42 kg x R$ 0,84/kg = R$ 415,32 Na etapa de execução do chapisco: • Quantidadecimento: 2,62 kg/m² x 410,00 m² = 1.076,00 kg • Custocimento: 1.076,00 kg x R$ 0,84/kg = R$ 903,84 Na etapa de execução do emboço: • Quantidadecimento: 3,93 kg/m² x 330,00 m² = 1.297,30 kg • Custocimento: 1.297,30 kg x R$ 0,84/kg = R$ 1.089,73 35 Logo, para toda a obra, temos: • Quantidade total de cimento = 494,42 + 1.076,00 + 1.297,30 = 2.867,72 kg • Custo total de cimento = R$ 415,32 + R$ 903,84 + R$ 1.089,73 = R$ 2.408,89 Se analisarmos todos os insumos utilizados nessa obra, veremos que o pedreiro, o servente, a cal e a areia são listados em mais de uma composição de serviço, precisando fazer um trabalho como o mostrado anteriormente. Depois de calcular os quantitativos totais de cada insumo, bem como seus respectivos custos, eles devem ser listados de forma organizada, em ordem decrescente de custo total, em uma planilha, conforme mostrado no Quadro 2. Quadro 2 – Planilha da curva ABC de insumos da obra Insumo Ud Custo Unitário (R$/ud) Qtde Total Custo Total (R$) Percentual (%) Percentual Acumulado (%) Faixa Azulejo m² 40,00 392,04 15.681,60 29,89% 29,89% APedreiro h 15,50 533,52 8.269,56 15,76% 45,64% Servente h 10,00 793,48 7.934,76 15,12% 60,77% Tijolo cerâmico un 1,30 5.670,00 7.371,00 14,05% 74,81% BArgamassa pronta kg 3,00 1.568,16 4.704,48 8,97% 83,78% Cimento kg 0,84 2.867,72 2.408,89 4,59% 88,37% Azulejista h 15,50 128,30 1.988,71 3,79% 92,16% C Pintor h 16,50 68,04 1.122,66 2,14% 94,30% Cal kg 0,55 1.969,60 1.083,28 2,06% 96,36% Areia m³ 48,00 15,27 732,76 1,40% 97,76% Massa corrida kg 12,00 56,38 676,51 1,29% 99,05% Tinta Látex PVA litro 18,00 16,52 297,43 0,57% 99,62% Lixa un 2,10 48,60 102,06 0,19% 99,81% Selador litro 8,50 11,66 99,14 0,19% 100,00% Total (R$) 52.472,84 100,00% Fonte: elaborada pelo autor. 36 Para o exemplo dessa obra, a curva ABC é tabulada no Quadro 2. Assim, para melhor entendimento, é importante que você tente calcular novamente esses valores para fixação do método desenvolvido. Assim, podemos verificar que a Curva ABC de insumos da construção é uma forma de organizar em tabelas os insumos de uma obra, em ordem decrescente conforme cada custo total. Em nosso exemplo vimos que o azulejo é o item de maior valor (ou mais significativo) em termos de custos, correspondendo a 29,89% do custo da obra, enquanto o selador é o de menor valor (ou menos significativo), com 0,19%. Graficamente, a curva ABC de insumos pode ser representada de acordo com a Figura 1. Figura 1 – Gráfico da curva ABC de insumos da obra Fonte: elaborado pelo autor. Como pudemos verificar na Figura 1, a planilha da curva ABC de insumos é composta de algumas colunas, que possuem as seguintes características: 37 • Insumo: é a descrição dos insumos que integram as composições de custos unitários adotados para o orçamento e, posteriormente, planejamento da obra. É importante cuidar para que nenhum insumo falte nessa relação, pois isso evitará erros no total da curva ABC em relação ao custo orçado da obra. • Unidade (ud): é a unidade empregada conforme o tipo de insumo. • Custo unitário (R$/ud): é o custo monetário de cada insumo em relação à sua unidade de aquisição. • Quantidade total: é a soma do insumo em cada serviço, no qual ele é empregado. Por isso, é importante que nenhum insumo deixe de ser devidamente relacionado. • Custo total (R$): é o produto da quantidade total pelo custo unitário do insumo. • Percentual (%): é o percentual que o custo total do insumo representa em relação ao custo total da obra. Como visto anteriormente, nessa etapa do orçamento e planejamento, os percentuais devem sempre ser dispostos em ordem decrescente na tabela. • Percentual acumulado (%): é o percentual acumulado obtido pela soma do percentual do insumo com o total acumulado dos insumos anteriores. Com os resultados dessa coluna, podemos ver com maior facilidade que alguns poucos insumos concentram boa parte do custo de uma obra. Segundo Mattos (2019), as faixas dos insumos podem ser agrupadas em três faixas – A, B e C, conforme o gráfico a seguir. 38 Figura 2 – Representação gráfica das faixas A, B e C Fonte: adaptado de Mattos (2019). Assim, na faixa A temos os insumos que compõem cerca de 50% do custo total. Em outras palavras, trata-se de todos os insumos situados acima do percentual acumulado de 50% – que, no nosso exemplo, são: azulejo, pedreiro e servente. A faixa B é composta pelos insumos com percentuais acumulados situados entre os valores de 50% e 80% do custo total (tijolo cerâmico, argamassa pronta e cimento). E, por fim, a faixa C lista os demais insumos não citados anteriormente (MATTOS, 2019). O enquadramento dos insumos em determinada faixa da curva pode variar conforme o tipo de obra ou experiência técnica do engenheiro ou gestor de obra. A curva ABC ainda tem algumas características importantes que valem destacar. A coluna “percentual” deve ser disposta em ordem decrescente, sendo a sua soma igual a 100%. A coluna “percentual acumulado” deve apresentar os insumos listados de forma crescente, finalizando sempre em 100%. A faixa “A”, normalmente, tem uma quantidade menor de insumos do que a faixa “B”, que, por consequência, também terá uma quantidade menor de insumos do que a faixa “C”. 39 Com isso, podemos verificar que as faixas “A” e “B” juntas totalizam aproximadamente 80% do custo de uma obra, compreendendo, geralmente, apenas cerca de 20% dos insumos. Essa é uma informação importante, que ilustra o princípio 80/20, do economista Vilfredo Pareto, que constatou em 1897 que 80% da renda estava concentrada em 20% da população. Esse mesmo princípio ainda pode ser constatado em outras áreas, como no setor de vendas, em que 80% do lucro é gerado por 20% dos clientes, ou no próprio trabalho diário, em que 80% das tarefas realizadas por uma pessoa é resultado de 20% do tempo gasto na sua realização. Logo, a faixa “C” lista cerca de 80% dos insumos, mas correspondendo a apenas 20% do custo da obra (MATTOS, 2019). Com a curva ABC observamos que descontos obtidos nos insumos da faixa “A” serão muito mais significativos, economicamente, do que os descontos obtidos nas faixas “B” ou “C”. Segundo Mattos (2019), em obras de edificação, nota-se que cerca de 40 a 50 insumos compõem 80% do custo do total de uma obra, considerando a utilização de cerca de 500 insumos em média. Portanto, pode-se observar que, por exemplo, a energia gasta para conseguir um abatimento de 1% no preço do elevador ou aço pode ser o suficiente para igualar o desconto obtido para reduzir 20% no preço do arame ou saco de estopa. A energia dispendida com negociações pode ser otimizada com o uso da curva ABC. Os principais softwares para orçamento de obras já geram automaticamente a curva ABC, a qual o orçamentista não pode deixar de analisar e apresentar ao término da orçamentação. Como temos visto até aqui, essa ferramenta auxilianão apenas o orçamentista, mas, também, o gestor e engenheiro de obras que farão o planejamento, controle e execução das obras. Como a curva mostra os insumos mais significativos da obra, o residente ou o gerente podem se concentrar assertivamente para o melhor resultado final. 40 3. A curva ABC para serviços da construção Os mesmos conceitos aplicados para a elaboração da curva ABC de insumos também podem ser empregados para gerar outra importante ferramenta de controle de obras: a curva ABC de serviços. Desse modo, pode-se afirmar que é uma variação da própria curva ABC de insumos, então, essa curva é a listagem dos serviços da planilha de orçamentos ordenada de forma decrescente, com colunas de “percentual” e “percentual acumulado”. Nesse caso, os serviços são classificados pelo seu custo total, não sendo detalhados ao nível de insumos. Continuando o mesmo exemplo da obra citada anteriormente, podemos obter a curva ABC de serviços (Tabela 3). Tabela 3 – Planilha da curva ABC de serviços da obra Insumo Unidade Qtde Custo Unitário (R$) Custo Total (R$) Percentual (%) Percentual Acumulado (%) Faixa Azulejo m² 330,00 69,96 23.087,59 44,00% 44,00% A Alvenaria m² 210,00 67,97 14.272,75 27,20% 71,20% B Emboço m² 330,00 25,41 8.384,67 15,98% 87,18% Pintura m² 90,00 31,47 2.832,41 5,40% 92,58% CChapisco m² 410,00 5,81 2.384,04 4,54% 97,12% Reboco m² 90,00 16,79 1.511,39 2,88% 100,00% Total (R$) 52.472,84 100,00% Fonte: elaborada pelo autor. Assim, podemos verificar que o serviço mais representativo dessa obra (faixa “A”) é o de colocação de azulejos, com 44,00%. Ao analisarmos a faixa “B”, verificamos que o assentamento de alvenaria e execução do emboço representam 27,20% e 15,98% do custo total da obra, respectivamente. Contudo, é importante lembrar que se deve analisar a interdependência 41 entre atividades, não diminuindo o cuidado no seu gerenciamento tomando como critério apenas o fator econômico. A curva ABC de serviços deve ser uma ferramenta complementar para o controle da obra. Para fins de comparação, Pinheiro e Crivelaro (2014) ainda citam que a curva ABC de atividades, em geral, é assim distribuída: • Faixa “A”: 7% das atividades representam 53% do custo total. • Faixa “B”: 14% das atividades representam 32% do custo total. • Faixa “C”: 79% das atividades representam 15% do custo total. A curva ABC de serviços proporciona os mesmos benefícios da curva ABC de insumos para os engenheiros orçamentistas e residentes ou gerenciadores de obra. Assim, realizando leitura do topo da tabela, obtém-se rapidamente a informação sobre quais são os serviços mais significativos em relação ao custo total da obra, proporcionando agilidade na tomada de decisão dos responsáveis envolvidos ou, até mesmo, para um processo de auditoria sobre o orçamento. Do ponto de vista de confiabilidade para validação do orçamento, pode- se afirmar que uma análise dos serviços das faixas “A” e “B”, por parte da gerência ou diretoria técnica, pode abranger cerca de 80% do total do orçamento. Para o orçamentista, a curva ABC pode auxiliar na detecção de eventuais erros de cálculo, evitando perdas financeiras para a obra e seus proprietários. Para o gestor da obra, essa ferramenta pode auxiliar no planejamento e programação da obra em relação ao nivelamento da mão de obra e equipamentos (MARCHIORI; CARVALHO, 2019). 42 Outra questão interessante se refere à contratação de prestadores de serviços. Sabendo em qual faixa da curva o serviço se encontra, pode- se definir o nível de gerenciamento para aquela atividade, ou seja, se é mais ou menos representativa para o andamento da obra. O mesmo pode ser aplicado para o controle de desempenho dos serviços, onde os serviços listados na faixa “A” serão aqueles que precisarão de maior cuidado, pois um ganho de produtividade nesses serviços tem maiores resultados do que ganhos na faixa “C”. Os critérios e rigorosidade no nível de medição dos serviços dos terceirizados também podem considerar a faixa onde estão tais atividades. Por fim, em eventuais casos de auditoria, o auditor pode utilizar a curva ABC para verificar se houve sobrepreço nos itens do orçamento. Isso pode ser detectado por meio da curva de insumos que apresente uma composição anormal em relação à sua tipologia (MARCHIORI; CARVALHO, 2019). A curva ABC é um instrumento simples e efetivo que pode ser utilizado desde a etapa de orçamento, onde já ocorre um planejamento inicial, até a fase de controle de obras, auxiliando engenheiros e gestores. No entanto, a sua utilidade ainda pode ser estendida para o controle de quantidades de mão de obra, materiais, equipamentos, entre outros, não se restringindo apenas ao controle financeiro, configurando-se em uma ferramenta versátil. Referências MATTOS, A. D. Como preparar orçamentos de obras. São Paulo: Oficina de Textos, 2019. MARCHIORI, F.; CARVALHO, M. T. M. Conhecendo o orçamento de obras: como tornar seu orçamento mais real. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. PINHEIRO, A. C. da F. B.; CRIVELARO, M. Planejamento e custos de obras. São Paulo: Érica, 2014. 43 Softwares para o planejamento e controle de obra Autoria: Hudson Goto Leitura crítica: Fabricio Alonso Richmond Navarro Objetivos • Apresentar os principais softwares utilizados para o planejamento e controle de obras. • Conhecer as funcionalidades do MS-Project 2016 e a forma de elaboração de cronogramas. • Apresentar os tipos de relatórios de análise que podem ser gerados com o MS-Project 2016. 44 1. Softwares e o planejamento e controle de obras Sobre o trabalho de planejamento e controle de obras, pode-se dizer que essa atividade deve ser realizada por um profissional com habilidades singulares, com um papel de destaque na equipe do projeto. Com base nos desenhos, projetos e documentos técnicos, esse profissional deve ter a capacidade de construir um plano para a execução da obra, sua estrutura analítica do projeto (EAP), a interdependência entre as atividades e sua duração, bem como a lista dos recursos necessários visando o cumprimento dos prazos acordados. Portanto, esse profissional é o mais indicado para utilizar os softwares disponíveis no mercado, operando-os de forma a maximizar os resultados. Então, podemos entender que a habilidade de utilizar bem um software de planejamento não é algo incomum de ser encontrado. Porém, encontrar alguém que saiba planejar e, ao mesmo tempo, utilizar bem um software é algo de grande valor agregado para a obra. Assim, com base nessa visão é que apresentaremos alguns softwares disponíveis no mercado para efetuar o planejamento e controle de obras, refinando nossos conhecimentos no MS-Project 2016, por ser um dos mais populares. 2. Softwares para o planejamento e controle de obras Ainda com a constante evolução da informática e o com o surgimento de novos softwares para atender necessidades específicas de grupos de profissionais de planejamento, ao longo dos últimos anos, verifica-se que alguns softwares têm se mostrado mais populares e mais utilizados pela maioria dos profissionais, onde pode-se citar o Primavera, o Volare e o MS-Project que veremos a seguir. 45 O Primavera, representado pela Verano, é um sistema composto pelos módulos Primavera Enterprise e Primavera Project Planner. O primeiro efetua o planejamento, estimativas, monitoramento e controle dos projetos. Já o segundo efetua o gerenciamento de múltiplos projetos. O Primavera pode ainda ser utilizado em conjunto com bancos de dados, como Oracle ou Microsoft SQL Server. Ainda, há outras ferramentas, como o Progress Reporter, que traz informações sobre as propriedades das atividades e o Portfolio Analyst, que efetua um apontamento das horas, sendo que ambos desenvolvem a análise e comparação de dados. Segundo Baia (2015), o módulo Sure Track é utilizado para planejar e controlar projetos de pequeno e médio porte. Desenvolvido pela PiniWeb, o Volare possui um módulo de planejamentode obras, elaborando automaticamente cronogramas físicos e financeiros da construção. Ele calcula os prazos de execução de cada atividade, dimensionando as equipes, disponibilizando, em conjunto, as informações necessárias para efetuar a compra de insumos. Desse modo, o Volare tem como base os dados compilados na TCPO (Tabela de Composição de Preços para Orçamentos), incluindo preços dos insumos, publicados na revista Construção e Mercado. Logo, ele pode trabalhar de forma integrada com o Ms-Project (BAIA, 2015). O Ms-Project é um software para gerenciamento de projetos desenvolvido pela Microsoft Corporation. Ele é utilizado para planejar, programar e dispor graficamente as informações dos projetos, facilitando a criação e alteração das atividades definidas como objetivos a serem atingidos. O Microsoft Project pode recalcular rapidamente os cronogramas, permitindo ter a visão que as mudanças efetuadas podem causar no resultado final do projeto (BAIA, 2015). É nesse software que nos concentraremos nos estudos a seguir. 46 3. O Microsoft Project Um dos softwares mais utilizados para o planejamento e controle de obras, o Microsoft Project pode ser encontrado nas seguintes versões (NOCÊRA, 2017): • Microsoft Project Standard: versão disponível para trabalhos individuais, não possuindo conectividade com o Project Server, nem o uso de algumas ferramentas avançadas, como o Planejador de Equipes. • Microsoft Project Professional: versão disponível para realizar trabalhos em equipe, permitindo a conexão com o Project Server e a integração com o Project & Portfolio Management (PPM) da Microsoft. • Microsoft Project Professional para Office 365: é a mesma versão do Project Professional, mas com licença específica, permitindo ao usuário a sua utilização em qualquer lugar. Nesse contexto, todo software possui limitações de utilização e o MS- Project 2016, também, possui alguns limites que devem ser obedecidos, conforme o quadro a seguir (NOCÊRA, 2017). Quadro 1 – Limites de utilização do MS-Project 2016 Atributo Limite Máximo Tarefa por projeto 400.000 Recursos por projeto 700.000 Predecessoras por tarefa 50.000 Sucessoras por tarefa 50.000 Níveis de estrutura de tópicos 65.535 Unidades de recursos por atribuição 60.000 Projetos consolidados 998 47 Calendários-base Mais de 30.000 Exceção por calendário Mais de 15.000 Valor de trabalho 1.666.666.666 horas Valor de custo em campo de moeda 999.999.999.999,99 Valor em um campo de número 999.999.999.999,99 Limites de datas 01/01/1984 a 31/12/2049 Fonte: adaptado de Nocêra (2017, p. 67). Ao abrir o MS-Project, pode-se visualizar imediatamente o Gráfico de Gantt como configuração padrão. Nessa tela são encontradas as informações de nome e quantidade de recursos, dependência entre tarefas, atividades críticas, folgas, nome do arquivo, a guia “Projeto” e a própria área do gráfico de Gantt. A ilustração dessa tela de trabalho pode ser vista na Figura 1. Figura 1 – Tela inicial do MS-Project 2016 Fonte: Nocêra (2017, p. 69). 48 Ao iniciar um novo projeto, é possível utilizar como base modelos ou projetos anteriores, representando uma economia de tempo para o planejamento, bem como servindo como um checklist das atividades necessárias ao projeto. Quanto aos modelos, o MS-Project 2016 possui vários deles armazenados no próprio software, além de outros que podem ser acessados por meio do Office Online. Caso a empresa decida utilizar um planejamento anterior, similar àquele que será iniciado, os benefícios podem ser, ainda, a realização de comparativos de resultados, principalmente quanto às anotações sobre lições aprendidas. Assim, os planejamentos elaborados podem ser salvos em arquivos armazenados na nuvem, possibilitando o acesso de qualquer lugar com acesso à internet. Nesse caso, pode-se trabalhar off-line e carregar as alterações ao arquivo na nuvem tão logo a conexão de internet seja reestabelecida. 3.1 Elaborando um cronograma no MS-Project 2016 Nesta sequência apresentaremos um roteiro para elaboração de um cronograma físico de um projeto, como forma de conhecimento preliminar das funcionalidades do MS-Project. O software possui outros recursos, bem como diversas combinações de utilização que podem ser exploradas. Assim, o primeiro passo a ser dado quando se inicia um novo projeto é definir se as tarefas e os trabalhos serão agendados pela data de início ou data de término do projeto, bem como deve-se definir as propriedades específicas do próprio projeto. Logo em seguida, deve-se definir as propriedades do arquivo que será utilizado. Ao abrir um novo projeto em branco no software, deve-se efetuar algumas configurações básicas, como: formatação da escala de tempo, autossalvamento das alterações, formato de datas, 49 configuração do calendário do projeto, entre outros necessários, conforme o projeto ou forma de trabalho do responsável pelo planejamento. Em seguida, deve-se preencher as informações solicitadas na caixa “Projeto” > “Informações do projeto”, conforme ilustrado na Figura 2. Figura 2 – Caixa de informações para inserção de dados sobre o projeto Fonte: elaborada pelo autor. As principais informações a serem preenchidas nessa caixa devem ser: “data de início”; “agendar a partir de”, selecionando a opção “data de início do projeto”; “data atual”; “data de status” e “calendário”, definindo-o como “padrão”. Para definir as propriedades específicas do projeto, personalizando-o conforme a necessidade, deve-se acessar a guia “Arquivo”, selecionando “Informações”, “Informações do Projeto” e “Propriedades avançadas”. Nessa janela será possível registrar dados como o título do projeto, bem como autor e gerente do mesmo, conforme ilustra a Figura 3. 50 Figura 3 – Inserção de informações personalizadas do projeto Fonte: adaptada de Nocêra (2017, p. 136). A próxima etapa é a inserção das atividades do projeto, que pode ser feita no modo de exibição do Gráfico de Gantt, facilitando sua visualização. Na coluna “nome da tarefa” são inseridas todas as atividades definidas no projeto, ou seja, a EAP (Estrutura Analítica de Projeto). De acordo com Mattos (2019), atividades listadas no formato de EAP, sintética ou analítica, é uma das principais formas utilizadas pelos softwares de planejamento, conforme a figura a seguir. Figura 4 – Inserção das atividades da EAP do projeto Fonte: adaptada de Nocêra (2017, p. 137). Uma vez que as tarefas são definidas, o próximo passo é a inserção da duração das atividades. Essa etapa é importante para o sucesso do planejamento, pois uma das causas principais da variação de prazos 51 nos projetos são as estimativas de duração imprecisas. Por isso, avalie cuidadosamente as durações previstas para cada atividade. No MS-Project 2016, para inserir durações às atividades, basta digitar a quantidade de dias na coluna “Duração”, conforme apresentada na Figura 4. O software ainda aceita a inserção em dias, horas, semanas, meses ou anos. Como configuração padrão, temos: 1 dia = 8h; 1 semana = 5 dias = 40h; 1 mês = 20 dias = 160h. Caso seja necessária alguma atividade ter duração em dias corridos, pode-se inserir a sua duração como dias decorridos ou com final “dd”. Por exemplo, uma atividade com duração 20dd trabalhará em dias corridos, ignorando finais de semana e feriados preestabelecidos, em períodos de 24 horas por dia. Segundo Mattos (2019), um exemplo bastante comum é a informação, em dias corridos, do prazo de entrega de materiais ou de execução de alguns serviços por parte de fornecedores e subempreiteiros. O planejador precisa estar atento, pois, 10 dias úteis são bem diferentes de 10 dias corridos. Outro ponto importante dentro do planejamento de obras no software é o estabelecimento de vínculos entre as atividades. Com base nas siglas inglesas, as dependências entre atividades são definidas como: TI = FS (finish-start); II = SS (start-start); TT = FF (finish-finish); IT = SF (start-finish)(MATTOS, 2019). Quadro 2 – Vínculos entre atividades no MS-Project 2016 TI – Término a início: tarefa B inicia após o término da tarefa A II – Início a início: Tarefa A e B são iniciadas ao mesmo tempo TT – Término a término: Tarefa A e B são concluídas ao mesmo tempo IT – Início a Término: Tarefa B não pode ser concluída até o início da tarefa A Fonte: elaborado pelo autor. 52 Os vínculos entre tarefas, além de ser natural em qualquer projeto, é importante no MS-Project 2016, pois permite que o software ajuste automaticamente a agenda do projeto quando alguma atividade ou duração, por exemplo, forem alteradas. Uma dica importante é não digitar as datas de início e término das tarefas, pois, assim, os ajustes automáticos são anulados, subutilizando a capacidade do software. Assim, sempre que alguma parte do projeto for alterada, essas atividades deverão ser atualizadas manualmente. Por isso é recomendável que as atividades estejam sempre vinculadas. Em alguns casos, algumas datas precisam ser fixadas ao longo do projeto, mas, para essas situações, sugere-se a inserção de marcos no cronograma. Uma das formas de vinculação entre tarefas no MS-Project 2016 é por meio da inserção da informação direto na coluna “Predecessoras”, conforme Figura 5. Figura 5 – Inserção dos vínculos entre atividades na coluna “Predecessoras” Fonte: adaptada de Nocêra (2017, p. 161). Uma funcionalidade que pode ser bastante útil para a tomada de decisão é o rastreamento de caminhos de tarefas. Essa função permite a visualização das predecessoras e sucessoras de uma tarefa no gráfico de Gantt, com cores distintas. No MS-Project 2016 ainda são possíveis a alocação de mão de obra (recursos) e definição de custos nas atividades constantes na EAP do 53 projeto. Isto possibilita uma análise físico-financeira mais precisa com eventuais reajustes de valores das taxas destes recursos. Ainda, pode-se analisar eventuais superlocação de recursos, buscando otimizá-los com correções e ajustes, como ilustrado no gráfico da Figura 6. Figura 6 – Visualização de recursos superalocados em projetos Fonte: Nocêra (2017, p. 229). 3.2 Relatórios de acompanhamento e controle O MS-Project possui uma guia onde podem ser gerados os relatórios dos planejamentos, com várias opções e funcionalidades disponíveis. As opções disponíveis podem ser visualizadas na guia “Relatório”, conforme a Figura 7. Figura 7 – Detalhe da guia Relatório no MS-Project 2016 Fonte: Nocêra (2017, p. 313). 54 Na opção “Painéis” da guia “Relatório” pode ser gerado o “burndown”, que se trata de um relatório comparativo entre o trabalho planejado, o trabalho concluído e o trabalho restante do projeto. Ele ainda mostra um comparativo entre as quantidades de tarefas planejadas, tarefas concluídas e tarefas restantes, conforme ilustra a Figura 8. Figura 8 – Relatório “burndown” gerado pelo software. À esquerda, o “burndown” de trabalho. À direita, o “burndown” de tarefa Mostra a quantidade de trabalho que você concluiu e quanto falta. Se a linha de trabalho acumulado restante for mais acentuada, o projeto poderá ficar atrasado. Mostra quantas tarefas você concluiu e quantas faltam. Se a linha de tarefas restantes for mais acentuada, o projeto poderá ficar atrasado. Fonte: adaptada de Nocêra (2017, p. 317). Outro tipo de relatório que pode ser gerado é o de “Tarefas Futuras”, onde são mostradas as tarefas que devem ser concluídas na semana de análise e as tarefas que têm início previsto para a semana seguinte, conforme a figura a seguir. 55 Figura 9 – Relatório de “Tarefas Futuras” Fonte: Nocêra (2017, p. 317). Desse modo, buscando analisar os custos do projeto, pode-se ainda gerar o relatório da visão geral do custo, onde são mostrados o custo, o custo restante, a porcentagem concluída, um comparativo entre porcentagem concluída e custo acumulado e status do custo, conforme ilustra a Figura 10. Figura 10 – Relatório de visão geral dos custos do projeto Fonte: Nocêra (2017, p. 324). 56 O MS-Project 2016, ainda, permite gerar outros tipos de relatórios, como “visão geral do projeto”, “visão geral do trabalho”, “recursos superalocados”, “visão geral do recurso”, “fluxo de caixa”, “tarefas adiadas, atrasadas e críticas do projeto”, entre outros (NOCÊRA, 2017). Assim, os softwares para o planejamento e controle de obras podem ser ferramentas úteis ao profissional responsável pelo gerenciamento, proporcionando organização das informações e agilidade nas tomadas de decisões. Referências BAIA, D. V. S. Uso de ferramentas BIM para o planejamento de obras da construção civil. 2015. 117 f. Dissertação (Mestrado em Estruturas e Construção Civil) – Departamento de Engenharia de Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, 2015. CHATFIELD, C. Microsoft Project 2016: passo a passo. Porto Alegre: Bookman, 2017. MATTOS, A. D. Planejamento e controle de obras. São Paulo: Pini, 2019. NOCÊRA, R. de J. Planejamento e controle de obras com Microsoft Project 2016. 2. ed. Santo André: Rosaldo de Jesus Nocêra, 2017. 57 BONS ESTUDOS! Sumário Planejamento de obra empregando EAP Objetivos 1. Planejamento de Obra Referências Aplicação do método PERT e CPM Objetivos 1. PERT/CPM Referências Curva ABC para construção civil Objetivos 1. Curva ABC na construção civil 2. A curva ABC para insumos da construção 3. A curva ABC para serviços da construção Referências Softwares para o planejamento e controle de obra Objetivos 1. Softwares e o planejamento e controle de obras 2. Softwares para o planejamento e controle de obras 3. O Microsoft Project Referências