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Gestão do Suas: Financiamento e 
Controle Social 
Estudo de 
Caso
Professora Me. Maria Cristina Gabriel de Oliveira
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Unicesumar
estudo de 
caso
FINANCIAMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS: O 
IMPACTO É SOMENTE MONETÁRIO?
Quando discutimos políticas sociais e inclusão social, é preciso que nos atentemos para o 
fato de que essas estão intrinsicamente ligadas às demais Políticas Públicas, independente 
de suas áreas, bem como às políticas econômicas, às de segurança, entre outras. Cada ação 
desenvolvida em políticas sociais tem um reflexo direto ou indireto nas demais políticas que 
permeiam a organização da sociedade. Podemos apresentar como exemplo o Programa Social 
Bolsa Família (PBF), que nasce com o objetivo de responder às necessidades prementes vi-
venciadas por uma parcela significativamente vulnerável da sociedade “(...) visando garantir 
o acesso de todas as famílias pobres não apenas a uma renda complementar, mas a direitos 
sociais” (CAMPELLO; NERI, 2013, p.17).
Assim, em seu desenho inicial, esse Programa já apontava que seu caminho para a supe-
ração das vulnerabilidades não seria apenas voltado para o aspecto financeiro, mas que se 
propunha a desenvolver ações de inclusão social com garantia de acesso aos direitos sociais. 
Sendo que suas ações fundamentavam-se em um modelo de desenvolvimento com inclusão.
(...) se assentava em um conjunto relevante de iniciativas, tais como a política de valoriza-
ção real do salário mínimo, os Programas de fortalecimento da agricultura familiar, a defesa 
e proteção do emprego formal e a ampliação da cobertura previdenciária. Articulado às 
demais iniciativas (...) o PBF conheceu uma trajetória de sucesso, contribuindo efetivamen-
te para melhorar as condições de vida e ampliar as oportunidades para milhões de famílias 
brasileiras (CAMPELLO; NERI, 2013, p.17).
Assim, esse Programa buscava não apenas o alívio inicial da miséria, mas também a imple-
mentação de ações em médio e longo prazo que poderiam assegurar o sucesso da inclusão 
social. Para tal, ele articulou três Políticas Públicas, que até dialogavam, mas pontualmente. 
No entanto, por meio do Programa, essas Políticas passaram a desenvolver ações continua-
das com vistas à superação do quadro inicial de miséria que registrávamos neste período.
Portanto as Políticas Públicas de Assistência Social, Saúde e Educação, em uma ação mo-
bilizadora para a superação da miséria e com vistas à inclusão social, articulam-se a partir 
desse Programa, que já se desenvolve a mais de uma década, cuja eficácia tem sido compro-
vada por meio dos números que o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA) 
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estudo de 
caso
acompanha e compartilha, e demonstram, assim, que esta pode ser uma das saídas para a 
superação da vulnerabilidade social.
Para que as metas definidas pelo Programa sejam cumpridas e a universalização do acesso 
garantida, há todo um conjunto de ações integradas que foram construídas a partir de es-
tratégias e pactuações que permitiram ao Programa consolidar suas ações não somente no 
que tange à transferência de renda, mas também acessar informações que auxiliam e orien-
tam outras Políticas Públicas na organização de suas ações. Um dos caminhos adotados foi 
a estruturação de um Cadastro Nacional, um banco de dados que dialoga com os demais 
bancos de dados na perspectiva de integrar informações acerca dos indivíduos, evitando, 
deste modo, a duplicação, fragmentação e inviabilidade das informações, assim, o Cadastro 
Único para Programas Sociais (CadÚnico) é um ganho significativo na construção de políticas 
de inclusão, que dialogam entre si e permitem um processo mais ágil para acessar progra-
mas, projetos e benefícios em diferentes Políticas Públicas (CAMPELLO; NERI, 2013).
A unificação de cadastros possibilita a efetivação de uma proposta de trabalho conjunto 
entre as Políticas Públicas, materializando-se por meio de estratégias que exigiam da União 
processos e procedimentos desenhados para todos os estados e municípios brasileiros. 
Como primeiro passo, ficou estabelecido o que cada política pública envolvida diretamen-
te no Programa Bolsa Família desenvolveria, fazendo com que o diálogo estivesse presente 
no acompanhamento das ações e dos serviços, a partir das condicionalidades de acesso e 
permanência no Programa, possibilitasse o avanço desse e da oferta de serviços à popula-
ção beneficiária (CAMPELLO; NERI, 2013).
Lá se vai mais de uma década desde a implantação do Programa Bolsa Família, e muito 
há o que se celebrar, pois muitas foram as conquistas. Não podemos negar que avanços 
e novas construções ainda são necessários, afinal, vencer décadas de negligência políti-
ca e social à população vulnerável não ocorrerá da noite para o dia, mas as conquistas do 
Programa podem ser observadas por meio dos relatórios dos municípios que o MDSA dis-
ponibiliza em seu portal e de obras teóricas e técnicas que relatam os avanços. Mas também 
é imprescindível que os próprios beneficiários manifestem suas visões e percepções acerca 
do Programa e dos efeitos em seu cotidiano.
Em 2013, quando o Programa completava dez anos de existência, foi publicada uma obra 
que mostrou as discussões técnicas e teóricas acerca dele, mas que fez algo, até então, não 
usual: apresentar a avaliação do usuário em relação ao Programa. A obra intitulada Vozes do 
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Bolsa Família: Autonomia, dinheiro e cidadania (REGO; PINZANI, 2013), nos presenteia com a 
discussão não apenas das melhorias econômicas, mas também do impacto no que tange à 
autonomia e à percepção de si mesmos como cidadãos que os usuários puderam vivenciar, 
principalmente entre as mulheres, cujos relatos nos emocionam e nos fazem refletir sobre 
o papel das Políticas Públicas na vida de cada cidadão brasileiro.
Este processo de análise foi realizado a partir da pesquisa desenvolvida entre os anos de 
2006 a 2011, e cada uma das mulheres, cujos fragmentos de relatos vamos trabalhar na se-
quência, foram entrevistadas mais de uma vez, nos possibilitando compreender a evolução 
que o acesso ao benefício teve em suas vidas e nas de seus familiares nesse período. É in-
discutível o fato de que há muito que avançar em relação às Políticas Públicas no Brasil, esta 
construção inicial não dará conta da demanda social presente, no entanto, são passos que 
damos enquanto sociedade, e que nos permitirão, mais à frente, sermos todos cidadãos com 
acesso igualitário aos direitos, bens e serviços construídos socialmente, o que já é possível 
vislumbrarmos a partir dos fragmentos de texto apresentados a seguir.
Na primeira entrevista, realizada em abril de 2006, com Dona Quitéria Ferreira da Silva, de 34 
anos, casada e mãe de três filhos pequenos, moradores na zona rural do alto sertão de Alagoas, 
nas redondezas da cidade de Inhapi, perguntei-lhe sobre a questão dos maus tratos; chorou, e 
me disse que não gostaria de falar sobre isto. A pergunta havia tocado em sua ferida. No ano se-
guinte, quando retornei, encontrei-a separada do marido, ostentando uma aparência muito mais 
tranquila. Recebeu-me sorridente e confessou-me que no ano anterior estava muito triste e de-
primida, pois enfrentava uma situação bastante difícil. À pergunta sobre o que havia mudado 
na sua vida após seu ingresso no Programa Bolsa Família, que lhe proporciona um rendimento 
monetário regular, dona Quitéria respondeu-me: “Adoro, porque eu não sei o que seria da minha 
vida sem ele. Ia ficar meio difícil, com três filhos. Acho ótimo, ótimo, porque se não fosse o Bolsa 
Família, eu não sei o que seria da família pobre”. (REGO; PINZANI, 2013, p. 27).
Aqui, Dona Quitéria, usuária do Programa Bolsa Família, fala que a sua melhora nas condições 
de vida se deu a partir do acesso aos recursos financeiros disponibilizados via Programa, no 
entanto ela demonstra outras características, como a alegria e a serenidade para criar seus 
filhos,e, de acordo com os autores da pesquisa, esta mudança está ligada ao que muitas 
dessas mulheres falam nas entrevistas, que assumiram a gestão da economia doméstica e 
tiveram a oportunidade de melhorar as condições de vida de seus familiares por adotarem 
posturas que contribuem para uma melhor nutrição cotidiana (REGO; PINZANI, 2013).
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Outro exemplo de superação não apenas da vulnerabilidade financeira, mas também 
de outros aspectos da vida familiar e social, vem da usuária do Programa Bolsa Família que 
é casada e mãe de sete filhos, cujo marido encontra-se desempregado.
Ao ouvir minha pergunta sobre o que achava do benefício estatal, respondeu enfatica-
mente: “Acho ótimo. Ave Maria, eu acho muito bom. Porque é uma ajuda pra gente. E para 
muitos que necessitam. Para mim foi muito bom ter esse dinheiro. Se acabar isso, não tem 
mais jeito da gente viver nesse mundo. É uma ajuda grande”. Pergunto-lhe qual a sua opinião 
quanto ao fato do Cartão Bolsa Família vir em seu nome e não no de seu marido:
E: Eu acho muito bom.
P: Porque a senhora achou bom?
E: Porque as mulheres sempre sabem fazer as coisas direitinho, viu? Os homens são mais...
P: Mais o que?
E: Mais danados para às vezes comprar uma coisa mais cara.
(REGO; PINZANI, 2013, p. 32).
Diante destas falas, é possível perceber que acessar o valor financeiro possibilitou certa 
autonomia às mulheres que, de alguma forma, como é recorrente nesta região, estiveram 
sob o jugo de seus familiares, seja, pai, irmão, marido, sogros, enfim, algumas dessas mulhe-
res experimentaram, por meio do Programa Bolsa Família, o direito de decidir o que adquirir 
para sua família a partir de sua percepção do que é necessário ou não, no lugar de outras 
pessoas que, por vezes, executam as ações sem consultar os maiores implicados.
Mesmo que esse benefício seja insuficiente para sanar as necessidades desta popula-
ção vulnerável do Vale do Jequitinhonha-MG, que é tão semelhante em alguns aspectos a 
outros recantos do Brasil, ele ainda contribuiu para o início do processo de reflexão, e até 
mesmo, de atuação dos indivíduos enquanto seres com garantia de direitos assegurados 
em lei, com destaque para as mulheres que foram entrevistadas neste período da pesquisa. 
De acordo com os autores da pesquisa:
(...) [uma] hipótese fundamental repousa no fato de que a renda monetária, recebida através do 
Bolsa Família, pode criar e ampliar espaços pessoais de liberdade dos sujeitos, trazendo-lhes, con-
sequentemente, mais possibilidades de autonomização da vida em geral. (...) A renda em forma 
de dinheiro historicamente constituiu e constitui condição real de início de processos de libera-
ção, sobretudo das subjetividades das pessoas, tornando-as, na linguagem de Simmel, pessoas 
determinadas (REGO; PINZANI, 2013, p. 29).
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As histórias das usuárias do Programa Bolsa Família, apresentadas nesta pesquisa, corro-
boram para que compreendamos o alcance de um Programa, que, por vezes, é reduzido a 
uma simples transferência de renda, mas que, no entanto, tem demonstrado o alcance que 
se pode construir em relação à tomada de consciência acerca da cidadania. As palavras a 
seguir confirmam estas possibilidades além do valor monetário.
“Ah! O dinheiro da Bolsa me tirou de casa!”, diz Dona Claudineide Nunes dos Santos, 24 
anos e mãe de cinco filhos. “Agora tenho de sair da toca mesmo. Vou às compras, experi-
mento alguma coisa que não conhecia.”
Perguntamos a ela:
P: Por exemplo?
E: Outro dia comprei pros meninos iogurte e macarrão.
P: A senhora gosta do programa?
E: Acho muito bom
(REGO; PINZANI, 2013, p. 34).
Em trechos das entrevistas com as usuárias, é possível visualizar, nas palavras carregadas 
de emoção, a sensação de poder sobre a própria vida que o dinheiro oriundo do Programa 
Bolsa Família deu:
Dona Maria Madalena Leite, de 54 anos, viúva e mãe de um casal de filhos, falou-nos 
assim: “A Bolsa mudou muito minha vida. Olha, foi ótimo!”. Perguntei-lhe o que achava de ter 
agora algum dinheiro regular. Disse-me: “Ah! Foi a primeira vez que isto aconteceu comigo! E 
tá certo assim, pois a mulher é mais econômica que o homem” (REGO; PINZANI, 2013, p. 31).
É possível observar, nos fragmentos das entrevistas, que todas as usuárias falam do poder 
que o acesso ao dinheiro lhes deu, principalmente por ele vir no nome da mulher. Aqui não 
trataremos das discussões de gênero, que podem ser percebidas no fundo das histórias con-
tadas. Nosso objetivo aqui é trazer para a pauta de discussão a importância de se estruturar 
um programa para trabalhar as vulnerabilidades não apenas do ponto de vista financeiro, 
mas também que perpasse outros aspectos da vida dos beneficiários, como no exemplo da 
Dona Quitéria, que se sentiu fortalecida a ponto de romper com o ciclo de violência domés-
tica e abuso sofrido e assumir o controle de sua vida e de seus filhos.
Deste modo, não podemos perder de vista que, ao falarmos do financiamento das Políticas 
Públicas, não estamos simplesmente debatendo acerca do valor financeiro destinado aos 
programas, serviços e projetos, ou mesmo das normativas que regulam as transferências de 
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renda, mas sim, que estamos falando também do processo de inclusão social e do direito 
de cidadania que não se resume a, simplesmente, um valor monetário, mas no impacto 
que ele terá na vida do usuário, e na forma como esse percebe a si mesmo e compreende 
seu lugar na sociedade. Que partindo das palavras de Waldeni Frasão Abreu, 30 anos, mãe 
de dois filhos e usuária do Programa, elas nos provocam uma reflexão profunda acerca do 
alcance dos programas sociais implantados.
(...) Em primeiro lugar, ressaltando o valor do dinheiro para qualquer coisa que precise ou deseje 
fazer: “Tudo que quer fazer na vida é com dinheiro, é pagando”. O dinheiro da bolsa, segundo 
ela, “não cala a boca de quem está passando necessidade. Necessidade não é só não ter o que 
comer, não. É querer comer uma coisa melhor e não ter, não poder. É querer vestir melhor e não 
poder, ir pra sorveteria com seu filho e não poder, ver um brinquedo da padaria e não poder 
comprar para seu filho. Neste momento começa a chorar, e agradece a Deus pelo benefício que 
Ele lhe deu. “É um dinheiro abençoado por Deus”. Perguntada se não foi o governo que criou o 
programa, ela responde: “É, foi o presidente, mas foi Deus que o colocou lá”. (...) Em sua opinião, 
a pessoa pobre tem que ter alguém do seu lado para ajudá-la, pois “o mundo é feito assim, tem 
que ter o apoio de quem tem condição. É assim. É assim na sociedade, na nossa casa, na escola, 
na igreja...”. Acha que, com o Bolsa Família, o governo está retribuindo o que “pagamos com os 
impostos” (REGO; PINZANI, 2013, p. 30).
Diante destas falas, portanto, fica evidente que acessar um benefício que incide diretamen-
te na percepção de cidadania é um dos passos para que possamos construir uma sociedade 
realmente democrática, com inclusão social e respeito à dignidade humana.
REFERÊNCIAS
CAMPELLO, Tereza; NERI, Marcelo Côrtes (orgs.). Programa Bolsa Família: uma década de 
inclusão e cidadania. Brasília: IPEA, 2013.
REGO, Walquiria Domingues Leão; PINZANI, Alexandre. Vozes do Bolsa Família: Autonomia, 
dinheiro e cidadania. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

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