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AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EPIDEMIOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Ivana Maria Saes Busato 
 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
O fundamento de toda pesquisa é o método científico, que se baseia na 
elaboração de hipóteses, buscando evidências empíricas que possam contribuir 
para negá-la ou confirmá-la. 
A ocorrência e distribuição dos eventos relacionados à saúde não se dão 
por acaso. Existem fatores determinantes das doenças e agravos da saúde que, 
uma vez identificados, precisam ser eliminados, reduzidos ou neutralizados. Já a 
identificação de eventos protetivos para saúde se torna cada vez mais importantes 
com o aumento da longevidade. 
O método científico organiza os procedimentos racionais utilizados para 
investigar e explicar os fatos e fenômenos da natureza, por meio da observação 
empírica e da formulação de leis científicas. Alguns conceitos são fundamentais 
para o planejamento em pesquisas epidemiológicas: população, amostragem, 
mensuração, variáveis, estimação, objetivos, hipótese e testes de hipótese. 
Os conceitos e desenhos em pesquisa epidemiológica serão estudados 
nesta etapa, assim como as medidas de frequência para morbidade e mortalidade. 
Estudaremos também as medidas de associação entre expostos e não expostos, 
especialmente o conceito de risco e fator de risco para compreender os 
indicadores epidemiológicos. 
TEMA 1 – CONCEITOS EM PESQUISA EPIDEMIOLÓGICA 
O conceito de população em epidemiologia é o ponto central para 
investigação epidemiológica. Em pesquisa, população corresponde ao número 
total de pessoas em determinado espaço geográfico no período considerado na 
investigação e expressa a magnitude do contingente demográfico e sua 
distribuição relativa. 
A amostra representa um subconjunto de elementos pertencentes a uma 
população, que deve ter validade e representatividade da população estudada 
para haver alguma inferência válida, dados que são obtidos pelo processo de 
amostragem. Portanto, população e amostra são essenciais em qualquer estudo 
epidemiológico que tenha validade científica e sua definição exige método 
estatístico. 
Cada pesquisa epidemiológica tem que estabelecer objetivos do estudo, 
que são separados em geral e específicos. Os objetivos devem estar coerentes 
 
 
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com a justificativa e o problema proposto. O objetivo geral deve mostrar a síntese 
do que se pretende alcançar, e os objetivos específicos explicitam os detalhes, 
um desdobramento do objetivo geral. Os objetivos informam por que a pesquisa 
será realizada, isto é, quais os resultados que pretende alcançar ou qual a 
contribuição que a pesquisa poderá proporcionar. Os enunciados dos objetivos 
devem começar com um verbo no infinitivo e este verbo deve indicar uma ação 
passível de mensuração (Busato, 2016, p. 101-102). 
Todo estudo tem as variáveis que serão coletadas e estudadas. O conceito 
de variável é relacionado com uma característica de interesse que se pode medir. 
As variáveis independentes são aquelas manipuladas, enquanto variáveis 
dependentes são apenas medidas ou registradas. Existem dois grandes grupos 
de variáveis: categóricas ou qualitativas e numéricas ou quantitativas. Destaca-se 
que essas variáveis devem ser elencadas visando cumprir os objetivos do estudo. 
A hipótese deve estar fundamentada em uma boa questão de pesquisa. A 
priori, deve ser simples e específica, é uma suposição que se faz a respeito de 
alguma coisa. Ao emitir uma hipótese, o cientista tenta explicar os fatos já 
conhecidos. É importante deduzir da hipótese formulada uma série de conclusões 
lógicas e planejar experiências para verificá-las. Para testar a significância 
estatística, a hipótese de pesquisa deve ser formulada de modo que categorize a 
diferença esperada entre grupos do estudo. 
As pesquisas são classificadas por meio de vários critérios. O primeiro se 
refere aos objetivos gerais da pesquisa, que se divide em: exploratória, descritiva 
e explicativa. 
A pesquisa exploratória visa a descoberta, o achado, a elucidação de 
fenômenos ou a explicação daqueles que não eram aceitos apesar de evidentes. 
A pesquisa exploratória oportuniza a obtenção de patentes nacionais e 
internacionais, a geração de riquezas e a redução da dependência tecnológica 
(Busato, 2016, p. 103). 
Segundo explica Busato (2016, p. 103), na pesquisa descritiva a “finalidade 
é observar, registrar e analisar os fenômenos ou sistemas técnicos, sem, contudo, 
entrar no mérito dos conteúdos”. O pesquisador não interfere; ele explora a 
frequência com que o fenômeno acontece ou como se estrutura e funciona um 
sistema, método, processo ou realidade operacional. 
A pesquisa explicativa registra fatos, analisa-os, interpreta-os e identifica 
suas causas. Essa prática visa ampliar generalizações, definir leis mais amplas, 
estruturar e definir modelos teóricos, relacionar hipóteses em uma visão mais 
 
 
4 
unitária do universo ou âmbito produtivo em geral e gerar hipóteses ou ideias por 
força de dedução lógica (Busato, 2016, p. 103). 
A classificação das pesquisas epidemiológicas ocorre pela natureza da 
informação e natureza das pesquisas. 
As pesquisas diferenciam-se em qualitativa e quantitativa. A pesquisa 
qualitativa responde a questões específicas em especial nas ciências 
sociais, preocupa-se com a realidade que não pode ser quantificado, 
trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, 
valores e atitudes. (Minayo, 2004) 
As bases do processo de pesquisa qualitativa estão na interpretação dos 
fenômenos e na atribuição de significados. Não se usam métodos e técnicas 
estatísticas, utiliza-se a descrição dos achados. 
A pesquisa quantitativa considera que tudo pode ser quantificável, o que 
significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las 
e analisá-las. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas 
(percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de 
correlação, análise de regressão etc.). (Dalfovo; Lana; Silveira, 2008, p. 
4) 
Podemos classificar as pesquisas quanto à sua natureza, podendo ser: 
básica e aplicada. Na pesquisa básica, o objetivo é gerar conhecimentos novos e 
úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Já na pesquisa 
aplicada, o objetivo é gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à 
solução de problemas específicos (Dalfovo; Lana; Silveira, 2008, p. 4). 
1.1 Validade em estudos epidemiológicos 
Todo pesquisador, ao realizar um estudo epidemiológico, pode estar sujeito 
a erros que interferem ou alteram seu resultado. Os erros podem ser sistemáticos 
ou aleatórios e deturpar o resultado do estudo. Para dar maior confiabilidade ao 
trabalho, o pesquisador deve estar atento para que não ocorram esses erros, que 
são chamados de vieses. 
Segundo Medronho (2009, p. 282), “o viés refere-se ao tamanho da 
discrepância entre o valor verdadeiro de uma medida na população alvo, e o valor 
de sua estimativa na população real”. Os vieses podem ser viés de seleção, de 
informação e confundimento. 
O viés de seleção ocorre quando o problema do estudo é causado por 
fatores envolvidos na seleção dos participantes ou por fatores que podem 
influenciar na participação dos selecionados. O viés de informação é referente às 
distorções nos resultados decorrentes de erros na mensuração, ou captação dos 
 
 
5 
dados, ocorrem por erros de classificação. E o confundimento refere-se à situação 
em que existe uma falta de condição de comparação entre as populações exposta 
e não exposta, em relação ao risco de adoecer, decorre da existência de uma ou 
mais variáveis, denominadas variáveis de confundimento, confundidoras ou de 
confusão (Medronho, 2009, p. 282). 
Estudos que exijam a participação dos sujeitos de pesquisa por um longo 
período temporal podem sofrer com problemas de perdas de seguimento e não 
cooperação, resultando no abandono dos sujeitos depesquisa. 
TEMA 2 – DESENHOS DE ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO 
Kuhlmann Jr. (2015, p. 848) aponta em seu estudo que 
sobressai o alto índice de artigos submetidos aos periódicos em que 
ocorre a rejeição, ou mesmo de artigos publicados em que se identificam 
problemas quanto a questões teóricas e metodológicas, bem como com 
implicações que ferem os procedimentos éticos. Situação também não 
pouco comum em projetos submetidos a agências de fomento. 
Como buscar a qualidade e a confiabilidade nas pesquisas? A pesquisa 
epidemiológica é realizada por meio de desenhos de estudo. A escolha do melhor 
desenho cabe ao pesquisador, verificando sua hipótese e buscando alcançar seus 
objetivos. Os desenhos de estudo podem ser diferenciados por meio de várias 
características. 
Quanto ao método, é dividido em descritivo e analítico. Os descritivos são 
estudos que apresentam a caracterização de aspectos semiológicos, etiológicos, 
fisiopatológicos e epidemiológicos de uma doença. São utilizados para conhecer 
uma nova ou rara doença, ou agravo à saúde, estudando a sua distribuição no 
tempo, no espaço e conforme peculiaridades individuais (Hochman et al., 2017, p. 
4). “Os analíticos são estudos utilizados para verificar uma hipótese. O 
investigador introduz um fator de exposição ou um novo recurso terapêutico, e 
avalia-o utilizando ferramentas bioestatísticas” (Hochman et al., 2017, p. 4). 
Quanto à unidade de observação, podem ser diferenciados em individuado 
e agregado. Os estudos com observação individuada estudam o indivíduo ou 
parte do indivíduo. Os estudos com observação de agregado estudam populações 
ou grupo de pessoas como uma única unidade. 
Quanto à manipulação da exposição, são divididos em observacionais e de 
intervenção. Os estudos observacionais são caracterizados pela posição do 
pesquisador de não influenciar os eventos. Há somente a coleta de informações 
 
 
6 
sobre os atributos ou medidas de interesse. Estudos de intervenção são aqueles 
nos quais o pesquisador deliberadamente influencia os eventos e investiga os 
efeitos da intervenção. 
Quanto à estratégia de observação, são apresentados em longitudinais e 
transversais. Os longitudinais são aqueles que investigam mudanças no tempo, 
ou seja, indivíduos são observados em mais de uma ocasião ao longo de um 
período temporal. Os transversais são aqueles em que indivíduos são observados 
apenas uma vez. 
Quanto ao momento de análise da exposição e do desfecho, são divididos 
em prospectivos e retrospectivos. Os estudos prospectivos são aqueles em que 
os dados são coletados no tempo a partir do início do estudo, e os retrospectivos 
são aqueles em que os dados se referem a eventos passados e podem ser 
adquiridos de fontes já existentes (fontes secundárias). 
2.1 Tipologia dos desenhos de investigação em epidemiologia 
Ensaios clínicos são estudos de intervenção por meio dos quais o 
investigador introduz algum elemento crucial para a transformação do estado de 
saúde dos indivíduos do estudo, visando testar hipóteses etiológicas ou avaliar a 
eficácia ou a efetividade de procedimentos diagnósticos, preventivos ou 
terapêuticos. O experimento clínico é um experimento com pacientes e seu 
objetivo é avaliar novos tratamentos para uma doença ou condição. 
Pesquisa experimental são os estudos que envolvem modelos 
experimentais como animais experimentais, cadáveres e cultura de células e 
tecidos. Esses desenhos de estudo são diferenciados pelo grau de controle 
experimental (Hochman et al., 2017, p. 4). 
Nos ensaios clínicos, quando há controle sobre a variável independente, 
podem ser diferenciados em controlados e não controlados, dada a presença ou 
ausência de um grupo de controle. 
Quanto ao controle da composição dos grupos, podem assumir as 
seguintes modalidades, segundo Hochman et al. (2017, p. 5-6): 
• Randomizados – são realizados com a inclusão aleatória dos sujeitos da 
pesquisa tanto no grupo de estudo quanto no grupo controle, com 
identidade comum na distribuição de características iniciais relevantes. 
 
 
7 
• Não randomizados – consistem na seleção de grupo com determinadas 
características para comporem o grupo de estudo e o grupo controle de 
forma não aleatória. 
• Bloquedo – estudo com grupos formados exclusivamente de uma dada 
categoria da variável de confundimento a se controlar, bloqueando-se o 
efeito às outras classes da variável. 
• Pareado – é constituído por pareamento, garantindo uma composição 
rigorosamente equivalente em termos de algumas variáveis selecionadas. 
• Rotativo – estudo com estrutura baseada na alternância de grupos; num 
dado momento da pesquisa o grupo experimental passa a ser controle. 
Quanto ao controle, vieses de mensuração podem ser: 
• Duplo-cego – a seleção e a mensuração referente à variável dependente 
(variáveis dependentes são apenas medidas ou registradas) são feitas às 
cegas (nem avaliador nem participantes têm conhecimento da alocação 
dos grupos). 
• Simples – cego, somente o participante não sabe a qual grupo pertence. 
• Aberto – todos têm conhecimento da alocação dos grupos e da variável 
dependente. 
Estudos de caso consistem em um cuidadoso e detalhado relato por um ou 
mais profissionais do perfil de um único caso. Já estudos de série de casos 
consistem em cuidadoso e detalhado relato da experiência de um grupo de 
pessoas com um diagnóstico comum. Relato de casos ou série de casos tipo de 
estudo descritivo são relatos detalhado de um caso ou mais, ou mesmo de uma 
série de casos, com minuciosa descrição de uma manifestação da doença, 
relatando em profundidade as características de interesse que podem sugerir 
hipótese etiológica e representam interface entre a clínica e a epidemiologia. 
Os estudos de coorte são os únicos capazes de abordar hipóteses 
etiológicas. Consistem na observação de grupos comprovadamente expostos a 
um fator de risco como causa da doença a ser detectada no futuro, ou seja, um 
grupo de indivíduos é selecionado por presença ou ausência de exposição a um 
fator particular e, então, são acompanhados por um período temporal específico 
(follow-up) para determinar o desenvolvimento de uma doença ou condição. São 
os prospectivos, chamados também de coorte concorrente. 
 
 
8 
Outro tipo de coorte é a coorte histórica, com característica retrospectiva. 
Envolve grupos selecionados por ter sido expostos a fatores de risco em potencial 
e, por disporem de registros sistemáticos da exposição e do efeito, são analisados 
os dados disponíveis antes do momento da realização da pesquisa, estudo 
individuado e com grupos de indivíduos com características específicas que 
contêm registros, por exemplo, em prontuários. 
Estudos de caso-controle têm as características de serem observacionais, 
longitudinais, retrospectivos, analíticos, em que um grupo de casos (indivíduos 
com a doença ou fator protetivo) é comparado quanto à exposição a um ou mais 
fatores, a grupo de indivíduos semelhantes ao grupo de casos, chamado de 
controle (sem a doença ou sem fator protetivo). 
Os estudos ecológicos são estudos em que a observação e a análise são 
feitas sobre determinadas características da população localizada em certas 
áreas geográficas, abordando áreas geográficas ou blocos de população bem 
delimitados. As unidades de medida não são individuais, mas grupos 
populacionais. Os estudos ecológicos analisam dados globais de populações 
inteiras, comparando a frequência de doença entre diferentes grupos 
populacionais durante o mesmo período ou a mesma população em diferentes 
momentos, geralmente com correlação entre indicadores de condições de vida e 
indicadores de situação de saúde. Podem ser classificados em subtipos: 
investigações de base territorial (ex.: bairro, município, países); e estudos de 
agregados institucionais (ex.: escolas, fábricas, prisões). 
Estudos de séries temporais são estudos de agregados, observacionais elongitudinais, em que uma mesma área ou população é investigada em momentos 
distintos no tempo. Alguns autores classificam os estudos de série temporal como 
uma subdivisão dos estudos ecológicos. 
Experimentos de intervenção comunitária e estudo de intervenção 
envolvem intervenções coletivas, comunidades inteiras ou grupos populacionais 
são selecionados e a exposição é coletiva, ou seja, são investigações com estudo 
de agregados que tomam como unidade de observação e análise de dados os 
agregados ecológicos ou institucionais, e que incorporam alguma intervenção de 
alcance coletiva. 
 
 
 
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TEMA 3 – MEDIDAS DE FREQUÊNCIA PARA MORBIDADE 
Para obter informações sobre o comportamento das epidemias, sua 
evolução ou ainda para avaliar as ações de prevenção, utilização de tratamentos 
e outros questionamentos que influenciam a vida das pessoas, são utilizadas as 
medidas de frequência. As medidas de frequência devem obrigatoriamente referir 
as dimensões tempo, espaço e população. 
As medidas de frequência para morbidade são definidas a partir de dois 
conceitos epidemiológicos fundamentais: prevalência e incidência. Além da 
quantificação de doenças ou agravos, essas medidas de frequência podem ser 
aplicadas à mensuração de quaisquer eventos relacionados à saúde, incluindo 
fatores determinantes. 
A prevalência expressa um número de casos acumulados (casos antigos e 
novos) até um dado momento, e a incidência representa a frequência com que 
novos casos ocorrem num determinado período temporal. 
3.1 Prevalência 
A prevalência é definida como frequência de casos existentes de uma 
determinada situação, numa população específica e em um dado momento. 
Casos existentes são aqueles que aconteceram em algum momento do passado 
(casos antigos) somados com os casos novos, excluindo os casos que deixaram 
de existir por qualquer motivo: cura, morte ou erro do diagnóstico. 
Podemos comparar a prevalência com uma fotografia e, portanto, mostrar 
a frequência de casos existentes naquele momento. Mostrar como uma doença 
subsiste na população. 
A prevalência é utilizada por grande parte dos estudos. A quantidade de 
casos existentes naquele instante avaliado em uma população pressiona por 
assistência à saúde. Dessa forma, a prevalência é uma medida relevante para o 
planejamento de ações e para a administração de serviços de saúde, usada em 
estudos em que não se tem precisão do seu início, como doenças crônico 
degenerativas não letais ou doenças com longos períodos de incubação. 
O cálculo da prevalência é parecido com o cálculo do risco. Utiliza a razão 
entre o número de casos conhecidos até aquele período temporal estudado e a 
população, excluindo cura, erro de diagnóstico e óbitos. Multiplica-se por 10n, e 
esse valor é utilizado para dar homogeneidade à informação da prevalência. 
 
 
10 
Lembrando da matemática básica, em que 102 = 100; 103 = 1.000; 104 = 
10.000, e assim por diante, utiliza-se o 10n que melhor traduza o tamanho da 
população a ser estudada. 
3.2 Incidência 
A frequência com que determinado evento ocorre numa população, que no 
momento inicial do período de observação estava “livre” do evento e exposta ao 
risco de ocorrência dele, é denominada incidência. Medida dinâmica porque 
expressa mudança no estado de saúde dos sujeitos que são avaliados no mínimo 
em duas ocasiões, num determinado período de tempo, observando a prevalência 
inicial e os casos novos detectados, o que representa a incidência, e por isso 
mostra uma mudança do estado. 
A incidência de um evento pode ser medida de diferentes formas. A mais 
simples é o número absoluto de casos incidentes (novos), que pode ser utilizada 
na avaliação de medidas assistenciais. 
A incidência acumulada é calculada por meio de uma razão, calculando a 
proporção dos que adoecem em relação aos que não adoecem. A fórmula da 
incidência acumulada mostra a divisão entre o número de casos novos num 
período de tempo, dividido pelo grupo de indivíduos dessa população que estão 
livres da doença, e multiplica-se por 10n, e geralmente é usado o 102 = 100, que 
exprime o resultado em percentual. Essa avaliação mostra a probabilidade de um 
indivíduo vir a adoecer ou acidentar-se; num grupo de indivíduos (proporção de 
incidência). 
A taxa de incidência é definida como a razão entre o número de casos 
novos de uma doença que ocorrem num intervalo de tempo determinado e numa 
população delimitada que está exposta ao risco de adquirir a referida doença no 
mesmo período (pessoa-tempo). O conceito de pessoa-tempo é importante e 
significa o período durante o qual um indivíduo esteve exposto ao risco de 
adoecimento e, caso viesse a adoecer, seria considerado um caso novo ou 
incidente. “O cálculo da taxa de incidência é uma razão que no numerador tem-se 
o número de casos novos num período de tempo pelo total de pessoa-tempo 
exposta ao risco no mesmo período de tempo” (Busato, 2016, p. 85). 
Vimos que os indicadores de prevalência e incidência são utilizados para 
avaliar a morbidade de doenças e agravos. Agora, vamos aprender um pouco 
mais. 
 
 
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TEMA 4 – MEDIDAS DE FREQUÊNCIA PARA MORTALIDADE 
A mortalidade é analisada por meio de vários indicadores epidemiológicos. 
Vamos estudar alguns que têm maior impacto na gestão de serviços de saúde. 
A Taxa Bruta de Mortalidade corresponde ao número total de óbitos por mil 
habitantes, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano 
considerado. Expressa a intensidade com a qual a mortalidade atua sobre 
determinada população. As taxas brutas de mortalidade padronizadas são úteis 
na comparação temporal e entre regiões. 
O método do cálculo é o seguinte: 
Número total de óbitos de residentes / População total residente x 1.000 
A Mortalidade Proporcional por Causa de Óbito mostra a distribuição 
percentual de óbitos por grupos de causas definidas, na população residente em 
determinado espaço geográfico, no ano considerado. Mostra a ocorrência 
percentual de uma causa de óbito estudada em relação ao total de óbitos 
(excluindo as causas mal definidas). 
O método do cálculo é o seguinte: 
Número de óbitos de residentes por grupo de causas definidas / Número total de 
óbitos de residentes (excluídas as causas mal definidas) x 100 
A Mortalidade Proporcional por Idade mostra a distribuição percentual dos 
óbitos por faixa etária, na população residente em determinado espaço 
geográfico, no período estudado. Mede a participação dos óbitos em cada faixa 
etária, em relação ao total de óbitos. 
O método do cálculo é o seguinte: 
Número de óbitos de residentes, por faixa etária /Número de residentes por faixa 
etária (excluídos óbitos idade ignorada) x 100 Mortalidade materna e mortalidade 
infantil 
A Mortalidade Materna mede o número de óbitos maternos, por 100 mil 
nascidos vivos de mães residentes em determinado espaço geográfico, no ano 
considerado. O conceito de morte materna é estabelecido pela Organização 
Mundial de Saúde como a frequência de óbitos femininos, ocorridos em até 42 
dias após o término da gravidez, atribuídos a causas ligadas à gravidez, ao parto 
 
 
12 
e ao puerpério, podendo ser usado para comparações nacionais e internacionais. 
O número de nascidos vivos é adotado como uma aproximação do total de 
mulheres grávidas. Reflete a qualidade da atenção à saúde da mulher do território 
estudado (bairro, cidade, estado país). 
O método do cálculo é o seguinte: 
Número de óbitos de mulheres residentes, por causas e condições consideradas 
de morte materna / Número de nascidos vivos residentes x 100.000 
A Taxa de Mortalidade Infantil mostra o número de óbitos de menores de 
um ano de idade, por mil nascidos vivos, na população residente em determinado 
espaço geográfico, no ano considerado. Mostra o risco de morte dos nascidos 
vivos durante o seu primeiro ano de vida, reflete as condições de desenvolvimento 
socioeconômicoe infraestrutura ambiental, bem como acesso e qualidade dos 
recursos disponíveis para atenção à saúde materna infantil. 
O método do cálculo é o seguinte: 
Método do cálculo = Número de óbitos de residentes com menos de um ano de 
idade / Número de nascidos vivos residentes x 1.000 
4.1 Análise de tempo de vida 
A Expectativa de Vida ou Esperança de Vida apresenta o número médio de 
anos de vida esperados para um recém-nascido, mantido o padrão de mortalidade 
existente na população residente, em determinado espaço geográfico, no ano 
considerado. Mostra o número médio de anos que se esperaria que um recém-
nascido vivesse. O aumento da esperança de vida ao nascer sugere melhoria das 
condições de vida e de saúde da população. 
O método de cálculo exige conhecimentos de tábua de vida, tempo 
acumulativo de vida e outros. 
O indicador “Anos potenciais de vida perdidos” é uma medida de 
mortalidade baseada na dimensão do tempo que se deixou de viver em 
decorrência de uma morte, mostrando o efeito das mortes ocorridas 
precocemente em relação à duração esperada da vida. 
O método de cálculo exige conhecimentos do somatório de óbitos numa 
determinada idade multiplicado pela diferença entre o limite máximo de idade e a 
idade definida. 
 
 
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TEMA 5 – CAUSALIDADE EM SAÚDE 
A causa em epidemiologia é o evento, condição ou característica que 
precede a condição de saúde e sem o qual ela não teria ocorrido ou teria ocorrido 
tardiamente. A exposição mostra a quantidade ou intensidade de um fator de risco 
ao qual o indivíduo ou grupo está ou esteve sujeito. O conhecimento sobre a 
causalidade em saúde é uma estratégia metodológica para identificação da 
associação entre supostas causas (fatores de risco) e seus efeitos sobre a saúde 
(desfechos). 
A causalidade é demonstrada por meio da associação entre causa e efeito. 
A existência de uma dependência estatística entre dois ou mais eventos, 
características ou outras variáveis mostra a associação. Uma associação ocorre 
quando a probabilidade da ocorrência de um evento ou característica varia em 
função da ocorrência ou não de um ou mais eventos, ou da presença ou não de 
uma ou mais características. 
A associação pode ser positiva se a causa e o efeito têm o mesmo sentido, 
por exemplo, aumentam concomitantemente, ou pode ser negativa, indicando 
sentidos opostos entre os eventos, quando um aumenta o outro diminui. Assim, 
podemos afirmar que associação é a relação estatística entre dois eventos, 
usualmente entre uma variável explicativa, explanatória ou independente (fator de 
exposição ou fator de risco) e o desfecho em saúde, variável dependente ou 
resposta, a variável que será explicada, buscando-se a explicação de sua 
ocorrência. 
Nem toda associação estatística é uma associação causal. Para sabermos 
se uma associação estatística pode ser uma indicação de causalidade em 
epidemiologia, devemos verificar se determinadas condições ou critérios foram 
atendidos. 
 A discussão de causa na epidemiologia é realizada por meio de “modelos”. 
Modelos são maneiras de pensar a realidade e expressam nossa imaginação 
sobre como o mundo deve funcionar. Foram diversos os modelos de causalidade 
já descritos. 
Inicialmente, vieram os postulados de Henle, em 1840, existindo poucos 
relatos de seus estudos. Esse postulado foi expandido por Koch, em 1890, que 
são conhecidos por Postulados de Henle-Koch, ou somente Postulados de Koch. 
Postulados de Henle-Koch apontam que para ocorrência de uma doença 
existe um determinado microrganismo, agente causal, de uma doença. Esse 
 
 
14 
modelo foi fruto da revolução microbiana. Os Postulados são explicados em 
quatro pontos: 
1. Associação constante – o agente causal (microrganismo) deve estar 
sempre presente nas lesões de hospedeiros doentes; 
2. Cultura pura – o agente causal deve ser isolado e cultivado numa cultura; 
3. Reprodução dos sintomas – o agente causal, quando isolado, deve 
reproduzir os mesmos sintomas quando inoculado em um hospedeiro 
sadio; 
4. Reisolamento – o agente causal pode ser isolado novamente do 
hospedeiro, inoculado artificialmente e corresponder, em todas as suas 
características, com o isolado das lesões. 
Com a transição epidemiológica e a importância crescente das doenças 
não infecciosas, a partir do século XX, as associações causais dessas doenças 
não possibilitavam explicação por meio do modelo dos Postulados de Henke-
Koch, havendo necessidade de outros modelos para preencher essa dificuldade. 
Em 1965, Hill propôs um novo modelo, usado para diferenciar as 
associações causais das não causais, chamado de Critérios de Causalidade de 
Hill. O modelo de Hill indica nove critérios para avaliação da causalidade. A força 
de associação mostra que, quanto mais forte for a associação encontrada entre 
causa e efeito, maior é possibilidade de se tratar de uma relação causal. A 
consistência ou replicação consiste em confirmar que a relação causal acontece 
e o gradiente biológico traz o aspecto da presença de uma curva dose-resposta, 
ou seja, aumento de uma causa aumenta o efeito. 
O critério da especificidade é avaliado por meio da confirmação de uma 
causa específica para um determinado efeito. Há coerência quando os achados 
da associação encontrada não entram em conflito com o conhecimento da história 
natural da doença. A evidência experimental tem o poder de comprovar a 
causalidade, mas conflita com preceitos éticos de experimentos com humanos, 
dificultando a realização de estudos experimentais. Outro critério que deve ser 
analisado, apontado por Hill, está na temporalidade entre a ocorrência de causa 
e efeito; a causa deve ser sempre anterior ao efeito. A analogia indica que efeitos 
podem ser produzidos por causas que sejam análogas entre si. Por fim, a 
plausibilidade existe quando é possível inferir causalidade diante do conhecimento 
vigente. 
 
 
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Uma doença em geral não está associada exclusivamente a uma única 
causa. Rothman, em 1986, propôs um outro modelo de causalidade no qual um 
certo fenômeno (doença, por exemplo) não é explicado por um único fator (causa 
única), mas sim por uma constelação de fatores, que são as causas componentes, 
que agem de forma conjunta para a produção de determinado efeito. Algumas 
causas componentes, quando estão presentes nas causas suficientes, são 
chamadas causas necessárias. Introduz o conceito de causa “suficiente”, que 
consiste numa constelação mínima de causas componentes para provocar uma 
doença. Para a ocorrência de determinada doença, podem existir diversos 
conjuntos de causas suficientes. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BUSATO, I. M. S. Epidemiologia e processo saúde-doença. Curitiba: 
InterSaberes, 2016. 
DALFOVO, M. S.; LANA, R. A.; SILVEIRA, A. Métodos quantitativos e qualitativos: 
um resgate teórico. Revista Interdisciplinar Científica Aplicada, Blumenau, v. 
2, n. 4, p. 113, 2008. 
HOCHMAN, B. et al. Desenhos de pesquisa. Acta Cir. Bras., São Paulo, v. 20, 
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