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Coordenadora Maristela Lobo Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência 1a edição São Paulo 2022 Coordenadora Maristela Lobo Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência 4 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência ISBN: 978-65-5872-309-7 Editora VM Cultural Copyright © 2022 VM Cultural Coordenadora Maristela Lobo Projeto Gráfico Miriam Ribalta Diagramação e tratamento de imagens Cristina Sigaud e Luciana Sutil Preparação e revisão Ana Alice Amorim VM Cultural Rua Maria Figueiredo, 595 – conj. 62 04002-003 – São Paulo – SP – Brasil Tel.: (11) 2168-3400 Todos os direitos são reservados à VM Cultural. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida por quaisquer meios sem a permissão prévia da editora. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG) H288 Harmonização orofacial [livro eletrônico] : uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência / Coordenadora Maristela Lobo. – São Paulo, SP: VM Cultural, 2022. Formato: PDF Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web Inclui bibliografia ISBN 978-65-5872-309-7 1. Odontologia. 2. Harmonização orofacial. I. Lobo, Maristela. CDD 617.6 Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422 AGRADECIMENTOS O primeiro agradecimento é a Deus. Sem Ele não estaríamos aqui e nada seria possível. Em seguida, gostaria de agradecer a todos os autores e colaboradores desta magnífica obra! Somos todos “anjos de uma só asa”: precisamos estar juntos para voar. E juntos, voamos muito mais alto. À VMCom, o meu muito obrigado pela oportunidade de participar da coordenação científica de tantos projetos relacionados à Revista FACE e ao FACE International Congress, que culminaram neste livro. Tenho orgulho do trabalho de vocês. Em particular, quero agradecer à minha família pelo apoio e amor incondicionais e por entenderem o meu “brilho no olhar” ao realizar projetos e sonhos na Odontologia. É uma escolha altruísta, motivada por uma força interna muito grande, que eu não consigo caracterizar ou quantificar com palavras. Prefiro pensar que busco ser um instrumento para o crescimento de todos e que faço com amor. Por último, agradeço a você, cirurgião-dentista, congressista, pela confiança em nosso trabalho. Maristela Lobo 6 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Quando fui convidado pela Professora Maristela Lobo a escrever este prefácio, um filme passou na minha cabeça. Logo pensei: hoje estamos lançando um livro de Harmonização Orofacial! Quando poderíamos imaginar a poucos anos atrás que isso seria possível?! Era sim um sonho, que virou uma realidade, nós cirurgiões-dentistas podermos exercer tão nobre especialidade. Tenho certeza que a Harmonização Orofacial (HOF) não veio para ser algo isolado na Odontologia, e sim para complementar os procedimentos que há muitos anos realizamos em nossa clínica diária. Inter-relacionar e não segregar. Para isso, temos que ter respeito e carinho. Tratar nossa HOF como um bebê prematuro, com muito amor e, sobretudo, com respeito, ética e moral. A partir de 2019, naquele 29 de janeiro, a HOF tornou-se uma especialidade da Odontologia, graças ao CFO que abraçou a HOF e a defende com unhas e dentes. Nosso eterno obrigado. Porém, temos que pensar em multidisciplinaridade e interdisciplinaridade. Qual a diferença? Já dizia o saudoso cirurgião-dentista Prof. Ricardo Cruz: “Multidisciplinaridade é quando um paciente é atendido por vários profissionais que não falam entre si. Isso é absolutamente inadequado. PREFÁCIO Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 7 O que nós defendemos é: um paciente que precisa de vários profissionais, e estes têm obrigação de conversar entre si. Aí o termo mais adequado é interdisciplinaridade. E o que vem como resultado dessa ação é a chamada transdiciplinaridade, em que projetos conjuntos são feitos visando sempre o melhor para o PACIENTE.” Esse é nosso objetivo, não somente querer vender produtos ou procedimentos. Isso faz parte sim, desde que feitos de forma racional dentro da ética e da moral, sempre. Embasado nisso, não posso deixar de defender o estudo: a Ciência deve estar acima de tudo, ou seja, achismo nunca. Temos que tomar cuidado, buscar a formação correta, com professores corretos, de forma a garantir sempre qualidade total: esse é um dos objetivos deste livro. Enfim, esses são os pilares básicos da educação como um todo, se eles forem seguidos seremos sempre tidos como profissionais de excelência. Obrigado a toda equipe pelo convite para este breve prefácio. Foi uma honra. Uma excelente leitura a todos. José Peixoto Ferrão Jr. 8 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência COORDENADORA Maristela Lobo Graduação em Odontologia – UFBA; Mestrado em Odontologia, área de Cariologia, Doutorado em Clínica Odontológica, área de Dentística – FOP Unicamp; Especialização em Periodontia – EAP-APCD; Residência em Implantes – Harvard, Boston (EUA); Master em toxina e preenchedores – Marc Institute, Miami (EUA); Professora nos cursos de pós-graduação em Odontologia Estética e Coordenadora do curso de Especialização em Periodontia – Centro Universitário Senac-SP; Coordenadora da especialização e do mestrado em Harmonização Orofacial – SLMandic; Cirurgiã-dentista em clínica particular em São Paulo; Editora-chefe da Revista FACE. Antonio José Bittencourt da Rosa Mestre em Implantodontia – Faculdade de SLMandic; Especialista em Implantodontia – Instituto Brasileiro de Implantodontia, RJ; Coordenador do curso de Especialização e Imersão em Harmonização Orofacial – Orofacial Group. Andréa Tedesco Professora associada – Universidade Federal do Rio de Janeiro; Coordenadora pedagógica – Instituto Andrea Tedesco; Mestra e doutora em Clínica Odontológica. AUTORES Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Carina de Morais Luis Pereira Graduada em Psicologia – PUC-GO; Gestão de Recursos Humanos – Faculdade Cambury. Daniela Cardoso Especialista em Harmonização Orofacial – Facsete; MBA Gestão em Saúde – FGV; Mestranda em Harmonização Orofacial – SLMandic. Eduardo Natal Especialista em Ortodontia; Especialista em Harmonização Orofacial. Evilin Sanches Morais Especialista em Harmonização Orofacial – Facsete; Pós-graduação em Prótese Dental – FOP-Unicamp; Mestranda em Harmonização Orofacial – SLMandic. Isabella Miotello Ferrão Especialista em Periodontia – Facsete; Especialista em DTM e Dor Orofacial – SLMandic; Pós-graduada em Odontologia Hospitalar – Cemoi; Especialista em Harmonização Orofacial – Funorte; Professora auxiliar – Cursos Ferrão Jr. José Peixoto Ferrão Jr. Especialista em Periodontia – APCD-Bauru; Especialista em Harmonização Orofacial – CFO; Mestre e doutor em Ciências da Saúde – Unb; Professor doutor associado responsável pela disciplina de Periodontia – UFMS; Ex-presidente Fundador da SBTI; Presidente da Associação Latino-americana de Harmonização Orofacial – Alaof. Levy Nunes (in memoriam) Especialista em Harmonização Orofacial, mestre em Fisiologia Oral – FOP-Unicamp; Doutor em Cirurgia e PhD em Cirurgia – Unesp-FMB. Lucila Zimmermann Largura Doutora em Ortodontia; Especialista em Harmonização Orofacial; CEO do Instituto Lucila Largura. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 9 Marcelo Germani Especialista em Implantodontia – Hospital Geral do Exército (SP); Especialista em Periodontia – APCD-Araçatuba; Especialista emRadiologia – SLMandic; Mestrando em Odontologia – Speaker Galderma; Mestrando em Ciências Odontológicas – Unib. Luís Fernando Naldi Doutor em Periodontia – USP, Bauru; Professor titular em Periodontia – FO-UFG; Coordenador do curso de Plástica Periodontal – Doc+. AUTORES Márcia Viotti Especialista em Dentística – UCCB; Habilitada em Harmonização Orofacial – Marc Institute – Miami; Professora do curso de especialização em Harmonização Orofacial – ABO-GO; Editora-assistente – Revista FACE (Anatomia). Marcus Vinicius Sodré Mestre e especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais; Especialista em Implantodontia Oral e Harmonização Orofacial; Professor da disciplina de Cirurgia – Faculdade de Odontologia de Valença (UniFAA); Professor – Andrea Tedesco Instituto; Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacias. Maria Geovânia Ferreira Especialista em Prótese Dentária – UFU-MG; Habilitada em Harmonização Orofacial – Marc Institute; Professora do curso de especialização em Harmonização Orofacial – ABO-GO; Editora-assistente – Revista FACE (Toxina botulínica). Miscia Martins Moraes Especialista em Harmonização Orofacial – CFO; Especialista e mestre em Ortodontia – Uniararas. Nicole Barbosa Bettiol Especialista em Harmonização Orofacial – CFO; Mestra e doutoranda em Ciências da Saúde – Forp-USP. Priscila Paiva Porter Professora associada II em Dentística Restauradora – Instituto de Saúde de Nova Friburgo-Universidade Federal Fluminense (ISNF/UFF); Mestre em Clínica Odontológica – Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG); Doutora em Dentística Restauradora – Faculdade de Odontologia de Araraquara (FOAr-Unesp); Especialista em Dentística Restauradora – Faculdade de Odontologia de Araçatuba – FOA-Unesp; Especialista em Harmonização Orofacial – Faculdade Faipe. Priscilla Cardoso Lazari-Carvalho Graduada em Odontologia – FOA-Unesp; Mestra e doutora em Prótese Dental – FOP-Unicamp; Pós-doutorado em Odontologia – UFG; Professora da graduação e da pós-graduação da Faculdade de Odontologia – UniEvangélica. Rachel Martinelli Moura Especialista em Implantodontia e em Harmonização Orofacial; Professora de Clínica da Residência Cirúrgica – Instituto Andrea Tedesco; Professora – A3cursos. Raphaella Autran Biomédica esteta – Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação; Fisioterapeuta, mestranda em Ciências Farmacêuticas – Universidade Federal do Rio de Janeiro; Especialização em Dermatofuncional – Faculdade Estácio. Roger Kirschner Graduação em Odontologia – Universidade Metodista; Mestrado em Prótese Dentária, Especialização em Periodontia – SLMandic; Especialização em Prótese Dentária – Uniararas; Especialização em Implantodontia – FMU; MBA em Visagismo – Estácio; Máster em Toxina e Preenchedores – Marc Institute, Miami (EUA); Editor-assistente da Revista FACE. Victor Rogerio Mestre em Ciências – Unifesp/EPM; Professor da HOF Academy – Speaker Galderma. Thiago Mesanelli Nunes Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial – Senac-SP; Especialista em Harmonização Orofacial, mestrando em Cirurgia Bucomaxilofacial – SLMandic; Pós-graduação em Odontologia Hospitalar – Facoph-Bauru; Pós-graduação em Implantodontia – APCD-Piracicaba. 10 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência APRESENTAÇÃO Organizar essa obra foi, ao mesmo tempo, difícil e prazeroso. Difícil porque todo trabalho de qualidade exige dedicação, tempo, esforço, metas e uma equipe comprometida com o resultado. Prazeroso porque traz uma satisfação indescritível e um orgulho muito grande em ter esse projeto realizado. A ideia principal deste livro foi a de reviver e eternizar os temas apresentados no FACE International Congress de 2019, em capítulos escritos, documentando um evento que ficou para a história da Odontologia como um marco de excelência, seriedade, integração e ciência em Harmonização Orofacial. Visivelmente, os autores deste livro mantiveram a mesma qualidade e entusiasmo que temperaram suas palestras, para que o leitor pudesse, de fato, Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 11 sentir um pouco da sensação do que representa este evento para a Odontologia como um todo, e para a Harmonização Orofacial como especialidade. Esse é mais um direito do congressista do FACE International Congress 2022: ter acesso a uma grade científica escolhida com muito critério, orientada a entregar o melhor em termos de informação e atualização, em um ambiente confortável e acolhedor, e ainda ganhar esta obra com tanto conteúdo aplicável à sua prática clínica. Espero que você, que tem esse livro em mãos, possa aproveitar tudo o que aqui está escrito e perceber, nas entrelinhas, a importância de inserir a Harmonização Orofacial progressiva no contexto da multidisciplinaridade e da ciência. Vamos juntos, mais uma vez, fazer história na Odontologia. 12 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência SUMÁRIO CAPÍTULOS 1] A HARMONIZAÇÃO OROFACIAL NO CONTEXTO DA ODONTOLOGIA ESTÉTICA MULTIDISCIPLINAR MARISTELA LOBO, ROGER KIRSCHNER 14 2] MANEJO LABIAL COM CIMENTO ÓSSEO: UMA OPÇÃO DE TRATAMENTO PARA O SORRISO GENGIVAL LUÍS FERNANDO NALDI, PRISCILLA CARDOSO LAZARI-CARVALHO, CARINA DE MORAIS LUIS PEREIRA 36 3] INTERCORRÊNCIAS COM TOXINA BOTULÍNICA RELACIONADAS A DIFERENTES ÁREAS ANATÔMICAS MARIA GEOVÂNIA FERREIRA, MARCIA VIOTTI 50 4] PELE E ENVELHECIMENTO RAPHAELLA AUTRAN 62 5] BICHECTOMIA – TÉCNICA LEVY NUNES PARA INCISÃO SEGURA LEVY NUNES – (IN MEMORIAM), EVILIN SANCHES MORAIS, DANIELA CARDOSO, NICOLE BARBOSA BETTIOL, THIAGO MESANELLI NUNES, MISCIA MARTINS MORAES 74 Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 13 SUMÁRIO | 6] INTEGRAÇÃO ENTRE FIOS DE PDO E ÁCIDO HIALURÔNICO PARA OTIMIZAR O EFEITO LIFTING – MÉTODO CUBO E TÉCNICA STRAP UP LUCILA ZIMMERMANN LARGURA, EDUARDO NATAL 92 7] PROCEDIMENTOS RESTAURADORES PARA O MIMETISMO TECIDUAL COM O USO DE PREENCHEDORES DE ÁCIDO HIALURÔNICO BASEADO NO MIMT CONCEPT VICTOR ROGERIO, MARCELO GERMANI 118 8] PROCEDIMENTOS FULL FACE ANTONIO JOSÉ BITTENCOURT DA ROSA, PRISCILA PAIVA PORTERO 132 9] ASPECTOS ESSENCIAIS NA PREVENÇÃO E NO TRATAMENTO DE NECROSES FACIAIS – PARTE 1 ANDREA TEDESCO, MARCUS VINICIUS SODRÉ, RACHEL MARTINELLI MOURA 160 10] ASPECTOS ESSENCIAIS NA PREVENÇÃO E NO TRATAMENTO DE NECROSES FACIAIS – PARTE 2 ANDREA TEDESCO, MARCUS VINICIUS SODRÉ, RACHEL MARTINELLI MOURA 172 11] TOXINA BOTULÍNICA EM DISTONIA E PARALISIA FACIAL JOSÉ PEIXOTO FERRÃO JUNIOR, ISABELLA MIOTELLO FERRÃO 186 Maristela Lobo1 Roger Kirschner2 CA PÍT UL O1 1Graduação em Odontologia – UFBA; Mestrado em Odontologia, área de Cariologia, Doutorado em Clínica Odontológica, área de Dentística – FOP Unicamp; Especialização em Periodontia – EAP- APCD; Residência em Implantes em Harvard, Boston (EUA); Master em toxina e preenchedores – Marc Institute, Miami (EUA); Professora nos cursos de pós-graduação em Odontologia Estética e Coordenadora do curso de Especialização em Periodontia – Centro Universitário Senac-SP; Coordenadora da especialização e do mestrado em Harmonização Orofacial – SLMandic; Cirurgiã-dentista em clínica particular em São Paulo; Editora-chefe da Revista FACE. 2Graduação em Odontologia – Universidade Metodista; Mestrado em Prótese Dentária, Especialização em Periodontia – SLMandic; Especialização em Prótese Dentária – Uniararas; Especialização em Implantodontia – FMU; MBA em Visagismo – Estácio; Máster em Toxina e Preenchedores – Marc Institute, Miami (EUA); Editor-assistente da Revista FACE. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 15 A Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinarA Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinar INTRODUÇÃO Durante os últimos anos, os procedimentos orofaciais tornaram-se desejo e realidade de dentistas e pacientes, sedimentando uma nova especialidade: a Harmonização Orofacial (HOF). Uma boa parte da Odontologia dita “conven- cional” se opôs às intervenções faciais prati- cadas por cirurgiões-dentistas, principalmente por estarem longe dos dentes, muito embora estivessem em área de atuação do cirurgião- -dentista, definida por lei. Para outro grande número de dentistas, a HOF fez total sentido, porque propunha uma abordagem integrada entre sorriso, face e indivíduo, ampliando o olhar e agregando novas ferramentas de trabalho, além de novas perspectivas de mercado. De fato, a visão do cirurgião-dentista bem formado contribui sobremaneira ao equilíbrio facial, visto que o sistema estomatognático, conhecido e desvendado pela Odontologia, tem impacto significativo na aparência facial1-3. O cirurgião-dentista é o único profissional da Saúde que pode atuar dentro e fora da boca, e somar essa visão à expertise de muitos outros profissionais que já atuam no universo da Harmo- nização Orofacial. É preciso deixar claro para todos os cirurgiões- -dentistas que essa especialidade chegou para ficar e para agregar novos horizontes à Odontologia tradicional. Dessa forma, é primordial continuar sendo um cirurgião-dentista tradicionalmente intraoral e adicionar o ambiente extraoral de variadas maneiras – seja no diagnóstico integrado entre sorriso e face, ou nos mais diversos proce- dimentos possíveis em face, graduados por invasividade, por plano de atuação e por objetivo a ser alcançado4-5. Adicionalmente, torna-se fundamental identificar por onde começar o tratamento: pela face ou pelo sorriso6? No presente capítulo, um caso clínico completo envolvendo o ambiente intraoral e o extraoral será apresentado, reforçando o conceito de Odonto- logia multidisciplinar e inserindo a HOF nesse contexto, com o objetivo de pontuar as vantagens de planejar e executar de maneira integrada. 16 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência TERAPIA APLICADA Paciente do sexo feminino, 43 anos, buscou tratamento dentário da clínica de pós-graduação em Odontologia do Centro Universitário Senac-SP, com queixas acerca da estética dos dentes e do Figuras 1 – Fotos iniciais evidenciam a queixa principal da paciente: sorriso gengival anterior, dentes desalinhados e manchados por tetraciclina. [ 1a ] [ 1b ] [ 1h ] [ 1c ] [ 1d ] [ 1e ] [ 1f ] [ 1g ] sorriso. Após minuciosa anamnese e exame clínico, foram detectados: sorriso gengival superior anterior, manchamento por tetraciclina e desalinhamento dental (Figuras 1). Lobo M, Kirschner R Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 17 Fotos extraorais foram realizadas em estúdio fotográfico profissional (pelo fotógrafo especia- lizado em Odontologia Eduardo Medeiros), com foco em sorriso; fundo branco, cabelos presos, maquiagem leve, batom para ressaltar o contorno labial, posição natural da cabeça7 e acessórios discretos (Figuras 2A). Mesmo que o foco diagnóstico e terapêutico seja intraoral, dentro da Odontologia dita “tradi- cional”, é muito importante observar a face e o seu relacionamento com lábios em repouso e com o sorriso e a fala, que são as dinâmicas naturais do ser humano8. Com lábios em repouso, é possível notar a deficiência na exposição dos incisivos superiores mesmo com distância inter- labial correta (4 mm) e a inadequada exposição dos incisivos inferiores, indicando ptose inicial dos tecidos faciais (Figura 2B). Ao sorrir, a paciente revelava exposição estética radial dos [ 2a ] dentes 16 ao 26, sorriso gengival, desequilíbrio de cor, forma e alinhamento dos dentes e discreto queixo duplo (Figura 2C). Foi planejado para a paciente: aumento de coroa clínica anterior estético usando a junção cemento-esmalte (JCE) como referência anatômica, e elementos cerâmicos (coroas e facetas) nos dentes 16 a 26 (Figuras 3A). A cirurgia plástica periodontal, realizada de maneira tradicional, objetivou reposicionar apicalmente o complexo de tecidos supracrestais, além de modificar o fenótipo periodontal de plano/espesso para espesso/festonado ou intermediário. Noventa dias após o procedi- mento cirúrgico, as fases protéticas foram iniciadas, seguindo-se com enceramento, preparo, moldagem, provisórios e cimentação das cerâmicas (E-max Press, Laboratório Tiago Reis, SP). A Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinar 18 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Figuras 2 – Protocolo de fotos de face para a Odontologia tradicional (intraoral): maquiagem leve, batom realçando o sorriso, cabelo preso e fundo branco. Fotos realizadas por Dudu Medeiros. [ 2b ] [ 2c ] Lobo M, Kirschner R Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 19 Foram obtidas saúde, função e estética intraorais após a reabilitação da arcada superior (Figuras 3B), com aumento expressivo da exposição dentária com lábios em posição de repouso (Figuras 3C). No entanto, o sorriso gengival permaneceu incomodando a paciente [ 3a ] [ 3b ] em sorriso espontâneo, o qual é diferente do sorriso “social” ou “de pose” (Figuras de 3D a 3F). Uma vez resolvido o desconforto estético intraoral, as questões faciais passaram a incomodar a paciente e se tornaram desejo de intervenção. A Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinar 20 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Figuras 3 – A e B. O tratamento odontológico “tradicional” seguiu com aumento de coroa clínica estético e facetas cerâmicas nos elementos de 16 a 26. C a E. Embora o tratamento tenha resultado em significativa melhora no sorriso e na exposição dos incisivo, observou-se a permanência do sorriso gengival anterior no sorriso espontâneo. F. Outras questões faciais que passaram a incomodar a paciente (rítides, postura de nariz e queixo duplo). [ 3c ] Lobo M, Kirschner R [ 3d ] [ 3e ] [ 3f ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 21 No protocolo de fotos extraorais para diagnóstico em Harmonização Orofacial (HOF), a paciente estava sem maquiagem, com cabelo preso, fundo negro, posição natural da cabeça e ausência de acessórios. Diversas posições labiais em repouso e em dinâmica de sorriso foram regis- tradas, com ênfase na queixa de sorriso gengival da paciente (Figuras 4A e 4B). Exposições gengivais acima de 2 mm, considerando a distância da margem gengival ao lábio superior, [ 4a ] são consideradas inestéticas9 e algumas vezes incomodam os pacientes (Figura 4C). No caso da paciente deste capítulo, a medida da coroa clínica após a reabilitação estava em 10,5 mm, um comprimento considerado adequado para a média dos pacientes10 (Figura 4D). Ao avaliar a amplitude de distanciamento entre os lábios superior e inferior no sorriso máximo, detectou-se a hipermobilidade labial, passível de modulação com toxina botulínica (Figura 4E). A Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinar [ 4b ] 22 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Lobo M, Kirschner R [ 4d ] [ 4c ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 23 Visando confirmar este diagnóstico e realizar um ensaio da posição labialresultante da aplicação de toxina botulínica em alguns músculos relacionados à elevação do lábio superior, foi realizado um teste anestésico (Figura 5A). Foram transferidas 15 unidades de lidocaína 2% sem vasoconstritor (Xylestesim, Cristália) para uma seringa de insulina de 30 unidades com agulha de 8,0 mm (Ultrafine II, BD). Cinco unidades de anestésico foram aplicadas em cada um dos seguintes pontos: (1) no músculo depressor do septo nasal, com a inserção de toda a agulha em posição de 90 graus com a columela nasal; (2) nos músculos elevadores do lábio superior e da asa do nariz, bilateralmente, com inserção de metade da agulha a 90 graus Figuras 4 – Avaliação diagnóstica do sorriso gengival no contexto da face. A e B. Captura fotográfica profissional das posições labiais em sorriso máximo (ou espontâneo). C. Verificação da condição de sorriso gengival (> 2 mm de distância da margem gengival até o lábio superior). D. Verificação do tamanho médio da coroa clínica do incisivo central superior (entre 10 mm e 11 mm). E. Verificação da amplitude de distanciamento labial superior e inferior em sorriso máximo (11 mm, indicativa de hipermobilidade labial). com a pele, em pontos imediatamente vizinhos às narinas (Figura 5C). Entre cinco e dez minutos após a aplicação, pôde-se observar o reposicio- namento coronal do lábio superior, diminuindo a exposição de gengiva (Figura 5B). Esse teste ajuda no diagnóstico assertivo e mostra para a paciente uma condição clínica muito semelhante ao que acontecerá com a aplicação da toxina nos mesmos pontos, na mesma profundidade e no mesmo volume (embora as doses possam ser alteradas). Convém, no entanto, não aplicar a toxina botulínica no mesmo dia do teste anestésico para evitar o aumento do halo de dispersão. Dessa forma, a toxina foi aplicada na paciente alguns dias depois, após planejamento adequado do caso. A Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinar [ 4e ] 24 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Figuras 5 – Confirmação do diagnóstico de hipermobilidade labial. A. Aplicação do teste anestésico nos músculos depressor do septo nasal e elevador da asa do nariz e do lábio superior. B. Pontos e profundidades musculares relacionadas à elevação do lábio superior anterior e posterior. Lobo M, Kirschner R [ 5a ] [ 5b ] [ 5c ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 25 Seguindo-se com a análise da face em perspectiva frontal, alguns pontos muito impor- tantes foram destacados: (1) a largura da boca em repouso (49,0 mm) foi considerada um pouco menor do que o normal (a partir de 50,0 mm)11 e o nariz um pouco largo para a face (Figura 6A); (2) a proporção entre o comprimento do lábio superior (22 mm) e o lábio inferior e mento (45 mm) foi considerada harmônica11 (Figuras 6A e 6B); (3) a disposição na linha O.G.E.E. estava correta mas a posição da eminência mentual em relação à boca poderia ser melhorada (Figura 6C); (4) a diferença entre as distâncias bizigomática (que, em média, é de 125 mm) e bigoníaca foi de 14%, gerando um ângulo de dez graus com uma linha vertical que passa pelo trágus (Figura 6C); e (5) os círculos de proporção propostos por autores12 estavam harmônicos na face da paciente, embora o lábio merecesse um aumento de volume e de altura para alcançar a proporção áurea (Figura 6D). No geral, a face da paciente em perspectiva frontal demandou poucas alterações de contorno e forma. A análise de perfil, observada nas Figuras 7, demonstrou uma discreta ptose tecidual por deslo- camento dos compartimentos de gordura e provável frouxidão dos ligamentos de retenção13. Ao avaliar a projeção do terço inferior de face em relação à linha vertical verdadeira (LVV), que passa pelo ponto subnasal, é possível perceber a deficiência de projeção de lábios superior e inferior e mento e a possibilidade de ajuste, se necessário (Figura 7A). Essa necessidade de projeção pôde ser confirmada pela observação da linha que liga a columela nasal ao pogônio (plano de Riedel), que demonstra inclinação levemente diferente daquela estabelecida pela relação entre as pálpebras superior e inferior (Figura 7B). O ângulo nasolabial também pode ser melhorado, visto que, nas mulheres, valores de 95 a 105 graus são bastante aceitáveis esteticamente14 (Figura 7C). As mulheres são consideradas visagistas amadoras “natas”, porque, em geral, possuem um senso de proporção e de estética bastante aguçado. Ao se maquiar, em seu cotidiano, são capazes de observar áreas a serem corrigidas em sua face e trabalhá-las com efeitos de luz e sombra para alcançar resultados mais satisfatórios. No caso da paciente deste capítulo, maquiadora profis- sional, essa ferramenta pôde ser empregada de maneira mais “didática”, totalmente voltada para o diagnóstico das deficiências de contorno e de volume e para as áreas a serem corrigidas (escon- didas) de acordo com o desejo da própria paciente (Figuras 8). O corretivo claro e o iluminador são colocados em áreas que precisam de maior lumino- sidade, o que pode ser conseguido posteriormente com preenchimento e projeção anterior dessas áreas nos procedimentos da HOF. Supercílio, násio, glabela, dorso nasal, fossa piriforme, malar, base de mandíbula e região infraorbital (olheiras) são as áreas mais comumente “preenchidas” no efeito da maquiagem. O corretivo escuro é utilizado para corrigir contorno, escondendo excessos e equili- brando volumes, ou destacando a linha O.G.E.E., por exemplo. São regiões como eminência mentual, lateral do nariz, têmporas, região malar inferior ao zigomático e fronte (próximo à linha de tríquio; Figuras 8A e 8B). Esses efeitos podem ser traba- lhados em HOF através de uma série de procedi- mentos, como bichectomia, redução de gordura submentoniana, fios de polidioxanona, entre outros. A face maquiada, quando comparada à face inicial sem maquiagem, aparece bem mais jovial e estética, uma vez que pontos cruciais da face foram trabalhados com efeitos de luz e sombra (Figura 8C). A Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinar 26 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Lobo M, Kirschner R [ 6b ] [ 6a ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 27 Figuras 6 – A a D. Análise de face em perspectiva frontal, evidenciando proporções faciais agradáveis e pontos a serem melhorados. A Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinar [ 6c ] [ 6d ] 28 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Lobo M, Kirschner R [ 7a ] [ 7b ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 29 Figuras 7 – A a C. Análise de face em perfil, avaliando ângulos e projeções agradáveis e detalhes que devem ser melhorados com procedimentos em Harmonização Orofacial. A Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinar [ 7c ] [ 8a ] [ 8b ] 30 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Figuras 8 – A a C. A maquiagem como ferramenta diagnóstica da face sob a perspectiva visagista amadora da própria paciente: com elementos de luz e sombra, ela realça pontos a serem melhorados e corrige áreas que a incomodam. Nesse contexto, após as análises faciais e a confirmação do diagnóstico com a maquiagem, foi traçado um plano de tratamento que pode ser descrito na Figuras 9. Para melhorar o aspecto da face em repouso, foram planejados o uso de bioestimuladores(ácido poli-l-láctico, mesclas e fios de polidioxanona lisos); toxina botulínica (para modular a musculatura facial) e preen- chimentos estratégicos com ácido hialurônico reticulado de diferentes densidades (Figura 9A). Lobo M, Kirschner R [ 8c ] [ 9a ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 31 Figuras 9 – Planejamento visagista para os diversos procedimentos em Harmonização Orofacial. A. Na face frontal, em repouso. B. No perfil, em repouso. C. Na face, ao sorrir. A Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinar [ 9c ] [ 9b ] 32 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Em perfil, outras áreas foram acrescidas ao plano de tratamento, e a inclusão do ácido deoxi- cólico para redução enzimática da gordura submentoniana. Na dinâmica de sorriso, rítides dinâmicas diversas puderam ser observadas, além das questões a serem trabalhadas na face em repouso. Uma vez estabelecido o plano de trata- mento, a sequência aconteceu da seguinte forma: • Sessão 1: preparo de pele e bioestimulação com mesclas à base de ácido hialurônico não reticulado a 3%, silício, d-pantenol e vitamina C em lateral de face e pescoço. • Sessão 2: aplicação de toxina botulínica (Xeomin, Merz) em reconstituição úmida (2,0 mL) em terços superior, médio e inferior de face e platisma (pescoço); • Sessão 3: bioestimulação com mesclas à base de ácido hialurônico não reticulado a 3%, silício, d-pantenol e vitamina C em lateral de face e pescoço. Lobo M, Kirschner R Figuras 10 – A a C. Aplicação de ácido poli-l-lático como bioestimulador de colágeno em três sessões. D a F. Inserção de fios lisos de polidioxanona em “hashtag” com ácido hialurônico enriquecido com aminoácidos e minerais. [ 10a ] [ 10b ] [ 10c ] [ 10d ] [ 10e ] [ 10f ] • Sessões 4 a 6: aplicação de injeções de ácido poli-l-láctico (Sculptra, Galderma), nas áreas demarcadas na Figuras de 10A a 10C, lateral de face e pescoço; • Sessão 7: inserção de fios de PDO (i-Thread) em “hashtag” na lateral da face, com injeção de NCTF HA 135 (Filorga; Figuras de 10D a 10F); • Sessão 8: preenchimento labial, na espinha nasal anterior e no arco zigomático com 2 mL de ácido hialurônico reticulado de viscosidade média (Belotero Intense, Merz); • Sessões 9 e 10: preenchimento e bioestimu- lação “Full Face” com 10 mL de plasma gel nas seguintes áreas: goteira lacrimal, fossa piriforme bilateral, gap de mento, base de mandíbula, malar, ruga de marionete e sulco nasogeniano (Figuras 11); • Sessão 11: Aplicação de radiofrequência microagulhada, jato de plasma em regiões periorbitais, lateral de face e lateral de nariz (Figuras 12). Acesse o vídeo na íntegra. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 33 A Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinar [ 11a ] [ 11d ] [ 11c ][ 11b ] [ 11e ] [ 11f ] Figuras 11 – A a F. Preenchimento Full Face com concentrado sanguíneo autólogo (plasma gel). [ 12a ] [ 12c ][ 12b ] [ 12d ] [ 12f ][ 12e ] Figuras 12 – A a C. Aplicação de radiofrequência microagulhada em regiões periorbitais. D a F. Aplicação de jato de plasma em punturas nas regiões de rítides dinâmicas. O resultado do tratamento de Harmonização Orofacial foi alcançado como previsto e pode ser visto nas Figuras 13, inclusive com o comparativo entre as fases inicial e final. Na Figura 13A, é interessante notar que a face do meio, referente ao “pós-HOF”, se aproxima muito mais da face maquiada do que da face inicial, demons- trando que diversas terapias em Harmonização Orofacial, quando combinadas, podem trazer equilíbrio, juventude, estética e harmonia à face em seu estado natural. 34 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Por fim, o objetivo da Harmonização Orofacial é reestruturar e reposicionar tecidos faciais, equilibrar métricas desarmônicas e fazer a “limpeza visual”, [ 13a ] [ 13b ] Lobo M, Kirschner R mantendo as características naturais do paciente. Esses objetivos foram alcançados no caso clínico descrito no presente capítulo. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 35 Figuras 13 – Resultado do tratamento integrando Odontologia tradicional (intraoral) e harmonização da face: essa é a verdadeira Harmonização Orofacial. A. A face central corresponde à face tratada com HOF e aproxima-se bem mais à face maquiada pela própria paciente. B. Quando comparada à face inicial, apenas após o tratamento reabilitador, nota-se sensível melhora no posicionamento e estruturação dos tecidos. C. Comparativo inicial e final do tratamento, após um prazo de dois anos, aumentando a percepção estética da face sem comprometer as características faciais iniciais da paciente, apenas “limpando a imagem visual”: esse é o conceito do visagismo. [ 13c ] Referências 1. Arnett GW, Bergman RT. Facial keys to orthodontic diagnosis and treatment planning. Part I. Am J Ortho Dent Orthop 1993;103(4):299-312. 2. Arnett GW, Bergman RT. Facial keys to orthodontic diagnosis and treatment planning. Part II. Am J Orthod Dentofacial Orthop 1993;103(5):395-411. 3. Suguino R, Ramos AL, Terada HH, Furquim LZ, Filho OGS. Análise facial. Rev Dental Press Ortodon Ortop Max 1966;1(2):86-107. 4. Burstone CJ. Lip posture and its significance in treatment planning. Am J Orthod 1967;53(4):262-84. 5. McNamara JA, Brust EW, Riolo ML. 1993. Soft tissue evaluation of indivi- duals with an ideal occlusion and well-balanced face. In: McNamara JA (ed). Aesthetics and the treatment of facial form. Craniofacial Growth Series, Monograph No. 28 Center for Human Growth and Development, University of Michigan, Ann Arbor. p.115-46. 6. Scott CR, Goonewardene MS, Murray K. Influence of lips on the perception of malocclusion. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2006;130(2):152-62. 7. Lundström A, Lundström F, Lebret LM, Moorrees CF. Natural head position: basic considerations in cephalometric analysis. Eur J Orthod 1995;17(2):111-20. 8. Faure JC, Rieffe C, Maltha JC. The influence of different facial components on facial aesthetics. Eur J Orthod 2002;24(1):1-7 9. Peck S, Peck L, Kataja M. The gingival smile line. Angle Orthod 1992;62(2):91-100. 10. Pedrosa VO, França FM, Flório FM, Basting RT. Study of the morpho- dimensional relationship between the maxillary central incisors and the face. Braz Oral Res 2011;25(3):210-6. 11. Altamiro F. Dermal fillers for facial harmony. Quintessence Publishing, 2019. 12. Young P. Assessment of ideal dimensions of the ears, nose, and lip in the circles of prominence theory on facial beauty. JAMA Facial Plast Surg 2019;21(3):199-205. 13. Mckee D, Remington K, Swift A, Lambros V, Comstock J, Lalonde D. Effective rejuvenation with hyaluronic acid fillers: current advanced concepts. Plast Reconstr Surg 2019;143(6):1277e-89e 14. Skinazi GL, Lindauer SJ, Isaacson RJ. Chin, nose and lips: normal ratios in young men and women. Am J Orthod Dentofacial Orthop 1994;106(6):518-23. A Harmonização Orofacial no contexto da Odontologia Estética multidisciplinar Luís Fernando Naldi1 Priscilla Cardoso Lazari-Carvalho2 Carina de Morais Luis Pereira3 CA PÍT UL O2 1Doutor em Periodontia – USP, Bauru; Professor titular em Periodon- tia – FO-UFG; Coordenador do curso de Plástica Periodontal – Doc+. 2Graduada em Odontologia – FOA-Unesp; Mestra e doutora em Pró- tese Dental – FOP-Unicamp; Pós-doutorado em Odontologia – UFG; Professora da graduação e da pós-graduação da Faculdade de Odon- tologia – UniEvangélica. 3Graduada em Psicologia – PUC-GO; Gestão de Recursos Humanos – Faculdade Cambury. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva,comprometida com a saúde e com a ciência | 37 Manejo labial com cimento ósseo: uma opção de tratamento para o sorriso gengival Manejo labial com cimento ósseo: uma opção de tratamento para o sorriso gengival INTRODUÇÃO As transformações na prática odontológica, também influenciadas pelo crescimento da Harmonização Orofacial, trouxeram aos lábios grande relevância na percepção estética do sorriso. Com isso, o que antes ficava restrito – para alguns casos específicos – às compensações protéticas com o intuito de aumentar o volume labial, hoje também abrange mudanças labiais significativas, realizadas através de toxina botulínica, preenchedores e reposicionamentos cirúrgicos, proporcionando aos pacientes resul- tados muito melhores. É importante reconhecer que somente os cirurgiões-dentistas são capazes de correlacionar os lábios com a posição dentária e a oclusão. Os médicos que atuam nessa área não tiveram esse tipo de formação e informação e nem estão prepa- rados para tratamentos que envolvam mudanças labiais e dentárias associadas. A Odontologia é, portanto, a única área que consegue integrar os lábios com o sorriso e a face. SORRISO GENGIVAL E LÁBIO A exposição gengival excessiva é um incômodo comum a muitos pacientes e pode prejudicar a estética dos tratamentos odontológicos. O aumento de coroa clínica cirúrgico é o tratamento mais comum em casos de alteração de erupção passiva e deformidades esqueléticas pouco severas. No entanto, em algumas situações, durante o diagnóstico do paciente, observa-se o lábio superior como fator-chave para tratamento do sorriso gengival. Isso é observado quando o paciente possui: (1) comprimento de lábio curto1; (2) hipermo- bilidade do lábio superior ou lábio superior hiperativo1-2; e/ou (3) falta de suporte labial em função de uma depressão acentuada do processo anterior da maxila3-5. Nos casos em que a falta de suporte labial é a causa potencial do sorriso gengival e as coroas clínicas já possuem um comprimento adequado, pode ser realizado o reposicionamento labial com cimento ósseo (também conhecido como cimento cirúrgico ortopédico) ou a associação do aumento de coroa clínica estético com o reposicionamento labial, 38 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Naldi LF, Lazari-Carvalho PC, Pereira CML caso as coroas clínicas estejam com o compri- mento inadequado. A técnica consiste em colocar o cimento ósseo na depressão no fundo do vestíbulo na região subnasal, com o intuito de aumentar o suporte ao lábio e, por consequência, diminuir a movimentação labial durante o sorriso. Com esse aumento do suporte labial, também é possível gerar repercussões no ângulo nasolabial e no vermelhão do lábio superior3-5. Desde que bem indicada, essa técnica mostra boa previsibilidade e não demanda procedi- mentos pós-operatórios regulares, o que é uma vantagem quando comparada à toxina botulínica, que tem a duração do seu efeito estimado em 12 semanas6. Sendo assim, é fundamental a realização de um diagnóstico adequado, para então, avaliar a possibilidade de utilização do cimento ósseo com o intuito de solucionar casos de sorriso gengival. O DIAGNÓSTICO Somente o desejo de mudança e/ou o incômodo do paciente com o sorriso gengival não são suficientes para indicar um aumento de coroa e/ou a instalação do cimento ósseo no fundo do vestíbulo. Primeiramente, é fundamental saber o que está “errado” na face do paciente (Lábios? Gengiva? Dentes?). A partir dessa análise, é necessário saber como conduzir um planeja- mento adequado, em função do diagnóstico. Lembrando que, pacientes não são “oportu- nidades” de aplicação de técnicas aprendidas, as técnicas estão à serviço dos pacientes, sempre que houver indicação de utilizá-las. Não há caminho mais adequado para viver isso do que “olhar o paciente como um todo”, uma frase tão repetida que chega a ser clichê, porém ainda existem profissionais que, ao planejar um trata- mento odontológico, “mergulham” diretamente na boca de seus pacientes, sem integrá-la à face. Portanto, considera-se sempre que, além de avaliar o sorriso, a análise diagnóstica também deve abranger a face, os lábios, os dentes e a oclusão. O objetivo deve ser equilibrar as dominâncias para trazer mais harmonia entre as estruturas anatômicas e funcionais, respeitando as queixas e as necessidades do paciente. Com a integração de todos esses conceitos, ao unir estética e função, torna-se possível oferecer o melhor aos pacientes. Para optar pelo reposicionamento labial com a instalação do cimento ósseo é necessário que o “erro” no lábio seja matematicamente comprovado através de uma análise facial, baseada em medidas e referências estéticas. Cada caso é único, portanto, o planejamento deve servir às particularidades de cada paciente. Cuidado ao padronizar o que deve ser individua- lizado. Diagnóstico é tudo! ETAPAS DO DIAGNÓSTICO Fazem parte do diagnóstico para a indicação da técnica de reposicionamento labial com cimento ósseo, as seguintes etapas: 1. Classificar o comprimento do lábio em repouso; 2. Classificar o sorriso; 3. Avaliar a presença de concavidade no fundo de vestíbulo na região subnasal, onde o lábio fica posicionado durante o sorriso; 4. Avaliar o ângulo nasolabial; 5. Verificar a largura do nariz; 6. Observar o perfil psicológico do paciente. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 39 Manejo labial com cimento ósseo: uma opção de tratamento para o sorriso gengival Analisar o lábio em repouso Durante o dia a dia, fica-se a maior parte do tempo sem sorrir. O sorriso é manifestado como expressão de alegria, prazer ou gratidão. Mas isso significa um tempo muito reduzido quando comparado com o tempo que a pessoa fica sem sorrir. Portanto, é preciso cuidado ao planejar mudanças no sorriso do paciente, para não piorar a face em repouso, com o intuito de melhorar o sorriso. A análise do lábio superior deve ser feita nas posições estática e dinâmica. A preocupação com o sorriso deve vir após a análise do lábio em repouso, pois todas as necessidades de mudanças dos lábios em repouso têm prioridade sobre as mudanças nos lábios durante o sorriso. Mas a inter-relação entre as duas é peça funda- mental no planejamento, visto que mudanças desejadas nos lábios em repouso podem reper- cutir no sorriso e vice-versa. O tipo de lábio, a proporção entre o lábio superior e o inferior e as assimetrias, devem ser diagnosticadas e registradas. O cimento ósseo pode: alterar o posicionamento do lábio durante o sorriso, corrigir assimetrias ósseas e aumentar o vermelhão do lábio superior durante o sorriso (Figuras 7, 9, 10 e 12), melhorando a estética labial3-5. Inicialmente, verifica-se o comprimento do lábio em repouso, que, na mulher, é de cerca de 20 mm e, no homem, por volta de 22 mm7. Lábios curtos podem ser a causa de uma exposição gengival excessiva durante o sorriso, nesses casos fica contraindicada a utilização do cimento ósseo. O comprimento do lábio, medido entre a base do nariz (ponto subnasal) até a ponta do lábio superior (estômio), deve ser semelhante ao comprimento da base do nariz até as comissuras, podendo ser até 3 mm menor. Uma altura de filtro significativamente menor, quando comparada à altura das comissuras, resulta em uma linha do lábio superior invertida e esteticamente desagra- dável (Figuras 1)7. Classificar o sorriso O sorriso é uma expressão facial que geral- mente indica prazer, simpatia e gratidão. Em geral, os profissionais classificam o sorriso em alto, baixo ou médio8, mas vários outros fatores devem ser avaliados na análise do sorriso9. Um trabalho10 classificou o sorriso de acordo com a posição do estômioem relação à comissura. Essa classificação é importante, mas depende completamente do ângulo em que o paciente é avaliado. Observar a posição das narinas do paciente na fotografia ajuda muito a identificar se o ângulo fotográfico utilizado foi o adequado ou não. Autores11 demonstraram a importância das referências faciais para o tratamento restau- rador estético. Ficou evidente a importância da fotografia correta no diagnóstico das assime- trias faciais, que podem gerar diferentes tipos de tratamento quando as mesmas são avaliadas. A análise adequada é feita com fotografias de sorriso espontâneo e com a inclinação correta da cabeça. Cabeças muito inclinadas para trás mostram mais gengiva nos dentes posteriores e podem apresentar uma falsa impressão de que o sorriso é plano ou invertido. Cabeças muito inclinadas para frente podem disfarçar o sorriso gengival posterior (Figuras 2). 40 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Figuras 1 – A. Altura do filtro adequada semelhante ao comprimento da base do nariz às comissuras. B. Altura do filtro muito menor do que o comprimento da base do nariz às comissuras. Figuras 2 – A. Cabeça inclinada para frente. B. Cabeça inclinada para trás. C. Cabeça posicionada adequadamente. Mesma paciente em diferentes inclinações da face, ilustrando que, em cada posição, a exposição dentária e gengival é diferente, o que resultaria em planejamentos distintos e, consequentemente, equivocados. O sorriso ocorre a partir de um movimento labial que, entre os lábios em repouso até o sorriso espontâneo final, faz um movimento de cerca de 6 mm a 8 mm7. A partir dos lábios em repouso, o lábio superior movimenta-se, inicialmente sustentado pelos dentes até que, nos casos dos sorrisos gengivais, acabam sustentados pelo periodonto (osso e gengiva). Isso significa que a identificação da posição dos dentes, do fenótipo gengival envolvido e de cavidades ósseas podem determinar um movimento labial diferente (Figuras 3 e 4). [ 1a ] [ 1b ] [ 2a ] [ 2b ] [ 2c ] Naldi LF, Lazari-Carvalho PC, Pereira CML Ao se comparar os dois tipos de sorrisos, o sorriso espontâneo apresenta 30% mais de exposição dos dentes na área de pré-molares do que o sorriso contido, juntamente com um aumento significativo da largura do sorriso. As alturas da linha dos lábios superiores durante o sorriso espontâneo também são significativa- mente maiores do que durante o sorriso posado. Durante o sorriso posado, as alturas da linha dos lábios mandibulares também mudam e os dentes ficam mais cobertos pelo lábio inferior do que durante o sorriso espontâneo12. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 41 Figuras 3 – Movimento labial grande. Figuras 4 – Movimento labial pequeno em lábio preenchido com PMMA, praticamente não há movimento labial. [ 3a ] [ 4a ] [ 3b ] [ 4b ] Manejo labial com cimento ósseo: uma opção de tratamento para o sorriso gengival Outra questão essencial nos dias atuais, é saber se o lábio já foi ou não submetido a inter- venções estéticas. Preenchimentos, cirurgias e/ou aplicações de toxina, podem limitar o movimento labial (Figura 4), o que atrapalha a avaliação, modifica o planejamento e pode até mesmo contraindicá-lo. A fotografia e a filmagem para diagnóstico podem inibir o paciente, portanto, a sugestão é que, durante a conversa, o profissional observe o sorriso espontâneo do paciente e o compare com o registro fotográfico, evitando um plane- jamento inadequado, baseado em um sorriso "treinado", ou seja, de pose, que mascara as reais necessidades de tratamento e induz o profis- sional ao erro. Em uma classificação mais detalhada do sorriso, Rubin13 (1974) e 25 anos mais tarde Philips14 (1999), classificaram o sorriso em três tipos, de acordo com uma amostra randomizada: • Sorriso comissural: ocorrendo em 67% da população, os primeiros molares superiores ficam poucos milímetros acima das bordas incisais dos incisivos centrais. Onde as comissuras estão localizadas mais altas que a média do lábio superior e os zigomáticos maior têm uma ação predominante. 42 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência • Sorriso canino: presente em 31% da população, onde existe uma ação importante dos músculos elevadores do lábio superior. Durante a contração muscular, os caninos são expostos primeiro, resultando em uma elevação na região do canino. As comissuras labiais contraem secundariamente. • Sorriso completo (complexo): pouco encon- trado na população. Os músculos depres- sores do lábio inferior são contraídos junto com todos os outros músculos envolvidos no sorriso, resultando em um sorriso que mostra tanto os dentes superiores quanto os dentes inferiores, expondo, muitas vezes, sorriso gengival mandibular em associação com sorriso gengival maxilar (Figuras 5). Outro fator que deve ser levado em conside- ração é que o envelhecimento foi reconhecido como um dos aspectos no diagnóstico do sorriso. Com o tempo, as pessoas passam por muitas mudanças celulares no esqueleto e nos tecidos moles, que afetam dramaticamente o tecido mole sobreposto, os músculos relacionados e suas funções. Conforme a pessoa envelhece, o sorriso fica mais estreito verticalmente e mais largo transversalmente. As medidas dinâmicas indicam que a capacidade dos músculos de criar um sorriso diminui com o aumento da idade15. Um aspecto frequente e que também necessita ser considerado ao se planejar um tratamento, são as assimetrias no sorriso. Os sorrisos altos, acima de 4 mm de exposição gengival, são os que mais representam queixa entre os pacientes e é justamente nesses tipos de sorriso que se deve ter o cuidado ao verificar se o sorriso é simétrico ou não. Naldi LF, Lazari-Carvalho PC, Pereira CML Um paciente que mostre 7 mm de gengiva em um lado e 10 mm do outro, por exemplo, pode nunca ter notado essa diferença. Se este lábio for reposicionado, seja por procedimentos cirúrgicos ou através da aplicação de toxina botulínica, a diferença entre 2 mm e 5mm, será imediata- mente notada (Figura 6). É importante salientar que a paciente do presente caso foi atendida há 16 anos, quando, previamente ao aumento de coroa clínica cirúrgico, ainda não era realizada análise facial e o planejamento considerava apenas as dimensões dentárias, ou seja, não incluía o lábio. O sorriso que era assimétrico, após a cirurgia ficou com menos gengiva exposta, porém continuou assimétrico. Através de uma fotografia adequada, ao traçar uma linha horizontal interpupilar, outra entre as comissuras e outra no plano incisal, o diagnóstico pode ser feito para a indicação da melhor alter- nativa de tratamento. Avaliar a presença de concavidade no fundo de vestíbulo Alguns pacientes com sorriso gengival apresentam uma depressão subnasal, de maneira que o lábio superior fica alojado nesta depressão durante o sorriso espontâneo5. Pacientes que apresentam uma inclinação mais acentuada dos incisivos com uma cavidade na região subnasal apresentam, portanto, um maior movimento labial. Ao colocar o cimento ósseo nesta conca- vidade, é possível limitar o movimento labial, sem alterar a contração muscular (Figura 7). Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 43 Figuras 5 – Tipos de sorriso segundo Rubin13 (1974). A. Sorriso comissural ou sorriso Mona Lisa, quando a ação do músculo zigomático maior é dominante durante o sorriso. B. Sorriso canino, a ação do músculo elevador do lábio superior é dominante durante o sorriso. C. Sorriso dentição completa, em que todos os músculos são igualmente dominantes durante o sorriso e todos os dentesficam expostos. Figuras 6 – A. Sorriso inicial. B. Sorriso após três meses de cirurgia (gengivectomia, osteotomia e osteoplastia), evidenciando a assimetria durante o sorriso. [ 5a ] [ 5b ] [ 5c ] [ 6a ] [ 6b ] Manejo labial com cimento ósseo: uma opção de tratamento para o sorriso gengival Figuras 7 – A. Sorriso inicial. B. Sorriso após o aumento de coroa clínica cirúrgico, associado à instalação de cimento ósseo, o qual limitou a movimentação do lábio superior durante o sorriso, contribuindo para diminuir a exposição gengival. [ 7a ] [ 7b ] 44 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Observe que, no caso clínico das Figuras 7, havia uma cavidade subnasal, que provocava a invaginação do lábio, fazendo com que ele caísse dentro da depressão e, ao mesmo tempo, também havia um excesso ósseo em volume, que ajudava a projetar a parte inferior do lábio superior, para frente e para cima. Sendo assim, foi realizada osteoplastia, para remoção de espessura óssea e a colocação do cimento ósseo, ocupando a cavidade subnasal. O resultado obtido foi a transformação de um sorriso canino em um sorriso comissural, com um lábio mais bonito. Figuras 8 – A. Telerradiografia de perfil. B. Concavidade no fundo de vestíbulo. C. Tomografia computadorizada evidenciando a posição do cimento ósseo parafusado. [ 8a ] [ 8b ] [ 8c ] Figura 9 – Perfil antes e depois da instalação do cimento ósseo. [ 9 ] Naldi LF, Lazari-Carvalho PC, Pereira CML Não é correto atribuir somente ao músculo a responsabilidade do movimento durante o sorriso. A análise do perfil do paciente pode ser feita com uma telerradiografia de perfil associada a uma fotografia, a fim de se observar a presença da deficiência óssea na região subnasal e um ângulo nasolabial menor do que o apropriado. Alguns pacientes, inclusive, já passaram por cirurgia de nariz e, se tivessem sido tratados com o cimento ósseo, não necessitariam da rinoplastia (Figuras 8 e 9). Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 45 Avaliar o ângulo nasolabial Uma característica anatômica importante para um tratamento que tenha um resultado esteticamente agradável é atingir um ângulo nasolabial adequado. Estudos recentes avaliaram a diferença entre gêneros e diferentes ângulos, concluindo que o ângulo nasolabial ideal e mais estético variou de 100,9 a 108,9 graus no nariz feminino e 90,7 a 103,3 graus no nariz masculino16. O suporte labial tem relação direta com o ângulo nasolabial. Visto que, quanto menor o suporte labial, menor o ângulo nasolabial, podendo também levar a uma redução no vermelhão do lábio durante o sorriso, no aprofun- damento do sulco nasolabial, assim como no pregueamento dos lábios. Essa situação é comum em pacientes que perderam os dentes anterossuperiores. Ângulos agudos menores que 90 graus também podem ser encontrados nos pacientes que possuem essa depressão no fundo do vestíbulo. A técnica de reposicionamento labial com cimento ósseo ocupa a cavidade subnasal, dando maior suporte tanto para o lábio quanto para a base no nariz, refletindo diretamente no aumento do ângulo nasolabial (Figura 9)5. Verificar a largura do nariz O nariz é uma estrutura que está apoiada na maxila e qualquer alteração nela pode causar pequenas alterações no nariz. Como já descrito pela literatura, o avanço superior da maxila, como nos casos de cirurgias ortognáticas, pode causar elevação da ponta nasal e aumento da largura da base alar17. Uma provável explicação para esse fato é que há um novo posicionamento da espinha nasal anterior, gerando pequenas alterações no nariz Manejo labial com cimento ósseo: uma opção de tratamento para o sorriso gengival dos pacientes submetidos a cirurgias de reposi- cionamento maxilar. O cimento ósseo também altera a posição da maxila e pode aumentar a largura do nariz do paciente (Figura 10). Considerando este aspecto, é importante ouvir o paciente, durante o pré-operatório, para saber quais são suas reais expectativas estéticas e funcionais, bem como para esclarecer os possíveis efeitos colaterais, que podem ser desejados ou não. Avaliar os aspectos psicológicos Não é possível fazer uma avaliação psicológica em cada paciente, mas podemos (e devemos) observar sinais que nos mostram como ele lida com mudanças, por que isso impacta diretamente na aceitação e na satisfação com o tratamento. Há pacientes muito rígidos do ponto de vista psicológico e, mediante à possibilidade de mudanças, reagem com resistência (não aceitando a mudança) ou com a negação do problema, e acabam por não considerar que a mudança é necessária. Sempre é bom lembrar que podemos ter diferentes tipos de tratamento para os diferentes tipos de paciente. Além das opções de trata- mento consideradas ideais para cada caso, há também a opção de não realizar qualquer tipo de mudança ou, em alguns casos, a realização de mudanças parciais, para adequação ao perfil psicológico do paciente. Em alguns casos, quando o paciente necessita de aumento de coroa associado ao cimento ósseo, pode ser recomendado fazer inicialmente o aumento de coroa clínica cirúrgico, aguardar a adaptação do paciente à mudança e aí então, instalar o cimento ósseo. 46 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Figuras 10 – Nariz antes e após o cimento ósseo. [ 10a ] Outra questão importante a salientar é que, caso o paciente se arrependa do procedimento, ele é reversível, ou seja, o cimento ósseo pode ser removido a qualquer momento após a insta- lação, sem danos à condição estética anterior ao procedimento. Características do cimento ósseo É fundamental que o cirurgião-dentista tenha ciência sobre as características que tornam a técnica descrita neste capítulo uma excelente opção, sempre que bem indicado, para correção do sorriso gengival, visto que o cimento ósseo é: Adaptável à anatomia: através da moldagem da área, ele pode ser perfeitamente adaptável à superfície óssea de cada paciente, permitindo a individualização do procedimento e correções de assimetrias, sempre que necessário. Essa também é uma vantagem quando comparado aos enxertos de biomateriais não absorvíveis associados a membranas ou malhas de titânio18, que não permitem ao profissional modelar e Naldi LF, Lazari-Carvalho PC, Pereira CML adaptar para testar o volume ideal, além do risco de provocar uma assimetria. É recomendado a instalação do cimento ósseo seja realizada de acordo com a sequência abaixo: 1o passo: fazer uma incisão tipo gengivectomia, seguida por um retalho de espessura total; 2o passo: fazer a manipulação da substância (adicionando o pó ao líquido) na proporção adequada; 3o passo: adaptá-la no fundo do vestíbulo na concavidade subnasal e com isso obtém-se o modelo; 4o passo: realizar o acabamento fora da boca para evitar que resíduos de material caiam dentro na boca ou dentro do retalho; 5o passo: fazer a perfuração do cimento dentro do soro fisiológico (para que a broca não grude no material devido ao aquecimento); 6o passo: imobilizar o cimento sobre a super- fície óssea com dois parafusos, na área entre os dentes ou a mais de 4 mm do ápice dos dentes. [ 10b ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 47 O parafuso deve rosquear tanto o cimento quanto o osso, de maneira a não pressionar o cimento ósseo sobre o osso, o que poderia induzir à reabsorção óssea. O comprimento ósseo é extenso em pacientes com sorriso gengival, isto permite que o cimento seja parafusado com muita segurança entre as raízes. 7o passo: realizar a sutura suspensória. Não movimenta: como o cimento é fixado comparafusos de enxerto ósseo, colocados sobre o cimento e sobre o osso. Esta é outra característica importante que deve ser considerada, visto que também confere estabilidade e segurança ao procedimento, assim como ao resultado final (Figuras 11). Manejo labial com cimento ósseo: uma opção de tratamento para o sorriso gengival Não absorvível: esta é uma característica que oferece previsibilidade e estabilidade. O enxerto autógeno, por exemplo, é reabsorvido de maneira imprevisível e demanda ao profissional colocar mais material do que o volume esperado no resultado final, considerando a reabsorção do organismo, que pode ser maior ou menor, variando para cada pessoa. Já o cimento ósseo não perde volume ao longo do tempo. Portanto, no ato da instalação, o profissional já adapta a espessura e a posição exatas, de acordo o efeito final desejado (Figuras 12). Figuras 11 – Foto da manipulação e colocação do cimento. [ 11 ] 48 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Biocompatibilidade: o cimento ósseo é compa- tível com o tecido humano. Esta é uma preocu- pação frequente e está relacionada, principal- mente, à sua composição: polimetilmetacrilato (PMMA), que já foi amplamente utilizado por médicos como um preenchedor injetável, o que provocava inúmeras complicações19. No entanto, o cimento ósseo utilizado para o tratamento do sorriso gengival é moldado e parafusado sobre osso, ou seja, não é injetado e sim instalado na concavidade do fundo de vestíbulo. Abaixo do cimento crescerá um periósteo fino. O cimento ósseo também é utilizado com eficiência para a reconstrução óssea em diversas especialidades cirúrgicas (médicas e odontoló- gicas), sem prejuízos à saúde do paciente e/ou complicações relevantes3-5,20. Naldi LF, Lazari-Carvalho PC, Pereira CML CONSIDERAÇÕES FINAIS O sorriso gengival é queixa frequente na clínica odontológica, também relacionado à alta demanda estética e à importância que os lábios ganharam nos últimos anos, o aumento de coroa clínico associado ao cimento ósseo parafusado no fundo de vestíbulo assume grande relevância no planejamento estético-reabilitador. Deve ser considerado com uma excelente opção de trata- mento, desde que o diagnóstico de indicação esteja estabelecido e o profissional tenha o domínio da técnica. Figuras 12 – A. Condição inicial. B. Controle após um ano de instalação do cimento ósseo. C. Controle após três anos da instalação do cimento ósseo. [ 12a ] [ 12b ] [ 12c ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 49 Referências 1. Pavone AF, Ghassemian M, Verardi S. Gummy smile and short tooth syndrome – part 1: etiopathogenesis, classification, and diagnostic guidelines. Compend Contin Educ Dent 2016;37(2):102–7; 108-10. 2. Andijani RI, Tatakis DN. Hypermobile upper lip is highly prevalent among patients seeking treatment for gummy smile. J Periodontol 2019;90(3):256-62. 3. Naldi LF, Adolfi D, Menconça JAG, Leite A, de Oliveira RCG. Use of polymethilmethacrylate for esthetic crown lenghthening, associated with lip repositioning: an original method. Teamwork 2010;3(3):27-35. 4. Borges GJ, Ruiz LFN, Souza JB, Santos LFE, de Andrade RS, Batista DG. 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Manejo labial com cimento ósseo: uma opção de tratamento para o sorriso gengival Maria Geovânia Ferreira1 Marcia Viotti2 CA PÍT UL O3 1Especialista em Prótese Dentária – UFU-MG; Habilitada em Harmo- nização Orofacial – Marc Insti tute; Professora do curso de especia- lização em Harmoniza ção Orofacial – ABO-GO; Editora-assistente – Revista FACE (Toxina botulínica). 2Especialista em Dentística – UCCB; Habilitada em Harmonização Orofacial – Marc Instit ute-Miami; Professora do curso de especiali- zação em Harmoniza ção Orofacial – ABO-GO; Editora-assistente – Revista FACE (Anatomia). Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 51 Intercorrências com toxina botulínica relacionadas à diferentes áreas anatômicas Intercorrências com toxina botulínica relacionadas a diferentes áreas anatômicas INTRODUÇÃO A toxina botulínica está provando ser uma das terapias mais versáteis dentre todos os medicamentos. Bem conhecida como um veneno poderoso, e ainda responsável por muitas mortes por botulismo em todo o mundo a cada ano, a neurotoxina botulínica é muito segura quando usada por um profissional habilitado em circuns- tâncias cuidadosamente controladas1. Os efeitos colaterais da injeção intramus- cular da toxina botulínica são raros, no entanto, podem estar presentes em alguns casos. Mesmo ocorrendo, tais efeitos são transitórios, normal- mente desaparecendo algumas semanas após as aplicações2-6. Os efeitos da toxina botulínica no organismo estão relacionados com a frequência e a quantidade da dose. Pode-se observar hipotensão, náusea, vômitos, disfagia, diminuição do controle do esfíncter, prurido e uma síndrome semelhante à gripe7. Tais efeitos são possíveis, embora raros; no entanto, efeitos colaterais à distância também podem ocorrer. O mais significativo é uma fraqueza generalizada dos músculos distantes do local da injeção6. O conhecimento da anatomiada face contribui muito para que esses efeitos adversos não aconteçam. DISCUSSÃO Entre os eventos adversos relacionados à TXB (toxina botulínica), pode-se dizer que o desconhe- cimento das áreas anatômicas pode favorecer o surgimento de possíveis intercorrências. O músculo fronto-occipital divide-se em pares interligados pela fáscia superficial. Tais pares podem ou não ser unidos, tanto na região média da fronte como além da linha da inserção dos cabelos, e, portanto, as rugas da região frontal, podem variar de indivíduo para indivíduo, até em sua porção lateral. Esse fato exige atenção detalhada na análise dessa musculatura quando da aplicação da TXB, bem como no cálculo de sua dose. 52 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Ferreira MG, Viotti M Sendo função do músculo frontal elevar os supercílios, e como consequência produzir as rugas da fronte, seu relaxamento poderá influenciar no formato e na posição dos super- cílios8. Se somente o ventre central do músculo for tratado, seu ventre lateral pode permitir certo grau de contração nas regiões externas, levando à elevação lateral do supercílio (conhecido como efeito “Spock” ou “expressão de Mefisto”). Esse efeito adverso é facilmente resolvido, sendo tratado com uma pequena dose de TXB aplicada nas partes laterais do músculo frontal. Mas, caso o paciente goste do resultado do arqueamento das sobrancelhas, e apenas relate a queixa das rugas laterais que se formam, essas linhas podem ser satisfatoriamente tratadas usando-se bioes- timuladores e fios faciais9. Outro efeito adverso que pode surgir com a aplicação de dose elevada de TXB nessa musculatura é a paralisação de toda fronte; isso pode dar uma sensação de peso e o paciente relatar que a pálpebra “desceu”, mas na verdade, houve um relaxamento excessivo dessa Figuras 1 e 2 – Músculo fronto-occipital (imagem Anatomy Next modificada). [ 1 ] [ 2 ] musculatura. Ao fazer aplicação no músculo fronto-occipital, deve-se manter uma distância de 15 mm acima do rebordo ósseo da órbita, no ponto que corresponde à pupila, para diminuir as chances de difusão para o músculo levantador da pálpebra superior10. Existem variações anatô- micas desse músculo e as aplicações também não seguem um protocolo único, variam conforme as rugas que se formam (Figuras 1 e 2). O músculo orbicular dos olhos se origina dos ligamentos palpebral e orbital e se encontra com as porções transversas dos músculos nasais. Trata-se de músculo circular com ação de esfíncter, cuja porção lateral abaixa o supercílio. Deve-se observar que esse músculo, além de ser o responsável pelo fechamento das pálpebras, pode provocar rugas além do arco zigomático inferiormente; das sobrancelhas superiormente e na região nasal. Esse músculo pode ser extenso em alguns pacientes, dispondo-se além da sobrancelha e cobrindo a região malar, formando eventualmente rugas longas que alcançam a Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 53 região temporal inferior. O comportamento dos músculos considerados esfincterianos é diferente dos demais músculos de expressão da face; e a injeção da TXB num ponto não relaxa o músculo como um todo, atuando em um diâmetro de aproximadamente 1 cm. Portanto, as injeções de TXB devem atingir toda a área que se deseja relaxar sem, no entanto, deixar de observar que o tratamento excessivo desse músculo pode provocar protrusão da gordura periocular produ- zindo bolsas, edema palpebral por deficiência de drenagem linfática e secura ocular por alteração da glândula lacrimal. A injeção demasiadamente profunda na região lateral do orbicular do olho pode causar inativação dos músculos malares alterando o sorriso, como é o caso do músculo zigomático menor que troca fibras com orbicular dos olhos na sua porção lateral (Figuras 3 e 4). Na região da pálpebra superior encontra-se o músculo elevador da pálpebra superior, que se origina na superfície orbital da pequena asa do esfenoide acima e anteriormente ao canal óptico, [ 3 ] [ 4 ] Figuras 3 e 4 – Músculo orbicular dos olhos (imagem Anatomy Next modificada). Intercorrências com toxina botulínica relacionadas à diferentes áreas anatômicas e se insere na pele da pálpebra, na placa tarsal e nas paredes orbitárias. A migração ou injeção da TXB em grande quantidade ou posição inade- quada na região do músculo orbicular dos olhos pode levar ao relaxamento do músculo elevador da pálpebra, resultando em ptose palpebral. As zonas de risco são: a musculatura da glabela, especialmente a cauda do músculo corrugador; o músculo orbicular dos olhos em sua porção superior, acima da linha da sobrancelha; e a pálpebra superior em toda a sua extensão, pois as fibras desse músculo se inserem na derme da pálpebra superior. Há uma suposição de que ao se utilizar colírios que estimulam o sistema adrenérgico ou os que atuam sobre as prostaglandinas, estimula-se o músculo de Müller, ajudando a elevar a pálpebra um a dois milímetros na tentativa de substituir parte da ação do músculo elevador da pálpebra no caso da ocorrência de ptose palpebral8. Não existe nenhuma comprovação científica sobre esse assunto (Figuras 5 e 6). 54 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Os músculos corrugadores se originam das porções interna e medial da margem orbital superior, acima do nariz, e se inserem no músculo frontal e na pele do supercílio. Sua contração aproxima os supercílios além de puxá-los para baixo (rugas glabelares). Possuem íntima relação com o septo orbitário e, portanto, com o músculo Figuras 5 e 6 – Músculo elevador da pálpebra (imagem Anatomy Next modificada). [ 5 ] [ 6 ] Figuras 7 e 8 – Músculo corrugador (imagem Anatomy Next modificada). [ 7 ] [ 8 ] Ferreira MG, Viotti M elevador da pálpebra. O erro incorre ao aplicar a TXB na porção caudal do corrugador, aprofun- dando a agulha (técnica comum sugerida por muitos profissionais). A sugestão para que essa intercorrência não ocorra é realizar a aplicação da TXB superficialmente e com a agulha voltada para cima na região da cauda (Figuras 7 e 8). Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 55 Figuras 9 e 10 – Músculo orbicular da boca (imagem Anatomy Next modificada). [ 9 ] [ 10 ] Na região dos lábios, encontra-se o músculo orbicular da boca que se dispõe ao redor da rima bucal. Nota-se sua disposição extremamente superficial, inserindo-se na pele e na mucosa dos lábios. Esse músculo tem comportamento de esfíncter, e a aplicação da TXB pode ser feita nas regiões dos lábios superior e inferior. Vale lembrar quão superficial é sua localização, devendo-se evitar a injeção da TXB profundamente para que não haja relaxamento dos demais músculos da região, pois há músculos periorais, intima- mente associados ao orbicular da boca, que têm como função levantar, abaixar e retrair os lábios, produzindo movimentos complexos durante a função normal8. O tratamento excessivo leva a disfunção com fechamento insuficiente da boca, problemas de articulação e dificuldades para comer e beber. Portanto, essa região deve ser tratada com doses baixas10. Deve-se orientar o paciente que, inicialmente, pode ocorrer uma perda do poder de esfíncter deste músculo por até duas semanas. Posteriormente, a função volta ao normal e o resultado se mantém estável por meses, considerado um efeito adverso temporário9 (Figuras 9 e 10). Intercorrências com toxina botulínica relacionadas à diferentes áreas anatômicas Os músculos elevadores da região labial incluem: os músculos elevadores do lábio superior e da asa da nariz, o levantadordo lábio superior, os zigomáticos menor e maior, elevador do ângulo oral e o risório, apresentando-se de medial para a lateral. A assimetria é uma das complicações mais comuns; em geral, ela não se manifesta em repouso, mas apenas durante a função ativa, ou seja, ao sorrir. O músculo elevador do lábio, como o próprio nome indica, eleva o lábio superior e se origina na margem infraorbital, inserindo-se no lábio superior. Seu relaxamento é desejado quando tratamos o sorriso gengival. Doses inadequadas, porém, podem provocar sérios efeitos e a impossibilidade da elevação do lábio superior8. Uma assimetria leve é tolerável ou pode ser corrigida a pedido do paciente, mas assimetrias maiores devem ser evitadas. Aconselha-se titulação da dose: inicialmente aplique metade da dose planejada, avalie o efeito após duas semanas, e caso seja necessário uma dose maior a mesma deverá ser feita na próxima aplicação com intervalo mínimo de cento e vinte dias para se evitar imunogenicidade10. 56 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência O enfraquecimento mais intenso do músculo elevador do lábio superior pode causar relaxa- mento maior da parte medial do lábio. Isso pode intensificar a atividade compensatória do músculo zigomático maior. A maior tração lateral causa aumento da fenda da boca, conhecido como sorriso de “Coringa“, que pode ser corrigido com bloqueio leve do músculo zigomático maior10 (Figuras 11 e 12). O músculo zigomático maior eleva o ângulo da boca superior e lateralmente, contribuindo para o sorriso. Tem origem na superfície lateral do osso zigomático e se insere na pele do ângulo da boca trocando fibras com os músculos orbicular da boca e levantador do ângulo oral. Não é aconselhável aplicar toxina nesse músculo sem previamente desenhar os músculos orbicular da boca e o masseter, pois o músculo zigomático cruza o músculo masséter em 15 mm na sua porção anterossuperior, evitando assim assime- trias9-10 (Figuras 13 e 14). O músculo nasal se origina na eminência alveolar dos dentes caninos e incisivos laterais superiores e se insere na lâmina tendinosa do dorso do nariz, apresentando uma parte trans- versa e uma parte alar. Deve-se evitar aplicações Figuras 11 e 12 – Músculo elevador do lábio superior (imagem Anatomy Next modificada). [ 11 ] [ 12 ] Ferreira MG, Viotti M muito próximas ao músculo elevador da asa do nariz e do lábio superior, sob risco de bloqueio do mesmo, o que poderia causar ptose do lábio superior, com repercussão para a fala e o fecha- mento da boca10 (Figuras 15 e 16). O músculo platisma distende a pele do pescoço e a traciona lateroinferiormente junto com o ângulo da boca. Origina-se na articu- lação esterno-clavicular, insere-se na base da mandíbula e algumas fibras no ângulo da boca. Esse músculo tem sua porção anterior forte e avança na região anterior do mento, superior- mente em direção ao lábio até o complexo chamado modíolo. Ele também pode se estender lateralmente até o ângulo da mandíbula, porém, nem todos os indivíduos têm essa apresentação; portanto, ao tratarmos o contorno facial, há necessidade da avaliação adequada da extensão e localização do platisma antes da injeção da toxina botulínica8. Se a aplicação for muito profunda na região de pescoço, a TXB pode sofrer difusão para os músculos subjacentes levando à dificuldade de deglutição (disfagia = distúrbio da deglutição) e fala (disfonia = distúrbio da fala). Assim, as injeções na região da laringe devem ser evitadas sempre que possível9. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 57 Figuras 13 e 14 – Músculo zigomático maior (imagem Anatomy Next modificada). [ 13 ] [ 14 ] Figuras 15 e 16 – Músculo nasal (imagem Anatomy Next modificada). [ 15 ] [ 16 ] Intercorrências com toxina botulínica relacionadas à diferentes áreas anatômicas Uma aplicação no músculo platisma, por exemplo a aplicação de Nefertiti, pode por difusão atingir o músculo abaixador do ângulo da boca causando uma assimetria no lábio inferior. Excesso de tratamento e/ou injeção aplicada muito próximo do ângulo da boca podem causar disfunção na forma de fechamento insufi- ciente da boca, com resultados que incluem problemas ou assimetrias ao comer, beber ou falar (Figuras 17 e 18). Os músculos abaixadores incluem os depres- sores do ângulo da boca e do lábio inferior e o músculo platisma. Deve-se citar a comissura, pois as linhas de marionete são formadas pelos músculos depressor do ângulo da boca e platisma. A flacidez do SMAS contribui para o surgimento dessas linhas em pacientes mais velhos. Na camada muscular da região de mento, encontra-se o músculo depressor do ângulo da boca cuja origem está na base da mandíbula, e 58 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência [ 19 ] Figuras 19 e 20 – Músculo depressor do ângulo oral (imagem Anatomy Next modificada). [ 20 ] a inserção no ângulo da boca. É o músculo mais superficial desse conjunto, e sua origem a mais lateral desse complexo; utizamos essa referência para a injeção da TXB8. De todas as aplicações de TXB na face, esta é a que oferece maior risco de assimetrias, e elas ocorrem quando de um lado o profissional injetou no músculo alvo e do outro lado errou a posição do músculo por alterar a profundidade da aplicação (Figuras 19 e 20). O músculo depressor do lábio inferior tem origem na base da mandíbula (superior à origem Ferreira MG, Viotti M do abaixador do ângulo da boca) e se insere no lábio inferior8. Se esse músculo for atingido ao aplicar TXB no músculo depressor do ângulo da boca, ou no músculo mentual, pode ocorrer como consequência elevar e everter o lábio. E em um paciente Classe II, isso dificultaria na fala e o paciente passaria a morder o lábio. Deve-se usar pequenas doses, pois as aplicações em altas doses de toxina nesse músculo fazem com que o lábio suba muito9 (Figuras 21 e 22). [ 17 ] [ 18 ] Figuras 17 e 18 – Músculo platisma (imagem Anatomy Next modificada). Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 59 [ 21 ] [ 22 ] Figuras 21 e 22 – Músculo depressor do lábio inferior (imagem Anatomy Next modificada). [ 23 ] Figuras 23 e 24 – Músculo mentual (imagem Anatomy Next modificada). [ 24 ] O músculo mentual se origina na fossa mentual (superiormente ao tubérculo mentual) e tem inserção na pele do mento, tem como função tracionar a pele do mento no selamento labial e deglutição. Rugas podem se formar no local da inserção do músculo na pele. Pode conter algumas porções hipertrofiadas exigindo doses maiores de TXB, bem como injeções em diferentes posições para que seja tratado corre- tamente8-9. O risco de complicações com essa técnica de aplicação é baixo, podendo ocorrer ressalto de fibras desse músculo quando não aplicado pontos de TXB em toda a sua extensão9. Avisar sempre ao paciente que se ocorrer ressalto de fibras durante a mímica, a resolução será uma nova aplicação na porção ressaltada, contendo Intercorrências com toxina botulínica relacionadas à diferentes áreas anatômicas as mesmas unidades do tratamento inicial9 ou aguardar 20 dias para sua resolução expontânea (Figuras 23 e 24). O músculo masseter encontra-se na região parotideomassetérica e possui uma porção super- ficial e outra profunda, integrando o grupo dos músculos da mastigação. A porção superficial se origina na borda inferior dos dois terços anteriores do arco zigomático, e a profunda, na superfície interna do terço posterior, e a porção que se insere em todo o ramo lateral da mandíbula tem como função elevá-la. É considerado o músculo mais forteda face e o tratamento da sua hipertrofia inclui-se entre os procedimentos estéticos em situações patológicas/hipertróficas obtendo a suavização da mesma. 60 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Ao fazer injeções nesta região da face, deve-se também levar em consideração o ducto parotídeo8. A dose excessiva no músculo masseter pode levar à restrição da função de mastigação. Alguns autores citaram outros efeitos colaterais da aplicação de TXB no músculo masseter: 1. Flacidez da bochecha: devido à incapacidade de retrair a pele quando o músculo masseter perde seu volume, resultando em flacidez local. 2. Ressalto de fibras: o abaulamento muscular durante a mastigação ocorre dentro de uma semana após a injeção e é devido a uma compensação das fibras musculares super- ficiais em resposta ao enfraquecimento das fibras profundas. As camadas profunda e média do masseter são quase verticais em direção e contração, enquanto a camada superficial se origina mais medialmente no osso zigomático, criando uma direção oblíqua de contração, reproduzindo, em alguns casos, esse abaulamento. 3. Efeito pobre: deve-se à dosagem insuficiente ou aplicação superficial da toxina. A dose usual para injeção de masseter é em torno de 20 a 30 unidades de toxina. Uma dose insufi- ciente pode levar a resultados insatisfatórios. 4. Assimetria: pode surgir se o profissional não reconhecer as diferenças entre os masséteres esquerdo e direito e com isso não ajustar a dose individualmente para cada músculo. 5. Assimetria do sorriso: o sorriso assimé- trico pode resultar da paralisia do músculo zigomático maior quando as injeções no masseter são muito altas ou colocadas no feixe anterior. Basta manter as injeções nos terços inferiores nos feixes médio e posterior deste músculo para evitar essa complicação. Ferreira MG, Viotti M A mesma também pode ocorrer por paralisia do músculo risório que se encontra no feixe anterior ou médio do masseter em mais de 95% dos casos. Para evitar essa complicação, o profissional deve estar familiarizado com anatomia muscular e definir uma zona de injeção segura. 6. Trismo muscular: é uma complicação rara causada pela paralisia dos músculos pterigoideos laterais. Como a parte mais alta do masseter se origina e se fixa no bordo inferior do arco zigomático e os músculos pterigoideos laterais são mais profundos naquele local do que o masseter, injeções de altas doses e profundas podem causar paralisia no pterigóideo lateral. As aplicações altas podem gerar efeitos adversos pela proxi- midade com o músculo zigomático maior e pterigoideo lateral, somente a parte inferior do masseter deve ser injetada9. 7. Xerostomia: é outra complicação rara causada pela difusão da toxina nas glândulas parótidas, que reduz a secreção salivar. O feixe posterior do músculo masseter é coberto pela glândula parótida, de modo que o profissional pode evitar a injeção da glândula fazendo-a profundamente e mantendo um limite de um centímetro a partir da margem posterior do músculo masseter. Vale ressaltar que a aplicação na glândula parótida pode ser executada em casos de pneumonia aspirativa recorrente. 8. Fraqueza muscular: a diminuição na força de mastigação terá início uma semana do proce- dimento, com melhora em três semanas. A possível razão é a compensação por outros músculos que participam da função masti- gatória11. Em pacientes com um volume de gordura maior na região anterior, quando Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 61 Referências 1. Blitzer A, Benson BE, Guss J. Botulinum neurotoxin for head and neck disorders. Thieme, 2012. 2. B Freund, M Schwartz. The use of botulinum toxin for the treatment of temporomandibular disorder. 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Anatomia da face aplicada aos preenchedores e à toxina botulínica – Parte II. Surg Cosmet Dermatol 2010;2(4):291-303. 9. Kane M, Sattler G. Guia ilustrado para infiltrações estéticas com toxina botulínica. Di Livros Editora, 2016. 10. Pacheco AFR. Toxina botulínica para harmonização facial. 1.ed. Quintessence Publishing, 2019. 11. Ferreira MG, Machado LOR, Dantas FCV. O estudo da anatomia do músculo masseter e as possíveis complicações clínicas após o uso da toxina botulínica. Revista FACE 2019;1(1):60-71. aplica-se a toxina, há uma diminuição do músculo masseter; podendo levar a uma evidencia maior dessa gordura na região anterior, tornando o sulco nasogeniano mais evidente em alguns casos (Figuras 25 e 26). CONCLUSÃO O número de indicações aprovadas para a TXB aumentou significativamente desde que esse agente foi proposto pela primeira vez como uma ferramenta terapêutica, na década [ 25 ] Figuras 25 e 26 – Músculo masseter (imagem Anatomy Next modificada). [ 26 ] Intercorrências com toxina botulínica relacionadas à diferentes áreas anatômicas de 1970, e muitos outros usos potenciais foram relatados na literatura. Isso pode ser atribuído à requintada especificidade das TXB na liberação de neurotransmissores vesiculares. Com uma maior compreensão da farmacologia, é concebível que a gama de indicações clínicas para TXB cresça no futuro1. Os efeitos adversos podem acontecer, porém são passageiros. O profissional precisa deixar claro essas possibilidades de intercor- rências a não possibilidade de reversão, e o tempo relativo de duração na consulta inicial para o seu paciente, afim de evitar constrangimentos. Raphaella Autran1 CA PÍT UL O4 1Biomédica esteta – Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação; Fisioterapeuta, mestranda em Ciências Farmacêuticas – Universida- de Federal do Rio de Janeiro; Especialização em Dermatofuncional – Faculdade Estácio. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 63 Pele e envelhecimento Pele e envelhecimento INTRODUÇÃO A pele, ou sistema tegumentar, é classificada como um dos órgãos mais complexos do corpo humano. Além da sua relação com a estética na Harmonização Orofacial (HOF), possui respon- sabilidade direta na síntese de vitaminas, no sistema imunológico e na proteção contra fatores externos1. Este órgão é composto por duas camadas: epiderme e derme, que repousam normalmente sobre uma camada de gordura2 (Figura 1). Quando jovem, essas estruturas apresentam sustentação, elasticidade e fator de hidratação suficientes para garantir não apenas a saúde, mas também a beleza da face3. Com o passar dos anos, esses dois estratos sofrem mudanças degenerativas importantes, consequência de fatores intrínsecos e extrínsecos. O fator intrínseco é aquele cronológico, ou seja, decorrente das alterações estruturais inerentes ao envelhecimento dos tecidos bioló- gicos, enquanto o extrínseco é caracterizado principalmente pelo agravamento de perda do aparelho colágeno – elástico–, diminuindo substancialmente a capacidade às adaptações bioquímicas e biomecânicas da pele4. O envelhecimento gera notórias mudanças, como atrofia tecidual, ptose, rugas estáticas, sulcos profundos, craquelamento, lassidão e alteração da cor da pele5. Dessa maneira, entende-se a relevância da abordagem tegumentar no programa de tratamento na Harmonização Orofacial, pois pouco adianta a atuação em planos mais profundos se ao final a imagem do paciente permanecer com aspecto envelhecido. Sendo assim, a abordagem para os tratamentos cutâneos é imprescindível (Figura 2). 64 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência A B A B [ 1 ] Figura 1 – A. Epiderme. B. Derme. [ 2 ] [ 3 ] Figuras 3 – Esquema representativo da pele recebendo tratamentos do Face Gloss. A. Cosmecêutico. B. Peeling. C. Nutracêuticos. D. Injetáveis. Figura 2 – A. Pele saudável e jovem. B. Diminuição dos componentes estruturais, gerando invaginação da pele, como acontece nas rugas. FACE GLOSS O Face Gloss (FG) surge nesse cenário como metodologia de tratamento, ao permitir a construção do raciocínio clínico individualizado, propondo o planejamento de acordo com as características de cada paciente. Ao analisar as queixas cutâneas diárias nos consultórios, pode-se perceber quatro recorrentes: hipersensibilidade, hipercromias (manchas e melasmas), qualidade da pele/flacidez e cicatrizes de acne. É fundamental destacar que essas queixas estão relacionadas à deficiência em função, espessura, fator de hidratação e/ou proprie- dades viscoelásticas do sistema tegumentar. Ou seja, para resolução é necessário restabelecer a camada de proteção, a quantidade e a qualidade do material existente na derme, assim como a homeostasia estrutural. Para tal, é imprescindível que o tratamento contemple bioestímulo dérmico, nutrição e hidratação cutâneos. Sendo assim, objetivando tratar ou ainda prevenir os sinais clínicos do envelhecimento e condições inestéticas da pele, o Face Gloss surge como uma associação eficaz de tratamentos já consagrados na literatura científica: peelings químicos com ácidos, proce- dimentos injetáveis (mesoterapia com blend de ativos estéreis, skinboosters, bioestimuladores de colágeno), nutracêuticos e cosmecêuticos. Autran R A partir da atuação em diversas frentes, diferentes camadas e de forma sistêmica, o tratamento atua de maneira sinérgica, poten- cializando e mantendo os resultados (Figura 3). Diferentemente das demais terapias na HOF, o tratamento da pele exige dedicação diária e os resultados não são imediatos. Além disso, é funda- mental a combinação de terapêuticas superficiais e profundas para alcançar o melhor resultado, carac- terizado por uma mudança de maneira natural no semblante facial. Por essa razão, o Face Gloss reúne ainda inúmeras fórmulas magistrais para a continuação do tratamento em casa, ou seja, diversas possi- bilidades para o home care. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 65 TERAPIA APLICADA Paciente do sexo feminino, 42 anos, compa- receu à consulta de avaliação queixando-se de flacidez facial, rugas dinâmicas na fronte, glabela e orbiculares dos olhos, além de rugas verticais ao sorrir localizadas lateralmente às comissuras labiais, popularmente conhecidas como “rugas de acordeon” devido à similaridade ao instru- mento musical. No exame, foi constatado ainda diminuição do brilho e do viço da pele. Após anamnese e exame físico, foi realizada documentação fotográfica em estúdio profis- sional para análise e acompanhamento do caso. A documentação fotográfica para o Face Gloss consiste nas seguintes tomadas: Pele e envelhecimento Figuras 4 – Fotos faciais frontais. A. Lábios selados. B. Sorrindo. [ 4a ] [ 4b ] 1. Facial frontal com lábios selados (Figura 4A); 2. Facial frontal sorrindo (Figura 4B); 3. Facial frontal distendendo a pele, lado direito (Figura 5A); 4. Facial frontal distendendo a pele, lado esquerdo (Figura 5B); 5. Facial em 15o com lábios selados, para o lado esquerdo (Figura 6A); 6. Facial em 15o sorrindo, para o lado esquerdo (Figura 6B); 7. Facial em 15o com lábios selados, para o lado direito (Figura 7A); 8. Facial em 15o sorrindo, para o lado direito (Figura 7B); 9. Facial em 90o com lábios selados, para o lado esquerdo (Figura 8A); 10. Facial em 90o com lábios selados, para o lado direito (Figura 8B). 66 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Figuras 5 – Fotos faciais frontais distendendo a pele. A. Para o lado esquerdo. B. Para o lado direito. [ 5a ] [ 5b ] Figuras 6 – Fotos faciais em 15°. A. Com lábios selados, para o lado esquerdo. B. Sorrindo, para o lado direito. [ 6a ] [ 6b ] Autran R Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 67 Figuras 7 – Fotos faciais em 15°. A. Com lábios selados, para o lado direito. B. Sorrindo, para o lado direito. [ 7a ] [ 7b ] Figuras 8 – Fotos faciais em 90° com lábios selados. A. Para o lado esquerdo. B. Para o lado direito. [ 8a ] [ 8b ] Pele e envelhecimento 68 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Ao analisar as queixas da paciente, as fotografias e cruzar os dados com o exame clínico, foi planejado o Face Gloss com associação de peelings químicos e bioestimulador de colágeno, com objetivo de reestruturar a derme e acelerar a taxa de renovação celular na epiderme. Os ácidos utilizados para peeling foram solução de Jessner, ácido tricloroacético e ácido retinóico, enquanto que o material bioestimulador foi a hidroxiapatita de cálcio. Além dos procedimentos realizados em consultório, somaram-se cuidados para casa: nutracêuticos e cosmecêuticos, ambos sendo prescritos com combinações de ativos hidratantes, antioxidantes, rejuvenescedores e clareadores. As fórmulas foram utilizadas desde três dias depois da consulta inicial, pois foi o tempo necessário para a confecção na farmácia de manipulação. Após 15 dias de uso contínuo dos produtos, a paciente retornou ao consultório para realizar a etapa injetável (bioestimulador de colágeno) e de aplicação dos peelings. Foi realizada também a Autran R injeção de toxina botulínica nos músculos frontal, corrugadores do supercílio, prócero e orbiculares dos olhos (Figura 9). Em seguida, foram passadas as recomen- dações pós-operatórias, entre as quais destaca- -se a suspensão dos cosmecêuticos contendo ácidos descamativos pelos sete dias subse- quentes, pois estes poderiam lesionar a pele já sensibilizada pelos peelings. Em contrapartida, foi prescrito hidratante facial e uso redobrado de protetor solar (quatro vezes ao dia). Poste- riormente a esse período, a paciente retomou o uso das fórmulas tópicas do Face Gloss. Quarenta e cinco dias após a etapa injetável, a paciente retornou ao consultório para reavaliação, seguida de nova documentação fotográfica conforme as tomadas iniciais. (Figuras 10 a 14) Ao observar as fotografias e ao exame clínico, foi possível constatar melhora das queixas da paciente através da reestruturação dérmica, renovação epidérmica e redução da força muscular. A partir da análise comparativa do teste de distensão da pele (Figuras 15 e 16) e das rugas do sorriso (Figuras 17 e 18). Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 69 Figura 9 – Paciente com a marcação para realização dos procedimentos injetáveis. [ 9 ] Figuras 10 – Fotos faciais frontais. A. Lábios selados. B. Sorrindo. [ 10a ] [ 10b ] Pele e envelhecimento 70 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integradae progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Figuras 12 – Fotos faciais em 15°. A. Com lábios selados, para o lado esquerdo. B. Sorrindo, lado direito. [ 12a ] [ 12b ] Autran R Figuras 11 – Fotos faciais frontais distendendo a pele. A. Para o lado esquerdo. B. Para o lado direito. [ 11a ] [ 11b ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 71 Figuras 13 – Fotos faciais em 15°. A. Com lábios selados, lado esquerdo. B. Sorrindo, para o lado direito. [ 13a ] [ 13b ] Figuras 14 – Fotos faciais em 90°o com lábios selados. A. Para o lado esquerdo. B. Para o lado direito. [ 14a ] [ 14b ] Pele e envelhecimento 72 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência [ 16a ] [ 16b ] [ 15a ] [ 15b ] Autran R Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 73 Referências 1. Tassinary JAF, Neto CFG. Peelings químicos magistrais e abordagens terapêuticas. 1.ed. Editora Estética Experts: Rio Grande do Sul, 2018. 2. Hexsel D, Hexsel CL, Cotofana S. Introducing the l-lift-a novel approach to treat age-related facial skin ptosis using a collagen stimulator. Dermatol Surg 2020;46(8):1122-4. 3. Shaw JR. RB, Katzel EB, Koltz PF, Yaremchuk MJ, Girotto JA, Kahn DM et al. Aging of the facial skeleton: aesthetic implications and rejuve- nation strategies. Plast Reconstr Surg 2011;127(1):374-83. 4. Boismal F, Serror K, Dobos G, Zuelgaray E, Bensussan A, Michel L. Vieillissement cutané – Physiopathologie et thérapies innovantes [Skin aging: Pathophysiology and innovative therapies]. Med Sci 2020;36(12):1163-72. 5. Makrantonaki E, Vogel M, Scharffetter-Kochanek K, Zouboulis CC. Hautalterung: molekulares verständnis der ex- und intrinsischen vorgänge [Skin aging: Molecular understanding of extrinsic and intrinsic processes]. Hautarzt 2015;66(10):730-7. [ 18a ] [ 17a ] [ 18b ] [ 17b ] Figuras 15 a 18 – A. Antes. B. Pós-Face Gloss. Pele e envelhecimento Levy Nunes1 – “In memoriam” Evilin Sanches Morais2 Daniela Cardoso3 Nicole Barbosa Bettiol4 Thiago Mesanelli Nunes5 Miscia Martins Moraes6 CA PÍT UL O5 1Especialista em Harmonização Orofacial, mestre em Fisiologia Oral – FOP-Unicamp; Doutor em Cirurgia e PhD em Cirurgia – Unesp-FMB. 2Especialista em Harmonização Orofacial – Facsete; Pós-graduação em Prótese Dental – FOP-Unicamp; Mestranda em Harmonização Orofacial – SLMandic. 3Especialista em Harmonização Orofacial – Facsete; MBA Gestão em Saúde – FGV; Mestranda em Harmonização Orofacial – SLMandic. 4Especialista em Harmonização Orofacial – CFO; Mestra e doutoranda em Ciências da Saúde – Forp-USP. 5Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial – Senac-SP; Especialista em Harmonização Orofacial, mestrando em Cirurgia Bucomaxilofacial – SLMandic; Pós-graduação em Odontologia Hospitalar – Facoph-Bauru; Pós-graduação em Implantodontia – APCD-Piracicaba. 6Especialista em Harmonização Orofacial – CFO; Especialista e mestre em Ortodontia – Uniararas. Acesse o vídeo na íntegra: Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 75 Bichectomia – Técnica Levy Nunes para incisão segura Bichectomia – Técnica Levy Nunes para incisão segura INTRODUÇÃO Recentemente, houve um considerável aumento pela procura por procedimentos que visam ao rejuvenescimento, à estética e a melhorar o perfil facial; e, desde então, não faltam artigos científicos que descrevam a anatomia das estruturas que compõem a face: desde a pele, passando pelos compartimentos de gordura e músculos, até o osso e seu comporta- mento durante o envelhecimento. Entre essas estruturas, a Bola de Bichat (BB), ou compartimento adiposo bucal, vem ganhando grande espaço de discussão, por sua localização e relação com as estruturas da face, bem como sua relação com o perfil facial, o envelhecimento, o emagrecimento e os tecidos de suporte. A importância da descrição desse comparti- mento de gordura facial está relacionada com a cirurgia de sua remoção, a bichectomia, que se define como um procedimento cirúrgico em que é removida adequada quantidade da porção bucal da BB, e que tem por finalidade estabelecer uma proporção mais harmônica na face, justa- mente por atuar diretamente na manutenção do contorno facial1. Igualmente, a bichectomia também apresenta indicação funcional, sendo essa a finalidade pela qual se iniciaram as remoções dos compar- timentos adiposos bucais. Por exemplo, está descrito na literatura que a indicação funcional da bichectomia envolve o uso da gordura para fechamento de fístulas orontrais, diminuição do trauma de mordida de bochecha – conhecido por Morsicatio buccarum – e para fechamentos de comunicações sinobucais2. A partir das indicações funcionais, observou- -se que o impacto extraoral da remoção da BB causava uma melhora do contorno facial, com visível diminuição do tamanho das bochechas, atribuindo à face um aspecto mais triangular, o que promovia uma imagem mais sensual e bela (Figura 1). Com a facilidade de acesso às redes sociais, muito tem-se discutido sobre a bichectomia. 76 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Nunes L, Morais ES, Cardoso D, Bettiol NC, Nunes TM, Moraes MM Esse meio de comunicação não traz todas as informações sobre esse procedimento cirúrgico, pelo contrário, muitas vezes é fonte de desinformação. Há muito respaldo científico sobre a bichec- tomia, pois existem inúmeros trabalhos publi- cados a respeito de sua segurança, suas indicações, suas técnicas cirúrgicas e complicações. A bichectomia não é um procedimento novo, e apresenta segurança e bons resultados quando respeitados seus preceitos, com anos de publi- cações e procedimentos executados que atestam seus resultados e sua segurança. De forma que cabe ao especialista em Harmo- nização Orofacial (HOF) conhecer e dominar todos seus aspectos, saber indicar e executar com maestria técnicas seguras e com respaldo científico, principalmente no que se diz à aplicação de conhecimentos sobre anatomia, bem como saber diagnosticar e tratar possíveis complicações. Figura 1 – Contorno facial que representa beleza e juventude, com o destaque dos ossos zigomáticos (terço médio) sobre o terço inferior (sem volume em bochechas), atribuindo o formato de triângulo invertido da juventude e sensualidade. Fonte: imagem gratuita disponível em <https://stock.adobe.com/>. [ 1 ] Portanto, o presente trabalho possui dois objetivos: (1) apresentar a bichectomia como uma técnica segura, que pode ser realizada pelo cirurgião-dentista em consultório; e (2) apresentar e dar destaque à Técnica Levy Nunes para a realização da bichectomia, que atribui mais segurança e maior facilidade em sua execução. REVISÃO DA LITERATURA A primeira vez em que a BB foi descrita, acreditou-se que se tratava de uma glândula. Isso ocorreu em 1732, por Heister, na Alemanha, e que deu o nome à nova estrutura de “glândula malar”3. Pouco tempo depois, Marie-François Xavier Bichat, em 1802, um anatomista francês, descreveu o corpo adiposo que encontrou através da disseção de cadáveres como sendo uma estrutura de massa puramente gordurosa separada em septos e envolvida por uma membrana fina de tecido conjuntivo, que Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 77 descreveu como uma cápsula fibrosa. Bichat ainda observou que essa estrutura apresentava artérias e fibras nervosas dedicadas, o que a fazia parecer ser uma estrutura independente (Figura 2)2,4. No momento de seu estudo, o anatomista ainda não conseguiu entender sua função, mas já havia definido que sua natureza era gordurosa. Um importanteestudo realizado em 1884, por H. Ranke, confirmou que a BB se apresentava como uma massa de gordura estrutural e que, devido à sua localização (entre os músculos masseter e bucinador), exercia a função de amortecer essas estruturas musculares durante sua contração, e a considerou como uma estrutura especializada – do tipo sissarcose – chamando-a de “almofada de sucção”5. Em sua publicação de 1957, Gaughran descreveu a BB como sendo uma estrutura situada entre o periósteo maxilar e o músculo bucinador, Bichectomia – Técnica Levy Nunes para incisão segura Figura 2 – “Anatomie Générale”, publicado por Marie-François Xavier Bichat em 1812, em que descreve o corpo adiposo bucal. Fonte: Acervo Biblioteca de Manguinhos e Digital de Obras Raras e Especiais, Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), disponível em: <www.obrasraras.fiocruz.br/>. [ 2 ] apresentando um corpo principal situado na região das bochechas, e outras quatro extensões que se espalhavam pela lateral da face, indo até a região malar6. A partir dessa época, passou-se a conhecer mais sobre a anatomia e a função da BB, e estudos confirmaram que a sua natureza gordurosa, embora semelhante à gordura presente nos tecidos subcutâneos ao longo do corpo, comportava-se de maneira totalmente diferente. Alguns estudos conseguiram comprovar, através de dissecações em cadáveres, que a BB não sofria alterações nem por emagrecimento, mesmo em níveis exagerados, e nem tampouco se alterava com o avanço da idade, já que os volumes encontrados em cadáveres jovens foram estatisticamente semelhantes aos volumes encontrados em cadáveres de idosos5,7. 78 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Anatomicamente, a BB consiste numa massa esférico-piramidal de gordura encapsulada por uma delgada camada de tecido conjuntivo, que possui quatro extensões: pterigoidea, temporal superficial, temporal profunda e, a maior delas, a bucal. A extensão bucal é a parte principal da BB e que dá volume às bochechas, sendo essa a porção removida durante a bichectomia1,3,6. Ela está localizada anteriormente ao músculo masseter, situando-se entre ele e o músculo bucinador. Durante seu trajeto com sentido anterior, apresenta íntima relação com o ducto parotídeo (ducto de Stenon), localizado externamente à BB, mas que a contorna, para depois atravessá-la e desembocar dentro da cavidade oral, na altura do primeiro molar superior (Figura 3)2-3. É justamente por essa relação da BB com o ducto de Stenon, que se exige técnicas cirúrgicas seguras, principalmente na incisão, para que não haja a secção do ducto (uma das complicações cirúrgicas mais frequente na bichectomia). Nunes L, Morais ES, Cardoso D, Bettiol NC, Nunes TM, Moraes MM Figura 3 – Anatomia da BB e das estruturas adjacentes. 1. Porção Bucal da Bola de Bichat 2. Ducto de Stenon. 3. Músculo masseter. Fonte: Biglioli F. Versatility of the buccal fat pad flap. Disponível em: <http://www. dentalmedjournal.it/versatility-of-the-buccal- fat-pad-flap/>. [ 3 ] A função da BB consiste em amortecer os músculos masseter e bucinador durante a amamen- tação dos bebês, impedindo que esses músculos se colapsem1-3. Assim, a principal atividade e importância da BB se dá em crianças durante a amamentação, podendo também funcionar como amortecedor contra quedas e traumas. Segundo estudos publicados, a BB apresenta volume estimado de 10 mL para cada lado, mas pode apresentar grande variação3,5. Pesa em média 3,9 g e apresenta 6 mm de espessura na maioria dos casos; e não é raro existir uma diferença de peso de 0,51 g em média entre os lados direito e esquerdo1,3,7. A bichectomia teve início nos anos 1970, chamada de lipectomia bucal, com o trabalho de Egyedi (1977), em que descreveu a técnica de fechamento de comunicações oroantrais, usando a gordura de Bichat pediculada2,8-9. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 79 Em 1980, Epstein descreve a “lipectomia bucal” com finalidade estética, citando a correção de “bochechas gordinhas” por meio da remoção da BB; ou ainda como um procedimento combinado com outras cirurgias cosméticas faciais10. Nesse trabalho, Epstein (1980) descreveu sua técnica de remoção da BB sendo realizado acesso intraoral, após serem infiltrados 3 mL a 4 mL de anestésico local em região do sulco gengival vestibular superior, paralelo ao primeiro e segundo molares superiores, e superiormente à saída do ducto de Stenon. Procedeu-se uma incisão de 3 cm na mesma área da infiltração anestésica, expondo as fibras do músculo bucinador, que foram divulsionadas em seguida. A BB se exteriorizou para a cavidade oral, onde foi firmada e tracionada por instrumento cirúrgico adequado. A quantidade de gordura a ser removida pôde ser ajustada aplicando-se pressão externa na bochecha enquanto uma tração suave foi realizada intraoralmente, evitando, assim, a herniação do ducto parotídeo. A gordura foi simplesmente amputada, e a incisão foi fechada com sutura10. Stuzin et al (1990) descreveram uma melhor abordagem para remoção da BB por acesso intraoral, a partir de seu estudo de dissecação em cadáveres. Esses autores também sugeriram o local para a incisão numa região alta do vestíbulo maxilar, porém, diferentemente do autor anterior, esse trabalho sugeria começar a incisão acima do segundo molar e estendendo-se posteriormente por 2 cm. A incisão é feita a 5 mm acima da altura da gengiva inserida do segundo molar e se estende pela mucosa para, em seguida, expor o periósteo maxilar através das fibras do músculo bucinador11. Bichectomia – Técnica Levy Nunes para incisão segura Em 1991, Matarasso publicou um trabalho com enfoque estético da remoção da BB, e sugeriu uma técnica de incisão para melhor execução da bichectomia, com acesso intraoral e de forma segura. O autor sugeriu proceder infiltração de anestésico de cloridrato de lidocaína e solução de epinefrina no sulco gengivovestibular, entre o primeiro e o segundo molares superiores. Nessa posição, o ducto de Stenon é pronta- mente identificado superior e aproximadamente a 1 cm lateral ao campo operatório. É feita uma incisão horizontal de 2,5 cm, preservando bordas da mucosa para posterior fechamento da ferida cirúrgica. As fibras expostas do músculo bucinador são afastadas por dissecação utili- zando tesoura de ponta romba, com sua ponta voltada para o hélix da orelha. A gordura herniada se projeta e a membrana da cápsula sobreja- cente deve ser penetrada. Deve ser aplicada uma pressão externa abaixo do arco zigomático para que a BB seja removida. Em seguida, a gordura é pinçada, excisada e cauterizada para promover coagulação, evitando-se cuidadosamente lesões na mucosa oral. Apenas a gordura que se projeta com facilidade deve ser removida para evitar lesões em estruturas vitais, bem como ressecção excessiva12. Em outro estudo, de 2013, Xu & Yu realizaram a lipectomia da BB com acesso intraoral e sob anestesia local. Diferentemente dos autores anteriores, a incisão foi realizada em outra localização: de forma horizontal na mucosa bucal no nível do plano da mordida, com aproximada- mente 1,5 cm de extensão. Após a incisão, as fibras do músculo bucinador foram cuidadosa e suavemente separadas através da incisão, expondo a gordura bucal, e uma lipectomia parcial foi realizada13. 80 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Moura et al (2018) publicaram um trabalho sobre bichectomia que teve como finalidade realizar uma revisão sistemática da literatura sobre a remoção da BB para melhorar a estética facial, colhendo os dados presentes na literatura quanto aos efeitos imediatos, resultados conquis-tados e complicações. Os autores chegaram à conclusão de que somente três tipos de incisões para a bichectomia estão relatados na literatura, e que são: 1. A incisão intraoral no sulco gengivovestibular em altura de primeiro e segundo molares superiores, paralela às fibras do músculo bucinador – incisões de Epstein (1980), de Stuzin (1990) e Matarasso (1991); 2. A incisão horizontal em mucosa bucal na altura do plano de mordida – incisão de Xu & Yu (2013); 3. A incisão e acesso extraoral14. As incisões realizadas extraoralmente não serão apresentadas neste trabalho, pois geral- mente são realizadas em conjunto com outros procedimentos cirúrgicos em face, como a ritidectomia, e normalmente envolve o uso de anestesia geral. Ainda assim, acessos extraorais para remoção da BB incorrem em grande risco, devido à presença de estruturas anatômicas importantes em íntimo relacionamento com a BB na região Nunes L, Morais ES, Cardoso D, Bettiol NC, Nunes TM, Moraes MM A escolha do local correto para a incisão é crucial para a segurança e o bom resultado da bichectomia. “ ” externa, como os vasos originários das artérias facial e maxilar e as fibras dos ramos do nervo facial. Cabe ressaltar que esses ramos correm no mesmo plano que as fáscias musculares da região facial (fáscia parotídea-massetérica), aumen- tando o risco de dano dos mesmos e gerando, por consequência, parestesias e/ou paralisia facial11. A bichectomia pode ser considerada um procedimento cirúrgico simples e seguro, quando realizado em consultório odontológico, sob anestesia local e com incisão intraoral10,15-16. Embora complicações relacionadas a esse procedimento cirúrgico não são comumente descritas na literatura científica, apresentam relevância clínica quando ocorrem. Lesões nesta área podem levar a déficits neuromotores (parestesia e/ou paralisia), hematomas, trismo, infecção, assimetrias e lesão do ducto parotídeo14. Ainda no levantamento realizado por autores14, encontrou-se que, com relação às complicações, houve relato de extensa hemorragia, compro- metimento do nervo facial, assimetria e trismo. Analisando apenas a série de casos relatados, dos 71 pacientes submetidos à bichectomia apenas seis (8,45%) apresentaram complicações como trismo, assimetria e hemorragia. O importante a ser ressaltado é que a escolha do local de incisão é crucial para o bom resultado da cirurgia, principalmente no que diz respeito às intercorrências. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 81 Devido à localização anatômica da BB, um manejo descuidado dessas estruturas pode dar lugar a complicações de grau médio a grave, sendo necessário, inclusive, internação do paciente para tratamento hospitalar. Dessas complicações citadas, danos ao ducto parotídeo são relatados na literatura14, e quando ocorrem, podem levar a complicações graves, como acúmulo de saliva, presença de fístulas e infecções15-16. A conduta para esse evento envolve drenagem da saliva acumulada e confecção de dreno artificial para substituir o ducto seccionado16. Por essa grande relevância na forma de como a incisão deve ser realizada, o Prof. Dr. Levy Nunes, PhD, com mais de 20 anos de experiência em bichectomia, junto com sua equipe, apresenta sua técnica de incisão que possui o maior índice de segurança, quando comparada com as incisões descritas em literatura, justamente por respeitar e preservar as estruturas anatômicas nobres de íntimo relacionamento com a BB. BICHECTOMIA – TÉCNICA CIRÚRGICA LEVY NUNES A primeira publicação relatando a técnica cirúrgica para a remoção da BB foi descrita por Egyedi em 1977, com a finalidade do fechamento de comunicação oroantrais. Em 1980, tem-se a descrição da primeira lipectomia da BB para fins estéticos, como foi apresentado por Epstein (1980) em sua publicação. Ambos os autores, bem como outras publicações posteriores, concordam que a bichectomia é um procedimento simples e seguro, quando executado de maneira adequada, escolhendo-se o melhor local para a incisão8,10,12,14. Bichectomia – Técnica Levy Nunes para incisão segura Apesar de a bichectomia ser um procedimento de curta duração, sendo realizada em média durante 40 minutos, é imperativo que sejam respeitados os cuidados e os protocolos para qualquer procedimento cirúrgico realizado em consultório odontológico. Portanto, os cuidados pré-operatórios são: • a realização de anamnese completa, com detalhes de história médica (problemas de saúde e tratamentos médico-odontológicos atuais e anteriores), possíveis alergias, histórico de procedimentos cirúrgicos, e como foi a recuperação deles; • a coleta de informações de avaliação física, bucal e geral, tais como: presença de perio- dontite e focos de infeção bucal, diabetes mellitus descompensada, alteração em pressão arterial, doenças metabólicas descom- pensadas, e qualquer outra condição que contraindique a bichectomia; • a realização de exames laboratoriais: hemograma completo e coagulograma são exames importantes para indicarem o estado de saúde geral do paciente, e a resposta para a coagulação, como é o caso do tempo de sangramento. Segundo Silva & Silva (2017), as vantagens da bichectomia são: procedimento simples e rápido, mínima incidência de falha, realizado sob anestesia local, sem cicatrizes visíveis e baixa morbidade1. Para o início do procedimento cirúrgico, procede-se a anestesia, sendo indicado que sejam realizadas infiltrações com cloridrato de lidocaína a 2% com epinefrina 1:100.000, ou cloridrato de mepivacaína a 2% com epinefrina 1:100.000, ambas, na região de fundo de sulco superior, distribuídas em três pontos: 82 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência 1. região de pré-molares; 2. região molar e retromolar; 3. mucosa jugal no local da incisão. A incisão – Técnica Levy Nunes Como visto, o local da incisão é pouco discutido na literatura específica, embora seja de extrema importância para a segurança desse procedi- mento, considerando-se que as complicações de maior risco na bichectomia estão relacionadas com o local e a forma em que são feitas as incisões. Anatomicamente, é importante relembrar que o ducto parotídeo situa-se superficial- mente (externo) à BB e paralelo a ela, viajando anteriormente por cima do músculo masseter. Depois, atravessa a própria BB, penetrando através do corpo adiposo e do músculo bucinador para desembocar na cavidade oral, à altura dos molares superiores. Matarasso (1991) citou que o ducto parotídeo pode ser traumatizado, e até mesmo seccionado, durante a incisão ou tracionamento da BB. Também destacou que no momento da incisão, ou na retirada da gordura, pode-se ainda lesionar algum ramo terminal do nervo facial, gerando parestesia e/ou paralisia12,17. Assim, o Prof. Dr. Levy Nunes apresenta sua técnica para incisão e acesso à BB, para posterior remoção, que consiste em: 1. Primeiramente, e o ponto mais importante, deve-se proceder a localização da papila referente à saída do ducto parotídeo na mucosa jugal, próximo ao primeiro molar superior. Uma vez localizada, posiciona-se o afastador cirúrgico de Minnessota sobre ela, cobrindo-a enquanto traciona-se a bochecha com o afastador em sentido lateroexterior. Deve-se, então, apoiar a ponta do afastador Nunes L, Morais ES, Cardoso D, Bettiol NC, Nunes TM, Moraes MM de Minnessota sobre o ramo ascendente da mandíbula. Com esta manobra, a mucosa tracionada se mantém estirada de forma que facilite a incisão e o exérese da BB com segurança. Ao contrário disso, se a mucosa jugal permanecer flácida (sem estiramento), além de dificultar o procedimento cirúrgico, aumenta-se o risco de intercorrências. Isso porque,quando a tração da mucosa é bem executada, o afastador de Minnessota protege a saída do ducto parotídeo, evitando a secção acidental dele. Se a tração da mucosa com o auxílio do afastador for bem executada, surgirá a projeção de um volume na região retromolar, com coloração mais pálida, e que já corresponde à porção bucal da BB (Figura 4). 2. A incisão deve ser feita verticalmente no centro dessa projeção, numa extensão de 1,5 cm, iniciando superiormente entre as cúspides distal do primeiro molar superior e mesial do segundo molar superior, e deverá se estender inferiormente até a região de segundo molar inferior (Figuras 5). Quando o afastamento e a incisão são realizados em local e forma corretos, a BB se projeta facil- mente na sequência da incisão (Figura 6). 3. Após a incisão, surgirá uma cápsula fina de coloração esbranquiçada brilhante, que corresponde à cápsula fibrosa que reveste a BB. Essa cápsula deve ser rompida, também com o uso da lâmina de bisturi. Uma vez rompida, procede-se com divulsão delicada, utilizando-se pinças ou tesouras cirúrgicas com ponta romba, sempre em sentido poste- rossuperior. Para a divulsão, primeiramente introduz-se a pinça travada pela incisão, procedendo sua abertura dentro da ferida cirúrgica, ao mesmo tempo em que se realiza movimento de rotação delicado. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 83 Bichectomia – Técnica Levy Nunes para incisão segura Figura 4 – Afastamento da mucosa jugal e proteção da saída do ducto de Stenon com o uso do afastador cirúrgico de Minnessota. É possível visualizar (indicado por seta) um volume que se projeta na região retromolar com coloração mais pálida, referente à BB. Figuras 5 – A incisão pela Técnica Levy Nunes é feita de forma vertical, com 1,5 cm de extensão, após correto tracionamento da mucosa jugal com o uso do afastador de Minnessota. A. Indicação do local a ser realizada a incisão. B. Incisão sendo realizada, permitindo a visualização da cápsula fibrosa que reveste a BB. [ 4 ] [ 5a ] [ 5b ] 84 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Figura 6 – Quando a incisão é realizada de forma correta, envolvendo a cápsula de revestimento, a BB se projeta com facilidade através da incisão. [4] [ 6 ] 4. Posteriormente, deve-se, então, tracionar gentilmente a gordura da BB para a sua remoção. Os movimentos devem ser feitos de forma delicada e com parcimônia, com o auxílio de pinças cirúrgicas atraumáticas (como pinças Kelly). Para a remoção, firma-se a gordura com o auxílio de uma pinça Kelly, e alterna-se as pinças enquanto se traciona gentilmente a gordura da BB para fora, sempre tendo em vista as estruturas anatô- micas importantes da região. O afastamento e estiramento da mucosa com o afastador de Minnessota não deve ser interrompido em momento nenhum da cirurgia (Figura 7). A quantidade de gordura a ser removida deve ser coerente e suficiente para o efeito cosmético, em torno de 3 mL a 5 mL. Sugere-se que primeiro seja removida uma quantidade adequada de um dos lados, para depois remover a mesma quantidade do lado oposto. O controle da quantidade de gordura removida pode ser realizado com o auxílio Nunes L, Morais ES, Cardoso D, Bettiol NC, Nunes TM, Moraes MM de seringas do tipo Luer (Figura 8). Existe a possibilidade de se realizar exames pré-opera- tórios de ultrassom de face, que descrevem os volumes reais da BB e permitem definir a quantidade a ser removida antes da cirurgia (Figura 9), porém, eles não são obrigatórios para a execução da bichectomia. 5. Quando for encontrada resistência à tração, a remoção da BB deve ser interrompida, e deve-se considerar o fim da exérese se a quantidade removida for a esperada e compatível com o planejamento. Matarasso (1991) afirmou em seu estudo que a gordura é simplesmente amputada e na sequência são realizadas a sua cauterização12. Na Técnica Levy Nunes, contraindica-se cortar a gordura. A BB, por ser uma estrutura especia- lizada e encapsulada, apresenta muitos vasos sanguíneos, e cortar ou amputar essa estrutura pode dar lugar à ruptura de vasos e, consequentemente, hemorragia. Mesmo se feita cauterização posterior, essa conduta Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 85 Figura 8 – Recomenda-se a remoção entre 3 mL e 5 mL de gordura, que devem ser acomodadas em seringa do tipo Luer para controle da quantidade removida. Figura 9 – Exame de ultrassom para realização da medição volumétrica da BB, sendo: músculo masseter (A); corpo adiposo bucal (B); e músculo bucinador (C). [4] [4] Figura 7 – A tração para fora da BB deve ser feita com delicadeza e através do rodízio de pinças Kelly. [ 8 ] [ 9 ] [ 7 ] Bichectomia – Técnica Levy Nunes para incisão segura 86 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência aumenta circunstancialmente o risco de hemorragia. A gordura da BB se desprende com a manobra de tração e, por isso, a cirurgia deve ser encerrada quando houver resistência à saída de gordura, que já não se desprende (Figura 10). Nunca se deve cortar a gordura. 6. Antes de serem feitas as suturas, recomenda- -se massagem bilateral para a remoção do ar presente na loja cirúrgica, com a finalidade de se aliviar o edema pós-operatório. As suturas podem ser simples ou contínuas, utilizando- -se fio absorvível, e serão de maior facilidade para sua execução por ter sido a incisão feita de forma vertical. Os fios não absorvíveis, como nylon ou seda, dificultam sua posterior remoção, e não auxiliam no processo de cicatrização local. Ainda, é indicado o uso de fita elástica, do tipo Knesio Tape (Theraband, Inc.) e faixa compressiva por 15 dias, para diminuir o edema (Figura 11). Deve-se Nunes L, Morais ES, Cardoso D, Bettiol NC, Nunes TM, Moraes MM Figura 10 – Quando houver resistência para a tração e remoção da gordura da BB, deve-se dar a cirurgia por encerrada. Nunca se deve cortar a gordura. [4] [ 10 ] aplicar gelo nos três primeiros dias. Está indicada a realização de drenagem linfática pós-operatória. Cuidados pós-operatórios É importante que o paciente siga as orien- tações pós-operatórias para se alcançar os resultados esperados. Assim, deve-se atentar quanto à medicação prescrita, ao repouso e ao uso da faixa compressiva e de gelo conforme recomendado. Na prescrição medicamentosa deve conter: • Antibióticos de amplo espectro: amoxicilina 875 mg combinada com ácido clavulânico 125 mg. Administrando-se um comprimido a cada 12 horas, por sete dias. • Anti-inflamatório (Aines e/ou corticoste- roides): cetoprofeno 150 mg, administrando um comprimido a cada 12 horas, nos três primeiros dias; passando a um comprimido ao dia, por mais dois dias. Ou, pode ser receitada aplicação intramuscular de dipropionato de betametasona 5 mg combinado com fosfato dissódico de betametasona 5 mg (Diprospan), em dose única. • É importante haver um protocolo eficiente de analgesia, combinando-se a administração de dipirona sódica 500 mg e paracetamol 750 mg. Administra-se um comprimido de cada fármaco a cada quatro horas, de forma alternada. Por exemplo, inicia-se com a dipirona sódica 500 mg, e, após duas horas, inicia-se a administração do paracetamol 750 mg, passando então a respeitar o intervalo de quaro horas entre as doses de cada fármaco. Isso fará com que um analgésico seja adminis- trado de duas em duas horas. Os analgésicos devem ser administrados por três a cinco dias. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 87 Bichectomia – Técnica Levy Nunes para incisãosegura Figuras 11 – Após as suturas, é importante aplicação de fita elástica e faixa compressiva para reduzir o edema facial pós-operatório. [ 11 ] O gelo deve ser aplicado sobre a face de forma ininterrupta durante o dia (suspende-se somente durante o sono), pelos três primeiros dias, juntamente com o uso da faixa compressiva (uso indicado por pelo menos 15 dias). Ainda que medicado, o paciente prova- velmente apresentará dor leve, edema (mais proeminente nos primeiros dias) e dificuldade para abrir a boca. Esses desconfortos fazem parte do pós-cirúrgico e são controlados pela medicação, e normalmente desaparecem dentro de poucos dias. Possíveis complicações A bichectomia é um procedimento cirúrgico seguro, que pode ser realizado em consultório odontológico, sob anestesia local e sem neces- sidade de sedação do paciente. Já está consa- grado na literatura que o melhor acesso à BB é por incisão intraoral10-12,14,17-18. Ainda assim, o local da incisão impactará diretamente nos resultados da cirurgia, principalmente no que diz respeito ao surgimento de intercorrências. A incisão pela Técnica Levy Nunes garante maior segurança, pois, diferentemente das técnicas de incisão apresentadas na literatura científica até os dias atuais, tem local indicado mais próximo da região retromolar, onde já não estão presentes as fibras do músculo bucinador, não havendo a necessidade de divulsioná-las para se ter acesso à BB. Com menor divulsão de tecido muscular, menor edema se apresentará, melhorando o processo pós-operatório do paciente. Além disso, essa distância mantida do ducto parotídeo é completamente segura, ao mesmo tempo em que sua saída é protegida pelo afastador de Minnessota, o que garante que não se incorra em secção do ducto de Stenon. Somados a isso, o tracionamento delicado da gordura da BB garante a preservação das estru- turas, sem lesioná-las, como as fibras do nervo facial que possam estar presentes. 88 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Nunes L, Morais ES, Cardoso D, Bettiol NC, Nunes TM, Moraes MM E, por último, o fato de nunca se cortar ou amputar a BB evita lesão em artérias e veias, que são muito presentes devido à sua alta vascu- larização, evitando-se, dessa forma, o risco de hemorragia. Embora as complicações da bichectomia sejam pouco frequentes, estão relatadas na literatura científica numa porcentagem que varia de 8,45% a 18%14-15,18. Entre os eventos relatados, estão: edema, hematoma, infecção, trismo, secção do nervo facial e secção de ducto parotídeo. Danos ao ducto parotídeo são pouco relatados na literatura, mas quando ocorrem, podem levar a complicações graves, como acúmulo de saliva e presença de fístulas e infecções. A conduta para esse evento envolve drenagem da saliva acumulada e confecção de dreno artificial15-16. A anatomia é mandatória para a execução da técnica cirúrgica com segurança. Assim ressal- tando, o ducto parotídeo está intimamente relacionado à BB, estando presente em toda a sua superfície externa e penetrando e atravessando-a, para desembocar na mucosa oral. Portanto, a Técnica Levy Nunes propõe uma cirurgia segura, pois tem por principal destaque a localização da saída do ducto parotídeo, e sua proteção com o uso do afastador de Minnessota. Resultados da bichectomia A bichectomia é o procedimento cirúrgico em que se realiza a remoção da BB, para se ter como resultado a redução da proeminência das bochechas (terço inferior arredondado da face), para que o terço médio se destaque, através de uma maior projeção zigomática1,10,12. Assim, o resultado é a diminuição dos volumes da bochecha, diminuindo o aspecto infantilizado do rosto arredondado para dar lugar a um volume mais marcado em região malar, atribuindo um ar de sensualidade e juventude (Figuras 12 e 13). Atualmente, existe uma falsa ideia disse- minada pelas mídias sociais de que a bichectomia pode causar o envelhecimento precoce da face, ou que poderá causar o emagrecimento exagerado. Essa informação é refutada por inúmeros trabalhos científicos publicados2-3,5,7. E a expli- cação é de que a BB não é um compartimento de gordura de sustentação da face e, portanto, não possui a função de suportar e nem sustentar nenhum tecido adjacente a ela. O envelhecimento irá ocorrer de qualquer forma, por alterações em todas as camadas da face (osso, músculo, SMAS, ligamentos da face, compartimentos de gordura e pele), independentemente da remoção ou não da BB. Pelo contrário, como a BB também é uma estrutura suportada por tais ligamentos faciais, a tendência é que ela também se desloque com os anos, e em caso de ser uma estrutura exagerada, irá contribuir para o aspecto de “face pesada” e a formação da gordura do Jowl (“gordura do buldogue”). Ahari et al (2016) também confirmaram em seu trabalho que a BB não sofre alteração pelo emagrecimento ou pelo envelhecimento. Esses autores confirmaram que a BB tem uma corre- lação muito fraca com a gordura total do corpo, e apresenta peso e massa normais mesmo em casos de caquexia ou de baixíssima porcentagem de gordura corporal2. Este estudo corroborou com o trabalho de Tostevin & Ellis (1995) que reali- zaram uma revisão sistemática de literatura sobre o comportamento da BB diante de alterações metabólicas, e afirmaram que ficou comprovado que a BB foi o corpo adiposo que mais resistiu ao emagrecimento, citando, inclusive, que ela reteve seu armazenamento de gordura pelo maior tempo possível mesmo durante a fome prolongada5. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 89 Bichectomia – Técnica Levy Nunes para incisão segura Figuras 12 – Resultado da bichectomia, com destaque para região do terço médio da face (projeção dos malares). A. Anterior ao procedimento cirúrgico. B. Resultado após um ano da bichectomia. [ 12a ] [ 12b ] Figuras 13 – Resultado final da bichectomia após um ano e meio da cirurgia. A. Anterior ao procedimento cirúrgico. B. Resultado da bichectomia indicando a satisfação da paciente. [ 13a ] [ 13b ] Em 2020, Echlin et al compararam os tamanhos e volumes das BB dissecadas de 30 cadáveres frescos (com mais de 65 anos) com os valores relatados na literatura para indivíduos mais jovens, e afirmaram que não encon- traram diferença significativa entre os valores post-mortem e os encontrados em indivíduos jovens7. 90 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Vários autores sugeriram que a não diminuição da BB durante o emagrecimento se deve ao fato de que este corpo adiposo possui uma rede intensa e autônoma de vascularização2,5,7. Portanto, a bichectomia é uma ferramenta importante na HOF, pois é um procedimento indicado para diminuir o formato arredondado da face, devido ao volume das bochechas, tendo como o resultado um perfil facial com aspecto triangular, onde os ossos zigomáticos se destacam, atribuindo o aspecto de beleza, juventude e sensualidade (Figuras 14). Nunes L, Morais ES, Cardoso D, Bettiol NC, Nunes TM, Moraes MM Figuras 14 – Resultado obtido com a bichectomia. Acompanhamento do pós-operatório em: foto Inicial (anterior ao procedimento); três meses após o procedimento, seis meses e um ano após a bichectomia. [ 14 ] CONCLUSÃO A bichectomia é uma cirurgia simples e segura, que pode ser realizada pelo cirurgião-dentista, sob anestesia local e com incisão intraoral. Apesar de apresentar baixo índice de compli- cações relatados na literatura, os eventos descritos são edema, hematoma, infecção, trismo, parestesia e/ou paralisia e secção do ducto parotídeo, devido à íntima relação desta estrutura com a BB. A Técnica Levy Nunes para a bichectomia apresenta ênfase no locale na forma como é feita a incisão, aumentando a segurança e a facilidade de execução do procedimento, que hoje é uma das principais ferramentas da Harmonização Orofacial para reforçar a beleza e a juventude facial. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 91 Referências 1. Silva RMAF, Silva Filho JP. Avaliação dos contornos faciais após remoção da bola de bichat: revisão de literatura. RFaipe 2017;7(2):73-84. 2. Ahari UZ, Eslami H, Falsafi P, Bahramian A, Maleki S. The buccal fat pad: importance and function. J Dent Med Sci 2016;15(6):79-81. 3. Faria CADC, Dias RCS, Campos AC, Daher JC, Costa RSC, Barcelos LDP. Bichectomia e sua contribuição para harmonia facial. Rev Bras Cir Plást 2018;33(4):446-52. 4. Bichat MFX. Anatomie générale, appliquée à la physiologie et à la médecine. France: Brosson, Gabon, et Cie, 1802. 5. Tostevin PMJ, Ellis H. The buccal pad of fat: a review. Clin Anat 1995;8(6):403-6. 6. Gaughran GRL. Fasciae of the mastigator space. Anat Rec 1957;129:383-400. 7. Echlin K, Whitehouse H, Schwaiger M, Nicholas R, Fallico N, Atherton DD. 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Bichectomia – Técnica Levy Nunes para incisão segura Lucila Zimmermann Largura1 Eduardo Natal2 CA PÍT UL O6 1Doutora em Ortodontia; Especialista em Harmonização Orofacial; CEO do Instituto Lucila Largura. 2Especialista em Ortodontia; Especialista em Harmonização Orofacial. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 93 Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up INTRODUÇÃO Na Harmonização Orofacial, recentemente observou-se uma enorme evolução nos materiais e técnicas com objetivo de atender o desejo dos indivíduos em recuperar aspectos do rosto jovem e/ou destacar pontos de beleza na face. Prevenir, amenizar e tratar as manifestações senis na face de maneira minimamente invasiva e segura são algumas das metas dos procedimentos em Harmonização Orofacial e para isso há uma infinidade de produtos e uma grande variedade de condutas clínicas que podem ser empregadas. Para que todos os procedimentos sejam seguros, duradouros e com resultados naturais, a base é a anatomia da face. Nos últimos anos, o avanço dos estudos da anatomia da face levou à compreensão de sua composição tridimensional e do conceito em camadas e planos faciais. Recentes descobertas de novas estruturas anatômicas foram feitas e o conhecimento de uma das regiões de maior complexidade do nosso organismo se especializou imensamente1. Como todos os tecidos estruturais desempenham um papel no envelhecimento da face, a restauração das características juvenis (ou estabelecendo-as onde estão ausentes de forma congênita) começa na estrutura esquelética e vai progressivamente até a tela do rosto2. As sequelas da senilidade ocorrem em todas as camadas e estruturas da face de maneira diferente e em ritmos diversos; por isso, as condutas terapêuticas devem abordar cada uma das estruturas de forma específica. Com isso em mente, almejar o rejuvenesci- mento ideal requer uma compreensão adequada do processo dinâmico de envelhecimento. Para reverter os efeitos gravitacionais, a elevação do tecido mole e/ou a remoção do excesso de tecido podem ser usados para ajudar a reduzir rugas, ptose e flacidez. No entanto, sem adicionar o volume perdido da face, é impossível alcançar o resultado desejado. Portanto, para rejuvenescer efetivamente uma face envelhecida, é necessário realizar tanto o reposicionamento do tecido mole 94 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Largura LZ, Natal E que sofreu a queda, quanto procedimentos de restauração de volume e de sustentação da face, o que pode aumentar a eficácia e a longevidade do procedimento3. A integração dos materiais e técnicas é determinante para promover o rejuve- nescimento, já que, à medida que a idade avança, a complexidade do processo de senescência se acentua. O objetivo geral deste capítulo é abordar a integração de dois materiais muito populares na prática da Harmonização Orofacial: fios de polidioxanona (PDO) e o ácido hialurônico (AH). Será apresentado um breve resumo sobre os conceitos atuais em anatomia e envelhecimento facial, os quais são a base para o desenvolvi- mento das técnicas aqui apresentadas, cujo principal objetivo é o efeito lifting dos tecidos moles da face, em especial o Método Cubo. Os autores também apresentam uma nova maneira de planejar o uso dos fios espiculados e com uma técnica de amarração inovadora e simples, a técnica Strap up. O uso desses conceitos é ilustrado através de uma série de exemplos clínicos em pacientes diferentes. ANATOMIA E ENVELHECIMENTO FACIAL A ampla evolução da anatomia facial e das teorias do envelhecimento assistida nas duas últimas décadas determinou grandes mudanças na prática clínica dos profissionais que tratam o processo de envelhecimento. Uma compreensão desse processo muito menos empírica e muito mais embasada na anatomia, favoreceu uma nova perspectiva e possibilitou o desenvolvi- mento de técnicas que produzem resultados muito mais naturais e mais satisfatórios. A atual compreensão do processo de envelhecimento exige conhecer mudanças básicas em tecidos específicos através de uma abordagem em camadas ou planos faciais, além da tradicional abordagem por regiões (terços faciais, padrões dentoesqueléticos, formas e proporções). Esse novo entendimento do processo é a base das terapias que restauram os contornos tridimen- sionais da face, seja devolvendo volume, seja reposicionando e tracionando os tecidos, ou, preferencialmente, as duas condutas juntas2. ANATOMIA ESTRUTURAL POR CAMADAS O rosto é organizado em cinco camadas concêntricas diferentes, de acordo com sua funcionalidade. São contínuas entre si, do pescoço ao couro cabeludo, conectadas porum sistema de ligamentos. Dentro de cada camada podem ser identificadas estruturas que são únicas para a respectiva camada e são úteis para orientação, e, portanto, cruciais para trata- mentos seguros. Nessa perspectiva, observa-se duas regiões distintas: a face anterior móvel, cuja função está adaptada para as expressões e mímicas faciais; e a face lateral fixa, sobreposta às estruturas mastigatórias4. Autores experientes sugerem que, curiosa- mente, a palavra SCALP pode servir de acrônimo para essas cinco camadas diferentes1: • S: camada 1 (S = skin); • C: camada 2 (C = connectice tissue); • A: camada 3 (A = aponeurosis, também camada musculoaponeurótica); • L: camada 4 (L = loose connective tissue, também tecido conectivo arelar); • P: camada 5 (periósteo, também fáscia profunda). Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 95 No entanto, deve-se ter em mente que esse arranjo é o alinhamento geral das estruturas na face, mas há regiões em que esse arranjo é alterado para menos de cinco camadas, por exemplo, três camadas na região infraorbital; ou para mais de cinco camadas, por exemplo, nove camadas na região temporal1. Camada 1 – Pele Há uma grande variação da aparência da pele entre diferentes idades, grau de envelhecimento e até mesmo em regiões diferentes da mesma face. A pele varia em espessura, pigmentação e aderência subcutânea entre as diferentes áreas da face. Por exemplo, a pele é muito fina nas pálpebras superiores e inferiores (aproximada- mente 400 mm) e mais espessa sobre o mento e as sobrancelhas (2300 mm a 2500 mm). Na região bucal e na região parotideomassetérica, a pele é conectada por septos vascularizados à camada de gordura subcutânea e tem conexões frouxas e variáveis com os músculos subjacentes da expressão facial. Inferior ao sulco nasolabial e medial ao sulco labiomental, a pele está firmemente aderida aos músculos miméticos subjacentes. Esse tipo de forte aderência cutânea também pode ser identificado entre a pele e os músculos orbicular dos olhos e orbicular da boca5-6. Na região perioral, a pele está diretamente ligada aos músculos da expressão facial sem uma camada de gordura subcutânea distinta entre eles, e sem uma estrutura aponeurótica macroscopicamente identificável presente. A pele está firmemente aderida aos músculos subjacentes da comissura oral e na região da ponta nasal, enquanto está frouxamente aderida ao tecido mole subjacente nas pálpebras e na raiz do nariz1,6. Uma característica importante da pele envelhecida é a fragmentação da matriz de colágeno dérmico, que ocorre principalmente devido ao envelhecimento extrínseco da luz ultravioleta de ondas longas. Os fibroblastos não podem se ligar ao colágeno fragmentado, evitando o alongamento, que é crítico para a produção normal e equilibrada de colágeno e enzimas que degradam o colágeno. Esse desequi- líbrio promove o processo de envelhecimento em um ciclo deletério que se autoperpetua e nunca termina2. À medida que a derme da pele se afina com a idade, os músculos subjacentes causam rítides, que geralmente são perpendicu- lares à direção da contração do músculo facial. A quantidade de enrugamento da pele é variável e está relacionada com a espessura e a elasticidade dela6. Camada 2 – Tecido subcutâneo A camada de tecido subcutâneo apresenta-se bastante variável em espessura e em extensão em toda a face, e sua espessura aumenta à medida que avança inferiormente da margem palpebral inferior até a margem mandibular. A camada subcutânea tem dois componentes: a gordura subcutânea que fornece volume e a cútis retinacular fibrosa, que liga a derme ao SMAS subjacente. Toda tela subcutânea é fortemente vascularizada e separada por septos fibrosos, formando compartimentos distintos que foram identificados em vários estudos cadavéricos e de imagem anteriores. A gordura dentro de cada compartimento fornece volume e estabi- lidade e contribui, assim, para a aparência geral da face5,7-8. A anatomia compartimentada da gordura subcutânea superficial da face tem implicações no processo de envelhecimento, pois Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up 96 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência sofre alterações em ritmos variáveis. A perda de volume em algumas regiões e o aumento em outras contribui para formar irregularidades no contorno facial e perda das transições suaves e contínuas entre as convexidades e concavidades do rosto associadas à juventude e beleza7. Já foi relatado anteriormente que alguns comparti- mentos superficiais de gordura, por exemplo o compartimento de gordura nasolabial superficial, sofre hipertrofia durante o envelhecimento, pois o volume medido nos respectivos compar- timentos aumentou entre as diferentes faixas etárias8-9. A gordura superficial do terço médio da face é denominada gordura malar e se estende da região pré-auricular e lateral da bochecha lateralmente até o nariz medialmente. Esta camada situa-se superficialmente ao orbicular do olho, mas está ausente sobre a porção pré-tarsal do músculo. A camada de gordura superficial interdigita-se com o SMAS, podendo ser reposi- cionada como uma única camada. Essa gordura malar pode ser dividida em compartimentos nasolabial, medial, central e lateral6. Na região infraorbital, a gordura subcutânea está ausente sobre a parte palpebral do músculo orbicular dos olhos, ou seja, nas pálpebras superiores e inferiores a gordura subcutânea é praticamente inexistente. Na região perioral, as células adiposas subcutâneas se misturam com fibras musculares esqueléticas e feixes de colágenos elásticos, que permitem um movimento preciso dos lábios e da comissura oral1,5. Com a flacidez da pele sobrejacente, fisio- logia muscular alterada e gravidade, a gordura superficial tende a se deslocar inferiormente5. Na mandíbula, esse processo é conhecido como “jowling”, deformando drasticamente a linha que define a mandíbula do pescoço. Camada 3 – Sistema musculoaponeurótico O sistema musculoaponeurótico (SMAS) é de suma importância nos procedimentos de lifting facial, sejam eles cirúrgicos ou não. O SMAS é a estrutura subjacente aos compar- timentos de gordura subcutânea e pode ser identificado como uma camada que vai do pescoço (platisma), à têmpora (fáscia temporal superficial ou temporoparietal) e ao nariz (SMAS nasal). A espessura do SMAS varia de acordo com o paciente e a região do rosto. É mais espesso sobre a parótida e torna-se mais fino medialmente4. No pescoço, o SMAS pode ser reconhecido como fáscia cervical superficial e contém o músculo platisma. O SMAS também pode ser identificado no nariz e na região periorbitária – onde o orbicular e o músculo ocular está incluído nessa camada. Na região temporal, essa camada é contínua com a fáscia temporal superficial e inclui os ramos anterior e posterior da artéria temporal superficial. A fáscia superficial do terço médio da face é o SMAS, que é a camada-chave a qual é reposicionada e suspensa na maioria das técnicas de lifting facial. O SMAS está ligado à pele acima e à fáscia profunda (fáscia paroti- domassetérica) abaixo por conexões fibrosas. Em algumas áreas, as conexões são densas e são chamadas de ligamentos, que servem como pontos de forte fixação e suspensão (ligamento zigomático, ligamento retentor orbicular) ou vias para o suprimento sanguíneo arterial (patch de McGregor)5-6. A camada 3 tem conexões fortes com a camada 5. Essas conexões servem também como vias protegidas para ramos nervosos que passam de profundo para superficial (paredes dos compartimentos pré-massetéricos)1. Largura LZ,Natal E Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 97 O SMAS contém os músculos intrínsecos da bochecha, os quais têm uma fixação limitada ao esqueleto e uma fixação mais extensa aos tecidos moles que eles movimentam4. A espessura do SMAS varia de acordo com o paciente e a região do rosto. É mais espesso sobre a parótida e torna-se mais fino medialmente. Camada 4 – Tecido areolar frouxo A camada conectiva areolar frouxa contém a gordura profunda e seus compartimentos, e é Figuras 1 – A. Compartimentos de gordura superficiais. B. Compartimentos de gordura profundos. separada na face da gordura subcutânea (camada 2) pelo SMAS. Os compartimentos profundos da face média são a gordura mediana profunda, com porções lateral e medial, gordura suborbicular ocular (SOOF, na sigla em inglês), e gordura bucal. A gordura profunda contém adipócitos, que são diferentes em tamanho em relação à gordura superficial. A gordura profunda é organizada em compartimentos distintos, e os limites desses compartimentos servem como vias de transição para os ramos do nervo4 (Figuras 1). [ 1b ] [ 1a ] Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up 98 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Também chamado de subSMAS, esse plano contém as seguintes estruturas: 1. Espaços de tecido mole (espaços pré-zigomáticos, pré-maxi lares e pré-massetéricos). 2. Ligamentos de retenção. 3. Camadas profundas dos músculos intrín- secos passando de sua fixação óssea para sua origem de tecido mole mais superficial. 4. Ramos do nervo facial, passando de profundo para superficial. Apresenta duas funções opostas na face: deslizamento dos planos e fixação. Dentro desta camada estão os ligamentos faciais que fixam o tecido mole composto sobreposto ao esqueleto facial. Ligamentos retentores O sistema de ligamentos retentores é um sistema altamente organizado e consistente de tecido conjuntivo que fornece suportes tridimen- sionais à pele sobrejacente e aos tecidos moles, fixando o tecido mole ao esqueleto facial e aos músculos. Os ligamentos podem ser denomi- nados verdadeiros, que se estendem da pele ao esqueleto facial, ou falsos, que conectam apenas os músculos ao osso e não se estendem super- ficialmente à pele. Os ligamentos da face são compostos de colágeno, proteoglicanos, glicosa- minoglicanos (GAG) e água. A correta interação das proteínas juntamente com uma lubrificação intrafascicular proporcionam uma competência mecânica adequada. Vários ligamentos foram descritos na face, sendo que o ligamento zigomático tem se mostrado biomecanicamente o mais rígido, seguido pelo retentor orbitário e pelo ligamento mandibular6. O ligamento zigomático se estende do arco zigomático em direção ao rebordo orbitário e se conecta com o ligamento retentor orbicular medialmente à linha pupilar média. A partir desse ponto de fusão, o ligamento retentor orbicular muda de nome e é chamado daqui em diante ligamento lacrimal. Devido ao seu extenso curso, o ligamento zigomático (às vezes no total também chamado de ligamentos zigomático- -cutâneos) forma a rede do SOOF. A parte mais posterior desse ligamento é chamada de placa de McGregor e é considerada por alguns autores como o único ligamento zigomático6. O conceito de linha de ligamentos foi intro- duzido recentemente, no qual as camadas faciais são dispostas de forma diferente medial versus lateral a este marco anatômico funcional. Medialmente, as camadas faciais são orientadas obliquamente à superfície da pele (ou seja, como telhas), enquanto lateralmente a esta linha elas são dispostas paralelamente à superfície da pele (como pele de cebola). Injetar o preenchedor nessas camadas faciais dispostas de forma diferente pode resultar em efeitos diferentes: a injeção medial pode resultar em um efeito de volume, enquanto a injeção lateral pode resultar em um efeito de levantamento. A linha de ligamentos é uma linha vertical que passa de cranial para caudal 1 cm lateral ao canto lateral e conecta os principais ligamentos faciais: adesão ligamentar temporal; espessamento orbital lateral; ligamento zigomático e o ligamento mandibular. Essa linha de conexão é um marco anatômico, não uma linha real que pode ser identificada por meio de dissecções anatômicas. Essa linha também representa o aspecto mais lateral de onde os músculos da expressão facial se originam do osso10. Largura LZ, Natal E Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 99 Durante o envelhecimento, argumenta-se que a estabilidade de um ligamento que serve de rede para a gordura dentro de cada compartimento (superficial ou profundo) mostra fadiga e se curva ao longo de seu curso e, assim, promove o apare- cimento de flacidez do respectivo compartimento de gordura. Na face média aparecem sulcos no local dos ligamentos, como o sulco nasojugal e o sulco pálpebro-malar, que formam a defor- midade em Y. A gordura infraorbital e a gordura nasolabial ficam proeminentes e inestéticas. Na mandíbula, a gordura mandibular subcutânea aparece saliente no bordo anterior da mandíbula, formando uma bolsa apoiada no ligamento mandibular10 (Figura 2). Camada 5 – Periósteo O nome dessa camada é deduzido do couro cabeludo, onde a camada 5 está cobrindo o osso e apenas o osso nu pode ser identificado profunda- mente a ele. Em outras partes da face, a camada 5 é identificável como uma estrutura distinta, que não é o periósteo. Na têmpora, essa camada é chamada de fáscia temporal profunda e inclui o coxim adiposo temporal superficial. Na face média lateral, essa camada é chamada de fáscia parotideomassetérica e no pescoço é contínua com a camada de revestimento da fáscia cervical profunda. Na face medial lateral (occipital aos ligamentos massetéricos), a glândula parótida, o terço occipital do ducto parotídeo, a glândula Figura 2 – Com o envelhecimento, as divisões da face média ficam aparentes e ocorre a formação dos sulcos: sulco nasojugal medialmente, sulco pálpebro-malar superolateralmente e sulco facial inferolateralmente, formando um Y entre os três componentes da bochecha. [ 2 ] Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up 100 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência parótida acessória, a origem dos músculos zigomáticos e os ramos do nervo facial que emergem do plexo parotídeo podem ser identi- ficados. Na face média medial, essa camada envolve o ducto parotídeo e forma a fáscia da veia facial antes de se fixar à fáscia bucofaríngea e ao músculo bucinador4. Na região periorbitária, entretanto, a lâmina superficial (não a lâmina profunda) da fáscia temporal profunda continua em direção à órbita e separa a SOOF do espaço pré-zigomático5-6 (Figura 3). LIFTING FACIAL EM SEIS PASSOS – MÉTODO CUBO Há uma enorme tendência mundial em buscar técnicas menos invasivas, complicações mínimas, recuperação rápida e facilidade de aplicação, o lifting com fio de PDO associado ao preenchi- mento com AH é atraente tanto para profis- sionais quanto para pacientes, em comparação com os procedimentos tradicionais de ritido- plastia3. A avaliação do local de ptose é essencial para o definir o melhor planejamento e alcançar o efeito lifting. Fatores como perda de volume nas camadas de gordura profundas e flacidez por perda de elasticidade da pele e tecidos moles, incluindo SMAS e ligamentos de retenção, devem ser considerados. Portanto, o procedimento com objetivo de lifting não cirúrgico deve englobartanto a reposição volumétrica com AH quanto o reposicionamento do tecido mole com fios de PDO. A elevação do tecido mole flácido do SMAS resolve o problema da pele superficial ou queda de gordura subcutânea. No entanto, para melhorar eficientemente a elasticidade da superfície da pele e tratar a ptose dos tecidos, a suspensão simultânea das camadas profunda, média e superficial é a melhor abordagem. Se um material denso atuar como suporte, semelhante a barras de ferro em uma gaiola de animais, o conteúdo não será extrudado3. Figura 3 – Representação esquemática dos ligamentos retentor orbital (estrela branca), ligamento lacrimal (estrela preta) e ligamento zigomático cutâneo porção medial (estrela amarela). Observa-se também a representação dos sulcos nasojugal (linha pontihada azul), sulco pálpebro-malar (linha pontilhada verde), sulco facial (linha pontilhada vermelha) e ligamento mandibular (linha pontilhada preta). [ 3 ] Largura LZ, Natal E Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 101 A sugestão é injetar AH altamente reticulado em pontos de sustentação, pois quando o volume é injetado profundamente (supraperiostealmente) no meio da face central, ocorre como resultado a volumização dos compartimentos de gordura médio-facial. Isso leva a uma restauração local da perda de volume médio-facial decorrente do envelhecimento10. Completando a técnica, na mesma sessão, sugere-se inserir os fios espicu- lados de PDO conectando os ligamentos reten- tores com objetivo de reforçar os ligamentos que sofreram frouxidão e tensionar os tecidos moles. O Método Cubo é um procedimento que se refere exclusivamente ao lifting dos terços médio e inferior da face realizado em seis passos. O suporte estrutural projetado para a face é constituído de AH altamente reticulado associado a fios espiculados de PDO, planejados com base nos conceitos atuais em anatomia e envelhecimento facial. É fato que o avanço da idade está associado à deflação generalizada e ao enfraquecimento ósseo do meio da face e regiões específicas da mandíbula. A combinação da perda de volume e a fadiga dos ligamentos retentores faciais subjacentes contribuem para as marcas do envelhecimento da face, além de outros fatores11. No Método Cubo, preconiza-se a integração de AH e fios de PDO utilizando os produtos em áreas específicas e numa sequência que otimiza os resultados, promovendo o efeito lifting que o paciente está buscando. Inicialmente, é realizada a reposição volumé- trica com AH no terço médio da face. O preen- chimento da região profunda malar medial e também a região zigomática é fundamental para estruturar a face. A sugestão é preencher a face lateral e utilizar pequenos volumes na face medial, precisamente no ponto de intersecção dos ligamentos da região, que representa o ponto de máxima projeção da face anterior. Essa conduta pode contribuir para uma aparência parcialmente, senão totalmente, melhorada também da pálpebra inferior. Além disso, devolve a plenitude da bochecha vista lateralmente como a curva de Ogee11. A técnica de preenchimento dessa região pode ser realizada com cânula ou agulha. O preenchimento é colocado em uma técnica de leque ou depósito (in bolus), colocando o produto profundamente no plano pré-periosteal e/ou plano subcutâneo. Injetores experientes sugerem que o preenchimento da região superolateral (zigomaticomalar) deve ser abordado primeiro, colocando o produto no pré-periósteo. Tratar essa região inicialmente dará a máxima expansão de volume, então as injeções podem ser realizadas medial e inferiormente, conforme a necessidade. Uma manobra de refluxo deve ser realizada rotineiramente para minimizar qualquer risco de injeção intravascular inadvertida, especial- mente com o uso de agulhas. A injeção deve ser realizada lentamente sem usar pressão excessiva e o produto nunca deve ser forçado através da seringa11. O segundo passo tem como objetivo camuflar a deformidade da lágrima e corrigir a região infra- orbital como um todo. Sugerimos utilizar os fios lisos multifilamentos, que tem capacidade de volumização e estímulo de colágeno. O uso de fios de PDO no lugar do preenchedor injetável previne um efeito adverso, como enchimento excessivo da pálpebra inferior e da face anterior, que tem sido recorrente e problemático por contribuir para a aparência superpreenchida e ainda pode favorecer a formação edemas persis- tentes de difícil resolução. Além disso, a inserção Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up 102 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência do fio multifilamento na camada dos ligamentos favorece a elevação e o reforço dos mesmos, com riscos operatórios mínimos. No terceiro e no quarto passos do Método Cubo, realiza-se o reposicionamento e a suspensão dos tecidos moles dos terços médio e inferior. Essa técnica emprega os ligamentos de retenção para realizar uma função de suporte como a de uma ponte suspensa, conforme preconizado recente- mente por estudiosos experientes. Os pontos de ancoragem são ligamentos conectados desde o septo temporal inferior, ligamento zigomático- -cutâneo, ligamentos cutâneos massetéricos e ligamentos mandibulares3. Como resultado final desejado, ocorre a formação de tecido cicatricial em torno de uma estrutura ligamentar fraca para formar um pseudoligamento que serve como base para o reforço dos ligamentos3. Esse bastão cicatricial produz um forte efeito de adesão na camada subcutânea, que atua tracionando a gordura extrudada para dentro e provocando uma suspensão da porção flácida. Em última análise, isso serve como o mecanismo subjacente ao rejuvenescimento estrutural, cujo esforço é aumentar a sustentabilidade dos resultados12-13. O ponto de inserção dos fios no terço médio deve ser na parte fixa da face, de preferência no espessamento temporal. O ponto de suspensão, no qual a extremidade terminal do fio é engan- chada, também é um componente importante. Os resultados de estudos com fios em peças anatômicas realizados para elucidar a capacidade do tecido em suportar a fixação do fio nas diferentes camadas faciais mostraram que a resistência tecidual no sub-SMAS foi maior que no SMAS e subcutâneo nos blocos localizados nas regiões nasolabial e perioral. Essa também foi significativamente maior do que a resistência no subcutâneo nos três blocos mediais abaixo da comissura oral. Assim, foi preferível que o ponto de suspensão fosse baseado no plano profundo (camadas sub-SMAS e SMAS) das regiões nasolabial, perioral e parotidomassetérica superior13. No terço inferior, o fio deve ser inserido próximo abaixo do lóbulo da orelha e ancorado no ligamento mandibular. É interessante observar que estudos servem como diretrizes para a prática clínica e podem auxiliar o profissional a eleger a posição mais eficiente para os fios de PDO, otimizando o resultado do lifting. O quinto passo consiste em preenchimento com AH no ângulo mandibular e é considerado um ponto de fixação importante. Com a idade, ocorre uma perda óssea acentuada nas regiões anterior e posterior da mandíbula, além de uma perda da altura facial inferior. O ângulo mandi- bular perda sua definição, e o mento sofre um retroposicionamento. Desordens esqueléticas congênitas que envolvem deficiência de cresci- mento mandibular, mandíbula retroposicionada ou ângulo gôníaco obtuso tendem a denotar envelhecimento mais cedo. Além disso, a falta do ângulo mandibular se acentua quando os tecidos são reposicionados. Se o ângulo não for preenchido, a sensação de falta de mandíbula será ainda maior. Além disso, o preenchimentovai tensionar a pele, ajudando a reduzir a tensão sobre os fios13. Por último, o sexto passo consiste em finali- zação e individualização da técnica com AH. É muito provável que o sulco pre-jowl tenha que ser preenchido para uniformizar a linha da mandíbula. A volumização do mento nesse momento pode também auxiliar na camuflagem do jowl. Alguns pacientes ainda vão necessitar de um refinamento na linha de marionete e na fossa piriforme. Largura LZ, Natal E Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 103 O Método Cubo é um tratamento multi- camada e multialvo, realizado em uma sequência simplificada que otimiza o resultado. O mecanismo principal da técnica consiste em repor o volume perdido em pontos estratégicos de sustentação facial, nos quais houve grande deflação volumétrica, e reposicionar os tecidos flácidos na posição mais favorável que serão mantidos em posição por adesão devido à reação fibroblástica decorrente da presença dos fios de PDO (Figuras 4 e 5). Figuras 4 – Paciente do sexo feminino, 61 anos, apresentando manifestações senis na face. Note a perda volumétrica na face média, presença de sulco nasojugal e goteira lacrimal. No terço inferior note a linha de marionete profunda, sulco pre-jowl marcado, jowl acentuado, perda do contorno da mandíbula e flacidez acentuada. A. Vista frontal anterior ao tratamento. B. Vista de perfil esquerdo anterior ao tratamento. C. Vista de perfil ¾ esquerdo anterior ao tratamento. D. Vista frontal uma semana após o tratamento. E. Vista de perfil esquerdo uma semana após o tratamento. F. Vista de perfil ¾ esquerdo uma semana após o tratamento. G e H. Fotos um mês após o tratamento. [ 4a ] [ 4b ] [ 4c ] [ 4d ] [ 4e ] [ 4f ] [ 4g ] [ 4h ] Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up 104 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Além disso, o método utiliza como diferencial uma técnica inédita para amarração dos fios de PDO chamada de Strap up. Outras regiões da face podem ser beneficiadas com a técnica de lifting facial Strap up, como lifting de sobrancelha, nasal, temporal e cervical. DESCRIÇÃO DA TÉCNICA MÉTODO CUBO – LIFTING FACIAL EM SEIS PASSOS Materiais: • AH reticulado (em média 6 mL); • Fios de PDO (19G 100 mm x 160 mm ou Sculpt), mínimo de quatro unidades por lado; • Fios filler, quatro unidades por lado; • Lâmina Nokor, uma unidade; • Cânula 22G, uma unidade; • Agulha para pertuito 22G, uma unidade; • Anestésico (lidocaína 2% sem vasoconstrictor); • Seringa descartável ou carpule para anestesia; • Agulha 30G; Largura LZ, Natal E [ 5a ] [ 5b ] Figuras 5 – Planejamento do Método Cubo (planejamento do preenchimento com AH e inserção dos fios de PDO). Círculos azuis representam técnicas de depósito “in bolus”. A. Linhas azuis representam técnica em retroinjeção. B. Planejamento para inserção dos fios filler 21G 38 mm x 50 mm no sulco nasojugal e fios espiculados 19G 100 mm x 160 mm nos terços médio e inferior. • Tesoura curva estéril; • Campo, luva, máscara e gaze estéril. Observação: o número de fios e volume de AH pode variar conforme o planejamento. 1. Sustentação: preenchimento da região malar medial com AH de alta reticulação • Após a assepsia da face, determinar e marcar os pontos de sustentação (malar medial e eminência zigomática): na intersecção de uma linha paralela ao solo que vai do tragus ao meio do nariz com outra linha inclinada que vai do canto externo do olho até a comissura labial marcar o ponto correspon- dente ao pertuito (malar medial). Traçar uma bissetriz entre o ângulo formado pelas duas linhas e marcar a eminência zigomática. • Proceder anestesia local com lidocaína 2% sem vasoconstritor em botão anestésico no ponto do pertuito (0,2 mL). Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 105 • Realizar pertuito com agulha 22G no ponto de intersecção das linhas (malar medial). • Introduzir a cânula 22G no ponto de pertuito em 45 graus, acessar o plano subcutâneo e levar a cânula em paralelo com a pele até a eminência zigomática. Injetar “in bolus” na porção posterior do arco zigomático o volume médio de 0,2 mL de AH. • Introduzir a cânula 22G no mesmo pertuito em 90 graus, acessar o plano supraperiosteal e injetar na região malar medial AH de alta reticu- lação, “in bolus”, o volume médio de 0,5 mL de AH. 2. Elevação: reforço e elevação do ligamento lacrimal e preenchimento do sulco nasojugal e goteira lacrimal com fios de PDO multifila- mentos lisos (filler). • Determinar e marcar o ponto de entrada dos fios: início do sulco nasojugal. • Proceder anestesia local com lidocaína 2% sem vasoconstritor em botão anestésico no ponto do pertuito (0,2 mL). • Realizar pertuito com agulha 21G. • Inserir o fio filler com angulação de 45 graus em relação à pele até acessar a camada do ligamento zigomático cutâneo, posicionar a cânula paralelamente à pele e levar a cânula até a crista lacrimal. Toda a extensão da cânula deve ser inserida. • Remover a cânula pressionando a sua ponta com o dedo indicador enquanto segura o cursor com o dedo polegar. • Quantidade: um ou dois fios. 3. Lifting do terço médio: reposicionamento do terço médio com dois fios espiculados de PDO 19G 100 mm x 160 mm ou fio Sculpt • Determinar e marcar o ponto de entrada dos fios: identificar com manobra digital um ponto de maior tensão que deve estar localizado entre o tragus e o septo temporal inferior. O septo temporal inferior, localizado acima do canto externo do olho, fornece boa estabilidade para inserção do fio. • Identificar os vetores de tração que melhor atendem a necessidade do paciente. • Determinar e marcar o trajeto dos dois fios, formando um “V”. Os fios devem atravessar os ligamentos zigomático cutâneo e massetéricos. • Proceder anestesia local com lidocaína 2% sem vasoconstritor em botão anestésico no ponto do pertuito, outro botão no meio do trajeto e mais um botão no ponto de chegada de cada fio (0,2 mL). • Realizar pertuito e descolamento 360 graus com lâmina Nokor. • Inserir fio espiculado de PDO canulado em angulação de 45 graus em relação a pele até atingir o plano subcutâneo e SMAS e levar a cânula paralela à pele até atingir o ponto de chegada pré-determinado. Remover a cânula. • Repetir o procedimento com o segundo fio. • Massagear delicadamente a pele para ativar as espículas. • Tracionar os dois fios em duas direções. • Amarrar os dois fios entre si com dois nós simples. • Cortar o excesso dos fios com tesoura curva. Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up 106 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência • Cortar o excesso dos fios com tesoura curva, pressionando levemente a tesoura contra a pele para cortar o fio rente ao nó. • Acomodar o nó. 4. Lifting do terço inferior: reposicionamento do terço médio com dois fios espiculados de PDO 19G 100 mm x 160 mm • Determinar e marcar o ponto de entrada dos fios: abaixo do lóbulo da orelha. • Determinar e marcar o trajeto dos dois fios, formando um “V” em direção à linha de marionete. O fio inferior deve alcançar o ligamento mandibular. • Proceder anestesia local com lidocaína 2% sem vasoconstritor em botão anestésico no ponto do pertuito, outro botão no meio do trajeto e mais um botão no ponto de chegada de cada fio (0,2 mL). • Realizar pertuito e descolamento com lâmina Nokor. • Inserir fio espiculado de PDO canulado em angulação de 45 graus em relação a pele até atingir o plano subcutâneo e SMAS e levar a cânula paralela àpele até atingir o ponto de chegada pré-determinado. Remover a cânula. • Repetir o procedimento com o segundo fio. • Massagear delicadamente a pele para ativar as espículas. • Tracionar os dois fios em todas as direções. • Amarrar os dois fios entre si com dois nós simples. • Cortar o excesso dos fios com tesoura curva, pressionando levemente a tesoura contra a pele para cortar o fio rente ao nó. • Acomodar o nó. 5. Ponto de fixação: preenchimento do ângulo da mandíbula com AH altamente reticulado • Determinar e marcar o ponto de fixação: ponto de intersecção entre uma linha vertical que passa 1 cm à frente do ramo mandibular com outra linha que passa 1 cm acima do bordo mandibular. • Proceder anestesia local com lidocaína 2% sem vasoconstritor em botão anestésico no ponto do pertuito, outro botão no meio do trajeto e mais um botão no ponto de chegada de cada fio (0,2 mL). • Realizar pertuito com agulha 22G. • Preencher a região malar medial com AH altamente reticulado. Técnica de injeção “in bolus” com cânula 22G ou agulha 22G no plano supraperiosteal no volume médio de 0,5 mL de AH. 6. Finalização: preenchimento com AH no sulco pre-jowl, linha de marionete, mento e fossa piriforme com AH reticulado. Esse passo consiste em individualizar a técnica conforme a necessidade de cada paciente • Determinar e marcar os pontos de finalização. • Proceder anestesia local com lidocaína 2% sem vasoconstritor em botão anestésico no ponto do pertuito (0,2 mL). • Sulco pre-jowl: na parasínfese, entre o mento e o jowl, realizar pertuito com agulha 22G, introduzir a cânula em 45 graus à pele, preencher o sulco com cânula 22 G em retroin- jeção no plano subcutâneo com AH reticulado na quantidade média de 0,5 mL. • Linha de marionete: utilizar o pertuito realizado para o sulco pre-jowl, introduzir cânula 22G em 45 graus à pele, acessar o plano subcutâneo e levar até 2 mm da Largura LZ, Natal E Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 107 comissura labial e injetar em retroinjeção o volume de 0,5 mL de AH reticulado em média. • Mento: demarcar um ponto central no mento, realizar pertutito com agulha 22G e preencher com cânula 22G no plano supraperiosteal o volume médio de 0,5 mL de AH. Pode ser complementado com retroinjeções em leque a partir do pertuito. • Fossa piriforme: demarcar um ponto central na fossa piriforme, realizar pertuito com agulha 22G, introduzir a cânula 22G em angulação de 90 graus com a pele e injetar “in bolus” o volume de 0,2 mL de AH reticulado e média. Observação: os passos três e quatro podem ser realizados com a técnica Strat up, conforme será descrito a seguir. DESCRIÇÃO DA TÉCNICA STRAP UP PARA LIFITING FACIAL NÃO CIRÚRGICO: NOVA TÉCNICA DE UTILIZAÇÃO DE FIOS ESPICULADOS CANULADOS DE PDO A técnica Strap up utiliza os conceitos de tração e ancoragem com quatro fios espiculados canulados de PDO. O lifting com fios de PDO canulado traz muito mais segurança e conforto ao paciente. Por meio da técnica Strap up, é possível garantir todas as vantagens que o procedimento com fios de PDO pode proporcionar atualmente. Até então, só era possível obter a ancoragem com fios duplos agulhados, que causam um pós-operatório desconfortável para o paciente e utilizam agulhas calibrosas que geram maior risco para o procedimento. Além disso, técnica utiliza dois fios para fazer a alça e dois fios para fazer um nó, garantindo mais estabilidade do nó diante das forças da gravidade. Com a alça e o nó que a Strap up apresenta, a segurança e a estabilidade são obtidas simulta- neamente. O diferencial da técnica está atrelado, principalmente, à área de ancoragem, à área de tração e à forma de amarração dos fios com a alça e o nó propriamente dito. A técnica Strap up é versátil e pode ser empregada em qualquer região da face que necessite de lifting, como nariz, lábios, sobrancelha e têmpora. O número de fios pode variar conforme o planejamento. Materiais • Fios de PDO (Sculpt), até quatro unidades por pertuito; • Lâmina Nokor, uma unidade; • Anestésico (lidocaína 2% sem vasoconstritor); • Seringa descartável ou carpule para anestesia; • Agulha 30G; • Tesoura curva estéril; • Campo, luva, máscara e gaze estéril. Passos para a realização da técnica Strap up para lifting facial 1. Após a assepsia e o isolamento da área, definir a área de ancoragem e a área de tração, bem como o ponto de pertuito. 2. Proceder anestesia local com lidocaína 2% sem vasoconstritor em botão anestésico no ponto do pertuito, outro botão no meio do trajeto e mais um botão no ponto de chegada de cada fio (0,2 mL por ponto). 3. Realizar o pertuito com a lâmina Nokor em direção a área eleita como “ancoragem” (com divulsão 180°), a fim de que ocorra a acomo- dação do nó do fio de PDO após a realização de todo o procedimento. Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up 108 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência 4. Instalar dois fios de PDO (Sculpt) na área de ancoragem, com alça (nó), sem apertar, ou seja, confeccionar uma alça ou laçada. 5. Instalar um ou dois fios de PDO (Sculpt) na área de tração, passando por dentro da alça confeccionada com os fios de ancoragem. 6. Um assistente deve tracionar o fio da área de tração e laçá-lo por dentro da alça confec- cionada pelos fios que foram instalados na área de ancoragem. A partir daí, o assistente deve continuar ativando o fio, enquanto o operador apeta o nó, fazendo a ativação e tração final de todo o conjunto, proporcio- nando um lifting seguro e eficaz, com muito mais estabilidade e firmeza. 7. Ativar os fios com tração para trás e para frente. 8. Cortar o excesso dos fios com tesoura curva, pressionando levemente a tesoura contra a pele para cortar o fio rente aos nós (Figuras 6 a 18). SELEÇÃO DO PACIENTE E LONGEVIDADE DO PROCEDIMENTO A seleção do paciente adequado para proce- dimentos minimamente invasivos com efeito lifting irá determinar o sucesso do tratamento. Em pacientes que desejam alguma mudança perceptível na face, porém recusam a cirurgia aberta, as técnicas de suspensão percutânea com fios de sutura podem ser opções terapêuticas viáveis. Entretanto, o paciente indicado para receber esse tipo de tratamento deve apresentar um grau de envelhecimento leve ou moderado, que não requer mudanças radicais na aparência. Alguns autores sugerem que o lifting não cirúrgico tem resultados mais efetivos quando o paciente tem menos de 50 anos. Ainda assim, o paciente deve ter expectativas modestas e deve compreender que o lifting com AH e fios de PDO não substitui o lifting cirúrgico, tampouco terá a mesma longevidade. Além disso, a pele deve ter espessura suficiente para receber os fios e não apresentar fotoenvelhecimeto severo14. A literatura sugere que as pessoas mais jovens sentem que os efeitos do lifting são sustentados por mais tempo e, portanto, o lifting de fios pode mostrar um efeito ideal em faixas etárias mais jovens que ainda têm algum grau de elasticidade remanescente, enquanto em faixas etárias mais avançadas, o processo de envelhecimento já está substancialmente avançado3. Resultados subótimos, e muitas vezes insatisfatórios, podem ocorrer quando o lifting de fios é realizado em pacientes com mais de 60 anos de idade com elasticidade severa da pele e envelhecimento facial avançado. A chave para o sucesso do lifting com fio é selecionar pacientes com boas indicações para o procedimento. Para pacientes com extensa progressão da degeneração gordurosa devido ao envelhecimento facial, é melhor evitar o lifting do fio e optar por outra opção cirúrgica15. A frequ- ência damanutenção sugerida depende então da severidade do envelhecimento, que geralmente é diretamente proporcional ao aumento da idade. Assim, entre 30 e 40 anos a manutenção da terapia pode ser realizada uma vez ao ano. Entre 40 e 50 anos, duas vezes ao ano. E entre 50 e 60 anos, três vezes por ano. Acima de 60 anos os resultados do tratamento não invasivo são pobres e devem ser contraindicados. Além disso, a escolha do material utilizado também influencia. O AH deve ter uma boa capacidade de projeção e volumização, e deve ser injetado Largura LZ, Natal E Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 109 em lugares específicos. O tipo de fio empregado também influencia no resultado, bem como o número de fios, os vetores de tração, o ponto de inserção, o plano de inserção e a técnica de amarração dos fios. RECOMENDAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS Para manutenção do efeito lifting e cicatri- zação dos tecidos na posição desejada, após a conclusão do procedimento, é recomendada uma fita kinesio por pelo menos sete dias. O paciente é orientado a não ingerir álcool, não realizar atividade física intensa, não se expor ao sol ou calor e dormir em decúbito ventral por sete dias. Em geral, apenas um analgésico é prescrito em caso de dor. Compressas geladas são recomendadas nos dois primeiros dias de pós-operatório. Em caso de hematoma, podem ser usados glóbulos de arnica. [ 6a ] [ 6b ] [ 6c ] [ 6d ] Figuras 6 – A. Vista frontal inicial. B. Vista frontal após os procedimentos de lifting com os fios de PDO com as técnicas Strap up temporal, Strap up nose e Strap up fox eyes. C. Vista perfil ¾ direito anterior ao lifting. D. Vista frontal após o lifting com os fios de PDO com a técnica Strap up. Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up 110 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência [ 7 ] [ 9 ] [ 8 ] Figura 7 – Strap up jowls. Primeiro passo: é feita a assepsia, isolamento e a marcação da área selecionada. Figura 9 – Terceiro passo: é realizado o pertuito com a Nokor em direção a área eleita como “ancoragem” (com divulsão 360°), a fim de que ocorra a acomodação do nó no fio de PDO após a realização de todo o procedimento. Figura 8 – Segundo passo: é feito o botão anestésico da área selecionada para o pertuito. Largura LZ, Natal E Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 111 Figuras 10 – Quarto passo. A. É feita a instalação de dois fios de PDO na área de ancoragem. B. Alça (nó) sem apertar. C. Instalação de um ou dois fios de PDO na área de tração. D. Passagem por dentro da alça confeccionada com os fios de ancoragem. [ 10a ] [ 10b ] [ 10c ] [ 10d ] Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up 112 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Figuras 11 – Quinto passo. A. O assistente traciona o fio de PDO da área de tração já laçado por dentro da alça confeccionada pelos fios de PDO que foram instalados na área de ancoragem. B. O assistente continua ativando o fio da área de tração, enquanto o operador aperta o nó dos fios de ancoragem, fazendo a ativação e a tração de todo o conjunto. Finalizando o procedimento, o operador fará um nó entre um dos fios de ancoragem e o de tração, fazendo a ativação e tração de todo o conjunto. Figura 12 – Strap up temporal. Primeiro passo: é feita a assepsia, o isolamento e a marcação da área selecionada. Figura 13 – Segundo passo: é feito o botão anestésico da área selecionada para o pertuito. [ 11a ] [ 12 ] [ 13 ] [ 11b ] Largura LZ, Natal E Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 113 Figura 14 – Terceiro passo: é realizado o pertuito com a Nokor em direção a área eleita com “ancoragem” (com divulsão 360°), a fim de que ocorra a acomodação do nó no fio de PDO após a realização de todo o procedimento. [ 14 ] Figuras 15 – Quarto passo. A. É feita a instalação de fios de PDO na área de ancoragem. B. Alça (nó) sem apertar. C. Instalação de um ou dois fios de PDO na área de tração. D. Passagem por dentro da alça confeccionada com fios de ancoragem. [ 15a ] [ 15b ] [ 15c ] [ 15d ] Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up 114 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Figuras 16 – Quinto passo. A. O assistente traciona o fio de PDO da área de tração já laçado por dentro da alça confeccionada pelos fios de PDO que foram instalados na área de ancoragem. B. O assistente continua ativando o fio da área de tração, enquanto o operador aperta o nó dos fios de ancoragem, fazendo a ativação e a tração de todo o conjunto. C. Finalizando o procedimento, o operador fará um nó entre um dos fios de ancoragem e o de tração, fazendo a ativação e a tração de todo o conjunto. [ 16a ] [ 16b ] Largura LZ, Natal E Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 115 Figuras 17 – Sexto passo. A. É feito o corte de todos os fios rente ao nó. B. Interiorização total do nó dentro do pertuito. [ 17a ] [ 17b ] Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up 116 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Largura LZ, Natal E Figuras 18 – Vista frontal. A. Note o comprimento do lábio superior aumentado, mesmo depois de ter sido realizado liplift cirúrgico. B. Foto durante a fala antes do procedimento; note a falta de exposição de incisivo superior. C. Pós- operatório imediato do lifting de lábios com fios de PDO com a técnica Strap up lips. D. Foto durante a fala um mês após o procedimento. [ 18a ] [ 18b ] [ 18c ] [ 18d ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 117 Referências 1. Cotofana S, Fratila AA, Schenck TL, Redka-Swoboda W, Zilinsky I, Pavicic T. The anatomy of the aging face: a review. Facial Plast Surg 2016;32(3):253-60. Doi: 10.1055/s-0036-1582234. Epub 2016 Jun 1. PMID: 27248022. 2. Fitzgerald R, Carqueville J, Yang PT. An approach to structural facial rejuvenation with fillers in women. Int J Womens Dermatol 2018;5(1):52-67. Doi: 10.1016/j.ijwd.2018.08.011. PMID: 30809580; PMCID: PMC6374711. 3. Park YJ, Cha JH, Han SE. Maximizing thread usage for facial rejuvenation: a preliminary patient study. Aesthetic Plast Surg 2021;45(2):528-35. Doi: 10.1007/s00266-020-01919-4. Epub 2020 Aug 18. PMID: 32812084. 4. Mendelson B, Wong CH. Changes in the facial skeleton with aging: implications and clinical applications in facial rejuvenation. Aesthetic Plast Surg 2012;36(4):753-60. Doi: 10.1007/s00266-012-9904-3. Epub 2012 May 12. PMID: 22580543; PMCID: PMC3404279. 5. Sykes JM, Riedler KL, Cotofana S, Palhazi P. Superficial and deep facial anatomy and its implications for rhytidectomy. Facial Plast Surg Clin North Am 2020;28(3):243-51. Doi: 10.1016/j.fsc.2020.03.005. Epub 2020 May 6. PMID: 32503712. 6. Rohrich RJ, Pessa JE, Ristow B. The youthful cheek and the deep medial fat compartment. Plast Reconstr Surg 2008;121(6):2107-112. Doi: 10.1097/PRS.0b013e31817123c6. PMID: 18520902. 7. Gierloff M, Stöhring C, Buder T, Wiltfang J. The subcutaneous fat compartments in relation to aesthetically important facial folds and rhytides. J Plast Reconstr Aesthet Surg 2012;65(10):1292-7. Doi: 10.1016/j.bjps.2012.04.047. Epub 2012 May 31. PMID: 22658728. 8. GerthDJ. Structural and volumetric changes in the aging face. Facial Plast Surg 2015;31(1):3-9. Doi: 10.1055/s-0035-1544252. Epub 2015 Mar 12. PMID: 25763890. 9. Casabona G, Frank K, Koban KC, Freytag DL, Schenck TL, Lachman N et al. Lifting vs volumizing-The difference in facial minimally invasive procedures when respecting the line of ligaments. J Cosmet Dermatol 2019 Aug 12. Doi: 10.1111/jocd.13089. Epub ahead of print. PMID: 31402563. 10. Buckingham ED, Glasgold R, Kontis T, Smith SP Jr, Dolev Y, Fitzgerald R et al. 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PMID: 34367848; PMCID: PMC8341254. 15. Myung Y, Jung C. Mini-midface lift using polydioxanone cog threads. Plast Reconstr Surg Glob Open 2020;8(6):e2920. Doi: 10.1097/ GOX.0000000000002920. PMID: 32766067; PMCID: PMC7339253. CONCLUSÃO As técnicas apresentadas neste capítulo, consistem em procedimentos minimamente invasivos, de fácil aplicação, com período de recuperação curto para o paciente e com morbidade mínima. Com certeza, os resultados não são comparáveis aos resultados de uma cirurgia plástica, e esse não é o objetivo. Tanto o profissional quanto o paciente devem estar cientes de que os resultados são limitados e vão requerer procedimentos de manutenção frequentes. Por outro lado, quando o paciente tem sinais leves ou moderados de envelheci- mento e ainda não está com disposição de passar pela cirurgia aberta, sem dúvida as técnicas apresentadas são uma opção terapêutica viável. Nossa experiência inicial foi positiva tanto com o Método Cubo quanto com a técnica Strap up, embora o declínio gradual da elasticidade e do feito lifting tenha sido observado ao longo do tempo. Mais estudos são necessários para comprovar a longevidade dos resultados, bem como a utilização de outros tipos de fios e preen- chedores visando o aumento da durabilidade. Integração entre fios de PDO e ácido hialurônico para otimizar o efeito lifting – Método Cubo e técnica Strap up Victor Rogerio1 Marcelo Germani2 CA PÍT UL O7 1Mestre em Ciências – Unifesp/EPM; Professor da HOF Academy – Speaker Galderma. 2Especialista em Implantodontia – Hospital Geral do Exército (SP); Especialista em Periodontia – APCD-Araçatuba; Especialista em Radiologia – SLMandic; Mestrando em Odontologia – Speaker Galderma; Mestrando em Ciências Odontológicas – Unib. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 119 Procedimentos restauradores para o mimetismo tecidual com o uso de preenchedores de ácido hialurônico baseado no MIMT Concept Procedimentos restauradores para o mimetismo tecidual com o uso de preenchedores de ácido hialurônico baseado no MIMT Concept INTRODUÇÃO A Odontologia vive uma revolução conceitual desde que a Harmonização Orofacial (HOF) veio ampliar o arsenal terapêutico, aumentando o campo de trabalho da boca para o rosto e oferecendo aos pacientes um tratamento mais completo em relação à função e estética. A Harmonização Orofacial realizada atual- mente por cirurgiões-dentistas e regulamentada como especialidade pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), representa uma preciosa ferramenta a ser utilizada como complemento às demais disciplinas odontológicas, permitindo a integração do intra ao extraoral. Procedimentos não cirúrgicos e não invasivos seguem aumentando ano após ano, no mundo todo. Aproximadamente, 90% dos procedi- mentos realizados por cirurgiões plásticos durante o ano de 2020 nos Estados Unidos, não foram cirurgias e sim procedimentos minima- mente invasivos. Acredita-se que esse mercado deva movimentar em torno de 125 bilhões de dólares até 2028. Ainda, uma pesquisa realizada em 2019 pela Sociedade Americana de Cirurgia Plástica, com 3.465 pacientes, mostrou que 70% deles consideram os procedimentos cosméticos com o objetivo de atingir maior autoconfiança e aparência mais jovem ou mais atrativa1. Os preenchimentos com ácido hialurônico e toxina botulínica são os procedimentos mais realizados na atualidade. Segundo o relatório publicado em dezembro de 2021 pela Sociedade Internacional de Cirurgia Estética, os proce- dimentos cosméticos aumentaram 13,9% comparado ao ano anterior, e o Brasil ficou em segundo lugar no mundo2-3. Os preenchedores a base de ácido hialurônico evoluíram ao longo dos anos em relação à longe- vidade, segurança e tolerabilidade. No entanto, os avanços no uso de preenchimentos dérmicos não estão relacionados apenas ao desenvolvi- mento de produtos mais novos, mas também ao desenvolvimento de técnicas de injeção. 120 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Rogerio V, Germani M Inicialmente, o objetivo do tratamento com preenchimentos dérmicos era corrigir linhas e rítides, porém, com uma maior compreensão das alterações multifatoriais que ocorrem com o envelhecimento facial e dental, a abordagem mudou e atualmente se busca reestruturação da face4. Para tal, é fundamental entender as características fisico-químicas e reológicas dos produtos, afim de alcançar um resultado que pareça natural e satisfatório para o paciente, trabalhando da maneira segura e pouco invasiva. Os cirurgiões-dentistas estão preparados para restaurar tecidos danificados desde a graduação, procurando sempre devolver a função e a estética. Quando o dente fica com uma lesão cariosa, o procedimento restaurador é realizado usando um compósito com características diferentes para restaurar a dentina e o esmalte imitando o tecido perdido. As facetas cerâmicas tem grande variedade de pastilhas que podem ter diferentes cores e translucidez para imitar o esmalte, remodelando um novo sorriso ou restaurando a dimensão vertical da oclusão, o osso liofilizado ajuda a restaurar um osso perdido e os implantes ocupam o espaço do dente perdido restaurando a função e devolvendo a estética, mimetizando o tecido que foi danificado. Esse conceito, comum à Odontologia, é aplicável à Harmonização Orofacial, já que a face sofre mudanças ao longo da vida com relação à espessura da pele, camadas de gordura, músculo e ossos de diferentes maneiras5-7. Antes de pensar em que produto utilizar, é importante entender a fisiologia do envelhe- cimento, que ocorre de maneira diferente entre cada indivíduo, camadas, estruturas e idades; além disso, associar ao tipo de face as características individuais para definir planos de tratamentos customizados de acordo com a necessidade de cada paciente. Dada a nova concepção da Odontologia contemporânea além dos procedimentos dentais, a proposta a seguir é a realização da HOF com materiais preenchedores tendo como base o conceito de mimetismo tecidual de modo prático e replicável, com base nas evidências científicas atuais disponíveis. FISIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO A busca para preservar a juventude e a beleza é tão antiga quanto a humanidade, e têm relatosdesde os Argonautas na Grécia Antiga até os dias de hoje5. Manter-se jovem parece facilitar o acolhi- mento da sociedade, abre portas no mercado de trabalho, cria oportunidades de relacionamento, além de fazer sucesso nas mídias sociais na era do selfie7. A literatura mostra que para se obter resultados naturais com o uso de preenchedores de ácido hialurônico na face, há que se entender o processo de envelhecimento de acordo com as camadas. Segundo autores, a face basicamente se organiza em cinco diferentes camadas, que se interligam desde o pescoço até o couro cabeludo; porém, existem áreas com mais camadas, como na região temporal – onde foram descritas nove camadas –, e áreas com menos camadas, como na região infraorbitária com três camadas6. A camada mais externa sofre uma diminuição de espessura, principalmente devido à perda de colágeno, de elastina e de ácido hialurônico, que levam ao envelhecimento, diminuindo a sustentação e ao aparecimento das marcas de expressão estáticas e dinâmicas (rugas)5,8. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 121 O tecido subcutâneo é organizado por compartimentos de gordura limitados pelas fibras septais, esses coxins de gordura parecem se redistribuir ao longo da vida6,9. O sistema músculo aponeurótico super- ficial (SMAS) é composto por músculos e fáscia muscular. Os músculos sofrem a perda de tônus muscular ao longo da vida, e os ligamentos adelgaçamento, mudando inclusive sua convexidade10. A camada aureolar frouxa é um tecido conjuntivo onde se encontram os coxins de gordura profundos, que, assim como a camada subcutânea, é compartimentalizada, porém, diferente da camada superficial, os coxins profundos perdem volume ao longo da vida6,9. Os ossos da face, recobertos pelo periósteo, servem de suporte e estruturação para as camadas sobrepostas de tecidos moles. Acredi- ta-se que o esqueleto da face sofre constantes mudanças durante toda vida que podem afetar a aparência e as expressões faciais11. Atualmente, a reestruturação óssea é vista como fundamental para os procedimentos de rejuvenescimento facial6,12. O envelhecimento da face resulta de mudanças em todas as camadas (Figuras 1), tanto dos tecidos moles quanto do esqueleto facial subja- cente e dentes13. Ainda que se entenda que todas as camadas estão inter-relacionadas, não se sabe exatamente a contribuição de cada uma delas nas diferentes regiões da face e entre diferentes indivíduos6, mas, para que possamos conseguir resultados harmoniosos e com aspectos naturais, todos os tecidos devem ser avaliados. Figuras 1 – A. Imagem do envelhecimento dos tecidos duros da alteração esquelética, aumento do suporte ósseo. B. Imagem esquemática da redistribuição coxins adiposos dos efeitos do funcionamento esquelético. [ 1a ] [ 1b ] Procedimentos restauradores para o mimetismo tecidual com o uso de preenchedores de ácido hialurônico baseado no MIMT Concept 122 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência ANÁLISE FACIAL Padrões estéticos pré-estabelecidos podem não ser ideais para tratar todos os pacientes, mas podem ser um ponto de partida que, respeitando as individualidades físicas e psicológicas de cada um, influenciam a maneira como os profissionais clínicos tomam decisões de planejamento e de tratamento em Harmonização Orofacial14. A estética facial se consagrou como um dos mais importantes objetivos da Odontologia. A busca por uma face harmoniosa norteia, contemporaneamente, de maneira marcante a conduta profissional. Dessa forma, atualmente, todas as áreas da Odontologia têm buscado, cada vez mais, o entendimento desse assunto15. O tipo de face vai nos fornecer diversas informações sobre qual procedimento realizar para melhorarmos estruturalmente e progres- sivamente os contornos faciais. Muitas vezes, tratamentos associando dentes e face podem promover resultados mais duradouros e naturais. Nenhuma regra matemática pode nortear cegamente o tratamento, o senso subjetivo do que é visualmente agradável deve partir do profis- sional. “O julgamento artístico, portanto, deve ser utilizado individualmente, sempre respeitando as características e vontades de nossos pacientes”16. Baseando-se nos conhecimentos de anatomia e fisiologia de envelhecimento, e com o intuito de mimetizar os tecidos, vamos estratificar a face por regiões e camadas. Assim, temos a porção medial da face que é móvel, e a lateral que é fixa; além disso, separamos as camadas profundas como tecido ósseo, membrana periostal e coxins profundos como tecidos de suporte e estrutura, e os coxins superficiais e a pele como tecidos de cobertura. Considerando essa análise individualizada, associada ao entendimento que cada região e camada da face tem um comportamento e envelhecem de maneiras e velocidades diferentes, precisamos então de produtos com características diversas, a fim de mimetizar os tecidos da face com naturalidade. CARACTERÍSTICAS DOS PRODUTOS A busca por soluções estéticas com o intuito de melhorar o contorno, a estrutura e o volume da face tem relatos desde de 1893, com o uso da gordura autóloga, passando por parafina líquida, politetrafluoretileno, polimetilmetacrilato, colágeno bovino e finalmente o ácido hialurônico (AH). Restylane da linha Nasha foi o primeiro preenchedor de AH aprovado em 2003 pelo Food and Drug Administration (FDA). Ainda que o foco dos tratamentos estéticos tradicionais com preenchedores seja minimizar as rugas, tais como nasolabial e linhas de marionete, a reestruturação de volume perdido também parece ter a mesma importância para uma restauração completa com aparência natural da face e tem sido parte do arsenal terapêutico das técnicas antienvelhecimento que buscam restaurar e mimetizar os tecidos que foram alterados pela idade. Os preenchedores de ácido hialurônico são apropriados para essa reestru- turação completa da face, devido ao excelente perfil de segurança17. Rogerio V, Germani M Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 123 Sabendo que a versatilidade é muito impor- tante para que possamos mimetizar cada estrutura que foi alterada durante o envelheci- mento, é necessário que tenhamos preenche- dores de muito firmes a muito flexíveis, com diferentes tamanhos de partículas, homogêneas, e com uma boa concentração de ácido hialurônico, essas características são encontradas em toda linha Restylane17-18. São duas tecnologias, Optimal Balance Technology (OBT) e Non-Animal Stabilised Hyalu- ronic Acid (Nasha), desenvolvidas com proprie- dades físico-químicas e reologia especificamente adaptadas para cada indicação, ainda que a concentração de AH (20 mg/mL) seja igual em todas as apresentações, as tecnologias, o grau de reticulação e a calibração variam, resultando em preenchedores com diferentes níveis de firmeza, capacidade de volumização e projeção17-18. Os géis com a tecnologia OBT são, princi- palmente, volumizadores, que apresentam alta flexibilidade e foram desenvolvidos para contorno e naturalidade nas expressões em áreas dinâmicas da face. Com integração tecidual difusa (Figuras 2)19, são indicados para áreas móveis e para mimetizar coxins adiposos super- ficiais (Figura 3)20. Para áreas dinâmicas que devem ter as expressões naturais preservadas, os mais indicados são o Restylane Refyne e Restylane Kysse, por suas partículas serem menores, de baixa a média reticulação, esses géis são mais flexíveis com capacidade de volumização de baixa a moderada. Para áreas menos dinâmicas, nas quais queremos maiores volumes, definir contornos e projetar tecido precisamos de géis com partículas maiorese mais reticulados, os indicados são Restylane Volyme e Restylane Defyne (Figura 3)20. Na tecnologia Nasha, os géis foram desen- volvidos para projeção e precisão; são ideais para mimetizar tecido ósseo e coxins adiposos profundos, firmes; têm integração focal do produto no tecido; são bem indicados para áreas menos móveis e mais profundas (Figura 2)19,20. Os géis Nasha são fabricados com uma tecnologia de ácido hialurônico estabilizado com partículas homogêneas (Figuras 4)21-22 e ligações naturais que incorporam apenas 1% de cross- -linking, caracterizando um gel com alto grau Figuras 2 – Microscopia para caracterizar a homogeneidade das alterações da linha Nasha. [ 2 ] Procedimentos restauradores para o mimetismo tecidual com o uso de preenchedores de ácido hialurônico baseado no MIMT Concept 124 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Rogerio V, Germani M Figura 3 – Fotos iniciais e queixa principal da paciente. Derretimento da face, olheira (sulco infraorbital), bigode chinês e “buldogue”. [ 3 ] Figuras 4 – Planejamento: fossa piriforme profunda, pré-maxila, eminência malar e arco zigomático usando 27 g, justaósseo com produto Restylane Lyft (centro), uniformização e acabamento de arco zigomático com Restylane Volyme usando cânula 22g (direita), como duas técnicas sobrepostas (esquerda). [ 4 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 125 de pureza23. O tamanho das partículas é o que difere as texturas especificas de cada produto. O Restylane Lyft é o gel que contém partículas maiores dessa linha de produtos, apresenta maior resistência a deformação, mais firmeza e maior capacidade de projeção entre os géis de ácido hialurônico. Já o Restylane tem partículas menores e, portanto, capacidade de projeção um pouco menor, embora sem diferença significativa (Figura 3)20,24. Os skinboosters, vital e vital light, foram desenvolvidos para hidratação da pele, mas como são géis Nasha, embora microparticulados (Figuras 4)21 são capazes de promover uma ótima definição de contorno labial devido ao alto G’ (Figura 3)20,24. Associando as linhas Restylane Nasha e OBT, encontramos géis com diferentes texturas, flexi- bilidade e capacidade de projeção, com indicações especificas de acordo com a necessidade de mimetização de tecido para cada paciente (Figura 3)20-23. TÉCNICAS DE PREENCHIMENTO O conceito de mimetismo tecidual contempla o uso de uma quantidade pequena de produtos de diferentes propriedades físico-químicas e reológicas (Tabela 1)25, de muito firmes a muito flexíveis, que implantados nas camadas corretas otimizam suas performances e levam a uma aparência muito natural de maneira segura. TABELA 1 – CARACTERÍSTICAS DOS PREENCHEDORES DE ÁCIDO HIALURÔNICO RESTYLANE DESCRITAS NO MIMT CONCEPT25 Procedimentos restauradores para o mimetismo tecidual com o uso de preenchedores de ácido hialurônico baseado no MIMT Concept 126 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Rogerio V, Germani M As técnicas de preenchimento foram baseadas nos trabalhos de Paola Rosalba, que descreveu a técnica de ponte26, nas técnicas de implantes supraperiosteias descritas por Pavicic27, e no MIMT Concept publicado em 202125. Os proce- dimentos descritos a seguir25 visam a restaurar os tecidos que sofreram alterações durante o envelhecimento com o intuito de mimetizá-los. TERAPIA APLICADA Paciente do sexo feminino, 59 anos, leuco- derma, compareceu à clínica particular com objetivo de melhora facial completa. Queixa principal: sulco nasolabial muito profundo e ausência de projeção na maxila (Figuras 5). Frente as queixas da paciente, experiência dos autores e literatura, foi proposta uma reestruturação global de face com início no terço médio. Inicialmente, foi utilizado Restylane Lyft no plano justaósseo, por suas características de firmeza e boa capacidade de projeção tecidual; acima dessas aplicações, foi realizada a colocação em subcutâneo do Restylane Volyme, com objetivo de volumizar e promover um bom acaba- mento em arco zigomático (Figuras 6 e 7). Finalizando o processo no terço médio, os autores o preencheram com o objetivo de suavizar a região de sulco nasolabial utilizando um gel da tecnologia OBT, Restylane Defyne, que possui a maior reticulação do portfólio OBT com uma partícula intermediária. A aplicação foi realizada com cânula 22G em subcutâneo. A região, volume, produto, instrumento e plano de aplicação estão descritos na Tabela 2. Cada caso deve ser avaliado individualmente e a escolha do produto junto a expectativa do paciente é fundamental para os bons resultados. Visivelmente, observa-se a suavização do sulco nasolabial e o objetivo que foi atingido atenuando os pontos destacados previamente pelo paciente (Figuras 8). Figura 5 – Aplicação na região de arco zigomático, técnica de leque com cânula. [ 5 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 127 [ 6 ] Figura 6 – Aplicação na região do sulco nasolabial, técnica de leque com cânula. Figura 7 – Lado esquerdo, procedimento realizado e direito não realizado. Observe a diferença de reposicionamento de tecido e melhoria de volume. [ 7 ] Procedimentos restauradores para o mimetismo tecidual com o uso de preenchedores de ácido hialurônico baseado no MIMT Concept 128 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Rogerio V, Germani M Figuras 8 – A. Inicial. B. 30 dias pós-procedimento. Observe reposicionamento de tecido, melhoria de volume, definição de arco zigomático, contorno de mandíbula, amenização da papada, sulco nasolabial e infraorbitário. [ 8a ] [ 8b ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 129 TABELA 2 – REGIÃO DE APLICAÇÃO, VOLUME INJETADO, PRODUTO, INSTRUMENTO E PLANO DE APLICAÇÃO Procedimentos restauradores para o mimetismo tecidual com o uso de preenchedores de ácido hialurônico baseado no MIMT Concept 130 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência CONSIDERAÇÕES FINAIS A Harmonização Orofacial realizada atual- mente por cirurgiões-dentistas e recente- mente regulamentada como especialidade pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), representa uma preciosa ferramenta a ser utilizada como complemento as demais disci- plinas odontológicas, permitindo a integração intra (dentes e bases ósseas) e extraoral (face e estruturas que a compõem). Inicialmente, o objetivo dos tratamentos com preenchimentos dérmicos era corrigir linhas e rítides22, porém, com uma maior compreensão das alterações complexas que ocorrem com o envelhecimento, a abordagem atual mudou, visa-se a restauração de estruturas de suporte e volume2,6. Essa abordagem requer um entendi- mento profundo da anatomia facial, bem como das interações da pele, dos tecidos moles, dos músculos e dos ossos para promover a alocação do material preenchedor em pontos a fim de proporcionar uma aparência mais natural, decor- rente de uma face devidamente restaurada. É sobre isso que se trata a técnica de mimetismo tecidual descrita neste presente capítulo. Além do entendimento do processo de envelhecimento facial, a análise estética e a técnica adequada, para tratarmos global- mente a face de modo eficaz e com conforto ao paciente, faz-se necessário termos à disposição diferentes apresentações de ácido hialurônico. Assim sendo, a versatilidade apresentada pela linha Restylane é muito importante para que possamos mimetizar cada estrutura da face. As tecnologias Nasha e OBT, que compõemessa linha de preenchedores, permitem que tenhamos géis de muito firmes a muito flexíveis, com diferentes tamanhos de partículas, homogêneas, com boa concentração de ácido hialurônico, hidro- fílico, viscoelástico e biocompatível20,22. Segundo autores, G’ que é o modulo elástico ou firmeza do gel é a propriedade mais relevante e pode guiar a escolha do produto para diferentes camadas e necessidades dos pacientes. Produtos com alto G’ devem ser implantados em planos profundos e com menor G’ em planos mais super- ficiais; além disso, ambos podem ser usados simultaneamente em diferentes camadas, sendo os de menor G’ na camada acima ao de maior G’ corroborando ao conceito do uso dos produtos para o mimetismo tecidual. Desse modo, conclui-se que o uso do ácido hialurônico na Harmonização Orofacial, aliado ao conceito de mimetismo tecidual, pode restaurar volume, sustentação, hidratação e elasticidade da pele, mimetizando as estruturas alteradas fisiologicamente pelo processo de envelheci- mento, de forma gradual e segura, respeitando a resposta biológica de cada indivíduo, em diferentes momentos durante o envelhecimento, proporcionando resultados naturais e sofisti- cados ao restaurar as formas e contornos faciais. Rogerio V, Germani M Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 131 Referências 1. Fabi S, Alexiades M, Chatrath V, Colucci L, Sherber N, Heydenrych I et al. Facial aesthetic priorities and concerns: a physician and patient perception global survey. Aesthet Surg J 2022;42(4):NP218-NP29. 2. Cartier H, Hedén P, Delmar H, Bergentz P, Skoglund C, Edwartz C. 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Procedimentos restauradores para o mimetismo tecidual com o uso de preenchedores de ácido hialurônico baseado no MIMT Concept Antonio José Bittencourt da Rosa1 Priscila Paiva Portero2 CA PÍT UL O8 1Mestre em Implantodontia – Faculdade de SLMandic; Especialista em Implantodontia – Instituto Brasileiro de Implantodontia, RJ; Coordenador do curso de Especialização e Imersão em Harmonização Orofacial – Orofacial Group. 2Professora associada II em Dentística Restauradora – Instituto de Saúde de Nova Friburgo-Universidade Federal Fluminense (ISNF/UFF); Mestre em Clínica Odontológica – Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG); Doutora em Dentística Restauradora – Faculdade de Odontologia de Araraquara (FOAr- Unesp); Especialista em Dentística Restauradora – Faculdade de Odontologia de Araçatuba – FOA-Unesp; Especialista em Harmonização Orofacial – Faculdade Faipe. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 133 Full Face Procedimentos Full Face INTRODUÇÃO A palavra beleza é um substantivo feminino usado para descrever características de qualidade, do que é agradável, bonito ou belo, não apenas fisicamente, mas de tudo aquilo que traz sensação de encanto. O conceito de beleza se refere a tudo que se mostra atrativo, sugestivo e nos desperta uma intensa emoção, sendo considerado belo algo que possua harmonia e equilíbrio1. A busca pela beleza, estética, melhora da aparência e a necessidade de aparentar ser mais jovem e atraente tem aumentado significativa- mente nos últimos anos, sendo o tratamento facial um dos procedimentos mais procurados, tanto por mulheres quanto por homens, pois o rosto é o cartão de visitas de uma pessoa e é através dele que aprimeira impressão é formada. A Odontologia contemporânea passa por uma série de mudanças, e uma diversidade de novos conceitos surgem em todo momento, o que requer do profissional atualização constante, conheci- mento e habilitação para realizar as terapêuticas funcionais, estéticas e cosméticas mais alinhadas com as novas tendências e atender às exigências cada vez maiores dos pacientes. Nessa “nova” modalidade da Odontologia, denominada Harmonização Orofacial, o cirurgião- -dentista, além da capacidade de desempenhar a manutenção ou devolução da forma, função e estética dos elementos dentários, o reequilíbrio da função muscular da face, durante a fala, deglutição e sorriso – e que tem por consequência a melhora da estética facial como um todo –, colabora ainda para o bem-estar dos pacientes devolvendo um sorriso em harmonia com uma face equilibrada, tratando os sinais de envelhe- cimento, proporcionando um efeito de rejuvenes- cimento, transformando e garantindo a beleza e a jovialidade da face. Entre 2012 e 2017, procedimentos com injetáveis, que incluem, por exemplo, o ácido hialurônico e a toxina botulínica, aumentaram 40,6% nos Estados Unidos. No Brasil, o cresci- mento foi ainda maior: 80%, isso só entre 2014 e 2016. O último levantamento global de proce- dimentos estéticos da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) aponta que foram realizadas 254 mil aplicações de ácido hialurônico no Brasil apenas em 20172. 134 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP Surge ainda, com o advento da Harmonização Orofacial, o termo Full Face, que tem como objetivo um rejuvenescimento cutâneo integral da face, por meio da aplicação de procedimentos estéticos, visando conferir uma diminuição de rugas, flacidez, sulcos e manchas com os seguintes tratamentos: toxina botulínica, mesobotox, skinbooster, peelings, fios de dermossustentação, laser, Leds, bioestimuladores, prescrição de nutracêuticos e preenchimentos faciais que podem ser realizados com materiais permanentes ou semipermanentes, sendo o ácido hialurônico o preenchedor dérmico mais usado para preenchimento temporário de rugas, linhas e sulcos de expressão, por ser eficaz clinicamente e seguro, sendo capaz de realizar volumização e reestruturação da face3. Com as técnicas Full Face, alguns pontos faciais se destacaram, como: o mento, o malar, o contorno mandibular, os lábios, o nariz, as olheiras e as sobrancelhas, pois todos eles são de extrema importância na arquitetura da face3. Entre as técnicas citadas acima para a reali- zação dos tratamentos Full Face, há importante destaque para o MD Codes, que são códigos de tratamento para facilitar as estratégias práticas de aplicação de preenchimento com ácido hialurônico, onde pontos estruturais irão criar ou recriar a arquitetura facial mais natural e desejável para os pacientes, como exemplificado nas Figuras de 1 a 3 a seguir4. [ 1a ] [ 1b ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 135 Full Face As técnicas citadas podem ser indicadas tanto para mulheres quanto para homens que desejem corrigir imperfeiçoes, ressaltar seus pontos fortes e suavizar as marcas do envelhecimento, valori- zando suas características individuais de maneira harmônica e natural. Para a realização dos tratamentos Full Face é imprescindível realizar anamnese, exame físico e exame clínico minuciosos, observando e anali- sando os tipos, as proporções e os ângulos faciais (Quadro 1), analisar as queixas do paciente, como também sua simetria ou assimetria, além de documentação fotográfica e assinatura por parte do paciente de um termo de consentimento livre e esclarecido, para que se obtenha um correto diagnóstico e se elabore o plano de tratamento. Figuras de 1 a 3 – Linguagem do MD Codes. [ 2 ] [ 3 ] 136 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP QUADRO 1 – PROPORÇÕES E ÂNGULOS FACIAIS Paciente Medidas a serem analisadas Padrão masculino Padrão feminino Pré Pós-imediato Pós-30 dias Tipo facial (oval/quadrado/triangular) Dolico/braqui/mesofacial Simetria Perfil (convexo/reto/côncavo) Proporção terços superior/médio/inferior Linha OGEE sim/não sim/não Design da sobrancelha correto/incorreto correto/incorreto Ângulo nasofrontal 130 +/- 7 graus 134 +/- 7 graus Distância interpupilar = nasio – labio superior igual igual Distância intercantal = largura nasal Igual (+/- 2 mm) Igual (+/- 2 mm) Distância comissura = limbo medial igual igual Altura da orelha 65 +/- 10 mm 65 +/- 10mm Largura da orelha 30-45 mm 30-45 mm Proporção largura da orelha-altura da orelha 60% 60% Distância hélice da orelha-área mastoide 15-20 mm 15-20 mm Distância hélice da orelha-parte escamosa do temporal 10-15 mm 10-15 mm Ângulo nasolabial 90-105 graus 105-120 graus Ângulo nasolabial – componente superior 10-15 graus 15-20 graus Ângulo nasolabial – componente inferior 100 +/- 12 graus 105 +/- 10 graus Ângulo nasofacial (G-POG/N-PN) 30-40 graus 30-40 graus Projeção nasal(Método de Good) 55-60% 55-60% Índice nasal(platirrino/mesorrino/leptorrino) 55-69, 9/70-84, 9/85-99,9 55-69, 9/70-84, 9/85-99,9 Ângulo columelar-lobular(SN-C-PN) 35-40 graus 35-40 graus Largura bitemporal 111-121 mm 108-116 mm Largura bizigomática 134-144 mm 125-135 mm Largura bigonial 99-113 mm 90-100 mm Proporção bizigomática-vértex/mento 60% 60% Proporção bizigomática-tríquio/mento 70-75% 70-75% Proporção bitemporal-bizigomática 80-85% 80-85% Proporção bigoníaca-bizigomática 70-75% 70-75% Altura lábio superior (subnasal-estomio superior = SN-ETS) 22 +/- 2 mm 20 +/- 2 mm Altura lábio inferior (estomio-sublabial = ETS-SL) 20 +/- 2 mm 18 +/- 5 mm Proporção áurea lábio superior/inferior 1,618 1,618 Altura lábio inferior/mento (estômio inferior-mento = ETI-ME) 47 +/- 3 mm 44 +/- 3 mm Altura do vermelhão do lábio superior 8 +/- 2 mm 8 +/- 2 mm Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 137 Full Face TERAPIA APLICADA Os casos clínicos apresentados a seguir foram realizados com os géis de ácido hialurônico: filler, volume e volume plus da marca Saypha (Cromapharma) e com a toxina botulínica Botulift (Bergamo) no terço superior da face para tratamento das rugas dinâmicas e da hipercon- tratura do músculo orbicular dos olhos. O plane- jamento e execução foram baseados nos códigos e equações do MD Codes4 (Figuras 4 a 7, 12 a 18, 21 a 25, 28 a 33, 40 a 43). Paciente Medidas a serem analisadas Padrão masculino Padrão feminino Pré Pós-imediato Pós-30 dias Altura do vermelhão do lábio inferior 10 +/- 2 mm 10 +/- 2 mm Proporção terço inferior (lábio inf./sulco labiomentual/mento) 1/3-2/3 1/3-2/3 Distância pilar do filtro a linha labio sup.-subnasal (= LS-SN) 1-3 mm 1-3 mm Linha e ricketts (distância do lábio superior/lábio inferior à linha) 4-6 mm/2-4 mm 4-6 mm/2-4 mm Distância POG/SN (linha PVV) 0 +/- 2 mm 0 +/- 2 mm Ângulo labiomentual 115-145 graus 120-130 graus Distância sulco labiomentual à linha lábio inferior-pogônio 4 +/- 2 mm 4 +/- 2 mm Ângulo goníaco 100 - 120 graus 120 -140 graus Ângulo goníaco (componente superior) 50 +/- 2 graus 50 +/- 2 graus Ângulo cervical (plano submentual-plano facial inferior (C-ME/SN-POG) 100 +/- 7 graus 100 +/- 7 graus Razão profundidade-altura vertical inferior(SN-ME/C-POG) 1,2 1,2 Regra dos quintos (Continuação) QUADRO 1 – PROPORÇÕES E ÂNGULOS FACIAIS Figura 4 – Três atributos a serem elegidos pelo paciente durante a anamnese4. [ 4 ] 138 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometidacom a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP [ 5 ] [ 6 ] Figuras 5 e 6 – Equações MD Codes para sinais faciais comuns: parecer menos flácido. Sinais observados no paciente. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 139 Full Face Sinal 1: flacidez – malar Unidade anatômica: região malar Equação: Ck1+Ck2+Ck3 Sinal 2: SNL (sulco nasolabial) profundo Unidade anatômica: sulcos nasolabiais Equação: NL1+NL2+NL3 Sinal 3: linhas de marionete Unidade anatômica: linha de marionete Equação: M1+M2 Sinal 4: jowls Unidade anatômica: mento e mandíbula Equação: C5+ Jw1+Jw2+Jw3+Jw4 Fórmula para o paciente, aparência menos fácida (look less saggy) (Figuras 7 a 11): Ck1+Ck2+Ck3 = 3 mL NL1+NL2+NL3 = 2 mL M1 + M2 = 1 mL Jw1+Jw2+Jw3+Jw4 = 5 mL C5 = mL Sk = microagulhamento, I-PRF, fios de PDO liso. Total = 55U + 12mL. Figura 7 – Fórmula para o paciente. [ 7 ] Full Face 140 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP Figura 10 – Fotografia inicial de perfil. Figura 11 – Fotografia final de perfil. [ 10 ] [ 11 ] Figura 8 – Fotografia final em 45°. Figura 9 – Fotografia inicial em 45°. [ 9 ][ 8 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 141 Sinais observados no paciente, parecer menos triste (Figuras 12 a 17): [ 12 ] [ 13 ] Full FaceFull Face 142 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP [ 14 ] [ 15 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 143 [ 16 ] [ 17 ] Figuras 12 a 17 – Equações MD Codes para sinais faciais comuns: parecer menos triste. Sinais observados no paciente. Full Face 144 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP ÁREA PERIORBITAL Sinal 1: sobrancelhas baixas Unidade anatômica: supercílios e têmpora Equação: E1+E2+E3, T1+T2 Sinal 2: queda do canto do olho Unidade anatômica: região malar e tear trough Equação: Ck1+Ck2+Ck3, Tt1+Tt2+Tt3 Sinal 3: linha ao redor dos olhos Unidade anatômica: linhas glabelares e linhas orbiculares Equação: toxina botulínica Sinal 4: má qualidade de pele Unidade Anatômica: pele Equação: Sk ÁREA PERIORAL Sinal 1: flacidez malar Unidade anatômica: região malar Equação: Ck1+Ck2+Ck3+Ck4 Sinal 2: SNL profundo Unidade anatômica: sulco labial Equação:NL1+NL2+NL3 Sinal 3: falta de estrutura labial Unidade anatômica: lábios Equação: Lp1+Lp2+Lp3+Lp4+Lp5+Lp6+Lp7+Lp8 Sinal 4: comissura oral Unidade anatômica: lábios Equação: Lp6 Sinal 5: linha de marionete profunda Unidade anatômica: mento e linha de marionete profunda. Equação: C1+C2+C6, M1+M2+M3 Sinal 6: má qualidade de pele Unidade anatômica: pele Equação: Sk Sinais observados na paciente, aparência menos triste (Figuras 18 a 24): [ 18 ] Figura 18 – Fórmula para a paciente: aparência menos triste (look less sad). Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 145 Figura 19 – Fotografia inicial. Figura 20 – Fotografia imediatamente após os procedimentos. [ 19 ] [ 20 ] [ 21 ] Sinais observados na paciente, parecer mais atraente: Full Face 146 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP [ 22 ] [ 23 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 147 Sinal 4: toxina botulínica Unidade anatômica: testa, glabela e orbicular dos olhos. Equação: botox Sinal 10: labio superior fino Unidade anatômica: lábios Equação: Lp1+Lp2+Lp3+Lp4+Lp5 Sinal 12: afinar o mento Unidade anatômica: mento Equação: C2 [ 24 ] Figuras 21 a 24 – Equações MD Codes para sinais faciais comuns: parecer mais atraente. Sinais observados na paciente, aparência mais atraente (Figuras 25 a 27): Full Face 148 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP [ 26 ] [ 25 ] [ 27 ] Figura 25 – Fórmula para a paciente: aparência mais atraente (look more atractive). Figura 26 – Fotografia inicial. Figura 27 – Fotografia final. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 149 Equações MD Codes para sinais faciais comuns, parecer mais masculino (Figuras 28 a 32): [ 29 ] [ 28 ] Full Face 150 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP [ 30 ] [ 31 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 151 Sinais observados no paciente: Sinal 2: para criar um mento quadrado Unidade anatômica: mento Equação: C1+C2+C5 Sinal 3: para criar um maxilar forte Unidade anatômica: mandíbula Equação: Jw1+Jw2+Jw3+Jw4+Jw5 Sinal 4: para criar região malar forte Unidade anatômica: região malar Equação: CK1+CK2 (já havia sido preenchido) Figuras 28 a 32 – Equações MD Code para sinais faciais comuns: parecer mais masculino. [ 32 ] Full Face 152 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP Fórmula para o paciente, aparência mais masculina (look more masculine) – Figuras 33 a 39: Figura 33 – Fórmula para o paciente: aparência mais masculina (look more masculine). Figura 34 – Fotografia frontal inicial. Figura 35 – Fotografia de perfil inicial. [ 33 ] [ 35 ][ 34 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 153 Figura 36 – Fotografia frontal final. Figura 37 – Fotografia final em 45°. Figura 38 – Fotografia frontal inicial. Figura 39 – Fotografia frontal final. [ 37 ][ 36 ] [ 39 ][ 38 ] Full Face 154 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP Equações MD Codes para sinais faciais comuns, parecer mais jovem (Figuras 40 a 42): [ 40 ] [ 41 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 155 Sinais observados na paciente: Sinal 4: linha ao redor dos olhos Unidade anatômica: linhas glabelares e oculares. Equação: botox Sinal 5: bolsas dos olhos Unidade anatômica: região malar e tear through. Equação: Ck1+Ck2+Ck3, Tt1+Tt2+Tt3 Sinal 6: facidez malar Unidade anatômica: região malar Equação: Ck1+Ck2+Ck3+Ck4 Sinal 7: sulcos nasolabiais profundos Unidade anatômica: sulco nasolabial Equação: NL1+NL2+NL3 Sinal 8: região malar oca e deflacionada Unidade anatômica: região malar Equação: Ck1+Ck2+Ck3+Ck4+Ck5 Sinal 9: linhas de marionete Unidade anatômica: linhas de marionete Equação: M1+M2 Sinal 10: lábios deflacionados e enrugados Unidade anatômica: lábios Equação: Lp1+Lp2+Lp3+Lp4+Lp5+Lp6 Sinal 11: jowline flácido Unidade anatômica: jowline Equação: Jw1+Jw2+Jw3+Jw4+Jw5 Sinal 12: envelhecimento do mento Unidade anatômica: mento Equação: C1+C2+C6 Sinal 13: má qualidade de pele Unidade anatômica: pele Equação: Sk Figuras 40 a 42 – Equações MD Codes para sinais faciais comuns: parecer mais jovem. Sinais observados na paciente. [ 42 ] Full Face 156 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP Fórmula para a paciente, aparência mais jovem (look younger) – Figuras 43 a 48: [ 43 ] [ 44 ] [ 45 ] Figura 43 – Fórmula para a paciente: aparência mais jovem (look younger). Figura 44 – Fotografia frontal inicial. Figura 45 – Fotografiafrontal inicial sorrindo. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 157 Figura 48 – Fotografia final após preenchimentos faciais e prótese implantossuportada instalada. Figura 46 – Fotografia inicial em 45°. Figura 47 – Fotografia em 45° sorrindo. Toxina botulínica (terço superior): 50U Ck1+Ck2+Ck3+Ck4 = 2mL Lp1+Lp2+Lp3+Lp4+Lp5+Lp6 = 1mL Sk Reabilitação com prótese implantossuportada superior e inferior Total: 50U + 3mL COMPLICAÇÕES DO PREENCHIMENTO COM ÁCIDO HIALURÔNICO Entre as complicações que podem ocorrer após o preenchimento facial com ácido hialurônico, estão: necrose, nódulo, alergia, edema, hematoma, ativação do herpes, alterações visuais, oftalmoplegia e cegueira. Necrose A necrose pode ocorrer tanto por injeção do ácido hialurônico nas artérias e vasos sanguíneos quanto por compressão local. Os sinais e sintomas da necrose são: dor imediata após aplicação (após o efeito da anestesia); pele pálida (devido à isquemia) após algumas horas e, depois, apresenta-se azulada, evoluindo em dois ou três dias para ulceração e necrose local. O tratamento deve ser a injeção de hialu- ronidase liofilizada o mais breve possível, nas primeiras 24 horas do procedimento, com redução dos danos causados pela necrose e aplicação de compressas quentes no local, aumentando a [ 46 ] [ 48 ] [ 47 ] Full Face 158 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência da Rosa AJB, Portero PP circulação local, do laser vermelho (100 mW, 1 a 2 J por ponto, realizar vários pontos na região, e no mínimo dez sessões, com intervalos de 24 horas). O protocolo sugerido de primeiros cuidados a ser seguido para preenchedores é: aplicação de hialuronidase (Hyalozima 2.000 UTR) pó liofi- lizado, diluída em 5 mL com a solução diluente, que resulta em doses de hialuronidase de 400 UTR/ml5; se as etapas anteriores não aumen- tarem o fluxo sanguíneo, indica-se oxigenote- rapia hiperbárica e a laserterapia6. Nódulos O nódulo pode ocorrer pela técnica de aplicação incorreta (superficial) e manifesta-se como pápulas esbranquiçadas ou normocrômicas, ou nódulos; as pápulas podem adquirir coloração levemente azulada, provocada pelo efeito Tyndall. O tratamento pode ser feito com massagem local, remoção cirúrgica do material e se o nódulo for de origem inflamatória pode ser usada a clari- tromicina 500 mg de 12/12 horas e/ou tetraciclina durante sete a dez dias. Se não houver melhora, biópsia por punchs, cultura microbiológica e antibióticos de uso prolongado devem ser conside- rados, pode ser utilizada também a hialuronidase7. Alergia Para os casos de alergia ao ácido hialurônico, receita-se: prometazina de 25 mg de 6/6h durante três a cinco dias e dexametasona de 4 mg de 12/12 durante cinco dias6. Edema Para episódios de edema após preenchimento com ácido hialurônico receita-se dexametasona de 4 mg de 12/12h durante cinco dias6, aplicação de gelo, elevação da cabeça e anti-histamínicos7. Hematoma Em casos de hematomas após aplicação do ácido hialurônico, indica-se a aplicação de compressas de gelo no local e de pomadas que acelerem a reabsorção do coágulo formado como: Thrombocid, Thrombofob, arnica ou Hirudóid 500, que devem ser utilizadas de três a cinco vezes por dia e a laserterapia: sendo indicada a fototerapia infravermelha (podendo ser realizadas de três a quatro sessões de 100 mW, aplicando 2 J por ponto com intervalos de 48h)6. Herpes O risco de ativação do herpes simples após injeção dérmica de preenchedores é estimado como sendo inferior a 1,45%, sendo atribuído ao dano direto causado pela agulha nos axônios, com a subsequente manipulação do tecido e resposta inflamatória. Como não há diretrizes definidas, a profilaxia antiviral sistêmica pode ser realizada em pacientes com história pessoal de herpes facial recorrente (mais que três episódios anuais). Podem ser empregados aciclovir de 400 mg de 8/8h durante dez dias ou valaciclovir de 500 mg de 12/12 horas durante sete dias, começando dois dias antes do procedimento7. Complicações oculares Se ocorrerem sinais e sintomas de alterações visuais, oftalmoplegia, cegueira, dor ocular (em geral, imediatamente), além das medidas acima mencionadas, encaminhar para um oftalmolo- gista e tomar as seguintes medidas: iniciar alta dose de hialuronidase na área do tratamento, injetando cerca de 3 cc de hialuronidase retro- bulbar lentamente na borda retrorbital inferior e lateral através do septo orbital com agulha de 25G com 3,75 mm de comprimento polegadas Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 159 evitando o globo ocular e realizar massagem ocular; investigar sintomas neurológicos, avaliar sinais e sintomas de acidente vascular cerebral (AVC), após serem realizadas as medidas citadas acima, deve-se encaminhar o paciente para a sala de emergência, pois a retina pode tolerar 97 minutos de isquemia até o dano se tornar permanente8 (Quadro 2). CONSIDERAÇÕES FINAIS Para a realização da Harmonização Orofacial, nova especialidade da Odontologia, é papel do cirurgião-dentista estar apto a diagnosticar e a planejar, bem como ter conhecimento das técnicas de análise facial (simetria, perfiloplastia, ângulos e proporções faciais, entre outros) da dinâmica muscular, características da pele e das regiões anatômicas a serem trabalhadas, para que possa oferecer ao paciente bem-estar, beleza, harmonia e elevar sua autoestima, com eficácia, conforto, segurança e previsibilidade. A recuperação após os procedimentos de Harmonização Orofacial com ácido hialurônico, por serem pouco invasivos, permite que o paciente tenha uma rotina relativamente normal após os procedimentos; e seus resultados podem ser observados 30 dias após sua realização, período em que se avalia a necessidade ou não de refinamento. A duração dos procedimentos de preenchi- mento orofacial é variável, podendo ser de seis a 24 meses. QUADRO 2 – CONTRAINDICAÇÕES DOS PREENCHIMENTOS OROFACIAIS6 Relativa Absoluta Terapia anticoagulante Gestantes e lactantes. Infecção local (acne, dermatites) Expectativas irreais. Herpes Pacientes depressivos ou imunossuprimidos. Sinusite Hipersensibilidade aos componentes do produto. Infecções dentárias (tratamento endodôntico) Doenças autoimunes (não controladas) Má higiene bucal (preenchimento de papilas) Histórico de cicatrizes hipertróficas ou queloides. Doenças sistêmicas descompensadas Presença de preenchedores permanentes. Referências 1. Beleza significado de beleza. Meus dicionários, 2019. Disponível em: <www. meusdicionários.com.br>. Acesso em: 02 set 2019. 2. Monteiro L. “A nova face da plástica – a tendência é moldar o rosto com preenchedores”. SuperInteressante. São Paulo, 8 ago 2019. Disponível em: <www.super.abril.com.br/especiais/a-nova-face-da-plastica/>Acesso em: 02 set 2019. 3. Full Face na Harmonização Orofacial – técnicas e tratamentos. Contox, 2019. Disponível em: <https://contox.com.br>. Acesso em: 02 set 2019. 4. Maio M. Desvendando os códigos para o Rejuvenescimento Facial: uma abordagem passo a passo para o uso de injetáveis. Allergan Medical Institute, 2015. 5. Neri SRNG, Addor FAZ, Parada MB, Schalka S. Uso de hialuronidase em complicações causadas por ácido hialurônico para volumização da face: relato de caso. Surg Cosmetic Dermatol 2013;5(4):364-6. 6. Pretel H, Cação ID. Toxina Botulínica/Preenchedores Orofaciais/Fototerapia. 1. ed. São José dos Pinhais: Plena, 2016. 7. Parada MB, Cazerta C, Afonso JPJM, Nascimento DIS. Manejo de complicações de preenchedores dérmicos. Surg Cosmetic Dermatol 2016;8(4):342-51. 8. Borba A, Matayosh S. Técnicas de rejuvenescimento facial: toxina botulínica e MD CodesTM. São Paulo: Buss Editora, 2018.Full Face Andrea Tedesco1 Marcus Vinicius Sodré2 Rachel Martinelli Moura3 CA PÍT UL O9 1Professora associada – Universidade Federal do Rio de Janeiro; Coordena- dora pedagógica – Instituto Andrea Tedesco; Mestra e doutora em Clínica Odontológica. 2Mestre e especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais; Especialista em Implantodontia Oral e Harmonização Orofacial; Professor da disciplina de Cirurgia – Faculdade de Odontologia de Valença (UniFAA); Professor – Andrea Tedesco Instituto; Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacias. 3Especialista em Implantodontia e em Harmonização Orofacial; Profes- sora de Clínica da Residência Cirúrgica – Instituto Andrea Tedesco; Pro- fessora – A3cursos. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 161 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 1 INTRODUÇÃO Procedimentos estéticos faciais minima- mente invasivos estão crescendo rapidamente em todo o mundo. Entre os mais populares, encontram-se os procedimentos injetáveis que oferecem restabelecimento de volume e melhora estética do contorno facial, além de serem capazes de proporcionar rejuvenescimento da face. As indicações de utilização dos produtos injetáveis têm aumentado, e, com isso, o número de procedimentos e de novas propostas de trata- mento. Produtos estão sendo lançados rotineira- mente, novas técnicas sendo utilizadas e maiores quantidades de seringas de preenchedores têm chamado a atenção. Em função disso, torna-se essencial a propagação do conhecimento a respeito dos possíveis eventos adversos conse- quentes ao seu uso. Quanto ao perfil de segurança, toda atenção nos procedimentos injetáveis em Harmoni- zação Orofacial deve voltar-se a permitir a livre passagem de sangue através da vascularização local. NECROSE TECIDUAL Na redução do fluxo sanguíneo, ocorre compro- metimento do fornecimento de oxigênio e outros substratos podendo levar a uma lesão irreversível e consequentemente à necrose. Considerado um processo patológico, diferentemente da apoptose, a necrose caracteriza-se morfologicamente pela morte das células em função da ruptura da membrana plasmática e extravasamento do conteúdo para o meio extracelular. A função mitocondrial se altera à medida que a produção de ATP diminui drasticamente, interferindo na função da bomba Na+/K+, aumentando o Na+ citosólico e levando à tumefação celular. A ruptura da membrana plasmática ocorre em função do aumento no citoplasma das espécies reativas de oxigênio (ERO) e do Ca2+, provocando ativação de fosfolipases e de proteases. O extravasamento do conteúdo celular sinaliza a migração de macró- fagos ativando uma resposta inflamatória do sistema imune1. Frente ao processo infla- matório, as células são afetadas e lesadas ao mesmo tempo, levando a alterações que podem ser irreversíveis no tecido e/ou órgão afetado2. Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 1 162 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Tedesco A, Sodré MV, Moura RM OBLITERAÇÃO VASCULAR Procedimentos injetáveis de materiais preen- chedores na Harmonização Orofacial, podem ocasionar obliteração da vascularização local de duas formas: embolia ou oclusão por compressão. Fatores que influenciarão nesse processo são: reticulação do produto utilizado e seu volume; técnica; pressão e velocidade de injeção; e anatomia vascular da camada de aplicação. Produto utilizado e seu volume Os materiais injetáveis utilizados atualmente para correção de rugas finas, recuperação de volume, melhora da flacidez e tratamento do envelhecimento facial podem ser classificados, de acordo com sua duração no tecido, em três categorias. Temporários: são aqueles facilmente degradados e absorvidos pelo organismo: Ácido hialurônico – apresenta previsão de duração entre seis e 18 meses e é metabolizado enzimaticamente através da hialuronidase produzida pelo organismo. É o mais utilizado no mundo pela sua segurança, reversibilidade e compatibilidade com os tecidos humanos. Plasma gel – Utilizado como biomaterial preen- chedor e bioestimulador dérmico de regiões com perdas volumétricas leves a moderadas. Gordura endógena – A lipoenxertia estruturada ou lipoestruturação, ou enxertia de gordura, baseia-se na obtenção da gordura sob baixa pressão negativa, na separação do tecido gorduroso viável de outros elementos por meio de centrifugação com baixa aceleração e na reinjeção do tecido em pequenos glóbulos. Semipermanentes: enquadram-se nessa classi- ficação aqueles produtos que podem apresentar dupla função, como volumizar e estimular colágeno de forma mais expressiva. Permanecem nos tecidos por um período maior, até 24 meses, e suas partículas/esferas podem ser fagocitadas ou degradadas por hidrólise não enzimática com metabolização dos seus subprodutos: Ácido poli-L-láctico (PLLA) – Muito utilizado a partir de 2004 para tratamento da lipodistrofia associada ao uso da medicação antirretroviral nos pacientes HIV+, tem ampla utilização voltada para reestruturação e flacidez tecidual. Hidroxiapatita de cálcio (CaHa) – Utilizada na Medicina há mais de 20 anos, considerada atual- mente um preenchedor facial com características de estímulo ao colágeno. Policaprolactona (PCL) – Considerado como uma nova classe de preenchedores dérmicos, o PCL é um polímero biodegradável, biocompatível e semicristalino com lenta degradação. Permanentes: são polímeros sintéticos não degradáveis suspensos em veículo não absorvível ou reabsorvível: Polimetilmetacrilato (PMMA) – Microesferas suspensas em colágeno bovino parcialmente desnaturado. A formação de nódulos e a resposta inflamatória frente a esse material são cíclicas, e podem desaparecer espontaneamente ou com a utilização de corticoides sistêmicos ou intralesionais. Quando insistentes, devem ser removidos cirurgicamente, caso seja possível. ÁCIDO HIALURÔNICO O ácido hialurônico é um preenchedor biológico de tecido, um material absorvível e rever- sível. Por ser bastante seguro, é amplamente utilizado nos tratamentos estéticos. Estudos recentes comprovam maior segurança de alguns Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 163 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 1 preenchedores em relação à eventos adversos tardios e grau de crosslinking alto dificultando ação da hialuronidase3. Em estudo recente in vitro, avaliou-se a degra- dação de preenchedores de diferentes marcas e características reológicas por duas hialuronidases de origens diferentes, uma bovina e outra ovina3. Avaliando o resultado, conseguimos entender que dependendo das propriedades físico- -químicas do ácido hialurônico, teremos que utilizar quantidades diferentes de hialuronidase para degradá-lo devido principalmente à maior ou menor quantidade de crosslinking entre suas moléculas. Chegamos à conclusão de que preenchedores com menos agente de reticulação (menor quantidade de BDDE) são mais seguros, pois são degradados com maior facilidade. TÉCNICA, PRESSÃO E VELOCIDADE DE INJEÇÃO A naturalidade dos resultados de um preen- chimento facial exige, entre diversos fatores, técnica precisa, entendimento dos parâmetros estéticos faciais e das alterações teciduais que ocorrem no envelhecimento, além, sem dúvida, de um detalhado conhecimento da anatomia facial, evitando-se complicações temidas e que podem gerar consequências devastadoras decor- rentes da injeção intravascular com embolização do produto ou compressão local de rede vascular, resultando como consequência uma necrose tecidual4. Agulhas e cânulassão estruturalmente diferentes. As agulhas são pontiagudas e rígidas. As cânulas são maleáveis e flexíveis. A cânula é teoricamente sem corte e, portanto, apresenta menor probabilidade de penetrar vasos sanguíneos, mas pode sofrer deflexão e atingir áreas indesejadas. A utilização de cânulas é provavelmente mais segura (Figura 1)5-6. A injeção através de agulha é considerada mais precisa, por ser um dispositivo afiado, curto e rígido. Porém, a probabilidade de dano a um vaso sanguíneo é relativamente alta comparado com cânula6. Após confirmar a profundidade segura da introdução da agulha, pode-se verificar se haverá injeção intravascular, sempre, através de aspiração, antes de injetar o material preenchedor. Figura 1 – Diferença entre agulha e cânula ao atingir um vaso sanguíneo. A ponta cega da cânula não traumatiza o vaso, quando atinge a parede do vaso, é desviada. [ 1 ] 164 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Tedesco A, Sodré MV, Moura RM As cânulas possuem uma ponta cega e uma abertura lateral localizada próxima à ponta. No entanto, a técnica com cânulas é mais difícil de manobrar para planos mais profundos, como o supraperiostal, sendo considerada menos precisa do que aquela que usa agulha7. Nem sempre é possível verificar uma injeção intravascular através de testes de aspiração com cânulas. Ela pode estar realmente num vaso e resultados negativos podem ser observados nos testes de aspiração. Nesses casos, o uso de cânulas de maior diâmetro, como as de 22 Gauss, possibi- litam menor risco de lesão vascular 7. Recomenda-se realizar teste de aspiração, principalmente em áreas onde existem vasos calibrosos. Se vier sangue, o resultado é positivo; no entanto, teste de aspiração positivo não significa necessariamente que a ponta da agulha está no vaso. Resultados falso positivos podem ocorrer se o sangue for espalhado nos tecidos após lesão parcial dos vasos durante o procedi- mento. É aconselhável reintroduzir a agulha em outro local se a aspiração for positiva, indepen- dentemente dos falsos positivos6-7. Se não vier sangue, o resultado obtido pode ser considerado falso negativo e, nesse caso, deve-se ter atenção, pois não há garantia de segurança de que não ocorrerá injeção intravas- cular. Além disso, a agulha pode estar localizada em um vaso sanguíneo e o refluxo de sangue pode não ocorrer por baixa pressão. Outro ponto importante é que, se já houver preenchedor no lúmen da agulha, a aspiração de sangue pode não ocorrer devido à viscosidade do material. Assim, quanto menor o diâmetro da agulha e maior a viscosidade do produto, maior a probabilidade de um teste falso negativo de aspiração. Outro fator relacionado a um teste falso negativo é que, mesmo que a agulha esteja localizada no vaso, sua parede pode aderir (ocluir) à ponta da agulha devido à pressão negativa de sucção e, portanto, o sangue pode não ser aspirado6-7. Dessa forma, recomenda-se o uso de cânulas como alternativa mais segura que agulhas para injeção de materiais preenchedores devido ao menor risco de complicações vasculares. Lembrando que, mesmo com a utilização de cânulas, o excesso de material e/ou a injeção rápida deste, em conjunto com uma densidade maior do produto, podem levar à uma compressão vascular intensa, com risco de posterior necrose local. Recomenda-se interromper a aplicação imediatamente se houver queixa de dor súbita ou alteração de coloração local5-6. Quando realizamos preenchimentos em camada profunda com agulha ou cânula, observamos através da trajetória que foi feita com a agulha em uma direção perpendicular à pele, e com cânula que foi introduzida para as camadas profundas com um oblíquo ângulo. A substância injetada seguirá o caminho de menor resistência e, portanto, espera-se fluir de volta através do trajeto feito pela agulha ou cânula. A agulha abrange várias camadas anatômicas a uma distância menor do que a distância da cânula e, portanto, espera-se que, com uma abordagem perpendicular, a substância injetada seja depositada em camadas mais anatômicas do que com uma cânula, havendo maiores riscos de compressão vascular. ANATOMIA VASCULAR DA CAMADA DE APLICAÇÃO A classificação por zonas de risco da face, utilizada costumeiramente para o estudo da Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 165 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 1 Harmonização Orofacial, serve de referência para minimizar complicações, evidenciando possíveis riscos ligados a características anatômicas específicas da face. Baseadas nas localizações anatômicas conhecidas dos ramos vasculares faciais, podem ser eleitas como áreas de maior risco aos procedimentos preenchedores, aquelas irrigadas por ramos da artéria carótida interna (ACI), aquelas onde ocorre anastomose do sistema carotídeo externo com interno, bem como os locais em que as artérias emergem dos forâmenes cranianos. Há sempre que se considerar variações anatômicas muito comuns quando se analisa a anatomia da face7. Artérias carótidas Todas as artérias que irrigam a face originam- -se da artéria carótida comum (ACC) bilateral- mente. Ao nível do osso hioide, a ACC se divide em artérias carótida externa ACE e ACI. O supri- mento de sangue colateral é obtido por várias conexões entre ambas as artérias. As principais artérias da face originam-se diretamente da ACE: artéria lingual, artéria facial (AF), artéria maxilar interna (AMI) e artéria temporal superficial (ATS). A importante contri- buição da vascularização facial da ACI se dará pelo seu ramo oftálmico8. Artéria oftálmica (AO) A AO é o primeiro ramo intracraniano da ACI e fornece suprimento sanguíneo para o olho e a periórbita. No total, podem ser contados 13 ramos da AO, dos quais a artéria central da retina e as artérias ciliares posterior medial e lateral fornecem suprimento sanguíneo para a retina. Outros ramos da AO são a artéria lacrimal, ramos para os músculos extrínsecos do globo ocular, artérias etmoidais posteriores e anteriores, artérias palpebrais inferior e superior, artéria supratroclear (AST), artéria supraorbitária (ASO) e artéria dorsal nasal (ADN)9-11. Artéria dorsal nasal (ADN) Emerge da órbita e perfura o septo orbital superior ao ligamento cantal medial. Ela se estende profundamente ao músculo orbicular do olho e inferiormente na origem do músculo prócero. Tem conexões diretas com a artéria angular (AA), com as artérias palpebrais medial superior e inferior (ambas localizadas profunda- mente ao músculo orbicular do olho), com a ADN contralateral e com a AST8-9. Região temporal, frontal e glabelar A irrigação da região frontal é dada, pelas ASO e AST e pelo ramo frontal da ATS. A AST emerge do forâmen supratroclear no canto superior medial da órbita óssea, perfura ao longo de seu curso ascendente o músculo corrugador do supercílio e o septo frontal inferior entrando na gordura subfrontal. Ao atingir o septo frontal médio, numa variação de 1,5 cm a 3,3 cm da borda orbitária superior, perfura o músculo frontal e sua fáscia sobrejacente e pode ser encontrada no plano subcutâneo. Se anastomosa com as AA, ASO e ADN. A ASO emerge do forâmen supraorbitário 1 mm a 3 mm medial à linha vertical médio-pupilar. Torna-se mais superficial à medida que perfura o septo frontal inferior. Depois de perfurar o músculo frontal ao nível do septo frontal médio, ela passa dentro dos limites entre os comparti- mentos frontal superficial lateral e central, onde emite um ramo que se conecta ao ramo anterior da ATS (Figuras 2 e 3). 166 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência TedescoA, Sodré MV, Moura RM Na região glabelar, existem múltiplas conexões entre as ADN esquerda e direita, AST e ASO tornando-a uma área de alto risco para procedimentos injetores. Nessa região, a distribuição vascular é superficial ao músculo prócero, sugerindo que o plano profundo poderia ser considerado de menor risco que a camada subcutânea11-12. Na região temporal a ATS emerge de camadas mais profundas na fáscia temporal superficial 1,0 cm anterior e 1,0 cm superior ao tragus. Ao longo de seu curso dentro da fáscia temporal superficial, cruza a crista temporal, e muda de plano encontrando-se no subcutâneo na região frontal, onde se conecta com ramos da ASO. Em contraste, a veia zigomaticotemporal média é identificada dentro do coxim de gordura temporal superficial e muda de plano no compartimento temporal inferior, corre profundamente para o músculo orbicular do olho em direção à região frontal, onde é chamada de veia sentinela13. Na profundidade da fossa temporal e em estreita relação com o periósteo, as artérias temporais profundas anterior e posterior podem ser identificadas. Quando medidas até a borda orbital lateral, elas têm um curso longitudinal com 1,5 cm a 2,0 cm posterior (lateral) para a artéria temporal profunda anterior e 2,5 cm a 3,0 cm para a artéria temporal profunda posterior (Figura 4),8-9. Figura 2 – Desenho esquemático da análise topográfica entre a artéria supratroclear e a artéria supraorbitária, evidenciando planos e marcações de referência do sistema arterial da fronte, onde a partir do septo frontal médio distante 1,5 cm a 3,3 cm do rebordo supraorbitário, a ASO se conecta com o ramo frontal da ATS. X1: plano horizontal através da fissura palpebral do canto medial ao canto lateral; X2: plano horizontal através da margem supraorbital, paralela à X1; Y: plano vertical através do canto medial, perpendicular à X1; XSOF: distância horizontal do forâmen supraorbital no plano X2 do plano Y; YSOF: altura vertical do forâmen supraorbital a partir do plano X1; XdSOA: distância horizontal média do ponto de penetração no frontal do fundo do ramo da artéria supraorbital do plano Y; YdSOA: altura vertical média do ponto de penetração no frontal do ramo profundo da artéria supraorbital do plano X2; SOF: forâmen supraorbital. Figura 3 – Demonstração, de acordo com os planos anatômicos, da profundidade da ASO e AST. Conhecendo essa relação, podemos escolher com maior segurança a camada que iremos preencher, diminuindo os riscos de uma obliteração vascular10. sSTA: ramo superficial da artéria supratroclear; sSOA: ramo superficial da artéria supraorbitral; dSTA: ramo profundo da artéria supratroclear; dSOA: ramo profundo da artéria supraorbitária; A: plano da linha média; B: plano do canto médio; C: plano do forâmen supraorbitário. [ 2 ] [ 3 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 167 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 1 Artéria facial (AF) A AF origina-se da ACE próximo à glândula submandibular, profundamente à camada de revestimento da fáscia cervical profunda, 1,5 cm, em média, acima da artéria lingual. Segue um trajeto ascendente e oblíquo anteriormente. Inicialmente em contato com a parede faringiana, passa sob o ventre posterior do músculo digás- trico e do músculo estilohióideo. No ângulo da mandíbula, a AF cruza a estrutura óssea anterior à veia facial, profunda- mente ao músculo platisma, ao ramo marginal mandibular do nervo facial, penetrando na loja anterior do músculo masseter e cruzando com o ramo horizontal da mandíbula. Entra no espaço bucal, que é limitado pelo músculo bucinador (profundo), o platisma (superficial), modíolo (anterior), veia facial (posterior), ligamento mandibular e platisma aderente à mandíbula (inferior), e septo transverso facial (superior). No modíolo, a artéria pode ser identificada. Conecta-se por uma faixa muscular do músculo bucinador em sua posição 1,5 cm posterior ao canto da boca. Emite os ramos labiais inferior ou labiomentual horizontal e labial superior14. Sulco nasolabial, fossa canina A AF, nessa região, denominada AA, corre um caminho ascendente cruzando superficial- mente os músculos orbicular da boca, bucinador e elevador do ângulo da boca, porém, é profunda aos músculos elevador do lábio superior, elevador do lábio superior e da asa do nariz, bem como, os músculos zigomáticos maior e menor. Emite um ramo alar, e o ramo nasal lateral, que irrigam a asa e o dorso do nariz, anastomizando- -se com o lado contralateral, com os ramos septal e alar, com o ramo nasal dorsal da AO e com o ramo infraorbitário da AMI (Figura 5). As injeções realizadas na fossa canina em nível supraperiostal oferecem menor risco eminente, levando-se em consideração que o trajeto vascular, nessa região, se dá mais superficialmente10,12-13,15. Regiões zigomática, malar, pré-auricular e infraorbitária A artéria transversa da face (ATF) perfunde a face lateral, origina-se da ATS dentro da glândula parótida abaixo do arco zigomático numa distância aproximada de 2,0 cm (Figuras 6). Atravessa o músculo masseter inferior à borda inferior do ramo zigomático do nervo facial e superior ao ducto parotídeo. Apresenta anastomoses com as AF, massetérica, bucal e infraorbitária. Figura 4 – Localização das artérias temporais profundas anterior e posterior dentro da fossa temporal8. [ 4 ] 168 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Tedesco A, Sodré MV, Moura RM A artéria infraorbitária (AIO) emerge do forâmen infraorbitário (FIO), bem como a artéria zigomático facial (AZF) que emerge do forâmen de mesmo nome, na região da proeminência zigomática, ambas, ramos da AMI. Correm justa- periostealmente, superficializando-se em direção medial descendente. A AIO se divide em vários ramos que irrigam a pele da pálpebra inferior (ramos palpebrais inferiores), a face lateral do nariz (ramos nasais) e o lábio superior (ramos labiais superiores). Os ramos da artéria infraorbitária podem se comunicar com ramos da AZF, da AF, da ADN, da ATF10,12-13,15-17. Procedimentos preenchedores visando reestruturação do terço médio facial deveriam ser realizados em plano profundo, portanto, requerem cuidado com possível obstrução dos forâmenes. O lábio A artéria lábial superior (ALS) e a artéria labial inferior (ALI) são as principais artérias que irrigam as estruturas do lábio superior e inferior. No entanto, ao contrário da ALS, que é a principal artéria que irriga a área do lábio superior, a vascularização arterial na área do lábio inferior compreende várias artérias: a artéria labiomentual horizontal (HLA), ALI, ramos da artéria facial, que correm horizontalmente no lábio inferior. A artéria labiomentual vertical Figura 5 – Peça anatômica dissecada, evidenciando a AF, emitindo seus ramos que se anastomosam com os contralaterais. AA: artéria angular; LN: artéria nasal lateral; AS: artéria alar superior; IA: artéria alar inferior; SL: artéria labial superior; IL: artéria labial inferior; FA: artéria facial. Figura 6 – Mostra que a artéria transversa da face perfunde na lateral da face, originando-se da ATS e caminha para medial, numa distância de 2,0 cm do arco zigomático16. [ 5 ] [ 6 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 169 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 1 (VLA), ramo da artéria submentual, segue ascen- dendo a partir da margem inferior da mandíbula próximo ao ramo mentual, ramo da artéria alveolar inferior. Na grande maioria dos casos, a ALS se origina da AF acima da comissura labial, a uma distância que varia de 5,0 cm a 9,0 mm. Corre superiorà borda do vermelhão sob o músculo orbicular da boca, com profundidade mínima de 3,0 mm. A profundidade média de sua localização gira em torno de 4,5 mm da pele, 2,6 mm da mucosa oral e 5,6 mm da margem inferior do lábio superior. Emite um ramo septal que irriga o septo nasal. A ALI se ramifica a partir da AF, no nível da comissura labial, abaixo ou acima da mesma, com um diâmetro médio de aproximadamente 1,3 mm. Entra no lábio inferior e viaja entre a mucosa e o músculo. Sua localização é posterior ao músculo orbicular da boca, emitindo ramos perfurantes em direção à pele, ao vermelhão e à mucosa. As artérias labiais superior e inferior se encontram profundas ao músculo orbicular da boca e relati- vamente superficiais na projeção do limite entre a mucosa úmida e seca dos lábios9-10,12-13,15,16. O nariz Três padrões arteriais principais participam da vascularização do nariz: a AF, a ADN e a AIO, bem como a ALS e a columelar. No nível da asa, a AF se ramifica para produzir a artéria alar inferior e a artéria nasal lateral imediatamente acima. Atravessa medialmente o sulco nasojugal para se tornar a AA. Termina no nível do ângulo interno do olho onde a AA vai se anastomosar com a AST e a ADN. A maioria das artérias se encontra no plano subcutâneo, tornando o plano supraperiostial e suprapericondral profundo, relativamente avascular9-10,12-13,15. Região mentual Na região mentual, as artérias mais impor- tantes são a submentual (ASM) e a mentual (AM). A ASM origina-se da AF na região subman- dibular, passa pela base da mandíbula até o mento e irriga o músculo milohioídeo, o ventre anterior do músculo digástrico e as estruturas adjacentes. O mento também é suprido pela AM, ramo da artéria alveolar inferior que emerge através do forâmen mentual. Os preenchimentos para aumento vertical do mento são usualmente realizados na região submentual, e um cuidado maior deve ser tomado quando a extensão lateral do preenchimento se estender à região de pré-molares. Nesta área emergem, justaperiostealmente, os vasos mentuais, especialmente a veia submentual, que está mais anterior em relação à artéria de mesma nomenclatura11. Alguns pontos devem ser observados para reduzir complicações vasculares, como: a densidade do material, o tipo de seringa, o uso de cânula ou agulha, conhecer as estruturas anatô- micas faciais das áreas de aplicação, bem como as corretas camadas de aplicação e entender que, na verdade não existe área segura na face. As condutas realizadas devem ser seguras. O preen- chimento deve ser lento, suave e em pequenos volumes. A cada remoção e reinserção da cânula ou agulha, realize teste de aspiração. Mensurar a força da injeção e resistência à volumização. Verificar a resposta do paciente (dor aguda, sintoma neurológico). Se esses critérios não forem obedecidos, os problemas podem ocorrer. 170 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Tedesco A, Sodré MV, Moura RM PRIMEIROS SINAIS E SINTOMAS DE UMA NECROSE A ausência de oxigenação do tecido cutâneo manifesta-se clinicamente com alteração de cor, isquemia (esbranquiçado) ou livedo (vermelho- -azulado) e sensação dolorosa17. O livedo, na maioria das vezes, é reticular, podendo também ser racemoso. É denominado livedo reticular quando a trama reticulada ocorre de forma completa com interligação nítida, delimitando internamente áreas da pele com aspecto normal, ou mesmo pálidas (Figuras 7). Quando a trama reticulada não é constituída por linhas que confluem e fecham é denominado de livedo racemoso. Pode-se também considerar que áreas pálidas correspondem à compressão das artérias e áreas cianóticas correspondem à constrição das veias. Um dos testes que pode diferenciar a alteração cromática decorrente de um livedo e de uma equimose é o tempo de reenchimento capilar (CTR-Capillary Refill Time). É definido como o tempo que leva para que a cor superficial da pele retorne ao normal depois que uma pressão digital é aplicada causando isquemia. Uma pressão moderada de cinco segundos deve ser realizada sobre a área a ser avaliada. Use um cronômetro para contar os segundos que o tecido cutâneo leva para recuperar a cor original (Figuras 8). Um CRT normal é de dois segundos ou menos. Uma medição entre dois e três segundos pode ser considerada “anormal limítrofe”18. Caso não seja realizada nenhuma intervenção para melhorar a perfusão sanguínea, as manifes- tações dermatológicas do processo embólico apresentam a seguinte cronologia: isquemia/ livedo, vesículas, escaras e necrose (Figuras 9). Figuras 7 – Aspecto inicial. A. Imediatamente após aplicação de ácido hialurônico B. Região malar medial. Notar alteração de cor de pele pela presença de livedo reticular por provável obliteração da artéria infraorbitária. [ 7a ] [ 7b ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 171 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 1 Figuras 9 – Esquema gráfico da evolução das manifestações cutâneas frente um processo embólico. A. Observamos já as alterações teciduais no terceiro dia com formação de vesículas e pontos esbranquiçados. A paciente procurou o profissional, mas se negou a iniciar aplicação de hialuronidase. B. Notamos uma exacerbação da lesão já no dia seguinte com rompimento de vesículas, descamação e ulceração superficial da pele. C. Iniciou-se o tratamento com a hialuronidase. Referências 1. McConkey DJ. Biochemical determinants of apoptosis and necrosis. Toxicol Lett 1998;99(3):157-68. 2. Curtin JF, Donovan M, Cotter TG. Regulation and measurement of oxidative stress in apoptosis. 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Plast Reconstr Surg 2019;143(2):416-26. 9. von Arx T, Tamura K, Yukiya O, Lozanoff S. The face – a vascular perspective. a literature reviews. Swiss Dent J 2018;128(5):382-92. PMID: 29734800. 10. Cong L. Phothong W, Lee S, Wanitphakdeedecha R, Koh I, Tansatit T et al. Topographic analysis of the supratrochlear artery and the supraorbital artery: implication for improving the safety of forehead augmentation. Plast Reconstr Surg 2017;139(3):620e -7e. 11. Tamura BM. Facial topography of the injection areas for dermal fillers, and associated risks. Surg Cosmet Dermatol 2013;5(3):2348. 12. Antonio CR. Preenchimento na região glabelar – Dissecando as razões da alta incidência de complicações e cegueira. Surg Cosmet Dermatol 2012;4(2):111-3. 13. Yano T, Okazaki M, Yamaguchi K, Akita K. Anatomy of the middle temporal vein: implications for skull-base and craniofacial reconstruction using free flaps. Plast Reconstr Surg 2014;134(1):92e-101e. 14. Radlanski RJ, Wesker KH. A Face: Atlas Ilustrado de Anatomia Clínica. São Paulo: Quintessence Editora Ltda., 2016. 15. Niemann K, Lazarus L, Rennie C. An anatomical study of the facial artery. Int J Morphol 2019.37(4):1310-5.16. Koziej M, Polak J, Wnuk J, Trybus M, Walocha J, Chrapusta A et al. The trans- verse facial artery anatomy: Implications for plastic surgery procedures. PLoS ONE 2019;14(2):1-11. 17. Rocha RCC, Castilho LB, Blaas DMA, Tavares Júnior R, Tavares AP, Wanczinski MI. The importance of the early use of hyaluronidase in the treatment of arterial occlusion resulting from hyaluronic acid based cutaneous filling. Surg Cosmet Dermatol 2018;10(1):77-9. 18. King D, Morton R, Bevan C. How to use capillary refill time. Arch Dis Child Educ Pract Ed 2014;99(3):111-6. Doi: 10.1136/archdischild-2013-305198. Epub 2013 Nov 13. PMID: 24227793. Figuras 8 – A. Pressão digital, por cinco segundos, sobre o tecido cutâneo com o auxílio do cabo de uma pinça porta agulha. B. Manutenção da isquemia após remoção da pressão mostra haver diminuição do fluxo sanguíneo local. [ 8a ] [ 8b ] [ 9a ] [ 9b ] [ 9c ] Andrea Tedesco1 Marcus Vinicius Sodré2 Rachel Martinelli Moura3 CA PÍT UL O10 1Professora associada – Universidade Federal do Rio de Janeiro; Coordena- dora pedagógica – Instituto Andrea Tedesco; Mestra e doutora em Clínica Odontológica. 2Mestre e especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais; Especialista em Implantodia Oral e Harmonização Orofacial; Professor da disciplina de Cirurgia – Faculdade de Odontologia de Valença (UniFAA); Professor – Andrea Tedesco Instituto; Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacias. 3Especialista em Implantodontia e em Harmonização Orofacial); Profes- sora de Clínica da Residência Cirúrgica – Instituto Andrea Tedesco; Pro- fessora – A3cursos. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 173 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 2 A HIALURONIDASE O reestabelecimento precoce do fluxo sanguíneo local será o único responsável pelo retorno da saúde e normalidade dos tecidos acometidos. O ácido hialurônico, produto considerado de uso temporário, sofre degradação enzimática sendo passível de ser dissolvido pela hialu- ronidase. Produtos semipermanentes já apresentam maior dificuldade de reversibilidade frente a um quadro embólico, portanto devem ser utilizados apenas por profissionais experientes com muita atenção à anatomia local, técnica e quantidades. Produtos de uso permanente oferecem maior risco de necrose tecidual. O FDA (Food and Drugs Administration) listou três indicações de uso da hialuronidase1: facilitar a absorção e a dispersão de outras drogas injetáveis; auxiliar na infusão de fluidos subcu- tâneos; e na urografia subcutânea. É utilizada com outros medicamentos administrados sob a pele para melhorar a absorção deles pelo organismo, quando este não pode ser adminis- trado por via venosa2. Sua utilização em Harmonização Orofacial é considerada off label, pois não apresenta aprovação regulatória disponível para uso injetável. Mesmo em países onde a hialuronidase está disponível, não está aprovada especifica- mente para uso em procedimentos de preenchi- mento facial. Na América Latina, a hialuronidase é obtida através de farmácias de manipulação e a mais frequentemente utilizada é a de origem testicular bovina purificada da farmácia Biometil. Sua ação enzimática se dá por meio de clivagem específica entre o C1 da porção glucosamina e o C4 do ácido glucurônico das cadeias poliméricas de ácido hialurônico, transformando cadeias longas e coesas em cadeias curtas e de menor viscosidade, até que ocorra por completo a degradação do ácido hialurônico 2 . O uso da hialuronidase A literatura é unanime em afirmar que o uso precoce da hialuronidase em concentração correta, representará o sucesso da degradação do ácido hialurônico e o reestabelecimento do Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 2 174 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Tedesco A, Sodré MV, Moura RM fluxo sanguíneo, evitando dessa forma a necrose tecidual3-6. Uma obliteração vascular, se não tratada, leva aproximadamente três dias para que as bolhas apareçam na superfície pele6. Autores6 trataram 20 pacientes com necrose cutânea iminente relacionada ao ácido hialurônico, e mostraram que a aplicação de hialuronidase dentro do período de até dois dias está associada à recuperação total da compli- cação (Figuras 1), sem o desenvolvimento de sequelas. Se o tratamento for adiado por mais de dois dias, os pacientes correm maior risco de desenvolver feridas (Figuras 2) que podem não ser recuperadas, progredindo para necrose total da pele com possível mutilação do tecido envolvido (Figuras 3). Neste estudo6, observamos que o tratamento imediato agressivo foi o ideal. Porém, a partir do segundo dia, já temos necrose instalada, com danos teciduais após 60 dias. Nesses casos, o tratamento também deve ser executado o mais rápido possível de maneira agressiva, com uso de toda tecnologia das terapias de apoio com o objetivo de minimizar sequelas. Após aplicação da hialuronidase, dissolução do ácido hialurônico e permissão da livre passagem de sangue para os tecidos, um aspecto cicatricial pode ser observado na ferida necrótica formada (Figuras 4). Em casos mais severos, a terapia com câmera hiperbárica é uma ótima associação para melhoria da oxigenação do tecido afetado (Figura 5). Figuras 1 – Grupo 1: hialuronidase aplicada até dois dias após injeção do AH. A. 24 horas. B. Dois dias após. C. Quatro dias após AH. Figuras 2 – Grupo 2: hialuronidase aplicada após dois dias da injeção de AH. A. Sete dias após aplicação. B. Seis dias após aplicação. C. 60 dias após AH. [ 1a ] [ 1b ] [ 1c ] [ 2a ] [ 2b ] [ 2c ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 175 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 2 É frequente observar a insistência de lesões secundárias oportunistas, como comedões (Figura 6), resultado da obstrução de um folículo piloso da pele (poro) por queratina e sebo. Um comedão pode ser aberto (ponto negro) ou fechado pela pele (ponto branco). Correspondem aos graus um e dois da acne. Devido a alterações teciduais derivadas da redução de perfusão de oxigênio, as glândulas sebáceas aumentam e há produção de sebo resultando na formação do comedão. Os antibióticos são usados em casos mais graves devido à sua atividade antimicrobiana contra o P. acnes, juntamente com propriedades Figura 3 – Surgimento de ferida necrótica quatro dias após procedimento com ácido hialurônico e ausência de aplicação de hialuronidase. Paciente mantida apenas com terapias medicamentosas por não permitir tratamento injetor local. Figura 4 – Evolução clínica da ferida após aplicação da hialuronidase. A. Dia da aplicação. B. Um dia após aplicação. C. Dois dias após aplicação. Notar aspecto cicatricial da ferida (círculos amarelos) e aparecimento de erupções secundárias (comedões). Figura 5 – Aspecto clínico da lesão após três sessões de câmera hiperbárica. Figura 6 – Presença de comedões sobre área afetada devido à redução de perfusão de oxigênio. [ 4a ] [ 4b ] [ 4c ][ 3 ] [ 5 ] [ 6 ] 176 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Tedesco A, Sodré MV, Moura RM anti-inflamatórias. Antibióticos, incluindo clinda- micina, eritromicina e tetraciclinas, tais como doxiciclina, oxitetraciclina, linfeciclina e minoci- clina são aplicadas topicamente ou adminis- tradas por via oral7 (Tabela 1). para melhorar a perfusão e a oxigenação dos tecidos e pasta de nitroglicerina8-9. Como não sabemos o local exato do vaso que está obstruído, nem a extensão da isquemia, devemos inundar com hialuronidase o localcom alteração de coloração diversas vezes. Dessa maneira, manteremos sua concentração alta, mesmo ela sendo uma substância que se difunde rapidamente para regiões onde está menos concentrada, que se dilui facilmente no soro dos capilares e que sofre neutralização de suas propriedades por enzimas endógenas (Figura 7). Concluímos que com altas concentrações de hialuronidase aplicadas de hora em hora, não há o risco de moléculas menores provenientes da hidrólise continuarem provocando a obstrução naquele local ou até mesmo adiante. O tempo de degradação de um preenchedor varia de acordo com suas características reoló- gicas. Assunto que merece mais pesquisa. Porém, sabemos que o processo é longo e geral- mente se estende por algumas horas. TABELA 1 – TERAPÊUTICA: ANTIBIOTICOTERAPIA Droga Dose Via de administração Posologia Tetraciclina 500 mg VO 6/6 horas Doxiciclina 100 mg VO 12/12 horas Dosagem da hialuronidase Acreditava-se que doses de 150 U a 300 U de hialuronidase deveriam ser injetadas diariamente ou a cada oito horas seguidas de massagem local até que se obtivesse a dissolução completa do ácido hialurônico4,7-8. Terapias de apoio também eram preconizadas desde o início do trata- mento de reversibilidade, com a administração de vasodilatadores, corticosteroides, antimi- crobianos e agentes antiagregantes, além de irradiação infravermelha e oxigênio hiperbárico Figura 7 – Ilustra a importância do completo encharcamento de hialuronidase no tecido afetado, já prevendo que ela sofrerá difusão, desativação e diluição8. Fluxo arterial; diluição; desativação; difusão; arteríola; capilar; preenchedor de ácido hialurônico (preenchedor de AH). [ 7 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 177 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 2 Homeostase natural do organismo A hialuronidase consegue penetrar facilmente nos tecidos e degrada o ácido hialurônico da pele quando injetado no subcutâneo, anulando a função da barreira dérmica por até 48 horas8. Porém, observamos clinicamente que esta diminuição de ácido hialurônico endógeno não é capaz de provocar mutilação no paciente. As duas causas indiscutíveis de deficiência permanente de tecido são de natureza iatrogênica e envolvem manejo conservador. Se for permitido que a isquemia persista por um período de tempo, tal que a morte celular ocorra (células de gordura em particular), a deficiência permanente de tecido é esperada. Observamos sequelas também em casos de tratamento terapêutico conservador de infecção, especialmente abscesso clínico. Protocolo do uso de hialuronidase Como não existe um consenso na literatura sobre protocolos de dosagem da hialuronidase, mas sabe-se que há necessidade de altas concen- trações, De Lorenzi, em 2017, sugeriu o protocolo a seguir, que está representando as dosagens baseadas no padrão de comprometimento vascular9 (Figuras 8). Figuras 8 – Protocolo atual de dosagem de hialuronidase utilizadas em diferentes regiões da face proposto por DeLorenzi C9. A. 500 IU. B. 1.000 IU. C. 1.500 IU. D. 500 IU. [ 8a ] [ 8b ] [ 8c ] [ 8d ] 178 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Tedesco A, Sodré MV, Moura RM Terapias de apoio Terapia medicamentosa Durante muito tempo, o protocolo utilizado consistia na associação da aplicação de hialuro- nidase com terapias de apoio que se baseavam no aumento da perfusão sanguínea, diminuição do processo inflamatório e profilaxia de infecções secundárias associadas10. As medicações consistiam em: vasodilatadores (exemplo, silde- nafil), corticosteroides (exemplo, dexametasona), antimicrobianos (exemplo, cefalexina) e agentes antiagregantes plaquetários (exemplo, AAS) 10. Atualmente, utilizamos esses medicamentos juntamente à outras terapias que vamos comentar ao longo do capítulo. Agentes vasodilatadores Estudos recentes têm apontado o uso de inibi- dores da fosfodiesterase na melhora da perfusão sanguínea em zonas com sofrimento vascular, reduzindo o efeito deletério da vasoconstrição local. Inibidores da fosfodiesterase desem- penham um importante papel na regulação de muitas funções fisiológicas, incluindo agregação plaquetária, relaxamento da musculatura lisa, homeostasia, resposta imune, com segurança de uso. O sildenafil foi inicialmente desenvolvido como um agente anti-hipertensivo, e posteriormente para o tratamento da disfunção erétil. Promove inibição da fosfodiesterase-5 aumentando a ação do oxido nítrico na vasodilatação. O sildenafil tem mostrado benefícios em modelos experimentais em lesões que afetam a perfusão vascular, efeito antiplaquetário e influência na melhoria da microcirculação durante a cicatrização de feridas, por meio de diferentes mecanismos que incluem vasodilatação, aumento da hemodi- nâmica microcirculatória, inibição da agregação e adesão plaquetária, estimulação da angiogênese, indução de apoptose de adesão de fibroblastos e redução da resposta inflamatória (Tabela 2) 11-12. TABELA 2 – TERAPÊUTICA: AGENTE VASODILATADOR Droga Dose Via de administração Posologia Sildenafil 25 mg VO A cada 24 horas Agentes antiagregantes plaquetários e anticoagulantes A fim de melhorar o fluxo e subsequente- mente a perfusão sanguínea ao tecido, são utilizadas terapias com anticoagulantes e/ou antiagregantes plaquetários. Os antiagregantes plaquetários apresentam a propriedade de inibir a formação do trombo. Os antiagregantes plaquetários mais comumente utilizados são: ácido acetilsalicílico (AAS), clopi- dogrel e ticlopidina. Os anticoagulantes atuam diretamente na cascata de coagulação, tendo como objetivo prevenir a formação e a expansão do coágulo. As terapias incluem heparina, heparina de baixo peso molecular (dalteparina, enoxaparina e nadroparina) e anticoagulantes orais, como os agentes cumarínicos (varfarina), os inibidores do fator Xa (rivaroxabana, apixabana e edoxabana) e os inibidores diretos da trombina (dabigatrana). Anti-inflamatórios hormonais: glicocorticoides São drogas usadas em função de seus efeitos anti-inflamatórios, capazes de reduzir o intenso processo inflamatório reacional, local, do tecido comprometido. Promovem a inibição da fosfolipase A2 impedindo a liberação do Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 179 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 2 ácido araquidônico seguido de seus metabólitos (prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxano), influenciando de forma positiva na redução dos níveis circulantes de citocinas pró-inflamatórias13. O principal exemplo de glicocorticoide produzido pelo organismo é o cortisol (hidrocor- tisona), sintetizado no córtex adrenal a partir do colesterol. Sua produção é regulada pelo eixo hipotalâmico/hipofisário/suprarrenal e é também influenciada pelo ritmo circadiano, situações de estresse e por seu feedback negativo sobre os receptores de glicocorticoides do hipotálamo e da hipófise. Os receptores de glicocorticoides são encontrados em praticamente todos os tecidos, e a interação glicocorticoide/receptor é responsável pelo efeito inibitório da síntese de citocinas pró-infamatórias, como interleucina 6 (IL-6) e IL-2, fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e prostaglandinas. Diversos fatores devem ser considerados antes da prescrição de um corticosteroide, de modo que os benefícios da droga superem os efeitos indesejáveis. Um corticosteroide com mínimo efeito mineralocorticoide e, portanto, menor retenção de sódio, deve ser preferido. Os corticoides mais utilizados são a dexame- tasona, a betametasona, a predinisolona e a metilprednisolona e, aplicados por via oral, intra-muscular e endovenosa (Tabela 3). Antimicrobianos A infecção bacteriana secundária a uma necrose tecidual é um problema comum. Normal- mente, são causadas por uma flora bacteriana mista. Staphylococcus aureus e os estreptococos hemolíticos do grupo A, são os organismos aeróbios mais prevalentes; porém, bactérias anaeróbias, gram-negativas e gram-positivas, podem estar presentes nessas infecções, onde existem sinergicamente. A antibioticoterapia constitui tratamento coadjuvante, seja profilático ou terapêutico, em que a prevenção e o controle do foco de infecção é o objetivo fundamental do tratamento. Embora a antibioticoterapia seja em geral empírica inicialmente, culturas para micror- ganismos aeróbicos e anaeróbicos devem ser obtidas no local da infecção. Dessa forma, o tratamento com antibiótico pode ser modificado de acordo com o resultado da cultura. Antibio- ticoterapia inapropriada pode contribuir para aumentar a resistência bacteriana. Os antibióticos de primeira escolha para profilaxia e tratamento das infecções secundárias são as cefalosporinas de primeira geração (cefalexina e cefadroxil), ambas de uso oral, bem como (cefalotina e cefazolina), de uso injetável, ativas contra bactérias gram-positivas como Staphylococcus aureus e estreptococos do grupo A. Nos casos de pacientes com histórico de reação de hipersensibilidade aos agentes betalactâmico, mais especificamente às penici l inas e subsequentemente às cefalosporinas, os antimicrobianos de escolha são as fluoroquinolonas, representada pela ciprofloxacina que apresenta espectro contra bactérias gram-negativas, mas também contra bactérias gram-positivas como o Staphylococcus TABELA 3 – TERAPÊUTICA: ANTI-INFLAMATÓRIOS HORMONAIS Droga Dose Via de administração Posologia Predinisolona 20,0 mg VO 8/8 horas Metilprednisolona 40,0 mg VO A cada 24 horas Dexametasona 4,0 mg VO A cada 24 horas Betametasona 2,0 mg VO A cada 24 horas 180 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Tedesco A, Sodré MV, Moura RM aureus, bem como as lincosamidas representada pela clindamicina que atua em gram-positivas e anaeróbias, além dos agentes macrolídeos, como a azitromicina e a claritromicina. Nos casos de infecções mistas, pode-se escolher como antibioticoterapia as cefalospo- rinas de segunda geração (cefoxitina, cefaclor e cefuroxima). Na possibilidade da presença de bactérias resistentes aos betalactâmicos, a administração das associações com os inibi- dores de betalactamase torna-se importante. Nesse grupo, o principal agente representante é a amoxicilina com o ácido clavulânico, porém existem outras associações, tais como: ampicilina com sulbactan, ticarcilina com ácido clavulânico e a piperacilina com tazobactan. Essas associações além de serem eficazes contra a resistência aos betalactâmicos, também apresentam poder anaerobicida. Na possibilidade do agravamento do quadro infeccioso secundário a uma necrose tecidual, com tendência a anaerobiose e possivelmente à presença de Bacteroides sp., Enterococcus sp. e Streptococcus dos grupos B e C, pode-se escolher como antibioticoterapia de escolha as cefalospo- rinas de terceira geração (ceftriaxona, cefotaxima e ceftazidima), os inibidores de betalactamase, a clindamicina, bem como as associações dos inibidores de betalactamase como os nitroimi- dazólicos (metronidazol) ou como a clindamicina. Os agentes carbapenêmicos, como o imipenem e o meropenem, por apresentarem amplo espectro a alta potência, tornam-se opções para possibi- lidade de aumento da severidade do processo infeccioso 14 (Tabela 4). Terapia fotodinâmica (PDT) no reparo de lesões teciduais A terapia fotodinâmica (PDT, do inglês photodynamic therapy) é uma modalidade terapêutica utilizada para tratar tumores super- ficiais e infecções, que combina uma substância fotossensível, conhecida como fotossensibili- zador (FS), ativada por luz em comprimento de onda específico correspondente ao espectro de absorção do FS. Essas tinturas são definidas como substâncias capazes de absorver luz desen- cadeando reações fotoquímicas ou fotofísicas. Esse processo gera espécies reativas de oxigênio (EROs), como o oxigênio singleto e superóxidos. Esses produtos são citotóxicos para a célula alvo, levando à morte do microrganismo por causarem desordens na parede celular, devido a um estresse oxidativo. As reações fotocitotóxicas descritas ocorrem apenas dentro dos tecidos patológicos, na área de distribuição do fotossensibilizador, permitindo a destruição seletiva. Entre as diversas vantagens da PDT, pode-se citar como principal a dupla seletividade tanto do FS com as células quanto do foco da fonte de luz na lesão, ainda a possibilidade de repetição de sessões a critério clínico, por não haver acúmulo de efeitos tóxicos e pelo procedimento não ser invasivo. A técnica de PDT tem apresentado resultados bastante satisfatórios na regressão de lesões necróticas com microrganismos associados. O mecanismo de ação se dá por meio da ativação luminosa de um FS, que depois de entrar na célula, absorve os fótons de luz fazendo com que seus elétrons passem a um estado excitado. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 181 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 2 TABELA 4 – TERAPÊUTICA: ANTIMICROBIANOS Antimicrobiano Dose Via de administração Posologia Profilaxia e tratamento de infecções secundária leves Cefalexina 500 mg VO 6/6 horas Cefadroxil 500 mg VO 12/12 horas Cefalotina 1,0 g EV 6/6 horas Cefazolina 1,0 g EV 12/12 horas Hipersensibilidade aos agentes betalactâmicos Ciprofloxacina 500 mg VO 12/12 horas 400 mg EV Clindamicina 300 mg VO 6/6 ou 8/8 horas Azitromicina 500 mg VO A cada 24 horas. Claritromicina 500 mg VO 12/12 horas Tratamento de infecções secundária mistas Cefoxitina 1,0 g EV 12/12 horas Cefaclor 500 mg VO 8/8 horas 750 mg VO 12/12 horas Cefuroxima 500 mg VO 12/12 horas 750 mg EV 8/8 horas Tratamento de infecções secundária mistas com resistência aos betalactâmicos Amoxicilina/ácido clavulânico 500 mg/125 mg VO 8/8 horas 875 mg/125 mg VO 12/12 horas 1,0 g/200 mg EV 8/8 horas Ampicilina/sulbactan 1,0 g/500 mg EV 6/6 horas 2,0 g/1,0 g EV 6/6 horas Ticarcilina/ácido clavulânico 3,0 g/100 mg EV 6/6 horas Piperacilina/tazobactam 2,0 g/250 mg EV 8/8 horas Agravamento do quadro infeccioso secundário com tendência a anaerobiose Ceftriaxona 1,0 g EV 12/12 horas Cefotaxima 1,0 g EV 8/8 horas Ceftazidima 1,0 g EV 8/8 horas Clindamicina 300 mg VO 6/6 horas 600 mg EV Metronidazol (sempre em associação) 500 mg VO 8/8 horas Cefalosporinas 2a ou 3a geração + metronidazol Amoxicilina / ácido clavulânico + metronidazol Ciprofloxacina + clindamicina 182 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Tedesco A, Sodré MV, Moura RM Na presença de um substrato, como o oxigênio em sua forma fundamental (ou oxigênio tripleto), o agente fotossensibilizante ao retornar ao seu estado natural transfere energia ao substrato, formando espécies de radicais altamente reativas. Nesse sentido, os altos níveis de estresse oxidativo são capazes de inviabilizar células e microrganismos ativando cascatas de necrose, apoptose e autofagia celular. A contaminação da área necrótica pode ser controlada através de uma limpeza super- ficial e sessões de PDT, facilitando o controle da remoção excessiva de tecido, que pode influenciar negativamente no aspecto final da cicatriz. A matriz extracelular tem papel funda- mental na integridade e na regularidade dos tecidos reparados, como descrito anteriormente; portanto, o desbridamento da ferida descrito na literatura com fins de remoção do tecidonecrótico pode ser evitado ao se associar à técnica de PDT como tratamento adjuvante aos processos de necrose tecidual pós-preenchimento15,16. OZONIOTERAPIA E OXIGENOTERAPIA O processo isquêmico progressivo, uma vez iniciado, pode estender-se de forma exponencial e ser agravado por infecções secundárias, devido à incapacidade dos tecidos adjacentes de suprir as células marginais com o teor de oxigênio e de nutrientes. O bloqueio da microcirculação abaixo da lesão leva à dissecção da ferida pela desidratação tissular e os tratamentos tópicos podem eventualmente reduzir, mas não evitar essa dissecção e sua progressão. A abordagem para feridas complexas se baseia em três princípios: tratar a principal etiologia; localizar e remover os fatores de retardamento (infecção, necrose, entre outros) e fornecer um ambiente ideal para a cicatrização. A cicatrização é dependente da replicação celular, da formação de uma nova matriz de suporte e da eliminação de material necrótico de corpos estranhos ou infectantes. Todos esses processos são dependentes de energia e apenas ocorrem de forma eficaz na presença de um fluxo sanguíneo adequado e do fornecimento de nutrientes e oxigênio para a área ferida. A regeneração não pode ocorrer até que o equilíbrio entre a demanda celular por oxigênio e sua oferta seja alcançada17. Ozonioterapia A otimização dos sistemas oxidantes e antioxidantes do organismo é um dos efeitos biológicos fundamentais da interação sistêmica da ozonioterapia, que se realiza por meio da influência nas membranas celulares e consiste na normalização do balanço dos níveis de produtos da peroxidação lipídica e o sistema de defesa antioxidante. O ozônio é uma molécula instável que consiste em três átomos de oxigênio que podem se decompor rapidamente em oxigênio e um único átomo de oxigênio atuando como um oxidante forte para matar microrganismos. O ozônio interrompe diretamente o ácido nucléico ou a camada lipossômica. Depois que a membrana é danificada, gera reações moleculares no meio pela liberação de radicais livres de oxigênio destruindo indiretamente o microambiente vivo. Além disso, aumenta a quantidade de leucócitos, aumenta a capacidade fagocítica dos granulócitos, facilita a formação de monócitos e ativa as células T. Simultaneamente, aumenta a liberação de citocinas, como interferon e interleucina, desencadeando citotoxicidade Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 183 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 2 celular dependente de anticorpos. Por outro lado, o ozônio aumenta a produção de peróxido de hidrogênio (H 2 O 2 ) derivado de células imunes do corpo. Como resposta à aplicação do ozônio nos tecidos e órgãos, produz-se um aumento compensador sobre toda a atividade das enzimas antioxidantes, como a superóxido dismutase, a catalase e a glutationa peroxidase. A ozonioterapia é extremamente válida, principalmente nas alterações vasculares isquêmicas. Diversas são as propriedades do ozônio, bem como suas indicações terapêuticas (Figura 9). Entre elas: 1. Melhora o metabolismo do oxigênio, estimu- lando as enzimas que participam de sua metabolização. Com isso, a saturação de oxigênio no sangue circulante é elevada, com aumento do aporte de oxigênio às células. 2. Melhora do metabolismo de oxigênio através do aumento da carga elétrica negativa na membrana eritrocitária, aumentando assim sua flexibilidade e sua captação por oxigênio. 3. Modulação do sistema imune em concen- trações terapêuticas, possibilitando a ativação de sistemas inespecíficos e ativação da imunidade celular. 4. Amplo espectro bactericida, viricida e fungicida. 5. Regulação do metabolismo pela modulação para valores normais dos indicadores sistêmicos. 6. Intervenção na liberação de autacoides como os eicosanoides formados a partir do ácido araquidônico. Figura 9 – Efeitos do ozônio mediante suas reações com moléculas mediadoras. [ 9 ] 184 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Tedesco A, Sodré MV, Moura RM As formas de aplicação do ozônio são classi- ficadas como hidroterapia com ozônio, óleo ozonizado usado externamente e auto-hemote- rapia com ozônio. O ozônio venoso ou retal aumenta a perfusão tecidual, a oxigenação e o metabolismo, mas não aumenta a produção de citocinas pró-infla- matórias, as quais são sempre super induzidas pelas toxinas das bactérias. Por outro lado, a aplicação local apresenta propriedades antál- gicas e anti-inflamatórias, inibe a cicloxigenase II e os mediadores neuroquímicos da sensação dolorosa. A influência da água ozonizada sobre o processo de cicatrização do epitélio através da aplicação diária se dá pelo aumento da velocidade de cicatrização. Além disso, a aplicação de óleo ozonizado nas feridas tem apresentado remissão dos sinais e sintomas da infecção, reepitelização e fechamento das feridas18. A ozonioterapia pode ser realizada de forma combinada através da aplicação de ozônio sistêmico, seja por via venosa ou retal e aplicação tópica de água ozonizada e óleo ozonizado. A indução local e a liberação de fatores de cresci- mento em um tecido estéril e revascularizado têm uma importância fundamental para o processo de cicatrização. Oxigenoterapia hiperbárica (OH) Consiste na administração de uma fração inspirada de oxigênio próxima de um oxigênio puro ou a 100% em ambiente com uma pressão superior (geralmente duas a três vezes) à pressão atmosférica ao nível do mar. Esse aumento de pressão resulta em aumento da pressão arterial e tecidual de oxigênio (2000 mmHg e 400 mmHg, respectivamente), o que está na base da maioria dos efeitos fisiológicos e terapêuticos dessa terapia. Esse procedimento terapêutico promove diferentes efeitos positivos para o processo de cicatrização, por essa razão tem sido referenciado como adjuvante, ou seja, aplica-se em conjunto com outras medidas de tratamento em diversas situações clínicas. Entre as indicações para a OH observam-se: condições de isquemia aguda (incluindo lesões por esmagamento, trombose arterial, retalhos cirúrgicos miocutâneos comprometidos, lesões necróticas), graves infecções dos tecidos moles, oclusão aguda da artéria central da retina. Os efeitos demonstrados pela OH são: melhora da hipóxia tecidual, aumento da perfusão, redução do edema, queda na regulação das citocinas inflamatórias, proliferação de fibro- blastos, produção de colágeno e angiogênese, estimula os fatores de crescimento e outros mediadores do processo de cicatrização. Além disso, é indicada para a erradicação de infecções dos tecidos moles e ósseas, difíceis de tratar por mecanismos que incluem destruição de micror- ganismos, melhorando a função de leucócitos e macrófagos. O OH deverá ser indicado o mais precocemente possível e não vários dias após a injúria. Na fase aguda, devem ser realizadas duas sessões de OH por dia, com 105 minutos de duração, sendo 90 minutos a uma pressão de 2,4 atmosferas absolutas. O total de sessões a serem realizadas vai depender de uma série de fatores, mas geral- mente varia entre 15 e 30 sessões 17. Agregados plaquetários Diferentes áreas das ciências da saúde buscam encontrar novas biotecnologias, a fim de empregá-las na bioengenharia tecidual. O plasma rico em plaquetas (PRP) e a fibrina Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 185 Aspectos essenciais na prevenção e no tratamento de necroses faciais – Parte 2 rica em plaquetas (PRF) são empregados na área maxilofacial e na estética. A PRF pode ser classifica em três categorias, dependendo de seu teor de leucócitos: fibrina rica em plaquetaspura (P-PRF), fibrina leucoplaquetária autóloga (L-PRF) e a fibrina leucoplaquetária autóloga (L-PRF) em fase líquida. O L-PRF (fibrina rica em plaquetas e leucó- citos), produto sanguíneo autólogo obtido por sedimentação sanguínea com fracionamento seletivo, trata-se de um material de enxerto autólogo não trombinizado, que libera fatores de crescimento durante um período prolongado de tempo, obtido a partir da centrifugação controlada do plasma. Acelera a cicatrização de feridas e a regeneração de tecidos, participando nas suas diversas fases: inflamação, formação de tecido de granulação, reepitelização, formação e remodelação da matriz celular. Ocorre pelo aumento da produção de colágeno, mitose celular, crescimento dos vasos sanguíneos, recru- tamento de outras células que migram para o local da lesão, auxiliando a produção de um novo tecido. A lógica do L-PRF é concentrar e fornecer fatores de crescimento, derivado de plaquetas, diretamente a um tecido-alvo19-20. CONSIDERAÇÕES FINAIS A abordagem de uma complicação como a necrose tecidual deve ser prontamente executada por um especialista que utiliza o ácido hialurônico como preenchedor. Assim como o conhecimento de toda terapêutica disponível para tratamento e diminuição de danos ao paciente. O diagnóstico precoce e o tratamento imediato são fundamentais para diminuir os riscos e se obter um melhor prognóstico. Referências 1. Gunatillake PA, Adhikari R. 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José Peixoto Ferrão Junior1 Isabella Miotello Ferrão2 CA PÍT UL O11 1Especialista em Periodontia – APCD-Bauru; Especialista em Harmoniza- ção Orofacial – CFO; Mestre e doutor em Ciências da Saúde – Unb; Profes- sor doutor associado responsável pela disciplina de Periodontia – UFMS; Ex-presidente Fundador da SBTI; Presidente da Associação Latino-ameri- cana de Harmonização Orofacial – Alaof. 2Especialista em Periodontia – Facsete; Especialista em DTM e Dor Oro- facial – SLMandic; Pós-graduada em Odontologia Hospitalar – Cemoi; Especialista em Harmonização Orofacial – Funorte; Professora auxiliar – Cursos Ferrão Jr. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 187 Toxina botulínica em distonia e paralisia facial Toxina botulínica em distonia e paralisia facial DISTONIA MUSCULAR E TOXINA BOTULÍNICA A toxina botulínica (TXB) é um agente biológico naturalmente produzido pela bactéria anaeróbia patogênica Clostridium botulinum. Sua obtenção é realizada em laboratório e possui apresentação cristalina em frasco estéril e a vácuo1. Após a aplicação da TXB, ocorre a sua ligação aos receptores específicos existentes na membrana da terminação nervosa, e por meio de endocitose mediada por uma proteína respon- sável pela formação de vesículas (clatrinas), o seu deslocamento para o citoplasma do terminal axonal é ativado2. Nesse citoplasma, a toxina cliva uma das proteínas necessárias para exocitose da acetilcolina denominada Snap-25. Esse processo desencadeia o bloqueio da transmissão sináptica excitatória, sendo assim, o mecanismo de ação da TXB se baseia na redução da contração muscular através de uma desnervação funcional seletiva1,3. Como o uso de todo medicamento, o indivíduo submetido à aplicação da TXB está sujeito à possíveis efeitos adversos, podendo ser estes decorrentes da injeção ou do produto propria- mente dito. Em decorrência da injeção pode ocorrer dor localizada, sensibilidade, edema, eritema, inflamação, entre outros. Como efeitos adversos da toxina em si, a bula do produto descreve disfagia, fraqueza muscular e dor local como os efeitos adversos mais comuns, sendo que em alguns casos pode haver alastramento do efeito da TXB e os sintomas podem incluir até mesmo astenia, diplopia, ptose, disfonia, disartria, incontinência urinária e dificuldades de respiração4-5. A fim de verificar a ocorrência de feitos indese- jáveis associados ao uso da TXB, foi realizada uma revisão sistemática com metanálise onde a ptose palpebral foi relatada como o efeito mais incidente, seguidos por olho seco, edema local, xerostomia, olhos secos e paresia local e outros sintomas menos comuns6. Para evitar tais intercorrências e minimizar os riscos, a aplicação da TXB deve ser realizada com medidas cautelares, utilizando uma técnica adequada, respeitando as contraindicações do produto, as limitações e as individualidades do paciente. A TXB tem como principais vantagens o acesso a músculos específicos e efeito susten- tável e reversível. Além disso, o tempo de ação da toxina varia de três a quatro meses por dose e, em pacientes com dores crônicas, o uso de analgésicos pode ser reduzido7. Devido a essas e outras vantagens e benefícios, a TXB é o tratamento mais indicado para tratar a 188 | HarmonizaçãoOrofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Ferrão Jr. JP, Ferrão IMF distonia muscular, visto que diversos estudos comprovam a sua eficácia, a sua segurança, e a sua capacidade de resolubilidade de sintomas motores e dolorosos1,8. Até 2013, a definição mais aceita de “distonia” era a descrita pelo cientista biomédico C. D. Marsden, a qual alegava que a distonia se tratava de uma síndrome que consistia de contrações musculares firmes, que causavam posturas anormais e/ou movimentos repetitivos. Tal descrição foi aprimorada em 2013 em um Comitê Internacional de Consenso, no qual a distonia foi definida como um distúrbio do movimento em que ocorrem contrações musculares inter- mitentes ou contínuas, gerando posturas e/ou movimentos atípicos e geralmente repetitivos e padronizados2. A distonia pode ser classificada de acordo com o fator etiológico (primária ou secundária), idade em que ocorre sua manifestação (precoce ou tardia) e distribuição corporal: focal, multifocal ou segmentar9. A distonia influencia vários aspectos da qualidade de vida, particularmente aqueles relacionados ao funcionamento físico e social. Os principais aspectos preditivos da qualidade de vida para indivíduos portadores de distonia são o conceito corporal e a depressão3, como conse- quências da baixa autoestima, constrangimento e interação social limitada. Tais elementos, que afetam a diretamente a qualidade de vida dessa população, implicam clinicamente no refina- mento das opções de tratamento e nas metas de tratamento desses pacientes10. O tratamento da distonia muscular é essen- cialmente sintomático. Pacientes com essa condição frequentemente estão suscetíveis à dores intensas nos músculos afetados e à sintomas motores. O uso de relaxante muscular pode ser considerado para o alívio de sintomas em pacientes distônicos. Como opção de trata- mento não farmacológico, a reabilitação física (fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia etc.) também pode ser levada em consideração, podendo promover ganho de controle motor e redução de sintomas dolorosos11. O tratamento farmacológico das distonias não é curativo e sim sintomático; as drogas mais utilizadas são as anticolinérgicas, que têm como função inibir a ação da acetilcolina. A eficácia do arsenal terapêutico disponível para tratar pacientes distônicos é muito variável e limitada, pois deve-se ter em mente as particularidades de cada paciente e a possibilidade da manifestação de efeitos colaterais severos1,9. No entanto, a alternativa de tratamento geral- mente escolhida para a distonia é a aplicação de toxina botulínica, visto que diversos estudos comprovaram a sua eficácia, segurança, e a sua capacidade de resolubilidade de sintomas motores e dolorosos8. Estudos sugeriram também que os efeitos positivos da TXB após o tratamento são encoraja- dores para os pacientes e os ajudam a obter uma perspectiva sobre sua condição. Essa escolha de tratamento se baseia na melhora da qualidade de vida dos pacientes, em consequência à melhora motora e ao alívio das dores2,8. O apoio psicoterápico também é de grande importância para o tratamento desta condição, visto que a atividade muscular involuntária pode piorar de acordo com o estado emocional do indivíduo. Supõe-se então que a habilidade motora e o desempenho funcional estão direta- mente relacionados com o equilíbrio emocional9,11. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 189 Toxina botulínica em distonia e paralisia facial Um estudo realizado com pessoas portadoras de diferentes formas e extensões da distonia listou alguns fatores determinantes para a qualidade de vida de tais indivíduos, como: status de emprego, estado civil, extensão da distonia e imagem corporal, e também constatou que suas interações sociais e funções físicas são comprometidas em detrimento de dor, ansiedade e depressão12. As individualidades de cada caso devem ser fortemente consideradas na elaboração do melhor plano de tratamento; deve-se sempre buscar a alternativa que melhor atenderá as demandas particulares de cada indivíduo, envol- vendo desde o acesso ao tratamento ao poder aquisitivo de cada paciente. Para ilustrar nosso capítulo vamos descrever um caso de distonia tratado com TXB. TERAPIA APLICADA Paciente do sexo feminino, 38 anos, compa- receu à Faculdade de Odontologia da Univer- sidade Federal de Mato Grosso do Sul com queixa de sintomatologia dolorosa na região cervical, dificuldade de deglutição e espasmos musculares nos músculos da face. Durante a anamnese, a paciente afirmou possuir o diagnóstico de distonia muscular “desde que se lembra” e negou histórico familiar desta condição. Além disso, afirmou que os sintomas pioram significativa- mente quando é submetida à alguma situação que provoque estresse e/ou ansiedade. A participante declarou fazer uso de cloridrato de biperideno 2 mg (anticolinérgico), de oito em oito horas, para sanar os espasmos musculares. O uso desse medicamento lhe proporcionava melhora parcial de tal sintoma. Relatou também o uso de meloxican 15 mg (anti-inflamatório não esteroidal) quando havia episódios de dores intensas na região cervical, ambos os medica- mentos possuíam prescrição médica. Ao exame clínico extraoral, notou-se espasmos involuntários dos músculos da face e, na região inferoposterior da cabeça, observou-se hiper- trofia e rigidez muscular, principalmente no músculo trapézio (Figuras 1 e 2). Em relação ao fator etiológico e à distribuição corporal, sua condição classifica-se como distonia idiopática segmentar crânio-cervical. Figuras 1 e 2 – Imagens de paciente portadora de distonia crânio cervical idiopática previamente à aplicação de toxina botulínica. [ 1 ] [ 2 ] 190 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Ferrão Jr. JP, Ferrão IMF Previamente à execução do tratamento proposto e à construção deste relato de caso, o mesmo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. A fim de sanar as dores e os movimentos involuntários na região da face e do pescoço, optou-se pela aplicação de TXB-A, visto que esta, além de proporcionar alívio das dores e dos sintomas motores, também proporciona a melhora da vida social e consequentemente da qualidade de vida do paciente. O esquema posológico utilizado baseou-se na localização da dor, nos músculos em que havia maior frequência de espasmos involuntários, e nos locais de hipertrofia muscular; sendo assim, a dose foi titulada individualmente para a paciente. Ao todo foram pontuados 25 locais de punção para a aplicação da TXB (Figuras 3 e 4), sendo eles: • Seis pontos no músculo frontal; • Três pontos na glabela; • Dois pontos no músculo orbicular dos olhos de cada lado; • Três pontos no músculo esternocleidomas- toideo de cada lado; • Dois pontos no músculo occipital; • Quatro pontos no músculo trapézio. A dosagem total utilizada no tratamento foi de 112,5 unidades. As injeções foram adminis- tradas em cada ponto da seguinte forma: • Músculo frontal: 15 unidades; • Glabela: 7,5 unidades; • Músculo orbicular dos olhos: dez unidades; • Músculo esternocleidomastoideo: 30 unidades; • Músculo occipital: dez unidades; • Músculo trapézio: 40 unidades. Figuras 3 e 4 – Pontos de punção para aplicação da toxina botulínica. [ 3 ] [ 4 ] Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 191 Toxina botulínica em distonia e paralisia facial As devidas recomendações pós-aplicação foram dadas à paciente: nas primeiras quatro horas permanecer em posição vertical, e nas primeiras 24 horasnão massagear ou esfregar o local. A paciente foi chamada para avaliação após duas semanas desde a data da aplicação, visto que o efeito máximo ocorre entre sete e 14 dias, quando uma significativa melhora clínica já pode ser observada. A mesma alegou redução dos episódios de disfagia e grande melhora nas dores com as quais convivia diariamente. Foi constatado durante a avaliação que na região de face houve redução na frequência e amplitude dos espasmos musculares (Figura 5), e na região inferoposterior de sua cabeça observou-se uma menor hipertrofia e rigidez muscular (Figura 6). Quanto às medicações que relatou usar, a paciente cessou o uso do meloxican, que usava para sanar as dores musculares que sentia, mas continuou com o uso do cloridrato de biperideno por tratar-se de uma medicação de uso contínuo. Além da melhora dos sintomas motores e dolorosos, a participante manifestou satisfação com o resulto pelo fato de agora poder realizar tarefas diárias simples como lavar a louça, por exemplo, com mais disposição, pois após a aplicação da TXB a não sentia dor ao realizá-las. Também durante a consulta de retorno, a paciente afirmou não ter tido desconfortos após a aplicação e nem ter sofrido efeitos adversos, demonstrando, assim, que através de uma técnica adequada e cautelosa é possível evitar eventuais riscos e efeitos colaterais provenientes das injeções locais e da própria TXB. Frente ao anteriormente descrito, conclui- -se que, apesar de garantir efeitos paliativos, a aplicação da TXB tem sido, comprovadamente, a escolha de tratamento mais vantajosa e eficiente no tratamento da distonia muscular. A sintomatologia dolorosa e os movimentos musculares involuntários podem ser sanados significativamente com a aplicação da toxina e, consequentemente, garante-se ao paciente a melhoria de sua qualidade de vida. Figuras 5 e 6 – Resultado da paciente portadora de distonia crânio cervical idiopática tratada com toxina botulínica. [ 5 ] [ 6 ] 192 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Ferrão Jr. JP, Ferrão IMF O cirurgião-dentista deve estar apto a lidar com situações clínicas que estão dentro do seu campo de atuação, porém, que não envolvam somente a dentição. A distonia muscular em regiões cervicais e faciais é um exemplo de condição em que o cirurgião-dentista pode intervir desde que este tenha conhecimento das técnicas necessárias. PARALISIA FACIAL E TOXINA BOTULÍNICA O nervo facial (VII par craniano) é responsável pela inervação dos músculos da mímica, pelo tônus em repouso e pela contração voluntária e involuntária em cada hemiface. Esses músculos são responsáveis pelos movimentos faciais e pela expressão da emoção humana. Lesões do nervo facial podem produzir deformidades em graus variáveis, ocasionando distúrbios estéticos e funcionais13-14. O nervo facial, pelo seu percurso no osso temporal através de um canal inextensível, é particularmente susceptível a agressões de várias naturezas. Outro aspecto anatômico de relevo relaciona-se com o tipo de fibras que o nervo veicula tais como fibras eferentes motoras (músculos da mimica facial, músculo tensor do estribo, entre outros), fibras eferentes parassim- páticas (glândulas salivares e lacrimal), fibras aferentes sensitivas (canal auditivo externo e pavilhão auricular) e fibras aferentes gustativas (2/3 anteriores da língua)15. A entidade clínica – paralisia facial periférica (PFP) – é frequente, incluindo a faixa etária pediátrica. Múltiplas patologias, com abordagens e terapêuticas muito diferentes, têm como expressão final a PFP. O diagnóstico mais frequente é o de paralisia facial de Bell (PFB), ou também chamada de paralisia facial periférica primária, correspondendo a cerca de dois terços dos casos. Embora tradicionalmente usado como sinônimos de PFP idiopática, a identificação de DNA do vírus herpes na saliva desses doentes, tem sustentado a hipótese da intervenção patofi- siológica deste agente. Por outro lado, esse é um diagnóstico de exclusão que exige um meticuloso exercício de diagnóstico diferencial16-17. As causas secundárias da paralisia facial periférica são múltiplas, entre elas: • Doenças metabólicas: diabetes mellitus; • Doenças cerebrovasculares: acidente vascular cerebral protuberancial homolateral; • Doenças infecciosas: herpes simples, varicella zoster, parotidite infecciosa, meningite tuber- culuosa e sifilis; • Tumores: neurinoma do acústico, tumores da parótida e linfoma; • Traumatismo: traumatismo crânio-encefálico; • Lesão c i rúrg ica : e xc isão do ângulo ponto-cerebeloso; • Doença imunológica: lúpus eritematoso s istêmico, sarcoidose , s índrome de Guillain-Barré; • Fármacos: linezolide. Pacientes com paralisia facial apresentam características comuns: o lado paralisado tem poucas rugas na região frontal, sulco nasolabial menos evidente, dificuldade/incapacidade de mobilizar a sobrancelha, lagoftalmo (dificuldade de fechar os olhos), queda da comissura labial e supercílio. O lado contralateral responde com reação hipercinética muscular devido à falta de tônus do lado paralisado. Esse desequilíbrio de força vetorial cria os desvios faciais que são observados quando o paciente está em repouso ou ao sorrir18. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 193 Toxina botulínica em distonia e paralisia facial AVALIAÇÃO CLÍNICA A avaliação clínica do paciente com paralisia facial periférica deve ser através do tônus muscular, observando os diferentes aspectos: abolição das rugas frontais, queda da extre- midade da sobrancelha, desvio do nariz em virgula, abolição do sulco nasogeniano, abolição do sulco nasolabial, desvio da comissura labial e bochecha deprimida em saco19. Alguns instrumentos permitem maior objeti- vidade na avaliação e no diagnóstico do paciente, como o sistema de House-Brackmann: I. Normal; II. Disfunção ligeira: pequena deformidade só detectada com inspeção cuidadosa, olho fecha completamente com esforço mínimo, boca tem uma ligeira assimetria com sorriso forçado e não apresenta espasmo ou contratura; III. Disfunção moderada: paralisia evidente, mas não desfigurante, olho fecha completamente, boca com desvio evidente com sorriso forçado e espasmos óbvios; IV. Disfunção moderada a grave: não há quase movimento perceptível do lado afetado, olho não fecha completamente e há sinal de Bell, boca tem apenas movimento ligeiro e assimétrico; V. Paralisia total: não há qualquer movimento, espasmo ou contratura. TRATAMENTO O tratamento da paralisia facial periférica é complexo e envolve diferentes métodos e técnicas, sendo eles: reeducação e terapêutica farmacológica; e, após a fase aguda, inclui enxertos de nervos, transferências musculares, retalhos microcirúrgicos, e outras formas de tratamentos que não conseguem dar ao paciente o equilíbrio desejado para a face20-22. Além desses métodos, a associação de técnicas de suspensão ou ressecção cutânea como ritidoplastia, blefaro- plastia, correção de lagoftalmia, é fundamental para melhorar resultado estético23-24. Além dos métodos cirúrgicos de controle de hipercinesia, há possibilidade de utilizar algumas alternativas que estimulam a melhora do paciente, por exemplo: • Farmacoterapia: as orientações interna- cionais para o tratamento farmacológico de acordo com a American Academy of Neurology são: a. corticoterapia: deve ser iniciada precocemente com prednisolona (1 mg/kg/dia durante dez dias); b. aciclovir: recomendado em grau mais avançado; iniciar precocemente (400 mg cinco vezes dia, ou 800 mg três vezes ao dia, durante dez dias). O antiviral deve ser feito em associação com o corticosteroide25. • Proteção ocular:proteção da córnea e da visão com uso de óculos escuros para proteção dos raios solares e da ação traumática do vento. A lubrificação ocular deve ser feita com colírio lubrificante e lágrimas artificiais26. • Reeducação neuromuscular: visa suprimir a atividade muscular anormal que interfere com a função facial. Os tratamentos são ajustados com os sinais e sintomas de disfunção neuro- muscular específico de cada paciente27. • Termoterapia: o calor visa manter a vascu- larização e as trocas celulares enquanto se aguarda o influxo nervoso, e, na fase de recuperação e hipertonia, o calor promove o relaxamento muscular25. 194 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Ferrão Jr. JP, Ferrão IMF • Laserterapia: terapia coadjuvante a terapia convencional; induz o metabolismo do tecido nervoso lesado a produzir proteínas favoráveis ao seu crescimento. O tratamento com procedimentos cirúrgicos para correção da paralisia facial produz sequelas estéticas, tais como: cicatrizes, hipoestesia, hiperestesia, parestesias, paresia parcial, assimetria, correção incompleta e recorrências, além de múltiplas internações. Diante disso, a TXB tem sido uma alternativa de tratamento muito utilizada e com excelentes resultados28. TOXINA BOTULÍNICA A toxina botulínica oferece a possibilidade de provocar inibição muscular química rever- sível, melhorar a assimetria, reduzir efeitos adversos advindos do mau posicionamento de reinervações cirúrgicas, e, dessa forma, pode ser utilizada como teste terapêutico antes de alterar definitivamente a função muscular por meio de neurectomias e miectomias. Além disso, a aplicação é minimamente invasiva, podendo ser realizada em ambiente ambulatorial, com anestésico tópico, e apresenta raros e poucos efeitos colaterais. Os estudos da aplicação de TXB em paralisia facial apresentam alto índice de êxito no alívio temporário dos sintomas indepen- dentemente da sua etiologia29. A TXB atua bloqueando a liberação de acetil- colina no terminal pré-sináptico através da desativação das proteínas de fusão, impedindo que a acetilcolina seja lançada na fenda sináptica e, dessa forma, não permitindo a despolari- zação do terminal pós-sináptico e bloqueando, assim, a contração muscular. Esse medica- mento, por provocar uma desnervação química reversível sobre a placa motora, atua reduzindo a atividade muscular tônica ou física excessiva, levando a uma diminuição da espasticidade que, muitas vezes, associada à rigidez tecidual e ao mecanismo de co-contração, interferem na execução do movimento voluntario em pacientes lesados23. A TXB não corrige deformidades osteoarti- culares e, dessa forma, para que os efeitos de sua aplicação sejam efetivos, é importante que as articulações envolvidas na área do bloqueio bioquímico estejam livres de deformidades e limitações. Esse é, geralmente, um critério importante na avaliação da indicação desta terapia medicamentosa. Em pacientes nos quais se observam restrições na amplitude de movimentação articular, o procedimento clínico mais indicado é a correção cirúrgica ortopédica. A aplicação da TXB acontece de forma injetável, por meio de técnicas que variam no que se refere ao número de injeções por músculos, dosagem e combinações de músculos injetados. A dose total é, geralmente, distribuída em vários pontos para abranger um maior número de placas mioneurais. As doses e os volumes são determi- nados com base nas características dos músculos que irão receber o medicamento19. Os efeitos clínicos da aplicação da TXB começam a ser evidenciados no período de um a três dias após a aplicação, sendo que os maiores efeitos são observados na segunda e na quarta semana após o procedimento. A duração dos efeitos após a aplicação varia de três a seis meses, dependendo da resposta à aplicação, do tamanho do músculo, da atividade muscular e de fatores individuais de cada paciente. As contraindicações da aplicação da TXB podem ser absolutas ou relativas. No primeiro Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência | 195 Toxina botulínica em distonia e paralisia facial grupo, estão os pacientes com alergia conhecida ao medicamento, infecções ou inflamações no local do bloqueio bioquímico. O segundo grupo inclui aqueles portadores de doenças neuromus- culares associadas à espasticidade, coagulopatia associada, rejeição ou falta de colaboração do paciente com relação ao procedimento e ao uso de potencializadores, como aminoglico- sídeos ou outras drogas que podem interferir na transmissão neuromuscular. O uso da TXB em gestantes e lactantes não é recomendado por falta de informação sobre possíveis efeitos negativos nestas condições. Por fim, a aplicação da TXB é contraindicada em músculos nos quais existem sinais de desnervação. Os efeitos colaterais são raros e poucos, e incluem reações cutâneas, com a formação de equimoses ou hematomas nos locais da aplicação da injeção, dor nos pontos de aplicação, edema, infecção local e manifestação de fraqueza muscular previamente mascarada pela presença de espasticidade16. A maioria dos estudos demonstram que os pacientes relataram que a intensidade das alterações após a aplicação foi de grau leve ou foram muito discretas. A dose aplicada, a gravidade, a paralisia e a hipercinesia podem ter influência direta sobre a presença de eventos adversos. Além disso, nenhum dos pacientes consideraram que os eventos adversos fossem tão importantes quando comparados ao resultado estético obtido, a ponto de solicitarem a correção da assimetria da região frontal com TXB16. MELHORA NA AUTOESTIMA O tratamento do paciente com paralisia facial deve ser iniciado com avaliação clínica rigorosa, seguida de associação de técnicas especificas para cada paciente, além de terapia domiciliar, fonoaudiologia e fisioterapia. Sendo assim, os pacientes conseguirão adaptar-se aos resultados dos tratamentos, para restauração da função e expressão facial no nível mais alto possível (Figuras 7 a 9). Figuras 7 a 9 – Antes e depois de paciente com paralisia facial tratada com toxina botulínica. 196 | Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência Ferrão Jr. JP, Ferrão IMF Referências 1. Sposito MM. Toxina botulínica tipo A: propriedades farmacológicas e uso clínico. Acta Fisiátr 2004;11(1):07-44. 2. Camargo CHF, Teive HAG. Evolution of the concept of dystonia. Arq Neurop- siquiatr 2014;72(7):559-61. 3. Glogau RG. Review of the use of botulinum toxin for hyperhidrosis and cosmetic purposes. 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As respostas teciduais dependem, fundamentalmente, dos ciclos biológicos de formação de colágeno, elastina e vasos sanguíneos, particulares de cada indivíduo. Por isso o respeito ao tempo é tão importante. Por fim, a integração com todas as especialidades da Odontologia, em via de mão dupla, a partir do entendimento de que as estruturas intraorais suportam os tecidos faciais, bem como tecidos faciais estruturados e bem posicionados facilitam o alcance de resultados intraorais mais assertivos. Este livro traz muito desse conceito da HOF para você. Profissionais experientes, integrados, comprometidos com a ciência e a clínica, desejosos de que você possa aprender cada vez mais e se encantar com o universo da Harmonização Orofacial. Harmonização Orofacial: uma abordagem integrada e progressiva, comprometida com a saúde e com a ciência