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<p>Prática e manejo da saúde</p><p>mental na infância e</p><p>adolescência</p><p>Prof. Augusto de Bragança</p><p>Descrição</p><p>Você conhecerá o campo da saúde mental na infância e adolescência</p><p>por meio da construção histórica dessa rede de cuidado, assim como</p><p>dos diversos modos de intervenção clínico-institucionais nessa área.</p><p>Propósito</p><p>O conhecimento sobre saúde mental infantojuvenil e intervenções</p><p>associadas oferece ferramentas teórico-práticas estratégicas para uma</p><p>potente atuação clínica nesse campo, seja no âmbito público ou</p><p>privado.</p><p>Objetivos</p><p>Módulo 1</p><p>Saúde mental infantojuvenil: considerações</p><p>históricas</p><p>Identificar aspectos fundamentais no processo histórico de</p><p>constituição do campo da saúde mental da infância e adolescência</p><p>no Brasil e no exterior.</p><p>Módulo 2</p><p>Crianças e adolescentes nos serviços de</p><p>atenção psicossocial</p><p>Analisar a dinâmica institucional inerente aos processos estratégicos</p><p>de produção de cuidado no cenário da atenção psicossocial.</p><p>Módulo 3</p><p>Elementos discriminatórios e saúde mental</p><p>infantojuvenil</p><p>Reconhecer a incidência de elementos discriminatórios e</p><p>racializantes na construção sociocultural das práticas de cuidado</p><p>infantojuvenis.</p><p>Introdução</p><p>A área da saúde mental infantojuvenil tem grande importância na</p><p>agenda das políticas públicas de saúde no Brasil. Sua recente</p><p>entrada na agenda institucional da saúde mental, no início do</p><p>século XX, anuncia um vasto campo de investigação, de</p><p>pesquisas e desenvolvimento de ações. O caráter multidisciplinar</p><p>de sua constituição o torna um campo aberto às intervenções de</p><p>profissionais de diversas áreas: psicologia, enfermagem,</p><p>psiquiatria, serviço social, terapia ocupacional etc.</p><p></p><p>Sua prática e seu manejo são atividades de grande desafio,</p><p>considerando a complexidade do modelo de atenção</p><p>psicossocial infantojuvenil, fundamentado na construção de</p><p>práticas de cuidado no território, substitutivas ao modelo</p><p>centrado no hospital psiquiátrico. Esse cenário complexo diz</p><p>respeito às nuances do cenário sociopoliticocultural do Brasil,</p><p>que atravessa diretamente as maneiras de percepção sobre a</p><p>infância e a adolescência.</p><p>Conhecer as linhas constitutivas dessas categorias torna-se uma</p><p>condição para melhor compreendermos a atualidade da temática,</p><p>assim como nos permite uma entrada no campo de atuação de</p><p>maneira consistente e implicada no entendimento da infância e</p><p>adolescência em sua integralidade.</p><p>1 - Saúde mental infantojuvenil: considerações históricas</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car aspectos fundamentais no processo</p><p>histórico de constituição do campo da saúde mental da infância e adolescência no Brasil e no</p><p>exterior.</p><p>Ligando os pontos</p><p>Atualmente, podemos observar uma mudança social e cultural em</p><p>relação às pessoas que apresentam intenso sofrimento psíquico ou</p><p>algum transtorno mental, entre elas crianças e adolescentes. Esses</p><p>indivíduos têm a sua cidadania garantida por uma política de saúde</p><p>mental que fomenta práticas de cuidado voltadas para o território, na</p><p>aposta do convívio social e circulação pela cidade. Mas você sabia que</p><p>nem sempre foi assim?</p><p>Maria tem 80 anos e cuida do seu neto João, de 15 anos, uma vez que</p><p>sua filha, mãe de João, trabalha em Belo Horizonte e retorna para casa</p><p>uma vez ao mês. Eles moram em Barbacena, cidade onde existiu um</p><p>grande hospital psiquiátrico, conhecido como Colônia, durante grande</p><p>parte do século XX.</p><p>João passou a ser acompanhado em um ambulatório de saúde mental</p><p>da rede pública de saúde por indicação da escola, pois estava sempre</p><p>cabisbaixo, desanimado e afastado dos colegas. Ao longo do</p><p>tratamento com a psicóloga, João apresentou uma melhora</p><p>significativa, podendo elaborar o sentimento de tristeza que lhe atingia</p><p>por conta do tempo que passava afastado da mãe.</p><p>O início do acompanhamento de João foi marcado, no entanto, por uma</p><p>grande resistência de Maria, sua avó. Ao longo das primeiras entrevistas</p><p>com a profissional que viria a atender João, a avó relatava que tinha</p><p>muito medo de que o neto estivesse com alguma “doença mental” e</p><p>fosse internado.</p><p>Maria lembrou-se de que, ao longo de sua vida em Barbacena, teve um</p><p>amigo e uma prima que foram internados e lá permaneceram durantes</p><p>muitos anos, não conseguindo retornar ao convívio social. Esse amigo</p><p>foi internado por conta do uso abusivo de bebida alcoólica enquanto sua</p><p>prima havia sido internada por um motivo que lhe espanta até hoje:</p><p>havia perdido a virgindade antes do casamento e foi considerada uma</p><p>“degenerada” pela família. Maria teve poucas notícias dessa prima, que</p><p>acabou falecendo no hospital, já idosa.</p><p>Maria compartilhava essas lembranças com a psicóloga de João</p><p>comovidamente, e uma dessas lembranças não lhe saía da memória: a</p><p>de que nesse mesmo hospital havia uma ala onde estavam internadas</p><p>cerca de 30 crianças, algumas permaneciam nuas, em sua maioria</p><p>muito magras e abatidas, perambulando pelos corredores do hospital.</p><p>Maria foi tomada por essas recordações oriundas de um passado não</p><p>tão distante e que habitam ainda nos dias hoje o imaginário social em</p><p>questões relacionadas ao convívio com o sofrimento psíquico e a</p><p>loucura.</p><p>Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos</p><p>ligar esses pontos?</p><p>Questão 1</p><p>No relato de caso trazido, Maria resgata uma lembrança muito viva</p><p>em sua memória: o cenário de exclusão e segregação produzido</p><p>pela lógica manicomial. O hospital em questão, cuja experiência foi</p><p>relatada pela jornalista Daniela Arbex no livro Holocausto brasileiro</p><p>– genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil, passou a ter</p><p>o seu modo de funcionamento questionado e modificado a partir da</p><p>década de 1980. A qual movimento você considera que podemos</p><p>atribuir esse questionamento?</p><p>Parabéns! A alternativa B está correta.</p><p>O movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira inicia-se no final da</p><p>década de 1970 em prol da superação da lógica manicomial</p><p>presente até então no tratamento das pessoas em sofrimento</p><p>psíquico. Ao longo das últimas décadas, a luta antimanicomial</p><p>A Movimento das Diretas Já.</p><p>B Movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira.</p><p>C Movimento da Redemocratização.</p><p>D Movimento da Anistia Política.</p><p>E Movimento da Psicoterapia Institucional.</p><p>segue afirmando o desafio da construção de outros modos de</p><p>convivência e relação com loucura.</p><p>Questão 2</p><p>Diante do início do tratamento do neto João, Maria ficou receosa</p><p>que ele ficasse internado, assim como as crianças que estavam no</p><p>hospital psiquiátrico de sua cidade quando era mais nova. Como</p><p>você identifica o processo, no campo da saúde mental, que</p><p>sofreram tais crianças e demais pacientes internados ao longo dos</p><p>anos?</p><p>Parabéns! A alternativa C está correta.</p><p>O processo de institucionalização é entendido como efeito das</p><p>práticas de exclusão e segregação características do modelo</p><p>manicomial. Nesse cenário, a pessoa é retirada do seu convívio</p><p>A</p><p>Ressocialização, no qual os pacientes conviviam</p><p>apenas com os demais pacientes internados.</p><p>B</p><p>Hospitalização, no qual os pacientes ficavam a</p><p>maior parte do tempo em casa e tinham internações</p><p>pontuais.</p><p>C</p><p>Institucionalização, no qual os pacientes eram</p><p>retirados do convívio social e familiar, sendo a</p><p>internação o modelo único e contínuo de</p><p>tratamento.</p><p>D</p><p>Desospitalização, no qual modelos de cuidado</p><p>direcionados para o território passaram a ser</p><p>desenvolvidos.</p><p>E</p><p>Institucionalização, no qual os pacientes ficavam a</p><p>maior parte do tempo em casa e tinham internações</p><p>pontuais.</p><p>social e familiar, perdendo os vínculos afetivos e sofrendo um</p><p>processo de cronificação do sofrimento psíquico.</p><p>Questão 3</p><p>O modelo da atenção psicossocial substituiu a lógica manicomial</p><p>vigente ao longo do século XX. No cenário inicial de tratamento, ao</p><p>longo das etapas do acolhimento e encaminhamento, o profissional de</p><p>saúde mental deve oferecer uma escuta qualificada, que possibilite</p><p>àquelas pessoas que acompanham a criança ou o adolescente trazerem</p><p>as suas expectativas ou receios sobre o processo. Diante do início do</p><p>tratamento do neto no ambulatório,</p><p>e histórico, relacionando as questões concernentes a</p><p>esse campo não só à família, mas também à sociedade da qual fazem</p><p>parte. Essas considerações são oportunamente resgatadas quando</p><p>consideramos a necessidade de avanços no debate acerca do racismo e</p><p>da saúde mental, mais especificamente ainda no campo infantojuvenil.</p><p>Estudos como o de Ignacio e Mattos (2019) apontam as tímidas</p><p>movimentações no setor da saúde mental sobre essa temática, o que</p><p>colocaria em questão uma real efetividade dos princípios citados que</p><p>norteariam as políticas públicas de saúde. Avanços como o</p><p>reconhecimento do racismo e do racismo institucional como</p><p>determinantes sociais no campo da saúde foram inscritos na agenda</p><p>institucional por meio do texto da portaria da Política Nacional de Saúde</p><p>da População Negra (PNSIPN).</p><p>Antes disso, houve uma pequena inclusão da temática racial na III</p><p>Conferência de Saúde Mental, em 2001, quando foram apresentados</p><p>estudos que apontavam para a necessidade de pesquisas e ações que</p><p>investigassem os impactos do racismo na saúde mental da população</p><p>negra e indígena. Em 2010, na IV Conferência de Saúde Mental, também</p><p>houve uma referência ao racismo e aos impactos subjetivos na</p><p>população negra.</p><p>Curiosidade</p><p>Em 2014 com a criação do Grupo de Trabalho Racismo e Saúde Mental</p><p>no âmbito do Ministério da Saúde, efetiva-se uma direção institucional</p><p>de maior consistência na problematização dos efeitos do racismo no</p><p>registro da saúde mental da população negra.</p><p>A noção de interseccionalidade, entendida como a sobreposição de</p><p>diferentes formas opressão, nos auxilia no desafio de tomarmos os</p><p>sujeitos em sua dimensão integral. Ela é estratégica, pois traz à tona as</p><p>diferentes práticas discriminatórias que potencializam o sofrimento</p><p>psíquico das pessoas vítimas de opressões.</p><p>Portanto, é imprescindível que a clínica da saúde mental infantojuvenil</p><p>esteja afinada com essa pauta ainda em construção no panorama da</p><p>saúde mental, sendo compreendida como um processo em permanente</p><p>invenção. Torna-se um compromisso ético para os profissionais da</p><p>saúde mental que esse campo de atuação seja compreendido em toda</p><p>sua complexidade, inerente à desafiadora realidade sociopolítica</p><p>brasileira.</p><p>Os desa�os da promoção de saúde no</p><p>combate à discriminação</p><p>Compreenda neste vídeo como a clínica da saúde mental infantojuvenil</p><p>deve estar alinhada com a pauta ainda em construção de combate ao</p><p>racismo, considerando a complexa realidade sociopolítica brasileira no</p><p>panorama da saúde mental.</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p></p><p>O fenômeno do racismo no Brasil está intimamente ligado às</p><p>concepções de cunho eugenista fortemente presentes nos debates</p><p>acadêmicos e científicos desde o início do século XX. Uma</p><p>ideologia característica dessa época presumia que a miscigenação</p><p>da população brasileira seria importante para a formação de uma</p><p>“nação brasileira”, homogênea e associada a uma imagem</p><p>europeia. Como ficou conhecida tal ideologia?</p><p>Parabéns! A alternativa C está correta.</p><p>A ideologia do branqueamento é um exemplo de como o</p><p>conhecimento científico pode fomentar práticas discursivas e não</p><p>discursivas de cunho racista. Segundo essa ideologia, o</p><p>branqueamento da população e o desaparecimento fenotípico das</p><p>populações indígena e negra seriam determinantes para a</p><p>formação de uma “identidade brasileira”.</p><p>Questão 2</p><p>Ao longo do século XX, observamos que a noção de infância passa</p><p>por diferentes modulações e diferenciações produzidas por</p><p>discursos direcionados a essa categoria. Na primeira metade do</p><p>referido século, podemos destacar o surgimento da nomenclatura</p><p>“menor” referindo-se à infância pobre e desassistida. Tal fato</p><p>inaugura qual tipo de processo relacionado a essa categoria?</p><p>A Ideologia da identidade nacional</p><p>B Ideologia da raça brasileira</p><p>C Ideologia do branqueamento</p><p>D Ideologia da miscigenação</p><p>E Ideologia europeia</p><p>Parabéns! A alternativa E está correta.</p><p>A nomenclatura “menor” definida por juristas no início do século</p><p>passado marca o início do processo de judicialização da criança</p><p>pobre e desassistida. Essa noção, inicialmente restrita ao campo</p><p>jurídico, ultrapassa tal limite, inserindo-se no imaginário popular e</p><p>corroborando no processo de produção desigual das categorias de</p><p>infância.</p><p>Considerações �nais</p><p>O campo da saúde mental infantojuvenil é composto por uma</p><p>multiplicidade de práticas discursivas e não discursivas. Por ser um</p><p>campo complexo, atravessado por saberes das mais diversas áreas,</p><p>identificamos a importância de analisarmos a incidência dessas linhas</p><p>constitutivas nas práticas de intervenção e nos diferentes manejos e</p><p>modos de cuidado direcionados à infância e à adolescência.</p><p>A infância, como alvo de intervenção do saber psiquiátrico, e sua</p><p>localização estratégica no cenário social foi destacada como um ponto</p><p>essencial no próprio processo de consolidação desse saber no campo</p><p>da assistência. No Brasil, persistiu durante a maior parte do século XX</p><p>A Medicalização</p><p>B Institucionalização</p><p>C Psiquiatrização</p><p>D Reeducação</p><p>E Judicialização</p><p>uma política de cunho tutelar e assistencialista direcionada para esse</p><p>público. Mudanças significativas ocorreram apenas no final do século</p><p>passado, quando o país passou pelo processo de redemocratização,</p><p>culminando numa nova constituição e na formulação do Sistema Único</p><p>de Saúde (SUS).</p><p>Essas mudanças proporcionaram as bases para o início do processo da</p><p>Reforma Psiquiátrica Brasileira, que já se iniciara na luta antimanicomial</p><p>disparada pelos movimentos sociais no Brasil, com uma forte influência</p><p>de experiências reformistas e de desospitalização vivenciadas em</p><p>países como França, Itália e Inglaterra, desde o período pós-guerra.</p><p>A peculiaridade desse processo no Brasil é evidenciada pelo combate às</p><p>diferentes formas de racismo e discriminação nos registros social,</p><p>cultural e institucional. Vimos que a garantia de um acesso universal</p><p>aos serviços de saúde e o respeito à integralidade dos usuários passa</p><p>necessariamente pelo combate aos mecanismos do racismo. Dessa</p><p>forma, apresentamos o multifacetado e desafiador campo de</p><p>problematização da prática e manejo da saúde mental na infância e</p><p>adolescência.</p><p>Explore +</p><p>Confira as indicações que separamos especialmente para você!</p><p>Pesquise e leia o artigo Controle e medicalização da infância, de Maria</p><p>Aparecida Moysés, publicado na revista Desidades, n. 1, 2013.</p><p>Assista ao filme Os incompreendidos, do diretor François Truffaut</p><p>(1959), sobre a relação da infância com as instituições disciplinares.</p><p>Conheça um pouco da obra de Fernand Deligny sobre a sua vida ao lado</p><p>de crianças e adolescentes autistas: O Aracniano e outros textos,</p><p>publicado pela Editora N-1 em 2015.</p><p>Referências</p><p>ALVES NETO, A. de B. Saúde mental e práticas de resistência: vivendo</p><p>encruzilhadas em Bonneuil. Curitiba: Appris, 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.608, de 3 de agosto de 2004.</p><p>Constitui Fórum Nacional sobre Saúde Mental de Crianças e</p><p>Adolescentes. Brasília, DF: MS, 2004.</p><p>BULCÃO, I. A produção de infâncias desiguais: uma viagem na gênese</p><p>dos conceitos “criança” e “menor”. In: NASCIMENTO, M. L. (org.).</p><p>Pivetes: a produção de infâncias desiguais. Niterói, RJ: Intertexto, 2002.</p><p>CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense</p><p>Universitária, 2006.</p><p>COOPER, D. Psiquiatria e antipsiquiatria. Paris: Editons du Seuil, 1970.</p><p>CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP; CONSELHOS REGIONAIS DE</p><p>PSICOLOGIA; CENTRO DE REFERÊNCIA TÉCNICA EM PSICOLOGIA E</p><p>POLÍTICAS PÚBLICAS. Referências técnicas para atuação de</p><p>psicólogas(os) no CAPS - Centro de Atenção Psicossocial. Brasília, DF:</p><p>CFP, 2022.</p><p>ESQUIROL, J. E. D. De l’idiotie. [S.l.: s.n.], 1840.</p><p>FOUCAULT, M. História da loucura: na Idade Clássica. São Paulo:</p><p>Perspectiva, 1978.</p><p>FOUCAULT, M. As verdades e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau,</p><p>1996.</p><p>FOUCAULT, M. O poder psiquiátrico. São Paulo: Martins Fontes, 2006.</p><p>GUATTARI, F. Psicanálise e transversalidade:</p><p>ensaios de análise</p><p>institucional. Aparecida, SP: Ideias e Letras, 2004.</p><p>GUATTARI, F.; ROLNIK, S. Micropolítica: cartografias do desejo.</p><p>Petrópolis, RJ: Vozes. 1986.</p><p>IGNACIO, M. V. M.; MATTOS, R. A. O Grupo de Trabalho Racismo e Saúde</p><p>Mental do Ministério da Saúde: a saúde mental da população negra</p><p>como questão. Saúde em Debate, v. 43, n. spe8, p. 66-78, 2019.</p><p>LOBO, L. Os infames da história: pobres, escravos e deficientes no</p><p>Brasil. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.</p><p>MANNONI, M. Educação impossível. Rio de Janeiro: F. Alves, 1977.</p><p>MUNANGA, K. Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude</p><p>e branqueamento no Brasil. In: CARONE, I.; BENTO, M. A. S. Petrópolis,</p><p>RJ: Vozes, 2014.</p><p>SAMPAIO, E. O. Racismo institucional: desenvolvimento social e</p><p>políticas públicas de caráter afirmativo no Brasil. Interações: Revista</p><p>Internacional de Desenvolvimento Local, v. 4, n. 6, p. 77-83, 2003.</p><p>SEGUIN, E. Traitement moral, hygiène et éducation des idiots... [S.l.:</p><p>s.n.], 1846.</p><p>TOSQUELLES, F. Uma política da loucura. Revue Chiméres, n. 19, 1991.</p><p>Material para download</p><p>Clique no botão abaixo para fazer o download do</p><p>conteúdo completo em formato PDF.</p><p>Download material</p><p>O que você achou do conteúdo?</p><p>Relatar problema</p><p>javascript:CriaPDF()</p><p>mesmo não sendo um caso de alta</p><p>gravidade, Maria remeteu-se a uma experiência de sua vida, que a</p><p>deixou insegura. A partir desse cenário, de que forma você atuaria,</p><p>como integrante da equipe do ambulatório, no acolhimento a esse</p><p>familiar?</p><p>Digite sua resposta aqui</p><p>Chave de resposta</p><p>Como integrantes de uma equipe de serviço substitutivo ao</p><p>manicômio, por exemplo, um ambulatório de saúde mental</p><p>ou um CAPSi, devemos promover ações elucidativas,</p><p>apontando que ainda habita o imaginário social a ideia de</p><p>que o lugar da loucura é o confinamento. É preciso afirmar</p><p>que, atualmente, a internação em momentos de crise é</p><p>apenas uma entre diversas outras estratégias de cuidado,</p><p>que serão empreendidas no território, em articulação com</p><p>outros setores, incluindo equipe, familiares e o próprio</p><p>usuário.</p><p>A psiquiatrização da infância</p><p>Resgatar a dimensão histórica da noção de infância é fundamental para</p><p>nosso campo investigativo, pois traz à tona os elementos</p><p>circunstanciais que fizeram emergir essa área de cuidado que</p><p>desejamos delimitar e melhor intervir. Foucault (2006) nos mostra que a</p><p>relação entre psiquiatria e infância, oriunda do século XIX, foi</p><p>estratégica na difusão do saber-poder psiquiátrico. A psiquiatrização da</p><p>infância surge de maneira curiosa, se nos precipitarmos entendendo que</p><p>esse processo se desenvolveria a partir da figura da criança considerada</p><p>louca.</p><p>Vamos acompanhar como esse processo se construiu ao longo do</p><p>tempo. Confira!</p><p>Criança x loucura</p><p>A relação constitutiva entre loucura e infância era pouco</p><p>importante nas pesquisas diagnósticas da época. Essa figura</p><p>só surgiu no final do século XIX, por volta de 1880, a partir de</p><p>ações do pioneiro médico e cientista francês Jean-Martin</p><p>Charcot. Segundo Foucault (2006), as primeiras crianças que</p><p>figuram no dossiê da história da psiquiatria eram atendidas por</p><p>Charcot, juntamente com seus genitores, em geral famílias da</p><p>nobreza europeia. Portanto, a entrada dessa categoria nos</p><p>dossiês psiquiátricos acontece tardiamente, mediante</p><p>consultas particulares.</p><p>Início da psiquiatrização</p><p>Acontece com a figura da criança diagnosticada como</p><p>“imbecil”, “idiota”, que viria a ser definida como “retardada”,</p><p>categoria essa que, desde as primeiras décadas do século XIX,</p><p>já era identificada como não pertencente à loucura. Logo, é a</p><p>partir da criança não louca que se inicia a psiquiatrização da</p><p>infância e a consequente expansão do poder psiquiátrico.</p><p>Mas como se deu esse processo aparentemente paradoxal de</p><p>psiquiatrização da infância sem a figura da criança louca? Foucault</p><p>(2006) apresenta duas formas de entendimento desse processo. Vamos</p><p>entendê-las!</p><p></p><p>Construção da categoria de idiotia ou de imbecilidade e sua progressiva</p><p>distinção em relação à loucura.</p><p></p><p>Distinção entre o “idiota” e a criança “retardada”.</p><p>A primeira proposta é de natureza teórica e foi compreendia a partida da</p><p>pesquisa de Foucault que se baseia em textos médicos e tratados</p><p>nosográficos, que mostram que até o fim do século XVIII a idiotia ainda</p><p>não possuía nenhuma característica que a distinguia da noção de</p><p>loucura em geral.</p><p>A idiotia seria então um não desenvolvimento, algo permanente, uma</p><p>vez que o “idiota” não evoluiu. Essa noção de desenvolvimento</p><p>elaborada pelo psiquiatra francês Jean-Étienne Dominique Esquirol na</p><p>obra De l’idiotie, de 1820, é tida por Foucault (2006) como simplista, por</p><p>considerar que o desenvolvimento era algo que se tinha ou não.</p><p>A segunda proposta originou-se a partir da década de 1840, com o</p><p>médico e educador francês Édouard Seguin, na obra Traitement moral,</p><p>hygiène et éducation des idiots... (1846), em que distingue o “idiota” e a</p><p>criança “retardada”. O “idiota” apresentaria uma interrupção (e não uma</p><p>ausência) no desenvolvimento, e a criança “retardada” não teria o</p><p>desenvolvimento interrompido, mas sim lentificado em relação às</p><p>crianças de sua idade.</p><p>O desenvolvimento para Seguin, ao contrário do que pensava Esquirol,</p><p>não era algo do qual seríamos dotados ou não, mas sim um processo</p><p>que afeta a vida orgânica e psicológica, de ordem contínua e temporal;</p><p>logo, presente em todos. Essa categoria em comum produz uma noção</p><p>estratégica para a difusão do poder psiquiátrico: a norma.</p><p>O desenvolvimento pode ser entendido como uma norma que orienta</p><p>os modos de vida. A partir disso, surge uma dualidade normativa: a</p><p>idiotia é medida em relação a essa norma estabelecida pelo adulto,</p><p>que funciona como o ponto real e ideal de conclusão do</p><p>desenvolvimento; por outro lado, a normatividade em que o indivíduo</p><p>com deficiência se encontra é definida com base em uma média de</p><p>desenvolvimento infantil ou da maioria das crianças, que define a</p><p>média de velocidade de desenvolvimento.</p><p>Surge então a noção de anomalia na infância, na qual as categorias de</p><p>idiotia e retardo estariam associadas à “criança anormal”. Portanto,</p><p>mediante a captura da noção de anomalia que tem início a difusão do</p><p>poder psiquiátrico. Segundo Lobo (2008), a transparência da norma na</p><p>infância ofereceu a consistência necessária para a expansão das</p><p>práticas de normalização ao longo das mais diversas etapas da vida e</p><p>dos processos sociais. Curiosamente, apesar do esforço empreendido</p><p>pelos médicos na tarefa de distinguir teoricamente as categorias da</p><p>loucura daquelas da idiotia e do retardo, o que ocorria no registro</p><p>institucional era um compartilhamento do espaço psiquiátrico.</p><p>A psiquiatrização da infância</p><p>Compreenda neste vídeo a evolução histórica da institucionalização da</p><p>criança e da consideração de normalidade, loucura e idiotia.</p><p></p><p>Institucionalização da infância e o</p><p>saber psiquiátrico</p><p>Antes do século XIX, o cenário recorrente nas casas de internação era a</p><p>presença de pacientes enquadrados numa categoria mais ampliada de</p><p>“imbecilidade”, havendo crianças nesse grupo. A partir da terceira</p><p>década do século XIX, podemos identificar uma transferência das</p><p>crianças para instituições de surdos-mudos, processo que se tornou</p><p>possível a partir da elaboração teórica no campo da medicina das</p><p>categorias de “idiotia” e “retardo”. Nesse novo destino institucional, o</p><p>tratamento que se realizava era de cunho pedagógico.</p><p>Esse processo se dá a partir da definição teórica elaborada por Seguin</p><p>de que a idiotia não seria entendida como uma doença mental. Tem</p><p>início então esse movimento de abertura nos hospícios da época de</p><p>alas infantis, voltadas para a assistência às categorias de “debilidade”,</p><p>“idiotia” e “epilepsia”.</p><p>Logo, podemos identificar esse recorte histórico da segunda metade do</p><p>século XIX como o período em que a figura da criança inserida na</p><p>categoria da “idiotia” passa a fazer parte do cenário asilar. Contribui</p><p>também para esse movimento uma decisão governamental de que a Lei</p><p>de 1838, que regulamentava as condições de internamento na França,</p><p>indicava que essa prática era também direcionada para aqueles</p><p>diagnosticados na categoria de idiotia.</p><p>Outro acontecimento importante para essas condições de internação</p><p>conjunta dos alienados e dos “idiotas” dizia respeito à organização do</p><p>ensino primário da época. No cenário de um capitalismo emergente, era</p><p>necessário um contingente de mão de obra operária cada vez maior.</p><p>Para que os adultos estivessem liberados para o trabalho, as escolas</p><p>primárias passam a ter a presença cada vez mais maciça de um olhar</p><p>médico atento às crianças inseridas na categoria de idiotia ou retardo, a</p><p>fim de que fossem identificadas aquelas crianças que demandariam um</p><p>cuidado especial e que poderiam afastar os responsáveis do ambiente</p><p>de trabalho.</p><p>A partir desse momento é construída uma estratégica aliança entre os</p><p>saberes médico e pedagógico, um movimento que atravessou os</p><p>séculos e sustenta no contemporâneo um conjunto de práticas</p><p>discursivas e não discursivas direcionadas ao campo da infância e da</p><p>adolescência.</p><p>Quantas vezes nos deparamos, em serviços de saúde mental, com</p><p>demandas por uma avaliação diagnóstica oriundas da escola? Quantas</p><p>crianças já chegam para o atendimento com</p><p>uma suspeita de</p><p>diagnóstico levantada pela própria equipe escolar? Resgatar a</p><p>emergência do encontro desses campos de saber se torna, portanto,</p><p>uma importante ferramenta para problematizarmos as questões do</p><p>nosso tempo.</p><p>Retornando ao nosso percurso histórico, após um movimento teórico de</p><p>diferenciação entre a loucura e as categorias de retardo e idiotia, haverá</p><p>novamente uma aproximação delas, em virtude desse movimento</p><p>ampliado de internação. Passam, então, a ser englobadas por uma</p><p>noção maior de “alienação mental”. O surgimento dessa noção</p><p>possibilitou a efetivação das práticas de internação das crianças nos</p><p>mesmos lugares de assistência dos considerados doentes mentais: “[...]</p><p>o poder que se exerce sobre as crianças idiotas é exatamente o poder</p><p>psiquiátrico em estado puro[...]” (FOUCAULT, 2006, p. 271).</p><p>Nesse cenário que surge podemos identificar dois processos</p><p>determinantes para a difusão do poder psiquiátrico. São eles:</p><p>Teórico</p><p>Promoveu a especificação e a definição da categoria da idiotia.</p><p>Institucional e prático</p><p>Anexava essa categoria do idiota ao espaço asilar e, consequentemente,</p><p>ao poder psiquiátrico.</p><p>A psiquiatria passa a deter, assim, um duplo poder sobre a loucura e</p><p>sobre a anomalia, referente à criança louca e à criança anormal.</p><p>Isso nos mostra que a psiquiatria se transforma em ciência e poder do</p><p>anormal a partir da figura da criança anormal, não tomando mais como</p><p>alvo de intervenção apenas a loucura. A anormalidade torna-se</p><p>necessária para a produção da norma, como aponta Canguilhem (2006),</p><p>possibilitando todo um campo de incidência do poder psiquiátrico sobre</p><p>a existência humana em seus variados registros.</p><p>A figura do anormal passa a ser modulada em virtude da época e do</p><p>contexto ao qual pertence: dissemina-se pelo tecido social o poder</p><p>psiquiátrico.</p><p>A construção do campo de atenção</p><p>infantojuvenil no Brasil</p><p>Se atualmente podemos nos deparar com os desafios da construção de</p><p>uma rede de atenção psicossocial garantida pelas políticas públicas de</p><p>saúde, devemos considerar o longo período de embates necessário para</p><p>a transformação do modelo de cuidado voltado para a população</p><p>infantojuvenil. Esse processo se dá ao longo do século XX, pois a</p><p>apropriação da infância como objeto de saber médico é recente em</p><p>nossa história.</p><p>De acordo com Lobo (2008), até o século XIX, a medicina no Brasil não</p><p>tomava para si as questões referentes aos “desvios da infância”. A</p><p>preocupação com as crianças limitava-se ao funcionamento de</p><p>colégios-internos para as elites ou às casas de misericórdia para</p><p>crianças desassistidas. Nos asilos de mendicidade que existiam na</p><p>época, as “crianças desvalidas” compartilhavam o mesmo espaço dos</p><p>adultos, ocorrendo uma separação somente em 1895, na cidade do Rio</p><p>de Janeiro.</p><p>No Hospital Nacional de Alienados, criado em 1890, essa mistura</p><p>ocorreu até 1904, quando foi inaugurado o primeiro pavilhão exclusivo</p><p>para crianças: o Pavilhão Bourneville.</p><p>Hospital Nacional de Alienados criando em 1890.</p><p>Durante anos, esse foi o único espaço destinado exclusivamente ao</p><p>público infantil, sendo assim nomeado em homenagem ao médico</p><p>francês cujo método de tratamento e educação era adotado pelo Dr.</p><p>Fernandes Figueira, médico responsável pelo setor durante os 15</p><p>primeiros anos de sua existência.</p><p>Essa experiência, ainda pautada na lógica da internação e do</p><p>confinamento, é muito distante do modelo de cuidado atual da atenção</p><p>psicossocial, mas, ainda assim, é considerada um marco institucional.</p><p>Ao longo do século XX, a ausência de políticas públicas voltadas para a</p><p>saúde mental da criança e do adolescente (SMCA) não impossibilitou,</p><p>no entanto, ações de cunho assistencialista voltadas para esse público.</p><p>O Estado brasileiro toma a figura do “menor”, oriundo</p><p>das mazelas sociais, como alvo de suas ações</p><p>tutelares. A questão da criança pobre e desassistida</p><p>foi entendida pelo Estado como um grave problema</p><p>social, um obstáculo para o progresso da então recente</p><p>República brasileira. Dessa forma, foi estabelecido um</p><p>aparato médico-jurídico que legitimou as ações</p><p>tutelares direcionadas à infância.</p><p>Ações assistencialistas eram propostas sem considerar um efetivo</p><p>tratamento das crianças e adolescentes com problemas mentais,</p><p>direcionando suas ações para questões relacionadas aos problemas</p><p>oriundos do quadro de pobreza e abandono no cenário social. Tais</p><p>problemas eram considerados os causadores das “desordens</p><p>psíquicas”, entendimento característico do movimento higienista então</p><p>em voga.</p><p>A medicina higienista pautava-se na institucionalização e no isolamento,</p><p>contribuindo diretamente para o fortalecimento da internação em</p><p>instituições fechadas ou de reeducação como ações principais na</p><p>esfera da assistência. A Liga de Higiene Mental, existente entre os anos</p><p>1920 e 1940, concretizou esse movimento que tinha a infância como</p><p>alvo de intervenção, promovendo uma difusão do saber psiquiátrico pelo</p><p>tecido social.</p><p>No campo jurídico, o Código de Menores de 1927 forneceu as bases</p><p>legais para a construção da categoria social do “menor” e de toda a</p><p>maquinaria institucional destinada à sua recuperação. A partir dessa</p><p>definição, todo um grupo de crianças e adolescentes foram retirados da</p><p>tutela familiar e passaram a ser tutelados pelo Estado.</p><p>Portanto, a partir de um enlaçamento entre os discursos médico e</p><p>jurídico foi fundamentada a política assistencial à infância e à</p><p>adolescência, sendo pautada sob a lógica de um efeito extremo da</p><p>situação de vulnerabilidade social.</p><p>As ações eram, em sua maioria, de natureza pedagógico-corretiva,</p><p>distantes ainda de uma abordagem clínica ou psicossocial. A</p><p>institucionalização da infância no Brasil, diferentemente da dos adultos,</p><p>se deu fora do sistema tradicional psiquiátrico em instituições do</p><p>campo da assistência social e filantrópica, em educandários e</p><p>reformatórios.</p><p>Os acontecimentos a seguir são considerados importantes marcos na</p><p>história da psiquiatria infantil no Brasil. Confira!</p><p>A criação do Pavilhão Bourneville no Hospital Nacional de</p><p>Alienados, em 1904.</p><p>O trabalho da Liga de Higiene Mental nas décadas de 20 e 40.</p><p>O Hospital de Neuropsiquiatria Infantil fundado em 1942 por Getúlio</p><p>Vargas no bairro do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro.</p><p>É somente a partir da década de 1980 que se inicia a consolidação do</p><p>campo de cuidado da infância e da adolescência para além da</p><p>perspectiva assistencialista e tutelar.</p><p>As alas infantis nos hospícios</p><p>Compreenda neste vídeo como foram criadas as alas psiquiátricas nos</p><p>asilos e hospitais, separando as crianças e os adolescentes dos adultos.</p><p>O início do embate contra a lógica</p><p>manicomial</p><p>A Segunda Guerra Mundial trouxe à tona os horrores da experiência de</p><p>reclusão nos campos de concentração nazistas, provocando uma</p><p>alteração nos regimes de sensibilidade que atingiram os modelos de</p><p>cuidado até então vigentes nos hospitais psiquiátricos.</p><p>A partir da década de 1940 surgem as primeiras experiências de</p><p>contestação ao modelo asilar: a psicoterapia institucional na França e a</p><p>antipsiquiatria em suas versões inglesa e italiana nas décadas de 1960</p><p>e 1970. Esses processos servirão como fonte para o movimento</p><p>antimanicomial brasileiro e, consequentemente, a atual política de saúde</p><p>mental na infância e na adolescência.</p><p>A psicoterapia institucional tem início com a experiência reformista</p><p>empreendida pelo psiquiatra catalão François Tosquelles no Hospital</p><p>de Saint-Alban, na França. Tosquelles chega à região de Lozère como</p><p>exilado político, trazendo consigo uma experiência anterior de ações</p><p>terapêuticas construídas para além dos muros de hospitais. Essa</p><p></p><p>atitude de abertura para o meio exterior está na base do movimento</p><p>que se inicia em Saint-Alban, no início da década de 1940.</p><p>No hospital de Saint-Alban eram desenvolvidas ações terapêuticas</p><p>comunitárias, promovendo a integração de pacientes e comunidade, e</p><p>produzindo um constante questionamento de posições hierárquicas nas</p><p>relações de cuidado entre pacientes, médicos e enfermeiros.</p><p>Segundo</p><p>Tosquelles (1991), somente a derrubada dos muros do hospital não</p><p>seria suficiente, era necessária a problematização das relações de poder</p><p>e dos corporativismos institucionais, promovendo uma abertura para</p><p>que os pacientes pudessem se expressar. Portanto, um modelo de</p><p>cuidado que se pautasse numa relação de respeito e reciprocidade,</p><p>mediante a conquista gradativa da palavra.</p><p>A experiência de Saint-Alban é considerada a primeira fase da</p><p>psicoterapia institucional. De lá partiu o psiquiatra Jean Oury para</p><p>fundar em 1953 a Clínica de Loire-et-Chére, conhecida como Clínica de</p><p>Laborde. Em Laborde ocorre o segundo grande momento desse</p><p>movimento, com a chegada de Félix Guattari em 1955.</p><p>Filósofo Félix Guattari.</p><p>Ao longo dos anos de convivência com os pacientes, Guattari (2004)</p><p>forjou importantes conceitos-ferramentas para o campo da saúde</p><p>mental, como transversalidade, analisador e grupo-sujeito.</p><p>Esse importante filósofo e psicanalista esteve algumas vezes no Brasil a</p><p>partir do final da década de 1970, acompanhando e participando dos</p><p>movimentos da Redemocratização e da Reforma Psiquiátrica</p><p>(GUATTARI; ROLNIK, 1986). A psicoterapia institucional impulsionou</p><p>movimentos posteriores no campo da saúde mental, como a psiquiatria</p><p>de setor na França e o próprio movimento da antipsiquiatria.</p><p>Nesse cenário de mudanças do modelo de cuidado em saúde mental,</p><p>teve impacto também o lançamento de uma importante pesquisa</p><p>acadêmica no início da década de 1960: História da loucura, de Michel</p><p>Foucault. Nessa obra, sua tese de doutorado, Foucault relata o processo</p><p>pelo qual a figura do louco, nos períodos medieval e renascentista</p><p>considerado um ser sagrado e sábio, passa ser capturada pela noção de</p><p>“desrazão”. O autor traz à tona as práticas discursivas e não discursivas</p><p>que se sobrepuseram ao corpo do louco ao longo da história.</p><p>As discussões geradas pelo livro ultrapassaram o meio acadêmico e</p><p>serviram como ferramenta para os movimentos da antipsiquiatria que</p><p>então ganhava consistência. Na Inglaterra, o marco dessa experiência</p><p>ocorreu no hospital de Kingsley Hall, onde o psiquiatra Ronald Laing</p><p>empreendeu uma série de ações a partir de 1965. Com a parceria dos</p><p>também psiquiatras David Cooper e Maxwell Jones, Laing propôs um</p><p>questionamento radical do caráter opressivo das instituições e das</p><p>relações hierárquicas entre pacientes e cuidadores, buscando sua</p><p>abolição. Essa diferença era entendida como uma fonte produtora de</p><p>violência institucional.</p><p>Cooper problematiza essa questão em seu livro Psiquiatria e</p><p>antipsiquiatria (1970). O autor fala sobre um tipo de violência que não se</p><p>restringe ao registro físico ou emocional, mas provocada pela</p><p>psiquiatria como saber, que desqualifica e deslegitima a singularidade</p><p>dos modos de vida possíveis experimentados pelas pessoas que</p><p>vivenciam a experiência da loucura.</p><p>Enquanto na psicoterapia institucional se previa uma reforma do</p><p>estabelecimento hospitalar, nas antipsiquiatrias buscava-se a</p><p>ultrapassagem, a superação da instituição. Esse movimento não visava</p><p>inventar novas técnicas para fazer viver a instituição, tampouco</p><p>reconstruí-la.</p><p>A aposta de superação do manicômio constitui o principal pilar do</p><p>movimento antipsiquiátrico italiano, que tem início em 1961, com a</p><p>abertura dos serviços do Hospital de Gorizia, coordenada por Franco</p><p>Basaglia. O psiquiatra italiano defendia a total superação dos hospitais</p><p>psiquiátricos, pois, na visão dele, o hospital correrá sempre o risco de</p><p>transformar-se em outro lugar de alienação, caso seja organizado como</p><p>um mundo completo em si mesmo.</p><p>Basaglia levou essa empreitada também para a cidade de Triestes e</p><p>assumiu o protagonismo do movimento da psiquiatria democrática</p><p>italiana dos anos 1970, que pautava o fim da instituição psiquiátrica</p><p>como lugar de violência e exclusão social. Em de 13 de maio de 1978, é</p><p>criada a Lei nº 189, conhecida como Lei Basaglia, que determinou o fim</p><p>dos manicômios em todo o território italiano e criou condições para o</p><p>surgimento de novos modelos de assistência no campo da saúde</p><p>mental.</p><p>Bonneuil: aberturas no campo da</p><p>saúde mental infantojuvenil</p><p>Vimos as experiências de questionamento ao modelo de cuidado</p><p>vigente no campo da saúde mental no século XX, pautado na exclusão e</p><p>no encerramento. Esse resgate é fundamental, mesmo não relacionados</p><p>às especificidades da assistência à saúde mental infantojuvenil, pois</p><p>foram determinantes para que experiências desse campo pudessem</p><p>existir.</p><p>Você vai conferir agora uma experiência reconhecida por seu</p><p>pioneirismo na ressignificação dos modelos de assistência voltados à</p><p>criança e ao adolescente, ainda na década de 1960: a Escola</p><p>Experimental de Bonneuil-sur-Marne.</p><p>Escola Experimental de Bonneuil-sur-Marne atualmente.</p><p>Na esteira dos movimentos de contestação do maio de 68 francês e dos</p><p>movimentos de questionamento da lógica manicomial, Bonneuil foi</p><p>criado em setembro de 1969 pela psicanalista Maud Mannoni e uma</p><p>reduzida equipe em parceria com os pais de uma criança autista que</p><p>lutavam por um destino outro que não o asilo para o seu filho.</p><p>Desde o início, a proposta era fazer de Bonneuil um “lugar de vida”, um</p><p>“lugar para viver” para crianças e adolescentes considerados</p><p>problemáticos e excluídos pelos sistemas médico, pedagógico ou</p><p>familiar, fossem eles autistas, psicóticos ou com algum transtorno mais</p><p>grave. O objetivo era promover uma possibilidade de criação, de</p><p>abertura e de aposta em outras formas de convivência, fora de uma</p><p>lógica medicalizante, como alternativa à vida asilar e reclusa produzida</p><p>por instituições psiquiátricas tradicionais.</p><p>Segundo Mannoni (1977), a aposta na construção de</p><p>um “lugar para viver” ocorre a partir de um trabalho de</p><p>acolhimento e tolerância ao imprevisto, de abertura ao</p><p>inesperado e aos acontecimentos que escapam de um</p><p>saber científico e classificatório.</p><p>A vida como possibilidade de invenção e abertura para encontros não</p><p>poderia ser, nesse entendimento, reduzida à frieza de categorias</p><p>nosológicas e olhares diagnósticos. Experimentar outras formas de se</p><p>conviver com a diferença, afirmando-a ao invés de negá-la ou enquadrá-</p><p>la, torna-se então uma questão de primeira ordem no cotidiano de</p><p>Bonneuil (ALVES NETO, 2020).</p><p>A instituição também deve ser entendida como um lugar de passagem,</p><p>que pode ser recusada a qualquer momento. Assim, a criança pode</p><p>separar-se da instituição sem que esse movimento lhe cause um dano</p><p>psíquico, que poderia ser gerado por uma presença maciça da</p><p>instituição, um traço característico das instituições asilares tradicionais.</p><p>Essa possibilidade de recusa está presente em todas as esferas das</p><p>atividades propostas na escola, há um manejo específico para que a</p><p>vontade do adulto de que a criança participe de alguma atividade não se</p><p>sobreponha ao direito que ela tem de participar ou não. A importância</p><p>da dimensão territorial nas práticas de cuidado atuais já era antecipada</p><p>no cuidado empreendido em Bonneuil.</p><p>A escola funcionava como uma base, um registro de permanência, mas</p><p>oferecia diversas brechas para seu exterior, entendendo que o essencial</p><p>da vida das crianças e dos adolescentes se daria para além dos muros</p><p>da instituição. Dessa forma, uma série de dispositivos eram postos em</p><p>prática, por exemplo, estadias em famílias de acolhimento, estágios</p><p>com comerciantes e profissionais do bairro, além de oficinas que</p><p>aconteciam em diversos lugares da cidade.</p><p>Essa continua sendo a aposta institucional dessa experiência que, ao</p><p>longo de mais de 50 anos, vem produzindo reverberações nas práticas</p><p>de cuidado direcionadas à saúde mental infantojuvenil nos mais</p><p>diversos lugares, inclusive no Brasil.</p><p>Movimentos pioneiros na saúde</p><p>mental infantojuvenil</p><p>Confira neste vídeo os movimentos pioneiros na saúde mental</p><p>infantojuvenil, desde seus primórdios na França, até a escola de</p><p>Bonneuil.</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p></p><p>Questão 1</p><p>No início do século XX, a medicina higienista representava</p><p>uma</p><p>forte corrente no campo de saber médico, no Brasil e no mundo,</p><p>atingindo diretamente os modos de assistência à infância e à</p><p>adolescência nessa época. Sobre quais aspectos esse movimento</p><p>se pautava?</p><p>Parabéns! A alternativa C está correta.</p><p>A medicina higienista difundiu o saber psiquiátrico no registro</p><p>social ao promover um intenso olhar diagnóstico sobre a infância e</p><p>a adolescência, gerando práticas de institucionalização e</p><p>isolamento nos estabelecimentos da época.</p><p>Questão 2</p><p>Uma das experiências pioneiras no campo da saúde mental</p><p>infantojuvenil foi a Escola Experimental de Bonneuil-sur-Marne, na</p><p>França, que influenciou diversos movimentos de contestação ao</p><p>modelo asilar pelo mundo, inclusive no Brasil. Segundo Maud</p><p>Mannoni, psicanalista responsável pela iniciativa da instituição, a</p><p>aposta na construção de um “lugar para viver” se daria a partir</p><p>A Práticas de integração e ações no território.</p><p>B</p><p>Práticas de internação e acolhimento semi-</p><p>intensivo.</p><p>C Práticas de institucionalização e isolamento.</p><p>D Ações tutelares e medidas antimanicomiais.</p><p>E Práticas educativas e promoção da interação social.</p><p>Parabéns! A alternativa B está correta.</p><p>Ao propor a construção de um “lugar para viver”, Mannoni e sua</p><p>equipe apostavam numa perspectiva de trabalho que escapasse do</p><p>modelo tradicional de controle e vigilância permanentes,</p><p>possibilitando assim que as crianças e os adolescentes se</p><p>deparassem com os imprevistos inerentes aos movimentos da vida,</p><p>dentro de uma lógica de cuidado e acolhimento.</p><p>A de uma lógica medicalizante e produtora de</p><p>diagnósticos.</p><p>B</p><p>de um trabalho de acolhimento e tolerância ao</p><p>imprevisto.</p><p>C de práticas de internação e isolamento social.</p><p>D da vigilância constante sobre as atividades.</p><p>E</p><p>da manutenção do espaço da escola como um lugar</p><p>fechado ao exterior.</p><p>2 - Crianças e adolescentes nos serviços de atenção</p><p>psicossocial</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar a dinâmica institucional inerente aos</p><p>processos estratégicos de produção de cuidado no cenário da atenção psicossocial.</p><p>Ligando os pontos</p><p>O cuidado com a infância e adolescência deve sempre se pautar numa</p><p>escuta qualificada, que permita ao profissional de saúde realizar um</p><p>acolhimento abarcando as diferentes dimensões do sujeito. Você já</p><p>ouviu falar em medicalização da infância? Abordaremos esta questão</p><p>no case a seguir.</p><p>Lucas é um menino de 10 anos que frequenta um colégio estadual na</p><p>cidade do Rio de Janeiro. Nos últimos anos, a escola tem passado por</p><p>uma série de dificuldades, como suspensão das aulas por motivos de</p><p>segurança ou atraso do pagamento dos professores e demais</p><p>profissionais. A troca de professores também tem sido comum ao longo</p><p>do ano.</p><p>Justamente nesse período começaram a surgir queixas em relação ao</p><p>pouco envolvimento de Lucas nas atividades, ao seu baixo rendimento e</p><p>à falta de atenção. Após uma reunião com os pais, a coordenação</p><p>pedagógica da escola indicou que procurassem um neurologista,</p><p>acreditando que Lucas possuía algum distúrbio neurológico que estaria</p><p>comprometendo o rendimento escolar. Após a realização dos exames,</p><p>nada foi detectado.</p><p>Enquanto a investigação seguia, Lucas se entristecia, por achar que</p><p>estava doente ou que tinha algum tipo de problema. Sua mãe passou</p><p>então a achar que, além do distúrbio de aprendizagem, o filho também</p><p>estaria deprimido. A família foi então encaminhada para um ambulatório</p><p>próximo à residência deles. Lá os exames foram refeitos e, novamente,</p><p>nada foi constatado. Também havia sido aventada a hipótese</p><p>diagnóstica de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade por</p><p>parte da escola, que foi refutada pela médica e pela psicóloga do</p><p>ambulatório que começaram a atendê-lo.</p><p>As duas profissionais entenderam que essa alteração do</p><p>comportamento de Lucas acontecia somente na escola, propondo-se a</p><p>fazer uma escuta cuidadosa sobre todo o processo. Entenderam que</p><p>Lucas havia perdido o ânimo pelas aulas por causa da constante troca</p><p>de professores, e ele também pôde falar do incômodo que sentia por</p><p>conta da gritaria e da confusão provocadas pelas quase 50 crianças na</p><p>sua sala.</p><p>O caso de Lucas foi levado para uma discussão intersetorial, com a</p><p>participação de profissionais da educação, da assistência social e da</p><p>saúde mental. Entendeu-se que havia uma questão institucional em jogo</p><p>e que deveria haver um cuidado maior nas especulações diagnósticas.</p><p>Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos</p><p>ligar esses pontos?</p><p>Questão 1</p><p>No caso relatado, você consegue identificar que Lucas está inserido</p><p>num processo conhecido como</p><p>A</p><p>hospitalização, no qual a internação é utilizada</p><p>como estratégia de cuidado.</p><p>B</p><p>institucionalização, no qual a criança passa por um</p><p>longo período de internação.</p><p>C</p><p>psicologização, no qual as questões escolares são</p><p>entendidas como questões estritamente médicas.</p><p>D</p><p>medicalização, no qual há a transformação de</p><p>problemas de ordem institucional, social ou cultural</p><p>em um distúrbio ou transtorno psiquiátrico.</p><p>Parabéns! A alternativa D está correta.</p><p>A medicalização deve ser amplamente debatida no campo da</p><p>saúde mental infantojuvenil, pois tem como efeito uma proliferação</p><p>de diagnósticos que reduzem o sofrimento psíquico a um registro</p><p>patológico daquele que seria seu portador, individualizando um</p><p>processo multifacetado. Nesse registro, não se considera os</p><p>aspectos sociais, culturais e institucionais de cada caso, não</p><p>colaborando com a implementação de estratégias mais eficientes</p><p>para aliviar o problema apresentado.</p><p>Questão 2</p><p>Pensando no caso de Lucas, ao ser realizado um diagnóstico</p><p>infantil sem que seja feita uma ampla discussão acerca dos laços</p><p>sociais, das relações familiares, do seu histórico de vida e das</p><p>questões escolares, você considera que o profissional de saúde</p><p>corre o risco de promover uma ação terapêutica</p><p>E</p><p>pedagogização, no qual questões escolares são</p><p>entendidas como questões estritamente</p><p>pedagógicas.</p><p>A</p><p>ampliada, porque a descoberta do diagnóstico já</p><p>seria suficiente.</p><p>B</p><p>reduzida, porque a descoberta do diagnóstico já</p><p>seria suficiente.</p><p>C</p><p>reduzida, porque não seriam investigadas as</p><p>dimensões sociais, culturais e institucionais.</p><p>D</p><p>ampliada, porque não seriam investigadas as</p><p>dimensões sociais, culturais e institucionais.</p><p>E</p><p>Parabéns! A alternativa C está correta.</p><p>Quando o profissional de saúde se depara com alguma queixa</p><p>relacionada à infância ou à adolescência, é imprescindível que</p><p>proponha uma abertura de possibilidades, considerando a</p><p>complexidade do universo infantojuvenil, assim como a diversidade</p><p>dos discursos produzidos sobre esse registro.</p><p>Questão 3</p><p>De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a noção de</p><p>saúde seria definida por um estado completo de bem-estar físico,</p><p>mental e social, e não apenas pela ausência de doença. Tal</p><p>entendimento, se levado ao extremo, pode gerar perspectivas no campo</p><p>da saúde nas quais qualquer sinalização de tristeza, medo ou angústia</p><p>poderia ser entendida como uma patologia. Considerando as</p><p>especulações diagnósticas promovidas no caso de Lucas, por que você</p><p>considera que podemos afirmar que, no campo da infância e da</p><p>adolescência, deve-se ter ainda mais cuidado com essa questão?</p><p>Digite sua resposta aqui</p><p>Chave de resposta</p><p>As questões levantadas devem ser consideradas com ainda</p><p>mais rigor com as crianças e os adolescentes por serem</p><p>um grupo de risco nesse processo de medicalização da</p><p>vida, uma vez que, mesmo sendo detentores de direitos,</p><p>ainda são dependentes da noção de cuidado que os adultos</p><p>responsáveis por eles detêm. Se, por exemplo, a mãe de</p><p>uma criança rebelde assiste a um programa televisivo no</p><p>qual é falado que o comportamento rebelde infantil pode</p><p>ser um traço do transtorno opositivo-desafiador (TOD) e,</p><p>diante disso, ela busque um profissional, mas este não</p><p>problematize tal diagnóstico com ela, corre-se o risco de</p><p>que não se trabalhe o que está acontecendo naquele</p><p>momento da vida da criança para que ela se expresse dessa</p><p>forma. Logo, é de grande</p><p>importância que os profissionais</p><p>ampliada, porque desconsideraria a história</p><p>pregressa da criança.</p><p>da saúde mental infantojuvenil tenham uma postura crítica</p><p>diante da demanda que chega a eles, para que não</p><p>corroborem com o atual processo de patologização da vida</p><p>e medicalização da infância.</p><p>A assistência à infância e à</p><p>adolescência no Brasil</p><p>A Reforma Psiquiátrica propôs a contestação de um modelo de</p><p>assistência de cunho asilar e hospitalocêntrico, no qual a internação era</p><p>a única possibilidade terapêutica. Inicia-se então um movimento de</p><p>questionamento e de transformação das práticas de cuidado</p><p>direcionadas às pessoas em sofrimento psíquico.</p><p>Fruto da intensa mobilização dos movimentos sociais, de profissionais e</p><p>de familiares de pacientes institucionalizados, esse processo se insere</p><p>nas mudanças provocadas por uma redefinição das funções do Estado</p><p>a partir da redemocratização ocorrida no nosso país durante os anos</p><p>1980, quando se assume o compromisso legitimado pela Constituição</p><p>Federal de 1988 com a equidade e o bem-estar social.</p><p>A partir dessa mudança no cenário sociopolítico brasileiro, ocorre uma</p><p>redefinição da importância das políticas públicas voltadas para o campo</p><p>da saúde. Essa mudança é concretizada com a implementação do</p><p>Sistema Único de Saúde (SUS), em 1990, pautado nos princípios da</p><p>equidade, da integralidade e da universalidade do acesso aos serviços.</p><p>A redemocratização, a promulgação da Constituição Federal de 1988 e o</p><p>surgimento do SUS criam condições para uma efetiva implementação</p><p>de uma rede pública de saúde mental que buscava superar a lógica</p><p>manicomial.</p><p>Esse processo ganha a institucionalidade necessária pela promulgação</p><p>da Lei nº 10.216, em 2001, que ficou conhecida como a Lei da Saúde</p><p>Mental; e também pela realização, no mesmo ano, da III Conferência</p><p>Nacional de Saúde Mental (CNSM). Ambas foram fundamentais para a</p><p>ampliação do alcance das proposições que buscavam transformar os</p><p>modelos de assistência até então vigentes, além de atingirem um maior</p><p>campo de aplicação de seus princípios norteadores.</p><p>Com a III Conferência Nacional de Saúde Mental, pôde-se legitimar o</p><p>anseio social pela substituição do modelo de cuidado centralizado nos</p><p>hospitais e clínicas de psiquiatria pelo modelo de tratamento</p><p>direcionado para o território, apostando-se no modo comunitário de</p><p>atenção.</p><p>Curiosidade</p><p>A Lei nº 10.216 garante que a reforma da saúde mental brasileira se</p><p>constitua como uma política de Estado, não mais como um programa de</p><p>governo, baseando-se na plena defesa da cidadania dos pacientes em</p><p>sofrimento psíquico.</p><p>O deslocamento do hospital em direção ao território possibilita a</p><p>abertura de uma série de problematizações no campo da saúde mental,</p><p>principalmente em relação à infância e à adolescência. Tornou-se</p><p>explícita a necessidade da inclusão no campo da atenção psicossocial</p><p>das questões peculiares aos problemas mentais de crianças e</p><p>adolescentes. Até então, essas questões possuíam um papel de pouco</p><p>destaque na agenda pública, ficando restritas às intervenções</p><p>provenientes de instituições de caráter disciplinar e corretivo, exteriores</p><p>ao domínio da saúde mental.</p><p>A busca por uma consolidação da infância e adolescência como alvos</p><p>prioritários de cuidado da saúde mental, passa por uma redefinição da</p><p>própria maneira como a infância era concebida, social e culturalmente.</p><p>Destacamos então dois eventos externos ao campo da saúde mental,</p><p>mas de grande importância para a consolidação da infância e da</p><p>adolescência no cenário das políticas públicas.</p><p>O primeiro deles foi a Convenção Internacional sobre os Direitos da</p><p>Criança, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em</p><p>1989, tendo sido o Brasil um dos países signatários. Esse encontro</p><p>possibilitou a criação de estratégias para conceber novas formas de</p><p>interpretação sobre o lugar da infância na sociedade, afirmando a</p><p>criança como sujeito e cidadão de plenos direitos.</p><p>Assembleia deliberativa da Convenção sobre os Direitos da Criança em 1989.</p><p>O segundo acontecimento refere-se à promulgação do Estatuto da</p><p>Criança e do Adolescente (ECA) no Brasil, em 1990. Até então, vigorava</p><p>a designação jurídica de “menor”, substituída no ECA pela de sujeito de</p><p>direitos, sendo estabelecidos os direitos de cidadania para crianças e</p><p>adolescentes. As políticas públicas e ações direcionadas a esse campo</p><p>passam a ser orientadas pelo princípio da proteção integral,</p><p>substituindo a doutrina da “situação irregular” associada à noção de</p><p>“menor”.</p><p>A Convenção da ONU e o ECA, no início dos anos 90, associados à</p><p>emergência da Lei da Saúde Mental e à realização da III CNSM, em 2001,</p><p>proporcionaram as condições para a proposição de uma política de</p><p>saúde mental para crianças e adolescentes no início do século XXI. Essa</p><p>política será construída tomando como base a implementação de</p><p>serviços de atenção direcionados para o cuidado comunitário, no</p><p>território, rompendo com a lógica excludente do manicômio.</p><p>A assistência à infância e à</p><p>adolescência no Brasil</p><p>Neste vídeo, você compreenderá como se desenvolveu o interesse nos</p><p>cuidados com crianças e adolescentes nas políticas do SUS.</p><p></p><p>Os serviços substitutivos: desa�o de</p><p>construção das redes</p><p>De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2004) os centros de</p><p>atenção psicossocial (CAPS) são serviços destinados a acolher as</p><p>pessoas em sofrimento mental, buscando a integração social e familiar</p><p>de seus usuários, bem como apoiando-os em sua busca por autonomia.</p><p>Os centros de atenção psicossocial infantil (CAPSi) são serviços de</p><p>saúde de caráter aberto e comunitário, voltados aos casos de saúde</p><p>mental considerados graves e persistentes, que apresentem a</p><p>necessidade de permanência num dispositivo de cuidado intensivo e</p><p>comunitário. Nos CAPSi são ofertados atendimento individualizado e</p><p>familiar, oficinas terapêuticas, espaços de convivência, ações territoriais</p><p>de lazer e inserção social na comunidade.</p><p>No campo da infância e adolescência, são considerados casos graves e</p><p>persistentes aqueles em que há a apresentação de sofrimento psíquico</p><p>intenso, incluídos os relacionados ao uso prejudicial de substâncias</p><p>psicoativas e outras situações clínicas que inviabilizam a possibilidade</p><p>de estabelecimento de laços sociais e a realização de projetos de vida.</p><p>Nesses casos, podemos entender que há um maior risco psicossocial, já</p><p>que são observados aspectos como:</p><p>Baixo grau de autonomia.</p><p>Alta vulnerabilidade social que fragiliza os vínculos sociais e</p><p>afetivos, tornando as redes de sociabilidade mais fracas.</p><p>Exposição a episódios de violências graves.</p><p>Discriminação, marginalização e condições socioeconômicas</p><p>desfavoráveis.</p><p>O público-alvo desse dispositivo é formado por crianças e adolescentes</p><p>com diagnóstico ou suspeita diagnóstica de transtorno do espectro</p><p>autista; outros transtornos mentais ou sintomas psicóticos; queixas de</p><p>uso prejudicial de substâncias psicoativas e comprometimento grave</p><p>para a própria vida; risco ou tentativa de suicídio; comportamentos</p><p>intensos de autoagressividade ou heteroagressividade; e demanda de</p><p>articulação intensa de diversas ações intra e intersetoriais.</p><p>O segundo serviço a ser apresentado é o ambulatório de saúde mental,</p><p>situado nas policlínicas de especialidades e nos centros municipais de</p><p>saúde. Os ambulatórios possuem a tarefa de acompanhar casos de</p><p>saúde mental de complexidade moderada, ou seja, casos em que a</p><p>criança/o adolescente apresenta um grau de sofrimento mental ou</p><p>alterações de comportamento que não afetam consideravelmente a sua</p><p>vida e a de suas famílias, não havendo necessidade de tratamento</p><p>intensivo, como ocorre no CAPSi.</p><p>Os ambulatórios de saúde mental funcionam diariamente e são</p><p>territorializados. Embora ofereçam atendimentos em grupo e ações no</p><p>território, têm como função principal o atendimento em consultas de</p><p>saúde mental, psiquiatria e grupos terapêuticos.</p><p>O público-alvo do ambulatório é constituído por casos acompanhados</p><p>pela equipe da Atenção Primária de Saúde (APS),</p><p>que, após a realização</p><p>de uma avaliação com os profissionais da saúde mental, avaliam a</p><p>necessidade de acompanhamento especializado nessa área, por</p><p>exemplo, atendimento psicoterapêutico continuado.</p><p>O terceiro serviço da rede de atenção psicossocial à infância e à</p><p>adolescência é composto pelos centros especializados em reabilitação</p><p>(CER). São espaços de referência que ofertam atenção especializada</p><p>em reabilitação para pessoas com deficiência temporária ou</p><p>permanente; progressiva, regressiva ou estável; intermitente e contínua;</p><p>severa e em regime de tratamento intensivo.</p><p>O CER oferece processos de cuidado que envolvem medidas de</p><p>prevenção da perda funcional, da redução do ritmo da perda funcional</p><p>ou da melhora ou recuperação da função, além de medidas da</p><p>compensação da função perdida e da manutenção da função atual.</p><p>O público-alvo desses serviços é organizado por modalidade de</p><p>reabilitação, como auditiva, física, visual e intelectual. Os serviços de</p><p>reabilitação/habilitação são destinados para pessoas com as seguintes</p><p>necessidades:</p><p>Deficiência intelectual</p><p>Transtorno do espectro autista</p><p>Buscam proporcionar estratégias de cuidado com ações direcionadas</p><p>ao desenvolvimento de habilidades singulares no âmbito do projeto</p><p>terapêutico, particularmente associadas a cognição, linguagem e</p><p>sociabilidade.</p><p>As funções desses três serviços vão na direção do fortalecimento e da</p><p>implementação de espaços de cuidado substitutivos ao modelo asilar.</p><p>Os serviços substitutivos: desa�o de</p><p>construção das redes</p><p></p><p>Compreenda neste vídeo a função dos três serviços de cuidado da rede</p><p>para crianças e adolescentes.</p><p>Articulação intersetorial e projeto</p><p>terapêutico singular</p><p>A complexidade inerente ao campo de atenção psicossocial</p><p>infantojuvenil exige uma consistente articulação intersetorial entre as</p><p>equipes de Atenção Primária de Saúde e demais setores, como a</p><p>educação e a assistência social. Destacam-se as possibilidades de</p><p>ações educativas de saúde nas escolas e creches, estabelecimentos</p><p>estratégicos, considerando que as crianças e adolescentes passam a</p><p>maior parte do tempo nesses espaços.</p><p>Outro aspecto importante deve-se ao fato de a escola ser o primeiro</p><p>lugar onde grande parcela do público infantojuvenil estabelece as</p><p>primeiras relações sociais fora do âmbito familiar. Essa aposta de</p><p>articulação prevê um intenso diálogo entre a equipe da Atenção Primária</p><p>de Saúde e os profissionais da escola, para a construção de projetos de</p><p>trabalho terapêutico dentro de uma perspectiva interdisciplinar.</p><p>Essa articulação intersetorial é uma ação aliada na elaboração do</p><p>projeto terapêutico singular (PTS), que pode ser entendido como uma</p><p>ferramenta de construção e efetivação do cuidado por meio da</p><p>colaboração entre a equipe de saúde e o usuário. Nesse projeto,</p><p>devemos considerar a singularidade da criança ou do adolescente e a</p><p>complexidade inerente ao seu território existencial na elaboração de</p><p>propostas de condutas terapêuticas articuladas, incluindo a família e o</p><p>coletivo do qual a criança faz parte. A iniciativa de proposição de um</p><p>PTS ocorre, geralmente, diante de situações de difícil manejo.</p><p>Um projeto terapêutico singular (PTS) deve ser elaborado partindo-</p><p>se da premissa de que a pessoa a ser cuidada está inserida nesse</p><p>processo, análise que é feita pela equipe, num primeiro momento,</p><p>considerando as múltiplas dimensões do sujeito. São levadas em</p><p>conta as contribuições dos diversos profissionais e familiares</p><p>incluídos no processo, uma vez que os diferentes olhares e as</p><p>distintas formas de compreensão são manifestações adequadas à</p><p>complexidade do cenário de cuidado.</p><p>Entendemos que esse processo é de caráter dinâmico e, portanto,</p><p>marcado pela provisoriedade de resoluções. A construção de um</p><p>percurso singular de cuidado deve permitir brechas para se acolher o</p><p>inesperado e os desvios possíveis.</p><p>Um PTS é dividido em algumas etapas. Vejamos quais são elas!</p><p>Diagnóstico e análise</p><p>Avaliação que considera as dimensões físicas, mentais e</p><p>sociais do sujeito, inseridos os aspectos sobre os riscos e as</p><p>vulnerabilidades do entorno da criança ou do adolescente,</p><p>assim como suas facilidades e dificuldades do cotidiano. O</p><p>objetivo dessa etapa é compreender como cada indivíduo</p><p>vivencia e se posiciona em relação aos seus desejos, anseios e</p><p>interesses, além de analisar sua forma de lidar com questões</p><p>relacionadas à sua cultura, laços sociais e família.</p><p>Contexto familiar</p><p>Planejamento das ações viáveis dentro do contexto</p><p>estabelecido. Após o diagnóstico, a equipe, juntamente com a</p><p>família e outras pessoas envolvidas, deve planejar as ações.</p><p>Uma abordagem eficaz é a distribuição de tarefas entre os</p><p>envolvidos, sendo crucial designar um profissional de</p><p>referência para o caso. Essa escolha é feita com base na</p><p>identificação da pessoa que possui um vínculo mais forte ou</p><p>uma relação mais próxima com a criança ou adolescente.</p><p>Reavaliação</p><p>Etapa de grande relevância para que se discuta e avalie a</p><p>evolução do caso, quando é possível questionar as ações e</p><p>adaptá-las às mudanças ocorridas no percurso. Em resumo, a</p><p>etapa de reavaliação envolve a revisão dos objetivos, avaliação</p><p>dos resultados, identificação de novas necessidades e ajustes</p><p>no plano terapêutico com o objetivo de garantir que ele</p><p>continue sendo efetivo e atenda às demandas em evolução do</p><p>indivíduo.</p><p>A elaboração do PTS pode ser entendida a partir de alguns aspectos</p><p>essenciais. Num primeiro momento, é preciso compreender o processo</p><p>de adoecimento e o sofrimento da criança ou do adolescente,</p><p>analisando os efeitos desse processo para sua família. É importante que</p><p>sejam respeitadas as possibilidades de entendimento direcionadas à</p><p>doença, mesmo que não estejam assentadas sobre o conhecimento</p><p>científico.</p><p>Posteriormente, devem ser investigados os sentimentos presentes,</p><p>como o medo e a raiva, contribuindo para uma melhor compreensão do</p><p>caso e das propostas do projeto terapêutico. O levantamento de</p><p>elementos da história de vida da criança ou do adolescente é também</p><p>uma tarefa estratégica para uma melhor compreensão dos sintomas e</p><p>maior clareza na avaliação diagnóstica.</p><p>Por último, recomenda-se uma avaliação da maneira como a família</p><p>está reagindo ao cenário da crise ou do adoecimento, considerando as</p><p>possibilidades de a criança experimentar algum tipo de autonomia</p><p>nesse processo.</p><p>Resumindo</p><p>O projeto terapêutico singular é uma ferramenta de grande importância</p><p>para uma implementação efetiva de ações de cuidado no campo da</p><p>saúde mental infantojuvenil.</p><p>Articulação intersetorial e projeto</p><p>terapêutico singular</p><p>Assista ao vídeo e compreenda a articulação da equipe primária de</p><p>saúde e a escola para a elaboração do projeto terapêutico singular</p><p>(PTS).</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p></p><p>A entrada da questão infantojuvenil na pauta da saúde mental</p><p>ocorreu a partir de mudanças socioculturais que produziram um</p><p>novo olhar e outra forma de entendimento sobre esse público.</p><p>Quais foram os eventos externos ao campo da saúde mental,</p><p>ocorridos no Brasil e no exterior, que hoje são tidos como marcos</p><p>para a concretização dessa mudança de perspectiva da infância e</p><p>da adolescência?</p><p>Parabéns! A alternativa D está correta.</p><p>Em 1989, o Brasil foi um dos países signatários da Convenção</p><p>Internacional sobre os Direitos da Criança na Organização das</p><p>Nações Unidas (ONU) e no ano seguinte, em 1990, houve a</p><p>promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, no Brasil.</p><p>Ambos são eventos de suma importância na reconstrução do lugar</p><p>social ocupado pela criança e pelo adolescente, tomando-os, como</p><p>cidadãos, beneficiários de proteção integral.</p><p>Questão 2</p><p>O projeto terapêutico singular (PTS) é uma importante ferramenta</p><p>de intervenção dos profissionais no campo da saúde mental,</p><p>incluindo as ações de atenção e cuidado voltadas à infância e à</p><p>A O Código de Menores de 1927 e a Lei nº 10.216.</p><p>B A Liga de Higiene Mental e a medicina higienista.</p><p>C</p><p>A Lei Franco Basaglia</p><p>e a Declaração Universal dos</p><p>Direitos Humanos.</p><p>D</p><p>A Convenção Internacional sobre os Direitos da</p><p>Criança na ONU e a promulgação do Estatuto da</p><p>Criança e do Adolescente (ECA).</p><p>E</p><p>A psicoterapia institucional e o movimento</p><p>antipsiquiátrico.</p><p>adolescência. Considerando sua relevância, qual seria a forma mais</p><p>adequada de elaboração do PTS?</p><p>Parabéns! A alternativa C está correta.</p><p>O projeto terapêutico singular deve ser elaborado considerando o</p><p>usuário nas suas mais diversas dimensões, biológica, psíquica e</p><p>social, entendendo-o em sua singularidade. Portanto, ele faz parte</p><p>do processo de elaboração do projeto, apostando-se no seu</p><p>protagonismo e na sua autonomia.</p><p>A</p><p>Restringindo a elaboração do projeto unicamente ao</p><p>entendimento da equipe responsável.</p><p>B</p><p>Considerando apenas as observações diagnósticas</p><p>realizadas pelo psiquiatra responsável no serviço.</p><p>C</p><p>Promovendo a inserção do usuário como</p><p>protagonista na construção do projeto</p><p>compartilhado com equipe técnica, familiares e</p><p>demais pessoas envolvidas.</p><p>D</p><p>Incluindo somente as considerações das queixas</p><p>familiares em relação ao usuário.</p><p>E</p><p>Definindo um conjunto de metas a serem</p><p>alcançadas, desconsiderando a singularidade e as</p><p>possibilidades do usuário.</p><p>3 - Elementos discriminatórios e saúde mental infantojuvenil</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a incidência de elementos</p><p>discriminatórios e racializantes na construção sociocultural das práticas de cuidado</p><p>infantojuvenis.</p><p>Ligando os pontos</p><p>O sofrimento psíquico vivenciado por pessoas vítimas de atos</p><p>discriminatórios revela um modo de funcionamento sociocultural que</p><p>deveria ser constantemente problematizado pelos profissionais que</p><p>atuam nesse campo. Veremos um exemplo dessa situação no case a</p><p>seguir.</p><p>Maria é uma mulher de 35 anos, negra, moradora de uma cidade na</p><p>Baixada Fluminense, que criava sozinha seus dois filhos. Seu filho mais</p><p>velho, Gabriel, foi morto quando tinha 13 anos, baleado durante uma</p><p>troca de tiros entre traficantes e policiais na comunidade em que</p><p>moravam. Gabriel estava voltando da escola na companhia do irmão</p><p>mais novo, Rafael, e de alguns amigos. A morte do filho de Maria gerou</p><p>uma grande comoção no local onde moram, pois era um menino muito</p><p>querido por todos.</p><p>A vida da família, agora restrita à Maria e ao filho mais novo, foi</p><p>atravessada por essa tragédia. Maria passou a ficar mais reclusa em</p><p>casa, chorando e apresentando dificuldades para dormir. Seu sono era</p><p>invadido por lembranças da vida de Gabriel, e pela dificuldade que teve</p><p>desde o período da gravidez. Ficou grávida aos 18 anos e durante o</p><p>período da gestação ouvia piadas preconceituosas sobre ser mãe tão</p><p>nova, sendo desacreditada em relação à capacidade de criar o bebê.</p><p>Outra lembrança que aparecia durante a noite era a do seu parto,</p><p>quando se sentiu “dopada” pela forte dosagem de medicação prescrita,</p><p>além de não ter se sentido acolhida como esperava pela equipe</p><p>responsável.</p><p>Seu filho mais novo, Rafael, até então um excelente aluno, apresentou</p><p>uma queda de rendimento escolar. Ele começou a faltar às aulas, pois</p><p>tinha medo de sair de casa e, quando conseguia ir para a escola, ficava</p><p>disperso. Maria buscou atendimento no posto de saúde, no qual foi</p><p>atribuído a ela o diagnóstico de depressão, iniciando uso de ansiolítico.</p><p>O médico que a atendeu disse que ela era uma “guerreira” e que</p><p>tomando o remédio iria ficar bem. Rafael foi diagnosticado com</p><p>transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, iniciando o uso de</p><p>medicação específica. Ambos seguiram enfrentando os efeitos do</p><p>evento traumático, com a sensação de que faltava alguma coisa na</p><p>proposta terapêutica estabelecida.</p><p>Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos</p><p>ligar esses pontos?</p><p>Questão 1</p><p>Um episódio trágico desestabiliza a dinâmica afetiva da família em</p><p>questão. Sua tragicidade faz parte da rotina de milhões de</p><p>moradores das áreas periféricas das grandes cidades, atingindo</p><p>diretamente a saúde mental dessa população. Qual fenômeno</p><p>social brasileiro relacionado a esse fato você identifica no caso</p><p>narrado?</p><p>A Alto índice de mortalidade da juventude negra.</p><p>B Fracasso escolar.</p><p>Parabéns! A alternativa A está correta.</p><p>O Brasil apresenta elevados índices de morte de jovens negros nas</p><p>áreas periféricas, revelando a alta letalidade das ações policiais</p><p>nessas áreas, o que provoca severos danos psíquicos à grande</p><p>parcela da população brasileira.</p><p>Questão 2</p><p>Após a perda do filho, Maria é invadida por lembranças referentes a</p><p>ele, desde a época de seu parto. Que tipo de episódio você</p><p>identifica na forma como ela internalizou a experiência do</p><p>nascimento do filho?</p><p>Parabéns! A alternativa E está correta.</p><p>Pesquisas apontam que as mulheres negras representam mais de</p><p>60% dos casos envolvendo violência obstétrica no Brasil, sendo</p><p>C Racismo institucional.</p><p>D Intolerância religiosa.</p><p>E Medicalização da infância.</p><p>A Parto prematuro</p><p>B Gravidez indesejada</p><p>C Parto natural</p><p>D Parto humanizado</p><p>E Violência obstétrica</p><p>vítimas de uma naturalização deste ato de violência no registro</p><p>institucional.</p><p>Questão 3</p><p>O case nos mostra a complexidade do cenário social brasileiro por meio</p><p>de episódios de violência que se sobrepõem ao longo da vida da</p><p>personagem. Há a violência que se apresenta em sua face mais cruel e</p><p>explícita, pelo assassinato de seu filho adolescente, e registros da</p><p>violência nas dimensões institucionais, de forma mais velada, em meio</p><p>a práticas de cuidado. Tendo perdido um filho da maneira como perdeu</p><p>e sendo mãe do menino que ainda está elaborando a perda violenta do</p><p>irmão, a personagem recorre à rede de saúde, para si e para o filho. A</p><p>partir do relato, quais atravessamentos presentes nesse caso você</p><p>avalia que a equipe de referência deveria acolher com a mãe e o filho?</p><p>Digite sua resposta aqui</p><p>Chave de resposta</p><p>A situação relatada revela o drama vivenciado por grande</p><p>parte da população brasileira e, consequentemente, torna-</p><p>se uma questão para todos os envolvidos nas práticas de</p><p>cuidado infantojuvenis. A avaliação do caso foi realizada de</p><p>forma reducionista, considerando a amplitude da situação</p><p>vivenciada. Seria mais adequado um acompanhamento</p><p>psicoterapêutico, de forma continuada e acolhedora, e não</p><p>apenas uma ação específica medicamentosa, como</p><p>também ocorreu com seu filho mais novo. A gravidade da</p><p>situação foi reduzida a um diagnóstico.</p><p>Em relação aos atravessamentos presentes no relato,</p><p>observamos a existência de uma crença de que a mulher</p><p>negra é “forte”, “guerreira”, uma imagem construída sob</p><p>uma premissa racista, de que ela teria uma capacidade</p><p>maior do que as outras mulheres de suportar a dor.</p><p>Além disso, a condução de um caso infantojuvenil deve</p><p>levar em conta a singularidade de cada história familiar,</p><p>entendendo que a criança e o adolescente apresentam na</p><p>escola questões que dizem respeito ao seu território, à sua</p><p>família e aos seus medos. No caso relatado, a redução de</p><p>todo o acontecimento a um diagnóstico acaba por rechaçar</p><p>a possibilidade de acolhimento das angústias vivenciadas</p><p>por um menino que perdeu seu irmão e que se dá conta de</p><p>que a cor da sua pele e o local onde mora podem ser</p><p>elementos que encurtariam sua vida. O desafio da atenção</p><p>psicossocial infantojuvenil no cenário brasileiro requer a</p><p>abertura desse campo problemático para um efetivo</p><p>acolhimento à criança e à sua família.</p><p>Racismo, instituição e sofrimento</p><p>mental</p><p>Nas últimas décadas, o movimento de combate ao racismo tem se</p><p>intensificado em nosso país, tornando-se necessário que esse debate</p><p>seja também incluído no campo das políticas públicas, mais</p><p>especificamente no campo da saúde mental. O racismo deve ser</p><p>entendido como um sistema de opressão, de produção de violência e</p><p>exclusão e, portanto, produtor de sofrimento mental. Logo, seu</p><p>enfrentamento e problematização são pilares indispensáveis para a</p><p>construção de uma rede de cuidado ampliada e adequada à</p><p>complexidade sociocultural brasileira.</p><p>Munanga (2014) chama a atenção para</p><p>a complexidade do fenômeno</p><p>do preconceito racial, comparando-o à figura de um iceberg. A parte</p><p>visível seria o conjunto de práticas discriminatórias que são observáveis</p><p>pelos comportamentos sociais e individuais. Já a parte submersa desse</p><p>iceberg diz respeito aos preconceitos não manifestos, presentes</p><p>“invisivelmente” nas práticas cotidianas das pessoas, além dos danos</p><p>psíquicos provocados pela discriminação racial.</p><p>No Brasil, o fenômeno do preconceito racial apresenta peculiaridades</p><p>em relação aos demais países, segundo Munanga (2014). Entre estas,</p><p>podemos destacar a importância atribuída à questão da miscigenação</p><p>nos debates político-ideológicos que sustentaram as discussões acerca</p><p>da construção de uma “identidade nacional” ao longo do século XX.</p><p>Acreditava-se que um intensivo processo de</p><p>miscigenação possibilitaria o surgimento de uma “nova</p><p>raça brasileira”, sendo cunhada de “ideologia de</p><p>branqueamento”. Nesse projeto, as populações</p><p>indígenas, negras e mestiças tenderiam a desaparecer,</p><p>ao menos fenotipicamente, em prol do surgimento de</p><p>uma população “homogênea”, seguindo padrões</p><p>europeus.</p><p>Fortemente influenciado pelas corrente eugenista da época, o processo</p><p>de “branqueamento” traz à tona a complexidade inerente à</p><p>problematização do preconceito racial no Brasil. Atualmente podemos</p><p>notar que determinada produção de conhecimento científico contribuiu</p><p>diretamente para a construção de práticas discriminatórias e racistas.</p><p>Práticas que se expressam no cotidiano da população brasileira nos</p><p>mais diversos espaços.</p><p>Segundo dados coletados pelo GT Racismo e Saúde da Associação</p><p>Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), 70% dos usuários do SUS são</p><p>pessoas que se declaram pretas ou pardas (CFP, 2022). Ou seja, é a</p><p>maior parcela da população brasileira que enfrenta diariamente as</p><p>mazelas sociais de um país com forte herança escravocrata e</p><p>colonizadora.</p><p>É imprescindível para a atuação profissional no campo da saúde mental</p><p>a ampliação do olhar para as diversas formas de racismo que atingem</p><p>as pessoas negras e pardas, assim como para o sofrimento psíquico</p><p>decorrente na vida dessas pessoas. Para isso, é importante</p><p>entendermos de que maneira se manifestam os mecanismos e práticas</p><p>racializantes no registro institucional.</p><p>Segundo Sampaio (2003), poderíamos entender o racismo institucional</p><p>como uma tentativa fracassada no âmbito coletivo de promover a</p><p>organização de um serviço de forma apropriada e profissional para o</p><p>público, considerando sua cultura, sua cor ou origem étnica. Outra forma</p><p>de manifestação do racismo institucional seria pela observação da</p><p>quantidade de pessoas negras que trabalham à frente das políticas</p><p>públicas de saúde, assim como a posição que ocupam no trabalho, ou</p><p>ainda a dificuldade enfrentada por essa população no acesso aos</p><p>serviços.</p><p>A abertura desse amplo campo de discussões é um movimento</p><p>necessário para que possamos nos debruçar sobre nossa área de</p><p>interesse, a da infância e da adolescência, e as suas especificidades no</p><p>âmbito das questões ligadas ao racismo e ao preconceito.</p><p>Racismo, instituição e sofrimento</p><p>mental</p><p>Assista ao vídeo e reflita sobre os efeitos negativos do racismo na</p><p>saúde mental no Brasil e entenda como esse fenômeno encontra formas</p><p>de se perpetuar.</p><p></p><p>Do “menor” à criança</p><p>No Brasil, a produção da noção da infância tal qual a concebemos</p><p>atualmente foi um processo composto por diversos atravessamentos.</p><p>Vamos conhecê-los!</p><p></p><p>Político</p><p></p><p>Social</p><p></p><p>Jurídico</p><p>Quando tomamos como desafio atual a construção de uma rede de</p><p>cuidado e assistência à infância e à adolescência, devemos considerar o</p><p>percurso histórico dessa categorização, para melhor compreender</p><p>práticas de discriminação e exclusão ainda direcionadas para esse</p><p>público.</p><p>Segundo Bulcão (2002), o início do período republicano no Brasil, na</p><p>virada do século XIX para o século XX, foi marcado por uma série de</p><p>transformações do mundo do trabalho, das relações familiares e das</p><p>formas como a criança é percebida socialmente. Surgem nessa época</p><p>as primeiras leis voltadas para a infância, os estabelecimentos</p><p>escolares, além de um visível processo valorização da educação das</p><p>crianças.</p><p>Elas passam a ser vistas como futuros cidadãos e atores sociais,</p><p>determinantes para o projeto republicano de construção da nação</p><p>brasileira. Com isso, surgem ações de controle e prevenção voltadas</p><p>para esse público, baseadas no princípio da periculosidade. De acordo</p><p>com Foucault (1996, p. 85), essa noção prevê que “o indivíduo deve ser</p><p>considerado pela sociedade ao nível de suas virtualidades e não ao nível</p><p>de seus atos”, fundamentando todo um aparato de gestão e tutela</p><p>daqueles considerados “perigosos”.</p><p>O discurso médico passa a ser direcionado para a cena familiar, para o</p><p>cuidado com a criança, por meio da noção de puericultura, o saber que</p><p>tratava da higiene física e social da criança.</p><p>Nesse contexto de cuidado e vigilância, surge outro tipo de discurso</p><p>direcionado à criança e à família: o jurídico. Os juristas passavam a se</p><p>atentar cada vez mais ao aumento do número de crianças em situação</p><p>de rua. Surge então a denominação de “menor”, tendo sido os juristas da</p><p>época os primeiros a utilizarem esse termo, marcando o início da</p><p>judicialização da infância no Brasil. A utilização dessa nomenclatura</p><p>acaba ultrapassando o campo jurídico, juntamente com suas variações</p><p>(abandonado, delinquente, desviado) incorporadas à linguagem popular.</p><p>Ganha força o discurso tutelar voltado para essa categoria da infância,</p><p>uma vez que, no início do período republicano, com o crescimento das</p><p>cidades, as consequências da pobreza e da desigualdade social</p><p>contribuem e tornam ainda mais visível o aumento do número de</p><p>crianças desassistidas.</p><p>Tais condições e acontecimentos são pano de fundo para a</p><p>promulgação do Código de Menores em 1927, conhecido também como</p><p>Código Mello Matos. Também traz duas noções distintas sobre o</p><p>indivíduo. Vejamos quais são elas!</p><p>“Menor”</p><p>É a figura da criança</p><p>pobre, que deve ser</p><p>tutelada pelo Estado,</p><p>entendida como alguém</p><p>capaz de oferecer</p><p>algum tipo de risco à</p><p>“Criança”</p><p>É a figura relacionada</p><p>com a criança</p><p>associada à família e à</p><p>escola, não precisando</p><p>de cuidados especiais.</p><p>sociedade e associada</p><p>a instituições como</p><p>orfanatos, reformatórios</p><p>e abrigos.</p><p>Essa distinção permanece no imaginário social até os dias atuais,</p><p>mesmo com ações institucionais tais como a homologação da Lei nº</p><p>8.069, em 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do</p><p>Adolescente. Em seu primeiro artigo, é possível notar a tentativa de</p><p>romper com a dicotomia menor/criança, dispondo sobre a “proteção</p><p>integral à criança e ao adolescente”. Devemos considerar a superação</p><p>dessa distinção como desafio diário na construção coletiva de políticas</p><p>públicas de saúde mental voltadas para a infância e adolescência.</p><p>Do “menor” à criança</p><p>Assista ao vídeo e reflita sobre o impacto da dicotomia menor/criança e</p><p>a importância de sua superação para alcançar uma proteção integral à</p><p>criança e ao adolescente.</p><p>Os desa�os da promoção de saúde no</p><p>combate à discriminação</p><p>A premissa do acesso universal aos serviços de saúde é um dos pilares</p><p>de sustentação do SUS, sobre o qual se assentam as políticas de saúde</p><p>mental na infância e adolescência. O acesso universal representa a</p><p>possibilidade de que todo cidadão brasileiro usufrua dos serviços de</p><p>saúde, sem qualquer barreira de acessibilidade, de ordem legal,</p><p>econômica, física ou cultural.</p><p></p><p>O conceito de integralidade é fundamentado no reconhecimento, no</p><p>cotidiano dos serviços de saúde, de que cada criança ou adolescente é</p><p>um ser indivisível e social, e que as ações de promoção e proteção da</p><p>saúde não podem ser fragmentadas. Nessa direção, é de grande</p><p>importância que as ações das equipes dos CAPSis estejam voltadas</p><p>para uma articulação com outros campos de saber e outros setores,</p><p>como a justiça, a assistência social, a educação e a cultura.</p><p>A atenção à infância e à adolescência deve englobar seu contexto</p><p>social, político</p>

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