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<p>7 Terapia familiar estrutural criança, enquanto o outro é um excluído zan- A organização subjacente da vida familiar gado. Se for assim, tentativas de incentivar uma disciplina eficaz provavelmente fracassarão, a menos que o problema estrutural seja tratado, Uma das razões pelas quais a terapia fa- e os pais desenvolvam uma parceria genuína. miliar pode ser difícil é as famílias com fre- Igualmente, um casal que não consegue se re- qüência parecerem conjuntos de que lacionar bem pode não ser capaz de melhorar se influenciam mutuamente de maneiras po- seu relacionamento a menos que consiga criar derosas, mas imprevisíveis. A terapia familiar uma fronteira entre eles e filhos ou parentes estrutural oferece uma estrutura que traz or- intrusivos. dem e significado a essas transações. Os pa- A descoberta de que as famílias estão or- drões consistentes de comportamento familiar ganizadas em subsistemas com fronteiras que são o que nos permite considerar que eles têm regulam o contato que os membros da família uma estrutura, embora, é claro, somente em mantêm se revelou um dos insights definidores um sentido funcional. As fronteiras e coalizões da terapia familiar. Talvez de igual importân- que constituem uma estrutura familiar são abs- cia, todavia, tenha sido a introdução da técni- trações; no entanto, utilizar conceito de es- ca de encenação, em que os familiares são trutura familiar permite aos terapeutas inter- encorajados a lidar diretamente uns com os vir de maneira sistemática e organizada. outros na sessão, o que permite que terapeuta As famílias que buscam ajuda em geral observe e modifique suas interações. estão preocupadas com um problema específi- Quando Salvador Minuchin entrou em CO. Pode ser uma criança que se comporta mal cena, seu impacto galvanizador foi como um ou um casal que não consegue se relacionar mestre da técnica. Sua contribuição mais dura- bem. Os terapeutas familiares costumam olhar doura, entretanto, foi uma teoria da estrutura além dos elementos específicos desses proble- familiar e uma série de orientações para orga- mas, para as tentativas da família de resolvê- nizar as técnicas terapêuticas. Essa abordagem los. Isso leva à dinâmica da interação. A crian- estrutural foi tão bem-sucedida que cativou o ça que se comporta mal pode ter pais que a campo nos anos de 1970, e Minuchin transfor- repreendem, mas jamais a recompensam. O mou a Philadelphia Child Guidance Clinic em casal pode estar aprisionado em uma dinâmi- um complexo mundialmente famoso, no qual ca perseguidor-distanciador ou ser incapaz de milhares de terapeutas familiares têm feito for- mação em terapia familiar estrutural. conversar sem brigar. O que a terapia familiar estrutural acres- centa à equação é o reconhecimento da orga- nização total que sustenta e mantém essas ESBOÇO DE FIGURAS ORIENTADORAS interações. Os "pais que repreendem" podem acabar se revelando dois parceiros que se pre- Minuchin nasceu e foi criado na Argenti- judicam porque um está emaranhado com a na. Trabalhou como médico no exército israe-</p><p>182 MICHAEL P. NICHOLS Bernice Rosman, Harry Aponte, Carter Umbarger, Marianne Walters, Charles Fishman, Cloe Madanes e Stephen Greenstein, todos os quais participaram do desenvolvimento da terapia familiar estrutural. Nos anos de 1970, a tera- pia familiar estrutural já tinha se tornado o sis- tema de terapia familiar mais influente e am- 0 modelo estrutural de plamente praticado. Salvador Minuchin é a Em 1976, Minuchin deixou de ser diretor abordagem mais influente da Philadelphia Child Guidance Clinic, mas à terapia familiar em todo continuou como chefe do programa de forma- 0 mundo. ção até 1981. Depois de deixar a Philadelphia, Minuchin montou seu próprio centro em Nova York, onde continuou praticando e ensinando lense e depois foi para os Estados Unidos, onde terapia familiar até 1996, quando se aposen- se especializou em psiquiatria infantil com tou e se mudou para Boston. Nesse mesmo ano, Nathan Ackerman, em Nova York. Após con- concluiu seu nono livro, Mastering family thera- cluir seus estudos, Minuchin voltou a Israel, py: journeys of growth and transformation, em em 1952, para trabalhar com crianças refugia- co-autoria com nove de seus supervisionandos, Retornou aos Estados Unidos em 1954, apresentando as idéias mais importantes e sig- para começar sua formação analítica no nificativas sobre terapia familiar e formação William Alanson White Institute, onde estudou profissional na área. Embora tenha se aposen- a psiquiatria interpessoal de Harry Stack tado (novamente) e se mudado para Boca Sullivan. Ao deixar o White Institute, Minuchin Raton, na Flórida, em 2005, Dr. Minuchin trabalhou na Wiltwyck School com adolescen- ainda viaja e ensina pelo mundo todo. tes onde sugeriu aos colegas que Como bons jogadores em uma equipe que começassem a atender famílias. tem uma superestrela, alguns dos colegas de Na Wiltwyck, Minuchin e seus colegas Minuchin não são tão conhecidos como pode- Dick Auerswald, Charlie King, Braulio Montalvo riam ser. Entre eles está Braulio Montalvo, um e Clara Rabinowitz aprenderam a fazer tera- dos gênios subestimados da terapia familiar. pia familiar, inventando-a conforme iam em Nascido e criado em Porto Rico, Montalvo, co- frente. Para isso, usavam um espelho de ob- mo Minuchin, sempre tratou famílias de mi- servação e se revezavam observando o traba- norias. Como Minuchin, também é um tera- lho uns dos Em 1962, Minuchin fez uma peuta brilhante, embora prefira uma aborda- peregrinação à Meca da terapia familiar, Palo gem mais gentil, mais apoiadora. Alto. Lá, conheceu Jay Haley, e ambos inicia- Após a aposentadoria de Minuchin, o cen- ram uma amizade que frutificaria em uma co- tro de Nova York foi renomeado como Minuchin laboração extraordinariamente fértil. Center for the Family em sua homenagem, e a O sucesso do trabalho de Minuchin com tocha foi passada adiante para uma nova gera- famílias na Wiltwyck levou à publicação de um ção. A equipe de professores eminentes no livro influente e desbravador, Families of the Minuchin Center atualmente inclui Ema Slums, escrito com Montalvo, Guerney, Rosman Genijovich, David Greenan, George Simon e e Schumer. A reputação de Minuchin como Wai-Yung Lee. Sua tarefa é manter o centro de terapeuta familiar cresceu e, em 1965, ele se vanguarda da terapia familiar estrutural na li- tornou diretor da Philadelphia Child Guidance nha de frente do campo sem a liderança Clinic. A clínica, na época, possuía uma equipe carismática de seu progenitor. que não chegava a 12 pessoas. Partindo deste Entre outros alunos proeminentes de início modesto, Minuchin criou uma das clíni- Minuchin estão Jorge Colapinto, agora no cas de orientação infantil mais importantes e Ackerman Institute em Nova York; Michael prestigiadas do mundo. Nichols, que leciona no College of William and Entre os colegas de Minuchin na Philadel- Mary; Jay Lappin, que trabalha com assistên- phia estavam Braulio Montalvo, Jay Haley, cia à criança para o governo de Delaware, e</p><p>TERAPIA FAMILIAR 183 Charles Fishman, em prática privada na Fila- po sozinhos, apenas os dois. Essas délfia. são isomórficas: são estruturadas. Modificar uma dessas pode não afetar a estru- tura básica, mas alterar a estrutura subjacente FORMULAÇÕES TEÓRICAS terá um efeito sobre todas as transações fa- miliares. Os profissionais iniciantes tendem a se A estrutura familiar é moldada em parte atolar no conteúdo dos problemas familiares por questões universais e em parte por limita- porque não têm uma teoria que os ajude a en- ções idiossincráticas. Por exemplo, todas as xergar os padrões de dinâmica familiar. A te- famílias têm uma estrutura hierárquica, com rapia familiar estrutural fornece um esquema adultos e crianças possuindo mais ou menos para se analisar os processos de interação fa- autoridade. Os membros da família também miliar. Como tal, oferece uma base para estra- tendem a ter funções recíprocas e complemen- tégias terapêuticas consistentes, que deixam tares. Com essas funções se tornam óbvia a necessidade de se ter uma técnica es- tão entranhadas que sua origem é esquecida, a de outra pessoa para e elas são vistas como necessárias, em vez de cada ocasião. Três construtos são os compo- opcionais. Se uma jovem mãe, sobrecarregada nentes essenciais da teoria familiar estrutural: pelas demandas do seu bebê, fica chateada e estrutura, subsistemas e fronteiras. se queixa para o marido, ele pode responder Estrutura familiar refere-se ao padrão or- de várias maneiras. Talvez ele se aproxime e ganizado em que os membros da família inte- ajude a cuidar do bebê. Isso cria uma equipe ragem. Já que as transações familiares se re- parental unida. Por outro lado, se ele decidir petem, criam expectativas que estabelecem que a esposa está "deprimida", ela pode aca- padrões duradouros. Depois que os padrões são bar em terapia para conseguir o apoio emocio- estabelecidos, os membros da família usam nal do qual precisa. Isso cria uma estrutura em apenas uma fração do leque completo de com- que a mãe permanece distante do marido e portamentos disponíveis para eles. Da primei- aprende a buscar apoio fora da família. Seja ra vez em que um bebê chora ou um adoles- qual for o padrão escolhido, ele tende a se cente perde o ônibus escolar, não está claro autoperpetuar. Embora existam alternativas, as quem fará o quê. A carga será compartilhada? famílias provavelmente não as considerarão até Haverá uma desavença? Uma pessoa ficará que uma mudança nas circunstâncias produza encarregada de todo o trabalho? Mas logo são estresse no sistema. estabelecidos padrões, determinados papéis, e As famílias não chegam entregando-nos as coisas se tornam uniformes e previsíveis. seus padrões estruturais como se estivessem "Quem ?" se torna "Provavelmente ela..." entregando uma para a professora. O que e, então, "Ela sempre...". elas trazem é caos e confusão. Temos de des- A estrutura familiar é reforçada pelas ex- cobrir o subtexto e temos de cuidar para que pectativas que estabelecem regras na família. ele seja acurado não imposto, mas descober- Por exemplo, uma regra como "os membros da to. Dois pontos são necessários: ter um siste- família devem sempre se proteger mutuamen- ma teórico que explique a estrutura e ver a fa- te" vai se manifestar de várias maneiras, de- mília em ação. Saber que uma família é mono- pendendo do contexto e de quem estiver en- parental ou que um casal tem dificuldade com volvido. Se um menino briga com um vizinho, o filho do meio não nos diz qual é a sua estru- a mãe irá à casa dos vizinhos para se queixar. tura. A estrutura só se torna observável quan- Se uma adolescente tem de acordar cedo para do observamos as interações concretas entre ir à escola, a mãe a acordará. Se um marido os membros da família. estiver com uma ressaca grande demais para Considere o seguinte caso. Uma mãe te- ir trabalhar de manhã, a esposa telefonará para lefona para se queixar do mau comportamen- dizer que ele está gripado. Se os pais briga- to de seu filho de 17 anos. Ela é convidada a rem, os filhos interromperão a briga. Os pais trazer o marido, esse filho e os outros três para estão tão preocupados com as questões dos fi- a primeira sessão. Quando chegam, a mãe co- lhos que isso os impede de passarem um tem- meça a descrever uma série de aspectos triviais</p><p>184 MICHAEL P. NICHOLS que provam que o filho é desobediente. Ele in- solver as disputas dos filhos, estes não aprende- terrompe para dizer que ela fica sempre no seu rão a lutar suas próprias batalhas. pé, que jamais lhe dá uma folga. Essa altercação As fronteiras interpessoais variam de rí- espontânea revela um envolvimento intenso gidas a difusas (ver Figura 7.1). Fronteiras rí- entre mãe e filho uma preocupação mútua, gidas são excessivamente restritivas e permi- não menos intensa por ser conflituosa. Contu- tem pouco contato com subsistemas externos, do, essa não nos conta toda a histó- resultando em desligamento. Indivíduos ou ria, porque não inclui o pai nem os outros fi- subsistemas desligados são independentes, mas lhos. Eles precisam ser envolvidos para obser- isolados. Do lado positivo, isso estimula a au- varmos seu papel na estrutura familiar. Se o tonomia. Por outro lado, o desligamento limi- pai tomar o partido da esposa, mas parecer ta a afeição e a ajuda. Famílias desligadas pre- despreocupado, pode ser que a preocupação cisam chegar a um estresse extremo antes de da mãe com filho esteja relacionada à falta mobilizarem ajuda mútua. de envolvimento do marido. Se os filhos mais Os subsistemas emaranhados fornecem jovens tenderem a concordar com a mãe e des- um sentimento amplo de apoio mútuo, mas à creverem o irmão como mau, fica claro que custa da independência e da autonomia. Pais todos os filhos são próximos da mãe próxi- emaranhados são amorosos e atenciosos; pas- mos e obedientes até certo ponto, depois pró- sam muito tempo com os filhos e fazem muito ximos e desobedientes. por eles. Entretanto, os filhos emaranhados As famílias diferenciam-se em subsistemas com os pais tornam-se dependentes. Sentem- baseados em geração, gênero e interesses co- se menos à vontade sozinhos e podem ter difi- muns. Agrupamentos óbvios como os pais ou os culdade em se relacionar com pessoas de fora filhos adolescentes são, às vezes, menos significa- da família. tivos que coalizões encobertas. Uma mãe e seu Minuchin descreveu algumas das carac- filho caçula podem formar um subsistema tão terísticas dos subsistemas familiares em seu fechado que os outros são excluídos. Outra famí- trabalho mais acessível, Families and family lia pode se dividir em dois campos, com a mãe therapy (Minuchin, 1974). A família começa e o filho de um lado, e o pai e a filha de outro. quando duas pessoas se unem para formar um Embora certos padrões sejam comuns, as possi- casal. Duas pessoas que se amam concordam bilidades de subagrupamentos são infinitas. em compartilhar a vida, o futuro e as expecta- Cada membro da família desempenha tivas, mas um período de ajustamento, geral- muitos papéis em vários subgrupos. Mary pode mente difícil, é necessário antes que elas pos- ser esposa, mãe, filha e sobrinha. Em cada um sam completar a transição do namoro para uma desses papéis, pode ser exigido dela um com- parceria funcional. Elas precisam aprender a portamento diferente. Se ela for flexível, será acomodar as necessidades mútuas e os estilos capaz de variar seu comportamento e adaptá- preferidos de interação. Em um casal sadio, lo a diferentes subgrupos. Censurar pode estar ambos dão e recebem. Ele aprende a acomo- bem para uma mãe, mas pode causar proble- mas a uma esposa ou filha. Os indivíduos, subsistemas e a família in- Fronteira rígida teira são demarcados por fronteiras interpes- soais, barreiras invisíveis que regulam o conta- Desligamento to com os outros. Uma regra que proíbe telefo- nemas durante o jantar estabelece uma frontei- Fronteira clara ra que protege a família de intrusões externas. Quando as crianças pequenas têm permissão Intervalo normal para interromper livremente a conversa dos pais, a fronteira que separa as gerações é desgastada. Fronteira difusa Subsistemas que não são adequadamente pro- tegidos por fronteiras limitam o desenvolvimen- Emaranhamento to de habilidades interpessoais nos mesmos. Se os pais sempre interferem para re- FIGURA 7.1 Fronteiras.</p><p>TERAPIA FAMILIAR 185 dar a necessidade dela de ser beijada na des- Além de manter a privacidade do casal, pedida e na chegada. Ela aprende a deixá-lo uma fronteira clara estabelece uma estrutura em paz com seu jornal no café da manhã. Es- hierárquica em que os pais ocupam uma posi- ses pequenos arranjos, multiplicados milhares ção de liderança. Com excessiva, de vezes, podem ser feitos facilmente ou só essa hierarquia é rompida por uma disposição depois de muitas brigas. Seja como for, esse centrada na criança, que influencia os profissio- processo de acomodação cimenta o casal em nais que atendem crianças, assim como os pais. uma unidade. Pais emaranhados com seus filhos tendem a O casal também precisa desenvolver pa- discutir com eles sobre quem está no comando drões complementares de apoio mútuo. Alguns e compartilham equivocadamente ou negli- padrões são transitórios e podem ser reverti- genciam a responsabilidade por tomar deci- dos mais tarde por exemplo, um vai trabalhar sões parentais. enquanto o outro termina a faculdade. Outros Em Institutionalizing madness (Elizur e padrões são mais duradouros. Papéis comple- Minuchin, 1989), Minuchin defende convin- mentares exagerados podem dificultar o cres- centemente uma visão sistêmica dos proble- cimento individual; papéis complementares mas familiares que vai além da família e inclui moderados permitem ao casal dividir funções, toda a comunidade. Conforme Minuchin sali- apoiar-se e enriquecer-se mutuamente. Quan- enta, a menos que os terapeutas aprendam a do um fica gripado, o outro assume as tarefas. olhar além da fatia limitada da ecologia em A permissividade de um deles com os filhos que trabalham, para as estruturas sociais mais pode ser equilibrada pela firmeza do outro. A amplas nas quais seu trabalho está inserido, disposição impetuosa de um pode ajudar a dis- sua obra talvez se reduza a pouco mais do que solver a reserva do outro. Padrões complemen- fiar em uma roca. tares existem na maioria dos casais. Tornam- se problemáticos quando são tão exagerados que criam um subsistema disfuncional. DESENVOLVIMENTO FAMILIAR NORMAL O subsistema dos cônjuges também pre- cisa criar uma fronteira que o separe de pais, O que distingue uma família normal não filhos e outras pessoas de fora. Quando os fi- é a ausência de problemas, mas uma estrutura lhos nascem, é muito comum marido e mulher funcional para lidar com eles. Todo casal pre- desistirem do espaço que lhes é necessário para cisa aprender a se ajustar um ao outro; a criar se apoiarem. Uma fronteira rígida demais em os filhos, se decidir ter filhos; a lidar com os torno do casal pode privar os filhos dos cuida- pais; a lidar com seus empregos, e a se adaptar dos de que eles precisam; mas, na nossa cultu- à comunidade. A natureza dessas lutas se mo- ra centrada nas crianças, a fronteira entre pais difica de acordo com os estágios desenvolvi- e filhos é ambígua, no melhor mentais e as crises situacionais. dos casos. Quando duas pessoas se unem para for- Uma fronteira clara permite aos filhos mar um casal, os requerimentos estruturais interagir com pais, mas os exclui do subsistema da nova união são a acomodação e a criação do casal. Pais e filhos comem juntos, brincam de fronteiras. A maior prioridade é a mútua juntos e compartilham grande parte da vida acomodação, para lidar com os inúmeros de- uns dos outros, mas há algumas funções do talhes da vida cotidiana. Cada parceiro tende casal que não precisam ser compartilhadas. a organizar o relacionamento segundo uma Marido e mulher são reforçados como casal linha familiar e pressiona outro para acei- amoroso e melhorados como pais se tiverem tar isso. Eles precisam concordar em relação tempo para ficarem sozinhos para conversar, a questões importantes, tais como onde mo- sair para jantar ocasionalmente, brigar e fazer rar e se e quando terão filhos. Menos óbvio, amor. Infelizmente, as demandas barulhentas mas igualmente importante, precisam coor- dos filhos pequenos muitas vezes fazem os pais denar rituais diários, tais como os programas perderem de vista a sua necessidade de man- aos quais assistir na televisão, o que comer no ter uma fronteira em torno de seu relacio- jantar, a que horas ir para a cama e o que fa- namento. zer</p><p>186 MICHAEL P. NICHOLS Nesta acomodação mútua, o casal tam- Embora possa tentar ajudar a esposa, é prová- bém precisa negociar a natureza das frontei- vel que veja algumas de suas exigências como ras entre eles e das fronteiras que os separam desmedidas. dos outros. Uma fronteira difusa entre o casal Os filhos requerem diferentes estilos de é aquela em que ambos costumam se telefonar cuidados parentais nas diferentes idades. Os durante o trabalho, em que nenhum tem ami- bebês precisam basicamente de cuidados e ca- gos próprios ou atividades independentes e em rinho. As crianças precisam de orientação e que passam a se ver como um par, e não como controle, e os adolescentes, de independência duas personalidades diferentes. Por outro lado, e responsabilidade. O que representa bons cui- a fronteira é rígida se eles passam pouco tempo dados parentais para uma criança de 2 anos juntos, têm quartos separados, tiram férias se- pode ser inadequado para uma de 5 ou para paradamente, têm contas separadas no banco, um adolescente de 14 anos. e ambos investem mais na carreira ou em rela- Minuchin (1974) alerta os terapeutas fa- cionamentos externos do que no casamento. miliares para que não confundam as dores do Cada parceiro tende a se sentir mais à crescimento com patologia. A família normal vontade com o nível de proximidade que exis- sente ansiedade e tem problemas conforme tia em sua Já que essas expectativas seus membros se adaptam ao crescimento e à diferem, segue-se uma luta que pode ser o as- mudança. Muitas famílias buscam ajuda em pecto mais difícil da nova união. Ele quer jo- estágios transicionais, e os terapeutas gar golfe com os rapazes; ela se sente abando- ter em mente que elas podem, simplesmente, nada. Ela que conversar; ele quer assistir à estar no processo de modificar sua estrutura ESPN. O foco dele é a sua carreira; o foco dela para acomodar novas circunstâncias. é o relacionamento. Cada um acha que o ou- Todas as famílias enfrentam situações que tro não está sendo razoável. estressam o sistema. Embora não exista nenhu- Os casais também precisam definir uma ma linha divisória clara entre famílias sadias e fronteira que os separe de suas famílias de ori- não-sadias, podemos dizer que as famílias sa- gem. De repente, as famílias em que cresce- dias modificam sua estrutura para acomodar ram passam a segundo plano no novo casa- circunstâncias modificadas; as famílias disfun- mento. Este, também, é um ajustamento difí- cionais aumentam a rigidez das estruturas e cil, tanto para os recém-casados quanto para deixam de ser efetivas. seus pais. As famílias variam na facilidade com que aceitam e apóiam essas novas uniões. O nascimento de um filho transforma ins- DESENVOLVIMENTO DE TRANSTORNOS tantaneamente a estrutura da nova família, DE COMPORTAMENTO criando um subsistema parental e um subsistema filial. É típico os cônjuges terem padrões dife- Os sistemas familiares precisam ser sufi- rentes de comprometimento com o bebê. O cientemente estáveis para garantir continuida- comprometimento da mulher com uma unida- de, mas suficientemente flexíveis para se aco- de de três provavelmente começa com a gravi- modar a mudanças nas circunstâncias. Os pro- dez, pois o bebê dentro de seu útero é uma blemas surgem quando estruturas familiares realidade inevitável. O marido, por outro lado, inflexíveis não conseguem se ajustar de forma talvez só comece a se sentir pai quando o filho adequada a desafios maturacionais ou situa- nascer. Muitos homens não aceitam o papel de cionais. Mudanças adaptativas na estrutura são pai até os filhos terem idade suficiente para necessárias quando a família ou um de seus reagir a eles. Assim, mesmo em famílias nor- membros enfrenta um estresse externo e quan- mais, os filhos trazem consigo grande poten- do são atingidos pontos de crescimento tran- cial de estresse e conflito. A vida da mãe em sicionais. geral é transformada mais radicalmente que a A disfunção familiar resulta de uma com- do pai. Ela se sacrifica muito e, tipicamente, binação de estresse e fracasso em se realinhar precisa de mais apoio por parte do marido. O para lidar com a situação (Colapinto, 1991). marido, enquanto isso, continua trabalhando, Os estressores podem ser ambientais (um dos e novo bebê não altera tanto a sua vida. pais fica desempregado, a família se muda) ou</p><p>TERAPIA FAMILIAR 187 desenvolvimentais (um dos filhos atinge a ado- inerentes às idéias em si. Relacionamentos ten- lescência, os pais se aposentam). O fracasso denciosos, seja qual for a razão para eles, po- da família em lidar com a adversidade pode se dem ser problemáticos, embora nenhum mem- dever a falhas em sua estrutura ou simples- bro da família deva ser culpabilizado ou res- mente à sua incapacidade de se ajustar a cir- ponsabilizado por corrigir, unilateralmente, cunstâncias modificadas. desequilíbrio. Nas famílias desligadas, as fronteiras são As hierarquias podem ser frágeis e inefi- rígidas, e a família não consegue mobilizar cazes ou rígidas e arbitrárias. No primeiro caso, apoio quando necessário. Pais desligados po- membros mais jovens da família podem ficar dem não perceber que um filho está deprimi- desprotegidos pela ausência de orientação; no do ou com dificuldades na escola até o proble- segundo, seu desenvolvimento como indiví- ma avançar muito. Nas famílias emaranhadas, duos autônomos pode ser prejudicado, ou lu- por outro lado, as fronteiras são difusas, e os tas de poder podem ser resultado. Exatamen- membros da família reagem exageradamente te como uma hierarquia funcional é necessá- e se envolvem com os outros de maneira intru- ria para a estabilidade de uma família sadia, a siva. Pais emaranhados criam dificuldades ao flexibilidade é necessária para que seus mem- impedir desenvolvimento de formas mais bros se adaptem a mudanças. maduras de comportamento em seus filhos e A expressão mais comum do medo da ao interferir em sua capacidade de resolver os mudança é a evitação do conflito, quando os próprios problemas. familiares evitam tratar de suas discordâncias Em seu livro sobre estudos de caso, Family para se protegerem da dor de se enfrentarem healing, Minuchin e Nichols (1993) descrevem com verdades duras. As famílias desligadas um exemplo comum de emaranhamento quan- evitam o conflito minimizando o contato; as do um pai se intromete para resolver peque- famílias emaranhadas evitam conflito negan- nos desentendimentos entre os dois filhos do diferenças, ou por meio de constantes alter- "como se os irmãos fossem Caim e Abel, e o cações, o que lhes permite ventilar os senti- ciúme fraterno pudesse levar ao assassinato" mentos sem pressionar por mudanças ou re- (Minuchin e Nichols, p. 149). O problema, evi- solver as questões. dentemente, é que, se os pais sempre interrom- Os terapeutas familiares estruturais utili- pem as brigas dos filhos, estes não aprenderão zam alguns símbolos simples para diagramar a lutar as próprias batalhas. problemas estruturais, e esses diagramas nor- Embora falemos sobre famílias emaranha- malmente deixam claro quais mudanças são das e desligadas, é mais exato falar sobre sub- necessárias. A Figura 7.2 mostra alguns dos sistemas específicos como emaranhados ou símbolos usados para diagramar estruturas fa- desligados. De fato, emaranhamento e desli- miliares. gamento costumam ser recíprocos, de modo Um problema com observado que, por exemplo, seja provável um pai exces- pelos terapeutas familiares é aquele em que os sivamente envolvido com seu trabalho se en- pais, incapazes de resolver conflitos entre si, volva menos com a família. Um padrão fre- qüentemente encontrado é a síndrome mãe emaranhada/pai desligado "o arranjo carac- Fronteira rígida terístico da família de classe média perturba- Fronteira nítida da" (Minuchin e Nichols, 1993, p. 121). Fronteira difusa Feministas têm criticado a noção de uma Coalizão síndrome mãe emaranhada/pai desligado por- que rejeitam a divisão estereotípica do traba- Conflito lho (papel instrumental para o pai, papel ex- pressivo para a mãe) e porque não querem Desvio culpar as mães por um arranjo que é cultural- mente sancionado. Ambas as preocupações são Emaranhamento válidas. Todavia, preconceito e acusações são devidos à aplicação insensível dessas idéias, não FIGURA 7.2 Símbolos de estrutura familiar.</p><p>188 MICHAEL P. NICHOLS desviam o foco de preocupação para a criança. bem cuidados maravilhosos: os pais lhes dão Em vez de se preocuparem um com o outro, muita atenção. Embora esses pais estejam can- preocupam-se com a criança (ver Figura 7.3). sados demais de cuidar dos filhos para terem Embora isso reduza a tensão no pai (P) e na muito tempo para si mesmos, o sistema pode mãe (M), vitimiza a criança (C) e, portanto, é ter um sucesso moderado. Entretanto, se esses disfuncional. pais dedicados não ensinarem os filhos a obe- Um padrão alternativo, mas igualmente decer a regras e respeitar a autoridade, os fi- comum, é os pais continuarem a brigar por lhos podem não estar preparados para nego- meio da criança. pai diz que a mãe é permis- ciar seu ingresso na escola. Acostumados a im- siva demais; ela, que ele é rígido demais. Ele por sua vontade, é possível que se tornem re- pode se afastar, fazendo com que ela critique beldes e agitados. Algumas pos- sua falta de preocupação, o que, por sua vez, síveis dessa situação levam a família a trata- faz com que ele se afaste ainda mais. A mãe mento. As crianças podem relutar à escola, e emaranhada reage às necessidades da criança seus medos, ser reforçados por pais "compre- com preocupação excessiva. pai desligado ensivos" que permitem que continuem em casa tende a não reagir mesmo quando uma res- (Figura 7.6). Esse caso pode ser rotulado como posta é necessária. Ambos podem se criticar fobia escolar e piorar se os pais permitirem que mutuamente, mas perpetuam o comportamen- os filhos continuem em casa por mais de al- to do outro com o seu próprio. O resultado é guns dias. uma coalizão geracional cruzada entre a mãe Alternativamente, as crianças de tais fa- e a criança, que exclui o pai (Figura 7.4). mílias podem à escola, mas como não apren- Algumas famílias funcionam bem quan- deram a se acomodar aos outros, podem ser do os filhos são pequenos, mas não conseguem rejeitadas pelos colegas. Essas crianças muitas se ajustar à necessidade de disciplina dos fi- vezes ficam deprimidas e se retraem. Em ou- lhos que estão crescendo. Os filhos pequenos tros casos, as crianças emaranhadas com os pais nas famílias emaranhadas (Figura 7.5) rece- passam a ser um problema disciplinar na esco- la, e as autoridades escolares podem iniciar um aconselhamento. Uma mudança importante na composição P M familiar que requer ajustamento estrutural ocorre quando cônjuges divorciados ou viúvos casam-se novamente. Essas "famílias mistura- das" ou reajustam suas fronteiras ou logo pas- C sam a ter conflitos transicionais. Quando uma mulher se divorcia, ela e as crianças precisam FIGURA 7.3 Designação de um bode expiatório para des- primeiro aprender a se reajustar a uma estru- viar 0 conflito. tura que estabelece uma clara fronteira, sepa- rando os cônjuges divorciados, mas ainda per- mite contato entre o pai e os filhos; então, se M P ela casa novamente, a família precisa apren- der a funcionar com um novo marido e padras- P to (Figura 7.7). vezes, é difícil para a mãe e Torna-se M C os filhos permitirem que o padrasto participe FIGURA 7.4 Coalizão mãe-criança. M P P M C Filhos Escola FIGURA 7.5 Pais emaranhados com os filhos. FIGURA 7.6 Fobia escolar.</p><p>TERAPIA FAMILIAR 189 M P M P Filhos Johnny M P Torna-se Filhos ou M Padrasto M Interesses Torna-se externos Filhos P Johnny FIGURA 7.9 0 emaranhamento de Johnny com a mãe e FIGURA Divórcio e recasamento. seu desligamento de interesses externos. como parceiro no novo subsistema parental. A Por que a mãe está emaranhada com mãe e os filhos estabeleceram regras transacio- filho? Talvez ela esteja desligada do marido. nais e aprenderam a se acomodar uns aos ou- Talvez seja uma viúva que não encontrou no- tros. O novo pai pode ser tratado como um es- vos amigos, um trabalho ou outros interesses. tranho, de quem se espera que aprenda a ma- A melhor maneira de ajudar Johnny a resolver neira "certa" (costumeira) de fazer as coisas, e sua depressão talvez seja ajudar sua mãe a sa- não como um novo parceiro que dará, assim tisfazer as próprias necessidades de proximi- como receberá, idéias sobre criação de filhos dade com o marido ou amigos. (Figura 7.8). Quanto mais a mãe e os filhos Já que os problemas são uma função da insistirem em manter seus padrões familiares estrutura familiar inteira, é importante incluir sem incluir o padrasto, mais frustrado e zan- todo o grupo na avaliação. Contudo, às vezes, gado ele O resultado pode levar ao abu- nem mesmo atender a família inteira é suficien- SO da criança ou a brigas crônicas entre os pais. te. A família nem sempre é contexto comple- Quanto mais cedo essas famílias entrarem em to ou mais relevante. A depressão de uma mãe tratamento, mais fácil será ajudá-las a se ajus- poderia dever-se mais a relacionamentos no tarem à transição. trabalho do que em casa. Os problemas esco- Aspecto importante dos problemas estru- lares de um filho poderiam dever-se mais ao turais da família é que os sintomas de um de contexto estrutural escolar do que ao familiar. seus membros não apenas refletem os relacio- Nesses casos, terapeuta familiar estrutural namentos dessa pessoa com os outros, mas são trabalha com o contexto mais relevante para também uma função de ainda outros relacio- amenizar os problemas apresentados. namentos na família. Se Johnny, de 16 anos, Por fim, alguns problemas podem ser tra- está deprimido, ajuda saber que está emara- tados como do indivíduo. Conforme Minuchin nhado com a mãe. Descobrir que ela exige dele (1974, p. 9) escreveu, "A patologia pode estar uma obediência absoluta e se recusa a deixá- dentro do paciente, em seu contexto social ou lo ter idéias próprias ou relacionamentos com no feedback entre eles". Alhures, Minuchin pessoas de fora ajuda a explicar a sua depres- (Minuchin, Rosman e Baker, 1978, p. 91) se são (Figura 7.9). Todavia, esta é uma visão referiu ao perigo de "negar o indivíduo e entro- apenas parcial do sistema familiar. nizar sistema". Enquanto entrevista a família para ver como os pais lidam com os filhos, terapeuta cuidadoso pode perceber que uma das M Padrasto crianças tem um problema neurológico ou uma incapacidade de aprendizagem. Esses problemas precisam ser identificados, e os encaminhamen- Filhos tos necessários, feitos. Habitualmente, quando FIGURA 7.8 Fracasso em aceitar um padrasto. uma criança tem dificuldades na escola, existe</p><p>190 MICHAEL P. NICHOLS um problema no contexto familiar ou escolar. comum é ajudar os pais a funcionarem juntos Habitualmente, mas nem sempre. como um subsistema coeso. Quando só existe um progenitor, ou quando há vários filhos, um ou mais dos filhos mais velhos pode ser incen- OBJETIVOS DA TERAPIA tivado a ser um assistente parental, mas as necessidades dessa criança também não podem Os terapeutas familiares estruturais acre- ser negligenciadas. ditam que os problemas são mantidos por uma Com famílias emaranhadas, objetivo é organização familiar disfuncional. Portanto, a diferenciar indivíduos e subsistemas, reforçan- terapia visa a alterar a estrutura familiar, para do as fronteiras entre eles. Com famílias desli- que a família possa resolver seus problemas. gadas, o objetivo é aumentar a interação, tor- A idéia de que os problemas familiares nando as fronteiras mais permeáveis. estão inseridos em estruturas disfuncionais le- vou alguns a criticarem a terapia familiar es- trutural como patologizante. Os críticos vêem CONDIÇÕES PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO os mapas estruturais de organizações disfuncio- nais como se retratassem um núcleo patológi- A terapia estrutural muda comporta- CO nas famílias. Isso não é verdade. Os proble- mento ao abrir padrões alternativos de intera- mas estruturais em geral são vistos como fra- ção, capazes de modificar a estrutura familiar. casso em se adaptar a mudanças nas circuns- Não é uma questão de criar novas estruturas, tâncias. Longe de ver as famílias como ineren- e sim de ativar estruturas dormentes. Quando temente falhas, o terapeuta estrutural vê o seu novos padrões transacionais se tornam regu trabalho como ativador de estruturas adap- larmente repetidos e previsivelmente efetivos, tativas latentes que já fazem parte do repertó- estabilizam a estrutura nova e mais funcional. rio da família (Simon, 1995). O terapeuta produz mudança reunindo- O terapeuta familiar estrutural reúne-se se à família, sondando em busca de áreas de ao sistema familiar para ajudar seus membros flexibilidade e, então, ativando alternativas a mudarem sua estrutura. Ao alterar frontei- estruturais dormentes. Este reunir-se leva o te- ras e realinhar sistemas, o terapeuta muda o rapeuta para dentro da família; acomodar-se comportamento e a experiência de cada mem- ao seu estilo o torna influente, e manobras de bro da família. O terapeuta não resolve pro- reestruturação transformam a estrutura fami- blemas: esta tarefa é da família. O terapeuta liar. Se o terapeuta continuar um estranho, al- ajuda a modificar funcionamento familiar de guém de fora, ou usar intervenções demasia- modo que os membros da família possam re- do distônicas, a família Se tera- solver seus problemas. Dessa maneira, a tera- peuta participar demais da família ou usar in- pia familiar estrutural é como a psicoterapia tervenções demasiado sintônicas, a família as- dinâmica a resolução do sintoma é buscada similará as intervenções a padrões transacio- não como um fim em si mesma, mas como um nais prévios. Em qualquer um dos casos, não resultado de uma mudança estrutural. O ana- haverá mudança estrutural. lista modifica a estrutura da mente do pacien- Reunir-se e acomodar-se são considera- te; o terapeuta familiar estrutural modifica a dos pré-requisitos para reestruturar. Para se estrutura da família do paciente. reunir a uma família, o terapeuta precisa trans- Os objetivos para cada família são dita- mitir que aceita seus membros e respeita sua dos pelos problemas que seus membros apre- maneira de fazer as coisas. Minuchin (1974) sentam e pela natureza de sua disfunção es- comparava o terapeuta familiar a um antropó- trutural. Embora cada família seja única, exis- logo, que precisa primeiro se reunir a uma cul- tem problemas comuns e objetivos estruturais tura para poder estudá-la. típicos. De extrema importância entre os obje- Para se reunir à cultura de uma família, o tivos gerais para as famílias é a criação de uma terapeuta faz aberturas de acomodação o que estrutura hierárquica efetiva. Espera-se que os habitualmente fazemos sem pensar, embora pais estejam no comando, que não se relacio- nem sempre com sucesso. Se os pais buscam nem com os filhos como iguais. Outro objetivo ajuda para os problemas de um filho, o tera-</p><p>TERAPIA FAMILIAR 191 peuta não começa pedindo a opinião da crian- do terapeuta estimula a família a demons- ça. Isso transmite falta de respeito pelos pais. trar como esta lida com um tipo particular de Só depois de ter conseguido se reunir à família problema. Em geral, a encenação começa quan- é proveitoso tentar reestruturá-la as geral- do o terapeuta sugere que subgrupos específi- mente dramáticas confrontações que desafiam cos discutam um determinado problema. Con- a família a mudar. forme se faz isso, o terapeuta observa o pro- A primeira tarefa é compreender a visão cesso familiar. Trabalhar com encenações re- que a família tem dos seus problemas. tera- quer três operações. Primeiro, o terapeuta de- peuta faz isso ao tentar compreender sua for- fine ou reconhece uma Por exem- mulação no conteúdo que usam para explicá- plo, observa que, quando a mãe fala com a fi- la e nas com as quais a demons- lha, elas conversam como iguais, e o irmão mais tram. Então, o terapeuta familiar reenquadra a jovem é deixado de fora. Segundo, o terapeuta formulação da família em uma formulação ba- dirige uma encenação. Por exemplo, ele pode seada no entendimento da estrutura familiar. dizer à mãe: "Converse sobre isso com seus fi- De fato, todas as psicoterapias utilizam o lhos". Terceiro, e mais importante, terapeuta reenquadramento. Os pacientes, sejam indiví- precisa orientar a família a modificar a ence- duos, sejam famílias, chegam com idéias pró- nação. Se a mãe conversa com os filhos sem prias sobre a causa de seus problemas idéias assumir responsabilidade por decisões impor- que não costumam ajudá-los a resolver seus tantes, o terapeuta deve orientá-la a assumir problemas e o terapeuta lhes oferece uma essa responsabilidade conforme a família con- idéia nova e potencialmente mais construtiva tinua a encenação. Todos os movimentos do desses mesmos problemas. O que torna única terapeuta devem criar novas opções para a fa- a terapia familiar estrutural é que ela usa en- mília, opções de interações mais produtivas. cenações nas sessões de terapia para fazer o Quando uma encenação se paralisa, reenquadramento acontecer. Esta é a condição terapeuta pode intervir de duas formas: comen- indispensável para a terapia familiar estrutu- tando o que deu errado, ou simplesmente esti- ral: observar e modificar a estrutura das tran- mulando-os a prosseguir. Por exemplo, se um sações familiares no contexto imediato da ses- pai responde à sugestão de conversar com a são. O terapeuta estrutural trabalha com o que filha de 12 anos sobre como ela se sente repre- vê acontecer na sessão, não com que os mem- endendo-a, terapeuta poderia dizer ao pai: bros da família relatam. "Parabéns". Pai: "O que você quer dizer?" Tera- Há dois tipos de dados ao vivo, dentro da peuta: "Parabéns; você vence, ela perde". Ou o sessão, em que a terapia familiar estrutural se terapeuta poderia, simplesmente, cutucar a concentra encenações e seqüências comporta- transação, dizendo ao pai: "Muito bom, conti- mentais espontâneas. Uma encenação é quan- nue conversando, mas ajude-a a expressar mais terapeutas estruturais utilizam encenações para observar e modificar padrões familiares problemáticos.</p><p>192 MICHAEL P. NICHOLS seus sentimentos. Ela ainda é uma menina, qual ela está organizada. Supõe-se que, se a precisa da sua ajuda". organização mudar, o problema também vai Além de trabalhar com encenações, o tera- mudar. Talvez seja importante acrescentar que peuta estrutural está atento a com- as dificuldades costumam refletir problemas na portamentais espontâneas que ilustram a estru- maneira pela qual a família inteira está orga- tura familiar. Criar uma encenação é como diri- nizada. Portanto, supõe-se que, se ocorrer uma gir uma peça de teatro; trabalhar com mudança entre a mãe e a filha, as coisas tam- cias espontâneas é como focalizar um refletor em bém mudarão entre marido e mulher. uma ação que ocorre sem direção. Ao observar e Os terapeutas estruturais fazem avaliações modificar tais cedo na terapia, o primeiro reunindo-se à família para criar uma terapeuta evita se atolar na maneira habitual e aliança e, depois, pondo a família em movimento improdutiva da família de fazer as coisas. Lidar pelo uso de encenações, diálogos na sessão que com comportamentos problemáticos assim que permitem ao terapeuta observar como os mem- ocorrem permite ao terapeuta organizar a ses- bros da família realmente interagem. são, para sublinhar processo e modificá-lo. Suponha, por exemplo, que uma jovem Um terapeuta experiente desenvolve pal- se queixa de uma indecisão obsessiva. Ao res- pites sobre a estrutura familiar antes mesmo ponder às perguntas do terapeuta durante um da primeira entrevista. Por exemplo, se a famí- encontro inicial com a família, a jovem fica in- lia procura a clínica por causa de uma criança decisa e olha de relance para pai. Ele fala e "hiperativa", é possível ter algum palpite sobre esclarece que ela não consegue. Agora a inde- a estrutura familiar e as que aconte- cisão da filha pode ser ligada à prestimosidade cerão quando a sessão começar, pois o compor- do pai, que sugere um padrão de emaranha- tamento "hiperativo" muitas vezes é uma fun- mento. Quando terapeuta pede aos pais que ção do emaranhamento da criança com a mãe. conversem sobre suas opiniões sobre os proble- O relacionamento da mãe com a criança pode mas da filha, eles têm dificuldade em falar sem ser produto da falta de diferenciação hierárqui- discutir reativamente, e a discussão não segue ca dentro da família; isto é, pais e filhos se rela- adiante. Isso sugere desligamento entre os pais, cionam entre si como iguais. Além disso, o ema- o que pode se relacionar (como causa e efeito) ranhamento da mãe com a criança "hiperativa" ao emaranhamento entre o pai e a filha. provavelmente será tanto um resultado quanto Observe como a avaliação estrutural se uma causa da distância emocional com o mari- estende além do problema apresentado e pas- do. Sabendo que este é um padrão comum, o sa a incluir a família inteira e sejamos fran- terapeuta pode antecipar que a criança "hipera- cos a suposição de que as famílias com pro- tiva" começará a se comportar mal logo no iní- blemas geralmente apresentam algum tipo de cio da primeira sessão, e que a mãe será incapaz problema estrutural subjacente. Entretanto, é de lidar com esse mau comportamento. Arma- importante notar que os terapeutas estruturais do com este palpite informado, o terapeuta não fazem suposições sobre como as famílias pode lançar luz sobre essa assim que deveriam ser organizadas. Famílias monoparen- ela ocorrer. Se a criança "hiperativa" começar tais podem ser perfeitamente funcionais, tanto a correr pela sala e a mãe protestar, mas não quanto as famílias com mamães e papais, ou, fizer nada de efetivo, o terapeuta poderia dizer: na verdade, qualquer outra variação familiar. "Eu vejo que seu filho se sente à vontade para É o fato de a família buscar terapia para um pro- ignorar você". Este desafio pode levar a mãe a blema que foi incapaz de resolver que dá ao se comportar de maneira mais competente. terapeuta a licença de supor que algo, na manei- ra específica pela qual essa família está organiza- da, talvez não esteja dando certo para ela. TERAPIA A melhor maneira de fazer uma avaliação é focalizar o problema apresentado e, então, Avaliação explorar a resposta da família a ele. Considere Uma avaliação estrutural baseia-se na su- o caso de uma menina de 13 anos cujos pais se posição de que as dificuldades da família via queixam de que ela mente. A primeira pergun- de regra refletem problemas na maneira pela ta poderia ser: "Para quem ela mente?" Diga-</p><p>TERAPIA FAMILIAR 193 mos que a resposta é "para ambos os pais". A xergarem aquilo para o qual estavam olhando. pergunta seguinte seria: "Quão bons são os pais Através das lentes da teoria familiar estrutural, em perceber quando a filha está mentindo?" interações familiares previamente confusas Depois, menos inocentemente: "Qual dos dois entravam em foco de súbito. Onde outros viam percebe melhor quando a filha está mentindo?" apenas caos e crueldade, Minuchin via estru- Talvez seja a mãe. De fato, digamos que a mãe tura: famílias organizadas em está obcecada por detectar as mentiras da com fronteiras. Esse livro de imenso sucesso a maioria das quais tem a ver com buscar inde- (mais de 200 mil cópias impressas) não só nos pendência, de uma maneira que eleva a ansie- ensinou a enxergar emaranhamento e desliga- dade da mãe. Assim, uma mãe preocupada e mento, como também nos deu a esperança de uma filha desobediente estão aprisionadas a que mudar isso era apenas uma questão de reu- uma luta a respeito de crescer que exclui o pai. nir-se a, encenar e desequilibrar. Minuchin fez Levando adiante essa avaliação, o tera- com que mudar famílias parecesse simples. peuta estrutural exploraria o relacionamento Não é. entre os pais. A suposição, entretanto, não seria Quem observasse Minuchin trabalhando de que os problemas da filha são resultado dos 10 ou 20 anos depois da publicação de Families problemas conjugais, mas simplesmente que o and family therapy veria um terapeuta criativo relacionamento mãe-filha poderia estar ligado ainda evoluindo, não alguém congelado no ao relacionamento entre os pais. Talvez os pais tempo no ano de 1974. Ainda haveria confron- tenham se dado bem até a primogênita entrar tações claras ("Quem é xerife nesta família?"), na adolescência, quando a mãe passou a se mas haveria menos encenações, menos diálo- preocupar muito mais que o pai. Seja qual for gos encenados e dirigidos. Ainda ouviríamos caso, a avaliação também envolveria conversar uma miscelânea tomada emprestada de Carl com os pais sobre como foi crescer na família Whitaker ("Quando foi que você se divorciou de cada um, a fim de explorar como seus pas- da sua mulher e se casou com seu trabalho?"), sados ajudaram a torná-los do jeito que são. Maurizio Andolfi ("Por que você não mija no O Dr. Minuchin e colaboradores escreve- tapete, também?") e outros. Minuchin combi- ram, recentemente, um livro em que proces- na muitos pontos em seu trabalho. Para aque- SO de é organizado em quatro etapas les familiarizados com seu trabalho anterior, (Minuchin, Nichols e Lee, no prelo). A primei- tudo isso levanta a pergunta: Minuchin ainda ra etapa é fazer perguntas sobre o problema é um terapeuta familiar estrutural? A pergun- apresentado até os membros da família come- ta, evidentemente, é absurda; nós a levanta- a perceber que problema vai além da mos para enfatizar um ponto: a terapia fami- pessoa que apresenta o sintoma e inclui a fa- liar estrutural não é um conjunto de técnicas mília toda. A segunda etapa é ajudar os mem- é uma maneira de olhar para as famílias. bros da família a perceber como suas interações No restante desta seção, apresentaremos podem, inadvertidamente, estar perpetuando o esboço clássico da técnica familiar estrutu- problema. A terceira etapa é uma breve ex- ral, com o seguinte alerta: depois que o tera- ploração do passado, focalizando como os adul- peuta dominar os aspectos básicos da teoria tos da família chegaram às perspectivas que estrutural, precisa aprender a traduzir a abor- agora influenciam suas interações problemáti- dagem de uma maneira que se adapte ao seu cas. A quarta etapa é explorar opções que os estilo pessoal. membros da família possam pôr em prática Em Families and family therapy, Minuchin para interagir de maneiras mais produtivas, que (1974) listou três fases que se sobrepõem no criem uma mudança na estrutura familiar e aju- processo da terapia familiar estrutural. O te- dem a resolver a queixa apresentada. rapeuta (1) se reúne à família em uma posição de liderança, (2) mapeia sua estrutura sub- jacente e (3) intervém para transformar essa Técnicas terapêuticas estrutura. Este programa é simples, no sentido de que segue um plano claro, mas muito com- Em Families and family therapy, Minuchin plicado devido à infinita variedade de padrões (1974) ensinou os terapeutas familiares a en- familiares.</p><p>194 MICHAEL P. NICHOLS Para serem efetivos, os movimentos do garantido. Eles, não seus filhos, são solicita- terapeuta não podem ser pré-planejados ou dos primeiramente a descrever seus problemas. ensaiados. Bons terapeutas são mais do que Se uma família elege uma pessoa para falar técnicos. A estratégia da terapia, por outro lado, pelas outras, o terapeuta percebe, mas não precisa ser organizada. Em geral, a terapia fa- contesta isso de início. miliar estrutural segue estes sete passos: As crianças também têm preocupações e capacidades especiais. Elas devem ser saudadas 1. União e acomodação gentilmente e questionadas com perguntas sim- 2. Encenação ples, concretas. "Oi, eu sou fulana de tal; qual 3. Mapeamento estrutural é o seu nome? Oh, Shelly, é um nome muito 4. Focalização e modificação de interações bonito. Em que escola você estuda, Shelly?" 5. Criação de fronteiras Com crianças mais velhas, tente evitar as habi- 6. Desequilibração tuais perguntas fingidas dos adultos ("E o que 7. Desafio de suposições improdutivas você quer ser quando crescer?"). Tente algo mais inovador (como "O que você mais detesta na escola?"). As que quiserem ficar em silêncio União e acomodação devem ter "permissão" para isso. Elas ficarão caladas, de qualquer maneira, mas o terapeuta Já que a maioria das famílias tem padrões que aceita sua reticência terá dado um passo homeostáticos firmemente estabelecidos, a te- importante no sentido de mantê-las envolvidas. rapia familiar às vezes requer confrontação. "E o que você pensa sobre esse problema?" (Si- Contudo, desafios ao estilo habitual da família lêncio total.) "Entendo, você não está com von- serão descartados a menos que sejam feitos de tade de dizer nada agora? Tudo bem, talvez você uma posição respeitosa. As famílias, como você queira dizer alguma coisa mais tarde." e eu, resistem às tentativas de mudança por O fracasso em se reunir e se acomodar à parte de alguém que elas sentem que não as família produz resistência, e a culpa geralmen- te recai sobre a família. Pode ser confortador entende nem aceita. Os pacientes individuais em geral entram culpar os clientes quando as coisas não vão bem, em tratamento já predispostos a aceitar a au- mas isso não ajuda em nada. Podemos chamar toridade do terapeuta. Ao buscar terapia, o os membros da família de "negativos", "rebel- indivíduo tacitamente reconhece uma necessi- des", "resistentes" ou "desafiadores", e vê-los dade de ajuda e uma disposição a confiar no como "desmotivados", mas ainda é mais útil fa- terapeuta. Isso não acontece com as famílias. zer um esforço extra para conectar-se com eles. terapeuta familiar é um estranho im- É particularmente importante reunir-se portuno. Afinal de contas, por que ela insistiu aos membros fortes da família e também aos em conversar com toda a família? Os membros que estão zangados. Devemos fazer um esfor da família esperam ouvir que estão fazendo especial para aceitar o ponto de vista do pai algo errado e estão preparados para se defen- que acha que terapia é bobagem ou do adoles- der. A família, portanto, é um grupo de não- cente que se sente um criminoso acusado. Tam- pacientes que se sentem ansiosos e expostos; bém é importante reconectar-se com essas pes- eles estão determinados a resistir. soas a intervalos particularmente Primeiro o terapeuta precisa desarmar quando as coisas começam a esquentar. defesas e aliviar a ansiedade. Isso é feito pela Um bom começo é saudar a família e de- criação de uma aliança de entendimento com pois perguntar a opinião de cada pessoa sobre cada membro da família. O terapeuta saúda o problema. Ouça cuidadosamente e reconhe- cada pessoa pelo nome e faz algum tipo de ça a posição de cada um, devolvendo o que você ouviu. "Entendo, Sra. Jones, a senhora contato amigável. Essas saudações iniciais transmitem res- acha que a Sally deve estar deprimida por al- peito, não só pelos indivíduos da família, mas guma coisa que aconteceu na escola." "Então, também por sua estrutura hierárquica e organi- Sr. Jones, você vê algumas coisa que a sua es- zacional. terapeuta demonstra respeito pe- posa também vê, mas não está convencido de los pais ao tomar sua autoridade como algo que este é um problema sério. É isso?"</p><p>TERAPIA FAMILIAR 195 Encenação não precisa ouvir descrições do que acontece em casa para perceber a incompetência execu- A estrutura familiar se manifesta na ma- tiva. Se mãe e filha se enfurecem e vociferam neira pela qual os membros da família intera- entre si enquanto o pai continua sentado silen- gem. Ela nem sempre pode ser inferida a par- ciosamente no canto, não é necessário pergun- tir de suas descrições. Portanto, fazer pergun- tar quão envolvido ele é em casa. De fato, per- tas como: "Quem está no comando?" ou "Vocês guntar pode transmitir um quadro menos exa- dois concordam?" tende a ser improdutivo. As to do que aquele revelado espontaneamente. famílias geralmente se descrevem mais como acham que deveriam ser do que como são. Fazer com que os membros da família Mapeamento estrutural conversem entre si contraria suas expectativas. Eles esperam apresentar seu caso para um es- As famílias habitualmente concebem os pecialista e então receber uma orientação so- problemas como localizados no paciente iden- bre o que fazer. Se solicitados a discutir algu- tificado e determinados por acontecimentos do ma coisa na sessão, eles dirão: "Nós já falamos passado. Esperam que o terapeuta mude o pa- sobre isso muitas vezes" ou "Não vai adiantar ciente identificado com o mínimo possível nada, ele (ou ela) não escuta" ou "Mas o espe- de alteração na família. Os terapeutas familia- cialista não deveria ser você?" res consideram os sintomas do paciente iden- Se terapeuta começar dando a cada tificado como uma expressão dos padrões pessoa a chance de falar, habitualmente alguém disfuncionais que afetam toda a família. Uma dirá algo sobre outro que pode ser um trampo- avaliação estrutural amplia o problema além lim para uma encenação. Quando, por exem- dos indivíduos para sistema familiar e trans- plo, um dos pais diz que o outro é rígido de- fere o foco de acontecimentos isolados do pas- mais, o terapeuta pode dar início a uma ence- sado para as transações que estão acontecen- nação dizendo: "Ela diz que você é rígido de- do no presente. mais; você pode responder a ela?" Escolher um Até os terapeutas familiares muitas vezes ponto específico para resposta é mais efetivo categorizam as famílias com construtos que se que pedidos vagos, como: "Por que vocês dois aplicam mais a indivíduos que a sistemas. "O não falam sobre isso?" problema nesta família é que a mãe sufoca os Depois que a encenação começar, o tera- filhos" ou "Esses filhos são desafiadores" ou "Ele peuta pode descobrir muitas coisas sobre a es- não se envolve". Os terapeutas familiares es- trutura da família. Por quanto tempo duas pes- truturais tentam avaliar a inter-relação entre soas podem conversar sem serem interrompi- todos os membros da família. Com os concei- das isto é, quão clara é a fronteira? Alguém tos de fronteiras e subsistemas, a estrutura de ataca, outro defende? Quem é central, quem todo o sistema é descrita de maneira que apon- é periférico? Os pais envolvem os filhos em suas ta para mudanças desejáveis. discussões isto é, eles estão emaranhados? Avaliações preliminares baseiam-se em As famílias demonstram emaranhamento interações ocorridas na primeira sessão. Nas quando se interrompem com falam sessões posteriores, essas formulações são aper- por outros membros, fazem coisas para os fi- feiçoadas e revisadas. Embora haja certo peri- lhos que estes podem fazer sozinhos ou bri- go de forçar as famílias a se encaixarem em gam constantemente. Nas famílias desligadas categorias quando as aplicamos precocemen- podemos ver um marido sentado impassivel- te, o maior perigo é esperar demais. Costuma- mente enquanto a mulher chora, uma total mos enxergar as pessoas mais claramente du- ausência de conflito, uma surpreendente igno- rante o contato inicial. Mais tarde, quando pas- rância de informações importantes sobre os fi- samos a conhecê-las melhor, nós nos acostu- lhos ou falta de consideração pelos interesses mamos às suas idiossincrasias e logo deixamos dos outros. de percebê-las. Se, assim que a primeira sessão começar, As famílias rapidamente induzem o tera- as crianças passarem a correr pela sala enquan- peuta à sua cultura. Uma família que, de iní- to os pais protestam ineficazmente, o terapeuta cio, parece ser caótica e emaranhada, logo pas-</p><p>196 MICHAEL P. NICHOLS sa a ser apenas a conhecida família Jones. Por suas implicações estruturais exige um foco no essa razão, é essencial desenvolver hipóteses processo, não no conteúdo. Nada sobre estru- estruturais relativamente cedo no processo. tura é revelado ao se ouvir quem é a favor de De fato, convém refletir e palpitar sobre castigos ou quem fala bem de quem. A estrutu- a estrutura da família antes mesmo da primei- ra familiar é revelada por quem diz o que a ra sessão. Isso dá início a um processo de pen- quem e de que maneira. samento ativo e monta cenário para obser- Talvez uma esposa se queixe: "Nós temos var a família. Por exemplo, suponha que você um problema de comunicação. Meu marido vai atender uma família formada por uma mãe, não fala comigo, ele nunca expressa seus sen- uma filha de 16 anos e um padrasto. A mãe timentos". O terapeuta então inicia uma ence- telefonou para se queixar do mau comporta- nação para ver o que realmente acontece. "A mento da filha. Qual você imagina que pode- sua mulher diz que vocês têm um problema de ria ser a estrutura e como pode testar a sua comunicação; você pode responder a isso? Fale hipótese? Um bom palpite seria que a mãe e a com ela." Se, quando eles conversarem, a mu- filha estão emaranhadas, excluindo o padras- lher se tornar dominadora e crítica e marido to. Isso pode ser testado ao se verificar se mãe passar a falar cada vez menos, terapeuta verá e filha conversam principalmente uma sobre a o que está errado: o problema não é que ele outra na sessão quer positiva, quer negativa- não fala, o que é uma explicação linear. O pro- mente. O desligamento do padrasto poderá ser blema também não é que ela importuna, tam- confirmado se ele e a esposa não conseguirem bém uma explicação linear. O problema é que, conversar sem a intrusão da filha. quanto mais ela importuna, mais ele se afasta, Avaliações estruturais levam em conta tan- e quanto mais ele se afasta, mais ela importuna. to o problema que a família apresenta quanto a O truque é modificar esse padrão. Isso dinâmica estrutural revelada. Incluem todos os pode requerer uma intervenção enérgica, ou o membros da família. Neste caso, saber que mãe que os terapeutas estruturais chamam de in- e filha estão emaranhadas não é suficiente: você tensidade. também precisa saber papel que o padrasto Minuchin fala com as famílias com um desempenha. Se ele é razoavelmente próximo impacto dramático e convincente. Ele regula a da esposa, mas distante da filha, encontrar ati- intensidade de suas mensagens para exceder vidades prazerosas para padrasto o limiar que os membros da família têm para e enteada ajudará a torná-la mais independen- não escutarem desafios à sua maneira de per- te da mãe. Por outro lado, se a proximidade da ceber a realidade. Quando Minuchin fala, as mãe em relação à filha parecer uma função de famílias escutam. sua distância do marido, então o par conjugal Minuchin é enérgico, mas a intensidade poderia ser o foco mais produtivo. não é meramente uma função da personalida- Sem uma formulação e um plano estru- de; ela reflete claridade de propósito. O CO- turais, o terapeuta fica defensivo e passivo. Em nhecimento da estrutura familiar e compro- vez de saber aonde ir e mover-se deliberada- metimento em ajudar as famílias a mudar pos- mente, ele se recosta e tenta lidar com a famí- sibilitam poderosas intervenções. lia, ou apagar incêndios e ajudá-los a enfren- Os terapeutas estruturais atingem inten- tar uma sucessão de incidentes. Um conheci- sidade pela regulação seletiva de afeto, repeti- mento consistente da estrutura da família e o ção e duração. Tom, volume, ritmo e escolha foco em uma ou duas mudanças estruturais de palavras são usados para aumentar a inten- ajuda o terapeuta a enxergar por trás das várias sidade afetiva das declarações. Ajuda se você questões de conteúdo que os membros da fa- souber o que quer dizer. Aqui vai um exemplo mília trazem à baila. de uma declaração sem energia: "As pessoas sempre se preocupam consigo mesmas, como que vendo a si próprias no centro das atenções Focalização e modificação de interações e só procurando aquilo que lhes interessa. Não seria mais legal, para variar, se todo mundo Quando as famílias começam a interagir, começasse a pensar sobre que pode fazer surgem transações problemáticas. Reconhecer pelos outros?" Compare isso com: "Não per-</p><p>TERAPIA FAMILIAR 197 gunte que seu país pode fazer por você a mula proverbial do fazendeiro às vezes é pergunte o que você pode fazer por seu país". preciso bater na cabeça delas para obter a sua As palavras de John Kennedy tiveram impacto atenção. porque foram bem escolhidas e claramente Intensidade também pode ser obtida com enunciadas. Os terapeutas familiares não pre- o aumento da duração de uma além cisam discursar, mas, ocasionalmente, precisam do ponto em que a homeostase se reinstala. falar com energia para se fazer entender. Um exemplo comum é manejo de explosões A intensidade afetiva não é apenas uma de raiva. Explosões de raiva são mantidas por questão de enunciado claro. Você tem de saber pais que cedem. A maioria dos pais tenta não como e quando ser provocativo. Por exemplo, ceder; eles só não tentam tempo suficiente. Mike Nichols trabalhou com uma família em Recentemente, uma menina de 4 anos come- que o paciente identificado era uma mulher de çou a berrar como louca quando a irmã saiu 29 anos com anorexia. Embora a família man- da sala. Ela queria ir com a irmã. Seus berros tivesse uma fachada de união, era rigidamente eram quase insuportáveis, e os pais estavam estruturada; a mãe e a filha anoréxica eram prontos para recuar. Entretanto, o terapeuta emaranhadas, enquanto o pai era excluído. os exortou a não se darem por vencidos e su- Nessa família, o pai era o único a expressar geriu que a segurassem até ela se acalmar, "para raiva abertamente, e esta constituía parte do lhe mostrar quem mandava". Ela berrou por motivo de sua exclusão. A filha tinha medo da 30 minutos! Todo o mundo na sala estava em raiva dele, o que ela reconhecia francamente. frangalhos. Contudo, a garotinha, finalmente, que estava menos claro, contudo, era que a percebeu que desta vez não conseguiria impor mãe a ensinara veladamente a evitar o pai, sua vontade, de modo que se acalmou. Depois, porque ela, a mãe, não conseguia lidar com a os pais foram capazes de empregar a mesma raiva dele. Conseqüentemente, a filha cresce- intensidade de duração para fazê-la abando- ra temendo o pai e os homens em geral. nar esse hábito altamente destrutivo. A certo ponto, pai falou sobre como se vezes, intensidade requer repetição de sentia isolado da filha; ele disse que achava um tema em uma variedade de contextos. Pais que era por ela ter medo da raiva dele. A filha infantilizadores precisam ouvir que não devem concordou, "É culpa dele, sim". O terapeuta pendurar o casaco da filha, não devem falar perguntou à mãe o que ela achava, e a mãe por ela, não devem levá-la ao banheiro e não respondeu: "Não é culpa dele". O terapeuta fa- devem fazer muitas outras coisas que ela é ca- lou: "Você está certa". Ela continuou, negando paz de fazer por si mesma. seus reais sentimentos para evitar conflito: O que estamos chamando de "intensida- "Não é culpa de ninguém". O terapeuta res- de" pode parecer a alguns excessivamente pondeu de uma maneira que chamou a aten- agressivo. Embora não se possa negar que ção dela: "Isso não é verdade". Surpresa, ela Minuchin e seus seguidores tendem a ser inter- perguntou o que ele queria dizer. "A culpa é vencionistas, o objetivo da intensidade não é sua", respondeu ele. intimidar as pessoas, e sim empurrá-las além Este nível de intensidade era necessário do ponto em que desistem de alcançar-se mu- para interromper um padrão rígido de evitação tuamente. Uma estratégia alternativa para as de conflito que mantinha uma aliança destru- interações que estão em um impasse é o uso tiva entre mãe e filha. conteúdo quem re- da empatia, para ajudar os membros da famí- almente está com medo da raiva é menos lia a irem além da superfície de suas altercações importante que objetivo estrutural: libertar defensivas. a filha de sua posição de envolvimento exces- Se, por exemplo, os pais de uma criança sivo com a mãe. desobediente estão aprisionados em um ciclo Os terapeutas, com muita di- de brigas improdutivas, em que a mãe ataca o luem suas intervenções ao qualificar exagerada- pai por não se envolver, e ele responde com mente, pedir desculpas ou divagar. Isso não é desculpas, o terapeuta pode usar intensidade um problema tão sério na terapia individual, para incentivá-los a planejar como lidar com o em que via de regra é melhor eliciar interpre- comportamento do filho. Em outra alternati- tações do paciente. As famílias são mais como va, o terapeuta pode interromper sua discus-</p><p>198 MICHAEL P. NICHOLS são e, por meio da empatia, conversar com um Se o terapeuta tivesse esperado que caos re- de cada vez sobre como se sentem. A mulher começasse antes de dizer à mãe que deveria que só demonstra raiva pode estar encobrindo ser firme, a mensagem seria: "Você é incom- a mágoa e os anseios que sente. O marido que petente". não se envolve nem briga quando se sente ataca- Sempre que possível, os terapeutas es- do pode estar irritado demais com a raiva da truturais evitam fazer o que os membros da mulher para perceber que ela precisa dele. família são capazes de fazer sozinhos. Aqui, Quando essas emoções mais genuínas forem ar- também, a mensagem é: "Vocês são compe- ticuladas, podem servir de base para os clientes tentes, conseguem fazer isso". Alguns terapeu- se reconectarem de maneira menos defensiva. tas justificam o assumir funções da família Dar forma à competência é outro méto- chamando isto de "modelagem". Independen- do para modificar interações e é uma marca temente de como for chamado, tem o impac- registrada da terapia familiar estrutural. A in- to de dizer aos membros da família que são tensidade geralmente é usada para bloquear o inadequados. Recentemente, uma jovem mãe fluxo de interações. Criar competência é como confessou que não soubera como dizer aos dar uma cutucada a fim de mudar a direção do filhos que iam falar com um terapeuta de fa- fluxo. Ao salientar e dar forma aos aspectos mília e, então, dissera simplesmente que iam positivos, o terapeuta estrutural ajuda os mem- dar uma volta. Querendo ajudar, o terapeuta bros da família a adotarem alternativas funcio- então explicou às crianças que "A mamãe me nais que já fazem parte de seu repertório. disse que há alguns problemas na família, de Um erro comum cometido por terapeutas modo que nós todos estamos aqui para con- inexperientes é tentar desenvolver um desem- versar sobre as coisas a fim de ver se penho competente apenas com apontamen- mos melhorá-las". Esta adorável explicação diz to dos erros. Isso focaliza o conteúdo sem le- às crianças por que elas vieram, mas confir- var em conta o processo. Dizer aos pais que ma a mãe como incompetente para fazê-lo. eles fazem algo errado ou sugerir que façam Se, em vez disso, O terapeuta tivesse sugerido algo diferente tem o efeito de criticar sua com- à mãe: "Você gostaria de dizer a eles agora?" petência. Apesar das boas intenções, ainda é Então a mãe, não o terapeuta, teria de se com- humilhante. Embora esse tipo de intervenção portar como uma mãe capaz. não possa ser de todo evitado, uma aborda- gem mais efetiva é apontar que eles estão fazendo certo. Criação de fronteiras Mesmo quando as pessoas cometem mui- tos erros, normalmente é possível escolher algo A dinâmica familiar disfuncional é pro- que fazem bem. Um senso de momento certo duto de fronteiras demasiado rígidas ou difu- ajuda. Por exemplo, em uma grande família sas. Os terapeutas estruturais intervêm para caótica, os pais eram muito ineficazes no con- realinhar as fronteiras, aumentando ou a proxi- trole dos filhos. Em certo momento, o terapeuta midade ou a distância entre os subsistemas se voltou para a mãe e disse: "Está muito baru- familiares. lhento aqui; você poderia acalmar as crianças?" Nas famílias emaranhadas, as interven- Sabendo que era difícil para ela controlar os ções do terapeuta têm objetivo de fortalecer filhos, o terapeuta estava pronto a comentar as fronteiras entre subsistemas e aumentar a imediatamente qualquer passo na direção de independência dos indivíduos. Os membros da um manejo efetivo. A mãe teve de gritar "Quie- família são exortados a falar por si mesmos; tos!" algumas vezes antes que as crianças pa- interrupções são bloqueadas, e díades são aju- rassem momentaneamente o que estavam fa- dadas a concluir suas conversas sem intrusão zendo. Rapidamente antes que as crianças de outros. O terapeuta que quer apoiar o sub- retomassem o mau comportamento -, o tera- sistema dos irmãos e protegê-lo da intrusão peuta cumprimentou a mãe por "amar os fi- parental desnecessária poderia dizer: "Susie e lhos o suficiente para ser firme com eles". As- Sean, conversem sobre isso, e todos os outros sim, a mensagem transmitida foi: "Você é uma vão escutar atentamente". Se os filhos inter- pessoa competente, você sabe como ser firme". rompem os pais com o terapeuta</p><p>TERAPIA FAMILIAR 199 poderia desafiar os pais a reforçarem a fron- o contato entre si. Sem agir como juiz ou árbi- teira hierárquica dizendo: "Por que vocês não tro, terapeuta encoraja os membros da fa- dizem a eles para caírem fora, de modo que mília a se enfrentarem honestamente e a li- vocês dois, adultos, possam resolver isso?" darem com suas dificuldades. Quando tera- Embora a terapia familiar estrutural co- peutas inexperientes vêem desligamento, ten- mece com o grupo familiar total, sessões sub- dem a pensar em maneiras de aumentar inte- seqüentes podem ser realizadas com indivídu- rações positivas. De fato, o desligamento cos- os ou subgrupos a fim de reforçar as fronteiras tuma ser uma maneira de evitar brigas. Por- que os cercam. Um adolescente excessivamen- tanto, cônjuges isolados um do outro costu- te protegido pela mãe é apoiado como pessoa mam precisar brigar antes de poderem se tor- independente ao participar de sessões indivi- nar mais amorosos. duais. Pais tão emaranhados com os filhos que A maioria das pessoas subestima grau nunca conseguem conversar em particular po- de influência de seu comportamento sobre as dem começar a aprender a fazê-lo em sessões pessoas que as cercam. Isso vale especialmen- terapêuticas só para eles. te nas famílias desligadas. Os problemas, via Quando uma mulher de 40 anos telefo- de regra, são vistos como resultado do que nou para a clínica querendo ajuda por estar outra pessoa está fazendo, e as soluções re- deprimida, foi solicitada a comparecer com o querem que os outros mudem. Há queixas típi- restante da família. Logo ficou aparente que cas. "Nós temos um problema de comunicação; essa mulher estava sobrecarregada por seus ele nunca me diz que sente." "Ele só se im- quatro filhos e recebia pouco apoio do marido. porta com aquele maldito trabalho dele." A estratégia do terapeuta foi reforçar a fron- "A nossa vida sexual é péssima a minha teira entre a mãe e os filhos e ajudar os pais a mulher é frígida." "Ninguém consegue conver- se aproximarem. Fez-se isso em estágios. Pri- sar com ela. Ela fica tempo todo se queixan- meiro, terapeuta se reuniu com a filha mais do das crianças." Cada uma dessas afirmações velha, de 16 anos, e apoiou sua competência sugere que o poder de mudança está unicamente como uma potencial ajudante da mãe. Depois na outra pessoa. Esta é a visão quase universal- disso, a menina conseguiu assumir uma série mente percebida da causalidade linear. de responsabilidades pelos irmãos menores, Embora a maioria das pessoas veja as coi- tanto nas sessões como em casa. sas dessa maneira, os terapeutas familiares Liberados das preocupações com os filhos, percebem a circularidade inerente da interação os pais agora se deparavam com a oportunida- sistêmica. Ele não diz à esposa o que sente de de conversar mais. Contudo, tinham pouco porque ela reclama e critica, e ela reclama e a dizer. Isso não resultava de um conflito ocul- critica porque ele não diz a ela o que sente. mas refletia casamento de duas pessoas Os terapeutas estruturais levam as discus- relativamente não-verbais. Após várias sessões sões familiares da perspectiva linear para a em que tentou fazer com que o par conversas- perspectiva circular ao enfatizar a complemen- se, o terapeuta percebeu que, apesar de algu- taridade. À mãe que se queixa de que filho é mas pessoas gostarem de conversar, outras não desobediente se ensina a refletir sobre o que gostam. Então, para fortalecer vínculo entre estará fazendo para desencadear ou manter casal, terapeuta pediu que planejassem uma mau comportamento dele. A pessoa que pede viagem especial juntos. Eles escolheram fazer mudanças precisa aprender a mudar seu jeito um passeio de barco em um lago próximo. de tentar obter isso. A mulher que importuna Quando voltaram para a sessão seguinte, esta- o marido para que passe mais tempo com ela vam radiantes. Tinham se divertido muito. precisa aprender a tornar mais atraente o maior Depois, decidiram passar algum tempo sozi- envolvimento. O marido que se queixa de que nhos toda a semana. a mulher jamais escuta precisa escutá-la mais, Famílias desligadas tendem a evitar con- antes de que ela se disponha à reciprocidade. flitos e, assim, minimizam a interação. O tera- Minuchin enfatiza a complementaridade peuta estrutural intervém para desafiar a evita- ao pedir aos membros da família que ajudem ção do conflito e bloquear os desvios, a fim de uns aos outros a mudar. Quando forem relata- ajudar os membros desligados a aumentarem das mudanças positivas, ele provavelmente</p><p>200 MICHAEL P. NICHOLS cumprimentará os familiares, sublinhando a No processo de discutir sobre 0 menino que inter-relação na família. e a reação dos pais -, Minuchin dramatizou como os pais se polarizavam. Por que ele faria uma coisa dessas? Desequilibrio Pai: Eu não sei se ele fez de propósito. Minuchin: Talvez ele estivesse em transe? Ao criar fronteiras, o terapeuta quer rea- Pai: Não, acho que ele foi descuidado. linhar relacionamentos entre subsistemas. Ao Minuchin: A mira dele é realmente criar desequilíbrio, quer mudar o relacionamen- 0 pai descreveu comportamento do filho como aci- to dentro de um subsistema. O que geralmente dental; a mãe 0 considerava desafiador. Uma das razões pe- mantém as famílias em um impasse é que las quais os pais passam a ser controlados pelos filhos pe- familiares em conflito se fiscalizam e se equili- quenos é que evitam confrontar suas diferenças. Diferenças bram e, em resultado, permanecem congela- são normais, mas tornam-se prejudiciais quando um dos pais dos na inação. Ao criar desequilíbrio, tera- solapa 0 manejo do outro em relação aos filhos. (É uma vin- peuta se reúne a um indivíduo ou subsistema gança covarde por mágoas não-resolvidas.) A pressão gentil, mas insistente, de Minuchin sobre 0 e apóia, à custa de outros. casal para que conversassem sobre como reagiam, sem Tomar partido vamos dizer o que isto mudar 0 foco para como os filhos se comportavam, fez com realmente é parece uma violação do sagrado que eles desenterrassem ressentimentos muito antigos, mas cânone terapêutico de neutralidade. Entretan- raramente mencionados. to, terapeuta toma partido para desequili- Mãe: Bob desculpa o comportamento das crianças brar e realinhar o sistema, não porque é juiz porque não quer se envolver e me ajudar a en- de quem está certo ou errado. No final das con- contrar uma solução para o problema. tas, o equilíbrio e a justiça prevalecem porque Pai: Sim, mas quando eu tentei ajudar, você sem- terapeuta toma partido de vários membros pre me criticou. Então, depois de um tempo, da família, um de cada vez. eu desisti. Como uma fotografia imersa em uma bacia de revela- ção, o conflito dos cônjuges tornara-se visível. Minuchin pro- tegeu os pais da vergonha (e os filhos de ficarem sobrecarre- Estudo de caso gados) pedindo às crianças que saíssem da sala. Sem a preo- cupação de agirem como pais, os cônjuges puderam se en- Quando a família MacLean buscou ajuda por causa de uma frentar, homem e mulher - e conversar sobre suas mágoas e criança "incontrolável", um terror que fora expulso de duas ressentimentos. 0 que apareceu foi uma triste história de des- escolas, Dr. Minuchin descobriu uma cisão encoberta entre ligamento solitário. os pais, mantida em equilíbrio por não ser mencionada. 0 Vocês dois têm áreas em que concordam? mau comportamento do menino de 10 anos era muito vel: 0 pai teve de arrastá-lo, com ele chutando e berrando, Ele disse que sim; ela, que Ele era um minimi- para dentro do consultório. Enquanto isso, seu irmão de 7 zador; ela, uma crítica. anos permanecia sentado sorrindo de forma Minuchin: Quando foi que você se divorciou de Bob encantadora o bom menino. e se casou com as crianças? A fim de ampliar 0 foco do "filho impossível" para ques- de controle e cooperação parental, Minuchin perguntou Ela se manteve em silêncio; ele olhou para teto. Ela sobre 0 filho de 7 anos, Kevin, qual se comportava mal de disse, baixinho: "Provavelmente dez anos atrás". forma velada. Ele urinava no chão do banheiro. Segundo 0 0 que se seguiu foi uma história dolorosa, mas conhe- pai, Kevin urinava no chão do banheiro por "desatenção". A cida, de como um casamento pode afundar na paternidade e mãe riu quando Minuchin comentou: "Ninguém pode ter uma em seus conflitos. 0 conflito jamais era resolvido porque nun- mira assim tão ruim". ca aflorava à superfície. Assim, a brecha nunca se Minuchin falou com o menino sobre como os lobos Com a ajuda de Minuchin, 0 casal se revezou falando marcam seu território e sugeriu que expandisse seu território sobre seu sofrimento e aprendeu a escutar. Ao criar urinando nos quatro cantos da sala de estar da família. desequilíbrio, Minuchin criou uma imensa pressão para aju- dar esse casal a resolver suas diferenças, se abrir um para Minuchin: Vocês têm um cachorro? outro, lutar por aquilo que queriam e, finalmente, começar a Kevin: Não. se aproximar como marido e mulher, e como pais. Minuchin: Oh, então você é 0 cachorro da família.</p><p>TERAPIA FAMILIAR 201 Criar desequilíbrio é parte de uma luta se comportam como se fossem menores do que pela mudança que às vezes assume a aparên- são é uma maneira muito eficaz de fazer com cia de um combate. Quando o terapeuta diz a que mudem. "Quantos anos você "Sete." um pai que ele não está fazendo suficiente "Oh, eu pensei que você fosse mais jovem; a ou a uma mãe que ela está excluindo o mari- maioria das crianças de 7 anos não precisa mais do, pode parecer que o combate é entre o que a mamãe entre com elas na escola." terapeuta e a família, que ele os está atacan- Paradoxos são construções cognitivas que do. Contudo, o combate real é entre eles e o frustram ou confundem os membros da famí- medo medo de mudar. lia, levando-os a buscar alternativas. Minuchin usa pouco o paradoxo, mas às vezes ele ajuda a expressar ceticismo sobre as pessoas muda- Desafiar suposições improdutivas rem. Embora isso possa ter efeito paradoxal de desafiá-las a mudar para provar que você Embora a terapia familiar estrutural não estava errado, não é tanto um estratagema es- seja uma abordagem primariamente cognitiva, perto quanto é uma declaração benigna da seus praticantes às vezes desafiam a maneira verdade. A maioria das pessoas não muda pela qual os membros da família vêem as coi- elas esperam que os outros façam isso. sas. Mudar a maneira de eles se relacionarem oferece visões alternativas de sua situação. O inverso é verdadeiro: mudar a maneira pela AVALIANDO A TEORIA E os RESULTADOS DA TERAPIA qual eles vêem sua situação lhes permite mu- dar sua maneira de se Em Families of the slums, Minuchin e co- Quando os pais de Cassie, de 6 anos, se laboradores (1967) descreveram as caracterís- queixam de seu comportamento, dizem que ela ticas estruturais de famílias de baixo nível é "hipersensível", uma "criança nervosa". Es- socioeconômico e demonstraram a efetividade ses rótulos têm um poder tremendo. O com- da terapia familiar com essa população. Antes portamento de uma criança é "mau comporta- do tratamento, as mães das famílias dos pa- mento" ou é um sintoma de "nervosismo"? É cientes eram ou muito ou pouco controladoras; "desobediência" ou um "pedido de ajuda"? A em ambos os casos, os filhos eram mais agita- criança é louca ou Quem é responsável? O dos que os das famílias com controle. Após que significa um nome? Muita tratamento, as mães usavam menos controle vezes, o terapeuta familiar estrutural coercitivo, mas eram mais claras e mais firmes. age como professor, dando informações e con- Dentre as famílias 7 de 11 foram avaliadas CO- selhos, em geral sobre questões estruturais. Isso mo se houvessem obtido melhora depois de seis provavelmente será uma manobra reestrutura- meses a um ano de terapia familiar. Embora dora a se realizar de maneira que minimize a não tenha sido usado nenhum grupo-controle, resistência. O terapeuta faz isso primeiro com os autores compararam seus resultados favo- um "afago" e depois um "pontapé". Se ele está ravelmente ao índice habitual de 50% de su- lidando com uma família em que a mãe fala cesso terapêutico na Wiltwyck. (Nenhuma das pelos filhos, ele poderia dizer a ela "Você é famílias avaliadas como desligadas melhorou.) muito prestativa" (afago), mas aos filhos "A Decididamente, a defesa empírica mais mamãe tira a VOZ de vocês. Vocês são capazes sólida da terapia familiar estrutural vem de de falar por si mesmos" (pontapé). Assim, a uma série de estudos com crianças psicosso- mãe é definida como prestativa, mas intrusiva máticas e adultos drogaditos. Estudos que de- (um afago e um pontapé). monstram a efetividade da terapia com crian- Os terapeutas estruturais também utili- ças gravemente psicossomáticas são convincen- zam ficções pragmáticas para dar aos membros tes por causa das medidas fisiológicas empre- da família um novo enquadre para experienciar. gadas, e dramáticos devido ao risco de morte O objetivo não é educar ou enganar, mas ofe- inerente aos problemas. Minuchin, Rosman e recer um pronunciamento que ajude a família Baker (1978) relatam um estudo que demons- a mudar. Por exemplo, dizer aos filhos que eles tra com clareza como o conflito familiar pode</p><p>202 MICHAEL P. NICHOLS precipitar quadros de cetoacidose em crianças (Minuchin, Baker, Rosman, Liebman, Milman com diabete que descompensa por fatores psi- e Todd, 1975). cossomáticos. Em entrevistas iniciais, os pais Embora nenhum corpo de evidências discutiram problemas familiares na ausência empíricas tenha estabelecido que alguma dos filhos. Os cônjuges normais apresentaram dagem terapêutica é consistentemente melhor os níveis mais elevados de confrontação, en- que as outras, a terapia familiar estrutural pro- quanto os cônjuges psicossomáticos exibiram vou ser efetiva em diversos estudos, incluindo uma grande variedade de manobras para evi- vários que envolveram casos considerados tar conflitos. A seguir, um terapeuta pressio- muito difíceis. Duke Stanton mostrou que a nava os pais a aumentarem o nível de seu con- terapia familiar estrutural pode ser efetiva para flito, enquanto os filhos observavam por trás drogaditos e suas famílias. Em estudo bem con- de um espelho Conforme os pais trolado, Stanton e Todd (1979) compararam a discutiam, somente as crianças psicossomáticas terapia familiar com uma condição familiar de pareciam de fato perturbadas. Além disso, o placebo e com terapia individual. A redução sofrimento evidente dessas crianças era acom- dos sintomas foi significativa com a terapia panhado por um dramático aumento dos ní- familiar estrutural; nível de mudanças posi- veis sangüíneos de ácidos graxos livres, uma tivas foi mais que dobro do obtido nas outras medida relacionada à cetoacidose. No terceiro condições, e esses efeitos positivos persistiram estágio dessas entrevistas, os pacientes se reu- em seguimentos aos 6 e aos 12 meses. niam aos pais. Os pais normais e os pais com Mais recentemente, a terapia familiar es- transtornos de comportamento continuavam trutural foi aplicada com sucesso para estabe- como antes, mas os pais psicossomáticos des- lecer papéis parentais mais adaptativos em viavam seu conflito, ou trazendo os filhos para adictos à heroína (Grief e Dreschler, 1993) e a sua discussão ou mudando de assunto e pas- como um meio de reduzir a probabilidade de sando a falar dos filhos. Quando isso aconte- jovens afro-americanos e latinos iniciarem uso cia, os níveis de ácidos graxos livres dos pais de drogas (Santisteban, Coatsworth, Perez- caíam, enquanto os níveis das crianças conti- Vidal, Mitrani, Jean-Gilles e Szapocznik, 1997). nuavam subindo. Este estudo confirma, soli- Outros estudos indicam que a terapia familiar damente, as observações clínicas de que as estrutural tem a mesma efetividade que o trei- crianças psicossomáticas são usadas (e se dei- namento em comunicação e treinamento em xam usar) para regular o estresse entre os pais. manejo comportamental para reduzir comuni- Minuchin, Rosman e Baker (1978) resu- cação negativa, conflitos e expressão da raiva miram os resultados terapêuticos de 53 casos entre adolescentes diagnosticados com trans- de anorexia nervosa com uso da terapia fami- torno de déficit de atenção e hiperatividade liar estrutural. Após um curso de tratamento (TDAH) e seus pais (Barkley, Guevremont, que incluiu hospitalização seguida por terapia Anastopoulos e Fletcher, 1992). A terapia fa- familiar em regime ambulatorial, 43 crianças miliar estrutural também tem sido efetiva para anoréxicas tinham "melhorado muito", duas ti- tratar transtornos adolescentes, como transtor- nham "melhorado", três não mostravam "ne- nos de conduta (Szapocznik et al., 1989; nhuma mudança", duas estavam "pior" e três Chamberlain e Rosicky, 1995) e anorexia ner- tinham abandonado o tratamento. Embora vosa (Campbell e Patterson, 1995). considerações éticas impeçam um tratamento controle com essas crianças gravemente doen- tes, o índice de melhora de 90% é impressio- RESUMO nante, especialmente se comparado ao índice de mortalidade de 30% neste transtorno. Além Minuchin talvez seja mais conhecido pela disso, os resultados positivos no término fo- habilidade de sua técnica clínica, mas sua teo- ram mantidos em intervalos de seguimento de ria familiar estrutural tornou-se um dos mo- vários anos. A terapia familiar estrutural tam- delos conceituais mais utilizados no campo. A bém mostrou ser efetiva no tratamento de as- teoria estrutural é tão popular por ser simples, máticos psicossomáticos e em casos de diabete inclusiva e prática. Os conceitos básicos fron- complicada por fatores psicossomáticos teiras, subsistemas, alinhamentos e comple-</p><p>TERAPIA FAMILIAR 203 mentaridade são facilmente compreendidos subsistemas, facilmente conceitualizados como e aplicados. Levam em conta o contexto indi- mapas bidimensionais, utilizados para encon- vidual, familiar e social, e fornecem uma es- trar caminhos de mudança. trutura organizadora muito clara para se com- Depois de ter sucesso ao se reunir à famí- preender e tratar as famílias. lia e avaliá-la, o terapeuta passa a ativar estru- princípio mais importante desta abor- turas dormentes, utilizando técnicas que alte- dagem é que toda família tem uma estrutura, ram alinhamentos e mudam o poder dentro e essa estrutura só se revela quando a família de e entre subsistemas. Essas técnicas de rees- está em ação. Segundo esta visão, os terapeutas truturação são concretas, intensas e, às vezes, que deixam de considerar a estrutura familiar dramáticas. Entretanto, seu sucesso depende completa e só intervêm em um subsistema pro- tanto da reunião e avaliação quanto do poder vavelmente não conseguirão efetuar mudan- das técnicas em si. ças duradouras. Se o demasiado envolvimento Embora a terapia familiar estrutural seja de uma mãe com seu filho faz parte de uma tão profundamente identificada com Salvador estrutura que inclui distância do marido, ne- Minuchin que houve um momento em que nhuma quantidade de terapia apenas para a ambos eram sinônimos, seria uma boa idéia mãe e o filho conseguirá provocar mudanças diferenciar o homem do modelo. Quando pen- básicas na família. samos na terapia familiar estrutural, tendemos Os subsistemas são unidades da família a lembrar a abordagem conforme descrita em baseados em função. Se a liderança de uma Families and family therapy, publicado em 1974. família é assumida pelo pai e por uma filha, Esse livro continua a ser uma ótima introdu- então eles, e não o marido e a mulher, é que ção à teoria estrutural, mas enfatiza apenas as são o subsistema executivo. Os subsistemas são técnicas que Minuchin preferia na época. O circunscritos e regulados por fronteiras inter- próprio Minuchin evoluiu consideravelmente pessoais. Nas famílias sadias, as fronteiras são nos últimos 30 anos, de um jovem terapeuta suficientemente claras para proteger a inde- às vezes brusco, sempre pronto a desafiar as pendência e a autonomia, e suficientemente famílias, para um terapeuta mais experiente, permeáveis para permitir mútuo apoio e afei- ainda desafiador, mas muito mais gentil em sua ção. As famílias emaranhadas são caracteriza- abordagem. Se alguns dos exemplos deste ca- das por fronteiras difusas; as famílias desliga- pítulo lhe pareceram agressivos demais, talvez das, por fronteiras rígidas. você tenha razão. Algumas dessas vinhetas fo- A terapia familiar estrutural visa a resol- ram retiradas da década de 1970, quando os ver os problemas apresentados reorganizando terapeutas familiares tendiam a preferir um a estrutura familiar. A avaliação, portanto, re- estilo confrontacional. Embora estilo quer a presença de toda a família, para que o confrontacional tenha caracterizado alguns terapeuta possa observar a estrutura subjacente praticantes da terapia familiar estrutural, este às interações familiares. No processo, o terapeu- nunca foi um aspecto essencial da abordagem. ta pode distinguir estruturas disfuncionais e fun- Minuchin também evoluiu conceitual- cionais. As famílias com dores de crescimento mente, de um foco quase exclusivo nas intera- não devem ser tratadas como patológicas. ções interpessoais para uma consideração das Os terapeutas familiares estruturais pre- perspectivas cognitivas que orientam essas in- cisam evitar ser alistados como membros das terações e as raízes passadas dessas perspecti- famílias com as quais Eles come- vas (Minuchin, Nichols e Lee, no prelo). Con- çam acomodando-se ao jeito habitual de fun- tudo, a abordagem estrutural que ele criou tam- cionamento da família, a fim de evitar a resis- bém existe independentemente de seu traba- tência. Depois de conquistar a confiança da lho e está corporificada na literatura definitiva família, o terapeuta promove uma interação sobre este modelo (por exemplo, Minuchin, familiar, assumindo um papel descentralizado. 1974; Minuchin e Fishman, 1981; Colapinto, Desta posição, ele pode observar e fazer uma 1991; Minuchin e Nichols, 1993), assim como avaliação estrutural, que inclui o problema e a no trabalho de seus alunos e colegas. O mode- organização que o mantém. Essas avaliações lo estrutural orienta o terapeuta a olhar além são enquadradas em termos de fronteiras e do conteúdo dos problemas, e até além da di-</p><p>204 MICHAEL P. NICHOLS nâmica da interação, para a organização fami- Colapinto, J. 1991. Structural family therapy. In Handbook of family therapy. Vol. II. A. S. Gurman e liar subjacente, que sustenta e limita essas D. P. Kniskern. eds. New York: Brunner/Mazel. interações. Muita coisa mudou desde 1974, mas modelo estrutural ainda permanece firme e Elizur, J., e Minuchin, S. 1989. Institutionalizing madness: Families, therapy, and society. New York: continua sendo a maneira mais amplamente Basic Books. utilizada de compreender o que acontece na Grief, G., e Dreschler, L. 1993. Common issues for família nuclear. parents in a methadone maintenance group. Journal of Substance Abuse Treatment. 10, p. 335-339. LEITURAS RECOMENDADAS Minuchin, S. 1974. Families and family therapy. Cambridge, MA: Harvard University Press. Colapinto J. 1991. Structural family therapy. In Minuchin, S., Baker, L., Rosman, B., Liebman, R., Handbook of family therapy. Vol. II. A. S. Gurman e Milman, L., e Todd, T. C. 1975. A conceptual model D. P. Kniskern, eds. New York: Brunner/ Mazel. of psychosomatic illness in children. Archives of Ge- Minuchin, S. 1974. Families and family therapy. neral Psychiatry. 32, p. 1031-1038. Cambridge, MA: Harvard University Press. 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