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<p>CADERNO DE PSIQUIATRIA</p><p>1. Dependência</p><p>2. Transtornos de personalidade</p><p>3. Transtorno obsessivo compulsivo</p><p>4. Transtornos relacionados ao trauma e estressores.</p><p>5. Transtornos somatoformes e dissociativos</p><p>Dependência</p><p>● Conceitos:</p><p>○ Dependência: substância causa sensação de prazer, modificações de</p><p>comportamento e outras reações.</p><p>■ O desejo de experimentar o prazer causado pela substância se</p><p>sobressai a qualquer outra experiência positiva.</p><p>■ Prejuízo da capacidade de atribuir adequada valência emocional para</p><p>as recompensas -> a recompensa a curto prazo é melhor do que</p><p>recompensas a longo prazo.</p><p>■ O ciclo da dependência: passa da impulsividade para a</p><p>compulsividade - a pessoa já não usa mais porque é prazeroso, mas</p><p>sim porque não usar é muito ruim.</p><p>○ Recompensa intermitente x recompensa contínua</p><p>○ Classificações do uso:</p><p>■ Uso da vida/experimental: uso pontual, “uma vez na vida”.</p><p>■ Uso recreativo/ocasional: em contextos sociais ou de lazer.</p><p>■ Uso frequente: uso regular, não compulsivo e sem prejuízos</p><p>funcionais</p><p>■ Uso nocivo: traz prejuízo, independente da quantidade (ex: usar uma</p><p>substância e se colocar em uma situação de risco de forma que não</p><p>faria usualmente, dirigir e bater o carro).</p><p>■ Uso abusivo: há consequências negativas pela quantidade,</p><p>frequência ou situação do indivíduo (ex: pessoa que tem</p><p>contraindicação de uso de álcool e faz uso mesmo assim).</p><p>■ Uso em binge: uso em grandes quantidades em curto espaço de</p><p>tempo.</p><p>■ Intoxicação: surgimento de sinais e sintomas decorrentes do uso da</p><p>substância. Ex: ficar alegre demais quando bebe é uma intoxicação.</p><p>○ Fissura: desejo urgente de consumir a substância, mas que eventualmente</p><p>passa caso o paciente resista.</p><p>○ Tolerância: não ter o efeito habitual com a dose anteriormente consumida,</p><p>com necessidade de doses gradativamente mais altas.</p><p>○ Abstinência: sinais e sintomas causados pela diminuição/suspensão da</p><p>substância.</p><p>● O sistema de recompensa: o sistema de recompensa funciona através da liberação</p><p>de dopamina quando aquela substância é vista ou ingerida. Essa liberação de</p><p>dopamina ativa o córtex pré frontal, que vai tomar a decisão sobre aquela ação.</p><p>Caso o indivíduo venha ceder e ingerir a substância, seu hipocampo guarda aquela</p><p>sensação boa.</p><p>○ O sistema de recompensa está diretamente ligado à maturação cerebral e,</p><p>consequentemente, à capacidade de tomar decisões considerando os riscos</p><p>e consequências.</p><p>● Classificação das substâncias e seus mecanismos de ação:</p><p>○ Depressoras: álcool, opióides (heroína, morfina), solventes (cola de</p><p>sapateiro, loló, lança perfume), benzodiazepínicos.</p><p>■ Álcool e solventes possuem efeito bifásico: em doses menores atuam</p><p>como estimulantes e em doses maiores atuam como depressores.</p><p>○ Psicodislépticas/alucinógenas: alteram a percepção da realidade - maconha,</p><p>cogumelos, LSD.</p><p>○ Estimulantes: cocaína, anfetaminas, crack, psicoestimulantes.</p><p>● Tratamento:</p><p>○ Fases da mudança:</p><p>■ Pré contemplação: negação do problema enfrentado - o indivíduo</p><p>ainda não compreende a seriedade e gravidade de sua doença e não</p><p>vê motivos para mudança. Nesse momento, só é feita uma</p><p>intervenção psiquiátrica mais agressiva caso o comportamento do</p><p>indivíduo seja de risco para si próprio. Nesse momento, o objetivo do</p><p>profissional de saúde é conscientizar o indivíduo e remover barreiras</p><p>para a superação.</p><p>■ Contemplação: o indivíduo começa a compreender a gravidade e</p><p>seriedade de seu problema, mas ainda não se sente pronto para</p><p>entrar num processo de reabilitação.</p><p>■ Preparação: o indivíduo entende a gravidade e seriedade e pretende</p><p>mudar de vida. Nesse momento, é crucial que a equipe médica tome</p><p>as atitudes necessárias para começar a agir antes que essa</p><p>mentalidade do indivíduo se perca.</p><p>■ Ação: momento que o indivíduo coloca em prática as mudanças para</p><p>resolver seu problema.</p><p>■ Manutenção: estágio que exige extrema disciplina do indivíduo para</p><p>manter suas ações em busca de uma remissão completa.</p><p>■ Recaída: estágio frustrante do processo, porém comum. É importante</p><p>acolher o indivíduo e explicar que é uma possibilidade e que não está</p><p>tudo perdido. Da recaída, ele pode retornar a contemplação e</p><p>recomeçar.</p><p>● A diferença entre recaída e lapso é que este é o uso por</p><p>apenas uma vez, enquanto a recaída é o retorno ao padrão de</p><p>uso da substância.</p><p>○ Entrevista motivacional: busca motivar a pessoa a desenvolver</p><p>comprometimento e tomada de decisão de mudar de comportamento. É uma</p><p>ferramenta muito fina e que deve ser usada muito cautelosamente por</p><p>profissionais capacitados. Possui 5 princípios básicos:</p><p>■ O profissional que se propõe a trabalhar com dependências deve ser</p><p>centrado na pessoa, paciente, flexível (alta tolerância à frustração) e</p><p>cooperativo.</p><p>Transtornos de personalidade</p><p>● Temperamento x personalidade:</p><p>○ Temperamento é uma característica inata da pessoa, enquanto a</p><p>personalidade é influenciada pela cultura e trata-se de padrões recorrentes e</p><p>persistentes que determinam a forma como o indivíduo se relaciona com o</p><p>mundo ao seu redor, como se expressa e se comporta.</p><p>○ The big five model: define os 5 grandes modelos de personalidade de acordo</p><p>com suas características cognitivo-comportamentais.</p><p>● Transtornos de personalidade: Padrão persistente de experiência interna e</p><p>comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do</p><p>indivíduo.</p><p>○ É difuso e inflexível</p><p>○ Começa na adolescência ou no início da fase adulta</p><p>○ É estável ao longo do tempo</p><p>○ Leva a sofrimento ou prejuízo.</p><p>○ 3 grandes tipos:</p><p>■ Cluster A: esquisitos ou excêntricos -> paranóide, esquizóide,</p><p>esquizotípica.</p><p>■ Cluster B: dramáticos, emotivos, instáveis -> antissocial, boderline,</p><p>histriônica, narcisista.</p><p>■ Cluster C: ansiosos ou medrosos -> evitativa, dependente,</p><p>obsessivo-compulsiva.</p><p>● Cluster A: esquisitos ou excêntricos.</p><p>○ Paranóide: padrão de desconfiança e suspeita difusa dos outros a ponto de</p><p>suas motivações serem interpretadas como malévolas. Acreditam que as</p><p>pessoas irão explorá-los, causar-lhes dano ou enganá-los, mesmo sem</p><p>evidências que apoiem esse pensamento. Preocupados com dúvidas</p><p>injustificadas acerca da lealdade ou confiança de seus amigos e sócios,</p><p>cujas ações são examinadas minuciosamente em busca de evidência de</p><p>intenções hostis.</p><p>■ Geralmente não possuem relacionamentos íntimos pela</p><p>desconfiança.</p><p>■ Guardam rancores e não se dispõem a perdoar insultos, injúrias ou</p><p>menosprezo dos quais pensam ter sido alvo.</p><p>■ Hipervigilantes em relação às intenções prejudiciais dos outros.</p><p>■ Sua desconfiança e hostilidade excessivas podem se expressar sob a</p><p>forma de argumentações ostensivas ou queixas recorrentes</p><p>○ Esquizóide: Padrão difuso de distanciamento das relações sociais e uma</p><p>faixa restrita de expressão de emoções em contextos interpessoais.</p><p>Demonstram não ter desejo de intimidade, parecem indiferentes a</p><p>oportunidades de desenvolver relações próximas e não parecem encontrar</p><p>muita satisfação em fazer parte de uma família ou de outro grupo social.</p><p>Costumam ser indiferentes à aprovação ou à crítica dos outros e não</p><p>parecem se incomodar com o que os demais podem pensar deles.</p><p>■ Devido à falta de habilidades sociais e à ausência de desejo de</p><p>experiências sexuais, indivíduos com esse transtorno têm poucos</p><p>amigos, raramente namoram e costumam não se casar.</p><p>■ O funcionamento profissional pode estar prejudicado quando há</p><p>necessidade de envolvimento interpessoal; podem, entretanto, ser</p><p>bem-sucedidos quando trabalham em condições de isolamento social.</p><p>■ Pode surgir como o antecedente pré-mórbido de transtorno delirante</p><p>ou esquizofrenia.</p><p>■ Podem ter vários episódios psicóticos breves como resposta ao</p><p>estresse.</p><p>■ Ex: Wandinha.</p><p>○ Esquizotípico: Padrão difuso de déficits sociais e interpessoais marcado por</p><p>capacidade reduzida para relacionamentos íntimos, distorções cognitivas ou</p><p>perceptivas e comportamento excêntrico. Com frequência apresentam ideias</p><p>de referência; podem ser supersticiosos ou preocupados com fenômenos</p><p>paranormais que fogem das normas de sua subcultura; podem achar que</p><p>têm poderes especiais para sentir os eventos antes</p><p>que ocorram ou para ler</p><p>os pensamentos alheios. Podem acreditar que exercem controle mágico</p><p>sobre os outros.</p><p>■ Em resposta a estresse, podem apresentar episódios psicóticos</p><p>transitórios (com duração de minutos a horas). Em alguns casos,</p><p>podem surgir sintomas psicóticos clinicamente significativos que</p><p>atendam aos critérios de transtornos psicóticos.</p><p>■ Mais prevalente entre familiares biológicos de primeiro grau de</p><p>indivíduos com esquizofrenia em comparação com a população em</p><p>geral.</p><p>■ Ex: Phoebe, de Friends. Luna Lovegood.</p><p>● Cluster B: dramáticos, emotivos, instáveis.</p><p>○ Antissocial: padrão difuso de indiferença e violação dos direitos de terceiros.</p><p>Falta de empatia, auto apreciação inflada e charme superficial que muitas</p><p>vezes pode ser usado para os próprios interesses.</p><p>■ Componente genético. Alterações no córtex pré frontal e amígdala,</p><p>causando uma incapacidade de formar representações de</p><p>sentimentos como medo antecipatório e eventos aversivos.</p><p>■ Ex: James Bond.</p><p>○ Boderline: Padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da</p><p>autoimagem e de afetos e de impulsividade acentuada, muito sensíveis às</p><p>circunstâncias ambientais. Têm medo intenso de abandono e raiva</p><p>inadequada mesmo diante de uma separação de curto prazo realística ou</p><p>quando ocorrem mudanças inevitáveis de planos.</p><p>■ Os esforços desesperados para evitar o abandono podem incluir</p><p>ações impulsivas como automutilação ou comportamentos suicidas.</p><p>■ Estão propensos a mudanças dramáticas e repentinas na sua forma</p><p>de enxergar os outros, que podem ser vistos alternadamente como</p><p>apoiadores benevolentes ou como punidores cruéis.</p><p>■ Idealização de companheiros no primeiro ou segundo encontro, exigir</p><p>ficar muito tempo juntos e partilhar os detalhes pessoais íntimos logo</p><p>no início do relacionamento. Podem mudar rapidamente da</p><p>idealização à desvalorização, sentindo que a outra pessoa não se</p><p>importa o suficiente, não dá o suficiente e não está presente o</p><p>suficiente.</p><p>■ Ocorre raiva quando o companheiro é visto como negligente,</p><p>despreocupado ou alguém abandona.</p><p>■ Tem crises de raiva, que podem ter sintomas de automutilação e</p><p>autodepreciação.</p><p>■ Pode haver padrão de sabotagem pessoal no momento em que uma</p><p>meta está para ser atingida (p. ex., abandono da escola logo antes da</p><p>formatura; regressão grave após conversa sobre os bons rumos da</p><p>terapia; destruição de um relacionamento bom exatamente quando</p><p>está claro que ele pode durar).</p><p>■ Diagnóstico diferencial com TAB II pode ser difícil. Alguns autores</p><p>inclusive defendem que TPB faz parte do espectro de transtorno</p><p>bipolar. A exclusão do diagnóstico diferencial se dá por uma</p><p>observação longitudinal.</p><p>● Fatores de auxiliam no diagnóstico diferencial:</p><p>○ História familiar de TAB</p><p>○ Idade de início</p><p>○ Padrões da personalidade</p><p>○ Desregulação emocional fora de contexto de humor</p><p>○ Limiar à frustração</p><p>○ Ausência de depressão ou hipomania</p><p>○ Resposta à estabilizadores de humor</p><p>○ Histriônica: emocionalidade excessiva e difusa e o comportamento de busca</p><p>de atenção. Normalmente cheios de vida e dramáticos, tendem a atrair</p><p>atenção para si mesmos e podem inicialmente fazer novas amizades por seu</p><p>entusiasmo, abertura aparente ou sedução. Caso não sejam o centro das</p><p>atenções, podem fazer algo dramático (inventar histórias, criar uma cena)</p><p>para atrair a atenção para si. Costumam desempenhar um papel em suas</p><p>relações com os outros (vítima ou princesa).</p><p>■ Podem afastar os amigos com exigências de atenção constante.</p><p>○ Borderline x histriônico: o borderline sente uma dor real com a possibilidade</p><p>de abandono e suas reações são pela dor que sente, enquanto o histriônico</p><p>tem as reações com o objetivo de chamar a atenção.</p><p>○ Narcisista: Padrão difuso de grandiosidade, necessidade de admiração e</p><p>falta de empatia. Superestimam de forma rotineira suas capacidades e</p><p>exageram suas conquistas, com frequência parecendo pretensiosos e</p><p>arrogantes. Comumente implícita nos juízos inflados das próprias conquistas</p><p>está uma subestimação (desvalorização) das contribuições dos outros.</p><p>■ Sua autoestima é quase invariavelmente muito frágil e disso costuma</p><p>assumir a forma de uma necessidade constante de atenção e</p><p>admiração. Embora possam não evidenciar isso de forma direta, a</p><p>crítica pode assustá-los, deixando neles sentimentos de humilhação,</p><p>degradação, vácuo e vazio. Podem reagir com desdém, fúria ou</p><p>contra-ataque desafiador.</p><p>■ Ex: diabo veste prada.</p><p>● Cluster C: ansiosos ou medrosos</p><p>○ Evitativa: padrão difuso de inibição social, sentimentos de inadequação e</p><p>hipersensibilidade a avaliação negativa.</p><p>■ Tendem a ser tímidos, quietos, inibidos e “invisíveis”.</p><p>■ Possuem dificuldade com intimidade interpessoal. Entretanto,</p><p>conseguem estabelecer relacionamentos íntimos quando há certeza</p><p>de aceitação sem críticas.</p><p>■ Sintomas somáticos de ansiedade ou outros problemas de pequena</p><p>importância podem se tornar a razão de evitação de novas atividades.</p><p>■ Sua conduta temerosa pode provocar o deboche de terceiros, o que</p><p>acaba por confirmar suas dúvidas pessoais.</p><p>○ Dependente: padrão de comportamento de necessidade difusa e excessiva</p><p>do cuidado, o que leva a um comportamento de submissão e apego.</p><p>■ Possuem medo de separação e de abandono, sujeitando-se a</p><p>situações ruins, aceitação de atitudes inaceitáveis.</p><p>■ Têm medo de serem vistos como capazes e maduros e serem</p><p>abandonados.</p><p>■ A dependência constante impede o desenvolvimento da</p><p>independência e esses indivíduos acabam se tornando, de fato,</p><p>dependentes dos outros.</p><p>■ Adultos com esse transtorno costumam depender dos pais ou</p><p>cônjuges para tomar decisões pessoais e importantes.</p><p>■ Adolescentes com esse transtorno podem deixar que seus pais</p><p>decidam tudo, como amizades, escolhas profissionais e amorosas.</p><p>○ Obsessivo compulsivo: padrão de apego a normas e perfeccionismo.</p><p>Atenção cuidadosa a regras, pequenos detalhes, procedimentos, listas,</p><p>cronogramas a ponto de o objetivo principal da atividade ser perdido.</p><p>■ Sentem que tudo precisa ser feito a seu modo e que as pessoas</p><p>devem se conformar com seu jeito de ser. Também possuem</p><p>dificuldade de reconhecer o ponto de vista dos outros.</p><p>■ Sentem dificuldade de aceitar ajuda, mesmo quando ela é necessária.</p><p>■ Dedicação excessiva ao trabalho e produtividade, mesmo sem</p><p>necessidade financeira, e possuem dificuldade de descansar por</p><p>sentimento de inutilidade e sentem-se desconfortáveis por estar</p><p>“desperdiçando tempo”. Exemplo: não conseguem relaxar nas férias.</p><p>■ Geralmente demonstram afeto de forma altamente controlada ou</p><p>artificial e podem sentir grande desconforto na presença de outros</p><p>que se expressam com emoção.</p><p>● Tratamento:</p><p>○ Medicamentoso: pouca evidência para narcisista, histriônico, dependente,</p><p>obsessivo compulsivo.</p><p>■ Antissocial: podem ser utilizados medicamentos para reduzir a</p><p>agressividade.</p><p>■ Borderline: farmacoterapia sintomática e pelo menor tempo possível</p><p>para ajudar a reduzir sintomas.</p><p>● Antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor.</p><p>● Ômega 3: sintomas depressivos e suicidalidade.</p><p>○ Psicoterapia:</p><p>■ Borderline: quando tratados, até 50% deixa de fechar critérios após</p><p>10 anos.</p><p>■ Antissocial, narcisista, histriônico e cluster C sem evidência de</p><p>eficácia.</p><p>Transtorno obsessivo compulsivo:</p><p>● Fisiopatologia:</p><p>○ Definição de obsessões: pensamentos intrusivos são comuns e não trazem</p><p>prejuízos para a grande maioria das pessoas, podendo ser um reflexo de</p><p>suas preocupações. Entretanto, podem se tornar uma obsessão com base na</p><p>importância que o indivíduo atribui a esse pensamento. Isso causa um</p><p>escalonamento de emoções negativas e o indivíduo tenta suprimi-las ou</p><p>neutralizá-las.</p><p>○ Definição de compulsões: esforços mal adaptativos na tentativa de</p><p>neutralizar ou suprimir os pensamentos intrusivos, como forma de promover</p><p>conforto. Porém, esse conforto é temporário e acaba por reforçar padrões de</p><p>comportamento, aumentando ainda mais a frequência dos rituais e</p><p>preservando as crenças disfuncionais.</p><p>○ Hipofunção serotoninérgica: diminuição do efeito inibitório + hiperfunção</p><p>dopaminérgica: excitabilidade neuronal = redução</p><p>do filtro dos estímulos</p><p>corticais pelos gânglios da base.</p><p>■ A hipótese dopaminérgica foi reforçada após o surgimento de</p><p>sintomas obsessivos-compulsivos em pacientes em uso de</p><p>risperidona e clozapina.</p><p>○ Hiperatividade glutamatérgica</p><p>● Critérios diagnósticos:</p><p>○ Presença de obsessões, compulsões ou ambas.</p><p>○ Essas obsessões ou compulsões tomam tempo ou causam sofrimento</p><p>significativo ou prejuízo funcional.</p><p>○ Não pode devido a efeito de substância ou outra condição médica</p><p>○ Não pode ser explicado por outro transtorno mental.</p><p>○ Especificação: insight bom/razoável, pobre ou ausente/crenças delirantes.</p><p>● Padrões sintomáticos: em ordem de frequência.</p><p>○ Contaminação: limpezas obsessivas e repetidas e crença de que</p><p>contaminantes passam de uma pessoa para outra através de um simples</p><p>contato. Geralmente é com coisas que dificilmente podem ser evitadas</p><p>(fezes, urina)</p><p>○ Verificação: dúvida patológica e obsessiva. A pessoa pode voltar várias</p><p>vezes para casa para certificar que fechou as janelas, desligou a chapinha.</p><p>○ Pensamentos intrusivos: pensamentos obsessivos intrusivos sem uma</p><p>compulsão.</p><p>○ Simetria: organização excessiva e patológica que pode gerar um padrão de</p><p>lentidão.</p><p>● Conteúdo típicos das obsessões:</p><p>○ Agressão: acidentes, incêndios, catástrofes.</p><p>○ Religião: pecado, blasfêmias.</p><p>○ Sexo: homossexualidade, incesto.</p><p>○ Contaminação</p><p>○ Simetria</p><p>● Tratamento:</p><p>○ Padrão ouro: Inibidores seletivos da recaptação de serotonina, com exceção</p><p>de citalopram e escitalopram, associado a psicoterapia.</p><p>■ Psicoeducação: para o paciente e para pessoas próximas a ele que</p><p>podem reforçar os comportamentos obsessivos compulsivos.</p><p>○ Tratamento medicamentoso: doses altas por maior tempo para obtenção de</p><p>resposta.</p><p>■ Fluoxetina: disponível no SUS; infância e adolescência.</p><p>■ Sertralina: infância e adolescência.</p><p>■ Paroxetina: efeitos colaterais. Cuidado com sintomas de retirada.</p><p>■ Fluvoxamina: ouro para TOC pensamentos obsessivos; melhor perfil</p><p>de efeitos adversos.</p><p>○ Tratamento medicamentoso adjuvante:</p><p>■ Estratégias glutamatérgicas: memantina - antagonista não competitivo</p><p>de NMDA.</p><p>■ Anticonvulsivantes:</p><p>● Lamotrigina: inibe a liberação de glutamato através da inibição</p><p>dos canais de cálcio voltagem dependentes.</p><p>● Topiramato: antagonista AMPA.</p><p>■ N acetilcisteína: a cistina é trocada pelo glutamato, o que estimula os</p><p>receptores inibitórios e causa a redução da liberação de glutamato.</p><p>○ Neurocirurgia: eficaz para casos refratários. Indicada apenas quando o</p><p>paciente já fez uso de medicações eficazes associadas a psicoterapia.</p><p>● Outros transtornos dentro do espectro obsessivo compulsivo:</p><p>○ Transtorno dismórfico corporal:</p><p>○ Transtorno de acumulação: mais comum em indivíduos mais velhos - fazer</p><p>diagnóstico diferencial com transtorno neurocognitivo maior.</p><p>○ Tricotilomania:</p><p>O insight é preservado.</p><p>■ Tratamento: o uso de ISRS em altas doses ou antipsicóticos é pouco</p><p>eficaz, mas a n-acetilcisteína tem sido considerada promissora.</p><p>Sempre indicar terapia cognitivo comportamental.</p><p>○ Transtorno de escoriação:</p><p>Transtornos relacionados ao trauma e estressores:</p><p>● Definição: transtornos no qual a exposição a um evento traumático ou estressante</p><p>está listada explicitamente como um critério diagnóstico.</p><p>● Tipos:</p><p>○ Transtorno de apego reativo</p><p>○ Transtorno de interação social desinibida</p><p>○ Transtorno de estresse pós traumático</p><p>○ Transtorno de estresse agudo</p><p>○ Transtorno de adaptação</p><p>● Transtornos da infância: padrão de extremos de cuidado insuficiente evidenciado por</p><p>negligência ou privação social na forma de ausência persistente às necessidades</p><p>emocionais básica, mudanças repetidas de cuidadores e consequente limitação às</p><p>oportunidades de formação de vínculos estáveis, criação em contextos peculiares</p><p>que limitam gravemente oportunidades de formar vínculos (por ex. instituições com</p><p>alta proporção de crianças por cuidador).</p><p>○ Transtorno de apego reativo: a criança, quando aflita, raramente busca</p><p>conforto em uma figura adulta. Quando recebe carinho ou atenção, não</p><p>responde ou responde minimamente. Podem ocorrer episódios de tristeza,</p><p>irritabilidade ou temor inexplicados, mesmo diante de interações não</p><p>ameaçadoras com adultos.</p><p>■ Aparece até os 5 anos de idade e deve ser feito exclusão de TEA.</p><p>■ Tratamento: psicoterapia e recuperação por meio de ambientes de</p><p>cuidado.</p><p>○ Transtorno de interação social desinibida: conduta excessivamente familiar e</p><p>culturalmente inapropriada com pessoas estranhas. Discrição reduzida ou</p><p>ausente. A criança pode sair com um adulto desconhecido sem hesitação.</p><p>■ Tratamento: psicoterapia e recuperação por meio de ambiente de</p><p>cuidado.</p><p>● Transtorno de estresse pós traumático:</p><p>○ Cinco critérios obrigatórios para fechar diagnóstico: exposição a um evento</p><p>traumático, sintomas intrusivos, esquiva, sintomas de humor e distorções</p><p>cognitivas, hiperreatividade.</p><p>■ Exposição a um evento traumático: pode ser tanto vivenciar o evento</p><p>traumático, como testemunhar pessoalmente ou saber que o evento</p><p>traumático ocorreu com familiar ou amigo próximo.</p><p>● Alguns profissionais podem ser expostos de forma repetida ou</p><p>extrema a detalhes aversivos do evento traumático (ex:</p><p>socorristas que recolhem restos de corpos humanos, policiais</p><p>repetidamente expostos a detalhes de abuso infantil).</p><p>■ Sintomas intrusivos: lembranças intrusivas angustiantes, recorrentes</p><p>e involuntárias do evento, podendo se manifestar como sonhos</p><p>angustiantes, reações dissociativas (ex. flashbacks) nas quais o</p><p>indivíduo sente ou age como se estivesse no evento traumático</p><p>novamente. Pode ocorrer sofrimento psicológico intenso à exposição</p><p>a sinais internos ou externos que remetam a algum aspecto do evento</p><p>traumático. Reações fisiológicas intensas a sinais internos ou</p><p>externos que remetam a algum aspecto do evento traumático.</p><p>■ Esquiva: evitação de recordações, lembranças externas (pessoas,</p><p>lugares, conversas, atividades, objetos, situações) que despertem</p><p>recordações, sentimentos ou pensamentos angustiantes relacionados</p><p>ao evento.</p><p>■ Sintomas de humor e distorções cognitivas:</p><p>● Amnésia dissociativa</p><p>● Crenças ou expectativas negativas persistentes e exageradas</p><p>a respeito de si ou do mundo (ex. sou mau, não se deve</p><p>confiar em ninguém, o mundo é horrível).</p><p>● Cognições distorcidas sobre a causa ou consequências do</p><p>evento (o indivíduo culpa a si mesmo ou os outros)</p><p>● Estado emocional negativo ou persiste</p><p>● Interesse ou participação diminuída em atividades</p><p>significativas.</p><p>● Sentimento de distanciamento e alienação em relação aos</p><p>outros</p><p>● Incapacidade persistente se sentir emoções positivas</p><p>● Ex: uma mulher que foi estuprada e não consegue lembrar</p><p>como tudo aconteceu, sente vergonha e culpa pelo ocorrido.</p><p>■ Hiperreatividade:</p><p>● Hipervigilância</p><p>● Reações de irritabilidade ou raiva diante de pouca ou</p><p>nenhuma provocação.</p><p>● Perturbação do sono</p><p>● Problemas de concentração</p><p>● Resposta de sobressalto exagerada</p><p>● Comportamento imprudente ou autodestrutivo.</p><p>● Fatores de risco:</p><p>○ Adversidades na infância</p><p>○ Transtornos mentais prévios</p><p>○ Traços de personalidade</p><p>○ Baixa capacidade de resiliência, poucas estratégias de enfrentamento.</p><p>○ Ausência de suporte sociofamiliar.</p><p>○ Gênero feminino, jovens.</p><p>○ Gravidade do evento traumático (ameaça à vida, lesão pessoal).</p><p>● Tratamento:</p><p>○ Primeira linha: psicoterapia.</p><p>■ Corrigir sentimentos distorcidos de culpa, vergonha e desconfiança.</p><p>■ Extinguir o medo condicionado - terapia de exposição.</p><p>○ Farmacoterapia: ISRS são a primeira escolha.</p><p>■ Peritrauma: período para não utilizar benzodiazepínicos - podem</p><p>impedir o pico de cortisol fisiológico causado pela situação estressora</p><p>e assim favorecer a hiperconsolidação da memória traumática no</p><p>hipocampo. Além disso, há um risco de abuso dessa medicação no</p><p>TEPT.</p><p>● Transtorno de estresse agudo: é um tipo de transtorno de estresse pós traumático,</p><p>mas se difere dele por durar apenas 1 mês.</p><p>○ Tratamento:</p><p>■ Insônia: quetiapina, trazodona, anti-histamínicos, antipsicóticos de</p><p>baixa potência.</p><p>■ Bloqueio adrenérgico: a hiperativação noradrenérgica pode reforçar a</p><p>formação de memórias</p><p>aversivas.</p><p>● Alfa: doxazosina, prasozina - auxílio dos sintomas intrusivos.</p><p>● Beta: propranolol - auxílio na hiperreatividade.</p><p>○ Importante! Perguntar para o paciente se ele tem</p><p>asma.</p><p>● Transtorno de adaptação:</p><p>Subtipos: com humor deprimido, com ansiedade, com misto de ansiedade e</p><p>depressão, com perturbação da conduta, com perturbação mista das emoções e da</p><p>conduta, não especificado.</p><p>○ Tratamento: psicoterapia (ensinar o indivíduo a lidar com a mudança ou</p><p>eliminar o fator estressor. Estabelecimento de rotina, higiene do sono.</p><p>■ Medicamentos podem ser necessários segundo o perfil</p><p>sintomatológico.</p><p>Transtornos somatoformes e dissociativos:</p><p>● Definição de somatização: queixas físicas que podem ocorrer em múltiplos órgãos e</p><p>sistemas, sem causa orgânica encontrada.</p><p>● Transtorno de sintomas somáticos: sintomas físicos associados à solicitação</p><p>frequente de atenção médica, com somatização frequente em um único órgão ou em</p><p>vários. Há uma tranquilização passageira após as consultas. Não exclui doença</p><p>física, podendo coexistir.</p><p>○ Tratamento:</p><p>■ Psicoeducação.</p><p>■ Psicoterapia.</p><p>■ Consultas frequentes podem tranquilizar o paciente.</p><p>■ Farmacoterapia se comorbidades associadas.</p><p>● Transtorno de ansiedade de doença:</p><p>○ Tratamento:</p><p>■ Psicoeducação e psicoterapia.</p><p>■ Consultas frequentes são controversas, podendo levar a uma</p><p>dificuldade de aceitar que não há com o que se preocupar.</p><p>■ Farmacoterapia para alívio de sintomas ansiosos.</p><p>● Transtorno conversivo:</p><p>○ Conversão: sintomas psíquicos levam a sintomas físicos.</p><p>○ Sempre é um diagnóstico de exclusão.</p><p>■ Importante pesquisar causas orgânicas e neurológicas antes de</p><p>fechar o diagnóstico.</p><p>○ Os sintomas conversivos geralmente aparecem em momentos de estresse,</p><p>fazendo terceiros acreditar que é simulação.</p><p>○ Fisiopatologia: conflitos psíquicos reprimidos e inconscientes podem se</p><p>manifestar de forma física.</p><p>○ Conceitos:</p><p>■ Ganho primário: é o benefício que o paciente tem através da</p><p>conversão, que é livrar-se da ansiedade daquele conflito.</p><p>■ Ganho secundário: possibilidade de receber ganhos ou benefícios</p><p>com as crises, como por exemplo atestado para ficar afastado do</p><p>trabalho.</p><p>■ La belle indifference: estado de negação ou negligência da doença. O</p><p>paciente tem as crises conversivas e age normalmente, sem</p><p>preocupar-se ou parecer abalado.</p><p>■ Identificação: quadro semelhante a uma pessoa próxima. Por</p><p>exemplo, um indivíduo que vive a morte de alguém próximo por</p><p>epilepsia, pode começar a apresentar crises epilépticas.</p><p>○ Tratamento:</p><p>■ Psicoterapia. Importante! Tomar cuidado ao dizer que os sintomas</p><p>são psíquicos, pois essa afirmação pode piorar o quadro.</p><p>■ Farmacoterapia em caso de comorbidades psiquiátricas associadas.</p><p>● Transtorno factício (síndrome de Munchausen):</p><p>○ Tratamento: pouca resposta, devendo ser focado no manejo para redução da</p><p>morbimortalidade e abordagem de eventuais condições psíquicas</p><p>adjacentes.</p><p>● Dissociação: manifestações psíquicas que trazem prejuízo ao próprio psiquismo,</p><p>com perda das funções integradas de consciência, memória, identidade, emoção,</p><p>percepção do ambiente e comportamento.</p><p>○ Transtorno dissociativo de identidade: desenvolvimento de uma ou mais</p><p>personalidades distintas como forma de escape da própria mente após</p><p>experiências traumáticas.</p><p>■ Simulação:</p><p>● Simulam sintomas bem conhecidos, como perda de memória,</p><p>mas não sintomas menos comuns, como os depressivos.</p><p>● Parecem gostar de ter um distúrbio que deveria causar muito</p><p>sofrimento.</p><p>● Variações extremas de identidade.</p><p>● Existe um incentivo externo (como evitar punições criminais).</p><p>○ Amnésia dissociativa:</p><p>■ Sistematizada: categoria de informação específica (por exemplo,</p><p>recordações relacionadas à família, a uma determinada pessoa).</p><p>■ Contínua: todos os eventos novos à medida que acontecem.</p><p>■ É obrigatório descartar causas orgânicas - crises convulsivas focais,</p><p>lesão cerebral traumática, uso de substâncias.</p><p>● Diagnóstico diferencial com TEPT.</p><p>■ Tratamento: psicoeducação, psicoterapia, hipnose.</p><p>● Farmacoterapia se comorbidades adjacentes.</p><p>○ Transtorno de despersonalização/desrealização:</p><p>■ Hipervigilância + desconexão emocional → ausência súbita de</p><p>reatividade emocional, diminuição de sensações corporais, e</p><p>sensação de esvaziamento da mente.</p><p>■ Tratamento: ISRS, lamotrigina.</p>