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<p>INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DA</p><p>RELIGIÃO</p><p>AULA 1</p><p>Profª Zita Ana Lago Rodrigues</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>É importante encarar o desafio de estudar ciências da religião como um</p><p>chamado ao curso, que trata desde sua institucionalização como área de</p><p>conhecimento até a diferenciação de saberes com os quais trabalha, que são</p><p>fatores imprescindíveis para seu aprimoramento pessoal e sociocultural.</p><p>Ressaltamos que esses estudos são parte de um constructo</p><p>epistemológico recentemente definido como partícipe do campo das ciências</p><p>humanas e sociais e entendemos que sua riqueza está em possibilitar visões</p><p>mais ampliadas sobre fatos e fenômenos religiosos em sua diversidade de</p><p>expressões presentes nas mais diversas manifestações religiosas.</p><p>Esta aula é composta pelos seguintes temas:</p><p>• Tema 1 – Ciências da Religião: elementos básicos;</p><p>• Tema 2 – Ciências e as Ciências da Religião: conceituação;</p><p>• Tema 3 – Conceitos e contextos da disciplina;</p><p>• Tema 4 – Ciências da Religião, religião e teologia;</p><p>• Tema 5 – Pluralidade cultural e fenômeno religioso no Brasil.</p><p>Portanto, com o objetivo de conceituar Ciências e Ciências da Religião e</p><p>reconhecer conceitos, campo de atuação, contexto, construção e fenômeno</p><p>religioso, intencionamos também analisar os contextos relacionais entre</p><p>Ciências da Religião e pluralidade religiosa e cultural na sociedade ocidental.</p><p>TEMA 1 – CIÊNCIAS DA RELIGIÃO: ELEMENTOS BÁSICOS</p><p>A institucionalização das Ciências da Religião como área de</p><p>conhecimento é tema bastante recente no Brasil, de modo que traz consigo sua</p><p>condição problemática e crítica.</p><p>Considerando a recente aquisição de condição epistemológica específica</p><p>dessa recente institucionalização das Ciências da Religião, sob os prismas</p><p>conceituais e metodológicos, esta tem sua ação educativa focada e construída</p><p>buscando definir as distinções entre a Ciência da Religião e Teologia,</p><p>aproximando-se de outras ciências humanas e sociais com as quais estabelece</p><p>diálogos. Porém, não se confunde em seus objetivos, campos de atuação e</p><p>metodologias específicas para tratar de seus objetos.</p><p>3</p><p>Como a Teologia apresenta uma epistemologia mais estruturada e faz</p><p>parte de estudos teóricos mais antigos e consolidados, é deveras desafiadora a</p><p>tarefa de elaborar e estabelecer estudos que delimitem adequadamente os</p><p>campos de ação e de atuação de ambas as áreas do saber e do conhecimento.</p><p>Pretendemos conceituar Ciência e Ciências da Religião e reconhecer</p><p>campos de atuação, objetivos e contextos desses estudos sobre as diferentes</p><p>formas de construção do fenômeno religioso e do alcance que este apresenta</p><p>aos diversificados contextos sociais, culturais e políticos da organização</p><p>humana, por meio de seus desempenhos historicamente contextualizados.</p><p>O estatuto das Ciências da Religião tem sua fundamentação em muitas</p><p>investigações de cunho empírico e sistemático sobre as diferentes religiões,</p><p>acentuando-se os aspectos de seus processos de surgimento, desenvolvimento</p><p>e aprimoramentos com base em determinadas ações que as caracterizam em</p><p>seus rituais e cultos, crenças, demonstrações do sagrado e características que</p><p>as definem em suas essencialidades que delimitam suas especificidades.</p><p>É importante buscar as relações das Ciências da Religião com a História</p><p>das Religiões por meio de um constructo cronológico que, embora seja sucinto,</p><p>não é menos importante nesse contexto, pois isso contribui para considerar sua</p><p>abrangência em diferentes espaços-tempos e contextos geográficos, culturais,</p><p>sociais e políticos em que se desenvolvem as ações de estudos e buscas sobre</p><p>essa importante área de conhecimento. O percurso histórico das religiões em</p><p>suas diferentes fases e períodos de surgimento, desenvolvimento e influências,</p><p>em suas abrangências diversas, não raro, confunde-se com a própria história da</p><p>humanidade, desde seus primórdios e em seus períodos de evolução,</p><p>estagnação ou involução.</p><p>Uma abordagem histórica dessa natureza revela que diferentes escrituras</p><p>de textos sagrados ou relatos consuetudinários1 de qualquer cultura, religião ou</p><p>confissão de fé, que surgiram em diferentes fases evolutivas da humanidade,</p><p>definem que essa mesma humanidade surge como elemento estruturante e</p><p>construtor de princípios, normas, valores e definições conceituais, revelando sua</p><p>estruturação em diferentes grupos sociais, mais elementares e simples ou mais</p><p>1Consuetudinários: do termo latino consuetudinarĭu, qualifica o que é dos costumes e dos hábitos</p><p>tradicionais, e que estão nas rotinas cotidianas dos sujeitos. Relaciona-se aos costumes e aos</p><p>princípios que são perpassados de geração e geração por meio de regras não escritas e relatos</p><p>orais e descritivos, mas que são de conhecimento geral (nem sempre de entendimento), sendo</p><p>cumpridas ao longo do tempo em um determinado povo, sociedade ou território.</p><p>4</p><p>estruturados e complexos em suas formas de organização. Muitos dos registros</p><p>sobre esses modos de definir crenças, valores, princípios de convivência,</p><p>normas e bases da cultura também têm se revelado como estruturantes das</p><p>bases da moral e das crenças religiosas.</p><p>Como um dos constructos teóricos que se relacionam com o próprio</p><p>contexto histórico do desenvolvimento da humanidade, e como empreendimento</p><p>epistemológico e academicamente validado, diferentemente da Teologia ou de</p><p>outras ciências, as Ciências da Religião dedicam-se ao estudo histórico e</p><p>sistemático das religiões em suas diversas formas de manifestação e definição,</p><p>bem como do que entendem o que seja o sagrado. Ao investigar esses</p><p>fenômenos religiosos do mundo empírico, essas ciências necessitam defender</p><p>posturas isentas de qualquer viés de defesa ou condenação desta ou daquela</p><p>vertente ideológica, buscando estabelecer relatos sobre “a verdade da ciência</p><p>paradigmaticamente homogênea” ao descrever e interpretar o fato religioso.</p><p>As Ciências da Religião apresentam relação intrínseca com a História da</p><p>Religião, uma vez que para interpretar o fato religioso é preciso conhecê-lo em</p><p>seus desdobramentos factuais e históricos. Nesse sentido, ambas podem ser</p><p>classificadas como:</p><p>• descritivas – descrevem, estudam e demonstram os referidos fatos</p><p>religiosos em suas específicas demonstrações rituais, em textos e obras</p><p>de arte;</p><p>• analíticas – analisando as diferentes causas dos fatos e das</p><p>manifestações religiosas como fatores sociais em suas influências</p><p>culturais e em definidos contextos políticos e até econômicos;</p><p>• comparativas – estudando e analisando cada fato ou fenômeno religioso</p><p>em comparação com outros, sem defender este ou aquele ponto de vista.</p><p>TEMA 2 – CIÊNCIAS E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO: CONCEITUAÇÃO</p><p>O âmbito conceitual em todas as áreas de conhecimento é sempre</p><p>complexo, pois são diversos os aspectos contextuais e situacionais que se</p><p>apresentam em conceitos multifacetários e distintos em cada período histórico</p><p>da humanidade.</p><p>5</p><p>Com relação aos conceitos de Ciência, é necessário rememorar os seus</p><p>conflitos históricos e contextuais, que permeiam a sociedade ocidental e seus</p><p>constructos sobre “a verdade”.</p><p>Nesse caminho controverso e multifacetário, muitas são as conceituações</p><p>sobre Ciência e falar delas é desafiador. Isso porque é preciso considerar que,</p><p>desde que os seres humanos solitários ou em grupos organizados criaram</p><p>ferramentas para sua sobrevivência e segurança, de alguma forma, mesmo com</p><p>técnicas básicas e sem a sofisticação atual, eles definiram princípios básicos de</p><p>uma técnica básica e assim foram aprimorando uma forma de “ciência</p><p>elementar”, mas atenta às necessidades da vida cotidiana dos sujeitos e dos</p><p>grupos humanos. Com o passar do tempo, surgem alguns sujeitos que, em razão</p><p>dessas necessidades básicas – viver e sobreviver –, observam a natureza e</p><p>tentam lhe dar explicações plausíveis, surgindo indícios de formas científicas de</p><p>maior precisão</p><p>que justificam aquilo que conhecemos hoje como tal.</p><p>A partir daí, há o entendimento de que a ciência é fruto de saberes e</p><p>conhecimentos empíricos, posteriormente teorizados, com base em</p><p>observações, descrições e explicações sobre fatos e fenômenos cotidianos da</p><p>natureza feitas por alguns sujeitos. Estes tentam repetir os referidos fenômenos</p><p>e fazer previsões sobre situações similares ou análogas às observadas,</p><p>apresentando explicações que, de alguma forma, possibilitam repetir a ação</p><p>observada, constituindo fundamentos e previsões futuras para novas ações.</p><p>Assim caminham as Ciências desde sua conceituação primeira.</p><p>As abordagens históricas sobre as religiões e suas determinações</p><p>científicas – as Ciências da Religião – confundem-se com a própria história da</p><p>humanidade, pois entre suas funções está observar, analisar e tentar replicar</p><p>fatos e fenômenos pretéritos e presentes, como premissas de ação para</p><p>determinados grupos sociais que os aceitam e transformam em fundamentos</p><p>para comportamentos e crenças dos sujeitos e dos grupos sociais que os</p><p>cultuam.</p><p>Há registros escritos sobre essas situações e fundamentos com tal</p><p>conceituação desde tempos remotos na história da humanidade e, a partir do</p><p>século II a.C., na Grécia Antiga, por intermédio dos filósofos pré-socráticos, entre</p><p>eles, Heródoto, Leucipo, Parmênides e Empédocles. Posteriormente, nos</p><p>escritos de Platão, que descrevem os saberes de Sócrates, e Aristóteles,</p><p>encontram-se conceitos essencialistas que revelaram premissas filosóficas e</p><p>6</p><p>ético-morais presentes nas proposições desses grandes pensadores da Era</p><p>Clássica Grega (séc. VII ao IV a.C.) que foram assimiladas como orientações</p><p>doutrinais e comportamentais para os sujeitos do referido período histórico.</p><p>Na sequência histórica da humanidade, aliado ao surgimento das</p><p>premissas reveladas pelo Judaísmo e assimiladas pelo Filho de Deus – Jesus</p><p>Cristo –, que disseminou premissas doutrinais entre os povos da Palestina e</p><p>adjacências, surge o chamado cristianismo, doutrina contestada que teve seus</p><p>seguidores perseguidos pelo Estado romano e que, posteriormente foi</p><p>autorizada em seus cultos e reconhecida como religião desse mesmo Estado a</p><p>partir de 313 d.C., pelo Imperador Constantino (272 a 337 d.C.). A partir daí, a</p><p>disseminação de seus valores e princípios doutrinais constituiu as bases para o</p><p>domínio dessa crença como determinante ao longo da chamada Idade Média</p><p>(sec. V ao XV), expandindo-se por sociedades e povos até os nossos dias.</p><p>Com a expansão do cristianismo desde esses tempos pretéritos, a partir</p><p>do século XII, por meio da chamada “patrística”, com os padres da Igreja</p><p>Ocidental – entre eles, Ambrósio de Milão (340-397), Santo Agostinho de Hipona</p><p>(354-430) e São Gregório Magno (540-604) – e os padres da Igreja Oriental –</p><p>Basílio de Cesareia (329-379), Santo Atanásio de Alexandria (c.296-373) e João</p><p>Crisóstomo (347-407) –, iniciaram-se de forma mais efetiva atividades para a</p><p>elaboração das bases doutrinais das verdades da fé cristã e da Igreja Católica</p><p>com rápida difusão.</p><p>Dominando o cenário religioso do período, a Igreja Católica iniciou</p><p>debates e disputas com os povos árabes pela hegemonia religiosa dessa versão</p><p>do cristianismo. Em razão do grande poder espiritual e político de Roma,</p><p>influenciou os povos por meio da dominação religiosa, política, econômica e</p><p>militar romana, pois a Igreja tinha grande poder doutrinal e, de modo que</p><p>dominou a população de todas as classes sociais, desde os nobres aos servos.</p><p>Oriundos de famílias ricas e vivendo em mosteiros, os monges católicos</p><p>mantinham-se distantes do povo e na maior parte do tempo rezavam, copiavam</p><p>livros manuscritos e a Bíblia, bem como eram responsáveis pela proteção ou</p><p>condenação espiritual de toda a sociedade. Sua influência se ampliou e, por meio</p><p>do colonialismo europeu iniciado no século XV com as grandes navegações e a</p><p>conquista de novos territórios e povos nas Américas, na Ásia e na África,</p><p>expandiram poderes, subjugando culturas e crenças dos povos autóctones das</p><p>regiões conquistadas.</p><p>7</p><p>No século XVI, contudo, mesmo com a consolidação da dominação e do</p><p>poderio religioso católico da Europa colonialista, ocorrem rupturas nessas bases</p><p>dominantes. Surgem contestações dentro de seu território, aliadas ao maior</p><p>conhecimento sobre as religiões exógenas, bem como por descrições e</p><p>relatórios militares e de missionários católicos e protestantes. Em meados do</p><p>século XVI, com o estabelecimento do protestantismo, e a negação do</p><p>pressuposto de que a Bíblia seria o mais antigo repositório teológico de</p><p>premissas sagradas da humanidade, surgem novos enfoques doutrinais e</p><p>conceitos religiosos com grande adesão da população, em que se destaca o</p><p>surgimento de respeito aos princípios dos povos conquistados e dentro de</p><p>territórios da própria Europa.</p><p>As mudanças de paradigmas na organização da sociedade, em</p><p>dimensões políticas, sociais e econômicas, bem como o acesso às verdades</p><p>doutrinais de outras religiões e crenças por meio de textos da literatura, das</p><p>artes, da filosofia e dos comportamentos dos povos oriundos da China, da Índia</p><p>e de alguns povos islâmicos, influenciaram o surgimento de outras doutrinas,</p><p>causando cisões não apenas nos princípios religiosos dominantes.</p><p>Com o Iluminismo do século XVI, o método científico é considerado o</p><p>“estruturador da verdade”. A ciência passa a ser o grande mito da modernidade</p><p>na sociedade ocidental, com seus recortes epistemológicos sobre o que é ou</p><p>não ciência, estabelecendo uma nítida ruptura entre o que se deve e o que não</p><p>se deve considerar como verdade. No entanto, as rupturas no âmbito religioso</p><p>trazem consigo rupturas nos cânones das ciências positivas, de modo a</p><p>questionar também o método científico, fragmentando e dividindo campos das</p><p>ciências históricas, o que originou novas abordagens nos âmbitos sociológicos,</p><p>antropológicos, etnológicos, econômicos e psicológicos.</p><p>Em meados do século XX, já na esteira das reformas do pensamento</p><p>científico estabelecido com legítimo e válido, Thomas S. Kuhn, em seu livro A</p><p>estrutura das revoluções científicas (1970), propõe o conceito de paradigmas</p><p>científicos ao afirmar que os estudiosos encontram dificuldades nesse caminho</p><p>conceitual, pois desde a Antiguidade há uma sucessão de caminhos que cruzam</p><p>as divisas entre o que se pode chamar de sua conceituação definitiva de ciência</p><p>e outras possibilidades teórico-práticas que se sucedem. Ao afirmar que essas</p><p>transições nos conceitos não são repentinas ou inequívocas, não são extensivas</p><p>nem historicamente graduais, Kuhn (1970, p. 41) considera que são apenas</p><p>8</p><p>“fenômenos coextensivos e relacionados com os diferentes campos de estudo</p><p>em que ocorrem”. Por sua vez, na contemporaneidade, o sociólogo português</p><p>Boaventura de Souza Santos (2005), em seus escritos resumidos na obra Um</p><p>discurso sobre as ciências, afirma que:</p><p>O modelo de racionalidade que preside a ciência moderna constituiu-</p><p>se a partir da revolução científica do século XIX (a meados do século</p><p>XX) e foi desenvolvido nos séculos seguintes basicamente no domínio</p><p>das ciências naturais. Ainda que com alguns prenúncios no século</p><p>XVIII, é o século XIX que este modelo de racionalidade se estende às</p><p>ciências sociais emergentes. A partir de então pode-se falar de um</p><p>modelo global de racionalidade científica que admite uma variedade</p><p>interna mas que se distingue e defende, por via de fronteiras ostensivas</p><p>e ostensivamente policiadas de duas formas de conhecimento não</p><p>cientifico (e, portanto irracional) potencialmente perturbadoras e</p><p>intrusas: o senso comum e as chamadas humanidades ou estudos</p><p>humanísticos (e que se incluíram entre outros os estudos históricos,</p><p>filológicos, jurídicos, literários, filosóficos e teológicos-religiosos).</p><p>(Santos, 2005, p. 21)</p><p>Conforme Santos (2005) e Kuhn (1970, p. 42), essas revoluções</p><p>científicas e paradigmáticas</p><p>são necessárias, pois: “[...] são como elementos</p><p>desintegradores da tradição à qual a atividade da ciência normal está ligada”,</p><p>fazendo com que a humanidade encontre outros subsídios e vivencie</p><p>experiências, avançando no caminho da constituição de “outras ciências”.</p><p>A preocupação sobre o estatuto epistemológico das Ciências da Religião</p><p>tem gerado profundos questionamentos sobre sua respeitabilidade acadêmica</p><p>como disciplina autônoma. Não tem sido um debate linear e tranquilo nem</p><p>apresenta consenso sobre todos os pormenores; mas contribuem para verificar</p><p>possíveis unanimidades e ampliar buscas por respostas para sérias questões.</p><p>Definir que a ciência da religião é uma ciência e que seu objeto é único e original,</p><p>e não apenas é derivado de outras disciplinas, situa-se no mesmo âmbito da</p><p>questão da variedade de nomenclaturas para defini-la, sendo: ciências da</p><p>religião, ciência da religião, ciência das religiões e ciências das religiões. Esse</p><p>consenso ainda está em construção, mesmo sobre sua estrutura interna, pois</p><p>essa gama de pluralidades conceituais e nominativas não demonstra falta de</p><p>reflexão sobre esses amplos aspectos que a disciplina tem apresentado.</p><p>Nesse emaranhado de conceitos, conceituações, ações e premissas</p><p>científicas e epistemológicas do contemporâneo, as Ciências da Religião</p><p>mostram sua competência em lidar com essa riqueza fenomênica, uma vez que,</p><p>ao buscar atuar como uma ciência integral das religiões, sua prosperidade</p><p>depende não apenas da dinâmica entre ela e as ciências auxiliares, mas também</p><p>9</p><p>de sua abertura aos discursos inovadores e à aceitação dos diálogos e</p><p>acatamento das mudanças ocorridas nos campos religiosos em todo o mundo.</p><p>A riqueza da produção de material promovida pelos esforços</p><p>interdisciplinares requer do cientista religioso a disponibilidade de submeter seu</p><p>trabalho às dinâmicas transitivas e coletivas em acordos tácitos com</p><p>especialidades individuais na produção do conhecimento, esse fértil âmbito de</p><p>estudos.</p><p>TEMA 3 – CONCEITOS E CONTEXTOS DA DISCIPLINA</p><p>As Ciências da Religião têm seus conceitos, objetos, métodos e campos</p><p>de atuação e estudos específicos, não sendo diferente com as demais ciências</p><p>sociais e humanas.</p><p>Os chamados cientistas religiosos, que se debruçam em estudos sobre</p><p>fatos e fenômenos religiosos, necessitam apresentar atitudes de isenção para</p><p>garantir a neutralidade da investigação, atitude de fundamental relevância para</p><p>esse profissional, que não deverá pautar seus estudos na defesa ou condenação</p><p>de nenhuma das perspectivas religiosas.</p><p>Situada entre as ciências sociais e humanas, essa área dos saberes e</p><p>conhecimentos do âmbito religioso constitui seus conceitos, objetos, métodos e</p><p>campos de estudos específicos e reconhecidos academicamente, podendo</p><p>utilizar-se de instrumentos desses prismas teórico-epistemológicos afins como</p><p>apoio. Isso possibilita buscar interfaces para a realização das pesquisas,</p><p>anulando qualquer radicalidade epistêmica voltada ao fervor dos fiéis ou crentes</p><p>ou a busca de defesas intransigentes de uma determinada expressão religiosa.</p><p>Apesar dos avanços na produção de conhecimentos científicos, a Religião</p><p>ainda ocupa significativo espaço no imaginário e no cotidiano das pessoas, hora</p><p>como agente de “salvação”, hora como agente transformador da sociedade.</p><p>Estudos sobre as religiões são influenciados pelas condições sociais,</p><p>políticas, econômicas e culturais e, por meio de demandas específicas, essas</p><p>experiências e expressões religiosas surgidas em cada contexto oferecem</p><p>subsídios para estudos e investigações em acordo ou diferentemente das</p><p>determinantes que se consolidaram conforme cada época histórica e suas</p><p>necessidades específicas.</p><p>No período clássico da Antiguidade, os constructos dos saberes religiosos</p><p>revelavam relações com mitos e experiências alheias ao mundo existencial</p><p>10</p><p>concreto. Na Idade Média, os temas eram vinculados à teologia católica com</p><p>cunho espiritual, pois havia a supremacia do pensamento católico no campo das</p><p>ciências e da filosofia. A partir da Idade Moderna, os estudos comprometiam-se</p><p>com a modelagem cientificista do paradigma da ciência dominante.</p><p>Mais recentemente, em meados do século XX, os estudos se</p><p>comprometeram com novas expressões religiosas advindas dos estudos e novas</p><p>formas de relações entre os sujeitos e os grupos sociais. Não têm o objetivo de</p><p>defesa apenas da fé católica, mas dos estudos sobre a fé cristã e, em bases de</p><p>um ecumenismo multicultural mais amplo, passam a buscar construir relações</p><p>diversas e a ampliar os debates sobre os fatos religiosos, influenciados pelas</p><p>premissas do chamado Concílio Vaticano II, estudando e discutindo experiências</p><p>religiosas diversas, com forte resistência dos setores mais tradicionais da Igreja</p><p>Católica.</p><p>Assim, na contemporaneidade, os compromissos se relacionam com a</p><p>multiculturalidade e o diálogo inter-religioso, ampliando os espaços já abertos na</p><p>Idade Moderna e vinculando-se às expressões religiosas advindas dos novos</p><p>paradigmas emergentes (Santos, 2005). Por vezes, tem provocado rupturas e</p><p>debates muito além da mera defesa da fé cristã, mas buscam compreender como</p><p>as pessoas estão construindo suas diversas experiências religiosas e de vida em</p><p>seus diferentes contextos.</p><p>Assim se ampliam os campos de atuação das pesquisas e estudos</p><p>recentes das Ciências da Religião, que, nesses novos olhares e premissas</p><p>epistemológicas, podem e devem ter características multidisciplinares e</p><p>interdialogais, sem esquecer que essa ciência é um campo autônomo, embora</p><p>dialogue com embasamentos de outras ciências.</p><p>Em suas idas e vindas, a humanidade revela que o conceito de Ciência,</p><p>em sua essência fundante, se ocupa da busca de explicações sobre os</p><p>mecanismos de funcionamento do mundo natural e sobre os fatos, fenômenos e</p><p>objetos materiais do cotidiano. A Filosofia e a Religião, por sua situação</p><p>inequívoca, se interessam pelos propósitos, valores e significados desses fatos</p><p>e fenômenos. Analisando seus constructos, saberes e conhecimentos, devem se</p><p>atentar para a construção de outras e novas análises e linguagens nas</p><p>expressões teórico-práticas do âmbito religioso, social e cultural.</p><p>Um cientista religioso preocupa-se com posturas, epistemologias e</p><p>metodologias investigativas, não se atendo a narrativas de experiências</p><p>11</p><p>singulares, mas a análises científicas e eticamente situadas e neutras, sem se</p><p>contrapor, defender ou condenar esta ou aquela posição de uma ou outra</p><p>religião, comprometendo-se com análises éticas e eficazes em acordo com as</p><p>perspectivas que as fundamentem.</p><p>Esse profissional necessita apresentar atitudes de desprendimento de</p><p>suas crenças pessoais para garantir a neutralidade da investigação, atitude de</p><p>fundamental relevância para sua atuação profissional. Por situar seus estudos</p><p>entre as ciências sociais e humanas, na área dos conhecimentos religiosos, pode</p><p>se utilizar de instrumentos metodológicos desses prismas teórico-</p><p>epistemológicos. Porém, suas pesquisas não devem lidar com radicalidades</p><p>epistêmicas voltadas ao fervor do fiel nem devem buscar defesas intransigentes</p><p>de uma determinada expressão religiosa, mas sim se atentar para a construção</p><p>de outras e novas análises e linguagens para essas expressões.</p><p>Em síntese, temos que a ciência normal efetiva-se pela observação e pela</p><p>experimentação, com métodos específicos para estudar os fenômenos do</p><p>mundo natural e buscar explicá-los por meio da materialidade e da racionalidade,</p><p>estabelecendo “a verdade”.</p><p>A ciência normal pergunta: “como surgiu o mundo?”. As Ciências da</p><p>Religião questionam: “por que o universo existe?”.</p><p>TEMA 4 – CIÊNCIAS DA RELIGIÃO, RELIGIÃO E TEOLOGIA</p><p>A história humana nos mostra que, em seus estudos e suas práticas, a</p><p>religião se revela como uma das mais complexas e multifacetárias instituições</p><p>criadas pelo ser humano.</p><p>As Ciências da Religião atuam em um campo de estudos interdisciplinares</p><p>sobre os fenômenos religiosos, independentemente dos espaços-tempos</p><p>históricos em que tenham ocorrido. Embora seja recente a obtenção do estatuto</p><p>próprio, essas ciências apoiam-se em conceitos e constructos epistemológicos</p><p>de outras disciplinas correlatas – em especial as ciências sociais e humanas –</p><p>por já terem seus constructos de conhecimentos consolidados e reconhecidos</p><p>no âmbito acadêmico. No entanto, vale destacar que não se deve confundi-los</p><p>em suas conceituações e determinações epistemológicas.</p><p>A curiosidade natural dos seres humanos leva-os a imensas indagações,</p><p>o que desvela possibilidades inusitadas sobre muitos aspectos de um fato ou</p><p>fenômeno, tornando-os capazes de conhecer, analisar, refletir e tomar decisões</p><p>12</p><p>sobre aquilo que lhe seja interessante. Muitos desses fatos são de interpretações</p><p>e análises mais simples, lineares e objetivas; outros apresentam maior</p><p>complexidade e, não raro, necessitam ultrapassar essa racionalidade objetiva.</p><p>Isso ocorre ao tratarmos de seres transcendentes que, por sua diferenciação</p><p>essencial, exigem maior complexidade. É o que se define quando falamos e</p><p>tratamos de Deus e dos fatos relacionados ao divino: ao tratar de tais fenômenos,</p><p>adentramos âmbitos subjetivos, não experimentais ou de comprovação científica</p><p>objetivada.</p><p>Por sua condição interdisciplinar, as Ciências da Religião diferenciam-se</p><p>de suas congêneres – Antropologia, História, Filosofia, Sociologia –, pois seu</p><p>escopo é estudar os fenômenos da religião em sua diversidade de expressões.</p><p>A Teologia define-se como o espaço no âmbito acadêmico que trata desta ou</p><p>daquela doutrina analisando-a em suas práticas, o que a dispõe como</p><p>responsável pelo estudo das dimensões internas do fenômeno religioso,</p><p>diferindo das Ciências da Religião em seu objeto, campo de estudo e métodos.</p><p>Objetivando a compreensão de uma determinada religião, em sua</p><p>doutrina e em suas práticas, de maneira racional, porém utilizando a percepção</p><p>para alcançar a compreensão mais ampla dos fenômenos religiosos no âmbito</p><p>da fé, a Teologia visa atingir a compreensão da religiosidade humana em suas</p><p>específicas demonstrações. É quando se adentra a perspectiva de receber e</p><p>compreender os fenômenos religiosos pela fé que essa compreensão não</p><p>objetivada se relaciona à análise de fenômenos ou fatos religiosos do mundo</p><p>atual ou passado, ocorrido no cotidiano contextual de cada sociedade.</p><p>Essa é a missão da Teologia, que tem como um de seus objetivos</p><p>perceber e analisar os fenômenos religiosos e suas demonstrações. A Teologia</p><p>tem a missão específica de observar e analisar os fatos religiosos e as</p><p>decorrências de uma determinada religião, denominação religiosa ou confissão</p><p>de fé, ao buscar desvelar seus conteúdos doutrinais e rituais específicos e</p><p>particulares, bem como analisar valores, princípios e constructos paradigmáticos</p><p>que se desenrolam e constituem a religiosidade que lhe é inerente.</p><p>As Ciências da Religião tratam de fatos e fenômenos religiosos em sua</p><p>amplitude de expressões e se constituem por análises, estudos e pesquisas</p><p>sobre as diferentes denominações religiosas, em seus contextos históricos,</p><p>demonstrações e vinculações com uma determinada cultura ou sociedade.</p><p>Como disciplina acadêmica e com estatuto epistemológico próprio, embora</p><p>13</p><p>recente, as Ciências da Religião têm perspectiva empírica de investigação</p><p>sistemática das religiões e suas manifestações que, por meio dos estudos sobre</p><p>ela e seus fenômenos, são submetidas a análises amplas e comparadas.</p><p>As diferenças e aproximações entre Ciências da Religião e Teologia, entre</p><p>elas e as demais ciências, apresentam-se no âmbito do “conflito”, que, no</p><p>contexto religioso, aparece sob constantes ataques e assédios acadêmicos, que</p><p>buscam reduzi-las a um caráter “de meras crenças” e historicamente se</p><p>apresentam em relações complexas pois, não é raro que doutrinas e crenças</p><p>religiosas influenciem procedimentos científicos que, em mão dupla, apresentam</p><p>seus efeitos sobre as mesmas e, com isto buscam-se alternativas para conciliar</p><p>tais pressupostos entre esses conhecimentos e fazeres humanos.</p><p>TEMA 5 – PLURALIDADE CULTURAL E FENÔMENO RELIGIOSO NO BRASIL</p><p>A pluralidade cultural trata da valorização das características étnicas e</p><p>culturais dos diferentes grupos sociais que convivem em um mesmo território.</p><p>No multiverso e complexo território brasileiro, com profundas desigualdades</p><p>sociais, econômicas, religiosas, culturais e políticas e onde as relações</p><p>cotidianas são altamente diversas e contraditórias, exige-se transformações</p><p>urgentes nesse âmbito.</p><p>Atualmente, mais do que no período da chamada modernidade ocidental,</p><p>conforme define Alan Touraine (1997), a ampliação da consciência histórica</p><p>apresenta novos indicativos sobre as possibilidades e as relações humanas e</p><p>sobre os caminhos da cultura, dos saberes e dos conhecimentos. São caminhos</p><p>múltiplos, plurais, complexos que trazem à tona questões da diversidade e do</p><p>respeito às diferentes expressões e formas de viver e conviver, abrindo espaços</p><p>para estudos sobre a multiplicidade de expressões e a ampliação da</p><p>compreensão da dignidade humana e dos direitos fundamentais clássicos e</p><p>difusos, com urgente ampliação do respeito às diferenças culturais, étnicas e</p><p>religiosas.</p><p>Estudar a riqueza dessa pluralidade de crenças, valores e diferentes</p><p>culturas humanas oportuniza alargar o entendimento de que as diferenças não</p><p>devem ser fatores impeditivos da melhoria das compreensões sobre princípios e</p><p>valores do outro, entendido como sujeito e cidadão.</p><p>Diante da importância de expandir essas premissas respeitosas e</p><p>dignificantes da humanidade em sua pluralidade de expressões, importa</p><p>14</p><p>ressaltar o que diz Touraine (1997) ao falar dos riscos da sociedade massificada</p><p>e de seus valores impositivos, segregacionistas e separativos que se agravaram</p><p>a partir da segunda metade do século XX, com a acentuação de conflitos e</p><p>disputas pelo poder tecnológico, científico, midiático comunicacional e político</p><p>que, sob leis e ditames da globalização, segue normativas meramente</p><p>econômicas para as quais a vida humana pouco ou nada vale.</p><p>Portanto, as exigências por convivências respeitosas e plurais são</p><p>urgentes e necessárias para se estabelecer diálogos entre as diversas formas</p><p>do “ser humano”, ao buscar exercer a liberdade de expressão, com a</p><p>maximização de espaço para manifestações das diferentes culturas e religiões</p><p>que são férteis na tessitura sociocultural do nosso país. Uma visada sobre essas</p><p>situações expõe que fatores subjacentes aos conflitos no período</p><p>contemporâneo ainda ocorrem por diferenças culturais e religiosas que lutam</p><p>pela livre expressão de seus princípios e de espaços para afirmação, respeito e</p><p>dignidade que merecem.</p><p>Ao tratar dos desafios da globalização planetária do contemporâneo,</p><p>Montero (1998) afirma que movimentos de reinvindicação de direitos à</p><p>expressão livre das diferenças são perseguidos e sofrem fortes restrições, pois</p><p>a intenção da globalização é justamente impor parâmetros e valores uniformes</p><p>às sociedades e aos povos sem considerar suas diferenças e especificidades.</p><p>A diferença de culturas [e religiões] parece estar se tornando um dos</p><p>problemas mais agudos do mundo contemporâneo. Governos,</p><p>políticos e instituições habituados a lidar com conflitos que tinham</p><p>como eixo a busca da integração [...] à sociedade mais ampla, estão</p><p>hoje perplexos diante da pulverização progressiva da experiência</p><p>social e da constatação cada vez mais recorrente de que as</p><p>especificidades culturais [e religiosas] – sobretudo quando</p><p>transformadas em direitos à diferença – parecem fazer ruir a confiança</p><p>na permanência da “sociedade” como entidade positiva integradora e</p><p>totalizadora. (Montero, 1998, p. 24)</p><p>Um dos desafios cruciais da contemporaneidade está</p><p>em estabelecer</p><p>diálogos entre diferenças que fundamentam o amplo, complexo e multiverso</p><p>espectro da sociedade brasileira, e que se revelam em formas difusas, em uma</p><p>fertilidade de expressões, crenças e cultos oriundos da diversidade de origens e</p><p>culturas que constituíram essa pátria mãe, cujos entraves necessitam ser</p><p>eliminados para que essa multiplicidade religiosa e cultural se revele em</p><p>plenitude.</p><p>15</p><p>No mundo contemporâneo, em que o espanto e a indignação parecem</p><p>afastar as pessoas da espiritualidade – condição muito mais complexa do que a</p><p>mera religiosidade –, muda-se o entendimento sobre o sagrado e o profano. No</p><p>entanto, esperançosamente se verifica que surgem no cotidiano possibilidades,</p><p>diálogos e aproximações entre as áreas do conhecimento – Filosofia, Ciência e</p><p>Ciências da Religião –, o que representam rupturas com monopólios de</p><p>conhecimento e revelam condições garantidoras de aberturas e flexibilização de</p><p>espaços para o exercício da liberdade de escolha e de manifestação religiosa e</p><p>cultural, em acordo com ditames da atualidade.</p><p>Considerando as premissas anteriormente apresentadas, quanto à</p><p>diversidade de expressões e manifestações do fenômeno religioso, em especial</p><p>no Brasil, é necessário considerar as três áreas fundamentais de estudos sobre</p><p>a existência humana – a Ciência, a Filosofia e a Religião –, que se apresentam</p><p>com uma espécie de matriz comum: o espanto e a indagação.</p><p>• Na Filosofia: o espanto e a indagação sobre “o ser e o dever ser”.</p><p>• Na Ciência: o espanto e a indagação sobre os fenômenos naturais que a</p><p>razão e humana pode conhecer.</p><p>• Nas Ciências da Religião: o espanto e as indagações sobre os sentidos</p><p>e significados da existência humana, que atravessam e ultrapassam o</p><p>universo material e seus fatos cotidianos.</p><p>As rupturas com monopólios de saberes e conhecimentos surgidas nos</p><p>novos paradigmas demonstram avanços éticos e morais, bem como o</p><p>estabelecimento de uma eticidade filosófica e humanamente situada, ampliando</p><p>possibilidades de que fatos culturais e religiosos sejam respeitados nessa</p><p>sociedade de bases multiformes e plurais como é a sociedade brasileira.</p><p>Rumos foram traçados, mas há muito a avançar, pois, com o aumento de</p><p>escolhas, manifestações e liberdades de expressão, inclusive no campo</p><p>religioso, ampliam-se as responsabilidades com as consequências dessas</p><p>escolhas. A demonstração e as possibilidades ampliadas que, a duras penas, a</p><p>sociedade contemporânea vem construindo revelam uma espécie de destruição</p><p>criativa em que fatores cerceadores da liberdade humana são desprezados,</p><p>possibilitando a criação de conceitos, valores e princípios, mais em acordo com</p><p>as realidades factuais do atual momento histórico.</p><p>16</p><p>Assim, a destruição de uma ordem sacral limitante da liberdade humana,</p><p>de livre arbítrio e responsabilização consequente, na qual a legitimação do divino</p><p>se deu por meio de seres exógenos, externos, determinantes e superiores ao ser</p><p>humano, passa a centrar-se agora em um ser colaborador e contributivo dos</p><p>fundamentos de um mundo e uma sociedade na qual há lugar àqueles que, como</p><p>conhecedores de suas limitações e de seus potenciais, tornam-se responsáveis</p><p>por suas escolhas e seus fazeres em todos os âmbitos da vida em sociedade.</p><p>Portanto, cabe à Ciência analisar e expor as relações do natural,</p><p>verificável, mensurável e cabível de experimentação, assim como cabe às</p><p>Ciências da Religião buscar respostas àquilo que diz respeito às subjetividades</p><p>existenciais que possam ser explicáveis, mas que não são apenas factíveis e</p><p>nem sempre mensuráveis.</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Vamos fazer um estudo em retrospectiva sobre a história da humanidade</p><p>com foco nos aspectos científicos e religiosos, em suas relações de</p><p>complementaridade, com um maior enfoque na História do Brasil. Depois, vamos</p><p>construir um mapa conceitual ou um infográfico sobre esse desenvolvimento</p><p>histórico.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Com base no que expusemos nesta aula, podemos dizer que religião e</p><p>ciência se constituem em constructos humanos que se modificam</p><p>historicamente.</p><p>Essas diferentes visões sobre a natureza da ciência e da ciência da</p><p>religião são expressões diversas, porém, não excludentes.</p><p>Na certeza de aumentar seu interesse pelos temas tratados nesta aula,</p><p>em uma retrospectiva sobre suas determinações interdisciplinares, cabe</p><p>proceder estudos sistemáticos sobre o fenômeno religioso em seus diferentes</p><p>aspectos.</p><p>17</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. Rio de Janeiro: Edições 34,</p><p>1970.</p><p>MONTERO, P. Reinventando as diferenças num mundo globalizado. In:</p><p>DOWBOR, L. et al. Os desafios da globalização. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.</p><p>SANTOS, B. de S. Um discurso sobre as ciências. 3. ed. São Paulo: Cortez,</p><p>2005.</p><p>TOURAINE, A. Crítica da modernidade. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.</p>